Manejo de PF não madeireiros

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MANEJO DE PRODUTOS FLORESTAIS NO MADEIREIROS:Um Manual com Sugestes para o Manejo Participativo em Comunidades da Amaznia

Frederico Soares Machado

Ilustraes: Jos Francisco Gama da Silva

Este livro mostra o valor dos produtos no madeireiros, permitindo que os povos e comunidades florestais evoluam economicamente e valorizem sua origem e suas tradies. Mostra que a relao entre o homem e a natureza pode estar em harmonia e ser boa para ambos, esclarece dvidas e apresenta um caminho para as atividades. Penso que os comunitrios, como eu, podero atravs de uma leitura simples, em linguagem no muito tcnica, ter um bom entendimento sobre o manejo desses produtos. por Jos Francisco Pinheiro da Costa (uma das principais lideranas comunitrias do Vale do Juru no Acre, tendo trabalhado com o autordurante quatro anos nas comunidades do PDS So Salvador, prximo fronteira com o Peru)

Este manual de suma importncia para o desenvolvimento de capacidades tcnicas no manejo de produtos florestais no madeireiros, em instituies amaznicas e brasileiras. O manual especialmente indicado para tcnicos de ONGs, secretarias de governo e rgos de extenso que sentem a necessidade de complementar sua formao agrcola ou florestal convencional e de se preparar para os desafios prticos do manejo comunitrio no madeireiro. por Christiane Ehringhaus (PhD pela Universidade de Yale EUA, revisora deste livro, pesquisadora envolvida com os produtos florestais nomadeireiros e coordenadora regional do Centro para Pesquisa Florestal Internacional CIFOR)

Produtos florestais no madeireiros podem beneficiar populaes locais e promover a conservao das florestas, mas apenas se manejados de forma sustentvel. Este manual faz uma importante contribuio ao manejo comunitrio desses produtos no Brasil. Baseado em experincias prticas, oferece um guia prtico para aqueles que trabalhem com o tema. Sinto-me feliz em recomend-lo. por Mary Stockdaly (PhD pela Universidade de Oxford ING, revisora deste livro e uma das autoras mais importantes no cenrio internacionalsobre o manejo de produtos florestais no madeireiros)

A cada dia mais se evidencia o desafio de aliar qualidade de vida conservao da exuberante Floresta Amaznica. O uso sustentvel de recursos florestais no madeireiros , para muitos, a alternativa mais completa para essa aliana, por unir aspectos econmicos, culturais, alimentares e ambientais. A presente publicao apresenta o acmulo de vrios anos do dia a dia de comunidades, extensionistas e pesquisadores nesse desafio. Estou certo de que esta iniciativa uma importante contribuio para os que acreditam no equilbrio, conservao e desenvolvimento da Amaznia. por Eduardo Amaral Borges (mais conhecido como Cazuza, coordenador do Grupo de Pesquisa e Extenso em Sistemas Agroflorestais doAcre PESACRE, membro do Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional CONSEA e um profissional com longo histrico de trabalhos com comunidades na Amaznia).

Realizao:

Organizaes parceiras do Consrcio ALFA:

Apoio:

Organizaes parceiras do Cluster Comunidades e Mercados:

MANEJO DE PRODUTOS FLORESTAIS NO MADEIREIROS:Um Manual com Sugestes para o Manejo Participativo em Comunidades da Amaznia

MANEJO DE PRODUTOS FLORESTAIS NO MADEIREIROS:Um Manual com Sugestes para o Manejo Participativo em Comunidades da Amaznia

Frederico Soares Machado

Ilustraes: Jos Francisco Gama da Silva

Realizao:

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Organizaes parceiras do Consrcio ALFA:

Organizaes parceiras do Cluster Comunidades e Mercados:

Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros: um manual com sugestes para o manejo participativo em comunidades da Amaznia Primeira edio: 2008 Revisores: Mary Stockdaly Christiane Ehringhaus Murilo Serra Reviso lingstica: Nazar Guedes Projeto grfico e diagramao: Ana Delfina Roldan Giraldo Frederico Soares Machado Ilustrao da capa: Jos Francisco Gama da Silva Ilustraes: Jos Francisco Gama da Silva Realizao: Grupo de Pesquisa e Extenso em Sistemas Agroflorestais do Acre PESACRE e Centro para Pesquisa Florestal Internacional CIFOR Apoio: Agncia Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional USAID, atravs do Consrcio Alfa e do Cluster Comunidades e Mercados.Esta publicao foi possvel por meio do apoio promovido pelo Escritrio do Administrador Geral atravs do Departamento para a Amrica Latina e Caribe da Agncia Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional USAID, sob os termos do Acordo de Cooperao Internacional n 512-A-00-03-00026-00. As opinies aqui expressas so aquelas do autor e no necessariamente refletem a viso da USAID.

Machado, Frederico Soares Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros: um manual com sugestes para o manejo participativo em comunidades da Amaznia. Frederico Soares Machado. Rio Branco, Acre: PESACRE e CIFOR, 2008. 105p. il.; 22x25cm ISBN: 9788590821700 1.Extrativismo sustentvel. 2. Neoextrativismo. 3. Manejo florestal. 4. Floresta Amaznica. 5. PFNM. 6. NTFP. 7. Engenharia florestal. 8. Desenvolvimento sustentvel. I. Machado, Frederico Soares. II. Ttulo.Copyright 2008 by Frederico Soares Machado Este livro pode ser livremente copiado para fins educativos no comerciais.

AGRADECIMENTOSAgradeo Agncia Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional USAID, pelo apoio dado ao PESACRE nos trabalhos com Produtos Florestais No Madeiros PFNMs e pelo financiamento de servios relacionados com este livro, atravs do Consrcio Aliana para a Floresta Amaznica e Mata Atlntica ALFA e do Cluster Comunidades e Mercados. Constitudo em 2003, o Consrcio Alfa busca aperfeioar as polticas, o manejo e a governana, tendo entre seus objetivos a prestao de auxlio a pessoas que dependem diretamente dos recursos da floresta para a sua subsistncia. Ao PESACRE, agradeo pela liberdade e apoio integral na conduo do Programa de Desenvolvimento a partir de PFNMs do Projeto de Desenvolvimento Sustentvel PDS So Salvador, no Acre, uma das principais fontes de inspirao e gerao de conhecimentos para a construo deste livro, agradeo especialmente a Eduardo Amaral Borges, o Cazuza, coordenador da instituio e grande estimulador de todo o processo de concepo. Agradeo Roco Chacchi Ruiz, considerando que boa parte das idias apre-sentadas neste manual so frutos de reflexes em comum e sem suas colaboraes os fundamentos do manual possivelmente seriam mais restritos. Agradeo Christiane Ehringhaus e instituio que regionalmente coordena, o Centro para Pesquisa Florestal Internacional CIFOR, escritrio do Brasil, pela reviso do contedo e pelo acompanhamento do projeto de publicao desde sua concepo. Do CIFOR, tambm agradeo a Murilo Serra pela reviso. Agradeo Mary Stockdaly que revisou o livro e o enriqueceu com sua larga e intensa experincia internacional de trabalhos e publicaes sobre PFNMs. professora Nazar Guedes, agradeo pela reviso lingstica e pelas boas horas de conversa sobre o idioma portugus. Pelo apoio e sugestes em estatstica agradeo a Elder Morato, da Universidade Federal do Acre UFAC. Pelas ilustraes e capa deste manual, agradeo ao jovem Jos Francisco Gama da Silva, nosso Regilson, artista e morador da comunidade Rio Azul, no PDS So Salvador e a Fernando de Oliveira por seus auxlios. Ana Delfina Roldan Giraldo, pela produo e acabamento de figuras e pelo apoio na conduo do projeto grfico. Cristiana Almeida Benevides, Emilson Silva de Souza e Lvia da Silva Costa, tcnicos florestais pela Escola da Floresta do Acre, alm de Jos Francisco Pinheiro da Costa, liderana comunitria no Vale do Juru acreano, que fizeram a leitura deste manual e indicaram que a linguagem estava acessvel para pessoas com sua formao. Agradeo ainda minha esposa e famlia, meu santurio de vida e inspirao e, principalmente, a Deus por dar-me sade e iluminao.

SUMRIO

1. INTRODUO O que so os PFNMs? De onde vem a idia de fazer o manual? Para quem feito este manual? Por que fazer o manejo de PFNMs? 2. FASES DO MANEJO COMUNITRIO DE PFNMs FASE PR-COLETA ETAPA 1 Participao, Organizao e Fortalecimento do Grupo de Trabalho a) Insero da comunidade no trabalho a.1 Verificao da existncia de demanda real da comunidade a.2 Avaliao da situao fundiria da rea a.3 Diagnstico inicial do mercado a.4 Debate e tomada de decises pela prpria comunidade a.5 Definio do grupo de trabalho a.6 Avaliao da relao entre o potencial local e o tamanho do grupo de trabalho b) Ordenamento e planejamento das atividades c) Construo de parcerias d) Realizao de capacitaes e) Formulao de um sistema de gesto f) Dicas para a concepo de um possvel plano de manejo

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ETAPA 2 - Levantando o Potencial Local a) Levantamento etnobotnico b) Mapa mental c) Inventrio amostral c.1 Inventrio em populaes com distribuio aleatria c.2 Inventrio em populaes com distribuio agregada d) Estudos de estrutura da populao ETAPA 3 Mapeamento dos Indivduos Produtivos Mtodos de mapeamento a) Elaborao de croquis da rea b) Mapeamento com imagens de satlite c) Definio do permetro da rea d) Mtodo da bssola e passos calibrados e) Mtodo do GPS Consideraes sobre o mapeamento ETAPA 4 - Licenciamento do Manejo FASE DE COLETA I) Idias Importantes para o Manejo Princpio da precauo reas de proteo integral Perodos de excluso Indivduos no manejados Manejo adaptativo Manejo experimental Manejo de uso mltiplo

28 28 29 30 31 32 33 35 36 37 37 38 38 39 39 40 43 44 44 45 46 46 47 48 48

II) Procedimentos de Coleta Conservao da espcie Segurana das pessoas Seleo do material vegetal Otimizao da Produtividade III) Equipamentos de Coleta IV) Estimativas de Produo V) Ciclo de Coleta VI) Controles de Coleta VII) Medidas Mitigadoras de Impactos FASE PS-COLETA I) Beneficiamento II) Transporte II) Armazenamento IV) Monitoramento Participativo do Manejo e seus Impactos Ferramentas para o monitoramento participativo a) Monitoramento ambiental b) Monitoramento sociocultural e econmico 3. COMERCIALIZAO A. Produtos a Serem Comercializados B. Custos de Produo C. Preo de Venda D. Insero no Mercado E. Organizao da Comercializao Dicas para ordenar e facilitar a comercializao F. Consideraes Sobre a Comercializao

49 49 50 51 51 52 53 54 55 56

58 58 62 63 64 64 65 67 71 71 73 74 74 78 80 82

4. CADEIAS PRODUTIVAS Produo Comercializao 5. POLTICAS PBLICAS 6. CONSIDERAES FINAIS 7. BIBLIOGRAFIA

83 84 89 93 97 99

Introduo

1. INTRODUOA importncia da maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amaznica, vem sendo citada por diversos pesquisadores ao longo de anos, com destaque para a necessidade da conservao de sua megabiodiversidade e, mais recentemente, pelo papel que desempenha e pelos riscos assumidos com o quadro de mudanas globais. Considerando sua importncia e a presso sofrida, a Amaznia necessita de modelos de desenvolvimento com atividades econmicas que no presumam o desmatamento exagerado. O manejo de recursos florestais, dadas as caractersticas e potencialidades da regio, se coloca como um dos principais caminhos para se alcanar um desenvolvimento com bases realmente sustentveis. Nesse contexto, o manejo de Produtos Florestais No Madeireiros (PFNMs), conhecido tambm como neoextrativismo ou extrativismo sustentvel, merece ateno especial, considerando-se que se conduzido de maneira racional, alm de tornar as florestas rentveis, em muitos casos mantm sua estrutura e biodiversidade praticamente inalteradas. Os PFNMs envolvem uma grande variedade de produtos de boa qualidade, provenientes de centenas de espcies, podendo trazer benefcios a povos e comunidades da Amaznia e a consumidores em todas as partes do planeta.

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Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros

Apesar do grande potencial da Floresta Amaznica para o manejo de PFNMs, ainda so escassas informaes que dem base conduo de trabalhos sustentveis. Considera-se que, de forma geral, os povos e comunidades envolvidos em iniciativas de manejo de PFNMs normalmente tm mais conhecimentos sobre os recursos florestais, suas formas de coleta, beneficiamento e uso do que os tcnicos que acompanham os trabalhos. Avalia-se, ainda, no existir um caminho ou conjunto de etapas que indique como realizar de maneira adequada o manejo comunitrio. Prope-se aqui a abordagem de aspectos relevantes ao manejo comunitrio de PFNMs, tratando a questo a partir de uma tica holstica e fazendo o esforo de dividir o trabalho em distintas etapas. Dentro do caminho proposto neste manual, avalia-se inicialmente aspectos anteriores ao manejo, dentro da fase pr-coleta, envolvendo caractersticas relacionadas com a organizao comunitria e seu fortalecimento e com o levantamento do potencial local para o manejo. Na fase pr-coleta, indica-se ainda alguns mtodos para o mapeamento de reas e apresenta-se o contexto legal da atividade. Posteriormente, apresenta-se conceitos, critrios e passos para as fases de coleta e pscoleta e, por fim, d-se indicaes sobre algumas caractersticas da comercializao, faz-se um apanhado geral dos gargalos e desafios na cadeia produtiva de PFNMs e conduz-se uma anlise sucinta da conjuntura de polticas pblicas. Em essncia, a proposta contribuir em um processo contnuo de aprendizagem, no qual povos, comunidades, tcnicos e pesquisadores estejam preferencialmente trabalhando juntos e construindo, de forma cada vez mais slida, os saberes sobre o manejo de PFNMs. No havendo, entretanto, o intuito ou pretenso de tratar de indicaes definitivas ou de determinar um caminho nico para se alcanar bons resultados.

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Introduo

O que so os PFNMs?Os produtos florestais no madeireiros, como o prprio nome indica, so todos os produtos advindos da floresta que no sejam madeira, como: folhas, frutos, flores, sementes, castanhas, palmitos, razes, bulbos, ramos, cascas, fibras, leos essenciais, leos fixos, ltex, resinas, gomas, cips, ervas, bambus, plantas ornamentais, fungos e produtos de origem animal.

Considerando-se os PFNMs de origem vegetal, sob os quais est o foco deste manual, prope-se aqui sua diviso em dois macrogrupos, o grupo dos PFNMs que para sua obteno no h a supresso (morte) das matrizes (indivduos produtivos) e o grupo daqueles que presumem essa supresso. Esses grupos tambm podem ser conhecidos como de coleta no destrutiva ou de coleta destrutiva, respectivamente. No primeiro grupo podem estar includos, por exemplo, folhas, frutos, castanhas, sementes, alguns leos, entre outros. J no segundo, cips, leos extrados a partir da madeira, ervas, razes, alguns palmitos e cascas. Pensando-se na importncia desses produtos, observa-se que os PFNMs so fundamentais para a subsistncia de muitas pessoas em todo o mundo, especialmente para aquelas que vivem no interior de florestas ou em suas cercanias. Os PFNMs so utilizados na alimentao, produo de medicamentos, usos cosmticos, construo de moradias, tecnologias tradicionais, produo de utenslios e tantos outros usos. De acordo com a FAO (Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao), cerca de 80% da populao de pases em desenvolvimento usam os PFNMs para suprir algumas de suas necessidades de vida.

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Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros

De onde vem a idia de fazer o manual?O estmulo inicial para a produo deste manual veio a partir dos trabalhos conduzidos com o PESACRE em comunidades acreanas e das demandas, sugestes e dvidas apontadas por analistas ambientais do IBAMA durante a disciplina de manejo de PFNMs ministrada por este autor em um curso de ps-graduao da Universidade Federal de Lavras UFLA, em 2005. Na ocasio, tcnicos e diretores do IBAMA e alguns professores dessa universidade enalteceram o contedo da disciplina e estimularam a organizao das idias em forma de um manual que pudesse ajudar na orientao do manejo de PFNMs com povos e comunidades da Amaznia. Posteriormente, alm de outras atividades com PFNMs na Amaznia, participei na condio de expositor/palestrante de um conjunto de eventos sobre o tema, podendo discutir idias e conceitos com os demais participantes e conhecer algumas experincias mais a fundo. Nesse sentido e de forma destacada, um encontro internacional promovido em 2007 em Oaxaca, no Mxico, no qual conduzi apresentaes e participei da comisso organizadora. O pblico desse evento reforou a importncia de publicaes nacionais que pudessem abordar o tema a partir de uma viso do processo como um todo e com linguagem acessvel a tcnicos que desenvolvem atividades com povos e comunidades florestais.

Para quem feito este manual? destinado principalmente a instituies, governamentais ou no, e a tcnicos de nveis mdio e superior que atuam junto a organizaes comunitrias de grupos ou povos que vivem na Floresta Amaznica, sejam eles indgenas, quilombolas, seringueiros ou ex-seringueiros, extrativistas, ribeirinhos, colonos, assentados, etc. Pode ser til tambm para que as lideranas comunitrias, que almejam conduzir o manejo de PFNMs, tenham uma viso um pouco mais ampla sobre as etapas pelas quais o trabalho provavelmente poder passar, considerando-se, contudo, que h contedos no manual que lhes possam ser de difcil assimilao. Pode ser utilizado tambm como um dos materiais de referncia para cursos tcnicos e acadmicos que tratem do manejo comunitrio de PFNMs. Eventualmente, pode ser utilizado por empresas que adquirem PFNMs de povos e comunidades e desejem auxili-los tecnicamente a partir do conhecimento das caractersticas relacionadas com o manejo comunitrio de PFNMs.

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Introduo

Espera-se que o caminho sugerido possa auxiliar no bom andamento dos trabalhos com os povos e comunidades, ajude a diminuir ou sanar algumas dvidas e, de alguma maneira, possa indicar pontos relevantes para aumentar as chances de se alcanar resultados satisfatrios em iniciativas de manejo comunitrio de PFNMs na Amaznia.

Por que fazer o manejo de PFNMs?Tendo em vista a importncia dos PFNMs e os riscos associados com o aumento de sua escala de produo, passando do uso de subsistncia para uma escala comercial, torna-se fundamental o seu manejo, objetivando o controle e a diminuio do impacto de sua extrao/coleta sobre a floresta e sobre as populaes. O manejo importante tambm porque:

mantm a floresta em p e praticamente sem alteraes, pois no envolve a morte de seus componentes (no caso de manejo sem supresso de indivduos) promovendo a manuteno no s de sua estrutura e funes ecolgicas, como tambm a integralidade de sua biodiversidade; alternativa de desenvolvimento com bases realmente sustentveis uma para reas onde ainda haja florestas; uma forma de tornar a floresta rentvel e valoriz-la ainda mais por isso; uma maneira de mostrar que as riquezas da floresta so capazes de gerar riquezas monetrias, configurando a atividade de manejo de PFNMs como um contraponto aos modelos vigentes de gerao de divisas a partir do uso de recursos naturais na Amaznia uma oposio, especialmente, expanso da fronteira agropecuria e s ativida-

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Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros

des que promovem a emisso de gases que ampliam o efeito estufa e promovem o aquecimento global; uma atividade que valoriza e garante a continuidade de padres culturais de povos e comunidades amaznicas;

uma boa opo para complementar a renda familiar, aumentando o bem estar de povos e comunidades da floresta considerando-se as espcies que tm mercado estabelecido ou em expanso;Em alguns casos, o manejo sustentvel uma das premissas para o licenciamento da atividade pelos rgos ambientais. Pode ser tambm um requerimento para um possvel processo de certificao e alcance de selos de qualidade para os produtos gerados.

alternativa econmica que pode diminuir o xodo rural uma e as taxas de desmatamento; gerar produtos de qualidade e exticos, alguns deles pode com propriedades nicas e j com boa aceitao de mercado; boa parte dos casos os produtos podem ser manejados de em forma simples, alguns dentro das prprias prticas de extrativismo que os povos e comunidades j conduzem;

promove a sistematizao de conhecimentos tradicionais, explicitando-os e valorizando-os dentro e fora dos povos e comunidades florestais; uma maneira de garantir que as futuras geraes possam tambm se beneficiar dos mesmos recursos no madeireiros; uma forma de acompanhar ou monitorar fatores relacionados com a sustentabilidade ambiental, social, cultural e econmica da atividade; possibilita um trabalho mais organizado e com menor risco de acidentes; uma oportunidade de aprender mais sobre a floresta e suas espcies muitas delas ainda pouco conhecidas; possibilita que grupos comunitrios se capacitem e estejam socialmente organizados para assumir integralmente a atividade, autogerindo-se.

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Fases do Manejo Comunitrio de PFNMs

2. FASES DO MANEJO COMUNITRIO DE PFNMsConsidera-se que o manejo comunitrio de PFNMs passa essencialmente por trs fases distintas: pr-coleta, coleta e ps-coleta, cada uma com seus tempos e conjuntos de conceitos e atividades. Considera-se tambm que muitas vezes essas fases no seguem uma ordem linear, podendo, por exemplo, atividades referentes a uma etapa mais avanada terem que ser introduzidas em uma fase anterior, ou mesmo, atividades de uma etapa anterior serem retomadas em uma fase posterior, em um possvel processo de monitoramento do manejo. A figura a seguir, apresenta como cada uma das fases foi estruturada e ser apresentada neste manual.

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Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros

FASE PR-COLETAETAPA 1 Participao, Organizao e Fortalecimento do Grupo de TrabalhoNesta etapa o enfoque dado quanto avaliao do interesse da comunidade em trabalhar com o manejo de PFNMs e quanto ampliao do nvel de compreenso dela sobre o processo como um todo. O objetivo , entre outros aspectos, dar subsdios a discusses participativas, debates dentro do grupo de trabalho, planejamento de atividades, estabelecimento de parcerias, construo de processos de capacitao e definio de um sistema de gesto. Em essncia, a idia nesta etapa promover um ambiente construtivo, tendo, ao final, um grupo coeso e pronto para enfrentar com autonomia os desafios associados com a atividade. Dependendo da conjuntura do trabalho, esta etapa poder ser conduzida de maneira concomitante ou posterior etapa 2 (Levantamento do potencial local), apresentada mais adiante.

a) Insero da Comunidade no Trabalho a.1 Verificao da existncia de demanda real da comunidadeNo primeiro contato com a comunidade deve-se procurar avaliar se os comunitrios esto realmente interessados em desenvolver atividades de manejo de PFNMs. Para isso, pode-se realizar uma discusso aberta a respeito do que pensam dessa atividade, quanto s dvidas e expectativas e sobre quais as espcies que poderiam ser manejadas. fundamental que a atividade seja desenvolvida em funo de uma demanda real da comunidade e no somente para o cumprimento de metas de um dado projeto. Uma ao de desenvolvimento ou extenso comunitria que no parta desse pressuposto pode correr srios riscos de ser descontinuada ou abandonada, ao surgirem dificuldades inerentes sua implementao.

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Fases do Manejo Comunitrio de PFNMs: Fase Pr-Coleta

a.2 Avaliao da situao fundiria da reaPara se estabelecer uma atividade produtiva numa dada rea, geralmente preciso que a questo da propriedade da terra esteja definida e, muitas vezes, que a rea de reserva legal esteja averbada. No entanto, apesar de dificultar, o no atendimento a essas premissas no impede o andamento das atividades, o prprio trabalho com o manejo comunitrio e a formao de parcerias podem e devem estimular um eventual processo de regularizao com maior rapidez.

a.3 Diagnstico inicial do mercadoAo iniciarem-se as discusses sobre o manejo de PFNMs, o primeiro questionamento que a comunidade far possivelmente dir respeito ao mercado do produto e suas possibilidades de comercializao. Naturalmente, antes dos comunitrios se proporem a realizar o manejo, eles iro perguntar se h demanda de mercado para os PFNMs que tm potencial de ser produzidos na comunidade. Sabendo-se que isso ocorrer, importante realizar previamente um diagnstico que indique no s as demandas atuais do mercado (local, regional, nacional e exterior) dos PFNMs potenciais, mas tambm suas perspectivas futuras. Entre outros aspectos do mercado (vide itens 3. Comercializao e 5. Polticas Pblicas), deve-se tentar levantar: i) os tipos de produtos e os volumes demandados pelo mercado; ii) os critrios e padres de qualidade estabelecidos pelos compradores; iii) os custos envolvidos com a produo e a comercializao; iv) os preos praticados; v) as linhas de financiamento disponveis; vi) os riscos envolvidos com a atividade.

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Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros

a.4 Debate e tomada de decises pela prpria comunidadeTendo sido construda a base do trabalho com a comunidade, interessante que se conduza uma discusso sobre o manejo de cada uma das espcies de interesse, abordando os benefcios e as dificuldades envolvidas com a atividade. Entre os benefcios, podem ser citados, por exemplo, o desenvolvimento de uma nova atividade produtiva, a possibilidade de mais uma fonte de renda para as famlias, a manuteno da floresta em p e, conseqentemente, de todos os benefcios que ela traz para a comunidade. J entre as dificuldades, podem estar: a necessidade de novos aprendizados, a demanda de trabalho em grupo e organizado, a demanda de mo-de-obra, os controles de coleta e o monitoramento da atividade, a comercializao, entre outros. Nas discusses podem-se apresentar tambm, de maneira resumida, os passos que possivelmente devero ser dados at que a comunidade possa comear a comercializar seus produtos (passos apontados ao longo deste manual). interessante tambm fortalecer os debates sobre os mercados local, regional, nacional e exterior, discutindo com a comunidade sobre vantagens, rigores, condies e limitaes de cada um deles. Nesse sentido, fundamental que a comunidade esteja ciente, desde o princpio, de que a atividade pode trazer benefcios, mas tambm tem seus desafios. Sem esse esprito inicial pode haver desistncia de parte ou de todo o grupo com as dificuldades que ora se apresentem nas diferentes etapas. Outra mensagem que deve ficar bem assimilada desde o incio que o manejo de PFNMs provavelmente no ser a salvao da ptria para a comunidade, mostrando que se trata, na verdade, de mais uma alternativa dentro do montante de outras atividades que j so desenvolvidas pelos comunitrios. O manejo de PFNMs vem para somar e no para substituir o que j feito. Essa deve ser pelo menos a idia inicial, o que no quer dizer que ao longo do processo o manejo no possa se configurar como uma das principais atividades geradoras de renda para as comunidades.

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Fases do Manejo Comunitrio de PFNMs: Fase Pr-Coleta

Desde o princpio, o manejo de PFNMs deve ser compreendido como um processo. A partir das discusses iniciais, a comunidade dever definir se vale a pena ou no investir no manejo, indicando, inclusive, quais espcies devero efetivamente ser manejadas.

a.5 Definio do grupo de trabalhoAps o entendimento do processo que envolve o manejo comunitrio de PFNMs (itens a.1 at a.4), importante que se faa um levantamento das famlias que realmente esto dispostas a realizar a atividade, tendo como objetivo a definio de um grupo de trabalho. Considera-se natural que parte das famlias no se interessem inicialmente pela atividade, algumas delas podem no se identificar com as propostas, outras podem no estar dispostas a enfrentar as dificuldades e outras, ainda, podem preferir esperar por resultados positivos da atividade para a sim buscar se integrar ao grupo. A partir do momento em que se tem definido o grupo de trabalho interessante, entre outros aspectos, tentar identificar: as lideranas, as expectativas, os conflitos, o grau de escolaridade, o nvel de interesse e compromisso, as instituies de atuao local e a importncia de cada um delas. Acredita-se que o grupo de trabalho pode posteriormente ser promotor da idia do manejo para as demais famlias da comunidade. Pode tambm se consolidar em um grupo de especialistas comunitrios em manejo de PFNMs, podendo dar apoio a iniciativas de outras comunidades da regio onde vive.

a.6 Avaliao da relao entre o potencial local e o tamanho do grupo de trabalhoCom a definio do grupo de trabalho, importante avaliar se o nmero de indivduos produtivos (matrizes) das espcies de interesse, estimados no inventrio da rea (vide etapa 2), suficiente do ponto de vista econmico para a realizao do manejo, ou seja, se a produo advinda do manejo dessas matrizes alcana uma escala que permita a gerao de renda de forma satisfatria e que contemple o nmero de famlias constante no grupo de trabalho. Para uma melhor aproximao, alm do nmero de matrizes importante que se tenha algum conhecimento sobre a produtividade das espcies que esto sendo pensadas para o manejo (vide Fase de Coleta, item IV).

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Manejo de Produtos Florestais No Madeireiros

Essa avaliao pode indicar que o manejo tem potencial de trazer resultados econmicos positivos para a comunidade ou, por outro lado, indicar que h muita gente para poucas matrizes, tornando invivel o trabalho com uma dada espcie. Outra possibilidade, e agora considerando tambm caractersticas do mercado, da avaliao indicar que o nmero de pessoas no grupo de trabalho muito pequeno para a escala de produo que o PFNM em questo dever alcanar para a atividade ser seguramente rentvel (vide item 3. Comercializao).

b) Ordenamento e Planejamento das AtividadesPara o ordenamento da atividade uma boa proposta a construo de um cronograma de atividades (distribuio de atividades no tempo), identificando as pocas do ano em que as famlias estejam menos atarefadas e priorizando inicialmente esses perodos para a conduo do manejo. Um cronograma de atividades estabelecido com esse critrio permite que o manejo se insira no contexto de vida local, respeitando o ritmo e a seqncia de trabalhos dos produtores. No planejamento, entre outros aspectos, importante definir: i) o que dever ser realizado? definindo um conjunto de atividades; ii) como ser feito? avaliando os mtodos, o apoio, as capacitaes e os equipamentos que sero necessrios; iii) quando? definindo tempos e prazos; iv) quem sero os responsveis? com tarefas e atribuies sendo discutidas e definidas com e para cada integrante do grupo e entre os parceiros do trabalho.

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Fases do Manejo Comunitrio de PFNMs: Fase Pr-Coleta

c) Construo de ParceriasAntes de comear os trabalhos, importante fazer parcerias com instituies, empresas e outras comunidades que possam colaborar em algumas das diferentes etapas do manejo. Nesse momento importante buscar parcerias e formar um grupo de apoio que, de alguma forma, tenha filosofia, princpios e mtodos de ao compatveis com as demandas de um trabalho comunitrio. Para um bom estabelecimento de parcerias conveniente identificar inicialmente o perfil de atuao de cada possvel parceiro e definir conjuntamente como cada um poder ajudar, tentando definir os papis de cada parte (p. ex. (= por exemplo), uma instituio pode estar mais apta a auxiliar na realizao de capacitaes, outra no financiamento de etapas, outra na disponibilizao de equipamentos e assim por diante). O trabalho em conjunto fortalece a iniciativa, agrega qualidade, divide responsabilidades, potencializa os resultados e pode favorecer a continuidade do processo, uma vez que diminui ou desconcentra a carga de atividades para mais de uma instituio. Alm disso, aumenta o nmero de referncias s quais a comunidade poder recorrer ao longo do processo e depois de estabelecida a atividade. Essas parcerias devem ser feitas no s no incio, mas tambm durante todo o processo de trabalho, medida que surjam novos desafios. Ao longo do processo tambm conveniente manter os rgos ambientais sempre informados sobre as atividades, criando um ambiente de confiana e apoio. Uma vez estabelecidas e consolidadas as parcerias, importante formaliz-las para que os acordos feitos possam ser cumpridos conforme o combinado, para haver coerncia de viso, proposta e ao, evitando-se contradies entre as estratgias dos parceiros. Tambm para que os possveis bons resultados alcanados com o trabalho possam ser divididos proporcionalmente ao empenho e aos mritos de cada um dos envolvidos.

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d) Realizao de CapacitaesAs capacitaes so muito importantes para a comunidade, atravs delas que o grupo de trabalho poder alcanar uma maior autonomia em suas aes e, com o passar do tempo, dar passos cada vez mais firmes rumo autogesto da atividade. Considera-se que existem diferentes estratgias e possibilidades para a conduo do processo de capacitao, no entanto, a experincia de trabalhos com comunidades tem mostrado que a mais eficiente a capacitao em servio o aprender fazendo , ou seja, o aprendizado prtico, de preferncia no interior da floresta em algumas situaes. Alm disso, a participao dos jovens, idosos e mulheres no processo de formao sempre muito importante. No processo de capacitao importante o estabelecimento de um processo construtivo que aproveite o conhecimento j existente na comunidade. Deve-se procurar, por exemplo, envolver aqueles que j conhecem bem as espcies de interesse ou tenham alguma experincia a compartilhar com o grupo. O intuito buscar identificar quais so esses especialistas comunitrios e, quem sabe, integr-los equipe de facilitao e moderao das capacitaes. A capacitao deve tambm se embasar no princpio freiriano de que o indivduo quando reconhece que sabe algo sobre um dado assunto, se prope quase que intuitivamente a querer saber mais e a buscar expressar de alguma forma seu conhecimento anterior. Quando da definio da metodologia das capacitaes fundamental considerar o grau de escolaridade do grupo. Muitas vezes a informao escrita pode ser um limitante no processo de construo do conhecimento. Pode ser mais adequada a informao passada de forma verbal, com auxlio de figuras, msicas, vdeos, representaes, etc. No entanto, sempre interessante preparar materiais escritos com o contedo da discusso, para ficar na comunidade e poderem ser consultados posteriormente, mesmo que para isso seja necessria a ajuda de comunitrios alfabetizados. A constatao de um elevado nmero de pessoas que no saibam ler indica a demanda de outra capacitao, a alfabetizao. Essa demanda deve ser levada at as instituies competentes. Em seguida, os parceiros podem, inclusive, auxiliar na definio de estratgias educacionais pertinentes e no monitoramento dos passos dados rumo alfabetizao dos comunitrios.

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Para o manejo dos PFNMs de interesse as capacitaes devem ser feitas de acordo com as carncias do grupo e com aquilo que ele definir como necessrio. As parcerias nesse momento so realmente muito importantes, podendo cada parceiro se comprometer a auxiliar na capacitao da comunidade naquilo que mais domina. A capacitao comunitria muitas vezes no se restringe a um ou dois cursos ou oficinas isolados. Deve ser um processo paulatino de aprendizado, aprimorado e continuado a partir de resultados prticos. Com relao ao contedo, avalia-se que nos ltimos anos foram acumulados conhecimentos sobre o manejo de algumas espcies, os quais devem ser consultados. No entanto, ainda existe grande carncia de informaes sobre o manejo da maior parte das espcies. Assim, os manejadores, tcnicos e cientistas so os pesquisadores no caminho de descobrir a melhor forma de se trabalhar com cada uma delas. Nesse sentido, a capacitao deve ser considerada como um processo participativo, aberto e de auto-aprendizado. Espera-se, inclusive, que ao final desse processo se formem referncias comunitrias no manejo do PFNM de interesse, capacitadas a dar apoio a iniciativas de outras comunidades.Algumas capacitaes que podem ser interessantes, so para: organizao e

gesto comunitria, associativismo e cooperativismo, mapeamento/ inventrio, tcnicas de coleta/ extrao, beneficiamento e armazenamento, controles administrativo-financeiros, anlises de custo da produo, definio de preos, comercializao e monitoramento.

e) Formulao de um Sistema de GestoO sistema de gesto definido a partir da elaborao, pelo prprio grupo de trabalho, de um conjunto de critrios e normas para o bom andamento das atividades. uma espcie de acordo ou conjunto de regras que devero ser cumpridas por todos aqueles que esto envolvidos no processo.

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Para um bom ordenamento das aes em grupo interessante que o sistema de gesto considere de maneira particular os direitos e deveres dos integrantes e do representante do grupo, sendo definido para cada qual o que lhe compete. Adicionalmente, o grupo pode estabelecer dentro do sistema de gesto um conjunto de passos e critrios para a adeso de novos membros. Seguindo esse pensamento, o sistema de gesto estaria dividido em trs conjuntos: i) os integrantes do grupo; ii) o representante, e; iii) a adeso de novos membros. Pode-se optar tambm pela elaborao de mais de um sistema de gesto, construindo um para cada etapa do trabalho, por exemplo, um para a produo, um para o beneficiamento e outro para a comercializao. Cada um deles tendo a definio de um grupo de trabalho e a determinao, feita pelo prprio grupo, dos papis, direitos e deveres de cada um dos comunitrios envolvidos. O sistema de gesto poder ser anualmente revisado, incluindo, retirando ou modificando alguns pontos, segundo definies do grupo de trabalho. Acredita-se que ele seja uma boa estratgia para se fazer a gesto comunitria de possveis conflitos advindos da atividade.

f) Dicas para a Concepo de um Possvel Plano de ManejoCaso haja interesse ou necessidade de se submeter um plano ou projeto de manejo aos rgos ambientais ou a uma agncia ou associao certificadora de interesse (para obter selos de manejo sustentvel, produto orgnico e outros), ao concluir-se a primeira etapa da fase pr-coleta (Participao, organizao e fortalecimento do grupo de trabalho), pode ser interessante tambm que se tenha recolhido informaes, como: instituio responsvel pelo manejo e grupo de manejadores, localizao da rea, aspectos sociais e caractersticas da organizao comunitria, alm dos aspectos econmicos e ambientais e de um cronograma de execuo estabelecido com a comunidade.

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Na proposio de um possvel plano de manejo ou proposta de certificao, ao definir-se de forma participativa a instituio que ser responsvel pelo manejo, deve-se recolher informaes, como: nome, tipo de instituio, data de registro, CNPJ, representante legal (registrando seu RG e CPF) e ATAs de registro da instituio e de posse do representante; devem tambm ser recolhidas informaes dos membros do grupo de manejadores, como: nome, RG, CPF, nmero de pessoas na famlia, vnculos com a instituio responsvel e informaes sobre sua propriedade. interessante fazer-se uma ficha de cadastramento de manejadores. A localizao da rea poder ser apresentada no incio do documento de uma maneira sucinta, indicando o estado e o municpio onde est situada, os acessos possveis oferecendo coordenadas geogrficas (facilmente tomadas com um GPS) , as propriedades nela contidas e, de preferncia, um mapa ilustrativo do local. Quanto aos aspectos sociais, pode ser interessante apresentar dados sobre, por exemplo: histrico de propriedade da terra, demografia, caractersticas de ocupao da rea, aspectos histrico-culturais, sade, educao, etc. J a respeito da organizao comunitria, oportuno apresentar as regras de convivncia da comunidade (ou plano de uso comunitrio, caso exista), planos de desenvolvimento comunitrio e afins (caso existam), instituies presentes (definindo atribuies e importncia) e os grupos comunitrios reconhecidos, como: cooperativas, associaes, conselhos, grupos de jovens, idosos e mulheres. Na descrio dos aspectos econmicos convm fazer indicaes sobre a renda familiar e apresentar os tipos de produo, sua representatividade sociocultural e econmica e a tecnologia aplicada. Com relao s caractersticas ambientais da rea, pode-se indicar a existncia de reserva legal averbada, o clima local e montar um apanhado sobre a geomorfologia, a geologia, a pedologia, a hidrografia, a aptido agroflorestal, os tipos de vegetao e a diversidade e riqueza de fauna boa parte dessas informaes pode ser conseguida a partir do Zoneamento Ecolgico Econmico (ZEE) do estado, caso ele exista, ou de outras fontes, como: IBGE, universidades, centros de pesquisa, entre outros. J o cronograma de execuo das atividades do manejo, que se presume tenha sido elaborado com a comunidade na fase pr-coleta (veja item b. Ordenamento e planejamento das atividades), poder ser apresentado na forma de Plano Operacional Anual POA ou como material anexado ao plano de manejo da rea.

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Outras informaes que podero estar presentes no plano de manejo so apresentadas nas etapas seguintes deste manual, valendo ressaltar que nos casos em que haja legislao especfica, devem ser oferecidas as informaes adicionais nela solicitadas.

ETAPA 2 - Levantando o Potencial LocalCom a finalidade de se conhecer um pouco mais a rea de trabalho e seu potencial para o manejo de PFNMs, podem ser utilizadas algumas ferramentas, como: a) o levantamento etnobotnico, b) o mapa mental, c) os inventrios amostrais e, d) os levantamentos de estrutura de populaes. Esses levantamentos so apresentados a seguir de forma sucinta e se inserem no conjunto de sugestes que este manual se prope a trazer. No entanto, convm ressaltar que alm destas ferramentas, existem outras que tambm podem ser teis e capazes de apresentar bons resultados, sendo importante em qualquer dos casos um aprofundamento maior sobre o tema a partir de bibliografias especficas. Considera-se que, dependendo da conjuntura do trabalho, os levantamentos sugeridos podem ser conduzidos de maneira concomitante ou anterior etapa 1 (Participao, organizao e fortalecimento do grupo de trabalho). Avalia-se tambm que parte das informaes apresentadas nesta etapa tem cunho tcnico acentuado, o que pode dificultar sua assimilao por parte de lideranas comunitrias e de tcnicos de nvel mdio.

a) Levantamento EtnobotnicoPara fazer o levantamento do potencial de produo de PFNMs em uma comunidade, a primeira ferramenta que pode ser utilizada o levantamento etnobotnico. Nesse levantamento registram-se informaes sobre o conhecimento local. Pode incluir, entre outras, informaes como: locais de ocorrncia das espcies, partes usadas, tcnicas de beneficiamento, tipos de usos, prticas de manejo, medidas mitigadoras de impacto, usos pela fauna, curiosidades e lendas sobre as espcies. Alm dessas, podem tambm ser levantadas informaes referentes a mtodos de transporte e canais de comercializao estabelecidos, caso existam.

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As informaes etnobotnicas enriquecem e podem orientar o trabalho, podem tambm trazer novidades tona. Permitem que o conhecimento tradicional seja agregado ao manejo, desde o incio de sua concepo, dando melhores bases para o desenvolvimento da atividade com a comunidade e podendo favorecer a ampliao do conhecimento tcnico e cientfico sobre as espcies.

b) Mapa MentalAos comunitrios pode ser solicitada a construo de um mapa mental que indique os locais de ocorrncia das espcies de interesse. O mapa mental um tipo de croqui da zona de ocorrncia das espcies na floresta e pode ser feito inclusive sem a necessidade de visitao ao local. interessante que nesses mapas sejam referenciados os caminhos da floresta, as estradas, os igaraps, os lagos, os tapirs (acampamentos na floresta) e demais componentes que auxiliem a localizao das reas. Considera-se que apesar das informaes sobre os locais de ocorrncia serem pouco precisas no mapa mental, daro bons indicativos e facilitaro avaliaes mais criteriosas posteriormente, assim como ser visto no item seguinte (c. Inventrio amostral). Os mapas mentais podem ser elaborados durante o levantamento etnobotnico ou de forma independente.

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c) Inventrio AmostralO inventrio amostral um levantamento rpido realizado antes do incio do manejo e em uma frao da rea a ser explorada. Permite que, antes ou depois de se definir as espcies com as quais se tem interesse em trabalhar, se conhea qual a sua caracterstica de distribuio na rea, possibilitando a obteno de uma estimativa de sua densidade de ocorrncia (nmero de o indivduos da espcie por hectare n indvs./ha). Atravs do inventrio amostral, se obtm bons indicativos sobre o potencial produtivo da floresta em questo, sendo essa sua principal importncia. Pode ser realizado de forma independente do levantamento etnobotnico e do mapa mental, mas considera-se mais prudente que seja realizado levando-se em conta os dados registrados, especialmente, no mapa mental. Esses mapas permitem que se tenha uma idia prvia das espcies que ocorrem na floresta e de sua localizao, possibilitando um melhor dimensionamento do inventrio amostral e a diminuio de seus custos. Para que o inventrio amostral oferea, com significncia, as informaes desejadas, importante primeiramente dividir-se as espcies em, pelo menos, dois grupos: o daquelas que tm distribuio aleatria de indivduos (p. ex.: mogno Swietenia macrophylla, jatob Hymenaea courlbaril, ip-roxo Tabebuia impetiginosa, ip-amarelo Tabebuia spp., etc.) e o grupo das espcies que ocorrem em populaes agregadas (p. ex.: aa Euterpe precatoria e E. oleracea, buriti Mauritia flexuosa, patau Oenocarpus bataua, jarina Phitelephas macrocarpa, castanha-do-Brasil Bertholletia excelsa, etc.). Vale ressaltar, entretanto, a possibilidade de uma mesma espcie apresentar padres diferentes de distribuio, variando de uma regio para a outra ou em funo da escala da amostragem, assim, importante estar atento s suas caractersticas de ocorrncia local.

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c.1 Inventrio em Populaes com Distribuio AleatriaPopulaes com distribuio aleatria so aquelas que apresentam indivduos dispersos pela floresta e sem padres claros de ocorrncia. O inventrio amostral conduzido para a avaliao desse tipo de populao realizado na rea de interesse segundo um procedimento previamente estabelecido. O procedimento amostral a ser adotado pode ser do tipo estratificado (p. ex., diferenciando os ambientes de ocorrncia, como: terra-firme, baixio e vrzea) ou no-estratificado considerando-se a rea como um todo, sem classificao ou distino de ambientes. Pode propor, com relao ao tamanho total da rea, uma intensidade de amostragem em uma proporo de 0,01 a 5% (ou mais) ou realizar uma avaliao estatstica anterior (inventrio piloto) para indicar qual a intensidade mais adequada. As parcelas (unidades amostrais) que devero ser demarcadas para a coleta dos dados, podero ter distribuio de forma aleatria, sistemtica ou um misto entre as duas (p. ex., aleatorizando um ponto inicial e seguindo a distribuio das parcelas de maneira sistemtica, tendo o ponto inicial como referncia). Seu formato poder ser redondo, quadrado ou retangular (transecto). Pensando-se na representatividade dos dados advindos do inventrio amostral, sugere-se a adoo de procedimentos amostrais que melhor capturem as variaes ambientais da rea. Nesse sentido, uma boa alternativa pode ser, por exemplo, a adoo de parcelas do tipo retangular (transecto). Outra alternativa que possibilita uma boa avaliao da rea a opo por parcelas no muito grandes iguais ou menores que 1 hectare e em maior nmero. Essa opo permite tambm um melhor controle na coleta de dados, em funo do menor volume de dados gerados por parcela. Adicionalmente, possibilita uma anlise estatstica mais robusta com menores chances de erro e, conseqentemente, estimativas mais prximas da realidade, devido ao nmero maior de parcelas. No entanto, a opo por parcelas menores e em maior nmero tem como principais desvantagens a maior demanda de trabalhos de campo e o maior custo, quando comparada com amostragens (com rea equivalente) que apresentem parcelas maiores e em menor nmero. Uma abordagem mais ampla pode ser encontrada em literaturas que tratem de forma mais aprofundada o tema.

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c.2 Inventrio em Populaes com Distribuio AgregadaA maioria das espcies apresenta distribuio agregada, porm com variaes em termos de densidade de ocorrncia ou agregao entre uma espcie e outra. Essa variao pode acontecer, inclusive, para uma mesma espcie ocorrendo em reas distintas, ou seja, variaes na agregao quando comparada sua densidade entre as reas. Existem algumas maneiras de se fazer o levantamento de populaes agregadas, aqui se considera uma proposta de inventrio que envolve intensamente o conhecimento comunitrio, direcionada a populaes com alto grau de agregao (alta densidade), sugerida a partir da experincia com os trabalhos realizados pelas comunidades do Projeto de Desenvolvimento Sustentvel PDS So Salvador, em Mncio Lima, Acre, com apoio tcnico do PESACRE. No mtodo proposto, a definio dos locais de ocorrncia agregada das populaes de interesse realizada primeiramente pelos moradores, para isso so feitos mapas mentais pela comunidade, conforme descrito anteriormente. A partir desses mapas o mtodo segue os seguintes passos: i) visita rea com acompanhamento de comunitrios para avaliao inicial de seu potencial fazendo observaes gerais sobre a densidade de indivduos produtivos e, quando necessrio, avaliao da proporo entre machos e fmeas; ii) marcao, com uso de GPS (Sistema de Posicionamento Global), do permetro que circunscreve a rea de ocorrncia agregada dos indivduos com essa mesma finalidade, em alguns casos, pode-se utilizar tambm imagens de satlite da rea para definir o permetro, sendo necessrio que a rea em questo apresente caractersticas de textura, colorao e outras, contrastantes com as reas adjacentes, nas imagens que sero analisadas; iii) gerao de mapas das reas de ocorrncia agregada a partir dos dados de GPS e, se possvel, de imagens de satlite e;

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iv) demarcao de parcelas nas zonas de ocorrncia agregada das espcies seguindo o mesmo procedimento amostral apresentado anteriormente para populaes com distribuio aleatria. Como resultado desses passos, tem-se um zoneamento das reas de ocorrncia agregada das espcies de interesse e uma amostragem direcionada somente a essas reas. Esse mtodo permite a diminuio dos custos com o inventrio amostral e uma estimativa mais precisa do potencial local para o manejo.

d) Estudos de Estrutura da PopulaoA estrutura de uma populao a distribuio numrica de seus indivduos em diferentes classes de tamanho, dimetro ou idade, em um dado momento, classes essas que representam estgios de desenvolvimento distintos (p. ex.: estgios I, II, III e IV ou plntula, jovem I, jovem II e adulto). A estrutura em forma de jota (J) invertido a ideal, ou seja, a que indica estabilidade ou autosustentabilidade da populao.

O que a estabilidade da populao?Estabilidade ou auto-sustentabilidade da populao a capacidade dela se manter com o passar do tempo. Para isso, avalia-se que quanto maior seja o nmero de indivduos nos estgios iniciais de desenvolvimento nos quais a taxa de mortalidade superior , maior ser a possibilidade de haver plantas que alcancem a idade adulta (quando esto aptas a reproduzir), podendo substituir quelas que por ventura morram. Ao processo de passagem de indivduos de um estgio de desenvolvimento anterior a um posterior, normalmente se d o nome recrutamento.

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O estabelecimento do procedimento de amostragem, que indicar as caractersticas estruturais da populao, segue os mesmos passos do inventrio amostral e pode ser realizado juntamente com ele, necessitando-se que nas parcelas demarcadas sejam tomados tambm dados sobre o nmero de indivduos dentro dos diferentes estgios de desenvolvimento. importante tambm que no momento de se definir o tamanho das parcelas para o estudo da estrutura da populao, considere-se que em cada parcela demarcada deva haver pelo menos trs ou quatro indivduos adultos para possibilitar uma melhor avaliao. Com os dados registrados, so feitas anlises estatsticas e montado um grfico que mostra a estrutura da populao, como o que esquematicamente est apresentado na figura anterior. O grfico indicar se a estrutura est ou no em condio de estabilidade, ou seja, se apresenta ou no a forma de J invertido. Com base nessa avaliao, se tem um bom indicativo sobre a aptido da rea para o manejo. conveniente tambm que as parcelas demarcadas na rea para estudo da estrutura da populao sejam do tipo permanente, ou seja, parcelas que permanecero marcadas e consolidadas na rea aps a primeira amostragem. Com parcelas permanentes possvel fazer novas tomadas de dados da estrutura da populao, nos mesmos locais, ao longo dos anos de realizao do manejo, acompanhando, assim, a dinmica da populao. A repetio da amostragem no tempo permite a avaliao da manuteno ou no da estabilidade da populao e, a partir desta indicao, pode-se definir se o manejo tem causado impactos negativos sobre a populao, assim como ser visto mais adiante (Fase PsColeta, item IV, subitem a. Monitoramento ambiental). Adicionalmente, avalia-se como aconselhvel um estudo no s da populao, como tambm da comunidade ecolgica, permitindo a avaliao da interao da espcie manejada com o meio, especialmente com a fauna de ocorrncia local.

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ETAPA 3 - Mapeamento dos Indivduos ProdutivosO mapeamento dos indivduos a determinao de sua localizao/posio na rea de manejo, conhecido tambm como inventrio florestal. No caso do manejo madeireiro o mapeamento chamado de inventrio 100% ou censo florestal. feito de maneira j bem difundida, consistindo basicamente na diviso da rea em talhes (polgonos florestais) e, posteriormente, em cada um dos talhes, na abertura de picadas (linhas) paralelas, com 50m de distncia entre si. Nessas picadas se faz a contagem e a tomada de dados de cada indivduo de interesse, determinando: espcie, dimetro altura do peito DAP , altura, qualidade do tronco e outras caractersticas. Nos talhes se faz tambm a definio da posio de cada indivduo, em um eixo X e Y, direita e esquerda de cada picada.

Esse mtodo de mapeamento para o caso dos PFNMs se torna demasiado caro e pouco eficiente, pois o manejo de PFNMs, em boa parte dos casos, no envolve um nmero to grande de espcies quanto o manejo madeireiro (geralmente de 15 a 60 espcies). O manejo de PFNMs geralmente no excede 10 espcies. Alm disso, o retorno financeiro em curto prazo normalmente muito maior para a explorao madeireira, o que permite que se arque com os custos de um mapeamento mais dispendioso.

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Tendo em vista as distines com relao s caractersticas de mapeamento entre os dois tipos de manejo florestal, torna-se apropriada a adoo de uma metodologia diferenciada para o manejo de PFNMs.

Mtodos de Mapeamento de PFNMsSeja qual for o mtodo escolhido, os primeiros passos sero realizados de maneira semelhante. Primeiramente preciso localizar os indivduos produtivos na rea, tarefa s vezes difcil principalmente Exemplo de procedimento que pode ser utilizado para a quando se tratam de espcies com populaes com distribuio aleatria mas que pode ser localizao de indivduos produtivos: realizada com alguma desenvoltura, na medida em que seja conduzida em companhia i) o grupo de trabalho com PFNMs se rene e vai de comunitrios que conheam bem a floresta para a mata; em questo e as espcies de interesse. ii) o grupo se divide, ficando uma pessoa em um ponto do caminho e os demais entram na mata Tendo localizado os indivduos em busca das plantas; produtivos (matrizes), deve-se fazer a iii) um integrante do grupo encontra uma planta e grita, aquele que ficou no caminho responde; abertura de picadas ou trilhas na floresta para a iv) o integrante que encontrou a planta segue ento ligao entre as reas de ocorrncia. Caso haja na direo de onde veio o grito da pessoa que caminhos, trilhas, varadouros, estradas de ficou no caminho, abrindo uma picada estreita seringa, etc. j estabelecidos, a picada dever (no necessita mais que 50cm); ser feita a partir do indivduo at esses cav) quando o integrante chega ao caminho, est minhos, diminuindo o impacto da atividade. concluda a ligao da planta ao caminho; Durante a abertura das picadas importante vi) assim segue-se fazendo at que se encontre a cortar somente o que for estritamente necesltima planta e que todas estejam ligadas aos srio, as picadas devem agregar facilidade de caminhos principais. locomoo na rea e conservao do subbosque da floresta (vegetao de pequeno a mdio porte). Vale ressaltar que as picadas esto entre as principais fontes de impactos em processos de manejo de PFNMs, assim, sempre bom aproveitar os caminhos que j existam na rea. Sabe-se que j existem alguns mtodos adequados ao cumprimento da etapa de mapeamento, sendo uns mais simples e outros um pouco mais elaborados. Entre as diferentes possibilidades para o mapeamento, aqui sero apresentadas cinco delas: a) uso de croquis, b) utilizao de imagens de satlite, c) definio do permetro da rea, d) mtodo da bssola e passos calibrados e, e) mtodo do GPS.

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a) Elaborao de croquis da reaTrata-se da confeco de um desenho da rea de manejo, na forma de mapa, e da disposio das reas ou indivduos que sero manejados nesse mapa. O croqui uma forma simples e rpida de se fazer o mapeamento da rea de manejo e uma ferramenta que pode ser utilizada pelos prprios comunitrios. No entanto, normalmente apresenta baixa preciso e problemas de escala em suas indicaes.

b) Mapeamento com imagens de satliteNeste mtodo feita a indicao da localizao da rea de manejo a partir de uma imagem de satlite. Trata-se de um mtodo apropriado somente para mapeamento de espcies que apresentem populao com distribuio agregada. Como requisito, preciso que anteriormente tenham sido tomados pontos de GPS no interior da rea de manejo, o que permite a localizao da rea de interesse nas imagens de satlite utilizadas. Como limitao para esse tipo de mapeamento, a determinao da rea de manejo na imagem de satlite s pode ser feita se a rea apresentar algum tipo de diferenciao com relao s suas adjacncias, como, por exemplo, em sua colorao ou textura. Alm disso, esse mtodo normalmente no permite a indicao da exata localizao de cada indivduo, estando restrito definio da abrangncia da rea de manejo.

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c) Definio do permetro da reaPara a definio do permetro da rea realizada a demarcao de uma linha imaginria definindo os contornos (polgono) da rea de manejo. A demarcao do permetro pode ser feita com uso de bssola e passos calibrados ou pelo uso de GPS, tal qual ser apresentado nos dois tpicos seguintes. Esse mtodo, assim como no mapeamento a partir de imagens de satlite, no indica a posio dos indivduos manejados e s apropriado para espcies que apresentem populao com distribuio agregada.

d) Mtodo da bssola e passos calibradosEste mtodo tem como base a utilizao de uma bssola, para a tomada de ngulos de deslocamento, e do passo calibrado, como unidade de medida de distncia. um mtodo um pouco mais complexo que os anteriores e indica com boa preciso a posio de cada indivduo na rea de manejo.

Para a calibrao dos passos (definio do tamanho de cada passo) escolhido um local plano onde marcada uma determinada distncia com uso de trena. Com a distncia marcada, contado o nmero de passos que o comunitrio tem que dar para super-la, devendo-se repetir esse procedimento por trs vezes. A distncia percorrida ento dividida pelo nmero de passos dados, obtendo-se o tamanho da passada do produtor, que calibrada entre as trs repeties atravs de mdia ou mediana (p. ex.: considerando-se que um comunitrio tem que dar 125 passos para vencer uma distncia de 100m, o tamanho de seu passo de 0,8m clculo: 100m / 125 passos = 0,8m/passo).

Procedimento de tomada de dados:considerando-se como ponto de partida a casa do produtor ou outra referncia local, toma-se o rumo (ngulo) com a bssola e mede-se a distncia de deslocamento em linha reta (com uso dos passos calibrados) at que seja necessria uma mudana de direo ou at atingir um indivduo de interesse. A cada vez que se muda a direo das passadas, usa-se novamente a bssola para o registro do ngulo. Os dados (ngulos e passos) devem ser registrados em fichas e posteriormente so transferidos para bancos de dados ou planilhas eletrnicas, possibilitando a gerao de mapas da rea de manejo com indicao da localizao de cada matriz.

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e) Mtodo do GPSNeste mtodo, quando comparado com o anterior, as informaes de direo da bssola e distncia em passos so substitudas pelos registros feitos pelo prprio aparelho de GPS (pontos marcados e trilhas). Dessa forma, trata-se de um mtodo mais simples e rpido, uma vez que basta caminhar pelas trilhas e picadas da floresta e marcar, com uso do GPS, um ponto ao p de cada indivduo produtivo, definindo-se, assim, a posio de cada um deles. Depois de tomados os pontos aos ps de cada indivduo produtivo, os dados registrados no GPS devem ser passados para um computador e, atravs do uso de softwares apropriados, podem ser gerados mapas georreferenciados capazes de indicar a posio de cada indivduo produtivo na rea de manejo. Apesar da praticidade e rapidez, consideram-se basicamente quatro dificuldades relacionadas com o mtodo do GPS: i) a operacionalizao por parte dos comunitrios, ii) a dependncia de recurso financeiro para aquisio do aparelho GPS, iii) os problemas na recepo de sinal (p. ex., em reas de floresta fechada e em momentos de m distribuio de satlites) e, iv) erros de preciso no posicionamento das matrizes.

Consideraes sobre o mapeamentoEnquanto se faz o mapeamento da rea, possvel tambm ir registrando outras informaes sobre os indivduos que sero manejados, como: dimetro, altura, caractersticas do fuste, da raiz e da copa, estado fitossanitrio, etc. conforme o tipo de PFNM com o qual se esteja trabalhando. Na ocasio, pode-se tambm realizar o plaqueteamento dos indivduos mapeados, bastando, para espcies com caule ou fuste aparente, se ter em mos placas metlicas (de 2x3cm, ou mais), pregos, marcadores de numerao e martelo. Com esses registros adicionais se obtm um mapeamento mais qualificado, com informaes que tratam no s da localizao, como tambm da identificao/numerao dos indivduos e do recolhimento de dados particulares a cada um deles.

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ETAPA 4 Licenciamento do ManejoAinda no existe uma legislao federal que trate de maneira ampla e satisfatria o manejo de PFNMs, considerando suas particularidades e estabelecendo um conjunto de procedimentos relativos implementao de planos de manejo e aos controles de explorao, transporte, armazenamento e comercializao de produtos e subprodutos no madeireiros. A legislao que trata do manejo de produtos florestais, mas que no aborda os PFNMs de maneira consistente a recentemente instituda Instruo Normativa (IN) n 5, de 11 de dezembro de 2006. A meno principal ao manejo de PFNMs feita em seu artigo 29 do captulo IV, o qual indica que os produtores de PFNMs empresas, associaes, cooperativas, proprietrios ou possuidores rurais devero estar inscritos num Cadastro Tcnico Federal e apresentar relatrios anuais das atividades realizadas, informando sobre as espcies manejadas, os produtos e as quantidades extradas, at a edio de regulamentao especfica para o seu manejo. Outra IN que trata do manejo de recursos florestais a tambm h pouco instituda IN n 112, de 21 agosto de 2006, que aperfeioa e informatiza os procedimentos relativos ao controle da explorao, comercializao, exportao e uso dos produtos e subprodutos florestais em territrio nacional. Essa IN indica a aplicao do Documento de Origem Florestal DOF, institudo pela Portaria/MMA/n 253, de 18 de agosto de 2006, como licena obrigatria para o controle do transporte e armazenamento de produtos e subprodutos florestais de origem nativa, contendo informaes sobre a procedncia desses produtos e subprodutos, sendo gerado por um sistema eletrnico denominado Sistema DOF. A preocupao que permanece aps a recente aprovao de ambas as INs (IN 5 e IN 112) a continuidade da explorao predatria de PFNMs com finalidades comerciais, verificada em boa parte das reas florestais do territrio nacional. Esse tipo de explorao coloca em risco a conservao das espcies utilizadas, podendo provocar sua extino local. Alm disso, permite que produtos extrados sem nenhum tipo de controle ou cuidado ambiental concorram no mercado, de maneira indiferenciada, com produtos que advm

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do manejo sustentvel. O que pode desestimular a evoluo de trabalhos srios que primam no s pelos benefcios econmicos da atividade, como tambm pela manuteno da biodiversidade, de padres socioculturais e de meios de vida populaes tradicionais Para a ordenao do manejo de PFNMs importante que se construa uma legislao voltada especificamente ao tema, considerando, por exemplo, as diferenas entre o manejo de PFNMs com e sem supresso de indivduos. Preferencialmente definindo procedimentos apropriados para cada tipo ou grupo de PFNMs, como: folhas, frutos, flores, sementes, castanhas, palmitos, razes, bulbos, ramos, cascas, fibras, leos essenciais, leos fixos, ltex, resinas, gomas, cips, bambus, plantas ornamentais, etc. Melhor ainda seria a construo de uma legislao que considerasse as caractersticas de cada espcie e cada PFNM dela originrio, formulando um conjunto de procedimentos pertinentes a cada um dos casos, a partir de uma boa base de conhecimentos da biologia e ecologia destas espcies. Acredita-se que uma das maiores dificuldades seja a instituio de uma legislao que ordene as atividades com PFNMs, mas que ao mesmo tempo no seja excessivamente rigorosa, nem burocratize de forma demasiada o setor. Rigores e burocracia excessivos podem impedir que muitas comunidades desenvolvam o manejo de PFNMs, no sendo essa a inteno. Rigores e burocracia excessivos podem impedir que muitas comunidades desenvolvam o manejo de PFNMs e no essa a inteno. Uma legislao adequada apresentar instrumentos que impediro a explorao predatria e, conseqentemente, a perda de biodiversidade e a competio desleal no mercado com os produtos de origem sustentvel, sem, contudo, dificultar o licenciamento do manejo comunitrio. O ideal que a legislao seja federal, mas possvel que os estados estabeleam suas prprias determinaes (regulamentaes) para o manejo de PFNMs. No Estado do Acre, por exemplo, foi elaborada uma portaria especfica sobre PFNMs, a Portaria Interinstitucional n 001, de 12 de agosto de 2004, sendo vlida somente para o manejo de PFNMs que no envolva a supresso de indivduos e para reas menores que 500ha. Nessa portaria est prescrito que para a explorao de no madeireiros necessria a apresentao de um plano de manejo florestal simplificado no madeireiro (PMFSNM) e de um plano operacional anual (POA) das reas de coleta. O manejo que no tenha destinaes comerciais e seja para fins somente de consumo (uso prprio) est isento de qualquer documentao.

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A Portaria Interinstitucional 001 est em fase de reavaliao, sendo prevista a adequao de parte de seu contedo e o ajuste s alteraes da legislao federal ocorridas aps sua promulgao. Um avano se dar caso deixe o carter generalista atual e passe a considerar os grupos especficos antes mencionados. A proposio dessa portaria em 2004 colocou o Estado do Acre em destaque no cenrio de iniciativas positivas para a ordenao do manejo de PFNMs no Brasil e na Amrica Latina. No entanto, com a exigncia do plano de manejo, os PFNMs do Acre acabam tendo um custo maior de produo, em funo dos custos com todo o processo de discusso e capacitao comunitria associados sua assimilao e formulao. E como o mercado atualmente no diferencia produto manejado de produto com origem predatria, o produto acreano muitas vezes tem dificuldades de concorrer com aquele oriundo de reas no manejadas. Dessa forma, a normativa instituda no Acre um bom exemplo a ser seguido, porm com algumas conseqncias negativas, especialmente as relacionadas com a comercializao da produo. Isso refora a importncia de se construir uma legislao federal, que defina um mesmo procedimento para todos os produtores que estejam envolvidos com a atividade no territrio nacional. Melhor ainda seria a formulao de um conjunto de normas bsicas a serem seguidas na explorao de PFNMs em todos os pases do bioma amaznico, talvez utilizando-se como ambiente de incio de discusses a Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica OTCA. Considera-se que se a legislao no abarca o espao total de distribuio geogrfica das espcies, continuaro existindo diferenciais competitivos entre os estados e pases e, ao final, o manejo sustentvel muitas vezes estar em situao de desvantagem econmica com relao explorao predatria, comprometendo a sustentabilidade da atividade.

Mais informaes sobre a IN 5, IN 112 e a Portaria 253 que institui o DOF sero encontradas no site do IBAMA (www.ibama.gov.br) ou podem ser solicitadas nos escritrios regionais da instituio. Informaes a respeito da Portaria Interinstitucional 001 encontram-se no site do Sistema Estadual de Informaes Ambientais do Acre SEIAM (www.seiam.ac.gov.br) ou nos escritrios regionais do IBAMA e do Instituto de Meio Ambiente do Acre IMAC.

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FASE DE COLETAA fase de coleta aquela em que se d incio ao processo de manejo propriamente dito. Nessa fase as definies sobre tcnicas e critrios a serem adotados so fundamentais para assegurar a sustentabilidade da atividade.

Com relao aos critrios a serem definidos para o manejo, h de considerar-se a diferenciao dos PFNMs em pelo menos dois grupos, os mesmos citados anteriormente PFNMs com e sem supresso de indivduos uma vez que o impacto do manejo sobre as populaes desses dois grupos tende a ser distinta. Dessa forma, devem-se adotar critrios um pouco mais restritivos e rigorosos para o manejo em que seja necessria a supresso de indivduos, possivelmente algo prximo aos critrios j estabelecidos para o manejo madeireiro, que tambm tem como base a supresso de suas matrizes. Seja qual for a espcie a ser manejada, antes do estabelecimento das tcnicas e critrios a serem adotados, devero ser levantadas informaes a respeito de sua biologia e ecologia e, preferencialmente, devem ser realizados testes e monitoramentos capazes de comprovar a adaptao da espcie aos procedimentos de manejo adotados.

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I) Idias Importantes para o Manejo

Princpio da precauoO princpio da precauo foi definido na conveno da Organizao das Naes Unidas ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento, a Eco (Rio) 92. Esse princpio estabelece que na ausncia de certeza cientfica formal, a existncia de um risco de dano srio ou irreversvel requer a implementao de medidas que possam preveni-lo. Trata-se de um princpio importante que deve ser considerado com especial ateno para o manejo em que haja a supresso de indivduos ou no qual os mtodos de coleta sejam de algum modo agressivos ou destrutivos. Considerando-se esse princpio e tomando como exemplo o manejo de partes reprodutivas, como: flores, frutos, sementes e castanhas, uma medida que pode ser adotada a limitao da coleta a uma dada proporo (p. ex.: 30, 50, 70 ou 80%), de maneira a permitir a conservao de parte considervel do recurso para a regenerao da espcie (germinao e desenvolvimento de plantas jovens) e utilizao pela fauna. A limitao de coleta deve ser empregada tambm a casos que envolvam a supresso ou que causem danos acentuados aos indivduos, de maneira que, nesses casos a coleta/extrao deva se restringir a uma determinada medida de dimetro altura do peito (DAP), a uma altura mnima, a uma idade de referncia ou a qualquer outra caracterstica que defina grupos dentro da populao da espcie manejada, sendo parte desses grupos excludos da explorao. Medidas como essa podem garantir o recrutamento e a manuteno da espcie em longo prazo.

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Outra medida pode ser a rotao da explorao, mudando as reas de coleta de uma safra para a outra, o que estabelece intervalos maiores entre intervenes sobre um mesmo conjunto de indivduos da espcie. A rotao da explorao e a limitao da coleta de partes reprodutivas alm de cumprirem com a premissa desse princpio, permitem que todos os indivduos manejados possam dar sua colaborao gentica para as geraes vindouras da espcie. Outras possveis medidas esto relacionadas com o estabelecimento de reas de proteo integral, perodos de excluso e indivduos no manejados, como ser visto a seguir.

reas de proteo integralAs reas de proteo integral tm o objetivo nico de preservao e devem apresentar caractersticas semelhantes quelas da rea de manejo (p. ex., em fisionomia vegetal, diversidade de espcies e densidade de indivduos da espcie de interesse). Podem ser escolhidas em funo de algum valor espiritual ou legendrio relevante para os comunitrios ou por desempenhar algum papel ecolgico importante como, por exemplo, abrigar espcies endmicas, ameaadas de extino e, ainda, para a proteo de reas reconhecidamente utilizadas para reproduo, abrigo ou alimentao por espcies da fauna. Assim, a rea de proteo uma zona onde h ocorrncia da espcie de interesse, mas que no ser manejada, sendo uma salvaguarda caso aconteam impactos no previstos na atividade de manejo. Estudos tcnicos e o conhecimento tradicional podem dar uma boa base para a deciso dos melhores locais para se estabelecer essas reas. Na etapa de monitoramento do manejo (vide Fase Ps-Coleta, item IV) podem ser recolhidas informaes adicionais, dando mais subsdios para uma escolha ainda mais adequada

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Perodos de exclusoO perodo de excluso o tempo em que, mesmo em fase de produo, as matrizes no so exploradas, consistindo em mais uma salvaguarda para o manejo. Considerando-se a extrao de resinas, como exemplo, mesmo que a espcie de interesse produza durante longos perodos no ano, se respeita um perodo restrito explorao, conservando um determinado espao de tempo a fim de que os indivduos permaneam em descanso ou em recuperao. O mesmo pode ser vlido no manejo de folhas, razes, leos e exsudatos. Outro exemplo para o manejo de flores, no qual a coleta pode estar restrita a somente um determinado perodo dentro do tempo de florao da espcie, permitindo s flores polinizadas dar origem a frutos e sementes que, por sua vez, podem garantir a regenerao da espcie e a utilizao pela fauna. O mesmo vlido para os casos de frutos, sementes e castanhas, nos quais considerar-se- a ausncia de coleta durante parte do perodo de frutificao das espcies.Perodo de Excluso Perodo de Excluso

Perodo de Coleta Perodo de Produo

Indivduos no manejadosOs indivduos no manejados so aqueles que apesar de estarem na rea de manejo, no sero explorados, podendo cumprir em totalidade com seu papel ecolgico na populao da espcie. Esse procedimento vem sendo utilizado de maneira j bem disseminada em planos de manejo madeireiro, nos quais so mantidas matrizes das espcies de interesse aps a explorao, com intuito de que os remanescentes possam continuar se reproduzindo e dando origem a novas geraes da mesma espcie.

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Esse princpio interessante, mas no permite que todos os indivduos sigam dando sua colaborao gentica para a populao da espcie, estando esse papel limitado a um conjunto restrito de matrizes correspondentes aos indivduos no manejados. Dessa forma, a variabilidade gentica da populao poder tender a uma diminuio. Alm disso, no caso do manejo madeireiro, esse procedimento pode imprimir uma seleo gentica negativa populao em questo, uma vez que, os indivduos explorados possivelmente sero aqueles que apresentem as melhores caractersticas comerciais (forma de fuste e galhada, ausncia de problemas fitossanitrios, ausncia de ocos, etc.), enquanto que os no manejados so aqueles considerados indivduos inferiores, ficando com eles o papel de reproduo e manuteno da populao da espcie.

Manejo adaptativoO manejo adaptativo pode ser definido como o que se prope a ajustar-se a partir dos resultados do monitoramento da atividade. muito apropriado para situaes em que haja carncia de informaes biolgicas e ecolgicas sobre a espcie, o que a realidade da grande maioria das espcies que do origem a PFNMs. apropriado tambm para os casos em que se desconheam quais so as melhores tcnicas de explorao em escala comercial da espcie. No manejo adaptativo assume-se a condio de haver incertezas e adotam-se solues a partir da definio de procedimentos tcnicos que envolvam os conhecimentos tradicionais e o conjunto de informaes que existam sobre a espcie mesmo que sejam poucos. Adota-se tambm um processo de monitoramento eficiente que permita a avaliao contnua do comportamento da espcie. O manejo adaptativo tem a proposta de aprender fazendo, sendo um contraponto idia de que para se manejar necessrio um profundo conhecimento cientfico ou de tcnicas altamente especializadas advindas de anos de pesquisas com o manejo da espcie. o conceito que deve ser assimilado na maioria dos planos de manejo de PFNMs, se no em todos, e assimilado em eventuais legislaes que sejam institudas para o setor.

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Manejo experimentalA idia do manejo experimental muito parecido com o adaptativo. A adoo do carter experimental ao manejo promove um ambiente de construo de conhecimentos e experincias, permitindo um progresso no sentido do conhecimento das tcnicas mais apropriadas, criando uma conjuntura de aprendizagem sobre o manejo da espcie. Essa categoria j foi adotada pelo IBAMA do Acre para alguns projetos no passado, com intuito de apoiar propostas de planos de manejo de PFNMs e de inserir o componente de pesquisa no trabalho. O carter experimental d mais autonomia e liberdade iniciativa, estimulando seu potencial criativo e inovador.

Manejo de uso mltiplo aquele que procura trabalhar com a floresta como um todo, envolvendo o maior nmero possvel de espcies, inclusive as exploradas para fins madeireiros. conhecido tambm como manejo integrado. No manejo de uso mltiplo a floresta tida como uma grande unidade produtiva, de onde so retirados produtos a partir de diferentes origens, sendo posteriormente direcionados para distintos e variados fins. No manejo de uso mltiplo considera-se que, ao ampliar-se o nmero de produtos a serem extrados/coletados, a renda gerada a partir de uma mesma rea florestal tambm ser ampliada. Esse conceito estabelece um carter verstil atividade de manejo florestal e consolida-a como uma proposta concreta de desenvolvimento, sem a necessidade de excluso da cobertura florestal. No entanto, importante cautela na adoo desse tipo de manejo, j que ainda no h certeza sobre a sustentabilidade ambiental do manejo madeireiro. Tambm no se sabe quais os possveis impactos negativos que a explorao madeireira pode causar sobre os PFNMs, ainda que, em alguns casos, o manejo madeireiro associado ao manejo de PFNMs possa estimular o desenvolvimento e a produo de certas espcies, como o caso de cips e espcies oportunistas, favorecidas pela abundncia de luz nas clareiras abertas pela queda das rvores exploradas no manejo madeireiro.

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II) Procedimentos de ColetaOs procedimentos de coleta englobam o conjunto de mtodos e tcnicas utilizados na extrao/coleta do produto de interesse. A definio de procedimentos apropriados crucial para, entre outras coisas, a conservao da espcie, a segurana das pessoas, a seleo de material adequado e a otimizao da produtividade, conforme apresentado a seguir.

Conservao da espcieIntervenes predatrias devem preferencialmente ser abandonadas e, em seu lugar, devem ser adotadas tcnicas de baixo impacto. Um exemplo de avano alcanado nesse sentido no manejo do cip unha de gato Uncaria tomentosa. Para sua extrao, anteriormente os coletores faziam cortes rentes ao solo ou mesmo retiravam parte das razes matando as matrizes. Atualmente, no manejo da espcie, h muitos coletores fazendo o corte altura de 1m do solo, o que diferentemente do quadro anterior, permite a rebrotao e manuteno da vida do cip. Outros avanos ocorreram com as tcnicas de coleta dos frutos de algumas palmeiras, como: aa solteiro Euterpe precatoria, buriti Mauritia flexuosa e patau Oenocarpus bataua, cujas matrizes antes eram derrubadas ou tinham seus cachos cortados com auxlio de varas que danificavam as palmeiras. Atualmente, a coleta cada vez mais tem sido feita com a utilizao de equipamentos adequados de escalada ou rapel, mantendo os indivduos vivos e sendo pouco agressiva a essas palmeiras. Mais um avano o da extrao de leo de copaba Copaifera spp., antes conduzido por derrubada da rvore ou por meio de um furo em seu tronco, feito com machado ou motosserra procedimento que quando no mata a planta, a impossibilitava de voltar a produzir. Atualmente a extrao tem sido feita cada vez mais com o uso de Mtodo do trado Furo com machado trado, com o dimetro de de polegada, que agride pouco a rvore e possibilita a plena recuperao dos furos, permitindo o retorno s matrizes para novos ciclos de extrao.

Derrubada da rvore

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Pensando-se na conservao da espcie importante tambm considerar que prticas tradicionais sustentveis, utilizadas para explorao de subsistncia, podem configurar-se em prtica predatria em funo da mudana da escala de produo, objetivando alcanar escalas comerciais de produo. Essa mudana de escala e a utilizao de tcnicas pouco apropriadas podem ocasionar uma sobrexplorao (explorao excessiva) da espcie, o que pode conduzir ao esgotamento do recurso no madeireiro e extino local da espcie.

Segurana das pessoasPara garantir a segurana das pessoas fundamental o uso dos equipamentos de proteo individual (EPIs), especialmente nos procedimentos de coleta que envolvam riscos de morte. Um dos casos de risco o das espcies que demandam escalada para a coleta de seus frutos e sementes. A funo de escalador exige que a pessoa esteja bem capacitada e munida de todos os equipamentos de escalada necessrios sua segurana. Outro exemplo da coleta das amndoas da castanha-do-Brasil Bertholletia excelsa, na qual fundamental que o coletor use pelo menos botas apropriadas (com perneiras) e o capacete de proteo, j que a queda de um ourio fruto grande e pesado que abriga as castanhas em seu interior sobre a cabea do coletor pode ser fatal. A segurana pode estar comprometida tambm pela insalubridade do local de coleta ou do acesso a ele, podendo se tratar de reas pantanosas, tabocais, reas com ocorrncia de animais peonhentos, etc. Nesses casos, assim como nos anteriores, importante que se tenha um kit de primeiros socorros adequado e, se possvel, que a equipe de coleta tenha plano de sade e seguro de vida.

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Seleo do material vegetalNo momento da coleta o produtor deve estar atento e ser rigoroso na seleo do material vegetal (fruto, casca, raiz, cip, etc.) que estiver recolhendo. Material apodrecido, sem vitalidade ou com aspecto imprprio deve ser excludo da seleo. importante ter em vista que o que est sendo coletado ser matria-prima para algum tipo de produto final (cosmtico, artesanato, alimento, medicamento, etc.), assim, a coleta de material de baixa qualidade ou contaminado, acarretar possivelmente a produo de um produto final inadequado para a utilizao. Dependendo da finalidade de uso do PFNM, importante tambm evitar contaminaes no ato da coleta, impedindo, por exemplo, o contato do material vegetal com o solo, suor, gua impura, detritos florestais em geral, luz solar, entre outros, principalmente quando a finalidade a produo de alimentos, medicamentos e cosmticos que entram em contato com mucosas. Nesses casos, cuidados com a higiene na coleta so essenciais para a manuteno da qualidade do produto. Durante a seleo do material vegetal importante considerar que o controle de qualidade do produto comea exatamente no momento da coleta.

Otimizao da produtividadeOtimizar a produtividade essencialmente tornar o processo de coleta mais gil e menos oneroso. Para isso importante a escolha de equipamentos e procedimentos de coleta que facilitem a extrao do produto e atuem no sentido de diminuir o impacto e o tempo necessrio para a concluso das operaes. Escolhas apropriadas diminuem os custos de produo e, assim, permitem que o produto possa ser sempre competitivo no mercado.

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Para a maior parte dos PFNMs as melhores alternativas ainda esto por ser definidas. Desta maneira, inicialmente importante levantar-se informaes sobre o que j tenha sido testado e quais os resultados obtidos positivos e negativos. Caso essas informaes no estejam disponveis ou no existam, hora dos comunitrios, juntamente com os tcnicos que os apiam, utilizar de criatividade e bom senso para experimentar e propor caminhos para a otimizao da produtividade. O monitoramento e as discusses comunitrias so bons instrumentos para a contnua melhoria dos procedimentos e dos equipamentos de coleta.

III) Equipamentos de ColetaAo se escolher adequadamente os equipamentos de coleta devem-se considerar tanto questes relacionadas conservao da espcie, como segurana das pessoas e otimizao da produtividade. Muitas vezes a definio da composio do kit de extrao/coleta (conjunto de equipamentos a serem utilizados) no uma tarefa fcil, j que geralmente so raros os trabalhos de referncia na rea. Em outros casos a limitao de recursos que dificulta a montagem do kit mais apropriado. Assim como h diferenas entre processos de extrao/coleta de diferentes espcies, h tambm entre os equipamentos que so demandados. Dessa maneira, alguns kits podem ter um custo bem reduzido, como o caso do kit para coleta de sementes de jarina (marfim vegetal) Phytelephas macrocarpa, composto basicamente por: botas, luvas, sacos de coleta ou caoas, terado (faco), rastelo, prancheta e fichas de controle de coleta. Enquanto que outros podem ser mais complexos e caros.

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Um exemplo de kit que exige um maior investimento para sua aquisio, como os kits de escalada para coleta de frutos e sementes, que podem conter: cinto de segurana, talabarte, garra ou espora de escalada, cordas, bota, luva, capacete, culos de segurana, terado (faco), lona, sacos de coleta ou caoas, prancheta e fichas de controle de coleta.

IV) Estimativas de ProduoAo estimar-se a produo, primeiramente preciso conhecer o perodo do ano em que a espcie alcana seu pice de produo. Para o caso da explorao de folhas, flores, frutos, sementes e castanhas, basta que seja feito um estudo fenolgico da espcie de interesse. Esse estudo consiste no acompanhamento do comportamento dos indivduos ao longo das diferentes estaes do ano, abrangendo padres de florao, frutificao e folhao. J para o caso de outras partes exploradas, por exemplo, cascas, razes, leos presentes em galhos ou no tronco, entre outros, preciso um acompanhamento de mdio a longo prazos, avaliando as respostas das matrizes ao manejo e respeitando princpios de sustentabilidade (vide Fase Coleta, I. Idias importantes para o manejo). As estimativas de produo so feitas com base no nmero de matrizes ocorrentes na rea e na produo mdia de cada uma delas. Assim, por exemplo, numa situao hipottica com o manejo de inaj Maximilana maripa: numa dada rea de manejo h 200 matrizes de inaj, o nmero mdio de cachos por matriz de 5 por ano e o nmero mdio de frutos de 850 por cacho. Com base nesses

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dados, a estimativa de produo da rea : 200 (matrizes) x 5 (cachos por ano) x 850 (frutos por cacho), o que corresponde a um total de 850 mil frutos por ano. Dessa forma, se tem que: Estimativa de Produo da rea (EPA) = nmero de matrizes x produo mdia por matriz.

Nmero de matrizes

Produo mdia por matriz

Em alguns casos difcil se fazer uma estimativa precisa da produo da rea, principalmente quando nenhum morador tenha trabalhado com a espcie antes. Nesses casos, preciso estimar com base em dados de referncias bibliogrficas ou esperar a primeira safra para fazer uma indicao mais prxima ao real. Para a estimativa da produo deve ser considerado o que se definiu dentro do princpio de precauo, de maneira que, a parte da produo destinada regenerao da espcie e ao consumo da fauna no faa parte dos clculos. Tambm ser descontada a produo das reas e perodos de excluso e dos indivduos no manejados.

V) Ciclo de ColetaO ciclo de coleta o tempo deco