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Manoel Nunes da Cunha Regis UM EXEMPLO DE VIDA

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Manoel Nunes da Cunha Regis

UM exeMplo de vida

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Campo FormosoEditora Vercia

Primavera de 2009

Manoel Nunes da Cunha Regis

UM exeMplo de vida

Organizadora:Elisabete Cristina Teixeira Barretto

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© Regis, Manoel Nunes da CunhaManoel Nunes da Cunha Regis: um exemplo de vidaSalvador - Bahia2009

R333 Regis, Manoel Nunes da Cunha Manoel Nunes da Cunha Regis: um exemplo de vida / Elisabete Cristina Teixeira Barretto._ Salvador: Vercia, 2009. 180 p.: il. ISBN 978-85-99525-04-3

1. Literatura baiana - Memórias 2. Biografia I. Título. CDU: 869.0(813.8)-94

1a edição – Outubro de 2009

Pesquisas e organização,projeto gráfico, diagramação, tratamento de imagensElisabete Cristina Teixeira Barretto

Revisão ortográficaAnanda Teixeira do Amaral

Ficha catalográficaEliana Marta Gomes da Silva Souza

Editora VErciaRua Aristides Novis, 17A, térreo Federação – 40.210-630 – Salvador – Bahia (71) 8884-4539 [email protected]

Esta obra contou com o apoio daassociação dos amigos do augusto galVãoPraça Castro Alves, Colégio Augusto Galvão44.790-000 – Campo Formoso – Bahia(71) 8152-7084 [email protected]

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este livro é dedicado a dr. Regis, sua esposa Nair, sua filha didi,

a todas as pessoas que convivem e conviveram com ele

e também às futuras gerações para que, não tendo este privilégio,

possam ainda usufruir do seu exemplo de vida

através desta obra.

“Muito faz o que bem faz o que faz.” (Tomás de Kempis)

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1 Filho meu, não te esqueças da minha lei, e o teu coração guarde os

meus mandamentos.

2 Porque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão anos de vida

e paz.

3 Não te desamparem a benignidade e a fidelidade; ata-as ao teu pescoço;

escreve-as na tábua do teu coração.

4 E acharás graça e bom entendimento aos olhos de Deus e do homem.

5 Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu

próprio entendimento.

6 Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas

veredas.

7 Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te

do mal.

8 Isto será saúde para o teu âmago, e medula para os teus ossos.

9 Honra ao Senhor com os teus bens, e com a primeira parte de todos os

teus ganhos;

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10 E se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.

11 Filho meu, não rejeites a correção do Senhor, nem te enojes da sua

repreensão.

12 Porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao

filho a quem quer bem.

13 Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire

conhecimento;

14 Porque é melhor a sua mercadoria do que artigos de prata, e maior o

seu lucro que o ouro mais fino.

15 Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que mais possas desejar não se

pode comparar a ela.

16 Vida longa de dias está na sua mão direita; e na esquerda, riquezas e honra.

17 Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas de paz.

18 É árvore de vida para os que dela tomam, e são bem-aventurados todos

os que a retêm.

provérbios 3 : 1-18

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Pr efácio

IX

dr. Regis: duas horas de anestesiaou uma festa móvel que se carrega no coração

Foi em 1945, pela Faculdade de Medicina da Bahia (a primeira fundada no Brasil), que ele se formou. Terminava, naquele ano, a Segunda Guerra Mundial, a maior tragédia do século XX: 50 milhões de mortos. A formatura de sua turma, em dezembro daquele ano, teve como patrono o ex-presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, que morrera em abril, mas cujo papel foi um dos mais importantes na luta para derrotar o nazi-fascismo.

Diz muito lembrar essa data: ela é essencial para se avaliar o itinerário de Manoel Nunes da Cunha Regis como médico. Ingressou na faculdade quando a guerra já havia começado e vivia o Brasil, desde 1937, sob o regime ditatorial do Estado Novo, imposto e comandado por Getúlio Vargas. Lá fora e aqui, trevas. O que circulava era a desinformação, o medo, a incerteza. A vida não valia nada. Era o tempo do desprezo, aquele. Mas, apesar de tudo, a despeito de tudo que concorria para envenenar a vida, sufocar os espíritos, pisotear a liberdade, havia resistência. Aqui e em toda parte.

O que deve ainda ser lembrado: até 1943, o governo brasileiro era pró-Eixo, isto é, apoiava os governos da Alemanha, da Itália e do Japão, que se armaram até os dentes e mobilizaram todos os seus recursos, princi-palmente os da demência, para dominar o mundo.

Na resistência que havia – e Manoel Regis bem se lembra –, um nome, o de um doce e genial vagabundo, era o que encarnava melhor e com mais pulsação a esperança: Carlitos. Quando, para respirar um pouco da carga dos estudos tão puxados, do pesadelo que era aquele momento do país e do mundo, e o dinheiro curto permitia, Manoel ia para o cinema. Assistir a um filme de Chaplin, ver Carlitos mais uma vez, como se fosse a primeira e única – Um dia de prazer, Carlitos nas trincheiras, Carlitos guarda-noturno, Dia de pagamen-to, Pastor de almas, O circo, Em busca do ouro, O garoto, Luzes da cidade, Tempos modernos, O grande ditador... –, era tão essencial para ele quanto gramar nos tratados de patologia e clínica propedêutica, apurar o sentido e o extra-sentido do diagnóstico diferencial, extrair o máximo possível de uma anamnese, refletir

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

X

sobre o segredo da medicina (todas as doenças são incuráveis, embora tratáveis) e sobre o segredo de todo grande médico (enganar o desenganado).

Muito pouca gente conhece, como ele, a miséria humana, a comédia humana. Por isso é sem pose. Por isso tem a percepção plena de uma palavra: clínica – que, etimologicamente, em grego, quer dizer “leito”. Vem de kliné, substantivo, e o verbo “clinicar”, na Grécia antiga, significava inclinar-se com reverência sobre o leito de quem está sofrendo, o portador de um pathos, “carga que se funda sobre aquele que deve suportá-la”. Daí, patologia, que é o estudo das doenças. No leito, o kliens, “cliente”, aquele que encontra amparo, apoio, cuidado: o paciente. A lição grega admirável, a reflexão que se perdeu, é: o cliente deve ser tratado como pessoa, e não como caso patológico (ou clínico), porque ele é, como pessoa, uma singularidade, uma história particular de vida.

Manoel Regis, ao se decidir por essa profissão, foi capaz de intuir o significado simbólico e ético do ato de se debruçar sobre o paciente. Aprendeu, com essa reflexão, que os sentidos devem estar todos prontos na consulta, que é a escuta da queixa, da dor, do desespero, ou (como também acontece, e com frequência) da simulação, consciente ou inconsciente, do sofrimento. Na consulta, a auscultação: a escuta profunda de um todo, que é corpo e mente.

De um lado, a dor. Para lidar com ela, conhecê-la por dentro, nos tecidos, e por fora, nos sintomas, que são a manifestação clínica, passou pela faculdade. Do outro, o riso, com os filmes de Carlitos. Mas, atenção, o riso para driblar a dor, para resistir ao que é insidioso ou brutal, para dizer não ao que oprime a vida, ao que se fecha no egoísmo, ao que aniquila a esperança, desmoraliza todas as palavras.

Não entender que Manoel Regis tornou-se médico na faculdade e no cinema, é não entender nada sobre ele, este médico sem caráter mercantil (em linguagem crua: não dinheirista) e de talento múltiplo: oftalmolo-gista, clínico geral, obstetra, pediatra, ortopedista, gastroenterologista, cardiologista, cirurgião, odontólogo, médico de família, médico que nunca fez corpo mole numa emergência... Que disposição para trabalhar! Médico, enfim, que nunca fez da medicina uma iatrogenia (novamente em linguagem crua: a medicina que adoece mais o paciente).

Sim, o cinema, escola da vida. Na curva de seus 90 anos, ele vai lembrar e rir dos filmes de Carlitos. Em cada um, “duas horas de anestesia”, como diz Carlos Drummond de Andrade num poema, “Canto ao homem do povo Charlie Chaplin”. Vai lembrar dos “que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida”, para ouvir um pouco de música, visitar no escuro as imagens: “os abandonados da justiça, os simples de coração, os párias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os recalcados, os oprimidos, os solitários, os indecisos, os cismarentos, os irresponsáveis, os pueris, os loucos e os patéticos”.

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Pr efácio

XI

É muito o que Campo Formoso deve a este médico e humorista nato. De uma proficiência exemplar no trato com a dor e no que tem ação coadjuvante para driblar a dor, banhá-la em ironia e até superá-la.

Quanto ao político profissional que ele foi – deputado estadual (uma vez) e prefeito de Campo Formoso (duas vezes) –, o que o guiou no exercício desses mandatos foi tão-somente a consciência ética de servir a seu povo. A palavra “probidade”, que sempre foi e hoje mais ainda é sinônimo de esperteza e impudor, para ele é tão sagrada quanto a palavra “clínica”. Se não enriqueceu no consultório, também não enriqueceu na Assembleia Legislativa, nem na Prefeitura. Nesses dois Poderes, os atos que praticou foram sempre isentos de lucro pessoal.

Cumpre ainda assinalar seu trabalho de educador. Num país onde o ensino público nos níveis fundamen-tal e médio é de fazer chorar de vergonha, pois os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem; onde proliferam faculdades particulares como fábricas de diplomas; enfim, neste país de legiões de analfabetos formados e analfabetos mesmo, como não lembrar o professor de Ciências, Matemática e Desenho, que foi Manoel Regis no antigo Ginásio Augusto Galvão?

Ele planejava e preparava suas aulas, em vez de improvisá-las. Como era cioso de seu papel docente! Por isso ia direto ao assunto, sabia abordá-lo, torná-lo compreensível e apreensível; recapitulava, comparava, exem-plificava, fazia a matéria fluir, e não se coagular, na cabeça dos alunos. Com o fino sal do humor, este feeling, para não mistificar o saber. Em suas aulas não havia lugar para a chatice.

Que pedagogia de dar gosto, porque clara, precisa e viva, a por ele encarnada! Ensinar, para Dr. Regis, é cons-truir o conhecimento na relação professor-aluno. E ensinar assim, mais do que escolarizar, é educar, formar cidadãos plenos, donos de seu destino.

Agora, este livro rico de imagens, de testemunhos, o roteiro desta vida longa, admirável. Um belo livro. Um documento. Uma festa móvel que se carrega no coração.

Salvador, novembro, 2008

Valdomiro Santana*

* Jornalista, psicólogo, escritor e mestre em Literatura e Diversidade Cultural. Nascido em Campo Formoso. Estudou no antigo Ginásio Augusto Galvão (1961-64).

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Sumário

IX PR EFáCIO15 INTRODUçãO17 ONDE TUDO COMEçOU19 História da família Regis (Cordel) – por Cecília Regis Lins23 Quixaba: onde tudo começou25 João Francisco da Cunha Regis27 Rosalvo da Cunha Regis30 Anotações de Rosalvo31 R ELATO DE UMA VIDA: por Manoel Nunes da Cunha Regis33 Cumprimento de um mandato35 À guisa de biografia39 O lar e a família51 Roteiro da vida espiritual55 O universitário e o médico diplomado 59 O médico no Grace Memorial Hospital (1946-1948) 63 O médico em Campo Formoso 66 O médico – Ao Dr. Regis – por Ivone Rocha67 O médico previdenciário71 Atividades no Magistério, o professor e o diretor 75 O homem público81 Obras realizadas87 A heráldica de Campo Formoso89 O ruralista95 Manoel Nunes de Amorim (o Né Amorim)97 O Jubileu de Ouro

103 Ao médico (poema de álvaro de Albuquerque) – por Nair e Dídia Regis

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105 DEPOIMENTOS DE PARENTES E AMIGOS E OUTraS HOMENAGENS

107 Dr. Regis – por Dinael Regis

109 Numa história, uma mensagem para sempre – por Enoch Souza Junior

114 Manoel Nunes da Cunha Regis – Uma vida em pinceladas – por Enoch Senna Souza

117 Dr. Regis: – por Sandoval Jatobá

119 Um pouco sobre Dr. Regis – por Jorge Gonzaga

120 80 anos de vida iluminada do médico, amigo... – pela Família Augusto Galvão

121 Manoel – por José Hamilton e família

122 O Grande Homem – por Daniel e Cyntia

123 DISCURSOS PROFERIDOS POR DR. MANOEL R EGIS

125 Discurso na comemoração do sexagésimo aniversário do Instituto Ponte Nova e do quinquagésimo do Hospital Evangélico de Itacira, em 1946

131 Discurso de Paraninfo aos licenciados de 1952 pelo Colégio Augusto Galvão

136 Discurso proferido por ocasião do 20° aniversário da fundação do Colégio Augusto Galvão, em 1966

144 Discurso proferido na solenidade comemorativa dos 40 anos de fundação do Colégio Augusto Galvão, em 1986

146 Discurso proferido pelo transcurso e comemoração dos 60 anos de fundação do Colégio Augusto Galvão, em 2006

154 Discurso proferido no ato de posse no cargo de Prefeito Municipal de Campo Formoso para o período de 1954 a 1958

156 Discurso proferido no ato de inauguração da Praça Castro Alves, Campo Formoso, em 10 de outubro de 1956

160 Mensagem à Câmara Municipal de vereadores em 27 de novembro de 1956

165 Discurso de inauguração do serviço de água de Campo Formoso, em 1958

168 Discurso de posse no cargo de Prefeito Municipal de Campo Formoso, em 31 de janeiro de 1973

173 ALGUNS DIPLOMAS E HONR ARIAS

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Introdução

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Um exemplo de vida

Idealizado por sua irmã Cecília Regis Lins e pelos sobrinhos/filhos Dinael, Ana Isaura (Zazá), Saulo e Carlos Augusto Regis de Oliveira, seu primo Sílvio Humberto Vieira Regis, e o apoio dos demais irmãos, cunhados, primos e sobrinhos, este livro conta parte da história do respeitado e amado Dr. Manoel Nunes da Cunha Regis, um exemplo de vida a ser seguido. Conta uma parte da vida porque ele ainda tem muito o que ensinar e muito o que fazer. Com 92 anos, continua a atender as pessoas como médico e conselheiro.Um homem de caráter reto e de grande bondade. Não uma bondade transcendental, idealizável, mas uma bondade humana, próxima, possível, feita de ações práticas e objetivas, em que a inteligência trabalha a serviço do coração.

Pesquisando sobre sua vida foi fácil perceber a diferença entre o próprio relato – nos textos que ele escreveu a pedido de sua esposa Nair – e nos relatos dos que tiveram a oportunidade de acompanhar a sua trajetória.

A sua capacidade de amar o próximo mostra-se clara a partir do sentimento intenso e fiel que dedica à sua esposa a quem amou “desde sempre” e de tal forma que ele (e ela) não sabe precisar quando foi o início do namoro, pois que a sua “admiração especial e crescente” se deu desde a infância (são primos). Expandindo esse relicário de amor, ele envolve toda a família: irmãos, cunhadas, sobrinhos, primos e amigos.

Não poderia ser diferente com a profissão que escolheu, aquela cujo trabalho é essencialmente servir – a Medicina –, buscando seguir fielmente a recomendação de Hipócrates, muito jurada, mas cumprida ape-nas por aqueles cuja vocação vem da alma.

Sua participação na vida pública foi pontuada por construções e serviços para o bem comum. Por obras realizadas em uma época em que o município (Campo Formoso) não tinha recursos, mas ele entrava e saía da prefeitura com seu nome limpo e deixando igualmente limpo o dos seus antecessores, zerando as dívidas públicas, ainda que para isso, por muitas vezes, tivesse que tirar de seu próprio bolso.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Na vida religiosa, segue o mesmo princípio, edificando almas. Presbítero presbiteriano, sempre serviu a todos, sem distinção.

A vida não lhe deu filhos genéticos, talvez porque não precisasse desse exercício de amor incondicional vis-to que já o trouxe pronto para ser fartamente distribuído entre tantos: a esposa/amada Nair, a prima/irmã/filha/enfermeira Didi, irmãos e cunhados (com especial atenção e cuidado para com as viúvas), sobrinhos/filhos e amigos, incluindo os animais do seu convívio. Estende seu amor a todos que dele se acercam, com tal tranquila inteireza e dedicação que o retorno não poderia ser outro: o respeito de todos, desde os ditos politicamente “adversários” (já que não considera ninguém como tal) aos correligionários na política e na vida. E, mais que amor, recebe a devoção dos que usufruem da sua convivência.

Agradeço e sinto-me honrada por participar da organização e edição desta exposição modesta de tão rica vida. Modesta porque, por mais que o grupo organizador deste trabalho se esforce, não conseguirá con-densar, em um livro, uma vida em que os feitos ultrapassam as construções físicas, chegando, certamente, a esferas que nossas pesquisas não conseguirão alcançar.

Fica aqui, então, a tentativa de narrar um pouco os fatos. Optamos por organizar este livro dividindo-o em cinco partes e, dentro delas, capítulos.

A primeira parte traz um breve relato sobre a trajetória da família, a partir de João Francisco da Cunha Regis, o patriarca, e sobre a Fazenda Quixaba, local onde tudo começou.

Na segunda, a transcrição dos textos do próprio Dr. Manoel Regis no seu Relato de Uma Vida, em capítu-los, sendo acrescentados, ao lado, versículos da Bíblia, citações de filósofos e fotografias, que complemen-tam as informações do texto.

Na terceira, depoimentos dos parentes e amigos. De pessoas que contam histórias e fatos que ele, modes-tamente, considera naturais, portanto dispensáveis de serem narrados, mas que são considerados indis-pensáveis e importantes pelos que testemunharam e fazem questão de descrevê-los. Não para amaciar o ego de quem não precisa disso, mas para despertar ou fortalecer, em quem se dispõe a conhecer esse relato sobre a beleza do viver com o que é necessário, numa simplicidade associada à abundância inclusiva e sem ostentação, a prática do bem pelo bem, o servir pela sabedoria e prazer em servir.

A quarta parte expõe alguns dos discursos proferidos em diversas ocasiões.

E, por fim, uma relação dos seus títulos e honrarias.

Elisabete Cristina Teixeira BarrettoOrganizadora deste livro

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onde tudo começou

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Parte I Onde tudo começou

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Uma história eu vou contar,cheia de satisfação,de uma família numerosa,que viveu lá no sertão.

o seu tronco se implantou,numa terra abençoada,por um homem destemido,João Francisco da Cunha Regis,o Rei da Quixaba.

Sertanejo bravo e forte,e com determinação, soube viver com alegria,pra enfrentar lampião.

Fez uma casa, cavou poço,encontrando sob as pedrasvértebras, omoplatas e costelasde animais de outras eras.

Casou-se com Umbelinae enfrentou dura lida,nasceram seis lindos filhosque enriqueceram suas vidas.

Por dificuldade da épocae embaraços do parto,foi embora sua querida,mui pesado foi seu fardo.

Mas a vida continua...e deus mostrando o caminho,com Joaquina o novo enlacee outros filhos vieram com carinho.

Um dia um missionário,que por ali ia passando,congregou e leu a Bíbliae uma luz foi despontando.

História da família Regis

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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poucos meses, ao voltar, estava toda a família envolvida, viu naquele novo encontro,novos rumos, nova vida.

o interesse era de todose dali parte adiantea estudar e ler a Bíblia e abrir um novo horizonte.

embalado pela féem deus e Jesus também,seu lema foi prepararmulheres e homens de bem.

É bastante interessante,essa história singular,quantos são os descendentes?vamos agora enumerar:

o primeiro é Florianonascido de Tia didi,que o deixou por descendentepouco antes de partir.

durval Regis e aline,na cidade de Bonfim,constituíram sua famíliae alguns se encontram aqui.

dr. Regis representanosso querido Rosalvoque na Quixaba morou,ana e Joana, seus amores,com elas sete filhos e muitos netos deixou.

Bertolino e tia pretada família o artesão, quão numerosa é sua proleque começou no sertão.

a saudosa tia Z arinhanão teve um descendente,mas vive no coraçãoda maioria da gente.

Tia Marante, querida,junto a tio edgartrouxe para nosso mundoNair, a filha exemplar.

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Parte I Onde tudo começou

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artur Regis e tia Brasíliade quem nos lembramos tão bemoito filhos e muitos netose foram luzeiros do bem.

a simples e bondosa Silvia,Raul foi seu único par,não deixou filhos na terrae na saudade hoje está.

João Regis Filho e tia Horásiasempre viveram em união,nove filhos e muitos netos,mais parece um batalhão.

Tio edgar, Noeme escolhe,sete são seus descendentes,seu grande empenho em deixar“os Regis da Quixaba”,o livro de presente.

Tia Mary, linda enfermeira,com edilberto casou,pouco conviveu conosco,pois no Sul sempre morou.

Tia alzira, grande artista,com tio Renato casou,quatro filhos e nove netos,partiu e saudades deixou.

Tia devi, meiga e bondosa,escolheu Basílio, o pastor,do romance fez nascerquatro filhas com amor.

Tia aline e augusto formaramum harmonioso casalcom três filhas e oito netos,enfermeira sem igual.

Um século de trajetória,muita alegria e tristeza,mas o objetivo da vida“É ser feliz”, com certeza!

Muitos foram deixandoexemplos e grandes lembranças,outros chegam nos trazendoum potencial de esperanças.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

22

a Quixaba continuacom grande simplicidade,nos diz que é esse o segredode toda felicidade.

Cecília Regis lins

Parte da família Regis da Quixaba: Rosalvo com filhos, alguns dos netos, um dos genros e uma das nor as

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Parte I Onde tudo começou

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Quixaba: onde tudo começou

Situada em Campo Formoso, nos limites de Juazeiro, a Fazenda Qui-xaba é o belo cenário escolhido para começar a história de Dr. Manoel Nunes da Cunha Regis. Nas mãos da família desde os tempos em que lá vivia João Francisco da Cunha Regis, seu avô, a Quixaba é a grande referência de aconchego para toda a família que faz dali seu refúgio sempre que a “corrida” da vida lhes permite.A fazenda é banhada pelo Rio Salitre, af luente do Velho Chico e possui uma “vegetação intermediária entre a f loresta temperada e a savana”, como explana Lima em seu livro Os Regis da Quixaba*, em apaixo-nada dissertação:

[...] onde frondejam, além das quixabeiras de rameira espinhosa, as caatingueiras (o pau-de-rato do sertanejo), os icozeiros sempre verdes, os marizeiros ramalhudos, as paineiras barrigudas, e os jo-azeiros esmeraldinos. No mais espesso dessa mataria, não faltavam as aroeiras, as baraúnas e os angicos seculares. Na vizinhança das muitas lagoas da região, em terreno de negro massapê, vicejavam bosques de jurema-branca sempre verdejante, com sua vestidura anual de f loração alvinitente.

E prossegue adiante descrevendo o canto os pássaros da região:Já, porém, nas margens do Salitre, o musical era outro. O ruf lar das asas e os mil gorjeios se faziam pelo trinado das patativas, dos so-frês, das graúnas, dos canários-da-terra ou bem-te-vis alvissareiros. As pombas-de-seca, essas rolinhas mariscadeiras, e as fogo-apagou, os sanhaços gulosos e os sabiás de voz canora, voejavam, piavam ou gemiam nas margens da correnteza, desferindo melodias, assim

*

Casa da Fazenda Quixaba. Rosalvo e Joana estão na var anda

acompanhando o tr abalho dostopógr afos, enquanto Abr ão

sela um cavalo

A casa após a primeir a reforma

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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musicando o vergel ou fazendo harmonia com o cicio do zéfiro nas grimpas do arvoredo.

Planície fértil na caatinga, a Fazenda Quixaba foi ampliada com a com-pra de terras circunvizinhas e trabalhada com dedicação e afinco por seus proprietários que dali retiraram o sustento para viver e para for-mar, criar e educar, com a melhor qualidade, sua grande família, em discreta fartura, muita união e felicidade.

d

Casa gr ande da Fazenda Quixaba e seu pé de algaroba com ninhos de casacas-de-couro

A Quixaba, desenhada por Dr. Regis

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Parte I Onde tudo começou

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João Francisco da Cunha Regis

Filho de João Francisco Regis Sobrinho e Mariana do Nascimento Regis, João Francisco da Cunha Regis nasceu em Juazeiro, Bahia, no dia 11 de janeiro de 1859.

Aos vinte e cinco anos, recebeu de seu pai, como herança, uma grande extensão de terras, entre a margem direita do Rio São Francisco e a Serra da Paciência.

Planície fértil onde “se plantando tudo dá”, entretanto, foi recebida ainda como f loresta cerrada, de solo virgem, e teve que ser duramente trabalhada por esse corajoso sertanejo para se tornar a terra provedora que passou a ser.

Educado no Ateneu Bahiano, na capital, era um homem que associava o trabalho do campo ao prazer da leitura. Dentre o seu pequeno e sele-cionado acervo de obras literárias, havia uma Bíblia Sagrada, traduzida pelo padre António Pereira de Figueiredo, publicada em Portugal, em 1840, fonte de constantes leituras e meditações.

A sua atração natural pelo estudo das Escrituras Sagradas, de onde ele já retirava temas para conversas com os familiares, os compadres e os vizinhos, talvez explique a coincidência ocorrida entre o ano do seu nascimento e o ano da chegada do primeiro missionário da fé reforma-da, pioneiro do evangelismo bíblico no Brasil, Ashbel Green Simonton: 1859. Em 1909, chegava à sua presença um missionário presbiteriano, sucessor de Ashbel, Pierce Annesley Chamberlain, que viria fundamen-tar com seus ensinamentos a fé já plantada no seu coração, chamando

João Francisco da Cunha Regis,o patriarca

R ev. Pierce Chamber lain com sua esposa, Julia B. Law Chamberlain, e filhos. Chegou à Bahia em 1899 e r etornou aos Estados Unidos, por

motivos de saúde, em 1909.Em companhia do r ever endo Henry McCall, participou da organização

do Pr esbitério da Bahia e Sergipe.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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a atenção sobre o mais importante daquela leitura: a manifestação do Amor de Deus por nós através de Cristo Jesus.

Casou-se com Umbelina Nunes da Cunha Regis, sua parente, e tive-ram seis filhos: Edelvira, Isaura, Rosalvo, Durval, Bertolino e Guiomar (mãe de Nair de Mello Regis, que se tornaria esposa do primo, Manoel Nunes da Cunha Regis, filho de Rosalvo). Tendo falecido sua primei-ra esposa, contraiu segundas núpcias com Joaquina de Oliveira Regis, com quem teve mais dez filhos: Aníbal, Artur, Sílvia, Manoel, João, Ed-gar, Maria, Edelvira, Alzira, e Aline.

Com tão numerosa família e vivendo em uma fazenda distante dos centros urbanos da região, João Francisco teve que desenvolver em si os mais diversos conhecimentos, através da leitura de revistas especializa-das, para a prática de atividades que variavam entre gerente, agricultor, vaqueiro, seleiro, carpinteiro, pedreiro, ferreiro, sapateiro, mecânico, engenheiro e o que mais fosse necessário, capacitando também seus trabalhadores para as tarefas complementares. Construiu a própria casa e fez uma barragem para o represamento de água, próxima a ela.

Essa rede de conhecimento e de disposição para o trabalho resultou em grandes avanços na produção de bens que ultrapassavam as neces-sidades de manutenção da família e dos agregados, tornando a fazenda pólo de referência e atraindo, assim, peritos em indústrias caseiras inte-ressados em industrializar e vender os seus produtos.

E assim, repleto de realizações, seguiu a vida esse nobre homem, educa-dor e provedor por essência, distribuidor e sementeiro do saber, busca-do e desenvolvido a duras penas, contudo, alimentado e alentado pela inabalável fé em Deus, e inspirado e sustentado pelo exemplo e ensina-mentos de Jesus e pela guiança interior.

d

Casa original da Quixaba com mulungu e carro-de-boi.

propriedade secular que viu nascer e crescer três ger ações consecutivas

da família Regis

Rev. Henry John McCall com sua esposa e uma das suas filhas.

Ao lado do reverendo Pierce Chamberlain e outros, organizou o

Presbitério da Bahia e Sergipe. Fundou também a Escola Americana, no mu-

nicípio de Caitité. Chegou ao Br asil em 1893 e retornou aos Estados Unidos,

por questões de saúde, em 1924

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Parte I Onde tudo começou

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Rosalvo da Cunha Regis

Filho de João Francisco da Cunha Regis e Umbelinda Nunes da Cunha Regis, Rosalvo da Cunha Regis nasceu na Fazenda Quixaba, município de Campo Formoso, em 16 de maio de 1887.

Sendo o mais velho entre os filhos homens de João Francisco, foi o pri-meiro a sair de casa, em 1912, com destino ao município de Wagner, para cursar o ensino secundário no Instituto Ponte Nova (IPN), que havia sido fundado em 1906 por missionários presbiterianos oriundos dos Estados Unidos da América. Abriu assim o caminho para que, a partir de 1919, seus irmãos, irmãs, primos, primas e sobrinho – João, Edgar, Maria, Edelvira, Alzira, Aline, Manoel, Urias, Waldemar, Au-gusto, Júlia, Cora, Ruth, Blandina, Flora, Isaura, Fernando, Ester e Flo-riano – também seguissem para esse colégio, referência de educação no interior baiano, até os princípios da década de 1970.

Ciente dos benefícios da educação, começou a difundir essa ideia e a organizar caravanas de estudantes da região para Ponte Nova.

De volta do IPN, ainda na sua juventude, adquiriu por sua própria ini-ciativa, uma propriedade para a produção de cana-de-açúcar, a Enge-nho de Canudos.

Com a mudança do pai para a cidade ele passou a gerenciar a Fazenda Quixaba e após o seu falecimento assumiu totalmente a sua direção passando a residir nela. Ali então construiu uma nova casa substituin-do a antiga casa grande da fazenda.

Ali formou família e firmou suas atividades nos campos de agricultura e pecuária, seguindo os caminhos do seu pai.

Rosalvo da Cunha Regis. 1959

R ev. Alexander R eese com sua esposa, Constance, e sua filha, Ana.

Ao lado do R ev. Pierce Chamberlain e do R ev. Henry John McCall, baluar-tes na for mação espiritual da família

R egis e de tantas outr as, foi um dos diplomatas da cultur a teológica

e missionária na organização do Pr es-bitério da Bahia e Sergipe

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Casou-se com Ana Nunes da Cunha Regis e tiveram quatro filhos: Manoel (Dr. Regis), Enedina, Reinilde e Rosália (falecida logo após o nascimento).

Em 1924 viu-se obrigado a fixar residência em Campo Formoso devi-do às inquietações advindas do aparecimento dos “revoltosos”, como era denominada a Coluna Prestes, e do constante temor ao bando de Lampião e aos “volantes” da polícia que os combatia, pois os últimos também espalhavam violência e pavor na população sertaneja.

Com o falecimento de Ana, casou-se com Joana Araujo Regis, professora por Ponte Nova com quem teve mais quatro filhos: Rosalvo Filho, Jane, João e Cecília.

Rosalvo da Cunha Rosa, “Seu” Rosa, como era conhecido, era uma pessoa muito respeitada e querida, “cristão sincero, conselheiro e amigo da famí-lia, e sempre amigo dos amigos”, como bem descreveu Eudaldo Lima.

“Seu” Rosa, sua esposa, Joaninha, e seus filhos: Jane, Cecília, Rosalvo, João, Enedina, Manoel e Reinilde

Rosalvo e sua segunda esposa, Joana Araujo Regis

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Parte I Onde tudo começou

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Rosalvo entre suas irmãs, Isaura (tia Zarinha, muito importante na vida de Dr. Regis e de todos) e Guiomar (Marantinha)

“Seu” Rosa arrodeado pelos familiares. À frente, Lucy, Isaura, Lygia Maria, ele, Gustavo, Isete, Nara e Marcos.; atrás, Dina, Nair, Dr. Regis, Enoch, Jane, Celio, Maranta, Reinilde, Cecília, Thierry, Mara e João

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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anotações de Rosalvo

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Relato de uma vida:por Manoel Nunes da Cunha Regis

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Parte II R elato de um a vida

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Cumprimento de um mandato

A Arte de escrever é apanágio dos literatos que manejam a língua sem os peri-gos de transgredir os segredos gramaticais.

As influências da Educação do lar, da Escola e da Igreja plasmaram no meu espírito lemas de conduta que me moldaram para os embates da existência.

O polimorfismo das atividades não me tornou um homem diferente dos de-mais, entretanto me proporcionou servir em várias fronteiras nas oportunida-des que me foram oferecidas.

Não nasci em berço de ouro e esse é o segredo do trabalho vivo e proficiente que sempre defendi e que me levou a enfrentar as tarefas a mim cometidas e chegar com reservas físicas às limitações da terceira idade; este princípio é infalível:

A VIDA ATIVA é A CHAmA ACESA DA VIDA.

Educado em lar evangélico, bafejado pelos princípios básicos da vida cristã, plasmados no meu espírito por educadores e missionários, associados a um temperamento receptivo, resultaram em me fazer aprender a prática do bem viver para o bem servir.

muito achegado à matemática, ao Desenho e às Ciências Positivas, sonhava com a Engenharia Civil como profissão definida, mas no decorrer do curso secundário mudei de rumo e segui a profissão de Hipócrates e de Lucas e a arte do Samaritano da Parábola.

A paixão pela matemática e pelo Desenho me fez professor dessas disciplinas durante o período de 1939 a 1971, no Colégio 2 de Julho, em Salvador, no Instituto Americano Ponte Nova, em Wagner, e no Colégio Augusto Galvão, em Campo Formoso.

Dr. Manoel Regis. 1945

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Complementando os meus devaneios, tive na vida do campo, na qualidade de pequeno pecuarista, os momentos cativantes da recreação quando comecei a admirar as maravilhas da natureza; era o lazer pleno, vendo o gado pastando e mugindo e os pássaros cantando, esquecendo em momentos sublimes o bur-burinho e as preocupações do dia-a-dia da cidade turbulenta.

RAqui não pretendo escrever memórias, mas, por solicitação insistente da mi-nha querida esposa e companheira de todas as horas, faço registrar apenas a trajetória de uma vida de maneira despretensiosa e o pouco que consegui realizar na vida que Deus me concedeu com imensa prodigalidade.Quem ler esse relato não encontrará uma biografia convencional, mas a sim-ples narrativa circunstancial de uma vida simples pautada na humildade cris-tã, escrito por quem não se arrependeu de ter nascido, pois gozou de privilégios inefáveis recebidos da família, dos amigos, dos colegas de turma e de compa-nheiros de trabalho.Em particular, destaco o incentivo da minha esposa, Nair de mello Regis, figura singular e prestimosa, razão maior de minha vida, que me fez feliz desde os meus dez anos de idade, quando comecei a amá-la e admirá-la.A seu lado, a prima querida, Dídia de mello Regis, ativa, organizada e diligente nas atividades do Colégio Augusto Galvão e da Escola Anísio Teixeira, me assistiu como enfermeira atuante ouvindo comigo os gemidos dos pacientes e sorrindo comigo e com eles as vitórias e sucessos na sagrada arte de curar e no desempenho das tarefas dignificantes da enfermeira; ela poderia ser cognomi-nada de sósia da “Dama da Lâmpada”.Lembrando um velho pensador, faço registrar o que deixo ao término da minha existência. Talvez não tenha atingido o status almejado e não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito; não somos o que deveríamos ser para que fôssemos herdeiros e credores das copiosas bên-çãos de Deus.Restou aquela saudade de tudo que passou, saudade até da maldade que tanto nos machucou e nos fez sofrer, o amargo que a vida nos fez beber, mas há sinais de que, ao perdoarmos, vencemos.

Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito.Não somos o quedeveríamos ser, não somos o que iremos ser.Mas, graças a deus, não somos o que éramos.

Martin luther King

Dr. Regis, dever cumprido. 1998

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Parte II R elato de um a vida

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À guisa de biografia

Nasci em 8 de outubro de 1917, na Fazenda Fortaleza, município de Juazei-ro, assistido pelas mãos competentes do obstetra Dr. Brito.

Fui registrado no dia 10 de outubro de 1917, no Cartório de Registro Civil da Comarca de Juazeiro pelo meu futuro sogro Edgard da Cunha mello (Deus me assistiu e me abençoou desde o nascimento). Em 20 de novembro de 1918, nascia Nair de mello Regis, minha futura esposa, na cidade de Juazeiro.

PRIMEIR A INFâNCIA

Na Fazenda Quixaba, município de Campo Formoso, durante os anos de 1917 a 1926.

FILIAçãO

Rosalvo da Cunha RegisAna Nunes da Cunha Regis

AVóS MATERNOS

manoel Luiz Nunes da Cunhamaria Francisca Nunes da Cunha

AVóS PATERNOS

João Francisco da Cunha Regis

Umberlina Nunes da Cunha Regis

Manoel Nunes da Cunha Regis

Nair de Mello Regis

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ESCOLARIDADE

Fui alfabetizado a partir de 1922, na Fazenda Quixaba, por minha tia Alzira Oliveira Regis e, de janeiro de 1926 em diante, por minha madrasta, professora Joana Araújo Regis. Depois, já na cidade de Campo Formoso, pelas regentes Flora Galvão de Carvalho, Brasília Vieira Regis e Edelvira Regis, retornando às aulas com minha madrasta em 1930, com ensino intensivo e preparatório para o exame de admissão.

Em fevereiro de 1931, segui para Ponte Nova, escola Americana da missão Central do Brasil, dirigida pelo missionário americano Samuel Graham, onde cursei a 8a série.

Em fevereiro de 1932, dirigi-me para Salvador, onde me submeti ao exame de admissão para o Ginásio Americano, sob a direção do casal Peter Garret Baker e Irene Baker.

O Ginásio Americano passou a se chamar Colégio 2 de Julho a partir de novembro de 1937, em homenagem à data magna da Bahia.

Em novembro de 1937, recebi o Certificado de Bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio 2 de Julho, sendo o orador oficial da turma de 1937.

d

Manoel Regis aos 12 anos

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Parte II R elato de um a vida

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Rosalvo da Cunha Regis e Ana Nunes da Cunha Regis,pais de Manoel Regis, de Rosália (que viveu por apenas um mês), de Enedina e de Reinilde

E os irmãos mais novos, Cecília, João, Jane e Rosalvo. 1939Manoel com os irmãos, Reinilde, Enedina e Rosalvo. 1932

Maria Francisca Nunes da Cunha,avó materna

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Acima, Dorinha, Valine, Dina e Nair.

1926

À direita, Mar antinha e Nair.

1926

Edgard da Cunha Mello, pai de Nair Regis

Valine (prima) e Nair. 1925.

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Parte II R elato de um a vida

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o lar e a família

O nosso Lar foi sempre um ninho de paz, de amor e de compreensão mútua. A nossa saudosa maranta (minha sogra e uma mãe para todos nós) partiu para o oriente eterno para estar na presença de Deus.

O NAMORO

Não poderia precisar quando começou o namoro entre eu e minha esposa Nair. Sendo ela minha prima, estávamos sempre em contato. O seu jeitinho delicado, jeitinho de filha única, despertava em mim uma admiração muito especial que crescia a cada reencontro e permanece crescente até hoje.

Nair havia ficado orfã de pai ao nascer. Edgar da Cunha mello falecera muito cedo, acometido pela gripe espanhola.

Desde muito cedo eu via nela, relíquia de sua mãe, a minha futura esposa, porém ela não notava meu interesse. Associei-me então à sua mãe, Guiomar Regis da Cunha mello (maranta), e levei comigo a sua filha querida.

Quando éramos pequenos, eu morava na Fazenda Quixaba e ela na Fazenda marí, no município de Juazeiro. Fui estudar fora, no Colégio 2 de Julho e, quando voltava para casa, nas férias, passava sempre, em primeiro lugar, na casa dela. Eu a tinha como a uma santa.

O NOIVADO E O CASAMENTO

Eu morava em Nazaré, em Salvador e, em 1939, Nair e sua mãe também foram morar ali, na Rua José marcelino, 31, Gamboa. marantinha, sua mãe,

1 ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o me-tal que soa ou como o sino que tine.2 e ainda que tives-se o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciên-cia, e ainda que tivesse toda a fé, de manei-ra tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.3 e ainda que dis-tribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e

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passou a ser a amorosa cuidadora de muitos de nós, primos, que estudávamos em Salvador e passamos a morar com ela.

Um dia, voltando para casa, encontrei tia maranta e Nair na janela. Co-loquei a aliança no dedo direito da minha amada. Tia maranta, surpresa, perguntou: “E é assim, é? Não pede, não?!” Ao que respondi: “é um direito reservado.”

E assim foi e nos casamos no dia 28 de dezembro de 1946, na Igreja Presbite-riana de Campo Formoso, e formamos uma bela união de amor e parceria.

Quando ingressamos nos limites da terceira idade, Deus nos ampara, nos ins-pira e nos permite ainda o direito de vivermos felizes.

d

O casal, Dr. Manoel Nunes da Cunha Regis e Nair de Mello Regis. 1946

não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.[...]13 agora, pois, per-manecem a fé, a espe-rança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

1a Carta de São paulo aos Coríntios 13 : 1,2,3,13

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Acima, Nair e Mar anta com Didi, sobrinha criada por Mar anta desde recém-nascida, que hoje vive com Nair e Dr. Regis. 1939.

À esquerda, adolescência de Nair, Ruth e Enedina. 1934

Manoel Regis. 1934 Nair de Mello. 1939

As primas, Valine, Ruth, Nair e Dorinha. 1939 Noivos enamor ados. 1945

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Dr. Regis com sua amada Nair e com sua não menos querida sogr a e tia, Mar anta. 1956

A família em torno da mesa doméstica com a visita do seminarista Abner Assis. Didi, Isaur a, Mar anta, Dr. Regis e Nair.

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Parte II R elato de um a vida

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Enedina e Ezequiel, irmã e cunhado, com os filhos: Dinael (sentado), Saulo, Zazá e Carlos. “nossos preciosos sobrinhos que são filhos pelo cor ação”, palavr as de Dr. Regis

Isete e João, cunhada e irmão, com

os filhos: Marcos,

Nar a, Mauro,

Gustavo e Aroldo

Reinilde e Celio, irmã e cunhado,

com seus filhos:

Carlos (no colo),

Celio e Mar a

Lygia e Rosalvo, cunhada e irmão, com os filhos: Lygia Maria (com a prima Liana), Paulo e Rosalvo; Nilton, Luiz Carlos e Edson (no detalhe)

Cecília e Thierry,

irmã e cunhado,

com os filhos: Liana,

Lenise, Lucy e

Luciano

Jane e Enoch, irmã e cunhado, com os filhos: Paulo, Jane Lilian e Enoch Junior

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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O casal, Dr. Regis e Nair, sempre unidos no feliz convívio com familiares e amigos e no amor e cuidado com os animais. 1966Com Enedina na primeir a foto e abaixo com Didi, Mar anta, Reinilde, Rosalvo, Mar a, Ezequiel e Carlinhos (em pé); e sentados, Zazá e

Lygia Maria com Edson

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Parte II R elato de um a vida

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Gustavo Henrique, Jana, Cecília, Marcos, o pequeno Daniel, Isete, Dr. Regis, Luciano, Gustavo e Celio Filho, em Itacimirim. 1999

Celio, Reinilde, Enedina, Dr. regis e Érico. Itacimirim. 1999

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Alegria contagiante no encontro da família Regis em Itacimirim.De frente, em primeiro plano, Luci, Dr. Regis, Carlos Augusto, Reinilde, Enedina, Lar a, Sandr a e Saulo. 1999

Almoço com as tias na Quixaba, Edelvir a, Aline e Alzir a. 1996

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Dr. Regis entre as irmãs, Didi (que apesar de prima é também irmã e/ou filha), Reinilde, Cecília e Enedina. 2000

Tios de Dr. Regis, João, Alzir a, Aline e Edelvir a. Lembr ança da comemor ação dos 80 anos de Aline, em Salvador. 1990

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Natal em família. Valine, João Nely, Arthur, Edgar, Edelvir a, Alzir a, Aline e Dr. Regis

Entre as irmãs, Ededina e Reinilde

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Culto na Fazenda Quixaba. Semana Santa. 1993

Dr. Regis, Nair, Didi, Licinha, Enedina, Laércia, Pedro e Nidu. 2003

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Acima, em Campo Formoso, na Chácar a Primaver a, a Vila Nair, lar de Dr. Regis, de sua amada esposa, Nair, e da sua querida prima/irmã, Dídia (Didi). Lar harmonioso e feliz, cercado por flores, muitas delas ainda plantadas por Mar anta (mãe de Nair). 2005

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Roteiro da vida espiritual

Nasci em lar evangélico presbiteriano e de pais evangélicos, em 8 de outu-bro de 1917, na Fazenda Fortaleza, município de Juazeiro. Fui registrado em Campo Formoso, no dia 10, pelo meu futuro sogro, Edgard da Cunha mello.Fui batizado em 1920, na Fazenda Quixaba, residência de meus pais, por ofício ministrado pelo missionário norte-americano, Pierce Chamberlain, membro da missão Central do Brasil , em uma de suas visitas a Região Nordeste da Bahia.

Professei minha fé em 17 de março de 1935, na Igreja Presbiteriana de Campo Formoso, sob o pastorado do Rev. Basílio Catalá de Castro.

Contraí núpcias com a minha prima, Nair de mello Regis, em 28 de dezem-bro de 1946, na Igreja Presbiteriana de Campo Formoso, tendo oficiado o ato o juiz Dr. manoel Catalá Loureiro e a solenidade religiosa pelo Rev. Eudaldo da Silva Lima.

Fui eleito Presbítero em 4 de julho de 1949, na Igreja Presbiteriana de Campo Formoso, sob o pastorado do Rev. Eudaldo da Silva Lima.

Recebi a insígnia de Presbítero Emérito na Igreja Presbiteriana de Campo Formoso, sob o pastorado do Rev. Iraildo Oliveira Gomes, em 25 de dezem-bro de 1977.

ministrei aulas nas Escolas Dominicais – classe da mocidade estudantil na Igreja Presbiteriana de Itacira e de Campo Formoso, desde os idos de 1947.

Fui eleito presidente do Grêmio Evangélico Belmiro Cesar no Colégio 2 de Ju-lho em Salvador, em 1944, e me mantive no cargo até 1945 quando concluí o curso médico e transferi-me para a cidade de Itacira, em Lavras Diamantinas.

Igreja Presbiteriana de Campo Formoso

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Ao assumir as atividades médicas no Grace memorial Hospital, em Itacira, reativei o tradicional Culto do Hospital, que voltou a funcionar pelas manhãs, das 8 às 10 horas, e aos domingos, com a frequência dos enfermeiros, dos doen-tes, dos convalescentes e dos amigos visitantes. Eram momentos de profunda inspiração. Ao lado da cura física, a oportunidade da cura espiritual. Nesses cultos recebemos as visitas de pregadores ilustres: Rev. martim de Goiaz, Rev. Gordon Trew, Rev. Frederick Jonhson, Rev. Oton Dourado e Rev. Amim Aidar Filho.

Fui eleito representante da Igreja Presbiteriana de Campo Formoso em várias Reuniões Ordinárias do Concílio, no Presbitério de Campo Formoso.

Eleito Deputado Representante do Concílio de Campo Formoso nas Reuniões Ordinárias do Supremo Concílio da IPB, em Lavras–minas Gerais, em Sal-vador–Bahia, em Fortaleza–Ceará e em São Paulo no Instituto makenzie.

Eleito presidente do Presbitério de Campo Formoso em sua Reunião Ordiná-ria, na cidade de Palmeiras, em Lavras Diamantina.

Durante o período de uma década, dirigi o Orfanato Evangélico Lar da In-fância (iniciativa das SAPs do Presbitério de Campo Formoso), quando foi construído o prédio sede, no bairro Esplanada. Esse orfanato foi mantido por mais 12 anos, quando se encerrou devido ao falecimento de sua incansável diretora, Beatriz Lopes Ribeiro.

Fui tesoureiro da Igreja Presbiteriana de Campo Formoso durante oito anos, após 20 anos de exercício do referido cargo pela minha esposa, Nair de mello Regis.

Participei ativamente das construções dos Templos das Congregações de Trin-cheira e Brejão da Caatinga, na construção do prédio do Acampamento Beith Shalon e na recuperação geral do Templo da Sede, com a construção do novo Gabinete Pastoral contendo um painel histórico de 94 anos de trabalho evan-gelístico; na construção do berçário da Igreja (iniciativa e doação da Profa. Dídia de mello Regis); na construção de uma nova secretaria informatizada e aconchegante; na implementação de mais uma sala de vídeo e no assentamen-to de 24 novas janelas metálicas, com vidros canelados, na nave do Templo.

Igreja Presbiteriana de Itacir a

Solenidade de inaugur ação do Templo de Brejão da Caatinga

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Presbitério Bahia–Sergipe reunido na Vila de Piritiba, de 12 a 17 de janeiro de 1943

Dr. Regis com a classe de Jovens da Escola Bíblica Dominical, em Campo Formoso. 1988

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Solenidade religiosa no templo de Filadélfia. Com seu primo mais velho, Floriano Regis. 1997

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o universitário e o médico diplomado

Durante os anos de 1938 a 1939, cursei o pré-médico (preparatório) no Co-légio Estadual da Bahia. Submeti-me ao vestibular de medicina em janeiro de 1940, pela velha Faculdade de medicina da Bahia, onde cursei os seis anos do curso médico, recebendo em solenidade memorável meu diploma, em 19 de dezembro de 1945. Integrei a tradicional “Turma da Vitória”, assim de-nominada pelo término da Segunda Guerra mundial. Em destaque no meu quadro de formatura, foi prestada uma homenagem especial ao estadista norte-americano, presidente Franklin Delano Roosevelt, líder e herói aliado da Segunda Guerra mundial.A solenidade de formatura dos médicos de 1945 teve como Paraninfo o Prof. Adriano Azevedo Pondé e como orador oficial o Dr. Orlando moscozo Barreto de Araújo. Fui o representante da turma na Homenagem ao Paraninfo.Representei a turma durante o curso de Tisiologia, ministrado pelo Prof. José Silveira e, em 1945, na solenidade do sepultamento do professor de Otorrino-laringologia, Dr. Eduardo morais.Pelos idos de janeiro de 1946, a convite da Grace memorial Hospital de Itaci-ra (Wagner), assumi o meu primeiro ano como médico diplomado.Comemoramos, durante anos seguidos, até o Jubileu de Ouro, todos os ani-versários de formatura, tendo recebido na última comemoração, em 1995, o Diploma de médico (Honra ao mérito), pela associação dos antigos alunos da Faculdade de medicina da Bahia e, em 18 de outubro de 1995, o Diploma mérito ético-Profissional conferido pela Universidade Federal da Bahia.

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O estudante, Manoel Regis. 1939

Em férias, visitando a família. 1939

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Turma do quinto ano de Medicina em um almoço na casa do professor de Anatomia, R afael Menezes. 1944

A escola de medicina mais antiga do Br asil foi fundada em 1808 sob o nome de Escola de Cirurgia da Bahia. Foi Faculdade de Medicina da Bahia, de 1901 a 1945, ano que coincide com a formatur a de Dr. Regis.

Em 1946 surge a Nova Faculdade de Medicina da Bahia com a inaugur ação da Universidade Feder al do Estado.

“Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus. Imponente e Majestosa Escola do Saber Médico de tr adições imorredour as e onde no seu mistério sente-se as emoções de um Sacr ário da Ciência Médica”, palavr as de Dr. Regis.

O estudante Manoel Regis. 1942

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Quadro de formatur a dos médicos de 1945

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Médicos de 1945, a “Turma da Vitória”

Turma de 1945 em uma das reuniões comemor ativas anuais, que incluíam os familiares, fielmente mantidas, desde a formatur a

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o médico no Grace Memorial Hospital (1946-1948)

Atendendo ao rigoroso convite formulado pelo Dr. Walter Welcome Wood – diretor do Hospital da missão norte-americana em Itacira (Wagner), decidi ir ao encontro do nobilitante convite no sentido de integrar o corpo médico daquela casa de saúde e substituir por um ano o seu velho diretor com duas férias vencidas a serem gozadas nos Estados Unidos.

Ao assumir os encargos no Hospital, juntamente com o incansável diretor, Dr. Wood, planejamos os nossos trabalhos: duas clínicas, atualização dos serviços no setor elétrico (Raios X, raios Infravermelhos, raios Ultravioletas), Centro Cirúrgico, Laboratório de Análises Clínicas e revisão dos apartamentos e en-fermarias para os devidos reparos e pinturas. O velho Wood, além da visão de anjo, tinha também uma visão de homem prático, progressista e empreende-dor e nos sugeriu a construção de um campo de pouso para aviões de pequeno porte e a instalação dos serviços de correios e do primeiro telefone em Itacira, próximo ao hospital.

Era uma inspiração a visão do velho médico e abraçamos com ele os seus pla-nos que incluíam a criação de rodovias ligando Itacira a Bela Vista de Utinga e ao Pega, de onde convergiam os doentes em busca do hospital. De vez em quando recebíamos o avião “Arauto do Evangelho”, pilotado por Jorge Glass, no nosso campo.

Instalado o Laboratório de Pesquisas Clínicas, recebemos da missão Central do Brasil a solicitação da pesquisa da incidência do shistosoma no vale do Rio Utinga e durante alguns meses, além do atendimento médico costumeiro, nos deparávamos a cada dia com a terrível doença e com manifestações de hépato esplenite, varizes de esôfago, cirrose hepática e anemias acentuadas.

Dr. Regis pronto par a assumir a sua tarefa à frente do Gr ace Memorial

Hospital. 1946

Dr. Walter Welcome Wood, uma das enfermeir as e o piloto George Glass. Época em que f oidescoberta a Cachoeir a Glass,

em Lavr as Diamantinas. 1946

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Após vários meses de pesquisa ao microscópio, chegamos a uma estimativa de 72% da população portadora do terrível mal.O exercício diuturno da clínica ia nos conscientizando do valioso trabalho do velho missionário, dedicado de corpo e alma à sublime missão de curar e ali-viar as dores dos pobres sertanejos das lavras diamantinas.À medida que os dias passavam, eu procurava por todos os meios ir assumindo as responsabilidades do velho esculápio e logo mais ele já seguia para os Esta-dos Unidos em gozo de suas preciosas férias de um ano.Ao partir, Itacira lamentava sua partida e, ao retornar, recebeu as boas vindas em uma solenidade vibrante e festiva.Com o Dr. Wood trabalhei ainda nos anos de 1947 e 1948. Durante o período em que lá estive, pude observar com satisfação o alcance dos serviços encetados pelo Grace memorial Hospital.Além das atividades médicas, o velho e admirável cirurgião não se cansava de olhar a vida cultural dos seus auxiliares (enfermeiras), mantendo a Escola de Enfermagem sob a competente direção da enfermeira Beatriz Lenington. Lembro-me bem das aulas de Higiene e Puericultura das quais participamos ativamente, aliando as aulas teóricas às aulas práticas. A atuação das enfermeiras se constituía num serviço total de dedicação huma-na, o que nos levou a cognomina-las “Anjos da meia Noite”

RDe Campo Formoso, porém, eu recebia o insistente chamado da família, da Igreja e do Colégio Augusto Galvão, e para lá retornei deixando, mas não sem saudades, o Grace memorial Hospital, o seu povo bom e hospitaleiro e, acima de tudo, o velho colega, Dr. Wood, que me fez ensinar e exercitar a clínica mé-dica a serviço de Deus.Em janeiro de 1949, partimos para Campo Formoso e a multidão, em frente ao hospital, demonstrava a sua gratidão. Na noite anterior à viagem, houve uma despedida solene quando ouvimos da voz do velho Wood, o agradecimento e o apelo para o retorno.Foi uma experiência gratificante de três anos como médico em Itacira, uma verdadeira ação prática da sublime arte de curar.

O médico, Dr. Regis, e as enfermeir as do Gr ace Memorial Hospital

Momentos de saudável lazer: jogo de cróquete em Ponte Nova.

Ao fundo vê-se o Templo Presbiteriano.

1947

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A Missão Centr al do Br asil em sua Reunião Ordinária, em Itacir a (Wagner). Dr. Regis é o terceiro à frente, da direita par a a esquerda. Janeiro de 1949

Dr. Regis e Dr. Wood com as duas enfermeir as-chefes do Gr ace Memorial Hospital e outr as nove enfermeir as em curso

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O médico, Manoel Regis, no Gr ace Memorial Hospital, pesquisando o Schistosoma mansoni, a pedido da Missão Americana (Centr al Br asil Mission). 1947

Enfermeir a-chefe, Isaur a Chagas, na sala de cirurgia doGr ace Memorial Hospital. 1948

Paciente sendo cuidadosamente assistida por uma enfermeir a do GMH. 1948

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o médico em Campo Formoso

Ao findar o ano de 1947, quando exercia as funções de médico no Grace me-morial Hospital de Itacira (Wagner), nas Lavras Diamantinas, no período de janeiro de 1946 a fevereiro de 1948, recebia insistentes chamados de Campo Formoso, da família, da Igreja Presbiteriana e do Colégio Augusto Galvão, recém-fundado em 10/10/1946.Ao chegar, em janeiro de 1949, a Campo Formoso, instalei meu consultório médico à Rua Floriano Peixoto, 35, em duas casas geminadas: uma para o gabinete médico e a outra para internamento de pacientes acidentados ou recém-operados.A cidade não tinha hospital naquela época e existia apenas um médico, o Dr. Armindo Simões de Oliveira, profissional dedicado aos labores médicos nos limites da Obstetrícia em particular.Chegando a Campo Formoso, os dias eram muito curtos para atender às azá-famas e tarefas que iam chegando: a clínica na sede, as cirurgias de doentes acidentados nos trabalhos de motores de sisal, os casos de ascite e partos suces-sivos, além do atendimento ao expediente normal da clínica.A cidade de Campo Formoso, nos idos de 1949, não tinha rodovias, eram es-tradas vicinais, carroçáveis, e poucos veículos por elas circulavam. Em Campo Formoso, o inverno era rigoroso e muito frígido e a estação se prolongava in-tensamente de maio a agosto.Os chamados médicos para os distritos e povoados eram constantes e aflitivos e outra alternativa não existia a não ser os cavalos de sela bem arreados e a coragem do médico para enfrentar os ditames da sagrada profissão. médico,

Cavalo selado, meio de tr ansporte utilizado por Dr. Regis par a o atendi-

mento aos seus clientes

Dr. Regis em Campo Formoso. 1949

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acima de tudo, não podia dizer não a qualquer conjuntura em que sua presen-ça era exigida e solicitada.No exercício da clínica, nos deparávamos, além dos casos específicos da Obste-trícia (parto), com a grande incidência de casos de cirrose hepática com mani-festações de ascite (barriga d’água) que exigiam punções periódicas enquanto era executado o tratamento específico, com casos de hépato esplenite e varizes no esôfago, males que durante muitos anos dizimaram famílias inteiras na região.Na área de emergência, salientamos os casos de amputação de membros supe-riores decorrentes de acidentes de trabalho nos limites da lavoura de sisal e os casos dos cevadores das fibras acidentados nos motores criminosos.Instalamos o pequeno Laboratório de Pesquisas Clínicas (na cidade não ha-via laboratórios). Visando os casos de diabetes em particular, e na área do microscópio, a pesquisa da maior praga existente no município – a esquis-tossomose – provocada pelo Schistosoma mansoni. Não esqueçamos que na mesma época, grassava em profusão a terrível malária nos limites do Vale do Rio Salitre e em Pindobacu (Lagoa do Cincinato).O combate sistemático, técnico e duradouro ao Schistosoma mansoni, existente em todas as aguadas da sede e de alguns distritos: Santo Antonio, Gameleira, Campo Formoso e Coité onde grassava o Caramujo Plamorbis, transmissor da terrível doença, exigia de pronto as medidas de ataque direto e profiláticos por todos os meios que pudessem ser conduzidos e exercidos.Nomeado médico do Posto de Higiene Local, dirigi as ações mais urgentes junto à Secretaria de Saúde do Estado, onde exercia as funções de chefia o Dr. Bichat de Almeida Rodrigues, sanitarista competente do Rio de Janeiro, solícito e prático no pronto atendimento. Logo de saída fomos atendidos com uma equipe de quatro guardas sanitários, um microscopista, dois enfermeiros e laboratório equipado e ainda a seguinte determinação: “Para o que Campo Formoso exigir para o combate à esquistossomose, a Secretaria de Saúde está de portas abertas”.A partir de 1945, no pós-guerra, o governo norte-americano enviava medica-mentos específicos em vidros de 1.000 comprimidos e medicação para o trata-mento específico da malária, esquistossomose e tuberculose.

Dois momentos, em datas distintas,

de uma mesma gr ande emoção: a de tr azer uma criança à vida, alegria muitas vezes repetida

por Dr. Regis e Dídia, sua enfermeir a/prima/irmã.

Acima, 1963.Abaixo, 1973

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Nessa época, surgiu o alarmante surto de meningite epidêmica nas minas de cristal e foi instalado, no alto da serra, o Hospital de Emergência contra a ter-rível epidemia. Lá, juntamente com colegas sanitaristas, utilizando os recur-sos trazidos pelos engenheiros da comissão de compras, conseguimos debelar o surto de meningite.Em 1950, fui nomeado médico do Instituto de Previdência e Assistência Social para os fins específicos de atender aos segurados e beneficiários desse Instituto em Campo Formoso. Tratamos de imediato do cadastramento dos operários e segurados do Instituto junto às minas de cromo do município e da avaliação e seleção dos referidos segurados, aptos para o trabalho e para as devidas admissões.Lotado na agência do INSS em Senhor do Bonfim, mantinha contato perma-nente com a nossa agência no que dizia respeito aos encaminhamentos buro-cráticos do serviço e nas eventuais substituições no cargo de chefia. Quando, em certa ocasião, o titular, Dr. Jaime Reis, se afastou em definitivo por motivos de saúde, eu o substituí.Em agosto de 1987, chegou o momento da minha aposentadoria. Após 38 anos e meio de serviço ininterrupto, quando, para consolo da terceira idade, recebi do mi-nistério da Previdência Social a portaria de no 2.770, firmada pelo ministro Dr. Jair Soares, louvando e agradecendo em nome do Instituto os serviços prestados à previdência e à assistência social em Campo Formoso.

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desempenha o papel abençoado e santo,No cenário cruel do sofrimento humanoSem nunca esmorecer no seu labor insanovai caminhos da dor aliviando o prantoE no final da luta, o nobre paladinoadormece feliz , tranquila consciênciaSob as bênçãos de amor do Médico divino

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o Médico – ao dr. Regis

Nervosamente um pai lhe bate à portaMal tinge o céu a cor da madrugadapressuroso vai ele, pouco importaSe é fria a noite ou espinhosa a estrada

a criança doente semimortaJaz sobre o leito à febre abandonadaEnquanto a vida por um fio suportaMas chega o médico e a luta é começada

Meu Deus será o fim? Não, sim é parece“ajudai-me Senhor” diz ele em preceNum grito de socorro, angustiado

e ora... e luta... ainda há esperançaEnfim a vida!... então terna, a criançaabre os olhos e diz: “Muito obrigado”

ivone RochaPresente de aniversário

8 de outubro de 1959

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o médico previdenciário

Pela portaria de no 20.900, de 22 de agosto de 1950, fui nomeado médico, pelo Instituto da Providência Social, para atender os seus segurados e benefici-ários na cidade de Campo Formoso.A minha primeira providência, após a posse naquele cargo, foi cadastrar os operários das minas de cromo (Comisa), em Pedrinhas, com avaliação da saúde. A partir daí, as contratações de funcionários e operários passaram a ser feitas com essa avaliação.Lotado como Funcionário Federal na agência de Senhor do Bonfim, manti-nha contato direto com a agência de Campo Formoso. substituindo eventual-mente o médico-chefe nos seus impedimentos. Destacamos, em particular, a substituição do Dr. Jaime Reis quando afastado por motivo de saúde.No consultório médico, atendi durante 38 anos e meio os segurados do Institu-to, com exames médicos, atestados de licença para tratamentos especializados e também nos casos de admissão e aposentadoria.Aposentado pelo Art. 176, Item II da Lei no 1711/52, já promovido para a função de Coordenador de Turno, Símbolos DAI–III.1 de no 21.44794, por Portaria no INAmPS/BA AP–5.886 de 16 de julho de 1987.Na Previdência Social, realizei tarefas altamente gratificantes, pois ao lado dos serviços burocráticos ela nos facultou e nos permitiu estender os seus ten-táculos num alcance mais amplo de atendimento aos segurados mais carentes e que necessitavam de cirurgias de urgência, tais como amputações e cirurgias por causa de acidentes graves. Sendo a cidade desprovida de um hospital, o tratamento ambulatorial foi conduzido à nossa modesta casa de saúde.Registra-se aqui e em particular os acidentes traumáticos dos cevadores de mo-tores de Sisal.

Dr. Regis. 1957

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atividades no Magistério, o professor e o diretor

Desde os idos de 1939, quando iniciei o meu curso pré-médico no Ginásio da Bahia, complementei minhas atividades culturais no exercício do magistério, le-cionando as disciplinas: Ciências Físicas e Naturais, matemática e Desenho jun-to ao Colégio 2 de Julho, com registro oficial do ministro de Educação e Cultura.Já diplomado em medicina em 19 de dezembro de 1945, pela Velha Faculdade de medicina da Bahia, transferi-me como médico para o Grace memorial Hos-pital de Itacira (Wagner) nas Lavras Diamantinas onde, além das atividades de médico, assumi as do magistério junto ao Instituto Ponte Nova, nas disciplinas de Desenho e Ciências, e nas de Higiene e Puericultura junto à Escola de Enfer-magem do hospital de Itacira.Ao retornar a Campo Formoso, em 1949, lecionei por mais de 15 anos nas cadei-ras de matemática, Desenho e Ciências Físicas e Naturais, no Curso Secundário do Colégio Augusto Galvão, e de Higiene e Puericultura, no Curso Pedagógico do mesmo estabelecimento. As aulas do Pedagógico se tornaram memoráveis, pois eram acrescidas de aulas de Pediatria que formavam as professorandas em au-tênticas mães futuras na criação dos seus pupilos, nas dietas alimentares e nos cuidados higiênicos com os bebês.Acrescente-se aos labores do professor, as atividades eventuais de diretor do Colé-gio Augusto Galvão por mais de 15 anos, até os limites da minha aposentadoria definitiva.Nas substituições eventuais no cargo de diretor do Colégio Augusto Galvão, tive a oportunidade de construir duas salas de aula em frente à quadra de esportes dedicando uma delas ao Laboratório de Ciências, com armários e quadros murais para as aulas, mais apropriadas às experiências nas aulas práticas e microscopias.

O professor/diretor presidindo uma solenidade. 1995

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Ressentindo-se o estabelecimento da necessidade imperiosa da construção de um auditório para a escola, construímo-lo, ocupando o espaço antigo de uma área coberta, acrescido da área de uma das salas de aula em frente à diretoria. Esse auditório tornou-se muito útil para as formaturas, sessões solenes, reu-niões de pais e mestres, palestras educativas e evangelísticas e encontros das entidades da Igreja Presbiteriana da região.

Nos dias atuais, o colégio teve problemas com o serviço de abastecimento de água e providenciamos novas instalações com colunas de manilha e concreto armado, duas caixas grandes coletoras de 5.000 litros.

O Colégio Augusto Galvão preserva, no seu auditório, a memória de todos os seus fundadores e benfeitores a partir de 1945.

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Homenagem prestada pelos alunos ao professor e amigo Manoel Regis. 1963

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O professor recebendo uma homenagem das professor as do Colégio Anísio Teixeir a. 2001

Comemor ação dos 25 anos do Colégio Augusto Galvão, com a presença (da direita par a a esquerda) de Rômulo Galvão (ex-adversário político que lançou a segunda candidatur a de Dr. Regis à prefeitur a), Dr. Cícero, promotor, Rev. Ir aildo,

Dr. Domingos Dantas, advogado/irmão, Aline (tia), viúva de Augusto Galvão, Ir. Audete, Dr. Regis e outros. 1971

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Recebendo a placa de Honr a ao Mérito das mãos da professor a e sobrinha Ana Isaur a

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o homem público

Ao retornar à minha terra, após oito anos de vida universitária somada a dois anos de pleno exercício de profissão definida – medicina, a mais sublime das profissões –, fui, mesmo contra a vontade e as minhas aspirações, intima-do pela classe política e pelo povo da minha terra a aceitar o pesado encargo de prefeito de Campo Formoso. Estávamos no transcurso do ano de 1954 e em tempo algum havia almejado o exercício da vida pública ou cargos eletivos para exercícios que não se coa-dunavam com a vida de médico. Em princípio, porém, rejeitei o convite que me foi formulado lembrando da expressão do velho tribuno e político baiano, Otávio mangabeira: “Não sei se a fortuna ou a desgraça ou desventura está me enfrentando e tentando a desvirtuar os anseios da minha vida”.Acabei cedendo pelas injunções de caráter insistente e multifário, não sabendo mesmo ao certo em que horizontes iria parar a minha vida. O que sei é que, passadas as parcelas da indecisão e o receio dos novos rumos, aceitei e não me lamentei, pois foi-me dada uma grande oportunidade, quando ainda jovem, de mais uma cota de sacrifício, que se tornou, em última análise, em resultado positivo benéfico e duradouro para a nossa terra e nossa gente. Na qualidade de Prefeito municipal para o período legislativo de 1954 a 1958 pela Coligação Democrática de Campo Formoso, realizei obras ditadas pela inspiração de médico e não de prefeito que foram obras de caráter definitivo e de necessidade emergencial.Projetamos e encetamos, como obra prioritária, o Serviço de Abastecimento de Água Potável na sede do município, com projeto técnico e alocação de recursos. Foram construídos uma barragem de captação no alto da serra, em frente à

O prefeito, Dr. Regis, em discurso. 1958

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cidade; uma adutora e rede de distribuição e vários chafarizes próximos aos bairros de habitantes de baixa renda.Essa obra veio complementar o combate sistemático ao Schistosoma mansoni, iniciado pelas atividades sanitárias já encetados como médico do Posto médi-co da cidade equipado para este fim. Instalamos uma Usina Termo Elétrica para iluminação da Cidade, à Rua Floriano Peixoto, com dois possantes motores Skoda, vindos da Suécia. Para a realização dessa tarefa, contamos com o apoio da comissão do Vale do São Francisco, através da atenção e providência do Deputado Federal Dr. manoel Novais, da assistência competente e solicita do Eng. Dr. Augusto Cortellazi, que veio a nosso convite para assessorar a instalação dos motores, e dos serviços técnicos do velho mecânico e soldador Sr. muller, alemão que foi soldador de navios na Alemanha no período da guerra na Europa.Construímos, logo em seguida, e próximo à Usina de Beneficiamento de Algo-dão, lavoura ainda insipiente no nosso município, os edifícios que abrigaram a Coelba por algum tempo e, anos depois, as Escolas de Artesanato de Pedras.mantivemos, nos três últimos anos da administração, uma campanha de re-ciclagem dos regentes (professores) municipais sob o comando e orientação de professores habilitados e técnicos no setor. As aulas de reciclagem se constituí-ram numa festa de educação com incentivos e estímulos para continuarem no sagrado ofício de alfabetizar os nossos jovens no interior do município.

REm 1958, quando julgava estar livre de cargos e encargos da vida pública, foi-me dirigida uma nova convocação, desta vez para o Legislativo municipal (Câmara dos Vereadores) e aí foram mais quatro anos de trabalho, mais ame-no, é verdade, e de menores responsabilidades pessoais.

Além dos deveres legislativos costumeiros, tive o privilégio, na qualidade de orador oficial, de prestar a homenagem especial ao Desembargador Dr. Adol-fo Leitão Guerra, que exerceu o cargo de Juiz de Direito da Comarca de Cam-po Formoso e o de ilustre professor do Colégio Augusto Galvão.

R

Não é a grandeza das tarefas que enobrecem a vida de alguém e sim, a dedicação com que se executam essas tarefas.

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Nos idos de 1964, encerrado o mandato legislativo e premido por insistentes convites de amigos e correligionários, em particular do ilustre Deputado Fede-ral Dr. manoel Novais, líder inconteste do São Francisco, recebi a intimação do grande líder nas seguintes palavras: “manoel Regis, exijo sua presença na Câmara Estadual de Deputados da Bahia e preciso de você no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia por quatro anos.”Foi um período que coincidiu com o Golpe militar de 31 de março de 1964, período conturbado com limitações das liberdades públicas, de ações punitivas do regime militar já chefiado pelo mal. Castelo Branco à frente da Presidência da República. Período em que os parlamentares foram tolhidos da apresen-tação de projetos que fizessem trazer despesas ao Poder Executivo, em que muitos foram cassados por, na tribuna ou nos seus atos diários, demonstrarem oposição sistemática ao novo regime instalado.No exercício do mandato legislativo integrei a Comissão de Educação; a Co-missão de Constituição e Justiça; a Comissão que criou a Caixa de Previdên-cia Parlamentar (CPP), primeiro ato destinado a assegurar pensões para os ex-parlamentares e suas famílias; e a Comissão Parlamentar de Inquérito da Loteba (Loteria do Estado da Bahia) para apuração de irregularidades e des-vio de recursos da Loteria do Estado – não me deixou saudade o desempenho desta última incumbência nem os resultados que dela advieram.O regime militar de 1964, se trouxe benefícios ao país, deixou sequelas e limi-tações ao progresso da nação brasileira, pois a liberdade é o maior apanágio de um povo civilizado.

RConcluindo o mandato parlamentar em 1968, cheguei a afirmar que estava vacinado contra os dissabores da vida pública e gozei férias de quatro anos quando, em 1972, fui convocado de maneira sui generis: as correntes polí-ticas locais, incluindo os adversários de ontem, liderados pelo ex-deputado fe-deral e à época Secretário de Educação e Cultura do Estado, Rômulo Galvão, nosso ex-aluno do Colégio Augusto Galvão, lançou-me o convite em termos de intimação para o segundo mandato de prefeito de Campo Formoso. Tentei não aceitar inicialmente, mas o argumento foi de uma candidatura única e, mais uma vez, os encargos públicos tolheram minha liberdade.

Dep. Cunha Regis em discurso.Deputado Estadual (1964-1968) pelo Partido republicano (PR)

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Seguiu-se um período muito árduo e extremamente difícil. O município en-contrava-se com a situação financeira precaríssima, com verbas suspensas e atrasadas por longos meses, com o fundo rodoviário suspenso por quase dois anos, os salários dos funcionários municipais atrasados e defasados, incluindo os dos regentes municipais. O recurso que me restava era olhar para o alto, para Deus, e para o Congresso Nacional.Rendo, com muito respeito e gratidão, minhas homenagens aos velhos amigos parlamentares e ao Tribunal de Contas da União por atenderem de imediato à nossa exposição de motivos face à conjuntura de transição do governo muni-cipal. Com profunda gratidão cito o ministro do TCU, Dr. João Agripino, o ex-deputado estadual, nosso velho amigo e companheiro da Assembleia Legis-lativa e à época 1o Secretário da Câmara Federal, Odulfo Vieira Domingues, e o velho líder e amigo, Dep. Federal Dr. manoel Novais, que em dois meses nos atenderam de maneira solícita em tudo o que clamamos e pleiteamos.Durante cinco meses de vigílias, andanças, amarguras e noites mal-dormidas, conseguimos arrumar a casa: remanejamos funcionários, contivemos despe-sas, controlamos as contas públicas, admitimos um contador hábil, talentoso e incansável funcionário. A partir dos cinco meses iniciais, foram atualizados débitos, parcelados os compromissos com a Previdência Social, muitos anos atrasados, e reajustados os salários dos regentes municipais. Fizemos reaver o Fundo Rodoviário – verba específica do Governo Federal destinada aos serviços relacionados com as rodovias do município –, apresen-tando um novo plano rodoviário do município, um novo mapa rodoviário e uma relação de serviços a serem executados nas rodovias. A partir daí e através de verbas concedidas pelos deputados manoel Novais e Odulfo Domingues, conseguimos iniciar obras inadiáveis, há muito solicitadas pelos municípios envolvidos.Nesse período administrativo foram construídos também o Prédio Escolar de Lage dos Negros, em homenagem ao Dep. Odulfo Domingues, devidamente equipado com mobiliário condigno da “Gerdau”, e outro Prédio Escolar em Delfino e anexo para um Posto médico devidamente equipado. Enfrentamos e vencemos as muitas lutas, porém espero que não existam cargos públicos na eternidade.

até aqui nos ajudou o Senhor

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O prefeito, Dr. Regis, recebendo Prof. Roberto Santos (governador da Bahia de 1975-1979) e comitiva em visita à microrregião de Juazeiro. 1974

Inaugur ação da nova unidade de processamento de minério de cromo da Comisa, com a presença do ministro de Minas e Energia, Shigeaki Ueki. 1977

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Dr. Regis, quando deputado, com o então deputado feder al Antônio Carlos Magalhães e o seu gr ande amigo, deputado estadual Odulfo Domingues, no almoço de recebimento do presidente Cel. Humberto de Alencar Castelo Br anco, no Palácio da Assembleia.

1964

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obras realizadas

Durante o período em que estive na vida pública – prefeito em duas gestões, de 1954 a 1958 e de 1973 a 1977; vereador, de 1959 a 1963; deputado esta-dual, de 1964 a 1968 – foram executadas obras de caráter permanente e que ampliaram o status e o gabarito de Campo Formoso:

Assistência médica e social• : distribuição de medicamentos a doentes carentes; aquisição de ambulância para transporte de doentes e gestantes.

Aquisições • – Pick Up Willys; Betoneira para concretagem.

Barragens de captação de água –• Condado; Brejão da Caatinga; Lagoa Branca; Araras.

Boeiros construídos –• Caldeirão; Raposa; Salgado.

Cemitérios construídos ou reformados• : “Jardim da Saudade”, na sede; Ipamirim; Canavieira; reconstrução em Delfino.

Educação –• Reciclagem periódica das regentes municipais; distribuição de material didático; distribuição de 86 quadros-negros; recuperação dos prédios existentes nos povoados; manutenção das atividades do mobral; manutenção do serviço de merenda escolar; mobiliamento de oito prédios escolares; desapropriação parcial da área do futuro Colégio Polivalente.

Mercados cobertos para feiras livres –• Delfino; Brejão da Caa-tinga.

Poços tubulares –• Recuperação e instalação de motores em Araras, Pausinhos, Bom Jardim, Arcias, Belas, Umburanas e Tiquara.

Ponte sobre o Rio Salitre –• Curral Velho, Abreus e Lagoa Branca.

Dr. Regis inaugur ando uma das muitas obr as realizadas em sua gestão

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Postos Médicos –• Ampliação da sede, restauração da parte construída e equipamento em condições de pleno funcionamento; construção de um Posto médico em Delfino.

Praças na sede –• Construção da Praça Castro Alves com remoção de todos os proprietários (que viviam numa favela, em casas de taipa com focos do barbeiro transmissor da doença de chagas) para casas recém-construídas à Rua Alan Kardec; construção e urbanização da Praça dos minérios (nome dado em homenagem aos pedristas e mineradores da re-gião); urbanização total da Praça Luiz Viana.

Prédios escolares• – Araras; Curral Velho; Várzea Grande; Gameleira do Dida; Upamirim; Alagadico; Barra; Barriguda; Lage dos Negros.

Rodovias –• Serviços de ampliação, terraplanagem e recuperação de ro-dovias do município

Campo Formoso a Umburanas; Campo Formoso a Lage dos Negros; Caraíbas a Salitre; Campo Formoso a Araras; Salitre a Araras; Brejão da Caatinga a São Tomé; Poços a Brejão da Grota e Alagadiço; Brejão da Caatinga a Laje dos Negros.

Serviços de água• : caixa de distribuição e bomba “Refaga” na sede; caixa de distribuição, motor e chafarizes em Brejão da Caatinga, Santo Antônio e Brejo Grande.

Urbanização de ruas• : desapropriação, abertura e urbanização das Ruas Vital Brasil, Alexandrino Galvão, Antônio Padilha, Afrânio Peixo-to, e Otávio mangabeira.

Usinas Termoelétricas• : Umburanas, São Tomé e Lajes.

d

O prefeito de Campo Formoso, Manoel Regis, viajando no

tr ansatlântico Ver a Cruz par a o Rio de Janeiro, em busca de recursos

no Ministério da Educação, junto ao Inspetor Feder al Otoniel Mour a

Combati obom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

ii Timóteo 4 : 7

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Pr aça Castro Alves em construção. 1956

Recuper ação da Pr aça Luiz Viana

Construção da Barr agem do Alazão

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Na mesma data, inaugur ação do Prédio Escolar de Gameleir a do Dida. 1956

Inaugur ação da Usina Termo Elétrica. 1956

Pr aça dos Minérios, construída na gestão do Dr. Regis, em homenagem aos

pedristas e garimpeiros da região. Recentemente restaurada, após 46 anos

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A caixa d’ água e os chafarizes de Santo Antônio (acima, à direita) e de Brejões da Caatinga (abaixo). 1958

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Ponte construída sobre o Rio Salitre em Lagoa Br anca. 1976

Recuper ação da rodovia em Lagoa Br anca. 1974

Ponte construída sobre o Rio Salitre em Curr al Velho. 1976

Sindicato Rur al Patronal de Campo Formoso, construído pelo seu primeiro presidente, Dr. Manoel Nunes da Cunha Regis

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a heráldica de Campo Formoso

Com a maturidade de município, Campo Formoso foi emancipado em 1o de janeiro de 1939, pelo decreto estadual de no 11.089, de 30 de novembro de 1938.

O local era originalmente habitado por indígenas das tribos Sapoiá, Paiaiá e Secaquerinhém (extintos e pertencentes ao grupo Quirirus).

Com a colonização, foi instalada, no século XVII, uma povoação, pertencente à vila de Jacobina, uma das mais antigas do Brasil, sendo elevada, em 1682, a Freguesia de Santo Antônio do Sertão da Jacobina.

Em 28 de julho de 1880 foi elevada a vila, emancipando-se da Vila Nova da Rainha (atual Senhor do Bonfim). A elevação a cidade deu-se com a Lei nº 11.089, efetivada a 1o de janeiro de 1939. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Campo–Fomoso)

No ano de 1908 ocorreu, na capital da República, a grande exposição nacio-nal comemorativa do centenário da abertura dos portos do Brasil ao comércio estrangeiro, fazendo-se representar, naquele evento, de modo condigno, o mu-nicípio de Campo Formoso, que deu um atestado vivo de suas incalculáveis riquezas naturais. Dos 971 prêmios distribuídos ao estado da Bahia, 23 cou-beram a Campo Formoso (dados do IBGE).

Participou ativamente e teve papel de destaque na Guerra de Canudos quan-do seus habitantes se distinguiram como os principais fornecedores de víveres para os combatentes, salientando-se nessa patriótica campanha Aníbal Gal-vão de Oliveira.

Com sua história e seu passado, suas riquezas inestimáveis no âmbito da agricultura, da pecuária e de suas riquezas minerais, como manganês, ouro,

Br asão de armas do município de Campo Formoso

No simbolismo de suas cores e na autenticidade figurativa dos elementos que o integram ex-pressa, em toda a plenitude, o orgulho cívico e religioso desta terra.As listras vermelhas e brancas expressam o sentimento reli-gioso do seu povo.A coroa de prata com suas tor-res simboliza o emblema da ci-dade de autêntica tradição.

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esmeralda, ametista, quartzo etc., Campo Formoso já cobrava em 1954 a presença da Heráldica para definir os seus símbolos, os seus brasões e, acima de tudo, a sua bandeira oficial, o que em 1958 tivemos a satisfação de concre-tizar.

Após consulta aos órgãos técnicos e os fornecimentos de dados relacionados com o município de Campo Formoso, tivemos a satisfação de ver concretiza-dos, em nossa gestão em 1958, a bandeira e os brasões do município.

d

O círculo central com ondu-lações azuis e prateados e por trás as ferramentas (picareta e marreta), os instrumentos que simbolizam a garimpagem das riquezas minerais inesgotáveis do seu subsolo (esmeralda, ame-tista, cristal de rocha e granito).O verde e amarelo em campo branco (cores simbólicas do nosso civismo), representam o agave (sisal), principal vegetal que tem trazido tradição e ri-queza ao município de Campo Formoso.

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o ruralista

Nasci na Fazenda Fortaleza, município de Juazeiro, assistido pelo Dr. Bri-to, obstetra dessa cidade, ouvindo o mugido das vacas e a suavidade da brisa amena e saudável do campo. Admirador incondicional do meio rural e das belezas da natureza, continuei a tradição dos meus ancestrais, bisavô, avô e pai, na arte de lavrar o campo e criar bovinos, cavalares e caprinos, mesmo com o título e a profissão de médi-co, mantendo a arte de criar no campo da Fazenda Quixaba.Com o passar dos anos e tangido pelas alternâncias sazonais, especialmente nas épocas das longas estiagens, fui compelido a adquirir pastagens alternati-vas nas áreas das chuvas de inverno e adquiri a Fazenda Bela Vista e o Sítio Humaitá, próximos à cidade de Campo Formoso.No exercício diuturno de homem do campo e pensando no associativismo ru-ral, com o apoio de vários ruralistas locais, fiz fundar a Associação Rural de Campo Formoso, em 1947, a qual mais tarde se transformou em Sindicato Rural de Campo Formoso – Categoria Patronal. Ocupei a presidência desse sindicato e, juntamente com vários associados e pecuaristas da região, fiz cons-truir um prédio para sua sede, à Rua Vital Brasil, 114. Fiz o registro da entida-de junto à Federação de Agricultores do Estado da Bahia e da Confederação Rural Brasileira, obtendo o seu reconhecimento oficial e recebendo sua Carta Sindical sob o no 127.851, em 1966, emitida pelo ministério do Trabalho.O convívio com os ruralistas e a vivência com o campo alegre e inspirador fez-me sentir as carências e o pauperismo do meio rural. Providenciei a instalação de um gabinete médico e de um Gabinete Odontológico para, através do sindi-cato, promover a assistência devida aos ruralistas carentes do município.

Dr. Regis descascando cana na Fazenda Bela Vista. 1950

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Entrando na era da informática, o sindicato adquiriu um computador devida-mente, um televisor e uma antena parabólica, através da Federação de Agri-cultura do estado da Bahia, para atender aos serviços internos e burocráticos.Com o complemento de vida como ruralista ao lado do exercício sagrado da profissão de médico, desde os idos de 1945, tive uma vida muito feliz e aí estão definidos os segredos da terceira idade e da longevidade abençoada.Almejo que as atividades agropastorais se perpetuem mesmo enfrentando as inclemências da natureza, em particular secas do Nordeste. A luta é grande, mas o campo é fértil, é lindo e inspirador.

d

[...o reino de deus] É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta; cresceu, e fez-se árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.

lucas 13 : 19

Dr. Regis ajudando Antônio Pedro (Totó) a fazer r apadur a. 1992

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Dr. Regis acariciando “Seu Bila”. 1988

Acima, “Seu Bila” sendo alimentado por Dídia (Didi).

Ao lado, Dr. Regis, feliz com a construção do reservatório de água, com torre e catavento, na Fazenda Bela Vista

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Alzinete, Cecília, Tierry, Analuce, Nina, Isete, Dina e Reinilde

Feliz encontro de 18 primos na Fazenda Quixaba. Na foto, Alzinete, Didi e Dr. Regis

Em animada conversa,Cecília, Thierry, Isete, Dina, Reinilde e Tomáz

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Dr. Regis com familiares e amigos sob as videir as na Fazenda Moca (de Thierry e Cecília). 1998

Thierry, Cecília, Saulinho, Didi, Zazá e Dr. Regis, na Fazenda Moka. 1995

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Didi, Leni (prima), N air, Leoni , Dr. Regis e Sandr a em fente à casa gr ande da Fazenda Bela Vista

Flagr antes da harmonia e união com a natureza vivida na Fazenda Bela Vista pelas primas/irmãs, Didi e Nair

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Manoel Nunes de amorim (o Né amorim)

O primo, o amigo fraternal, o companheiro de lutas, o administrador ini-gualável, o líder político do Vale do São Francisco, o cabo eleitoral precioso que, com o seu valor inconteste, fez somar à nossa candidatura a Deputado à Assembleia Legislativa do Estado os votos preciosos assegurados pelo seu prestígio político.

Ano após ano, no dia 8 de outubro (minha data natalícia), o primeiro presente que me chegava às mãos, era a presença gostosa e indefectível do nosso Né Amorim.

Na Fazenda Sobrado, no município de Juazeiro, condomínio de Né Amorim e de minha querida sogra (maranta), todos os anos, era desfrutado o lazer aconchegante dos feriados de fim de ano.

Cantar e avaliar as bênçãos de Deus que nos foram outorgadas, a presença de Né Amorim era a maior benesse divina nesse capítulo inspirador.

As tarefas que preencheram o nosso lazer eram as colheitas de frutos na Fa-zenda Sobrado – coco e banana – cujo significado maior era a recreação de um profissional em férias.

As noites eram alegres e festivas e, no aconchego do lar e da família, era o momento de regozijo espiritual quando se seguiam as anedotas, os casos mais recentes, o falar da vida alheia, no bom sentido, e o passatempo do baralho.

A presença amiga e inspiradora de Né Amorim nos fazia lembrar o texto bí-blico de Provérbios 18:24:

“O homem que tem muitos amigos sai perdendo, mas há amigo mais chegado do que um irmão.”

em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão.

provérbios 17 : 17

Companheiros de vida, suporte precioso par a sempre no

cor ação de Dr. Regis e família: os queridos amigos,

Amélia, Abr ão e Alberto Ferreir a da Silva

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Esse versículo ocupa em toda plenitude a personalidade de nosso Né Amorim.

Ele era primo, mas a afinidade era a de um autêntico irmão.

Este relato que faço com emoção e muita saudade em “Relato de uma Vida” diz, em alto e bom som, o que foi em Vida e em memória, para todos nós, a per-sonalidade do primo/irmão manoel Nunes Amorim (o nosso Né Amorim).

Ele foi levado por Deus para sua glória, nos deixando uma grande lacuna e muitas saudades.

d

Sentados, Nidu, Nozinho, Durval, Mar ante, Dr. Regis e Nair. Em pé, Didi, Dina, Alzir a, Edelvir a, Edgar, Sílvia, Aline e o querido Né Amorim, homenageado neste capítulo

...mas há amigo mais chegado do que um ir-mão.

provérbios 18 : 24

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o Jubileu de ouro

A comemoração do Jubileu de Ouro dos médicos de 1945, pela Faculdade de medicina da Bahia, teve um significado profundo e emocionante, pois os eventos se sucederam durante vários dias e locais, iniciando pelo encontro dos colegas no Sofitel Quatro Rodas, em Salvador, onde as alegrias do reencontro marcaram alto significado e ao final o denominamos como A Festa das Emoções.

As reuniões de caráter social e espiritual nas Igrejas, nos clubes sociais e nos restaurantes, completaram as alegrias do reencontro da turma.

As festividades foram coroadas com o êxito maior durante a entrega dos Di-plomas de mérito ético Profissional a todos os médicos presentes, pela Facul-dade de medicina da Bahia, na vetusta, saudosa e tradicional Escola do Ter-reiro de Jesus e, completando a solenidade, a entrega dos diplomas de Jubileu pela Associação dos Antigos Alunos da Velha Escola.

A festa não foi apenas na Escola, pois os médicos de 1945 se reuniram na Igre-ja da Vitória onde há 50 anos estivemos juntos durante os atos de formatura.

Ao escrever a singela história para “Relato de uma Vida”, não poderia deixar de lembrar o encontro festivo de nosso Jubileu de Ouro em Campo Formo-so, quando, em um evento inesquecível, tivemos a satisfação de congregar, na Igreja Presbiteriana local e no Colégio Augusto Galvão. Lá estavam os meus familiares, amigos, ex-alunos de magistério, a família Regis trazendo seu aconchego, solidariedade e a alegria festiva do inesquecível encontro.

O Rev. Adalto mathias magalhães, orador oficial do evento, médico e pastor evangélico, os Revs. Enock Sena Souza, Iraildo Oliveira Gomes, Loula Dou-rado, Itamar Alves de Araújo e Edmundo Isidoro dos Santos, assomaram o

Serenidade.Dr. Regis no Jubileu de Ouro dos

Médicos de 1945.50 anos de dedicação e amor pela

profissão que abr açou.

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púlpito e nele se revezaram em prédicas, mensagens e orações onde sentimos as alegrias e as emoções da festividade que denominamos como A Festa do Coração.

Recebemos manifestações de apreço e carinho durante o evento religioso que se seguiu de uma recepção ao ar livre no campus do Colégio Augusto Galvão.

A festa do Jubileu foi a coroação de uma vida de muito trabalho realizado no exercício da profissão de médico, no âmbito do serviço público, na área educacional e nos limites da vida social. Por tudo que aconteceu, pelas vitórias alcançadas e pelas bênçãos de Deus, a Ele toda a Glória, toda a Honra e todo o Louvor.

À deus toda a Glória, toda a Honra e todo o louvor.

Presentes na solenidade de entrega do diploma Mérito Ético-Profissional aos médicos de 1945: Marcos, Carlos Augusto, Marilucia, Edna, Saulo, Isete Didi, Lar a, Reinilde, Carlos (Nem), Dr. Regis, Celio, Cecília, Ana, Enoch. 1995

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Parte II R elato de um a vida

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Na foto menor, Dr. Regis recebe o diploma Mérito Ético-Profissional. Na maior, ele posa ao lado do quadro de formatur a dos médicos de 1945 – único quadro de formatur a existente na Faculdade de Medicina da Bahia.

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Professor Eduardo Mor aiscatedrático de Otorrinolaringologia

da Faculdade de Medicina da Bahia.Palavr as de Dr. Regis no discurso

proferido no seu sepultamento:

Homem de cultura manifesta nas imponentes radiações do saber, na colaboração

científica junto aos centros profissionais e na capacidade de impor junto aos certames

especializados , onde modesto, qualidade dos gênios , arguia e ao mesmo tempo ensinava como cultor apaixonado da

otorrinolaringologia; profissional abalizado, probo e modesto.

Dr. Adriano PondéPar aninfo dos médicos em 12.12.1945,

pela Faculdade de Medicina da Bahia.Palavr as de Dr. Regis no discurso ao

par aninfo:

Esperançados pelo brilho verdoengo das esmeraldas e amparados pela posse de um

diploma, muito nos honra nesta hora o vosso paraninfado, pois que a nossa preferência foi a

livre decisão de uma escolha espontânea.[.. .] é justo salientar o relevo dignificante com que vossa vida de mestre e paraninfo ilustra

e enobrece pelo valor pessoal e científico o quadro da nossa formatura .

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Parte II R elato de um a vida

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Dr. Regis entre familiares e amigos no Culto de Ação de Gr aças

Sermão do Rev. Adauto (também médico) no Culto em Ação de Gr aças no Jubileu de Ouro em Campo Formoso. 1995

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Dr. Regis com a família na festa que lhe foi dedicada pela passagem dos seus 50 anos de Medicina. Campo Formoso, 1995

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Parte II R elato de um a vida

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ao Médico

por certo, nem te lembras, (tão criançaeras naquele tempo...) e, no entanto,Um homem, quanta vez , mudou o prantode seus pais em sorriso de bonança!

por certo, nem te lembras (já te cansaa memória, talvez...) um dia, entanto,esse homem terá sido mais que um santo,Salvando o filho teu – tua esperança!

o bem que se recebe a gente esquece...Somente a dor jamais será esquecida:Enfim, quem a curou... desaparece!...

Mas, se este poema, acaso, te enternece,ama teu médico, através da vida!lembra-te dele, ao menos, numa prece!

poema de Álvaro albuquerque De Nair e Didi

ao nosso querido médicono seu grande dia

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depoimentosde parentes e amigose outras homenagens

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Parte III Depoimentos dos familiar es

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dr. Regis

Uma das características mais marcantes da personalidade de Dr. Regis sempre foi sua atenção para com as causas sociais em detrimento dos interesses pessoais.

Em todos os campos de atuação – quer como médico, educador, religioso, quer como político – buscou, acima de tudo, priorizar o bem comum. Os interesses pessoais acabaram relegados a segundo plano ou simplesmente esquecidos.

Durante mais de sessenta anos de trabalho árduo, sem férias, labutando mais de doze horas por dia (às vezes também à noite e nos fins-de-semana), Dr. Regis nunca fez um patrimônio que lhe permitisse ter hoje uma folga financeira. Também não sei se iria ajudar, pois ele não tinha tempo para usufruir.

Assim, somente aos oitenta e cinco anos, ele tirou férias pela primeira vez. Passou quinze dias na praia de Jauá. Achei que ficaria desnorteado com tanto espaço livre, caminhando no anonimato, com os pés no chão e brigando com D. Dina para lavar os pratos. A necessidade de voltar para Campo Formoso, para o casamento de uma amiga, trouxe-o de volta ao mundo real. Afinal os deveres eram sempre mais impor-tantes que o seu lazer.

Algumas vezes, ele ia descansar na fazenda e examinava mais gente do que nos dias de trabalho, no con-sultório. É que não havia médicos na região e as pessoas, ao saberem da presença de Dr. Regis, faziam caravanas para consultas. Ele, na sua vez, atendia a todos e ainda encontrava tempo para uma conversa na varanda, ao entardecer.

Por diversas vezes Dr. Regis ficava com o coração apertado, quando tinha a vida de um familiar querido em suas mãos. O médico necessita de clareza de raciocínio e firmeza nas mãos para bem desempenhar o seu mister. E, para isso, não pode estar emocionalmente envolvido com o cliente. Mas Dr. Regis não tinha escolha sendo o único médico da região e membro de uma família tão numerosa, fatalmente tinha que cuidar da saúde e vida dos seus.

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O que o manteve sadio nessa longa jornada foi a sua fé em Deus, com a prática da oração, e os momentos de meditação, ao som de Chopin, Schubert, Haendel, Mozart, Dvorak, Paganini, Beethoven, Bach, Sibe-lius, Tchaikovsky, Vivaldi e muitos outros compositores. São eles que até hoje elevam o espírito de Dr. Regis a um patamar superior e o fazem sublimar as dificuldades (ou os percalços) do dia-a-dia.

Dinael Regis*

* Sobrinho de Dr. Regis, filho de sua irmã, Enedina.

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Parte III Depoimentos dos familiar es

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Numa história, uma mensagem para sempre

Desde muito cedo Tio Neco passou a fazer parte da minha vida, pois vim ao mundo em suas mãos habi-lidosas. Um ano e meio depois, o meu irmão Paulo foi, então, o privilegiado.

Com alguns meses de idade, menino querido e cuidado pela mãe, que me embrulhava de tal maneira, permitindo apenas os olhos e o nariz de fora para proteger-me dos males do mundo, coisas comuns a uma mãe que queria preservar o seu tesouro, assustei minha família com alguns problemas na pele. Chamado, Tio Neco disse entender tamanho amor e zelo, mas recomendou à minha protetora e guardiã, por acaso sua irmã Jane, que me tirasse toda aquela armadura, me colocasse no chão e me desse rapadura e feijão, o que naturalmente a deixou em pânico. Mesmo relutante, minha mãe seguiu suas orientações e curei-me, então, de tudo e tive vida sadia e normal.

Claro que esses fatos foram relatados a mim por meus pais, pois seria um menino muito precoce se lem-brasse de todos esses detalhes com tão pouca idade, mas tenho registros em minha mente do que chamo de “uma grande saudade na minha vida”: o meu tempo de férias na Fazenda Quixaba, de meus avôs, e em Campo Formoso, cidade onde nasci.

Nas férias de fim de ano letivo, no mês de janeiro, ansiosos programávamos nossa viagem familiar, in-cluindo tios e primos, quando fazíamos uma verdadeira maratona, saindo de Salvador às 4 horas da ma-nhã para tentar passar em Campo Formoso, distante 430 km, ainda com luz do dia, e chegar depois à Quixaba, por volta da meia-noite, após percorrer mais 90 km. Em Campo Formoso, Tio Neco, mesmo envolvido com o seu trabalho de médico da cidade, ou político comprometido com a sua comunidade, ou com o Colégio onde era professor e um de seus fundadores, ou com a Igreja onde era presbítero (só isto?), tinha sempre um tempo para nos receber, conversar, atualizar os assuntos e orientar sobre a estrada e a fazenda. Deixava então a promessa de passar uns dias conosco por lá.

Quando estávamos na Quixaba, vivendo aquele clima mágico da caatinga, o cheiro incomparável da terra, do mato, do gado, das cabras e das pessoas do lugar, do candeeiro a querosene e a sua luz que tremu-

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lava no silêncio da noite, quando só se ouvia o mugir do gado e o canto das aves “espanta boiada”, as noites de brisa fresca e de céu completamente estrelado e com sua Via Láctea que o cruzava por inteiro, como nunca vi igual, aguardávamos com ansiedade sua chegada. De repente, víamos no horizonte uma enorme nuvem de poeira, que pela rapidez com que se deslocava no meio da caatinga, só podia ser Tio Neco com sua rural Willys 4x4. Do jeito que vinha na estrada, passava em frente a casa, freava o carro e a poeira que o acompanhava cobria tudo. Saltava feliz, conversando e já providenciando alguma coisa, como se estivesse iniciando o seu dia. Ao lado, ou diria, um pouco atrás, vinha Didi, sua fiel acompanhante de todos os momentos e eventos. Ainda meio atordoada com a velocidade com que as coisas aconteciam, mantinha a postura e não perdia a classe, apesar de o branco das vestes da enfermeira e dos seus cabelos não terem resistido à poeira, que os envolvera completamente.

Aliás, me esqueci que entre as ocupações de Tio Neco deve-se incluir a de piloto de rally dos sertões. Era tamanha sua habilidade por aquelas estradas de barro estreitas e sinuosas que deixava atônitos os que com ele se encorajavam a aceitar carona. Depois de viajarem agarrados como podiam, saltavam tontos, enjoados e mudos, até se recuperarem completamente. Fitávamos aquele homem atarefado e rápido que chegava, mas já disposto e transmitindo alegria. Curiosos, perguntávamos sobre sua viagem. Ele então nos respondia que havia atrasado um pouco, pois passara pelos Poços e tinha atendido um menino com problema no estômago, passara pelas Panelas e atendera um senhor doente, passara pelo Caititu e aten-dera uma garota ferida, passara pelo Olho D’água e fizera um parto, etc. E este era sempre o seu percurso e a sua rotina. Mesmo no seu período de descanso, dedicava um tempo para servir.

Era impressionante como Tio Neco se envolvia e dava conta de tanta coisa. E me chamava a atenção como ele participava, vibrava, ria e se divertia com tudo, vivenciando cada situação:

da corrida de jegue quando nós, os seus sobrinhos, transformávamos em nossas montarias de lazer e competição os jumentos Chevrolet, Charuto, Bom Jardim, Estrelinha, Azulão, com suas cangalhas de madeira, que serviam para transportar barris de água e abastecer a casa sob o comando de Pedrão, que trabalhava o dia inteiro assobiando;

Das caçadas com meu pai Enoch, seu cunhado, no Joaquim Doutor, um lugar paradisíaco e com varie-dade e fartura enorme de animais silvestres, quando levavam farofa, rapadura, biscoitos, café e muita conversa. Acho até que esses eram os verdadeiros motivos desses momentos, pois de caça mesmo não vinha quase nada;

Dos cultos que promoviam aos domingos, quando lá compareciam Abrão e Constância, Antônio Pedro e Nenen, Zé Brás, Zé Berto e Adelaide, Zé Lourenço, Florêncio e Maria, Zé Pequeno e Alice, Pedrão e Zefa, o Cágado e sua Maria, Ardolino e Edite e tantas outras famílias da redondeza, com suas roupas

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domingueiras bem simples, mas muito brancas, limpinhas e cheirando a goma, que traziam seus filhos e participavam com muita atenção e interesse, cantando os hinos e repetindo os salmos da Bíblia;

Das pescarias com Tio Thierry, seu cunhado, no Rio Salitre, nas quais os vaqueiros e funcionários aju-davam, convocados para puxar a rede (um dia, nos Banguês, Abrão, seu vaqueiro, que participava nu da pescaria, descobriu que ali havia piranhas quando o dedo de um seu colega foi mordido. Agilmente pulou fora d’água, vestiu as calças e, aliviado, voltou ao rio, agradecido por ter tido tanta sorte);

Dos banhos de rio no Curral Velho, Mocó, Canudos, Ladeira Grande ou Passaginha todo fim de tarde, que Tio João, seu irmão, comandava e do qual voltávamos engasgados com o pó da estrada, mas revigo-rados e de pelo menos a alma lavada, pois o corpo estava novamente empoeirado;

Das embaixadas para catar os melhores umbus do mundo, lideradas por minha mãe Jane e tia Cila, suas irmãs, e tia Isete, sua cunhada, nos Umbuzeiro do Zé Berto, Umbuzeiro Moscatel, Umbuzeiro do João, Umbuzeiro do Seu Rosa etc.

À noite, Tio Neco, acostumado a dormir cedo – e depois de se deliciar com o que chamávamos de um “jantarzinho leve” que nossa avó Joaninha fazia como ninguém, no fogão a lenha, no qual incluídos esta-vam cuzcuz, ovos de quintal, ensopadinho de bode, caças assadas, coalhada, beijus, pães, bolos, biscoitos diversos, queijos, umbuzadas, doces etc., etc., etc. –, se recolhia, enquanto seus cunhados e irmãos se pre-paravam para jogar baralho, como diversão, é claro. Durante o jogo, chupavam bacias de umbus, que pro-vocavam terríveis fermentações e um acirrado tiroteio. Mas, homem educado e respeitador que Tio Neco também era, dormia como um anjo, ou fingia que sim. No outro dia, fazia de conta nada ter percebido.

Sempre preocupado com a saúde das pessoas e bem estar dos seus familiares, percebeu que seu pai, nosso avô Rosalvo, andava se machucando ao cavalgar a sua mula grande, pois, já mais idoso e com uma certa dificuldade visual, se arranhava muito no mato a ponto de sangrar os braços. Reunidos, os filhos resolve-ram proibi-lo de montar, o que com certa relutância foi aparentemente aceito. Meu avô, homem dinâmico e inquieto, que certamente lhe transmitiu as características, não estava muito satisfeito com a decisão. Enquanto Nequinho, como era chamado pelos familiares, estava por perto, fazia-se de muito obediente. Como os filhos não permitiam mais que aprontassem a sua montaria, deixava que Nequinho, filho mais velho, viajasse e, ansioso, esperava que pessoas viessem a seu depósito comprar farinha e rapaduras, aliás, deliciosas, feitas nos seus próprios engenhos, do Canudos ou do Mocó. Sem que o vissem, furtivamente montava os cavalos dos visitantes e fugia e, após vistoriar a fazenda como costumava dizer, novamente voltava ferido e com as roupas rasgadas, mas realizado por ter cumprido a tarefa, o que deixava as me-ninas, como chamava as filhas, muito chateadas por tamanha falta de respeito às suas ordens e normas estabelecidas.

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Mas Tio Neco era um indivíduo normal, capaz das diversas emoções e sentimentos e me recordo de uma das poucas vezes que o vi enfurecido: um touro seu de raça pura e muito valioso, tinha agredido um be-zerro, filho de uma de suas vacas de estimação. Aliás, como criava e tratava quase todas. Revoltado com tamanha covardia, tratou imediatamente de desfazer-se do animal.

Tempos mais tarde, Tio Neco, entusiasmado com uma terra que tinha comprado num lugar chamado Capivara, convidou meu pai, meu primo Saulo e a mim, na época com meus vinte e poucos anos, para fazermos um passeio ao lugar. Chegando lá, deixamos o carro e tivemos que descer uma encosta íngre-me que dava acesso a um vale lindo, que mais parecia um paraíso perdido, com um pequeno riacho que corria lá embaixo. Ao chegarmos ao rio, cansados e com um calor enorme, aquela água fresca e cristalina era uma tentação. Mas não tínhamos ido preparados para o banho e olhávamos uns para os outros es-perando a iniciativa de alguém, quando Tio Neco, com toda naturalidade e alma de um menino livre, imediatamente tirou as roupas e, pelado como veio ao mundo, mergulhou, gesto que repetimos imedia-tamente, refrescados e sorridentes. E, ao subirmos a encosta de volta, percebi que Tio Neco, o homem que não parava, finalmente reclamou de muito cansaço. Ficou mais claro, então, para mim, como ele era especial, pois mostrou que não era sobrenatural.

Nas férias de junho, eu viajava com meu irmão Paulo para Campo Formoso e nos hospedávamos na casa de Tio Rosalvo e Tia Lígia, respectivamente seu irmão e cunhada, pois seus filhos Paulo e Rosalvinho, (percebam que Rosalvo era um nome muito apreciado na época), eram da nossa idade e nossos primos e companheiros.

Nesse período, eram frequentes nossas visitas à casa de Tio Neco, mas íamos sempre em horários estraté-gicos, pois a comida de Tia Maranta, sua tia, e de Tia Nair, sua esposa, era deliciosa. Foi quando descobri que Tio Neco tinha um lado extravagante: os seus cachorros eram sempre os maiores que conhecíamos e ficávamos do lado de fora do muro gritando para que alguém prendesse Veludo I, Veludo II, Guarani e outros, os seus monstrinhos de estimação. Mas a parte de dentro da casa revelava o seu lado sensível e afetuoso: o seu sofá estava sempre ocupado por Seu Bila, Peri, Bolinha, etc., seus cãezinhos mascotes aos quais ele, quando chegávamos, pedia gentilmente que nos cedessem o lugar. Desciam rosnando em protesto, mas obedientes à ordem do chefe.

E graças a todo esse seu amor pelos animais, Tio Neco se divertiu muito quando um dia meu sobrinho Lucas, filho de meu irmão Paulo, na inocência dos seus cinco anos, ao entrar na sua residência exclamou: “Êta casa que fede a cachorro!’’.

E falando em amor à natureza, me recordo que meu pai conta que, quando viajavam juntos, paravam o carro em plena caatinga à noite e sentavam numa pedra grande à beira da estrada para chupar cana e admirar uma linda lua cheia.

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Parte III Depoimentos dos familiar es

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Em uma das nossas idas a Campo Formoso, Tio Neco pediu a meu irmão que comprasse para ele em Salvador uma caminhonete usada. Me perguntei porque Tio Neco, médico, prefeito, um homem rico, não comprava um carro novo. Na verdade, dinheiro nunca fora sua prioridade e a sua riqueza não estava na quantia que poderia ganhar, mas nas vidas que poderia ajudar. E as suas consultas, quando cobradas, tinham um valor apenas simbólico, que nunca foi, aliás, condição para os seus atendimentos. E a gratidão e alegria de Tio Neco quando chegou sua caminhonete encomendada. Uma Ford F-100, branquinha. Uma verdadeira criança feliz com o seu brinquedão, o melhor carro do mundo, e ainda dizia ele: “Tenho mais do que mereço”.

Mas sei que Tio Neco é também exemplo de superação. No percurso de sua vida, teve perdas significati-vas, quando alguns familiares seus deixaram este mundo precocemente. Apesar das suas dores, nunca o vi perder o estímulo com o caminho a percorrer. Com tamanha fé que lhe é peculiar, sabe que cada um de nós tem uma tarefa e um tempo a cumprir e que um dia de alguma maneira nos encontraremos de uma forma especial.

Assim, Tio Neco é para mim uma fonte de assuntos e recordações. Um homem possuidor de muitas emoções e sentimentos nobres. Capaz de viver intensamente cada instante e servir sem medida, abrindo mão de possibilidades pessoais e do que é externo e supérf luo. Por tudo isso, conquistou muitos amigos, adquiriu o respeito dos parentes e familiares e é estimado como pai por tantos que o rodeiam.

Deixo minha admiração a um espírito superior, com orgulho e gratidão por Tio Neco pertencer à minha história e por me recordar de tantos momentos e exemplos que contribuem definitivamente para a minha evolução espiritual.

E se acreditamos que estamos nesta vida, de passagem para sermos testados, observados e avaliados, para então alcançarmos um próximo patamar, tenho a certeza de que Tio Neco já tem pelo menos a maior parte do seu caminho percorrido, no qual marcou território e imprimiu, de maneira exemplar, sua men-sagem, garantindo um lugar bem confortável, lá, juntinho ao Criador.

Enoch Sousa Junior*

* Sobrinho de Dr. Regis, filho de sua irmã, Jane.

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Manoel Nunes da Cunha Regis – Uma vida em pinceladas

Falar de MANOEL NUNES DA CUNHA R EGIS é muito gratificante para mim, que tive com ele uma longa experiência de vida. Tentarei mostrar alguns aspectos de sua personalidade por meio dos nomes com que era chamado em cada situação.

NECO... NEQUINHO

É o parente, o irmão, o amigo. Patriarca da família, não por imposição, mas pelas circunstâncias da vida, pelo espírito de liderança que possui, pelo respeito e pela amizade que todos lhe dedicamos. Nequinho é o “irmão mais velho”, o sábio conselheiro, o “paizão” a quem recorremos em quaisquer circunstâncias, pois ele está sempre pronto a nos ouvir e socorrer, com a sabedoria da sua vida simples, mas rica de ensi-namentos, de solidariedade e de disponibilidade para servir.

PROFESSOR MANOEL R EGIS

Tenho a alegria de ter sido seu aluno nos primeiros anos de minha vida “ginasial” e ele, apesar de ainda es-tudante de Medicina, era um professor estimado, pela clareza com que nos transmitia seus ensinamentos de História, Desenho e Português. Suas aulas eram atraentes e sempre ilustradas, com atividades, como debates, torneios e outras. Guardo na lembrança o prêmio que dele recebi por ter sido vencedor de um concurso de “análise lógica” – um delicioso livro “Páginas Floridas”, de Silveira Bueno. Por certo, resta o depoimento de muitos que hão de testemunhar a sua dedicação ao Colégio Augusto Galvão, que ele ajudou a fundar, e ao qual dedicou o melhor de sua vida e de sua experiência de mestre polivalente e de administrador competente e sensato.

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DEPUTADO E PR EFEITO CUNHA R EGIS

Creio que a política recebeu muito mais de Cunha Regis do que Cunha Regis recebeu da política. Sabe-mos, entretanto, que, no cumprimento do “múnus” político, foi sempre honesto, honrado e querido pelos seus pares e por todos os que, prazerosamente, lhe deram o voto. Por certo usou a atividade para servir a muitos, desinteressadamente.

Recordo a sua reação de sentimento e desgosto, quando, certa vez, e creio que em muitas outras, teve que votar em matéria que não era muito do seu agrado, para obedecer à disciplina partidária. Acho mesmo que fatos como esse contribuíram para que abandonasse a militância política.

O MÉDICO DR. R EGIS

Ao que consta, ele queria estudar Engenharia, mas Deus o chamou para uma carreira gloriosa, pelo gran-dioso serviço que prestou.

Podemos citar alguns episódios de sua vida de médico competente, estudioso, dedicado e incansável.

O povo de Ponte Nova, ao tempo em que ali trabalhou nunca o esqueceu. Naquela localidade, morria muita gente, cuja doença era diagnosticada como doença hepática, barriga d’água, etc.

Quando se deparou com esse quadro, Dr. Regis mandou examinar a água que o povo bebia e onde se ba-nhava, descobrindo que ela era responsável por muitas mortes causadas pela “esquistossomose”, levando a cura para dezenas de pessoas vitimadas pela terrível enfermidade.

Testemunhei, em várias oportunidades, a competência e a seriedade com que encarava a sua abençoada profissão.

Certa vez, uma sua parenta, foi acometida de uma doença, que os médicos procurados não conseguiam diagnosticar, a despeito dos vários exames a que foi submetida. Quando estavam prestes a fazer-lhe uma punção na medula, Dr. Regis chegou do interior e, ao examiná-la, descobriu que estava com “caxumba”, ou papeira. Medicou-a e, prontamente, ficou curada.

D’outra feita, o saudoso amigo João Gomes, zelador do Colégio 2 de Julho, sentia fortes dores na região lombar, que quase o impossibilitavam de andar. Submeteu-se a tratamentos e usou várias medicações, sem resultado, e repetia com frequência: “Se Dr. Regis me medicasse eu sei que ficaria curado”. Dr. Regis chegou e o levei a examinar o João Gomes. Com uma simples medicação, cessaram-lhe todas as dores.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Certo dia, estávamos na Quixaba e o Dr. Regis me convidou a irmos a Juazeiro, onde tinha alguns assun-tos a resolver. Ao nos aproximarmos da “Fazenda Sobrado”, um senhor nos atalhou na entrada e pediu que o doutor fosse ver sua mulher, que há cerca de dois dias sentia dores de parto, mas não tinha conse-guido que nascesse a criança. Dr. Regis prometeu que na volta passaria na sua casa. Cumpriu com os seus compromissos, voltamos e, por toda a estrada, notei a sua preocupação, pois, de vez em quando, repetia em voz alta, os recursos e as manobras que poderia utilizar para que o parto fosse bem sucedido. Quando chegamos à casa da parturiente eu estava um pouco indisposto e com frio. O dono da casa abriu outra casa vizinha, acendeu um fogo confortante e armou uma rede para que eu ficasse, enquanto Dr. Regis estivesse realizando o parto. Mal peguei no sono, quando ouvi a sua voz nos convidando a voltar. Assus-tado, perguntei como tinha sido resolvido o problema, ao que ele respondeu: “Foi tudo bem e tanto a mãe quanto a criança já estão tranquilos em seus leitos.”

Dr. Regis realizou, com absoluto sucesso, inúmeros partos, sem nunca perder um, fez várias cirurgias de catarata, com absoluto sucesso e, até parto “cesariano” realizou sozinho. Tratou ricos e pobres, curou e aliviou muitas dores, e a todos que procuravam o grande médico sempre atendeu a qualquer hora, inde-pendentemente de qualquer condição ou circunstância.

PR ESBÍTERO MANOEL R EGIS

Membro destacado da Igreja Presbiteriana de Campo Formoso, o Presbítero Manoel Regis sempre cola-borou com os trabalhos da igreja, liderando alguns dos seus departamentos e representando-a nos vários concílios da organização presbiteriana, nos quais várias vezes o encontrei e tive o prazer de trabalhar junto com ele.

Neco... Nequinho, família, parentes e amigos; Prof. Manoel Regis, o mestre amigo e insigne; deputado e prefeito Cunha Regis, o político honesto e de caráter ilibado; Dr. Regis, o médico incansável e serviçal: damos graças ao Pai, que realizou em sua vida o que prometeu ao velho e confiante patriarca Abraão – “...E tu serás uma bênção”

Enoch Senna Souza*

* Reverendo presbiteriano, cunhado de Dr. Regis.

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Parte III Depoimentos dos amigos

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dr. Regis:

“Meu fiinhin qué pã...?

Dotô Ré dá...!”

(Do lendário Salu)

Ainda passeia na memória do seu fã, aquele acidente, lá pelos anos sessenta, em que, com Rural e tudo, o Senhor adentrou o jardim, lá pelas proximidades da casa do Clóvis Saback. Além do Poder Público Mu-nicipal, eu também sofri um dano: uma bola de plástico adquirida na loja do Nezinho Gordo, na Praça Nova, não resistiu aos pneus do utilitário. Literalmente, Dr. Regis jogou areia em meu brinquedo!. Não tivesse alcançada pela prescrição, seria o palco perfeito para pretensão a justa indenização.

A memória, aqui, acolá nos põe fora da realidade imediata, trazendo-nos, novamente, o riso leve e solto daquelas livres tardes. O Dr. Regis – em diversas oportunidades – significava um “calo em meu sapato”. Primeiro, quando passava aquela Rural chata sobre a bola. Depois, quando tratava de uma paciente cha-mada Julieta Guimarães (lembra?).

Julieta chorava, chorava...! Na minha inocência infantil eu queria uma resposta bem objetiva acerca dos males que a conduziam às lágrimas. Julieta negava, desconversava, tentava mascarar os problemas gine-cológicos (imagino eu) da época, e, ante a insistência que manifestava pela revelação, dizia: Somente eu, Deus e Dr. Regis sabemos, meu filho...!

De Deus, sabia eu, a resposta, naqueles termos, seria um pouco difícil... passava eu a questionar: “O QUE É QUE ESSE DR. R EGIS TEM QUE PODE SABER DE TUDO E EU NãO POSSO????”

RDurante anos, cresci com a convicção – a cada vez mais consubstanciada – de uma imagem de muito po-der e muita força concentrados no Dr. Regis. Forte fisicamente, com uma certa idade (não precisa revelar...)

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e, ao que se vê, firme, jovial; forte politicamente, a trajetória pautada em avanços, conquistas diversas para a nossa campo Formoso; (a frase acima, imortalizada pelo Salu, virou um símbolo da confiança do eleitor na pronta providência do seu dirigente ); forte moralmente, a fonte de referências elogiosas ao seu caráter firme, decidido, quer nos palcos da vida pública, quer nas sombras do descanso da vida no lar, tem-se pautado pelos clarins da dignidade; forte espiritualmente, haja vista o seu perfil de questionador, diligente, antenado com as novidades, com a boa leitura, mas, sobretudo, FORTE EM CRISTO. Reside ai, sem qualquer dúvida, a nota de maior relevo na sua vida.

RLá pelas tantas, no Colégio Augusto Galvão, somava conosco, numa turma de alunos, um irmão de Dr. Mendes, da Cisafra. Por costume, sempre que um professor aniversariava, os alunos se cotizavam para presenteá-lo com pequena lembrança.

Francisco, o tal colega, vivia dizendo, com ares de pernanbucano machista: A professor macho eu não dou colaboração para presente!

Chegado o outubro, uma listinha começou a circular no Colégio. Para nossa enorme surpresa, era enca-beçada pelo.... Francisco. Destinava-se a angariar os fundos para a compra do presente de Dr. Regis.

Indagado acerca da decisão repentina de, contrariando a tendência fartamente manifestada, ferindo de morte seus princípios, dar apoio à lista que agraciaria um... macho... Francisco não perdeu o tom: Não, minha gente, Dr. Regis é um macho que merece...!

Pois bem, Dr. Regis. Eis-me aqui a tentar reunir estas letrinhas que mando ao Senhor. Rogo aos Céus que espelhem o verdadeiro espírito com que as anoto. Padeço sempre desta irrecuperável moléstia, que é a saudade.

Por tanto PODER que as imagens infantis não conseguiram apagar, por tanta ternura a nós dedicada na festa do Colégio, por tanta solidariedade manifestada na ocasião do passamento da Anatália, por tudo que o seu nome simboliza nos nossos corações e na nossa terrinha, só me resta recomendá-lo à proteção do DEUS ETERNO. Afinal, já dizia o Chico, O SENHOR É UM MACHO QUE MER ECE....

Com saudade e ternura campoformosenses,

Sandoval Jatobá

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Parte III Depoimentos dos amigos

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Um pouco sobre dr. Regis

Infelizmente para mim, convivi muito pouco com Dr. Regis, mas participei de uma festa em sua home-nagem patrocinada pelo Colégio Augusto Galvão. Acho que foi um aniversário, em 1972 ou 1973. Como um prêmio por ser bom aluno, a professora Loíde me escolheu para ler um texto contando passagens da vida de Dr. Regis, porém eu era muito novo – tinha 13 ou 14 anos – e durante os ensaios a comissão organizadora concluiu que me faltava maturidade e malícia para interpretar adequadamente o texto e eu acabei substituído por Aristarco.

Era um texto muito bacana com passagens interessantes e bem humoradas. Um trecho do qual me recor-do contava o caso de um paciente cardíaco para o qual Dr. Regis recomendara deixar de andar a cavalo. Num certo dia, Dr. Regis o encontra, montado a cavalo, e ao admoestá-lo recebe a seguinte resposta: “Mas Dr., isso não é um cavalo, isso é uma égua”.

Jorge Gonzaga

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80 anos de vida iluminada domédico, amigo, cidadão irrepreensível, cristão fiel

Mestre que ensina com exemplosamando seu próximo sem medidaNada nega, nada é difícilolha o seu amigo e seu vizinhoexcelente padrão de homem ativolongânimo, reto, cheio de carinho

Repositório de nossa confiançaexemplo de Cristo, servo fielGrande de espírito, alma queridainspirando ações e atitudesSocorro bem presente em nossa vida.

Família augusto GalvãoParabéns Dr. Regis

8 de outubro de 1997

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Parte III Depoimentos dos amigos

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Médico mandado por deusao mundo para curarNosso irmão e amigoonde alguém precisarexemplo de honestidadelealdade sempre terá.

José Hamilton e família8 de outubro de 1997

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o Grande Homem

Mantém o seu modo de pensar independentemente da opinião pública;É tranquilo, calmo, paciente, não grita nem desespera;pensa com clareza, fala com inteligência, vive com simplicidade;É do futuro e não do passado;Sempre tem tempo;Não despreza nenhum ser humano;Causa a impressão dos vastos silêncios da natureza: o céu;Não é vaidoso;Como não anda à cata de aplausos, jamais se ofende;possui sempre mais do que julga merecer;está sempre disposto a aprender, mesmo das crianças;vive dentro do seu próprio isolamento espiritual, aonde não chega nem o louvor nem a censura;Não obstante, seu isolamento não é frio: ama, sofre, pensa, compreende;O que você possui: dinheiro ou posição social, nada significa para ele,Só lhe importa o que você é;Despreza a opinião própria, tão depressa verifica o erro;Não respeita usos estabelecidos e venerados por espíritos tacanhos;Respeita somente a verdade;Tem mente de homem e coração de menino;Conhece a si mesmo, tal qual é, e conhece a deus.

daniel e Cyntia

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discursos proferidospor dr. Manoel Regis

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Parte IV Discurso em Itacir a (Wagner)

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discurso na comemoração do sexagésimo aniversário do instituto ponte Nova e do quinquagésimo do Hospital evangélico de itacira, em 1946

O significado desta solenidade se nos afigura com a sensação do alívio e prazer que experimentam os ca-ravaneiros do deserto ao reencontrar um Oásis; é o que sentimos todos os brasileiros ao chegar a Itacira, lembrando da Ponte Nova e presenciando o que se fez neste sertão baiano, fustigado pelas intempéries, batido pela inclemência, ameaçado pelas calamidades e espreitado pelas endemias, esquecido pelo Poder Público e consumido pela subnutrição.

O sectarismo e a ignorância, usados desta vez como instrumentos do bem por alguns conterrâneos do litoral e dos centros mais desenvolvidos, tangem os missionários para o centro do nosso Estado. Aqueles, animados do espírito maquiavélico da perseguição; estes, estimulados pela chama da fé, imbuídos dos propósitos mais sadios e mais elevados, aportaram às margens do Rio Utinga, assentando as tendas e fundando a tradicional Ponte Nova.

Não poderia deixar de citar, em primeira linha, a figura ímpar de William Alfred Waddell, teólogo e enge-nheiro, que vindo ao Brasil desde 1890, fundou o Colégio de Ponte Nova em 1906. Vibrava no seu coração a febre dos mitos reluzentes e acendia no peito as mais desenfreadas ambições. Uma fé incontida e uma vontade férrea faziam do jovem Waddell um bandeirante nas matas do Orobó; nenhum obstáculo o fazia deter e tudo enfrentava: os perigos da maleita, o assalto das feras bravias ou as tocaias da ignorância.

Enquanto outros bandeirantes buscavam os tesouros escondidos sob os picos das serras, o ouro faiscante das grupiaras e as pedras preciosas, Waddell e muitos outros sonhavam com a erradicação da ignorância, do analfabetismo, das crenças deturpadas e com a recuperação de um povo doente e subdesenvolvido.

Após Waddell, outros vieram também, com a tocha da mesma fé e uma galeria de heróis, de altruístas, de abnegados se seguiu nesta inesquecível Ponte Nova através dos anos: Alexandre Resse, o inglês metódico que não punha três livros onde só havia espaço para dois e que lamentava o atraso de um minuto quando deveria estar antes dois minutos, polido no convívio com os brasileiros e identificado com eles e com os seus costumes.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Bixler, o velhinho diplomata, calmo nas suas atitudes, austero e bravo na correção do erro. Pela sua fineza no trato social, deixou nos seus alunos saudades inapagáveis de sua personalidade.

Miss Haloch, mestra de qualidade inigualável, austera e amiga. Aparentemente uma mulher indiferente às causas alheias, mas na intimidade, boníssima, justa e exigente no cumprimento do dever.

Samuel Graham, o missionário engenheiro, difícil de ser compreendido pelas manifestações do seu tem-peramento; coração magnânimo, mas de atitudes bruscas e irref letidas. Agia sem pensar primeiro e cho-rava após não ter pensado antes. Sob sua gestão, foram erguidos os principais edifícios do Instituto de Ponte Nova; ao lado dele, sua incansável esposa D. Rute Graham a quem muito deve esta Instituição.

Ligado ainda a Ponte Nova pelos serviços que aqui prestaram, desejo neste instante enumerar os nomes de Frederico Johson, o missionário das grandes caminhadas evangelísticas; do filosofo Rev. Harold An-derson que, com a simpatia dos seus gestos, deixou sólidas amizades neste sertão baiano; e de sua saudosa esposa D. Evilhine, sempre enamorados, até no servir dos pratos da mesa doméstica.

Esses, os heróis da velha guarda, mas outros vieram também, com a tocha da mesma fé e com os mesmos propósitos: Pitman e sua esposa D. Leonor, Ellis Graves e D. Emilia, Jayme Wright e esposa, George Glass, o piloto missionário que pelos ares evangelizava o sertão baiano. A todos eles, os velhos e os jovens, os de ontem e os de hoje, bandeirantes e os da Velha Guarda, a nossa homenagem mais significativa.

A obra pioneira de William Waddell, em 1906, teve a segunda etapa dez anos depois, em 1916, quando chegava pelo mês de setembro a estas paisagens, um outro personagem para completar a obra. Aqueles cuidaram das causas do espírito; educar e evangelizar eram sua preocupação constante. Este iria preocu-par-se com os problemas do corpo e da saúde física; é o médico missionário que chega, e ninguém, mas ninguém mesmo, poderia excedê-lo em virtude, em caráter, em bondade, em espírito de servir, em abne-gação, em probidade. Refiro-me, com respeito, com veneração e com saudades ao Dr. Walter Welcome Wood.

Em meio ao troar dos canhões da Primeira Guerra Mundial, sendo presidente da República o Dr. Wen-ceslau Braz, governador do Estado o Dr. Antonio Muniz e diretor do Colégio Ponte Nova o Rev. Alexan-dre Reese, chegaram a Ponte Nova Dr. Wood e sua esposa, D. Grace Wood. Ele, médico, veio para ensi-nar ciência e dar assistência médica aos alunos da Escola. Recebeu os primeiros doentes num pequeno quarto do estreito pavilhão onde funcionava a escola. Posteriormente, em sua residência, principiou a operar sobre uma mesa comum.

Era o então Colégio da Ponte Nova uma luz nas trevas nos fundos sertões da Bahia, isolados pela falta absoluta de transportes.

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Parte IV Discurso em Itacir a (Wagner)

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Ao lado do Rio Utinga constrói-se um humilde teto onde funcionaria o primeiro Hospital, o conhecido “Hospital Velho” ao lado do Templo.

Em 1919, foi o médico a Salvador cumprir a determinação das leis vigentes do Brasil, de revalidação do seu diploma e, sob as vistas do então cirurgião e professor Aristides Maltez, demonstra a sua capa-cidade de grande cirurgião. Voltou ao posto de trabalho e construiu modesta casa de residência. Com a inspiração do novo lar e a cooperação de sua esposa, iniciaram-se os milagres da cirurgia nos sertões da Bahia. Perde o Dr. Wood a sua primeira esposa em 1921, mas continua a luta no mesmo ritmo e com o mesmo entusiasmo, contrai novas núpcias com D. Mable que, após alguns anos de trabalho, veio a falecer em 1932.

De todas as partes ocorriam doentes em busca de sua cura e alívio para os seus sofrimentos físicos. Era constante a chegada das macas de carros de bois e das liteiras transportando doentes e, para eles, nunca faltou o abrigo, o sim e o atendimento do Bom Samaritano.

Antes o único recurso de que dispunham os enfermos era o apelo à ignorância de charlatões e feiticeiros. Agora era a ciência e a técnica versus a ignorância que, na habilidade médica de Dr. Wood, o aureolava de merecida fama.

Premido pela necessidade de acomodações, tratou ele de construir pequenos apartamentos de acordo com as possibilidades financeiras da época, quando uma consulta era cinco mil reis e a maioria delas de graça. Construiu uma pensão para receber doentes. Instalou-se nessa época o Serviço de Correios e Telégrafos por muitos anos dirigido pela Enfermeira Isaura Chagas.

A localidade foi aos poucos aumentando, paralelamente ao Colégio e ao Hospital, e aos poucos foram se quebrando os preconceitos e o espírito sectário contra a religião evangélica.

Com esforço urgente construiu-se o segundo prédio para o Hospital, o que agora ostenta na fachada “Grace Memorial Hospital” e que foi inaugurado em 1927. Junto a esse pavilhão central já haviam sido construídos, em 1924 e 1925, a Farmácia e a Clínica no 2.

Em 1927-1928, construiu o Dr. Wood uma estrada de rodagem ligando Ponte Nova a Itaité, por onde, pela mais próxima ponta de trilho, chegou o primeiro carro Ford Modelo 1925 a Ponte Nova.

Não poderíamos deixar de fazer referência aqui ao trabalho de assistência aos f lagelados de 1932, presta-do pelo Hospital e pelo seu diretor incansável. Mais de 300 refeições eram servidas diariamente e nunca se apagou no espírito do grande missionário o ardor pela obra que se propôs executar.

Em 1924, o Dr. Wood contrai novas núpcias com Dona Ella Wood e as tarefas são redobradas com sua cooperação de esposa e enfermeira laboriosa.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Em 1948, constrói-se o Pavilhão Catarina Snyder para a Escola de Enfermagem. É uma nova etapa que se registra com a ampliação e aperfeiçoamento dos Serviços. Em 1958, inaugura-se o Hospital Novo, esfor-ço conjugado de muitos, inspirado na obra gigantesca de Walter Welcome Wood que Deus chamou para a sua glória em 1963. Bendito Dr. Wood pela obra que realizou e pelo legado de probidade, de abnegação e de honradez transmitido aos seus continuadores. Neste instante, presto a minha homenagem, das mais significativas, à memória deste incomparável missionário nas pessoas de sua esposa Dr. Ella e dos seus filhos ausentes, Mary, Walter Jr., Paulo, Dorothy, David e Elisabeth.

Meus senhores seria injusto e até imperdoável a omissão de nomes ilustres de colaboradores que, com amor e sacrifício, dedicaram parte de suas atividades à execução dessa obra. Refiro-me aos médicos auxi-liares que, uns mais outros menos, dedicaram-se à causa ao lado do grande médico. Enumero, relembran-do a sua passagem como colaboradores: Milton Moura Ferro, Américo Chagas, Keneth Waddell, Donald Gordon, Arlindo Sampaio, Virgílio Filgueiras, Arsênio Moreira, Manoel Regis, Belluci, Wilson Lara, José Nery, Rute Nascimento, Josué Requião, Gileno Sá Oliveira, Benedito Ney, Jack Brown, Agnelito Borges e atualmente Jonas Dias de Araújo e Aziel Borges.

Ao lado do serviço médico, completando as tarefas dos médicos, uma plêiade de enfermeiras deixou uma folha de serviços prestados à Instituição e a elas cabe, por justiça e com justeza, a extensão desta home-nagem nas comemorações deste dia: Lídia Hepperle, Isaura Chagas, Beatriz Lenington, Rita Preddice, Dona Hiveigard, Eileeu Starla, Isabel Pimont e Janett Graham.

Ao comemorarmos o hexagenário aniversário do Instituto Ponte Nova e o quinquagésimo do Hospital Evangélico de Itacira, evocamos a memória dos Velhos patriarcas dos sertões baianos, que através de estradas apertadas e de longas e enfadonhas jornadas encaminharam até aqui gerações e gerações de jovens ávidos de saber e de preparo intelectual para levarem consigo a esperança de semear nas suas regiões a semente da árvore benfazeja. Refiro-me às caravanas da América Dourada, de Irecê, de Campo Formoso, de Palmeiras e Lençóis, de Caitité, de Miguel Calmon e de outros rincões baianos.

A semente germinou e a árvore frutificou e hoje, aqui neste recinto, estão as testemunhas do que se fez no passado. Mestres insignes e abnegados por aqui passaram; desejo prestar também, com efusão e respeito, minha homenagem a esses heróis anônimos que foram baluartes e colunas de sustentação deste edifício de sólidos alicerces, construídos para a glória de Deus. Exemplos de dedicação integral e símbolos de bondade intelectual, eu os apontaria nas pessoas incomparáveis de Dalila Costa e Adalgisa Martins de Oliveira que deram tudo de si pela educação de gerações sucessivas.

Meus senhores, à medida que se distancia no tempo a hora em que esta obra foi idealizada, mais nitida-mente se delineia o seu significado histórico e vão se multiplicando as responsabilidades que nos pesam

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Parte IV Discurso em Itacir a (Wagner)

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aos ombros, desde o instante em que a causa evangélica nacional acaba de receber o acesso e os encargos desta Instituição e da continuação e preservação dos seus objetivos.

O patrimônio que aqui foi construído excede ao seu valor intrínseco e material, pois gerações inteiras, velhos e jovens, têm no nome Ponte Nova algo que lhes fala bem perto as fimbrias da alma, pois avós, pais, filhos e netos encontraram aqui a seiva da cultura e as lições edificantes do sermão da Montanha.

Não temos o direito de duvidar que esta obra terá sua continuação e que serão preservados os propósitos dos que a fundaram e dos que tudo deram de si para sua consolidação.

À frente do Instituto Ponte Nova encontra-se um jovem educador, dinâmico, de elevados propósitos, que tem demonstrado capacidade intelectual e administrativa singular e no ato destas comemorações temos a registrar o sinal de sua passagem na Direção do Instituto através da obra educacional que realiza e das construções há bem pouco inauguradas. Ao Prof. Elson Oliveira e sua esposa, D. Noemi, a manifestação das nossas homenagens como construtores desta obra árdua e difícil, mas grandiosa e patriótica.

À frente dos destinos do Hospital Evangélico de Itacira encontra-se um sertanejo autêntico, conhece-dor profundo dos problemas sociais do nosso povo. Temos sentido que a atuação do Dr. Jonas Dias de Araújo, está ultrapassando os limites dos serviços médicos e vem atingindo a vida social da comuni-dade, orientando o povo a viver melhor, aproveitando a prodigalidade da natureza para o bem comum. Teve o Dr. Jonas Araújo a oportunidade de dirigir a instituição na fase de sua consolidação, mas ao lado disso, na fase de transição administrativa a este fatos trouxe a ele e aos seus colaboradores maiores responsabilidades.

Numa vasta região onde a assistência médica é tão precária, o significado da atuação do Hospital, do seu diretor e dos seus colaboradores equivale ao que disse no início deste discurso: um oásis no meio do deserto e tenho a certeza de que os seus objetivos serão mantidos e assegurados para a perpetuação dos propósitos dos seus fundadores.

Vinculado a esta Instituição, como presidente do seu Conselho Deliberativo, sinto-me feliz nesta hora pelas comemorações deste dia. Que Deus abençoe ricamente Ponte Nova e que faça progredir Itacira.

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O Gr ace Memorial Hospital, em Itacir a (Wagner), com seu diretor à frente: Dr. Walter Welcome Wood

Ponte Nova, Escola Americana da Missão Centr al do Br asil, em Itacir a (Wagner)

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Parte IV Discursos do educador

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discurso de paraninfo aos licenciados de 1952 pelo Colégio augusto Galvão

A preferência voluntária dos licenciandos de 1952 pelo Ginásio Augusto Galvão foi o fator decisivo que me trouxe às honrarias desta tribuna e, recebendo a incumbência desta investidura, reconheço tão gran-de a homenagem que me foi prestada, quão honroso é o desempenho da nobre missão. Lembrando isto de Camões: “Ainda que me pese estranhamente, em muito tenho a muita obediência” e aquilo de Ovídio: “Embora ao desempenho a assunto exceda, é útil, é grande a intenta da empresa”, animo-me, reunindo as energias da boa vontade e impelido pelos inf luxos que representam os prodígios do afeto.

Quando, em tempos do pretérito, sonhos fantásticos alvoroçavam os corações dos grandes navegadores, naus orgulhosas singravam a superfície dos mares em busca de terras ignotas, a febre dos mitos reluzentes acendia no espírito de muitos a fogo indomável das mais loucas ambições, tudo enfrentavam e nada os detinha, até mesmo as epidemias da malária, os botes das serpentes e a assalto dos índios.

Era o sonho das riquezas fantásticas, dos minérios cravados nas rochas e rolando à superfície, que impelia as bandeiras a marchar sempre para o oeste: “A inspiração dos sonhos não cansa e os caminhos da fanta-sia têm atrações a que dificilmente se resiste”.

Passaram-se os tempos e novos sonhos surgiram. Mais dignos e mais nobres, eram novos sonhadores que ambicionavam a catequese dos índios, trazendo-lhes o conforto espiritual, os recursos da ciência e a solidariedade humana. Eram eles os humildes e consagrados missionários, que à sombra do pobrezinho de Assis espargiam a caridade aos rincões longínquos das terras estrangeiras.

Em épocas diversas, o idealismo de espíritos superiores levou muitos outros a novas conquistas e à luta. Agora, no silêncio dos gabinetes e dos laboratórios de pesquisa científica, os analistas e os caçadores de micróbios, como aventureiros que tratam de fazer fortuna, recurvados sobre si mesmos e sobre os canhões dos aparelhos de ótica, esquecidos do burburinho lá de fora e do conforto social das palestras, levaram de vencida e continuam levando uma tarefa grandiosa e dignificante: descobrir, experimentar, publicar e servir a humanidade.

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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Quando vos vejo ansiosos e preocupados nas lides estudantis, lembro-me dos caravaneiros desalentados pelo sol causticante e pelas areias quentes do deserto à procura de um oásis onde possam dessedentar-se e repousar um pouco ou pelo menos fitar ao longe o encanto das miragens, ref lexo daquilo que se projeta ao longe.

Foi o símile desses homeríades, que na sua grandiosidade, no seu espírito combativo e heróico, na sua vontade de lutar e de vencer, mais adequado me pareceu nos transportes do meu afeto sincero e da mi-nha imorredoura gratidão, para ornamentar esta singela solenidade de licenciatura em que assinalais um marco miliário na vossa vida, estudantil.

DILETOS LICENCIANDOS DE 1952:

No arrebol da vossa adolescência tivestes também os vossos sonhos e, um dia, com as mãos trêmulas e a taquicardia fisiológica dos que prestam exames, comparecestes à barra do tribunal do exame de admis-são e um quatriênio se passou sob o regime oficial de um curso seriado que representa o segundo degrau da escalada estudantil. Houve lutas e vitórias, tréguas e dissabores, mas no espírito de todos sempre acesa a vontade de chegar ao fim do currículo.

Após a caminhada que não foi muito longa, mas foi dignificante, e sempre que se tem em mente o apro-veitamento das energias latentes das vocações espontâneas, torna-se mais esperançosa mesmo havendo provações e sacrifícios, pois como disse Valery Radot:

“A vontade abre a porta às carreiras brilhantes e ditosas, o trabalho leva-as de vencida e uma vez chegada ao termo da viagem o sucesso vem coroar a obra“.

Num crescente borbulhar de ideias, na movimentação dinâmica da vida física são forjados a par e passo, no espírito sedento e ambicioso dos moços a vontade de “crescer, criar, subir”, nutrida pelas energias pró-prias da idade e pela índole bem formada daqueles que aspiram aos pináculos da glória.

No capítulo da divisão do trabalho, cabe a cada cidadão o dever precípuo da escolha de uma atividade de acordo com as aptidões de cada um e na marcha veloz da era atômica todo o concurso individual e fator nas ordenadas do progresso através as abscissas dos meses e dos anos, e quem não sentir dentro de si a chama sagrada, deverá para sempre renunciar ao exercício de uma arte qualquer, pois “de nada vale a espada se o combatente não tem valor e alma para a esgrimir com denodo.”

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Parte IV Discursos do educador

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Vale bem dizer que o efeito é negativo quando acima das virtudes se sobrepõem interesses absorventes e egocêntricos como causa, e aí sentiremos o perigo dos descuidos na execução de falsas manobras.

JOVENS LICENCIANDOS:

Simples médico e vosso professor, afeito ao trato diário dos doentes ou ao exercício do magistério, so-mente em linguagem simples e despretensiosa poderá vosso paraninfo ministrar alguns conselhos práti-cos, amparado pela autoridade que o tempo e a experiência lhe conferem.

Permiti de logo, meus diletos discípulos, que façamos uma imagem interessante e singular dentro de um dos capítulos da matemática: olhai o sistema cartesiano e no primeiro quadrante façamos um gráfico de barras; – marcaremos no eixo das abscissas, os anos do currículo secundário, meditai agora o que fizestes e construístes com o gráfico de barras sobre o eixo das ordenadas! O gráfico não terminou aqui, pois o curso pré-universitário vem aí e logo mais o curso superior; que este gráfico imaginário seja sempre as-censional para o conforto dos vossos mestres que aqui ficam aguardando as vossas vitórias.

Folgamos em afirmar que o ensino nesta Casa, se não é o complexo diamantino dos grandes centros, vai medrando, tirado ao padrão normal da cultura prática, e o exemplo está nos que daqui partiram em bus-ca da seiva pré-universitária: eles irão de degrau em degrau em busca do ocaso da vida escolar e sentirão, por certo, inf luxos que daqui levaram.

Lembrai-vos de que subistes apenas até o segundo degrau desta escalada e que outros estão a vossa fren-te; o currículo complementar de três anos e o curso universitário modelando o intelecto para a vida profissional. Encontrareis obstáculos, vigílias muitas vezes, mas a ansiedade da vitória vos anima a novas conquistas e no encerramento dessa caminhada sublime, meditareis no degrau mais alto que é a realida-de da vida: o exercício honesto, proficiente, digno e edificante fazendo repercutir no futuro a inf luência do vosso concurso e as características da nossa época.

Chegareis a ser médicos e na sublime arte de curar:

“Desempenha o papel abençoado e santo,No cenário cruel do sofrimento humanoSem nunca esmorecer no seu labor insanoVai caminhos da dor aliviando o prantoE no final da luta, o nobre paladinoAdormece feliz, tranquila consciênciaSob as bênçãos de amor do Médico Divino”

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Sendo defensores do direito e da justiça, tereis o sublime dever de velar pelo equilíbrio social na harmo-niosa e difícil arte de distribuir justiça, lembrando-se que o direito é a arte do bem e da equidade e que deveis vencer sempre pela força do direito contra o direito da força.

Sereis enfermeiras, minhas diletas afilhadas e no espelho de Florence Nightingale e Ana Nery mirai a vossa vida.

Sereis professoras e a vossa tarefa é das mais nobres, espinhosa e cheia de sacrifícios: moldar com paciên-cia e perseverança os jovens caracteres em formação, orientando instintos e vocações e desgastando, aos poucos, as arestas contundentes da ignorância.

Outros rumos tomarão a vossa vida, meus caros amiqos, mas um conselho vos deixo: a sociabilidade é apanágio dos que têm espírito bem formado. Um galho isolado será fácil de quebrar; o isolamento perti-naz é um traço de inferioridade mental e um egoísmo doentio.

O amor ao estudo há que ser sempre a preocupação constante do vosso espírito. Eu vos concito que desfruteis a paz macia da meditação e leitura, no aconchego tranquilo de um gabinete, disciplinando o pensamento e refugiando a dúvida.

Qualquer ramo de atividade que abraçardes não podereis estacionar, pois tudo marcha, desde as artes mais humildes até o complexo ignoto da ciência que o homem começa a desvendar; a extensão dos nos-sos conhecimentos é ainda muito limitada e quem pensa que sabe muitas vezes ignora o abismo que o separa da verdade.

Não basta vivermos das tradições históricas em que são relembrados os fatos do pretérito, as cenas des-botadas e a doutrina muda dos exemplos históricos: eles, por certo, nos servirão de exemplos e de norma para a vida, pois orientam épocas, criando fases na trajetória dos séculos. O brilho do presente gera-se de uma centelha longínqua, mas o progresso da ciência, os movimentos sociais e o estado atual do mundo nos convidam para a luta e para o brilho do presente. No tumultuar das ruas, no aconchego dos gabinetes e nos recessos sagrados dos templos temos a nossa tarefa diária a ser executada para o bem comum, da Pátria e da Humanidade.

MEUS JOVENS AMIGOS E MEUS SENHOR ES:

Sejam as minhas penúltimas palavras dirigidas ao Ginásio Augusto Galvão e à Bahia que o abriga, “de uma semente mirrada surgiu toda a fartura de uma colheita” para citar Fernando de Magalhães; é que de um plano e de uma palavra de encorajamento nasceu esta Casa de ensino que vai, ano após ano, cum-prindo o seu programa.

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Benditos aqueles que sonharam, idealizaram e construíram a obra, benditos os que a mantêm e que, no meio dos sacrifícios mais duros, dedicam, com devotamento abnegado, horas preciosas de suas atividades.

À Bahia, desfile colorido de raças, genetriz de sábios e perdulária da inteligência; Bahia que a eloquência de Ruy designava: “a senhora, a soberana, a magnífica, a mesma do velho Brasil, a primeira na guerra e a primeira na paz, a primeira na inteligência, a mãe dos poetas, dos heróis e dos estadistas”.

MEUS CAROS AMIGOS, LICENCIANDOS DE 1952:

Subi cantando as encostas da vida e respirando a brisa perfumada dos grandes ideais, podeis partir e que vades bem... marchando sempre para a frente, estudando, meditando e vencendo e Deus vos abençoará e a glória vos espera sorridente.

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discurso proferido por ocasião do 20° aniversário da fundação do Colégio augusto Galvão, em 1966

O significado histórico desta solenidade se nos afigura com aquela sensação de prazer e de conforto dos que experimentam vitórias em meio às intempéries, dos que se nutrem do esforço próprio e dos que investem para o futuro, almejando o bem-estar de uma comunidade, aguardando o julgamento da poste-ridade sem a preocupação imediatista dos lucros pessoais.

É, para mim, honroso privilégio trazer, nesta hora e nesta magna solenidade comemorativa do vigésimo aniversário do Ginásio Augusto Galvão, a oração que a outros caberia trazer por dever de justiça, vez que o viram nascer, seguiram-lhe do gesto os primeiros passos e acompanharam a sua trajetória através dos anos.

A honraria a mim conferida pela Congregação e pelo corpo docente do Estabelecimento revestiu-se de uma aparência de intimação e se não bastasse o meu reconhecimento, trago neste instante a minha pala-vra de gratidão aos prezados companheiros de trabalho, soldados da mesma trincheira, heróis das mes-mas lutas.

Constitui esta hora, motivo não apenas para evocar a contribuição de muitos, mas, sobretudo, para rea-firmar a confiança no papel que lhes cabe no desenvolvimento desta Casa de Ensino, a soma de esforços, a comunhão de propósitos, a união dos mesmos ideais, que deram a resultante das tarefas para o balanço dos Vinte Anos.

À medida que se distanciam no tempo, as motivações que deram origem a este Educandário mais ni-tidamente se delicia o seu significado histórico, pois o seu patrimônio não está representado nos seus edifícios, nos seus bens imóveis, nem tão pouco no que se pode aferir pelo seu valor material; ele está nas cátedras, nas universidades, nos campos de trabalho das profissões liberais, nas salas de aula dos infantes brasileiros, nas consultorias, nos escritórios, no preparo intelectual para a vida e, em síntese, nas vitórias dos nossos ex-alunos.

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Houvéssemos de assinalar com um marco miliário a nossa iniciação em atividades educacionais tería-mos de afirmar que o pioneirismo existiu de fato em tempos bem remotos ao da fundação do Ginásio Augusto Galvão; o retrospecto nos levaria aos idos de 1946 e nos credenciaria a essa afirmação. Investi-gando, seguramente encontraríamos suas raízes bem mais longe, quando sob a inspiração dos bandei-rantes missionários Chamberlain, McCall e Waddell, instalou-se a primeira escola americana que tanto serviu a muitos nesta cidade, sob a regência da incansável Mestra D. Sancha Elisima dos Santos, escola que sobreviveu e que mais tarde recebeu o nome do imortal presidente Roosevelt.

Em 1911, sob a iniciativa de João Francisco da Cunha Regis, já uma escola de Alfabetização funcionava nas Caatingas onde foram educados os primeiros filhos. Posteriormente, já na sede, em 1916, a Escola atendia aos filhos das famílias locais e sob vários tetos e sob a direção de diversas mestras cristãs, a Esco-la tornou-se a melhor forja de alfabetização e de caráter dos filhos de todas as boas famílias de Campo Formoso.

O Sectarismo de então, usado dessa vez como instrumento do bem e por determinismo providencial, tangeu do litoral e dos grandes centros os missionários americanos que, fugindo ao comodismo das me-trópoles, sonharam com tesouros escondidos, não os tesouros dos picos das serras e o ouro fascinante das grupiaras, não as pedras preciosas e a riqueza do subsolo. Escavam, com mais avidez, as almas vazias, os espíritos intranquilos e atribulados, sedentos das letras, fustigados pela ignorância e confundidos pe-las crenças deturpadoras e pelo analfabetismo.

O Ginásio Augusto Galvão, sim, nasceu da inspiração desses fatos ocorridos durante o troar dos canhões da Primeira Guerra Mundial. Viveu em potencial durante longos anos. Em 1946, quando o velho mundo convalescia do 2° Conf lito, nova motivação se delineou para a arrancada definitiva: a necessidade urgen-te e imperiosa de proporcionar aos filhos desta terra a prerrogativa de um curso de grau médio que lhes assegurasse as condições do preparo intelectual para as árduas labutas da vida.

O idealismo de uns, a abnegação de outros, os recursos materiais para execução de um plano, constituí-ram os fatores fundamentais à realização da obra, sem esquecer o espaço devotado de um grupo que re-presenta um patrimônio da Instituição. Creio que seria imperdoável olvidar os seus nomes ao evocá-los. Pela vocação e tenacidade lograram sobrepor-se às deficiências do meio para se afirmarem como autênti-cos fundadores: Alexandrino Galvão, Arthur de Oliveira Regis, Augusto de Oliveira Galvão, Domingos Dantas, Floriano Regis de Oliveira, Edgard de Oliveira Regis, Anatália Leal Jatobá, Eurídice Morais Lima e Noeme Teles Regis. Os primeiros, integrando a Firma SILVA R EGIS e Cia, fizeram consignar, no seu orçamento de 1944, os primeiros recursos financeiros para as providências iniciais, os demais, assessores

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e colaboradores deram tudo de si para a concretização dos planos. Convém ressaltar aqui que a legislação vigente à época, rigorosa e inf lexível e, por vezes, desalentadora exigia, no setor do ensino, a aplicação integral dos dispositivos legais mesmo em meio às precárias condições do nosso sofrido sertão baiano, esquecido dos poderes, fustigado pelas intempéries de toda sorte e sem as facilidades das metrópoles.

Inspetor Federal, presente e permanente, revia as medidas de portas, janelas e canteiros, exigindo a apresentação de relatórios dentro das bitolas do MEC. Aqui, é preciso dizer, com justiça, que o Inspetor Othoniel Almeida Moura não foi o carrasco, mas o orientador, compreensivo e justo. A ele rendemos a homenagem que lhe é devida, pois ensinou o Ginásio a dar os seus primeiros passos.

Em 30 de janeiro de 1947, pela portaria no 52, do então Ministro Clemente Mariani, recebia o Educandá-rio, em definitivo, a sua autorização oficial.

Dever de honra, de reconhecimento, de gratidão e de justiça é abrir, em sinal de gratidão, a Galeria aos benfeitores que, à distância, no plenário da Câmara Federal e Estadual, junto ao Ministério da Educação e Saúde da época e nos limites dos seus órgãos de trabalho, fizeram levar o nosso apelo e patrocinaram a justa causa junto aos altos escalões da República: refiro-me aos Deputados Ruy Santos e Luiz Viana Fi-lho, posteriormente o Deputado Manoel Novais, no âmbito Federal; nos limites do Estado, o Deputado Basílio Catalá, porta-voz das nossas aspirações e dos nossos anseios.

Anos depois, o Ministro Oliveira Brito, lembrando deste Estabelecimento, trouxe-nos a concretização da nossa quadra de esportes, através da atuação brilhante e eficiente do Cel. Genival Freitas. Nela assistimos às competições desportivas na tarde de hoje e, por meio dela, o desenvolvimento físico dos nossos jovens estudantes é assegurado.

A estes benfeitores, o Ginásio Augusto Galvão rende o seu preito de gratidão em palavras de reconheci-mento, já que seus nomes consagrados figuram nos pórticos das salas de aula, na Biblioteca Ruy Santos e na quadra de esportes.

RO PATRONO

AUGUSTO GALVãO – Fundador de ontem, patrono de hoje, contador e economista, sonhou ele com esta Casa de Ensino. Espírito progressista e dinâmico, quis que parte dos proventos do trabalho da Fir-ma que geria, atingisse aqueles que nenhuma condição teriam de frequentar um curso de grau médio, preparando-se para a vida, evoluindo intelectual e socialmente e proporcionando à posteridade os pri-

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vilégios que os ancestrais não desfrutaram. Reuniões se sucederam, planos foram assentados, viagens se multiplicaram e o sonho se realizou exatamente quando o destino implacável e inexorável ceifou-lhe a preciosa vida, em viagem ao Rio de Janeiro, em busca da autorização oficial para o funcionamento da Instituição.

Desapareceu Augusto Galvão, mas sua aspiração se cumpriu. Assim é a vida, os homens passam, as ideias ficam. No instante em que prestamos a homenagem maior ao Patrono pelo que ele foi, pelo que ele fez, pelo que representa para esta casa e pelo significado das comemorações deste vigésimo aniversário de fundação, nós o fazemos na pessoa de sua incansável esposa, companheira de muitas lutas e testemunha dos seus planos e que, para gáudio nosso, participa desta solenidade. Receba, D. Aline Regis Galvão, em nome de Augusto Galvão, o tributo da nossa homenagem.

ROS FUNDADOR ES

Com a tocha da mesma fé, com idêntico ardor e entusiasmo e a vibração dos que sonham as grandes cau-sas, um contingente de heróis, prontos para a luta, se propôs a executar os planos dantes passados e hoje, consagrados pelo esforço e abnegação, recebem o título justo de beneméritos fundadores. Poderíamos chamá-los mesmo de baluartes da Velha Guarda, pois seus ombros suportaram o peso das primeiras e duras responsabilidades, dos primeiros encargos e dos cuidados iniciais, sempre indispensáveis aos recém-nascidos; dependeria deles o sucesso do empreendimento.

EUDALDO SILVA LIMA – Pastor de almas, mestre insigne e pedagogo de grandes recursos intelectuais. Pela eloquência do seu verbo e com a aptidão de timoneiro, deu o melhor de suas energias físicas e intelec-tuais ao aprimoramento da nossa juventude. Soube Eudaldo Lima imprimir um cunho de dinamismo na execução das primeiras tarefas. Reconhecendo agradecido o seu inestimável concurso, o Estabelecimento consagra o seu nome na fachada do principal edifício de salas de aula. Foi ele o primeiro diretor, dirigiu os primeiros passos da Instituição, quando o salário-aula era de $10 e quando a matrícula era de 21 alunos apenas. O Inspetor Federal da época era permanente e vigilante; as leis, rígidas e inflexíveis no setor do ensino. Não se punha três carteiras onde a lei determinava duas e os relatórios, padronizados da Secretaria, deveriam obedecer à risca a letra das leis vigentes e das tradicionais portarias do M.E.C.

Assim nasceu o Educandário bem dirigido por Eudaldo Lima e bem orientado sobreviveu.

Outros diretores se seguiram, levando o barco ao seu destino e os seus nomes consagrados receberam as homenagens que lhes são renovadas neste instante.

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ARISTEU DE OLIVEIR A PIR ES – O diretor tranquilo e de cultura geral privilegiada. Intrépido e enér-gico nas horas dos misteres, geriu a instituição durante quatro anos e, em 1958, nos passou às mãos o leme do barco educacional. Nas nossas limitações físicas e intelectuais sonhamos também em realizar uma tarefa que não desabonasse o educandário e os incansáveis dirigentes de outrora.

CELSO LOULA DOUR ADO – Em 1961, após dois anos de curso de especialização nos Estados Uni-dos da América, retorna Rev. Prof. Celso e assume a direção do educandário. Esse jovem culto e vivo, orador festejado, professor e teólogo, vem comandando o educandário dando-lhe a orientação atualiza-da dos métodos modernos do ensino. É o diretor da nova era, quando as leis são f lexíveis e justas para o aprimoramento dos sistemas pedagógicos e quando as leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Lei Orgânica do Ensino traçaram novos rumos para a educação.

Ao lado dos diretores, uma equipe de abnegados marchou também com os olhos fitos no mesmo ideal que os animou desde o início. Permitiram eles que eu encaminhasse os seus nomes, pois são a razão mes-ma das vitórias contadas neste dia.

DOMINGOS DANTAS – O decano já consagrado pela Instituição. Seria ele e ninguém mais do que ele o indicado para o relato histórico desta honra; ninguém melhor do que ele descreveria o diário da cami-nhada. Mestre dos mais queridos do Ginásio, viu-o nascer e deu-lhe a mão para não claudicar. Na origina-lidade do seu espírito culto e brilhante, de causídico e de mestre, por ocasião do seu magnífico concurso patrocinado pela Cades em Salvador, desarmou o espírito do célebre professor Malba Tahan antes que a astúcia do grande professor o envolvesse nas malhas dos contos orientais. Domingos Dantas na cátedra vai deixando uma tradição; foi sempre o amigo incondicional dos estudantes, o diplomata quebrando arestas, contornando situações e defendendo a melhor causa: acima de tudo, o Ginásio Augusto Galvão.

A esse mestre insigne, as homenagens efusivas que o passado e o presente lhe conferiram.

ANATáLIA LEAL JATOBá – Professora desde o primeiro instante, possuidora de raros dotes intelec-tuais e cujo esforço excede ao limiar de tolerância física dos homens normais. O amor ao trabalho e a de-dicação integral à causa justificam o seu sacrifício. Colocou sempre as causas transcendentais do espírito acima das limitações somáticas. O Ginásio Augusto Galvão homenageia, com gratidão, o seu esforço e consagra o seu nome no pórtico das salas de aula num preito de justiça pelo seu valioso concurso.

Outros valores inestimáveis por aqui passaram e com eles a instituição se beneficiou pela ação despre-tensiosa de quem luta sem aguardar recompensas materiais. O atual corpo docente, constituído dos ele-

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mentos da Velha Guarda e integrado também por uma nova plêiade de jovens professores que honram a cátedra e o Ginásio que os educou, representa o que de mais precioso se poderia contar. Sem citar os seus nomes, permitam-me homenageá-los na pessoa desse incomparável pastor de alma, o velho professor de História, o patriarca do corpo docente, o Rev. Prof. Jerônimo Rocha.

Na galeria dos benfeitores eles também estão, porque na construção e na preservação da obra educacio-nal da nossa terra eles estiveram sempre presentes.

No setor administrativo, destacamos o nome de Floriano Regis de Oliveira, o Tesoureiro e Secretário permanente. Promoveu a primeira matrícula da primeira aluna, Alda Bacelar da Silva, em 1946, com a colaboração da então Secretária, Noeme Teles Regis. Posteriormente, com o concurso de Adaléa Morais Oliveira e Dídia Mello Regis, vem dando sempre um cunho de organização perfeita à administração geral do Educandário. Não será exagero dizer, sem ele, à máquina faltaria uma das principais peças; é também o decano no setor administrativo e as dívidas de gratidão da Casa a seu incansável servidor vão sendo saldadas com outras tarefas e com o reconhecimento e a consagração do seu nome na Sala Central da Secretaria.

RA DATA

10 DE OUTUBRO DE 1966 – Vinte anos de vida. Em 10 de outubro de 1946 construiu-se a primeira tenda, ele nasceu; vinte anos ininterruptos de trabalho profícuo, duas décadas dedicadas à causa do en-sino e da educação da Mocidade Sertaneja. A motivação de ontem continua e turmas se sucedem, bus-cando o alimento do espírito. Os Educandários fundados sob a égide do Cristianismo terão espargido luzes mais autênticas, pois, ao lado da forja de alfabetização e de caráter, mantêm a orientação espiritual para as lutas da vida.

10 de outubro de 1966 – Exatamente 20 anos quando em momentos como o de hoje, concretizou-se o registro dos Estatutos que regiam os seus destinos. Ano após ano, cumprindo uma tradição e os disposi-tivos estatutários, fazemos a comemoração festivamente, proporcionando aos nossos queridos alunos a oportunidade de exibir os seus dotes intelectuais, artísticos e desportivos, aprimorados nos bancos esco-lares. Eles representam a essência e a motivação do nosso continuado esforço, a razão do ser da existência do Ginásio Augusto Galvão.

R

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O EDUCANDáRIO

Nascido na insipiência dos que começam iniciando no fincamento da primeira estaca, deu os seus pri-meiros passos, aprendeu a andar, às vezes tropeçando nos obstáculos de toda sorte, mas sempre nutrido por aquele sagrado princípio de Fernando Magalhães:

– “Trabalho inútil não há, nenhuma lágrima se perde, nenhum esforço é vão, a boa vontade é fértil e na semente mirrada cabe toda a fartura de uma colheita. Correndo penas, o homem edificou o exemplo de um destino; transitando dores, a mulher anima a alvorada de uma vida. O sacrifício digno apaga os pesa-res com o privilégio de sua conformidade”.

Assim, senhores, foi com essa bandeira que marchamos. Nutridos por esses princípios, enfrentamos as limitações da época e aqui estamos festejando os 20 anos com o timbre de voz da maioridade.

Desejamos prosseguir na caminhada com os cursos que já se consolidaram e sob a inspiração do que já se fez nestes 20 anos. O nosso entusiasmo se faz mais crescente, a nossa fé cada vez mais se inf lama, o nosso ânimo se robustece, quando olhamos, lá fora, o brilho da atuação dos ex-alunos desta casa, o patrimônio imponderável e inacessível da Instituição: Rômulo Galvão, Loíde Bastos, Waldomiro Santana e muitos outros. Brilharam aqui e lá fora se projetam para orgulho nosso, para honra dos seus familiares e satisfa-ção dos seus Velhos Mestres. Permitam-me os demais que nas pessoas dos três citados eu homenageie

aos alunos e ex-alunos e aos seus incansáveis pais.

RO AMBIENTE

Diz um princípio de botânica que as sementes germinam quando encontram ambiente propício e onde não lhes faltam as condições e os requisitos para a primeira função.

Afirmamos com ênfase e com satisfação, a nós não nos faltam as condições do ambiente e elas foram tão pródigas que até um co-irmão nos apareceu – o Instituto N. S. de Fátima, fundado pelas Irmãs Francis-canas Hospitaleiras. Sem o espírito competitivo ou de concorrência desleal, tem sido esse Educandário uma inspiração para todos nós. O intercâmbio sadio, a cooperação mútua e o sentimento de solidarie-dade recíproca muitas vezes manifesto fizeram com que Campo Formoso assistisse hoje ao episódio do desfile, a honraria que nos foi conferida com a co-participação do Instituto e a contribuição valiosa da Irmã Maria Aldete e da Irmã áurea e das demais, no carinho com todos os nossos alunos.

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Presente esteve também o Campo Formoso Social Clube, presentes estiveram os Maristas de Senhor do Bonfim, não faltaram os amigos de Campo Formoso. O ambiente sadio e inspirador de tantos anos nos convida a prosseguirmos na luta e a aceitar o convite feito na lição do Mestre:

– “Lança de novo a tua rede”.

O nosso agradecimento não poderá ser expresso em palavras. Falta-nos o recurso para retribuir tanta solidariedade, tanto carinho, tanto desvelo, apenas diremos:

– Campo Formoso, muito obrigado!

Numa vasta região, onde os Estabelecimentos de Ensino eram raros, onde o ensino era inacessível e onde o significado da atuação de poucos existentes se fez sentir, eles representaram, durante anos sucessivos, o papel de oásis no meio do deserto. Tenho a certeza de que, os mesmos objetivos que animaram os seus fundadores serão mantidos a qualquer custo, com o mesmo ardor e entusiasmo e serão assegurados e perpetuados os sagrados propósitos dos que com eles sonharam.

Para a riqueza espiritual da nossa terra e para a glória da Bahia,

SALVE, GINáSIO AUGUSTO GALVãO!

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discurso proferido na solenidade comemorativa dos 40 anos de fundação do Colégio augusto Galvão, em 1986

PIONEIRISMO, FÉ, ALTRUÍSMO, DEDICAçãO E ESPÍRITO DE SERVIçO são os atributos desta causa e dos que se lançaram para fundar e manter esta Instituição. Diria, como o Rev. Eudaldo Silva Lima: “OS QUE NãO SONHAM NãO ACORDAM NUNCA NA PLENA R EALIDADE”.

Para falar do Colégio AUGUSTO GALVãO, é forçoso nos reportar aos fatores genetrizes de sua criação, dos seus pródromos e das suas reais origens. Não podemos deixar de citar aqui os nomes de William Wa-dell, Clemsom Chamberlain, McCall e Alexander Reese, que trouxeram a semente. Ela foi bem guardada para o plantio no tempo propício e oportuno, obedecendo ao binômio traçado pelos reformadores do século XVI – A ESCOLA AO LADO DA IGR EJA.

Com a evangelização das primeiras famílias, criou-se a preocupação do evangelizar e educar e os próprios missionários já citados se encarregaram de trazer mestras abalizadas para a instalação da primeira escola de alfabetização, as quais se sucederam através dos anos: Adelaide Guanais, Florentina Lessa, Sancha dos Santos Galvão, Dalila Costa, Josefina Araújo Dourado, Edelvira Regis Castro, Joana de Araújo Regis, Horózia Menezes Regis, Carmélia Barbosa Regis e Eurídice de Castro Morais Lima deixaram tradição na antiga Escola Americana, respeitada pela sua eficiência, pela sua atuação e pelo seu conceito ao longo de aproximadamente 35 anos de serviços ininterruptos.

Em dezembro de 1945, aquela semente, guardada com muito carinho para um novo plantio, teve a sua vez quando a Firma Silva Regis e Cia reservou, no seu orçamento de 1946, uma verba específica para a fundação do primeiro ginásio desta região do Nordeste da Bahia.

Não foi fácil a tarefa de fundá-lo. Contra o seu projeto estavam de frente a burocracia governamental e o sectarismo doentio, mas a fé, o espírito de luta e a vontade de vencer estavam acima de tudo. Aqui não poderia deixar de citar nomes de brasileiros de grande mérito: Ministro da Educação Clemente Mariani, Governador Otávio Mangabeira, Deputado Ruy Santos, Rev. Basílio Catalã de Castro.

O grande Clemente Mariani, Ministro baiano, designou de logo o primeiro Inspetor Federal para as

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primeiras demarches. Registraram-se os primeiros professores sob o signo de uma lei ambígua e iníqua “só poderiam ser registrados professores que tivessem dois anos de ensino e só poderia ensinar quem fosse registrado”. Assim foram os primeiros dias e os primeiros passos da caminhada. Daí partiu-se para a luta ingente, árdua, espinhosa, mas muito nobre. São 40 anos de existência, de renúncia e dedicação, mas sempre obedecendo à ordem do Mestre “Ide e Ensinai”, incluindo aqui a mente e o espírito.

Meus senhores: quando abrimos as nossas portas neste novo ano letivo e quando completamos 40 anos não podemos deixar de citar nomes, é outra homenagem justa que prestamos àqueles que dedicaram suas vidas por uma causa: EUDALDO SILVA LIMA, Eurídice Morais Lima, Domingos Dantas, Flo-riano Regis de Oliveira, Anatália Leal Jatobá, Loíde Bastos de Lira, José Lira dos Santos, Odaléa Morais Oliveira, Dídia de Melo Regis, Celso Dourado, Aristeu de Oliveira Pires, Aristarco de Oliveira Pires, Iraildo Oliveira Gomes, Lídice Vitória Bonfim Lima Gomes, Laurentina Santos Cruz e tantos outros que deram tudo de si para que a árvore não fenecesse ao longo dos anos.

Destacarei aqui, de maneira especial, a atuação eficiente do seu diretor, o Rev. Iraildo Gomes que, no seu jeito de ser, incansável e abnegado, apresenta um Colégio organizado, atuante, pronto para comemorar os seus 40 anos e marchando em frente.

Não deixarei de destacar também a atuação proficiente do Pastor da Igreja, presidente do Conselho Deli-berativo da Instituição, e acima de tudo o convívio sadio entre Colégio e Igreja – entidade mantenedora do Educandário. Por tudo isso, estamos aqui, agradecendo a Deus essas bênçãos do passado, as oportu-nidades do presente, a prerrogativa de podermos começar neste Santuário as nossas atividades de 1986, pedindo a Deus a sua presença e a sua companhia em todos os nossos cometimentos.

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discurso proferido pelo transcurso e comemoração dos 60 anos de fundação do Colégio augusto Galvão, em 2006

Assomar a essa tribuna e assumir essa incumbência é uma tarefa árdua e espinhosa que se amaina pela honraria que me é conferida pelos meus pares nesse momento de festa, dos atos comemorativos dos 60 anos desta Instituição que vimos nascer e que nos fala ao coração e que exige de nós envidar esforços para perpetuar a sua sublime caminhada.

Na qualidade de último remanescente dos que sonharam, investiram pela fé e lançaram a semente que deu sequência a uma grande colheita, eu lhes falo com a alma em festa, afirmando que este investimento produziu muitos frutos nos limites das causas do espírito, educando, ensinando e preparando jovens para os grandes vôos da vida.

No intróito desta fala, nos parece oportuno iniciar com as palavras do nosso grande Ruy Barbosa dirigi-das à juventude:

“Para os que fazemos todas às vezes esta romaria do coração, este lugar é um santuário a que se acode com alvoroço; onde quer que estejamos e por mais que nos afastemos o esmalte destes longes azulados se nos avizinha desenhando no horizonte mais próximo como um panorama familiar.”

O toque de recolher do SEX AGENáRIO, o chamamento emocional que abala os corações e a esponta-neidade carinhosa dos ex-alunos desta casa são os motivos determinantes do alvoroço sadio que nos con-tagia a todos num atestado autêntico de que este velho solar de 60 anos guarda, no seu silêncio respeitável e na sua estrutura modesta, o espaço privativo e inalienável de cada um de vocês, queridos ex-alunos.

O significado desta solenidade se reveste e se nos afigura como aqueles instantes de refrigério espiritual e que enchem a nossa alma, pois a vida se nos aponta não como um sonho vazio; há um objetivo, uma meta, uma direção que a nossa jornada nos indica.

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Vocês, como homens despertos, como criaturas pensantes, devem saber por que estamos aqui e os mo-tivos que nos congregam.

Disse um dia o primeiro diretor desta casa, em momento de emoção num dos arroubos de sua inteligên-cia privilegiada e de sua fala f luente e eloquente:

“OS QUE NãO SONHAM, NãO ACORDAM NUNCA NA PLENA R EALIDADE”.

Foi EUDALDO DA SILVA LIMA, que, em 10/10/46, com uma plêiade de sonhadores, iniciou a cami-nhada da cultura nesta casa, nutrido pela chama da fé.

É oportuno e fundamental evocar, nesta hora, vultos inspiradores dessa nobre causa e que alentavam nos seus espíritos o binômio da Reforma do século XVI: “A ESCOLA AO LADO DA IGR EJA”. A fé e a cultura irmanadas para os grandes cometimentos.

Com respeito venerável e admiração comovente, faço desfilar os grandes mensageiros da fé:

Dr. WILLIAM ALFR ED WADDELL: engenheiro, teólogo e missionário.

PIERCE ANNESLEy CHAMBERLAIN: teólogo e missionário.

ALEX ANDER R EESE: o diplomata da cultura teológica e missionária.

CASSIUS BIXLER: matemático, teólogo e missionário.

HENRy JOHN MCCALL: o teólogo inspirado, o peregrino da fé, o campoformosense pelo coração.

Eles lançaram a semente, ela germinou e os frutos estão presentes neste recinto.

Eles por aqui passaram, alguns por diversas vezes, como jardineiros da esperança, visando visitar o cam-po e a sementeira, adubando o terreno cultivado, podando as ervas daninhas e colhendo os frutos desta sementeira abençoada.

Aqui e assim nasceu o COLÉGIO AUGUSTO GALVãO com a inexperiência dos que começam, com o acordar dos que sonhavam, com a armadura dos que lutam, não vendo miragens no deserto, mas a reali-dade dos que investem no futuro promissor.

São transcorridos exatamente 60 anos de labor intensivo, de vida útil e produtiva, de dedicação total e altruísmo de várias gerações que se sucederam em prol da juventude sedenta do saber e da cultura. Os jovens que por aqui passaram se tornaram integrantes da sociedade produtiva e artífices de atos memo-ráveis, aos quais temos assistido com orgulho em vários rincões da Pátria Grande.

Disse o grande Ruy: “Bem-aventurados os que a si mesmos se estatuarem em atos memoráveis, e, sem deixarem seus retratos à posteridade, esquecidiça ou desdenhosa, vivem a sua vida póstuma desinteres-sadamente pelos benefícios que lhes herdaram”.

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Aqui, neste recinto, estão presentes os juristas abalizados, os odontólogos competentes, as enfermeiras hábeis e dedicadas, os professores artistas da pedagogia moderna. São eles, relíquias desta casa e patri-mônio do Colégio Augusto Galvão.

Meus Senhores: este educandário, na singeleza de sua estrutura física e material, reveste-se hoje de um significado difícil de exprimir em palavras. As palavras são frágeis para exprimir o que sentimos e o que ele representa para todos nós.

Não foi em vão que nós, que vamos entrando no ocaso, confiamos aos mais jovens a tarefa edificante de nunca perder de vista os anseios e o que de precioso, virtuoso e construtivo esta casa foi capaz de erigir, de implantar e de realizar nestes sessenta anos de luta em prol da juventude brasileira.

O estabelecimento, desde 1972, sob o comando proficiente do Rev. Iraildo Gomes, atravessou três déca-das com inovações pedagógicas orientadas por sua competente esposa a Prof. Lídice Gomes. Os ref lexos positivos dessa atuação se manifestaram em vários aspectos, e deram ao educandário o status de mais eficiente e conceituado estabelecimento de ensino desta região.

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), órgão que avalia o desempenho dos estudantes concluin-tes do ensino médio e que estão prestes a ingressar nas universidades, registrou o AUGUSTO GALVãO em terceiro lugar em 2005 entre 23 educandários desta região. O sucesso de aprovação dos nossos alunos nos vestibulares levou o nosso querido professor André Vieira a formular uma frase que é uma bandeira de vitória: “EM TERMOS DE VESTIBULAR, NESTA R EGIãO Só Dá AUGUSTO GALVãO”.

Quando Em meio à caminhada, quando já se sonhava com inovações promissoras no âmbito pedagógico, quando já tramitavam os anseios de uma Faculdade nesta cidade, o nosso diretor, ao expirar o exercício letivo de 2002, decidiu nos deixar com a simples justificativa de sua senilidade de 62 anos e os encargos foram transferidos por lei ao seu velho vice-diretor vitalício de 86 primaveras.

Com a sua saída o Rev. Iraildo Gomes, nosso ilustre ex-diretor do Augusto Galvão, ao deixar o cargo e os encargos que exerceu com probidade e competência, levou na sua bagagem sentimental as credenciais que ornavam o seu caráter de esposo modelar, de pai exemplar, de competente pastor de almas e sábio condutor de vidas jovens e em formação; levou ainda as saudades do seu povo e desta casa que o abrigou por três décadas; levou mais ainda e de maneira dignificante o título honorífico de cidadão de Campo Formoso conferido pelo Legislativo deste município e o privilégio de ter visto nascer, nesta cidade, a sua querida prole que tem honrado a memória de Hipócrates através da atuação competente das Dras. ylênia e Tirza Gomes.

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SOU TESTEMUNHA OCULAR DESTA HISTóRIA

O que acabo de citar, meus senhores, são motivos sobejos para justificar que o ilustre casal Iraildo e Lídi-ce deveria estar aqui levando conosco os cargos e os encargos que muito o dignificaram.

Perdemos a atuação criativa e competente de sua ilustre esposa e muitos setores ficaram impreenchíveis. Tivemos anos de vitórias expressivas, além de Lídice Vitória Lima Gomes, tivemos sucessos inesquecíveis que culminaram com os festejos comemorativos do Jubileu de Ouro, em 10/10/96. No interregno, conta-mos com a atuação competente das professoras Eliane Costa Souza, Maria Liberta e Laurentina Cruz.

Ao assumir virtualmente as rédeas da Instituição na qualidade de vice-diretor vitalício, ferindo fron-talmente as leis da Previdência Social e desrespeitando a senectude de 86 anos, passei à ref lexão, pois o barco estava singrando sem o seu legítimo timoneiro e o futuro nos espreitava com os temores frente às altas responsabilidades das transições.

O ânimo afigurou-se com a imagem de Simão Pedro, nas praias do Lago de Genezaret, desorientado e desiludido após uma pesca improdutiva, de noite inteira perdida frente ao mar mudo e avaro. Nenhum peixe foi pescado, mas o mestre que assistia ao discípulo desalentado replicou: “Pedro, lança de novo a tua rede”; ele obedeceu à ordem do mestre e suas redes se encheram. A lição de Cristo ao seu discípulo atravessa as eras e traz a lição aos desalentados”.

Meus senhores e queridos ex-alunos: a divagação que aqui fizemos tem um sentido muito objetivo frente à realidade da vida em transição. Ficamos sem diretor, aquele que durante três décadas comandou o estabelecimento; que conhecia as filigranas do seu funcionamento, seus sucessos e suas carências, mas a verdade é que estávamos em uma fase de orfandade subjetiva e olhamos tímidos frente à travessia que se nos espreitava e parecia-nos ouvir outra voz do mestre: “Dize aos filhos de Israel que marchem”. A marcha continuou no meio da ansiedade e pela iluminação divina nos deparamos com um professor presbítero e chefe de órgão assistencial do estado, atuando com invejável sucesso e determinação. Formulamos oficialmente o convite através do Conselho da entidade mantenedora do estabelecimento; o professor o aceitou condicionalmente, pois dirigia um órgão de muitas responsabilidades. As insistências perdura-ram e o Deus do Augusto Galvão estava presente às nossas aspirações

O novo diretor investido no cargo passou a demarcar as suas metas e as suas diretrizes no novo e árduo setor de atuação. O seu nome tem um significado que tomo a liberdade de decifrar: o prenome é o do após-tolo dos gentios em condição de receber bênção pelo primeiro sobrenome, Terra Nova, que encarna o va-lor da terra fértil e produtiva. Paulo Santos Terra Nova é o diretor. Suas características nos fizeram insistir no investimento certo, no momento necessário. Jovem professor, ex-aluno desta casa, atuante, prático nas

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suas investidas, não se arrefece frente aos pequenos traumas, tem vontade férrea em acertar e acerta sempre e em qualquer vicissitude, econômico mesmo quando lhe faltam as economias e, acima de tudo, dedica amor acendrado a este educandário, onde muitas vezes trabalha até as altas caladas da noite.

O computador é o seu amigo inseparável e desde o site do Colégio Augusto Galvão, é informatizado todo o movimento do estabelecimento. Não sou psicólogo, mas sou médico e aprendi um pouco a diagnosticar; o professor Paulo Terra Nova é jurista por intuição e diplomata sem estágios no Palácio do Itamaraty. Ele é arguto nas suas iniciativas e muito prudente nas suas decisões.

Meus senhores: as muitas vigílias e oposições sistemáticas que nos afrontaram a caminhada se arrefece-ram com a atuação decisiva e dinâmica do nosso diretor, mas também elas se assemelharam um cadinho instalado na nossa trajetória para acrisolar a nossa alma e retemperar o nosso espírito.

Em meio aos percalços e às intempéries, é oportuno lembrar as palavras edificantes e ricas de ensinamen-tos de Fernando Magalhães:

Nenhuma lágrima se perde, trabalho inútil não há, nenhum esforço é vão; a boa vontade é fértil e na semente mirrada cabe toda a fartura de uma colheita. Correndo penas, o homem edificou o exemplo de um destino; transitando dores, a mulher anima a alvorada de uma vida. O sacrifício digno apaga os pesares com o privi-légio de sua conformidade.

Sim, senhores, foi com esses preceitos que enfrentamos a luta dos 60 anos que hoje comemoramos sob o teto do sexagenário “Augusto Galvão” quando ele se apresenta com atestado e o timbre da maioridade.

Com o espírito de previdência e cautelas indispensáveis, tentamos reiniciar as atividades da nova etapa em 2003. Auscultávamos, sob a inspiração divina, as demarches para uma nova trajetória que se projetava e tomamos a iniciativa de filiar o nosso educandário à Federação das Escolas Presbiterianas (Fenepe), órgão vinculado à Igreja Presbiteriana do Brasil e bem aconchegado à Universidade Mackenzie, em São Paulo.

Através dessa filiação, tornou-se o “Augusto Galvão” apto a receber assessoria técnica e firmar convênios com aquela instituição.

A primeira solicitação prendeu-se ao setor contábil do Instituto Mackenzie que, solicitamente, nos aten-deu com a presença do supervisor técnico contábil daquela universidade presbiteriana. Após três dias de trabalho intensivo e com a paciência e competência do velho funcionário João Batista, recebemos um relatório completo com sugestões conclusivas e recomendações expressas, proferindo ao mesmo tempo palavras de estímulo face ao nosso passado e ao autêntico potencial da nossa instituição. A esta altura do nosso pronunciamento, cumpre-nos uma homenagem especial a alguns ex-alunos que, através de suas vitórias, sucessos e de sua escalada ascensional no cenário da cultura especializada, projetaram-se na

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vida profissional e na vida pública, e que beberam as primeiras águas do saber na fonte e nos limites desse educandário. Ei-los com felicitações e encômios pelo seu valor cultural e a intrepidez com que foram projetados:

IN MEMóRIA – RÔMULO GALVãO DE CARVALHO: ex-aluno laureado, condecorado pelo Au-gusto Galvão, prestou relevantes serviços à educação nos limites do nosso estado. Deus o levou para sua glória deixando o seu colégio com saudades. Sua memória é perpetuada nos corações dos baianos, em muitas salas de aula, em inúmeros colégios na Bahia e em várias bibliotecas escolares no nosso estado.

GILBERTO GARIBÉ: ex-aluno, alegre, versátil, considerado o cancioneiro das serestas do “Augusto Gaivão”. Foi projetado como jurista à presidência do Tribunal de Justiça da Bahia, do qual se afastou há poucos meses por ter cumprido oficialmente o seu mandato naquele tribunal.

ALOÍSIO PALMEIR A LIMA: ex-aluno brilhante, laureado, competente e hoje jurista de escol, “pelo seu valor cultural” e pela sua atuação profissional na Corregedoria Geral da Justiça Federal, na Presidência dos Tribunais Regionais Eleitorais da Bahia, Sergipe, Piauí e Brasília, nas atividades acadêmicas e em simpósios de direito. Hoje ele é o presidente do Tribunal de Justiça do Planalto, em Brasília. Cultivando as suas virtudes pessoais e na qualidade de cidadão por título honorário de Campo Formoso, não es-queceu a sua terra e implantou uma Agência da Justiça Federal em Campo Formoso, entidade que vem prestando relevantes serviços às comunidades de mais de 30 municípios desta região.

Dele recebemos a seguinte mensagem:

– “Na passagem dos 60 anos de existência do Colégio Presbiteriano Augusto Galvão, tenho a grande satisfação de, como ex-aluno, parabenizá-lo por intermédio de seus ilustres dirigentes, mestres e centenas de alunos. A Instituição torna-se sexagenária sem envelhecer. Como afirma Frank Crane, ‘só se envelhe-ce quando se abandonam os ideais’. O Colégio Augusto Galvão será sempre jovem nos ideais de bem servir à juventude da nossa querida região. Sempre estará renovado na arte de educar os moços de hoje e das gerações que lhes devem suceder. Creio que manterá vivo esse estado de espírito”.

A esses ex-alunos graduados, prestamos as homenagens devidas, afixando na galeria de honra do estabe-lecimento suas imagens fotográficas

RR EENCONTRO DOS EX-ALUNOS – UM A FESTA INSPIR ADOR A: numa demonstração de afeto e confraternização, os ex-alunos, no momento do toque de recolher do sexagenário, num alvoroço sadio

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e memorável, reuniram-se em Salvador em um almoço do prenúncio das festividades que agora estão sendo levadas a efeito.

Aqui no auditório do “Augusto Galvão” se fizeram ouvir as vibrações de Salvador e numa noite alegre e festiva aquilatamos o quanto representa o passado dos 60 anos desta Instituição.

A iniciativa singular da Fundação da Associação dos Ex-alunos do Colégio Augusto Galvão, que espe-ramos seja perpetuada, é um motivo sublime de solidariedade; é digna de encômios, e este educandá-rio investe com emoção e com orgulho nesse patrimônio imarcescível tornando-se mais motivado para prosseguir na sua luta árdua e vigilante, colhendo frutos de seu labor abençoado, ano após ano.

A essa iniciativa acrescente-se a mais recente que perpetua, para sempre, a memória dos ex-alunos: a pra-ça que recebeu o seu nome e que será inaugurada festivamente com a presença de todos.

Inspirado nessa efeméride e na qualidade de um dos remanescentes fundadores deste educandário, tomo a liberdade de sugerir à Associação dos Ex-alunos a construção da Biblioteca Dr. Domingos Dantas em prédio próprio, construção moderna, acervo bem catalogado de livros selecionados e salas de leitura ane-xas, em homenagem ao velho e saudoso mestre, bibliófilo, apaixonado e patrimônio desta casa.

Cumpre-me exigir, como velho companheiro de lutas e pelo significado deste evento, que recebam o projeto e o orçamento entregues pelas mãos de engenheiro ou arquiteto especializado, ex-aluno desta casa, com sua assinatura significativa e altamente valiosa.

RPR EZADOS EX-ALUNOS E MEUS SENHOR ES: cumpre-nos nesta oportunidade e com pesar, co-municar a partida para a eternidade há nove meses do nosso ex-diretor, ex-professor, pastor de almas, orador Sacro de renome e polemista de muitos recursos. Refiro-me ao R EV. ARISTEU DE OLIVEIR A PIR ES. Sua memória está perpetuada na galeria de honra desta Casa e na música do hino do Colégio Au-gusto Galvão, por ele composta, por sua competência e inspiração de poeta e musicista abalizado. Deixo aqui uma homenagem ao grande mensageiro da palavra, versos de sua lavra para nossa ref lexão:

“PR ESENTE DE DEUS, confirma a secular promessaFeita aos pais e que agora a humanidade amplia Descansando desperta e atônito confessaNeste lugar estava DEUS e eu não sabia;SE ENCONTR AR ES uma pedra em teu jornadear,

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Parte IV Discursos do educador

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Para dormir, sonhar, faz dela um travesseiroTendo a visão de DEUS, transforma-a num altarE muda teu fracasso em triunfo verdadeiro”

Ao iniciar a nossa peroração, num ato de remissão e justiça, irmanados no mesmo propósito, cabe a nós todos o dever inalienável de homenagear um velho companheiro de lutas, sempre presente e vigilante a todas as causas deste educandário, companheiro fraterno de lutas nos momentos de angústias e desa-lentos. Refiro-me com afeição e respeito ao velho baluarte ARISTARCO OLIVEIR A PIR ES. A galeria de troféus esportivos desta Casa, no silêncio do seu simbolismo, fala muito alto do que foi sua atuação proficiente e de desportista inconteste nesta Escola. Seus amigos, seus companheiros de luta, farão afixar nesta hora sua efígie neste amável Auditório.

RARISTARCO DE OLIVEIR A PIR ES – atleta e conselheiro, companheiro de todas as hor as

O “Augusto Galvão” muito lhe agradece. Não poderia concluir estas minhas palavras considerando que este ambiente vai se tomando um sacrário face às nossas emoções. No transitarmos os 60 anos desta casa, que é de todos nós, onde vidas preciosas deram de si com altruísmo, abnegação e vontade de alcançar os frutos da formação de novas personalidades pela cultura, refiro-me com emoção e com respeito aos nos-sos ex-professores que, no recôndito de suas cátedras, transmitiram com a devoção de mestres abalizados as lições do saber e da cultura ano após ano.

Os nossos ex-professores recebem também, nesta hora, a sua homenagem do Sexagenário Augusto Gal-vão, como prova de gratidão pelo muito que fizeram ao nosso educandário.

À GALERIA DE EX-PROFESSOR ES que ora inauguramos neste recinto amorável dir-se-ia com emo-ção e gratidão: “eles exercitaram com paciência, competência e dedicação a difícil tarefa de colorir de es-perança e de certeza – que os horizontes nesta casa abriram – para um universo mais amplo e promissor para milhares de vidas em formação”.

Coerente com os princípios de correção e justiça, reconhecimento e gratidão, o ”Augusto Galvão” es-tende estas homenagens aos seus atuais professores e funcionários num agradecimento profundo pela dedicação, altruísmo e entrega de vidas laboriosas à frente de suas tarefas do dia-a-dia levando este edu-candário a continuar o cumprimento de seu nobre projeto iniciado desde 1946.

COLÉGIO AUGUSTO GALVãO:

SIGA EM FR ENTE, COM A CHAMA DA FÉ, SIGA EM BUSCA DO TEU CENTENáRIO!

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Manoel Nunes da Cunha Regis : Um Exemplo de Vida

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discurso proferido no ato de posse no cargo de prefeito Municipal de Campo Formoso para o período de 1954 a 1958

Sobremodo honrado pelo voto da maioria dos meus concidadãos, tenho a subida honra de empossar-me na chefia do executivo de nossa terra. Recebo a honraria desta investidura como um apelo ao dever de servi-la com devotamento abnegado e acendrado civismo na nova fase de governo e administração que o dia de hoje inicia para todo o Estado como um período das mais risonhas esperanças.

A tormenta política, que avassalou o nosso município no período de governo que hoje se encerra, deu ensejo a que me fossem buscar na humilde azáfama dos trabalhos profissionais de médico e educador para projetar-me tão cedo no cenário político da nossa terra.

Sem ser político militante, ascendo a tão alto posto, menos porque o ambicionasse ou tivesse mereci-mento do que para satisfazer ao apelo dos maiores partidos políticos da nossa terra, dos quais desejo ser o traço de união perene no novo governo que hoje se inicia.

O que justificou a minha militância na vida pública no cimo da administração municipal foi tão somente o desempenho das atividades médicas no Serviço Público Estadual à frente do Posto de Saúde de Cam-po Formoso onde não tivemos partido, nem estreitezas de espírito de atender a gregos e troianos, sem distinção de credos ou condições de vida. Ali tiveram como donos de sua própria casa e a ciência neutra sempre a serviço de todos para atendê-los sem consentir que paixões partidárias viessem a macular o ser-viço público, tanto mais necessário quanto é certo que precárias são as condições salutares para o pleno atendimento ao nosso povo sofrido.

O que abismou Campo Formoso e o cimento que interligou a coligação democrática e vitoriosa, foram menos os desacertos do seu governo do que a desgraça de escolher a saúde de nosso povo que no Pro-vérbio e a “LEX, SUPR EMA”, para objeto de perseguições mesquinhas e meio de esconder o despres-tígio insanável noutros setores da administração municipal. Infelizmente, o Governo do Estado, sem independência moral e o da comuna no seu desateio de desprestígio, ferindo o povo de maneira iníqua e atingindo a terra inteira no ato de insânia contra a saúde pública.

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Parte IV Discursos do homem público

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Aquele templo de saúde ainda fechado e o atestado autêntico de inércia, desprestígio e vergonha para os que realizaram a triste façanha.

A atitude mesquinha e vergonhosa maculou os sentimentos de todo o povo sofrido, que continuou a clamar pelos sentimentos mais nobres no atendimento ao seu clamor e suas dores.

Em 1954, dia 3 de outubro, no silêncio das urnas eleitorais, este povo sofrido e altamente consciente mu-dou pelo voto supremo, fulmina a tirania.

Escolhido e eleito pelo sufrágio espontâneo dos meus conterrâneos, para o desempenho do cargo no qual sou investido solenemente, eu não posso deixar de sentar-me pela primeira vez neste lugar, deixar de dar, de público, na sinceridade do meu conhecimento, o meu testemunho de gratidão pelas honrarias que me são conferidas e pela distinção que me foi outorgada pelo povo e pelos meus ilustres amigos.

Sr. Presidente, meus Senhores:

Após o resultado de uma luta sem armas, apenas com o calor da campanha eleitoral e o ardor partidário de poucos dias, aqui nos encontramos ante o veredicto do povo que, ao lado das honras e da confiança a mim conferidas, também os encargos e a responsabilidade de cumprir um mandato de ordem adminis-trativa, continuando os programas construtivos e combatendo os ódios do partidarismo exacerbado e doentio que atrofia o progresso, separa os homens e estaciona a marcha da causa pública.

Ao lado do esforço conjugado, da boa vontade e do idealismo que nos inf lama o espírito, procurarei aguardar com o incondicional apoio e a cooperação de todos de mente sadia e de espírito clarividente, tudo vendo, tratando e pelejando no dizer do Vate lusitano: “Venho com olhos de ver o útil, o essencial no uso do bom senso e o devotamento abnegado e ardor no trabalho”, pelejando a boa peleja no sentido do trabalho produtivo para o bem-estar da coletividade dos nossos munícipes, heróis desconhecidos e sofredores anônimos.

Não trarei para aqui a mais leve sombra do partidarismo doentio, apenas respeitaremos a ética no serviço público; administrar Campo Formoso, auscultar as suas necessidades mais prementes e executar um programa alto, digno de nosso povo.

Acataremos com carinho e boa vontade as resoluções da egrégia Câmara de Vereadores, desde que visem à execução daquela plataforma, pois confio na visão larga e construtiva dos legítimos represen-tantes do povo.

DISSE.

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discurso proferido no ato de inauguração da praça Castro alves, Campo Formoso, em 10 de outubro de 1956

No propósito de executar a lei no 21, de 17 de maio de 1950, de desapropriação de casas residenciais e construção de uma praça neste logradouro público que receberia o nome imortal do Cantor dos Escra-vos, continuamos a nossa marcha administrativa ditada pelas necessidades urbanísticas de nossa cidade, executando os projetos edificantes de gestões passadas.

Em tão boa hora, souberam os legisladores de 1950 que Campo Formoso não poderia ficar na retaguarda das Cidades progressistas, sem prestar a homenagem devida àqueles que representam um patrimônio cultural da Bahia e do Brasil, e foi assim que eles prestaram, na redação da referida lei, a homenagem das mais justas e significativas ao gênio de Antônio de Castro Alves.

Francisco de Castro nos dá, nos seus novos ritmos, o motivo da nossa consagração desta hora ao Poeta dos Escravos: “A nós, à geração que o ócio não consome cumpre-o glorificar; não há cruzar os braços a Pátria já blazona glória do seu nome. O bronze já pleiteia a posse dos seus traços!...”

Coube a nós a prerrogativa das mais felizes desta consagração, executando a lei citada. Digo oportuni-dade das mais felizes, pois sinto o orgulho de prestar culto ao gênio, de cantar o hino de glória ao talento daquele que bebeu no leite da mãe preta os sentimentos de liberdade.

Desde o berço, desde os bancos colegiais, no tradicional educandário de Abílio César Borges onde bebeu a primeira seiva da cultura, já manifestava a sua revolta contra a disciplina física e o regime da palmatória. Não podia conceber qualquer ato que contrariasse os seus sentimentos já tão martirizados com o quadro revoltante da escravatura.

Em cada verso, em cada poema, em cada produção do grande vate baiano, sentimos o fervilhar do gênio re-voltado e preocupado com os problemas sociais de nossa Pátria. Num triplicar de amor, lirismo e liberdade, o seu espírito patriótico e revolucionário representou, melhor que ninguém, o coração, a alma e a inteligên-cia dos brasileiros. Tinha cultura geral das mais sólidas, era conhecedor profundo das páginas sagradas, das fantasias mitológicas e dos episódios históricos tantas vezes citados nos seus imortais poemas.

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Parte IV Discursos do homem público

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Quando estudante, participava de concursos literários. Sempre elogiado, sempre premiado. Em todas as oportunidades, participava também dos meetings das praças públicas lutando contra o despotismo e a ti-rania. Clamou aos céus e ao Senhor dos desgraçados, implorando a clemência divina em favor dos negros algemados, sem lar, sem conforto, no ambiente das senzalas em doloroso contraste com a aristocracia dos senhores de engenho.

A revolta do poeta atinge ao delírio no quadro impressionante do martírio dos escravos e quando levanta a sua voz, deixa os olhos marejados e o coração amargurado:

“ Senhor Deus dos desgraçados!Dizei-me vós Senhor Deus!Se é loucura... se é verdadeTanto horror perante os Céus?”

Desde os bancos acadêmicos vibravam, na sua alma arrebatada, os primeiros anseios pela república:

“República! Vôo ousado Do homem feito condor Raio de aurora ainda oculta Que beija a fronte o Tabor.”

Repitamos o que disse Nabuco a seu respeito: “Seu maior título é de ter posto o talento ao serviço da causa de emancipação da liberdade da Pátria.”

Castro Alves parecia um profeta a predizer os dias porvindouros, pregava a abolição aos quatro ventos e preconizava a República dos nossos dias.

Em 1866, fundou em Recife uma sociedade abolicionista tendo por companheiro Rui Barbosa. Dois anos depois, já São Paulo o recebia de braços abertos e, no salão “Concórdia”, o melodioso timbre de sua voz declamava “O Livro e a América” e a “Visão dos Mortos” do poema “Os Escravos”; o povo que o aclamava delirante sussurrava: Não é o Vate, mas o Vaticínio, poesia e revolução.

Ainda em São Paulo, no auge da campanha abolicionista, desfraldava a bandeira da revolução com a de-clamação dos dois poemas mais fortes e que o momento exigia “O Navio Negreiro” e “Vozes d’áfrica”.

Ascendeu Castro Alves aos píncaros da glória; a esta altura era como o profeta da liberdade preconizan-do a República.

No dizer de Euclides da Cunha, “foi o vidente que surgia de improviso, no estonteamento de miragens e a proclamar uma nascença ainda remota ou a descrever a era nova que poucos adivinhavam”.

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Viveu pouco porque a inexorabilidade do destino implacável o subtraiu bem cedo da terra dos viventes, mas nem por isso deixou de contribuir com o máximo do seu esforço e do seu gênio em prol da nossa emancipação política. Ao ouvirmos dentro em pouco “Ode ao 2 de julho”, sentiremos em cada verso do poeta a alma desabrochada num cântico de louvor à Pátria redimida.

Ninguém mais do que ele soube cantar a sua raça. Definiu a época em que viveu e, quando os movi-mentos pró-abolição estavam em cena, lá estava o poeta com sua cabeleira esvoaçante, espargindo pelas praças e pelos meetings os versos que balizaram o nosso destino.

Lá em Recife, em plena praça pública, o enfrentamento ao sibilar das balas, ensina o povo a lutar pelos seus direitos e a reagir contra a força e clama aos quatro ventos

“A praça, a praça é do povo como o céu é do condor”.O idealismo de Castro Alves era maior do que as metralhas e a sua palavra fácil e convincente maior do que a ação da polícia; Borges da Fonseca já levado preso em pleno comício é confortado pela atitude do povo que ouve o poeta na tribuna exclamando:

“Quando nas praças se eleva do povo a sublime voz, um raio ilumina as trevas”.

Como resposta aí vem a cavalaria para pisar o povo e dissolver o comício. Já agora com a vibração popu-lar, o poeta clama:

“Mas embalde que o direito; Não é pasto de punhal; Nem as patas de cavalos; Se faz um crime legal”.

O gênio do poeta não ficou limitado às nossas fronteiras e ao âmbito da poesia. Vibraram na sua alma as “Três cordas da lira”: a do amor, a da liberdade e a da pátria. Vibrou a corda do amor, que no dizer de alguém “É o alimento do gênio”, nas suas paixões místicas pela dama negra, por Leonídia e por Agnesi Murri.

Vibrou a corda da liberdade nas produções de “Vozes D’áfrica” e “Navio Negreiro” onde se sente o titâni-co pelejar do poeta pela emancipação dos escravos. Nessa luta de reivindicação social em prol dos negros sofredores, o vate das Américas se tornou um semi-deus.

Vibrou a corda da Pátria na produção inigualável de “Ode ao 2 de julho”. O poeta parece oferecer a Deus e à sua Pátria a oblata da sua gratidão.

Um sonho realizado, uma aspiração concretizada, um alvo atingido, a Pátria redimida e, mais do que isto, sentir que na pessoa do seu avô o famoso periquitão, sangue do seu sangue, tomou parte ativa e decisiva nos campos de batalha de Cabrito e Pirajá.

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Parte IV Discursos do homem público

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Meus senhores: a Bahia é um relicário sagrado onde as grandes vidas, as grandes obras, abrem-nos aveni-das de luz. Quando, neste ensejo, prestamos a homenagem devida a um dos seus ilustres filhos prestamos um culto à Pátria no simbolismo de um monumento que eterniza a memória dos que lutaram pelo seu destino e pela liberdade.

A ânsia de perpetuar a memória dos grandes é um contraste palpitante com a condição efêmera de ser humano. Levantar monumentos, obeliscos, estátuas, bronzes foi sempre uma preocupação do homem; desde os rudimentares cronolecas às majestosas pirâmides do Egito; desde os bustos dos guerreiros até o Fórum de Trajano. Assistimos nos nossos dias ao Cristo do Corcovado olhando a cidade formosa e, nos centros dos jardins e das praças, na suntuosidade do concreto armado ou na singeleza do bronze, a memória eternizada dos grandes filhos e dos grandes heróis.

Chegou hoje também a nossa vez; um símbolo de humilde aspecto, mas de magna essência e alta signifi-cação. Um medalhão em bronze perpetuará neste logradouro público a memória de Antônio de Castro Alves.

Que ela sirva de estímulo para os que meditam, de luz para os que estudam, de inspiração para os que sonham grandes vôos na existência e de norte para os que não têm destino.

Furtem-se os ouvidos aos clamores dos cépticos, estimulem-se as energias em presença de sua efígie e, ao inf luxo dos seus Santos ideais, ergamos a nossa terra e a nossa gente.

Bendito Antônio de Castro Alves!

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Mensagem à Câmara Municipal de vereadores em 27 de novembro de 1956

Exmo. Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Exmos. Srs. Membros do Legislativo de Campo Formoso:

A esta altura do ano, já ao findar a segunda etapa das nossas atividades administrativas, honrado pelo ensejo de vos dirigir a presente Mensagem, cumpre-me fazê-lo quando temos a noção de que a assistência do poder legislativo é uma condição essencial para a marcha normal das atividades administrativas.

Ao assumirmos o governo da comuna, tratamos de colocar as divergências partidárias ou de qualquer outra natureza bem afastadas do nosso programa e do nosso desiderato a fim de mantermos um ambien-te de trabalho útil, fecundo e onde a cooperação mútua instalasse um clima e uma época de paz e de be-nefícios em nossa terra. Ouço o mais que posso os que estejam realmente em condições de esclarecer-me e apago tanto quanto possível a autoridade em que me acho investido. Para que me torne bem claro, eu a reputo demandante do povo que ditou a soberania de sua vontade livre.

A noção que tenho de um governo democrático é a de um governo modesto, despretensioso e tolerante, sem arbitrariedades, injustiças ou restrições contra qualquer munícipe ou governado. E, imbuído desses princípios, Sr. Presidente, tenho estabelecido e orientado a nossa política administrativa, estimulando e facilitando o acesso à carteira de trabalho do prefeito a todos indistintamente, mesmo aos mais humildes munícipes, inclusive aos que se julgam nossos adversários, trocando com eles as nossas ideias, discutindo problemas de interesse geral da coletividade e atendendo ao máximo as suas solicitações.

A situação econômica do município não é das piores, apesar do baixo padrão de impostos e taxas cobra-dos, e que vimos mantendo a fim de não agravar a situação dos contribuintes mal saídos de um período ininterrupto de crise econômico-financeira, em consequência de constantes secas que têm assolado o município. Mesmo assim, temos mantido o funcionalismo em dia, inclusive os aposentados que consti-tuem um peso para a comuna, absorvendo boa porcentagem da sua renda. Temos procurado atender, sem solução de continuidade, os problemas que, a nosso ver, e pela sua natureza imprescindível se constituem

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problemas vitais e essenciais para o nosso povo, como iluminação da sede, construção e melhoramento de estradas, instrução pública e abastecimento de água. Aplicamos também a nossa atividade em dotar a nossa cidade de um modesto, porém satisfatório, logradouro público, de que há muito se ressentia a nossa Urbis, calçando algumas ruas de acesso a ele. Em todos esses cometimentos temos aplicado o dinheiro que arrecadamos e creio que isto não se poderá taxar de malbaratamento do dinheiro público. Não temos reservas no banco e no caixa para exibição de economias em detrimento das necessidades municipais; antes temos procurado atender, até com sacrifício pessoal, problemas de interesse geral inadiáveis para que os menos favorecidos tenham assegurado o seu pão cotidiano, fruto do seu trabalho.

Poderíamos estar em melhor situação econômica e com maiores disponibilidades financeiras para aten-dimento de todos os magnos problemas do município, quer de iniciativa do Executivo, quer do Legislati-vo, não fosse a política restritiva do Governo Estadual, estendendo o tratamento que recebe do Governo Federal aos municípios, isto é, protelando e, porque não dizê-lo, sonegando o pagamento de quotas que por força da Lei deve o Estado ao município. Entretanto, com pequenas rendas que temos conseguido coletar, temos a consciência tranquila de havermos atendido o que as nossas forças permitiram.

Senhor Presidente e Senhores Vereadores, as censuras e críticas do Legislativo ao Executivo Municipal, diretamente ou na pessoa do seu Secretário, carecem de fundamento, não procedem. Revelam apenas o extravasamento de intolerâncias pessoais ou pretensões contrariadas, e causas particulares ou interes-ses pessoais, que jamais permitiremos interferirem no terreno da Administração pública. O Sr. Floriano Regis de Oliveira, Secretário desta Prefeitura, é, para o chefe do Executivo, PERSONA GR ATÍSSIMA, merecedora de plena e absoluta confiança e, até o presente, tudo tem feito no exercício pleno das suas funções, como o meu principal auxiliar nas lides administrativas. Só merece o meu louvor e os meus aplausos, porque observo e acompanho o seu esforço, até o sacrifício para ajudar-me nesta ingente e espi-nhosa missão que é a de governar um município de tão vastas proporções e de tão complexos e variados problemas a demandarem solução.

Foi ainda o Executivo acusado de “engavetamento de projetos votados pelo Legislativo”, o que, aliás, e referente ao projeto de autoria do acusador é uma verdade. Acha-se engavetado, porém na gaveta da própria câmara, conforme tive oportunidade de constatar. Tal projeto, que pede melhoramentos na es-trada de rodagem Itinga – Laginha, até o momento não foi devidamente encaminhado ao Executivo e, mesmo que fosse, estaria fadado a ficar paralisado (não engavetado) por falta de recursos específicos para obras dessa natureza, que só poderão ser atendidas pelas verbas do Fundo Rodoviário, verbas que estão a depender da prestação de contas para serem liberadas. Essa prestação de contas, Srs. Vereadores, está, por seu turno, a depender da aprovação de créditos suplementares solicitados pelo Executivo desde

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agosto próximo passado; uma simples operação de rotina, mas por motivos ignorados ou por desídia no cumprimento do dever, ainda e já no fim do segundo período de trabalhos desta Câmara, não foram aprovados. Todavia e apesar disso, o serviço está sendo iniciado, pois tais problemas que, como disse no início, não são considerados de vital importância para o município, não escapam à nossa observação. São, às vezes, protelados por motivos de ordem econômica que se antepõem à nossa vontade. Outros projetos suspeitados de estarem engavetados, com suposta finalidade político-partidária, possivelmente estarão no mesmo caso que o precedente, merecendo, portanto, desta egrégia Câmara, melhor policiamento nos seus trabalhos, no sentido de que sejam os mesmos devidamente encaminhados ao EXECUTIVO, que, embora funcionando no mesmo prédio, tem, entretanto, salas e arquivos completamente separados.

Assim, pois, Sr. Presidente, conforme já afirmei alhures, o Executivo deste município, Deus seja louvado, e perdoem-me a imodéstia, tem acuidade necessária e a clarividência precisa para bem aquilatar quais os problemas imprescindíveis e que demandam prioridade na sua solução para o desenvolvimento de uma comunidade e assim é que, entre outros relevantes e indispensáveis, catalogamos também, no início do nosso governo, o da construção do MATADOURO, simples mas higiênico, à altura das nossas ne-cessidades. Perguntar-me-eis, portanto, porque não foi ainda resolvido esse problema? Responderei. Es-tando esse assunto intimamente ligado ao aspecto higiênico-sanitário da cidade, é óbvio que para a sua concretização e funcionamento normal e ideal está a depender da solução de um outro de muito maior alcance, já iniciado e em andamento, qual seja o do abastecimento de água à cidade. Resolvido este, o que esperamos para breve, será aquele imediatamente atacado. Apesar disso, não o temos relegado ao esque-cimento, pois já providenciamos o levantamento de uma planta e projetos exequíveis, que satisfaçam os reclamos da nossa população sem maiores despesas para sua manutenção. Também visando assegurar maior garantia no abastecimento de água para a higiene do futuro matadouro, procuramos situar o novo prédio da usina junto ao local onde, em tempo oportuno, será o mesmo construído. Além dessas medi-das, temos o testemunho do ilustre vereador da oposição, nesta Casa, Sr. Galdino de Carvalho Marques, de que esse assunto não estava relegado por nós ao esquecimento. Em época não remota, o convidamos e com ele percorremos um trecho da cidade procurando local apropriado e que melhor atendesse aos interesses do povo e aos requisitos de ordem técnica para uma construção dessa natureza.

Ficam, portanto, Sr. Presidente, rebatidas no que acima dissemos as acusações injustas e infundadas diri-gidas através deste Serviço de Alto Falante ao Executivo Municipal. Longe de estarmos exercendo uma administração político-partidária, no sentido pejorativo do termo, como fomos acusados publicamente, procuramos e temos orientado a administração num plano altamente democrático, atendendo a todos sem distinção, quer seja situacionista ou da oposição, no elevado propósito de uma sã política pacifista,

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construtiva, visando sobretudo aos altos interesses da coletividade. E como prova do que afirmo, apelo ainda para o nobre vereador Carvalho Marques, se jamais pusemos obstáculo às suas reivindicações em benefício do povo. Corroborando ainda as minhas afirmativas e numa demonstração do superior espí-rito de tolerância que nos anima, aí estão devidamente aprovados e executados o projeto que concede pensão à viúva de Antonio Wanderley e o que manda instalar um serviço de Alto Falantes nesta Casa, de autoria dos Srs. Galdino Carvalho Marques e Manoel Moreira Leda.

Terminando esta primeira parte da minha mensagem, quero reafirmar, nesta oportunidade, os meus propósitos de prosseguir numa política sadia, compreensiva e de elevado sentido democrático, dando e aceitando todo apoio e colaboração aos que e dos que realmente se interessem pela solução dos proble-mas de nossa terra.

Passando à segunda parte desta minha fala à Câmara, tenho a satisfação de, a título de esclarecimento aos Srs. Vereadores e ao povo de minha terra, informar sobre as medidas e providências que temos tomado no setor federal para o encaminhamento de recursos para o desenvolvimento e progresso de Campo Formoso.

Para dar prosseguimento aos trabalhos de abastecimento de água para a cidade, conseguimos com a COMISSãO DE OBR AS CONTR A AS SECAS, através do Deputado Federal Dr. Manoel Novaes, a liberação do restante da primeira verba de um milhão de cruzeiros e mais uma nova verba de igual quantia de que já foram liberados duzentos mil cruzeiros e aplicados pelo Serviço de Endemias Rurais na construção da barragem. Novas providências já tomamos para prosseguimento dos trabalhos.

Conseguimos ainda uma verba da C.V.S.F. do plano de emergência com o Dr. Novaes, no valor de CR$ 200.000,00 e que foi aplicada nas seguintes obras: construção de uma estrada de rodagem ligando São Tomé à Várzea de Dentro; limpeza e ampliação do tanque de servidão pública na Lagoa do Angico; esca-vação da cacimba e limpeza do tanque de Umburanas; melhoramentos na estrada do Salitre; aquisição de material para uma ponte em Abreus; planificação do terreno e abertura de um corte nas margens do rio para ligação com estrada da Laje.

Conseguimos mais que a COMISSãO financiasse os melhoramentos na estrada de rodagem de Campo Formoso a Umburanas, inclusive a construção das obras de arte.

Através do Deputado Dr. Ruy Santos, tivemos informação de que foi incluída no Orçamento da Repúbli-ca, neste ano, uma verba de seiscentos mil cruzeiros, para a instalação de uma escola de iniciação agrícola em nosso município já tendo sido tomadas as providências para o recebimento da mesma.

Iniciamos com recursos da C.V.S.F. a construção do novo prédio da Usina onde serão instalados os dois grupos de geradores completamente reparados, estando a referida comissão, por intermédio do seu re-

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presentante, o engenheiro Cortellzzi, providenciando a aquisição de todo o material para substituição completa da rede pública, com a instalação de transformadores e novo posteamento.

Para 1957 e ainda com o Dr. Manoel Novaes, conseguimos uma verba substancial para instalação e ma-nutenção de uma Usina para beneficiamento de algodão, cuja verba já figura, devidamente aprovada, no Orçamento da República.

Terminando, Sr. Presidente, esta singela e despretensiosa mensagem é apenas um ligeiro relato das nossas atividades para confirmar a minha afirmativa de ter a consciência tranquila de estar realmente sendo fiel ao mandato que me confiou o bom e laborioso povo de Campo Formoso, para administrar e dirigir os destinos deste grande município e ao mesmo tempo para fazer retornar ao nosso ambiente as nobres atitudes e as louváveis atividades que vinham caracterizando esta câmara de Vereadores, para que, im-buídos de mesmo ideal e num espírito de franca lealdade, respeito mútuo e compreensão, sobrepondo aos nossos interesses pessoais os elevados interesses da comunidade, consigamos ver o nosso município atingir o seu verdadeiro lugar no cenário da vida Nacional.

Que Deus ilumine e esclareça a todos nós para sua maior glória e para o progresso sempre crescente da nossa boa terra.

Com as minhas cordiais saudações.

Prefeito.

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discurso de inauguração do serviço de água de Campo Formoso, em 1958

Ilmo. Sr. Dr. Gildo Aguirre, M. D. Representante do Diretor-geral; Dr. Benedito Ribeiro, Representante da Câmara dos Deputados; Dr. Guilhermino Silveira, Chefe de Setor em Salvador; Ilmos. Srs. Dr. Anto-nio Carvalho e Dr. Osvaldo de Jesus:

Meus senhores: Dr. Gildo Aguirre, a presença de V. Exa. nesta cidade se nos afigura como a sensação de alívio e prazer que experimentam os caravaneiros do deserto ao encontrar um oásis. É o que sentimos todos os brasileiros vivendo no sertão comburido do Nordeste, fustigado pelas suas intempéries, batidos pela inclemência, ameaçados pela calamidade, espreitados pelas endemias, devorados pela canícula, es-quecidos pelo Poder, consumidos pela subnutrição, como comunidade malsinada privada da técnica e de progresso levando ao Calvário da Terra do Sol todo o cortejo de desgraças que arrasta o nordestino.

Eis, Sr. Dr. Gildo Aguirre, porque a vinda de V. Exa. a Campo Formoso é a esperança, mais que esperança, é um prelúdio de bênçãos, a realização concretizada nos inestimáveis serviços que aqui veio inaugurar.

O homem do Estado, nestas paragens ermas e calcinadas, representa um acontecimento, uma novidade a marcar época, a despertar confiança e esperança de que novos homens públicos do Brasil vêem a rea-lidade e encarnam o espírito de neo-bandeirismo, arrancada heróica em que os paulistas bandeirantes dilataram as fronteiras do nosso país e semearam a civilização em todos os recantos da Pátria Grande.

O Sertanejo é homem forte do interior que aqui está observando V. Exa. e sua ilustre caravana adornando a paisagem rústica do Sertão como o Juazeiro de Gustavo Barroso, mancha verde da esperança, testemu-nha, na colossal tristeza de um cemitério vegetal, que a vida não morreu, mas que renasce vigorosa ao contato do devotamento de patriotas de verdade, filhos devotados à sua terra e à sua gente. Esse homem forte está bem encarnado na figura desse caravaneiro do Sertão, Deputado Manoel Novais, varejador das caatingas, visitador incansável dos sertões, conhecedor “de visu” de cidades, aldeias e povoados e de seus problemas, irmão legítimo dos meus irmãos sertanejos, sofrendo as suas tragédias e seu martírio seja no

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desconforto do Sertão ou nas salas das Secretarias, dos Ministérios, das Diretorias ou dos Gabinetes. Ele é o maior responsável pela execução desta obra que hoje se inaugura, pois, desde o primeiro instante, desde o nosso primeiro apelo, recursos foram mobilizados para o Departamento de Endemias Rurais e o sonho de ontem tornou-se a doce realidade desta hora.

Desmentindo o brocardo popular e afirmando que “Tamanho é sim documento”, tudo que inauguramos de novo no nosso período administrativo de 1954 a 1958, devemos à sua iniciativa direta ou indireta, e nem perguntou se o povo deste município seria ou não reconhecido ao seu esforço despretensioso. Ele representa afinal um contraste com os representantes do asfalto, desconhecedores de Sertão, acadêmicos crisolatras para quem a tribuna da Câmara não é mais do que uma poltrona para criticarem obras que desconhecem e nunca visitaram.

O que nos conforta em tudo é a certeza de que a história do nosso município se dividiu em duas épocas distintas, e delas participaram os homens de consciência da nossa terra: antes e depois de Manoel No-vais. Quando, naquela época a que fiz referência, o Governo do Estado nos abandonou completamente, desconhecendo os nossos problemas, omitindo-se em tudo, exceto na cobrança de impostos, eis que o Governo Federal descobre o Campo Formoso através de Manoel Novais e hoje a honraria que nos confere esta ilustre caravana, mais uma obra se inaugura, assegurando o conforto e bem estar de uma comunidade sertaneja.

Alegra-me sobremaneira esta oportunidade quando podemos em traços ligeiros descrever um pouco da história do Serviço de Abastecimento de água de Campo Formoso. Lá pelos idos de 1954, surgia por aqui de quando em vez, um engenheiro escalando a serra e estudando o local da barragem, era o Dr. Felis-berto Melo, magro, rápido, sempre com planos, que nos pareciam exequíveis, e logo depois o Dr. Antonio Carvalho, solícito, prático e amigo de todas as horas trazendo as plantas, o material e os seus auxiliares imediatos Januário e Franco. Paralelamente ao início das obras, lançava o Dr. Antonio Rodopiano, médi-co do setor de Senhor do Bonfim, a campanha do combate ao Planorbis e a consequente erradicação da esquistossomose no nosso município sob a orientação eficiente e objetiva do Dr. Gildo Aguirre. A certa altura da marcha dos trabalhos, faltaram os recursos financeiros e lá no 4º andar do Rex Hotel do Rio de Janeiro encontrei às 6 horas da manhã de um dia de maio de 1956 o Deputado Manoel Novais a quem contei minha história e a história da minha terra. Daí para cá o trabalho que fora tão bem iniciado tomou o seu ritmo normal e os auxílios foram liberados em épocas sucessivas até que se concluiu a primeira eta-pa do serviço. Já sob as vistas do operoso prefeito Candido Peralva se concretizou a segunda etapa e por tudo que hoje se vê daremos sempre mil graças a Deus, pois o bombeamento da água é feito pela força da gravidade e a cloração pelos raios solares que Deus prodigamente nos deu.

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É um sonho que se torna realidade nesta hora significativa, e é de se ter olhos de ver para contemplar a excelência e a magnitude do quinhão com que foi galardoada a nossa terra.

Prestando as homenagens aos méritos de todos aqueles que deram parcelas inestimáveis dos seus esfor-ços à execução desta obra, trago em meu próprio nome, em nome do chefe da Comuna, o ínclito prefeito Candido Peralva e nome do povo reconhecido de Campo Formoso, os agradecimentos sinceros ao De-putado Manoel Novais, aos Engenheiros Filisberto Mello e Antonio Carvalho, aos funcionários, Januá-rio, Franco e Anastácio, que sempre foram exemplares no desempenho de suas funções; aos Drs. Antonio Carlos Rodopiano e Lafaiete, que nas funções de médicos foram sempre vigilantes e solícitos nos limites do nosso município no combate ao paludismo, ao tracoma e à esquistossomose.

Cumpre-nos homenagear nesta hora em palavras mui sinceras ao inestimável e compreensivo Dr. Gildo Aguirre, amigo desvelado ao atender com cavalheirismo e solicitude as nossas pretensões ligadas ao in-teresse comum do bem estar da saúde pública em nosso município; Gildo Aguirre, modesto e franco a quem devolvo as homenagens que me foram prestadas no silencioso do bronze junto ao Chafariz público da Cidade quando do término da primeira etapa do Serviço em 1958.

Meus senhores, a inauguração de hoje marca uma época e assinala um marco miliário na nossa história, abrem-se novos horizontes para Campo Formoso; beneficia-se uma população, atende-se um povo e com a voz reconhecida deste povo da terra abrasada na fome, na penúria, na necessidade, no isolamento, na enfermidade, na ignorância, na angústia e, às vezes, no f lagelo, trago a palavra de gratidão e de reco-nhecimento e o apelo veemente e incisivo para a consternação oficial e pública das plangentes e conster-nadoras necessidades da nossa terra.

Nós os saudamos a todos e aos ilustres visitantes trazemos as nossas boas vindas e lhes agradecemos as honrosas visitas como boas samaritanas à terra f lagelada e numa prece angustiosa e cheia de fé pedimos a Deus que ilumine os nossos destinos.

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discurso de posse no cargo de prefeito Municipal de Campo Formoso, em 31 de janeiro de 1973

Exmo. Sr. Dr. Juiz Eleitoral, meus senhores, minhas senhoras:

Sejam as minhas primeiras palavras dirigidas a V. Exa., Sr. Dr. Juiz Eleitoral da 53ª Zona.

Nesta oportunidade, cumpro o dever de agradecer à justiça eleitoral, personificada na figura íntegra de V. Exa., Sr. Dr. José Sandoval Mota da Silva, pela isenção de ânimo, pela integridade de vossas decisões, pela retidão com que decidiu todos os atos eleitorais no desempenho de melindrosas funções e pelo acendrado devotamento ao cumprimento do dever.

A imparcialidade nas decisões e o espírito de justiça acima de tudo foram virtudes que o tornaram admi-rado de todos, assegurando a paz e a tranquilidade dentro das fronteiras do nosso município.

MEUS SENHOR ES:

Sobremodo honrado pelo voto da maioria dos meus concidadãos, tenho a honra de empossar-me na chefia do Executivo da nossa terra, recebendo com humildade esta investidura como um apelo ao dever de servi-la com devotamento e civismo em nova fase de governo e administração que hoje se inicia em todo o Estado como um período das mais risonhas esperanças.

A tormenta política que avassalou o nosso município há dois anos passados cedeu lugar a um período de tranquilidade e de paz, onde o entendimento entre as facções políticas e o espírito de renúncia das lide-ranças locais decidiram por uma fase de trégua a exemplo do grande número dos municípios baianos.

O patrocínio da causa foi talvez o motivo determinante que deu ensejo a que fossem buscar na humilde azáfama dos trabalhos profissionais e educativos para fazer-me voltar às lides administrativas, já que outros motivos não os tenho para justificar o cometimento que a mim foi outorgado pelos meus conterrâneos.

Militantes na vida pública, nos anos verdes da vida e após o desencantamento e a renúncia total por não me sentir tão útil ao meu povo como no sacerdócio incomparável da arte de curar, jamais aspiraria vol-

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tar ao cenário que dantes renunciei e onde as incompreensões falam mais alto que o espírito de justiça; nenhum outro propósito me reanimou o espírito qual aqueles de aspirar ao progresso desta terra com a cooperação de todos para o bem da comunidade sem as injunções do partidarismo político que divide, desagrega sem resultados objetivos para a coletividade.

Recebo com humildade, repito, as rédeas do governo municipal das mãos do ínclito cidadão Armando Trajano Maia que procurou, dentro das limitações do tempo de um mandato tampão, realizar sua admi-nistração com espírito devotado que suas forças permitiram.

O motivo dominante e o fator decisivo da aceitação desta incumbência é dar um pouco mais do precioso tempo à minha terra para assentar e consolidar as suas instituições e a sua infra-estrutura já iniciadas em gestões anteriores, elevando-se com embalo ao grau de consistência e vigor que só lhe pode assegurar o arbítrio dos seus próprios destinos. Para que possamos atingir estes objetivos, tornar-se-ia imprescindível colocar a administração um pouco acima das paixões políticas, onde, auscultando a visão de todos, com isenção de ânimo, com placidez e imparcialidade, tenhamos como preocupação apaixonante, a solução dos problemas inadiáveis e de interesse comum.

“Ao lado do equilíbrio de ânimo, almejamos autoridade sem abuso de poder, para exercer esta magistra-tura defendendo a um e outro lado, as instituições sagradas que geram as tradições fundamentais, que asseguram supremacia de princípios através dos tempos”.

O advento da Revolução de Março de 1964, iniciada pelas armas e prosseguindo pelas causas do espírito, arrefeceu as vocações demagógicas e sem conteúdo prático, para dar lugar a uma fase de realizações onde o respeito à autoridade, o senso de responsabilidade e o critério de atuação no âmbito da administração, vieram criar no espírito do povo, a clarividência de julgar os seus mandatários, dando-lhes um voto de confiança e exigindo em contra partida, a situação da solvência dos problemas que os af ligem.

A Revolução deu um novo destino ao Brasil, e mesmo não vivendo ainda os brasileiros na sua plenitude democrática, sentem que motivos que a inspiram já foram em grande parte atingidos; a tranquilidade dos lares, a industrialização do país, a derrocada da inf lação, o aumento do produto interno bruto nacional, o volume das exportações, os investimentos de caráter social visando à solução dos problemas dos humil-des e do nordestino esquecido, a expansão das redes de energia elétrica e a eletrificação rural, o combate ao analfabetismo em termos objetivos, fizeram do Brasil de hoje, uma nação que opta pelos interesses dos brasileiros, assegurando-lhes a autêntica independência tão almejada por todos os seus filhos.

O exercício funcional de cada um e o cumprimento do dever por todos, é o lema que ditará a consoli-dação dos objetivos revolucionários. O país criou condições e leis que permitem a todos construir sua emancipação e viver melhores dias; um novo conceito de trabalho se impõe quando sentimos consolida-

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dos estes objetivos e repetindo palavras do presidente Médici: “não creio em nenhum plano de governo que não corresponda a um plano de ação conjugada; na marcha para o desenvolvimento, o povo não pode ser espectador; tem de ser o protagonista principal”.

Analisando essas palavras em profundidade e vendo no âmbito municipal, o povo, através dos seus re-presentantes legais, reitero minhas palavras, ditas em outra oportunidade, por ocasião da Convenção da Aliança Renovadora Nacional: “não entendo o vereador sem autenticidade de um legítimo representante deste povo; negar este princípio seria negar a própria democracia e no âmbito municipal ela é exercida em toda sua plenitude”.

SENHOR ES VER EADOR ES:

Sinto em vós a força viva do município e em cada um de vós, um reduto desta área territorial do Estado, manifesta nas urnas de 15 de novembro pelo sufrágio popular. Vejo em vós as sentinelas avançadas deste povo, os vigias de uma administração que se implanta, os legisladores que levam, para os artigos das leis, as aspirações mais nobres deste povo. Eu creio na atuação de V.Exas., no exercício incansável do cargo no qual sois hoje investidos; eu creio na oposição sadia e construtiva que visa corrigir e apontar soluções.

Ao lado do esforço conjugado da boa vontade e do idealismo de bem servir a esta terra, procurarei cum-prir tudo vendo, tratando e planejando, a plataforma que nos propomos traçar e executar; vendo com os olhos, de ver útil, o essencial e prático, no uso do bom senso e da despretensão pessoal, tratando com carinho a causa pública e com desvelo as ordens emanadas do povo.

Aqui serei o que devo ser; cumpridor incondicional do cometimento que me foi outorgado nas urnas de 15 de novembro: administrar Campo Formoso acima do irritável partidarismo político e mais próximo das lides de construção municipal.

Com o incremento da ação oficial do Estado e do Governo Federal, onde buscaremos recursos para dinamizar a administração, ajude-me o poder do Alto, auxiliem-me os homens de boa vontade, na in-terpretação realista dos seus propósitos, encarando apenas a condição do seu bem estar e os meios de conjurar os sacrifícios que a vida lhes impõe. Apóie-me o povo sempre leal e terei ouvidos moucos à ma-ledicência, à calúnia e às difamações; atento, contudo, aos conselhos edificadores e ao assessoramento sadio, partam de onde partirem, desde que, visando o levantamento social, material e econômico desta terra que nos viu nascer.

Uma filosofia de governo procuraremos implantar, fugindo aos poucos dos velhos moldes até porque a legislação vigente nos força a adotá-la para dinamização dos atos administrativos. O século, em que vi-vemos, dos transportes supersônicos e dos computadores, exige atitudes práticas, pois o tempo, cada vez

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mais precioso, não permite mais a procrastinação e o seu desperdício; os projetos exequíveis terão pronto atendimento e os inexequíveis terão também o seu destino próprio.

A previsão orçamentária de 1973, já aprovada pelos senhores vereadores, é um retrato do que pretende-mos executar nesta primeira etapa. Fugiu totalmente das nossas cogitações a superf luidade dos investi-mentos e procuraremos fugir tanto quanto possível da pulverização de recursos, comportamento este que vem sendo uma constante condenável em várias administrações deste país. Acima dos desperdícios financeiros, está o objetivo maior, que é a consolidação da infra-estrutura do município. Permita o gran-de Deus que possamos plantar neste período, os carvalhos para o abrigo do futuro.

O trabalho é árduo, bem o sei, e não temos veleidade de afirmar que no exercício do cargo seremos mode-lo de administrador, apenas afirmamos que a vontade não nos falta. Contando com o concurso de todos, dos senhores vereadores e da compreensão sadia dos nossos conterrâneos, levaremos à ultima instância a solução dos problemas de capital importância e inadiável equacionamento para o soerguimento e pro-gresso de nossa terra.

Considero o poder como instrumento de ação fecunda. Não o vejo como interesse ou vaidade pessoal, não o vejo afinal como interesse exclusivamente político, mas acima de tudo, como alavanca propulsora do bem público e do desenvolvimento municipal.

Ao investir-me, neste instante solene, nas prerrogativas de Prefeito Municipal de Campo Formoso, con-ciso dos deveres que me são impostos, consciente das responsabilidades que me são atribuídas, só me resta, na sinceridade do meu reconhecimento, agradecer aos meus conterrâneos a confiança que ficou patenteada nas urnas de 15 de novembro, atitude que interpreto como uma delegação irrestrita de pode-res e autoridade para dirigir os destinos de Campo Formoso.

SR. PR ESIDENTE, SRS. VER EADOR ES, MEUS CAROS CONTERR âNEOS:

Aproxima-se a hora de lançar novamente as redes, deixando de chorar a sua inutilidade e a hora do cha-mamento para o trabalho. O veredicto do povo é o toque de marcha e, com vontade de acertar, iremos todos nós, filhos de Campo Formoso, acima das dissensões partidárias, realizar alguma coisa por esta terra que é nossa, hospitaleira e boa e que já abriga muitos que hoje são nossos irmãos.

Que Deus nos ilumine o espírito e nos dê forças para a caminhada e permita-nos atingir o grande obje-tivo: Ver Campo Formoso crescer e se projetar, os seus filhos desfrutarem a glória de muitas vitórias, e termos nós a tranquilidade do dever cumprido.

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alguns diplomas e honrarias

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