Manual de Forragens

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Curso de Operador/a de Mquinas Agrcolas Manual de Formao De culturas forrageiras e mquinas de corte

ATAHCA Vila

2009 Verde

Objectivos: Identificar e classificar culturas forrageiras e determinar o equipamento de corte adequado ndice Introduo 4 Definio de culturas forrageiras e Pastagens 5 Morfologia e fisiologia do crescimento de gramneas e leguminosas 6 Gramneas 6 Leguminosas 7 Forragens 7 Forragens versus Pastagens 7 Utilizao em corte nico ou vrios cortes 8 Esquema das principais alternativas de cultivo 9 Produo de forragens anuais de estao fria 10 Azevm ou erva castelhana 10 Cereais praganosos 11

Consociaes de cereais praganosos com leguminosas (Ervilhacas e outras) 13 Leguminosas estremes 14 Tremoceiros, serradela e trevo encarnado 14 Bersim, trevo da Prsia e trevo vesiculoso 15 Produo de forragens anuais de estao quente 16 O Milho 17 Sorgos forrageiros 19 Produo de forrageiras bienais ou vivazes 20 Azevns e trevo violeta 21 Luzerna 23 Colheita e conservao das forragens 25 A fenao 25 A desidratao 28 A ensilagem 29 Referncias Bibliogrficas

Introduo A vegetao herbcea e as forragens obtidas nos prados artificiais, temporrios ou permanentes, constituem um dos recursos econmicos mais importantes para a nossa pecuria. Nos tempos de hoje, nestas exploraes vocacionadas para a actividade pecuria, a situao bem diferente pois para uma grande parte delas, a venda de produtos pecurios (carne e/ou leite) constitui a principal fonte de receitas das exploraes, sendo portanto essencial que o agricultor dedique uma ateno cuidadosa no s ao mtodo de cultura mais adequado para as plantas forrageiras e pratenses, como aos valores nutritivos fornecer ao animal. tambm sabido que, no passado, o agricultor possua animais rsticos e de exigncias relativamente pequenas, passando hoje a ter nas suas exploraes animais de mdio e alto potencial produtivo, que tm elevadas necessidades de produo e que so constantes ao longo do ano. Assim sendo, a ligao inseparvel da utilizao de pastagens e forragens com a criao de gado permite tirar partido de uma das caractersticas especialmente marcadas pelo tapete de erva verde a sua admirvel capacidade de adaptao. Ao contrrio do que sucede com as culturas de lavradio, na sua maioria com uma poca bem definida para a colheita, as possibilidades de utilizao dos prados e pastagens quanto as pocas de aproveitamento praticamente no tm limites. A forma de utilizar uma pastagem ou uma forragem assume, assim, uma enorme importncia, pois deve contar-se no s com a pastagem e forragem verde, mas tambm com a constituio de reservas para os perodos de repouso da vegetao, pelo que a conservao das forragens, recorrendo fenao, desidratao ou ensilagem, desempenha um papel fundamental. 2

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Culturas forrageiras e Pastagens Entende-se por culturas forrageiras ou forragens, as culturas de plantas herbceas, geralmente anuais mas por vezes bienais ou vivazes, destinadas a serem colhidas pelo homem antes da maturao completa, para a alimentao dos animais em verde ou aps a conservao. Pastagens, prados ou culturas pratenses so culturas ou comunidades de plantas geralmente herbceas, aproveitadas predominantemente no prprio local em que crescem pelos animais em pastoreio, e portanto directamente sujeitas sua aco de desfoliao, pisoteio e dejeco. As forragens podem ser agrupadas conforme a durao do cultivo em: Anuais se for inferior a um ano; Bienais entre um ou dois anos; Vivazes ou perenes se a durao for maior que dois anos. Existe um claro domnio das culturas de menor durao (anuais). As pastagens ou prados podem ser permanentes ou temporrios. So permanentes quando tm uma longa durao, tanto quanto o seu estado de conservao e produtividade o permitir, sendo em caso contrrio substitudas por nova pastagem. Estas pastagens so indicadas para solos sem aptido agrcola. So temporrias quando esto encaixadas em rotaes com outras culturas agrcolas, tendo portanto uma durao pr-determinada, esto indicadas para solos com aptido para culturas arveis e contribuem para os objectivos da rotao de culturas. Podem ainda distinguir-se as pastagens semeadas das pastagens naturais ou espontneas. As primeiras, por vezes imprecisamente designadas de pastagens melhoradas, so como o nome indica resultantes da sementeira pelo homem de plantas seleccionadas. As pastagens naturais ou espontneas constituem-se base de espcies que vegetam espontaneamente, sem introduo deliberada pelo homem, embora possam ser sujeitas a tcnicas de melhoramento como sejam a fertilizao e o maneio da sua utilizao. O recurso ou no rega para suprir as deficincias de alimentao hdrica das plantas, resultantes da secura estival do nosso clima, determina diferenas muito significativas nas possibilidades e potencialidades de cultivo, pelo que se considera importante a distino entre culturas forrageiras e pastagens de regadio e de sequeiro. Os termos erva e forragem so utilizados para designar um conjunto de alimentos que as culturas forrageiras e as pastagens permitem obter para a alimentao animal. Em Portugal, as culturas forrageiras e as pastagens ocupam cerca de metade da superfcie agrcola til (SAU) do pas, embora com elevada diversidade regional, j que em regies como os Aores e o Entre Douro e Minho tm um predomnio quase absoluto, enquanto que na Madeira e no Algarve ocupam uma reduzida percentagem das respectivas superfcies afectadas agricultura. Na Beira Litoral e no Entre Douro e Minho predominam as culturas forrageiras e os prados temporrios, enquanto que nas restantes regies e predominantemente no Alentejo e nos Aores predominam as pastagens e o pastoreio. No que respeita aos animais, os bovinos assumem uma importncia relativa prxima dos 70% do efectivo de ruminantes, e dentro dos pequenos ruminantes 4

os ovinos tm um claro predomnio sobre os caprinos, tendo-se registado um sensvel crescimento nas duas ltimas dcadas contrariamente aos caprinos. Nos Aores, no Entre Douro e Minho e na Beira Litoral regista-se um claro predomnio da vaca leiteira sobre os restantes ruminantes, e s estas trs regies detm 76,5% do efectivo de vacas leiteiras do pas. Quanto s principais culturas forrageiras, em termos regionais, merecem destaque o milho silagem no EDM, na Beira Litoral e nos Aores, o azevm anual e as consociaes tambm no EDM, na Beira Litoral e no Alentejo, a aveia forrageira em Trs-os-Montes, Beira Interior, Ribatejo e Alentejo, e o milho basto (milharada) na Beira Interior. Morfologia e fisiologia do crescimento de gramneas e leguminosas Gramneas Os aspectos gerais e de maior importncia a destacar so: Sistema radicular adventcio, fasciculado e muito desenvolvido, que substitui as razes seminais do primeiro perodo de vida da planta. A sua importncia agrcola grande, j que, para alm de servir a planta conferindo-lhe uma boa capacidade de utilizar e competir pela gua e nutrientes, contribui para a melhoria dos solos pelos resduos de matria orgnica que deixa e pela aco na estrutura e agregao das suas partculas; Caule em geral de tamanho muito reduzido no estado vegetativo (estado em que se manifesta o pseudo-caule formado pela sobreposio das bainhas das folhas), ganhando expresso quando no estado reprodutivo ocorre o alongamento dos entrens superiores; Folhas ssseis constitudas por duas partes, a bainha e o limbo. Inflorescncia terminal, constituda por espiguetas agrupadas em geral em eixo simples formando espigas, ou ramificado, formando panculas; A semente das gramneas um fruto. Leguminosas Os aspectos gerais e de maior importncia a destacar so: Sistema radicular aprumado e menos denso que o das gramneas, exceptuando-se o caso das espcies estolhosas como o trevo branco e o trevo morango. Este menor desenvolvimento do sistema radicular tem implicaes na capacidade de competir pelos nutrientes e gua no solo. A presena de nodosidades na raiz em resultado da simbiose com o rizbio tambm um aspecto caracterstico e especfico das leguminosas que facilmente observvel, tendo tambm grande importncia para a nutrio e para a competio de misturas; Os caules podem apresentar portes muito diversos, sendo particularmente importantes para as pastagens as espcies cujos caules so prostrados, crescendo no sentido horizontal; As folhas so pecioladas apresentando trs ou mais fololos; O fruto das leguminosas uma vagem. Forragens O cultivo e produo de forragens tem como objectivo obter melhor produo de erva em corte, conjugando e adequando qualidade e quantidade ao efectivo animal a que se destina, tirando o melhor proveito das condies ambientais e do 5

equipamento e estruturas da explorao agrcola, e permitindo melhorar a rendibilidade da produo animal. As forragens cortadas destinam-se sobretudo alimentao dos animais manjedoura, em verde ou aps conservao sob a forma de feno ou silagem, podendo em alguns casos estas culturas serem utilizadas em perodos limitados por pastoreio. Trata-se em geral de culturas de durao curta (anuais), mas algumas podem persistir por dois ou mais anos, favorecendo vrios cortes anuais de erva como por exemplo a luzerna. Forragens versus pastagens A produo de forragens em geral complementar das pastagens, mas por vezes substitui ou alternativa produo de erva para utilizao em pastoreio. Mais frequentemente a produo das pastagens visa colmatar dfices de produo que se verificam em determinados perodos do ano, quer utilizando a erva em verde, quer sob a forma conservada (silagem, feno ou erva desidratada industrialmente). As culturas forrageiras tm as seguintes vantagens em relao s pastagens: Permitir produes unitrias, por estao de crescimento ou por ano, bem mais elevadas, nomeadamente atravs do encadeamento anual de duas culturas com diferentes caractersticas de crescimento; Obter taxas altas de crescimento dirio em perodos curtos; Obter em certas situaes e perodos erva com valor nutritivo mais elevado, sobretudo de maior digestibilidade; Fazer uma mais eficiente utilizao da gua; Permitir uma melhor utilizao do Azoto do solo e um maneio mais eficiente da fertilizao. Estas vantagens podem justificar a sua adopo como culturas complementares em sistemas de produo baseados em pastagens, ou em sistemas de produo intensiva em que a rea das exploraes um recurso fortemente limitante, como sucede por exemplo entre ns em muitas exploraes do Entre Douro e Minho. As desvantagens mais comuns destas culturas em relao s pastagens dizem respeito aos mais elevados custos unitrios de produo, devido principalmente s maiores exigncias de equipamento e trabalho, aos riscos de eroso em solos declivosos, aos maiores riscos de intoxicao e distrbios alimentares com algumas forrageiras, e maior possibilidade de insucesso na implantao da cultura. Utilizao em corte nico ou em vrios cortes Uma das opes que se coloca na escolha de culturas forrageiras anuais a de se obter uma elevada produo em um s corte ou, em alternativa, explorar a cultura em vrios cortes de menor produo. A explorao em um s corte quase forosamente para conservar, como feno ou silagem, e permite economia de operaes e reduo dos custos de conservao por unidade produzida. A explorao em vrios cortes mais flexvel, permitindo a cada momento escolher entre a conservao e a utilizao em verde, mesmo em pastoreio, sendo mais adequada utilizao em verde. Existem plantas ou culturas susceptveis de um ou outro tipo de explorao, como por exemplo os cereais praganosos, a par de outras com pouca ou mesmo sem 6

capacidade para recrescer e portanto utilizveis numa nica explorao, como por exemplo o milho, havendo outras que s se justificam para vrios cortes, como por exemplo a erva do Sudo, o azevm, o trevo da Prsia ou a luzerna. A escolha do tipo de cultura forrageira e utilizao a adoptar depende ainda das exigncias alimentares dos animais a que se destinam e dos eventuais subsdios e prmio atribudos no mbito da Poltica Agrcola Comum (PAC). Quanto a estes ltimos destaca-se a atribuio de ajudas por superfcie cultivada aos produtores de culturas arvenses, que inclui as culturas forrageiras de cereais praganosos e de milho ou sorgos forrageiros, desde que aproveitados aps o incio da florao. Quanto s exigncias alimentares dos animais que condicionam as decises de cultivo temos o exemplo das vacas leiteiras de elevada produtividade que exigem forragens de elevado valor nutritivo, em especial digestibilidade, enquanto que os animais menos exigentes, como por exemplo os rebanhos de ovinos e caprinos podem satisfazer as suas necessidades nutritivas com forragens de relativamente baixa digestibilidade. Esquema das principais alternativas de cultivo Existem diversas alternativas de culturas forrageiras, quer para semelhantes quer para diversas condies de cultivo, durao e tipo de utilizao. Azevm anual ou erva castelhana Cereais praganosos Consociaes de cereais praganosos com (*) leguminosas ervilhacas e outras Leguminosas estremes- 1. Tremoceiros, serradela, trevo encarnado Leguminosas estremes- 2. Bersim, trevo da Prsia e trevo vesiculosos Sachadas, couves, nabo, beterraba forrageira Outras Milho (silagem ou milharada) Sorgos forrageiros Outras Azevns e trevo violeta Luzerna Outras

Estao fria (Outono Primavera) Anuais

Estao quente (Primavera Vero) Anuais Bienais ou vivazes

Produo de forragens anuais de estao fria Estas so as principais alternativas de produo em condies de sequeiro mediterrnico, sendo algumas delas tambm adoptadas para as condies de regadio, em especial nos sistemas com duas culturas anuais ou ainda em condies de clima temperado. Azevm ou erva-castelhana (Lolium multiflorum) Entre as vrias espcies do gnero Lolium cultivadas como forragens ou pastagens, a espcie Lolium multiflorum a de maior produtividade, embora 7

pouco perene, comportando-se como anual ou bienal conforme as condies ambientais de que beneficia. Nas nossas condies climticas de Vero muito quente e seco, mesmo em regadio, o interesse desta cultura quase s o cultivo anual de estao fria, Setembro/Outubro a Abril/Maio. A sua cultura especialmente indicada para as regies de Inverno ameno e precipitaes frequentes, j que o seu crescimento ocorre a partir de temperaturas mdias de 5-6C, apresenta um mximo a 1518C, e a capacidade de se estabelecer e de recrescer aps corte ou pastoreio bastante afectada se ocorrer em condies de stress hdrico. A principal rea de cultivo em Portugal situa-se no Entre Douro e Minho, mas nos ltimos anos o seu cultivo tem-se estendido a outras regies como por exemplo o Alentejo. uma cultura que se adapta a diferentes tipos de solo, embora apresente melhor resposta e adaptao aos de elevada fertilidade, suportando bem o excesso de gua pela capacidade de desenvolver razes adventcias superfcie, e tolerando a acidez do solo. A data de sementeira est muito relacionada com as condies climticas prevalecentes no caso do cultivo em sequeiro, ou seja, do incio efectivo da estao das chuvas, mas tambm do tipo de utilizao que se pretenda, pois no caso mais frequente de se pretender explorar vrios cortes (ou perodos de pastoreio e corte), a sementeira deve ser o mais precoce possvel, dado o seu efeito positivo sobre o nmero de cortes, a produo e a utilizao do Azoto. A sementeira deve ser feita a pouca profundidade, sendo a densidade de sementeira de 20-30kg/ha, de forma a obter um povoamento inicial superior a 600 plantas por m . O estabelecimento do azevm muito rpido e vigoroso, desde que semeado com boas condies de humidade e temperatura, o que juntamente com a sua grande capacidade de recrescimento aps o corte lhe confere uma grande agressividade e capacidade de competir com eventuais infestantes. A fertilizao azotada de grande importncia, quer pela elevada resposta do azevm, quer pelos riscos de perdas, quer pela possibilidade da cultura desempenhar uma funo de recuperao de Azoto disponvel ou excedente da cultura anterior. A fertilizao deve ser fraccionada, tanto mais quanto maior o nmero de cortes, mais elevada no arranque para o crescimento do ltimo corte, e, quando haja excedentes da cultura precedente, no deve ser realizada sementeira. Fertilizaes com 40-50 unidades de Azoto em cobertura aps os cortes e 60-80 unidades a preceder o ltimo corte so recomendaes que devem ser ajustadas em funo das condies especficas de cultivo e da explorao agrcola. A utilizao em vrios cortes, com cortes em verde ou pastoreio no estado vegetativo e at ao incio do perodo reprodutivo e com um ltimo corte ao incio ou pleno espigamento para conservar feno ou silagem, a mais adequada e a que tira melhor proveito das caractersticas de crescimento e recrescimento do Lolium multiflorum. Quando se pretenda privilegiar a produo o ltimo corte para conservao e reduzir a utilizao em verde, a sementeira dever ser deliberadamente mais tardia e optar-se por uma subespcie italicum. O azevm uma forragem de elevado valor nutritivo at ao incio do espigamento, com uma sensvel e rpida queda de valor aps esta fase. Para alm do cultivo estreme, o azevm utilizado em consociaes com cereais praganosos, com trevos anuais como o trevo encarnado, o bersim e o trevo da 8

Prsia, em cultivo para produo de semente, e em outros tipos de utilizao, como complemento de pastagens, cultura de revestimento, relvados, etc. Cereais praganosos O cultivo de cereais praganosos para forragem compreende tcnicas de cultivo e de utilizao muito diversas. Destaca-se a utilizao para cortes ou pastoreios mltiplos em verde no perodo de Outono-Inverno (ferrs), a utilizao com o duplo objectivo de pastoreio ou corte verde precoce em verde e posterior produo de gro, e a produo em corte nico na fase de desenvolvimento do gro para conservar como feno ou silagem. As diversas espcies de cereais aveia, centeio, cevada, trigo e triticale so cultivadas em diversas condies e com diferentes utilizaes e caractersticas. Entre ns a mais extensamente cultivada a aveia (Avena sativa, mas tambm a Avena strigosa e a Avena bizantina), a qual se destaca pela sua grande maleabilidade de adaptao a diferentes tipos de solos, pela sua menor susceptibilidade ao excesso de gua em relao aos restantes cereais e por ser mais folhosa. O centeio (Secale cereale) escolhido pela sua adaptao a solos de baixa fertilidade, nomeadamente de texturas arenosas e cidos, e ainda pelo seu melhor crescimento em condies de baixas temperaturas no Outono e no Inverno, no sendo adequado para aproveitamento em corte nico maturao do gro. Quando se pretenda privilegiar a produo em verde no Outono-Inverno deve-se optar por semear o mais cedo possvel, antes ou logo aps as primeiras chuvas de Setembro/Outubro, uma mistura de cereais ou de cereais com azevm (e trevos), havendo interesse em incluir o centeio pelo seu melhor crescimento inicial a baixas temperaturas. A incluso do azevm (e dos trevos) permite melhorar a produo e qualidade do ltimo corte na Primavera, quando os cereais pelos repetidos aproveitamentos e em particular aps o incio do encanamento reduzem sensivelmente a sua capacidade de recrescimento, bem como o seu valor nutritivo. Este tipo de cultivo requer uma boa disponibilidade de Azoto desde a sementeira, com fertilizao fraccionada em fundo e aps cada aproveitamento a qual pode ser reduzida na Primavera se na mistura forem includos trevos. A cultura assim conduzida permite obter erva de elevado valor nutritivo, quer quanto digestibilidade, quer quanto aos teores de protenas, mas em geral mais baixa produo de matria seca. Trata-se de um tipo de cultivo particularmente adaptado para complementar a escassez de alimento no Inverno dos sistemas de produo baseados nas pastagens de sequeiro, razo que pode justificar o cultivo dos cereais sobre este tipo de pastos. A cultura dos cereais de corte nico maturao do gro adquiriu importncia crescente nos ltimos anos, pela atribuio das ajudas superfcie cultivada aos produtores de culturas arvenses, mas tambm pela sua aptido para se obter uma elevada produo de biomassa em um s corte para conservao, em especial como silagem. O cultivo para corte nico deve ter uma sementeira mais tardia, fins de Outubro (nas regies de Inverno mais frio) e Novembro, procurando-se que uma segunda mobilizao superficial do solo aquando da sementeira permita reduzir a competio da vegetao infestante emergida aps as primeiras chuvas. Para este tipo de cultivo normalmente recorre-se a uma s espcie, em funo do seu ajustamento s condies edafo-climticas e ao tipo de conservao (feno ou silagem), e caso o corte no tenha de se realizar relativamente cedo (Abril) por 9

forma de libertar o solo para instalao de uma cultura de Primavera-Vero, ou por se tratar de uma regio de Primavera muito seca, dever ser escolhida uma cultivar tardia que permitir uma maior potencialidade de produo. A sementeira dever garantir um povoamento inicial de 250 plantas por m2, o que significa densidades de sementeira prximas ou ligeiramente superiores a 300 sementes por m2, e se traduz conforme os diferentes pesos das sementes em 90 a 110kg/ha no caso do centeio e aveias, e 130 a 150kg/ha nos casos do trigo e triticale. A fertilizao azotada destas culturas uma tcnica de crucial importncia, em particular nos solos de baixa disponibilidade de Azoto. A adubao azotada dever incorporar apenas 20 a 40kg/ha sementeira, e 80 a 110kg/h em cobertura ao fim do afilhamento (Fevereiro), mais cedo nas regies mais secas (fins de Janeiro), sendo indispensvel que aps a cobertura e at colheita se registem pelo menos 150-200mm de precipitao para se obter uma boa resposta adubao cobertura. Nos solos de mais elevada disponibilidade de Azoto no se deve aplicar adubo sementeira, mas apenas em cobertura valores de 60 a 90kg/ha de Azoto, que tenham em conta a potencialidade da cultura, mas tambm os riscos da acama. As elevadas taxas de crescimento dirio de matria seca dos cereais a partir do encanamento e at ao gro leitoso, com valores de 120 a 180kg de MS/ha/dia, a par de uma evoluo do valor nutritivo que regista uma queda no muito acentuada at ao estado de ntese (desabrochar da flor) e uma estabilizao ou at ligeira melhoria posterior at ao estado de gro leitoso, determina que seja este o momento indicado para a colheita destas culturas. No caso de fenao, caso haja receio da desgrana durante o seu processamento, a colheita poder ser realizada no incio do estado leitoso. Uma outra razo que pode definir a data de corte a ocorrncia de um forte perodo de stress hdrico, o qual limita severamente as taxas de crescimento referidas e acelera o decrscimo do valor nutritivo da forragem pela senescncia precoce das folhas. Consociaes de cereais praganosos com leguminosas (ervilhacas e outras) O relativamente baixo valor nutritivo dos cereais forrageiros colhidos em corte nico num estado avanado de maturao, sobretudo o baixo teor proteico, e, por outro lado, a frequncia das situaes de cultivo em que os solos tm muito baixa disponibilidade de Azoto, justificam a forte tradio e interesse do cultivo das suas consociaes com leguminosas anuais nas nossas condies. As leguminosas anuais trepadoras, em especial as ervilhacas, mas tambm a ervilha, ou no trepadoras, como os tremoceiros e as favas, so cultivadas em consociao com cereais praganosos em diferentes regies e situaes de cultivo. De entre as leguminosas mais utilizadas destaca-se a ervilhaca vulgar ou mansa (vicia sativa), que compreende uma grande diversidade de subespcies e cultivares, sendo muito varivel entre si o peso da semente e a precocidade das cultivares; esta espcie est mais adaptada a solos de texturas pesadas e pH neutro ou pouco cido, e nela possvel encontrar cultivares de elevada precocidade, mais adaptadas s condies de Primavera mais seca. A ervilhaca vilosa ou de cachos-roxos (Vicia villosa) tambm muito cultivada, dado que revela boa adaptao a solos muito cidos e de texturas mais ligeiras, apresenta uma elevada resistncia ao frio no Inverno e em geral mais tardia, tem um crescimento indeterminado e um perodo de florao muito prolongado, tirando 10

proveito da eventual disponibilidade de gua para o crescimento at mais tarde, e permitindo assim uma elevada acumulao de biomassa quando consociada com uma cultivar tardia de cereal. Por seu lado a ervilhaca de cachos vermelhos (Vicia bhengalensis) pode tambm ser til para associar aos cerais em solos pouco cidos, neutros ou mesmo alcalinos de textura franca a argilosa. Caso se pretenda uma aprecivel melhoria do valor proteico da forragem, em especial quando se destina a conservao como silagem (no processo de fenao as ervilhacas sofrem considerveis perdas que reduzem o seu impacto no valor nutritivo da forragem), a ervilhaca e o cereal devero ter densidades prximas de 150 sementes/m2 e a fertilizao azotada dever ser moderada ou baixa. Caso se pretenda obter produes elevadas mas melhorar um pouco o valor nutritivo da forragem, as densidades devero ser de 220-250 sementes/m2 de cereal e 60-80 sementes de ervilhaca, sendo a adubao azotada de 100kg de Azoto/ha ou de 60kg de Azoto/ha, conforme se trate de solos de baixa ou elevada disponibilidade de Azoto respectivamente. ainda necessrio conciliar a precocidade das cultivares de cereal com a da leguminosa adoptada, para que o estado de gro leitoso do cereal coincida com o incio de formao da semente nas leguminosas. Caso haja riscos acrescidos de perdas (sobretudo das folhas das leguminosas) na fenao ou pela ocorrncia de stress hdrico acentuado, a colheita deve ser antecipada. Estas consociaes so adequadas utilizao em corte nico, num estado avanado da maturao, destinado conservao da forragem, permitindo produes elevadas que beneficiam com a presena das leguminosas, quer atravs da melhoria do valor nutritivo em relao aos cereais estremes, quer da fixao simbitica de Azoto. Leguminosas estremes Tremoceiros, serradela e trevo encarnado A importncia da cultura destas leguminosas para produo de forragens no nosso pas advm da extenso de solos arenosos, cidos, de baixa fertilidade, onde podem desempenhar um papel de pioneiras na recuperao de condies de fertilidade. A sua cultura no feita sempre estreme, podendo ser consociadas com cereais ou com azevm, mas pertence-lhes o papel principal neste tipo de cultivo, em que no se pretende obter uma elevada produo, mas sobretudo conseguir uma produo razovel, com aprecivel valor nutritivo, a baixos custos e em situaes de baixa fertilidade. Estes cultivos so efectuados sem recurso a adubaes azotadas beneficiando da boa capacidade de fixao simbitica de Azoto destas leguminosas nestas condies de cultivo, no dispensando fertilizaes com adubos fosfatados, os quais so essenciais para que produzam satisfatoriamente. De entre estas leguminosas mais rsticas, a mais utilizada a tremocilha ou tremoceiro amarelo (Lupinus luteus) embora sejam utilizados tambm o tremoceiro branco (Lupinus albus), o tremoceiro de folhas estreitas (Lupinus angustifolius), a serradela (Ornithopus sativus) e o trevo encarnado (Trifolium incarnatum). O trevo encarnado e a serradela tm sementes relativamente pequenas (mil sementes pesam aproximadamente trs gramas), devem ser semeadas sobre o cedo, s primeiras chuvas, em densidades de 15-20kg/ha, menos quando em consociao com o azevm, e podem proporcionar mais de um corte, o ltimo 11

para conservar principalmente como feno, em plena florao, com produes que podem ser considerveis em regies e anos em que se registe uma razovel precipitao no fim do Inverno e Primavera, sendo contudo espcies susceptveis ao excesso de gua no solo. A tremocilha tem sempre sementes muito maiores (mil sementes pesam mais de cem gramas), semeada um pouco mais tarde aps as primeiras chuvas e como se desenvolve com acentuada ramificao pode ser semeada com uma menor densidade de sementeira, na ordem de 60-80 sementes/ m2, o que significa porm 75-100kg,menos quando consociada com um cereal como por exemplo a aveia. A tremocilha tem fraca capacidade de recrescimento, pelo que deve ser cultivada para corte nico e conservao no estado de desenvolvimento das sementes na vagem, ou tal, como prtica tradicional, em pastoreio seco aps maturao completa no Vero. A tremocilha tem cultivares amargas com elevada deiscncia (libertao de sementes) das sementes e cultivares doces melhoradas e com vagens muito menos deiscentes. A utilizao da tremocilha requer alguma prudncia, devido sua eventual toxicidade, quer em verde nas cultivares amargas (com menores riscos para os ovinos), quer em seco, pelos riscos de lupinose, toxicidade devido a um fungo (Phomopsis) que parasita as plantas secas quando ocorre chuva ou humidade acentuada no Vero. A utilizao em pastoreio dos tremoceiros secos pode permitir a regenerao natural por auto-sementeira no 2 ano de cultivo, o que representa uma vantagem acrescida no objectivo destes cultivos que como referimos o de obter uma produo razovel, a baixos custos em condies de baixa fertilidade dos solos. Bersim, trevo da Prsia e trevo vesiculoso Este segundo grupo de leguminosas, podem ser cultivadas estremes ou consociadas com azevm, destacam-se das anteriores por serem mais exigentes em fertilidade do solo, de mais elevada potencialidade produtiva, aptas a produzir em vrios cortes e com potencialidades para condies de regadio. A mais exigente em condies edafo-climticas o bersim (Trifolium alexandrium), com aprecivel susceptibilidade ao frio, pelo que o seu cultivo se restringe s zonas litorais do Centro e Sul do Pas com Inverno menos frio, revelando melhor adaptao a solos de texturas mais pesadas e pH neutro a ligeiramente alcalino, desde que bem drenados. O trevo da Prsia gigante (Trifolium resupinatum) e o trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum), revelam uma melhor adaptao a diferentes tipos de solo e menor susceptibilidade s geadas e ao frio, pelo que a extenso de condies a que se adaptam maior do que o bersim. O trevo da Prsia prefere solos francos a argilosos, pouco cidos a alcalinos e apresenta-se tolerante m drenagem e salinidade, enquanto que o trevo vesiculoso se adapta bem a solos arenosos a francos, cidos a neutros, desde que bem drenados. Trata-se de trevos de semente pequena que devem ser semeados a pouca profundidade, s primeiras chuvas, ou mais cedo em fins de Agosto/Setembro quando em regadio, permitindo assim um mais elevado potencial produtivo distribudo por maior nmero de cortes. As diferenas de tamanho das sementes determinam os valores da densidade de sementeira das culturas estremes da ordem de 18-25kg/ha para o bersim, 10-15kg/ha para o trevo da Prsia e 1218kg/ha para o trevo vesiculoso. 12

O bersim revela a mais elevada potencialidade de produo de matria seca chegando a seis ou mais cortes em regadio de Outono a Maio/Junho, mas o seu valor nutritivo e alimentar claramente mais reduzido que os restantes. O aproveitamento destes trevos, tanto no Outono-Inverno, em que as plantas tm elevados teores de gua, como na Primavera, faz-se por uma sucesso de cortes em verde ou por pastoreio, havendo ensaios que reconhecem o elevado interesse do trevo da Prsia nestas condies para a alimentao de vacas leiteiras. O ltimo corte, a realizar na plena florao, deve preferencialmente destinar-se a conservar como feno ou silagem. Estas espcies, embora mais produtivas, revelam maior susceptibilidade a algumas doenas e vrus, embora com diferenas apreciveis entre espcies e cultivares, como seja antracnose ( doena provocada por fungos) (bersim), s ferrugens (trevo da Prsia) e aos vrus (trevo vesiculoso). Produo de forragens anuais de estao quente Trata-se de culturas que em condies mediterrnicas esto dependentes do regadio para se obterem elevadas produes e assim exprimirem todo o seu potencial de produo. As principais so gramneas que tm potenciais produes na estao estival e num curto perodo de crescimento. Esto normalmente associadas a sistemas de produo mais intensivos e exigentes, como seja a produo de vacas leiteiras, ou complementam e asseguram estabilidade a sistemas de produo baseados em condies de sequeiro. A cultura mais representativa deste grupo e mais cultivada entre ns o milho, cuja principal utilizao como silagem. O milho O milho (Zea mays) uma cultura de grande tradio em Portugal, sobretudo no Noroeste, onde o cultivo para gro, estreme ou mais frequentemente consociado com feijo, desde h muito que contribua para a alimentao dos ruminantes, atravs dos desbastes, do corte dos pendes, da utilizao das palhas e do folhelho. Em certas condies, que ainda hoje se mantm com expresso significativa sobretudo na Beira Interior, utilizado em cultivo de altas densidades, semeado a lano, com o objectivo de o cortar gradualmente e utilizar em verde ou como feno na alimentao dos animais, em geral a partir da florao masculina (bandeira) no fim do Vero (Agosto/Setembro) milho basto ou milharada. um tipo de cultivo tradicional que se concilia com uma sementeira relativamente tardia aps uma cultura de Inverno, de erva (p. ex. azevm) ou mesmo de gro (cereal praganoso), realizado com baixos custos, sem recurso a sementes certificadas e herbicidas. Porm, o milho tornou-se entre ns nas ltimas dcadas a principal forragem anual de estao quente, atravs do cultivo com semeadores de preciso, de hbridos seleccionados, em povoamentos pouco superiores ao cultivo para gro, com controlo de infestantes atravs de herbicidas, fertilizao abundante e regas adequadas, com corte e conservao como silagem em estado avanado de maturao do gro o milho silagem- o qual se tornou a base da alimentao das exploraes intensivas de vacas leiteiras. uma cultura de muito elevado potencial de produo, de elevada digestibilidade, excelente valor energtico e ingesto voluntria, e de muito fcil 13

conservao como silagem, com produo em corte nico. pois imbatvel para estas condies de produo e utilizao, embora os seus valores em protena sejam relativamente baixos. Os principais aspectos tcnicos a ter em conta respeitam escolha das cultivares ou variedades, s datas e densidades de sementeira, ao controlo de infestantes, fertilizao, rega e momento de corte. Os primeiros aspectos esto inter-relacionados, j que a escolha da variedade comea pela durao do seu ciclo cultural, vulgarmente referenciada por ciclo FAO (200 a 800), o que est dependente da potencialidade climtica da estao de crescimento local (somatrio de graus dia entre as possveis datas de sementeira e colheita), sendo as plantas de ciclo mais curto, a adoptar em sementeiras mais tardias, plantas de menor estatura e por isso com ptimos de densidade de povoamento mais elevados. A escolha das variedades deve estar apoiada em ensaios de adaptao regional como sucede h anos no EDM, embora se possam recomendar como caractersticas a atender na escolha de hbridos para forragem a tolerncia a baixas temperaturas e vigor juvenil, a elevada resistncia acama, a manuteno da folhagem verde at estados avanados de maturao, e os valores de digestibilidade e ingestibilidade da planta inteira que podem apresentar diferenas apreciveis entre variedades. A sementeira dever realizar-se quando j no haja riscos de ocorrncia de geada e os valores mdios da temperatura mdia do solo a 5cm de profundidade sejam prximos ou superiores a 15C, sendo desejvel que a temperatura mdia do ar na fase da plntula seja de pelo menos 13 a 15C. Em termos prticos, embora dependendo muito em cada ano da evoluo das temperaturas, da ocorrncia de precipitao, e do regime hdrico dos solos, as sementeiras mais precoces ocorrem na primeira quinzena de Abril nas regies menos frias do Centro e Sul do pas, sendo possvel adoptar as variedades de ciclo muito tardio (FAO 700 e 800) e de mais elevada potencialidade produtiva, com as mais baixas densidades, 65 a 75 mil sementes/ha. No extremo oposto podemos considerar as regies mais frias do Centro e Norte, obrigando a adoptar milhos de ciclo curto (classes FAO 200-300), com sementeiras nos fins de Maio/princpios de Junho e densidades de 100-115 mil sementes/ha. Quanto s infestantes, o controlo feito com possibilidade de recurso e diversos herbicidas, com predominncia actual para os produtos base de atrasina incorporados em pr-sementeira, e com possibilidade de complementar com aplicaes em ps-emergncia para o controlo de infestantes mais resistentes como a juna. A possibilidade de limitaes ao uso da atrasina em face da contaminao das toalhas freticas dever determinar mudanas tcnicas a curto-mdio prazo. A mobilizao do solo para o cultivo do milho silagem tambm apresenta vantagens para o controlo das infestantes e ainda permite a incorporao de chorumes ou estrumes e um aquecimento do solo na cama da sementeira conduzindo a uma emergncia mais rpida. Porm, a mobilizao mnima e os equipamentos de sementeira directa tm vindo progressivamente e ser adoptados por diversos agricultores, pelas vantagens relativas em termos de rapidez de implantao das culturas e de mais baixos custos, a que acresce a recente regulamentao das medidas agro-ambientais com a atribuio de um prmio. 14

A rega, conduzida por diferentes tcnicas, deve garantir que ao longo de todo o cultivo o milho no seja sujeito a stresses hdricos. Desde que o solo esteja adequadamente provido em gua aquando da sementeira, situao frequente nas nossas condies, o milho poder no ser regado nas primeiras fases de desenvolvimento, mas a ideia de que se deve forar o desenvolvimento radicular no regando nas primeiras fases no parece justificar-se. As exigncias hdricas da cultura sobem progressivamente ao longo do desenvolvimento vegetativo, sendo mximas entre o aparecimento da bandeira e o incio do desenvolvimento dos gros. A rega dever ser especialmente assegurada a partir da 10-12 folha at ao estado leitoso do gro. De forma a maximizar a produo, a digestibilidade e a ingestibilidade, o corte deve ser realizado, para conservao em silos horizontais no estado pastoso duro do gro, ou seja com a linha de leite a 1/2 - 2/3 do gro. Sorgos forrageiros Os sorgos forrageiros apresentam diferenas acentuadas em relao aos sorgos para gro, ao contrrio do que sucede com o milho, e apresentam diferenas entre si relativamente estatura, espessura dos colmos, afilhamento e relao folhas/caule entre outras. Cultivam-se em geral hbridos, quer de erva do Sudo (Sorghum sudanense), normalmente de menor estatura dos colmos, mas maior afilhamento e mais folhoso, aptos a um maior nmero de cortes, quer hbridos deste com Shorgum bicolor. A principal razo que pode ditar o seu cultivo entre ns em relao ao milho reside no facto de atravs do afilhamento os sorgos poderem recrescer e serem explorados em mais de um corte, favorecendo assim a utilizao mltipla em verde, eventualmente em pastoreio, embora possam ser ensilados e, menos vezes, sujeitos a fenao, j que revelam alguma dificuldade na secagem dos colmos, pelo que requerem corte com gadanheira condicionadora. O sorgo, tal como o milho uma gramnea com boa adaptao a crescer na estao quente, embora mais exigente que o milho em temperaturas e menos em gua. O facto de ser mais sensvel que o milho a temperaturas baixas obriga a uma sementeira um pouco mais tardia que o milho (1 a 3 semanas), o que contribui juntamente com o nosso clima para lhe retirar a vantagem da menor exigncia em gua, fazendo com que em geral s seja possvel obter boas produes em regadio. No entanto tira maior partido que o milho de terrenos de sequeiro que conservam uma certa humidade durante o Vero. A escolha das variedades deve atender aos resultados de ensaios de adaptao e depende do tipo de utilizao desejado, em particular de um maior ou menor nmero de cortes, devendo tambm optar-se por variedades com baixo risco de toxicidade. Os sorgos podem ser semeados a lano ou em linhas espaadas de 25-30cm, a densidades de 300-400 mil sementes/ha, o que significa em geral 20-30kg de semente/ha, sendo conveniente proceder a uma rolagem aps a sementeira quando o solo tenha pouca humidade superfcie, e no caso da sementeira em linhas orient-las preferencialmente Norte-Sul. A fertilizao, para alm de atender a eventuais necessidades de correco do solo quando o pH seja inferior a 5,5, e de incorporar Fsforo e Potssio tendo em conta as anlises do solo e eventuais estrumaes, dever atender repartio equilibrada da adubao azotada, sementeira e aps os cortes (excepto o 15

ltimo), evitando-se aplicaes exageradas (> 100kg/ha) que para alm de poderem induzir perdas aumentam os riscos de toxicidade da forragem de sorgo. Embora menos sujeito a competio pelas infestantes do que o milho, dadas as mais elevadas densidades e menor espaamento das linhas, assim como devido ao aproveitamento em mais de um corte, poder-se- ter que recorrer aplicao de controlo de infestantes, mais frequentemente em ps-emergncia. O valor alimentar do sorgo em geral mais baixo que o do milho, embora dependa muito do estado de desenvolvimento em que cortado. No caso de cortes para alimentao em verde prefervel cortar mais vezes na fase de encanamento, antes do incio do espigamento, conseguindo-se assim um melhor valor alimentar e mais elevado teor em protenas. Deve ainda ter-se o cuidado de executar os cortes a uma altura superior a 10cm do solo para facilitar o recrescimento. No caso de se pretender ensilar o corte dever ocorrer no estado de gro-pastoso, procurando-se assim assegurar uma mais elevada produo no corte. A explorao em pastoreio tem de ser feita com altura da erva superior a 5060cm, de forma a evitar riscos de toxicidade, riscos estes que so maiores quando a cultura sujeita a stresses, como falta de gua ou temperaturas baixas. Produo de forragens bienais ou vivazes A maioria das alternativas forrageiras assim como das suas reas de cultivo no pas dizem respeito a culturas anuais. No entanto existem plantas no anuais, cujo cultivo para explorao em vrios cortes por ano pode persistir em boas condies por 2 a 5 anos (eventualmente mais), permitindo assim reduzir a incidncia dos custos relativos ao estabelecimento das culturas e obter uma produo mais distribuda ao longo do tempo, o que poder representar vantagens interessantes em certas exploraes. A necessidade destas culturas atravessarem o Vero quente e seco na nossa regio implica que nestas condies climticas a sua produo seja apenas razovel quando dispem de regadio. Azevns e trevo violeta Culturas forrageiras bienais ou vivazes de curta durao (2-3 anos geralmente) podem ser obtidas com gramneas produtivas mas pouco perenes como as variedades de Lolium multiflorum o azevm hbrido (Lolium hibridum), o trevo violeta (Trifolium pratense) ou ainda pela consociao destas gramneas com o trevo. Trata-se de um conjunto de plantas de porte erecto, mais adaptadas ao aproveitamento por corte, embora possam ser ocasionalmente aproveitadas em pastoreio rotacional ou racionado, mais adaptadas a regies de Inverno ameno, permitindo assim no caso das gramneas algum crescimento de Inverno, mas com menor adaptao aos Veres quentes, que prejudicam o seu crescimento, com ptimos a temperaturas de 15 a 20C para os azevns e um pouco mais para o trevo violeta. O trevo violeta adapta-se a diferentes tipos de solos, preferindo solos bem drenados e com pH 6-6,5, mas tolerando solos mais cidos, sendo exigente em Fsforo e Potssio. uma planta vivaz, de grande produtividade nos primeiros 2-3 anos, cuja persistncia em boas condies de produo reduzida pela susceptibilidade a fungos e nemtodos no solo. 16

O trevo violeta, embora registe um declnio de interesse e reas semeadas nas ltimas dcadas, dispe de um leque alargado de cultivares, com diferenas apreciveis de precocidade, permitindo, as mais precoces, o incio dos cortes mais cedo na Primavera e maior nmero de cortes. O trevo violeta estreme deve ser semeado com 10-15Kg/ha, ou valores mais elevados conforme as cultivares (ter em conta o tamanho das sementes), e no caso de consociaes com gramneas podem usar-se 4-7kg/ha. Esta cultura requer uma adequada fertilizao em Fsforo e Potssio e eventualmente em Clcio e Enxofre, beneficiando de uma pequena adubao de Azoto sementeira caso o solo no tenha razovel disponibilidade em Azoto mineral. A sua utilizao feita em vrios cortes de Abril/Maio a Setembro/Outubro, os quais no devem ser muito frequentes para respeitar o restabelecimento das reservas de glcidos e no comprometer a persistncia da cultura, o que possvel j que o decrscimo do valor nutritivo pouco acentuado com o avanar da maturao e os seus caules apresentam um valor nutritivo aprecivel, contribuindo para que seja uma forragem de elevada ingestibilidade. utilizado para a alimentao em verde, silagem ou feno, devendo nos dois primeiros casos haver alguma prudncia quando em cultivo estreme pelos riscos de timpanismo, sendo prefervel a sua cultura em consociao com uma das gramneas. Os azevns, cultivares de maior persistncia de Lolium multiflorum (fig.1) subsp. italicum, ou os azevns hbridos resultantes do seu cruzamento com L. perenne, permitem tambm obter culturas com boa produo por 2-3 anos. Os azevns adaptam-se melhor s regies de Inverno ameno e clima hmido, a diferentes tipos de solo e ao excesso de gua no solo, sendo susceptveis s elevadas temperaturas, pelo que entre ns apresentam muito bons crescimentos na Primavera, mas uma queda sensvel na produo durante o Vero quente, apesar da rega. Todas as culturas aqui referidas podem nas condies de regadio ser estabelecidas em duas pocas do ano, o fim do Vero incio do Outono (Setembro/Outubro), ou o fim do Inverno incio da Primavera (Maro/Abril), dependendo a escolha da libertao do terreno pela cultura precedente e do estado do solo e do clima na poca de instalao prevista, devendo-se evitar o excesso de gua e temperaturas baixas (< 10C), nas primeiras semanas de estabelecimento das culturas. A fertilizao dever atender eventual necessidade de correco da acidez, em especial no caso do trevo violeta, caso o pH seja inferior a 5,5-6, adubao fosfopotssica em fundo, em funo das anlises de solo e das exportaes previsveis, e especialmente adubao azotada que dever ser substancial e repartida em diversas aplicaes de cobertura aps os cortes no caso de gramneas estremes, com valores anuais de 300 a no mximo 400 unidades (risco de perdas), repartidas em 6 a 8 aplicaes, mais elevadas no fim do Inverno/incio da Primavera. No caso das consociaes com o trevo violeta a adubao azotada dever atender ao equilbrio da consociao e aos diferentes ritmos de crescimento anual, do trevo e das gramneas, justificando-se a aplicao em cobertura no fim do Inverno de 50-80 unidades de Azoto para suportar o maior potencial de crescimento da gramnea no incio da Primavera e eventualmente um valor na ordem de 30-40 unidades de Azoto no final do Vero/incio do Outono, j que se registar a algum potencial de crescimento da gramnea at ao fim do Outono e o trevo violeta cede pouco Azoto gramnea da consociao. 17

A rega destas culturas depende das condies da regio e do ano climtico, sendo de admitir que nos casos de maior exigncia se prolongue por cinco meses (MaioSetembro), com valores que podero atingir 400-650mm/ha/ano. Luzerna A luzerna a leguminosa mais cultivada como forragem de corte a nvel mundial, com mais de 30 milhes de hectares, embora em Portugal o seu cultivo seja reduzido. uma planta vivaz, com uma raiz aprumada e carnuda que se desenvolve a grande profundidade, a qual superfcie do solo forma uma coroa de onde se desenvolvem sucessivamente diversas gemas produzindo novos caules, o que lhe confere uma boa capacidade de recrescimento e adaptao a condies adversas do meio. As luzernas cultivadas na nossa regio pertencem espcie Medicago sativa ou aos seus hbridos naturais com Medicago falcata, designados Medicagomedia. As primeiras no possuem dormncia invernal acentuada sendo pouco resistentes ao frio, mantendo um certo crescimento em zonas de Inverno ameno e revelam uma mais rpida recuperao da rea foliar aps os cortes atravs de uma maior mobilizao de Azoto armazenado pela planta. As luzernas hbridas apresentam maior resistncia ao frio de Inverno, podendo resistir a temperaturas de 20C negativos custa de uma acentuada dormncia invernal que provm da Mendicago falcata, assim como um porte menos erecto e por vezes alguns caules rizomatosos, o que lhes confere tambm maior adaptao ao pisoteio. Com diferentes graus de adaptao ao frio de Inverno, a luzerna adapta-se a Veres bem quentes, e mesmo secura atravs do seu muito profundo sistema radicular e da capacidade de apresentar dormncia estival em caso se stress hdrico. Pode ser cultivada entre ns em sequeiro, mas apresenta produes bem mais elevadas em regadio quer estreme quer em consociao com gramneas. A luzerna exigente em solos para exprimir o seu potencial de produo, requerendo solos profundos, bem drenados e bem providos de clcio. No se adapta a solos com pouca profundidade, nem a solos cidos, nem a solos com excesso de gua, razes que justificam as suas escassas reas de cultivo em Portugal, embora em Espanha seja uma das forrageiras mais cultivadas, com cerca de duzentos e cinquenta mil hectares. A luzerna explorada em geral durante 3 a 5 anos, com vrios cortes por ano, menor nmero nas regies de Inverno mais frio e prolongado, podendo fornecer apenas 3 a 5 cortes de Maio/Junho a Setembro, ou maior nmero, 7 a 9 cortes anuais nas regies de Inverno ameno do litoral Sul, em condies de regadio. A intensidade de explorao da luzerna, atravs do nmero ou ritmo de cortes e do estado de desenvolvimento em que so realizados, afecta a produo, o valor nutritivo e a persistncia da cultura. Menor nmero de cortes realizados em estado mais avanado (mdia ou plena florao p. ex.) permite maior produo de biomassa e maior persistncia/perenidade da cultura, mas inferior valor nutritivo da produo. Inversamente em maior nmero de cortes, em estado de desenvolvimento mais precoce (abotoamento ou incio da florao), permite mais elevado valor nutritivo e qualidade da forragem, o que s possvel sem comprometer muito a perenidade da cultura com as variedades tipicamente mediterrnicas, sem dormncia invernal e com melhor capacidade de recuperao aps corte. 18

O luzernal pode ser estabelecido com sementeiras a lano ou linhas espaadas de 15-20cm, ou mesmo em sementeira directa, com densidades de 12 a 25kg/ha, sendo os valores mais elevados quando se recear escassez de gua para a emergncia, ou ataque de inimigos s jovens plntulas. A sementeira deve ser feita a pouca profundidade, 1-2cm conforme os solos, havendo vantagens em rolar para melhor aconchegar a terra semente. A sementeira pode ser feita no final do Vero - incio do Outono (Setembro/incio de Outubro), ou no final do Inverno incio da Primavera (Maro/Abril), sendo em geral as sementeiras de Outono menos susceptveis competio pelas infestantes. A cultura da luzerna apresenta razovel susceptibilidade s infestantes, em particular na fase de estabelecimento e nos perodos anuais de repouso de Inverno, havendo um leque de herbicidas susceptveis de utilizao em diferentes fases e para diferentes tipos de infestantes. As medidas culturais, como sejam a preparao do solo para a sementeira, o ritmo de cortes e eventuais cortes de limpeza no estabelecimento ou no final do Inverno podem ser suficientes para o controlo de infestantes. Embora mais frequentemente seja cultivada estreme, pela dificuldade de conciliar ritmos de crescimento e corte, a luzerna pode ser consociada com gramneas como sejam a Dactylis glomerata e a Festuca arundinacea. Em solos pouco profundos ou medianamente providos a adubao de fundo poder incorporar 300-400kg/ha de K2O e as coberturas anuais 150-200kg/ha. O risco de competio das infestantes justifica tambm uma pequena adubao azotada sementeira (20-30kg de Azoto/ha) caso o solo disponha de pouco Azoto mineral nessa fase, ou a sementeira se realize sobre o tarde de Outono. Embora com aprecivel resistncia seca, para obter boas produes a luzerna dever ser convenientemente regada, pelo que so previsveis, ao longo da estao de crescimento, regas de Abril/Maio a Setembro/Outubro. A principal utilizao da luzerna o feno, embora haja que adoptar precaues e procedimentos que minimizem o risco de queda da folha e consequentes perdas do valor nutritivo. A ensilagem possvel e por vezes adoptada especialmente no primeiro corte da estao de crescimento, sendo indispensvel utilizar conservantes ou realizar pr-fenao, quer para conservao em silos horizontais, quer em grandes fardos redondos plastificados. A luzerna pode ainda ser utilizada para cortes em verde, pastoreada, de preferncia com pastoreio rotacional ou racionado, ou com variedades adaptas ao pisoteio, e ainda desidratada em instalaes prprias. A luzerna destaca-se pelo seu elevado valor proteico, sendo uma forragem de caractersticas complementares do milho silagem, mas os seus valores de digestibilidade e ingesto podem ser afectados quer pelo mais avanado estado de maturao aquando do corte, quer pelas perdas nos processos de conservao. Colheita e conservao das forragens A possibilidade de se proceder fenao, desidratao e ensilagem constitui um dos mais importantes recursos ao alcance do agricultor, sempre que a produo das forrageiras que cultivou superior capacidade de consumo, pelos animais, das forragens no estado verde. 19

Nas exploraes de tipo familiar e, tambm, nas que j possuem uma certa dimenso, a fenao e a ensilagem so os mtodos mais utilizadas. Na realidade, estes mtodos esto mais ao alcance dos pequenos agricultores do que o processo da desidratao, que obriga a instalaes dispendiosas e exige consumos de energia somente viveis para grandes exploraes pecurias onde no se discutem os meios para se conseguir a mxima eficincia alimentar das forragens destinadas aos gados. A fenao De todos os mtodos adoptados para a conservao de forragens, a fenao o de uso mais geral devido simplicidade das operaes e economia de mo-deobra. Considerando mesmo o facto de em certas pocas do ano o clima (chuva, humidade e orvalhos) dificultar a secagem da forragem, este mtodo no deixa de possuir vantagens considerveis para qualquer criador de gado. Existem espcies forrageiras de difcil fenao, sobretudo em virtude da acentuada grossura dos colmos (caules) e da elevada percentagem de gua que entre na sua composio. No entanto, pode-se dizer que para todas as espcies de gramneas e de leguminosas de pasto a fenao um mtodo de fcil aplicao. Identicamente ao que acontece com a desidratao ou a ensilagem da forragem, para a fenao h que ter-se em conta que as gramneas so mais palatveis e digestveis antes do incio da florao do que na fase de plena ecloso floral. J o mesmo no sucede com as leguminosas forrageiras, que so mais saudveis e nutritivas no decurso da mxima florao. Nas gramneas os valores de vitaminas e energia tambm so maiores antes da florao. No entanto recomenda-se que o corte das gramneas nunca seja realizado antes da florao, a no ser por necessidade extrema para se dispor de forragem para a alimentao dos animais. Procedendo-se assim o que se poder perder em valor nutritivo ser bem compensado em volume de produo. Para o corte da forragem existem dois momentos, que admitem o avano ou o atraso de alguns dias conforme a ocorrncia do clima. Assim, o corte deve ter lugar desde o incio da florao at que a planta atinja a fase de plena ecloso floral. Se no for possvel efectuar o corte nessa fase, a operao deve realizar-se sem demora quando a gramnea esteja no mximo de emisso de flores, se houver qualquer atraso, medida que progride o desenvolvimento da planta registam-se perdas progressivamente maiores de protenas nutrientes alm da massa verde se tornar menos palatvel e cada vez menos indigesta. Com o progresso do envelhecimento os colmos das gramneas forrageiras lenhificam-se e, por isso, tornam-se mais duros. Por sua vez, nas leguminosas verifica-se a queda de uma grande quantidade de folhas, os rgos da planta que contm mais elevado valor nutritivo. Por vezes a demora no corte justifica-se pela necessidade de ultrapassar um perodo chuvoso ou de elevados valores de humidade atmosfrica, facto que no prejudica de modo sensvel a forragem desde que o atraso no exceda os limites da florao como j foi referido anteriormente. As chuvas, o nevoeiro e o orvalho so dos factores que mais prejudicam a boa fenao. Eles obrigam a que, tanto quanto possvel, se procure adiantar, por meio de volteadura, o processo da secagem. Evitam-se assim perdas de clorofila, seguidas de outros princpios nutritivos, que provocam o desaparecimento da tonalidade verde, evidncia de uma boa fenao e responsvel pelo aroma 20

caracterstico do feno. Quando este adquire a tonalidade amarelada ou cor de palha j so bastante elevadas as perdas de princpios nutritivos. No feno obtido sob as condies mais favorveis, o valor biolgico pode encontrar-se reduzido de 25 a 30% em relao ao que caracterizava a forragem no estado verde. As perdas por atrasos e aces devidas humidade excessiva chegam a atingir os 50%. Se o processo de secagem for muito demorado devido incidncia de condies adversas, incluindo a ocorrncia de chuvas, o valor nutritivo, em relao forragem verde inicial pode reduzir-se em 65%. Durante o processo da fenao apesar de se verificar importantes perdas de provitaminas, vitaminas e outros princpios nutritivos, verifica-se tambm considerveis acrscimos de vitamina D devido aco da radiao solar. As voltas que periodicamente se do forragem imprimem maior rapidez ao processo de fenao. Desde h alguns anos, a colheita do feno realizada por meios mecnicos, mesmo nas mini-exploraes, por meio de mquinas enfardadeiras apropriadas nas quais, por efeito de presso, a conservao de forragem pode ser mais prolongada e as perdas sofridas so menores em relao ao que se verifica quando a colheita e a conservao so executadas pelos mtodos tradicionais. Por outro lado, e com especial incidncia nas leguminosas, quando a manipulao tem lugar em dias quentes de Vero e o enfardamento se realiza com a forragem j em avanado estado de secura podem perder-se certos princpios nutritivos sobretudo devido perda de uma quantidade considervel de folha. Seja qual for o mtodo, a colheita da forragem deve ser feita pela manh, no decurso do Vero e, de tarde, na Primavera e no Outono. Quanto ao acondicionamento em fardos deve ter-se em ateno que a forragem contm uma razovel quantidade de gua, o que pode originar fermentaes inconvenientes no caso de se proceder imediatamente ao armazenamento. Esta situao pode ser evitada, caso o permita a estabilidade do tempo, desde que os fardos sejam deixados, em posio vertical, trs ou quatro dias em pleno campo. Ficam criadas deste modo as condies para a evaporao de uma maior quantidade de gua contida na biomassa, contribuindo-se para que se no alterem as qualidades organolpticas da forragem. O feno recente no deve ser fornecido de imediato ao gado, sobretudo tratandose de espcies leguminosas forrageiras, em virtude de poder provocar certos transtornos intestinais. Convm aguardar-se pelo menos algumas semanas. A substituio pelo feno dos alimentos que vinham sendo dados deve ser realizada gradualmente e no de modo brusco. Quando armazenado, o feno vai perdendo diversos princpios nutritivos em virtude de sofrer oxidaes e desintegraes provocadas ao longo do tempo por vrios microorganismos. Estas alteraes reflectem-se na perda da digestibilidade. por este motivo que o feno nunca deve conservar-se de um ano para o outro. Embora, geralmente, o objectivo pretendido com a preparao do feno seja o de se poder dispor de um alimento nutritivo e apreciado pelo gado durante o perodo crtico do Inverno e at se desenvolverem as forragens verdes da Primavera, o consumo do produto deve ter lugar no mesmo ano em que se procedeu sua preparao. Apesar das perdas sofridas no decurso da fenao, impossveis de evitar desde que se deseja um grau de dissecao adequado, o produto final obtido mais nutritivo do que a massa verde de que derivou, embora menos palatvel e digestvel para o gado equino e, em muitos casos, tambm pelos ruminantes. 21

Contrariamente ao que costuma suceder com as forragens verdes, o feno pode ser dado ao gado em todas as pocas do ano, pois no existe o perigo de causar quaisquer perturbaes no organismo animal. A desidratao A desidratao artificial das forragens tem-se imposto cada vez com maior amplitude nos pases onde, sob o aspecto climtico, predominam os cus muito nublados e ambientes com elevado grau de humidade, condies que tornam bastante difcil o xito na fenao. A forragem desidratada mais concentrada do que a ensilada. Transformada em farinha um alimento apreciado por todos os animais domsticos a evidenciar boas condies para poder utilizar-se em substituio de outro tipo de alimentos muito concentrados. Na Pennsula Ibrica so ainda muito escassas as instalaes para a desidratao da forragem de luzerna, a nica que, de momento, interessa verdadeiramente. A farinha de luzerna que em geral aparece no mercado no provm de operaes de desidratao artificial mas sim de fenao. O valor nutritivo da farinha obtida do feno muito inferior ao da resultante do produto desidratado. Para a desidratao da forragem necessrio dispor-se de uma instalao bastante dispendiosa e, portanto, s ao alcance de cooperativas ou de empresas industriais dedicadas ao fabrico de alimentos para animais. O equipamento para a finalidade referida no recomendvel para as exploraes pecurias de regular dimenso (como as existentes em Portugal e Espanha) em virtude de exigir elevado dispndio de capital. No entanto so muitos os criadores de gado franceses interessados pela instalao PROMIL, tipo S. M. 600, que possui as seguintes caractersticas principais: -Capacidade de evaporao de gua2200 litros/hora -Consumo de gasleo...200kg/hora -Consumo de energia elctrica.150kw/hora Ao custo da instalao e ao consumo de energia deve ainda somar-se os encargos com a mo-de-obra e com o transporte da forragem desde o campo at fbrica. Contudo, considerando a capacidade de produo obtida -se de opinio que o rendimento econmico da instalao no ser muito satisfatrio no nosso clima, cujas caractersticas permitem uma regular fenao. Em comparao com a fenao e a ensilagem, a desidratao da forragem tem como vantagem a eliminao das perdas de caroteno, vitaminas e substncias nutritivas. No entanto, cremos que a desidratao s de recomendar naqueles pases que, em virtude de dificuldades climatricas na preparao de fenos, necessitam de recorrer, para a conservao da forragem, ensilagem, mtodo nem sempre isento de problemas. Na realidade o leite das vacas alimentadas com a forragem ensilada influencia negativamente o fabrico de queijos duros provocando graves prejuzos de todos os tipos. A ensilagem A ensilagem um processo de conservao de forragens por via hmida, em que as plantas morrem por asfixia e em que a conservao assegurada por fermentaes que conduzem a uma acidificao da massa ensilada. Na evoluo do processo de ensilagem, aps o fecho do silo, podemos distinguir duas fases: 22

Fase aerbia fase que dura enquanto houver oxignio no silo e que convm ser reduzida ao mnimo. A forragem recm-cortada continua a respirar, havendo consumo de acares nessa respirao. Na prtica, consegue-se encurtar esta fase fazendo-se um bom calcamento e fechando bem e rapidamente o silo. Fase anaerbia fase em que todo o oxignio do silo se esgotou, havendo agora fermentaes ao abrigo do ar. Nestas fermentaes os acares so fermentados e transformados em cidos (lctico, actico, propinico, butrico) e outras substncias (lcool, dixido de carbono, etc.). As protenas so tambm atacadas e decompostas reduzindo-se a qualidade das protenas verdadeiras. No incio da segunda fase as fermentaes so diversas. No entanto, h uma fermentao que interessa que seja predominante entre as outras. a Fermentao Lctica. A predominncia desta fermentao, que transforma os acares em cido lctico, a garantia de conservao da silagem por longo tempo sem alteraes. A presena do cido lctico em grandes quantidades inibe a actividade de micrbios indesejveis, atravs do aumento da acidez. E para haver garantia de uma boa conservao, a acidez ter que se situar abaixo de nvel pH 4. Podemos dizer que h 4 condies necessrias para a obteno de uma boa silagem, sendo elas as seguintes: Ter forragens de boa qualidade Uma forragem de boa qualidade deve satisfazer trs requisitos essenciais: -Ser rica em acares e que sejam libertados rapidamente. A riqueza em acares depende da espcie de plantas e da fase de corte. Assim, as gramneas so mais ricas que as leguminosas e na fase do espigamento que a riqueza em acares mxima. Uma libertao mais rpida dos acares consegue-se com um corte fino da forragem. -Dever ter um determinado teor em matria seca que se dever situar entre os 28-33%. Fora destes valores comeam a surgir maiores dificuldades de conservao: valores muito baixos de matria seca beneficiam a actividade de micrbios indesejveis (fermentao butrica); valores muito elevados de matria seca podem prejudicar o desencadear das fermentaes. -A forragem dever possuir um fraco poder tampo, isto , devem ter fraca resistncia ao aumento da acidez. O poder tampo tanto maior quanto maior for a riqueza da forragem em protenas e em minerais. As leguminosas, em geral, e as gramneas jovens so forragens de elevado poder tampo. Ao contrrio, o milho tem fraco poder tampo e muito rico em acares, o que faz dele uma excelente forragem para ensilar. A rpida extraco de ar do silo a segunda condio para o xito da ensilagem. O objectivo evitar ao mximo a respirao das clulas das plantas ainda vivas, reduzir a actividade dos micrbios aerbios (que actuam na presena do ar) e procurar desencadear o mais rapidamente possvel a fermentao lctica (que s acontece na ausncia de ar). Consegue-se reduzir a presena de ar dentro do silo atravs de: - Corte fino da forragem; - Bom calcamento; - Enchendo rapidamente o silo; 23

- Fechando de imediato e cuidadosamente o silo. Com uma forragem de qualidade para ensilar e com a quantidade de ar dentro do silo reduzida ao mnimo, a fermentao lctica desencadear-se- rapidamente, com formao de grande quantidade de cido lctico e que originar um abaixamento rpido de pH at ao nvel inferior a 4, estando assim garantida a conservao da silagem. Evitar a entrada de terra no silo tambm condio necessria para obteno de um bom resultado pois para alm de reduzir a aceitao da forragem pelos animais, transporta consigo micrbios que originam fermentaes contrrias fermentao lctica e por isso indesejveis. O dimensionamento do silo dever ser feito por forma a que a frente do silo avance pelo menos 10cm por dia. Para as forragens de difcil conservao em silo, porque pobres em acares, possuidoras de baixos teores de matria seca ou ricas em protenas ou minerais (e por isso, com elevado poder tampo), os resultados a obter com a ensilagem directa de matria verde e sem adio de qualquer conservante conduz a resultados muito variveis, podendo ir de m, numa luzerna, a uma silagem boa, num azevm. As tcnicas a que podemos recorrer para melhorar a conservao destas silagens so: Pr-fenao Quando as ervas no tm um teor em matria seca conveniente (pelo menos 25%) recomendvel proceder pr-fenao, que no mais que deixar a erva cortada um dia ou dia e meio (24-36 horas) exposta ao sol e s depois fazer a ensilagem. Com esta tcnica, embora tornando a ensilagem mais dispendiosa, os ganhos em qualidade so grandes a sua conservao melhor e aumentada a sua digestibilidade e a sua ingestibilidade. Adio de conservantes Os conservantes para a silagem so de dois tipos essenciais: os cidos e os no cidos. Os cidos visam baixar rapidamente o pH, eliminando muitos microorganismos mais sensveis acidez e que so indesejveis, deixando assim o caminho mais livre para a fermentao lctica, cujos microorganismos tm mais resistncia acidez. Os conservantes cidos mais usados so base de cido frmico. A sua aplicao dever ser de acordo com as indicaes do fabricante. Os conservantes no cidos visam fundamentalmente favorecer a fermentao lctica relativamente a outras que operam no silo, e so, em muitos casos, produtos aucarados, como os melaos, que tm por objectivo enriquecer a forragem com acares. Os melaos podem utilizar-se na dose de 25-50kg por tonelada de forragem, sendo as doses mais elevadas para as leguminosas. Outro tipo de conservantes no cidos so os fermentos lcticos seleccionados que visam intensificar o arranque da fermentao lctica. 24

Exigncias edafo-climticas das culturas forrageiras Escolher criteriosamente as espcies e variedades para o terreno onde pretendemos instalar a forragem; Preparar bem o terreno de modo a obter uma boa cama para a semente, com a terra bem esmiuada na superfcie e mais compactada em profundidade; Semear de modo a que as sementes fiquem a uma profundidade de cerca de 2cm; Utilizar sementes certificadas; Aplicar as densidades de sementeira recomendadas, no esquecendo que h necessidade em aumentar essa densidade sempre que: - A qualidade da semente deficiente; - O solo est deficientemente preparado; - Prev-se forte infestao de ervas daninhas; - A sementeira realizada tardiamente. Semear na poca mais apropriada para cada zona; Adubar correctamente sementeira e de acordo com a anlise de solo Fazer os cortes na altura mais indicada (incio do espigamento para as gramneas e aboteamento para as leguminosas); Espcies, densidades, durao e utilizao principal dos diferentes tipos de forragens Apresentam-se, de seguida, os diferentes tipos de forragens/pastagens que se consideram de maior interesse para as condies da Regio do Entre Douro e Minho nos sistemas de regadio e de sequeiro. Sistema de Regadio ESPCIES 1- Azevm italiano (estreme) 2- Luzerna (estreme) 3- Trevo violeta (estreme) 4- Azevm italiano * Trevo violeta 5- Luzerna * Festuca alta 6- Luzerna * P de galo 7- Trevo branco * Festuca alta 8- Trevo branco * P de galo 9- Trevo branco * Azevm perene SEMENTE/ ha 20 30 Kg 20 30 Kg 20 30 Kg 15 Kg * 15Kg DURAO 1 2,5 anos 3 5 anos 2 anos 2 anos UTILIZAO Corte, em verde, fenos e silagem " " " " " " " " "

15 20 Kg* 3 5 anos 10 15Kg 15 20 Kg* 7 3 5 anos 12Kg 2 4 Kg* 15 4 6 anos 20Kg 2 4 Kg* 7 4 6 anos 12Kg 2 4 Kg* 15 4 6 anos 20Kg

Pastoreio, corte, feno e silagem " " " Pastoreio (principalmente) (1) " " " (1) " " " (1)

25

Sistema de Sequeiro ESPCIES 1- Trevo branco * Festuca alta

SEMENTE/ ha 2 4 Kg* 15 20Kg

2- Trevo branco * P de galo 2 4 Kg* 7 12Kg 3- Trevo morango * Festuca 3 5 Kg* 15 20 Kg alta 4- Trevo morango * P de 3 5 Kg* 7 12Kg galo 5- Trevo subterrneo * P de 12 18 Kg* 7 12Kg galo 6- Trevo morango * Trevo 2 4 Kg* 1 2Kg* 5 branco * Festuca alta 10 Kg

UTILIZAO Pastoreio (principalmente) (1) 4 6 anos " " " (1) 6 anos ou mais " " " (1) " " " " " " " " " " " " " (1) " (1) " (1)

DURAO 4 6 anos

(1) O facto de se indicar o pastoreio directo como utilizao principal, no invalida que no possam ser utilizados para corte (para verde, feno ou silagem), o que at conveniente a fim de se limpar o prado de infestantes ou manchas sucessivamente rejeitadas pelos animais devido existncia de excrementos, por exemplo. Este corte funcionar como limpeza e regularizao do prado, devendo efectuar-se na Primavera. As razes para a sementeira de plantas melhoradas podem resumir-se em quatro objectivos principais: Obter uma maior produo; Conseguir uma melhor distribuio da produo ao longo do ano; Produzir ervas de maior valor alimentar, e em especial de mais elevada digestibilidade; Permitir um mais rpido recobrimento, proteco e recuperao da fertilidade do solo. A importncia relativa destes objectivos para uma determinada explorao agrcola varivel, dependendo entre outros aspectos do tipo de produo e nvel de exigncia dos animais e do grau de intensificao da produo. H que considerar a possibilidade de numa mesma explorao consagrar reas para a sementeira de pastagens, e outras, em geral de menor aptido produtiva, de melhor vegetao espontnea, mais distanciadas ou menos acessveis, para a explorao em pastoreio da vegetao espontnea, privilegiando a utilizao das pastagens semeadas pelos animais de maiores exigncias nutritivas. GRAMNEAS Fasciculada (sem raiz principal) Oco Estreitas e LEGUMINOSAS Aprumada Mais volumoso Largas (desprendem26

Raiz Caule Folhas

se facilmente quando secas) Valor nutritivo Mais ricas em Mais ricas em energia protenas Necessidades Dispensam quase em Azoto (N) Necessitam de totalmente os adubos adubos azotados azotados Exemplos Milho, sorgo, trigo, aveia, Luzerna, trevos, ervilhacas, cevada, centeio, azevm,feijo, ervilha, tremoo, etc. festuca, etc. Preparao do terreno A preparao do terreno deve ser feita preferencialmente no fim do Vero, de forma a permitir a sementeira s primeiras chuvas de Outono. A mobilizao do solo pode ser feita com diferentes graus de intensidade em ligao com o mtodo de sementeira adoptado, de forma a assegurar um boa cama e contacto entre as sementes e as partculas de solo, favorecendo elevada percentagem e rapidez de emergncia das plntulas. Para estes objectivos pode contribuir a rolagem antes ou aps a sementeira, sendo dispensvel quando a sementeira ocorra em perodo de precipitaes abundantes, devendo-se mesmo de evitar em solos hmidos com risco de formao de uma crosta superfcie (solos argilosos). A mobilizao deve ser de reduzida profundidade e sem reviramento da leiva, atravs de escarificaes ou gradagens, j que em geral, nos nossos solos, a camada superficial concentra bem mais elevada disponibilidade de nutrientes e matria orgnica, situaes em que a mobilizao reduzida permite obter melhor implantao e produo de pastagens base de espcies anuais. A preocupao de reduzir a competio da vegetao espontnea s plantas semeadas nas primeiras fases de desenvolvimento determina que imediatamente antes (sementeira com equipamento que garanta a cobertura da semente) ou logo aps uma sementeira a lano seja feita uma gradagem muito superficial que destro as plntulas espontneas emergidas com as primeiras chuvas. Fertilizao essencial que o agricultor possua um conhecimento, to perfeito quanto possvel, do meio em que ocorrem as reaces e outros fenmenos que conduzem formao de matria orgnica a partir de inorgnica. Se isto acontecer, ele vai poder incorporar no solo, antes de proceder s sementeiras de certas espcies forrageiras, as doses correctas de fertilizantes que auxiliem a obteno de produes mximas de matria orgnica vegetal com elevado valor nutritivo para o animal que a consome. Caso contrrio, corre-se o risco da aplicao de adubos ser feita em excesso ou em doses excessivamente reduzidas o que, no raramente, causa de alteraes mais ou menos acentuadas no metabolismo celular do animal. Os prados plurianuais necessitam que todos os anos lhes sejam repostas as quantidades de nutrientes no solo, medida que eles vo sendo extrados pelas produes do prprio prado. Tal como todos os anos adubamos o milho sementeira, tambm h necessidade de anualmente adubar os prados nos anos que se seguem sementeira, caso contrrio corremos o risco de produzir cada vez menos e ir esgotando o solo em nutrientes. Este esgotamento depender do nvel de fertilidade do solo e da 27

compridas

produo do prado (quanto maior a produo, maior a extraco de nutrientes do solo). O conhecimento do teor actual dos elementos qumicos no solo obtido atravs da realizao de anlises de amostras de terra, nomeadamente para a determinao do pH, da percentagem de calcrio, dos teores em matria orgnica, Fsforo, Potssio assimilvel, Ferro, Magnsio, nitratos, etc. A ignorncia quanto ao estado do solo em elementos nutricionais contribui em larga escala para que cada vez com maior frequncia se verifiquem doenas por carncias nos animais, em consequncia da alimentao de que dispem ser constituda por forragens de composio desequilibrada. Desde que se consiga manter a fertilidade do solo em nvel elevado, por meio de fertilizaes racionais e oportunas, a forragem obtida ir influenciar muito favoravelmente o animal, nomeadamente na criao de imunidade relativa a determinadas enfermidades de ndole bacteriolgica, vrica ou parasitria e, tambm, na intensificao dos mecanismos de defesa geral do organismo contra o ataque de agentes externos. De seguida so descritas as vrias aces desempenhadas pelos macronutrientes nas forragens (carncia e excesso) e o seu efeito nos animais. Azoto Este elemento a base da nutrio das plantas e um dos componentes mais importantes da matria orgnica. O Azoto o elemento fertilizante que maior influncia exerce no desenvolvimento das plantas. No entanto, a sua aco s possibilita a obteno do mximo rendimento quando em presena do Fsforo e do Potssio em quantidades equilibradas. A incorporao de quantidades excessivas de Azoto nos prados, sobretudo nos artificiais, se por um lado promove o desenvolvimento das plantas por outro lado provoca o rpido esgotamento de outros elementos fertilizantes que tambm se integram nas fontes naturais do solo. Este enfraquecimento em alguns nutrientes minerais impede que a planta elabore uma matria orgnica de composio equilibrada, o que tem como resultado o aparecimento de doenas fisiolgicas, nos animais que se alimentam de pastos ou forragens com essas carncias. Alm disso se a quantidade exagerada de Azoto no for acompanhada por incorporaes equilibradas de Fsforo e Potssio pode ocorrer uma deficincia de cobre no solo e consequentemente nos pastos, o que se repercutir no sangue dos animais. O Azoto quando aplicado em composies adequadas nos solos destinados cultura de gramneas de pasto, alm de promover o desenvolvimento das plantas, aumenta o teor azotado da forragem e melhora o nvel biolgico da protena bruta do alimento e, por isso, o seu valor nutritivo. As leguminosas componentes de numerosos prados artificiais podem prescindir das adubaes azotadas em virtude das necessidades de Azoto serem satisfeitas pelas bactrias radicculas que vivem em simbiose nas razes das plantas dessas famlias. A incorporao no solo de quantidades excessivas de fertilizantes azotados alm de causar alteraes no equilbrio nutritivo das plantas pode originar nos prados a tetania das ervas(contraces musculares), de consequncias fatais para o gado. Fsforo 28

Depois do Azoto, o Fsforo figura entre os elementos de maior importncia para o vigor e para o desenvolvimento das plantas. Geralmente, encontra-se nos solos em quantidades muito variveis e sob formas muito complexas, actuando como uma substncia de reserva. O Fsforo incorporado no solo como adubo, sob a forma de fosfatos e superfosfatos, pode perder eficcia devido ao seu grande poder de fixao, razo porque a planta s aproveita uma parte. Por este motivo, a quantidade de fertilizante a aplicar deve ser superior efectivamente necessria para se conseguir o desenvolvimento ptimo da cultura. Quanto maior for o pH do solo mais alto vai ser o poder de fixao do cido fosfrico no solo. Por outro lado medida que o pH desce e se verifica o aumento progressivo da acidez do solo, a fixao do cido fosfrico vai sendo menor, o que torna mais facilmente assimilvel pela planta. O Fsforo desempenha uma funo bsica na formao de matria orgnica, sendo de importncia primordial para todas as plantas forrageiras. Quando este fertilizante est ausente no solo de cultura, a realizao da fotossntese, ou formao de clorofila, torna-se muito difcil pela falta de mobilidade suficiente das substncias no organismo vegetal. Na verdade, o Fsforo a fora motriz impulsionadora das correntes de seiva que possibilitam a transferncia de reservas e promovem o desenvolvimento e crescimento da planta. As forragens de gramneas e de leguminosas possuem maior riqueza em Fsforo nas fases antes da florao. Todavia, verifica-se um decrscimo sempre que a forragem submetida fenao ou ensilagem. Segundo a opinio de diversos autores, nos animais alimentados base de pastos ou forragens sobretudo deficientes em Fsforo podem revelar-se irregularidades no cio das fmeas, reduo da secreo de leite nas fmeas lactantes, e esterilidade temporria nos machos e nas fmeas. Potssio Embora o Potssio se encontre geralmente em todos os solos, os de textura argilosa (compacta) so mais ricos neste elemento do que os arenosos (soltos) no entanto a sua assimilao pelas plantas muito difcil nas terras com elevado provimento de argila (solos pesados) apesar de serem as que maior quantidade possuem deste elemento. A presena do Potssio imprescindvel visto tratar-se de um dos elementos bsicos para a elaborao de matria orgnica. Alm de estar na origem de diversas enfermidades, a deficincia em Potssio traduz-se pela falta de resistncia geral da planta e pela reduo do seu ritmo de desenvolvimento. Na verdade, a presena deste elemento em excesso ou em deficincia uma das causas mais fceis de alteraes no equilbrio nutritivo, podendo mesmo provocar carncias de outros elementos. Em geral verifica-se que as forragens verdes de leguminosas so mais ricas em Potssio do que as de gramneas ou as submetidas a fenao. Tal como o Fsforo, a assimilao do Potssio pela planta contribui para a melhoria da resistncia dos tecidos vegetais, tornando-os menos sensveis aos efeitos das secas, ao frio e aos ataques dos parasitas. Quantidades anormais de Potssio nas pastagens naturais ou nos pastos artificiais, temporrios ou permanentes, podem provocar a tetania das ervas, sobretudo nos casos em que os animais no dispem de sal para contrabalanar esse excesso. 29

Enxofre Desde h alguns anos que, tanto cientificamente como na prtica, o Enxofre reconhecido como um elemento essencial para a nutrio e imprescindvel para a respirao dos vegetais. Encontra-se nos solos sob as formas de sulfuretos e sulfatos. A sua carncia e a existncia sob formas no assimilveis revelada pelo amarelecimento, caracterstico e inconfundvel, da planta, seguida pela perda progressivamente mais acentuada da clorofila. As carncias de Enxofre so pouco frequentes nas terras beneficiadas com fertilizaes peridicas base de sulfatos ou superfosfatos. Estes compostos qumicos contm quantidades considerveis de Enxofre assimilvel pelas plantas. A aplicao destes tipos de adubos recomendvel nas terras alcalinas mas contra-indicada nas de reaco cida. Desconhecem-se os sintomas nos animais alimentados com pastos e forragens com deficincia de Enxofre, pois este elemento s tem sido detectado na pelagem. Clcio Todos os solos possuem quantidades maiores ou menores de Clcio como elemento componente de diversas combinaes qumicas (carbonatos, sulfatos, cloretos, fosfatos, etc.). Todos os vegetais necessitam deste elemento para crescerem e se desenvolverem. Nas gramneas a deficincia neste elemento revelada pelo engrossamento dos colmos e reduo do comprimento dos entrens o que decresce o valor nutritivo das forragens e as torna menos assimilveis pelo organismo animal. So contudo, as razes das leguminosas que consomem, quantidades muito maiores de Clcio do que as gramneas ou as plantas de tubrculo. A deficincia de Clcio nas pastagens e forragens alm de causar dificuldades no desenvolvimento das plantas, reduz a resistncia destas contra as geadas de Inverno e contra as secas dos dias quentes de Vero. sabido que o Clcio o elemento-base do esqueleto sseo do animal e, em certa medida, tambm dos restantes tecidos. Este facto constitui mais uma razo de peso para que os alimentos fornecidos ao animal contenham este elemento nas quantidades disponveis necessrias. Enquanto no alcana a idade adulta, o animal precisa de uma alimentao rica em Clcio, o que possibilita a formao do esqueleto sseo em condies ptimas. Na fase adulta, as necessidades de Clcio reduzem-se praticamente manuteno do poder de regenerao dos ossos j formados e completamente desenvolvidos. Estes factos explicam a vantagem das incorporaes de correctivos calcrios ou a aplicao de fertilizantes de reaco alcalina nos solos relativamente cidos (com baixos valores de pH). Procedendo deste modo assegura-se que os pastos e as forragens produzidas nesses terrenos no transmitam ao gado deficincias em Clcio. O animal que se alimenta de pastos ou forragens deficientes neste elemento apresenta sinais de raquitismo em virtude de ingerir produtos desequilibrados sob o aspecto biolgico. As leguminosas, sobretudo a luzerna e os trevos, so grandes consumidores de Clcio e, por isso, as forragens verdes e fenos provenientes destas espcies so ricas neste elemento. J o mesmo no sucede com os pastos e forragens de gramneas. O seu mais fraco teor em Clcio torna recomendvel o fornecimento 30

aos animais de suplementos alimentares ricos neste elemento, assegurando, assim, a constituio de esqueletos fortes e com grande resistncia a fracturas causadas por acidentes. Magnsio Embora em quantidades muito variveis, o Magnsio ocorre em todos os solos, sendo os solos calcrios e argilosos os que possuem maiores quantidades de Magnsio e os de reaco cida os mais pobres. A aco deste elemento no desenvolvimento das plantas incide sobretudo na formao de clorofila, em cuja composio entra em considervel percentagem. A carncia na planta verifica-se pelo decrscimo da resistncia geral: os caules tornam-se quebradios e as folhas vo perdendo a colorao normal. So relativamente frequentes as doenas no gado alimentado com forragens deficientes em Magnsio. No raras vezes os animais aparentam boa sade mas sofrem alteraes metablicas nas clulas que constituem o aparelho reprodutivo, o que pode conduzir esterilidade. O gado bovino particularmente sensvel a esta doena fisiolgica. Ao afectar o ovrio das vacas a carncia d lugar a frequentes abortos e a nados-mortos. Os recm-nascidos sobreviventes evidenciam uma debilidade extrema. No entanto, os touros reprodutores alimentados com pastos e forragens deficientes em Magnsio no revelam mais do que tendncia para uma esterilidade mais ou menos passageira. A fertilizao destas pastagens uma tcnica que permite elevadas respostas da produo. Particular destaque merece a correco calcria da acidez dos solos, dado que uma situao frequente entre ns, embora existam espcies e cultivares de leguminosas anuais com adaptao e tolerncia acidez do solo, assim como leguminosas vivazes. A acidez do solo tem tendncia a agravar-se em pastagens baseadas em leguminosas, esta circunstncia refora a necessidade de ao estabelecer uma pastagem em sequeiro se procure assegurar partida um pH mais favorvel a uma maior diversidade de leguminosas, reduzindo os riscos de toxicidade de alumnio e mangans, e melhorando a disponibilidade de Fsforo do solo, e por outro lado assegurar uma boa presena de gramneas, de modo a remover o excesso de Azoto que contribui para a acidificao. Os valores da correco calcria, embora dependam das caractersticas dos solos que devero para o efeito ser analisados, tm como indicao de carcter geral a correco dos solos de pH 5,5. Destaque merece tambm o Fsforo, o principal nutriente na fertilizao destas pastagens, registando-se respostas muito significativas adubao fosfatada que se recomenda ser feita com superfosfato 18% pelo facto deste adubo conter elevada percentagem de Enxofre, elemento que juntamente com o Fsforo se revelou de grande importncia no estabelecimento destas pastagens em alguns dos nossos solos. A adubao fosfatada dever ser feita em fundo com valores na ordem de 50-60 unidades de P2O5 em solos com teores mdios de Fsforo assimilvel, com valores mais elevados (60-90 unidades) no caso dos respectivos teores serem baixos ou muito baixos, sendo necessrio proceder a coberturas anuais nos anos seguintes com 25-40 unidades, valores que com o decorrer dos anos podem ser progressivamente reduzidos. Fertilizao 31

A fertilizao, dependendo dos resultados das anlises do solo, dever ser mais substancial do que no caso de sequeiro, dadas as mais elevadas produes, tendo em conta que se podem realizar cortes para conservao, que os animais em pastoreio podem no permanecer todo o tempo na pastagem sendo recolhidos, que a eficincia do pastoreio tem grande influncia assim como a participao relativa das leguminosas. Em face da maior importncia das gramneas neste tipo de pastagens, dever ser feita adubao azotada sementeira, com valores da ordem de 30-50 kg/ha de Azoto, excepto se os resduos de Azoto mineral no solo forem apreciveis. Em solos com teores baixos a mdios de Fsforo e Potssio assimilveis os valores da adubao de fundo devero ser na ordem de 100kg/ha de P 2O5 e de 150-200kg/ha de K2O. A acidez dever ser corrigida quando os valores de pH forem inferiores a 5,5. A fertilizao anual deve contemplar a adubao de Potssio e Fsforo, devendo os valores de adubao, em pastagens cujas anlises ao solo referem baixos teores nestes elementos e aproveitamento apenas para pastoreio, ser na ordem de 50 a 70 unidades de P2O5 e 70 a 90 unidades de K2O por ano. Embora a nutrio azotada destas pastagens se deva basear na fixao simbitica de Azoto pelas leguminosas, a adubao estratgica em perodos do ano em que a potencialidade de crescimento das gramneas muito superior das leguminosas, pode permitir acrscimos significativos da produo e, por outro lado, deve ser utilizada na gesto da competio das componentes gramneas e leguminosas, de forma a manter os equilbrios desejados. manifestamente o caso da adubao nos fins de Inverno, incio de Primavera, com valores que em geral no devero exceder as 100 (Kg /ha ) unidades de Azoto por ano. Sementeira e misturas a semear A sementeira destas pastagens pode ser realizada quer no fim do Vero/princpio do Outono (Setembro/Outubro) quer no final do Inverno/incio da Primavera (Maro/Abril). A escolha deve ser feita atendendo libertao atempada do terreno pela cultura anterior, de forma a permitir a sementeira, germinao e desenvolvimento inicial das plntulas a temperaturas mdias dirias da ordem de 12 a 18C, evitando na primeira poca referida as geadas e os perodos de frio e excesso de gua no solo e na poca primaveril os perodos de elevadas temperaturas que podem ocorrer se houver atrasos nas sementeiras. A sementeira deve ser feita com um semeador de rolos prprio para sementes midas e a profundidade de sementeira d