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Manual de Construção e Manutenção de Trilhas de Sorocaba Critérios e procedimentos da Secretaria do Meio Ambiente de Sorocaba (SEMA) no trato com as trilhas ambientais SOROCABA 2011

Manual de Construção e Manutenção de Trilhas de Sorocabameioambiente.sorocaba.sp.gov.br/.../4/2015/12/manual-de-construco-e... · 4. CONSTRUÇÃO DE TRILHAS Antes do início da

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Manual de Construção e Manutenção de

Trilhas de Sorocaba

Critérios e procedimentos da Secretaria do Meio Ambiente de Sorocaba (SEMA) no

trato com as trilhas ambientais

SOROCABA 2011

INTRODUÇÃO

De acordo com os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Indústria, Comércio e Turismo (MICT) o ecoturismo é:

[...] o segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas (EMBRATUR; IBAMA, 1994).

É reconhecido que o ecoturismo, enquanto uma das formas sustentáveis do turismo, tem potencial para contribuir com a conservação da diversidade biológica, assim como promove melhorias na qualidade de vida das comunidades locais e regionais. Por outro lado, o crescimento do ecoturismo em uma dada região pode ser preocupante, se levado em consideração fatores como a velocidade de sua disseminação, a fragilidade dos ambientes envolvidos e as dificuldades humanas e materiais dos órgãos responsáveis pelo controle da atividade (MITRAUD, 2003, apud., ANDRADE; ROCHA, 2008). Apesar da possibilidade de impactos, o ecoturismo é uma maneira de assegurar a conservação da natureza e aumentar o valor das terras deixadas em estado natural (SWARBROOKE, 2002).Uma modalidade de atividade ecoturística é a caminhada por trilhas em áreas naturais. Trilhas podem ser usadas para se chegar a um destino específico, como uma caverna ou cachoeira, ou podem ser elas mesmas um destino ecoturístico (ANDRADE; ROCHA, 2008). De simples meio de deslocamento, as trilhas surgem como novo meio de contato com a natureza. Trilhas bem construídas e devidamente mantidas protegem o ambiente do impacto do uso e ainda asseguram aos visitantes maior conforto, segurança e satisfação (MITRAUD, 2003).O planejamento de trilhas deve levar em consideração fatores como variação climática, em função das estações do ano; informações técnicas (levantamentos, mapas, fotografias, etc.) disponíveis sobre a região; a probabilidade de volume de uso futuro; as características de drenagem, solo, vegetação, hábitat, topografia, uso e exequibilidade do projeto. Características históricas e culturais devem ser pesquisadas e ressaltadas, a fim de otimizar as informações e dar dimensão educacional às trilhas (LEUZINGER, 2009).Diversos fatores influenciarão na capacidade de carga da trilha, que deverá ser definida para averiguar a viabilidade de se desenvolver a trilha. A capacidade de carga de uma trilha é a quantidade de visitas que ela pode suportar sem que isso gere impactos inaceitáveis ao meio ambiente (MITRAUD, 2003).Takahashi (2004), define capacidade de carga como o nível máximo de uso que uma área pode suportar, considerando-se os fatores do ambiente. Em outras palavras, deve-se determinar quantas pessoas poderão usar a área sem causar danos. Isso porque cada ecossistema suporta uma determinada quantidade de impacto e, ultrapassado esse imite, ocorrerá sua disruptura. Muito embora não se pretenda, em uma UC, em especial de proteção integral, chegar ao limite de impacto suportado pelo ecossistema, esse patamar deve ser conhecido, para que se tenha segurança quanto às atividades permitidas nas área.

1. CLASSIFICAÇÃO DE TRILHAS

1.1. Trilha CircularA trilha circular oferece a possibilidade de se voltar ao ponto de partida sem repetir o percurso no retorno. Pode-se também definir um sentido único de uso da trilha, o que permite que o visitante faça o percurso sem passar por outros visitantes no sentido contrário (FIG. 1) (MITRAUD, 2003).

1.2. Trilha em OitoEssas trilhas são muito eficientes em áreas limitadas, pois aumentam a possibilidade de uso desses espaços (FIG. 2) (MITRAUD, 2003).

1.3. Trilha LinearEsse é o formato de trilha mais simples e comum. Geralmente seu objetivo é conectar o caminho principal, quando já não é o próprio, a algum destino como lagos, clareiras, cavernas, picos etc. Apresenta as desvantagens do caminho de volta ser igual ao de ida e a possibilidade de passar por outrosvisitantes no sentido contrário (FI G. 3) (MITRAUD, 2003).

1.4. Trilha em AtalhoEsse tipo de trilha tem início e fim em diferentes pontos de uma trilha ou caminho principal. Apesar do nome, o objetivo na trilha em atalho não é “cortar caminho”, mas sim mostrar uma área alternativa à trilha ou caminho principal (FIG. 4) (MITRAUD, 2003).

2. PLANEJAMENTO DAS ROTAS

Para um bom planejamento das rotas que a trilha tomará, deve-se conhecer os objetivos de manejo e zoneamento da área onde a trilha se localiza (por exemplo Planos de Manejo e Planos de Uso Público), aspectos como perfil dos usuários, grau de dificuldade pretendida e experiência exigida. Os objetivos de manejo oferecem informação básica para o planejamento da trilha, seu manejo e monitoramento.É importante a utilização de cartas topográficas e fotos aéreas para esboçar a rota em potencial. Sobre o mapa, pode-se identificar os pontos de controle, que são os lugares pelos quais a trilha precisa passar, levando em conta:• Destinos;• Início e final da trilha;• Cruzamento de rios e riachos;• Afloramentos rochosos e mirantes naturais.A fim de tornar a trilha mais atrativa, pode-se incluir pontos de controle positivos com atrações como um mirante de beleza cênica, um lago ou cachoeiras.Analogamente, deve-se evitar pontos de controle negativos, como áreas com solo pobre (sensíveis às ações erosivas), de habitat crítico para a vida selvagem, ou mesmo abrigando espécies ameaçadas (HESSELBARTH et al., 2009).A presenca humana em áreas naturais pode alterar o comportamento animal de várias maneiras. Segundo Hammit; Cole (1998), as mudanças no tipo e grau de alteração do comportamento animal e do seu habitat, em função da presença humana em áreas naturais, não são totalmente prejudiciais aos animais, pois embora muitos sejam repelidos pela presença humana, outros são atraídos.Os efeitos das atividades recreativas, que incluem impactos sobre a vegetação, o solo, a fauna, a água e a qualidade da visitação, são afetados pela frequência, distribuição, tipo de uso e comportamento das pessoas, pela estação do ano, condições ambientais e ações de manejo implantadas, tal como ilustra a Tabela 01 (KRUMPE, 1999; MANNING; LIME, 1999; HAMMIT; COLE, 1998).

Tabela 01: Lista de indicadores de impactos biofísicos e sociais.

Fonte: LOBO; SIMÕES, 2009.

É imprescindivel que, além da verificação dos impactos (através dos indicadores presentes na ficha de campo), sejam observadas também as possíveis causas da sua ocorrência. Esse registro será de fundamental importância para a implantação de estratégias de manejo mais efetivas.Situações importantes observadas na trilha e que nãoestão previstas na ficha de monitoramento, devem ser anotadas. Deve-se anotar sua localização, por exemplo, a medida exata na trilha ou no caso de amostragem, a identificação entre quais pontos foi observada a situação.

3. FERRAMENTAS E ACESSÓRIOS

As ferramentas usadas variam de acordo com a área e o tipo de trabalho necessário.Deve-se sempre ter a ferramenta adequada para cada tipo de tarefa. As ferramentas mais comuns estão listadas abaixo. Também é recomendável ter à mão um kit de primeiros socorros.I - Foice e penado: utilizados para abertura ou clareamento da trilha (roçada).II - Enxada e enxadão: utilizados para regularizar o piso da trilha e abrir valetas de drenagem.III - Cavadeira: p a ra cavar bura c o s ; podem ser de haste simples ou dupla.IV - Machados: são muito utilizados para cortar árvores e grandes galhos caídos e para preparar mourões ou dormentes usados em degraus ou na contenção de paredes.V - Pé-de-cabra: essencial no deslocamento de grandes pedras ou troncos.VI - Serras: são utilizadas para cortar galhos e árvores.VII - Pá comum.VIII - Baldes e carrinhos: utilizados para transportes da terra, areia, etc (MITRAUD, 2003).

3.1. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)

Conforme as normas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Portaria N.º 25/01-NR6 (Anexo I - Lista de Equipamentos de Proteção Individual) sobre equipamentos individuais de proteção exigidos para trabalhos de campo, lista-se abaixo os EPI exigidos à construção e manutenção de trilhas em Sorocaba (BRASIL, 2001).

I - Capacete de segurança para proteção contra impactos de objetos sobre o crânio;II - Protetor facial de segurança para proteção da face contra impactos de partículas volantes;III - Luva de segurança para proteção das mãos contra agentes cortantes e perfurantes;IV - Calçado de segurança para proteção dos pés contra agentes cortantes e escoriantes;V - Perneira de segurança para proteção da perna contra agentes cortantes e perfurantes.

Além disso, a equipe responsável pela construção e manutenção de trilhas, necessitará de um estojo de Primeiros Socorros. O ideal é que pelo menos um dos integrantes seja capacitado a prestar primeiros socorros e executar RCP (reanimação cárdio-pulmonar). O líder da equipe e funcionários envolvidos devem preparar uma análise de risco de trabalho que inclua:I - Um itinerário (rota planejada, destino, tempo estimado de partida e de chegada);II - Os nomes dos integrantes da equipe;III - Riscos específicos de trabalho e ações preventivas;IV - Um plano de evacuação de emergência.

É importante ainda, a realização de reunião de segurança antes de começar o trabalho ou sempre que as condições de trabalho tenham se alterado significativamente (HESSELBARTH et al., 2009).

4. CONSTRUÇÃO DE TRILHAS

Antes do início da construção das trilhas, é imprescíndivel que estas sejam sustentáveis, ou seja, criar e manter trilhas que irão permanecer abertas e utilizáveis por longo tempo, trilhas cujo piso não acabe sendo erodido pela água e pelo uso e que não afetem a qualidade da água ou do ecossistema natural, trilhas que satisfaçam as necessidades de seus usuários, oferecendo uma experiência positiva, sem prejudicar o ambiente natural. Trilhas bem desenhadas valem-se de elementos naturais de drenagem, reduzindo a manutenção que acabaria sendo necessária, ao mesmo tempo em que vai de encontro às necessidades dos usuários. A trilha pode contornar árvores e pedras, seguir plataformas naturais e de muitas maneiras aproveitar-se das atrações naturais do terreno (HESSELBARTH et al., 2009).Os objetivos deste reconhecimento são:• Verificar pontos de controle e identificar pontos adicionais, que não tenham sido percebidos aoestudar os mapas e fotos aéreas;• Verificar se a rota esboçada é praticável;• Encontrar o alinhamento que melhor se harmonize com todos os objetivos;• Identifi car pontos de controle positivos, que enriqueçam a experiência do usuário; • Confirmar que a rota seja razoável de construir e manter (HESSELBARTH et al., 2009).

Grande parte dos impactos no solo tem origem nas caminhadas, gerando compactação, aumento da densidade e resistência à penetração, mudanças na sua estrutura e estabilidade, perda da camada orgânica, redução das taxas de infiltração, aceleração e aumento da erosão. Além das alterações nas suas propriedades físicas, as caminhadas também podem gerar mudanças na biologia e química do solo e alterar de forma expressiva, por consequência, a composição da microflora e fauna dos solos, tal como ilustra a Figura 05. (HAMMIT; COLE, 1998).

Figura 05: Ciclo do impacto no solo, resultante das atividades de caminhadas.Fonte: HAMMIT; COLE, 1998.

Dicas: • Procurar degraus naturais para mudanças de direção e ziguezagues. Eles poupam custos de construção e harmonizam a trilha ao terreno;• Cruzar ravinas (vales secos) na diagonal, ao invés de descer e subir suas margens em ângulo reto;• Evitar assentar uma trilha em terreno plano, porque ali a água não tem para onde escoar;• Pendurar fitas ou bandeirinhas de referência, perto de atrativos ou de pontos com potencial cênico, para que possa ser mais fácil reencontrá-los mais tarde (HESSELBARTH et al., 2009).

4.1. Controle da Água Superficial

Água corrente escava a trilha e estruturas de suporte e pode pôr a própria trilha a perder. Água parada geralmente resulta numa trilha encharcada, esponjosa ou em problemas no piso e nas estruturas de suporte.Os melhores sistemas de drenagem são justamente aqueles já incorporados no projeto da nova construção. Estes incluem frequentes inversões de declividade e caimento para fora do piso. O piso com caimento é aquele que é mais baixo do lado de fora (ou externo), do que do lado de dentro (ou seja, do talude). O caimento para fora deixa a água superficial escoar através da trilha naturalmente. O piso deve ter portanto um caimento para fora, de no mínimo 5%.A marca clássica de uma boa drenagem é que ela é auto-sustentável, exigindo posteriormente cuidados mínimos (HESSELBARTH et al., 2009).

4.2. Declividade em trilhas (trilha curvilínea)

A idéia básica de “quebrar” a continuidade de uma declividade, ou seja, incluir curtas rampas subindo,numa trilha que está descendo, é impedir que a água siga escorrendo pelo piso, direcionando-a para fora da trilha imediatamente, antes que comece a erodi-la. Inversões de declividade são planejadas e incluídas em trilhas novas, antes mesmo de sua construção, mas podem também ser feitas em trilhas já implantadas.Ao esboçar a trilha sobre um mapa, pode-se conectar os pontos de controle guiando-se pelas curvas de nível. Deve-se manter a declividade de cada trecho, subindo ou descendo a encosta, em menos do que 10%. Isto ajuda a manter a rota com uma declividade adequada. Assim, no momento em que o trabalho passar para o campo, poderá se ter maior flexibilidade para ajustamento das declividades.A declividade pode ser expressa como uma porcentagem ou como um ângulo. A porcentagem de declividade é o resultado do deslocamento vertical (o quanto se sobe) dividido pelo deslocamentohorizontal (o quanto se anda pelo plano), multiplicado por 100.

• Exemplo: um ganho de 10 metros x 100 = 10% deslocamento de 100 mPara isso, é importante:I - Monitorar de perto as condições das trilhas;II - Decidir o que pode ser realizado com manutenção básica;III - Determinar o que pode ser adiantado;IV - Identificar as áreas que exigirão maior trabalho (HESSELBARTH et al., 2009).

4.3. Bolsões de Escoamento

Poças que se formam em trilhas planas provocam diversos tipos de estragos no piso. O tráfego que começa a contornar uma poça, alarga a trilha e eventualmente a própria poça. Água parada geralmente enfraquece o piso e o talude. Quando o solo é apropriado, a água acaba por provocar a formação de um atoleiro. O pisoteamento da borda inferior de uma poça pode induzir ao colapso desta borda crítica, já que os andarilhos também pisam além da borda da trilha, desfazendo- a. Colapsos da borda externa são uma das principais causas de deslizamentos de trilha.Um bolsão de escoamento é uma depressão em semicírculo, escavada encosta abaixo, com uns 3 metros de diâmetro, e uma declividade de cerca de 15% ao centro, são suaves e sutis e acabam geralmente nem sendo percebidos pelos usuários. Mas para que os bolsões de escoamento funcionem, a trilha precisa apresentar ao lado, terreno ainda mais baixo, de modo que a água tenha para onde escoar (HESSELBARTH et al., 2009).

4.4. Valetas de drenagem

Outra maneira de forçar a água para fora de trilhas já existentes, é usar uma valeta de drenagem. Uma valeta de drenagem é usada em trechos mais íngremes da trilha. Mas também funciona bem para drenar a água pela borda inferior de trilhas em nível. A valeta de drenagem se baseia no desenho de um bolsão de escoamento. Mas não fazem sentido no ponto mais alto de uma declividade. Sua melhor localização é a meio da descida. Quanto mais íngreme a trilha, mais valetas de drenagem serão necessárias. Mas não devem ser construídas onde possam mandar água carregada de sedimentos para dentro de riachos e ribeirões (HESSELBARTH et al., 2009).

4.5. Barreiras de Drenagem

Barreiras ainda são estruturas de contenção de água muito usadas.Em declividades menores que 5%, barreiras de drenagem são menos propensas a entupirem, a não ser que atendam a um longo trecho de trilha, ou que sejam construídos em material extremamente erosível. Já em declividades mais altas (15 a 20%), as barreiras de drenagem são propensas a entupirem, se assentadas a um ângulo menor que 45 graus com o eixo da trilha. E em declividades ainda mais altas que 20%, são praticamente inúteis. Nestas inclinações, existe uma linha muito tênue entre entupir o escoadouro e erodi-lo (arrancando a barreira).Barreiras de drenagem precisam ser construídas com ângulo de 45 a 60 graus em relação à trilha. As de pedra são obviamente mais duráveis que as de madeira, contudo, a superfície exposta pode apresentar-se muito escorregadia, aumentando a possibilidade de tombos (HESSELBARTH et al., 2009).

4.6. Podas e cortes

Segundo Hammit; Cole (1998), a vegetação pode ser susceptível a danos advindos de atividades recreativas em áreas naturais.

Entretanto, trilhas de caminhada são limpas até 2,5 metros de altura e até uma largura total de 2 metros. No caso de uma trilha para excursionistas, isto significa que o corredor é limpo até um metro para cada lado do centro. Até 30cm da borda do caminho, plantas e restos devem ser roçados ao nível do chão, até mesmo para que, em caso de chuva, plantas molhadas não fiquem encharcando a roupa do usuário. A partir de 50cm, as plantas já não precisam ser aparadas.Troncos caídos são geralmente removidos até os limites de limpeza (um metro).Algumas trilhas podem acabar precisando ser roçadas várias vezes ao ano, outras apenas uma vez ao ano, mas executar manutenções de corredor, quando necessárias, é bem mais fácil do que esperar até que o crescimento descontrolado comprometa a trilha, causando problemas mais dispendiosos. Geralmente árvores crescendo dentro do corredor precisarão ser removidas. É mais fácil arrancá-las, com raiz e tudo, enquanto ainda são pequenas, do que podá-los depois, quando já crescidas.Cortar grandes troncos que tenham caído atravessados na trilha é trabalho perigoso, por isso é preciso treinamento para operar uma moto-serra.Para remoção de árvores, é preciso levar em conta a intensidade de uso desta trilha, quanto tempo levará para que ela seja roçada novamente, a solidez (ou não) do tronco e o risco potencial que esta árvore esteja criando. Derrubar uma árvore pendente, especialmente uma que esteja apoiada e escorada em outras árvores, pode ser muito perigoso. Apenas profissionais altamente qualificados devem trabalhar com isso. Nem mesmo considere derrubar árvores, se não tiver sido formalmente treinado e capacitado (HESSELBARTH et al., 2009).A remoção de tocos e raízes é trabalho duro, portanto lembre-se:•Se as raízes estão transversais ao piso, bem rentes ao chão e não representam perigo de tropeços, deixe-as, pois essa serevem inclusive como degraus;• Remova raízes que estejam paralelas ao piso. Estas ajudam a canalizar a água trilha abaixo e introduzem o risco de escorregões;• Direcione sua trilha de forma que passe acima de grandes árvores. Construir abaixo das árvores enfraquece suas raízes, ao ponto de eventualmente matar a própria árvore (HESSELBARTH et al., 2009).

4.7. Sinalização de trilhas

As placas são tipicamente usadas para identificar o começo de uma trilha, ou indicar as diferentes trilhasque dali partem. Placas também podem identificar atrativos (mirantes, cachoeiras), destinos e ocasionalmente regulamentos, avisos, ou impedimentos. placas e marcas devem ser esteticamente adequadas, visíveis, colocadas em pontos úteis e bem conservadas. É providencial remontar placas soltas ou caídas, consertá-las ou substituí-las, reassentar ou substituir postes tombados, estragados, apodrecidos ou ausentes.Se uma placa desapareceu, sua reposição deve ser providenciada. É importante considerar a razão pela qual a placa tenha desaparecido. Em caso de roubo, o uso de medidas para evitar novo roubo antes de providenciar sua substituição é necessário. Se a placa foi destruída por animais ou por eventos naturais, deverão ser considerados materiais mais resistentes, uma localização diferente, ou um sistema alternativo para fixá-las (HESSELBARTH et al., 2009).

5. MANEJO E RECUPERAÇÃO DE TRILHAS

Recuperar trilhas abandonadas exige tanto cuidado e planejamento quanto construir uma trilha nova.Uma simples restauração pode consistir em fechar atalhos (por exemplo, com arames e avisos) e deixar que a vegetação se recupere. Projetos mais complexos de restauração incluem apagar a trilha, reconstituir a encosta e replantar espécies nativas.A recuperação da vegetação pode ser conseguida de forma passiva ou ativa. A recuperação passiva deixa a própria vegetação ao redor recolonizar a trilha abandonada. Este processo funciona quando a erosão foi detida, o piso foi todo revolvido, a precipitação de chuva é suficiente e a vegetação adjacente se espalha e cresce rapidamente. O solo revolvido oferece oportunidade para que espécies oportunistas tomem conta.Já a recuperação ativa vai desde transplantar plantas nativas escolhidas, a trazer sementes geneticamenteapropriadas. De qualquer forma, uma recuperação bem sucedida quase nunca é completada numa únicatemporada, por isso é importante planejamento à longo prazo (HESSELBARTH et al., 2009).Segundo Cole et al. (1987) e Hammitt; Cole (1998), muitas estratégias de manejo podem combater problemas ou impactos gerados pela visitação em trilhas, tal como elenca a Tabela 02 apresentada na próxima página. A implantação de estratégias de manejo exige o dispêndio de recursos financeiros e pessoais. Este “Manual de Construção e Manutenção de Trilhas de Sorocaba” foi desenvolvido para aplicação em trilhas de uso público, considerando a caminhada ou “trekking” como uso exclusivo para as trilhas. Assim, algumas estratégias de ação podem ser diretamente indicadas para suas devidas manutenções, conforme a Tabela 03.

Tabela 02: Estratégias e ações de manejo para áreas naturais protegidas.

Fonte: LOBO; SIMÕES, 2009; apud. COLE et al., 1987.

Tabela 03: Indicadores de impactos, suas possíveis causas e estratégias de manejo.

Fonte: LOBO; SIMÕES, 2009.

6. CONCLUSÃO

No que diz respeito ao manejo de trilha, indica-se principalmente duas frentes de atuação. A primeira está atrelada à redução da velocidade do escoamento superficial, que poderá ser feita por desvio e redução da distância desse fluxo ao longo do caminho. Para a redução da velocidade da enxurrada, poderão ser utilizados fragmentos de rocha, troncos e dormentes. Para a redução da distância do fluxo, o ideal é construir pequenos canais de desvio para o interior da floresta. Em um segundo momento, recomenda-se recobrir o solo exposto da trilha com serrapilheira, “material de empréstimo” do interior da floresta. Essa cobertura de matéria orgânica favorecerá algumas propriedades físicas do solo, e logo, trará melhor infiltração e retenção de água, e, por conseguinte, menor degradação. Recomenda-se ainda que, além dos levantamentos de campo para o monitoramento, é imprescindível o gerenciamento do uso público nessa área, pois são os visitantes que podem atenuar ou acelerar tais processos. Quanto ao uso público recomenda-se restrição de acesso em períodos chuvosos (verão), devido fato de o solo alcançar o limite de compactação com menor pressão (FEOLA, 2010).O trabalho de monitoramento não pode ser entendido como o único momento de constatação dos problemas presentes nas trilhas e atrativos. A verificação dos impactos deve ocorrer constantemente e as intervenções para sua mitigação devem ser implantadas o mais rapidamente possível.É igualmente importante o aprimoramento do programa de monitoramento. Os gestores devem verificar a necessidade de inclusão de novos indicadores, estabelecer prioridades para os indicadores e impactos mais críticos da maneira que melhor atenda as necessidades de cada área (LOBO; SIMÕES, 2009).

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, W.J; ROCHA, R.F. 2008. Manejo de trilhas: um manual para gestores. Instituto Florestal, São Paulo.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. PORTARIA N.º 25, DE 15 DE OUTUBRO DE 2001. Altera a Norma Regulamentadora que trata de Equipamento de Proteção Individual – NR6 e dá outras providências, 2001.

COLE, D. N.; PETERSEN, M. E.; LUCAS, R. C. Managing wilderness recreation use: common problems and potential solutions. Ogden: USDA, Forest Service, Intermountain Research Station. General Technical Report INT, 230. 1987.

EMBRATUR; IBAMA. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Grupo de Trabalho Interministerial. MICT/MMA. Brasília. EMBRATUR, 1994.

FEOLA, E. Análise dos processos erosivos em trilha: Subsídio ao Planejamento e Manejo. Relatório da dissertação realizada no Parque Estadual Pico do Marumbi, PR. UFPR. Curitiba. 2010.

HAMMIT, W. ;COLE, D. N. Wildland recreation: ecology and management. 2.ed. New York: John Wiley, 1998.

HESSELBARTH, W.; VACHOWSKI, B.; DAVIES, M.A. Manual de construção e manutenção de trilhas. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente, 2009.

LECHNER, L. Planejamento, implantação e manejo de trilhas em unidades de conservação. Cadernos de Conservação, ano 03, nº 03, junho de 2006, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

LEUZINGER, M. D. Natureza e cultura: unidades de conservação de proteção integral e populações tradicionais residentes. Curitiba: Letra da lei, 2009.

LOBO, A. C.; SIMÕES, L. L. (org). Plano de Monitoramento e Gestão dos Impactos da Visitação. SMA/WWF-Brasil. 2009.

MANNING, R.E.; LIME, D.W. Defining and Managing the Quality of Wilderness Recreation Experiences. In: COLE, D.N.; McCOOL, S.F.; BORRIE, W.T.; O’LOUGHLIN, J. Wilderness science in a time of change conference – Wilderness visitors, experiences, and visitor management. 2000. Ogden, UT: U.S. Department of Agriculture, Forest Service, Rocky Mountain Research Station, v.4, p.13-52, 1999.

MITRAUD, Sylvia (Org.). Manual de ecoturismo de base comunitária: ferramentas para umm planejamento responsável. Brasília: WWF, 2003.

KRUMPE, E.E. The Role of Science in Wilderness Planning – A State-of-Knowledge Review. In: COLE, D.N.; McCOOL, S.F.; BORRIE, W.T.; O’LOUGHLIN, J. Wilderness science in a time of

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SWARBROOKE, J. Turismo sustentável: turismo cultural, ecoturismo e ética. São Paulo: Aleph, 2002.

TAKAHASHI, L. Uso Público em unidades de conservação. Cadernos de Conservação, ano 02, nº 02, out/2004, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.