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SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BAIÃO ENTIDADE FORMADORA: PROFIFORMA 2009 UFCD: Comunidade – Partilha e Pertença (25 horas) Área de formação: Trabalho Social e Orientação Saída profissional: Animador/a Sociocultural Nível Secundário Formadora: Marlene Moreira

Manual de Comunidade

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Page 1: Manual de Comunidade

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BAIÃO

ENTIDADE FORMADORA: PROFIFORMA

2009

UFCD: Comunidade – Partilha e Pertença (25 horas)

Área de formação: Trabalho Social e Orientação

Saída profissional: Animador/a Sociocultural Nível Secundário

Formadora: Marlene Moreira

Baião, Junho e Julho de 2009

Page 2: Manual de Comunidade

Índice

Índice.............................................................................................................................................. 2

Conteúdos.......................................................................................................................................4

Objectivos....................................................................................................................................... 5

Conceitos........................................................................................................................................ 6

Comunidade............................................................................................................................... 6

Comunidade e sociedade...........................................................................................................7

Nova concepção.........................................................................................................................9

Evolução das sociedades............................................................................................................. 10

Textos:...................................................................................................................................... 11

A Família....................................................................................................................................... 22

Socialização..............................................................................................................................22

Agentes de socialização...........................................................................................................23

Conceito................................................................................................................................... 25

Família e cultura....................................................................................................................... 25

A família na história.................................................................................................................. 26

Transformações sociais na família...........................................................................................33

A família como principal agente de socialização da criança.....................................................34

A escola........................................................................................................................................ 35

Conceito................................................................................................................................... 35

Agentes educacionais...............................................................................................................35

Da escola de elite à massificação do ensino............................................................................36

Trabalho industrial e pós-industrial...............................................................................................38

A revolução industrial............................................................................................................... 38

Pós-industrialização..................................................................................................................39

Bibliografia consultada..................................................................................................................40

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Conteúdos

1. Conceito de comunidade e sua evolução

2. Transformações sociais e suas implicações práticas na vida social

na família (conceito, organização e estrutura)

na escola (da escola de elite à massificação do ensino)

no trabalho (industrial e pós-industrial)

3. As diversas dimensões da participação em sociedade neste quadro de mudança

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Objectivos

Identificar as diversas dimensões da participação na vida em sociedade que

acompanharam as mudanças sociais, por referência às alterações operadas na vida em

sociedade, nomeadamente, ao nível da família da escola e do trabalho.

Reconhecer o papel de pertença e partilha na construção da comunidade.

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Conceitos

Comunidade

O termo "comunidade" tem numerosos sentidos em linguagem corrente. É frequentemente

utilizado pelos sociólogos para caracterizar uma forma fundamental de agrupamento primário.

Pode ser entendida como um conjunto de seres vivos inter-relacionados que habita num mesmo

lugar. Pode ser utilizado para designar um grupo, um bairro, uma cidade, uma vizinhança.

Na formação da Sociologia como ciência, no século XIX, o termo

"comunidade" constituiu um dos conceitos chave para a compreensão e a

explicação da sociedade tradicional e da sua transição para a sociedade

moderna.

Para Gurvitch, a comunidade é uma forma de sociabilidade baseada

numa certa "consciência do nós". Para Max Weber, o sentimento do "nós"

era a característica essencial da comunidade.

A comunidade pressupõe a existência de aspectos importantes da vida quotidiana que sejam

comuns (actividade ou interesses comuns), que os membros adiram a elas mais ou menos

explicitamente e que aceitem as obrigações e deveres respectivos.

Rappaport (1977), entende comunidade como um grupo social que partilha características e

interesses comuns e é percepcionado ou se percepciona como distinto em alguns aspectos da

sociedade em geral em que está inserida.

O sentimento de pertença a um clube, a alguém, a uma terra ou a uma determinada coisa é

uma necessidade intrínseca de qualquer pessoa. Precisamos de pertencer a alguma coisa, de

fazer parte de…

Em articulação com o conceito de comunidade há autores apresentam a noção territorial ou

geográfica: cidade, região, pais, bairro, prédio, vizinhança.

O sentimento de comunidade implica um sentimento de pertença com uma área particular, ou

com uma estrutura social dentro dessa área.

Há alguns pontos coincidentes em todas as definições:

I. Partilha de um espaço físico;

II. Relações e laços comuns, sentimento de pertença;

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III. Interacção social.

Na comunidade pressupõe-se o bem comum, a tolerância, a proximidade, a interacção, o apelo

aos valores não materiais e o contacto contínuo e directo entre as pessoas, entre o lugar (físico

ou virtual) e as coisas.

Comunidade e sociedade

Sociedade: é uma estrutura formada pelos grupos principais ligados entre si considerados como

uma unidade e participando todos de uma cultura comum. Não é cientificamente correcto definir

sociedade como a população total do mundo, como a sociedade humana porque a humanidade

no seu conjunto não está constituída assim, e falar do género humano, como de uma sociedade

mundial é dar ao termo técnico “sociedade” uma extensão sem sentido.

O indivíduo enquanto ser social pode não pertencer a uma comunidade, mas pertence sempre a

uma sociedade. O indivíduo pode pertencer a mais que uma comunidade (que pode ser

subconjunto de outra). A comunidade existe no interior da sociedade.

O primeiro autor a fazer a distinção entre comunidade e sociedade (gemeinschaft e

gesellschaft respectivamente) foi Ferdinand Tonnies, em 1887.

Para o autor na comunidade os indivíduos agem sob influência de uma vontade natural que

orienta as suas acções pelos costumes e tradições, participam numa vida comum, em que a

união se mantém apesar de certos factores desagregadores. Outro elemento importante para a

definição da comunidade é a proximidade geográfica, as relações de vizinhança, mas não é

estanque para se proceder à definição.

Por outro lado, na sociedade a conduta é orientada pela vontade racional, o que leva os

indivíduos a tentar alcançar lucros e outras vantagens.

O mesmo autor afirma ainda a forte importância das relações de vizinhança, parentesco e

amizade, na definição do que é a comunidade.

Cerca de 20 anos depois Max Weber introduz os conceitos de "relações comunitárias" e

"relações associativas". O primeiro tipo de relações existe quando a acção social assenta e se

inspira no sentimento subjectivo (afectivo ou tradicional), não nas características étnicas. Na

relação associativa, existente na sociedade, a acção inspira-se numa compensação de

interesses por motivos racionais, união de interesses com igual motivação.

Os autores defendem que características raciais semelhantes, como por exemplo uma língua

comum, não representam, por si só, a comunidade, precisam da subjectividade dos indivíduos.

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Estes elementos (a língua, as características raciais) apenas ajudam na coesão interna, se forem

tomados como referência para mostrar a distância face a outros grupos. O que estabelece os

vínculos entre os indivíduos são os sentimentos subjectivos de pertença a uma comunidade.

Os termos interacção e partilha são também importantes para a definição de comunidade pois

há certos sinais que são partilhados no interior da comunidade, como por exemplo, vestuários,

símbolos ou comportamentos peculiares.

No entanto, o sociólogo Robert Park, entendeu que as barreiras geográficas e as distâncias

físicas só eram significativas quando e onde se definissem as relações de comunicação na vida

social. Para ele é através da comunicação que os indivíduos partilham uma mesma experiência

e mantêm uma vida em comum e desenvolvem vínculos. Para além disto, nos dias que correm

hoje, a distância física é ultrapassada pelos meios de transporte e comunicação.

A comunidade pode ser entendida como a organização de indivíduos que compartilham um

sentimento subjectivo de pertença a partir de uma história comum e de destinos que poderão ser

compartilhados. Assim, a nossa identidade constrói-se na nossa comunidade.

Para Max Weber nas sociedades, principalmente modernas, existem relações orgânicas, nas

comunidades ou sociedades tradicionais as relações são mecânicas.

Há 2 critérios que nos ajudam a distinguir comunidade de sociedade: o sentimento de pertença

e o tipo de relações.

A comunidade é de carácter espontâneo, irreflectido, é como que natural; os laços entre os

seus membros têm mais um carácter afectivo e a distância social é estreita.

Na sociedade, os laços são mais racionais que afectivos, há maior distância social entre os seus

membros, as relações são de contrato, diferença e isolamento dos indivíduos.

A comunidade é apenas um sector organizado da sociedade total, não precisamente uma

sociedade. Se a comunidade é urbana, é apenas uma parte da cidade, não é a própria cidade.

Nova concepção

Há uma nova concepção de comunidade que aponta que esta é algo pós-social, ultrapassa a

impessoal união das especializações da sociedade dos dias de hoje. Podemos manter maiores

vínculos com desconhecidos, do que com aqueles que nos rodeiam e apesar disso, consideram-

se à mesma como sendo uma comunidade, onde os laços são duradouros e se define uma rede

de responsabilidades entre os seus membros.

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Este entendimento sobre a comunidade surge com a sociedade pós-industrial, que adiante

desenvolveremos, mas que se caracteriza por ter a predominância de laços pouco duradouros e

descartáveis.

Vários autores defendem que a comunidade não está em vias de extinção, nem a perder a

solidificação dos laços entre os seus membros, está sim em processo de transformação. A

comunidade possui um equilíbrio móvel, que se altera no tempo e no espaço. Retomando

Tonnies, foi a passagem do modo de vida da aldeia para a vida citadina que proporcionou a

ruptura dos laços comunitários entre as pessoas.

Na comunidade existe partilha, o sentimento de pertença e alguns conflitos, que têm por base

uma história, uma cultura, questões sociais semelhantes, compartilhadas entre as pessoas.

Outros termos que podem ser trabalhados quando se fala destas questões são os termos de

indivíduo e pessoa. O primeiro é um termo em si vazio, só existe enquanto relacionado com a

sociedade, onde cada um vive por si. Pessoa, por outro lado, possui sumo, tem uma unidade

mas também é composto pela pluralidade, existe na comunidade e estabelece relações de

parentesco, vizinhança e amizade com outros elementos.

A comunidade mais consistente é a família (comunidade que abordaremos adiante).

O termo comunidade pressupõe a aplicação de outros termos: pertença, influência, satisfação de

necessidades e partilha de ligações emocionais. Todas as pessoas são importantes na e para a

comunidade.

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Evolução das sociedades

As formandas são divididas em grupos e é-lhes proposto que analisem vários textos

seleccionados trabalhando a evolução das sociedades:

- Sociedades de caçadores e recolectores;

- Sociedades pastoris e agrárias;

- Sociedades não-industriais;

- Sociedades industriais;

- Sociedades pós-industriais.

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Textos:

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Alguns autores agrupam todos estes tipos de sociedade em três grandes grupos: UFCD

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Sociedade primitiva;

Sociedade industrial;

Sociedade pós-industrial.

Após reflexão elaborada em torno da evolução das sociedades, observe a seguinte imagem e

produza um texto onde atente e aplique as seguintes expressões: evolução das sociedades,

industrialização, consumismo, aparências, créditos, …

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A Família

Socialização

Os animais pertencentes às escalas mais baixas da evolução, tal como os insectos, têm

comportamentos semelhantes, quer no estado de adultos, quer em mais novos. No entanto,

assim que vamos subindo na hierarquia da evolução, esta situação vai-se alterando. Por

exemplo, nos mamíferos, os seres mais novos têm de ter um padrão como referência,

principalmente os bebés e para além desse protótipo necessita ainda de terceiros para

sobreviver. Uma criança não pode sobreviver sozinha e sem ajuda, pelo menos durante os

primeiros quatro ou cinco anos de vida.

A socialização é portanto, o "processo pelo qual as crianças indefesas se tornam gradualmente

seres auto-conscientes, com saberes e capacidades, treinadas nas formas de cultura em que

nasceram" (Giddens, 2000, p. 44). É o processo de integração do indivíduo numa determinada

sociedade. Através deste, o sujeito apreende e assimila comportamentos, regras, normas,

valores, rituais, formas de estar, de comunicar e de se relacionar com os outros.

A socialização é um processo contínuo que decorre ao longo de toda a vida e termina quando o

indivíduo morre. Está presente em todas as sociedades humanas e é um processo dinâmico,

interactivo e permanente de integração social. Então, a

socialização não é realizada de forma passiva, mas sim

activa. Por exemplo, com o nascimento de um filho, o

casal terá de se adaptar ao bebé, assim como este vai

assimilar as transmissões dos seus progenitores.

A socialização acaba por ligar as diferentes gerações

entre si.

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Agentes de socialização

O indivíduo está sujeito a várias influências do meio. Os principais agentes de socialização são:

A família – é aqui que decorre o processo inicial e pensa-se, o prioritário de integração: a

criança aprende os horários alimentares, os gostos, hábitos de higiene, …

A Creche, o Jardim de Infância – é o primeiro local “formal” onde a criança se sujeita a

regras mais rígidas (horários, hábitos de higiene e limpeza, relacionamento com os colegas,

…) e onde inicia um processo de aprendizagens formais e/ou não formais.

A escola – é a instituição que transmite os conhecimentos científicos e técnicos que irão

permitir ao indivíduo exercer um papel no trabalho produtivo. Esta transmite as normas

sociais, as noções éticas básicas e os ideais da sociedade.

Grupo de pares – grupo de pessoas de idade aproximada, onde se desenvolvem relações

de solidariedade e cooperação e se adquirem sentimentos de reciprocidade e também de

autonomia, interdependência e identidade social.

Meios de comunicação social – a televisão, a rádio, o cinema, as revistas e jornais

tornaram-se importantes agentes de socialização, pois veiculam modelos de

comportamento, posteriormente imitados e reproduzidos.

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Que tipo de comportamento terá uma criança que não contacte com o meio social?

(Giddens, 2000, pp. 44 e 45)

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Conceito

A família pode ser definida como um grupo de pessoas que estão unidas directamente por laços

de parentesco, no qual os adultos assumem a responsabilidade de cuidar das crianças. É um

grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições.

Geralmente, os membros de uma família partilham o mesmo sobrenome, herdado dos

ascendentes directos (pais).

Laços de parentesco são relações entre indivíduos estabelecidas através do casamento ou por

meio de linhas de descendência que ligam familiares consanguíneos (mães, pais, filhos, avós).

Casamento é uma união sexual entre dois indivíduos adultos, reconhecida e aprovada

socialmente.

Família nuclear é composta por dois adultos vivendo juntos num mesmo agregado com os seus

filhos próprios ou adoptados. Família extensa, por outro lado, inclui um grupo de três ou mais

gerações que vive na mesma habitação. Agrega pais, avós, tios, primos.

Família e cultura

A cultura familiar não é igual em todos os países do mundo e por cultura devemos entender os

modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos dessa sociedade. Esta inclui a

arte, literatura, pintura, a forma como as pessoas se vestem, as suas actividades laborais,

cerimónias religiosas….

Existem muitas culturas relacionadas com as questões da família. Há aquelas em que o

indivíduo escolhe o seu parceiro, outras em que este parceiro é escolhido pela família, outras há

em que cada homem/mulher pode ter várias mulheres/homens, mas noutras cada homem/

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mulher deve ser fiel a uma única mulher/ a um único homem. Para uma melhor exploração dos

conceitos devemos distinguir:

Monogamia – um homem ou uma mulher só podem estar casados com um cônjuge.

Poligamia – permite que um homem ou uma mulher tenham mais que um cônjuge.

- poliginia – um homem pode ser casado com mais do que uma mulher.

- poliandria – uma mulher pode ser casada com mais do que um homem.

A família na história

A estrutura familiar, os laços que se estabelecem entre os seus membros, as relações com o

meio foram sofrendo alterações com o passar dos anos. Atentamos a algumas marcas

importantes salientadas por vários autores.

1ª fase:

Séc. XVI

Família nuclear;

Habitação modesta;

Fortes relacionamentos comunitários;

Não era o foco principal dos laços emocionais e

de dependência;

Não havia grandes intimidades familiares;

O sexo era necessário apenas para a procriação;

Os pais detinham poder sobre os restantes

membros da família;

Não havia liberdade na escolha do parceiro conjugal.

2ª fase:

Séc. XVII-XVIII

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Família nuclear vista como uma entidade mais autónoma;

Maior importância dada ao amor conjugal e paternal;

Maior poder autoritário do pai.

3ª fase:

Séc. XIX

Fortes laços emocionais;

Grande nível de privacidade doméstica;

Preocupação com a criação e educação dos filhos;

Individualismo afectivo, escolha do parceiro

conjugal;

Grande importância do amor romântico;

Sexualidade vista também como um prazer (diminuição das relações extra-conjugais);

Família virada para o consumo e não só para a produção.

As formandas poderão discutir as próximas figuras1 em grande grupo e reflectir sobre as

transformações que se foram lavrando ao longo das últimas décadas, podem inclusive, espelhar

nelas as suas próprias experiências.

1 As figuras em causa foram retiradas da Internet, todavia desconhece-se a sua fonte. UFCD

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Nas sociedades tradicionais a construção de identidades passava por questões como o género,

a religião, a etnia, … eram factores decisivos que determinavam a socialização dos indivíduos.

Actualmente, estes factores perderam claramente peso, a sua influência não acaba, mas está

enfraquecida.

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Transformações sociais na família

Que ideias nos sugere o conceito de família?

A família tradicional é frequentemente definida como sendo formada por pai e mãe, vivendo em

comum, onde as funções estão divididas entre os dois, no qual o pai é o sustento do lar e a mãe

assume o papel da responsabilidade pelo lar e pelos filhos. Porém esta concepção tem ficado

em "desuso" como observaremos adiante.

Actualmente as crianças são socializadas em contextos diferentes destas famílias tradicionais.

Existem as:

famílias monoparentais;

famílias reconstituídas após o divórcio;

famílias em que a mãe trabalha fora de casa;

famílias em que o pai é o grande responsável pela educação dos filhos.

Para além destes novos contextos, não podemos menosprezar as tendências actuais das

nossas sociedades:

Prolongamento dos estudos;

Casamento tardio;

Saída tardia de casa dos pais;

Mães têm o primeiro filho com idade mais avançada;

Grande aumento do número de divórcios;

Famílias reconstruídas;

Coabitação antes do casamento;

Redução do número de elementos;

Baixa natalidade;

Criação de novos serviços (creches, lares, …);

Prevalência das famílias nucleares;

Alteração de horários (mais rígidos);

Ambos os membros do casal inseridos na população activa;

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Escassez de tempo para as questões familiares;

Maior liberdade e tolerância (face por exemplo, às escolhas conjugais);

Violência doméstica, abuso sexual das crianças, … existe um lado sombrio nas famílias

que se encontra mais ao descoberto;

Assim, as principais mudanças que se observam nos dias de hoje são (Giddens, 2000, p.180):

As famílias extensas e outros grupos de parentesco estão a perder a sua influência;

Existe uma tendência generalizada para a livre escolha do cônjuge;

Os direitos das mulheres estão a ser cada vez mais reconhecidos, tanto no que respeita

à possibilidade de escolha no casamento, como no que se refere às decisões tomadas

pela família;

Os casamentos entre pessoas do mesmo grupo de parentesco estão a tornar-se cada

vez menos comuns;

Estão a desenvolver-se níveis de liberdade sexual mais elevados em sociedades que

eram, nessa matéria, muito restritivas;

Há uma tendência geral para a extensão dos direitos da criança.

São vários os autores que afirmam que os principais factores que contribuíram para estas

mudanças são:

• A industrialização e os processos de urbanização;

• Entrada da mulher no mercado de trabalho.

A família como principal agente de socialização da criança

A família como agente de socialização primária incute-nos valores, regras, costumes, vícios,

comportamentos e é o primeiro grupo que nos ajuda a saber viver em comunidade. Para

sobrevivermos (quando nascemos sobretudo) precisamos da ajuda de outrem, que poderá ser a

família.

Numa primeira fase a família estava distante entre si, posteriormente os laços emocionais

ganharam mais força e expressividade. UFCD

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No entanto, actualmente volta-se a questionar este papel emocional e acolhedor da família

devido à grande incidência/denúncia de casos de violência doméstica.

A escola

Conceito

O termo "escola" tem a sua origem numa palavra grega que significa tempo livre ou recreio. Na

Grécia Antiga as pessoas que dispunham de boas condições socioeconómicas e tempo livre,

reuniam-se nela para pensar e reflectir.

Hoje em dia, o conceito pode-se referir a uma instituição de ensino ou a uma corrente de

pensamento, com características padronizadas que formam certas áreas de conhecimento. É um

local de ensino onde se aprende várias matérias.

Nas sociedades pré-industriais, a instrução estava só ao dispor dos poucos que tivessem tempo

e dinheiro para a frequentar. E os principais "educadores" eram os líderes religiosos ou os

padres pois eram alfabetizados.

Nesta altura o que era valorizado era aprender pelo exemplo, pelos hábitos sociais e práticas de

trabalho dos mais velhos, até porque as crianças começavam desde muito pequenas a trabalhar

com os seus familiares mais velhos.

A escola sofreu porém, tal como as outras grandes áreas da vida dos indivíduos, fortes

mudanças, que adiante analisaremos.

Agentes educacionais

Os principais agentes educacionais que encontramos na escola nos dias de hoje são:

- Professor;

- Aluno;

- Director;

- Funcionários;

- Comunidade.

Estes agentes não são seres estáticos que apenas aprendem ou ensinam, estes estão em

constante inter-relação. Para além disso, na escola não se aprendem exclusivamente as

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matérias científicas, o saber-saber e o saber-fazer, também se aprende-se o saber-estar e o

saber-ser.

Da escola de elite à massificação do ensino

O termo elite era um termo usado no século XVIII para designar produtos de grande qualidade.

Assim, com o passar dos tempos, o termo começou a ser aplicado para designar as classes

sociais com maior poder económico e prestígio.

Então, foi criado o termo "escola de elites" para designar a escola que era apenas dirigida às

classes sociais "superiores".

Apenas as crianças pertencentes às classes sociais ditas, superiores, estavam inseridas

no ensino.

Este era assegurado pelo clero (agora a escola é laica).

Até à 2ª guerra Mundial apenas uma minoria tinha acesso à escola.

Nas salas de aula os grupos eram homogéneos e o sucesso escolar era elevado.

Quando existia insucesso esse era imputado a problemas do aluno e nunca do professor

ou do ensino.

Muito poucos eram aqueles que chegavam ao ensino superior.

A partir de finais do séc. XVIII a escola sofre uma viragem. Surge o interesse em construir uma

unidade cultural, o bem comum e a coesão que poderia ser conseguida através da

escolarização, à qual agora todos tinham acesso.

Em 1844 dá-se a introdução da escolaridade obrigatória em Portugal (através da Lei de Costa

Cabral). Porém, o maior interesse da população portuguesa continua a ser a subsistência e não

a escolarização.

A escola moderna, ou a escola de massas desenvolve-se com a industrialização. Esta apelava

à existência de uma massa ordeira, disciplinada, que respeitasse a hierarquia das fábricas.

Tornou-se obrigatória e gratuita para que todos, independentemente do capital económico, a

pudessem frequentar. Pretendia-se chegar à Escola de Massas (queria-se controlo social e ao

mesmo tempo cidadãos esclarecidos).

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A escola de massas é um tipo de escola que acolhe todos, independentemente do nível cultural,

económico, … É obrigatória até aos 16 anos. E agora passam a existir grupos de alunos muito

heterogéneos.

No entanto, esta escola de massas surgiu com um fraco acompanhamento por parte de

estruturas e condições para tal – edifícios, professores, matérias… A passagem da escola de

elites à escola de massas não foi acompanhada das alterações/adaptações necessárias.

Os alunos e professores encontram-se cada vez menos interessados e motivados, aumenta o

insucesso escolar, degrada-se a qualidade elitista anterior, …

Em grande grupo promove-se um debate sobre:

A Literacia

A medida Novas Oportunidades

O actual "facilitismo" na transição de ano lectivo

Assim, será que…

A escola reproduz as diferenças sociais já existentes?

É um veículo para a mobilidade social?

Inicialmente a escola era direccionada para as elites (escola de elites), porém com a

industrialização e a vontade de se criar uma massa uniforme e ordeira, esta escola abriu-se a

todas as classes sociais (deu-se a massificação do ensino).

Esta massificação não foi acompanhada das alterações e adaptações necessárias para acolher

todos os destinatários. Então, esta massificação termina ou perpetua as desigualdades sociais?

Trabalho industrial e pós-industrial2

A industrialização é um processo que visa a criação e acumulação de riqueza e lucro. Pressupõe

a substituição das ferramentas manuais, por máquinas; da energia humana pela energia motora;

2 Este tema já havia sido tratado com mais pormenor em páginas anteriores. UFCD

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do modo de produção manual e doméstico para o fabril; … Este fenómeno deu-se com a

Revolução Industrial.

A revolução industrial

Surge na Inglaterra, na segunda metade do séc. XVIII;

Processo acompanhado pela forte evolução tecnológica;

Aparecimento em massa de fábricas;

Forte desenvolvimento urbano;

Surgimento da disciplina e dos horários (≠ do artesão);

Participação das mulheres e crianças no processo produtivo;

Inexistência de direitos laborais;

Perda da importância do trabalho humano, substituído pelas máquinas (baixos salários,

despedimentos e revoltas principalmente contra as máquinas);

Aumento de problemas sociais (alcoolismo, …).

Aos poucos estas revoltas foram-se organizando e criaram-se os sindicatos. Conquistou-se a

proibição do trabalho infantil, a limitação do trabalho feminino, o direito de greve, …

Pós-industrialização

Surge na 2ª metade do século XX devido ao crescente contacto que os povos

estabeleciam entre si, ao aumento da vida média da população, ao desenvolvimento

tecnológico, à difusão da escolarização.

Caracteriza-se pelo rápido crescimento do sector dos serviços;

Dá-se a decadência dos produtos manufacturados;

Aumenta a tecnologia da informação;

O conhecimento e a criatividade são dos pilares mais importantes desta economia.

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O pilar principal desta "era" é a tecnologia, cuja principal função é o processamento de

informação com base nas telecomunicações e na computação. O trabalho intelectual é mais

frequente e mais importante que a mera realização de tarefas.

Estas mudanças trazem alterações a nível: cultural, político e económico.

Enquanto que a passagem da agricultura para a indústria demorou cerca de 10 mil anos, a

passagem da indústria para a era pós-industrial demorou cerca de 200 anos. O ritmo de vida

alterou-se bastante e as pessoas deixaram de estar dependentes das estações do ano!

As mudanças sociais ocorridas no trabalho estão directamente relacionadas com a

industrialização e com a entrada da mulher no mercado de trabalho

Actualmente existe muito desemprego e apela-se cada vez mais à inovação, à

introdução de novas ideias

A seguinte frase pode ser comentada em grande grupo ou individualmente:

Vivemos numa era em que o trabalho físico é feito pelas máquinas e o intelectual pelos

computadores. Aos homens cabe a criatividade e a produção de ideias.

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Bibliografia consultada

GIDDENS, Anthony (2000) - Sociologia. 2ª ed.. Lisboa: FCG. ISBN:972-31-0887-9.

DAMÁSIO, Manuel José; HENRIQUES, Sara; POUPA Carlos (?) - Pertença a uma

comunidade: o caso das comunidades on-line. CICANT – Centro de investigação em

Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias, Universidade Lusófona de Humanidades e

Tecnologias. In 6º Congresso SOPCOM. Pp. 3219 - 3235. (on-line)

KEIL, Ivete (2007) – Do capitalismo industrial ao pós-industrial. Reflexões sobre trabalho e

educação. Educação Unisinos. (on-line)

PAVÃO, Fábio Oliveira (2005) – Uma comunidade em transformação: Modernidade,

organização e conflito nas escolas de samba. Universidade Federal Fluminense. Programa de

pós-graduação em Antropologia. (on-line)

TRINDADE, Maria Aparecida da S. Fernandes (2001) – COMUNIDADE E SOCIEDADE:

norteadoras das relações sociais. In R. FARN, Natal, v.l, n.l, p. 165 - 174 Jul./dez. 2001. (on-line)

WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.

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