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Manejo Fitossanitário do Feijoeiro Introdução O Sistema de Integração Lavoura e Pecuária, tem se mostrado uma alternativa viável para a formação de palhada no sistema de plantio direto e também como forma de rotação de culturas, propiciando melhores condições para o cultivos de culturas graníferas. Nesta cadeia produtiva complexa e mais sustentável, está se viabilizando, também, a produção integrada da lavoura/pecuária como uma resposta à necessidade de reduzir o uso de agrotóxicos e maior atenção e respeito ao meio ambiente, apta a preencher um nicho no mercado nacional e também em mercados internacionais, onde a rastreabilidade do produto é um requerimento para a comercialização. Esta publicação traz informações sobre amostragem e tomadas de decisão em relação a pragas, doenças e plantas daninhas do feijoeiro comum, (Phaseolus vulgaris), com o objetivo de produzir feijão mais eficientemente, reduzindo perdas, custo de produção e tornando o sistema de produção mais sustentável. As informações sobre o monitoramento e o manejo de plantas daninhas, pragas e doenças vêm atender demandas da produção integrada de grãos e facilitar o processo de rastreabilidade da produção de feijão. Além disso, são métodos e recomendações aplicáveis em muitos sistemas de plantio, independente do tamanho da propriedade ou região produtora. O entendimento do ecossistema a ser manejado e dos processos naturais que limitam a população de pragas, doenças e plantas daninhas é fator determinante para o sucesso da produção de grãos. O monitoramento dos fatores bióticos que afetam a produção do feijoeiro dará embasamento aos técnicos que trabalham com a cultura na tomada de decisão na resolução dos seus problemas. Fenologia do Feijoeiro e o Manejo de Plantas Daninhas, Pragas e Doenças Os caracteres morfológicos utilizados na identificação de cultivares de feijoeiro, envolvendo as fases vegetativa e reprodutiva são observados na Tabela 1. O ciclo da cultura é completado em 70 a 110 dias, dependendo da cultivar e das condições climáticas. O período crítico para o controle de plantas daninhas e o período de maior probabilidade de ocorrência de pragas e doenças de acordo com a fenologia da planta podem ser observados na Figura 1 e devem ser levadas em consideração quando for realizado o monitoramento a campo. Santo Antônio de Goiás, GO Novembro, 2005 73 ISSN 1678-9636 Autores Eliane Dias Quintela Engenheira Agrônoma, Ph.D. em Entomologia, Embrapa Arroz e Feijão. Rod. GO 462, Km 12, Zona Rural 75375-000 Santo Antônio de Goiás – GO. [email protected] Aloísio Sartorato Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitopatologia, Embrapa Arroz e Feijão. [email protected] Murillo Lobo Júnior Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitopatologia, Embrapa Arroz e Feijão. [email protected] Tarcísio Cobucci Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia, Embrapa Arroz e Feijão. [email protected] Tabela 1. Etapas do desenvolvimento da planta do feijoeiro comum. Etapas 1 Descrição 2 V0 Germinação: absorção de água pela semente; emergência da radícula e sua transformação em raiz primária. V1 Emergência: os cotilédones aparecem ao nível do solo e começam a separar-se. O epicótilo começa o seu desenvolvimento. V2 Folhas primárias: folhas primárias completamente abertas. V3 Primeira folha trifoliolada: abertura da primeira folha trifoliolada e o aparecimento da Segunda folha trifoliada. V4 Terceira folha trifoliolada: abertura da terceira folha trifoliolada , as gemas e os nós inferiores produzem ramas. R5 Pré- floração: aparece o primeiro botão floral e o primeiro rácimo. R6 Floração: abre-se a primeira flor. R7 Formação das vagens: aparece a primeira vagem. R8 Enchimento das vagens: começa o enchimento da primeira vagem (crescimento das sementes). Ao final desta etapa, as sementes perdem a cor verde e começam a mostrar as características da cultivar. Inicia-se o desfolhamento. R9 Maturação fisiológica: as vagens perdem a pigmentação e começam a secar. As sementes adquirem a coloração típica da cultivar. 1 V= Vegetativa; R= Reprodutiva. 2 Cada etapa inicia-se quando 50% das plantas mostram as condições que correspondem à descrição da etapa.

Manejo fitossanitário do feijoeiro

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Manejo Fitossanitário do Feijoeiro

IntroduçãoO Sistema de Integração Lavoura e Pecuária, tem se mostrado uma alternativa viável para aformação de palhada no sistema de plantio direto e também como forma de rotação deculturas, propiciando melhores condições para o cultivos de culturas graníferas. Nestacadeia produtiva complexa e mais sustentável, está se viabilizando, também, a produçãointegrada da lavoura/pecuária como uma resposta à necessidade de reduzir o uso deagrotóxicos e maior atenção e respeito ao meio ambiente, apta a preencher um nicho nomercado nacional e também em mercados internacionais, onde a rastreabilidade do produto éum requerimento para a comercialização.

Esta publicação traz informações sobre amostragem e tomadas de decisão em relação apragas, doenças e plantas daninhas do feijoeiro comum, (Phaseolus vulgaris), com oobjetivo de produzir feijão mais eficientemente, reduzindo perdas, custo de produção etornando o sistema de produção mais sustentável. As informações sobre o monitoramento eo manejo de plantas daninhas, pragas e doenças vêm atender demandas da produçãointegrada de grãos e facilitar o processo de rastreabilidade da produção de feijão. Alémdisso, são métodos e recomendações aplicáveis em muitos sistemas de plantio,independente do tamanho da propriedade ou região produtora.

O entendimento do ecossistema a ser manejado e dos processos naturais que limitam apopulação de pragas, doenças e plantas daninhas é fator determinante para o sucesso daprodução de grãos. O monitoramento dos fatores bióticos que afetam a produção do feijoeirodará embasamento aos técnicos que trabalham com a cultura na tomada de decisão naresolução dos seus problemas.

Fenologia do Feijoeiro e o Manejo de Plantas Daninhas,Pragas e Doenças

Os caracteres morfológicos utilizados na identificação de cultivares de feijoeiro, envolvendoas fases vegetativa e reprodutiva são observados na Tabela 1. O ciclo da cultura écompletado em 70 a 110 dias, dependendo da cultivar e das condições climáticas.

O período crítico para o controle de plantas daninhas e o período de maior probabilidadede ocorrência de pragas e doenças de acordo com a fenologia da planta podem serobservados na Figura 1 e devem ser levadas em consideração quando for realizado omonitoramento a campo.

Santo Antônio deGoiás, GO

Novembro, 2005

73

ISSN 1678-9636

AutoresEliane Dias Quintela

Engenheira Agrônoma,Ph.D. em Entomologia,

Embrapa Arroz e Feijão. Rod.GO 462, Km 12, Zona Rural

75375-000 Santo Antônio deGoiás – GO.

[email protected]

Aloísio SartoratoEngenheiro Agrônomo,

Doutor em Fitopatologia,Embrapa Arroz e Feijão.

[email protected]

Murillo Lobo JúniorEngenheiro Agrônomo,

Doutor em Fitopatologia,Embrapa Arroz e Feijão.

[email protected]

Tarcísio CobucciEngenheiro Agrônomo,

Doutor em Fitotecnia,Embrapa Arroz e Feijão.

[email protected]

Tabela 1. Etapas do desenvolvimento da planta do feijoeiro comum.

Etapas1 Descrição2

V0 Germinação: absorção de água pela semente; emergência da radícula e sua transformação em raiz primária.V1 Emergência: os cotilédones aparecem ao nível do solo e começam a separar-se. O epicótilo começa o seu desenvolvimento.V2 Folhas primárias: folhas primárias completamente abertas.V3 Primeira folha trifoliolada: abertura da primeira folha trifoliolada e o aparecimento da Segunda folha trifoliada.V4 Terceira folha trifoliolada: abertura da terceira folha trifoliolada , as gemas e os nós inferiores produzem ramas.R5 Pré- floração: aparece o primeiro botão floral e o primeiro rácimo.R6 Floração: abre-se a primeira flor.R7 Formação das vagens: aparece a primeira vagem.R8 Enchimento das vagens: começa o enchimento da primeira vagem (crescimento das sementes). Ao final desta etapa, as

sementes perdem a cor verde e começam a mostrar as características da cultivar. Inicia-se o desfolhamento.R9 Maturação fisiológica: as vagens perdem a pigmentação e começam a secar. As sementes adquirem a coloração típica da

cultivar.1V= Vegetativa; R= Reprodutiva.2Cada etapa inicia-se quando 50% das plantas mostram as condições que correspondem à descrição da etapa.

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2 Manejo Fitossanitário do Feijoeiro

Passos para a Realização daAmostragem de Pragas, Doenças ePlantas Daninhas

As amostragens das pragas e seus inimigos naturais, eplantas daninhas do feijoeiro devem ser realizadassemanalmente em diversos pontos da lavoura. Para ocaso específico de doenças, as visitas de observação aocampo devem ser feitas duas vezes por semana. Emlavouras de até 5 ha devem ser realizadas quatroamostragens. Em lavouras de até 10 ha, efetuam-secinco amostragens. Em lavouras de até 30 ha deve-seamostrar seis pontos, nas de até 50 ha oito pontos e,em até 100 ha, recomenda-se amostrar dez pontos. Ocaminhamento na lavoura para amostragem deve serfeito de forma que represente o melhor possível a áreatotal, normalmente em zig-zag. Em áreas maiores que100 ha, recomenda-se dividir as áreas em talhõesmenores.

Amostragem de pragasPara que a amostragem das pragas do feijoeiro possa serefetuada com eficiência é imprescindível o conhecimento daspragas e seus sintomas de danos que estão descritos deforma resumida na Tabela 2. Deve-se amostrar também osinimigos naturais pois auxiliará o produtor na tomada dedecisão quanto ao controle das pragas. Se a diversidade e apopulação de inimigos naturais for elevada e a população dapraga estiver próxima do nível de controle, é aconselhávelaguardar 3-4 dias e amostrar novamente o campo. Nessecaso, é possível que os inimigos naturais sozinhosmantenham a população da praga abaixo do nível decontrole.

Para obter informações mais detalhadas sobre as pragas ecomo efetuar o manejo integrado consultar a Circular técnica46 e Documentos 142 (estas publicações podem seradquiridas no setor de venda de publicações da EmbrapaArroz e Feijão em endereço no final desta circular). Osmateriais necessários para amostragem de pragas do feijoeiroe os inimigos naturais são apresentados na Figura 1.

Forma de amostragem antes da instalaçãoda lavouraEm áreas de incidência de pragas de solo, deve-se fazeramostragem de solo antes do plantio do feijoeiro.Normalmente são efetuadas 15 amostras de solo (1mlargura x 1m de comprimento x 5 cm de profundidade) em100 ha. Se forem observadas mais de uma lagarta >1,5cm (elasmo, rosca, lagarta do cartucho, corós ou gorgulhodo solo) por m2, deve-se esperar que a maioria daslagartas empupem (normalmente dez dias), fazertratamento de sementes e aumentar o estande de plantas.

Forma de amostragem da emergência atéo estágio de 3-4 folhas trifolioladasDevem-se amostrar as plantas em 2 m de linha até oestágio de 3-4 folhas trifolioladas. Para isso, marcam-se2 m na linha de plantio, amostrando da seguinte formapara cada praga ou dano:

a) pragas de solo: anotar o número de plantas mortas;b) vaquinhas, mosca branca, cigarrinha-verde e inimigos

naturais: amostrar as folhas na parte superior e inferiorpara estes insetos;

c) ácaro branco: verificar a presença de sintomas deataque nas folhas da parte superior da planta.

Outras pragas e danos devem-se amostrar da seguinte forma:

a) desfolha: amostragem visual do nível de desfolha em áreade raio igual a 5 m, centrada no ponto de amostragem;

b) larva minadora: amostrar o número de larvas com lupa deaumento em dez folhas trifolioladas/ponto de amostragem,não considerando o ataque nas folhas primárias;

c) tripes: bater as plantas presentes em 1 m de linha em placabranca/ponto de amostragem;

d) lesmas: em locais de ataques de lesmas, contar as lesmasem 1 m2/ponto de amostragem.

Forma de amostragem após o estágio de 3-4 folhas trifolioladasApós o estágio de 3-4 folhas trifolioladas, as amostragensdevem ser realizadas com o pano de batida branco, com 1 mde comprimento por 0,5 m de largura, com um suporte decada lado. O pano deve ser inserido cuidadosamente entreduas filas de feijão, para não perturbar os insetos e os inimigosnaturais presentes nas plantas. As plantas devem ser batidasvigorosamente sobre o pano para deslocar os insetos einimigos naturais. Anota-se na ficha de levantamento decampo os insetos caídos no pano. Nesta etapa, tambémdevem ser anotados os níveis de desfolha, os números detripes, lesmas, larvas minadoras e a presença de sintoma deataque do ácaro branco, como descrito anteriormente.

Forma de amostragem no estágio deflorescimento e de formação de vagensNestes estágios, as amostragens devem ser direcionadaspara tripes, ácaro branco, percevejos e lagartas dasvagens. Deve-se inserir cuidadosamente o pano de batidaentre as plantas e amostrar nesta ordem:

1) verificar a presença de sintomas de ataque do ácarobranco nas folhas na parte superior da planta na área dabatida de pano;

2) contar os percevejos que estão na parte superior daplanta e mover cuidadosamente as plantas para observaros percevejos que estão nas partes mediana e inferior dasplantas;

3) após amostragem dos percevejos, bater vigorosamenteas plantas sobre o pano de batida e contar os insetos e osinimigos naturais caídos no pano;

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3Manejo Fitossanitário do Feijoeiro

4) amostrar visualmente as vagens quanto à presença delagartas;

5) Passar por cinco vezes a rede entomológica, emmovimentos horizontais de um metro de largura, sobreas plantas do feijoeiro para amostragem do percevejomanchador dos grãos, Neomegalotomus parvus.

6) próximo à área amostrada, amostrar visualmente ostripes nas flores, coletando 25 flores/ponto deamostragem.

Anotar os resultados da amostragemOs resultados das amostragens devem ser anotados naplanilha de levantamento para as pragas, inimigos naturaise tripes nas flores (Anexo 1).

Tomada de decisãoPara saber qual o momento adequado para efetuar ocontrole com inseticidas é necessário consultar o Anexo1, que mostra os níveis de controle para as principaispragas do feijoeiro. Esses níveis estão amparados poruma boa margem de segurança, de forma que a suautilização cuidadosa permitirá a aplicação de inseticidassomente quando houver necessidade, sem que ocorraperda na produção.

Escolha dos inseticidasSe o nível para o controle da praga foi atingido, deve-seefetuar a pulverização escolhendo os inseticidas maisseletivos.

Amostragem de doençasUma vez no campo e se desejarmos determinar quaisdoenças (se alguma) estão presentes e as suasseveridades aproximadas, a amostragem é relativamentesimples. Caminhe entre as fileiras do feijoeiro por 15 a30 metros e anote a ocorrência e a severidade de cadadoença. Se for um campo grande, recomenda-seamostrar os cantos opostos ou qualquer outro localoposto aos já amostrados. Faça várias amostragens,podendo seguir a mesma orientação utilizada para aamostragem de pragas. Em uma área grande, o númerode amostragens deve, conseqüentemente, ser maior queem uma área pequena (ver item “Passos para arealização da amostragem de pragas, doenças e plantasdaninhas”). No caso de campos irrigados, sempreverifique as partes baixas onde a água acumula – asdoenças ocorrem com maior freqüência nestes locais.

Dependendo da doença em questão, deve-se anotar aincidência ou a severidade.

Por incidência entende-se o número de plantas infectadasexpresso como a porcentagem do número total de

unidades avaliadas. Ex.: porcentagem de plantas doentesem um campo. Este método é comumente utilizado paradoenças que causam infecções sistêmicas (ex.: doençasincitadas por vírus ou por fungos/bactéria que causammurchas).

Por severidade entende-se a área de tecido da plantaafetada pela doença expressa como a porcentagem da áreatotal. É mais utilizada para doenças que causam manchas,pústulas, cancros, etc.

O termo intensidade deve ser evitado pois, normalmente,pode significar tanto incidência como severidade.

Amostragem de patógenos que sobrevivemno solo e de suas doençasAo contrário das pragas, fungos e bactérias sãomajoritariamente microscópicos sendo impossível umdiagnóstico visual da sua presença e densidade de inóculono campo. Se houver interesse em se conhecer aocorrência e a densidade de patógenos “de solo” em umaárea, pode-se enviar uma amostra composta de solo dacamada de 0-10 cm a laboratórios capacitados para estaanálise, caso da Embrapa Arroz e Feijão. Como estespatógenos ocorrem em reboleiras, deve-se aumentar onúmero de amostras compostas, quanto maior for a áreade plantio. Ou, de outro modo, evitar que uma mesmaamostra contenha solo de glebas ou partes heterogêneasda lavoura. Esta técnica pode ser de interesseespecialmente avaliando diferentes práticas culturais, como“antes” e “depois” de implantar a integração lavoura-pecuária, aplicar agentes de controle biológico, utilizardiferentes manejos de irrigação, etc.

Amostras compostas também podem ser utilizadas paraquantificar as populações de S. sclerotiorum, causador domofo branco do feijoeiro. Para este patógeno, recomenda-se coletar o solo da camada 0-5 cm de uma amostra de0,5 ou 1,0 m2 (pois a germinação dos escleródios ocorreno máximo a esta profundidade). O solo livre ou com ummínimo de torrões deve passar por duas peneiras: uma de0,8 cm de malha para reter fragmentos maiores de solo erestos de plantas, além de escleródios grandes; e outra de0,2 cm para reter os escleródios que não ultrapassameste tamanho. Esta fração de solo deve ser despejada emuma bandeja de plástico branco, para que os escleródiospossam ser separados dos fragmentos de solo, com oauxílio de uma pinça, obtendo-se então o número deescleródios por volume de solo ou área. Um escleródioem 5 m2 de solo já é suficiente para causar uma epidemia;acima de 15 escleródios/m2, o controle químico do mofobranco fica comprometido. Observa-se que este método édemorado e gera com rapidez um grande volume de solopara ser peneirado e avaliado, e o tempo gasto nestasoperações deve ser considerado para evitar desgastes.

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4 Manejo Fitossanitário do Feijoeiro

Naturalmente, quanto maior o número de amostras, maiora precisão da amostragem.

Amostragem de doenças causadas porpatógenos de solo na fase vegetativaPara verificar a ocorrência de doenças radicularesarranque cinco ou mais plantas/ponto de amostragemcom uma pá de mão para preservar um maior volume deraízes e lave-as para que as mesmas possam ser melhorobservadas. Anote, também, se a (s) doença (s) estáocorrendo de forma uniforme em todo o campo oulocalizada em um ou vários pontos do campo. Isto éimportante, porque podridões de raízes, murchasvasculares e podridões da parte aérea podem apresentarestes padrões e aparecer em reboleiras. Para as podridõesradiculares causadas por Fusarium solani e Rhizoctoniasolani, é aconselhável que as amostragens sejam feitasaté o estádio V3, pois a partir desta fase ocorre acicatrização de lesões no eixo principal e nas raízes maisgrossas. Estas e outras principais doenças radiculares dofeijoeiro comum e suas características estão descritasresumidamente na Tabela 3. No caso de veranico ou dedéficit hídrico deve-se checar a ocorrência da podridãocinzenta da haste, comum nestas condições. Raramenteocorrem outras doenças causadas por patógenos de solo,entre a emergência e o pré-florescimento do feijoeiro.

Amostragem de doenças causadas porpatógenos de solo na fase reprodutivaA amostragem de doenças é dificultada nesta fase devidoao fechamento entre fileiras da cultura e pelo porteprostrado ou semi-ereto que predomina nas cultivares defeijoeiro. A partir do florescimento observam-se ossintomas de mofo branco, murchas de Fusarium e deCurtobacterium, além da mela que pode ocorreranteriormente a esta fase.

O emaranhado de hastes formado nesta ocasião dificulta acontagem de plantas doentes ou a avaliação da severidadede plantas em plantas individuais. A opção neste caso éavaliar parcelas de tamanho definido (ex: 10, 20, 50 m2) eque podem ser estratificadas (várias avaliações emdiferentes pontos da parcela, obtendo-se uma nota média)em áreas representativas da lavoura. Use uma escala de 0 a100, onde 10 = 10% da área de plantas lesionadas, etc.Para atribuir as notas, o técnico deve abrir as fileiras doponto de amostragem e analisar todas as plantas em 1m2, enunca dar notas ao que vê observando apenas a partesuperior das plantas.

Para as podridões radiculares, a avaliação de doenças emuma lavoura pode ser feita utilizando-se a seguinte escaladescritiva. A mesma escala pode ser utilizada para avaliaras lesões podridão cinzenta em haste de plantas jovens.

A) Podridões radiculares:

1. Ausência de sintomas3. Até 25% de raízes com sintomas5. Entre 26 e 50% de raízes com sintomas7. Entre 51 e 75% de raízes com sintomas9. Acima de 76% de raízes com sintomas

O mofo branco, a mela e a murcha de Fusarium e apodridão cinzenta da haste em plantas adultas podem seravaliados com a escala descrita a seguir, que pode serempregada para plantas individuais ou para grupos deplantas em 1 m2.

B) Podridões e murchas da parte aérea:

0. Ausência de sintomas10. 10% de área lesionada20. 20% de área lesionada30. 30% de área lesionada40. 40% de área lesionada50. 50% de área lesionada60. 60% de área lesionada70. 70% de área lesionada80. 80% de área lesionada90. 90% de área lesionada100. Plantas mortas ou parcela destruída

Amostragem de doenças da parte aéreaNos pontos de amostragens deve-se verificar a presençade sintomas das doenças a serem monitoradas. Asprincipais doenças da parte aérea do feijoeiro comum esuas características, encontram-se descritas resumidamentena Tabela 4.

Para se obter a severidade de uma doença em umadeterminada área, faz-se uso de escalas descritivas oudiagramáticas. Abaixo, poderão ser observadas váriasescalas utilizadas para se avaliar a severidade de doençasdo feijoeiro comum.

a) Escala Descritiva

a.1) Antracnose:1. Ausência de sintomas2. Até 1% das nervuras apresentando manchas

necróticas perceptíveis somente na face inferior dasfolhas

3. Maior freqüência dos sintomas foliares descritos nograu anterior, até 3% das nervuras afetadas

4. Até 1% das nervuras apresentando manchasnecróticas perceptíveis em ambas as faces das folhas

5. Maior freqüência dos sintomas foliares descritos nograu anterior, até 3% das nervuras e das vagensafetadas

6. Manchas necróticas nas nervuras, perceptíveis emambas as faces das folhas, presença de algumaslesões nos caules, ramos e pecíolos e nas vagens

7. Manchas necróticas na maioria das nervuras e emgrande parte do tecido do mesófilo adjacente que serompe. Presença de abundantes lesões nos caules,ramos e pecíolos e nas vagens

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8 Manejo Fitossanitário do Feijoeiro

8. Manchas necróticas na quase totalidade dasnervuras, ocasionando rupturas, desfolhação eredução do crescimento das plantas. Lesões muitoabundantes nos caules, ramos e pecíolos e nasvagens

9. Maioria das plantas mortasa.2) Murcha de Curtobacteria

1. Ausência de sintomas2. Até 5% da folhagem com sintomas de murcha3. De 6 a 10% da folhagem com sintomas de murcha4. De 11 a 15% da folhagem com sintomas de murcha5. De 16 a 25% da folhagem com sintomas de murcha6. De 26 a 35% da folhagem com sintomas de murcha7. De 36 a 50% da folhagem com sintomas de murcha8. De 51 a 75% da folhagem com sintomas de murcha9. Mais de 75% da folhagem com sintomas de murcha

b) Escala Diagramática

b.1) Mancha angular

b.2) Ferrugem

Anotar os resultados da amostragemOs resultados das amostragens devem ser anotados naPlanilha de levantamento para as doenças (Anexo 2).

Tomada de decisãoPara as doenças iniciadas por patógenos que habitam osolo, não há medidas curativas para o seu controle. Aamostragem deste grupo de doenças é necessária aindaassim para se monitorar o desempenho da lavoura e aeficiência de métodos preventivos de controle (e curativos,nas exceções justificadas a seguir). Há diversas opções demedidas preventivas que devem ser empregadas, conforme

b.4) Crestamento bacteriano comum

Porcentagem de Infecção

Porcentagem de infecção

b.3) Oídio

Porcentagem de infecção

Porcentagem de infecção

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9Manejo Fitossanitário do Feijoeiro

a Tabela 3, que dividem-se em: 1) a proteção dasemente e da planta em seus estádios iniciais; 2) aredução de inóculo inicial presente no solo; 3)modificação do ambiente-solo ou sob o dossel dasplantas, visando uma melhor aeração, menor acúmulo deágua e desenvolvimento de um maior volume de raízes;4) práticas no plantio que facilitem a emergência rápidadas plantas, além de evitar tanto o estresse de plantas e/ou exposição prolongada às condições favoráveis aodesenvolvimento dos patógenos; 5) o controle químicopode ser viável técnica e economicamente apenas para omofo branco e para a mela, e usado preventivamente oulogo após a observação dos primeiros sintomas dadoença. Sob alta pressão de inóculo, somente o usopreventivo de fungicidas pode ser eficiente.

É importante lembrar que F. solani, R. solani, M.phaseolina e T. cucumeris são nativos dos solosbrasileiros e por isso os métodos de controle devemfocar a manutenção da densidade de inóculo destespatógenos no menor nível possível. Já S. sclerotiorum,C. flaccumfasciens e provavelmente F. oxysporum f.sp.phaseoli são introduzidos na lavoura por meio desementes e de solo infectado. Mas para todos estes,uma vez constatados no campo, é praticamenteimpossível a sua eliminação.

Muitas doenças que ocorrem na parte aérea do feijoeirocomum são consideradas doenças “explosivas”, ou seja,aparecem e aumentam de severidade, muito rapidamente.Conseqüentemente, a decisão de se aplicar ou não ocontrole químico, deve ser tomada, também, de formarápida. Devido aos inúmeros fatores que influenciam noaparecimento e no desenvolvimento das doenças apesquisa, até o momento, não determinou umaseveridade/incidência mínima para o início do controlequímico. Assim, não existem informações exatas dequando o controle químico deve ser iniciado.Recomenda-se observar a lavoura o mais freqüentementepossível e, com base no conhecimento da doença e nohistórico da região, decidir sobre o início ou não docontrole. Doenças como a mancha angular, a ferrugem eo oídio, aumentam suas severidades muito rapidamente.Assim, logo após a constatação das mesmas na culturae, se as condições de ambiente forem favoráveis, deve-se iniciar o controle. Outras doenças, como é o caso daantracnose, do crestamento bacteriano comum e dovírus do mosaico comum, o controle deve ser iniciadocom a escolha da cultivar (resistente) e da semente (deboa qualidade fitossanitária) a ser utilizada parasemeadura. Entretanto, sempre que necessário, oagricultor deve realizar o controle químico.

Nesta tomada de decisão é muito importante aexperiência do técnico/agricultor, sempre levando em

consideração as condições de ambiente que favorecem a(s) doença (s) (Tabelas 3 e 4) e o estádio dedesenvolvimento da cultura.

Amostragem de plantas daninhasAs amostragens de plantas daninhas deverão serrealizadas em duas etapas, antes da instalação docultivo e entre o estádio V2 e V4.

Forma de amostragem antes dainstalação da lavouraNesta estapa de amostragem o objetivo é avaliar asespécies de plantas daninhas presentes para auxiliar noplanejamento da compra de herbicidas para o manejo daárea e para os pré-emergentes. Neste tipo deamostragem primeiramente separam-se as áreas emtalões e antes da dessecação da área faz-se umaavaliação visual da quantidade de cobertura vegetal queesta cobrindo o solo, dando uma nota em porcentagem(exemplo 70% do solo coberto por plantas daninhas).Em uma segunda etapa, em amostragens pontuais, (onúmero de amostras depende do tamanho da área, veritem 3 “Passos para a realização da amostragem depragas, doenças e plantas daninhas”), em caminhamentoem zig-zag na área, anota-se a espécie de planta daninhae de forma visual avalia a porcentagem de ocorrênciadaquela espécie em relação ao total de plantas daninhasnaquele ponto de amostragem. A porcentagem deocorrência de cada planta daninha na área será oproduto da porcentagem de cada espécie e aporcentagem de cobertura do solo dividido por 100(Tabela 5).

Tabela 5. Exemplo de preenchimento da ficha de amostragemde plantas daninhas antes da instalação da lavoura.

Talhão A (100 ha) % do solo % ocorrênciaEspécie de Pontos de amostragem coberto por de plantaPlanta Daninha (% da planta daninha) Média planta daninha daninha 1 2 .......... 10

Leiteiro 20 % 30% 30% 26,7% 70% 18,7%Capim braquiária 40% 20% 40% 33,3% 70% 23,3%Picão Preto 40% 50% 30% 40,0% 70% 28,0%Total 100% 100% 100% 100%

Forma de amostragem após a instalaçãoda lavouraA segunda etapa de amostragem ocorre quando as plantasdaninhas germinaram e antes do período crítico decompetição com o feijoeiro. No feijoeiro, o período críticode competição é entre o estádio V2 e V4, portanto estaamostragem deve ocorrer até o estádio V2 (folhasprimárias completamente abertas). As amostragens são

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realizadas em zig-zag, devendo contar o número de plantasdaninhas por m2 de acordo com a Tabela 6.

Para trabalhos de pesquisa, deve-se também fazer aamostragem da porcentagem de cobertura do solo porplantas daninhas conforme explicado anteriormente naTabela 5 e do acúmulo de biomassa das plantas daninhasconforme Tabela 7. Para a avaliação da biomassa, emcada m2 deve ser pesada a massa seca de cada espécie deplanta daninha. Desta forma obtém-se não somente onúmero de espécies de plantas daninhas por m2 comotambém a porcentagem de cobertura do solo pelas plantase o acúmulo de biomassa destas plantas. É de consenso,que a melhor maneira de representar o crescimento ouporte das plantas daninhas é através da sua biomassa,devendo ser esta a caraterística prioritariamente avaliada,de forma direta ou através de avaliações visuais. Quandoas plantas daninhas apresentam uniformidade quanto aoestádio de desenvolvimento, o número de plantas e aporcentagem de cobertura do solo podem se constituir emboas estimativas da biomassa.

Anotar os resultados da amostragemOs resultados das amostragens devem ser anotados naficha de amostragem para as plantas daninhas (Anexo 2).

Tomada de decisãoA decisão quanto à escolha do herbicida a ser utilizadopara o controle das plantas daninhas deve ser baseada naplanta daninha que estiver em maior quantidade na áreaamostrada e também nas espécies amostradas.Tabela 6. Exemplo de preenchimento da ficha de amostragem de

plantas daninhas por m2 após instalação da lavoura.

Talhão A (100 ha)Espécie de planta Pontos de amostragem (número de plantas/m2)daninha

1 2 .......... 10 MédiaLeiteiro 7 5 3 5Capim braquiária 10 10 7 10Picão Preto 10 10 10 10Total 27 25 20 25

Tabela 7. Exemplo de preenchimento da ficha de amostragemde biomassa de plantas daninhas (g/m2) após instalação dalavoura.

Talhão A (100 ha)Espécie de planta Pontos de amostragemdaninha (biomassa da planta daninha em g/m2) 1 2 .......... 10 MédiaLeiteiro 2 3 3 2Capim braquiária 2 3 3 3Picão Preto 1 10 10 10Total 5 16 16 15

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Fig. 1. Fenologia genérica do feijoeiro (Phaseolus vulgaris) e período crítico para controle de plantas daninhas, período de maior probabili-

dade de ocorrência de pragas e doenças.

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Fig. 2. Kit para amostragem de pragas do feijoeiro: pano de batida, placa branca para amostragem de tripes, lupa de bolso de 20 X,

prancheta, ficha de amostragem para pragas, inimigos naturais e tripes nas flores.

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Arroz e FeijãoRodovia Goiânia a Nova Veneza Km 12 Zona RuralCaixa Postal 17975375-000 Santo Antônio de Goiás, GOFone: (62) 3533 2123Fax: (62) 3533 2100E-mail: [email protected] edição 20051a impressão (2005): 1000 exemplares

Comitê depublicações

Expediente

CircularTécnica, 73

Presidente: Carlos A. RavaSecretário-Executivo: Luiz Roberto R. da SilvaMembros: Evane Ferreira

Supervisor editorial: Marina A. Souza de OliveiraRevisão de texto: Marina A. Souza de OliveiraEditoração eletrônica: Fabiano Severino

CGPE 5330