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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política - Página: A4 e A5 - Publicação: 01/06/20 URL Original: Manifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Já após ataques de Bolsonaro Manifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Já após ataques de Bolsonaro Textos defendendo Constituição e separação de Poderes unem adversários ideológicos Uma profusão de manifestos em favor da democracia após ataques do presidente Jair Bolsonaro a instituições tomou as redes sociais e as páginas de jornal nos últimos dias, buscando recriar um certo clima de Diretas Já . Se a comparação com o movimento de 1984 ainda pode soar um tanto exagerada, há um paralelo evidente entre os dois momentos. O principal, a união de adversários ideológicos contra um inimigo comum, associado ao autoritarismo. Em geral, contudo, não há defesa explícita do afastamento do presidente. A maior iniciativa é o Movimento Estamos Juntos , lançado no sábado (30) e que resgata a cor amarela —símbolo do Diretas Já. No fim de semana, arrebanhou assinaturas online ao ritmo de 8.000 por hora, e reunia mais de 150 mil até a noite deste domingo (31). “Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum”, afirma o texto. A lista de signatários vai de apoiadores do socialismo a defensores do Estado mínimo. Os manifestantes afirmam representar mais de dois terços da população, referindo-se ao apoio de cerca de 30% a Bolsonaro registrados em pesquisas do Datafolha e outros. Há até mesmo um movimento chamado “Somos 70 porcento”, que ganhou as redes sociais. No entanto, entre os nomes mais reconhecíveis, parecem raros os conservadores e dissidentes do bolsonarismo —o músico Lobão é um deles. O texto não cita o presidente, mas manda recado claro a ele ao cobrar respeito à Constituição e à separação dos Poderes. Uma das apoiadoras, a socióloga Maria Victoria Benevides, tem larga experiência em outras mobilizações. Em abril de 1984, participou de uma foto histórica no topo do prédio da Folha, no centro de São Paulo, em que 61 personalidades pediam eleições diretas . “Estávamos numa situação de quem está saindo de uma ditadura e agora nosso medo é estarmos entrando numa. Por isso que é mais fácil essa união de tucanos com petistas e o PDT, ou economista ortodoxos que se aliam a outros de esquerda”, diz. Benevides, que é membro da Comissão Arns de Direitos Humanos , diz ter assinado incontáveis manifestos no passado e nota uma diferença para os dias atuais. “Antigamente eu conhecia todo mundo. Hoje participo com gente que nem conheço, ou gente que eu vejo e digo: ‘puxa, nunca pensei que essa pessoa poderia estar assinando um manifesto junto comigo’.” Outro que figura na histórica foto de 1984, o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira também assinou o novo manifesto. “O Brasil tem uma democracia consolidada, mas um presidente psicopata que a está ameaçando diariamente com palavras e atos”, diz ele. Defensor do impeachment, Bresser afirma que a importância de manifestos e abaixo-assinados é mostrar a deputados que o afastamento do presidente é possível. “Hoje há dúvidas sobre a viabilidade do impeachment, mas ela vai se dar à medida em que um número cada vez maior de pessoas se manifestarem. No mínimo, isso mostra aos deputados que Bolsonaro não tem condição de se reeleger.” Neste domingo (31), outro manifesto surgiu, voltado ao meio jurídico. Com o título de Basta! , reúne cerca de 720 profissionais do direito. “O Brasil não pode continuar a ser agredido por alguém que, ungido democraticamente ao cargo de presidente da República, exerce o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar com os alicerces de nosso sistema democrático”, afirma. Uma das apoiadoras, a advogada e professora da Fundação Getulio Vargas Flávia Rahal diz que o manifesto reúne “vozes em defesa da democracia”. “Esse e os outros manifestos são a união de pessoas que podem ter posturas ideológicas diferentes, mas veem na manutenção da democracia a peça principal para o respeito à Constituição e às instituições”, afirma.

Manifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Já após … · parte da lista e é visto por parte dos procuradores como pró-Bolsonaro. No mesmo dia, um documento com 650 assinaturas,

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SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política -Página: A4 e A5 - Publicação: 01/06/20URL Original:

Manifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Jáapós ataques de BolsonaroManifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Jáapós ataques de BolsonaroTextos defendendo Constituição e separação de Poderes unem adversáriosideológicosUma profusão de manifestos em favor da democracia após ataques do presidente Jair Bolsonaro a instituições tomou as redessociais e as páginas de jornal nos últimos dias, buscando recriar um certo clima de Diretas Já.Se a comparação com o movimento de 1984 ainda pode soar um tanto exagerada, há um paralelo evidente entre os doismomentos.O principal, a união de adversários ideológicos contra um inimigo comum, associado ao autoritarismo. Em geral, contudo, não hádefesa explícita do afastamento do presidente.A maior iniciativa é o Movimento Estamos Juntos, lançado no sábado (30) e que resgata a cor amarela —símbolo do Diretas Já.No fim de semana, arrebanhou assinaturas online ao ritmo de 8.000 por hora, e reunia mais de 150 mil até a noite destedomingo (31).“Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum”, afirma o texto.A lista de signatários vai de apoiadores do socialismo a defensores do Estado mínimo. Os manifestantes afirmam representarmais de dois terços da população, referindo-se ao apoio de cerca de 30% a Bolsonaro registrados em pesquisas do Datafolha eoutros. Há até mesmo um movimento chamado “Somos 70 porcento”, que ganhou as redes sociais.No entanto, entre os nomes mais reconhecíveis, parecem raros os conservadores e dissidentes do bolsonarismo —o músicoLobão é um deles.O texto não cita o presidente, mas manda recado claro a ele ao cobrar respeito à Constituição e à separação dos Poderes.Uma das apoiadoras, a socióloga Maria Victoria Benevides, tem larga experiência em outras mobilizações. Em abril de 1984,participou de uma foto histórica no topo do prédio da Folha, no centro de São Paulo, em que 61 personalidades pediam eleiçõesdiretas.“Estávamos numa situação de quem está saindo de uma ditadura e agora nosso medo é estarmos entrando numa. Por isso queé mais fácil essa união de tucanos com petistas e o PDT, ou economista ortodoxos que se aliam a outros de esquerda”, diz.Benevides, que é membro da Comissão Arns de Direitos Humanos, diz ter assinado incontáveis manifestos no passado e notauma diferença para os dias atuais.“Antigamente eu conhecia todo mundo. Hoje participo com gente que nem conheço, ou gente que eu vejo e digo: ‘puxa, nuncapensei que essa pessoa poderia estar assinando um manifesto junto comigo’.”Outro que figura na histórica foto de 1984, o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira também assinou o novomanifesto.“O Brasil tem uma democracia consolidada, mas um presidente psicopata que a está ameaçando diariamente com palavras eatos”, diz ele.Defensor do impeachment, Bresser afirma que a importância de manifestos e abaixo-assinados é mostrar a deputados que oafastamento do presidente é possível.“Hoje há dúvidas sobre a viabilidade do impeachment, mas ela vai se dar à medida em que um número cada vez maior depessoas se manifestarem. No mínimo, isso mostra aos deputados que Bolsonaro não tem condição de se reeleger.”Neste domingo (31), outro manifesto surgiu, voltado ao meio jurídico. Com o título de Basta!, reúne cerca de 720 profissionaisdo direito.“O Brasil não pode continuar a ser agredido por alguém que, ungido democraticamente ao cargo de presidente da República,exerce o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar com os alicerces de nosso sistema democrático”, afirma.Uma das apoiadoras, a advogada e professora da Fundação Getulio Vargas Flávia Rahal diz que o manifesto reúne “vozes emdefesa da democracia”.“Esse e os outros manifestos são a união de pessoas que podem ter posturas ideológicas diferentes, mas veem na manutençãoda democracia a peça principal para o respeito à Constituição e às instituições”, afirma.

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Chama a atenção, segundo ela, a velocidade com que esses documentos têm obtido apoio. “Em pouco tempo reuniram muitagente. Isso mostra um desejo das pessoas de saírem da inércia e agirem pelo respeito à democracia.”O fato de a crise ocorrer em meio a uma pandemia torna mais fácil reunir apoios online, já que manifestações de rua ou emambientes universitários não são uma opção.Isso pode ajudar a explicar a multiplicação de iniciativas. No sábado (30), outro documento com expoentes do direito foilançado, reunindo 170 assinaturas em defesa de que as Forças Armadas respeitem a Constituição.Houve ainda posicionamentos mais específicos, como o do Colégio de Presidentes de Tribunais de Justiça, que se manifestou emdefesa do STF (Supremo Tribunal Federal) na última sexta (29).Na quinta (28), um manifesto assinado por 535 integrantes do Ministério Público Federal defendeu emenda obrigando opresidente a escolher para a Procuradoria-Geral da República nome a partir de lista tríplice. O atual PGR, Augusto Aras, não fezparte da lista e é visto por parte dos procuradores como pró-Bolsonaro.No mesmo dia, um documento com 650 assinaturas, encabeçado pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares e contendo apoios comoos dos músicos Chico Buarque e Caetano Veloso, pediu a formação de uma "unidade antifascista"."É imperioso que cada um de nós adie seus legítimos projetos próprios e se abra, desarmado, para uma grande concertação detodas as forças antifascistas, as quais, vale enfatizar, não se esgotam nas esquerdas", diz o documento, que menciona uma"dupla catástrofe, a pandemia e Bolsonaro".Também houve manifestos recentes de caráter setorial, em áreas como meio ambiente e relações exteriores.Para José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça no governo FHC e presidente da Comissão Arns, é preciso consolidar uma maioriade democratas no país, mesmo levando em conta que um terço da população segue apoiando o presidente.A última pesquisa Datafolha mostrou que 43% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo, recorde na gestão, mas aaprovação a Bolsonaro seguia estável em 33% —e 22% o consideravam regular.“Temos que ter união. As forças democráticas de várias tendências políticas devem estar presentes neste momento, como nasDiretas, em que subiram no mesmo palanque Tancredo, Ulysses, Fernando Henrique e Lula”, diz.Em 17 de maio, a Comissão Arns defendeu em texto na Folha a saída de Bolsonaro. “Ao semear a intranquilidade, ainsegurança, a desinformação e, sobretudo, ao colocar em risco a vida dos brasileiros, o seu afastamento do cargo se impõe”,disse. Não há menção de como isso ocorreria, no entanto, se por impeachment ou outra via legal.Segundo Dias, o novo vale do Anhangabaú, ao menos enquanto durar a pandemia, são as redes sociais. “Temos que atuar emdefesa da imprensa livre, das instituições e da liberdade. Somos muitos”, afirma.A razão para a ojeriza a Bolsonaro, dizem os apoiadores dos manifestos, vem do que se poderia caracterizar como “conjunto daobra”, que reúne ataque a instituições e menosprezo ao coronavírus.“A gente concorda em poucas coisas, mas nesse momento estamos unidos no fundamental. Não é possível a continuidade deum governo que promove a morte”, diz Douglas Belchior, membro da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra por Direitos.Segundo ele, que também assinou o manifesto do Estamos Juntos, a situação dos negros piorou na atual crise. “Estamosdefendendo ideias iluministas, olha o absurdo. Não acho que a condição anterior a Bolsonaro estava boa. Mas a de agora émuito pior”, diz.Estamos Juntos Reúne artistas e intelectuais de campos ideológicos diversos, como Lobão e Caetano Veloso. Até a noite deste domingo tinhamais de 150 mil assinaturas.Basta! Organizado por juristas e advogados e lançado neste domingo (31), o movimento tem aproximadamente 700 assinaturas, queincluem nomes como Antonio Claudio Mariz de Oliveira e Claudio Lembo.As Forças Armadas e a Democracia Manifesto assinado por 170 profissionais ligados ao direito, entre eles três ex-ministros da Justiça, pede que as Forças Armadasrespeitem a democracia.Presidentes dos TJs Presidentes dos 27 Tribunais de Justiça do país manifestaram “integral apoio” ao STF (Supremo Tribunal Federal), alvo deataques do presidente Jair BolsonaroProcuradoresManifesto assinado por 535 integrantes do Ministério Público Federal, na quinta-feira (28), pediu a aprovação pelo Congresso deuma proposta que obrigue o presidente da República a escolher a chefia da PGR por meio de uma lista tríplice votada pelacategoria.Comissão Arns de Direitos Humanos Entidade divulgou manifestação na qual afirma se preocupar com “manifestações desestabilizadoras feitas por agentespúblicos” e que atingem o STF e seus ministros.?Somos 70 por cento Campanha contra o presidente com apoio de celebridades como a apresentadora Xuxa

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Democratas ressentidos vencerão golpistasdesesperadosPedro Ladeira/Folhapress4-5 minutos

Os bolsonaristas falaram mais de golpe de estado na semana passada do que esta coluna no último ano e meio, o que é um feitoadmirável. Do “Acabou, porra” de Bolsonaro ao “não é questão de se, é de quando” de Eduardo Bolsonaro, passando por Olavode Carvalho pedindo a execução de Alexandre de Moraes, o jogo está cada vez mais aberto.Bolsonaro nunca teve tantos motivos para dar um golpe. Seja pelos atentados à democracia, pela sabotagem à saúde pública oupelo aparelhamento da Polícia Federal, é difícil imaginar um cenário em que o Brasil continue tendo lei e Bolsonaro não tenhaproblemas. Ainda tem ideologia, ainda tem projeto de poder, mas agora o golpe é para fugir da polícia.As chances de sucesso de um golpe bolsonarista já foram maiores: quando tinham Moro e o lavajatismo na mão, quando tinhamo dobro de aprovação popular, quando a reeleição de Trump parecia certa, quando ainda havia quem acreditasse em PauloGuedes, quando Bolsonaro ainda não havia sido o pior governante do mundo no combate à pandemia.Mas mesmo um golpe fraco pode ser bem-sucedido se não encontrar resistência.É preciso fazer uma frente contra o autoritarismo de Bolsonaro, e, se ela for feita, ela vai vencer. Ela será forte o suficiente paraintimidar e converter os golpistas prudentes, será forte o suficiente para destruir os imprudentes.?Não é fácil montá-la. Será uma frente de gente que já brigou no limite de suas forças para derrotar outros membros da frente,de gente que já perdeu cargos por causa de outros membros da frente, que já foi sacaneada por outros membros da frente, queacha (em mais de um caso, com razão) que outros membros da frente são responsáveis por estarmos na situação em queestamos.O ideal é que essa seja, inclusive, uma oportunidade para conversar, para dar uma olhada no que os outros democratas estãopensando, quem sabe dali não sai algo que sirva para sua própria reflexão? Pode ser uma chance de curar ressentimentos econstruir novas alianças. Essas polinizações cruzadas não são raras em momentos como esse. O debate sobre a renda básica,por exemplo, parece estar cruzando fronteiras ideológicas.A pandemia fortaleceu os governadores, e os governadores de esquerda vinham sendo mais moderados e abertos ao diálogo doque vários parlamentares progressistas (o que é normal, governadores precisam conquistar maiorias). Pode ser o momento dese construir um novo programa de centro, que ainda não existe. Quem não quiser dar palpites sobre os termos de suareconstrução pode passar o resto da vida correndo atrás dele depois.Mas se não der para fazer nada disso, não importa, vamos em frente, todo mundo com seus ressentimentos, todo mundo com asferidas abertas, cada um defendendo uma coisa diferente, unidos apenas na preservação da democracia constitucionalbrasileira. Ninguém precisa votar no mesmo candidato, levantar a mesma bandeira, falar com o mesmo vocabulário. Só énecessário que se esteja disposto a defender a liberdade do adversário mais do que o próprio programa.A única certeza é que a república se lembrará de quem não a tiver defendido quando ela estava sob ataque, quando seus filhosmorriam sem socorro. E nenhum trilhão que não veio vai servir de álibi. ?

Quando cessa o diálogo, cessa a razão, irrompe aintolerância; basta!Sebastião Botto de Barros Tojal4-5 minutos

Viver sob democracia significa aceitar diferenças, pressupõe submeter-se à regra da maioria, observados controlesdemocráticos necessários para que essa maioria não aniquile os demais.A maioria, expressa no ciclo eleitoral, é a magia desse sistema, que permite ao Estado ir se conformando às demandas dasociedade, reconfigurando seu papel, continuamente, porque o Estado não é um fim em si mesmo, mas expressão do Direitopara organizar a vida em conjunto.Os controles sobre o poder, portanto, são fundamentais para evitar que maiorias –transitórias por natureza– assenhorem-se doEstado com finalidades indevidas. Devemos cuidar para que esses controles operem com altivez e independência, guiados peloDireito, para que os desviantes sejam coarctados.Somente o Direito pode controlar e conduzir a força. A Constituição não é uma pessoa, nem uma seita: ela representa umconsenso mínimo que nos faz a todos integrantes de um mesmo país. A interpretação de suas regras nos compete a todos; masa última palavra é da Suprema Corte. E a revisão de suas decisões se faz por intermédio das próprias regras do Direito. Nãopodemos transigir com essas regras básicas.Um sistema com essa conformação resiste à mudança. E resistir não é ruim, sobretudo quando se trata de limitar o poder.Quando cessa o diálogo, cessa a razão, irrompe a intolerância. Matilhas salivam contra honras e reputações. Mudam ao sabor do

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vento a direção de seus ataques. Esse estado de coisas necessita de um basta. Basta!O exercício diário da tolerância –sobretudo do diálogo– é o que permite convivermos com aquilo que não nos é familiar.Toleramos posição contrária à nossa na expectativa de que logo será a nossa vez, ou, ao menos, o momento de tentarmos,mediante eleições livres e justas, escolhermos os nossos pontos de vista.Quais são nossos pontos de vista? Os mais diversos possíveis que se apresentem numa sociedade aberta. Com uma exceção:essa tolerância não pode admitir que atentem contra esse sistema, para ficar numa palavra em voga. Nisso reside o paradoxoda intolerância, formulado por Karl Popper: há uma fronteira para aceitar a diferença, e essa fronteira se estabelece justamentequando se coloca em risco a pluralidade que as nossas instituições, mesmo com todas suas falhas e defeitos, significam paranos garantir.Não aceitaremos que esses limites sejam esgarçados, a que pretexto seja.O poder do Estado, que funciona como um guia para produzir a força de uma nação, se mal-usado a conduzirá ao precipício.Assistimos atônitos a essa condução até este momento. Até.Ombreemos as instituições –e seus representantes– que buscam confrontar o abuso. Confiremo-lhes apoio; façamo-lo àsiniciativas de contenção da barbárie. Quis a história que fossem essas mulheres e homens que, investidos de autoridade,estivessem à frente dessa batalha. Estejamos com eles e ao lado de quem mais se dispuser a controlar o poder.Pois há tempo de reversão, antes das “consequências imprevisíveis”.Basta!Advogados, são integrantes do Basta!, manifesto lançado neste domingo (31) contra os ataques do presidente Jair Bolsonaro àsinstituições

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