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Manual de Metodologia e Boas Prticas para a Elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel

La Movilidad es un derecho no una obligacin Joaquim Sabat Universitat Politcnica de Catalunya

AgradecimentosCCDR-LVT [Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo], Alexandra Almeida, Ajuntament de Manises, Jos Tamarit Vivo, Maribel Domnguez Culebras, Jos Domingo Martinez, Rafael Botet Lahuerta, Guadalupe Garca Rincn, Ajuntament de Torrent, Jos Santiago Miguel Soriano, Feliciano Gmez Varela, Jos Antonio Prez Garcia, Maria Vicenta Vaquero Prez, Amparo Snchez Penella, Universit di Genova Facolt di Architettura Dipartimenti POLIS, Luigi Lagomarsino, Yuri Franchini, Lycurgo Vidalakis, Paulo Pais, Robert Stssi, Antnio Prez Babo, Fernando Nunes da Silva, Joo Seixas, Nuno Portas, Pedro Brando, Antoni Remesar, Mrio Alves, Isabel Seabra e Carlos Gaivoto.

Manual de Metodologia Manual e Boas de Metodologia Prticas para a e Boas Prticas Elaborao paraum de a Plano de Elaborao Mobilidade de um Plano Sustentvel

de Mobilidade Sustentvel

Equipa Tcnica

Cmara Municipal do Barreiro Nuno Ferreira Joo Lopes Paulo Galindro

Cmara Municipal de Loures ngela Ferreira Conceio Bandarrinha Margarida Oliveira

Cmara Municipal da Moita Jorge Bonito Santos Sofia Amaral Pereira Helena Rodero Rolo Maria Joo Perdiz

Transitec Portugal - Engenheiros Consultores Philippe Glayre Christian Camandona Margarida Neta Jorge Vargas com a colaborao de: Fernando Nunes da Silva (CESUR/IST) Joo Abreu e Silva (Way2Go)

Ficha Tcnica

Foto da capa: Jorge Bonito Impresso digital na Tipografia Belgrfica, Moita Maro, 2008 Tiragem de 90 exemplares Depsito Legal n 277343/08

PrefcioPretendendo contribuir para uma melhor prtica na elaborao de Planos de Mobilidade, foi desenvolvido pelos Municpios do Barreiro, Loures e Moita, conjuntamente com a empresa Transitec Portugal, Engenheiros Consultores, no mbito do Sub-Projecto TRAMO - Operao Quadro Regional MARE, o presente trabalho, que se constitui como um Manual de Metodologia e Boas Prticas para a Elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel.

Este documento d resposta a um conjunto de necessidades sentidas pelos Municpios relativamente temtica da Mobilidade, nomeadamente no que se refere definio de estratgias municipais, elaborao dos necessrios instrumentos de gesto e ainda sua articulao com o ordenamento do territrio e com o desenho do espao pblico urbano.

O Manual, elaborado tendo por base a realidade nacional e a estratgia europeia para a mobilidade, pretende constituir-se como um instrumento de apoio concretizao de Planos de Mobilidade e tem como objectivos principais: > clarificar questes relacionadas com a elaborao de Planos de Mobilidade, alertando para alguns aspectos determinantes como a necessidade de uma reflexo global, integrada e sistmica entre Mobilidade, planeamento do territrio e desenho urbano; > suprir a carncia resultante da inexistncia de normas regulamentares ou recomendaes tcnicas para a elaborao de planos de mobilidade; > ser adaptvel a cidades de dimenso mdia, dotadas de redes de transporte pblico urbano e com movimentos pendulares significativos; > definir uma metodologia e identificar um conjunto de boas prticas para a elaborao de Planos de Mobilidade; > reforar a relao e a articulao entre transportes pblicos e ordenamento do territrio; > constituir um documento til e acessvel a todos, considerando os princpios de disseminao da OQR MARE; > contribuir para encarar as pessoas como o centro do estudo nas questes da Mobilidade; > estimular o respeito por critrios de sustentabilidade, integrando preocupaes como a intermodalidade, a poluio atmosfrica, o rudo, a

eficcia e a eficincia energtica, a segurana, a eficincia econmica e a equidade social; > difundir um olhar integrado sobre todos os modos de transporte transporte individual, deslocao ciclvel, deslocao pedonal e transporte pblico; > promover o uso racional do transporte individual motorizado; > promover e proporcionar uma rede de transporte pblico regular, frequente, confortvel e adaptada realidade territorial; > promover o uso da bicicleta enquanto meio de transporte; > promover a deslocao pedonal; > procurar solues que proporcionem um espao pblico urbano qualificado; > considerar a participao de todos os agentes polticos, tcnicos, operadores de transporte pblico, entidades da administrao central, associaes de utentes e populao em geral em todas as fases de elaborao do Plano e da sua monitorizao.

ResumoNeste documento apresenta-se um Manual de Metodologia e Boas Prticas para a Elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel elaborado no mbito do Sub-Projecto TRAMO - Projecto MARE. O Manual, que foi elaborado com base na realidade nacional e na estratgia europeia para a mobilidade, pretende constituir-se como um instrumento de apoio concretizao de Planos de Mobilidade. O documento inclui os captulos Contexto da OQR MARE e do Sub Projecto TRAMO, Enquadramento e Boas Prticas, Reflexes [textos de peritos convidados] e Metodologia para a elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel. Na Metodologia proposta so definidas as diversas fases para a elaborao de um Plano de Mobilidade: Organizao e Procedimentos; Diagnstico Multimodal Prospectivo; Condicionantes e Objectivos; Conceito Multimodal de Deslocaes; Instrumentos de Aco; Programas de Aco, Custos e Meios de Funcionamento; Monitorizao e Avaliao.

ResumDans ce document on prsente un "Manuel de Mthodologie et Bonnes Pratiques pour l'laboration d'un Plan de Mobilit Durable" labor dans le contexte du Sous-Projet TRAMO - Projet MARE. Le Manuel, qui a t labor en ayant par base la ralit nationale et la stratgie europenne pour la mobilit, prtend se constituer comme un instrument d'aide la concrtisation de Plans de Mobilit. Le document inclut les chapitres Contexte de OCR MARE et du Sous-Projet TRAMO, Encadrement et Bonnes Pratiques, Rflexions [textes de experts invits] et Mthodologie pour l'laboration d'un Plan de Mobilit Durable. Dans la Mthodologie propose sont dfinies les diverses phases pour l'laboration d'un Plan de Mobilit: Organisation et Procdures; Diagnostic Plurimodale Prospectif; Conditions et Objectifs; Concept Plurimodale de Dplacements; Instruments d'Action; Programmes d'Action, Cots et Moyens de Fonctionnement; Surveillance et valuation.

SummaryIn this document we present a "Manual of Methodology and Good Praticals for the elaboration of a Sustainable Mobility Plan, which was elaborated under the TRAMO sub-project - Project MARE. This Manual, based both on the national reality and the European strategy for mobility, intends to become an instrument to support the concretion of Mobility Plans. The document includes the chapters: MARE Project and TRAMO sub-project context, Framing and Good Practicals, Reflections [texts of invited experts] and Methodology for the elaboration of a Sustainable Mobility Plan. In the proposed Methodology, the diverse phases for the elaboration of a Mobility Plan are defined: Organization and Procedures; Prospective Multimodal Diagnosis; Goals and Restrictions; Multimodal Concept of Displacement; Instruments of Action; Action Programs, Costs and Means of Functioning; Monitorizing and Evaluation.

BarreiroA Cidade do Barreiro, uma pennsula localizada a sul do Tejo, frente a Lisboa, na zona mais abrigada do esturio, o mar da palha, constitui desde o tempo da estrada romana o principal acesso a Lisboa pelo sul. Local onde se fixaram os pescadores que pescavam na barra os barreiros. Teve posteriormente um desenvolvimento pr-industrial com a moagem nos muitos moinhos de mar construdos nos esteiros da confluncia do rio Coina com o Tejo. Por isso, foi na poca de expanso portuguesa (sc XV e XVI), um dos principais centros logsticos da construo, preparao e abastecimento das naus que cruzaram os mares. J no sc. XIX foi o local escolhido para terminal do caminho de ferro. A estao do Sul e Sueste (a mais antiga do pas) com ligao fluvial baixa de Lisboa, Terreiro do Pao. Constitui-se ento como um importante centro ferrovirio e fixou grande actividade na indstria corticeira. No incio do sc. XX comeou a actividade do que veio a ser o maior complexo industrial de qumica pesada da Pennsula Ibrica. O Barreiro cresceu muito, neste perodo, para albergar os muitos imigrantes que de todo o pas vinham procurar trabalho. Criou uma cultura singular entre as suas gentes, que se habituaram a construir por si, em associaes que visavam satisfazer as suas necessidades de instruo, cultura e recreio (Possui mais de uma centena de colectividades).

Com uma densidade populacional muitssimo elevada, desenvolveu uma cultura de transporte pblico: ferrovirio, fluvial e rodovirio. H 50 anos o Municpio criou um servio de transportes urbanos, municipais, que s existem em mais cinco municpios do pas.

Chegado ao sc.XXI o Barreiro constri hoje o seu presente e o seu futuro, integrado na rea Metropolitana de Lisboa, cidade que se quer de duas margens, polinucleada. A estratgia delineada visa o desenvolvimento da actividade econmica e da fixao de emprego, emprego produtivo e de servios de apoio s empresas e s pessoas, estando a elaborar o Plano de Urbanizao dos cerca de 300 ha de terrenos pblicos com 4 km de frente rio onde foi o antigo complexo industrial, a par da requalificao do seu centro e das reas ribeirinhas e da reviso do Plano Director Municipal. A Administrao do Porto de Lisboa, integrada nesta estratgia desenvolve tambm os seus planos de expanso porturia no Barreiro.Cmara Municipal do Barreiro Joaquim Matias Vice-Presidente, Vereador do Urbansmo

As recentes decises do Governo de localizao da Terceira Travessia do Tejo Rodo-Ferroviria e do novo aeroporto de Lisboa so importantes catalizadores desta estratgia e implicam a construo da grande gare ferroviria do Sul, do Metro Sul do Tejo e da requalificao do transporte fluvial. Nesta estratgia de desenvolvimento ambientalmente sustentvel, a mobilidade dos cidados um factor decisivo que levou candidatura no mbito da Operao do Quadro Regional MARE Interreg IIIC aos Sub Projectos TRAMO, ACFER e FLEXIS. Foi um perodo riqussimo de trabalho colectivo, de troca de experincias que enriqueceu os quadros da estrutura dos Servios Camarrios e abriu tambm novas prespectivas aos decisores. Possumos agora um documento terico de grande valor para a construo e monitorizao da mobilidade que queremos participada e ajustada aos interesses populares. O Conselho Municipal para a mobilidade, a criar em estrita ligao com o Planeamento Urbano, ir contar com a participao de operadores e autoridades locais, mas tambm com os cidados no levantamento de problemas e tambm na construo das solues a adoptar. Quere-se um frum de cidadania activa.

Uma ltima palavra de reconhecimento aos parceiros dos sub projectos e coordenao portuguesa. Construiu-se uma verdadeira equipa que colaborou intensamente, que se consolidou no trabalho e criou inclusivamente laos fraternais de amizade entre os participantes. A todos, muito obrigado.

LouresAs questes da mobilidade, que so tambm as questes da vida quotidiana, tm efeitos e implicaes directas sobre o ambiente, o desenvolvimento econmico e a garantia de igualdade de oportunidades. Sendo a mobilidade sustentvel uma das nossas apostas estratgicas fundamentais para a melhoria da qualidade de vida dos muncipes, temonos obrigado a uma pesquisa constante de solues que respondam s necessidades de deslocao das pessoas e bens no nosso municpio.

O acrscimo de deslocaes em Loures, decorrentes do facto de sermos um municpio adjacente capital de Portugal, a necessidade de se definir uma estratgia de deslocaes em sede de reviso do Plano Director Municipal, e a oportunidade de podermos partilhar conhecimentos e experincias com outros municpios da rea Metropolitana de Lisboa e com as regies metropolitanas de Valncia e da Ligria, levaram-nos submisso da candidatura de quatro sub-projectos, no mbito da Operao Quadro Regional MARE Interreg IIIC. Estamos a falar dos sub-projectos ACFER, EMOBILITY, FLEXIS e TRAMO. Os sub-projectos aprovados, inseridos numa lgica de criao de condies para uma mobilidade mais sustentvel do territrio de Loures, contribuem, cada um deles sua medida, para: > Uma maior coerncia das polticas de urbanismo e transportes; > Uma melhor adequao da oferta do sistema de transportes procura; > A promoo do transporte pblico de passageiros; > Uma maior utilizao dos modos suaves de deslocao; e > Um efectivo apoio na deciso dos indivduos face s diferentes opes de deslocao.

A carncia de normativos nacionais que enquadrem a elaborao de planos de mobilidade, levou-nos, atravs do sub-projecto TRAMO, a procurar estabelecer uma metodologia aplicvel sua elaborao, baseada em realidades europeias. Este sub-projecto visa o estabelecimento de metodologias para a elaborao de um plano de mobilidade, cujo produto os Municpios parceiros se comprometem divulgar, no sentido de gerar uma plataforma conceptual comum, de mbito regional e supra-regional, que permita construir futuras parcerias. At porque os padres de mobilidade numa regio metropolitana, como a nossa, no permitem trabalhar o respectivo planeamento e gesto escala de cada Municpio.Cmara Municipal de Loures Joo Pedro Domingues Vereador do Urbansmo

Este sub-projecto, apesar de ser aquele que menores efeitos imediatos ter sobre a vida das populaes no dia da sua concluso, ser aquele cujos efeitos podero ser decisivos, estruturantes e duradouros para a construo de um plano e de uma aco de mobilidade sustentvel, no s nos Municpios directamente envolvidos, enquanto parceiros, como para a totalidade da rea Metropolitana de Lisboa. Com o produto final obtido, agora plasmado neste Manual, esperamos contribuir para a supresso desta carncia e disponibilizar uma ferramenta to til a todos os que a queiram utilizar quanto esperamos que o seja para o nosso municpio, em termos de sustentabilidade ambiental, econmica e social.

Quero tambm sublinhar que no podemos olhar para os problemas da mobilidade de forma isolada. Por isso, em Loures, o planeamento da rede de mobilidade tem vindo a ser cometido ao Planeamento Territorial, concretamente no mbito da reviso do PDM, de modo a obtermos um modelo de ordenamento do territrio coerente e sustentvel. Os resultados provisrios positivos que se advinham, animam-nos para hoje poder afirmar com clareza que estamos no incio de uma nova dinmica, que ter continuidade no futuro prximo e que permitir estruturar uma estratgia de sustentabilidade territorial subjacente ao modelo de ordenamento do territrio que estamos, em conjunto, a construir.

Moita

O contnuo crescimento das cidades para alm dos limites outrora bem definidos, fenmeno que marcou a urbanizao do sculo XX, conduziu ao esbatimento progressivo da fronteira campo-cidade e transformao da cidade em metrpole, engolindo no percurso subrbios, campo, outras cidades prximas. O resultado esta nova realidade de vastos territrios de urbanizao fragmentada e difusa que revoga o conceito tradicional de cidade. Este processo indissocivel do automvel. Do Ford-T s mega-cidades actuais distam cem anos e milhes de carros em circulao. Da Lisboa queirosiana metrpole de hoje dista uma urbe de quase 3000 km2 3,3% do territrio nacional, que concentra quase trs milhes de pessoas da populao portuguesa.

O Concelho da Moita faz parte da Margem Sul da rea Metropolitana de Lisboa o outro lado, na perspectiva governante ao longo de dcadas, demasiadas. A Grande Lisboa cresceu desordenada resultado da expanso urbana associada industrializao e, mais recentemente, desintrustrializao, ao xodo rural da misria, aos bairros clandestinos dos avos, da lata, da

misria eles tambm, mesmo quando sonho pequeno-burgs, das dcadas de crescimento comandado pela especulao. A factura ainda hoje se paga. E uma pesada factura: tecidos urbanos fracturados e desestruturados, redes de comunicaes e transportes deficientes, insuficientes e geralmente caros, so ainda hoje a realidade, tanto mais evidente quanto mais nos afastamos da Lisboa cidade, ncleo de um intenso centralismo que ainda perdura, tanto do ponto de vista econmico e social quanto na vertente poltica.Cmara Municipal da Moita

Tambm por a se explica porque ainda hoje, nesta outra margem, lado de l da governao, o retrato anterior se tinge de tons ainda mais escuros. Hoje, ainda hoje, os cidados da Margem Sul pagam, inevitavelmente pagam para entrar em Lisboa. Ainda hoje as viagens pendulares casa trabalho ou escola a partir de alguns pontos da regio equivalem a metade da jornada de trabalho. Ainda hoje a deslocao entre alguns pontos da regio no servida por transportes pblicos. O resultado, inevitvel, deste contexto o uso preferencial do automvel, ainda para mais potenciado por um preconceito social que relaciona o uso do automvel com a elevao do estatuto social. Exige-se uma ruptura desta realidade, deste rumo, destas polticas. A mobilidade e as acessibilidades so um problema central do desenvolvimento da rea Metropolitana de Lisboa. O ponto de partida de uma nova poltica deve ser o reconhecimento do direito mobilidade. Devem priorizar-se as deslocaes mais massivas, as necessidades quotidianas, as redes de proximidade. O urbanismo deve favorecer os tecidos urbanos mais compactos. As polticas, em todas as vertentes, devem vincular-se promoo do transporte colectivo pblico. Tem de se promover uma ruptura radical com o actual paradigma das deslocaes metropolitanas.

Rui Garcia Vice-Presidente, Vereador do Urbansmo

O trabalho desenvolvido no mbito deste projecto, do qual aqui se apresenta o resultado final, pretende contribuir para dotar as autarquias e demais entidades que intervm sobre o territrio e sobre as questes de mobilidade e acessibilidade de instrumentos de apoio tomada de deciso nestas matrias. fundamental fazer as perguntas certas para encontrar as respostas necessrias. Esta metodologia deve ajudar-nos nesse propsito.

ndice17 Contexto da OQR Mare e do Sub Projecto TRAMO 21 Robert Stussi Em Portugal, que planeamento de transportes?

PARTE I Enquadramento e boas Prticas 27 Introduo 29 Unio Europeia e mobilidade sustentvel: Viso e Estratgia 35 Planos de Mobilidade: Realidade Nacional 45 Planos de Mobilidade: Realidade Internacional 57 Concluses

PARTE II Reflexes 61 Antnio Babo Mobilidade e programao estratgica 67 Fernando Nunes da Silva Ordenamento do territrio, sistemas de transportes e mobilidade urbana 75 Joo Seixas A cidade e a mobilidade. Um novo paradigma de interpretao e de aco na cidade 83 Nuno Portas Espao pblico e mobilidade sustentvel 89 Pedro Brando O software, o espao pblico 97 Antoni Remesar Espacio pblico de calidad 103 Mrio Alves Os pees, os passeios e causas comuns

PARTE III Metodologia para a elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel 111 ndice Detalhado 115 Introduo Metodologia para a elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel 117 Sumrio metodolgico 119 Organizao e procedimentos 129 Diagnstico multimodal prospectivo 173 Condicionantes e objectivos do plano de mobilidade 181 Conceito multimodal de deslocaes 191 Instrumentos de aco 217 Programa de aco 233 Monitorizao e avaliao da implementao do plano de mobilidade

229 Bibliografia 231 Glossrio 237 Abreviaturas

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Contexto da operao MARE e do sub-projecto TRAMONo mbito do Programa Interreg IIIC Sud, financiado pela Unio Europeia com o objectivo de incentivar as regies do Sul da Europa a trabalharem conjuntamente em projectos comuns, partilhando conhecimento e experincia, foi aprovada a Operao Quadro Regional (OQR) MARE Mobilit et Acessibilit Mtropolitaine aux Rgions de lEurope du Sud [Mobilidade e Acessibilidade Metropolitana nas Regies do Sul da Europa]. Esta OQR resulta de uma candidatura apresentada em parceria pelas autoridades regionais das regies metropolitanas de Lisboa (CCDR-LVT Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, Portugal), Ligria (Comune di Gnova, Itlia) e Valncia (Generalitat Valenciana Conselleria dInfraestructures i Transport, Espanha). As regies metropolitanas de Lisboa, Ligria e Valncia, cujo crescimento se ancorou em torno de um porto de mar de importncia nacional e europeia, tendo como consequncia directa a existncia de um significativo movimento terrestre de mercadorias que tem no porto a sua origem | destino, identificaram a mobilidade como um dos maiores desafios ao seu futuro desenvolvimento e sua competitividade internacional.

Abordando as questes da mobilidade de forma semelhante, na medida em que partilham vrias caractersticas comuns geografia, clima, histria que implicaram e implicam algumas singularidades na forma como se processa o crescimento urbano, como se realizam as deslocaes urbanas e como se utiliza o espao pblico, as autoridades das trs regies pretenderam, com a OQR MARE, melhorar a eficcia das polticas e dos instrumentos de desenvolvimento regional, estimulando os municpios das suas reas metropolitanas a cooperar, atravs da troca de informaes em

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torno do tema Mobilidade e Acessibilidade Metropolitana, na criao e desenvolvimento de uma estratgia integrada para a Mobilidade que garanta a qualidade de vida e contribua para um desenvolvimento sustentvel. Foi neste contexto que surgiu a oportunidade para o Sub-Projecto TRAMO Transporte Responsable, Actions de Mobilit et Ordination [Transporte Responsvel, Aces de Mobilidade e Ordenamento], reunindo parceiros de Lisboa: Cmara Municipal do Barreiro, Cmara Municipal de Loures e Cmara Municipal da Moita, de Valncia: Ajuntament de Manises e Ajuntament de Torrent e de Gnova: Universit di Genova Facolt di Architettura Dipartimenti POLIS. Considerando as cinco Componentes em que se estrutura a OQR MARE, os objectivos do Sub-Projecto TRAMO fazem com que o mesmo se enquadre na Componente 2 Aprofundar o Conhecimento da Mobilidade; trata-se, em primeiro lugar, de pr em contacto os parceiros das trs regies e de partilhar as suas experincias e competncias prprias e o que se poder aprender com a experincia das outras regies metropolitanas da Europa, salientandose como temas principais: os custos (custo global, econmico, social, temporal, ambiental, etc.) das diferentes formas de mobilidade; o papel das mobilidades no motorizadas; o planeamento da mobilidade; as aces inovadoras de promoo da mobilidade; as relaes entre ordenamento do territrio e a mobilidade; a organizao do sistema de transporte.

Com os trabalhos desenvolvidos pelos parceiros das trs regies metropolitanas no mbito do Sub-Projecto TRAMO, pretendeu-se compreender os custos das diferentes formas de mobilidade, o estado da arte das aces inovadoras nas cidades europeias, as relaes entre o ordenamento do territrio e a mobilidade, reforar as trocas de conhecimento e experincia entre as regies metropolitanas e difundir as boas prticas que foi possvel identificar. Em termos gerais, os objectivos de cada uma das regies metropolitanas envolvidas consistiram no estabelecer de uma metodologia para a elaborao de um Plano de Mobilidade adaptvel a cidades mdias, dotadas de redes de transporte pblico urbano e com movimentos pendulares significativos. Este projecto procurou tambm proporcionar aos parceiros envolvidos um aumento do conhecimento sobre a Mobilidade e promover a troca e a partilha de experincias entre as diferentes regies, possibilitando uma eventual uniformizao dos mtodos de administrao do territrio (Lisboa), experimentando frmulas de transportes colectivos alternativos utilizao do veculo individual, introduzindo novas

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tecnologias como formas de comunicao e de disponibilizao da informao ao pblico info-mobilidade atravs de painis digitais com informao sobre os custos ambientais e econmicos da utilizao do transporte colectivo e do transporte individual (Ligria) e elaborando Planos de Mobilidade para as cidades parceiras, realizando estudos comparativos entre as diferentes zonas (Valncia). Os resultados do trabalho realizado pelos parceiros do Sub-Projecto TRAMO concretizaram-se atravs da realizao de um Manual de Metodologia e Boas Prticas para a Elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel; atravs da troca de experincias e de conhecimentos entre os municpios das trs regies parceiras; atravs do aumento do conhecimento sobre a mobilidade, para que as regies participantes possam desenvolver e uniformizar critrios e tcnicas de gesto do territrio; atravs da sensibilizao dos cidados para as consequncias que os modelos actuais de mobilidade urbana tm sobre a colectividade; atravs da difuso de uma nova conscincia sobre as consequncias do excessivo trfego urbano insuficientes nveis de qualidade de vida urbana (stress, perdas de tempo, etc.) e altas taxas de poluio acstica e atmosfrica - permitindo a formao de uma conscincia colectiva, til compreenso das razes das escolhas da administrao pblica no que concerne ao redefinio dos modelos de mobilidade, fornecendo-lhes meios de comunicar e tornar compreensveis aos cidados as suas escolhas, elevando assim o seu nvel de eficcia.

O Manual de Metodologia e Boas Prticas para a Elaborao de um Plano de Mobilidade Sustentvel desenvolvido pelos parceiros da regio de Lisboa visa contribuir para uma melhor prtica na elaborao de Planos de Mobilidade dando resposta a um conjunto de necessidades sentidas pelos Municpios relativamente temtica da Mobilidade, particularmente na definio de estratgias municipais, na elaborao dos necessrios instrumentos de gesto, e ainda na sua articulao com o ordenamento do territrio e com o desenho do espao pblico urbano. O Manual, que foi elaborado tendo por base a realidade nacional e a estratgia europeia para a mobilidade, pretende constituir-se como um instrumento de apoio concretizao de Planos de Mobilidade mais eficazes, tornando-os elementos fundamentais nas polticas urbanas dos Municpios, contributo importante para o planeamento integrado dos transportes, num empenho de esforos em prioridades especficas relacionadas com a Mobilidade Sustentvel, especialmente as que tiverem consequncias directas no aumento de qualidade de vida das populaes.

Em Portugal, que planeamento de transportes?

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Em Portugal, poucos anos depois da publicao do Manual de Planificao e Gesto de Transportes, ao nvel local e regional (DGTT 1987), a Lei base de transportes (1990) com quase 20 anos e continuando inoperacional falhou definir conceitos de planificao dos transportes. Assim, enquanto em muitos pases existem normativos, em alguns mesmo a obrigao legal para a formulao de Planos de Mobilidade, nada parecido existe por c. Isto no impediu muitas Cmaras Municipais de fazerem planos locais ou concelhios de transportes e/ou circulao e estacionamento ao sabor de cada uma delas e dos respectivos consultores e muitos foram sendo implementados. A mencionar positivamente tambm a onda de criao de transportes urbanos em cidades mdias, em trs dzias de cidades, na ltima meia dcada. Ou seja, mesmo sem processo formalizado de planeamento, algumas coisas se foram fazendo. O planeamento dos transportes no se pode fazer isoladamente; est intimamente ligado ao ordenamento do territrio (Planos Directores), e cada vez mais aos domnios do ambiente e da energia, entre outros. Por isso, quando o Instituto do Ambiente agora Agncia Portuguesa do Ambiente (APA) lanou em articulao com a DGTT agora Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, e a DG do Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento Urbano um programa de projectos de mobilidade, quase a metade das Cmaras Municipais candidataramse e 40 foram seleccionadas. No para fazer planos uniformes, mas para lanarem diferentes projectos de mobilidade que serviriam, no final, para criar um guia de boas prticas (e no a definio formal de uma normativa de planeamento). Insere-se, neste contexto, um dos sub-projectos do programa Interreg C MARE (lanado antes do programa da APA) em que participam cidades de duas das trs regies do MARE: o projecto TRAMO, em que participam Manises (leader) e Torrent, na regio de Valncia, e Moita, Barreiro e Loures, na Regio de Lisboa. A inteno era de trabalhar em planos de mobilidade o que se concretizou, em Manises, por uma equipa de consultores e em Torrent, pela universidade; na regio de Lisboa, as trs cidades fizeram uma consulta conjunta coisa sui-generis para contratar o apoio de consultoria na formulao de um manual de planeamento de mobilidade a nvel local. Este guio foi testado, por um lado, por um grupo de peritos e entidades e, por outro, comparado analisando os planos de Manises e Torrent.Robert Stussi e Jean Kamani (Yaounde, Camares) Engenheiro Civil com especializao em Planeamento e Transportes pelo Instituto Superior Tcnico de Zurique, com o Master of Cience em Planeamento pela University of British Columbia, ps-graduao em Ordenamento do Territrio pela Confrence Universitaire Romande e ps-graduao sobre Pases em Vias de Desenvolvimento pelo Instituto Superior Tecnico de Lausanne. Consultor independente, director de projecto e administrador de empresas, desde 1968. Experincia nas reas do ensino e investigao em diversas universidades e cursos de formao profissional. Assessor em diversas entidades municipais e governamentais. Responsvel por processos de candidaturas de concurso; gesto e avaliao de projectos, elaborao e coordenao de estudos, no domnio do planeamento regional e urbano, planeamento estratgico e operacional de sistemas de transportes, infraestruturas, trfego e estacionamento, energia e ambiente. Experincia profissional no Canad, Europa, frica e Amrica Latina.

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Este processo bottom-up nada contradiz a necessidade das autoridades competentes se debruarem sobre esta matria e decidirem sobre uma normativa, que faz falta h tantos anos; no entanto deve-se lembrar que o planeamento dos transportes locais consta, claramente, das competncias das autarquias locais! A conjugao do trabalho da APA, dos resultados do projecto TRAMO, e desejavelmente uma recolha e avaliao de alguns planos locais dos ltimos anos, de iniciativa de Cmaras Municipais, permitiria criar uma doutrina em forma de normas, de um guio, de uma coleco de boas prticas. Se se legislaria algo como bases para o planeamento local da mobilidade seria um assunto a resolver posteriori; outra alternativa seria a definio de critrios para co-financiamentos que podero servir de orientaes para este tipo de planos.

Robert Stussi

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De uma primeira anlise dos planos feitos no mbito do Projecto TRAMO, em Manises e Trorrent, notou-se que as respectivas Cmaras os consideram como base, enquadrando um blueprint para actuaes concretas ou seja eles manifestam a necessidade de formular programas de aces o que coloca a questo se a matria da mobilidade, salvo os elementos estruturantes (infra-estruturas, sobretudo) no mais adequadamente se resolveria com um programa de mobilidade com bases e princpios aprovados mais flexvel e malevel, no tempo e conforme as necessidades, em vez de planos (rgidos), formalmente aprovados e com durao de mdio/longo prazo. Analisando uma srie de casos, tal como Beja, Guimares, e outros, verifica-se que planos feitos h dez anos, esto agora executados a talvez 80 %, com acrscimos, alteraes, actualizaes, inovaes, o que prova esta tese de programa versus plano fixo.

Robert Stussi

PARTE I

Enquadramento e Boas Prticas

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IntroduoO grande problema que as autoridades urbanas tero de resolver, mais cedo do que seria de esperar, o da gesto do trfego e, em especial, o papel do automvel particular nos centros urbanos. A ausncia de uma abordagem politica integrada relativamente ao planeamento e aos transportes urbanos est a permitir um monoplio quase total do automvel particular". Livro Branco relativo Poltica Europeia de Transportes: Poltica Europeia de Transportes para 2010: Hora das opes, 2001. O presente documento pretende apresentar algumas das metodologias que possam servir de base elaborao de instrumentos de gesto da mobilidade urbana e que permitam pr em prtica a referida e to necessria "abordagem integrada relativamente ao planeamento e aos transportes urbanos". A primeira parte do manual tem como objectivo contextualizar a temtica, fazendo referncia evoluo da posio da Unio Europeia (UE) face a esta matria, apresentando os aspectos legais e a prtica em alguns pases da UE. Apresenta-se, assim, de forma muito sucinta, por um lado, as estratgias, orientaes e mensagens-chave que tm vindo a ser desenvolvidas pela Comisso Europeia (CE) e, por outro, o enquadramento legal, bem como alguns exemplos de boas prticas, em termos de instrumentos de gesto da mobilidade urbana nalguns pases da UE. Os exemplos que se apresentam posteriormente no pretendem ser exaustivos, mas chamar a ateno para boas prticas e despertar a curiosidade face s mesmas. A noo de "boa prtica" pode no ser consensual. Desta forma, optou-se por fazer referncia a exemplos que so apresentados em documentos produzidos pela CE ou em projectos financiados pela mesma, como garantia de iseno dos exemplos apresentados.

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Unio Europeia e mobilidade sustentvel: viso e estratgiaA CE aposta desde h algum tempo no desenvolvimento de polticas de mobilidade sustentveis, que tm como principais objectivos a independncia, eficcia e eficincia energticas, a reduo dos impactes sobre a sade e o ambiente e a reduo das emisses de CO2. O "Livro Verde sobre o Ambiente Urbano" [COM (90) 218 final], apresenta j uma anlise vasta e abrangente dos desafios em matria de ambiente urbano e, pela primeira vez, prope uma abordagem global e uma srie de aces a nvel europeu, salientando a importncia do desenvolvimento da cooperao e integrao entre politicas. Em 1991, a CE criou o Grupo de Peritos sobre o Ambiente Urbano, que lanou em 1993 o projecto "Cidades Sustentveis". Este projecto deu origem ao Relatrio sobre Cidades Sustentveis, apresentado em 1996, que engloba "a identificao dos princpios de desenvolvimento sustentvel e dos mecanismos necessrios para a sua realizao, no apenas nas cidades, mas em todos os nveis da hierarquia urbana". J em 1996 o referido relatrio "recomenda vivamente a elaborao, escala da cidade, de estratgias de desenvolvimento urbano sustentvel".

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O Relatrio sobre Cidades Sustentveis serviu de base para a Comunicao "Para uma Agenda Urbana da Unio Europeia", de 1997, [COM (97) 197 final], que foi seguida em 1998 pela Comunicao "Desenvolvimento Urbano Sustentvel na Unio Europeia: Um Quadro de Aco" [COM (98) 605 final] onde, pela primeira vez, se adoptou uma verdadeira abordagem ao desenvolvimento sustentvel.

O Sexto Programa Comunitrio de Aco em matria de Ambiente, intitulado "Ambiente 2010: O nosso futuro, a nossa escolha" [COM (2001) 31 final], apresentou como principal prioridade a ratificao e implementao do Protocolo de Quioto, tendo como objectivo uma reduo de 8% dos gases com efeito de estufa, em relao aos nveis de 1996. Este programa preconizou a elaborao de uma Estratgia Temtica sobre o Ambiente Urbano, cujo objectivo dizia respeito "promoo de uma abordagem horizontal integrada de todas as polticas comunitrias e que melhore a qualidade do ambiente urbano, tendo em conta os progressos realizados na implementao do quadro de cooperao existente, revendoo consoante as necessidades, e que abranja: > a promoo da Agenda Local 21; > a atenuao da relao entre o crescimento econmico e a procura de transportes de passageiros; > a necessidade de aumentar a quota-parte dos transportes pblicos, dos modos de transporte ferrovirio, de navegao interior, da bicicleta e da locomoo pedestre; > a necessidade de fazer face ao aumento dos volumes de trfego e de lograr uma significativa dissociao entre o aumento dos transportes e o aumento do PIB; > a necessidade de promover a utilizao de veculos com emisses reduzidas nos transportes pblicos; > a tomada em considerao de indicadores ambientais."

No seguimento desta estratgia, a Comunicao da Comisso ao Conselho e ao Parlamento Europeus "Para uma estratgia temtica sobre ambiente urbano" [COM (2004) 60 final] prope as seguintes vises para a gesto urbana sustentvel e para os transportes urbanos sustentveis:

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A gesto urbana sustentvel: > procura minimizar os impactes negativos das zonas urbanas nos ciclos ecolgicos a todos os nveis e procura melhorar as condies ecolgicas de modo a transformar as cidades em locais saudveis para viver; > incide na preservao do ambiente natural no seu contexto social e econmico; > implica a reforma das estruturas organizativas que permita o desenvolvimento de abordagens polticas integradas; > desenvolve um cultura de conhecimentos, compreenso e respeito no seio das organizaes e entre indivduos envolvidos nos processos decisrios; > constitui um ciclo contnuo de anlise de problemas, planeamento e programao, execuo, acompanhamento, aferio dos progressos e avaliao." Um sistema de transportes urbanos sustentveis: > contribui para a liberdade de movimentos, a sade, a segurana e a qualidade de vida dos cidados das geraes actuais e futuras; > ambientalmente eficiente; e > apoia uma economia vibrante e inclusiva, dando a todos o acesso a oportunidades e servios, incluindo os cidados urbanos e no urbanos menos favorecidos, idosos ou com deficincias."

A Comunicao da CE ao Conselho e ao Parlamento Europeu relativa estratgia temtica sobre ambiente urbano [COM (2005) 718 final] refora a importncia de abordagens integradas na resoluo dos diversos problemas que as cidades enfrentam actualmente, afirmando que as abordagens integradas resultam num melhor planeamento e produzem resultados mais significativos. Uma das medidas apresentadas diz respeito elaborao de planos de transporte urbano, recomendando com insistncia s autoridades locais que elaborem e apliquem planos sustentveis de transporte urbano. Uma das principais concluses do documento refere que a criao de zonas urbanas de elevada qualidade implica uma estreita coordenao entre vrias polticas e iniciativas e um reforo da cooperao entre os diversos nveis da administrao.

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A CE apresentou em Setembro de 2007 o Livro Verde Por uma nova cultura de mobilidade urbana [COM (2007) 551], com o qual pretende lanar um grande debate pblico sobre as questes fundamentais da mobilidade urbana e, a partir deste, contribuir para a determinao do que poder ser uma poltica europeia nesta matria. Em Portugal, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) respondeu ao desafio, promovendo o debate e abrindo um processo nacional de audio pblica, com a participao dos actores e diferentes intervenientes no sistema de transportes.

A Comisso Europeia tem igualmente traduzido as suas intenes atravs do apoio activo a diferentes projectos, instrumentos, iniciativas e meios de informao, tais como os programas CUTE, ECTOS, STEER-ALTENER, a iniciativa CIVITAS e CIVITAS-Plus e o projecto SMILE, apoiado pelo programa LIFE, entre muitos outros. Faz-se aqui referncia ao projecto europeu LIFE SMILE (Sustainable Mobility Initiatives for Local Environment), que conta com o apoio da Direco Geral do Ambiente da Comisso Europeia no mbito do programa LIFE e tem por finalidade a reduo do impacte nocivo dos transportes urbanos na qualidade do ar, no clima, rudo e qualidade de vida, incentivando e promovendo medidas permanentes de mobilidade ao nvel das autarquias locais. Os parceiros do projecto SMILE partilham a mesma viso e utilizam a denominao "Poltica de Transportes Urbanos Sustentveis"1 referindose orientao que permite a utilizao coordenada e eficiente de todos os modos transporte, baseada sobretudo no uso adequado das infraestruturas rodovirias e na promoo de meios de transporte menos poluentes e com menor consumo energtico.Parceiros do Projecto SMILE ADEME, ENERGIE-CITS, CLIMATE ALLIANCE, ACCESS, EA.UE, E.V.A., ENEA, IDAE www.smile-europe.org figura 1

Os principais objectivos do projecto so: > promover o uso dos transportes por parte dos cidados; > melhorar a mobilidade urbana, incentivando as autarquias locais a adoptarem hbitos correctos e inovadores, a implementarem estratgias de polticas integradas, a criarem instrumentos de gesto da mobilidade e a promoverem a utilizao de veculos alternativos, entre outros; > conceder apoio tcnico a dez projectos-modelo de mobilidade urbana e

1

Sustainable Urban Transport Policy, no original

promover a sua divulgao pela Europa, de modo a fomentar a prtica de bons hbitos.

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Os principais resultados esperados so: > "criao de uma base de dados de boas prticas de mobilidade urbana sustentvel; > definio de princpios de integrao dos sistemas de transporte pblico e dos pblicos-alvo de cada iniciativa; > definio de princpios de luta contra o rudo em ambiente urbano; > apoio a dez projectos-modelo, exemplo de mobilidade urbana sustentvel, promovendo as boas prticas; > reforo da cobertura meditica dos problemas dos transportes e do ambiente."

O projecto apresenta recomendaes e exemplos concretos de boas prticas de polticas de mobilidade sustentvel em catorze cidades europeias, tendo como objectivo partilhar experincias e conhecimento com outras entidades e profissionais.

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Planos de mobilidade: realidade nacionalEnquadramento legal e institucionalEm Portugal, o quadro legal actual no apresenta legislao relativa elaborao de planos de mobilidade, no entanto, importa apresentar de forma sumria o actual enquadramento legal e institucional no que se prende com os transportes. Relativamente ao domnio dos sistemas de transportes, as atribuies e competncias dos rgos municipais incidem essencialmente na rede viria urbana desde o seu planeamento sua gesto, na definio e controlo da poltica de estacionamento e de ocupao da via pblica, na organizao e explorao dos transportes escolares e, em menor escala, nos transportes pblicos de passageiros que se desenvolvem nos permetros urbanos. Apresentam-se seguidamente os principais diplomas legais que abordam as questo supracitadas. A Lei n. 159/99, de 14 de Setembro, estabelece o quadro de transferncia de atribuies e competncias para as autarquias locais. Relativamente aos transportes e comunicaes o texto legal define, no Artigo 18., que da competncia dos rgos municipais o planeamento, a gesto e a realizao de investimento nos domnios relativos rede viria de mbito municipal, rede de transportes regulares urbanos, rede de transportes regulares locais que se desenvolvem exclusivamente na rea do municpio, s estruturas de apoio aos transportes rodovirios, s passagens desniveladas em linhas de caminho de ferro ou em estradas nacionais e regionais e aos aerdromos e heliportos municipais.Lei n. 159/99, de 14 de Setembro, estabelece o quadro de transferncia de atribuies e competncias para as autarquias locais.

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Os municpios so obrigatoriamente ouvidos na definio da rede rodoviria nacional e regional e sobre a utilizao da via pblica.Lei n. 169/99, de 18 de Setembro, alterada pela Lei n. 5-A/2002, de 11 de Janeiro, estabelece o quadro de competncias, assim como o regime jurdico de funcionamento, dos rgos dos municpios e das freguesias.

A Lei n. 169/99, de 18 de Setembro, alterada pela Lei n. 5-A/2002, de 11 de Janeiro, estabelece o quadro de competncias, assim como o regime jurdico de funcionamento dos rgos dos municpios e das freguesias. O Artigo 64. refere que "compete Cmara Municipal no mbito da organizao e funcionamento dos seus servios, bem como da gesto corrente, organizar e gerir os Transportes Escolares; criar, construir e gerir instalaes, equipamentos, servios, redes de circulao, de transportes, de energia, de distribuio de bens e recursos fsicos integrados no patrimnio municipal ou colocados, por lei, sob a administrao municipal; emitir licenas, matrculas, livretes e transferncias de propriedade e respectivos averbamentos e proceder a exames, registos e fixao de contingentes relativamente a veculos, nos casos legalmente previstos.

Regulamento dos Transportes Automveis (aprovado pelo Decreto n. 37272, de 31 de Dezembro de 1948 e alterado pelo Decreto Lei n. 59/71, de 2 de Maro de 1971).

A prestao de transporte pblico urbano foi enquadrada legalmente no Regulamento dos Transportes Automveis (RTA) de 1848 (Decreto n. 37272, de 31 de Dezembro de 1948, e alterado pelo Decreto Lei n. 59/71, de 2 de Maro de 1971). O Regulamento dos Transportes Automveis define no Artigo 72. que todos os transportes colectivos em automveis so considerados como servio pblico, e sero explorados em regime de concesso, outorgada pelo Ministro das Comunicaes ou pelas Cmaras Municipais, nos termos dos artigos seguintes. Exceptua do disposto na ltima parte do corpo deste artigo os transportes colectivos explorados directamente pelas cmaras municipais, cujo estabelecimento depender, no entanto, de autorizao do Ministro das Comunicaes. O Artigo 98. estabelece que a outorga de concesses compete ao Ministro das Comunicaes, salvo quanto s concesses de carreiras: a) Dentro da rea sede dos concelhos; b) Dentro dos limites de outras povoaes que, pelas suas dimenses e caractersticas demogrficas, justificam a existncia de uma rede de transportes colectivos urbanos; c) Para alm das reas das sedes dos concelhos, por forma a atingirem povoaes vizinhas, quando justificadas razes de ordem econmica,

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social ou de poltica de transportes imponham a sua explorao concertada ou conjunta com os servios naquela explorados. 1 Nos casos previstos nas alneas b) e c), devero as cmaras municipais previamente requerer ao Ministro das Comunicaes autorizao para usarem a respectiva competncia, em petio fundamentada em que se demonstre o seu interesse como eficiente instrumento de coordenao regional de transportes pblicos. 2 As deliberaes das cmaras municipais respeitantes outorga de concesses carecem, para se tornarem executrias, de aprovao do Ministro das Comunicaes. 3 A Concesso de Transportes dentro da mesma localidade deve ser feita a um nico concessionrio, devendo os transportes referidos da alnea C) do corpo deste artigo ser concedidos aos concessionrios que explorem os transportes dentro da sede do concelho. 4 A municipalizao dos servios de transportes colectivos em automveis no poder ser aprovada, nos termos do artigo 100. do Cdigo Administrativo, sem prvia informao do Ministrio das Comunicaes de que no prejudica a coordenao de transportes e de que a municipalizao tem viabilidade financeira".

O processo de concesso baseia-se, assim, no estabelecimento de linha e no no estabelecimento da explorao de um sistema integrado de transporte. Os artigos apresentados anteriormente permitem concluir que um servio de transportes colectivos urbanos deve ser explorado directamente pelos municpios ou concedidos na globalidade e confinar-se, em princpio, ao permetro urbano das redes dos concelhos. O novo enquadramento legal dado pela Lei n. 10/90, de 17 de Maro de 1990, que estabelece a Lei de Bases do Sistema de Transportes Terrestres (LBSTT), lei que define que o sistema de Transportes Terrestres compreende as infra-estruturas e os factores produtivos afectos s deslocaes por via terrestre de pessoas e de mercadorias no mbito do territrio portugus ou que nele tenham trmino ou parte do percurso e rege-se pela presente lei, seus decretos-lei de desenvolvimento e regulamentos.Lei de Bases do Sistema de Transportes Terrestres (Lei n. 10/90, de 17 de Maro).

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O presente diploma define, no seu Artigo 3., que os Transportes Locais, correspondem aos que visam satisfazer as necessidades de deslocao dentro de um municpio ou de uma regio metropolitana de transportes; e os Transportes Urbanos, como os que visam satisfazer as necessidades de deslocao em meio urbano, como tal se entendendo o que abrangido pelos limites de uma rea de transportes urbanos ou pelos de uma rea urbana de uma regio metropolitana de transportes.

O texto legal define como rea de transportes urbanos a que tenha sido qualificada e delimitada como rea de um centro urbano, ou de um conjunto de aglomerados populacionais geograficamente contguos, no plano director municipal ou, quando este no exista ou no esteja devidamente aprovado, por deliberao da assembleia municipal respectiva, ratificada pelos Ministros do Planeamento e da Administrao do Territrio e das Obras Pblicas, Transportes e Comunicaes. O Artigo 20., relativo explorao de transportes regulares de passageiros urbanos e locais, define que: 1 Os Transportes regulares urbanos so um servio pblico, explorado pelos municpios respectivos, atravs de empresas municipais, ou mediante contrato de concesso ou de prestao de servios por eles outorgado, por empresas transportadoras devidamente habitadas, nos termos do artigo anterior. 2 - Os Transportes regulares locais so um servio pblico explorado por empresas transportadoras devidamente habilitadas, nos termos do artigo anterior, mediante contrato de concesso ou de prestao de servio celebrado com o respectivo municpio.

A LBSTT identifica, no captulo IV dedicado aos transportes nas regies metropolitanas, a elaborao de um plano de transportes que dever definir os investimentos e as medidas legais, regulamentares e administrativas reputadas necessrias para gerir o sistema de transportes. Este plano de transportes da regio metropolitana abranger no s os meios de transporte pblico de superfcie (ferrovirio, rodovirio e fluvial) e subterrneo (metropolitano), como tambm as condies de circulao e estacionamento dos veculos privados. A LBSTT criou as regies metropolitanas de transportes de Lisboa e Porto, com as respectivas Comisses Metropolitanas, definidas como sendo

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organismos dotados de autonomia administrativa e financeira, e exercendo as competncias atribudas quelas regies. No entanto, as reas metropolitanas s vieram a ser formalmente criadas atravs do DL n. 44/ 91, de 2 de Agosto. No entanto, a LBSTT carece de eficcia, uma vez que acabou por no ter regulamentao e consequente execuo. Uma consequncia negativa deste facto a manuteno de um sistema de explorao dos transportes colectivos urbanos segundo um regime de concesso por linha e no por rede.

As Autoridades Metropolitanas de Transporte (AMT) foram criadas pelo Decreto-Lei n. 268/2003, de 28 de Outubro, como pessoas colectivas de direito pblico dotadas de autonomia administrativa e financeira, tendo como objecto principal o planeamento, a coordenao e organizao do mercado e o desenvolvimento e a gesto dos sistemas de transportes no mbito metropolitano. Com a publicao do referido diploma, as AMT entraram em regime de instalao, sendo dirigidas por uma Comisso Instaladora, com poderes de direco, organizao, e gesto corrente. Com a publicao do Decreto-Lei n. 232/2004, de 13 de Dezembro, que introduziu alteraes ao Decreto-Lei n. 268/2003, de 28 de Outubro, ficaram aprovados os estatutos das Autoridades Metropolitanas de Transportes de Lisboa e do Porto, transformando-se o seu estatuto jurdico em empresas pblicas empresarias. Aps a dissoluo da Assembleia da Repblica, em finais de 2004, e a convocao de eleies antecipadas, verificou-se a suspenso do processo de constituio formal das AMT, que se mantm presentemente. As AMT tero um papel fundamental na promoo da

Decreto-Lei n. 268/2003, de 28 de Outubro, (Criao das Autoridades Metropolitanas de Transportes) e alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n. 232/2004, de 13 de Dezembro.

intermodalidade, assegurando a articulao fsica e tarifria entre os diferentes modos de transporte; na avaliao da eficincia e da qualidade dos servios de transporte pblico de passageiros; e na gesto do financiamento do sistema.

O Programa Nacional para as Alteraes Climticas (PNAC), cuja primeira verso foi elaborada em 2001, foi o primeiro programa desenvolvido com o objectivo especfico de controlar e reduzir as emisses de gases com

Programa Nacional paras as Alteraes Climticas (PNAC).

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efeito de estufa (GEE), de forma a respeitar os compromissos nacionais no mbito do Protocolo de Quioto (PQ). O PQ exige que, no perodo de 20082012, o montante de emisses de GEE de origem antropognica no ultrapasse em mais de 27% as emisses registadas em 1990. O PNAC inclui muitas das orientaes elaboradas pelo ECCP European Climate Change Programme. O PNAC 2006, que constitui a ltima verso do referido programa, foi aprovado pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 104/ 2006 (publicada no Dirio da Repblica de 23 de Agosto), revogando o PNAC 2004, que carecia de reviso devido alterao das circunstncias em que foi elaborado. O PNAC 2006 constitui o suporte anlise do compromisso de Portugal relativo ao primeiro perodo de cumprimento do PQ. Este documento "sistematiza e apresenta a estimativa de projeces de emisses de GEE com origem antropognica para as diversas parcelas do balano nacional lquido de amisses de gases com efeito de estufa geradas no territrio nacional para o ano de 2010 (assumido como ano mdio do perodo de 2008-2012), fornecendo ainda referncias para o ano de 2020". Este programa aborda os sectores relativos energia, aos transportes, aos gases fluorados, agricultura e pecuria, floresta, e aos resduos.

Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio (PNPOT).

A Lei n. 58/2007, de 4 de Setembro, aprovou o Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio (PNPOT), que apresenta um conjunto de medidas que tm como objectivo, entre outros, o reforo da ligao entre as polticas de transportes e de planeamento urbano, apontando, nomeadamente, as seguintes medidas: > "Integrar no planeamento municipal e intermunicipal a dimenso financeira dos sistemas de transportes e de mobilidade, programando os investimentos, os subsdios e a captao de valor junto dos beneficirios indirectos de forma a assegurar a boa gesto e a sustentabilidade da explorao desses sistemas. > Promover a elaborao de planos de mobilidade intermunicipais que contribuam para reforar a complementaridade entre centros urbanos vizinhos e para uma maior integrao das cidades com o espao envolvente e que contemplem o transporte acessvel para todos. > Rever o quadro legal, para que nas reas Metropolitanas de Lisboa e do Porto e nas aglomeraes urbanas de maior dimenso se verifique uma maior articulao entre o desenvolvimento de novas urbanizaes e o sistema de transportes, nomeadamente atravs do condicionamento da aprovao de planos de pormenor e do licenciamento de loteamentos avaliao dos seus impactes no sistema de mobilidade.

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> Reforar a componente estratgica dos Planos Directores Municipais, integrando no seu contedo a definio de opes sobre a dimenso e as formas de desenvolvimento urbano mais adequadas aos respectivos territrios. > Definir nos PROT do territrio continental e das Regies Autnomas o quadro estratgico de organizao dos sistemas regionais de ordenamento do territrio, designadamente nos domnios ecolgico, urbano e das acessibilidades e mobilidade, tendo em conta os objectivos do reforo de centralidades, de um desenvolvimento urbano mais compacto e do controlo e disciplina da disperso da construo. > Introduzir procedimentos de avaliao do impacte territorial da criao de infra-estruturas e equipamentos de uso colectivo, nomeadamente em termos do impacte no crescimento urbano, na mobilidade e no uso eficiente dos recursos. > Aperfeioar os mecanismos de assumpo por parte dos promotores das externalidades geradas pelas novas urbanizaes, quer sobre as infra-estruturas quer sobre a estrutura ecolgica. > Implementar uma Poltica Metropolitana de Transportes no territrio continental, como suporte de uma mobilidade sustentada, no quadro da organizao e gesto pblica do sistema de transportes. > Lanar programas para a plena integrao fsica, tarifria e lgica dos sistemas de transportes de passageiros, no territrio continental e com as necessrias adaptaes s Regies Autnomas, garantindo informao acessvel relativa oferta dos vrios modos, particularmente nas grandes aglomeraes urbanas, promovendo a intermodalidade. > Assegurar na reviso dos Planos Directores Municipais que as redes de transporte e mobilidade respondam sua procura e aos processos de redefinio dos usos do solo, favorecendo a acessibilidade das populaes em transporte pblico aos locais de emprego, aos equipamentos colectivos e servios de apoio s actividades produtivas, bem como circulao de mercadorias entre os locais de produo e os de mercado. > Desenvolver planos de transportes urbanos sustentveis, visando reforar a utilizao do transporte pblico e a mobilidade no motorizada e melhorar a qualidade do ar, nomeadamente em reas de grande densidade populacional.

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> Rever o desenho institucional e a gesto do sector dos transportes nas reas Metropolitanas, implementando autoridades metropolitanas de transportes e melhorando quer a eficincia e coordenao das polticas de transportes, quer a sua articulao com as polticas do ordenamento do territrio e do ambiente. > Restringir o apoio do Governo implantao de estaes de camionagem (interfaces rodovirias) aos casos em que existam planos de mobilidade, permitindo, nomeadamente, uma fcil acessibilidade pedonal e uma articulao eficiente com as carreiras do transporte colectivo urbano existentes".

O documento supracitado, levado correctamente prtica, constitui um documento de grande alcance, que integra de uma forma coerente os aspectos associados ao sistema de transportes, usos do solo (planeamento e desenvolvimento urbano) e ambiente.Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel (ENDS).

O PNPOT foi elaborado em coerncia com a Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel (ENDS) e respectivo Plano de Implementao (PIENDS) (Resoluo do Conselho de Ministros n. 109/2007). O documento identifica a necessidade de elaborar instrumentos que permitam gerir as questes relacionadas com a mobilidade e salvaguarda a relao entre transportes e ordenamento do territrio. Apresenta, entre outras, a prioridade estratgica relativa s "Cidades Atractivas, Acessveis e Sustentveis" que aponta medidas para a sua concretizao, entre elas: > "Desenvolver instrumentos, no mbito da Poltica de Cidades, que incentivem as aglomeraes urbanas, isoladamente ou em rede, a assumirem uma viso estratgica de longo prazo que lhes garanta um posicionamento diferenciado e competitivo na economia do conhecimento a nvel nacional e internacional. > Implementar uma Poltica Metropolitana de Transportes no territrio continental, como suporte de uma mobilidade sustentada, no quadro da organizao e gesto pblica do sistema de transportes. > Assegurar que na reviso dos Planos Directores Municipais, as redes de transporte e mobilidade, tendo em ateno os Planos de Mobilidade de pessoas e bens, sejam consideradas elementos fundamentais nos processos de redefinio dos usos do solo, nomeadamente favorecendo a maior intensidade construtiva e a localizao preferencial de equipamentos colectivos e de servios de forte atraco de pblico, nas reas com melhor acessibilidade em transportes pblicos, de modo a assegurar a sua sustentabilidade."

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A prticaA realidade portuguesa particularmente dspar no que se prende com a elaborao de Planos de Mobilidade (PM). A inexistncia de qualquer enquadramento normativo face elaborao de PM tem como consequncia directa, a prtica pouco generalizada de elaborao deste tipo de instrumentos. Embora sejam conhecidas as boas prticas noutros pases, persistente a ausncia de um denominador comum aos diferentes planos de transportes que tm vindo a ser produzidos nos ltimos anos. Na grande maioria, os planos existentes apresentam vises monomodais em vez da necessria viso multimodal. Um dos principais problemas prende-se com as competncias dos municpios em termos de transporte colectivo de passageiros ou com o modo como os municpios encaram esta questo, relegando-a quase sempre para segundo plano. Um outro aspecto recorrente na nossa realidade prende-se com o facto da grande maioria dos documentos existentes raramente passarem fase de implementao, porque no contemplam medidas operacionais ou porque so abandonados pelo poder poltico. Existe uma enorme tendncia para tentar resolver as preocupaes imediatas, quase sempre relacionadas com o transporte individual e o estacionamento, que na sua maioria raramente contribuem para a soluo do problema, exarcebando-o. Para alm disso, os instrumentos existentes raramente apresentam um carcter estratgico. Outro aspecto diz respeito escassez de dados para se proceder elaborao de diagnsticos completos. A ttulo de exemplo, ao nvel das reas metropolitanas, os dados existentes, relativos ao ltimo inqurito feito mobilidade, datam de 2000 para a rea Metropolitana do Porto (AMP) e de 1998 para a rea Metropolitana de Lisboa (AML). Este problema ainda mais ampliado pelo facto de no estarem disponveis dados desagregados dos mesmos inquritos.

Importa fazer aqui referncia ao Projecto "Mobilidade Sustentvel", desenvolvido pela Agncia Portuguesa do Ambiente (APA), em parceria com a Associao Nacional de Municpios Portugueses (ANMP) no mbito do qual esto j a ser desenvolvidos vrios PM.

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Planos de mobilidade: realidade internacionalEspanha Enquadramento LegalActualmente, o quadro legal espanhol de mbito central no apresenta textos que vinculem a elaborao de planos de mobilidade. No entanto, clara a tendncia para caminhar nesse sentido, uma vez que alguns dos principais documentos estratgicos nacionais, como a Estratgia de Poupana e Eficincia Energtica (2004-2012) e o Plano Estratgico de Infra-estruturas e Transportes, fazem referncia necessidade de elaborar instrumentos que permitam uma melhor gesto da utilizao dos diferentes meios de transporte. Espanha apresenta uma organizao politica e administrativa em dezassete comunidades autnomas, que correspondem a entidades territoriais dotadas de autonomia legislativa e competncias executivas. Os diferentes estatutos de autonomia permitem a cedncia de competncias ao respectivo governo autnomo por parte do estado. Por este facto, algumas regies apresentam quadros legais prprios, do qual exemplo a Comunidade Autnoma da Catalunha, que apresenta do seu quadro legal a Lei 9/2003, de 13 de Junho, "da Mobilidade"1, que tem como objecto estabelecer os princpios dos objectivos que devem reger a gesto da mobilidade de pessoas e o transporte de mercadorias de forma sustentvel e segura, bem como, identificar os instrumentos necessrios para alcanar os referidos objectivos.1

de la Movilidad, no original

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O diploma em causa identifica, para os diferentes mbitos territoriais, quatro instrumentos de planeamento que devem estabelecer directrizes, objectivos temporais, propostas operativas e indicadores que permitem acompanh-los e avali-los. Estes instrumentos correspondem a: > "Directrizes Nacionais de Mobilidade"2; > "Planos Directores de Mobilidade"3; > "Planos Especficos"4; > "Planos de Mobilidade Urbana"5.

O texto legal determina a obrigatoriedade de elaborao e aprovao dos planos de mobilidade urbana para os municpios que, por imperativo legal, apresentam a incumbncia de prestar servio de transporte colectivo urbano de passageiros. A legislao em causa define igualmente os instrumentos de avaliao e acompanhamento implementao, bem como os rgos de gesto e participao. Importa salientar um aspecto relevante e cuja prtica , de alguma forma, generalizada nas cidades espanholas, que diz respeito ao "Pacto para a Mobilidade"6. Este documento, nascido em Barcelona, que rapidamente se difundiu para inmeras cidades, consiste num acordo entre a administrao local, associaes e entidades locais, que se predispem a caminhar conjuntamente na elaborao de um modelo de mobilidade. O acordo corresponde a uma ferramenta de trabalho que promove a definio do modelo de mobilidade pretendido, indicando a cidade que se pretende no futuro e promovendo a participao activa da sociedade civil. O pacto abre esta discusso sociedade civil para, assim, alcanar consenso, uma vez que o objectivo que estejam presentes e participem os diferentes agentes implicados no territrio em causa. Existe, de uma forma mais ou menos generalizada, uma metodologiaPacto para a Mobilidade de Barcelona figura 2

comum para a elaborao de um pacto para a mobilidade, que se baseia nas seguintes etapas:

2

Directrices Nacionales de Movilidad, no original

> realizao de estudo sobre a mobilidade no municpio; > constituio de um frum de participao; > definio dos princpios que regem o pacto de mobilidade; > determinao dos objectivos do pacto;

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Planes Directores de Movilidad, no original4

Planes Especficos, no original

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Planes de Movilidad Urbana, no original6

Pacto para la Movilidad Sostenible

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> identificao das intervenes; > compromisso entre os agentes que participam no pacto; > programao das actuaes; > acompanhamento do processo.

Os agentes que participam nestes pactos so de diversos quadrantes da sociedade desde, obviamente, a administrao pblica, aos operadores de transportes, s organizaes no governamentais, s associaes e ordens profissionais e s universidades, entre outros.

A prtica: um exemplo de refernciaA cidade de Terrassa, localizada no limite norte do sistema metropolitano de Barcelona, na regio da Catalunha, com uma populao de cerca de 200.000 habitantes, atravessa um importante processo de desenvolvimento econmico e populacional. Nos ltimos anos a cidade tem estado envolvida num vasto processo de planeamento, tendo desenvolvido importantes instrumentos relativos ao desenvolvimento urbano e econmico, s questes ambientais e acessibilidade e mobilidade. O "Plano Director de Mobilidade" 7 de Terrassa, que data de 2002, inclui dezoito princpios e objectivos que pretendem fazer da questo da mobilidade um elemento fundamental do processo de planeamento da cidade. A proposta final do plano baseia-se num sistema molecular que refora as diferentes centralidades, o centro da cidade de Terrassa e as pequenas centralidades constitudas pelos bairros. Neste plano: as ligaes so asseguradas por uma rede que fomenta as deslocaes seguras de pees e bicicletas; cada bairro ir funcionar como uma "zona 30", no seio da qual a velocidade mxima de 30km/h, o que permite uma convivncia segura entre o automvel e os modos suaves de deslocao (pees e bicicletas); Reforo do sistema de transporte pblico e da intermodalidade. A cidade de Terrassa elaborou igualmente o seu pacto para a mobilidade. Importa salientar que Terrassa uma das cidades que participa no projecto europeu SMILE.7

Terrassa- Campanha de aluguer de bicicletas. figura 3

Plan Director de Movilidad

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Frana Enquadramento LegalA lei relativa ao "Ar e Utilizao Racional da Energia"8 (Lei n. 96-1236 de 30 de Dezembro de 1996) relanou, em 1996, os procedimentos relativos elaborao dos "Planos de Deslocaes Urbanas" 9 (PDU), tornando obrigatria a sua elaborao para as cidades e aglomeraes com uma populao superior a 100.000 habitantes, nos permetros servidos pela rede de transportes urbanos. Em 2006, cerca de setenta aglomeraes apresentavam j os respectivos PDU, trs quartos dos quais aprovados. De acordo com o texto legal, o plano de deslocaes urbanas define os princpios de organizao do transporte de pessoas e de mercadorias, no permetro servido por transportes urbanos e dever ser compatvel com os restantes instrumentos de gesto do territrio. A entidade competente pela organizao dos transportes urbanos responsvel pela elaborao e reviso do PDU no respectivo territrio.

Alm do diploma referido, existem textos legais e regulamentares mais recentes que introduziram alteraes e detalharam alguns aspectos relativos elaborao dos planos de deslocaes urbanas, nomeadamente a lei relativa "Solidariedade e Renovao Urbanas"10 (SRU) (Lei n. 2001208 de 13 de Dezembro de 2000). Este diploma foi elaborado tendo em considerao trs aspectos fundamentais: a necessidade de solidariedade; o desenvolvimento sustentvel; e o reforo da democracia e da descentralizao. As alteraes introduzidas por este texto legal relanam a questo do planeamento urbano, reforando a necessidade de coerncia entre o desenvolvimento urbano e as politicas de transportes, e atribuem uma nova importncia gesto das deslocaes.

Mais recentemente, aquando da implementao do respectivo PDU, a8

Loi sur l'air et l'utilisation rationnelle de l'nergie, no original.

regio parisiense "L'Ile de France", adoptou um outro instrumento para dar continuidade implementao do PDU, o "Plano Local de Deslocaes"11 (PLD). Este instrumento elaborado no s para a escala municipal, mas tambm supramunicipal (associao de municpios) e, embora no exista legislao aplicvel, a sua elaborao , de alguma forma, generalizada na regio parisiense.

9

Plans de Dplacements Urbains (PDU), no original.

10

Loi sur da Solidarit et le Renouvellement Urbain, no original.11

Plan Local de Dplacements

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A prtica: um exemplo de refernciaFrana um dos pases europeus que mais cedo introduziu na sua legislao a obrigatoriedade de elaborao de PDU, pelo que vasta a lista de cidades e aglomeraes que dispem actualmente deste instrumento. Apresenta-se, de forma muito sumria, o PDU de Nantes, apontado pela Comisso Europeia como um exemplo de boas prticas. O PDU da aglomerao de Nantes, aprovado em 2000, abrange vinte e quatro municpios e uma populao total de cerca de 570.000 habitantes. O plano definiu cinco objectivos principais: > continuar com o desenvolvimento da mobilidade para todos; > manter e desenvolver a acessibilidade a todas as centralidades; > tender para um equilbrio entre o transporte individual (50%) e os restantes modos de transporte (transporte colectivo: 18%; outros: 32%); > desenvolver uma abordagem de gesto global da mobilidade; > promover a participao dos diferentes actores envolvidos.Experincias positivas de diminuio da circulao automvel: Grenoble: ligeira diminuio da utilizao do transporte individual (54% em 1992 e 53% em 2002) em favor do transporte colectivo e sobretudo da deslocao pedonal. Paris: o balano elaborado em 2004 confirma a tendncia de diminuio do volume de circulao automvel (69,5% em 2001 e 64% em 2004). Techni.Cits, n. 104, Fevereiro de 2006

Para dar resposta aos objectivos supramencionados, o programa de aco do PDU definiu oito grandes eixos de interveno para o perodo 2000/2010: > desenvolver uma oferta alternativa ao automvel; > redefinir a afectao do espao virio; > criar novas ligaes; > melhorar a segurana e a acessibilidade das deslocaes; > organizar o transporte de mercadorias em meio urbano; > utilizar o estacionamento como instrumento regulador da circulao; > informar a populao sobre as diferentes possibilidades de transportes; > acompanhar e avaliar o PDU.

Referem-se algumas das principais aces implementadas no mbito do PDU: > renovar completamente a frota de autocarros, com veculos movidos a gs natural;

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> extender a rede de transporte colectivo (infra-estrutura ferroviria, elctrico moderno, trolley e rodovirio), com aumento das frequncias e da amplitude, da cobertura geogrfica e da coordenao com os restantes modos de transporte; > promover a integrao tarifria; > desenvolver planos de mobilidade de empresas em parceria com as mesmas; > aumentar a rede ciclvel e implementar servios de aluguer de bicicletas.

Blgica (Regio Wallonie) Enquadramento LegalO quadro legal relativo mobilidade e acessibilidade na Regio da Wallonie, rege-se pelo "Decreto relativo mobilidade e acessibilidades locais (M.B. de 13.05.2004)" que tem como objecto a elaborao de instrumentos de planeamento destinados a organizar e melhorar a acessibilidade para as pessoas e mercadorias, tendo como preocupao o desenvolvimento sustentvel. O texto legal define duas escalas de interveno e consequentemente dois instrumentos: a escala supramunicipal, para a qual define a figura de "Plano Urbano de Mobilidade"12 (instrumento de concepo e coordenao) e a escala municipal, para a qual define a figura de "Plano Municipal de Mobilidade"13 (instrumento de planeamento); O "Plano Municipal de Mobilidade" (PCM) um documento sem carcter vinculativo e constitui um documento de orientao da organizao e da gesto das deslocaes, do estacionamento e da acessibilidade geral, escala municipal. Os principais objectivos do PCM prendem-se com a organizao de elementos estruturantes, relativos s deslocaes, ao estacionamento e acessibilidade, e com a realizao de um desenvolvimento territorial coerente em matria de mobilidade. O contedo mnimo obrigatrio do PCM inclui o diagnstico da situao actual, os objectivos a alcanar e as prioridades a assegurar, bem como um captulo relativo s medidas e recomendaes. notria a inteno de12

Plan Urbain de Mobilit, no original.

assegurar a operacionalidade do plano, uma vez que o captulo relativo s medidas e recomendaes particularmente pormenorizado, identificando

13

Plan Communal de Mobilit, no original.

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concretamente os diferentes mbitos de aco. O PCM d particular importncia s dinmicas de participao dos diferentes actores locais. O diploma define igualmente a possibilidade de atribuio de meios de financiamento, tanto para a elaborao do PCM, como para a realizao de estudos complementares e projectos resultantes do prprio plano.

A prtica: um exemplo de refernciaNo que concerne prtica belga, apresenta-se o PCM da cidade de Namur, capital da regio da Wallonie, com uma populao de cerca de 105.000 habitantes. Este PCM foi considerado um estudo piloto uma vez que foi elaborado entre 1997 e 1998, antes da entrada em vigor da legislao que regula a elaborao de instrumentos de planeamento destinados a organizar e melhorar a acessibilidade. Os principais objectivos do PCM de Namur dizem respeito a: > manter a atractividade econmica do municpio, na sequncia da vontade expressa de preservar o comrcio no centro da cidade; > melhorar a qualidade de vida, refreando os fenmenos de disperso urbana, e redinamizar o centro da cidade; > reforar a acessibilidade cidade, em coerncia com os desenvolvimentos passados e tendncias futuras, para dotar Namur de uma forte acessibilidade multimodal.Namur: Place du Thatre aps o PCM figura 5 Namur: Place du Thatre antes do PCM figura 4

O plano apresenta, entre outras, propostas que se prendem com a circulao multimodal no centro da cidade: > reforo do papel da via circular, protegendo o centro da cidade do trfego de atravessamento; > enfoque nos pontos de entrada na cidade atravs de medidas de "controlo de acesso", que permitem gerir a entrada de trfego automvel no centro da cidade, dando prioridade a outros modos de transporte; > reforo da rede de transporte colectivo (TC) rodovirio, com a introduo de vias com corredores reservados e a implementao de sinalizao luminosa que permite a atribuio de prioridade ao TC nas interseces; > elaborao de um programa ambicioso de recuperao do espao, privilegiando os modos suaves de deslocao (pees e bicicletas).

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No que se prende com o estacionamento no centro da cidade, foram implementadas inmeras medidas que penalizam o estacionamento de longa durao, em favor do estacionamento destinado a residentes e de curta durao. Foram igualmente implementados parques de estacionamento dissuasores na periferia do centro da cidade, com tarifas atractivas que promovem a transferncia modal. Foi atribuda particular importncia participao da populao, tendo sido desenvolvidas vrias campanhas de divulgao e de sensibilizao.

Sua Enquadramento legalA Confederao Sua no detentora de legislao impositiva da elaborao de planos de mobilidade. No entanto, existem vrios textos legais que enquadram o planeamento das deslocaes. A estrutura poltica sua, enquanto estado federal composto por diferentes estados denominados "cantes", apresenta uma organizao especfica no que respeita aos mecanismos legais. A constituio federal define a obrigao, por parte da Confederao, de zelar pela proteco ambiental e pela utilizao racional dos recursos naturais, que se traduz em diversos textos legais, nomeadamente as leis federais relativas "proteco da natureza e da paisagem", ao "ordenamento do territrio", "proteco do ambiente", entre outras, e nos decretos14 que emanam do poder executivo e que definem a aplicao das leis. As leis federais traduzem-se em leis "cantonais", que apresentam caractersticas muito dspares entre si e que devero ainda ser aplicadas atravs de regulamentos.

Relativamente ao planeamento dos transportes, a "Lei Federal relativa ao Ordenamento do Territrio15 delega nos cantes a competncia de elaborar diferentes instrumentos relativos a esta matria, reservando para a Confederao o papel de fiscalizao. Um dos principais instrumentos definidos pelo texto legal referido,14

Ordonnance, no original

corresponde ao "Plano Director Cantonal" 16 (PDC) que, entre outros aspectos, define a situao actual e o desenvolvimento desejado em matria de ordenamento do territrio e transportes. A lei em causa define a obrigatoriedade de informao e participao da populao, bem como os

15

Loi Fdral sur l'Amnagement du Territoire , no original.

16

Plan Directeur Cantonal (PDC), no original

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respectivos procedimentos. A lei aprofunda o contedo mnimo dos PDC, sua estrutura e configurao. A formalizao da legislao federal ao nvel "cantonal " diferente consoante o canto e origina diversos instrumentos de planeamento. Existem trs escalas de instrumentos: > Plano Director Cantonal > Plano Director Regional17 > Plano Director Municipal18

A prtica: um exemplo de refernciaEmbora no exista a figura legal de plano de mobilidade, o contexto suo apresenta inmeros exemplos de boas prticas em termos de promoo da mobilidade sustentvel. Apresentam-se, a ttulo de exemplo, algumas das intervenes que tm vindo a ser desenvolvidas na cidade de Bienne, no mbito do Plano Director Municipal. O municpio de Bienne abrange uma populao de cerca de 50.000 habitantes. Principais objectivos do Plano Director Municipal, em matria de deslocaes : > reduzir o trfego automvel no centro da cidade; > reduzir os impactes ambientais consequentes do trfego automvel; > introduzir medidas de acalmia de trfego nas zonas residenciais e no centro da cidade; > reorganizar o transporte colectivo rodovirio; > promover os modos suaves de deslocao (pees e bicicletas); > reabilitar o espao pblico.

Algumas das intervenes j implementadas, ou em fase de implementao, dizem respeito a: > realizao da via circular urbana, que permite retirar o trfego de atravessamento do centro da cidade; > implementao de uma estratgia de sinalizao luminosa, que permite controlar o acesso em transporte individual ao centro da cidade;17

Plan Directeur Rgional (PDR), no original Plan Directeur Communal, no original

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> implementao de diversas zonas 30km/h e zonas com prioridade ao peo; > aumento dos percursos ciclveis.

Reino Unido Enquadramento legalO Transport Act 2000 determina a obrigatoriedade de elaborao e reviso de "Planos Locais de Transporte"19 (LTP). Estes planos tm como objectivos: > identificar uma estratgia relativa aos transportes, acessibilidade e poluio; > definir objectivos alcanveis; > estabelecer um programa de aco que permita alcanar os objectivos; > identificar os investimentos necessrios para a sua implementao.

O LTP apresenta, assim, a estratgia e as polticas locais em termos de transportes e, igualmente, um programa de aco com a identificao das diferentes aces a implementar, sendo elaborado para um perodo de cinco anos. Este instrumento , sobretudo, um programa de investimentos, uma vez que necessria a sua apresentao para a obteno de financiamento por parte da administrao central.

A prtica: um exemplo de refernciaO LTP de Nottingham foi desenvolvido conjuntamente pelo Notttingham City Council e o Notttinghamshire County Council e abrange uma populao de cerca de 270.000 habitantes. O plano, elaborado para o perodo decorrido entre 2001 e 2006, pretendeu: > constituir um documento estratgico, identificando objectivos e apresentando um programa detalhado de aces que permitisse uma abordagem integrada e sustentvel; > estabelecer relaes integradas com outras reas do planeamento19

Local Transport Plan (LTP), no original.

urbano, ambiental e educativo, entre outras;

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> identificar o programa de investimentos que permitisse a obteno de financiamento junto do governo central.

Uma das medidas emblemticas deste plano a "Clear Zone", no centro de Nottingham, introduzida em 2001. Estas zonas tm como objectivo diminuir drasticamente o trfego automvel e reduzir os nveis de poluio, proporcionando espaos mais seguros, menos poludos e "amigos do peo".

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ConclusesA soluo do problema dos transportes e a procura de uma mobilidade sustentvel, no podem restringir-se ao seu domnio de actuao, embora sejam ainda necessrias intervenes ao nvel do sistema de transportes. O aumento das necessidades de deslocao de pessoas e bens resulta essencialmente da progressiva especializao funcional do espao urbano, que tem acompanhado o crescimento exponencial da urbanizao, no podendo assim separar-se o problema dos transportes do ordenamento do territrio. Parte da soluo do problema reside numa melhor gesto das infraestruturas j existentes e no na sua permanente ampliao. Este facto notrio no que se prende com o trfego automvel, uma vez que a construo de novas vias tem sobretudo contribudo para aumentar a atractividade em relao ao transporte individual, agravando a situao, j de si delicada. clara e de longa data, a posio da Unio Europeia face a esta temtica, sendo necessrio agir pr-activamente e inverter tendncias. De acordo com o "Expert Working Group on Sustainable Urban Transport Plans" (SUTP), grupo de tcnicos especializados criado pela CE no mbito da preparao da Estratgia Temtica sobre o Ambiente Urbano 1, necessrio adoptar determinadas solues e abordagens, nomeadamente: > "promover o uso racional do transporte individual, privilegiando veculos com menores consumos energticos, mais silenciosos e com combustveis alternativos; > proporcionar uma rede de transporte pblico regular, com frequncias adequadas, confortvel, moderna, com preos competitivos e articulada; > proporcionar o aumento da utilizao dos modos suaves de deslocao (pedonal e ciclvel); > planear de forma adequada o ordenamento do territrio; > gerir a procura de transporte atravs da gesto da mobilidade e de instrumentos econmicos;1

"Para uma estratgia temtica sobre

> desenvolver parcerias com agentes, entidades e associaes locais."

ambiente urbano" [COM (2004) 60 final]

PARTE II

Reflexes

Mobilidade e programao estratgica

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A institucionalizao do tratamento das matrias relacionadas com a mobilidade urbana escala municipal, constitui um desgnio que poder mostrar-se inevitvel nos prximos anos, mas que corre o risco de se tornar num exerccio mecnico realizado na estrita medida em que da sua concretizao possa vir a depender o financiamento de determinados projectos. A experincia com o planeamento do territrio PMOTs e com os estudos ou avaliaes de impacte ambiental tem demonstrado como uma tendncia real para os aspectos processuais do planeamento, induzida por formalidades a mais e estratgia a menos, constitui um caminho com alguns riscos e de resultados duvidosos.Antnio Prez Babo Actividade profissional nas reas do planeamento do territrio,

A avaliao ambiental de traados alternativos para novos eixos virios variantes a vias existentes, prende-se em exclusivo com as questes relacionadas com os territrios atravessados, mas frequentemente esquece o objecto cujo problema se pretende resolver. E, no ordenamento do territrio, a preocupao central est direccionada no tanto para a qualidade do que se realiza, mas para a defesa estrita dos espaos intocveis (reservas). Atravessmos uma fase de reaco a inmeros erros (o que novo) e destruies (o que existia), em que o formalismo dos processos constitui a forma de o planeamento e a avaliao ambiental evitarem piores asneiras. Mas ainda falta dar um grande passo para que as intervenes sobre o territrio sejam na sua generalidade qualificadas e no apenas umas quantas ilhas (projectos-piloto) exemplares. Ter a temtica da mobilidade de percorrer um caminho semelhante? Ou seja, a legalizao de uma figura de Plano de Mobilidade Sustentvel ser a via para se evitarem grandes erros de sobre dotao de infraestrutura, principalmente a rodoviria, ou ser que esse instrumento permitir acrescentar alguma coisa de concreto capacidade de organizao de sistemas alternativos de transportes colectivos ou individuais? As ltimas dcadas de construo rodoviria, seja em meio urbano como interurbano, avisaram os portugueses de que teriam de ser eles prprios, de forma individual, a resolver a organizao das suas necessidades de transporte, o que determinou por sua vez a expanso das cidades por um territrio subitamente metropolitanizado.

transportes e urbanismo, como consultor, planeador e projectista. Professor Auxiliar Convidado na FEUP.

Mas, por outro lado, parece bvio que o que se faz em matria de transportes e mobilidade nos planos directores municipais, nos planos de urbanizao e nos planos de pormenor manifestamente insuficiente e

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reduz-se promoo do transporte individual atravs da previso de quilmetros e quilmetros de infraestrutura rodoviria, depois projectada exclusivamente segundo o critrio do desempenho automvel. Ou seja, o planeamento formal e os critrios de projecto levaram o sistema urbano a uma hiperdependncia do transporte individual motorizado. E se escala municipal este o panorama generalizado, escala nacional o nico sector que teve direito a um plano sectorial aprovado e de cumprimento consensual foi o rodovirio (PRN), sujeito a inmeras e sucessivas adies que o tornam, desde 1998, num dos maiores consumidores de investimento pblico. O sector ferrovirio, o aeroporturio, o porturio e o logstico, s nos ltimos dois ou trs anos viram surgir documentos mais ou menos consolidados com orientaes estratgicas que devero poder constituir embries de futuros planos sectoriais. A obrigatoriedade de elaborao de planos de mobilidade como condio para o financiamento de infraestrutura de transporte seja de que tipo for parece ser uma poltica assertiva mas que s por si no garante coordenao estratgica intermodal na produo de infraestrutura e na organizao da oferta dos servios que nela possam operar.

Programas de MobilidadeNo existindo em Portugal uma figura legal de enquadramento dos designados Planos de Mobilidade1 (sustentvel ou no sustentvel!), colocamse algumas reservas quanto sua evocao dado o risco de se desencadear um processo (legislativo) de institucionalizao precipitado e que nos conduza do oito para o oitenta, em termos das exigncias e prticas municipais. Tendemos antes a considerar como suficiente para os objectivos actuais da poltica de cidades e para a aplicao do QREN (at 2013!), a considerao da figura de PROGRAMA DE MOBILIDADE que estabelea os objectivos, as prioridades e as linhas gerais de actuao municipal no mbito das acessibilidades e da promoo da multimodalidade; assim como a sustentabilidade futura quer dos oramentos das pessoas e organizaes (aliviados do peso do custo do transporte individual), como dos oramentos1

Em Frana existe a figura dos Plans de

que suportam o custo do servio pblico de transportes empolado pela falta de utentes. Tal no invalida que os organismos competentes, designadamente o IMTT, no estabeleam normas ou guies para este tipo de planeamento/ programao, que mais tarde se poder traduzir total ou parcialmente em legislao.

Dplacements Urbains que enquadra todo o investimento pblico em nova infraestrutura de transportes ao nvel das Comunidades Urbanas ou Cidades; a maioria dos outros pases europeus tem decretos ou regulamentos/ normas para este efeito.

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Os objectivos a prosseguir no tero necessariamente de ser desde logo transcendentes; o que estar em causa na maioria dos casos, definir uma poltica local visando reforar a utilizao do transporte colectivo pblico ou individual - e a mobilidade no motorizada, a par da melhoria da qualidade do ar nomeadamente em reas de grande densidade populacional. Os designados Programas de Mobilidade devero saber reflectir uma estratgia local e um conjunto de medidas no mbito das seguintes temticas: estacionamento central nas suas componentes de residncia, emprego, comrcio/ servios (oferta rotativa) e cargas/ descargas; acessibilidade multimodal s principais zonas de centralidade comercial e de servios e aos principais equipamentos pblicos, designadamente os mais utilizados por populao jovem; estacionamento em urbanizaes dominantemente residenciais, tendo em vista a sua qualificao em termos de espao pblico com diminuio da presena automvel em favor de mais espaos de lazer, desporto de bairro, enquadramento paisagstico, etc; estruturao e organizao de servios de transportes pblicos urbanos, se for esse o caso, e para as cidades com dimenso julgada adequada; desenvolvimento de modos suaves de transporte individual, designadamente o a p e a bicicleta; criao de corredores de transporte uni ou m