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Manejo de organismos espontâneos na agricultura abril 2008 vol. 5 nº 1 Manejo de organismos espontâneos na agricultura

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Manejo de organismosespontâneos na

agricultura

abril2008vol. 5

nº 1

Manejo de organismosespontâneos na

agricultura

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2 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

ISSN: 1807-491X

edito

rial

Ov. 5, nº 1

(corresponde ao v. 23, nº 4 da Revista Leisa)

Revista Agriculturas: experiências em agroecologia é umapublicação da AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetosem Agricultura Alternativa –, em parceria com a Funda-ção Ileia - Centre of Information on Low External Input

and Sustainable Agriculture.

Rua Candelária, n.º 9, 6ºandar.Centro, Rio de Janeiro/RJ, Brasil 20091-020

Telefone: 55(21) 2253-8317 Fax: 55(21) 2233-8363E-mail: [email protected]

www.aspta.org.br

Fundação IleiaP.O. Box 2067, 3800 CB Amersfoort, Holanda.

Telefone: +31 33 467 38 70 Fax: +31 33 463 24 10www.ileia.info

Conselho EditorialEugênio Ferrari

Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, MG - CTA/ZMJean Marc von der Weid

AS-PTAJosé Antônio Costabeber

Ass. Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica eExtensão Rural – Emater, RS

Marcelino LimaCaatinga/Centro Sabiá, PEMaria Emília Pacheco

Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional Fase, RJMaria José Guazzelli

Centro Ecológico, RSMiguel Ângelo da Silveira

Embrapa Meio AmbientePaulo Petersen

AS-PTARomier Sousa

Grupo de Trabalho em Agroecologia na Amazônia - GTNASílvio Gomes de Almeida

AS-PTA

Equipe ExecutivaEditor Paulo Petersen

Editor convidado para este número Fábio Kessler Dal SoglioProdução Executiva Adriana Galvão Freire

Pesquisa Adriana Galvão Freire,Fábio Kessler Dal Soglio e Paulo Petersen

Base de dados de subscritores Nádia Maria Miceli de OliveiraCopidesque Rosa L. PeraltaTradução Rosa L. Peralta

Revisão Gláucia CruzFoto da capa Xirumba

Projeto gráfico e diagramação I GraficciImpressão Holográfica

Tiragem 4.200

A AS-PTA estimula que os leitores circulem livremente os artigos aquipublicados. Sempre que for necessária a reprodução total ou parcial de

algum desses artigos, solicitamos que a Revista Agriculturas: experiênciasem agroecologia seja citada como fonte.

pensamento agronômico convencional difundiua percepção equivocada de que os organismosespontâneos na agricultura devem ser elimina-

dos das áreas de cultivo por se tratarem de pragas, plantasdaninhas e pestes. Esse enfoque oculta o fato de que essesorganismos são a expressão de desequilíbrios ecológicosgerados pela intervenção humana nos ecossistemas. Aotransformar o ecossistema natural em ecossistema agrícola,essa intervenção provoca a redução da biodiversidade e aconseqüente simplificação da rede de interações ecológicaspré-existente na área cultivada. Nesse sentido, por defini-ção, o agroecossistema é um ecossistema intencionalmentemantido em estágio de imaturidade ecológica por meio doinvestimento contínuo de energia externa na forma de traba-lho e insumos. Esse investimento é tanto maior quanto maisimaturo for o ecossistema, ou seja, quando ele se encontra emestágios mais prematuros da sucessão ecológica, situação tí-pica das monoculturas extensivas. Uma vez cessada a interfe-rência humana sobre o agroecossistema, sua tendência é a derecompor a maturidade ecológica representada pelo ecos-sistema natural. Essa capacidade de recuperação ambiental,também denominada “resiliência”, se deve às funções ecoló-gicas exercidas pelos organismos que surgem espontanea-mente nos ecossistemas imaturos. Também chamados deoportunistas ou pioneiros, esses organismos possuem ciclosde vida curtos e suas populações crescem rapidamente namedida em que as áreas cultivadas proporcionam-lhes recur-sos alimentares abundantes e habitats propícios.

Se analisamos os organismos espontâneos na agri-cultura a partir da estratégia biológico-evolutiva da natureza,percebemos que eles agem no sentido de restabelecer a matu-ridade ecológica do ecossistema ao procurarem eliminar asespécies cultivadas, abrindo espaço para o repovoamento daárea com as espécies da biodiversidade nativa. Mas se eles sãoenfocados a partir da perspectiva do agricultor, são conside-rados organismos indesejados na medida em que causam que-das de produção e prejuízos econômicos.

A perspectiva agroecológica procura integrar es-ses dois pontos de vista, ao valorizar os ciclos naturais e abiodiversidade espontânea nos processos produtivos da agri-cultura. A Agroecologia orienta-se para desenvolveragroecossistemas mais maduros, estrutural e funcionalmen-te análogos aos ecossistemas naturais. Esse enfoque encaraos organismos espontâneos nos sistemas agrícolas como ele-mentos constituintes que estabelecem interações ecológi-cas positivas com os cultivos e as criações. É exatamenteesse o ângulo de abordagem dos artigos que compõem estaedição da Revista Agriculturas: experiências em agroecologia.Ao salientarem o fato de que a dinâmica das populações daschamadas pragas e doenças depende fundamentalmente dabiodiversidade manejada no agroecossistema, os artigosdeixam evidente a importância de se substituir o objetivo deeliminar os organismos espontâneos pelo de prevenir a ex-plosão populacional dos mesmos.

O editor

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Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008 3

sum

ário

Páginas na internet pág. 30

Publicações pág. 29

Editor convidado Fábio Kessler Dal Soglio pág. 4

Agroecologia em Rede pág. 31

Artigos

Convivência com as pragas do algodoeiro no Curimataú pág.7paraibanoAdilson Alves Costa, Caliandro Daniel da Silva, Ranyfábio C. Macêdo, MelchiorNaelson B. da Silva e João Macedo Moreira

pág. 7

Disseminando a estratégia “empurra-puxa” pág. 11David Amudavi, Zeyaur Khan e John Pickett

pág. 11

Interações entre insetos-praga e seus inimigos naturais pág. 15em pomares orgânicos de citrosSimone Mundstock Jahnke

pág. 15

Agroflorestas sucessionais no manejo de plantas pág. 18espontâneas na AmazôniaNicole Rodrigues Vicente

pág. 18

Roedores: uma estratégia ecológica para o controle de pág. 21um problema globalSteven R. Belmain

pág. 21

Disseminando práticas de manejo ecológico de formigas pág. 25cortadeiras no Sul da BahiaJoão Antonio Firmato de Almeida

pág. 25

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4 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

edito

r co

nvid

ado

Manejo ecológico depragas: de volta ao

futuro

A tomada de consciência acerca dos impactos negativos do uso de agrotóxicosfoi responsável pelos primeiros grandes movimentos em defesa de padrõesprodutivos alternativos aos pacotes tecnológicos disseminados na Revolu-ção Verde. Após um século de desenvolvimento e uso indiscriminado desses

produtos, a agricultura vive uma crise multidimensional. A intoxicação de agricultores e consumido-res configura um grave problema de saúde pública. Os danos ambientais gerados pelos agrotóxicossão cada vez mais evidentes, afetando seriamente a biodiversidade. Além disso, a grande dependênciada agricultura contemporânea com relação aos agroquímicos contribui fortemente para a emissão degases que causam o aquecimento global.

Esta edição da Revista Agriculturas apresenta experiências de construção participativade manejos sustentáveis de agroecossistemas que incorporam a presença de organismos não-deseja-dos a partir de uma perspectiva ecológica. Ao integrar conhecimentos locais e científicos, as iniciati-vas aqui apresentadas deixam claro que os mais variados problemas com pragas devem ser encaradoscomo sintomas de desequilíbrio ecológico gerados por manejos inadequados que tendem a simplificarexcessivamente os sistemas produtivos.

A história antes dos agrotóxicos

A existência da agricultura por mais de dez milênios antes da criação e uso do primeiroagrotóxico é a prova cabal da falsidade da afirmação de que atualmente não há como produzir sem venenos.Infelizmente, tal falácia é repetida à exaustão por muitos técnicos e cientistas. Problemas de competiçãocom espécies não-desejáveis sempre existiram, mas foram se agravando à medida que as áreas de monoculturase disseminaram. As monoculturas são responsáveis pelo aumento da ocorrência de pragas, tanto pela maiordisponibilidade de alimentos para esses organismos indesejados, como pela redução de populações deorganismos benéficos. Além disso, ao visarem sobretudo os aumentos de produtividade física das espéciescultivadas, os processos de melhoramento induzem à perda da resistência genética das mesmas às pragas. Oemprego de fertilizantes químicos, uma necessidade para que essas “plantas melhoradas” expressem o seupotencial produtivo, torna-as ainda mais suscetíveis ao ataque das pragas.

No final do século XIX, intensificaram-se as buscas por soluções para o aumento daincidência de pragas. Tanto por esforços dos agricultores, como por iniciativas de pesquisadores,foram desenvolvidos variados métodos de manejo baseados em princípios biológicos e ecológicos.Esse conhecimento tão antigo contava com muitos exemplos, como o dos chineses, que há mais dedois mil anos utilizavam formigas no manejo de insetos não-desejáveis nos citros.

Até as primeiras décadas do século XX, o desenvolvimento de técnicas de controle bioló-gico e de métodos culturais de manejo de pragas foi o principal campo de pesquisa agronômica emtodo o mundo. Entretanto, a partir dos anos 1940, com o crescimento das indústrias químicas,praticamente desapareceram projetos nessa área e as pesquisas com agrotóxicos passaram a predo-minar na atividade científica da agricultura. Os pacotes tecnológicos desenvolvidos a partir de entãoforam disseminados com o apoio de políticas públicas que literalmente obrigaram os agricultores aadotá-los, ampliando a dependência a insumos externos, especialmente dos derivados do petróleo.

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Quando o mais fácil supera o mais correto...

Desde o final do século XIX, os compostos químicos começaram a ser usados como biocidas.Diversas moléculas com grande potencial tóxico foram desenvolvidas inicialmente como armas deguerra e depois para o controle de pragas na agricultura. A facilidade de uso, os lucros das indústriasquímicas, a uniformidade e eficácia do efeito praguicida (mesmo afetando organismos benéficos)foram os principais argumentos para que os agrotóxicos fossem largamente adotados. Posteriormen-te, esses químicos passaram a ser questionados quanto à segurança à saúde de aplicadores e consumi-dores e quanto aos impactos ambientais negativos. Porém, mesmo comprovando-se os malefícios,até hoje os agrotóxicos são amplamente produzidos e utilizados. Cercados por uma aura demodernidade e de efetividade única, são difundidos com o aval de políticas públicas desenhadassobretudo para atender aos interesses comerciais das empresas produtoras. Apesar disso, nuncadeixaram de existir cientistas que apontavam as conseqüências negativas do uso dos agroquímicos,por seus efeitos tóxicos persistentes e pelo impacto sobre o meio ambiente.

A adoção de agrotóxicos para o manejo de pragas provocou o desequilíbrio dos ecossistemas,pois esses produtos afetam os mais diferentes grupos de espécies, incluindo organismos úteis, comoaqueles que fazem o controle biológico natural das espécies não-desejadas. Com a redução dosinimigos naturais e o aparecimento de pragas resistentes aos químicos, aumentaram as populaçõesdestas, assim como outras espécies passaram a ser consideradas prejudiciais. Esse cenário impulsio-nou um ciclo de desenvolvimento de novos químicos, cada vez mais potentes, caros e com vida útillimitada, que desestabilizaram tanto os ecossistemas agrícolas quanto os ecossistemas naturais.Assim, o atalho que se buscava para que as monoculturas pudessem produzir mais, por meio domelhoramento das plantas, do uso intensivo de fertilizantes químicos e de agrotóxicos (o tripé daRevolução Verde), resultou em uma agricultura em crescente crise ecológica, sofrendo não apenascom os desastres naturais, mas com aqueles criados pela própria ciência agronômica. A mesma que seafastou (e continua afastada) das comunidades e dos agricultores, por acreditar que somente emlaboratórios e campos experimentais, e com base no modelo químico, é que serão encontradas solu-ções para o manejo de pragas.

Quase um século de luta contra os agrotóxicos

Ao contarmos a luta contra os agrotóxicos e a química na agricultura, é preciso lembrara história de Sir Albert Howard. No início do século XX, ele trabalhou em uma estação de pesquisainglesa em Indore, na Índia. Lá, por meio do contato com os agricultores locais, acabou aprendendotécnicas muito mais eficientes do que as que havia trazido da Inglaterra. Passou então a defendersistemas ecológicos complexos, entendendo que os organismos considerados pragas eram apenasindicadores de manejos errados. Seus ensinamentos, apresentados em várias de suas publicações, dasquais a mais famosa é o livro Um Testamento Agrícola, de 1943, são muito atuais. Portanto, desdeaquela época encontramos cientistas e agricultores que lutam contra os agrotóxicos, demonstrandoser preciso conhecer a ecologia dos agroecossistemas antes de qualquer intervenção técnica para queesta não introduza novos fatores de desequilíbrio ecológico.

Registramos nos últimos anos um considerável aumento no número de pesquisas volta-das ao desenvolvimento de métodos alternativos aos agrotóxicos. Entretanto, em geral, muitas delasnão são conduzidas no contexto dos sistemas de produção de forma a entender a ecologia dosorganismos espontâneos locais. São realizadas em estações experimentais e visam a criação de produ-tos alternativos (também conhecidos como naturais ou biológicos) a serem patenteados ecomercializados para aplicação em larga escala, sem maiores considerações acerca dos impactos quetambém podem causar ao meio ambiente.

Nova perspectiva para o manejo das pragas

A construção de conhecimentos sobre os ecossistemas agrícolas e sobre as interaçõesecológicas e sociais que neles se processam é, segundo a perspectiva agroecológica, uma condiçãofundamental para a promoção da agricultura sustentável. Na Agroecologia, o manejo de espéciesnão-desejadas deve ser realizado com base na gestão dos recursos localmente disponíveis, lançando

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mão de tecnologias que possam ser apropriadas pelos agricultores e que sejam adequadas às diferen-tes condições ecológicas.

Não faltam exemplos de que isso pode ser feito. Com a utilização de metodologiasparticipativas podemos gerar e disseminar tecnologias de baixo custo e que promovam a autonomiadas comunidades. Nesse sentido, são necessárias mudanças no enfoque da pesquisa agropecuária eda assistência técnica e extensão rural. De certo modo todos devem se envolver e participar dageração do conhecimento agroecológico. Esta edição traz diferentes experiências inspiradoras, queenvolvem distintos graus de participação comunitária.

Progresso pelos exemplos

Temos a expectativa de que os artigos aqui publicados chamem a atenção de pesqui-sadores para o fato de que muito podem aprender com as comunidades locais se adotarem umapostura de humildade frente à sabedoria popular.

No artigo Convivência com as pragas do algodoeiro no Curimataú paraibano, salienta-mos a importância dos conhecimentos dos agricultores e como pesquisadores podem aprender econstruir junto com a comunidade. Agricultores que não utilizavam agrotóxicos ensinaram aos pesqui-sadores como deveriam rever seus conceitos e como poderiam contribuir para uma agricultura maissustentável.

O método empurra-puxa, que está sendo utilizado e desenvolvido no leste africano, emespecial no Quênia, Uganda e Tanzânia, é um exemplo de como a noção básica de ecologia deplantas e pragas pode gerar manejos eficientes. A disseminação desses conhecimentos tem sido feitapor meio da metodologia de Escolas de Campo Agrícolas, onde agricultores recebem a informaçãopara posteriormente atuarem como instrutores em suas regiões. Os resultados são muito positivos,reduzindo a dependência dos agricultores e ampliando a segurança alimentar das comunidades.

Ao estudarem juntos a ecologia do minador-das-folhas-dos-citros, cientistas e agri-cultores que integram o Grupo de Citricultura Ecológica no Vale do Caí-RS demonstraram a impor-tância das plantas espontâneas na manutenção de agentes nativos de controle biológico. Alémdisso, comprovaram que a introdução de organismos exóticos para o controle biológico pode causarproblemas ecológicos. O estudo também detalhou a dinâmica das populações envolvidas e permitiuo desenho de estratégias de manejo com menor impacto.

A identificação de diferentes manejos de plantas espontâneas em sistemas agro-florestais, relatado no artigo Agroflorestas sucessionais no manejo de plantas espontâneas na Ama-zônia, abre portas para conhecimentos aplicados à recuperação de áreas já degradadas. São apresen-tadas as experiências de duas famílias que conseguiram sair da dependência do uso de herbicidas epassaram a conviver de forma mais sustentável com um grande número de espécies cultivadas eespontâneas.

A experiência de comunidades no manejo de ratos em Bangladesh é outro exemplo decomo problemas sérios podem ser resolvidos localmente se houver união e organização. Mais do queo manejo de uma praga específica, o artigo demonstra a capacidade das comunidades de, ao identi-ficar prioridades, agirem coletivamente para resolver seus problemas. Uma vez que entenderam aecologia dos ratos e que decidiram se unir para combatê-los, foram capazes de reduzir em 80% aincidência desses animais e dos impactos negativos a eles associados, inclusive de saúde pública.

Na Bahia, um dos resultados mais interessantes das oficinas desenvolvidas para manejode formigas foi a mudança da percepção dos agricultores: o que antes era considerado praga passou aser apenas um indicador de manejo. Depois da experiência, conviver com esses insetos deixou de ser umproblema grave. O artigo também mostra a importância do conhecimento científico sobre a ecologiadas formigas para o desenvolvimento de métodos de manejo com o uso de material local.

Todos sabemos alguma coisa e, juntos, somos capazes de construir estratégias de ma-nejo ecológico de pragas que sejam eficientes não apenas para cumprir o objetivo de garantir a produ-ção de alimentos, mas também que sejam democráticas ao promoverem a autonomia dos agricultores.

Fábio Kessler Dal SoglioProfessor Associado da UFRGS

Departamento de [email protected]

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ma das principaiscaracterísticasdos sistemas pro-

dutivos da agricultura familiar nosemi-árido é que eles foram criativa-mente desenvolvidos para atender avariadas demandas das famílias semque, para tanto, dependessem doemprego de moto-mecanização in-

Convivência com aspragas do algodoeiro

no Curimataú paraibanoAdilson Alves Costa, Caliandro Daniel da Silva,

Ranyfábio C. Macêdo, Melchior Naelson B. da Silvae João Macedo Moreira

tensiva e insumos agroquímicos. Ossistemas de cultivo tradicional do al-godão não fugiam a essa regra. Alémde proverem renda monetária às fa-mílias, atendiam suas necessidadesalimentares e geravam subprodutosutilizados como insumos em outrossubsistemas de produção nas pro-priedades.

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Visita aos consórcios adotados por agricultores em Solânea

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8 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

Durante muito tempo a economia do algodãofoi uma das principais atividades geradoras de renda nosemi-árido brasileiro, chegando a ocupar, direta e indire-tamente, quase metade da população economicamenteativa do campo e uma área de 3,1 milhões de hectares.

A tradição de consorciar o algodão com asleguminosas feijão-de-corda (Vigna unguiculata) e fei-jão-de-arranque (Phaseolus vulgaris) permitia o aportede nitrogênio ao sistema. Os agricultores também podi-am intercalar o milho, o jerimum, o cará, a macaxeira,entre outras espécies alimentares. Depois da colheita doalgodão, suas ramas (folhas verdes) eram utilizadas comoalimento para os animais. Das sementes era extraído oazeite empregado nos candeeiros. Após a extração doazeite, sobrava a torta do algodão, alimento de qualida-de fornecido às vacas de leite. Além desses subprodutos,o sistema prestava um importante serviço ambiental namedida em que as fileiras de algodão arbóreo, que che-gavam a atingir cinco a sete metros de altura, funciona-vam como uma cortina quebra-ventos, o que nas condi-ções climáticas da região é um grande aliado na econo-mia da água do sistema.

No entanto, a partir da década de 1980, a ativi-dade entrou numa trajetória de decadência em função deuma conjugação de fatores de ordem ambiental e econô-mica, em especial a política de liberalização dos mercadosagrícolas adotada pelo governo brasileiro, favorecendo aimportação de grandes volumes de pluma de algodão emdetrimento dos produtores da região.

Do ponto de vista ambiental, criou-se um ver-dadeiro “caos ecológico” com as transformações técnicasintroduzidas nos sistemas de produção, sobretudo com asubstituição do algodão arbóreo (mocó e seridó) por vari-edades herbáceas. Por não encontrarem na região as con-dições ambientais adequadas para expressar seus potenci-ais produtivos, essas variedades vieram acompanhadas deum pacote tecnológico intensivo em insumos externos etratos culturais. Além de gerar aumentos substanciais noscustos de produção e na demanda de trabalho, esse paco-te induziu o plantio do algodão em sistema demonocultivo, contrariando a tradição regional de interca-lação de espécies alimentícias nos algodoais. A combina-ção desses fatores criou as condições propícias para a pro-liferação desenfreada de populações de insetos-praga noalgodão, em particular o bicudo1.

Apesar da derrocada da cotonicultura no semi-árido, um número significativo de famílias agricultoraspermaneceu cultivando o algodão como alternativa eco-nômica compatível com a realidade local. Compreenderessa capacidade e vocação da agricultura familiar de ma-nejar os cultivos mesmo em contextos econômicos eambientalmente desfavoráveis é condição primordial paradesenvolver novas bases técnicas que possibilitem a con-vivência da atividade com os insetos-praga e que viabilizemo soerguimento das potencialidades econômicas do culti-vo do algodão no semi-árido. Foi com base nesse princípio

que um conjunto de organizações deu início à experiênciaapresentada neste artigo voltada ao desenvolvimento desistemas agroecológicos de produção de algodão na re-gião do Curimataú do estado da Paraíba.

Identificando experiênciasinovadoras

A região do Curimataú é a porção mais seca daárea de abrangência do Pólo Sindical da Borborema, umaarticulação de organizações da agricultura familiar pre-sente em 16 municípios do agreste da Paraíba. Apesar dacrise da cotonicultura na região, várias famílias agricultorascontinuaram cultivando o algodão em pequenas áreas emsuas propriedades e conseguiram conviver com os insetos-praga mesmo sem lançar mão do emprego de agrotóxicose fertilizantes sintéticos.

Nos anos de 2004 e 2005, alguns pesquisado-res da Embrapa Algodão e técnicos das ONGs Arribaçã2 eAS-PTA identificaram e divulgaram a iniciativa de algunsdesses agricultores. Elas estimularam outras famílias a da-rem início a experiências similares em suas propriedades.

Para entender as estratégias adotadas pelosagricultores identificados, sobretudo os mecanismos eco-lógicos que permitiam a convivência com os insetos-pra-ga, utilizou-se a metodologia de Diagnóstico RápidoParticipativo de Agroecossistemas (DRPA) descrita porMattos e Trier (1996). Realizaram-se entrevistas semi-estruturadas, visitas de acompanhamento técnico, ofici-nas temáticas e, principalmente, estabeleceu-se a vivênciados pesquisadores e dos técnicos no cotidiano dos agri-cultores do Curimataú.

Práticas de convivência com obicudo

Entre as principais estratégias técnicasidentificadas para a convivência com o bicudo destacam-se o arranjo espacial do cultivo (espaçamento e densida-de) e a época do plantio.

O espaçamento de 1,10 x 0,40 metros foi iden-tificado como um dos mais adotados nos sistemas da re-gião, divergindo daqueles recomendados pela EmbrapaAlgodão (1,0 x 0,20 m). Pesquisas posteriores apontaramque os espaçamentos mais largos criam as condições paraque ocorra maior mortalidade natural do bicudo, corrobo-rando aquilo que os agricultores já observavam na prática.Além desse efeito de natureza ecológica, o arranjo espacial

1O bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) é um inseto-praga nativo do Méxi-co. O primeiro relato oficial de sua ocorrência no Brasil data de 1983. Em 1985, a suapresença já estava amplamente disseminada nos estados de São Paulo, Paraíba,Pernambuco e Rio Grande do Norte (nota do editor).2Associação de Apoio a Políticas de Melhoria da Qualidade de Vida, Convivência coma Seca, Meio Ambiente e Verticalização da Produção Familiar (www.arribaca.org.br).

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Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008 9

adotado pelos agricultores permite o menor consumo desementes e favorece a consorciação com culturas alimen-tares (feijão e coentro), a colheita manual e a realizaçãode tratos culturais, como capina, catação de botões flo-rais, amontoa e aplicação de defensivos naturais(Wanderley Júnior, 2006).

Contrariando a recomendação oficial de plan-tio do algodão por ocasião do início das chuvas (que ocor-re até meados de abril), os agricultores do Curimataú cos-tumam fazê-lo somente entre a segunda quinzena de maioe a primeira quinzena de junho. Dessa forma, torna-se pos-sível concentrar a fase de desenvolvimento do algodão(floração e frutificação) após os meses de junho e julho,época de menor temperatura no ano e de maior incidênciado bicudo.

Segundo observação do agricultor Zé deSinésio, as plantas de algodão produzem com pouquíssimoataque do bicudo no período seco (agosto e setembro).Além disso, nessas condições, a atividade de colheita doalgodão pode ser realizada no período em que a demandade trabalho na propriedade é menor.

A rotação de culturas, a utilização como forra-gem dos restos culturais do algodão, a consorciação comcoentro, feijão, sorgo e girassol e a catação de botõesflorais complementam o grupo de estratégias de convi-vência com o bicudo empregadas nos roçados de algodãodas famílias agricultoras.

O controle das formigascortadeiras

Como a maioria das unidades de produção doCurimataú apresenta solos em acentuado grau de degra-dação, a incidência de formigas cortadeiras mostrou-setambém um grande desafio para a produção do algodão.Uma vez articulados em um grupo de experimentadores,

os agricultores ficaram estimulados a buscar etestar processos naturais de controle de for-migas. Essas inovações tornaram-se conheci-das pelo grupo por meio da realização de visi-tas de intercâmbio a outras propriedades daregião e até fora do estado da Paraíba.

Entre as práticas experimentadase disseminadas destacam-se: a utilização defolhas nim (Azadirachta indica) sobre os for-migueiros e nos caminhos das formigas; oemprego de folhas de maniçoba (Manihotglaziowii Mull.) como isca para despistar asformigas das culturas plantadas; a utilizaçãoda água do agave (Agave sisalana Perrine)resultante do processo de beneficiamento daplanta; e a utilização da manipueira fresca(no máximo dois dias após o beneficiamento

da mandioca).Com base em suas experiências e na troca de

conhecimentos que fizeram entre si, os agricultores dogrupo compreenderam que o objetivo do manejo não é ode eliminar por completo as formigas, mas saber convivercom elas.

Alguns resultados alcançados

A experiência do cultivo de algodão sem vene-no começou a ser articulada a partir de um grupo de agri-cultores do Assentamento Queimadas, no município deRemígio (PB), e de uma família do município de Solânea.As motivações iniciais desse grupo pioneiro estavam rela-cionadas à preocupação com a saúde das famílias e com a

Espaçamento de 1,10 x 0,40 m adotado por agricultores fami-liares produtores de algodão agroecológico em Remígio

O agricultor Zé de Sinésio coloca maniçoba nos caminhos dasformigas

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10 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

necessidade de produzir com baixos custos. Atualmente,com a evolução das experiências, as famílias envolvidaspreocupam-se também com a sustentabilidade ambientale financeira do conjunto de seus lotes.

Além das organizações que deram início à ex-periência, essa atividade, denominada Projeto EscolaParticipativa do Algodão, conta atualmente com a parti-cipação de sindicatos de trabalhadores rurais, dos escritó-rios da Emater dos municípios de Remígio e de Casse-rengue, assim como de associações comunitárias. Estãodiretamente envolvidas na experiência 50 famílias de agri-cultores de assentamentos e comunidades dos municípiosde Remígio, Casserengue, Solânea e Juarez Távora (verquadro).

Iniciativas similares a essa estão sen-do desenvolvidas em outros estados doNordeste. Em um seminário sobre al-godão agroecológico do Nordeste, re-alizado no segundo semestre de 2006,em Lagoa Seca (PB), foi criada umarede destinada a favorecer intercâmbi-os dos ensinamentos técnicos e de aces-so a mercados que vêm sendoconstruídos pelos diferentes grupos en-volvidos na produção agroecológica doalgodão. Em 2007, o segundo seminá-rio foi realizado em Tauá (CE).

Percepções

As estratégias preventivas para a convivênciacom o bicudo empregadas pelos agricultores no Curimataúsão hoje referendadas em diversas publicações científicas.Elas oferecem importantes pistas a pesquisadores, técni-cos e agricultores para que novas pesquisas e experimen-tações sejam realizadas. Entre outros aspectos relevan-tes, elas demonstram que não é necessário o uso de técni-cas de alto risco ambiental e elevado custo, tais como a

transgenia, para que os agricultores possam conviver comos insetos-praga.

Adilson Alves Costaengenheiro agrônomo, Msc.e técnico da Arribaçã

[email protected] Daniel da Silva

técnico agrícola e técnico da Arribaçã[email protected]

Ranyfábio C. de Macedoengenheiro agrônomo e técnico da Arribaçã

[email protected] Naelson Batista da Silva

engenheiro agrônomo, Dsc. e pesquisadorda Embrapa Algodão

[email protected]ão Macedo Moreira

engenheiro agrônomo e técnico da [email protected]

Referências bibliográficasMATTOS, L.C.; TRIER, R. Diagnóstico rápido e

participativo de recursos hídricos: conceitos emetodologia. Recife: AS-PTA, 1996.

MORALES, H. Pest Management in tradicionaltropical agroecosystems: lessons for pestprevention research and extension. IntegratedPest Management Reviews. v. 7, n. 3, p.145-163, 2002.

PINHEIRO, S. Cartilha da Seca. FundaçãoJunquira Candiru. 2003.

WANDERLEY JÚNIOR, J. S. A. Experiências paraprodução de algodão herbáceo em sistemasagroecológicos familiares no Curimataúparaibano. 2006. 23 p. Monografia(monografia para obtenção do título de enge-nheiro agrônomo) – Centro de Ciências Agrá-rias, Universidade Federal da Paraíba, Areia.

Quadro 1. Produção de algodão agroecológico por número de famílias

*Uma família e uma área coletiva manejada por 34 famílias.**Uma família e uma área coletiva manejada por um grupo de 17 jovens.

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Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008 11

Disseminando a estratégia“empurra-puxa”

ilhões de agricul-tores do leste daÁfrica dependem

dos cultivos de milho e de sorgo paragarantir a alimentação e a geraçãode renda de suas famílias. Entretan-to, a produção desses cultivos é gra-vemente afetada por insetos-pragacomo a broca-do-colmo e pela infes-tação da planta espontânea parasi-ta Striga hermonthica1. A broca-do-colmo promove quedas de 30 a 40%na produtividade, enquanto ainfestação de Striga provoca perdaseconômicas que vão de 30% a 50%em 40% da terra cultivável da Áfri-ca. Ainda que herbicidas geralmen-te venham sendo recomendados pe-los órgãos oficiais de pesquisa e ex-tensão, eles têm se demonstradopouco econômicos e práticos para osagricultores familiares, além de ge-rarem impactos negativos sobre omeio ambiente e a saúde das famíli-as. Por outro lado, o método tradi-cional de arranquio da Striga é mui-to trabalhoso e pouco eficaz.

Diante desse contexto, tornou-se necessáriodesenvolver alternativas acessíveis para lidar com as cres-centes ameaças aos sistemas agrícolas familiares na Áfri-ca. O sistema empurra-puxa mostrou-se como uma estra-tégia técnica eficaz para cumprir esse objetivo. Ele combi-na conhecimentos sobre a ecologia da Striga e da broca-do-colmo, enfocando, em particular, as interações quími-cas que essas espécies mantêm com outros organismos doagroecossistema. Essa estratégia foi desenvolvida por cien-tistas do Icipe (Centro Internacional de Fisiologia e Eco-

M

David Amudavi, Zeyaur Khan eJohn Pickett

logia de Insetos, em inglês), no Quênia, e do Centro dePesquisa Rothamsted, na Inglaterra, em colaboração comorganizações de pesquisa do leste africano. Este artigoexplica como o sistema tem sido adotado por agricultoresquenianos.

Como funciona o sistemaempurra-puxa?

O sistema é estruturado com o plantio de espé-cies repelentes aos insetos-praga nas áreas de cultivo (em-purra) e com o plantio de plantas atrativas a essas espéciesno entorno das áreas de cultivo (puxa). As espécies repelen-tes mais comuns são o capim-melaço (Melinis minutiflora)e uma espécie do gênero Desmodium (Desmodiumuncinatum). O capim-napiê (Pennisetum purpureum) e osorgo (Sorghum vulgare var. sudanense) são as espéciesmais utilizadas para a atração dos insetos-praga para fora

Consolata adora falar sobre o sucesso que obteve com o siste-ma puxa-empurra e compartilhar seu conhecimento com outraspessoas enquanto facilitadora da Escola Rural Agrícola

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1Striga é uma planta espontânea parasita encontrada de forma endêmica em váriospaíses da África e da Ásia. Devido à sua alta virulência e aos impactos econômicos degrandes dimensões, várias medidas de controle vêm sendo adotadas no Brasil paraimpedir a sua introdução nas lavouras do país. (N.ed.)2Push-pull system, em inglês. A Revista Agriculturas (v.4 n.1 , 2007 ) publicouum artigo sobre o emprego desse método. A Revista Leisa Global (v. 17, n. 4,dezembro 2001) apresenta o sistema como uma alternativa viável à produção demilho transgênico Bt.

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12 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

das áreas de cultivo. As plantas repelentes produzem de-terminadas substâncias químicas que afastam as brocas-do-colmo enquanto o capim-napiê produz, ao anoitecer,outras substâncias que evaporam facilmente. Algumasdessas substâncias atraem as lagartas, que acabam depo-sitando seus ovos ali. Felizmente, o capim-napiê tambémproduz uma substância pegajosa que imobiliza as larvasda broca-do-colmo. Poucas chegam à idade adulta e, comisso, a população de lagartas acaba sendo reduzida.

O sistema empurra-puxa também inibe e elimi-na a infestação da Striga por meio de diversos mecanis-mos, como fixação de nitrogênio, sombreamento do soloe alelopatia, mecanismo em que uma planta afeta outracom substâncias químicas. Neste caso, as raízes do Des-modium é que desempenham esse papel. Algumas dessassubstâncias estimulam a germinação das sementes deStriga, mas outras inibem o crescimento lateral e evitamque as raízes de striga se fixem nas raízes do milho. AStriga morre e o número de suas sementes no solo dimi-nui. Como o Desmodium é uma planta perene, ele contro-la a Striga mesmo quando a planta hospedeira está fora deestação, tornando-a uma planta repelente mais eficienteque outras.

Oportunidades para diversificar ossistemas familiares

O sistema empurra-puxa é um bom exemplo decomo uma pesquisa elementar pode contribuir para elevara produtividade agrícola e aperfeiçoar o uso sustentávelde recursos naturais. Essa estratégia proporciona diversosbenefícios, contribuindo direta e indiretamente para osustento das famílias agricultoras. Entre as oportunida-des que surgem, destacamos:

Aumento da segurança alimentar

No Quênia, o sistema empurra-puxa tem au-mentado em média 20% a 30% a produtividade do milhoem áreas afetadas apenas por brocas-do-colmo (distritode Trans Nzoia). Já nas áreas com incidência tanto debrocas como de Striga (como nos distritos de Vihiga, Siaya,Suba e Migori), o aumento foi de mais de 100%. Taisresultados têm sido decisivos para que as famílias se sin-tam incentivadas a adotarem o sistema.

Redução da erosão e aumento da fertilidadedo solo

Ao proporcionar boa cobertura do solo, o siste-ma contribui para a redução da erosão. Por meio da fixaçãode nitrogênio, o sistema empurra-puxa reduz a quantidadeexigida de fertilizantes nitrogenados que são de custo eleva-do e, portanto, inacessíveis para a maioria dos pequenosagricultores. Um estudo de campo de longa duração realiza-

do pelo Icipe em Mbita, oeste do Quênia, revelou um au-mento significativo do total de nitrogênio encontrado emparcelas em que foi feito o consórcio milho-Desmodium portrês anos, especialmente quando comparado a campos demilho consorciado com outras culturas.

Aumento da biodiversidade

O sistema empurra-puxa promove e conserva abiodiversidade por manter a variedade de espécies. Essadiversificação, por sua vez, melhora o funcionamento dosecossistemas natural e agrícola, ao contribuir com os ser-viços do ecossistema, tais como ciclagem e decomposiçãode nutrientes. Isso ajuda a desenvolver sistemas sustentá-veis de proteção dos cultivos, por dependerem menos douso de pesticidas. Um estudo realizado em Lambwe Valley(distrito de Suba) mostra que o sistema promove um au-mento global dos predadores benéficos, o que é muitoimportante para os sistemas agrícolas.

Criação de pequenos animais e promoção dasaúde da família

A baixa estabilidade na disponibilidade e regu-laridade da alimentação de animais tem sido um das maio-res limitações para a manutenção de gados leiteiros noleste africano. O sistema empurra-puxa produz forragemde qualidade para os animais. Em pequenas propriedadesonde a pressão de uso da terra é elevada, isso geralmentemelhora a saúde das famílias agricultoras, especialmentedas crianças. Além disso, vacas e cabras leiteiras têm seapresentado como alternativas importantes para a gera-ção de renda de agricultores que adotaram o sistema.

Proteção de ambientes fragilizados

A maior produtividade dos cultivos e a produ-ção de gado, resultantes das estratégias de manejo do agro-ecossistema, têm o potencial de garantir o sustento dasfamílias agricultoras sob diversas circunstâncias. Isso podefrear o movimento de migração da população rural paraáreas designadas para proteção ambiental. Além disso,agricultores que lançam mão dessas estratégias têm me-nos motivo para usar pesticidas que possam afetar a florae fauna do agroecossistema.

Geração de renda e eqüidade de gênero

O sistema empurra-puxa tem apresentado im-pactos promissores. Além de proporcionar um aumentono rendimento do sistema agrícola, ele consegue promo-ver uma maior valorização e empoderamento das mulhe-res das áreas rurais. O sistema oferece fontes alternativasde renda, uma vez que as famílias podem vender o exce-dente de grãos, de forragem e de sementes de Desmodium.Ao mesmo tempo, tem potencial para melhorar a qualida-

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Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008 13

de da vida rural, na medida em que mais agentes e parcei-ros interagem com os agricultores, que por sua vez pas-sam esse conhecimento a outros agricultores.

A disseminação do sistema

O sistema empurra-puxa tem sido adotado emmais de 10 mil propriedades em 19 distritos do Quênia,cinco de Uganda e dois da Tanzânia. Nesses três países ométodo tem sido promovido pelo serviço público de ex-tensão rural, por ONGs e pelo setor privado. Inicialmente,a difusão do sistema era feita por veículos de comunicaçãode massa (um programa de rádio chamado Tembea naMajira) e materiais impressos (jornais, panfletos, boletinsinformativos e pôsteres). Eram promovidas também visi-tas a campo em que o desempenho do sistema era compa-rado com o de métodos convencionais. Também foramrealizados eventos de divulgação que tiveram os própriosagricultores como instrutores, demonstrações práticas ereuniões públicas (barazas). Essas estratégias de difusãoobtiveram resultados variáveis.

A abordagem da Escola de CampoAgrícola – Farmer Field School (FFS)– está agora sendo empregada paradisseminar o sistema. Por seguir oprincípio de aprendizado intensivo,essa abordagem tende a aumentar aescala de adoção do método ao atin-gir milhares ou mesmo milhões deagricultores. A Escola de CampoAgrícola adota um currículo desen-volvido em conjunto por todos os gru-pos interessados e envolvidos, inclu-indo agricultores, equipe de extensãorural do governo, pesquisadores doIcipe e equipes de ONGs e de organi-zações de base comunitária. Os con-teúdos são apresentados em sessõessemanais durante duas temporadasde plantio, de forma que dois ciclosde desenvolvimento do milho sejamacompanhados. Isso se deve ao fatode que, durante a primeira tempora-da, os cultivos acompanhantes (oDesmodium e o capim-napiê) aindanão se encontram totalmente esta-belecidos para que os agricultorespossam aprender a manejá-los. Alémdisso, em função da ênfase dada aoaprendizado por meio da observaçãoe da descoberta, torna-se mais fácilaprender como conservar e utilizar

produtos do sistema empurra-puxadurante a segunda temporada, quan-do os agricultores também aprendema estruturar parcelas de empurra-puxa. Também faz parte do currícu-lo a coleta de informações relevan-tes para que seja realizada a avalia-ção da eficácia do método.

Depois do sucesso obtido com o lançamen-to do sistema empurra-puxa no distrito de Bungoma,oeste do Quênia, em março de 2007, o Icipe organizoua primeira oficina de capacitação para facilitadores daEscola de Campo Agrícola no mês seguinte. O objeti-vo era capacitá-los no sistema, para que pudessemimplementá-lo, além de desenvolver habilidades de fa-cilitação e de gestão de grupos. Os participantes daoficina foram facilitadores experientes das Escolas deCampo dos distritos de Bungoma e Busia e potenciaisfacilitadores dos distritos de Suba e Homa Bay, todosno oeste do Quênia. Depois da capacitação, os facili-tadores de Bungoma e Busia começaram a implementá-lo nas Escolas existentes em suas localidades. Hoje há22 em Bungoma e 12 em Busia

O Icipe organizou uma segunda oficina emjunho de 2007 em sua estação em Mbita para capacitarfacilitadores das Escolas de Campo Agrícolas dos dis-tritos de Suba e Homa Bay. A primeira etapa foi deidentificação de agricultores interessados, que partici-param de grupos focais de discussão entre agriculto-res-professores com experiência no sistema empurra-puxa e agricultores não-praticantes dessa técnica. Asdiscussões serviram para descobrir os perfis dos gruposde agricultores, o seu nível de acesso à informação e aexperiência que tinham no controle de Striga e brocas-do-colmo. Os debates também permitiram identificaros principais meios para aumentar a conscientizaçãoentre os agricultores acerca da estratégia e papel de-sempenhado pela Escola de Campo Agrícola como es-paço para o aprendizado de novas estratégias de ma-nejo agrícola. Cada grupo selecionou um agricultor paraparticipar da oficina de capacitação de facilitadores.Utilizando essa estratégia, o Icipe já capacitou diver-sos facilitadores de Escolas de Campo Agrícolas emcerca de dez distritos do oeste do Quênia. Tambémorganizou capacitação de agricultores de Uganda, queeventualmente serão capacitados como agricultores-facilitadores.

Uma história de sucessoConsolata James é mãe de quatro filhos e

vive numa propriedade de 1,5 hectares em Ebuchiebe,um vilarejo do distrito de Vihiga (oeste do Quênia).Ela pertenceu ao grupo dos primeiros 12 agricultores

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de Vihiga que visitaram a estação do Icipe em Mbita,assim como esteve entre os agricultores que foram aSuba em 2001 para aprender sobre o sistema empurra-puxa. Depois dessa experiência em campo, e contandocom o suporte técnico da equipe do Icipe, Consolata eos demais agricultores cultivaram áreas manejadas se-gundo o sitema inovador.

Consolota costumava colher cerca de 45 kgde milho por temporada de uma parcela de 1.000 m2.Durante o longo período de chuvas de 2002, ela co-meçou a usar o sistema empurra-puxa e conseguiu co-lher cerca de 270 kg dessa mesma área. Isso a moti-vou a aumentar a área do sistema empurra-puxa para2.000 m2 em 2006. Desde então, ela vende parte docapim-napiê que plantou para seus vizinhos e adqui-riu uma cabra leiteira, que é alimentada com a forra-gem que ela mesmo produz no sistema. Consolatatambém ampliou o seu rebanho, o que fez sua produ-ção de leite aumentar. Atualmente, ela é facilitadorade uma Escola de Campo Agrícola no vilarejo deEbukhaya e Consolata tem disseminado o sistema em-purra-puxa para diversos agricultores da vizinhança.

Por ser um exemplo de sucesso, ela já rece-beu mais de 30 visitas até de outros distritos. Ela vemexpandindo gradativamente suas áreas manejadas se-gundo o sistema empurra-puxa, deixando uma peque-na parcela de sua propriedade para plantar milho e fei-jão. Quando perguntamos o que ela mais apreciou naexperiência com o sistema, ela respondeu: “Não preci-so mais comprar milho no mercado para alimentar mi-nha família. Além disso, o sistema me permitiu ter umrebanho maior.”

Perspectivas

O sistema empurra-puxa não é uma soluçãouniversal para os problemas enfrentados por pequenosagricultores, mas pode oferecer alternativas para di-versificar os sistemas de produção familiares. O maior

obstáculo para que ele seja difundido a milhares oumesmo milhões de agricultores tem sido a baixa dispo-nibilidade de sementes de Desmodium. Para contornaressa situação, diversas oportunidades têm surgido, in-clusive o envolvimento de uma empresa privada doramo, assim como a produção comunitária de semen-tes e a propagação vegetativa. Os efeitos que essasiniciativas tiveram sobre a disseminação do sistema ain-da estão sendo estudados.

O trabalho está sendo direcionado no senti-do de desenvolver ferramentas para garantir o desem-penho de novos componentes do sistema empurra-puxa, assim como para elevar nossa compreensão acer-ca da dinâmica dos nutrientes do solo. Pesquisas tam-bém estão sendo conduzidas sobre o aparecimento deuma praga não-reconhecida (um besouro polinizadorque ataca o Desmodium) e de uma doença que afetouo capim-napiê. Algumas questões têm sido levantadasacerca do potencial de integração de novas estratégiasde produção e proteção. Dessa forma, o sistema em-purra-puxa fornece novos temas para o desenvolvimentode pesquisas mais abrangentes e serve como inspiraçãopara o manejo de outras pragas na África e em outroscontinentes.

David M. Amudavitécnico do Icipe em Nairobi, Quênia

[email protected]

Zeyaur R. Khantécnico do Icipe en Nairobi, Quênia

[email protected]

John A. PickettRothamsted Research, Inglaterra

[email protected]

Referências bibliográficasCOOK, S.M.; KHAN, Z. R.; PICKETT, J.A. The

use of ‘Push-Pull’ strategies in integrated pestmanagement. Annual Review of Entomology,n.52, p. 375-400, 2007.

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NIELSEN, F. The Push-Pull system – a viablealternative to Bt maize. LEISA Magazine, v.17, n. 4, p. 17-18, dez. 2001.

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Demonstração prática do sistema

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Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008 15

região do Vale doRio Caí, Rio Gran-de do Sul, é ca-

racterizada pela forte presença daagricultura familiar. As condiçõesclimáticas favoráveis à citriculturapermitiram que essa atividade sedesenvolvesse bem na região, emespecial com a produção de tange-rinas e laranjas para consumo fres-co. Os pomares possuem entre doise cinco hectares, e uma parcela sig-nificativa deles é manejada organi-camente.

O aprimoramento da produção ecológica decitros na região, entretanto, exige mudanças no entendi-mento do funcionamento dos agroecossistemas por partedos agricultores. Em particular no que se refere à maneiracomo são percebidos os organismos espontâneos, em ge-ral considerados pragas. Alguns desses organismos de fatopodem causar sérios danos aos cultivos, como é o caso dominador-das-folhas-dos-citros (ver quadro).

Para trabalhar com temas como esse é que, em2000, associados da Cooperativa dos Citricultores Eco-lógicos do Vale do Caí (Ecocitros) e outros citricultoresecológicos da região iniciaram ações de pesquisa parti-cipativa ao se articularem com pesquisadores do Progra-ma de Pós-Graduação em Fitotecnia da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul (UFRGS) e técnicos daEmater/RS. Posteriormente, essas iniciativas incorpora-ram outros grupos de citricultores, inclusive convencio-nais, além de pesquisadores da Embrapa Clima Tempera-

Interações entreinsetos-praga e seus

inimigos naturais em pomaresorgânicos de citros

Simone Mundstock Jahnke

A Minador-das-folhas-dos-

citrosO minador-das-folhas-dos-citros

(Phyllocnistis citrella) é um inseto nativo do su-deste asiático. Foi registrado no Brasil pela pri-meira vez em 1996, tendo se disseminado empoucos meses por todas as regiões produtorasde citros. O adulto desse inseto é uma pequenamariposa que deposita seus ovos sobre as folhasnovas em brotos de citros. Ao eclodir, a larva seintroduz na folha, sob a epiderme. Para alimen-tar-se, escava uma galeria sinuosa, conhecidapor mina. Ao final da fase de larva, o minadorenrola a borda da folha, formando uma câma-ra, onde empupa. Devido à ação minadora daslarvas nas folhas, o inseto pode provocar danosdiretos e indiretos às plantas, tal como abrir pas-sagem para a entrada da bactéria Xanthomonascitri pv.citri, causadora do cancro cítrico, umadoença que prejudica seriamente a produção ea comercialização dos frutos.

do, de Pelotas, passando então a se denominar Grupo deCitricultura Ecológica (GCE).

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16 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

Entre outras prioridades estabelecidas, o gru-po decidiu atuar no estudo da ecologia dos principais or-ganismos espontâneos encontrados nos pomares de citros,visando subsidiar o desenvolvimento de formas de convi-vência e de manejo mais adequadas a um modelo de agri-cultura de base ecológica.

Aprendendo ecologia na prática

Para a realização dos estudos, o grupo es-colheu áreas de uma única propriedade, localizada nomunicípio de Montenegro, minimizando assim possíveisinfluências que formas diferentes de manejo poderiam tersobre os resultados da pesquisa. O responsável pelo ma-nejo dos pomares, Luiz Laux, acompanhou de perto to-das as atividades. Foram escolhidos pomares com cercade dez anos de plantio de Citrus reticulata (bergamota),das variedades montenegrina e murcott, ambas com por-ta-enxerto Poucirus trifoliata. A murcott é um híbridobastante resistente, enquanto a montenegrina, naturaldo Rio Grande do Sul, é a principal variedade cultivada noestado. Os pomares foram manejados ecologicamentedesde sua instalação e não ficaram improdutivos duranteos anos em que o estudo foi conduzido.

O manejo de plantas espontâneas nos po-mares foi realizado sempre com roçadas nas entrelinhas

uma vez ao ano, aplicações anuais de biofertilizantelíquido e, a cada dois anos, de composto orgânico pro-veniente da Usina de Compostagem da Ecocitrus. Parao controle da pinta-preta e do cancro cítrico foramaplicadas a calda bordaleza (três vezes ao ano) e a cal-da sulfocálcica (anualmente).

Vários estudos relativos à ecologia dominador do citros, de seus inimigos naturais e de ou-tros organismos da fauna associada ao cultivo foramrealizados nesses pomares. Após quatro anos de pes-quisa, foi possível verificar a existência de três princi-pais fluxos de brotação em montenegrina e dois emmurcott. A presença dos minadores no pomar demontenegrina foi registrada, em geral, ao final do pri-meiro fluxo de brotação, enquanto no caso da varieda-de murcott apenas do segundo fluxo em diante. A pre-sença de brotos e a elevação da temperatura foram ascondições identificadas como mais favoráveis ao de-senvolvimento dos insetos-praga. Essa conclusão foiimportante para que pudéssemos concluir não ser ne-cessária qualquer medida de controle da população dominador antes do segundo fluxo de brotação, ao con-trário do que muitos citricultores vinham fazendo.

Também foi verificado que a variedademontenegrina era mais suscetível e que o número deminas por folha poderia ser um bom indicador da popu-lação do minador, uma vez que o reduzido tamanho e agrande motilidade dos adultos desse inseto dificultama estimativa da população por observação direta. Alémdisso, percebeu-se que o manejo sem o uso de insetici-

1Parasitóides são insetos importantes para o controle biológico, pelo fato deque suas larvas se alimentam do corpo de outros insetos, os hospedeiros, resul-tando na morte destes.

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Grupo de agricultores envolvidos na pesquisa

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Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008 17

das pode ter favorecido interações ecológicas, princi-palmente com inimigos naturais, que podem ter redu-zido as populações do minador-das-folhas-dos-citros,mantendo-as em níveis toleráveis mesmo em condiçõesclimáticas favoráveis ao desenvolvimento do inseto-praga.

Registrou-se ainda um grande número deparasitóides nativos atuando sobre o minador-da-folha-dos-citros. Esses organismos são agentes de grande im-portância em ecossistemas naturais e agrícolas, pois têmo poder de regular as populações de seus hospedeiros.Entretanto, a partir de um determinado momento, sur-giu também um parasitóide exótico (Ageniaspis citricola),que tem sido utilizado no Brasil para o controle de P.citrella. Ao ser liberada por outros agricultores em áreaspróximas ao pomar da família Laux, a espécie exótica ra-pidamente se disseminou por toda a região, interferindono equilíbrio ecológico anterior por prejudicar o desen-volvimento das espécies nativas. Com a redução da diver-sidade de espécies de parasitóides, as interações ecológi-cas almejadas pelos princípios da Agroecologia diminu-em, o que compromete a estabilidade dosagroecossistemas.

Em outro trabalho, realizado na mesma áreaentre 2003 e 2004, foi estudada a relação entre os inse-tos minadores em plantas espontâneas e seus respectivosparasitóides. Durante o estudo foram apontadas 29 es-pécies de insetos minadores ocorrendo em 26 espécies deplantas hospedeiras, além de 24 espécies de microhime-nópteros parasitóides pertencentes a gêneros com bompotencial de controle biológico. Alguns dos gêneros deparasitóides nativos identificados foram relatados em ou-tros estudos parasitando a P. citrella. Nossos estudostambém identificaram outras espécies (dos gênerosChrysocharis e Sympiesis) que atuaram como parasi-tóidessobre o minador-das-folhas-dos-citros.

Nesse sentido, pudemos comprovar oquanto a presença e ação desses orga-nismos na vegetação espontânea são

fundamentais para a manutenção dadiversidade de agentes de controle bio-lógico nos pomares. Estudos sobre acomunidade de inimigos naturais asso-ciados aos minadores são, portanto,necessários para se compreender a im-portância da diversidade para o equilí-brio dos agroecossistemas. Percebe-mos, portanto, que um manejo adequa-do da vegetação espontânea do pomarpoderá favorecer o estabelecimento ea multiplicação de inimigos naturais deinsetos minadores e de outros insetosnão-desejáveis.

Importância prática doconhecimento sobre ecologia empomares de citros

Além de gerarem vários artigos científicos, te-ses e dissertações, os resultados dos trabalhos de pesquisarealizados junto à comunidade foram absorvidos pelosagricultores que acompanharam todas as atividades deinvestigação no dia-a-dia.

O entendimento pelos agricultoresdas relações ecológicas que ocorremem seus sistemas de cultivo tem semostrado um fator importante parao aprimoramento da agricultura debase ecológica praticada na regiãodo Vale do Rio Caí. Apenas o fatode saber distinguir entre os organis-mos nocivos e os benéficos já signi-fica que há maior compreensão dosistema, o que imprime mais agili-dade nas tomadas de decisões de ma-nejo. Com os dados gerados pelostrabalhos aqui relatados, agriculto-res e técnicos passaram a ter condi-ções de estabelecer técnicas de ma-nejo favoráveis à manutenção e in-cremento de inimigos naturais e, des-sa forma, diminuir as populações dominador, com redução de custos einsumos externos.

Simone Mundstock Jahnkeprofessora adjunta da UFRGS,

Departamento de [email protected]

Minador-das-folhas-dos-citros

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18 Agriculturas - v. 5 - no 1 - abril de 2008

Agroflorestassucessionais

no manejode plantas

espontâneasna Amazônia

Nicole Rodrigues Vicente

A tualmente o esta-do de Rondôniaconstitui a princi-

pal frente de expansão das frontei-ras agropecuárias do país. A cres-cente exploração extensiva dapecuária bovina e do cultivo da sojaprovocou aumentos dramáticos dasáreas subtraídas às florestas nativasda região.

Realizada principalmente por migrantes vindosnas últimas décadas de outros estados, a agricultura emRondônia se fundamenta em técnicas importadas de re-giões de clima temperado. O uso intensivo dos solos, compráticas de aração, gradagem, subsolagem, emprego deagrotóxicos (herbicidas e inseticidas) e de fertilizantesquímicos, tem por objetivo eliminar a regeneração naturale criar condições ambientais propícias para a produção emsistema de monocultivo.

A implementação desse sistema técnico nobioma tem conduzido os ecossistemas agrícolas a acelera-dos e profundos processos de degradação que inviabilizama permanência das famílias agricultoras em suas terras apóspoucos anos de cultivo. Dessa forma, em que pesem osgrandes aportes de insumos da agricultura moderna, tallógica de uso da terra não se diferencia essencialmente dostradicionais sistemas da agricultura migratória, na medida

em que as famílias logo são levadas a buscar novas áreaspara o plantio, em razão da queda do potencial produtivodos solos e do aumento da incidência de plantas espontâ-neas competidoras das espécies cultivadas.

A produção de leite foi uma alternativa incen-tivada para fazer frente à queda da fertilidade das terras e,conseqüentemente, aos aumentos dos custos de produ-ção das lavouras. Porém, tal como implementada, essaalternativa também mostrou logo suas fragilidades emrazão dos impactos ambientais negativos ocasionadospelo superpastejo.

Construindo alternativassustentáveis para a agriculturafamiliar

Com o objetivo de diagnosticar e enfrentar osprincipais problemas produtivos vivenciados pela agricul-tura familiar no estado, a Comissão Pastoral da Terra (CPT)de Rondônia e o Projeto Padre Ezequiel (PPE) promove-ram, em 2001, alguns encontros regionais. A necessidadede garantir o acompanhamento técnico a famílias agri-cultoras interessadas na experimentação agroecológica foipriorizada. Assim surgiu o Projeto Terra Sem Males(PTSM), financiado a partir de 2003 pelo Cafod (CatholicAgency Found for Oversea Development), agência ingle-sa católica de cooperação para o desenvolvimento.

Entre 2003 e 2006 o projeto acompanhou sis-tematicamente trinta famílias de quatorze municípios das

Agrofloresta em estágio secundário

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regiões norte, sul, leste e oeste do estado. A partir de2007 a abrangência geográfica foi reduzida, mas o núme-ro de famílias aumentou para cerca de cinqüenta.

As inovações agroecológicas estimuladas peloprojeto estavam orientadas fundamentalmente a intensi-ficar a produção diversificada de alimentos para o auto-consumo familiar e para a venda, evitando a adoção depráticas danosas aos solos e à biodiversidade nativa.

Novo olhar sobre as plantasespontâneas

Um dos maiores desafios enfrentados pelo proje-to para estimular o avanço dos processos de transiçãoagroecológica nas propriedades acompanhadas foi a cons-trução e disseminação de nova concepção técnica para omanejo das plantas espontâneas. Ao conceituarem essasplantas como ervas daninhas, os agricultores acabavam poradotar estratégias para eliminá-las das áreas de lavoura, en-tre as quais, a queimada, os herbicidas e a capina excessiva.

Para reverter essa tendência, a equipe doProjeto Arboreto do Acre (ParqueZoobotânico/Universidade Federal doAcre) deu início a um processo decapacitação dos agricultores orientadopara construir uma nova percepção acer-ca das plantas espontâneas a partir da dis-cussão sobre os princípios da regeneraçãonatural nos ecossistemas amazônicos esobre os ciclos de vida das espécies flores-tais nativas. Foram então apresentadasao grupo as técnicas de manejo agro-florestal que, com vistas ao aprimoramen-to das lavouras de café, introduziram pre-ceitos ecológicos para o manejo das plan-tas espontâneas, assim como para a ma-nutenção da fertilidade dos solos.

Por meio de cursos, mutirões e da observaçãode áreas experimentais, um grupo de 15 famílias plan-tadoras de café decidiu reorientar suas práticas de manejodos cafezais, incorporando esses novos conceitos e prin-cípios agroflorestais.

Esses princípios foram colocados em prática apartir da conjugação de alguns manejos, entre os quais: amanutenção do solo protegido com cobertura viva, mortae/ou com o sombreamento proporcionado pelas árvores;manutenção das espécies florestais da regeneração naturalnos cafezais; introdução, nos cafezais, de espécies de inte-resse econômico adaptadas à região; valorização das espéci-es espontâneas como fonte de adubação; realização de po-das em árvores senescentes e em árvores que sombreiamexcessivamente os pés de café.

As experiências de duas famílias acompanha-das pelo projeto ilustram como esses princípios foram in-corporados em situações distintas, permitindo o abando-no das práticas tradicionais de manejo das plantas espon-tâneas, além de baixar custos de produção e promovermaior vitalidade aos cafezais.

A experiência da família MendesCosta

Há mais de sete anos a família Mendes Costarealiza um trabalho inovador em sua propriedade, o sítioCruzeiro do Sul, no município de Mirante da Serra. Aeconomia familiar é baseada na combinação da produçãodo café e do leite, assim como na alta diversidade de espé-cies alimentícias destinadas essencialmente para o auto-consumo, tais como manga, banana, laranja, limão, cana-de-açúcar, hortaliças e mandioca.

A família começou sua experiência de agroflorestasucessional numa área onde antes havia apenas o cultivo decafé, consorciado com um ou outro pé de urucum, coco,mandioca e feijão nas entrelinhas. Naquela época, a manu-tenção da área de cultivo demandava muito esforço devidoà forte incidência do capim braquiária (Brachiariadecumbens). As inovações no manejo foram incorporadas àmedida que a família passou a participar das atividades decapacitação oferecidas pelo projeto.

Inicialmente a família realizou o plantio adensadode espécies pioneiras de ciclo rápido, tais como o milho e aabobrinha; de ciclo médio, como o gergelim e a mandioca; ede ciclo mais longo, como a bananeira, o cacau e a pupunha.As plantas espontâneas não-florestais eram roçadas com foi-ce, enquanto as espécies florestais eram deixadas na área coma função de ajudar o desenvolvimento da lavoura. Quando ouso da foice se tornava prejudicial para o crescimento de espé-cies de interesse no sistema, realizava-se o arranquio manual,prática também conhecida como capina seletiva manual.

A capina seletiva permitiu o crescimento de es-pécies florestais espontâneas que cumprem várias funçõesecológicas e que são manejadas ao longo do tempo de acor-do com seus ciclos de vida. Entre as espécies florestais es-pontâneas mantidas na área destacam-se: o ingá (Inga spp),a embaúba (Cecropia spp), a goiaba (Psidium guayava), ofreijó (Cordia Alliodora), o cedro (Cedrela odorata), a cere-jeira (Torresia acreana) e a seringueira (Hevea brasiliensis).

O sombreamento do solo pelas espéciesarbóreas é um mecanismo ecológico de inibição, em queuma espécie ou grupo de espécies limita o desenvolvi-mento de outras através de comportamentos antagonis-tas ou repelindo-as com substâncias químicas (Ricklefs,2003). Para colocar esse princípio em prática, os agricul-tores permitem que um determinado grupo de espécies seestabeleça no sistema de forma a sombrear o solo einviabilizar a colonização da área por espécies de capinsque dependem de alta incidência luminosa para vegetar.

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A experiência da família Ardisson

O cafezal da família Ardisson, residente nomunicípio de Vale do Paraíso, era inicialmente conduzidoem sistema de monocultura, o que favorecia a coloniza-ção de braquiária e capim colchão (Digitaria spp) nas en-trelinhas. O aparecimento dessas plantas espontâneasobrigava a realização de roçagens regulares (com foice oucom roçadeira costal), prática que aumentava os custos eo desgaste físico dos membros da família.

Do ponto de vista ecológico, porém, essas espé-cies tradicionalmente consideradas daninhas cumprem fun-ção de proteção do solo por meio do mecanismo de tolerân-cia, em que uma espécie ou grupo de espécies coloniza umdeterminado habitat pela sua alta capacidade de dispersão ede adaptação às condições ambientais locais, no caso aqui aalta incidência luminosa (Ricklefs, 2003).

Como atividade prática do curso de sistemasagroflorestais oferecido pelo projeto, a família implantouuma área experimental de agrofloresta sucessional em trêslinhas de seu cafezal, tendo cada linha 10 metros de ex-tensão. Nessa área, a família pôde observar o desenvolvi-mento do sistema e tirar lições sobre as práticasagroflorestais.

Em cada uma das linhas foi realizado um manejodiferente dos capins. Na primeira, utilizou-se a capina ma-nual; na segunda, a retirada com auxílio do facão; e naterceira, a capina com enxada. Após a limpeza da área, fo-ram introduzidas, nas parcelas, espécies de ciclo curto, mé-dio e longo, a maioria via sementes, nas categorias: a) agríco-

las: banana, abacaxi e mandioca; b) florestais: mulungu(Erythrina spp), tucumã (Astrocarium spp), urucum(Bixa orellana), mapati (Pourouma cecropiaefolia), mog-no (Swietenia macrophylla), cumaru (Dipteryx odorata),freijó e cerejeira; c) adubação verde: puerária (Puerariaphaseoloides), mucuna-preta (Mucuna aterrina), guandu(Cajanus cajan) e feijão-de-porco (Canavalia ensiformis D.C).

Além das plantas introduzidas, algumas espé-cies se desenvolveram espontaneamente, entre elas, abandarra (Parkia multijuga bth), o assa-peixe (Vernoniapolyanthes), o cedro-rosa (Cedrela odorata) e a casta-nha-do-brasil (Bertholletia excelsa).

Ao longo dos seis meses que se seguiram após aintrodução de novas espécies ao sistema, a família realizou omanejo de poda das pioneiras (ciclo curto), como puerária,mucuna-preta e assa-peixe (Vernonia polyanthes), além dacolheita da mandioca. Realizou também o manejo de con-dução das espécies secundárias como o guandu, com oobjetivo de aportar biomassa ao sistema e dessa formafavorecer as espécies secundárias mais tardias que perma-neceriam na área por longo prazo, como urucum, bana-na, mapati e freijó.

A manutenção do sistema diversificado eadensado ao longo do tempo visa transformar o ambienteinicial em um habitat biologicamente mais rico, que tem seufuncionamento ecológico e sua fertilidade preservados pelasucessão biológica. Esse sistema de manejo fundamenta-seno mecanismo de facilitação, através do qual um grupo deespécies proporciona condições ecológicas mais adequadaspara a colonização de espécies de um estágio sucessionalmais avançado (Ricklefs, 2003). Desse ponto de vista, essesistema diferencia-se totalmente das práticas tradicionais demanejo das plantas espontâneas, uma vez que estas últimasnão permitem que a sucessão biológica ocorra.

Nicole Rodrigues Vicenteengenheira agrônoma, Msc em Recursos Genéticos Ve-getais (Universidade Federal de Santa Catarina) e inte-

grante da ONG Mutirão [email protected]

Referências bibliográficasINSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPA-

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RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5.ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.503p.

Agrofloresta em estágio inicial

Carreador sombreado

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Roedores: umaestratégia ecológica

para o controle de umproblema global

Steven R. Belmain

roblemas com ro-edores são en-frentados em co-

munidades rurais de todo o mundo.Ratos se alimentam dos cultivos,contaminam a comida armazenada,danificam as casas e outros bens eainda transmitem doenças perigosaspara pessoas e animais. Quandocomparado com os insetos-praga, ocontrole de ratos e camundongospode parecer difícil. No entanto, aexperiência tem comprovado, quequando se emprega o conhecimen-to sobre a ecologia desses animais eferramentas apropriadas, é possívelreduzir significativamente a popula-ção de roedores, numa relação cus-to-benefício favorável. Nos últimosanos, vários países da Ásia e Áfricatêm conduzido pesquisas aplicadassobre o manejo ecológico de roedo-res, envolvendo diversas institui-ções de pesquisa e extensão que tra-balham em colaboração com comu-nidades rurais, visando a desenvol-ver estratégias eficazes de controlee cujos benefícios superem os cus-tos. Este artigo trata do conheci-mento gerado a partir dessas pes-quisas, focando no trabalho desen-volvido nos vilarejos de Jakuni-para,

Sowara, Sahapur e Anan-dapur, to-dos em Bangladesh1.

Identificando o problema

Em Bangladesh, assim como em muitos paí-ses, não há um registro consistente sobre os danos pro-vocados pelos ratos. É difícil, por exemplo, calcular osprejuízos em produtividade. Também não é conhecido ograu de incidência de doenças transmitidas por esses ani-mais, tais como leptospirose e tifo. Além disso, simples-mente não há levantamentos dos impactos dos roedoressobre os alimentos armazenados, sejam em perdas diretasou por contaminação. O que se sabe é que praticamentetodos os cultivos são atacados por roedores e que elessão portadores de mais de 60 doenças que põem em riscoa vida do ser humano. A redução das perdas da colheitae da contaminação dos alimentos por ratos não só melho-ra a saúde e a nutrição, como também pode elevar a rendafamiliar.

Outro problema comum relacionado aos ratosé que muitas vezes não há uma demanda expressa parafazer algo para controlá-los. Muitos problemas com roe-dores não são bem compreendidos pelos agricultores, e osmétodos tradicionais de combate raramente são adequa-dos, o que faz com que os agricultores acabem simples-mente se resignando com a situação. Assim, pode-se dizerque um dos maiores problemas para desenvolver melhoresestratégias de combate aos roedores é justamente enten-der e perceber o real impacto na vida e nos meios de sus-tento das famílias. Portanto, é fundamental que os verda-deiros prejuízos provocados pelos roedores sejamexplicitados para que as comunidades possam avaliar o

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1 Os trabalhos foram desenvolvidos em parceria com a ONG Associação para o Desen-volvimento Integrado, de Comilla, e com cientistas do Instituto de Pesquisa de Arrozde Bangladesh, da CSIRO (Agência Nacional de Ciência da Austrália) e do Institutode Recursos Naturais, da Inglaterra.

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quanto devem investir no controle da praga. Além disso, éimportante proporcionar as ferramentas e conhecimentosapropriados para que as comunidades possam manejar osroedores numa relação custo-benefício favorável.

Colocando em prática o manejoecológico de roedores

Em Comilla, havia muitos relatos informais so-bre o ataque de roedores, mas era necessário obter infor-mações precisas sobre o impacto que causavam na vida eno sustento das famílias. Pesquisas mostraram que cercade 5% a 10% do arroz estocado era perdido num períodode três meses de armazenagem, o que significava umaperda anual de aproximadamente 200 kg por famíliaagricultora. Assim como em grande parte da Ásia, a mai-oria dos agricultores de Bangladesh constatou que paracada oito fileiras de arroz plantadas cerca de duas fileiraseram consumidas pelos ratos. Segundo nossa avaliação,as perdas antes da colheita variavam entre 5% e 17% noscampos de arroz. Depoimentos de agricultores revelaramainda alguns estragos que não costumam ser conta-bilizados, tais como o dano físico nas casas, nos benspessoais, nas estradas e nos campos de cultivo.

Pesquisas e questionários aplicados a agricul-tores e membros das comunidades possibilitaram averi-guar a eficácia das ações de manejo de roedores conduzidaspor agricultores em seus cultivos e em suas residências.Assim como na maioria dos países, os agricultores deBangladesh tinham acesso a alguns métodos e ferramen-tas de controle de roedores. No entanto, por não seremusados de maneira apropriada ou por não serem adequa-dos aos contextos locais, muitas vezes esses métodos nãosurtiam o efeito esperado, o que gerou um sentimento deapatia e conformismo geral acerca da presença dos roe-dores. Raticidas são freqüentemente usados para comba-ter os roedores. Infelizmente, também é muito comum ouso inadequado desses venenos. E o mais importante:quando um raticida é usado de forma incorreta, ele nãoproduz necessariamente uma redução significativa dos

roedores. Outros métodos, como armadilhase manejos ambientais, podem ser mais apro-priados para as áreas rurais ou periferias depaíses em desenvolvimento.

Primeiro passo: conheça a praga

Assim como em qualquer estraté-gia de manejo integrado de pragas, o princí-pio básico é conhecer a ecologia do organis-mo a ser controlado. Nem todas as espéciesde roedores são iguais. Cada uma tem suaspróprias épocas de procriação, habitats e com-portamentos. Esses fatores determinam a ca-tegoria do animal e o método de controle a

ser empregado. Por exemplo, alguns ratos gostam de vi-ver em árvores ou nos telhados das casas, enquanto ou-tros gostam de se entocar no solo ou nas paredes de casasde pau-a-pique. Dessa forma, é importante saber onde osroedores vivem para decidir as ações de combate a seremutilizadas.

Os roedores também se adaptam muito facil-mente, e ratos da mesma espécie podem explorar diferen-tes alimentos e habitats quando se encontram em ambi-entes diversos. Depois de adquirir conhecimentos bási-cos sobre os roedores – onde e quando eles provocamdanos e os tipos e extensão dos prejuízos causados aoscultivos, aos alimentos armazenados e à saúde –, é possí-vel lidar com todos os problemas de forma integrada. Es-sas informações aumentam a compreensão das pessoassobre quanto custa não tomar nenhuma atitude de com-bate à praga, assim como permitem avaliar a relação cus-to-benefício ao determinar a estratégia de manejo queserá adotada.

Segundo passo: conheça o público-alvo

Além de compreender os hábitos dos roedo-res, o manejo ecológico também deve considerar o co-nhecimento, as atitudes e práticas adotadas pelas famí-lias afetadas. Para que uma prática de controle de roedo-res seja efetiva, ela deve levar em conta as limitações fi-nanceiras e de disponibilidade de tempo das pessoas afe-tadas pelo problema. A convivência entre roedores e se-res humanos pode ser complexa, uma vez que os ratospodem ser vistos como alimento, praga ou até mesmoserem associados à bruxaria e outras crenças religiosas.Portanto, entender as práticas, a cultura e os conheci-mentos locais ajuda a definir qual estratégia será maisadequada e sustentável.

Por exemplo, poucos são os agricultores queentendem a diferença entre raticidas de ação aguda e crô-nica, e muitas vezes escolhem os primeiros (mais tóxicos)porque se impressionam com o número de animais mor-tos encontrados pela manhã, o que raramente se vê quan-do utilizam versões crônicas de veneno. Porém, os vene-

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Cada espécie de roedor possui hábitos próprios. Conhecê-los éo primeiro passo para que as estratégias de prevenção e con-trole sejam bem-sucedidos

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nos de toxicidade crônica podem funcionar beme reduzir de forma eficaz a população de pragas,ainda que seus efeitos não sejam tão facilmenteperceptíveis, uma vez que os roedores morremem suas tocas.

Terceiro passo: conheça a tecnologiadisponível

O uso de raticidas que atuam interfe-rindo na coagulação do sangue dos roedores2

continua sendo uma ferramenta poderosa, so-bretudo em áreas urbanas e de agricultura de lar-ga escala. No entanto, em termos financeiros eambientais, sua sustentabilidade é questionávelpara a maioria das situações encontradas nas comunida-des rurais e de periferia urbanas.

Por serem animais itinerantes, que se deslo-cam diariamente por longas distâncias em busca de ali-mentos, o princípio básico para o manejo ecológico deroedores é que as comunidades agricultoras se unam paracombatê-los. Ao atuar por conta própria, de forma indivi-dual, seja em sua residência ou em seu campo de plantio,o impacto na população total de roedores será pequeno.Isso implica na necessidade das comunidades efetivamentese articularem, o que evidencia a importância de incenti-var altos níveis de coesão comunitária para que o manejoecológico de roedores seja bem-sucedido. Isso pode re-presentar um grande desafio, particularmente em con-textos de periferias urbanas. Entretanto, a relação custo-benefício de trabalhar conjuntamente para controlar roe-dores é favorável, por serem baixos os investimentos, umavez que o esforço total é dividido entre várias famílias. Omanejo ecológico de roedores deve consistir, portanto,em um esforço coletivo da comunidade.

Tentar reduzir a população de ratos fazendouso intensivo de armadilhas exige muita dedicação detempo e trabalho, mas o investimento financeiro é bai-xo se comparado à compra contínua de venenos. Atéporque as ratoeiras podem durar muitos anos. Quasetodo mundo sabe os princípios básicos para se captu-rar ratos e muitas vezes modelos tradicionais de arma-dilhas podem ser encontrados. No entanto, nem todasas armadilhas são iguais. Alguns modelos funcionammelhor que outros. Armadilhas de boa qualidade po-dem não ser encontradas facilmente em certos lugares,problema que cabe ao mercado e às políticas públicascorrigirem. O princípio básico para a intensa captura éexpulsar os ratos de forma mais rápida do que eles po-dem se reproduzir. Ratos se reproduzem muito rápido,o que significa que a intensa caçada deve continuardiariamente por um bom tempo, com ratoeiras espa-lhadas cobrindo grandes áreas.

Nossas atividades em Bangladesh mostraramque poderíamos reduzir a população de ratos em mais de80%. Esse resultado foi atingido por comunidades quelançaram mão da estratégia de caçada intensa e diáriacom armadilhas espalhadas por todo o vilarejo. Cerca de50% das casas tinham uma ou duas armadilhas de quali-dade para captura diária. As ratoeiras eram constante-mente transferidas para outras casas, de forma que todasas residências do vilarejo estivessem envolvidas. Com acaptura contínua e diária durante dois meses, a popula-ção de roedores caiu vertiginosamente e permaneceu bai-xa na medida em que essa estratégia foi adotada por to-dos do vilarejo.

Outro método de captura que tem sido desen-volvido e usado de forma eficaz é o sistema armadilha-barreira. Ele é composto pelo plantio de um cultivo-iscaprotegido por uma cerca à prova de ratos e pela distribui-ção de várias armadilhas na cerca. Os roedores são atraí-dos pelos cultivos-iscas e ficam presos nas armadilhas aose aproximarem dos cultivos. Muitos roedores são atraí-dos de campos de cultivo dos arredores, deixando umagrande extensão de área livre dessa praga. Dessa forma,vários agricultores se beneficiam com apenas um sistemade captura. Entretanto, alguns critérios devem ser segui-dos para que o sistema funcione: os plantios nos camposde cultivo das famílias do entorno devem ser realizadosmais ou menos ao mesmo tempo para que o cultivo-isca,de amadurecimento precoce, seja a única fonte de ali-mentos na área. Além disso, a comunidade deve atuarconjuntamente para dividir os custos do investimento fei-to para a montagem e manutenção do sistema.

A população de ratos também pode ser reduzi-da por meio de mudanças permanentes no meio ambientee na disponibilidade de comida, água e lugares para seusninhos, elementos necessários para a sobrevivência dosroedores. Tais ações são geralmente denominadas comomanejo ambiental. Elas podem ser especialmente efica-zes quando o objetivo é manter os ratos longe das casas edos lugares de armazenamento de comida e água destina-das ao consumo da família. Por exemplo, isso pode impli-car na construção de um depósito de cereais à prova de

2O princípio ativo desses raticidas age impedindo a coagulação do sangue, causandoa morte do roedor por hemorragias internas e externas. (N. da T.)

Diferentes modelos de ratoeiras

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roedores dentro da propriedade, ou assegurar que a águaarmanzenada seja adequadamente coberta para evitar queos roedores comam, bebam ou contaminem alimentos eágua com sua urina e fezes. Muitas doenças são transmi-tidas por meio da contaminação de alimentos e água e,portanto, o manejo ambiental deve ser acompanhado deprogramas locais de educação que aumentem aconscientização acerca dos riscos das doenças causadaspor roedores. O manejo ambiental também pode envol-ver atividades que reduzam os lugares no entorno dosvilarejos ou cidades onde os roedores possam comer eviver. Por exemplo, garantir que o lixo, entulhos e matosejam levados para longe das casas das famílias. Além dis-so, uma boa manutenção da higiene pode realmente fa-zer grande diferença no número de roedores rondando ascasas das pessoas.

Monitorando os custos-benefíciosdo manejo ecológico de roedores

Os estágios iniciais de implementação do mane-jo ecológico de roedores geralmente se deparam com o de-safio de superar a falta de interesse e de confiança das comu-nidades agricultoras. Isso porque, em geral, experiênciasanteriores de controle de roedores não foram bem sucedidasporque as iniciativas foram muito específicas, empregadasde uma só vez, de forma individual e sem coordenação co-munitária. E, assim como geralmente acontece com qual-quer estratégia de controle de pragas, tais ações são muitoescassas e vêm tarde demais. Os agricultores podem entãoficar convencidos de que as pragas de roedores só serão con-troladas por meio de métodos muito caros. Além disso, comoessas comunidades raramente viveram sem a presença deroedores, o impacto desses animais em suas vidas é geral-mente subestimado. Um desafio final para a implementaçãodo manejo ecológico de roedores é incentivar as comunida-des a avaliar o sucesso da estratégia, observando a mudançageral em suas vidas e não só o número contabilizado de ratosmortos. Esses desafios favorecem os programas de educa-ção e extensão cujo foco central esteja nas práticas de de-monstração e de participação comunitária.

Nosso trabalho com manejo ecológico de roe-dores em Bangladesh obteve uma redução de 60% a 80%do impacto de roedores, segundo diferentes indicadores.Isso foi estabelecido por meio da comparação entre ascondições de vilarejos atendidos e não-atendidos. Da mes-ma forma, a avaliação dos agricultores apontou que essasestratégias custam mais ou menos o mesmo (em termosde dinheiro e tempo) que práticas anteriores, mas obtêmresultados bem melhores. A partir disso, a abordagemdos três passos está agora sendo disseminada pela regiãosul da África por meio do projeto Ecorat (http://www.nri.org/ecorat). Uma vez tendo recolhido informa-ções básicas sobre os ratos - o público-alvo e as ferramen-tas de manejo adequadas a cada local -, o manejo ecológi-

co de roedores pode ser desenvolvido numa grande varie-dade de contextos socioambientais. Mesmo que poucas co-munidades tenham experimentado a diferença que esse tipode manejo promove em suas vidas, o aumento da escala deabrangência e disseminação a outras comunidades do en-torno pode ocorrer por meio de canais tradicionais de difu-são. Os roedores têm sido um problema muito negligencia-do nos países em desenvolvimento, mas uma abordagem debase ecológica pode se impor sobre o uso convencional devenenos, particularmente quando as comunidades traba-lham juntas para superar os múltiplos impactos causadospelos roedores em suas vidas.

Steven R. BelmainInstituto de Recursos Naturais (Natural ResourcesInstitute), Universidade de Greenwich, Inglaterra

[email protected]

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Disseminando práticas demanejo ecológico de formigas

cortadeiras no Sul da Bahia

Jafa mostrando um sauveiro ativo

João Antonio Firmato de Almeida

s experiênciasvivenciadas pelotécnico da Co-

missão Executiva do Plano da La-voura Cacaueira (Ceplac), JoãoAntonio Firmato de Almeida, popu-larmente conhecido como Jafa, tra-zem alguns ensinamentos importan-tes para os que enfrentam proble-mas com o controle de formigascortadeiras.

Em 1983, Jafa adquiriu uma propriedadede 30 hectares, que denominou de Fazenda Exílio,localizada no município de Camamu, região do Bai-

Axo Sul da Bahia. Lá se dedicou a implantar váriosroçados, nos quais empregou os conhecimentos téc-nicos da agricultura convencional que havia apren-dido durante sua formação profissional. Em trêsdeles (no total de 13 hectares), adotou o métodode derrubada total da floresta seguido de queima.Em um quarto roçado (de três hectares), utilizou osistema cabruca, que consiste no raleamento de al-gumas árvores da floresta para permitir o plantio.Todas as áreas eram até então cobertas por mataatlântica e foram posteriormente manejadas comalto uso de insumos externos.

Ainda na década de 1980, a partir do con-tato que teve com a equipe do Projeto TecnologiasAlternativas da ONG Fase, sediada em Salvador(BA), Jafa tomou conhecimento dos princípios daentão chamada agricultura alternativa. Essa equi-

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pe, que posteriormente fundou a ONG Serviço de Asses-soria às Organizações Populares Rurais (Sasop), celebroucom a Ceplac um acordo de cooperação técnica, inaugu-rando nesse momento o seu escritório local em Camamu.Essa cooperação com o Sasop permitiu que Jafa adquiris-se muitos novos conhecimentos que foram imediatamen-te colocados em prática para dar início à transiçãoagroecológica na Fazenda Exílio.

A alta incidência de formigas corta-deiras foi um dos grandes desafios en-frentados nesse processo de transição.Também chamadas cabeçudas, carre-gadeiras, saúvas, de mandioca e quen-quéns, as formigas cortadeiras são in-setos-praga muito encontrados na re-gião. A infestação, porém, estava jus-tamente ligada à drástica alteraçãodos ecossistemas naturais promovidapara a implantação de áreas de lavou-ra, o que destruiu os complexos siste-mas ecológicos responsáveis pelaregulação das populações de formigasna natureza.

Assim como nos roçados de Jafa, foram extin-tas em áreas extensas diversas espécies de plantas queserviam de alimento ou de abrigo para inúmeros animais,

inclusive insetos, causando desequilíbrios ecológicosfavorecedores das populações de formigas.

Para combater a praga, Jafa conduziu um con-junto de experimentações, que foram bem-sucedidas, ten-do por base a sistematização de conhecimentos locais eda ecologia das formigas realizada por especialistas emmimecologia, a ciência que estuda esse grupo de insetos,particularmente Jacques H. C. Delbie.

Por exemplo, ao saber que as formigasfazem seus ninhos em solos ácidos parafavorecer o desenvolvimento do fungoque lhes serve de alimento, Jafa pas-sou a colocar substâncias alcalinas noformigueiro. Sabendo também quecada rainha produz um feromônio pró-prio de forma a manter a unidade dacolônia, colocou terra de um formiguei-ro em outros, desorientando as formi-gas em suas trilhas. Também para con-fundir as formigas em suas trilhas, pas-sou a desfazê-las e pôs ramos de plan-tas normalmente cortadas pelas formi-

Um sauveiro com mais de dez anos

1 Terra Viva, Floresta Viva, Care, Instituto de Estudos Socioambientais do Sul daBahia (Iesb), Instituto Cabruca, além de outros movimentos sociais de defesa dareforma agrária.

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gas próximo das colônias.Como o fungo que servede alimento às formigasé muito sensível a conta-minações externas, intro-duziu em diferentes formi-gueiros fontes de bio-massa sujeitas a fermen-tação, de forma a conta-minar as plantações defungo das formigas. Alémdisso, passou a plantar es-pécies nos formigueirosque exalam substânciastóxicas, sabendo que asformigas cortadeiras têmo corpo revestido de pêlose que se limpam umas nasoutras. Tal estratégiaprovoca grande mortali-dade das formigas pelatransmissão de venenopelo contato físico (verdetalhes no Quadro 1).Com esses e outros conheci-

mentos devidamente experimentados,a Ceplac e o Sasop, assim como outrasorganizações que atuam na região, re-alizaram oficinas em comunidades ru-rais de Camamu e em outros municípios da regiãocacaueira da Bahia.

As oficinas buscaram articular conteúdos teó-ricos e práticos e tinham por objetivo estimular os agri-cultores participantes a experimentar e disseminar os co-nhecimentos adquiridos. No primeiro dia, foram aborda-dos temas relacionados à biologia e à ecologia das formi-gas cortadeiras. Houve também uma visita a campo paraque as formigas e os formigueiros fossem observados e ateoria pudesse ser debatida com base na visualização dosfenômenos. No segundo dia, por meio das vivências dosmembros do grupo, foram discutidos os processos de le-vantamento e moni-toramento da infestação, as estraté-gias para o manejo ecológico e as formas de convivênciacom a alta incidência da praga. Dessa forma, muitas pro-postas de experimentação debatidas acabam sendo oriun-das dos conhecimentos anteriores dos próprios agricul-tores. Em seguida, realizou-se mais uma atividade de cam-po, buscando colocar em prática as estratégias discuti-das com base na utilização dos recursos e interações eco-lógicas do lugar. Ao final das oficinas, foram construídasagendas de compromissos.

De forma geral, após as oficinas, os agriculto-res declararam que desconheciam a quantidade de recur-sos que possuíam na propriedade para conviver e contro-

lar as formigas cortadeiras, além de outras pragas e doen-ças. Segundo eles, passaram a utilizar melhor os recursosfísicos – como processos mecânicos, calor, umidade – eos biológicos – como plantas atrativas, repelentes, vene-nosas, visgos, microorganismos e animais predadores.

Atualmente, ao retornar a várias co-munidades, Jafa encontra as pessoasque participaram das oficinas afirman-do que as formigas cortadeiras não ofe-recem mais problemas. Pelo contrário:são verdadeiras ajudantes no sistemade produção, pois identificam as plan-tas deficientes e apontam a hora deefetuar as podas. Ou seja, os agricul-tores incorporaram a compreensão deque as formigas nada mais são do quesinais de uma agricultura que degradao ambiente.

João Antonio Firmato de Almeidatécnico em agropecuária e assessor de agroecologia do

Centro de Extensão da [email protected]

Sauveiro jovem, controlado com o uso de planta venenosacomigo-ningém-pode (Dieffenbachia picta Schott)

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01 - Trabalhar com os recursos disponíveis no sistema de produção, reduzindo ouso de insumos externos.

02 - Plantar ervas venenosas nos olheiros do formigueiro, fazendo cobertura mortado solo no entorno das mudas plantadas. Exemplo de ervas venenosas: comi-go-ninguém-pode, avelós, chibança, mamona, corana, pedilanto, feijão- de-porco, gergelim, candelabro, leiteiro vermelho, bico-de-papagaio, jatrofa.

03 - Fazer calda biológica e introduzir no formigueiro: 50 litros de água, 10 kg deesterco fresco e 1 kg de melado ou açúcar. Misturar bem os ingredientes, dei-xando fermentar por uma semana. Preparar 1 litro para cada 10 litros de água,regar nos olheiros sem o bocal de crivos, tapar os olheiros logo após a rega.

04 - Abafar o formigueiro com restos vegetais, como casca de café, casca de frutode cacau, resto de cultura, pó de serra, maravalha, bucha de coco, plantasaquáticas (aguapé), corte de gramíneas, corte da vegetação, etc.

05 - Introduzir no formigueiro qualquer substância que contribua para diminuir opH do solo, como calcáreo, cal hidratada, cal de ostra, composto orgânicohumificado, etc.

06 - Observar as plantas espontâneas ou nativas preferidas pelas formigas e nãoeliminá-las da área de cultivo no momento da roçagam ou capina.

07 - Evitar as queimadas e sempre favorecer o aumento da biodiversidade e dareciclagem orgânica no sistema de produção (teores mais elevados de matériaorgânica no solo favorecem o equilíbrio das relações ecológicas no sistema).

08 - No período das chuvas fazer valetas direcionando as águas para os olheiros doformigueiro. A hiper-umidade prejudica o formigueiro.

09 - Provocar a contaminação do formigueiro com fungos coletados na mata.

10 - Criar boas condições ambientais para o desenvolvimento de inimigos naturais:sapos, tatus, tamanduás, pássaros, etc.

11 - Introduzir predadores: galinhas, galinhas d’angolas, gansos, etc.

12 - Fazer escavação nas colônias novas (que tenham apenas um olheiro) paraeliminar a rainha.

13 - Enterrar no formigueiro os animais mortos na propriedade.

14 - Fazer anel de visgo no tronco das plantas, utilizando diluição de visgo de jacaou de outros vegetais.

15 - Fazer saia de proteção em plantas jovens, usando embalagens de papelaluminizado.

16 - Fertilizar plantas e árvores com mistura rica em molibidênio, nutriente quefavorece a formação de proteína nas plantas, para que fiquem pouco atrativaspara as saúvas. Biofertilizantes líquidos (com molibidênio a 0,5 %) aplicadospor via foliar se prestam bem a essa função.

Quadro 1. Dicas práticas para o manejo ecológico de formigas cortadeiras

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Publicações

O manejo ecológico de pragas e doençasBRECHELT, Andréa. Santa Cruz do Sul: Capa/RAP-AL, s.d. 33 p.

Apresenta a problemática das pragas e doen-ças na agricultura a partir de uma perspectivaecológica. Realiza crítica aos métodos quími-cos de controle dos organismos indesejáveis,trazendo informações sobre efeitos do uso dosagrotóxicos sobre a saúde pública e o meioambiente em diferentes países. Discorre criti-camente sobre o método de Manejo Integradode Pragas (MIP) para, em seguida, apresentarestratégias técnicas de manejo ecológico depragas e doenças (MEP). Ao final, apresentaum conjunto de produtos e processos naturaisque vêm sendo utilizados com sucesso por agri-cultores orgânicos.

Alternativas ecoló-gicas para preven-ção e controle depragas e doençasBURG, Inês, C. & MAYER,Paulo H. Francisco Beltrão:Assesoar / Cooperiguaçu,2000. 153 p.

Publicação reúne umconjunto bastante signi-ficativo de receitas prá-ticas para a prevenção e

o controle de pragas e doenças em plantas culti-vadas e animais domésticos. Após apresentar con-ceitos importantes relacionados à saúde das plan-tas, dedica um capítulo inteiro à produção e usode diferentes tipos de biofertilizantes como es-tratégia para equilibrar a nutrição das espéciescultivadas. Os capítulos seguintes abordam mé-todos para prevenção e controle de doenças e pa-rasitas em animais, controle de plantas não-dese-jadas, controle de formigas cortadeiras, moscas,ratos, mosquitos, baratas, lesmas e caracóis. Semdúvida uma publicação muito útil para os que pro-curam soluções práticas para problemas de pra-gas e doenças vivenciados no dia-a-dia.

Biodiversidad,agroecologia ymanejo deplagasALTIERI, Miguel A.Santiago: Clades,1992. 162 p.

O livro apresentaconceitos e métodosrelacionados às ba-ses ecológicas para o

manejo de pragas por meio da manutenção deagroecossistemas biodiversificados. A teoria ecoló-gica relacionada à dinâmica de populações de inse-tos é aplicada para analisar variados métodos demanejo cultural adotados em sistemas de produçãoagroecológicos. São apresentados alguns estudosde caso sobre a regulação das populações de inse-tos-praga em cultivos anuais e em pomares. A im-portância do manejo da biodiversidade no entornodos campos de cultivo também é abordada e ilus-trada com base em estudos de caso específicos.

Métodos alternativos de controlefitossanitárioCAMPANHOLA, Clayton & BETTIOL, WagnerJaguariúna: Embrapa Meio-Ambiente, 2003.

Apresenta um conjunto de alternativas de mane-jo de pragas e doenças menos agressivas ao meioambiente. Apresenta características específicasdas praga e/ou doenças abordadas para entãodescrever os método alternativos propostos. Abor-da ainda o consumo de agrotóxicos e riscos à saú-de humana e ao meio ambiente.

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Páginas na internet

ATTRA - National Sustainable Agriculture InformationService - é um centro de informação sobre agriculturasustentável. O site é gerido pelo Centro Nacional de Tec-nologia Apropriada (NCTA), uma organização privadasem fins lucrativos que desenvolve projetos voltados paraa promoção da autonomia de cidadãos de baixa renda pormeio do estímulo ao uso de tecnologias apropriadas. Apágina oferece acesso a um banco de dados sobre práti-cas de manejo ecológico de insetos-praga, plantas es-pontâneas e doenças de plantas. Inclui ainda uma sériede publicações sobre esses temas para download.

http://attra.org/pest.html

A página da Rede Norte-americana de Ação cntraPesticida (Pesticide Action Network North American)traz uma base de dados sobre agrotóxicos com infor-mações técnicas sobre os produtos comerciais, sobrediagnóstico de intoxicação, entre outros temas. Con-tém ainda uma base de dados sobre alternativas para ocontrole de pragas com o emprego de métodos natu-rais. A página pode ser lida em inglês ou em espanhol.

www.panna.org

Por iniciativa de professores da Universidade do Min-nesota, nos Estados Unidos, a página foi organizada como objetivo de disponibilizar informações sobre pesquisasem manejo integrado de pragas desenvolvidas em váriospaíses. Apresentada em inglês e em espanhol, oferece tam-bém links para páginas dos principais grupos de pesquisa-dores e ativistas que atuam no tema.

http://ipmworld.umn.edu/cancelado/sitios.htm

Planeta Orgânico é um portal que tem por objetivodivulgar informações relacionadas à agricultura orgâ-nica, sua importância para a promoção da saúde huma-na e para a preservação do meio ambiente. Os conteú-dos estão organizados por temas e são permanente-mente atualizados. O portal possui uma seção especí-fica sobre manejo agroecológico de insetos-praga edoenças, assim como aborda o manejo integrado depragas. Nessa seção são apresentados alguns concei-tos importantes adotados na estratégia agroecológicapara manejo de insetos nos agroecossistemas, além deindicações técnicas para o controle de insetos-pragaespecíficos.

www.planetaorganico.com.br/pragas.htm

www.push-pull.net/index.shtml

Página da plataforma tecnológica da estratégia em-purra-puxa. Oferece informações sobre o funcionamen-to do sistema, sobre a disseminação do mesmo em pa-íses africanos, textos para download e bibliografia as-sociada ao método.

Na página da ONG Esplar, o usuário poderá conhecer aspotencialidades do uso das folhas de Nim (Azadirachtaindica) como protetor natural contra pragas e doenças deplantas e animais domésticos.

www.esplar.org.br/produtos/nim.htm

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Agroecologia em Rede

Seu Chico e dona Maria do Socorro mo-ram na comunidade de Massapé, em Queimadas(PB), numa região produtora de fava. Desde osanos 1970, muitas pragas e doenças passaram aatacar os plantios, prejudicando a produção. Esti-muladas pelos serviços oficiais de extensão rural,muitas famílias passaram a usar venenos químicos.Porém, em vez de ser uma solução, o uso dos ve-nenos gerou novos problemas de desequilíbrioambiental, além de provocar doenças e até a mor-te de alguns agricultores. A partir desses resulta-dos negativos, seu Chico começou a fazer testesmisturando calda de angico com calda de fumo epercebeu que essa receita poderia controlar as pra-gas da fava, principalmente um besouro conheci-

A experiência de seu Chico Galdino: calda deangico para controle de pragas da favahttp://www.agroecologiaemrede.org.br/experiencias.php?experiencia=592

do localmente por manhoso. Ele ensina que para fa-zer a calda de angico é necessário deixar dois quilosde folhas maceradas de molho em 20 litros de água,durante dez dias. Para preparar a calda de fumo, elejunta meio quilo de folhas e as deixa de molho emcinco litros de água, também por dez dias. Depoiscoloca um quilo de açúcar para que o extrato se fixeàs folhas. Na aplicação, ele mistura meio litro de cal-da de fumo com 16 litros de calda de angico. Aplicaa mistura de cinco em cinco dias na época da floradaentre cinco e seis horas da manhã. As sobras da caldade angico podem ser guardadas em garrafas de plás-tico bem vedadas por até três meses. Seu Chico acon-selha ainda a não usar essa calda em hortaliças por-que deixa um gosto muito forte nas folhas.

Seu Chico apresenta a calda de angico

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Divulgue suas experiências nas revistas Leisa

Convidamos pessoas e organizações do campo agroecológico brasileiro a divulgarem suas experiências na RevistaAgriculturas: experiências em agroecologia (edição brasileira da Leisa Global), na Leisa Latino-americana (editadano Peru) e na Leisa Global (editada na Holanda).

Instruções para elaboração de artigosOs artigos deverão descrever e analisar experiências con-cretas, procurando extrair ensinamentos que sirvam de ins-piração para grupos envolvidos com a promoção daAgroecologia. Os artigos devem ter até cinco laudas de2.100 toques (30 linhas x 70 toques por linha). Os textos

devem vir acompanhados de duas ou três ilustrações (fo-tos, desenhos, gráficos), com a indicação dos seus autorese respectivas legendas. Os(as) autores(as) devem infor-mar dados para facilitar o contato de pessoas interessadasna experiência. Envie para [email protected].

Chamada para v.5, n.3 (setembro de 2008)Manejo Sadio do Solo

A edição v.5, n.3 da Revista Agricultu-ras ressaltará o fato de que os solos funcionam comoorganismos vivos e que os métodos de manejo agrí-cola devem ser orientados parapromover a saúdedos mesmos. Ao realizar a interface entre a litosferae a biosfera, os solos são o ambiente onde proces-sos biogeoquímicos transformam água, nutrienteseradiação solar em vida. Essa forma de conceber ossolos e suas funções ecológicas difere frontalmen-te do enfoque da agricultura industrial que assumeo solo como mero suporte físico para o desenvolvi-mento das plantas cultivadas. Embora as práticasde manejo ecológico dos solos difiram muito entre

si em função dos contextos socioecológicos em quesão realizadas, elas têm em comum o objetivo centralde criar condições adequadas à promoção e manuten-ção de alta diversidade biológica dos organismos queneles vivem. Esperamos publicar nessa edição artigosque apresentem iniciativas individuais ou coletivas vol-tadas para a promoção da saúde dos solos. Contamostambém em receber textos vindos de organizaçõesatuantes nos diferentes biomas brasileiros.

Data-limite para envio de artigos:04 de agosto de 2008

Agriculturas na rede

A página eletrônica da Revista Agriculturas: ex-periências em agroecologia disponibiliza em formato PDFtodas as edições anteriores. Os artigos poderão ser facilmenteencontrados por meio de um sistema de busca amigável portítulo, por autor ou por palavras-chave. Além do acesso a

todas as edições anteriores, o usuário poderá acessar as edi-ções regionais e global das revistas Leisa publicadas em seusrespectivos idiomas. Os interessados em receber trimestral-mente a versão impressa da revista poderão se cadastrar namala direta de subscritores por meio da página eletrônica

Inclusão dos mais pobres (v.5, n0 4)Data-limite para envio dos artigos:15 de setembro de 2008 (Revista Agriculturas) • 01 de junho de 2008 (Revista Leisa Global)

Acesse: www.agriculturas.leisa.info