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INTRODUOA acelerada degradao dos recursos naturais compromete a qualidade de vida das atuais e futuras geraes e, por outro lado, leva a sociedade a buscar modelos alternativos que harmonizem o desenvolvimento econmico com a indispensvel proteo do meio ambiente. A crescente preferncia dos consumidores por produtos considerados menos agressivos ao meio ambiente impe um desafio ao setor produtivo, influindo fortemente na competitividade das empresas. O que se apresenta neste novo cenrio um indicativo de que a proteo ambiental est deixando de ser considerada responsabilidade exclusiva dos rgos oficiais de meio ambiente, passando a ser compartilhada por todos os setores da sociedade. Adequando-se tendncia mundial, e cientes da sua responsabilidade frente s questes ambientais, algumas instituies de financiamento, dentre as quais o Banco do Nordeste, assinaram a Carta de Princpios do Desenvolvimento Sustentvel no mbito do Protocolo Verde, na qual so orientadas diretrizes e estratgias para a incorporao da varivel ambiental no processo de concesso e gesto de crdito oficial e benefcios fiscais s atividades produtivas. Este Manual o resultado de uma etapa de trabalho desenvolvida pelo Banco do Nordeste. Nele procurou-se disponibilizar um instrumento para suprir a carncia de informaes sobre os aspectos ambientais de atividades produtivas, ao mesmo tempo em que foram desenvolvidos e implementados mecanismos operacionais para a observncia da varivel ambiental no seu processo de concesso e gesto de crdito. O trabalho foi produzido por uma equipe de consultores contratados no mbito do Convnio BRA/95/002, firmado com o Instituto Interamericano de cooperao para a Agricultura (IICA), contando, ainda, com a participao de diversos tcnicos do Banco do Nordeste que colaboraram com a redao e reviso tcnica do Manual. Para a elaborao do contedo aqui exposto, foram consultados vrios documentos sobre avaliao de impactos ambientais existentes em nvel mundial, principalmente o Guia de Proteo Ambiental do Ministrio Federal de Cooperao1

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Econmica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) e o Livro de Consulta para Avaliao Ambiental do Banco Mundial. A concepo do Manual visa promover a informao tcnica o mais acessvel possvel. Neste sentido encontram-se em cada um dos temas abordados, os seguintes tpicos: a ) Descrio da atividade sob o enfoque ambiental: introduz-se a atividade abordando as principais caractersticas ambientais. b) Os potenciais impactos ambientais negativos: destacam-se os principais impactos ambientais negativos da atividade, buscando interpret-los de modo simples e prtico. c ) Recomendaes de medidas atenuantes: procura informar as principais medidas que podem ser adotadas para mitigar e/ou compensar os impactos ambientais negativos gerados pela atividade. d) Referncias para anlise ambiental da atividade: busca-se referenciar a atividade num contexto mais amplo, indicando os principais aspectos que devem ser considerados na anlise ambiental. e ) Quadro-resumo: o objetivo do quadro-resumo dispor de maneira fcil e acessvel os impactos ambientais negativos, relacionando-os com as medidas atenuantes a serem adotadas para minimizar ou compensar o efeito destes impactos, assim como apresentar as principais leis ambientais federais aplicveis a cada atividade. Para a seleo dos temas apresentados neste Manual foram consideradas as atividades que mais se desenvolvem ou apresentam potencial para desenvolvimento na Regio Nordeste, porm, sem a pretenso de contemplar a totalidade das atividades produtivas ou de esgotar o assunto sobre os temas abordados. Certamente, muito h que ser acrescentado para o aprimoramento deste trabalho, dadas a diversidade e abrangncia do tema, e esperam-se sugestes de todos aqueles que queiram contribuir para a o aperfeioamento tcnico deste manual em suas prximas edies. Finalmente, cabe salientar que este documento tem o objetivo de somar esforos para a contruo coletiva de uma sociedade verdadeiramente sustentvel.

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AGROPECURIAPara melhor visualizao do assunto, este Manual subdivide as atividades Agropecurias em dois blocos: o da produo vegetal e o da produo animal. Na Produo Vegetal so tratados aspectos ambientais das atividades agrcolas voltadas para a produo de alimentos e explorao econmica de produtos florestais. Para o desenvolvimento dessas atividades, pressupem-se aes de planejamento que envolvem utilizao de plano de manejo florestal sustentado, reflorestamento ou supresso da cobertura vegetal. Na Produo Animal analisam-se aspectos ambientais relacionados s atividades de bovinocultura, suinocultura, caprino-ovinocultura, piscicultura e outros ramos do manejo animal. Na descrio dos impactos ambientais negativos da produo vegetal e da produo animal so examinados, em conjunto, os impactos negativos da utilizao de algumas tcnicas agrcolas e de produtos veterinrios, respectivamente. Porm, antes de abordar os aspectos ambientais das atividades agropecurias deve-se ressaltar alguns pontos a serem observados em relao propriedade rural. 1.1 Aspectos ambientais a serem obser vados na propriedade rural

CAPTULO 1

Os aspectos destacados a seguir devem ser observados na propriedade rural, tendo em vista a sua importncia na sustentabilidade da produo e na conservao e preservao dos recursos naturais:

A Reserva Legal, de acordo com o Cdigo Florestal Brasileiro, deve ser entendida como a rea de, no mnimo, 20% de cada propriedade, onde no permitido o corte raso, devendo ser averbada margem da inscrio de matrcula do imvel, no registro de imveis competente, sendo vedada a alterao de sua destinao nos casos de transmisso a qualquer ttulo, ou de desmembramento3

Reserva Legal

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da rea. Para algumas regies este mnimo eleva-se para 50% e at para 80%, quando a cobertura vegetal se constitui de unidades fitofisionmicas importantes, como o caso da Regio da Amaznia Legal, que inclui par te do Estado do Maranho a oeste do meridiano 44 W, de acordo com o determinado na Medida Provisria n. 1.511-2 de 19/09/96. A inexistncia da Reserva Legal, alm do comprometimento ambiental da propriedade, poder acarretar problemas jurdicos ao proprietrio e ao agente financeiro credor, quando for o caso, uma vez que este co-responsvel pelo cumprimento da legislao ambiental vigente (autorizao de desmatamento, licenciamento ambiental, aprovao de Plano de Manejo Florestal Sustentado etc.), cabendo quele a obrigatoriedade da recomposio do percentual mnimo exigido, de acordo com o estabelecido pelo Cdigo Florestal Brasileiro, Lei Federal 4.771 de 15/09/65, alterado pela Lei Federal 7.803 de 18/07/89 e pela Lei Federal 8.171 de 17/01/91, da Poltica Agrcola. Deve-se destacar que a Lei Federal 7.803, de 18/07/89, abre uma alternativa para pequenas propriedades com reas de 20 a 50 hectares, onde podem ser computados para fins de reserva legal todos os macios florestais existentes, inclusive os exticos e os formados por espcies frutferas. A Lei n. 8.171, de 17/01/91, que dispe sobre a poltica agrcola, considerando as dificuldades encontradas pelos agricultores para cumprir a exigncia de manuteno da reserva florestal legal da propriedade, estabelece, no seu artigo 99, a possibilidade de uma recomposio gradual da cobertura vegetal original, mediante o plantio, em cada ano, a partir do ano seguinte ao de promulgao desta Lei, de pelo menos um trinta avos da rea total necessria para complementar a referida Reserva. Alm dos aspectos legais, quando se trata de garantir a recuperao da Reserva Legal, outras questes so importantes, entre elas: a definio de critrios ambientais mnimos para execuo de projetos de recuperao da Reserva Legal como, por exemplo, o plantio de espcies nativas da regio e a localizao adequada no ecossistema da propriedade; o incentivo pesquisa cientfica, na busca das espcies nativas e nas formas de manejo adequadas para o plantio; a disponibilidade de assistncia tcnica, mudas e/ou sementes para o agricultor que deseja recuperar sua Reserva Legal; o acompanhamento e a fiscalizao do processo de recuperao da Reserva Legal, por parte dos rgos ambientais e4

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o planejamento regional das aes de recuperao, segundo as necessidades ambientais da regio.

reas de Preservao Permanente, de acordo com o Cdigo Florestal: (Lei 4.771/65), so florestas e demais formas de vegetao natural, situadas: (i) ao longo dos rios ou de qualquer curso dgua desde o seu nvel mais alto em faixa marginal com largura mnima de 30 a 600 metros, variando em funo da largura do curso dgua; (ii) ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dguas naturais ou artificiais; (iii) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos dgua; (iv) no topo de morros, montes, montanhas e serras; (v) nas encostas ou parte destas com declividade superior a 45, equivalente a 100% na linha de maior declive; (vi) nas restingas como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; (vii) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas e (vii) em altitudes superiores a 1.800m, qualquer que seja a vegetao. Deve-se observar, ainda, que no permitida a derrubada de florestas situadas em reas de inclinao entre 25 e 45, s sendo nelas toleradas a extrao de toros quando em regime de utilizao racional, que visem a rendimentos permanentes, mediante plano de manejo florestal sustentado, aprovado pelo rgo licenciador competente. Em suma, alm das faixas marginais dos rios, de outros cursos dgua e dos locais de declives acentuados, devem ser consideradas como reas de Preservao Permanente aquelas regies cuja vegetao natural se destine a atenuar os efeitos da eroso das terras, fixao de dunas, estabilizao de mangues, formao de faixas de proteo de rodovias e ferrovias, proteo de stios de excepcional beleza ou de valor cientfico ou histrico, asilo de exemplares da fauna ou flora ameaadas de extino, alm da manuteno de ambientes necessrios vida das populaes silvcolas e a assegurar condies de bemestar pblico (Art. 3 Lei Federal 4771/65). Na forma dos Art. (s). 1 e 3 da Resoluo COMANA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) n. 004/85 so consideradas Reservas Ecolgicas as formaes florsticas, as reas de florestas de preservao permanente e demais formas de vegetao natural situadas:5

reas de Preservao Permanente / Reservas Ecolgicas

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a) Ao longo dos rios ou de qualquer corpo dgua, em faixa marginal alm do leito maior sazonal medido horizontalmente, cuja largura mnima seja de: 30 metros para os rios com menos de 10 metros de largura; 50 metros para os rios de 10 a 50 metros de largura; 100 metros para os rios de 50 a 200 metros de largura; 200 metros para os rios de 200 a 600 metros de largura; 500 metros para os rios com largura maior de 600 metros. b) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dgua naturais ou artificiais, desde o seu nvel mais alto medido horizontalmente, em faixa marginal cuja largura mnima seja de: 30 metros para os que estejam situados em rea urbana; 100 metros para os que estejam em reas rurais, exceto os corpos dgua com at 20 hectares de superfcie, cuja faixa marginal ser de 50 metros; 100 metros para as represas hidreltricas; c) Nas nascentes permanentes ou temporrias, incluindo os olhos dgua e veredas, seja qual for a situao topogrfica, com faixa mnima de 50 metros a partir da margem, de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia de drenagem contribuinte, entre outras. Faz-se necessrio destacar que a supresso total ou parcial de florestas de preservao permanente s ser admitida com a prvia autorizao do Poder Executivo Federal, quando for necessria execuo de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pblica ou interesse social (Lei Federal 4771/65). Por fim, cabe ressaltar a importncia do cumprimento da Lei, por parte do agricultor, mantendo em sua propriedade as reas de Preservao Permanente, que garantem a proteo dos recursos naturais, especialmente dos recursos hdricos, da flora e da fauna. O objetivo da Conservao de Solos combater a eroso e evitar o seu empobrecimento atravs utilizao de tcnicas racionais, tais como manejo adequado, rotao de culturas, adubao de reposio, manuteno dos nveis desejveis de matria orgnica etc., mantendo e melhorando a sua fertilidade.6

Conservao de Solos

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A Lei Federal 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispe sobre a Poltica Agrcola, em seu Captulo VI, da Proteo ao Meio Ambiente e da Conservao dos Recursos Naturais, atravs do artigo 19 inciso II, diz que o Poder Pblico dever disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo e da gua, da fauna e da flora. Nesse propsito as entidades governamentais de financiamento ou gestoras de incentivos devero condicionar a concesso de qualquer benefcio comprovao do licenciamento ambiental devendo avaliar as implicaes decorrentes da implantao de qualquer empreendimento visando minimizar os impactos negativos do negcio com relao ao meio ambiente. Assim sendo, fundamental que a propriedade agrcola tenha seu pedido de financiamento condicionado adoo de prticas conservacionistas de proteo dos recursos naturais. Para tanto, torna-se importante que a extenso rural estabelea um processo de educao informal que objetive o uso racional dos recursos naturais e a prestao da assistncia tcnica pertinente, para a consolidao das prticas conservacionistas que garantiro a continuidade e a sustentabilidade do processo produtivo da propriedade. Dentre as prticas conservacionistas existentes pode-se citar: So aquelas que visam manter ou melhorar a fertilidade e as caractersticas fsicas, qumicas e microbiolgicas dos solos. Baseiam-se principalmente no ajustamento da capacidade de uso, na eliminao ou controle das queimadas e na rotao de culturas. O ajustamento capacidade de uso refere-se ao limite mximo de uso do solo, alm do qual o mesmo sofrer com a eroso. Por exemplo, os solos com declive muito acentuado tm capacidade de serem usados, no mximo, para reflorestamento, sendo desaconselhvel o uso com culturas anuais. No sistema de rotao de culturas, devido s diferentes exigncias nutricionais das plantas, o solo seria levado menos intensamente exausto de seus nutrientes, especialmente pela contribuio diferenciada da matria orgnica e pela perspectiva de intensa e diversificada atividade microbiolgica. o caso do consrcio do algodo, milho ou trigo com a soja em que tanto os cultivos como o solo so favorecidos pelo incremento das atividades qumicas e microbiolgicas,7

a) Prticas de carter edfico:

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alm do melhoramento das condies fsicas do solo. Acrescente-se, como decorrncia, que nesses casos reduz-se a incidncia de ciclos de pragas e doenas, evitando-se ataques com maior intensidade e o conseqente aumento do uso de agrotxicos. So prticas que visam controlar a eroso utilizando a cobertura vegetal do solo, protegendo-o atravs da interceptao das gotas da chuva, evitando as enxurradas, fornecendo matria orgnica e sombreamento para o solo. Entre as prticas de carter vegetativo, encontram-se o reflorestamento, as culturas em faixas e/ou em nvel, o plantio de grama nos taludes das estradas, as faixas de rvores formando quebra-ventos, o controle das capinas, a roada do mato em vez de arranquio, a cobertura do solo com palha ou acolchoamento, entre outras. c) Prticas de carter mecnico: b) Prticas de carter vegetativo:

So as prticas que utilizam mquinas no trabalho de conser vao, introduzindo algumas alteraes no relevo, procurando corrigir os declives acentuados com construo de patamares em nvel que interceptam as guas de enxurradas. Entre as principais prticas mecnicas de conservao de solos esto o preparo do solo e plantio em curvas em nvel, a subsolagem, os terraos, a disposio racional dos carreadores, entre outras. d) Prticas culturais e de manejo:

So prticas que visam melhorar a estrutura do solo. Dentre elas pode-se citar a adubao verde, o plantio direto, entre outras. O plantio direto, por deixar de gradear, arar, escarificar, ou seja, revolver a terra, como feito no preparo convencional, revolucionou conceitos milenares e criou uma nova forma de manejo dos solos agrcolas, que reduz significativamente as perdas de solo e gua, incrementa a quantidade de matria orgnica, entre outros efeitos, que melhoram as propriedades fsicas, qumicas e biolgicas dos solos.8

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A questo dos agrotxicos merece neste Manual um destaque parte do contexto da Produo Vegetal, uma vez que afeta diretamente todo o agroecossistema, incluindo neste contexto o homem. A Lei Federal n. 7.802 de 11 de julho de 1989, em seu artigo 2, define agrotxico como:os produtos e os agentes de processos fsicos, qumicos ou biolgicos, destinados ao uso nos setores de produo, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrcolas, nas pastagens, na proteo de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e tambm ambientes urbanos, hdricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composio da flora ou da fauna, a fim de preserv-las da ao danosa de seres vivos considerados nocivos.

Agrotxicos

A Lei 7.802, entre outros, dispe sobre a pesquisa, a experimentao, a produo, a embalagem e rotulagem, o transpor te, o armazenamento, a comercializao, a propaganda comercial, a utilizao, a importao, a exportao, o destino final dos resduos e embalagens, o registro, a classificao, o controle, a inspeo e a fiscalizao de agrotxicos, seus componentes e afins. Dentro desta viso, a Lei busca englobar todos os produtos utilizados na defesa sanitria vegetal e animal, referidos como defensivos, que sero chamados neste Manual de agrotxicos. A facilidade de compra (sem receiturio agronmico e florestal) e a aparente rpida eficincia dos agrotxicos tm levado sua grande utilizao, o que ao mesmo tempo leva ao risco do uso indiscriminado, provocando uma aplicao no rentvel (subdosagem e/ou superdosagem), alm de causar impactos negativos sobre a sade humana e ao meio ambiente. Entre os efeitos do uso indiscriminado de agrotxicos para o meio ambiente, destacam-se a toxicidade aguda e crnica, a contaminao de material e produtos de colheita, dos solos, da gua, do ar, alm da fauna, da flora e do homem. A classificao dos agrotxicos segundo seus grupos destinatrios d uma impresso errada de toxicidade limitada, tais como os grupos de herbicidas, fungicidas, inseticidas etc. A maioria dos produtos de amplo espectro, tem efeitos letais e/ou inibidores sobre os organismos, afetando seus processos metablicos bsicos.9

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Segundo a Organizao Mundial de Sade, estima-se que anualmente 1,5 milho de pessoas so intoxicadas por agrotxicos no mundo, sendo fatal para cerca de 1,8%. (LEVINE, 1986). Alm das substncias ativas, os agrotxicos contm aditivos destinados a dar-lhes aderncia, entre outras funes e, segundo a EPA (Agncia Nor teAmericana de Proteo Ambiental), de 1.200 aditivos examinados, 50 deveriam ser classificados como txicos. Os riscos de contaminao no uso dos agrotxicos esto em todas as partes do processo, no armazenamento, transporte, na utilizao, no descarte de embalagens, alm disso, destaca-se o perigo da contaminao dos alimentos, entre outros. Vrias prticas inadequadas de uso de agrotxicos foram constatadas aps anos de estudos e pesquisas realizadas em propriedades rurais no mundo todo, entre elas: a aplicao incorreta por par te dos agricultores, geralmente mal informados, com dosagem errada e a no observao dos prazos de carncia; a utilizao de embalagens de agrotxicos como vasilhame de alimentos e gua; a no utilizao de Equipamentos de Proteo Individual para o manuseio e a aplicao dos agrotxicos, pois quase nunca existe vesturio adequado s condies climticas locais e a disposio incorreta dos resduos de agrotxicos, como embalagens, que provocam a contaminao do solo, da gua, do ar, da fauna, da flora e do homem. Deve-se destacar, ainda, que o amplo espectro da maioria dos agrotxicos tem provocado constantes alteraes nas cadeias alimentares, com a eliminao de espcies teis, como insetos polinizadores, entre outros, que muitas vezes provocam prejuzos maiores que o da eliminao de algumas espcies consideradas nocivas. Por fim, importante salientar que novas prticas de proteo vegetal surgem como alternativa aos agrotxicos, entre elas esto as prticas de controle biolgico, a busca de variedades geneticamente resistentes e o controle integrado, que visam reduo e, quando possvel, a eliminao da utilizao de agrotxicos, produzindo10

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assim um alimento mais saudvel, com menor risco para o meio ambiente e para o homem. 1.2 - Produo vegetal Os sistemas agrcolas tradicionais em geral esto orientados para uma produo de subsistncia, com pouca ou at nenhuma utilizao de insumos modernos, como fertilizantes e agrotxicos. a chamada agricultura da enxada, que quase sempre agride menos o meio ambiente, porm no deixa de ser importante para a proteo ambiental, uma vez que, de forma geral, este agricultor tem escassas informaes tcnicas, em especial sobre o manejo de solos e guas, bem como sobre noes de sade e saneamento bsico. Nos sistemas agrcolas chamados modernos, incluem-se as plantaes extensivas e os famosos agronegcios, em geral monoculturas, algumas de cultivo anual, como a cana-de-acar, a soja etc., e algumas de cultivo permanente como o caso, entre outros, dos reflorestamentos para fins comerciais, do caf e do cacau. Estes sistemas de produo orientados ao mercado so altamente dependentes de tcnicas agrcolas utilizadoras de insumos modernos externos propriedade, tais como: sementes melhoradas, mquinas agrcolas, combustveis fsseis, fertilizantes, agrotxicos etc., assim como, ocupam grandes extenses de terra, o que aumenta em muito o risco ambiental desta atividade, especialmente em relao degradao, contaminao e o desequilbrio destes agroecossistemas. As tcnicas mais aplicadas nos sistemas modernos so a mecanizao, para preparo da rea e do solo, a utilizao de fertilizantes artificiais e agrotxicos e a irrigao. (Esta ltima tratada em captulo especfico deste manual.) No caso dos reflorestamentos para fins comerciais, deve-se observar que o perodo de produo e gerao de bens materiais diferenciado das demais, especialmente quanto ao longo prazo de tempo que leva entre o plantio e o ponto de cor te das essncias florestais utilizadas. Merecem tambm serem observados os fatores de superfcie florestal mnima, gua, nutrientes e luz, que acarretam limites econmicos a esta atividade, basicamente estabelecida em grandes unidades de produo (MUELLER-HOHENSTEIN, 1989).11

1.2.1 - Descrio da atividade sob o enfoque ambiental

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Os ecossistemas agrcolas diferenciam-se dos naturais, visto que o homem passa a ser o elemento regulador ao invs da natureza, estabelecendo a possibilidade da gerao de grande nmero de impactos ambientais, dos quais passaremos a destacar os negativos, que so objeto de anlise deste trabalho. As plantas formam parte dos ecossistemas e so fator decisivo para a conservao do meio ambiente. Mtodos de cultivo inadequados, geralmente causam impactos negativos para o meio ambiente, no qual a atividade est inserida. Dentre os principais impactos negativos, podemos citar: reduo da diversidade de espcies; eroso, compactao, reduo da fertilidade dos solos, com salinizao e desertificao de reas; contaminao dos solos, ar, gua, fauna e flora por agrotxicos e fertilizantes; poluio do ar por fumaa e material particulado, devido s queimadas; aumento da velocidade do vento, devido ao desmatamento, e contaminao do agricultor devido utilizao incorreta de agrotxicos. As atividades agrcolas, com alta demanda de terras, uma vez que pouco investido em produtividade e sim em produo, alteram os ecossistemas naturais e prejudicam as espcies da flora e da fauna com a reduo do habitat nativo. O crescimento das reas de produo agrcola aumenta o risco da perda de espcies e o desequilbrio do meio ambiente. A retirada de florestas e vegetaes nativas para a construo de infraestrutura agrcola, como estradas rurais (captulo 6), fraciona e reduz o espao dos ecossistemas naturais, provocando a diminuio considervel de animais, tais como primatas, aves, felinos, entre outros. Uma das conseqncias mais negativas da agricultura a eroso dos solos, ocasionada devido s prticas incorretas de manejo dos solos. O arraste de solos pela gua e vento varia de acordo com o tipo de solo e cultivo, alm das condies ambientais da rea analisada. Por exemplo, quando se utiliza um solo arenoso numa regio de chuvas intensas, a preocupao com a eroso deve ser dobrada, uma vez que, a desagregao das partculas do solo maior em solos arenosos que nos argilosos.12

1.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

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A eroso dos solos afeta as guas com o aporte de sedimentos, carregados de nutrientes, provocando a eutrofizao, o assoreamento de rios, barragens e lagos, bem como a contaminao por resduos de agroqumicos. A contaminao por agroqumicos uma constante nas propriedades agrcolas e produzem impactos sobre a sade humana, poluindo as guas, o solo e o ar, prejudicando a flora e a fauna. A questo dos agrotxicos, devido impor tncia, abordada com maior profundidade no incio do captulo de agropecuria, juntamente com as questes pertinentes conservao dos solos, reserva legal e matas ciliares. Os cultivos anuais, que exigem um trabalho freqente do solo, aumentam os riscos de eroso, j os cultivos perenes como, por exemplo, a fruticultura e os reflorestamentos, como geram sombra e mantm equilibrada as condies de estrutura do solo, apresentam um risco menor. Porm, deve-se ressaltar que no caso de reflorestamentos para fins comerciais, quando do corte deve-se tomar os devidos cuidados com o arraste dos troncos e no deixar o solo exposto s intempries, o que poder gerar compactao e eroso dos solos (MORGAN, 1980). Esses reflorestamentos para fins comerciais, devido ao baixo nmero de espcies utilizadas, tanto quanto a monocultura agrcola, constituem uma ameaa biolgica, qumica e fsica, podendo aumentar a aridez, com a escassez de gua, diminuir a fertilidade dos solos, aumentando ainda mais a pobreza de espcies do ambiente. Esta padronizao agrcola e florestal visando ao aumento de rendimentos, com o objetivo de produzir para o grande mercado consumidor, tem contribudo para a perda gentica. Alm disso, deve-se destacar o alto poder de combusto dos reflorestamentos em zonas secas, sendo fundamental a proteo dos solos e das guas e a formao de linhas sem vegetao (BROWN, 1973) e (GOLDAMMER, 1988). Um impacto importante dos sistemas modernos a mecanizao excessiva, especialmente em solos pouco estr uturados, que provoca, entre outras conseqncias, a compactao com menor infiltrao de gua e entrada de ar no solo. As prticas de mecanizao agrcola devem ser realizadas com os cuidados necessrios e com o conhecimento adequado por parte do agricultor, uma vez que, mal empregadas, tais prticas podero causar, entre outros impactos, a modificao da estrutura do solo e a reduo de sua capacidade produtiva. Essa modificao da estrutura do solo ocorre devido ao emprego de mquinas pesadas e o excesso de operaes mecanizadas, que reduzem o volume de poros13

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e a conseqente capacidade de absoro e acumulao de gua. Em campo molhado pode-se produzir a compactao do solo, enquanto em campo seco, de acordo com a poro de argila, pode-se formar torres ou a pulverizao do solo em finas partculas. Alm disso, a mecanizao agrcola envolve a utilizao de equipamentos, combustveis, lubrificantes de motores e demais produtos agrcolas, que muitas vezes expem os operrios rurais, no raro despreparados e desinformados, a riscos de acidentes. Neste particular, deve-se destacar os acidentes com agrotxicos, ocasionando a contaminao do aplicador. Por outro lado, a lavagem de mquinas e demais equipamentos nos cursos dgua contribui para a contaminao e degradao ambiental dos recursos hdricos. As monoculturas, voltadas em geral para o mercado externo, alm de apresentarem maiores riscos para compactao dos solos, devido intensa mecanizao, favorecem a proliferao de pragas e em conseqncia aumentam a tendncia de utilizao de agrotxicos para o controle, com grandes prejuzos fauna, a flora e sade humana. A compactao do solo apresenta, entre outros, impactos sobre o crescimento das plantas, sobre os microrganismos teis do solo (ex.: minhocas) e sobre a disponibilidade e o metabolismo de nutrientes para as plantas. Deve ser observado tambm, na dinmica dos solos, o papel importante desempenhado pela matria orgnica, seja como reservatrio de gua e habitat para organismos do solo, seja como depsito de nutrientes. A aplicao de fertilizantes minerais deve ser determinada em relao s quantidades de matria orgnica do solo, pois sem essa determinao corre-se o risco de que os fertilizantes sejam lixiviados e transportados para as camadas mais profundas do solo e inacessveis s plantas. Em conseqncia desta situao, ocorrem aplicaes excessivas de fertilizantes que provocam o aumento dos custos de produo e dos danos ao meio ambiente. Outro aspecto importante a ser analisado o crescimento da famlia rural, que impe a subdiviso freqente da propriedade rural, provocando a explorao excessiva dos recursos naturais da unidade de produo. Esta maior subdiviso e utilizao das terras de uma mesma propriedade, quando no avaliadas tecnicamente, podem causar o rpido desgaste dos solos, prejudicando a todos. Por fim, deve ser analisada a perda de fertilidade dos solos nas reas de irrigao, originadas geralmente poucos anos depois da implantao do sistema14

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de irrigao, provocando a salinizao e sedimentao, alm de considerveis perdas econmicas. Esta situao decorre do uso de guas de m qualidade para a irrigao e/ou drenagem deficiente (captulo 6). A intensa substituio dos ecossistemas naturais por sistemas artificiais de uso do solo para a produo vegetal altera e desagrega estes ecossistemas, assim sendo, deve-se buscar formas de minimizar os impactos ambientais negativos desta atividade. O solo a base da produo vegetal e sua proteo fundamental para mant-la. Portanto, o combate eroso, salinizao e conseqente perda de fertilidade deve estar na ordem do dia de todo agricultor. Entre as medidas atenuantes a serem tomadas para evitar a degradao dos solos, pode-se citar: a cobertura do solo, para manter o solo protegido das intempries, podendo ser cobertura vegetal de plantas cultivadas (cobertura viva), ou mortas (cobertura morta); os cultivos integrados, com a utilizao de diversas culturas (rotao de culturas) e poca de descanso; a diviso da rea agrcola em pequenas parcelas com a implantao de quebra-ventos, transversalmente direo principal do vento; a integrao de r vores e arbustos na agricultura e na pecuria (agrossilvipastorilcultura); a formao de faixas de proteo contra a eroso, utilizando a prtica de curvas em nvel e terraos, especialmente em reas inclinadas; a reduo da utilizao de mquinas pesadas, diminuindo a presso exercida sobre o solo, buscando utilizar mquinas e tratores mais leves e menores, providos de pneus pequenos; o reflorestamento das terras mais pobres, com espcies nativas; a adubao orgnica para a conservao e incrementao dos nveis de matria orgnica no solo; a utilizao de mtodos de controle biolgico e/ou integrado para o controle de pragas, reduzindo a ao danosa dos agrotxicos e a conseqente contaminao das guas, dos solos, do ar, da fauna, da flora e do homem, ou seja, dos ecossistemas da propriedade e vizinhos;15

1.2.3 - Recomendaes de medidas atenuantes

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a manuteno das reas de matas ciliares e de vegetao nativa remanescente, ao menos dentro dos limites legais, conservando, assim, a biodiversidade local e o plantio direto. A adoo de prticas conservacionistas no manejo dos solos , sem dvida, a maior arma do agricultor para atenuar as perdas de fertilidade do solo, que juntamente com a escolha adequada das culturas em relao s caractersticas ambientais da propriedade, so as ferramentas bsicas para o desenvolvimento agrcola sustentvel. Outras medidas atenuantes de possveis impactos ambientais negativos da produo vegetal so: o planejamento e organizao da unidade de produo; a escolha da cultura adequada ao ecossistema da propriedade; a utilizao de prticas de cultivo de acordo com as caractersticas naturais do lugar; a conservao dos elementos tpicos da paisagem, com a conservao dos principais bitopos, considerando a necessidade de manuteno da Reserva Legal e das Reservas Ecolgicas, em especial das matas de galeria; o tratamento correto do solo, assegurando sua estrutura, seus processos biolgicos e a fertilidade do mesmo; a nutrio balanceada das plantas, utilizando preferencialmente adubos orgnicos; a utilizao de variedades geneticamente resistentes s adversidades locais. Para o caso dos reflorestamentos com fins comerciais, os mtodos com menores impactos negativos, em geral, so aqueles que renunciam s monoculturas, ou seja, utilizao de uma nica espcie florestal, ao corte raso e que contribuem para a conservao da vegetao nativa, das matas ciliares, produzindo formas heterogneas de florestas. Considerando os reflorestamentos, as monoculturas de soja, caf, as pastagens, entre outras, a produo vegetal representa, em relao superfcie, a interveno mais importante do homem no sistema natural da Terra, ocupando grandes extenses e utilizando exaustivamente os solos e as guas.16

1.2.4 - Referncias para anlise ambiental da atividade

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A produo vegetal est amplamente ligada a outras atividades, entre elas destacam-se: proteo vegetal; irrigao; melhoramento vegetal; conservao dos solos; infra-estrutura rural; armazenamento e comercializao rural. Na produo vegetal e na propriedade rural, efetuando-se diversas medies diretas e/ou indiretas e partindo de alguns critrios de avaliao, podem ser observados diversos quesitos no decorrer da implementao do processo produtivo, entre os quais destacam-se: as modificaes dos ecossistemas, seja na variedade de espcies da fauna e flora, como na situao atual dos solos da propriedade; a situao das reservas de gua da propriedade, a quantidade e qualidade das mesmas; as relaes energticas da produo, ou seja, o balano de energia ligada produo das plantas cultivadas, das colheitas obtidas e da energia consumida para a produo; o grau de contaminao por substncias qumicas, existentes na propriedade; a fertilidade dos solos, destacando a anlise dos nveis de salinizao e deser tificao. Devido ao amplo espectro de caractersticas ambientais das propriedades rurais, antes do planejamento e aprovao de um projeto necessrio estudar com profundidade as caractersticas do local. Isto inclui a anlise dos tipos de solos, seus nutrientes, sua suscetibilidade eroso, a taxa de infiltrao, o nvel de hmus, a atividade biolgica, a capacidade de campo, assim como o relevo, a qualidade do ar e os aspectos climticos da propriedade, como as mdias, mximas e mnimas temperaturas e os ndices pluviomtricos da regio. Para os solos nordestinos, especial ateno deve ser dada aos sintomas de carncia de macro e micronutrientes e da toxicidade em plantas cultivadas, o que exige a determinao do estado destes nutrientes e da contaminao por substncias nocivas, sendo que atravs da medio da capacidade efetiva de intercmbio catinico (CTC) e da saturao de bases (V) possvel avaliar o desequilbrio de nutrientes e o grau de salinizao.17

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Quanto qualidade das guas, a determinao do pH, da temperatura, do nvel de oxignio, de fosfatos, nitratos, da DBO Demanda Bioqumica de Oxignio, dar condies para concluir sobre o grau de eutrofizao e contaminao por matria orgnica degradvel, entre outros. Quanto ao uso da gua para irrigao, deve-se estar atento para a Condutividade Eltrica (CE) e a Relao ou Taxa de Adsoro do Sdio (RAS), para verificar a classificao da gua, conforme est descrito no tema de Irrigao deste Manual. No campo da utilizao das guas, em especial nas reas de clima semirido, como grande parte do Nordeste brasileiro, deve-se estudar a hidrogeologia, avaliando o nvel das reservas subterrneas de gua, informando as condies do subsolo, a localizao das principais zonas de captao, a evaporao anual e a taxa de reposio destas guas, uma vez que a utilizao indevida destes mananciais, ou seja, a extrao maior que a reposio, poder produzir graves impactos negativos sobre o balano hdrico. No sentido de evitar modificaes no desejadas no contexto da produo vegetal, importante registrar a situao atual e estimar as alteraes futuras, para tanto, pode ser necessria a comprovao peridica das mudanas prognosticadas e realmente produzidas no meio ambiente. O mesmo vlido para a rea social, econmica e para os fatores culturais, que esto intimamente relacionados com o meio ambiente. Geralmente, os impactos produzidos pela produo agrcola em escala comercial manifestam-se na reduo da variedade de espcies, no empobrecimento do nvel e ciclo de nutrientes e nas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas do solo, assim como na contaminao ambiental. Porm, com um planejamento e uma execuo adequada, a produo vegetal pode alcanar os resultados necessrios, ou seja, suprir o mercado com os alimentos, em compatibilidade com o meio ambiente e com as estruturas sociais, sendo ao mesmo tempo rentvel e ambientalmente sustentvel.

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continua

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1.2.5 - Quadro-Resumo Produo Vegetal Reduo da diversidade de espcies da A conservao dos elementos tpicos da paisagem, com a fauna e da flora. conservao dos principais bitopos, considerando a necessidade de manuteno da Reserva Legal e das Reservas Ecolgicas, em especial das matas de galeria, conservando assim a biodiversidade local. A escolha da cultura adequada ao ecossistema da propriedade. A utilizao de prticas de cultivo de acordo com as caractersticas naturais do lugar. Contaminao dos solos, ar, gua, fauna A utilizao da rotao de culturas, de variedades e flora por agrotxicos e fertilizantes. geneticamente resistentes, do controle biolgico e integrado de pragas, evitando ao mximo a utilizao de agrotxicos e a conseqente contaminao das guas, dos solos, ou seja, dos ecossistemas da propriedade e vizinhos. Aumento da velocidade do vento, devido A diviso da rea agrcola em pequenas parcelas com a implantao de quebra-ventos, transversalmente direo ao desmatamento. principal do vento. A integrao de rvores e arbustos na agricultura (agrossilvicultura). Contaminao do agricultor devido A utilizao de mtodos de controle biolgico e/ou integrado para o controle de pragas, reduzindo o uso e a utilizao de agrotxicos. conseqente ao danosa dos agrotxicos. A utilizao adequada dos agrotxicos, segundo os preceitos do receiturio agronmico e florestal, com as dosagens e recomendaes tcnicas pertinentes. A utilizao correta dos agrotxicos e dos Equipamentos de Proteo Individual (EPIs), quando da aplicao. Poluio do ar por fumaa e material No utilizao da prtica de queimadas, especialmente em grandes dimenses; havendo necessidade de utilizar tal particulado, devido s queimadas. prtica, buscar orientao e autorizao da autoridade ambiental competente. IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES

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IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS

A cobertura do solo, para manter o solo protegido das intempries, podendo ser cobertura vegetal de plantas cultivadas (cobertura viva), ou mortas (cobertura morta); Os cultivos integrados, com a utilizao de diversas culturas (rotao de culturas) e pousio. A formao de faixas de proteo contra a eroso, utilizando a prtica de curvas em nvel e terraos, especialmente em reas inclinadas. A reduo da utilizao de mquinas pesadas, diminuindo a presso exercida sobre o solo, buscando utilizar mquinas e tratores mais leves e menores. reflorestamento, das terras mais pobres e declivosas, com espcies nativas. A adubao orgnica para a conservao e incremento dos nveis de matria orgnica no solo. tratamento correto do solo, assegurando sua estrutura, seus processos qumicos e biolgicos e sua fertilidade. A utilizao da prtica do plantio direto. planejamento e organizao da unidade de produo; Impactos dos efeitos climticos sobre a produo. A seleo de variedades de sementes resistentes s adversidades locais. Melhoria da resistncia das plantas, por meio da nutrio correta e balanceada, utilizando preferencialmente adubos orgnicos. LEGISLAO AMBIENTAL Eroso, compactao, reduo da fertilidade dos solos, com salinizao e desertificao de reas.

MEDIDAS ATENUANTES

Lei 4.771 15/09/65 Cdigo Florestal Brasileiro e MP 1.511 2 de 19/09/96. Lei 7.803 18/07/85 Inclui pontos importantes ao Cdigo Florestal, em especial quanto s Reservas Florestais Legais. Lei 8.171 17/01/91 Lei de Poltica Agrcola Estabelece a Proteo Ambiental dos Recursos Naturais da Propriedade Agrcola. Lei 6.938 31/08/81 Estabelece a Poltica Ambiental: determina as reas de Preservao Permanente como Reservas Ecolgicas. Resoluo CONAMA 004/85 Estabelece as reas consideradas como Reservas Ecolgicas. Lei 6.225 14/07/75 Dispe sobre a discriminao por parte do Ministrio da Agricultura de regies de execuo obrigatria de Planos de Proteo do Solo e de combate eroso. Decreto 77.775 08/06/76 Regulamenta a Lei 6.225/75. Decreto 94.076 de 05/03/87 Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrogrficas.

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1.3 - Produo Animal

A produo animal interage com o meio ambiente de diversas formas, especialmente pela necessidade de gua para a dessedentao e pela alimentao extrada do solo por meio de pastagens naturais ou cultivadas. Os sistemas de explorao adotados (extensivo, semi-extensivo e intensivo) exercem influncias distintas, com nveis diferentes de degradao do meio ambiente. A produo animal pode ser praticada em todos os lugares em que a agricultura vivel e at em alguns locais onde esta ltima no se viabiliza plenamente. Mesmo em regies menos privilegiadas em termos de recursos hdricos e vegetais, semelhana das regies ridas ou semi-ridas nordestinas, possvel o desenvolvimento econmico dessa atividade, desde que observados os cuidados de garantia mnima de suprimento alimentar e de manejo adequado. Neste captulo sero avaliados os principais impactos ambientais da produo animal abordando-se aspectos ambientais relevantes da suinocultura, caprino-ovinocultura e avicultura, com maior destaque para bovinocultura e a aqicultura.

1.3.1 - Descrio da atividade sob o enfoque ambiental

1.3.2 - Potenciais impactos ambientais negativos da produo animalNo sistema de explorao extensivo um dos impactos ambientais negativos mais expressivos da produo animal gerado pelo superpastoreio que provoca, a partir do pisoteio excessivo, alteraes significativas na estrutura da camada superficial do solo e na composio das espcies vegetais. O superpastoreio intensifica a compactao dos solos e a subtrao da cober tura vegetal, favorecendo o processo de eroso. A intensidade dos impactos depende da espcie, porte e carga animal das unidades produtivas, bem como da topografia e do tipo do solo da rea. Da energia dos nutrientes ingeridos, somente uma pequena parte aparece nos produtos consumidos pelo homem. A maior parte eliminada por meio das fezes e da urina e, no caso dos ruminantes, h a eliminao do gs metano. Embora a contribuio do metano seja menos significativa que outros gases como, por exemplo, o dixido de carbono, para a formao do chamado efeito21

Produo Animal Extensiva:

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estufa e, ainda que a gerao de gs metano na produo animal parea insignificante, ela tem sido considerada em nvel global, nos estudos que visam reduo deste efeito. As fezes e urina expelidas pelos animais depositam-se aleatoriamente ao longo das reas de pastagem e nos recursos hdricos. Embora a incorporao desta matria orgnica ao solo seja benfica para sua fertilizao, o mesmo no se pode assegurar com relao aos recur sos hdricos, que podem ser contaminados pelo excesso desse material, principalmente quando essa atividade desenvolvida em regies com altas taxas de evaporao e com poucas oportunidades de renovao hdrica. Geralmente, ao redor das fontes de abastecimento de gua concentramse muitos animais, assim os cursos dgua e principalmente os audes podem ser facilmente contaminados pelas fezes, o que acaba por aumentar os riscos sade, quando esta gua utilizada para consumo humano. Prximo s fontes dgua ocorre tambm o comprometimento da vegetao, devido ao pisoteio intenso destes locais, ou simplesmente devido supresso das matas ciliares para facilitar o acesso dos animais gua. Dentre os principais impactos ambientais negativos da atividade de produo animal extensiva, pode-se destacar: a eliminao e/ou reduo da fauna e flora nativas, como conseqncia do desmatamento de reas para o cultivo de pastagens; o aumento da degradao e perdas de nutrientes dos solos, em especial devido ao pisoteio intensivo e utilizao do fogo; a contaminao dos produtos de origem animal, devido ao uso inadequado de produtos veterinrios para o tratamento de enfermidades dos animais e de agrotxicos e fertilizantes qumicos nas pastagens; a reduo na capacidade de infiltrao da gua no solo devido compactao; a degradao da vegetao e compactao dos solos e a contaminao das fontes dgua e assoreamento dos recursos hdricos. Com relao produo animal confinada, considerando-se no apenas a bovinocultura, mas tambm a avicultura, caprino-ovinocultura, suinocultura e outros animais de pequeno porte, os impactos desse sistema de explorao sobre o meio22

Produo Animal Confinada:

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ambiente devero ser aferidos levando-se em conta a quantidade, espcie e porte dos animais, alm da origem e composio dos ingredientes utilizados nos concentrados e raes. A converso da produo animal de extensiva para confinada pode, por um lado, representar ganhos ambientais em termos da proteo de alguns ecossistemas mas, por outro lado, aumenta a concentrao de resduos lquidos e slidos, podendo, se no forem adotadas medidas de controle per tinentes, contaminar guas superficiais e subterrneas, gerar odores e contribuir para a proliferao de vetores. No confinamento de animais podem ocorrer perdas de nutrientes para os solos e para as plantas, devido deposio dos excrementos nos currais onde so confinados e no mais nas pastagens, como o caso do pastoreio extensivo. O acmulo destes excrementos nos currais, pode gerar um problema de poluio ambiental, caso no haja o manejo adequado deste material. Quando a instalao do estbulo no se d de forma adequada, a concentrao de gases (amonaco, metano, gs sulfdrico etc.) no seu interior, assim como a poeira e os grmens presentes no ar, podem atuar negativamente sobre a sade dos animais e das pessoas que ali trabalham. Dependendo da localizao dos estbulos, pode ocorrer tambm impactos negativos sobre as reas vizinhas, por meio da emisso de odores e rudos e da proliferao de vetores. O uso de animais de alto rendimento normalmente resulta em maiores exigncias quanto ao suprimento de forragens, raes e assistncia tcnica sanitria, podendo, no caso de utilizao inadequada de produtos veterinrios (quimioprofilaxia), desenvolver-se agentes patognicos resistentes. As unidades produtoras de animais de alto rendimento, geralmente, so de grande porte e consomem mais energia fssil por unidade de produo, em relao s unidades tradicionais. Alm disso, normalmente se agregam s forragens e raes substncias como hormnios e uria, para intensificar o crescimento dos animais, e utiliza-se antibiticos para proteg-los contra doenas, o que aumenta o risco da presena destas substncias nos alimentos de origem animal. Vrias so as medidas que podem ser adotadas no sentido de atenuar os impactos negativos da produo animal, sendo que muitas delas j foram abordadas quando das recomendaes sugeridas no captulo relacionado com a produo vegetal (Captulo 1.2.3), especialmente as que dizem respeito proteo dos solos.23

1.3.3 - Recomendaes de medidas atenuantes

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Especificamente quanto produo animal extensiva, pode-se destacar a necessidade de controlar a presso dos animais sobre as reas de pasto e ecossistemas naturais da propriedade, mediante a adoo das seguintes medidas: executar rotao de pastos; limitar o nmero de animais por rea, evitando o superpastoreio; controlar a durao do pastoreio; implementar o replantio e a produo de forragem; instalar em locais estratgicos as fontes de gua e sal; restringir o acesso dos animais s reas instveis como, por exemplo, encostas; restringir o acesso dos animais s reas de florestas nativas (Reserva Legal e reas de Preservao Permanente) evitando a degradao destas reas; adotar medidas de controle da eroso; implementar polticas de administrao dos recursos hdricos de forma a garantir o suprimento de gua para as necessidades da unidade de produo nos perodos secos; conser var a biodiversidade das unidades produtivas, planejando e implementando estratgias de manejo de reas para o pastoreio, buscando reduzir os impactos negativos sobre a fauna e a flora silvestre, estabelecendo refgios compensatrios para a fauna; evitar o desmatamento e as queimadas, quando estritamente necessrio deve-se buscar o pertinente licenciamento junto Autoridade Ambiental competente; adotar Sistemas Integrados de Produo, como os Sistemas Agroflorestais (SAFs), entre outras. Para o caso da produo animal em regime de confinamento entre outras medidas a serem adotadas, destacam-se: a adequada instalao dos estbulos, visando ao melhor posicionamento quanto insolao, ventilao e proximidade de habitaes; o estabelecimento de distncias adequadas de assentamentos humanos, visando minimizar possveis conflitos com moradores vizinhos; a implementao de medidas de armazenamento, tratamento, utilizao e disposio adequada dos resduos lquidos e slidos gerados;24

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a observao da legislao e normas tcnicas pertinentes, quanto ao uso de substncias aceleradoras de crescimento (hor mnios) e antibiticos, respeitando a dosagem correta e o tempo de carncia e a adoo de medidas de higiene como a desinfeco. Para o aproveitamento de efluentes, na produo suna confinada, podese estabelecer a criao de peixes integrada ao criadouro, porm deve-se estar atento para a relao entre a quantidade de sunos, o tamanho do lago e a quantidade de peixes a serem criados. Por fim, deve-se destacar ainda que, em algumas reas, a criao de animais da fauna nativa tem sido uma alternativa economicamente vivel para a produo de carne, pele e couro. Como estes animais so adaptados s condies ambientais locais, a interveno no meio ambiente geralmente bem menor. Portanto, antes da introduo de animais de outros ambientes (exticos), devese buscar avaliar as vantagens apresentadas pela fauna nativa da regio.

1.3.4 - Referncias para anlise ambiental da atividade

A produo animal uma atividade diretamente relacionada com a produo vegetal, de onde obtm a base da alimentao dos animais, a partir das forragens, leguminosas e restos de cultivo. Ambas so supridoras de matrias-primas para as indstrias e agroindstrias, desempenhando um papel fundamental na cadeia produtiva. Os impactos ambientais negativos da produo animal so proporcionais relao entre a intensidade com que a mesma praticada e a disponibilidade de recursos naturais. No sistema de produo animal extensiva, faz-se necessrio observar que o uso de grandes reas para a produo animal no representa necessariamente a garantia da sustentabilidade do pastoreio. Essas grandes reas, para serem formadas, reduzem a variedade vegetal, provocam o uso desequilibrado dos recursos naturais, com maior escoamento das guas das chuvas, eroso e at podem provocar mudanas micro-climticas na regio (HARRINGTON,1984). Para o caso do sistema de confinamento, na anlise e elaborao dos projetos, fundamental para a proteo ambiental a previso de medidas de tratamento e disposio adequada dos efluentes e resduos gerados, assim como a correta localizao dos estbulos.25

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Outro aspecto a ser considerado a utilizao inadequada de antibiticos e hormnios, que representam grave perigo para a sade dos consumidores de produtos animais. No caso dos hormnios e antibiticos, devem ser observadas as normas tcnicas e legais existentes.

1.3.5 - Quadro-resumo Produo animalIMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS Eliminao e/ou reduo da fauna e flora nativas, como conseqncia do desmatamento de reas para o cultivo de pastagens. Riscos de contaminao do ar, das guas e dos solos no sistema de confinamento. Conservar a biodiversidade das unidades produtivas, planejando e implementando estratgias de manejo de reas para o pastoreio, buscando reduzir os impactos negativos sobre a fauna e a flora silvestre, estabelecendo refgios compensatrios para a fauna. Evitar o desmatamento e as queimadas para, quando estritamente necessrio deve-se buscar o pertinente licenciamento junto Autoridade Ambiental competente. Localizao adequada dos estbulos, especialmente com a adoo de distncias adequadas de assentamentos humanos. A adoo de medidas de armazenamento, tratamento, utilizao e disposio adequada dos resduos lquidos e slidos gerados com a concentrao de excrementos. Adoo de medidas de higiene como a desinfeco. Executar rotao de pastos. Limitar o nmero de animais por rea. Controlar a durao do pastoreio. Mesclar espcies para otimizar o uso da vegetao. Implementar o replantio e a produo de forragem. Restringir o acesso dos animais s reas instveis como, por exemplo, encostas. Adotar medidas de controle da eroso. Evitar o uso de insumos que possam contaminar as reas de pastoreio, assim como produtos veterinrios, tais como antibiticos e hormnios que possam deixar resduos qumicos nos animais, devendo, sempre quando utilizados, respeitar a legislao e as normas tcnicas pertinentes. MEDIDAS ATENUANTES

Deteriorao da fertilidade e das caractersticas fsicas do solo devido eliminao da vegetao pelo superpastoreio e compactao do solo pelo pisoteio intensivo. Reduo na capacidade de infiltrao da gua no solo devido compactao.

Contaminao dos animais e alimentos, devido ao uso inadequado de produtos veterinrios para o tratamento de enfermidades e hormnios indutores de crescimento. Contaminao das reas e dos animais, devido ao uso inadequado de agrotxicos e fertilizantes para o manejo de pasto. Utilizao inadequada da gua, para a dessedentao dos animais, especialmente em reas secas. Degradao da vegetao e do solo prximo s fontes de gua.

Implementar polticas de administrao dos recursos hdricos de forma a garantir o suprimento de gua para as necessidades das unidades produtivas nos perodos secos. Instalar em locais estratgicos as fontes de gua e sal.continua

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Lei 4.771 15/09/65 Cdigo Florestal Brasileiro e MP 1.511 2 de 19/09/96. Lei 7.803 18/07/85 Inclui pontos importantes ao Cdigo Florestal, em especial quanto s Reservas Florestais Legais. Lei 8.171 17/01/91 Lei de Poltica Agrcola Estabelece a Proteo Ambiental dos Recursos Naturais da Propriedade Agrcola. Lei 6.938 31/08/81 Estabelece a Poltica Ambiental: determina as reas de Preservao Permanente como Reservas Ecolgicas. Resoluo CONAMA 004/85 Estabelece as reas consideradas como Reserva Ecolgicas. Lei 6.225 14/07/75 Dispe sobre a discriminao por parte do Ministrio da Agricultura de regies de execuo obrigatria de Planos de Proteo do Solo e de combate eroso. Decreto 77.775 08/06/76 Regulamenta a Lei 6.225/75. Decreto 94.076 de 05/03/87 Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrogrficas.

LEGISLAO AMBIENTAL

concluso

1.4 - Produo animal aqicultura A aqicultura considera os usos mltiplos (alternativos e competitivos) dos recursos dos quais depende: terra, gua, sementes (alevinos, ps-larvas, girinos e outros) e alimentos. O uso, bem como o acesso e a apropriao quantitativa e qualitativa desses recursos, determina a natureza e a escala das interaes com o ambiente e a conseqente sustentabilidade dos empreendimentos. Portanto, essa atividade no pode ser isolada do ambiente maior em que ela se insere. Seu desenvolvimento pode ser severamente limitado pela poluio das guas embora, paradoxalmente, ela prpria cause algum grau de poluio. Na prtica da aqicultura tem-se a possibilidade de exercer o controle sobre diversas etapas da produo como, por exemplo, a escolha da espcie mais adequada para os fins produtivos desejados, a reproduo, a qualidade e quantidade das guas. Portanto, faz-se necessria a boa escolha do local para a produo, orientando-se pela proteo dos ecossistemas naturais, especialmente dos recursos hdricos. Ao processo de produo seguem-se, at o consumo, outros processos tambm relevantes do ponto de vista do meio ambiente, tais como: a conservao, o processamento/elaborao, a embalagem, o transpor te e a comercializao dos pescados, atividades estas que devem observar todos os aspectos ambientais a elas relacionados, evitando potenciais impactos ambientais negativos.27

1.4.1 - Descrio da atividade sob o enfoque ambiental

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Para a aqicultura fundamental a preparao do local de forma adequada. neste ponto que se deve prestar a maior ateno, pois na rea podero ocorrer, entre outros, os seguintes impactos: Degradao da flora e da fauna local, devida ao desmatamento ou limpeza da vegetao nativa para a construo de tanques e viveiros, sem observncia da legislao pertinente. Ocupao de espaos inadequados, do ponto de vista ambiental, como os manguezais. Alterao do fluxo da gua, tendo-se presente que em locais com poucos recursos hdricos pode-se diminuir a quantidade de gua para outros fins, gerando conflitos de uso e Lanamento de efluentes poluentes provenientes dos viveiros que deteriorem a qualidade dos ecossistemas aquticos naturais. Com relao ocupao de espaos inadequados, do ponto de vista ambiental, para a introduo dos tanques, segundo SAKTHIVEL (1985) In LEE et al.(1997), que avaliou projetos de carcinicultura na sia, as reas pantanosas e manguezais, como estavam mais prximos ao abastecimento de gua, foram destrudos na constr uo de tanques, mas atualmente j existe uma conscientizao de que estas reas so importantes para o cultivo de peixes e crustceos, como tambm para a proteo contra inundaes. Quanto aos efluentes da aqicultura, segundo BROWN (1989) In LEE et al. (1997), em vrios pases os efluentes das fazendas de cultivo, que podem conter antibiticos, organismos produtores de doenas virulentas ou de bactrias resistentes, so despejados livremente sobre as praias onde representam um risco potencial para as fazendas vizinhas e possivelmente ao pblico. Segundo BOYD (1997), vrios so os elementos presentes nos efluentes dos tanques/viveiros de aqicultura, entre eles a amnia, excretada pelos peixes, camares e microrganismos, que tanto uma toxina para os animais aquticos como um poluente no efluente. Alm disso, a matria orgnica e o nitrognio do efluente, uma vez descarregados em ecossistemas aquticos naturais, impem uma carga poluente, e a capacidade de assimilao dos sistemas naturais pode ser sobrecarregada pelos efluentes dos viveiros, deteriorando a qualidade dos corpos dgua que os recebem.28

1.4.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

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Ainda, quanto aos efluentes, nos tanques e estaes de reproduo, segundo BROWN(1989) In LEE et al. (1997), quando em reas confinadas ou onde so reduzidas a mistura e disperso, existem riscos de eutrofizao, presena de algas txicas e transferncia de doenas entre os tanques, onde podem acumularse patgenos ou bactrias resistentes aos antibiticos. Segundo LEE et al. (1997), impor tante destacar que na engorda e maturao sexual o uso de compostos teraputicos praticado amplamente nas medidas comerciais e de pesquisa, mas muito poucos agentes qumicos esto aprovados para uso em animais destinados ao consumo humano. Tal situao pode gerar impactos sade do consumidor e deve ser tratada com rigor tcnico, alm de obedecidas as normas legais. Por outro lado, as enfermidades e parasitas, associados com os peixes cultivados em tanques-rede, podem disseminar-se entre os peixes nativos e no ecossistema em geral. Outro aspecto a eliminao da incrustao marinha nos sistemas de cultivo, com o emprego de substncias qumicas que so biocidas. Estas substncias txicas no s eliminam os organismos incrustadores, mas tambm seu uso prolongado faz com que se incorporem: i) ao meio circundante, contaminando-o e fazendo-o improdutivo; ii) aos tecidos dos organismos cultivados e, iii) a macrofauna preexistente no local de cultivo. A eliminao ou depurao dos mesmos dos tecidos dos organismos afetados lenta ou inexistente, passando portanto ao organismo humano, se este os consome. Outros impactos ambientais negativos da aqicultura originam-se da introduo de espcies exticas, que estabelecem processos de competio e at destruio das espcies nativas. Como se adaptam com facilidade ao novo ecossistema, uma vez que geralmente no possuem inimigos naturais, estas espcies exticas podem se proliferar em grandes propores, representando um risco diversidade biolgica nativa. Vrios so os exemplos de introduo de espcies que causaram desequilbrios, um deles a dos bagres exticos (Clarias gariepinus e Ictalurus punctatus) nas bacias dos rios Amazonas e Paraguai, que atualmente so proibidos pela Portaria IBAMA n. 142 de 22/12/1994. Na aqicultura, deve-se procurar realizar o planejamento correto antes da implantao, evitando futuros impactos ambientais negativos. A escolha correta do local, o conhecimento das espcies e suas exigncias e a construo dos29

1.4.3 - Recomendaes de medidas atenuantes

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tanques de forma adequada, assim como o manejo correto, so os principais fatores para o sucesso da aqicultura. Vrias so as medidas atenuantes que podem ser adotadas na aqicultura como forma de minimizar seus impactos ambientais negativos. Dentre elas, destacam-se: Evitar a construo de tanques em reas de interesse do ponto de vista ambiental, tais como vrzeas, manguezais e reas de remanescentes florestais primrios. Localizar os tanques de modo que no interfiram nos usos tradicionais da gua a jusante e montante dos mesmos. No caso de guas interiores, buscar os usos mltiplos para as guas dos tanques/viveiros, integrando a aqicultura com outras atividades, tais como a agricultura irrigada. Evitar a introduo de espcies exticas, exceto quando conhecida a biologia da espcie e esta no demonstre riscos para o ecossistema natural. Realizar o tratamento dos efluentes dos viveiros para remoo de poluentes, seja pela utilizao de uma caixa de sedimentao, seja pela construo de uma vrzea, antes da descarga no ambiente natural. Efetuar monitoramento sanitrio freqente para identificao e eliminao de doenas e parasitas e Requerer a outorga do uso dgua de forma a controlar o seu uso, de acordo com as vazes permitidas, evitando conflitos entre produtores e vizinhos, que utilizam a mesma bacia hidrogrfica. Um dos principais problemas da aqicultura o descarte de seus efluentes, ricos em nutrientes (nitrognio, fsforo), matria orgnica e sedimentos. Segundo BOYD (1997), para viveiros de gua doce a troca de guas entre os viveiros e sistemas de irrigao pode ser uma boa soluo, uma vez que estes efluentes podem promover algum benefcio para determinadas culturas, atravs do aumento da umidade do solo e do fornecimento de pequenas quantidades de nutrientes e matria orgnica. Ainda, segundo BOYD (1997), freqentemente possvel transferir os primeiros 80% do volume de gua do viveiro para viveiros adjacentes com a reutilizao da gua. Os ltimos 20% do volume da gua dos tanques so concentrados em poluentes e devem ser tratados para melhorar sua qualidade, antes da descarga em guas naturais.30

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A utilizao de espcies consumidoras de dejetos de outros setores, como, por exemplo, o consrcio piscicultura-suinocultura, pode solucionar os problemas dos efluentes da suinocultura. Porm, segundo BOYD (1997), estercos tm baixas concentraes de nutrientes e devem ser aplicados em quantidades maiores que fertilizantes qumicos, criando uma alta demanda de oxignio, podendo provocar falta desse elemento na gua. Alm disso, os resduos de antibiticos e outros produtos qumicos adicionados na alimentao animal podem estar presentes no esterco e contaminar os peixes e camares cultivados. A grande vantagem dos estercos que estes so produtos de descarte e so baratos, mas devem ser tomados todos os cuidados necessrios para que a carga de dejetos seja equilibrada com a rea do tanque e a quantidade de peixes. Neste caso, so fundamentais a gesto adequada e o controle peridico da qualidade da gua. Com relao s aplicaes de medicamentos destinados a prevenir e tratar doenas e combater parasitas, estes no devem ser aplicados em gua corrente e nem em sistemas abertos. Sendo necessrio, devem ser aplicados em tanques especiais e fechados, evitando a contaminao dos corpos dgua com resduos de medicamentos. Segundo BOYD (1997), algumas medidas podem otimizar o uso da terra, aumentar a eficincia da transformao de protena, reduzir custos de energia, diminuir impactos ambientais negativos e aumentar a sustentabilidade da aqicultura em viveiros, entre elas o autor destaca: Quando possvel, localizar os viveiros em terras que no tm alto valor para outras culturas. Evitar construir viveiros em reas alagadas. Locais com potenciais solos cido-sulfato ou solos orgnicos podem ser usados para viveiros, mas sero problemticos e devem ser usados somente se reas melhores no forem disponveis. Usar mtodos de cultivo relativamente intensivos para reduzir a rea de viveiros, mas no intensificar a ponto da qualidade da gua dos viveiros ser negativamente afetada. Para conservar a gua e minimizar o uso de energia de bombeamento, operar os viveiros por vrios anos sem drenar, permitir capacidade de armazenamento dos viveiros para reter gua da chuva, usar o mnimo de troca de gua possvel, selar o fundo dos viveiros para reduzir infiltrao, e reutilizar a gua onde possvel. Fornecer aerao, mas somente operar os aeradores quando necessrio, de acordo com a concentrao de oxignio dissolvido.31

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Usar rao de alta qualidade que no contenha mais nitrognio e fsforo que o realmente demandado pelo peixe ou camaro. Evitar raes com alta poro de finos (p) e no super-arraoar. Tentar manter boa qualidade da gua e do solo por meio da aerao apropriada, calagem de viveiros acidificados, e tratamento de fundo de viveiros para melhorar a decomposio de matria orgnica. Evitar o uso de tratamentos nos viveiros que no sejam comprovadamente benficos. Quando os viveiros forem drenados, bombear a gua para viveiros adjacentes para que possa ser reutilizada. Se a gua deve ser descarregada, permita que passe por uma caixa de sedimentao ou por uma vrzea construda antes que entre em um corpo de gua natural. BOYD (1997) destaca que obviamente todas as sugestes no so aplicveis a determinados tipos de aqicultura em viveiros ou locais, mas a maioria tem aplicao geral. Por fim, os fatores externos que atuam sobre a aqicultura esto ligados aos impactos negativos de atividades que afetam a qualidade e quantidade da gua, sendo importante salientar que a qualidade dos pescados depende, alm das boas prticas de manejo, do estado fsico-qumico e biolgico das guas onde se pratica a aqicultura. Os principais aspectos de meio ambiente que devem ser considerados na aqicultura, so os que podem produzir impactos negativos sobre os ecossistemas. Esto geralmente ligados s atividades da aqicultura, que influem principalmente na qualidade das guas, por meio do descarte de efluentes, assim como nos conflitos entre usurios, que podem ser gerados, quando da no regulamentao e administrao adequada dos recursos hdricos. Alm dos aspectos a serem observados, j descritos nas medidas atenuantes, o aqicultor dever requerer a legalizao do seu projeto junto ao IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis, por meio da solicitao de seu registro, conforme o estabelecido na Portaria IBAMA n. 095 de 3/08/1993. Para obteno deste registro, o requerente dever atender algumas exigncias, dentre as quais inclui-se a licena ambiental e a outorga do uso do recurso hdrico. Finalmente, segundo BOYD (1997), a intensidade do cultivo interage com muitas variveis que influenciam o lucro, a eficincia produtiva e a sustentabilidade.32

1.4.4 - Referncias para anlise ambiental da atividade

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Se a taxa de estocagem tima for definida como a estocagem que proporciona o maior lucro, esta taxa de estocagem tambm provavelmente otimiza as taxas de horas de aerao, uso da gua, perdas por doenas, qualidade do efluente, e converso alimentar da produo de peixes, e porque todos estes fatores contribuem direta ou indiretamente para a sobrevivncia e o crescimento dos peixes ou camares, que so fundamentais para o retorno. Parece provvel que sistemas aqaculturais podem ser manipulados de modo que o lucro e a sustentabilidade possam ser otimizados ao mesmo tempo. A aqicultura comercial nunca um empreendimento de baixa incorporao de insumos livres de problemas ambientais, mas possvel fazer melhor do que se faz no presente.

1.4.5 - Quadro-resumo Produo animal aqiculturaIMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS Degradao da flora e da fauna na rea de construo dos tanques. Construo de viveiros em locais inadequados, do ponto de vista ambiental. Destruio e ocupao das reas costeiras alagveis, principalmente manguezais. Alterao do fluxo da gua, sendo que em locais com poucos recursos hdricos, pode-se diminuir a quantidade de gua para outros fins, gerando conflitos de uso. Lanamento de efluentes poluentes provenientes dos viveiros que deteriorem a qualidade dos ecossistemas aquticos naturais. Contaminao do meio ambiente com produtos qumicos e drogas usadas no manejo dos cultivos. Riscos de processos de competio e at destruio de espcies nativas, pela introduo de espcies exticas e patgenos associados. Sobrecarga por incremento do nvel de carbono, nitrognio e fsforo. Modificao do meio ambiente socio- econmico regional.

MEDIDAS ATENUANTES Evitar a construo de tanques em reas de interesse do ponto de vista ambiental, tais como: vrzeas, manguezais e reas de remanescentes florestais primrios, observando a legislao pertinente.

Localizar os tanques de modo que no interrompam os usos tradicionais da gua a jusante e montante dos mesmos; Buscar os usos mltiplos para as guas dos tanques, tais como a agricultura irrigada; Requerer a outorga do uso dgua para controlar o seu uso, de acordo com as vazes permitidas, evitando conflitos futuros entre produtores e vizinhos, que utilizam a mesma bacia hidrogrfica. Evitar lanamentos de efluentes sem a remoo de poluentes.

Evitar a introduo de espcies exticas, exceto quando conhecida a biologia da espcie e esta no demonstre riscos para o ecossistema natural. Observar a legislao especfica que orienta sobre a introduo de espcies exticas. Determinao da capacidade de suporte, avaliando a influncia da localizao dos tanques-rede no ecossistema. Implementar condies para a participao comunitria nos processos decisrios, quando da implantao de projetos de aqicultura.

continua33

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LEGISLAO AMBIENTAL Decreto Lei n. 24.643 de 10 de julho de 1934 (Cdigo das guas) Estabelece os possveis e diferentes usos das guas em geral, bem como sua propriedade. Lei 4.771 15/09/65 (Cdigo Florestal) Define medidas de proteo de certas formas de vegetao, especialmente daquelas intimamente associadas aos recursos hdricos (matas ciliares, reservatrios, mangues). Lei n.o 221 de 28/02/1967 (2 Cdigo de Pesca) Estabelece e regulamenta as condies para a prtica da pesca; probe a importao ou exportao de quaisquer espcies aquticas, em qualquer estgio de evoluo, bem como a introduo de espcies nativas ou exticas nas guas interiores, sem autorizao prvia do rgo pblico competente; obriga a tomada de medidas de proteo ictiofauna pelos proprietrios/concessionrios de represas em cursos dgua; trata da explorao dos campos ou bancos naturais de invertebrados aquticos, estabelecendo que qualquer atividade extrativista nesses locais s pode ser executada dentro das condies estabelecidas pelo rgo competente (os bancos naturais de moluscos tm servido tanto para coleta de reprodutores, como de sementes destinadas engorda em cultivos); define que o Poder Pblico deve incentivar a criao de estaes de biologia e aqicultura federais, estaduais e municipais, bem como dar assistncia tcnica s particulares e, estabelece que ser mantido o registro de aqicultores em todo o Pas, do qual se derivou a Portaria IBAMA n. 95-N de 03/08/93. Lei 6.225 14/07/75 Dispe sobre a discriminao, por parte do Ministrio da Agricultura, de regies de execuo obrigatria de Planos de Proteo do Solo e de Combate a Eroso. Decreto 77.775 08/06/76 Regulamenta a Lei 6.225/75. Portaria SUDEPE 001 de 04/01/1977 Prev a construo de estaes de piscicultura ou escadas de peixes como medidas de preservao da ictiofauna em ambientes aquticos alterados pela construo de barragens. Lei n. 6.938 de 31/08/1981 Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, cria o CONAMA, prev o zoneamento ambiental e a avaliao de impactos ambientais. Portaria SUDEPE n. 019 de 30/05/1984 Define as condies para obter-se autorizao para explorar bancos naturais de invertebrados aquticos. Lei 7.803 18/07/85 Inclui pontos importantes ao Cdigo Florestal, em especial quanto s Reservas Florestais Legais e as matas ciliares. Resoluo CONAMA n. 004 de 18/09/1985 Estabelece como reas de preservao permanente os manguezais e outras de interesse para a aqicultura. Resoluo CONAMA n. 001 de 23/01/1986 Estabelece e regulamenta a Avaliao de Impactos Ambientais para o licenciamento de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente. Resoluo CONAMA n. 020 de 18/06/1986 Classifica as guas segundo seus usos e estabelece a classe destinada ao uso pela aqicultura. Decreto 94.076 de 05/03/87 Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrogrficas. Lei n. 7.661 de 16/05/1988 (Lei do Gerenciamento Costeiro) Disciplina o uso racional dos recursos naturais renovveis e no-renovveis ao longo da costa brasileira. Lei 8.171 17/01/91 Lei de Poltica Agrcola Estabelece a Proteo Ambiental dos Recursos Naturais da Propriedade Agrcola. Portaria IBAMA n. 091 de 03/07/1993 Cria a Comisso de Licenciamento Ambiental para os projetos de Salmonicultura da rea de Proteo Ambiental da Serra da Mantiqueira. Portaria IBAMA n. 095 de 03/08/1993 Estabelece normas para o registro do aqicultor junto ao IBAMA. Portaria IBAMA n. 142 de 22/12/1994 Probe a introduo, cultivo e a comercializao de formas vivas dos bagres exticos (Clarias gariepinus e Ictalurus punctatus) nas bacias dos rios Amazonas e Paraguai. Decreto n. 1.695 de 13/11/1995 Regulamenta a aqicultura em guas pblicas de domnio da Unio, delegando ao IBAMA e ao SPU a competncia de baixar seus atos complementares, os quais encontram-se em elaborao. Decreto n. 2.869 de 09/12/1998 Regulamenta a cesso de guas pblicas para a explorao da aqicultura, e d outras providncias.

concluso

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1.5 - Bibliografia consultada

BARBOZA, T. S., BARBOSA, W. O. A Terra em transformao. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992. 257p.

BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluacin ambiental: lineamientos sectoriales. Washington, 1991. v.2, 276p.

ALEMANHA. Ministrio Federal de Cooperao Econmica e Desenvolvimento (BMZ). Gua de proteccin ambiental: material auxiliar para la identificacin y eveluacin de impactos ambientales. Eschborn: (GTZ) GmbH, 1996. Tomo II,730p.

BRASIL. Comisso Interministerial para Preparao da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O desafio do desenvolvimento sustentvel. Braslia: SEPLAN, 1991. 204 p.

BOYD, C. Manejo do solo e da qualidade da gua em viveiro para aqicultura. Campinas: Departamento de Aqicultura Mongiana Alimentos, 1997. 55p.

_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidncia da Repblica. Resolues CONAMA, 1984-1990. Braslia: SEMA, 1991. 231p. BROWN, A.A., DAVIS, K.P. Forest fire: control and use. New York: McGraw Hill, 1973.

_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidncia da Repblica Resolues CONAMA, 1984-1991. Braslia: SEMA, 1992. 245p. BURGER, D. Ordenamento florestal na produo florestal. Curitiba: Curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal do Paran, 1976. 124p. ELY, A. Economia do meio ambiente: uma apreciao introdutria interdisciplinar da poluio, ecologia e qualidade ambiental. Porto Alegre: Fundao de Economia e Estatstica. 1988. 146p. GORE, A. A Terra em balano: ecologia e o esprito humano. So Paulo: Augustus, 1993. 447p. LEE, D. OC. WICKINS, J. F. Cultivo de crustceos. Zaragoza: Acribia, 1997. 449p. GOLDAMMER, J.G. Rural land-use and willand fires in the tropics. Agroforestry Systems. Dotrecht. 1988.

CAVALCANTI, L. B. Camaro: manual de cultivo do Macrobrachium ronsebergii. Recife: Aquaconsult, 1986.

IICA INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAO PARA A AGRICULTURA. Desarrollo sostenible, agricultura, recursos naturales y desarrollo rural. San Jose: BMZ/GTZ/IICA, 1996. Tomo5.498p. LEVINE, R.S. Assessment of mor tality and morbility due to unintentional pesticide. Dosonings. Genebra: WHO, 1986. Document, VBC, 86, 929.

GIMA Guia de indicadores e mtodos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1993. 72p. MAIA Manual de avaliao de impactos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1992. MORGAN, R.D.C. Soil erosion. Londres: Longman House, 1980.

LOMBARDI, J. V. Recomendaes tcnicas para a criao do camaro de gua doce Macrobrachium rosenbergii. So Paulo: Instituto de Pesca, Coordenadoria da Pesquisa Agropecuria, 1996.

_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Coletnea de legislao ambiental. Curitiba: IAP/GTZ, 1996.

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MULLER-HOHESTEIN, K. Die geookologischen zonen der ede. Bayrenth, 1989.

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AGROINDSTRIA2.1 - Descrio da atividade sob o enfoque ambiental

CAPTULO 2

A agroindstria compreende, por definio, a atividade econmica de industrializao ou beneficiamento de produtos agropecurios. Sua caracterstica primordial consiste em conservar e transformar as matrias-primas, bem como extrair e enriquecer ou concentrar os componentes que lhes agregam valor. A agroindstria mais impor tante a alimentar, cujos principais produtos industrializados so: frutas legumes e hortalias; gros; oleaginosas; carnes; leite e pescados. Os projetos agroindustriais tm impor tncia fundamental para o desenvolvimento econmico e social do pas, possibilitando agregar valor s matrias-primas originais, induzindo a modernizao do setor primrio e o crescimento dos servios, alm de minimizar o impacto negativo da liberao de mo-de-obra do campo para os grandes centros urbanos. Existem agroindstrias em diferentes nveis tecnolgicos, desde os mais artesanais e tradicionais at os mais sofisticados. Em cada situao ocorre uma interveno ambiental especfica, dependendo da sua localizao e suporte dos recursos naturais, especialmente da gua. Neste captulo, destacam-se, de forma generalizada, as agroindstrias que processam produtos vegetais, de origem animal e da pesca. As atividades de curtume e processamento de fibras vegetais so tratadas em captulos especficos (Capitulo 3 3.2 Indstria do Couro e Capitulo 3 3.1 Indstria Txtil). Um dos temas mais importantes associado atividade da agroindstria o estudo de localizao da mesma, em funo do abastecimento dgua, lanamento de efluentes e disposio dos resduos slidos. O suporte natural deve ter condies de absorver os impactos ambientais, considerando que todos os critrios tcnicos e legais tenham sido obedecidos. Os cuidados com o manuseio, preparao, processamento e armazenamento das matrias-primas beneficiadas e37

2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

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transformadas tm uma importncia fundamental, uma vez que grande parte destes materiais so facilmente degradveis e necessitam de cuidados sanitrios especiais. Em relao atividade agroindustrial, os principais impactos esto relacionados ao elevado consumo de gua (como insumo, processamento, limpeza, resfriamento, segurana, gerao de vapor etc.), contaminao das guas devido gerao de efluentes, gerao de poluentes atmosfricos e de resduos slidos, alm das alteraes em relao ao uso do solo. Tambm existem os efluentes de origem sanitria, denominadas guas servidas (pias, chuveiro, sanitrios etc.) que devem ter destino adequado, preferencialmente em rede pblica de coleta de esgoto. A gerao de resduos depende fundamentalmente das matrias-primas e dos processos de produo. Os resduos podem ter origem nas diversas unidades, desde a limpeza das edificaes e de equipamentos, do processamento em si, das instalaes sanitrias, entre outras. Esta gerao e sua reciclagem ou tratamento merecem um estudo detalhado, que tambm pode influenciar na localizao da unidade de produo. Em relao contaminao das guas, podem ser verificados efeitos ambientais que variam de acordo com a vazo dos efluentes, gerados principalmente nas operaes de: lavagem, enxge, transporte interno das matrias-primas e limpeza do ambiente de trabalho e dos respectivos equipamentos. Esses efluentes possuem alto nvel de demanda bioqumica e qumica de oxignio (DBO e DQO), slidos suspensos e dissolvidos, leos e graxas e, conforme a matria-prima e processo utilizado, a presena de colibacilos. Podem haver outros contaminantes que dependem dos insumos utilizados, a exemplo de resduos de agrotxicos, leos complexos, compostos alcalinos e outras substncias orgnicas. No mbito das emisses atmosfricas podem ser gerados nos diversos processos: poeiras e materiais particulados, materiais pulverizados, dixido de enxofre, xidos nitrosos, hidrocarbonetos e outros compostos orgnicos. O armazenamento incorreto das matrias-primas e a eliminao e/ou disposio dos resduos slidos podem contaminar o solo, as guas superficiais e subterrneas e degradar a vegetao. Os principais impactos ambientais que podem ser gerados pelas agroindstrias so os seguintes: Contaminao das guas superficiais e subterrneas em funo do lanamento de efluentes sem tratamento ou com tratamento parcial. Contaminao do solo devido disposio incorreta de resduos slidos. Incmodos vizinhana pela gerao de odores desagradveis, devido deteriorao de resduos e dos efluentes.38

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Contaminao da atmosfera em funo do lanamento de material particulado, especialmente nas unidades que possuem caldeira para a produo de calor e vapor dgua. Poluio sonora gerando incmodos vizinhana. Proliferao de vetores de doenas devido incorreta disposio de resduos e ao lanamento de efluentes. Na seqncia ser apresentado um breve resumo de algumas atividades, consideradas exemplificadoras do setor agroindustrial, destacando-se seus potenciais impactos ambientais negativos. Existem vrios mtodos de processamento de cereais, que variam de acordo com a sofisticao tecnolgica aplicada ao empreendimento. O processamento de cereais uma atividade essencial para a produo de alimentos para consumo humano e de animais, especialmente na moagem do milho, trigo, e no descascamento e moagem do sorgo e descascamento do arroz. Os processos tradicionais consistem da moagem a seco ou mida realizada em pequenos moinhos de pedras ou de pratos movidos manualmente. Com o avano tecnolgico e melhoria das condies scioeconmicas so tambm utilizados moinhos de pedra, de prato, de discos rotatrios ou de martelo acionados mecanicamente, podendo o processo ser uma combinao de vrios equipamentos. Nas grande centrais de processamento e considerando a moagem a seco, os efeitos ambientais observados so a emisso de p e a gerao de rudos, que provocam incmodos no local de trabalho e no entorno da unidade. A gerao de resduos, tanto pelo acmulo de p como pela retirada da casca de cereais, pode provocar a contaminao do solo e das guas superficiais, se no forem dispostos adequadamente. De maneira geral, o processo de produo de ch consiste basicamente em: secagem/desidratao das folhas, naturalmente ou por calor induzido, prensamento das folhas para obteno do suco e socagem para quebrar as folhas, fermentao, secagem, armazenamento, classificao e empacotamento.39

Processamento de cereais

Processamento de estimulantes (caf e ch) e especiarias

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O processamento do caf pode ser feito a seco ou por via mida. No processamento a seco, faz-se a secagem dos gros ao sol e o maceramento para eliminao da casca. Na via mida, o processo mais complexo, com a possibilidade de contaminao ambiental, constituindo-se em separao dos gros, maceramento para separao da casca, fermentao, lavagem e secagem. Neste processo demandam-se grandes quantidades de gua. Os efeitos mais intensos das unidades processadores de ch, caf e especiarias so a fermentao e a eliminao dos resduos. As substncias formadas durante a fermentao podem ser acumuladas no solo, causando prejuzos microfauna e microflora. A lavagem aps a fermentao produz guas residurias biologicamente contaminantes que, lanadas em cursos dgua, podem contaminar as guas superficiais e a fauna aqutica.

O processamento do leite tem por finalidade prolongar o perodo de conservao do leite, devido a sua caracterstica de fcil deteriorao, e agregar valor ao produto atravs de sua transformao em vrios derivados. O processamento do leite pode ser realizado por meio de trs mtodos diferentes, que podem combinar entre si, em funo do tipo de unidade processadora. 1) Aumento de acidez ou reduo do pH do leite com a finalidade de atrasar ou impedir a crescimento de organismos que provocam a deteriorao. O aumento da acidez pode ser efetuado pela fermentao do cido lctico (fermentao do acar do leite, transformando a lactose em cido lctico) ou adio de cidos orgnicos, p.ex. vinagre). 2) Diminuio da umidade at o nvel de reduzir ou impossibilitar o crescimento de microrganismos que deteriorem o leite tornando-o mais estvel. A reduo da umidade pode ser efetuada pela evaporao da gua usando o calor; coagulao e extrao do soro; separao mecnica da gordura; adio de sal e acar para reter