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Direito Empresarial Cláudia Ribeiro 1 INTRODUÇÃO: Conceito de Empresa 1. NOÇÃO Empresa: é uma actividade inovadora que pode ser vista numa de 3 vertentes: económica, sociológica ou jurídica (para as quais existe numa noção diferente). 2. VERTENTES: ECONÓMICA, SOCIOLÓGICA E JURÍDICA VERTENTE ECONÓMICA Nesta perspectiva, a empresa é uma organização que vai criar uma utilidade (bem ou serviço útil) que tem como principal objectivo obter lucro. Numa actividade empresarial o que se pretende é que os custos dessa actividade sejam inferiores aos seus proveitos, de forma a que se possam gerar lucros (mesmo tendo em conta os riscos a que todas as actividades empresariais se sujeitam). Nesta vertente económica existem 2 critérios fundamentais para se agruparem as empresas: 1.º Critério: DOS SECTORES DE ACTIVIDADE … de acordo com o qual temos 3 sectores: I – Sector Primário: que engloba empresas agrícolas, silvícolas, de pesca e pecuárias, assim como empresas extractivas; II – Sector Secundário: que abarca indústrias transformadoras, de electricidade, gás e água, construção e obras públicas. Globalmente, abrange aquilo a que se chama “Empresas Industriais”; III Sector Terciário: que abrange o comércio, os transportes e comunicações, globalmente chamadas “Empresas Comerciais”, assim como também abrangem bancos e seguradoras, chamadas “Empresas de Serviço”. 2.º Critério: DA DIMENSÃO DAS EMPRESAS … de acordo com o qual temos pequenas, médias e grandes empresas. A distinção entre cada uma delas faz-se em função do volume de facturação e do número de trabalhadores que tem ao seu serviço. É um critério é muito importante, porque são concedidos incentivos às pequenas e médias empresas – as PME – sendo-lhes concedido um regime especial, como incentivos fiscais. I – Primário Dos sectores de actividade II – Secundário III – Terciário Vertente Económica I – Pequenas empresas Da dimensão da empresa II – Médias empresas III – Grandes empresas

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O conceito de empresa

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INTRODUÇÃO: Conceito de Empresa

1. NOÇÃO Empresa: é uma actividade inovadora que pode ser vista numa de 3 vertentes:

económica, sociológica ou jurídica (para as quais existe numa noção diferente).

2. VERTENTES: ECONÓMICA, SOCIOLÓGICA E JURÍDICA VERTENTE ECONÓMICA

Nesta perspectiva, a empresa é uma organização que vai criar uma utilidade (bem ou

serviço útil) que tem como principal objectivo obter lucro. Numa actividade empresarial o que se pretende é que os custos dessa actividade sejam

inferiores aos seus proveitos, de forma a que se possam gerar lucros (mesmo tendo em conta os riscos a que todas as actividades empresariais se sujeitam).

Nesta vertente económica existem 2 critérios fundamentais para se agruparem as

empresas: 1.º Critério: DOS SECTORES DE ACTIVIDADE … de acordo com o qual temos 3 sectores: I – Sector Primário: que engloba empresas agrícolas, silvícolas, de pesca e pecuárias, assim como empresas extractivas; II – Sector Secundário: que abarca indústrias transformadoras, de electricidade, gás e água, construção e obras públicas. Globalmente, abrange aquilo a que se chama “Empresas Industriais”; III – Sector Terciário: que abrange o comércio, os transportes e comunicações, globalmente chamadas “Empresas Comerciais”, assim como também abrangem bancos e seguradoras, chamadas “Empresas de Serviço”. 2.º Critério: DA DIMENSÃO DAS EMPRESAS … de acordo com o qual temos pequenas, médias e grandes empresas. A distinção entre cada uma delas faz-se em função do volume de facturação e do

número de trabalhadores que tem ao seu serviço. É um critério é muito importante, porque são concedidos incentivos às pequenas e

médias empresas – as PME – sendo-lhes concedido um regime especial, como incentivos fiscais.

I – Primário Dos sectores de actividade II – Secundário III – Terciário

Vertente Económica I – Pequenas empresas Da dimensão da empresa II – Médias empresas III – Grandes empresas

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VERTENTE SOCIOLÓGICA Nesta perspectiva, a empresa é vista como um sistema, um grupo social, e vai ser feita a

essa empresa uma análise que pretenderá estudar a forma como se organiza, como funciona esse sistema social e também as relações que se vão estabelecer com outros tipos de sistemas sociais, que não sejam o sistema empresarial.

VERTENTE JURÍDICA

Juridicamente, a empresa é um ente jurídico, ou seja, a empresa funciona como um centro autónomo de direitos e obrigações (em principio!!) – é um Pessoa Jurídica Autónoma.

A empresa vai ser, por isso, uma pessoa jurídica diferente de quem a criou, de quem a constituiu.

Nesta vertente, a classificação jurídica das empresas dá-se com a distinção de 2 critérios

fundamentais: 1.º Critério: DA PROPRIEDADE DOS MEIOS DE PRODUÇÃO … de acordo com o qual temos 4 tipos de empresas: Públicas: • São criadas pelo Estado ou são por ele nacionalizadas (passando de privadas a públicas). • Funcionam com capitais públicos. • Normalmente inserem-se em áreas básicas da economia de um país. • Visam a satisfação de interesses públicos. • Globalmente constituem o chamado “Sector Empresarial do Estado”. Privadas: • São tituladas (são propriedade) por pessoas singulares ou colectivas de direito privado. • O seu objectivo é a obtenção, a produção de lucro, para posteriormente distribuir pelos seus sócios. • No seu conjunto formam o chamado “Sector Empresarial Privado”.

Públicas Propriedade dos meios Privadas de produção Mistas Cooperativas Vertente Económica Empresário em nome individual Natureza das Individual EIRL operações Sociedade por quotas unipessoal legais e contratuais Sob forma civil

Civil Sob forma comercial Colectiva

Em nome colectivo Comercial Em comandita Por quotas plural Anónima

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Mistas: • Nestas empresas, a propriedade pertence simultaneamente a entes públicos e privados, que repartem a sua gestão. • Os capitais também são mistos, ou seja, são capitais públicos e privados.

Cooperativas: • São empresas com perfil especial, ou seja, distinguem-se das empresas privadas porque o seu objectivo não é produzir lucros para distribuir pelos sócios e distinguem-se das empresas públicas porque não são criadas pelo Estado. • O objectivo das cooperativas é obter a cooperação dos seus membros, dos seus associados, o que se traduz na possibilidade de obterem o bem ou serviço pretendido mais barato (eliminando-se assim as margens de lucro) ou de uma forma mais eficiente. • Todos os associados colaboram para a realização de um fim que lhes é comum. • Alguns exemplos de empresas cooperativas são: vinícolas, cooperativas de construção e habitação…

2.º Critério: DA NATUREZA DAS OPERAÇÕES LEGAIS E CONTRATUAIS … de acordo com o qual temos 2 tipos de empresa: Individual (constituída apenas por 1

pessoa) e Colectiva (titulada por 2 ou mais pessoas, sócios; com excepção das S.A., constituídas pelo menos por 5 pessoas).

INDIVIDUAL: • São semelhantes quanto à sua constituição – apenas 1 pessoa. • Diferem quanto às regras que os regem. • Empresário em nome individual (ENI): • No ENI existe uma pessoa, um indivíduo, que se vai dedicar a uma actividade

empresarial; • Não se vai constituir uma nova pessoa jurídica e, por esse mesmo motivo, não vai

existir também uma distinção de patrimónios entre o empresário individual e a empresa, existindo apenas um património, que é do indivíduo em questão.

• Todo o património é, portanto, colocado em risco na vida empresarial, podendo os credores da empresa fazer-se pagar com recurso a qualquer bem desse indivíduo.

• No entanto… … este tipo de empresa tem a vantagem de ser muito simples na sua constituição e funcionamento, isto é, adapta-se a projectos empresariais de pequena dimensão que, por um lado não justificam a criação de uma estrutura muito elaborada e organizada e, por outro lado implicam pouco investimento e pouco risco.

• Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada (EIRL): • No EIRL, a lei permite que se crie uma divisão dentro do património do empresário,

ficando parte dos bens adjudicados, ligada à vida empresarial e os restantes bens reservados à vida pessoal do empresário.

• Em princípio…

… só o conjunto de bens ligados à vida empresarial poderá vir a responder pelas dívidas contraídas na vida empresarial, ou seja, o risco do indivíduo que se dedica a esta empresa diminui substancialmente.

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• No entanto…

… nesta forma empresarial a segurança não é ainda total, porque se os credores conseguirem provar que o empresário não respeitou esta divisão, então têm o direito de recorrer a qualquer bem do empresário, ou seja, desaparece a tal divisão.

• Sociedade por Quotas Unipessoal: • Na Sociedade por Quotas Unipessoal, utiliza-se a figura que já existia na Sociedade

por Quotas. • É constituída uma nova pessoa jurídica – a sociedade – e essa pessoa, essa

sociedade vai ser titular de todos os direitos e obrigações da vida empresarial do sócio.

• Os bens pessoais do sócio em questão, em princípio, não vão ser chamados para pagar dívidas da sociedade.

• Esta sociedade é titulada apenas por um único sócio.

COLECTIVA: • A sua distinção faz-se graças ao tipo de actividade que cada 1 vai desenvolver, vai

desempenhar. • Sociedade Civil: • Dedica-se a qualquer actividade que não seja de cariz comercial ou industrial. • Podemos falar em…

- Sociedade Civil sob Forma Civil – desenvolve uma actividade civil e é constituída, funcionando, de acordo com o que está previsto no Código Civil.

- Sociedade Civil sob Forma Comercial – desenvolve uma actividade civil, mas na sua constituição e no seu funcionamento, os sócios adoptam o modelo de um dos tipos de sociedade comercial, ou seja, em nome colectivo, em comandita, por quotas ou anónima. Os sócios regem-se, portanto, pelas regras específicas que o Código das Sociedades Comerciais prevê para cada um destes tipos de sociedade – não podendo misturar características dos vários tipos.

• Sociedade Comercial: • Dedica-se ao exercício de actividades comerciais ou industriais. • Podemos falar em…

- Sociedade em Nome Colectivo; - Sociedade em Comandita; - Sociedade por Quotas Plural; - Sociedade Anónima.

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CAPÍTULO I: As Empresas

SUBCAPÍTULO I: As Empresas Individuais

CARACTERÍSTICAS DA FIRMA EM GERAL

FIRMA… … é a designação da empresa, ou seja, é a forma de identificação de uma empresa; … é diferente de outros elementos identificadores, ou seja, das Figuras Afins:

DO NOME DO ESTABELECIMENTO (É a identificação não da empresa, mas do estabelecimento que essa empresa explora); DA INSÍGNIA DO ESTABELECIMENTO (Permite também identificar e distinguir o estabelecimento, só que neste caso temos um sinal emblemático ou figurativo); DA MARCA (É o elemento identificador das características, da proveniência desse produto).

(O normal é que haja distinção, haja pluralidade na distinção… Mas, pode acontecer que os 4 tenham a mesma designação.)

COMO É CONSTITUÍDA A FIRMA? A firma de uma sociedade tem que respeitar (com a sua formação) determinados princípios: 1. PRINCÍPIO DA VERDADE: A firma deve corresponder à realidade que lhe está subjacente, ou seja, a firma deve induzir as pessoas de forma correcta em relação aos sócios que a compõem, à actividade que desenvolve… … Isto é, a firma não deve induzir as pessoas em erro. 2. PRINCÍPIO DA NOVIDADE: Os sócios devem escolher uma firma que não seja igual, semelhante ou confundível com outra que já se encontre anteriormente registada.

3. PRINCÍPIO DA UNIDADE: Cada sociedade só deverá ter uma única firma.

4. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE: Significa que a firma é obrigatória para as sociedades.

(Quem faz uma firma terá que respeitar os 4 princípios, aquando só “Pedido de Admissibilidade de Firma”.)

MEIOS DE TUTELA OU DE PROTECÇÃO DA FIRMA Quem tem uma firma tem direito ao uso exclusivo dessa firma, por isso a lei dá-lhe fundamentalmente 4 formas de garantir, de proteger esse direito ao uso da sua firma:

1.º - Pedir que se declare que determinada pessoa não tem o direito de usar uma firma, desde que não se verifiquem certos requisitos (Por exemplo, quando a firma não está registada em nome da pessoa que a está a usar); 2.º - O titular da firma pode propor em tribunal uma acção para apreciação de confundibilidade da firma, ou seja, pretende que no tribunal se decida se a firma que a outra pessoa está a usar, embora diferente, é ou não confundível com a firma de quem propõe a acção; 3.º - O titular da firma pode pedir uma indemnização por danos e perdas que tenha sofrido em consequência do uso ilegal da sua firma; 4.º - Direito de proceder criminalmente contra quem dolosamente tiver utilizado a firma ilicitamente.

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1. EMPRESA/EMPRESÁRIO EM NOME INDIVIDUAL NOÇÃO: Empresa em nome individual é uma empresa constituída apenas por um indivíduo (é

uma pessoa singular) que afecta bens próprios à exploração de uma actividade empresarial. O indivíduo em questão tem que ter capacidade de exercício de direitos. O ENI desenvolve a sua actividade com estabilidade, mas não necessariamente com

exclusividade (pode desempenhar outras actividades). QUANTO À RESPONSABILIDADE: O empresário responde de forma ilimitada pelas dívidas que contrair no exercício da sua

actividade, ou seja, o empresário vai responder com todos os seus bens, sejam aqueles que afectou à sua actividade empresarial, sejam os que reservou para a sua vida pessoal.

Porque não há distinção de bens, o empresário vai assumir um risco máximo. A FIRMA PARA A EMPRESA EM NOME INDIVIDUAL… … É facultativa, ou seja, o empresário pode utilizar ou não uma firma. … Se a utilizar deve ser composta:

• pelo nome do empresário (completo ou abreviado), • podendo ainda adicionar uma alcunha, • uma alusão à actividade que vai desenvolver.

2. ESTABELECIMENTO INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE

LIMITADA (EIRL) NOÇÃO: Esta forma empresarial surgiu com o DL 248/86 e permite ao empresário individual

separar uma parte do seu património pessoal, afectando essa parte à exploração de uma actividade económica.

O restante património do empresário fica, em princípio, protegido em relação às dívidas contraídas no exercício dessa actividade.

No entanto… … Com este estabelecimento não nasce uma nova pessoa jurídica, esta divisão é uma

mera ficção. QUANTO À RESPONSABILIDADE: Em princípio… … O empresário que explora este estabelecimento limita a sua responsabilidade ao valor

dos bens que afectou ao estabelecimento e estes bens serão a garantia dos credores. No entanto… … Esta separação pode não acontecer, pode não se passar desta forma, uma vez que o

empresário pode responder com todo o seu património pelas dívidas empresariais, desde que os credores consigam provar que o empresário não respeitou o princípio da separação de patrimónios quando geriu o seu estabelecimento.

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Por outro lado… … Em relação às dívidas fiscais, em princípio, só responderão os bens afectos ao

estabelecimento, mas podem responder todos os bens, se tiver sido por sua culpa que o estabelecimento não teve bens suficientes para o pagamento dessas dívidas.

… No caso de se dar uma falência, vão responder todos os bens do empresário, a não ser que ele prove que respeitou o princípio da separação patrimonial.

A FIRMA PARA O ESTABELECIMENTO INDIVIDUAL DE RESP. LIMITADA… É composta:

• pelo nome civil (completo ou abreviado), • acrescentando eventualmente uma referência à actividade que vai desenvolver, • tendo que acrescentar no fim, obrigatoriamente, a expressão “EIRL”.

3. SOCIEDADE POR QUOTAS UNIPESSOAL NOÇÃO: Estas sociedades por quotas unipessoais, surgiram com o DL 257/96, pretendendo

satisfazer o interesse de apenas um indivíduo poder dedicar-se a uma actividade empresarial, formando uma estrutura que constituísse uma pessoa jurídica autónoma, relativamente ao empresário.

O objectivo era garantir ao empresário uma separação de personalidade jurídica e,

consequentemente, uma separação de património, formando-se uma nova pessoa jurídica. Vai ser esta nova pessoa jurídica, e não o empresário, a titular de todos os direitos e obrigações da empresa.

Para isso, este DL utilizou a figura já existente das sociedades comerciais por quotas, que era muito utilizada e de forma funcional… Apenas se limitou a adaptar esta figura pré-existente a uma empresa que é titulada apenas por um sócio, mantendo no essencial as características da sociedade por quotas.

QUANTO À RESPONSABILIDADE: Neste tipo de empresa existe apenas um sócio, que pode ser uma pessoa singular ou

colectiva. Esta pessoa, este único sócio, é titular de todo o capital social. O sócio responde limitadamente pelas suas obrigações contraídas pela sociedade e até

ao valor da sua quota… … Só assim não será quando o sócio tiver violado os deveres que lhe estão atribuídos

por lei. A FIRMA PARA A SOCIEDADE POR QUOTAS UNIPESSOAL… É obrigatória. Ela deve ser (obrigatoriamente) constituída com:

• a aditação de “Unipessoal” ou “Sociedade Unipessoal”, • assim como com a expressão “Lda”.

(A administração e a representação da sociedade desta empresa é assegurada pelo seu

único sócio.)

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SUBCAPÍTULO II: As Empresas Colectivas

1. SOCIEDADE CIVIL SOB A FORMA CIVIL NOÇÃO: Este tipo de sociedade constitui-se através de um contrato – “contrato de sociedade” –

em que 2 ou mais pessoas se reúnem com o objectivo de desenvolverem uma actividade económica lucrativa são carácter comercial ou industrial, contribuindo com bens ou serviços para o exercício em comum dessa actividade, repetindo depois os lucros que forem gerados.

Este tipo de sociedade, em princípio, não tem personalidade jurídica, mas pode ter se: - For constituída por escritura pública e - Tiver um património e uma organização próprios.

Esta sociedade não precisa de ser constituída por escritura pública, a não ser que a natureza dos bens que integram o património da sociedade o justifique (se tiver um bem imóvel, por exemplo).

Esta sociedade tem que ser constituída no mínimo por 2 sócios: - Estes sócios podem entrar com bens ou serviços – sócios de indústria… - Os sócios de indústria não podem estar afastados do direito aos lucros, mas pode estipular-se que eles não participem nas perdas da sociedade.

QUANTO À RESPONSABILIDADE: Se a sociedade não tiver personalidade jurídica, a responsabilidade dos sócios é total. A FIRMA PARA A SOCIEDADE CIVIL SOB FORMA CIVIL… Pode ser adoptada… Normalmente composta:

• Pelo nome dos sócios (completos ou abreviados), • Acrescentando no fim “Sociedade”, “Em Sociedade” ou “Associados”.

2. SOCIEDADE CIVIL SOB A FORMA COMERCIAL NOÇÃO: Este tipo de sociedade desenvolve também uma actividade económica que não seja de

comércio ou de indústria como a sociedade civil sob forma civil. No entanto… … Esta sociedade vai organizar-se e funcionar como uma sociedade comercial…

… ou seja, os sócios: - vão decidir qual das quatro formas das sociedades comerciais preferem; - e depois irão constituir legalmente a sociedade; - regendo-se de acordo com aquilo que está previsto para esse tipo de sociedade no “Código das Sociedades Comerciais”, por exemplo, quanto ao capital social, quanto à representação, quanto à administração…

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3. AS SOCIEDADES COMERCIAIS Para termos a noção de Sociedade Comercial, temos que juntar 2 noções legais… … Artigo 980.º do Código Civil; … Artigo 1, nº 2 do Código das Sociedades Comerciais.

3.1. noção e características

NOÇÃO DE SOCIEDADE SOB O PONTO DE VISTA DO ART. 980.º CC:

“É um contrato pelo qual duas ou mais pessoas 1 se obrigam a contribuir com bens ou serviços 2 para o exercício em comum de certa actividade económica que não seja de mera fruicção, 3 a fim de repartir os lucros resultantes dessa actividade 4.”

NOÇÃO DE SOCIEDADE SOB O PONTO DE VISTA DO ART. 1, n.º 2 CSC:

“São sociedades comerciais aquelas que têm por objectivo a prática de actos de comércio 5 e que adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo, por quotas, anónima ou em comandita 6.”

CARACTERÍSTICAS SOB O PONTO DE VISTA DO CC:

1) Sociedade é uma associação ou agrupamento de pessoas com base voluntária (quando temos uma sociedade, temos um grupo de pessoas, com a excepção da sociedade unipessoal que, como o nome indica é composta apenas por uma pessoa).

2) Existe um fundo patrimonial autónomo. Este fundo (que é património da sociedade) é composto pela contribuição de todos os

sócios e, por isso, se diz que existe uma obrigação de contribuir por parte de todos os sócios; em algumas sociedades esta contribuição pode ser feita através do trabalho.

3) Os sócios vão desenvolver uma actividade económica que não é de mera fruicção, ou

seja, com a sua actividade os sócios procuram criar uma nova utilidade. Esta actividade não tem um carácter estático, mas antes dinâmico, isto é, os sócios

não se vão limitar a usufruir de algo, não se vão limitar deste modo a colher os frutos de um objecto, de uma actividade que já não existia.

(Numa sociedade, a actividade dos sócios vai de encontro a retirar vantagens do que possui.)

4) O intuito/objectivo dos sócios é de carácter lucrativo, ou seja, a sociedade deve ter

como objectivo a obtenção de lucros, uma vez que não têm fins/vantagens meramente ideais.

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CARACTERÍSTICAS SOB O PONTO DE VISTA DO CSC:

5) Está relacionado com o objectivo da sociedade. As sociedades comerciais têm que ter um objecto comercial, ou seja, têm que ter como

intenção desempenhar actos que possam ser qualificados como actos de comércio. Não é necessário que desenvolvam vários actos de comércio, podem ser constituídos para a prática de apenas um acto de comércio, ou seja, não é necessário por isso um exercício habitual de comércio.

Este objecto da sociedade tem que estar concretamente definido no pacto social, num contrato de sociedade.

6) Está relacionado com as formas da sociedade, com os tipos de sociedade que existem, ou seja, o “Código das Sociedades Comerciais” prevê 4 tipos possíveis de sociedades: em nome colectivo, por quotas, anónima ou em comandita.

Quando alguém pretende constituir uma sociedade tem que optar por apenas um desses tipos, não pode criar um novo tipo e nem sequer pode misturar características dos diferentes tipos de sociedade criadas. Por isso, se diz que nesta matéria vigora o chamado PRINCÍPIO DA TIPICIDADE * ou PRINCÍPIO DO NUMERUS CLAUSUS.

* Princípio da Tipicidade:

funciona como excepção ao Princípio da Liberdade Contratual que, como princípio básico geral do Direito Civil, diz-nos que as pessoas podem fazer os

contratos que quiserem e do modo como quiserem.

3.2. personalidade e capacidade jurídicas. a autonomia patrimonial

QUANTO À PERSONALIDADE JURÍDICA

As sociedades comerciais têm personalidade jurídica (Art. 5.º, CSC), o que significa que a partir do momento em que se constitui uma sociedade comercial, forma-se uma nova pessoa jurídica, distinta das pessoas dos sócios…

… Esta nova pessoa vai ser um sujeito autónomo, de direitos e obrigações e, por isso, vai ser titular das relações jurídicas dessa mesma sociedade.

Os sócios não têm direitos sobre os bens da sociedade, porque esses bens não são propriedade dos sócios, mas antes propriedade da sociedade. Os sócios têm apenas

direito à sua quota-parte dos lucros da sociedade que vierem a ser distribuídos.

QUANTO À CAPACIDADE JURÍDICA A capacidade jurídica das sociedades comerciais compreende os direitos e as

obrigações que… 1º. Sejam necessários ou convenientes à prossecução da sua finalidade;

(“Princípio da Especialidade do Fim” – a capacidade jurídica das sociedades comerciais é apenas para a execução do seu fim.)

2º. Que não sejam vedadas por lei à sociedade;

(Há certos direitos que a lei reserva às pessoas singulares e que as pessoas colectivas não têm direito, que lhes são vedados por lei.)

3º. Que não sejam inseparáveis da personalidade singular.

(Há certos direitos que a lei veda às sociedades comerciais, mas que já sabemos que não lhes dizem respeito; por exemplo, o direito a constituir família.)

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QUANTO À AUTONOMIA PATRIMONIAL No fundo, haver autoridade patrimonial significa que o património das sociedades

é separado, distinto do património dos sócios, porque as sociedades têm uma personalidade jurídica autónoma dos sócios.

1.ª POSIÇÃO: SÓCIOS CREDORES SOCIAIS (A) Sociedades Anónimas + Sociedades Por Quotas

(Responsabilidade Limitada e Solidária) Em qualquer destas sociedades os sócios assumem uma

RESPONSABILIDADE LIMITADA ao valor das quotas ou acções. Neste tipo de sociedades, os sócios respondem pelas dívidas sociais apenas

com a obrigação de entregarem à sociedade a sua entrada, ou seja… … quando os sócios constituem a sociedade, obrigam-se a transferir

para a sociedade o valor correspondente à sua quota ou acção. Depois dos sócios realizarem esta obrigação, nada mais lhes pode ser pedido

e, por isso, se diz que neste tipo de sociedades os sócios assumem uma responsabilidade limitada.

Os credores da sociedade têm como garantia única o próprio património da

sociedade e não podem vir exigir nada do património dos sócios, desde que estes tenham completado a sua entrada.

No entanto… … se qualquer dos sócios não tiver cumprido a sua obrigação de

entrada, os credores sociais em substituição da sociedade podem exigir que o capital social seja integralmente realizado e que, para isso, os sócios completem as suas entradas.

Neste caso, os sócios vão responder com uma RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, ou seja…

… qualquer um e todos os sócios estão obrigados a completar o capital social, independentemente de quem não o tenha feito.

Isto quer dizer que se, por exemplo, existirem 3 sócios (A, B e C), A e B tiverem já feito as suas entradas de capital de forma completa e C ainda não tenha cumprido a sua obrigação de entrada, os credores da sociedade podem exigir que seja realizado integralmente.

Por isso, os credores vão poder exigir a efectivação da entrada, dirigindo-se ao C faltoso, mas podendo também exigir o pagamento a A e/ou ao B.

COMO CONCLUSÃO... ... OS SÓCIOS DESTE TIPO DE SOCIEDADES, PERANTE OS CREDORES SOCIAIS,

ASSUMEM UMA RESPONSABILIDADE LIMITADA AO VALOR DAS SUAS ENTRADAS E SOLIDÁRIA ENTRE OS SÓCIOS NA REALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL.

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(B) Sociedades em Nome Colectivo + Sociedades em Comandita (Os sócios respondem pelas dívidas sociais com Responsabilidade: Pessoal,

Ilimitada, Solidária e Subsidiária) RESPONSABILIDADE PESSOAL: Porque os sócios vão pagar as dívidas da

sociedade com recurso aos bens que integram o património pessoal dos sócios – e não apenas com os bens que integram o património da sociedade.

RESPONSABILIDADE ILIMITADA: A responsabilidade dos sócios pelo

pagamento das dívidas sociais não tem limite, ou seja… ... os sócios são obrigados a pagar as dívidas da sociedade,

independentemente do seu valor e a sua responsabilidade só cessa quando estiverem pagas todas as dívidas da sociedade.

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA: Os sócios respondem todos e cada um

pela totalidade das dívidas da sociedade. Os sócios não podem apenas responsabilizar-se pelo valor em dívida na proporção da sua intervenção na sociedade, têm que pagar toda a dívida e depois, eventualmente, acertarem contas entre os sócios (mas isto já é alheio ao credor da sociedade).

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA: Significa que os sócios só são

responsáveis nos termos que vimos depois de estar esgotado todo o património da sociedade, ou seja…

... ou seja, os credores têm que se dirigir primeiramente à sociedade para receber e só se (e quando) a sociedade não tiver bens é que os credores se podem dirigir aos sócios – por isso se diz que os sócios gozam do benefício da excussão prévia.

COMO CONCLUSÃO… …É PRECISAMENTE POR ESTA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA QUE AINDA ASSIM SE

PODE AFIRMAR QUE AS SOCIEDADES TÊM AUTONOMIA PATRIMONIAL EM RELAÇÃO AOS SÓCIOS.

2.ª POSIÇÃO: SOCIEDADE CREDORES PARTICULARES DOS SÓCIOS Princípio Geral:

Os credores particulares dos sócios não podem fazer-se pagar com recurso aos bens da sociedade, porque…

… A sociedade é uma pessoa jurídica diferente do sócio e o património da sociedade é também diferente e separado do património dos sócios. No entanto…

Os credores dos sócios podem penhorar o direito a lucros dos sócios… … O lucro forma-se na sociedade (no seu património) e enquanto se encontra

na sociedade não pode ser penhorado dado que é um bem da sociedade… … mas quando se delibera, quando os sócios deliberam que esses valores

gerados na sociedade devem ser distribuídos pelos sócios como lucro, eles vão transitar do património da sociedade para o património dos sócios.

… nesse momento, e encontrando-se penhorado o direito a lucros, esse valor (que se destinava ao sócio) vai ser aplicado para pagamento da dívida, sendo entregue ao credor).

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Por outro lado…

SOCIEDADES ANÓNIMAS + SOCIEDADES POR QUOTAS O credor particular do sócio, quando se trata de uma sociedade anónima ou de

uma sociedade por quotas, pode penhorar as acções ou a quota que o sócio detém, de que o sócio é proprietário…

… Estas acções (ou quota), tal como qualquer outro bem, fazem parte do património do sócio e se tiverem valor o credor, após a penhora, procede por exemplo à venda destas acções (ou da quota) e o produto dessa venda servirá para pagar a dívida, total ou parcialmente.

Nesta situação, é evidente que se vai alterar o proprietário das acções (ou da quota), ou seja…

… o proprietário das acções (ou da quota) deixa de ser o accionista (ou o sócio) devedor, para passar a ser aquele que adquirir essas acções (ou quota).

SOCIEDADES EM NOME COLECTIVO + SOCIEDADES EM COMANDITA Nas sociedades em nome colectivo e nas sociedades em comandita a penhora

da participação social já não é possível… … Neste tipo de sociedades a pessoa dos sócios é fundamental, pois é

indispensável uma relação de confiança e conhecimento que justifique que, todos em conjunto ou separadamente, vão responder sem limites pelas dívidas da sociedade. Desta forma, vai-se repugnar que possa vir um terceiro estranho a entrar na sociedade, sem o consentimento dos outros sócios.

Nesta hipótese, a única coisa que eventualmente o credor pode fazer é exigir a liquidação da participação social do devedor, caso os restantes bens desse devedor sejam insuficientes para o pagamento do seu crédito.

(C) CONCLUSÃO:

EXISTE AUTONOMIA PATRIMONIAL ENTRE A SOCIEDADE E OS SÓCIOS, POIS OS SÓCIOS

NÃO PODEM SER CHAMADOS A PAGAR AS DÍVIDAS DA SOCIEDADE…

… E MESMO NAS SOCIEDADES EM QUE ASSUMEM RESPONSABILIDADE ILIMITADA, OS

BENS DOS SÓCIOS SÓ RESPONDEM EM SEGUNDO PLANO, DEPOIS DE ESTAR ESGOTADA A

SOCIEDADE…

… O QUE DEMONSTRA QUE OS PATRIMÓNIOS SÃO AUTÓNOMOS, NÃO É UM ÚNICO

PATRIMÓNIO DE ONDE FAZEM PARTE TODOS OS BENS).

POR OUTRO LADO, TAMBÉM A SOCIEDADE NÃO PODE SER RESPONSABILIZADA POR

DÍVIDAS PESSOAIS DOS SÓCIOS…

… OS CREDORES SÓ PODEM RECEBER COM RECURSO AOS BENS DOS SÓCIOS ONDE

SE INSEREM, POR EXEMPLO, AS QUOTAS PESSOAIS, AS ACÇÕES OU OS LUCROS QUE

OBTIVEREM COM OS SÓCIOS.

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3.3. o acto constitutivo:

o contrato de sociedade

FORMA DO CONTRATO DE SOCIEDADE O contrato tem que ser feito obrigatoriamente por escritura pública, no notário –

Art. 7, n.º 1 CSC. É uma excepção ao “Princípio de Liberdade da Forma”, que surge do

“Princípio da Liberdade Contratual”. A sociedade não tem personalidade jurídica se o seu contrato não for válido,

ou seja, se não for feito por escritura pública.

PARTES DO CONTRATO DE SOCIEDADE A regra é que o contrato de sociedade deve ser celebrado no mínimo por 2

partes… Mas esta regra tem excepções:

1.ª A LEI ADMITE A EXISTÊNCIA DE UMA SOCIEDADE COM UMA SÓ PESSOA – O CASO DAS SOCIEDADES UNIPESSOAIS.

(A LEI TAMBÉM PERMITE QUE, NO CASO POR EXEMPLO DA MORTE DE UM DOS SÓCIOS, MESMO QUE AS SOCIEDADES PLURAIS SEJAM CONSTITUÍDAS POR UMA SÓ PESSOA, MAS APENAS DURANTE UM ANO.)

2.ª A REGRA TAMBÉM SOBRE EXCEPÇÕES QUANTO ÀS SOCIEDADES ANÓNIMAS, JÁ QUE A LEI OBRIGA A UM MÍNIMO DE 5 ACCIONISTAS – ART. 273, N.º 1 CSC.

TIPOS DE SÓCIOS À partida, as sociedades poderão ter 2 tipos de sócios: capitalistas e de indústria

(ou trabalhadores).

SÓCIOS CAPITALISTAS: QUE CONTRIBUEM PARA A SOCIEDADE COM BENS DE QUALQUER NATUREZA, DESDE QUE TENHAM VALOR PECUNIÁRIO, POR EXEMPLO, DINHEIRO, IMÓVEIS, MÓVEIS…

SÓCIOS DE INDÚSTRIA (OU TRABALHADORES): QUE CONTRIBUEM PARA A SOCIEDADE NÃO COM BENS, MAS ANTES COM SERVIÇOS, COM O SEU TRABALHO. ESTE TIPO DE SÓCIOS SÓ É ADMITIDO, CONTUDO, EM DOIS TIPOS DE SOCIEDADES: EM NOME COLECTIVO E EM COMANDITA.

ESTES SÓCIOS DE INDÚSTRIA SÃO, NO ENTANTO, SÓCIOS DE PLENO DIREITO, OU SEJA, NÃO PODEM PERDER REGALIAS OU DIREITOS PELO FACTO DE NÃO TEREM ENTRADO COM DINHEIRO. ELES, TAL COMO OS QUE ENTRARAM COM DINHEIRO, TÊM DIREITO AOS LUCROS – POR ISSO, NÃO SE PODE PROIBIR O SÓCIO DE RECEBER LUCRO, PROIBIÇÃO DO PACTO LEONINO.

NO ENTANTO, PODE FICAR ACORDADO QUE ESTES SÓCIOS NÃO TENHAM QUE PARTICIPAR NAS PERDAS – QUINHOAR AS PERDAS.

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ELEMENTOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE O contrato de sociedade tem que conter os elementos exigidos no Art. 9 CSC.

Dentro deles podemos destacar: 1.º INDICAR O TIPO DE SOCIEDADE QUE SE VAI ADOPTAR; 2.º TER A IDENTIFICAÇÃO DOS SÓCIOS; 3.º DIZER QUAL A PARTICIPAÇÃO SOCIAL DE CADA UM DOS SÓCIOS (NAS S.A. E NAS SOCIEDADE POR QUOTAS); 4.º EVENTUALMENTE, REFERIR O REGIME DE RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS; 5.º REFERIR A FIRMA DA SOCIEDADE E A SUA SEDE; 6.º REFERIR O OBJECTO DA SOCIEDADE, OU SEJA, CONCRETAMENTE A QUE SE VAI DEDICAR ESTA SOCIEDADE.

3.4. tipos societários: em nome colectivo, comandita, por quotas plural, anónima

SOCIEDADE EM NOME COLECTIVO NOÇÃO: É uma sociedade de RESPONSABILIDADE ILIMITADA, em que os sócios respondem,

por isso, com o seu património pessoal até que estejam pagas todas as dúvidas da sociedade, não se estabelecendo qualquer limite à sua responsabilidade.

Por outro lado, é uma sociedade de RESPONSABILIDADE SUBSIDIARIA, ou seja, os

bens dos sócios só respondem em segundo plano, quando estiverem esgotados os bens da sociedade.

Por último, nesta sociedade os sócios assumem uma RESPONSABILIDADE

SOLIDÁRIA entre si, já que cada um dos sócios responde pelo cumprimento integral das obrigações da sociedade, podendo ser demandado, accionado individualmente pelos credores da sociedade.

No entanto, o sócio que pagar para além da parte que lhe compete, pode exigir aos outros sócios a devolução da quantia que pagou a mais, ou seja, pode exigir que nas relações internas entre os sócios, os outros assumam a sua responsabilidade – a isto se chama “Direito de Regresso”.

N.º DE SÓCIOS: Dois ou mais.

TIPO DE SÓCIOS: Capitalistas ou de Indústria. No caso de se estabelecerem sócios de indústria é preciso que no pacto social,

ainda assim, fique determinado qual o valor da contribuição desse sócio de indústria – para se igualar aos restantes sócios e para determinar a sua função, o seu trabalho, que deve ser proporcional à participação social dos restantes sócios.

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FIRMA DA SOCIEDADE: É composta:

- Pelo nome (completo ou abreviado) de algum, alguns ou todos os sócios… - Também tem que aditar obrigatoriamente no fim “e Companhia”… - …ou qualquer outra expressão que indique a existência de outros sócios:

“e Irmãos”, “e Herdeiros”, “e Filhos”… ADMINISTRAÇÃO E REPRESENTAÇÃO: A sociedade é administrada e representada pela GERÊNCIA… … Por direito próprio, todos os sócios são gerentes e todos representam a

sociedade (porque todos respondem ilimitada e subsidiariamente). … Também pode ser gerente uma pessoa estranha à sociedade, desde que

haja deliberação unânime de todos os sócios nesse sentido.

SOCIEDADE EM COMANDITA NOÇÃO: É uma sociedade de RESPONSABILIDADE MISTA, porque reúne:

- sócios que assumem uma RESPONSABILIDADE LIMITADA (que contribuem com bens, com capital)…

- e sócios que assumem uma RESPONSABILIDADE ILIMITADA (que contribuem com bens e serviços, assumindo a gestão e direcção da sociedade).

N.º DE SÓCIOS: Dois ou mais. Mas, nas sociedades em comandita por acções tem que haver um número mínimo

de 5 sócios, que assumam responsabilidade limitada, que entrem com capital. TIPOS DE SÓCIOS: Há 2 tipos de sócios: comanditados e comanditários.

• Os SÓCIOS COMANDITADOS são os sócios que entram com bens ou serviços, e que assumem uma responsabilidade ilimitada e solidária.

• Os SÓCIOS COMANDITÁRIOS são os sócios que entram exclusivamente com bens, e que assumem responsabilidade limitada ao valor da sua entrada.

FIRMA DA SOCIEDADE: Deve ser uma FIRMA-NOME, ou seja, deve ser constituída:

- Pelo nome (completo ou abreviado) dos sócios (pelo menos de um dos sócios que assumam responsabilidade limitada) …1

- No fim, esta firma tem que conter o aditamento “Em Comandita”.

ADMINISTRAÇÃO E REPRESENTAÇÃO: A sociedade é administrada e representada pela GERÊNCIA…

1 Se algum dos sócios, que assume responsabilidade limitada, permitir que o nome dele conste da firma, passa a assumir responsabilidade idêntica à dos sócios comanditados, ou seja, responsabilidade ilimitada.

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… São gerentes os sócios comanditados, a não ser que haja uma disposição em contrário no contrato de sociedade.

SOCIEDADE POR QUOTAS

NOÇÃO: É uma sociedade de responsabilidade limitada, o que significa que, pelas dívidas

da sociedade só responde o património da sociedade. O capital da sociedade encontra-se dividido por quotas. Os sócios assumem uma RESPONSABILIDADE LIMITADA ao valor da sua quota. O

sócio só se obriga a entregar à sociedade, uma vez que lá está, o valor acordado no contrato e que corresponde ao valor nominal da sua quota.

Para além disto, os sócios assumem também uma RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

entre na realização completa das entradas que ficaram determinadas no contrato de sociedade…

… O que significa que se um dos sócios não tiver entregue à sociedade todo o valor da sua quota, o valor em falta pode ser exigido ao sócio faltoso ou a qualquer outro.

Os sócios também podem assumir uma RESPONSABILIDADE CONVENCIONADA, de

acordo com o Art. 198, CSC.

NESTA SITUAÇÃO, UMA PARTE OU TODOS OS SÓCIOS ESTIPULAM NO CONTRATO DE SOCIEDADE QUE RESPONDERÃO PERANTE OS CREDORES

SOCIAIS ATÉ UM DETERMINADO MONTANTE, PARA ALÉM DO VALOR DA SUA QUOTA…

… ESTE MONTANTE TEM QUE FICAR CLARAMENTE DEFINIDO NO CONTRATO E APENAS RESPONSABILIZA AQUELA PESSOA ESPECÍFICA QUE SE

OBRIGOU.

A RESPONSABILIDADE CONVENCIONADA PODER SER SOLIDÁRIA OU SUBSIDIÁRIA EM RELAÇÃO À SOCIEDADE DEPENDENDO DAQUILO QUE OS

SÓCIOS DETERMINAREM NO PACTO SOCIAL.

ISTO QUER DIZER QUE, SE O SÓCIO ASSUMIR UMA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA, OS CREDORES DA SOCIEDADE SÓ PODEM EXIGIR A ESSE

SÓCIO QUE ASSUMA ESTA RESPONSABILIDADE CONVENCIONADA E PAGUE A DÍVIDA SE E QUANDO A SOCIEDADE JÁ NÃO TIVER BENS.

SE, PELO CONTRÁRIO, ASSUMIR UMA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

EM RELAÇÃO À SOCIEDADE, OS CREDORES DA SOCIEDADE PODEM DIRIGIR-SE INDISTINTAMENTE À SOCIEDADE OU AO SÓCIO ATÉ AO LIMITE DA

RESPONSABILIDADE QUE ESTE ASSUMIU.

SE O(S) SÓCIO(S) QUE ASSUMIU A RESPONSABILIDADE CONVENCIONADA PAGAR UMA DÍVIDA SOCIAL AO ABRIGO DESSA

RESPONSABILIDADE, NÃO PODE EXIGIR DIREITO DE REGRESSO EM RELAÇÃO AOS RESTANTES SÓCIOS, PORQUE ESTES NÃO SE RESPONSABILIZAREM. NO

ENTANTO, E PORQUE O SÓCIO ESTÁ A PAGAR UMA DÍVIDA DA SOCIEDADE (QUE NÃO É DELE) PODE EXIGIR DIREITO DE REGRESSO CONTRA A

SOCIEDADE.

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Cláudia Ribeiro 18

A RESPONSABILIDADE CONVENCIONADA SÓ SUBSISTE ENQUANTO O SÓCIO EM QUESTÃO PERTENCER À SOCIEDADE, OU SEJA, NÃO SE

TRANSMITE, NEM SEQUER POR MORTE. Por último, os sócios podem assumir uma RESPONSABILIDADE ILIMITADA por força

da lei: 1.º Quando os sócios violam culposamente as disposições legais e/ou contratuais protectoras dos interesses dos credores e que, com isso, leva à diminuição do património da sociedade, assim como da garantia dos credores – Art. 78 CSC. 2.º Quando os gerentes são subsidiariamente responsáveis em relação à sociedade e solidariamente responsáveis entre si pelo pagamento de contribuições e impostos relativos ao período em que exerceram o seu cargo, ou seja, no caso de dívidas fiscais ao Estado (a não ser que consigam provar que não foi por sua culpa que o património da sociedade se tornou insuficiente para pagar as dívidas da sociedade.

N.º DE SÓCIOS: Dois ou mais… … Com excepção das sociedades por quotas unipessoais. FIRMA DA SOCIEDADE: As sociedades por quotas podem adoptar:

- Uma FIRMA-NOME; - Uma FIRMA-DENOMINAÇÃO; - Ou uma FIRMA-MISTA.

No fim, tem que conter…

- O aditamento “Limitada” ou “Lda.”.

ADMINISTRAÇÃO E REPRESENTAÇÃO: A sociedade é administrada e representada pela GERÊNCIA… … Composta por um ou mais gerentes… … O gerente pode ser um dos sócios ou um estranho à sociedade.

SOCIEDADE ANÓNIMA NOÇÃO: É uma sociedade de RESPONSABILIDADE LIMITADA. É, ao mesmo tempo, uma SOCIEDADE TIPICAMENTE CAPITALISTA, em que a pessoa

dos sócios é irrelevante.

N.º DE SÓCIOS: Cinco ou mais, obrigatoriamente – Art. 273, n.º 1, CSC. No entanto…

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… Se a maioria do capital for detido pelo Estado ou por Empresas Públicas, a sociedade pode constituir-se apenas com 2 sócios.

TIPOS DE SÓCIOS: Os sócios de uma sociedade anónima têm o nome de ACCIONISTAS… … Não são admitidos sócios de indústria, uma vez que se trata de uma

sociedade capitalista. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS: Os sócios têm uma RESPONSABILIDADE LIMITADA ao valor que subscrevem. No entanto…

… Os administradores destas sociedades são responsáveis nos mesmos termos que vimos para os gerentes das sociedades por quotas. Para além disto… … Nas sociedades anónimas os órgãos de fiscalização e os revisores

oficiais de contas respondem ilimitadamente, a não ser que consigam provar que cumpriram todos os seus deveres de fiscalização e, por isso, a situação que a empresa possa vir a ter não se deve ao incumprimento das duas funções.

FIRMA DA SOCIEDADE: As sociedades anónimas podem adoptar:

- Uma FIRMA-DENOMINAÇÃO; - Ou uma FIRMA-MISTA.

No fim, devem aditar…

- A expressão “Sociedades Anónimas” ou “S.A.”.

ADMINISTRAÇÃO E REPRESENTAÇÃO: As sociedades anónimas são administradas e representadas… … Pelo CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO… … Ou pela DIRECÇÃO.

4. O ESTABELECIMENTO COMERCIAL

NOÇÃO: Numa acepção ampla, geral o estabelecimento comercial é uma organização comercial

que abrange:

BENS CORPÓREOS (moveis, imóveis, objectos, mercadorias…) e INCORPÓREOS (uma patente, uma marca…);

ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS E PESSOAS e ainda…

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RELAÇÕES com os bancos, com os fornecedores, com os clientes… (no fundo,

com aquilo que se designa o andamento do estabelecimento).

EM TERMOS JURÍDICOS… … O estabelecimento comercial é visto e protegido como um todo, como uma unidade

jurídica, distinta das partes que o compõe. … Por isso, o estabelecimento não é apenas o conjunto dos elementos que o compõe,

mas é também a organização desses elementos para um fim determinado. … A lei protege cada um dos elementos do estabelecimento, mas protege ainda o

interesse do empresário em manter a unidade, a coesão desses elementos. Desta forma, fala-se de um DDIIRREEIITTOO AAUUTTÓÓNNOOMMOO SSOOBBRREE OO EESSTTAABBEELLEECCIIMMEENNTTOO.

… Assim, a lei protege o estabelecimento em várias situações:

1.ª NO TRESPASSE OU LOCAÇÃO O trespasse é a transparência definitiva, por acto entre vivos, da titularidade

do estabelecimento. Esta transferência é global e unitária, ou seja, transfere-se a globalidade, a totalidade das coisas.

A lei protege o estabelecimento nos negócios de trespasse, permitindo a

transmissão da posição de arrendatário, sem necessidade de autorização do senhorio.

No entanto… … a lei também considera que só há trespasse se a transmissão da posição

de inquilino for acompanhada da transferência em conjunto das instalações, das mercadorias, dos utensílios, da clientela, ou seja, de todos os elementos que integram o estabelecimento.

… Neste caso, e não obstante se está a substituir o inquilino, o senhorio não precisa de dar autorização para isso e não se pode por. O único direito que a lei lhe reserva é o Direito de Preferência, ou seja, ficar ele com o estabelecimento nas condições exactas em que o inquilino o ia trespassar.

(O arrendamento é uma forma de locação, é uma locação de imóveis.)

2.ª NO USUFRUTO A lei estabelece a possibilidade de se manter o proprietário do

estabelecimento e se conceder a outra pessoa o direito de usufruto, ou seja, o direito de usar e fruir esse estabelecimento.

Contudo, como forma de proteger a unidade do estabelecimento, a lei

estabelece ainda que o usufruto tem o dever de conservar a utilidade e o destino económico do estabelecimento, de forma a conservar essa unidade e poder restitui-la ao proprietário quando cessar o usufruto.

3.ª EM ACTOS DE CONCORRÊNCIA DESLEAL

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A lei protege o estabelecimento em relação a actos praticados por outrem, que prejudiquem este estabelecimento e que não estejam de acordo com a lei ou com as boas práticas comerciais.

CAPÍTULO II: Títulos de Crédito

1. NOÇÃO Título de crédito é um documento que habilita o seu portador a exercer um direito de

crédito, ou seja, a receber a quantia constante nesse documento. O título insere um direito e, por isso, em princípio, quem tem a posse do título tem o

direito. O DIREITO CARTULAR (que está na carta, na letra) pressupõe uma relação jurídica

anterior, subjacente (que está por baixo da letra) que explica a criação, o surgimento da letra, do título.

POR EXEMPLO: UM CONTRATO DE COMPRA E VENDA JUSTIFICA A CRIAÇÃO DA LETRA

PARA PAGAR O PREÇO DE QUALQUER BEM OU SERVIÇO. Todo o regime jurídico dos títulos de crédito tem como preocupação fundamental a

protecção dos terceiros de boa-fé. Estes, não sabendo, nem tendo que saber o que se passa sem a sua intervenção, não podem ser surpreendidos com o não pagamento da letra com argumentos que não lhes dizem respeito.

2. TIPOS DE TÍTULO DE CRÉDITO: CHEQUE, LETRA E LIVRANÇA

CCLLAASSSSIIFFIICCAAÇÇÃÃOO DDOOSS TTÍÍTTUULLOOSS DDEE CCRRÉÉDDIITTOO QQUUAANNTTOO AAOO MMOODDOO DDEE CCIIRRCCUULLAAÇÇÃÃOO Temos 3 tipos de títulos de crédito: nominativos, à ordem e ao portador.

TÍTULOS DE CRÉDITO NOMINATIVOS Se forem nominativos, os títulos de crédito são endereçados, passados pelo

emitente do título a uma determinada pessoa e a transmissão desse título exige a intervenção dessa pessoa, que vai averbar, escrever, registar essa transmissão num livro de registos próprio.

TÍTULOS DE CRÉDITO À ORDEM

Se forem títulos à ordem, estão endereçados a determinada pessoa e essa pessoa para transmitir o título tem que o ENDOSSAR, ou seja, declarar por escrito que pretende transmitir o título.

Nessa declaração, o transmitente pode 1identificar ou 2não a pessoa a quem pretende transmitir o título.

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No 1.º caso temos o ENDOSSO COMPLETO (quando determinamos a pessoa a quem transmitimos). No 2.º caso temos o ENDOSSO EM BRANCO (quando não identificamos).

TÍTULOS DE CRÉDITO AO PORTADOR

Se for um título ao portador, o título normalmente não exibe o titular do direito e transmite-se pela mera entrega do título – a chamada TRADIÇÃO.

DDIISSTTIINNÇÇÃÃOO EENNTTRREE LLEETTRRAA,, LLIIVVRRAANNÇÇAA EE CCHHEEQQUUEE

LETRA A letra é um título de crédito à ordem (circula por endosso) em que é feita uma

ordem de pagamento de uma pessoa (SACADOR) a outra pessoa (SACADO) a favor de uma terceira pessoa (TOMADOR) ou à ordem do tomador.

LIVRANÇA A livrança também é um título de crédito à ordem, mas em que, pura e

simplesmente, se faz uma promessa de pagamento. Apenas intervêm 2 partes: o SUBSCRITOR e o TOMADOR.

CHEQUE O cheque é uma ordem de pagamento dirigida a um Banco, no qual há uma

provisão constituída pelo EMITENTE. Através deste título o emitente mobiliza fundos a favor de si próprio ou a favor de

um terceiro. O cheque pode ser ao portador (circulando livremente) ou à ordem (transmitindo-

se por endosso).

3. A LETRA DE CÂMBIO

3.1. elementos constitutivos da letra de câmbio

A letra de câmbio para valer como letra tem que ter determinados requisitos,

referenciados no Art. 1.º, LULL. REQUISITOS DAS LETRAS DE CÂMBIO: 1.º TEM QUE ESTAR INSERIDA A PALAVRA “LETRA”…

… Porque o regime da letra é específico e particularmente gravoso para quem a subscreve.

… “Letra” é uma palavra insubstituível (isto para alertar os intervenientes da letra que estão a assumir obrigações específicas). 2.º TEM QUE TER UM MANDATO PURO E SIMPLES DE PAGAR UMA QUANTIA

DETERMINADA… … A letra tem que conter uma ordem de pagamento para pagar uma

determinada quantia e… … não pode estar sujeita a condições nem cláusulas penais (sanções).

3.º TEM QUE TER A INDICAÇÃO DO NOME DO SACADO… … Esta indicação deve ser feita com recurso aos elementos normais para

identificação das pessoas, ou seja, o nome, residência, profissão, etc.

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… Da simples análise da letra tem que se conseguir perceber, identificar quem é o sacado.

… A letra é válida, ainda que seja fictício o nome do sacado, desde que esse facto não seja evidente.

4.º TEM QUE TER A INDICAÇÃO DA ÉPOCA DE PAGAMENTO…

… ou seja, quando se deve pagar a letra. … Em relação à Época de Pagamento, a lei admite 4 Modalidades:

I - Letra À Vista: Neste caso, a letra é pagável no acto da apresentação…

… No entanto, a letra tem que ser apresentada a pagamento no prazo de 1 ano após a data de emissão, de acordo com o Art. 34.º, LULL.

II - Letra A Um Certo Termo De Vista: A letra é pagável num certo prazo a contar desde a data do aceite, de acordo com o Artigo 35.º, LULL. III - Letra A Um Certo Termo De Data: Neste caso, a letra é pagável num certo prazo a contar desde a data de emissão, de acordo com o Art. 35.º, LULL.

IV - Também é possível e é normal que a letra determine o dia exacto em que é pagável.

… É necessária a Indicação da Época de Pagamento?

A indicação da época de pagamento é necessária, no entanto, essa indicação não precisa de ser expressa, ou seja, quem emite a letra tem 2 opções:

… ou indica expressamente qual é a época de pagamento que pretende; … ou opta por não dizer nada, querendo neste caso significar que a letra é pagável à vista, porque a lei assim o presume. (Art. 2.º, II, LULL)

5.º TEM QUE TER A INDICAÇÃO DO LUGAR DE PAGAMENTO…

… Que pode ser feita por uma de duas modalidades: directa e indirecta.

I - Indicação Directa: quando se designa no texto da letra explicitamente o lugar em que deve ser paga. II - Indicação Indirecta: quando não se diz nada e se considera como lugar de pagamento aquele que é indicado junto ao nome do sacado (Art. 2.º, IV, LULL).

… Se forem indicados vários lugares de pagamento, isto é valido, desde que pertença ao portador da letra a escolha por um dos lugares.

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… A Letra Domiciliada é pagável no domicílio de um terceiro, por exemplo, num Banco.

6.º TEM QUE TER A INDICAÇÃO DO NOME DO TOMADOR…

… A indicação de vários tomadores pode ser feita por uma de duas modalidades: conjunta ou alternativa.

… Pode, eventualmente, ser feita por uma outra modalidade: sucessiva.

I - Indicação Conjunta: Diz-se que “Pagará a B e a C". Os direitos das letras pertencem em conjunto aos tomadores, B e C, que estiverem indicados.

II - Indicação Alternativa: Temos vários tomadores alternativos, dizendo-se “Pagará a B ou a C”.

Neste caso, os direitos da letra pertencem a qualquer um dos tomadores indicados, B ou C.

III - Indicação Sucessiva: Diz-se que “Pagará a B e na sua falta a C”.

Neste caso, para a indicação ser válida, tem que se entender como sucessiva, de outra forma, a letra é nula.

7.º TEM QUE ESTAR PRESENTE A INDICAÇÃO DO LUGAR E DA DATA DO SAQUE… …Estas indicações são importantes porque permitem, muitas vezes, verificar

a capacidade dos intervenientes na letra. … Se não for indicada a data do saque, a letra é nula, mas… … se não for indicado o lugar do saque, vai-se considerar que o lugar do

saque é o indicado como sendo a morada do sacador (porque quem faz o saque é o sacador).

8.º TEM QUE CONTER A ASSINATURA MANUSCRITA DO SACADOR…

… Se a assinatura for falsa, a letra só é nula se essa falsidade for ostensiva, ou seja, se qualquer pessoa perceber facilmente que ela é falsa.

CONSEQUÊNCIA DA FALTA DOS REQUISITOS ESSENCIAIS DAS LETRAS:

> Se faltar um dos requisitos essenciais da letra e se a lei não determinar que a falta desse requisito é suprida, é ultrapassada então a letra não vale como letra.

> O facto da letra ser nula não significa que não possa, no entanto, como documento probatório.

3.2. os principais negócios jurídicos cambiários: saque, aceite, endosso e aval. desconto e reforma.

SAQUE: .É a declaração do emitente do título ه É feito pelo sacador e traduz uma ordem de pagamento dirigida a outra ه

pessoa, o sacado.

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Simultaneamente, o saque traduz uma promessa de pagamento do sacador هem relação ao tomador e todos os sucessivos portadores da letra. O sacador terá que assumir essa promessa quando o sacado se negar a aceitar a letra ou a aceitar a letra e não a pagar.

A justificar a letra e o saque existe normalmente uma relação extra-cartular, ou هseja, uma relação de provisão que justifica a criação da letra.

ACEITE: É realizado pelo sacado, em que este se vai responsabilizar pelo pagamento ه

da letra na data do seu vencimento. O sacado não pode ficar responsável pelo pagamento só porque o sacador ه

assim o disse, é preciso que o sacado aceite a ordem de pagamento que for dada pelo sacador. Se o sacado se recusar a aceitar a letra, esta recusa implica a

responsabilidade do sacador e de todos os outros obrigados cambiários – todos podem ser imediatamente accionados pelo portador da letra. O aceite, na prática, traduz-se na assinatura do sacado, transversalmente, na ه

face da letra.

ENDOSSO: .É um negócio através do qual se transmite a letra ه A letra é transmissível a não ser que se coloque na letra uma cláusula ه

expressa em que se proíbe o endosso (por exemplo, um carimbo). :EFEITOS DO ENDOSSO ه

EFEITO TRANSLATIVO

Através do endosso transmitem-se todos os direitos emergentes da letra. Estes direitos são transmitidos com autonomia.

NÃO EXISTE este efeito translativo, quando: … É um ENDOSSO POR PROCURAÇÃO (neste caso, o

endossado, E, vai cobrar a letra por conta do endossante, D); … É um ENDOSSO EM GARANTIA (neste caso, o endossante

dá a letra ao endossado, apenas como forma de garantir o pagamento de qualquer dívida);

… É um ENDOSSO POSTERIOR AO PROTESTO por falta de pagamento (neste caso, o endosso provoca os mesmos efeitos de uma cessão de créditos, ou seja, quem recebe a letra fica sujeito a todos os argumentos que possam ser invocados para o não pagamento da letra).

EFEITO GARANTIA

O endossante, através do endosso, assume a obrigação de pagar a letra perante os intervenientes cambiários.

EFEITO DE LEGITIMAÇÃO DO PORTADOR

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O endosso legitima o portador da letra, pois é através deste negócio que o portador fica habilitado a receber a quantia titulada pela letra na data do seu vencimento…

Dai que, o portador legítimo seja aquele que recebe a letra por uma série ininterrupta de endossos.

:REQUISITOS DO ENDOSSO ه

FÓRMULA NORMAL DE SE TRANSMITIR A declaração de endosso vai fazer com que se substitua o

beneficiário dessa letra. Isto faz-se referindo: “Pague-se a..................... ou à sua ordem”.

LUGAR DA LETRA ONDE SE FAZ O ENDOSSO

É normal que o endosso se faça no verso da letra, podendo também fazer-se numa declaração, num papel complementar, anexo – esta forma anexa chama-se ALLONGUE.

Se o endosso for em branco é obrigatório que seja feito nas costas da letra ou no ALLONGUE.

O ENDOSSO TEM QUE SER PURO E SIMPLES E DIZER RESPEITO

À TOTALIDADE DO CRÉDITO Se ficarem estabelecidas condições para o endosso, ele

continua a ser válido, mas a condição estipulada é tida como não escrita (não vale nada).

?A QUEM PODE SER FEITO O ENDOSSO ه Pode endossar a letra o tomador e todos os subsequentes portadores ه

legítimos da letra. A letra pode ser endossada a qualquer pessoa, mesmo uma que já seja ه

interveniente cambiária, neste caso dando-se o REENDOSSO.

:TIPOS DE ENDOSSO هO endosso pode ser de 2 tipos: completo ou em branco.

ENDOSSO COMPLETO

Identifica-se o endossado, ou seja, o beneficiário do endosso (sendo certo que a partir dai, se não existirem mais endosso, será apenas este novo portador que pode exercer os direitos inerentes à letra, que pode receber o valor dessa letra).

ENDOSSO EM BRANCO

Neste caso, não se identifica o beneficiário do endosso (Art. 13.º, II, LULL).

O endosso em branco pode fazer-se pela simples assinatura do portador da letra no seu verso ou colocando a fórmula típica de endosso (deixando em branco o espaço reservado à identificação do endossado).

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Quando existe uma letra endossada em branco, aquele que detém a letra, que tem a posse da letra, é considerado o portador legítimo.

O portador de uma letra endossada em branco pode preencher a letra com o seu nome ou endossá-la. Neste último caso, o portador 1pode preencher o endosso com o nome do novo endossado, 2pode entregar a letra tal como ela está ou 3pode fazer um novo endosso, completo ou em branco.

AVAL: É a declaração cambiária através da qual alguém garante o pagamento da ه

letra (Art. 30.º, LULL). Esta garantia vai-se inserir ao lado da obrigação do avalizado, garantindo, cobrindo essa obrigação.

?QUEM PODE PRESTAR O AVAL ه Pode prestar aval qualquer pessoa, que pode ser 1um terceiro ou 2 uma ه

pessoa que já tenha sido obrigada cambiária, que já interveio na letra (tratando-se, neste caso, de um REENDOSSO).

?E A FAVOR DE QUEM PODE SER PRESTADO O AVAL ه .Pode ser prestado a favor de qualquer pessoa que seja obrigada cambiária ه :TIPOS DE AVAL ه O aval normal é feito pela expressão “Bom para aval” (para depois ser assinado ه

pelo avalista). .O aval pode ser, então, de 2 tipos: completo ou em branco ه

AVAL COMPLETO

O avalista identifica o nome do beneficiário do aval, ou seja, o nome do avalizado.

AVAL EM BRANCO

Resulta da simples assinatura do avalista na face da letra. Neste caso, se na face da letra constar uma assinatura

que não seja a só sacador nem do aceitante, a lei presume (Art. 31.º, II, LULL) que se trata da assinatura do avalista.

A lei presume ainda que esse aval é dado a favor do sacador.

RESPONSABILIDADE QUE O AVALISTA ASSUME: (Art. 32.º, LULL) ه O avalista assume uma responsabilidade igual à do avalizado, ou seja, fica na هmesma posição que o avalizado.

A responsabilidade do avalista mede-se pela responsabilidade pelo avalizado. A responsabilidade do avalista é uma Responsabilidade Solidária, ou seja, o هavalista responde pelo pagamento da letra juntamente e na mesma linha que todos os outros obrigados cambiários. O avalista não goza do Benefício da Excussão, ou seja, ele não pode referir هque não paga enquanto o avalizado (ou os outros obrigados cambiários) não tiver o seu património esgotado. Isto só aconteceria se a responsabilidade do avalista fosse subsidiária.

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:DIREITOS DO AVALISTA QUANDO PAGA A LETRA ه O avalista fica subrogado nos direitos resultantes da letra contra o avalizado e هcontra todos os obrigados perante o avalizante. O avalista pode, portanto, exigir que lhe devolva o dinheiro que pagou ao هavalizado a qualquer obrigado cambiário que se situa atrás do avalizado na cadeia cambiária.

DESCONTO: É o adiantamento do valor da letra, antes do seu vencimento, feito por uma هinstituição bancária ao portador do título. O valor que se vai receber com esse desconto é igual ao valor nominal da هletra, menos os encargos bancários, que podem ser…

JURO Também chamado prémio de desconto, é o valor

correspondente à aplicação de uma determinada taxa sobre o valor da letra e tendo em conta o período de tempo compreendido entre a data do desconto e a data de vencimento da letra.

COMISSÃO DE COBRANÇA

É a importância que o banco vai cobrar pelo trabalho que vai ter na data de vencimento da letra.

IMPOSTO

Que incide sobre os juros mais a comissão de cobrança.

PORTES É a importância cobrada pelo Banco quando há despesas

de correio.

REFORMA: É a substituição de uma letra por outra letra com data de vencimento posterior هcom os mesmos intervenientes e de montante igual, inferior ou superior. :MODALIDADES DE REFORMA ه

REFORMA PARCIAL O devedor paga uma parte da primitiva letra e emite uma

nova letra pelo valor restante.

REFORMA TOTAL O devedor não realiza qualquer pagamento e, por isso, a

nova letra é de valor igual ou superior ao valor da primeira letra.

3.3. princípios fundamentais: literalidade, abstracção, incorporação, independência recíproca, autonomia

Temos 5 princípios fundamentais:

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;Literalidade ه ;Abstracção ه ;Incorporação ه ;Independência recíproca ه .Autonomia ه

Estes princípios existem para proteger terceiros. Quando apenas estão 2

pessoas em causa, os princípios caem por terra. LITERALIDADE: (Art. 17.º, LULL) A existência, a validade e a persistência da obrigação cambiária não podem هser contestadas com o auxílio de elementos estranhos ao título…

… Isto quer dizer que a letra e a obrigação que a letra incorpora são exactamente aqueles que o teor do documento mostrar.

ABSTRACÇÃO: A letra de câmbio é emitida por uma determinada causa, por exemplo, para هpagar o preço de uma mercadoria, a reparação de uma casa, de um automóvel… .A letra, por isso, é justificada por um negócio jurídico que esteve na sua base ه …No entanto ه

… O PRINCÍPIO DA ABSTRACÇÃO significa que assim que a letra for criada, ela separa-se da causa que lhe deu origem, abstraindo-se dessa causa, desse negócio.

…Por isso ه… E em princípio, qualquer problema ou excepção que decorra dessa relação

subjacente não contamina a obrigação titulada pela letra.

LETRA DE FAVOR:

NESTA LETRA, AQUELE QUE SE OBRIGA NÃO PRETENDE DESEMBOLSAR O VALOR TITULADO PELA LETRA, POIS A LETRA NÃO

FOI EMITIDA POR CAUSA DE UM QUALQUER NEGÓCIO JURÍDICO.

AQUELE QUE SE ASSUMIU COMO OBRIGADO CAMBIÁRIO NADA DEVE, APENAS EMITIU A LETRA PARA FAZER UM FAVOR.

NO ENTANTO…

AINDA ASSIM E PORQUE A LETRA É UM TÍTULO ABSTRACTO, QUEM EMITE A LETRA (FAVORECENTE) NÃO PODE OPOR A EXCEPÇÃO DO

FAVOR AO PORTADOR DA LETRA QUANDO ESTE LHE VIER EXIGIR O PAGAMENTO. SÓ O PODE FAZER QUANDO O PORTADOR DA

LETRA FOR PRECISAMENTE AQUELE A QUEM FOI FEITO O FAVOR.

INCORPORAÇÃO: O direito cambiário está incorporado, compenetrado, integrado na letra, daí هque a transferência ou o exercício do direito estejam dependentes da posse da letra.

INDEPENDÊNCIA RECÍPROCA: A nulidade de uma das obrigações que a letra incorpora não se comunica às هdemais obrigações…

… Isto quer dizer que, se uma das declarações cambiárias não for válida permanecem válidas todas as restantes declarações cambiárias que estiverem

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escritas na letra e, portanto, permanecem cambiariamente obrigados aqueles que tiverem emitido as declarações válidas.

:Limites ao Princípio – Excepções ه

1.ª A VALIDADE FORMAL DA DECLARAÇÃO DO SACADOR É PRESSUPOSTO DA VALIDADE DE TODA E QUALQUER OUTRA DECLARAÇÃO CAMBIÁRIA, OU SEJA…

… SE NÃO FOR VÁLIDA A DECLARAÇÃO DO SACADOR NÃO HÁ SAQUE E, POR ISSO, NÃO É CRIADA A LETRA.

2.ª A NULIDADE POR VÍCIO DE FORMA DA OBRIGAÇÃO DO AVALIZADO COMUNICA-SE À OBRIGAÇÃO DO RESPECTIVO AVALISTA.

O AVAL É UM NEGÓCIO JURÍDICO ATRAVÉS DO QUAL ALGUÉM GARANTE O PAGAMENTO DA LETRA POR PARTE DE UM DOS OBRIGADOS CAMBIÁRIOS.

COMO JÁ SE DISSE, A OBRIGAÇÃO DO AVALISTA MEDE-SE PELA OBRIGAÇÃO DO AVALIZADO, DAÍ QUE SEJA NATURAL QUE, SE A OBRIGAÇÃO DO AVALIZADO CAIR, CAIA TAMBÉM A OBRIGAÇÃO DO AVALISTA.

AUTONOMIA: As excepções decorrentes de convenções extra-cartulares que são oponíveis هao portador imediato, são oponíveis ao portador mediato.

O portador mediato tem um direito cartular autónomo. A autonomia já decorre da literalidade e da abstracção. Todos

os 3 princípios exprimem a mesma realidade, ou seja… … O direito é independente do que não constar do título. No entanto… … Essa mesma realidade é agora vista no princípio da

autonomia, na perspectiva do portador do título.

Portador imediato é aquele portador que interveio no acordo, na convenção extra-cartular que se pretende invocar para justificar o não pagamento da letra.

No âmbito das relações imediatas tudo se passa como se a relação jurídica cambiária não fosse literal, abstracta e autónoma. O que vale é o acordo que as pessoas fizeram.

Nestas relações imediatas, o portador da letra fica sujeito a todas as excepções que se fundamentarem nas relações pessoais com o outro interveniente, obrigado cambiário.

A OBRIGAÇÃO CAMBIÁRIA NAS RELAÇÕES IMEDIATAS E NAS هRELAÇÕES MEDIATAS: (Art. 17.º, LULL)

A regra é que nas relações mediatas as excepções extra-cartulares são

inoponíveis, enquanto que nas relações imediatas as excepções são oponíveis, uma vez que tudo se passa como se a relação não fosse literal, abstracta e autónoma.

No entanto… ... Mesmo nas relações mediatas do portador da letra, podem ser opostas as

relações extra-cartulares se o portador mediato, ao adquirir a letra, sabe da existência e da legitimidade das excepções que o devedor podia opor ao seu endossante.

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Neste caso, o portador da letra, não obstante ser mediato (e por isso não ter participado nesta convenção extra-cartular) sabia que existiam motivos atendíveis para que a letra não fosse paga.

Daí que não existam justificações para proteger esse portador e acabar, no fundo, por prejudicar o devedor.

A regra que existe tem como fundamento, intenção proteger os terceiros de

boa-fé, mas não aqueles que sabem e ainda assim aceitam a letra como forma de pagamento.

CAPÍTULO III: Principais Obrigações Legais da Empresa

1. OBRIGAÇÕES FISCAIS OBRIGAÇÕES DIRECTAS:

IRC – Imposto sobre o Rendimento de pessoas Colectivas - Este imposto incide sobre rendimentos obtidos no período de tributação e que constam da contabilidade da empresa. - A matéria colectável, no essencial, é igual ao lucro tributável menos os prejuízos e os benefícios fiscais. - A determinação do montante exacto do imposto a pagar é feita pelo próprio contribuinte ou pela Direcção Geral de Contribuições e Impostos (se o contribuinte não o fizer).

IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis - É um novo imposto que vem substituir a contribuição autárquica. - Este imposto vai incidir sobre o valor dos imóveis de que eventualmente a empresa seja proprietária.

IMT – Imposto Municipal sobre a Transmissão de imóveis - Este imposto vem substituir a SISA quando compramos ou vendemos algum imóvel. - O IMT pode pagar-se também para cessão de quotas.

OBRIGAÇÕES DIRECTAS:

IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado - É um imposto indirecto sobre o consumo (porque é incorporado nos bens que consumimos) e plurifásico (nas várias fases da produção e da comercialização nos bens. - O IVA em várias taxas conforme o tipo de bem de consumo em questão. - A conta do IVA é feita pelo próprio contribuinte.

2. OBRIGAÇÕES DE SEGURANÇA SOCIAL - Seg. Social:

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;1ª vez (Inscrição) ء .após… (Alteração de vínculo) ء

As obrigações das empresas em relação à Seg. Social são: 1.ª Inscrever os sócios e os trabalhadores; 2.ª Pagar à Seg. Social uma taxa de 35,5% sobre o vencimento do trabalhador:

I: 23,75% são suportados pela entidade patronal; II: 0,5% são para um fundo para protecção do risco de doenças profissionais; III: O restante (11,25%) é suportado pelo próprio trabalhador.

- FORMA E PRAZO DE PAGAMENTO DESTAS CONTRIBUIÇÕES: - A parte respeitante ao trabalhador é retida na fonte. - A empresa faz o envio mensal à Seg. Social das folhas de remuneração pagas no mês anterior….

… Depois as contribuições são pagas até ao dia 15 do mês seguinte. - A falta de cumprimento destas obrigações…

Se for falta de entrega das folhas de remuneração, implica o pagamento de ءuma coima; Mas, se forem entregues as folhas de remuneração mas não for paga a ءcontribuição, a empresa tem que pagar juros e, eventualmente, pode haver aqui crime de abuso de confiança em relação às contribuições retidas e não entregues.

- HÁ SITUAÇÕES DE ISENÇÃO E REDUÇÃO DA SEG. SOCIAL… - 1.º emprego; - Desempregados de longa duração.

3. OUTRAS OBRIGAÇÕES - CONTRATO DE SEGURO: São contratos celebrados entre uma empresa e uma seguradora, através dos quais a empresa transfere para a seguradora o risco de ocorrência de um determinado sinistro e, consequentemente, passa a ser a ser a seguradora (e não a empresa) quem tem o dever de indemnizar nos termos contratuais, caso se verifique esse sinistro. - A empresa tem contratos de seguro:

:Obrigatórios por lei ء Seg. acidente de trabalho; Seg. automóvel.

:Facultativos ء

Seg. incêndio; Seg. acidentes pessoais; Seg. responsabilidade civil de trabalho; Seg. crédito.