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2020 13 (26): 721-734/ MEDICINA VETERINÁRIA
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Manejo clínico e dietético da urolitíase em cão: Relato de
caso
A urolitíase é uma afecção causada pela
presença de urólito, também conhecido como
cálculo no sistema urinário, sendo comum casos na
rotina clínica de cães e gatos. Eles surgem quando
alguns fatores interferem e desregulam a fisiologia
do sistema urinário, facilitando a precipitação e a
formação desses cálculos. Este trabalho aborda um
relato clínico sobre a urolitíase em cão, Yorkshire
terrier, macho, com 3 anos de idade, pesando 2,3
Kg. O animal deu entrada no hospital com histórico
de hematúria, êmese e diarreia. No exame físico, o
cão encontrava-se desidratado, com aumento de
linfonodos submandibulares, mucosas hipocoradas,
hipotermia, halitose urêmica, cálculo dentário,
desconforto à palpação abdominal, renoalgia e
vesícula urinária distendida. Por meio da
anamnese, sinais clínicos e exame
complementares, especialmente a
ultrassonografia, chegou-se ao diagnóstico da
urolitíase. Foi instituído um tratamento de suporte e
posteriormente o animal foi encaminhado para
cirurgia. Os cálculos foram removidos por
cistotomia, e esses foram para análise quantitativa
e qualitativa, que determinou sua composição de
100% de oxalato de cálcio mono-hidratado e
oxalato de cálcio di-hidratado. O animal
apresentou remissão dos sinais clínicos após a
recuperação pós-operatória, sendo
acompanhado frequentemente, passando a
ingerir alimentação natural para prevenir recidivas.
Almeida AO1
Medeiros KBR1
Xavier Júnior FAF2
Araujo SL2
Vasconcelos DBR3
Paiva DQD3
Viana DA3
Morais GB4
Evangelista JSAM4
1 – Discente de
Medicina
Veterinária –
Universidade
Estadual do Ceará /
UECE.
2 – Doutorando do
Programa de Pós-
graduação em
Ciências
Veterinárias / UECE.
3 – Médico
Veterinário / Hospital
Veterinário Centro de
Atenção à Saúde
Animal (CASA) –
Fortaleza/CE – Brasil.
4 - Docente da
Faculdade de
Veterinária / UECE.
E-mail:
juniorfelix.medicove
terinario@gmail.
com
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Introdução
A urolitíase define-se como as
causas e consequências de urólitos
em qualquer localidade do trato
urinário. Essa afecção deve então
ser observada como sendo uma
série de anormalidades de múltiplas
interações. Desse modo, essa
síndrome consiste na ocorrência de
fatores patofisiológicos familiares,
congênitos ou adquiridos que, em
conjunto, aumentam
progressivamente o risco de
precipitação de metabólitos
excretórios na urina contribuindo
para a formação de urólitos1.
No que concerne aos sinais
clínicos são relatados hematúria,
polaciúria, estrangúria e disúria,
entretanto esses sinais também são
observados em outras doenças do
trato urinário inferior. A presença de
urólitos pequenos pode causar
obstrução uretral parcial ou
completa, ocasionando a distensão
da bexiga, algia abdominal,
incontinência paradoxal,
estrangúria e sinais de azotemia pós-
renal caracterizada pela presença
de anorexia, vômito e depressão.
Ocasionalmente, pode haver casos
extremos em que a bexiga se
rompe, resultando em uroperitônio,
ou seja, o extravasamento do
conteúdo presente na vesícula
urinária para a cavidade
abdominal2.
Dentre os diagnósticos
presentes, o exame de imagem é
considerado como sendo a
ferramenta definitiva de diagnóstico
para a detecção de urólitos. A
radiografia abdominal é a primeira
modalidade de diagnóstico
utilizada para detecção do urólito. A
ultrassonografia e a cistografia com
duplo contraste também podem ser
utilizadas para revelar a presença
de urólitos, inclusive os
radiolucentes. Essas técnicas são
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utilizadas com o intuito de confirmar
a presença dos urólitos, além de
identificar a sua localização,
quantidade, tamanho, forma e
densidade2,3.
Após o estabelecimento de
fatores de risco individuais, a dieta
torna-se bastante fundamental para
o manejo da urolitíase em cães e
gatos. A eficácia do manejo
dietético inclui a identificação
correspondente do urólito, o
controle dos distúrbios metabólicos
e a adesão do proprietário à dieta
estabelecida. Independente da
causa, torna-se comum promover a
ingestão de água e a diluição da
urina. Como a taxa de recidiva
pode ser elevada para
determinados tipos de urólitos e
animais, torna-se fundamental o
monitoramento regular do paciente
através da urinálise e exames de
imagem para que a terapia
dietética seja ajustada conforme
necessário4.
No geral, a detecção de
urocistólitos não determina a
necessidade de intervenção
cirúrgica. Contudo, o procedimento
cirúrgico será indicado em casos de
obstrução do fluxo urinário, aumento
em tamanho ou quantidade de
cálculos, prevalência dos sinais
clínicos e ausência de resposta
terapêutica3,5.
No geral, os urólitos podem
ser do tipo simples, quando
composto por um único tipo mineral,
mistos, caso apresente em sua
composição mais um tipo mineral,
ou compostos se possuir camadas
minerais diferentes. A análise
quantitativa e qualitativa do cálculo
é essencial para determinar a sua
composição e, desse modo,
prevenir a recorrência. O ideal é que
todos os urólitos, quando removidos,
sejam submetidos à análise para
determinação da sua composição
mineral, o que auxiliará o clínico no
desenvolvimento da sua conduta
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terapêutica e na prevenção de
recidivas3,6.
Objetivo
O objetivo do presente
estudo foi relatar um caso de
urolitiase em um cão da raça
yorkshire terrier descrevendo os
aspectos clínicos e laboratoriais, a
análise do urólito e seu manejo
terapêutico seguinte.
Relato de caso
Um cão, macho, inteiro, yorkshire
terrier, 3 anos de idade, pesando 2,3
kg, deu entrada no hospital
veterinário sob histórico de
hiporexia, hematúria, êmese e
diarreia. No exame físico, observou-
se apatia, leve desidratacão (5%),
linfonodos submandibulares
aumentados, mucosas hipocoradas
e temperatura retal de 37,3 °C.
Durante a inspeção da cavidade
oral, foi observado halitose urêmica
e cálculo dentário. Na palpação
abdominal, notou-se desconforto à
palpação, renoalgia e bexiga
distendida durante a palpação do
sistema urinário.
Foram solicitados os seguintes
exames complementares:
hemograma completo, creatinina,
ureia, albumina, fosfatase alcalina
(FA), alanina aminotransferase (ALT),
sumário de urina e ultrassonografia
abdominal. Para tratamento de
suporte foi instituída a administração
de Cloridrato de tramadol
(Cronidor®), 2 mg/ Kg BID por via
oral), metoclopramida gotas (1
gota/kg TID por via oral) durante 3
dias e cloridrato de Ranitidina
(1mg/kg BID por via oral) para uso
durante 5 dias. O paciente também
foi submetido à fluidoterapia de
manutenção por 3 dias.
Com relação aos resultados
dos exames, no hemograma foi
observado um aumento na
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Hemoglobina Corpuscular Média
(HCM), entretanto, as hemácias
apresentavam-se normocíticas e
normocrômicas (Tabela 1). O
leucograma não apresentou
alterações significativas, contudo,
no exame bioquímico obteve-se
níveis elevados de ureia (93,0
mg/dL) (Tabela 2). Na urinálise, a
urina apresentou aspectos gerais
normais, porém, na análise química
observou-se a presença de
bilirrubina (+) e cristais de oxalato de
cálcio (++++). Na sedimentoscopia
foi observada uma quantidade
elevada de hemácias e células
epiteliais por campo (Tabela 3).
Na ultrassonografia
abdominal, foram observadas
hepatomegalia discreta, importante
esplenomegalia, aumento de
ecogenicidade na junção cortico-
medular bilateral dos rins, além da
presença de algumas
mineralizações correspondentes a
pontos de calcificação na medular
e na cortical de ambos os rins. O
pâncreas apresentou
ecogenicidade parcialmente
elevada em sua porção mais
cranial. Na bexiga urinária, foram
visibilizadas ao menos três imagens
hiperecogênicas, medindo cerca
de 0,52cm, 0,19cm e 0,46cm de
comprimento e, em porção mais
cranial de trajeto de uretra
prostática, foram visibilizadas pelo
menos três imagens
hiperecogênicas medindo cerca de
0,15cm, 0,20cm, 0,21cm de
comprimento (Figura 1).
Após a análise dos exames foi
solicitada a remoção cirúrgica dos
urólitos através da cistotomia. Após
a retirada, uma amostra de urólito
foi encaminhada para o Centro de
Urólitos de Minnesota (Universidade
de Minnesota, EUA) para realização
da análise quantitativa e qualitativa
do cálculo. Esta análise tem como
objetivo descobrir a composição do
urólito para determinar o manejo
terapêutico e dietético mais
indicado. O resultado obtido o
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urólito determinou que apresentava
em sua composição uma
porcentagem de 100% de oxalato
de cálcio mono-hidratado e oxalato
de cálcio di-hidratado.
Diante dos resultados obtidos,
o animal foi encaminhado para
avaliação nutricional e prescrição
de alimentação natural
balanceada individualizada,
obedecendo os requerimentos
nutricionais preconizados pelo
Nutrient Research Council (NRC),
com níveis moderados de proteína e
reduzido teor de gordura e ácido
oxálico. Esta dieta foi instituída com
objetivo de prevenir a formação de
novos urólitos e oferecer uma
alimentação de alta digestibilidade.
Além disso, foi acrescentado o uso
de nutracêuticos (vit K2,
gamaorizanol, resveratrol, N-
acetilcisteína, L-glutamina, L-
taurina) com o intuito de reduzir a
mineralização renal, proteger o
sistema gastrointestinal, melhorar a
digestão lipídica, além de
antioxidantes para compensar
alterações metabólicas da Doença
Renal Crônica (DRC).
Após 60 dias, o paciente
retornou à clínica para
acompanhamento e, ao final na
consulta foi concluído que o animal
estava clinicamente bem e com
parâmetros satisfatórios de urinálise,
em que se obteve como resultado
os valores de densidade urinária de
1025, pH urinário em 6,5, traços de
proteína e ausência de cristais,
demonstrando assim sucesso no
tratamento instituído.
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Eritrograma Valores encontrados Valores de referência
Hemácias 7,26 milhões/uL 5,5 – 8,5
Hemoglobina 18,0 g/dL 12,0 – 18,0
Hematócrito 54, 0 % 37,0 – 55,0
Tabela 2 Resultados da bioquímica sérica.
Bioquímica Sérica
Valores Encontrados Valores de Referência
Albumina 4,00 g/dL 2,6 A 4,0 g/dL
Creatinina 1,00 mg/dL < 1,4 mg/dL
Fosfatase alcalina 83,0 U/L 20,0 A 150,0 U/L
Uréia 93,0 mg/dL 15,0 A 65,0 mg/dL
Tabela 1 Resultados do eritrograma.
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Tabela 3 Resultados do sumário de urina.
Valores Encontrados Valores de Referência
Caracteres Gerais
Cor Amarelo Amarelo
Aspecto Límpida Límpida
Densidade 1.030 1.015 A 1.040
pH 6,0 5,5 - 7,5
Exame Químico
Proteína Negativo Negativo
Glicose Negativo Negativo
Bilirrubina Positivo (+) Negativo
Sangue oculto Negativo Negativo
Cetona Negativo Negativo
Nitrito Negativo Negativo
Urobilinogênio Negativo Negativo
Leucócitos Negativo Negativo
Sedimentoscopia (Aumento de 400x) (Valores em unidades por campo)
Cilíndros Ausentes
Hemácias >10/campo Até 7 p/campo
Leucócitos Até 1/campo Até 7 p/campo
Células. Epiteliais >10/campo Até 3 p/campo
Presença de cristais de oxalato (++++) e cristais de bilirrubina (++)
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Figura 1 Imagem ultrassonográfica evidenciando a presença de
cálculos na vesícula urinária e em porção mais cranial de trajeto
de uretra prostática.
Figura 2 Imagem do urólito retirado da vesícula
urinária após cistotomia.
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Discussão
Os cálculos de oxalato de
cálcio correspondem ao segundo
tipo de urólitos mais encontrado em
cães e gatos. O principal fator
predisponente ao aparecimento
desses urólitos é a supersaturação
da urina com cálcio e oxalato, com
posterior absorção intestinal de
cálcio. Segundo Lekcharoensuk, os
cálculos de oxalato de cálcio
correspondem ao segundo tipo de
urólito mais encontrado em cães e
gatos7. O principal fator
predisponente ao aparecimento
desses urólitos é a supersaturação
da urina com cálcio e oxalato, com
posterior absorção intestinal de
cálcio. Segundo Lekcharoensuk, a
nutrição interfere significativamente
no aparecimento de urólitos de
oxalato de cálcio7. Dietas com baixo
teor de umidade e sódio, e alta
concentração protéica
(acidificantes) aumentam o risco de
formação de oxalato de cálcio em
cães de raças suscetíveis8.
As principais raças
acometidas com urolitíase são o
schnauzer, shih-tzu, bichon frisé,
poodle, yorkshire terrier e dálmata,
além disso, a obstrução uretral pelo
urólito ocorre com maior frequência
em machos e esporadicamente em
fêmeas, sendo observada mais
frequentemente em cães com
média de idade entre cinco ou sete
anos9,10. Os urólitos mais encontrados
em cães são os de fosfato
amoníaco magnesiano (estruvita) e
oxalato de cálcio11. No presente
caso, o cão, macho, está entre as
raças mais acometidas, Yorkshire
Terrier. No entanto, possuía apenas 3
anos de idade, estando assim fora
da faixa etária mais acometida pelo
urólito de oxalato de cálcio.
No referido relato clínico, o
animal apresentava hematúria,
algia abdominal e vesícula urinária
distendida, sinais clínicos
compatíveis com o que a literatura
sugere2. Ademais, o canino possuía
sintomatologia gastrointestinal,
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como diarreia, êmese, halitose
urêmica e gases a nível de
estômago. As complicações
gastrointestinais estão entre os sinais
clínicos mais comuns e
proeminentes da uremia, que é o
acúmulo de compostos
nitrogenados não proteicos no
sangue, decorrente da retenção
desses compostos pela injúria renal
aguda que ocorre com a
obstrução12.
O diagnóstico de urolitíase
envolve o histórico do paciente,
exame físico, achados laboratoriais
e exames de imagem13. O
diagnóstico presuntivo do presente
caso se deu através da história
clínica, exame físico e exames
complementares, especialmente o
exame de imagem
ultrassonográfico abdominal, no
qual se evidenciou seis imagens
hiperecogênicas na vesícula urinária
e na região cranial da uretra
prostática. Para efetivar o
diagnóstico do animal, foi
necessária a realização da análise
quantitativa dos urólitos, no Centro
de Urólitos de Minnesota, e o
resultado da análise demonstrou
uma porcentagem de 100% de
oxalato de cálcio mono-hidratado e
di-hidratado.
A nutrição está diretamente
relacionada com a urolitíase, devido
ao fato do seu surgimento,
tratamento e prevenção em muitos
casos estarem associados à
nutrição. No que tange ao urólito de
oxalato de cálcio, dietas com baixo
teor de umidade e sódio, e alta
concentração protéica
(acidificantes da urina) predispõem
a formação de oxalato de cálcio
em cães de raças suscetíveis8. Os
urólitos de oxalato de cálcio não são
capazes de se dissolver na urina, por
isso não respondem a tratamentos
dietéticos. Diante disso, a única
forma eficaz de tratamento para
essa enfermidade é a retirada
cirúrgica do cálculo8. Portanto, o
tratamento médico instituído no
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relato em questão foi a remoção
cirúrgica dos cálculos urinários.
Sob a mesma ótica, a
nutrição configura-se como uma
importante ferramenta na
prevenção de recidivas da
urolitíase, já que a mesma apresenta
alta taxa de reincidência. O
tratamento nutricional das urolitíases
utiliza-se de alterações nos
componentes da dieta e busca
alteração do pH urinário e redução
da eliminação urinária de minerais
calculogênicos14. As
recomendações nutricionais para
animais acometidos com urólitos de
oxalato de cálcio incluem uma
dieta úmida, com níveis moderados
de proteína, baixo teor de ácido
oxálico e sem suplementação de
vitamina C15. O principal objetivo
para evitar a formação de urólitos
baseia-se na subsaturação da urina,
sendo alcançada através da
diluição da mesma, já que a urina
diluída além de se apresentar com
menor concentração de minerais
precursores dos cristais, também
favorece o aumento no volume
urinário16. Esse aumento de volume
reduz a concentração de
substâncias litogênicas, além de
aumentar a frequência de micção,
auxiliando na remoção de qualquer
cristal que se forme no trato urinário.
A excreção urinária do
oxalato é resultante do oxalato
dietético e do metabolismo do
ácido ascórbico, glicina, triptofano,
fenilalanina e hidroxiprolina17. Os
níveis adequados de sódio e cálcio
ainda são debatidos. O aumento de
sódio tem sido relacionado com o
aumento da excreção urinária de
cálcio em humanos. Contudo, foi
observado que o aumento do sódio
dietético reduz o risco de urólitos de
oxalato de cálcio em gatos18.
Levando-se em consideração a
importância do equilíbrio eletrolítico
dietético no pH urinário, os alimentos
com predomínio de cátions
favorecem a produção de urina
alcalina e, consequentemente,
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levam a um maior risco de
desenvolver urólitos de estruvita. De
diferente modo, aqueles alimentos
com predomínio de ânions levam à
produção de urina ácida, com
aumento do risco do
desenvolvimento de urólitos de
oxalato de cálcio19.
Dessa forma, a dieta para
prevenção de urólitos de oxalato de
cálcio deve conter níveis levemente
elevados de cálcio e sódio. Por outro
lado, deve conter também em sua
composição quantidades normais
de magnésio e fosfato para cães e
gatos em manutenção,
preconizadas pelo NRC20. Ademais,
uma alimentação natural
devidamente balanceada e
calculada por um profissional da
nutrição animal pode ser uma
alternativa para esses animais
acometidos com urolitíase. A
alimentação natural contém alto
teor de umidade quando
comparada com a ração extrusada
(o que facilita a subsaturação da
urina preconizada para esses casos)
e é melhor aceita por cães,
principalmente em estado de
convalescença. A prevenção de
recidivas do paciente se deu por
intermédio da alimentação natural
balanceada.
O tutor foi informado que a
monitoração do paciente deverá
ser constante, pois o risco de ter
recidiva de urolitíase é alto.
Avaliações periódicas de exames
de urina, perfis bioquímicos,
radiografias e ultrassonografias são
preconizadas, tanto para avaliar a
eficácia da dieta quanto para
identificar efeitos colaterais, além de
permitir a detecção de urólitos
ainda pequenos, possibilitando que
passem através do lúmen uretral e
evite intervenções cirúrgicas. É
válido ressaltar ainda, que terapias
dietéticas e medicamentosas não
eliminam todos os fatores de risco
associados com a urolitíase (como a
condição de predisposição racial),
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mas são capazes de adiar as
possíveis recidivas5.
Discussão
A urolitíase é uma afecção
bastante comum na clínica de
pequenos animais. O isolamento
desses animais em apartamentos
pequenos, com pouca atividade
física, grande estresse e ociosidade,
além do fornecimento de petiscos e
alimentos com baixa qualidade
nutritiva vêm sendo fatores que
favorecem essa incidência na
atualidade. Dados de anamnese e
exame clínico são fundamentais
para direcionar o clínico na
solicitação dos exames
complementares e fornecer
informações para concluir o
diagnóstico. Exames de imagem,
como a ultrassonografia abdominal,
e de laboratório clínico, como
hemograma, perfil bioquímico e
urinálise, auxiliam de forma
significativa no diagnóstico da
doença. Além disso, as análises
qualitativa e quantitativa do cálculo
são fundamentais para determinar a
sua composição e prevenir a sua
recorrência. O método mais
indicado de controle preventivo da
urolitíase ainda é o controle
dietético, utilizando-se de rações
terapêuticas específicas indicadas
para cada tipo de urólito ou da
alimentação natural prescrita por
um veterinário ou zootecnista
especializado em nutrição de cães.
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