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Manual de coleta e identificação de cupins Reginaldo Constantino Universidade de Brasília, Departamento de Zoologia, Laboratório de Termitologia © 2012 R. Constantino 1. Introdução Este manual foi preparado para uso no Laboratório de Termitologia da UnB e descreve os procedimentos roti- neiros de coleta, organização de coleções e identificação de cupins. Esta versão foi preparada especificamente para pessoas que pretendem enviar amostras para identificação. A coleta de amostras de cupins para identificação é feita com muitos objetivos diferentes e por pessoas com for- mações diversas, incluindo projetos de Ecologia, controle de pragas urbanas ou agrícolas, estudos de Biologia, Com- portamento, Genética, etc. Independente do interesse, os procedimentos de coleta são os mesmos. A falta de atenção ao protocolo de coleta resulta em desperdício de tempo e recursos e frequentemente inviabiliza a identificação. An- tes de iniciar um projeto envolvendo a coleta de cupins para identificação é preciso incluir no planejamento e no orçamento os materiais e o trabalho necessários. São apresentados aqui os protocolos de coleta e preser- vação de amostras de cupins para estudo taxonômico, que devem ser seguidos por quem pretende enviar amostras ao Laboratório de Termitologia da UnB. Os direitos autorais relativos a este documento estão protegidos pela legislação vigente. É proibida a reprodu- ção total ou parcial do texto ou figuras, mesmo citando a fonte. A versão atualizada estará disponível apenas no site http://termitologia.unb.br. 2. Equipamentos e materiais Os equipamentos e materiais listados abaixo são em geral necessários para a coleta, triagem e identificação de cupins. Alguns são opcionais ou podem ser substituídos por outros, dependendo da situação. 2.1. Ferramentas para abrir ninhos e madeira Cupins podem ser encontrados em madeira, em ninhos ou no solo. Raramente eles são encontrados forrageando na superfície. Portanto é necessário usar ferramentas para abrir a madeira e cavar ninhos e solo, como picaretas, machados, martelos de pedreiro ou picolas, pás de jardi- nagem, sachos etc. (Fig. 1). Essas ferramentas podem ser encontradas em lojas de ferragens e material construção. 2.2. Bandejas plásticas Bandejas plásticas brancas (Fig. 1A) são muito úteis para triar solo e pedaços de ninhos. Elas podem ser encon- tradas em supermercados e lojas de material para cozinha. 2.3. Pinças Dois tipos de pinças são usados normalmente para coleta de cupins: pinças entomológicas leves e pinças de relojoeiro (Fig. 1D). As pinças leves são melhores para coletar e manipular os espécimes, mas são mais difíceis de encontrar. Podem ser adquiridas em lojas especializadas em material entomológico. As pinças de relojoeiro de ponta fina podem ser encontradas em relojoarias e em lojas de material de laboratório. 2.4. Álcool O álcool comercial vendido normalmente no Brasil tem concentração 92,8° INPM (porcentagem de peso), o que corresponde a 96° GL (porcentagem de volume). Para fixação de cupins é necessário diluir esse álcool para 80% (por volume). Para a diluição é melhor usar um alcoô- metro Gay-Lussac, que é um densímetro graduado com a escala de concentração do álcool (Fig. 4B). Na ausência de um alcoômetro, a diluição deve ser feita por volume, acrescentando 200 mL de água para cada litro de álcool 96° GL. No entanto, a concentração do álcool comercial pode apresentar variação e por isso a diluição com auxílio de alcoômetro é mais segura. Álcool 80% para uso rotineiro e enchimento de frascos deve ser mantido em pissetas (Fig. 4C). 2.5. Frascos Vários tipos de frascos podem ser usados para pre- servar amostras cupins. As características importantes são as seguintes: a) volume entre 5–10 ml; b) tampa com boa vedação; c) fundo reto; d) boca larga o suficiente 1

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Manual de coleta e identificação de cupinsReginaldo Constantino

Universidade de Brasília, Departamento de Zoologia, Laboratório de Termitologia

© 2012 R. Constantino

1. Introdução

Este manual foi preparado para uso no Laboratóriode Termitologia da UnB e descreve os procedimentos roti-neiros de coleta, organização de coleções e identificaçãode cupins. Esta versão foi preparada especificamente parapessoas que pretendem enviar amostras para identificação.

A coleta de amostras de cupins para identificação éfeita com muitos objetivos diferentes e por pessoas com for-mações diversas, incluindo projetos de Ecologia, controlede pragas urbanas ou agrícolas, estudos de Biologia, Com-portamento, Genética, etc. Independente do interesse, osprocedimentos de coleta são os mesmos. A falta de atençãoao protocolo de coleta resulta em desperdício de tempo erecursos e frequentemente inviabiliza a identificação. An-tes de iniciar um projeto envolvendo a coleta de cupinspara identificação é preciso incluir no planejamento e noorçamento os materiais e o trabalho necessários.

São apresentados aqui os protocolos de coleta e preser-vação de amostras de cupins para estudo taxonômico, quedevem ser seguidos por quem pretende enviar amostras aoLaboratório de Termitologia da UnB.

Os direitos autorais relativos a este documento estãoprotegidos pela legislação vigente. É proibida a reprodu-ção total ou parcial do texto ou figuras, mesmo citando afonte. A versão atualizada estará disponível apenas no sitehttp://termitologia.unb.br.

2. Equipamentos e materiais

Os equipamentos e materiais listados abaixo são emgeral necessários para a coleta, triagem e identificação decupins. Alguns são opcionais ou podem ser substituídospor outros, dependendo da situação.

2.1. Ferramentas para abrir ninhos e madeira

Cupins podem ser encontrados em madeira, em ninhosou no solo. Raramente eles são encontrados forrageandona superfície. Portanto é necessário usar ferramentas paraabrir a madeira e cavar ninhos e solo, como picaretas,machados, martelos de pedreiro ou picolas, pás de jardi-

nagem, sachos etc. (Fig. 1). Essas ferramentas podem serencontradas em lojas de ferragens e material construção.

2.2. Bandejas plásticas

Bandejas plásticas brancas (Fig. 1A) são muito úteispara triar solo e pedaços de ninhos. Elas podem ser encon-tradas em supermercados e lojas de material para cozinha.

2.3. Pinças

Dois tipos de pinças são usados normalmente paracoleta de cupins: pinças entomológicas leves e pinças derelojoeiro (Fig. 1D). As pinças leves são melhores paracoletar e manipular os espécimes, mas são mais difíceis deencontrar. Podem ser adquiridas em lojas especializadasem material entomológico. As pinças de relojoeiro de pontafina podem ser encontradas em relojoarias e em lojas dematerial de laboratório.

2.4. Álcool

O álcool comercial vendido normalmente no Brasiltem concentração 92,8° INPM (porcentagem de peso), oque corresponde a 96° GL (porcentagem de volume). Parafixação de cupins é necessário diluir esse álcool para 80%(por volume). Para a diluição é melhor usar um alcoô-metro Gay-Lussac, que é um densímetro graduado com aescala de concentração do álcool (Fig. 4B). Na ausênciade um alcoômetro, a diluição deve ser feita por volume,acrescentando 200 mL de água para cada litro de álcool96° GL. No entanto, a concentração do álcool comercialpode apresentar variação e por isso a diluição com auxíliode alcoômetro é mais segura.

Álcool 80% para uso rotineiro e enchimento de frascosdeve ser mantido em pissetas (Fig. 4C).

2.5. Frascos

Vários tipos de frascos podem ser usados para pre-servar amostras cupins. As características importantes sãoas seguintes: a) volume entre 5–10 ml; b) tampa comboa vedação; c) fundo reto; d) boca larga o suficiente

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Figura 1: Ferramentas de coleta: A, bandeja plástica e pá de jardinagem; B, sacho; C, picola e martelo de pedreiro; D,caneta nanquim descartável, pinça entomológica leve e pinça de ponta fina (relojoeiro).

para permitir a introdução de pinça; e) vidro transparente.Exemplos de frascos adequados são apresentados na Fig. 2.Amostras enviadas para o Laboratório de Termitologia daUnB devem ser obrigatoriamente de um desses tipos. Essesfrascos podem ser adquiridos em lojas de embalagens ouem lojas de material para laboratório.

Frascos maiores podem ser necessários em casos es-peciais, mas não devem ser usados rotineiramente porqueocupam um espaço muito grande na coleção.

Alguns tipos de frasco podem ser usados para coleta,mas não são adequados para coleção: frascos âmbar, crio-tubos, frascos de amostra de sangue etc. Caso eles sejamusados, devem ser posteriormente substituídos por um fras-cos de vidro transparente conforme a especificação acima.

Várias tipos de frascos são totalmente inadequados enão devem ser usados nunca: frascos tipo Eppendorf; vi-dros tipo penicilina; frascos plásticos ou de acrílico comtampa de pressão, etc. Esses frascos não tem vedação ade-quada e seu uso implica em risco de perda de amostras notransporte e armazenamento.

Para armazenamento de longo prazo, os frascos pe-quenos devem ser mantidos em potes maiores cheios deálcool (Fig. 3B), o que previne a secagem das amostrasdevido à evaporação. Potes plásticos do tipo usado para

mel, com capacidade em torno de 700 mL são adequadose podem ser encontrados em lojas de embalagens ou emlojas de material para apicultura.

2.6. Etiquetas e anotações

Todas as anotações e etiquetas devem se feitas comtinta resistente ao álcool. As canetas nanquim descartáveis(Fig. 1D) são a melhor opção porque sua tinta é perma-nente e bem legível. Caneta esferográfica comum não deveser usada porque a tinta não resiste à umidade e ao álcool.O uso de lápis não é recomendado porque as anotaçõesficam pouco legíveis, especialmente nas etiquetas, e o lápispode ser apagado.

As anotações de coleta devem ser mantidas em cader-nos de campo individuais. As etiquetas podem ser feitasmanualmente, com caneta nanquim, ou impressas a laser.O método tradicional é usar papel vegetal e caneta nan-quim. Ver mais informações sobre etiquetas nas instruçõesde coleta abaixo.

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Figura 2: Frascos: A, frasco tubular de 10 ml com tampa de rosca e batoque; B, frasco tubular reto (shell vial ) de 10 mlcom tampa de pressão; C, frasco largo de 10 ml com tampa de rosca e batoque.

2.7. Estereomicroscópio

Um estereomicroscópio (lupa estereoscópica) é es-sencial para a triagem e estudo dos cupins. A capacidadede aumento deve ser de no mínimo 40×. O iluminadordeve ser de boa qualidade, preferencialmente de fibra ótica.Iluminação transmitida (base opcional com iluminaçãopor baixo) é muito útil para o exame da pilosidade, maspode ser substituída por um pequeno espelho embaixo daplaca de Petri. Um retículo micrométrico é necessário paramedições. O retículo é um acessório opcional que consistede um círculo de vidro com uma escala graduada que émontado na ocular da lupa.

3. Licença de Coleta

Para coletar insetos para fins científicos no Brasil énecessário obter licença de coleta através do Sisbio/ICMBio(http://www.icmbio.gov.br/sisbio). A obtenção da licençaé de inteira responsabilidade do coletor. Ao solicitar a li-cença é necessário informar o destino final do material.Caso haja interesse em depositar amostras na coleção daUnB é necessário entrar em contato e obter concordânciado curador antes de solicitar a licença de coleta.

4. Técnicas de Coleta

Os cupins são encontrados em ninhos, no solo ou emmadeira. Os ninhos podem ser epígeos (montículos oumurundus), arborícolas ou subterrâneos. Os ninhos devemser abertos com cuidado e os cupins coletados com pinçaleve. Pedaços de ninhos podem ser colocados em bandejasplásticas para facilitar a triagem

4.1. Conteúdo de cada amostra

Uma boa amostra contém 10 ou mais indivíduos decada casta presente: soldados, operários e reprodutores.Para o caso de envio de duplicatas para identificação, o nú-mero de espécimes coletados deve ser maior. Cada amostraé representativa de uma colônia. Indivíduos de colôniasdiferentes não devem ser misturados num mesmo frasco. Éimportante coletar soldados porque é a casta mais impor-tante para a taxonomia.

A regra geral é procurar soldados (sem esquecer dasoutras castas), levando em consideração que a proporçãode soldados pode ser muito baixa em algumas espécies.Alguns cupins possuem mais de um tipo de soldado, sendoimportante coletar todos os tipos. Por exemplo, a identifi-cação das espécies de Rhinotermes e Dolichorhinotermes

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Figura 3: Coleção de cupins. A, amostra limpa e etiquetada; B, pote plástico com amostras; C, etiqueta com dados decoleta; D, etiquetas de campo.

depende do exame dos soldados maiores, que ocorrem emproporção bem mais baixa que os soldados menores.

Todas as espécies apresentam variação morfológicae muitas vezes é preciso dissecar alguns exemplares paraidentificação. Por isso as amostras devem conter um bomnúmero de indivíduos.

4.2. Cupins sem soldados

Os cupins da subfamília Apicotermitinae que ocorremna região Neotropical não possuem soldados. Eles são bas-tante comuns no solo e são coletados com frequência. Nãoexiste nenhuma maneira segura para reconhecer os operá-rios de cupins sem soldados no campo. O problema nessecaso é gastar tempo procurando soldados de espécies quenão possuem essa casta ou então coletar apenas operá-rios de espécies que possuem soldados e assumir que sãoApicotermitinae.

A maioria dos Apicotermitinae vive no solo, os operá-rios são sempre monomórficos (todos iguais) e o abdomeé geralmente cinza fosco. A tíbia anterior é geralmentedilatada, o que pode ser observado com lupas de bolso.Algumas poucas espécies constroem ninhos epígeos ou ar-borícolas; operários de algumas espécies de Ruptitermesapresentam coloração escura.

4.3. Preservação

Cupins são insetos frágeis de corpo mole que devemser sempre preservados em álcool 80%. Concentraçõesmaiores de álcool desidratam os espécimes e concentra-ções menores não garantem a preservação adequada em

longo prazo. Cupins preservados em álcool 95% ficam se-cos e perdem pelos, pernas e antenas, o que inviabiliza aidentificação com base na morfologia. Os cupins devem serfixados vivos diretamente no álcool.

O álcool deve ser trocado aproximadamente um diaapós a coleta. Durante essa troca, a amostra deve sofrerlimpeza, eliminando solo, fragmentos de ninhos e madeira.Essa sujeira prejudica a preservação dos espécimes.

4.4. Etiquetagem

No momento da coleta cada amostra recebe uma eti-queta numerada de campo. Essas etiquetas devem ter umanumeração única, sem repetição e devem ser simples elegíveis. Uma forma tradicional na Zoologia é a seguinte:[iniciais do coletor][ano]-[número] (Fig. 3D). Exemplo:RC10-001. Anotações em cadernos de campo devem usaresses números como referência. Essas etiquetas podemser preparadas com antecedência e inseridas nos frascosdurante a coleta. Essa numeração ficará associada perma-nentemente a cada amostra.

Além da etiqueta de campo, cada amostra recebe umaetiqueta com os dados de coleta: local, data e coletor (Fig.3C). O local deve ser indicado seguindo a hierarquia geo-gráfica: país, estado (UF), município, localidade. As coor-denadas do local de coleta (latitude e longitude) devem serincluídas caso estejam disponíveis. A data deve ser apre-sentada na forma dia-mês-ano, com o mês em romanos. Onome do coletor deve ser abreviado, mantendo apenas osobrenome por extenso. Outras informações importantesque devem ser informadas caso disponíveis: tipo de hábitat

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Figura 4: A, estereomicroscópio (lupa); B, proveta de 1 L com alcoômetro; C, pisseta com álcool 80%; D, placa de Petri comareia lavada.

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ou vegetação (floresta, cerrado, pastagem etc) e tipo de ni-nho (epígeo, arborícola). Essas informações podem ajudarna identificação.

As etiquetas pode ser impressas em impressora laser.Para garantir a durabilidade das etiquetas, as folhas im-pressas devem ser aquecidas com ferro de passar roupapara fixar o toner. Para isso elas são colocadas sobre papeltoalha e aquecidas no verso (não no lado impresso).

O número de etiquetas em cada frasco deve ser o mí-nimo possível, de preferência apenas uma. As etiquetasdevem ser inseridas com cuidado dentro de cada frasco, demodo que fiquem legíveis por fora. Para isso elas devemficar com o texto virado para fora e acomodadas junto àface interna do vidro, sem dobrar ou enrolar (Fig. 3A). Issofacilita muito a organização e manuseio das amostras.

4.5. Amostras com várias espécies misturadas

Um problema comum durante a coleta de cupins é apresença de várias espécies num mesmo cupinzeiro ou emuma mesma peça de madeira ou ainda em uma amostra desolo. Cupinzeiros grandes e velhos de Cornitermes chegama conter 15 ou mais espécies diferentes. Devido a isso, éfrequente a presença de indivíduos de espécies diferentesnum mesmo frasco, especialmente de operários.

A separação desses indivíduos pode ser muito difícile trabalhosa, especialmente dos operários. Por isso é im-portante tomar cuidado durante a coleta e tentar obteramostras puras. Em todo caso é importante preservar a in-formação de quais amostras foram coletadas num mesmoninho. Isso pode ser feito através da numeração nas eti-quetas de campo. Exemplo: em um ninho de Cornitermescumulans foram coletados amostras de cupins de 5 espé-cies. As etiquetas de campo seriam as seguintes, respecti-vamente: RC10-005, RC10-005a, RC10-005b, RC10-005c,RC10-005d. Essa numeração preserva a informação daassociação entre as amostras de uma forma simples.

5. Identificação

A identificação de cupins pode ser uma tarefa com-plexa e demorada dependendo do tipo de material. Oprimeiro passo é identificar os gêneros, o que pode serfeito usando uma das duas chaves disponíveis (Constantino,1999, 2002).

Os cupins devem ser examinados em placa de Petricontendo álcool 80%. Uma camada de areia limpa no fundoda placa facilita o posicionamento dos espécimes e é es-sencial para medições. O exame em placa de Petri semareia permite melhor visualização da pilosidade, especial-mente usando iluminação transmitida. Os cupins devemser mantidos cobertos com álcool durante todo o tempo e

recolocados no frasco após a identificação. Os espécimesdevem ser manipulados com pinças leves, evitando danosdesnecessários.

Após a separação dos gêneros, o trabalho de iden-tificação deve prosseguir trabalhando separadamente ecuidadosamente cada gênero. No caso de gêneros com re-visão taxonômica recente, o trabalho é mais fácil (ver listaabaixo).

A identificação por meio de chaves e comparação coma literatura é sujeita a erros, especialmente por pessoasinexperientes. A identificação deve ser conferida por com-paração com uma coleção de referência ou auxílio de umapessoa mais experiente.

5.1. Lista de chaves de identificação e revisões taxonô-micas por gênero

1. Angularitermes: Carrijo et al. (2011)

2. Cornitermes: Emerson (1952) e Cancello (1989)

3. Cryptotermes: Bacchus (1987)

4. Curvitermes: Carvalho & Constantino (2011)

5. Cylindrotermes: Rocha & Cancello (2007)

6. Cyrilliotermes: Constantino & Carvalho (2012)

7. Heterotermes: Constantino (2000)

8. Labiotermes: Constantino et al. (2006) Programade Pós-Graduação em Zoologia UnB

9. Neocapritermes: Krishna & Araujo (1968) e Cons-tantino (1991)

10. Orthognathotermes: Rocha & Cancello (2009)

11. Procornitermes: Emerson (1952) e Cancello(1986)

12. Syntermes: Constantino (1995)

Para os gêneros restantes existe uma literatura frag-mentada. Para alguns existem revisões parciais ou antigas,que podem ser usadas mas precisam ser complementadascom trabalhos mais recentes. Consulte o catálogo (Cons-tantino, 1998) ou o banco de dados online Constantino(2011) para obter uma lista da bibliografia existente.

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5.2. Apicotermitinae

Os Apicotermitinae neotropicais não possuem solda-dos, o que dificulta muito a identificação porque os operá-rios apresentam pouca variação na morfologia externa. Ataxonomia desse grupo ainda foi muito pouco estudada, demodo que a identificação é praticamente impossível combase na literatura existente. A solução é identificar ape-nas o gêneros e separar as morfoespécies, o que já é umtrabalho bastante difícil devido à ausência de soldados. Aseparação deve ser muito cuidadosa, observando os seguin-tes detalhes: tamanho da cabeça, formato do pós-clípeo,formato da tíbia anterior, formato da coxa anterior, tubodigestivo (ver por transparência). O exame da válvula en-térica é bastante útil na identificação de Apicotermitinae(ver instruções de dissecção e montagem em Constantino,1999).

5.3. Nasutitermes

Nasutitermes é o maior gênero de cupins, com maisde 70 espécies neotropicais. A identificação é difícil devidoà grande diversidade e pouca variação morfológica nossoldados. A revisão de Holmgren (1910) está ultrapassadae é pouco útil. A identificação das espécies depende deexperiência e comparação com coleções de referência. Épraticamente impossível identificar espécies de Nasutiter-mes com base apenas na literatura.

6. Envio de amostras para identificação

Amostras de cupins podem ser enviadas pelo correio,desde que devidamente embaladas. Nesse caso é essencialusar frascos de boa qualidade com boa vedação. Comoprecaução extra, os frascos devem ser embalados em sacosplásticos lacrados ou bem amarrados. A caixa deve ser pre-enchida com material leve como flocos de isopor. Frascossoltos dentro da caixa têm grande chance de quebrar e ovazamento do álcool pode estragar a caixa.

As instruções para enviar amostras para o Laboratóriode Termitologia da UnB estão listadas abaixo.

1. É obrigatório entrar em contato com antecedênciae obter a concordância, preferencialmente antes doinício das coletas;

2. As amostras devem estar limpas, em álcool 80% econtendo apenas cupins;

3. As amostras devem conter um bom número de in-divíduos de todas as castas presentes no ninho nomomento da coleta;

4. Os frascos devem ser de vidro transparente, de umdos tipos adequados para a coleção permanente(ver item 2.5 acima);

5. Cada amostra deve estar devidamente etiquetada,com etiquetas bem legíveis (ver itens 2.6 e 4.4);

6. Cada amostra enviada deve ser uma duplicata nume-rada; o interessado deve manter a amostra originalcorrespondente com o mesmo número;

7. As amostras recebidas serão depositadas na coleçãoda UnB e não serão devolvidas;

8. Enviar uma planilha devidamente preenchida com alista das amostras em forma impressa e em formaeletrônica, conforme modelo disponível no sitehttp://termitologia.unb.br;

Amostras enviadas em desacordo com as instruçõesacima, especialmente os itens 1–5, não serão examinadas.

O material recebido para identificação e incorporadoao acervo da coleção ficará disponível para estudos ta-xonômicos. Como de praxe, os coletores não têm direito acoautoria de trabalhos taxonômicos derivados do estudodessas amostras. Créditos aos coletores aparecem apenasna lista de material examinado.

6.1. Custo do serviço de identificação

A identificação tem sido feita gratuitamente para a co-munidade acadêmica, mas é provável que em breve esseserviço passe a ser pago. O pagamento será feito à Universi-dade de Brasília, como uma prestação de serviços.

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30 de julho de 2012