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Manual de Trabalho de Campo ASEG Programa de Análise Sócio-Económica e de Género Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

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Manual de Trabalho de Campo

ASEGPrograma de Análise Sócio-Económica e de Género

Organização das Nações Unidas para aAlimentação e a Agricultura

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Todos os direitos desta obra são reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, nem fazer parte de qualquer base de dados ou de pesquisa documental, nem transmitida sob qualquer forma ou por qualquer processo, seja electrónico, mecânico, por fotocópia, ou outro, sem autorização prévia do detentor dos direitos de autor. Todo o pedido de autorização tem de ser enviado ao Director da Divisão de Género e População, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Viale delle Terme di Caracalla, 00100 Roma, Itália, contendo indicações precisas relativamente ao objecto e à dimensão da reprodução.

© FAO 2001

Elaborado por Vicki Wilde Revisto por Valerio E. Tranchida Em colaboração com o programa ASEG Serviço de Género e Desenvolvimento

As referências feitas nesta publicação e a apresentação dos dados incluídos não implicam por parte da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação e qualquer tomada de posição nem com respeito ao estatuto jurídico dos países, territórios, cidades ou zonas, ou das suas autoritdades, nem com respeito ao traçado das suas fronteiras ou limites.

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO 6

1.1 Objectivo do Manual 7 1.2 A abordagem ASEG 8

1.2.1 Uma abordagem analítica 8 1.2.2 Uma abordagem ideológica 10

1.3 Resumo dos Pacotes de Instrumentos da ASEG 15 1.3.1 Pacote de instrumentos A: O contexto do desenvolvimento 16 1.3.2 Pacote de instrumentos B: Análise dos meios de subsistência 17 1.3.3 Pacote de instrumentos C: Prioridades de desenvolvimento

das «partes envolvidas» 18

2 PRONTOS PARA A PARTICIPAÇÃO 19

2.1 Juntar as pessoas externas e da comunidade 19 2.2 Características da Avaliação Rápida 20 2.3 Preparação para a Avaliação Rápida 21 2.4 Riscos da Avaliação Rápida 32

3 TRABALHO DE CAMPO 35

3.1 Como ser um bom moderador 35 3.2 Como encorajar a participação 36 3.3 Como usar Métodos Suplementares de Trabalho de Campo 37 3.4 Como começar bem 40

4 USAR AS INFORMAÇÕES DO TRABALHO DE CAMPO 42

4.1 Análise 42 4.2 Apresentação 45

5 INTRODUÇÃO AOS PACOTES DE INSTRUMENTOS DA ASEG 49

5.1 Estrutura de cada pacote de instrumentos 50 5.2 Estrutura de cada instrumento 50

6 PACOTE A DE INSTRUMENTOS. O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO 52

6.1 O quê? 53 6.2 Como? 54 6.3 Questões da ASEG para análise e resumo 55 6.4 Instrumento A1: Mapas de Recursos da Comunidade 55 6.5 Instrumento A2: Perfis 59 6.6 Instrumento A3: Mapas Sociais da Comunidade 63 6.7 Instrumento A4: Linhas Tendenciais 67 6.8 Instrumento A5: Diagramas de Venn 71 6.9 Instrumento A6: Perfis Institucionais 74

7 PACOTE B DE INSTRUMENTOS. ANÁLISE DOS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA 79

7.1 O quê? 79 7.2 Como? 81 7.3 Questões da ASEG para análise e resumo 82

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7.4 Instrumento B1: Diagrama dos Sistemas Agrícolas 83 7.5 Instrumento B2: Fluxograma de Análise dos Benefícios 86 7.6 Instrumento B3: Relógios das Actividades Diárias 90 7.7 Instrumento B4: Calendários Sazonais 93 7.8 Instrumento B5: Cartões Figurativos dos Recursos 95 7.9 Instrumento B6: Matrizes dos Rendimentos e das Despesas 99

8 PACOTE DE INSTRUMENTOS C. AS PRIORIDADES DAS PARTES ENVOLVIDAS COM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO 105

8.1 O quê? 105 8.2 Como? 107 8.3 Questões da ASEG para análise e resumo 108 8.4 Instrumento C1: Ordenamento em Pares 108 8.5 Instrumento C2: Fluxograma 112 8.6 Instrumento C3: Quadro de Análise dos Problemas 115 8.7 Instrumento C4: Plano Preliminar de Acção da Comunidade 120 8.8 Instrumento C5: Diagrama de Venn das Partes Envolvidas 126 8.9 Instrumento C6: Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas 130 8.10 Instrumento C7: Plano de Acção das Melhores Apostas 133

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA 139

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QUADROS 1. Dossier ASEG 2 2. Definições da ASEG 3 3. Os três níveis da ASEG 4 4. Os papéis atribuídos a homens e mulheres são 6 5. Questões-chave 6 6. Como os recursos de projectos podem ser desviados para os mais favorecidos 7 7. Projecto 100 — para -1 Vaca (Parte 1) 8 8. Projecto 100 — para -1 Vaca (Parte 2) 9 9. A ASEG ajuda-nos a planear o desenvolvimento com êxito 10 10. Os três Pacotes de Instrumentos 10 11. Papel da pessoa exterior à comunidade 15 12. Elaboração de um modelo participativo na Etiópia 18 13. Quem ouvimos? 19 14. Objectivos do estudo de campo da ASEG 23 15. Contrato da equipa 24 16. Plano de Trabalho de AR 25 17. E não esqueça… 26 18. Participação que gera violência 31 19. Qual é o seu papel? 34 20. Conhecimentos e pobreza 36 21. Entrar na comunidade 39 22. Validação 44 23. Linhas gerais para um perfil da comunidade 46 24. Dê importância a isto 49 25. Atingir todos 51 26. O planeamento do desenvolvimento participativo a Nível micro requer: 105 27. Tipos de partes envolvidas 106 28. Uma batalha clássica entre os idosos e os jovens 109 29. Resistindo ao «desenvolvimento» na Colômbia 126

30. Dando voz aos Sem Voz

TABELAS 1. Preparação para a Avaliação Rápida 21 2. Pacote A de Instrumentos. O Contexto do Desenvolvimento 54 3. Pacote B de instrumentos. Análise dos Meios de Subsistência 81 4. Pacote C de instrumentos. Prioridades das Partes Envolvidas

em Relação ao Desenvolvimento 107

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Objectivo do Manual

O Manual de Trabalho de Campo da ASEG foi escrito por agentes de desenvolvimento que trabalham directamente com as comunidades locais nos países em vias de desenvolvimento. Destina-se a pessoas exteriores à comunidade, como técnicos de extensão rural, quadros técnicos governamentais ou não-governamentais que fazem trabalho de campo, consultores dos sectores público ou privado, e a pessoas da comunidade, como os organizadores da comunidade, os líderes de grupos e as instituições locais. O objectivo do Manual é servir de apoio ao planeamento do desenvolvimento participativo a nível da comunidade. A utilização dos instrumentos fornecidos pelo Manual ajudará as pessoas exteriores à comunidade e as que a ela pertencem a trabalharem juntas para:

Identificar os principais padrões de desenvolvimento;

Entender as estratégias de subsistência das diferentes populações, e

Chegar ao consenso sobre as prioridades e planos de acção para o desenvolvimento.

O Manual de Trabalho de Campo da ASEG incorpora ideias e métodos de populações de todas as regiões do mundo que partilham o compromisso para com o desenvolvimento participativo. É baseado em experiências reais nas áreas da agricultura, silvicultura e pesca, mas também pode ser usado por aqueles que trabalham em todos os sectores do desenvolvimento rural. Embora tenha sido elaborado com base em conhecimentos anteriores, há três aspectos que são específicos deste Manual: 1 — É dada atenção explícita às ligações entre os padrões económicos, ambientais, sociais e institucionais que, juntos, constituem o contexto do desenvolvimento. São identificados as oportunidades e os obstáculos ao desenvolvimento. 2 — É considerado fundamental compreender as diferenças sociais em termos de género, riqueza, etnia, classe social e outras dentro das comunidades para entender as estratégias de subsistência e as prioridades de desenvolvimento. Dá-se voz aos pobres e aos marginalizados. 3 — O Manual fornece pacotes (A, B e C) de instrumentos projectados com a finalidade específica de apoiar o processo participativo, que, primeiro, está centrado numa análise da situação vigente e, segundo, no planeamento para o futuro. Os pacotes de instrumentos consistem em diversos instrumentos de avaliação rápida e participativa do meio rural, mas também incluem uma série de questões relacionadas com a ASEG para facilitar e aprofundar a análise. É fornecido um conjunto complementar de instrumentos para acompanhamento e avaliação.

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O Manual de Trabalho de Campo da ASEG foi escrito tendo em linha de conta que nós, que trabalhamos directamente com camponeses, mulheres e homens, temos uma grande responsabilidade. Como pessoas exteriores à comunidade que usufruem de uma certa dose de poder, privilégios e segurança, não devemos esquecer que muitas pessoas da comunidade dela não usufruem. De facto, muitos camponeses estão a um pequeno passo da pobreza e da penúria. Isso é um facto, especialmente para aqueles que não têm acesso aos recursos-chave por razões de género, etnia ou classe social. O único modo seguro de evitar erros, ou impactos negativos, é através do processo participativo no qual as mulheres e os homens clarificam as suas necessidades e os seus recursos, limitações e oportunidades.

Mas, para que os esforços para o desenvolvimento sejam realmente benéficos a longo prazo, as necessidades e prioridades das populações devem ser consideradas à luz do contexto geral de desenvolvimento, cujos muitos factores têm origem fora da comunidade. E é aqui que nós entramos — como a ponte.

1.2 A abordagem ASEG

ASEG significa Análise Sócio-Económica e de Género. É uma abordagem do desenvolvimento baseada numa análise dos padrões e na identificação participativa das prioridades das mulheres e dos homens. O objectivo da abordagem ASEG é preencher a lacuna entre o que a população necessita e o que o desenvolvimento fornece. Juntando a análise sócio-económica e a análise de género, a ASEG ajuda-nos a saber mais sobre a dinâmica da comunidade, incluindo as ligações entre os padrões sociais, económicos e ambientais. Torna mais clara a divisão do trabalho dentro da comunidade,

Quadro 1: O dossier ASEG

O Manual de Trabalho de Campo é apenas uma peça do pacote completo da ASEG. Os outros dois Manuais encontram-se, também, disponíveis. O Manual para o Nível Intermédio é para aqueles que trabalham em instituições e organizações que ligam as políticas de nível macro às de nível micro, incluindo os ministérios governamentais, associações de comércio, instituições de ensino e investigação. O Manual para o Nível Macro é destinado a técnicos de planeamento e criadores de políticas com o fim de aplicar a ASEG a políticas e programas económicos e sociais, tanto a nível nacional como internacional. Os três Manuais são baseados nos conceitos e ligações descritos detalhadamente no Quadro e Guia Básico dos Utilizadores da ASEG. Materiais complementares incluem os Materiais de Aprendizagem da ASEG, um livro de apontamentos de módulos de formação e estudos de caso, elaborados para facilitar a aprendizagem da abordagem ASEG durante os workshops de formação; o Hipertexto da ASEG, um programa informático interactivo de auto-ajuda, e os Guias setoriais da ASEG que dizem respeito à aplicação da ASEG a sectores ou assuntos específicos como a irrigação ou a segurança alimentar.

Todos os materiais da ASEG estão disponíveis em: Gender and Development Service, Gender and Population Division, Sustainable Development Department, Food and Agriculture Organisation, Viale delle Terme di Caracalla, 00100 Roma, Itália, tel: 39-6-52255102, Fax: 39-6-52252004, E-mail:SEAGA fao.org

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incluindo as divisões por razões de género e outras características sociais, e facilita-nos a percepção do controlo e uso dos recursos e da participação da população nas instituições das comunidades.

1.2.1 Uma abordagem analítica

Na abordagem ASEG reconhece-se que o desenvolvimento é um processo complexo. Não há respostas simples! A ASEG ajuda a olhar de modo realista para o desafio do desenvolvimento — examinando os padrões sócio-económicos a diversos níveis e para diferentes populações.

Quadro 2: Definições da ASEG

Análise sócio-económica

O estudo dos padrões ambientais, económicos, sociais e institucionais e suas ligações que compõem o contexto do desenvolvimento.

Análise de género

O estudo dos diferentes papéis das mulheres e dos homens, para entender o que eles fazem, de que recursos dispõem e quais são as suas necessidades e prioridades.

Participação

Um processo de comunicação entre as populações locais e os agentes de desenvolvimento, durante o qual as populações locais desempenham o papel principal na análise da situação vigente e no planeamento, na implementação e avaliação das actividades para promover o desenvolvimento.

Ambiental Sócio-cultural

Nível de Campo

Nível Intermédio

Demográfico Institucional

Económico Político

Nível Macro

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Em cada problema de desenvolvimento, diversos padrões sócio-económicos desempenham o seu papel.1 Por exemplo, a falta de segurança alimentar numa comunidade pode ter origem em problemas ambientais (como a seca), assim como em problemas económicos (como a falta de oportunidades de trabalho assalariado), ou em problemas institucionais (como a formação de extensão inadequada sobre métodos de conservação de alimentos), ou em problemas sociais (como a discriminação contra as mulheres). Há, também, ligações importantes entre esses padrões. A discriminação contra as mulheres, p. e., pode resultar na falta de acesso das mulheres ao crédito, que por sua vez limita a possibilidade das mesmas em adquirir insumos. O resultado final é que a produtividade total da colheita é menor do que poderia ser. Em áreas onde as mulheres têm uma maior responsabilidade na produção de bens alimentares, essas ligações são uma parte importante da equação da segurança alimentar. Os problemas de desenvolvimento têm, também, origem em diferentes níveis. A falta de segurança alimentar numa comunidade, p. e., pode resultar não apenas de problemas relacionados com a produção de bens de cultivo ou de gado a nível do agregado familiar ou da comunidade mas, também, de barreiras que impedem o acesso a mercados a nível regional, assim como de políticas nacionais de preços e de relações de troca comercial internacionais. Por outras palavras, há ligações importantes entre os

problemas a nível micro e as instituições, programas e políticas a nível macro. No Manual de Trabalho de Campo da ASEG o objecto é o nível micro, mas inclui uma análise das ligações entre os padrões e instituições a níveis macro, micro e intermédio.

1 Os outros materiais da ASEG referem seis categorias sócio-económicas, nomeadamente: social, demográfica, institucional, política, ambiental. Para simplificar, a micro-nível, apenas quatro tipos de categorias sócio-económicas são mencionadas no Manual de Trabalho de Campo: económica, ambiental, institucional (incluindo os temas políticos) e social (incluindo os temas demográficos).

Quadro 3: Os três níveis da ASEG

Nível micro:

Está centrado nas populações, incluindo as mulheres e os homens como indivíduos, nas diferenças sócio-económicas entre os agregados e nas comunidades por inteiro.

Nível intermédio :

Focaliza as estruturas, como as instituições e os serviços, que funcionam para operacionalizar as ligações entre os níveis macro e micro, incluindo os sistemas de comunicações e transportes, instituições de crédito, mercados e serviços de extensão rural, saúde e ensino.

Nível macro:

Focaliza políticas e planos, internacionais e nacionais, económicos e sociais, incluindo as políticas financeira e comercial e planos nacionais de desenvolvimento.

Nota: Uma análise dos padrões económicos, ambientais, sociais e institucionais e das interações entre eles está incluída nos três níveis.

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Análise das ligações

Análise a nível

macro Análise a

nível micro

Análise a nível

intermédio

Na ASEG tem-se também em consideração que as diferentes populações têm diferentes necessidades e limitações relacionadas com o desenvolvimento. A população rica, p. e., tem menos problemas de segurança alimentar do que a população pobre porque pode adquirir víveres complementares. As mulheres, chefes de agregados familiares, podem sofrer de maior escassez de alimentos devida à falta de acesso aos recursos e à pobreza dela resultante. A população de um grupo étnico com uma tradição de pastoreio pode ser capaz de aguentar um período longo de seca com menos problemas de alimentos e de nutrição do que os membros de um grupo étnico com tradição agrícola. A utilização da análise de género ajuda-nos a compreender as necessidades e prioridades de diferentes populações, tornando mais clara a relevância do sexo em conjunto com a idade, a riqueza, a classe social, a raça, a etnia, a religião etc. Na análise de género, o objectivo centra-se tanto nas mulheres como nos homens.

1.2.2 Uma abordagem ideológica

ASEG é não apenas uma abordagem analítica que reúne padrões, níveis e populações; é, também, uma abordagem ideológica baseada em três princípios de orientação:

Os papéis diferentes de homens e mulheres são um factor-chave;

As pessoas desfavorecidas são prioridade; e

A participação é essencial.

Os papéis tradicionais de género são um factor-chave que molda as oportunidades e obstáculos que uns e outros enfrentam para assegurar os seus meios de subsistência através de todos os cenários culturais, políticos, económicos e ambientais. Esses influenciam as populações através de todas as suas actividades e decisões. É, também, importante para compreender a posição de mulheres e homens face às instituições que determinam o acesso à terra e a outros recursos, e à economia em geral.

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Há provas contundentes de que, para ter êxito, o desenvolvimento deve ir ao encontro das necessidades e prioridades de mulheres e homens. Reconhece-se que em todos os grupos sócio-económicos as mulheres são desfavorecidas face aos homens. Isto deve ser tido em consideração porque os esforços de desenvolvimento nos quais as mulheres são marginalizadas estão destinados a falhar. Na ASEG o objectivo centra-se no estabelecimento de um ambiente em que tanto as mulheres com os homens possam prosperar. As mulheres são vistas como uma parte integrante de qualquer comunidade e não como um grupo isolado. Uma vez que mulheres e homens têm tarefas e responsabilidades diferentes e diferentes limitações e estratégias de subsistência, ambos devem ser ouvidos.

Embora os papéis de género e a pobreza sejam considerados como prioritários na ASEG, a participação é essencial para manter a coesão da abordagem. As organizações de desenvolvimento e as comunidades locais têm visto falhar muitas actividades de desenvolvimento. Muitas reconhecem, agora, que as actividades de desenvolvimento projectadas somente para as pessoas exteriores à comunidade, que ignoram as capacidades, prioridades e necessidades das mulheres, homens e crianças locais são a origem principal desses fracassos. Mesmo nos casos em que foi pedida informação à população local, a maioria dos programas de desenvolvimento foram planeados fora da comunidade sem o seu envolvimento no processo de planeamento.

Quadro 4: Os papéis atribuídos a homens e mulheres são

Construídos socialmente

Aprendidos

Dinâmicos — mudam com o tempo

Multifacetados — diferem dentro e entre culturas

Influenciados — pela idade, classe social, etnia e religião

Quadro 5: Questões-chave

“Torna-se imperativo perguntar: Desenvolvimento para quem? Com input de quem? Não responder a essas questões é uma falha na finalidade fundamental do próprio programa de desenvolvimento. Se as mulheres nas economias de subsistência são as maiores fornecedoras de alimentos, combustível e água às suas famílias e, mesmo assim, o acesso das mesmas aos recursos produtivos está a diminuir, então mais pessoas sofrerão de fome, má nutrição, doenças e perda de produtividade.”

Fonte: Jacobson (1993)

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A participação requer que as mulheres e os homens locais falem em seu próprio nome. Afinal, é somente a população local que conhece em detalhe a ecologia local e as ligações das actividades dos membros da família na produção de culturas alimentares e de rendimentos como a pecuária, a silvicultura, a pesca e o artesanato, e que sabe como essas actividades são geridas e por quem, e sob que limitações. O conhecimento e as práticas da população local necessitam de ser apreendidos pelos agentes do desenvolvimento e incorporados nas actividades. As populações desfavorecidas são prioridade porque a discriminação, por razões de sexo, etnia, classe social, raça ou de outras características sociais, actua tornando pobres mulheres e homens. As pessoas pobres não têm acesso aos recursos — e a falta de acesso aos recursos mantém as pessoas pobres. Uma vez que as comunidades são compostas de diversos grupos — alguns mais poderosos do que os restantes, alguns particularmente desfavorecidos, e alguns que podem estar em conflito directo com cada um dos outros — há espaço para muitas

Quadro 6: Como os recursos de projetos podem ser desviados para os mais favorecidos

Na aldeia de Ghusel, no Nepal, o Programa de Desenvolvimento para os Pequenos Agricultores (SFDP) dava crédito aos agregados pobres para a aquisição de leite de búfala. Poucos anos mais tarde, duas novas cooperativas leiteiras foram formadas para ajudar os agricultores a colocar o leite no mercado. O SFDP trouxe benefícios financeiros consideráveis a pelo menos um terço dos agregados da aldeia, superou diferenças étnicas e de casta em cooperativas leiteiras geridas democraticamente e teve efeitos positivos na produção de culturas porque havia maior disponibilidade de adubo animal.

Mas o Projeto teve também efeitos negativos: (1) nas mulheres porque o trabalho de recolha de forragem e de cuidados com o leite de búfala aumentou grandemente mas não foi compensado pelos seus maridos que controlavam os rendimentos das vendas do leite; (2) na distribuição dos rendimentos entre os grupos sócio-económicos e étnicos (Tamang e Brahmin) cujas disparidades aumentaram porque os Brahmins, mais favorecidos, receberam crédito embora este devesse ter sido destinado apenas aos sem terra ou aos próximo de se tornarem; e (3) no acesso dos agregados mais pobres às terras da comunidade e às florestas estatais para recolher forragem e lenha devido à rápida diminuição desses recursos naturais conforme o gado aumentava.

Se as mulheres tivessem sido consultadas durante a fase de planeamento do Projeto, poderiam ter sido incluídas duas medidas complementares: (1) acção comunitária para gerir e aumentar os recursos de forragem nas florestas estatais, (2) medidas para incluir as mulheres como membros das cooperativas leiteiras e para prestar-lhes assistência na aquisição de búfalos.

Além disso, se as diferenças sócio-económicas ou de casta tivessem sido analisadas de um modo participativo, a necessidade para planear estratégias para abranger os agregados Tamang mais pobres deveria ter sido reconhecida. Isso podia ter evitado o desvio do crédito para os agregados Brahmin mais ricos.

Fonte: Bhatt, Shrestha, Thomas-Slayter e Koirala (1994)

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diferenças de opinião e para um amplo leque de necessidades. Mesmo dentro de um agregado, as decisões são, mais frequentemente, baseadas em compromissos entre as prioridades de diversos membros do que num acordo geral.

Mas são esses indivíduos e agregados que não controlam os recursos essenciais para a sua subsistência e desenvolvimento os que mais restrições sofrem aquando da satisfação das necessidades básicas, o que resulta em sofrimento e desperdício de recursos humanos. A ASEG é uma abordagem baseada no pressuposto de que colocar as necessidades dos mais desfavorecidos no centro das atenções é o ponto de partida para o desenvolvimento. Por que razão a participação é importante?

Uma abordagem participativa tem como objectivo apoiar a população local a levar a cabo o seu próprio programa de desenvolvimento, utilizando peritos externos para ajudá-la a atingir as metas de desenvolvimento por si traçadas. Embora as mulheres

Quadro 7: Projecto de 100 para 1 vaca

Parte 1

Os agricultores numa pequena aldeia na província indonésia de Irian Yaya na Nova Guiné Ocidental haviam raramente visto uma vaca antes de os representantes do governo terem anunciado que um navio com gado bovino chegaria em breve.

A aldeia tinha cerca de 300 agregados, cuja maioria vivia da agricultura de subsistência, complementada pela criação de um porco ou de algumas galinhas e pela caça. Fora as visitas ocasionais de funcionários do governo ou de algum comerciante, a aldeia tinha pouco contacto com o mundo exterior.

Os técnicos governamentais de planeamento do desenvolvimento estavam ansiosos por introduzir a pecuária comercial numa área que passaria a constituir uma nova fonte de abastecimento de carne bovina para os centros urbanos do país, em expansão. Uma vez que a população dessa aldeia havia migrado para a costa das áreas altas, conhecidas pela criação de porcos, os técnicos julgaram que a população restante aceitaria facilmente o desafio representado pela expansão da criação de gado bovino.

Os funcionários visitantes ministraram um programa de formação com a duração de um dia, após o que chegaram 100 cabeças de gado de abate. Quase imediatamente, os animais começaram a fazer estragos. Cercas baixas, projetadas para manter os porcos fora da aldeia, não serviram de barreira para as vacas, que pisaram e destruíram hortas, danificaram casas, quebraram ferramentas e poluíram fontes de água potável. Quando as vacas foram espantadas, muitas ficaram a vaguear até desaparecerem no mato.

Tendo decidido caçá-las antes que fizessem mais estragos, os camponeses armaram-se com arcos e lanças e mataram as vacas, uma a uma até que apenas uma restou viva. Satisfeitos com o facto de o perigo ter passado, os camponeses pouparam a única sobrevivente para servir de memória viva do perigo a que os funcionários governamentais tinham chamado de “desenvolvimento”.

Fonte: Connell (1993)

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locais sejam peritas em limitações e oportunidades a nível local, elas não sabem tudo. Os pequenos agricultores, p. e., estão em desvantagem por desconhecerem as opções que os programas de desenvolvimento podem oferecer, incluindo métodos e tecnologias melhorados e podem não estar a receber informação sobre materiais, insumos e novas políticas governamentais. Portanto, ao mesmo tempo que as agências de desenvolvimento necessitam de receber melhor informação sobre a situação local, de modo a que possam desempenhar um papel mais eficaz, os agricultores precisam de mais e melhor informação sobre o contexto mais amplo em que vivem para que, bem

informados, possam tomar decisões sobre o seu próprio desenvolvimento. Mas será a participação o suficiente?

A ASEG ajuda-nos a enquadrar as questões apropriadas sobre o desenvolvimento. Enquadrar as questões apropriadas é a chave para obter os três resultados seguintes:

Aumento da capacidade para mulheres e homens rurais gerirem o seu próprio desenvolvimento;

Cooperação mais estreita entre os agentes de desenvolvimento e a população local,

Sucesso de programas e políticas de desenvolvimento.

Quadro 8: Projecto de 100 para 1 Vaca

Parte 2

Alguns anos após o incidente de redução de 100 para 1 vaca, os agentes de desenvolvimento visitaram a mesma aldeia para fazer uma avaliação das necessidades da comunidade. A equipa convocou uma assembleia da população local e disse-lhe que dessa vez as coisas seriam diferentes. Perguntaram aos camponeses o que precisavam.

Os camponeses pediram para adiar a sua decisão para que pudessem pensar melhor sobre o assunto. A equipa concordou e partiu. Quando regressou, alguns dias mais tarde, convocou uma nova assembleia, onde os líderes da aldeia anunciaram que tinham chegado a uma decisão — queriam vacas!

Agora, foi a vez dos agentes de desenvolvimento ficarem chocados pois sabiam da história da redução de 100 para 1 vaca. Perguntaram: como poderiam os agricultores arriscar um novo desastre? Porquê vacas e não porcos ou aves? Porque não assistência de extensão agrícola para as suas hortas? Por que não equipamentos para armazenamento de alimentos? E a assistência médica, a alfabetização ou as actividades geradoras de rendimentos?

Conforme começaram a colocar as questões, compreenderam que a resposta era simples: vacas era o que as pessoas sabiam sobre desenvolvimento. Uma vez que as pessoas exteriores à comunidade trouxeram vacas, a questão, do ponto de vista dos camponeses, era a de saber se queriam ou não mais vacas. No final, disse a maioria dos camponeses que os animais poderiam ser vendidos a comerciantes de passagem. Portanto, seria melhor aceitá-las do que não o fazer.

Fonte: Connell (1993)

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1.3 Resumo dos Pacotes de instrumentos da ASEG

Os instrumentos no Manual de Trabalho de Campo ASEG são métodos de aprendizagem simples, visuais, orais ou escritos, sobre a vida nas comunidades rurais.2

Cada pacote de instrumentos consiste num número de instrumentos que foram seleccionados e organizados com finalidades específicas de aprendizagem. O Manual de Trabalho de Campo ASEG oferece três pacotes de instrumentos. Os dois primeiros estão centrados na aprendizagem sobre a situação vigente («O que é»), enquanto que o terceiro foca o planeamento para o futuro («O que deveria ser»). Cada pacote de instrumentos foi elaborado para responder a questões importantes.

2 Muitos desses instrumentos têm sido, também, utilizados com êxito no meio urbano, mas as questões sobre ASEG que acompanham os instrumentos no Manual de Trabalho de Campo ASEG requereriam uma adaptação para aprendizagem sobre temas de desenvolvimento de caráter urbano.

Quadro 9: A ASEG ajuda-nos a planear o desenvolvimento com êxito

O desenvolvimento bem sucedido aumenta:

A sustentabilidade — apoiando a segurança e a renovação dos recursos;

A equidade — dando iguais oportunidades a todas as mulheres e homens para participar e daí tirar benefícios;

A eficácia — atingindo objectivos sem perda de tempo e de recursos.

Quadro 10: Os três pacotes de instrumentos

Pacote A de instrumentos:

O contexto do desenvolvimento para aprender sobre os padrões económicos, ambientais, sociais e institucionais que constituem as bases ou entraves ao desenvolvimento.

Pacote B de instrumentos:

A análise dos meios de subsistência para aprender acerca do fluxo de actividades e recursos com os quais subsistem diversos grupos de população.

Pacote C de instrumentos:

Prioridades de desenvolvimento das partes envolvidas para planear as actividades de desenvolvimento baseadas nas prioridades de mulheres e homens.

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1.3.1 Pacote A de instrumentos. O contexto do desenvolvimento

Em qualquer comunidade, há um certo número de padrões sócio-económicos que influenciam os meios de subsistência das pessoas e suas opções de desenvolvimento. Um exame do contexto de desenvolvimento ajuda a entender esses padrões. As questões-chave incluem:

Quais são os principais padrões ambientais, económicos, institucionais e sociais da comunidade?

Quais são as ligações entre os padrões a nível micro e aos níveis intermédio e macro?

O que está a melhorar? O que está a piorar?

Quais são as bases para o desenvolvimento? E os obstáculos?

Os instrumentos de desenvolvimento são:

O mapa de recursos da comunidade: de aprendizagem sobre os recursos

ambientais, económicos e sociais da comunidade.

Perfis: de aprendizagem sobre a base dos recursos naturais da comunidade, localização dos terrenos agrícolas, uso do solo, localização e tamanho das unidades agrícolas e agregados, localização e disponibilidade de infra-estruturas, serviços e actividades económicas.

Mapa social da comunidade: de aprendizagem sobre a população local, indicadores de pobreza, número e localização dos agregados por tipo (etnia, classe social, chefiado por mulheres, ricos, pobres, etc.).

Linhas de tendências: de aprendizagem sobre as tendências ambientais (desflorestação, abastecimento de água); tendências económicas (empregos, salários, custo de vida); tendências demográficas (taxas de natalidade, emigração e imigração) e outras tendências importantes para a comunidade.

Diagramas de Venn: de aprendizagem sobre os grupos e instituições locais e sobre as suas ligações com organizações e agências externas.

Perfis institucionais: de aprendizagem sobre as metas, realizações e necessidades dos grupos e instituições locais.

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1.3.2 Pacote B de instrumentos. Análise dos meios de subsistência

A análise dos meios de subsistência focaliza os meios de subsistência de indivíduos, agregados e grupos de agregados e o seu acesso aos recursos para chegar a esses meios. Mostra as actividades que as pessoas exercem para satisfazer suas necessidades básicas e para criar rendimentos. Diferenças sócio-económicas e de género são apresentadas em relação aos padrões de trabalho e de decisão. As questões-chave incluem:

Quais são os meios de subsistência das pessoas? Como podem comparar-se os sistemas de meios de subsistência de mulheres e homens? De diversos grupos sócio-económicos?

Há agregados ou indivíduos incapazes de satisfazer as suas necessidades básicas?

Quão diversificadas são as actividades de subsistência das populações? Têm certos grupos meios de subsistência vulneráveis aos problemas apresentados no contexto do desenvolvimento?

Quais são os padrões (de género, por grupos sócio-económicos) para uso e controlo dos recursos-chave?

Quais são as principais fontes de rendimento? E as despesas?

Os instrumentos de análise dos meios de subsistência são:

Diagrama dos sistemas agrícolas: de aprendizagem sobre as actividades e recursos agrícolas e não agrícolas dos membros do agregado.

Fluxograma da análise de benefícios: de aprendizagem sobre a utilização e distribuição dos benefícios à luz da categoria «género».

Relógios das actividades diárias: de aprendizagem sobre a divisão de trabalho e intensidade do trabalho à luz da categoria «género».

Calendários sazonais: de aprendizagem sobre o carácter sazonal do trabalho das mulheres e dos homens, o carácter sazonal da disponibilidade de alimentos e de água, assim como sobre os padrões de rendimentos e despesas, além de outros temas sazonais de importância para a comunidade.

Cartões figurativos dos recursos: de aprendizagem sobre a utilização e controlo dos recursos à luz da categoria «género».

Matrizes de rendimentos e de despesas: de aprendizagem sobre as fontes de rendimentos, fontes de despesas e as estratégias para gerir crises de diferentes grupos sócio-económicos.

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1.3.3 Pacote C de instrumentos. Prioridades de desenvolvimento das «partes envolvidas»

As «partes envolvidas» são todas as pessoas e instituições, dentro e fora da comunidade, que tanto podem perder como ganhar com uma determinada actividade de desenvolvimento. Com este pacote de instrumentos pretende-se aprender sobre os problemas prioritários das pessoas e as oportunidades de desenvolvimento a elas destinadas. Mas para cada actividade de desenvolvimento proposta as diversas partes envolvidas são, também, identificadas, revelando onde há conflito ou parceria. As questões-chave incluem:

Quais são os problemas prioritários na comunidade? Das mulheres? Dos homens? Dos diferentes grupos sócio-económicos?

Quais as diversas actividades de desenvolvimento propostas pelas populações?

Quem são as «partes envolvidas» para cada actividade de desenvolvimento proposta? Qual o grau do seu envolvimento?

Há conflito entre as «partes envolvidas»? Parceria?

Dadas as limitações de recursos e conflitos entre as «partes envolvidas», quais das actividades de desenvolvimento propostas podem ser realmente implementadas?

Quais as actividades de desenvolvimento que servem de melhor suporte para a meta da ASEG de criar um meio em que mulheres e homens possam prosperar?

Quais as actividades de desenvolvimento que servem de melhor suporte para o princípio da ASEG de dar prioridade aos grupos marginalizados?

Os instrumentos de prioridades para o desenvolvimento das «partes envolvidas» são:

Matriz de Ordenamento em Pares: de aprendizagem sobre os problemas prioritários de mulheres e de homens, e dos diferentes grupos sócio-económicos.

Fluxograma: de aprendizagem sobre as causas e efeitos dos problemas prioritários.

Quadro da Análise de Problemas: para reunir os problemas prioritários de todos os diferentes grupos da comunidade, para explorar as estratégias locais de gestão de crises e para identificar oportunidades de lidar com os problemas.

Plano de Acção Preliminar para a Comunidade: para planear as possíveis actividades de desenvolvimento, incluindo os recursos necessários, grupos comunitários e exteriores passíveis de serem envolvidos e o calendário de execução.

O Diagrama de Venn das «Partes Envolvidas»: de aprendizagem sobre as «partes envolvidas», comunitárias e externas, para cada acção proposta no Plano de Acção Preliminar da Comunidade, e a amplitude do seu envolvimento.

Matriz de Conflitos e de Parcerias das «Partes Envolvidas»: de aprendizagem sobre os conflitos de interesses e interesses comuns entre as «partes envolvidas».

Planos de Acção das Melhores Apostas: para cumprimento de planos de acção para actividades de desenvolvimento que satisfaçam as necessidades prioritárias identificadas por mulheres e homens de cada grupo sócio-económico.

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2 PRONTOS PARA A PARTICIPAÇÃO

Os instrumentos apresentados no Manual de Trabalho de Campo da ASEG pertencem a um conjunto de métodos denominado Avaliação Rápida (AR). São projectados para obter informação detalhada e prática sobre temas de desenvolvimento em comunidades locais num período relativamente curto. É importante reconhecer a diferença entre a Avaliação Rural Rápida (ARR) e a Avaliação Rural Participativa (ARP). A diferença fundamental reside em quem lidera a investigação. Se o processo de aprendizagem é principalmente gerido por pessoas exteriores à comunidade, como investigadores do desenvolvimento, com experiência de trabalho de campo, é denominado ARR. Se, por outro lado, é um processo de investigação e acção contínuo, gerido pela comunidade local, é denominado ARP. Na prática, no entanto, há um meio termo entre ARR e ARP, no qual as pessoas exteriores à comunidade podem iniciar o processo; depois, através da formação e da prática, os membros da comunidade local podem ter um maior controlo sobre o processo. Na ASEG uma abordagem altamente participativa de AR é um dever! 2.1 Juntar as pessoas externas e da comunidade

Mais importante do que os instrumentos de AR é o processo pelo qual são usados — um processo, em duas direcções, de explorar, questionar, analisar e aprender. Muitos métodos tradicionais de investigação e planeamento do desenvolvimento colocam a pessoa exterior à comunidade numa posição privilegiada como um fazedor de perguntas, fornecedor de soluções e um perito, ao mesmo tempo. Pressupõe-se que a população local precisa de conselhos e orientação das pessoas exteriores à comunidade. A troca de informações é numa só direcção: no caso de respostas a perguntas colocadas pelas pessoas de fora da comunidade e no caso das orientações dadas pelos técnicos de extensão rural. Estabelecer uma base para o diálogo, através do qual a informação é compartilhada e no qual há um reconhecimento explícito de que as pessoas exteriores necessitam aprender tanto quanto, ou até mais do que as pessoas da comunidade, representa um passo fundamental na AR participativa.

Uma das forças dos instrumentos de AR é que facilitam a aprendizagem de indivíduos da comunidade local e pessoas exteriores a ela. Os instrumentos de AR são simples de utilizar, apoiando-se principalmente em técnicas orais e visuais, como grupos de discussão, mapas e diagramas. Mesmo nas comunidades onde as taxas de alfabetização são baixas, os instrumentos de AR podem ser usados por todos, incluindo as crianças. Mas ser simples de usar não significa que pouco se pode aprender com eles. Pelo contrário! Os instrumentos de AR podem, também, ser usados para fornecer

Quadro 11: O papel da pessoa exterior à comunidade

«Uma pessoa externa que vem com soluções prontas é mais do que inútil. Ela, primeiro, (sic) deve aprender connosco quais são as nossas perguntas e ajudar-nos a articular melhor as perguntas, e, então, ajudar-nos a encontrar as soluções. Ela (sic) é um amigo que nos ajuda a reflectir sozinhos sobre os nossos problemas.»

Fonte: Tilakaratna (1987)

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uma grande quantidade de informação e para apoiar análises detalhadas e processos de planeamento. Quando trabalham com os instrumentos de AR, as pessoas exteriores à comunidade têm mais o papel de ouvintes e moderadores do que de professores e peritos. Tornam-se catalisadores e proporcionam ocasião para a população local analisar os seus próprios problemas. Isso requer uma posição mais respeitosa que geralmente leva a uma melhor relação com a população local, tornando as pessoas exteriores e da comunidade melhores colaboradores para o desenvolvimento. Então, os conhecimentos da população local e das pessoas exteriores podem ser reunidos para encontrar as melhores soluções. 2.2 Características da Avaliação Rápida

2.2.1 Atitude

A mais importante característica para obter boa informação através dos instrumentos de AR é a atitude. A fim de construir uma relação positiva com as mulheres e os homens locais, as pessoas exteriores à comunidade devem ter uma atitude de respeito, humildade e paciência e vontade de aprender com os camponeses. Elas devem dar-lhes apoio no uso de métodos e instrumentos para capacitá-los a expressar e analisar os seus conhecimentos e projectar os seus próprios planos de acção para o desenvolvimento. 2.2.2 Nível de ignorância necessária

O objectivo não é aprender tudo, mas aprender o que é necessário para decidir sobre acções futuras de desenvolvimento. O Manual da ASEG propõe certos instrumentos para recolher certos tipos de informação, reconhecidamente importantes para a maioria dos esforços de desenvolvimento. 2.2.3 Velocidade

Em comparação com os métodos tradicionais de investigação, a AR é relativamente rápida porque não tenta recolher uma amostra estatisticamente válida. Em vez disso, a vantagem dos instrumentos de AR é que muita informação é rapidamente produzida. Mas o tempo total necessário depende de muitos factores, incluindo o tamanho da comunidade, a complexidade da estrutura social e a finalidade geral da AR. Um determinado número de visitas curtas, num longo período de tempo pode ser necessário. Para conseguir os melhores resultados, é importante não haver pressa. 2.2.4 Aprender com a população local

A AR facilita a utilização plena dos conhecimentos e experiências locais, limitando a imposição de concepções prévias sobre condições locais. É dada à população local a oportunidade de descrever como exerce actividades, o que sabe e o que quer.

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AVALIAÇÃO RÁPIDA COMO INTERAÇÕES ENTRE PESSOAS

DE DENTRO E EXTERNAS À COMUNIDADE

INSTITUIÇÕESEXTERNAS

AGENTES EXTERNOS DE

DESENVOLVIMENTO

INSTITUIÇÕES INTERNAS

Adaptado de: Townsley, P. Training of Rapid Appraisal Teams. Notes for Trainers. FAO. 1993.

OPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO

AVALIAÇÃO RÁPIDA

MULHERES EHOMENS DA COMUNIDADE

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2.2.5 Aprender a partir de muitos pontos de vista A AR oferece vários instrumentos para que os temas complexos do desenvolvimento e as condições locais possam ser examinados de diversos ângulos. No Manual da ASEG torna-se obrigatório incluir os pontos de vista de pessoas de diferentes grupos sócio-económicos.

Quadro 12: Elaboração de um Modelo Participativo na Etiópia

Quando a equipa de ARP reuniu os camponeses em North Omo, Etiópia, para fazer um modelo que representasse a sua área, descobriram que, embora, cerca de trinta pessoas se tenham juntado à sua volta com interesse, apenas poucos definiram as características a serem representadas. Esse grupo era composto exclusivamente por homens adultos. As mulheres apenas olhavam silenciosamente e as crianças eram afastadas se se aproximassem. O modelo produzido representou, assim, um ponto de vista particular.

A equipa pediu, então, às mulheres e crianças que fizessem os seus próprios modelos em espaços de terra próximos do modelo dos homens. As crianças pegaram rapidamente em gravetos, folhas e pedras e, sob a liderança de um rapaz de dez anos de idade, construíram um modelo extensivo que incluía características que os homens haviam deixado de fora. Por exemplo, o modelo dos homens mostrava a área inteira como um colcha de retalhos de terras agrícolas e as discussões centravam-se na falta de pastagens. A equipa apercebeu-se, mais tarde, que cada agricultor localizava parte de sua terra para pastagem como complemento do uso das áreas comunais.

As mulheres juntaram muitos ramos e galhos a fim de criar um modelo detalhado dos rios, seus afluentes, passagens e viveiros de peixes. O tema da disponibilidade de água, que os homens não tinham abordado, tornou-se uma preocupação evidente. As mulheres marcaram, também, o número exacto de casas, discutindo o número de habitantes e espaços entre as casas. Isso levou a discussões sobre os temas sociais.

Fonte: Jonfa, et al. (1991)

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2.2.6 Equipas multidisciplinares

As equipas de AR são compostas por membros com experiências e capacidades diversas que podem contribuir para um discernimento e uma compreensão mais profundos da informação reunida. Os membros da comunidade dispõem de competências e conhecimentos específicos e são considerados como parte da equipa. 2.2.7 Triangulação

Há um modo de ratificar a informação para torná-la mais exacta. Isto significa examinar qualquer problema do maior número possível de perspectivas, mas de, pelo menos, três. A triangulação é conseguida pelo uso de diferentes instrumentos para reunir informação sobre o mesmo tema (por exemplo, mapas, perfis e linhas de tendências para examinar mudanças ambientais); e ouvindo diversas pessoas com diferentes pontos de vista sobre o mesmo tópico (p. e., mulheres/homens, jovens/idosos, ricos/pobres sobre a produção alimentar). A triangulação foi integrada nos pacotes de instrumentos do Manual de Trabalho de Campo da ASEG.

Quadro 13: Quem ouvimos?

É um erro assumir que as comunidades rurais são grupos de pessoas bastante homogéneos. Em cada comunidade, há diferenças de género e idade, combinadas com diferenças em termos de riqueza, origem étnica, classe social, raça, etc. Cada um desses diversos grupos tem experiências, perspectivas, interesses e necessidades diferentes. Por exemplo, as pessoas mais pobres têm necessidades diferentes das pessoas mais ricas, as mulheres têm necessidades diferentes das dos homens e os jovens têm, frequentemente, ambições que diferem das dos mais velhos.

Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que a pobreza, as diferenças de género e idade não podem ser consideradas inteiramente isoladas umas das outras. As necessidades de uma mulher pobre são diferentes daquelas de uma mulher rica. As necessidades dos jovens de um grupo étnico de pastoreio são diversas das necessidades de um jovem de um grupo étnico com tradição agrária.

A resposta a “o que ouvimos” é raramente directa. Mas o que é evidente é que é importante ouvir uma variedade de opiniões. Com os pacotes de instrumentos ouvimos sempre tanto as mulheres como os homens, incluindo os mais pobres e os mais marginalizados. É, também, importante chegar até todos os diferentes grupos étnicos, classe sociais, raças, etc., na comunidade. Não devemos esquecer que cada grupo tem a sua própria história para contar; que, frequentemente essas histórias são, em parte, conflituosas, mas que cada uma é importante para nos ajudar a entender as condições de desenvolvimento.

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Multidisciplinário

Pessoas da comunidade/externa

Mulheres/homens

Equ ipa AR

COMUNIDADE

Fon te s de

in form ação

Lugares/eventos Fontes secundárias Diagramas e mapas

Observação Entrevistas e discussões

Instru me ntoe m é todos

Mulheres e homens

Ricos e pobres

Diferenças de raça, etnia, classe social e outras

P opu lação

TRIANGULAÇÃO

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2.2.8 Análise no local

Uma vez que os instrumentos de AR dependem de figuras, mapas e diagramas esquemáticos, a informação fica imediatamente disponível para análise. A análise no local permite regularmente preencher lacunas e corrigir inconsistências. Isso significa que a informação pode ser revista, analisada e complementada continuamente, durante todo o processo, permitindo aos membros da equipa modificar questões e rever o objectivo do estudo, se necessário. 2.3 Preparação para a Avaliação Rápida

É importante estar-se bem organizado antes de sair para o trabalho de campo. Ao mesmo tempo que se quer ouvir, aprender e trabalhar com as mulheres e os homens do meio rural, não desejamos perder o tempo deles nem o nosso! Tanto flexibilidade como planeamento cuidado são necessários para assegurar um trabalho de campo frutífero.

Tabela 1: Preparação para a Avaliação Rápida

Uma Avaliação Rápida

(vários dias ou semanas)

Preparação

Identificar a finalidade Seleccionar o(s) lugar(es) Seleccionar o ritmo e frequência de trabalho Definir objectivos Seleccionar a equipa Rever a informação de fontes secundárias Trabalho preparatório Contactar os camponeses e as autoridades Fazer arranjos logísticos

Trabalho de Campo

Introduções Identificar os participantes Recolher informação usando os pacotes de

instrumentos da ASEG e outros métodos de trabalho de campo

Fazer uma análise preliminar Tratar das apresentações

Análise e Apresentação

Um Dia

uma Avaliação Rápida

Usar o Plano de Trabalho e as folhas de Actividades para organizar os membros das equipas e os participantes

Recolha de Informação usando os instrumentos da ASEG

Análise Preliminar Revisão Diária: Plano de Trabalho, informação, trabalho

da equipa, participação, logística Preparar o dia seguinte

Todas as seguintes etapas são necessárias para preparar o trabalho de campo da AR:

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2.3.1 Identificar a finalidade da AR

A primeira questão a perguntar é «o que se espera da AR?» Há, pelo menos, quatro tipos de AR:

a) uma AR exploradora é feita quando não há muita informação sobre uma área e é necessária uma visão geral sobre a situação. Este tipo de AR ajuda a identificar os temas que são importantes e que podem justificar um estudo mais detalhado.

b) uma AR tópica examina um assunto particular e tenta obter informação mais pormenorizada. Este tipo de AR resulta, frequentemente, em recomendações para acções necessárias à resolução de um problema específico.

c) uma AR de acompanhamento e avaliação é executada quando acções de desenvolvimento já foram iniciadas. Este tipo de AR é feita para ver se as acções de desenvolvimento estão a ser eficazes e para ver se são necessárias algumas mudanças.

d) uma AR de planeamento participativo leva à elaboração e implementação de um plano pormenorizado de desenvolvimento em conjunto com as mulheres e os homens da comunidade local. O Manual de Trabalho de Campo da ASEG foi elaborado para facilitar o planeamento participativo, mas os instrumentos individuais podem, também, ser usados para outros tipos de AR.

2.3.2 Seleccionar lugares

A questão de quantos lugares incluir numa AR depende:

a) da finalidade do estudo (ver acima), b) do tamanho e da complexidade da área a ser coberta, e c) da disponibilidade de tempo e de recursos.

Se a finalidade da AR é reunir elementos para informar decisões sobre políticas e programas, será necessária a execução de estudos em diferentes lugares. Quanto maior for a variedade existente numa área em termos de etnia, sistemas agrícolas e condições ambientais, p. e., maior será o número de lugares necessários para entender o leque de situações. Mas se a finalidade da AR é apoiar o planeamento participativo de planos de acção de desenvolvimento, então, o número de lugares dependerá do número de planos de desenvolvimento necessários. 2.3.3 Seleccionar o ritmo e a frequência de trabalho

Se o objectivo da AR é explorador, então um único estudo numa única comunidade pode ser suficiente. Este é o tipo mais simples de AR, embora não seja o mais eficaz por causa da falta de acompanhamento posterior. Se a AR é tópica ou para acompanhamento e avaliação após o final do programa, então, uma série de sessões numa comunidade pode ser necessária para obter informação em diferentes épocas do ano ou em diferentes etapas de execução do programa (ver Secção VIII). Para o planeamento participativo, uma série de sessões de trabalho, durante alguns meses, pode ser necessária: primeiro, para participar no planeamento do estudo e para definir os objectivos da AR; segundo, para participar na recolha e análise de informação sobre a comunidade; terceiro, para elaborar um plano de acção. Visitas de acompanhamento após o final do programa podem ser necessárias para acompanhar acções, avaliar os progressos e planear novas actividades conforme surjam novos problemas. Todas as visitas devem ser marcadas em épocas que convenham à comunidade local. Deve assegurar-se que as sessões de investigação ocorram durante os períodos em que seja possível a participação das mulheres.

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2.3.4 Definir objectivos

A utilização da ASEG significa que alguns objectivos amplamente definidos já estão inseridos no processo de aprendizagem (veja quadro). Além disso, a organização ou agência patrocinadora podem ter objectivos específicos para complementar, tais como identificar prioridades da formação de extensão rural ou para investigar as necessidades de planeamento familiar. Para a ARP, a comunidade local está envolvida activamente em definir os objectivos do estudo de campo. A definição dos objectivos torna-se, então, a primeira etapa do trabalho de campo. Todos os objectivos devem ser específicos, limitados no tempo e mensuráveis. Quanto mais concretos forem mais fáceis serão de preparar. 2.3.5 Seleccionar a equipa

Os membros da equipa devem ser seleccionados de acordo com certos critérios, incluindo:

a) familiaridade com os instrumentos de AR e os princípios de participação; b) peritagem técnica numa área prevista como importante para o estudo, p. e.,

agronomia ou microeconomia; c) sensibilidade para os temas relacionados com as diferenças de género; e d) vontade de passar algum tempo nas comunidades.

Devido ao facto de muitas mulheres rurais não se sentirem à vontade com entrevistadores homens, é importante incluir membros femininos na equipa, de preferência em proporção igual à dos membros masculinos. Ao todo, o número de membros da equipa não deveria ser menor do que 3, para a triangulação das perspectivas, mas não deveria passar 6 pessoas. Se a equipa é demasiado grande, torna-se difícil dirigi-la e pode parecer, à comunidade, opressora e ameaçadora. Se os peritos técnicos não têm experiência ou formação em questões sociais nas comunidades rurais, então, pelo menos, um cientista social deveria fazer parte da equipa. 2.3.6 Rever informação secundária

Tendo sido definida a finalidade da AR, uma das primeiras coisas a serem feitas é rever todas as fontes existentes de informação sobre a área, a comunidade ou o tópico que irá ser objecto de estudo. As fontes de informação incluem, geralmente:

a) estatísticas e relatórios dos departamentos e ministérios governamentais, b) documentos de programas e projectos de agências de desenvolvimento e ONGs,

Quadro 14: Objectivos do estudo de campo da ASEG

a) identificar os suportes e entraves ao desenvolvimento na área através de uma análise dos padrões ambientais, económicos, sociais e institucionais;

b) compreender as estratégias de subsistência dos diferentes membros da comunidade; e suas necessidades e limitações afins; e

c) chegar a consenso sobre prioridades e planos de acção de desenvolvimento.

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c) estudos e levantamentos de universidades e instituições de investigação, e

d) documentação de organizações de serviços na área local.

Visitas com indivíduos familiarizados com a área ou os tópicos são, também, muito valiosas. As discussões e os documentos podem ajudar a formular os objectivos da AR, decidir sobre quem deve participar na equipa e formular questões para o estudo. Deve ficar alerta, entretanto, para o facto de que a maior parte das fontes secundárias peca pela falta de informação desagregada por sexos e, portanto, deve ser revista, levando-se em linha de conta que podem ser tendenciosas ou inadequadas. 2.3.7 Realizar um workshop preparatório

Imediatamente antes de partir para o campo, é importante que todos os membros da equipa se reúnam para um workshop preparatório, cujos objectivos incluem:

a) esclarecer os papéis de cada membro da equipa e fazê-los funcionar como uma equipa, incluindo o acordo sobre o contracto da equipa (ver o quadro acima),

b) familiarizar os membros da equipa com a abordagem ASEG, incluindo a sensibilização sobre as diferenças de género, se for o caso,

Quadro 15: O Contrato da Equipa

O contrato da equipa é uma lista de regras e normas que a equipa inteira discutiu e aceitou, em relação ao comportamento da equipa e para gerir crises durante o seu trabalho de campo. Durante o workshop preparatório peça aos participantes para:

a) discutirem em grupo (brainstorming) sobre eventuais problemas que possam ocorrer no campo e fazerem uma lista deles, p. e., conflitos, acidentes, mortes.

Exemplo de perguntas: Que faremos se:

— um membro da equipa está outra vez atrasado para a sessão matinal?

— um membro da equipa está demasiadamente entusiasmado e continua a interromper os agricultores quando estão a falar?

— numa reunião de revisão com os agricultores, o líder local tenta controlar a escolha das prioridades de investigação?

— a meio de uma entrevista com um pequeno grupo, alguns agricultores dizem que têm de partir para tratar de outros assuntos?

b) discutirem e chegarem a um consenso sobre soluções ou normas de comportamento esperadas por parte dos membros da equipa para cada problema eventual;

c) decidirem sobre uma estratégia para lidar com circunstâncias imprevisíveis e eleger membros responsáveis da equipa;

d) escreverem e reproduzirem o contrato da equipa, assegurando que cada um receba uma cópia.

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c) treinar os membros da equipa em cada um dos instrumentos de AR, e

d) preparar o Plano de Trabalho da AR (ver quadro abaixo).

O workshop preparatório pode durar vários dias, dependendo do âmbito do estudo e da familiaridade dos membros da equipa com os instrumentos. 2.3.8 Contactar as autoridades locais

Em muitos casos é necessário o consentimento das autoridades locais (regionais, locais) antes da AR poder começar a ser executada. E uma vez que qualquer acompanhamento pós-programa das AR, em especial os planos de acção de desenvolvimento, deve ser aprovado pelas autoridades locais, é essencial que essas sejam envolvidas desde o início. Após a chegada à área, as visitas às autoridades locais não são apenas importantes por uma questão de cortesia, mas também como fontes de informação. 2.3.9 Fazer arranjos logísticos

Uma primeira visita à(s) comunidade(s) seleccionada(s) é necessária para explicar a finalidade e os métodos da AR e para descobrir se as pessoas estão interessadas ou não. Então, podem ser discutidos os arranjos logísticos. A equipa de AR deve empenhar-se em integrar-se o mais plenamente possível na vida dos camponeses mas não tentar impor-se. Isso pode significar pedir a alguém para preparar comida local para a equipa, mas fazê-lo contribuindo com víveres suficientes para cobrir as necessidades da equipa e das pessoas que possam eventualmente partilhar das suas refeições. Para criar uma atmosfera amigável e aberta, que conduza a um planeamento participativo, e para facilitar o uso eficaz do tempo durante o trabalho de campo, é melhor que a equipa passe as noites na comunidade durante a AR. Equipamento de campismo pode ser necessário.

Quadro 16: Plano de Trabalho de AR

Os pacotes de instrumentos da ASEG fornecem um enquadramento lógico que pode guiar todo o processo de AR, mas os detalhes de implementação podem ser específicos de cada situação, e tornarem-se necessários ajustamentos nos pacotes de instrumentos a fim de irem ao encontro das necessidades da comunidade. Por essa razão, é importante que cada equipa de AR prepare o seu próprio Plano de Trabalho de Avaliação Rápida durante o workshop preparatório. O Plano de Trabalho inclui uma descrição dos objectivos, das expectativas, do processo e do plano geral de acção (ver abaixo).

O Plano de Trabalho é acompanhado por uma série de Folhas de Actividades — uma para cada uma das etapas do processo de AR —, indicando os temas, instrumentos, moderadores, registadores e materiais necessários (ver abaixo). Preenchendo esses tipos de folhas de trabalho, todos sabem o que fazer e porquê.

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Quadro 17: E não esqueça…

Equipamento de AR:

mapas

bloco de papel em cavalete

conjunto de cálculo geométrico

tesouras

clips

papel branco

cartões tamanho A3

dossier para guardar desenhos

filme e câmara de vídeo

cadernos de notas

canetas, marcadores

fita adesiva

linha

réguas

papel colante colorido

rolos e máquina fotográfica

gravador e fitas áudio

pilhas de reserva

Equipamento de Campo:

tendas

sacos de dormir ou camas de campanha

redes contra os mosquitos

lanternas e pilhas

combustível

mantimentos

reservas de água, se necessário

fogões e utensílios de cozinha

utensílios para lavagem e sabão

e:

objectos pessoais

medicamentos contra a malária, diarreia, etc.

cópia do Contracto da Equipa

cópia do Plano de Trabalho da AR

cópia das Listas de Actividades da AR

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O plano de trabalho da avaliação rápida

1. Objectivos

Por que está a AR a ser executada? Incluir os objectivos da comunidade, assim como aqueles da equipa de AR ou da agência patrocinadora. Certificar-se de que os objectivos são específicos, mensuráveis e com períodos de tempo definidos. 2. Expectativas

Para quem é a AR? O que acontecerá à informação recolhida e analisada? Como será usada e por quem? 3. Processo

Decidir que informação necessita ser recolhida. Rever os três pacotes de instrumentos da ASEG e decidir que instrumentos são necessários para cada etapa do processo. 4. Plano de acção

Elaborar uma tabela experimental de acontecimentos. Que actividades podem ser realizadas ao mesmo tempo e quais as que devem ser realizadas em sequência? Identificar os possíveis participantes de cada actividade, p. ex., mulheres/homens, jovens/idosos, ricos/pobres, etc. Anexar as Folhas de Actividades que acompanham cada instrumento.

Folha de actividade de avaliação rápida

Folha de Actividade # _______ Data: Comunidade: Lugar: Período: Moderador: (responsável por liderar a discussão com os participantes, fazendo perguntas, introduzindo os instrumentos, etc.) Registador: (responsável por registar o que é dito e desenhar o que é projectado, cartografado, ou modelado) Tradutor: (se necessário) ETAPA: (contexto do desenvolvimento, análise dos meios de subsistência, prioridades de desenvolvimento das partes envolvidas) INSTRUMENTO: (linhas de tendências, mapa da comunidade, calendário sazonal, etc.) PARTICIPANTES: (por sexo, idade, riqueza, etnia, etc.) TRIANGULAÇÃO COM: actividade # ___ actividade # ___ participantes: PROCESSO: (descrição etapa por etapa do que acontecerá) MATERIAIS: (materiais que necessitam de ser preparados, levados consigo ou obtidos quando chegar lá)

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2.4 Riscos da Avaliação Rápida

Embora a AR participativa ofereça muitas vantagens, tem também os seus riscos. Alguns desses riscos podem ser evitados e alguns podem ser mitigados se surgirem, mas outros podem ser bastante sérios e difíceis de ultrapassar. Em todo o caso, é melhor estar ciente deles. Seguem-se alguns exemplos dos riscos mais comuns. 2.4.1 Aumentando as expectativas

O envolvimento intenso da população local no processo de AR tende a produzir muito entusiasmo e a criar muitas expectativas sobre as acções de desenvolvimento por ela identificadas. Portanto, proporciona um momento propício à mudança. Embora seja um aspecto positivo, pode causar problemas se não estão previstos apoios para a sua implementação. É essencial que a equipa de AR seja honesta e clara, desde o início e durante todo o processo, sobre se recursos de instituições exteriores de desenvolvimento estarão ou não disponíveis. Se não estiverem disponíveis recursos externos, o foco deve ser em actividades de desenvolvimento que possam ser implementadas apenas com recursos locais. Se os recursos estiverem previstos, então, é importante fazer estimativas realistas de quando estarão disponíveis, p. e., num mês, em 6 meses ou num ano. Se a agência de cooperação for incapaz de cumprir as prioridades locais, já que aquelas identificadas estão fora do alcance da sua missão e âmbito de especialização, este assunto deveria ser discutido francamente com a comunidade e deveriam procurar-se outras soluções. Isso poderá passar pela colaboração com outra agência que possa corresponder às necessidades locais ou pela transferência desse assunto para uma agência governamental apropriada. 2.4.2 Domínio da agência

Renunciando ao controlo e deixando espaço às pessoas para decidirem por elas mesmas, significa que devemos estar prontos para resultados imprevisíveis que podem dar certo. Infelizmente, muitas agências de desenvolvimento (nacionais e internacionais) sentem-se relutantes em renunciar ao controlo de determinadas actividades de projectos. Se uma agência doadora planeou entregar, p. e., dois tubos de captação de água do subsolo, deve estar sem vontade de apoiar a melhoria dos cuidados veterinários, embora esta tenha sido identificada como uma das prioridades dos camponeses. Em tal caso, a equipa de AR pode encontrar-se na situação difícil de mediar um processo em que os camponeses expressam e mostram quais são as suas necessidades mais importantes. Se a agência ignorar as questões prioritárias levantadas pela comunidade e tratar apenas daquelas na sua agenda, então, do ponto de vista dos camponeses, os resultados mais importantes do processo de AR serão negligenciados. Se o processo participativo fica restringido pelas expectativas da agência, é importante:

a) educar a agência convidando alguns de seus membros mais importantes para participar numa AR a fim de que possam perceber a importância do processo e as suas implicações num desenvolvimento sustentável, equitativo e eficaz; ou

b) evitar o uso da AR participativa a fim de obviar a que cresçam as expectativas da população local.

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2.4.3 Fracasso ou necessidade de mudança

Quando a AR é executada onde as acções de desenvolvimento já tinham sido implementadas, os resultados podem revelar impactos negativos, fracasso ou necessidades de melhoria. Em tais casos, a equipa de AR tem duas responsabilidades:

a) comunicar as más notícias às instituições de apoio, e b) explorar junto com a comunidade várias opções de soluções e melhorias.

Mas pode colocar os membros da equipa na difícil posição de tentar persuadir os outros para mudar um programa a fim de torná-lo mais sensível às necessidades locais. Dependendo das atitudes e da flexibilidade do pessoal do projecto e das instituições de apoio, isso pode ser uma questão contenciosa ou pode levar a um processo estimulante de adaptação através de uma comunicação cada vez mais intensa com as mulheres e os homens locais. 2.4.4 Identificar actividades ilegais

Não é raro nos resultados da AR serem reveladas actividades que são contra as leis nacionais. Por exemplo, numa comunidade africana soube-se que os mecanismos de gestão da crise ligada à estação da fome incluíam o garimpo de ouro numa área confinada. Numa comunidade do Nepal, soube-se que as mulheres estavam a pular os muros em volta de uma floresta protegida, à noite, para recolher lenha e forragem. O modo certo de usar tal informação depende da abertura e do grau de resposta do governo. De modo algum deveria tal informação ser usada de maneira a que pudesse resultar em sanções sérias para a comunidade que participou na AR. Contudo, se o governo for sensível às necessidades locais, a informação pode fornecer a oportunidade para iniciar um diálogo sobre os méritos da lei, o seu impacto nas comunidades rurais e as possíveis alternativas. No Nepal, na área de silvicultura discutida acima, p. e., o projecto foi adaptado para ir de encontro às necessidades das mulheres, incluindo a introdução de lotes de floresta para extracção de madeira geridos pela comunidade.

2.4.5 Conflitos

Nem sempre acontece que o processo de AR participativa conduza ao consenso; de facto, podem vir à tona diferenças profundas e conflitos entre vários grupos. O processo pode, também, ser visto pelos grupos mais poderosos como um desafio e ameaça devido à ênfase dada em assegurar que as mulheres e os grupos desfavorecidos participem plenamente. Quando conflitos desse tipo se manifestam ou estão prestes a ocorrer, a equipa de AR tem apenas duas opções, ou: (i) interromper a AR, ou (ii) aplicar métodos de negociação e resolução de conflitos para tomar conhecimento e lidar explicitamente com os conflitos. A segunda opção requer competências e peritos altamente especializados e nunca deve ser tentada por moderadores inexperientes. De qualquer modo, questões de conflito devem ser tratadas muito cuidadosamente, pois podem gerar violência.

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Quadro 18: Participação que gera violência

Devalia no Distrito Surendranagar de Gujarat, na Índia, é uma aldeia com castas muito estratificadas. Os Rajputs são, tradicionalmente, os proprietários dos grandes campos e controlam a maior parte dos recursos de propriedade comum. Os Gadvis, com as suas pequenas propriedades agrícolas formam o degrau mais baixo da hierarquia local de castas. Os Rajputs controlam a maior parte dos recursos hídricos de superfície numa área caracterizada por chuvas fracas e secas cíclicas. Os Gadvis, que não têm acesso à irrigação, são obrigados a depender de uma colheita anual de sequeiro e acabam trabalhando para os Rajputs por salários muito baixos.

Durante um exercício de mapeamento participativo, moderado por uma ONG, os Rajputs explicaram que a melhoria dos recursos hídricos era uma prioridade para eles e apontaram para a necessidade de cavar novos poços em suas terras. Os Gadvis prepararam seu próprio mapa da aldeia e mostraram onde queriam construir um poço comunitário.

Um processo complexo de negociação, que durou cerca de três semanas teve lugar entre os grupos da comunidade e a ONG. Os Gadvis foram os primeiros a se organizar e, a ONG, por preocupar-se com questões de equidade, considerou apropriado começar por apoiá-los porque eram o grupo mais desfavorecido da aldeia.

Os Gadvis começaram a construir seu poço comunitário e encontraram água em 10 dias. Desenvolveram um plano e traçaram um mapa de uso do solo e começaram as preparações para os cultivos de inverno. Mas os Rajputs ficaram perturbados e zangados. Deixaram de poder contar com os trabalhadores baratos da comunidade Gadvi uma vez que estes não dependiam mais dos Rajputs para se empregar. Uma tarde, os Gadvis, que estavam a trabalhar no seu poço, sofreram uma emboscada e foram brutalmente espancados por um grupo de Rajputs. Dois dos Gadvis morreram no próprio local e os outros sofreram ferimentos graves.

Os moderadores da ONG ficaram horrorizados por terem iniciado o processo participativo sem se terem antes apercebido das suas implicações. Levou algum tempo para que a ONG e os líderes dos Gadvis recomeçassem o diálogo. Entretanto, os líderes Gadvi sentiram que as mortes não deveriam impedir a ONG de executar actividades idênticas. Hoje, antes de apoiar actividades de programas, a ONG gasta muito mais tempo mediando negociações entre os diferentes grupos da comunidade.

Fonte: Shah and Shah (1995)

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3 TRABALHO DE CAMPO

Durante o trabalho de campo a equipa vive numa comunidade seleccionada e usa os pacotes de instrumentos da ASEG e o Plano de Trabalho da AR e as Folhas de Actividade para orientar o seu trabalho. Diariamente a equipa usa os instrumentos de AR para recolher e analisar informação. A equipa reúne-se, também, diariamente para rever como se estão a desenvolver as actividades em termos das interacções com as mulheres e os homens locais, o trabalho da equipa, os problemas logísticos, etc. A equipa faz uma análise e uma discussão preliminares da informação recolhida para ver se são necessários ajustes no Plano de Trabalho. É importante reconhecer que executar o trabalho de campo requer competências e métodos não encontrados nos pacotes de instrumentos do Manual de Trabalho de Campo da ASEG. Os instrumentos não são suficientes. Em todo o caso, devem ser acompanhados por mediação técnica e, em muitos casos, serão necessários métodos de campo suplementares, como entrevistas semi-estruturadas, para continuar a explorar e avaliar os conhecimentos obtidos com o uso dos instrumentos de AR. 3.1 Como ser um bom moderador

3.1.1 Ser um ouvinte activo

Os bons moderadores mostram-se interessados pelo que as pessoas dizem. Ouvem atentamente o bastante para resumir ou parafrasear o que é dito, orientar as discussões e detectar atitudes ou julgamentos. O ouvir activo é a chave de todas as capacidades de moderação. 3.1.2 Ser observador

Os bons moderadores notam a dinâmica de grupo, incluindo quem está ou não a falar e como vários grupos de pessoas interagem, p. e., mulheres e homens ou diversos grupos étnicos. Usam a observação para entender como e quando diferentes métodos devem ser usados para assegurar que todos tenham a oportunidade de participar. 3.1.3 Colocar questões

Os bons moderadores utilizam perguntas para iniciar, focalizar e aprofundar a aprendizagem dos participantes. Um simples «Porquê?» é frequentemente o bastante para avançar com a discussão de uma forma mais profunda. Quem? O quê? Quando? Onde? e Como? São todas as boas questões para se chegar aos detalhes. 3.1.4 Ser flexível

Os bons moderadores são propensos a adaptar ou mudar métodos, instrumentos e questões a fim de corresponder às necessidades dos participantes. 3.1.5 Ser organizado

Os bons moderadores são bem organizados. Todos os materiais e logística necessários são preparados para que as pessoas não percam tempo e nem fiquem frustradas. Os moderadores têm sempre em mente os objectivos gerais da AR durante todo o processo.

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3.1.6 Demonstrar conhecimentos, mas de uma forma clara

Os bons moderadores são conhecedores do desenvolvimento, mas são, também, capazes de comunicar de forma simples e colocar questões concretas. Bons moderadores falam de uma forma clara e não usam palavras difíceis ou calão.

3.1.7 Ser interveniente, mas não controlador

Os bons moderadores sabem quando intervir durante as discussões e quando ficar calados. Os moderadores estão preocupados em mobilizar os conhecimentos dos participantes e fornecer orientação quando as tarefas não são claras ou quando as discussões começam a perder o rumo. 3.2 Como encorajar a participação

É importante assegurar que o processo participativo inclua tanto mulheres como homens, jovens e idosos, pobres e ricos, poderosos e desfavorecidos. O processo pode ser facilmente dominado por alguns indivíduos, geralmente os mais poderosos, os mais eloquentes, os mais ricos — geralmente todos eles homens. Deve insistir-se para que os membros dos grupos desfavorecidos dêem a sua contribuição. Seguem-se alguns métodos eventuais para encorajar a sua participação: � Escolher um lugar que seja acessível a todos. Para as mulheres que tenham

problemas em deslocar-se, seria melhor que a AR tivesse lugar o mais perto possível de casa. É importante evitar lugares cujo acesso seja vedado aos grupos sociais desfavorecidos, como, p. e., o local de culto ou do grupo religioso predominante, ou os terrenos próximos de fontes de água de abastecimento de uma classe social elevada. Lugares públicos frequentados por todos, como a escola ou o campo de desportos, podem ser a melhor escolha.

Quadro 19: Qual é o seu papel?

Para cada um dos instrumentos ou métodos e para cada um dos grupos de participantes, pelo menos dois membros da equipa devem trabalhar juntos, um como moderador e um como registador:

Moderadores

a) introduzem o objectivo do instrumento, b) organizam os participantes em grupos, c) asseguram a participação activa de todos os grupos, e d) ouvem e colocam questões.

Registadores

a) fazem uma cópia dos mapas, gráficos, calendários, etc., num caderno de notas para referência futura (fotografias ou cassettes vídeo são de desejar, também),

b) tiram apontamentos detalhados sobre os temas apresentados e discutidos pelos participantes,

c) tiram apontamentos sobre a dinâmica dos grupos (incluindo quem está ou não a participar) e sobre os comentários que as pessoas fazem quando estão a participar ou a observar.

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� Marcar as actividades de AR quando as pessoas tenham tempo para participar. Isso significa evitar os períodos, tanto sazonais como diários, de alta na procura de mão-de-obra, como as épocas das colheitas e as horas de preparação das refeições. Talvez seja mesmo preciso, p. e., trabalhar com homens de manhã e com mulheres à tarde ou com vendedores no mercado ao meio-dia e com trabalhadores sem terra à noite.

Assegurar que todos os grupos tenham a oportunidade de expor os seus pontos de vista. Uma maneira de fazê-lo é formar grupos separados por sexo, pela situação sócio-económica, pela idade, etc., para fazer os seus próprios mapas, diagramas ou gráficos. Se esses grupos escolherem dividir-se ou organizar-se de modo diverso, p. e., pela qualidade de membro de uma instituição, devem ser apoiados nessa decisão. Os resultados dos diferentes grupos podem ser comparados para que seja obtida informação útil sobre as percepções e prioridades de cada grupo.

Ter o cuidado de envolver os observadores passivos. Se há pessoas hesitantes, que nada dizem, dê-lhes uma vara ou qualquer outro objecto e peça-lhes para indicar algo que gostariam de ver no mapa ou no diagrama ou pergunte-lhes, discretamente, se julgam ser ou não certa a localização de um determinado elemento. Se não concordarem com a localização, convide-as a indicar a posição correcta.

Colocar questões específicas sobre a comunidade a um participante que domina uma reunião. Envolvendo essa pessoa numa conversação separada do grupo, pode diminuir a sua influência no processo.

3.3 Como usar Métodos Suplementares de Trabalho de Campo

3.3.1 Observação directa

Não há nada como ver algo em primeira-mão. A observação é o principal método da aprendizagem. Durante a AR, é importante olhar atentamente para os lugares, pessoas, recursos e condições descritas pelos participantes. As observações directas ajudam a verificar e confirmar os resultados de outros métodos e podem revelar novos detalhes e levantar novas questões. Para cada observação feita, não deixe de escrever duas coisas:

a) o que foi observado e b) sua interpretação do que significa.

É importante comparar as suas interpretações com os resultados de outros métodos e de outros participantes. A lista de condições que podem ser observadas em primeira-mão é inumerável. Os indicadores observáveis da pobreza, p. e., podem incluir:

variações nos tipos de habitação (incluindo paredes, chão e telhado)

variações no vestuário

sinais de má nutrição ou subnutrição das crianças

tipos, quantidade e variedade de alimentos à venda no mercado

número e tipos de rádios, aparelhos de televisão, bicicletas, motocicletas e utensílios domésticos

idade e proporção de meninas na escola

distância das fontes de água e de combustível

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3.3.2 Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista semi-estruturada é um método que pode ser usado a qualquer hora numa AR. É útil para testar questões-chave e acompanhar os tópicos levantados por outros instrumentos. As entrevistas semi-estruturadas podem ser feitas a indivíduos ou grupos. Ao contrário das entrevistas formais que consistem em questões formuladas anteriormente, as entrevistas semi-estruturadas começam com um lista de controlo de temas sobre os quais o entrevistador deseja saber mais. Algumas pessoas preferem fazer listas de controlo detalhadas para não esquecer o que querem perguntar, enquanto que outras preferem só ter as linhas gerais da entrevista. Em qualquer caso, a entrevista deve ter um carácter o mais possível descontraído e amigável.

A maneira de colocar as questões depende do que os participantes têm para dizer. Isso permite que a conversação decorra de um modo livre e natural. Permite, também às pessoas entrevistadas colocar novas questões que não foram previstas pelo entrevistador. 3.3.3 Entrevistas a informadores-chave

Acontece frequentemente durante a AR serem bem visíveis as lacunas na informação ou a necessidade de informação mais precisa. É então que pode ser muito útil a entrevista semi-estruturada com pessoas cuidadosamente seleccionadas, que tenham conhecimentos especiais sobre o tema em discussão. Tais entrevistas são denominadas entrevistas a informadores-chave. Por exemplo, para saber mais sobre o uso de recursos, os informadores-chave, que podem vir a ser particularmente úteis, podem incluir:

uma pessoa idosa que sabe sobre a história do uso dos recursos na comunidade

um chefe que tem poder decisório sobre a atribuição das terras e da água

uma pessoa pobre que depende dos frutos das árvores durante a estação da fome

uma mulher que participa num novo projecto de pecuária

Quadro 20: Conhecimentos e Pobreza

O facto de uma pessoa ser rica ou pobre faz uma grande diferença no caso de os conhecimentos da população local serem ou não usados. No Quénia, por exemplo, 75 diferentes modos possíveis de fazer frente à seca foram apurados em mais de 600 entrevistas a agricultores nas encostas do Monte Quénia. Entretanto, 16% dos agricultores mais pobres tinha acesso aos meios para pôr em prática apenas 42 dos 75 mecanismos de luta contra a seca. 1% dos agricultores mais ricos, por outro lado, era capaz de pôr em prática todos eles, com excepção de dois. Os agricultores pobres sabiam tanto quanto os agricultores ricos, mas os pobres não dispunham dos meios necessários para pôr em prática esses conhecimentos.

Fonte: Wisner (1995)

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3.3.4 Discussões em grupos informais

Oportunidades de aprendizagem inesperadas surgem com frequência durante uma AR, sendo as discussões em grupos informais um bom método para responder a essas oportunidades. Requer somente um interesse profundo em ouvir as pessoas e alguma flexibilidade. As discussões em grupos informais podem ser usadas de modo espontâneo; não há qualquer lista, preparada previamente, de questões ou temas. Quando se encontra um grupo de pastores enquanto se faz uma caminhada para a elaboração de um perfil, p. e., gasta-se algum tempo a falar com os pastores sobre os resultados até agora obtidos com o traçado do perfil e a perguntar-lhes sobre temas que lhes são importantes. De modo semelhante, um encontro ocasional com um grupo de mulheres numa fonte de água pode ser uma oportunidade não apenas para aprender sobre os temas de distribuição da água mas, também, dependendo de quais sejam as outras questões levantadas pelas mulheres, saber mais sobre os problemas de saúde ou sobre as actividades hortícolas, etc. 3.3.5 Chegar a ideias colectivamente

Pode acontecer que durante a AR se chegue a um impasse; em outras palavras, podem surgir problemas para os quais não se conseguem encontrar soluções. O brainstorming (o chuva de ideias) é um método de gestão de ideias que dispensa que se faça um juízo sobre o assunto. Pode ser usado a qualquer hora, para lidar com problemas encontrados pela equipa de AR ou como um método de resolver problemas em que todos participem. O primeiro passo para o brainstorming é apontar para um problema; o segundo é convidar todos, um após outro, sem levar em conta a sua posição ou papel, a contribuir com as suas ideias para soluções possíveis. É muito importante que todos entendam as regras do brainstorming:

a) todas as ideias são bem vindas; b) não é permitido criticismo algum de ideias e c) quantas mais ideias melhor.

Quando os participantes tiverem esgotado as ideias, concentram-se em ideias combinadas, eliminando duplicações e melhorando aquelas já surgidas, até sentirem que uma lista razoável de soluções foi atingida. 3.3.6 Uma nota sobre levantamentos e questionários formais

Os levantamentos e questionários formais não são compatíveis com a abordagem promovida no Manual de Trabalho de Campo da ASEG porque esses métodos são extractivos, levando a informação para longe das comunidades locais para uso exclusivo de pessoas exteriores. Mas a realidade é que esses métodos continuam a desempenhar um papel importante. Em grandes áreas de elevada densidade populacional, p. e., um levantamento pode ser o único modo realista de obter a informação necessária, p. e., para planear os serviços de saúde e ensino. A abordagem integrada para entender os temas de desenvolvimento e o foco nas diferenças de género e grupos sócio-económicos, proposta na ASEG, pode ser incorporada no planeamento de levantamentos e questionários formais de uma forma

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bastante simples. As questões da ASEG são de uso particular, tanto as que acompanham cada pacote de instrumentos como aquelas que acompanham cada um dos instrumentos. Usando as questões da ASEG, pode obter-se informação sobre o contexto do desenvolvimento, as estratégias de subsistência e as prioridades de desenvolvimento. Mas é necessário aplicar uma amostra estratificada a fim de assegurar que sejam abrangidos mulheres e homens, assim como representantes de todos os grupos sócio-económicos, incluindo os mais ricos e os mais pobres.

3.4 Como começar bem

Mesmo com planos da ASEG, bem preparados e organizados, fazer com que tudo esteja pronto para um bom início aquando da chegada à comunidade participante pode ser uma questão delicada. Aqui estão algumas dicas:

Se possível, tenha pelo menos um membro da equipa que esteja familiarizado com a área.

Se possível, peça a uma autoridade local respeitada ou a uma pessoa externa de confiança, p. e., um pastor, um trabalhador de uma ONG ou de extensão rural, para apresentar a equipa à comunidade.

Descobrir, com bastante antecedência, qual é o protocolo para as apresentações. O que espera o chefe ou o líder da comunidade? Os idosos? Onde estarão todos reunidos? Qual é a melhor hora do dia?

Estar preparado para participar em canções ou orações, como parte das introduções, ou para contribuir com algumas suas.

Preparar uma apresentação clara e simples sobre o porquê de lá se encontrar e dar uma visão geral das finalidades e métodos da AR. Tenha cuidado em não criar expectativas que não possam ser concretizadas sobre os benefícios, como, p. e., em termos das actividades de desenvolvimento.

Dar uma explicação clara e simples sobre a importância de ambos os sexos participarem em grupos separados de jovens e idosos, ricos e pobres, pessoas de diferentes grupos étnicos. Perguntar aos membros da comunidade reunidos nessa ocasião se todos os diferentes grupos sócio-económicos da comunidade estão ou não ali representados, ou se devem ser feitos esforços para encontrá-los e inclui-los.

Quadro 21: Entrar na Comunidade

«Quando entra, pela primeira vez, na casa de alguém que não conhece, deve certificar-se de que a sua entrada está bem planeada e que será bem vindo. Não pode entrar no meu pátio, andar por todo o lado, incluindo os lugares sagrados, pisar nas minhas galinhas, e então dizer que veio ajudar-me a resolver os meus problemas. Tem de chegar de modo educado». Mr. S. Masara of Ward 21, Chivi District, Zimbabwe

Fonte: Intermediate Technology Zimbabwe (1996)

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Reservar algum tempo para que os membros da comunidade façam perguntas. Respondê-las do modo mais claro possível.

A maioria dos membros da comunidade não está habituada a que pessoas de fora lhe perguntem sobre as suas opiniões e competências. Uma boa maneira de iniciar o processo é com um método visual no qual praticamente todos possam participar, como a cartografia da área ocupada pela comunidade usando materiais locais.

Fazer perguntas iniciais simples como: «Não conheço esta área muito bem. Vejo a árvore sob a qual estamos sentados e a estrada ao longe, mas podem mostrar-me como é o resto da comunidade?» Assim se está pronto para um bom começo!

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4 USAR AS INFORMAÇÕES DO TRABALHO DE CAMPO

Numa boa AR, a informação recolhida é usada de modo a melhorar o bem-estar da comunidade local. Isso é mais provável de acontecer se a própria comunidade participar ao máximo tanto na recolha como na análise da informação. Quanto mais estiver envolvida em todo o processo e tiver acesso à informação que foi fornecida tanto maior é a probabilidade de a comunidade encontrar modos de usar a informação para o benefício das mulheres e os homens locais. Um problema frequentemente encontrado pelas equipas de AR é o de se deixar entusiasmar com o uso dos instrumentos (são «divertidos e interessantes»), o que resulta em recolher informação em excesso, ao mesmo tempo que é minimizada a importância da análise e da apresentação. A informação recolhida deve ser a informação usada. Para conduzir a mudanças, a análise e a apresentação são etapas cruciais, mas aquelas que muitas pessoas não têm o devido cuidado em tratar de modo adequado. 4.1 Análise

A análise é o processo de dar sentido à informação recolhida. A análise significa examinar a informação (seleccionando-a, completando-a, comparando-a) a fim de entender as «partes» em relação ao «todo». Há três perguntas sobre a análise que requerem atenção: (i) Quem analisa? (ii) O que é analisado? e (iii) Quando se faz a análise? 4.1.1 Quem analisa?

Se o processo de AR é mais do que uma abordagem de Avaliação Rápida Rural (ARR), que coloca em destaque mais a informação local do que o processo de participação, a análise é executada pela equipa de AR. Numa Avaliação Rural Participativa (ARP), entretanto, a ênfase é dada ao desenvolvimento do processo de discussão, análise e planeamento na comunidade. Portanto, a equipa de AR centra-se em estimular a análise local. Os membros da equipa devem lembrar que o trabalho de campo participativo não é apenas descobrir os factos mas facilitar a aprendizagem e a análise por parte das mulheres e dos homens locais. Um meio termo quanto à abordagem é a equipa de AR começar a análise e, então, apresentar os seus resultados parcialmente analisados ao grupo alargado de participantes para discussão e conclusão. Os benefícios da análise parcial são:

eficácia em termos do tempo gasto

o grupo alargado de participantes tem a oportunidade de contribuir para a análise

os resultados são validados por mais pessoas e serão mais fiáveis

o processo de análise é entendido por mais pessoas.

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4.1.2 O que é analisado?

Dois tipos de produtos de AR devem ser analisados: a informação e o processo. Analisar a informação:

O primeiro passo é rever as questões formuladas no decorrer da AR. Rever as perguntas da ASEG. Rever as questões adicionadas ao longo do processo. É importante olhar para trás e renovar a sua percepção dos temas centrais e as principais finalidades e perguntar: «porque era essa informação necessária?» e «que tipos de decisões serão feitas baseadas nessa informação?» O segundo passo é organizar e analisar a informação. Os mecanismos da informação organizada irão variar de acordo com os processos de pensamento de diversas pessoas. A análise da informação qualitativa (descritiva) é um processo criativo. Por outro lado, há uma certa lógica que pode ser seguida:

1. Juntar toda a informação relevante que foi recolhida.

2. Seleccionar a informação em categorias-chave, especialmente

a) principais resultados do Contexto de Desenvolvimento, b) principais resultados da Análise dos Meios de Subsistência, e c) principais resultados das Prioridades de Desenvolvimento das Partes Envolvidas.

3. Dentro de cada uma das três categorias de análise, tomar nota das

a) semelhanças, b) contrastes, e c) relações e ligações.

4. Continuar a seleccionar a informação em subcategorias, incluindo

a) temas ambientais b) temas económicos c) temas sociais d) temas institucionais e) temas principais referentes às mulheres f) temas principais referentes aos homens e g) temas principais referentes a cada grupo sócio-económico.

5. Através das subcategorias para análise anotar

a) semelhanças, b) contrastes, e c) relações e ligações, incluindo aquelas com estruturas e padrões aos níveis

intermédio e macro.

6. Certificar se foram destacadas as partes de informação que, quando juntas, responderão às questões da ASEG.

7. Juntar as partes analisadas de forma a que contenham uma história completa. Elaborar o caso para os Planos de Acção das Melhores Apostas.

8. Adicionar recomendações concretas para o acompanhamento posterior ao trabalho de campo.

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Analisar o processo:

Muitos cometem o erro de focar apenas os «dados» em vez de reflectirem, também, sobre o processo de AR como um todo. O processo de discussão, selecção de prioridades e de decisão é tão importante no desenvolvimento de um plano de acção como a própria informação. Deve reconhecer-se que a sua força e autoridade não provêm da informação ou dos «dados» mas do processo ligado à obtenção e análise da informação. Com uma reflexão crítica sobre o processo, portanto, é possível perceber se os conhecimentos e capacidades locais foram realçados. O grau de participação da comunidade, o comportamento da equipa de AR e os pontos fortes e fracos dos instrumentos seleccionados são apenas alguns dos aspectos do processo que merecem reflexão. � Participação: Que proporção da população total da comunidade participou na AR?

Quantas mulheres? Quantos homens? Quais foram as divisões para cada grupo sócio-económico (p. e., mais rico, mais pobre, classe social alta, classe social baixa)? Que estratégias ou métodos foram usados para que fosse abrangido o maior número possível de diferentes grupos? O que resultou melhor? O que não funcionou bem? Foram alguns grupos sub-representados? Se foi o caso, porquê?

� A equipa de AR: Como foi a resposta dos participantes à equipa de AR? Houve problemas relacionados com isso? Eram os membros da equipa atenciosos, pacientes e interessados? A AR foi bem organizada? Foi a equipa suficientemente flexível para responder a novas necessidades quando estas surgiram? Foi reservado tempo suficiente? Para que parte os membros da equipa demonstraram estarem melhor preparados? O que poderia ser melhorado pela equipa na próxima vez?

� Instrumentos: Como reagiram os participantes a cada instrumento? Participaram activamente? Contribuíram alguns mais dos que outros? Quem? Porquê? Os instrumentos conseguiram extrair informação útil? De que tipo? Quais foram as desvantagens ou limitações dos instrumentos? Como poderiam os instrumentos ou questões da ASEG ser melhorados?

4.1.3 Quando se faz a análise?

No trabalho de campo participativo, a análise é um processo contínuo de rever a informação conforme vai sendo recolhida, verificar e tirar conclusões. Não deve ser concluída até que todos os instrumentos tenham sido usados. Recomenda-se, neste caso, que a análise se realize durante pelo menos três etapas diferentes do processo de AR:

após a aplicação de cada instrumento individual,

após a aplicação de todos os instrumentos seleccionados de cada pacote de instrumentos; e

após a aplicação de todos os três pacotes de instrumentos da ASEG.

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4.2 Apresentação

Com bastante frequência, resultados de AR válidos, fiáveis e muito importantes não são usados. Isso não é somente uma perda de recursos mas também significa que decisões importantes são feitas sem informação adequada. Numa AR, o trabalho não está completo até que os resultados sejam partilhados com todos os participantes e apresentados às audiências pretendidas e até que sejam tomadas decisões. É importante que tanto as pessoas exteriores à comunidade local como os seus membros obtenham informação relevante. 4.2.1 Para quem são os resultados?

Há muitos utilizadores potenciais da informação de AR. Em conjunto com as mulheres e homens que participaram, devem ser tomadas decisões sobre quem receberá a informação. Quando os resultados são enviados para fora da comunidade, isso deve ser feito respeitando os «donos» da informação e o seu insumo deve ser reconhecido. Os utilizadores interessados podem incluir: Participantes da comunidade: indivíduos ou grupos da comunidade que participaram

directamente na AR. Instituições locais: o grupo das mulheres, organização de agricultores, associação

dos utilizadores de águas, clube de crédito e outras instituições locais podem estar muito interessados em ouvir os resultados da AR, especialmente aqueles para quem é importante nas suas tarefas e prioridades.

� Outros membros da comunidade: membros da comunidade que não participaram directamente ou que podem não ter beneficiado directamente das actividades planeadas, mas que podem estar interessados em saber como as coisas estão a ocorrer.

� Outras comunidades: comunidades próximas ao lugar de AR e outras no país podem beneficiar das lições e experiências de AR, ou de uma série de diferentes AR.

� O pessoal dos serviços governamentais: o pessoal responsável pela prestação de certos serviços, como a extensão agrícola ou cuidados de saúde, estará interessado em saber, colectiva ou individualmente, como esses serviços estão a funcionar numa determinada área.

Quadro 22: Validação

Validação é o processo de assegurar que tanto os participantes como os moderadores se tenham entendido mútua e plenamente e que a análise das condições locais e das oportunidades de desenvolvimento esteja correcta e tenha sido representada adequadamente. A validação deve ocorrer no fim de cada discussão sobre cada instrumento com cada um dos grupos. O moderador resume, de forma simples, os pontos principais levantados pelos participantes e pergunta

a) se o que diz é correcto e b) se os participantes têm algo mais a adicionar.

A validação é, também, conseguida através da comparação do que se aprendeu com os diferentes grupos. Onde a informação sobre os mesmos temas difere muito é necessário que se continue a explorar usando outros métodos de trabalho de campo.

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� Pessoal e doadores de programas de desenvolvimento: técnicos de planeamento, criadores de políticas, pessoal do trabalho de campo, gestores de programas e directores nacionais de agências governamentais, organizações não governamentais (ONGs), agências e doadores de desenvolvimento estarão interessados em saber das necessidades e prioridades da comunidade participante.

� Público em geral: as pessoas que dentro e fora do país possam estar interessadas em conhecer a comunidade.

Organizações de investigação: os investigadores estrangeiros ou nacionais estarão interessados nos resultados que possam ajudar a focar a sua atenção em investigações relevantes.

(Ver o Manual da ASEG para o Nível intermédio para mais detalhes sobre os utilizadores da informação de trabalho de campo). 4.2.2 Como apresentar os resultados?

A apresentação da informação do trabalho de campo irá variar conforme os «utilizadores». Há três modos principais de apresentar os resultados de AR: escrito, oral e visual. Métodos escritos:

Os resultados de AR podem ser escritos de várias formas, dependendo das necessidades dos utilizadores. Um relatório escrito, um estudo de caso e um perfil da comunidade são apenas algumas das opções. Todas as formas dos resultados por escrito devem ser breves e fáceis de ler. As citações dos participantes assim como as ilustrações dos gráficos de AR ajudam a retratar de um modo realista a situação e a tornar os documentos escritos interessantes. Um relatório por escrito é produzido quando um documento é requerido por agências nacionais ou internacionais de desenvolvimento. Cada agência geralmente tem um formato padrão que deve ser estritamente seguido. No mínimo, um relatório por escrito deve descrever:

o pano de fundo da AR (critérios para a selecção do lugar, selecção da equipa de AR, selecção dos objectivos, instrumentos, participantes e temas),

descrição do processo de AR,

resumo dos principais resultados,

implicações dos resultados para a comunidade,

implicações dos resultados para a agência e

recomendações para o acompanhamento posterior ao trabalho de campo.

Um estudo de caso é escrito para contar uma história com um interesse particular. Se um assunto particular surgiu como o mais importante e de maior pressão na comunidade, como a desflorestação, então o estudo de caso deveria ser escrito para dar detalhes e implicações relevantes para os impactes da desflorestação. Um estudo de caso não fornece soluções ou respostas; é usado para fornecer os factos necessários para discussões sobre soluções com os membros da comunidade local e as pessoas de fora.

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Um perfil da comunidade é uma breve descrição dos muitos diferentes aspectos da vida da comunidade: as suas características fisiográficas, sistemas agrícolas, estruturas sócio-económicas, padrões de trabalho e diferenças de género, necessidades e prioridades de mulheres e homens. O objectivo do perfil da comunidade é ajudar as pessoas de fora que nunca visitaram a comunidade a entender as limitações e oportunidades que há nela. O leitor deve ser capaz de imaginar como é a comunidade, assim como quais são os problemas e temas específicos a serem abordados. Em seguida são apresentadas as linhas gerais para escrever um perfil da comunidade. As

linhas gerais podem ser adaptadas, quando for necessário.

Quadro 23: Linhas gerais para um Perfil da Comunidade

Nome da comunidade:

Estado/Província/Distrito/Município: Data: Preparado por:

1. História da Comunidade

2. Contexto de Desenvolvimento

� padrões ambientais

� padrões económicos

� padrões sociais

� padrões institucionais

� principais interligações entre os padrões

� principais limitações ao desenvolvimento

� principais apoios ao desenvolvimento

3. Estratégias de Subsistência

� ocupações (por sexo, por grupo sócio-económico)

� padrões de trabalho para satisfazer as necessidades básicas (por sexo, por grupo sócio-económico)

� uso e controlo dos recursos e benefícios (por género, por grupo sócio-económico)

� padrões de rendimentos e de despesas (por género, por grupo sócio-económico)

4. Prioridades de Desenvolvimento

� Principais problemas (à luz da categoria género, por grupo sócio-económico)

� Actividades de desenvolvimento propostas (por género, por grupo sócio-económico)

� Implicações para as partes envolvidas (para as pessoas de dentro e fora da comunidade)

� Planos de Acção das Melhores Apostas (por género, por grupo sócio-económico)

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Métodos Visuais:

Os métodos visuais podem ser usados para apresentar uma infinidade de resultados de forma clara e concisa. Podem ser usados isoladamente ou, com mais frequência, podem ser integrados em relatórios por escrito. Os métodos visuais ajudam a apresentar a informação de modo rápido, a tornar os relatórios por escrito mais interessantes, a realçar pontos importantes num relatório e a dar uma visão geral num pequeno espaço. Encontra-se disponível um número de apresentações visuais dos resultados: mapas, diagramas, quadros, gráficos, fotografias, vídeos, desenhos animados. Lembrar-se que cada método visual apresentado deve ter:

um título completo

a data

lista das fontes de informação ou de participantes

legendas para todos os items no meio visual

uma chave para explicar todos os símbolos usados.

Métodos Orais:

Dramas, teatro de bonecos, narração de histórias, canções e reuniões podem ser usados para apresentar informação de um modo interessante e fácil de entender. Numa comunidade com baixo nível de alfabetização ou com uma forte tradição de narração de histórias, a apresentação oral pode ser o método mais adequado para partilhar informação de AR. As apresentações orais podem ser realçadas quando são combinadas com os métodos visuais. Por exemplo, um teatro de bonecos pode ter personagens explicando a informação num Mapa de Recursos da Comunidade. As apresentações orais podem ser gravadas ou fotografadas. Deste modo, os resultados podem ser apresentados a outras comunidades ou a outros grupos interessados. As exposições em vídeo que combinam métodos orais e visuais são muito eficazes para apresentar resultados a uma audiência mais ampla.

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5 INTRODUÇÃO AOS PACOTES DE INSTRUMENTOS DA ASEG

O Manual de Trabalho de Campo da ASEG oferece uma série de pacotes de instrumentos para apoiar um modelo básico de planeamento de desenvolvimento participativo. Organizam-se em volta de três etapas de análise: o Contexto do Desenvolvimento, Análise dos Meios de Subsistência e as Prioridades de Desenvolvimento das Partes Envolvidas. Como atrás já foi referido, os pacotes de instrumentos e os instrumentos em cada um deles são apresentados de maneira a:

i) apoiar um processo semi-estruturado de aprendizagem que seja consistente com as três etapas de análise e

ii) apoiar um processo de aprendizagem que seja lógico e fácil de seguir, com o

conhecimento adquirido pelos últimos instrumentos resultando da aprendizagem de instrumentos anteriores. Mas a fim de ir ao encontro das necessidades e interesses emergentes, os instrumentos podem ser, também, usados independentemente ou numa ordem que difere da aqui apresentada. Pode ocorrer, também, que alguns instrumentos não necessitem de ser usados, enquanto que outros precisam de ser usados mais de uma vez.

Um conjunto de questões da ASEG acompanha cada um dos pacotes de instrumentos, assim como cada um dos instrumentos. A finalidade das questões da ASEG é:

i) apoiar a análise detalhada da informação obtida e

Quadro 24: Dê importância a isto

Não se deve esquecer de que, para os membros da comunidade, a participação numa AR requer não somente a sua contribuição através dos conhecimentos mas, também, o seu tempo e a sua energia.

Devem ser feitos todos os esforços para assegurar que a AR seja útil e importante. Não há garantias mas há, pelo menos, três modos de aumentar as probabilidades de que valha a pena para as pessoas participarem numa AR:

a) Assegurar que os objectivos da AR sejam importantes para a comunidade e que estejam directamente relacionados com os seus reais interesses e necessidades;

b) Assegurar que todos tenham a palavra durante o processo de AR, incluindo oportunidades para seleccionar prioridades e planear actividades de desenvolvimento; e

c) Assegurar que a informação recolhida durante a AR seja partilhada pelos membros da comunidade e por instituições externas empenhadas no desenvolvimento.

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ii) assegurar que a abordagem e princípios da ASEG sejam incorporados através de todo o processo da ASEG. Mas essas questões devem ser vistas apenas como um ponto de partida; questões complementares e mais específicas surgirão durante a AR.

Os pacotes de instrumentos do Manual de Trabalho de Campo da ASEG são elaborados para explorar temas que são importantes para o planeamento do desenvolvimento em geral. Onde o centro de análise da AR já foi determinado, de alguma forma, pelos objectivos de uma agência de desenvolvimento por exemplo, ou onde as necessidades técnicas são expressas pela comunidade, então o Manual de Trabalho de Campo da ASEG deveria ser usado em combinação com o correspondente Guia do Sector/Assuntos da ASEG, sobre, p. e., segurança alimentar ou irrigação. O Manual de Trabalho de Campo da ASEG não é um modelo rígido a ser seguido. Embora os instrumentos aqui descritos tenham sido testados no campo (em muitos países e em muitos comunidades e organizações diferentes) devem ser combinados com ideias e necessidades de cada comunidade a fim de, adaptados a essa realidade concreta, produzirem resultados de valor directo. Numa dada situação, algumas das sugestões aqui apontadas podem não ser relevantes ou podem não funcionar. Mesmo aquelas que parecem ser úteis terão de ser adaptadas às necessidades particulares da comunidade. É aconselhável ser desembaraçado e flexível. 5.1 Estrutura de cada Pacote de instrumentos

5.1.1 O quê

Uma introdução para explicar a importância da informação e dar um resumo dos principais temas. 5.1.2 Como

Uma tabela que resuma:

a) os Instrumentos — um conjunto recomendado de instrumentos de AR,

b) os Participantes — um grupo recomendado de informadores (por sexo, grupo sócio-económico, etc.),

c) o Centro da abordagem — uma lista de temas-chave, e d) as Ligações — uma lista de outros instrumentos com os quais está ligada a

aprendizagem.

5.1.3 Questões da ASEG para análise e sumário

Um conjunto de Questões da ASEG para analisar e resumir a informação obtida.

5.2 Estrutura de cada instrumento

5.2.1 Finalidade

Uma explicação breve dos tipos de informação que o instrumento oferece para aprendizagem. 5.2.2 Processo Uma descrição, etapa por etapa, de como introduzir o instrumento e facilitar o seu uso.

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5.2.3 Materiais

Uma lista de materiais necessários. 5.2.4 Notas para a equipa de AR

Um conjunto de questões-chave da ASEG e alguns lembretes importantes. 5.2.5 Instrumentos suplementares

Uma lista de instrumentos relacionados, que podem ser usados para triangulação ou para aprofundar ou ampliar a aprendizagem. 5.2.6 Exemplo

Uma aplicação do instrumento.

Quadro 25: Atingir todos

Não é tão difícil como parece assegurar-se que mulheres e homens de cada um dos grupos sócio-económicos da comunidade tenham a oportunidade de participar no processo de AR.

Os pacotes de instrumentos são planeados para atingir uma grande variedade de grupos a fim de assegurar que cada um, incluindo os mais desfavorecidos, possa contribuir para o processo. São também planeados para assegurar uma triangulação de pontos de vista. Os seguintes tipos de grupos de participantes são incluídos, em etapas variadas, nos pacotes de instrumentos da ASEG:

Comunidade: a comunidade inteira, mulheres e homens, crianças e idosos, ricos e pobres.

Grupos de interesse por sexo: grupos separados de mulheres e homens (incluindo uma combinação de grupos sócio-económicos).

Grupos de interesse por grupos sócio-económicos: grupos separados de pessoas de diversas categorias sócio-económicas, p. e., por riqueza, etnia, classe social ou outras diferenças, previamente definidas pelos participantes no Mapa Social da Comunidade (incluindo mulheres e homens),

Grupos de interesse por idade: grupos separados de idosos e jovens (incluindo ambos os sexos).

Agregados: todos os membros dos agregados, mulheres e homens, crianças e idosos (pelo menos dois agregados de cada categoria sócio-económica).

Em situações onde não é culturalmente apropriado o trabalho com mulheres e homens nos mesmos grupos, devem ser formados grupos separados e os resultados comparados e discutidos.

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6 PACOTE A DE INSTRUMENTOS. O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO

6.1 O quê?

Usamos o pacote de Instrumentos Contexto do Desenvolvimento para aprender sobre os diferentes padrões que influenciam os meios de subsistência e as opções de desenvolvimento dos camponeses. Esses padrões são:

ambientais: incluindo erosão do solo, abastecimento de água, cobertura vegetal

económicos: incluindo oportunidades de trabalho, rendimentos e custo de vida

sociais, incluindo cultura, educação, saúde, número de pessoas

institucionais, incluindo organizações de agricultores, grupos de mulheres, liderança política.

O centro da análise é a compreensão desses padrões dentro de uma dada comunidade, e como interagem com os padrões dos níveis intermédio e macro. O Pacote de Instrumentos do Contexto de Desenvolvimento responde às questões: Quais são os suportes do desenvolvimento? Quais são os obstáculos? A vida rural não é estática. Crises ambientais como a seca, a desflorestação, a desertificação e cheias forçam agricultores a adaptar as suas actividades. As tendências económicas como o agravamento da pobreza, o aumento do fosso entre ricos e pobres, a introdução de empresas lucrativas e a abertura de novos mercados criam ou eliminam oportunidades. Padrões sociais, incluindo o crescimento da população e o acesso a cuidados de saúde e à educação, actuam influenciando as necessidades e aspirações das pessoas. Também, mudanças institucionais, incluindo os novos programas e políticas governamentais, influenciam as oportunidades de desenvolvimento rural. Por outras palavras, a população rural deve não apenas trabalhar dentro de um quadro de mudanças sazonais mas, também, ajustar-se, fazer frente e sobreviver a muitas mudanças ambientais, económicas, sociais e institucionais. Aprender sobre o Contexto do Desenvolvimento de uma comunidade, como a primeira etapa num processo participativo de planeamento, aumenta a probabilidade de que as acções de desenvolvimento sejam sustentáveis, equitativas e eficazes.

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6.2 Como?

Tabela 2: Pacote A de Instrumentos. O Contexto do Desenvolvimento

Instrumentos Participantes Foco Ligações

1. Mapa de Recursos da Comunidade

Todos os membros da comunidade (mulheres e homens, jovens e idosos)

Recursos ambientais, económicos e sociais da comunidade

Perfil

Mapa Social

Linhas Tendenciais

2. Perfis Grupos de interesses, combinados ou separados, de mulheres e homens, jovens e idosos

Base de recursos naturais

Relevo, uso do solo

Localização, tamanho das explorações agrícolas

Localização das infra-estruturas, dos serviços, das actividades económicas

Mapa dos Recursos

Mapa Social

Linhas Tendenciais

3. Mapa Social da Comunidade

Um grupo de interesse dos principais informadores (mulheres e homens)

Ou grupos de interesses por género

Tendências demográficas

Número e localização dos agregados por tipos (etnia, classe social, mulher-chefe do agregado, etc.)

Indicadores de pobreza

Mapa de Recursos

Perfil

Linhas Tendenciais

4. Linhas Tendenciais

Grupos de interesse de mulheres e homens idosos, em separado

Tendências ambientais, económicas e demográficas

Mapa de Recursos

Perfis

Mapa Social

5. Diagramas de Venn

Grupos de interesse de mulheres e homens, em separado, incluindo os diferentes grupos sócio-económicos identificados no Mapa Social

Grupos e instituições locais

Ligações com organizações e agências exteriores

Mapa Social

Perfis Institucionais

6. Perfil Institucional

O mesmo que acima Metas, realizações e necessidades dos grupos e instituições locais

Diagramas de Venn

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6.3 Questões da ASEG para análise e resumo

Quais são os suportes e obstáculos ambientais para o desenvolvimento na comunidade?

Quais são os suportes e obstáculos económicos?

Quais são os suportes e obstáculos sociais?

A comunidade tem uma população suficientemente homogénea ou consiste de grupos sociais diferentes, p. e., por riqueza, etnia e classe social?

Quais são os suportes e obstáculos institucionais?

Quais são as ligações entre os padrões ambientais, económicos, institucionais e sociais?

Quais são as ligações com os padrões ou instituições dos níveis intermédio e macro?

Há outros temas e padrões importantes para entender o contexto do desenvolvimento?

6.4 Instrumento A1: Mapas de Recursos da Comunidade

6.4.1 Finalidade

O Mapa de Recursos da Comunidade é um instrumento que nos ajuda a conhecer a comunidade e a sua base de recursos. A preocupação primordial não é a precisão cartográfica mas é obter informação útil sobre as percepções locais dos recursos. Os participantes devem determinar os conteúdos do mapa focando o que é importante para eles. Os mapas podem incluir:

infra-estruturas (estradas, casas, edifícios)

fontes e locais de água

terras agrícolas (tipos e localização de culturas)

zonas Agro-ecológicos (solos, vertentes, elevações)

áreas florestais

áreas de pastagens

lojas, mercados, locais de culto

clínicas de saúde, escolas

lugares de uso especial (estacionamento de carros, cemitérios)

6.4.2 Processo

Planear e organizar uma reunião com toda a comunidade, assegurando que seja marcada para uma hora em que mulheres e homens possam assistir e que todos os grupos sociais tenham sido convidados. O Mapa de Recursos da Comunidade é um bom instrumento para começar porque é um exercício fácil que inicia o diálogo entre os membros da comunidade e os membros da equipa de AR.

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Um amplo espaço aberto deveria ser encontrado e o chão deveria ser limpo. É mais fácil começar por colocar uma pedra ou folha para representar um marco importante. Pede-se, então, aos participantes para desenhar, no mapa, outras coisas que são importantes na comunidade. Os participantes não devem ser interrompidos a menos que parem de desenhar, sendo que, nesse caso, podem ser colocadas perguntas sobre se há ainda algo importante que deveria ser adicionado. Usar as Questões da ASEG para aprofundar a discussão. Quando o mapa estiver completo, os moderadores devem pedir aos participantes para descrevê-lo e discutir as características representadas. Fazer perguntas sobre qualquer aspecto que não tenha ficado claro. Finalmente, o moderador pode querer pedir aos participantes para indicarem algumas coisas que gostariam de ver na sua comunidade e que não estão no mapa — por outras palavras, para desenhar como gostariam que o futuro fosse. Isso permite chegar a algumas ideias de planeamento preliminar e encoraja as pessoas a começar a contribuir com as suas reflexões numa etapa inicial do processo participativo. 6.4.3 Materiais

Varas, seixos, folhas, serradura, farinha, estrume ou qualquer outro material local, bloco de papel em cavalete e marcadores podem, também, ser usados. 6.4.4 Notas para a equipa de AR

Todos os membros da equipa de AR devem observar o exercício de desenho do mapa porque

a) dá uma orientação geral sobre as características espaciais da comunidade e seus principais recursos e

b) é o primeiro exercício de AR e, portanto, a primeira oportunidade para que todos possam aderir ao processo participativo.

Assegurar-se que o mapa final inclua os indicadores de direcção (Norte, Sul, Leste, Oeste) e um esboço dos limites da comunidade.

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6.4.5 Instrumentos Suplementares

Mapeamento histórico, mapas das unidades agrícolas, modelos 6.4.6 Exemplo

O mapa elaborado pelos camponeses de Khajeret-Uperli Gaunguri em Himachal Pradesh, Índia mostra o tipo e localização dos cultivos principais além dos recursos florestais e das terras comunitárias. Nessa comunidade há uma divisão distinta do uso dos recursos naturais: os homens concentram-se na produção de cereais e na recolha da madeira, enquanto que as mulheres são responsáveis pela produção de outras culturas e pela recolha de lenha e estrume. As mulheres e os homens reclamam que a base de recursos naturais se está deteriorando, o que resulta na diminuição da produção da lavoura e da pecuária.

Instrumento A1: Mapa de Recursos da Comunidade

Algumas questões da ASEG a serem feitas pelo moderador

• Onde está a parte que deu origem à comunidade? Em que direcção a comunidade se expandiu?

• Que recursos existem em abundância? Quais são escassos? Que recursos são utilizados? Quais se estão degradando ou estão sendo melhorados?

• Quem decide sobre quem pode fazer uso do solo? Da água? De outros recursos importantes?

• Há na comunidade recursos comunitários? Quem decide sobre o uso dos recursos comunitários?

• Onde vai a população em busca de água, lenha e pastagens? Quanto tempo dura a busca? Quanto tempo era necessário há cinco anos atrás?

• São diferentes os direitos de acesso aos recursos para mulheres e homens, ou para pessoas de diferentes grupos étnicos e sócio-económicos?

• Quais os mais problemáticos dos recursos indicados? Porquê?

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Instrumento 1: Mapa de Recursos da Aldeia Exemplo: Mapa da Aldeia de Khajret-Uperli Guaguri, Himachal Pradesh, Índia

Fonte: Wilde and Vainio-Mattila, (1995) Gender Analysis and Forestry International Training Package. FAO

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6.5 Instrumento A2: Perfis

6.5.1 Finalidade

O Perfil é um instrumento originado directamente do Mapa de Recursos da Comunidade, destinado a ajudar-nos a saber detalhes sobre os recursos ambientais, económicos e sociais numa comunidade. Um perfil é uma espécie de mapa unidimensional de uma linha que atravessa uma comunidade. Representa uma secção transversal de uma área através da qual um número de temas é registado. A finalidade de um perfil é organizar e apurar informação espacial e resumir as condições locais. A informação é recolhida da observação directa enquanto se vai caminhando em linha recta através da comunidade. 6.5.2 Processo

Organizar 2 ou 4 grupos mistos de participantes, como mulheres e homens, jovens e idosos. Pode pedir-se aos diversos participantes para levarem consigo vários membros da equipa de AR a caminhadas separadas para a elaboração do perfil, mostrando as áreas de maior importância para eles, ou cada grupo pode ser responsabilizado por um tema diferente enquanto todos caminham juntos. Por exemplo, um grupo pode centrar-se nos tipos e uso do solo e cultivos, um segundo em árvores, vegetação e recursos hídricos, e um terceiro nas infra-estruturas, habitação e serviços. Depois, os grupos partilham a informação resultante das respectivas caminhadas para elaborarem juntos o(s) diagrama(s) com os perfis. Aquando da utilização do Mapa de Recursos da Comunidade e dos conselhos dos participantes, escolher uma linha mais ou menos recta através da área. A linha escolhida deveria incluir o maior número possível de diferentes zonas fisiográficas, tipos de vegetação, áreas de uso do solo e secções da comunidade. É sempre aconselhável começar do ponto mais alto da área. Dependendo do tamanho da área a ser coberta e da natureza do terreno, um perfil pode ser feito a pé, montado num animal ou num veículo motor ou a tracção animal, mas os meios mais lentos são preferíveis porque permitem maior tempo para observação. 6.5.3 Materiais

Cadernos de notas, canetas, bloco de papel em cavalete e marcadores. 6.5.4 Notas para a equipa de AR

Enquanto se estiver a traçar o perfil, fazer perguntas sobre cada zona. Tudo o que é notado deve ser registado no decorrer da elaboração do perfil. Reservar tempo para fazer entrevistas curtas e informais com mulheres e homens que encontrar ao longo do caminho. Durante essas entrevistas, discutir os temas críticos já identificados pela equipa de AR e perguntar se há outros temas também importantes. Uma das vantagens de traçar o perfil é a de que, frequentemente, as pessoas estão mais dispostas a discutir sobre temas delicados como os padrões de propriedade da terra quando estão longe da comunidade. Dar bastante tempo para a elaboração do perfil. Pode levar várias horas.

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6.5.5 Instrumentos suplementares

Perfis históricos 6.5.6 Exemplo

Na Gâmbia, foram elaborados perfis em caminhadas separadas com homens jovens, homens idosos, mulheres jovens e mulheres idosas a fim de que as prioridades tanto por género como por idade fossem conhecidas. No Instrumento 2 estão representados os perfis feitos por homens e mulheres jovens, ambos dando atenção aos tipos e uso do solo, às intervenções e aos problemas. As diferenças entre os dois perfis reflectem as diferenças de género nas actividades e no acesso aos recursos. Por exemplo, o perfil das mulheres enfatiza os campos de arroz porque a produção de arroz para autoconsumo e venda é, tradicionalmente, da responsabilidade das mulheres.

Instrumento A2: Perfis

Algumas Questões da ASEG a serem feitas pelo Moderador

• Quais são as actividades principais realizadas em cada comunidade? Por quem?

• Que serviços e infra-estruturas estão disponíveis em cada zona?

• Quais são os recursos naturais disponíveis em cada zona? Quem os utiliza e para que finalidades?

• Que oportunidades económicas estão disponíveis em cada zona?

• São os direitos de acesso em cada zona diferentes para mulheres e homens, ou para pessoas de diferentes grupos étnicos ou sociais?

• Quais são os problemas mais graves?

• Que intervenções têm vindo a ser feitas para melhorar a situação?

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Habitação Greda

arenosaCultivos de quintal, como o milho, abóboras e mandioca

Terra arável Greda arenosa

Produção de amendoim, milho miúdo verde, sorgo, milho miúdo maduro

Equipa da campanha Striga dos Serviços do Departamento Agricultura

Striga

Hortas Greda arenosa

Produção de hortaliças. Tomates azedos, pimenta, alface, azeda, etc.

Mogno, seda, algodão, quina, santongo, kurtangawo

AATG (Acção de Ajuda, Gâmbia)

Postos de venda, térmitas, gradeamento, o lençol de água desce cada vez mais conforme o avanço da estação seca

Comunica-ção (estrada)

Bananas, caju,lima, mangas, laranjas e paw-paw

Governo senegalês

Transporte disponível apenas em certos dias da semana (domingos)

Depressão Greda argilosa

Produção de arroz em pequena escala devido a chuvas insuficientes durante os últimos 10 anos. Chegou a ser uma área potencial para a produção de arroz em grande escala

Mangas, hortaliças

Chuvas insuficientes nos últimos dez anos

Terra arável Greda arenosa

Produção agrícola, hortas, pomares, pastagem, produção de arroz em pequena escala

Mangas, caju, lima, goiaba e outras árvores

Pestes e doenças de árvores fruteiras, inexistência de pesticidas

Habitação Greda arenosa

Cultura de quintal, como o milho

Manga, Omalina, Neem

Poço da CEE Equipamentos armazenagem, maquinaria de moagem, implementos agrícolas, animais e veículos de carga,

Instrumento A2: Perfis3

Zona Tipo de solo

Uso do solo Espécies arbóreas

Intervenções Problemas

3 Fonte: AA/IIED, (1992) From Input to Impact, PRA for Action Aid, The Gambia, IIED.

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Colinas rochoso e em declive (pedras vermelhas)

Animais de pasto, colecta de lenha, colecta de cascalho

Agricultura com arado bastante difícil pelas rochas e declives, falta de chuvas

Outras árvores argila e areia Finalidades ambientais, como lenha e medica-mentos

Arroz e quintas, mangas

argila e areia Produção de arroz (em pequena escala)

Falta de água

Quintas, cemitério, Baobá, outras árvores

argila e areia Produção de amendoim, milho e outras culturas

insumos da AATG

Poucas terras para o cultivo, falta de insumos para a produção

Habitação Mangas Neem

argila e areia Área de habitações, árvores de fruto e medicinais

Habitação, poço construído pelo Estado, alfabetização de adultos, insumos e implementos agrícolas e missão educativa da AATG

Migrações das pessoas durante a estação das chuvas para Sare Kinti e Sare Njobo. A causa das migrações é poucas terras para cultivo. Poucos Equipamentos

Mangas, quintas, pomares

greda arenosa argila

Produção (culturas alimentares e de rendimentos

Gradeamento e água, protecção de viveiros de plantas

Quintal de hortaliças

areia argilosa Hortaliças DAS, controlo de pestes, AATG

Gradeamento

Estrada Cascalho Comuni-cação

Estado

Campos de arroz

Argila Cultivo de arroz (estação das chuvas), pastagem (para o gado, estação das secas), mudando para hortas

Falta de água

Colinas Rochoso e em declive

Recolha de lenha

Não é possível a agricultura com arado

Instrumento A2 Perfis4:

Zona Solos Uso do solo Intervenções Problemas

4 Fonte: AA/IIED, (1992) From Input to Impact, PRA for Action Aid, The Gambia, IIED.

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6.6 Instrumento A3: Mapas Sociais da Comunidade

6.6.1 Finalidade

Os Mapas Sociais da Comunidade são um instrumento para nos ajudar a conhecer a estrutura social da comunidade e como estão definidas as diferenças entre os agregados. Isto é particularmente útil para entender as definições locais de «pobre» e «rico» e as mudanças demográficas (taxas de natalidade, imigração, emigração). Uma vez que esse tipo de mapa mostra todos os tipos de agregados numa comunidade (por riqueza, etnia, classe social, religião) e suas localizações, é aconselhável assegurar que pessoas de todos os diferentes grupos sociais sejam abordadas durante a AR. Isto é também útil como uma introdução para a discussão sobre os problemas e injustiças sociais, as estratégias e as soluções para enfrentá-los. Como no caso da elaboração do Mapa de Recursos da Comunidade, o Mapa Social da Comunidade é feito com base no uso de materiais locais (ou desenhados em bloco de papel em cavalete). Pedir aos participantes para começarem por mostrar a localização de todos os agregados. Logo que tenham sido mostrados todos os agregados, realiza-se uma discussão em grupo sobre o que constitui a riqueza e o bem-estar até que se chegue a um acordo sobre os principais critérios. Esses critérios podem incluir items como tipo de moradia, número de cabeças de gado, remessas em dinheiro e abastecimento de alimentos, assim como o acesso à educação e a cuidados médicos. Deixar que decidam. Em seguida, cada agregado é abordado usando esses critérios de bem-estar, para os quais são colocados símbolos no mapa. Seixos, folhas ou cores podem ser usados. Desse modo, é criado um mapa visual das diferenças sócio-económicas, com o consenso do grupo. Finalmente, aplicar as questões da ASEG para continuar a testar as outras características e diferenças do agregado, assim como as tendências demográficas. 6.6.2 Materiais

Paus, seixos, folhas, serradura, farinha, esterco ou qualquer outro material local. Bloco de papel em cavalete e marcadores podem também ser usados. 6.6.3 Notas para a equipa de AR

Se os membros da equipa de AR não estiverem ainda familiarizados com a estrutura social da comunidade antes do início da AR, seria uma boa ideia rever materiais de fonte secundária sobre esse aspecto antes de iniciar o trabalho de campo. Informação suplementar pode ser obtida através de discussões informais durante as refeições, etc.

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Assegurar-se que o mapa final inclua indicadores de direcção (Norte, Sul, Este, Oeste) e um esboço dos limites da comunidade. 6.6.4 Instrumentos suplementares

Ordenamento segundo a riqueza, actividade de análise demográfica. 6.6.5 Exemplo

O Mapa Social produzido por mulheres e homens em Ola Ilman Galgalo, Etiópia, mostra os números e localizações de agregados geridos por mulheres e por homens e se são considerados ricos, médios ou pobres. Os critérios para determinar a riqueza incluíram números de bois e outras cabeças de gado, propriedade da terra e números de esposas e filhos.

Instrumento A3: Mapas Socais da Comunidade

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quantos são os agregados? Qual é o seu tamanho? Qual é o número total de habitantes?

• O número de habitantes da comunidade está a aumentar ou a diminuir? Porquê? (taxas de natalidade, emigração, imigração)

• São as famílias monogâmicas ou poligâmicas? A vida é organizada por famílias nucleares ou comunitárias?

• Se na comunidade há mais de um grupo étnico, classe social ou religião, estão concentrados, geralmente, em determinadas áreas?

• Há alguma parte da comunidade onde estão concentrados os habitantes mais pobres e os sem terra?

• Qual é a definição local de «rico» e de «pobre»? Quais são os agregados ricos? E os pobres? E os médios?

• Quantos agregados são geridos por mulheres? Esse número está a crescer? Se sim, porquê?

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Instrumento A3: Mapas Sociais da Aldeia Exemplo: Mapa Social da Aldeia Ola Ilman Galgalo Guyo, Etiópia (Ordenamento segundo a riqueza no mapa social)

Fonte: FAO / IIED (a publicar); Exploring Gender Issues in Agriculture: Key Issues and Participatory Methods.

� Agregado chefiado por mulheres � Agregado chefiado por homens

� Agregado rico � Agregado médio � Agregado pobre � Estabelecimento agrícola � Limites de OLA & KALO

ESTRADA ASFALTADA PARA AWASA

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Instrumento A3: Mapas Sociais da Aldeia Exemplo: Enegela Shuimoch, Aldeia, definição de "pobre”, "médio”, "rico”

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Fonte: FAO / IIED (a publicar); Exploring Gender Issues in Agriculture: Key Issues and Participatory Methods.

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6.7 Instrumento A4: Linhas Tendenciais

6.7.1 Finalidade

As linhas tendenciais são instrumentos que nos ajudam a conhecer as percepções da comunidade sobre mudanças nos padrões ambientais, económicos, sociais ou institucionais a nível local. É um instrumento para examinar o que está a melhorar e o que está a piorar. Uma linha tendencial é um gráfico simples descrevendo as mudanças através do tempo. 6.7.2 Processo

Organizar grupos de interesse de homens e mulheres idosos em separado. Envolver os idosos no desenvolvimento de linhas tendenciais é crucial porque sabem mais sobre os acontecimentos passados. Perguntar aos participantes sobre as mudanças importantes ocorridas na comunidade, tanto positivas como negativas. Aplicar as Questões da ASEG para explorar, em detalhe, as mudanças nos recursos naturais, nas oportunidades para a economia e para a população. Perguntar que outras mudanças são importantes para eles. Desenhar, no papel, um gráfico de coordenadas, em branco, para que cada tendência seja explorada. Explicar como a parte mais à esquerda do eixo horizontal representa o passado e a mais à direita o presente. Perguntar quais os anos que devem ser intercalados ao longo do eixo horizontal, p. e., 1950, 1960, 1970. Explicar como as estimativas de aumento ou diminuição estão representadas no eixo vertical. Pedir aos participantes para fazerem uma linha para cada tema. Se as linhas tendenciais forem colocadas directamente uma sobre a outra, será mais fácil moderar discussões sobre interacções e ligações entre as diferentes tendências. 6.7.3 Materiais

Bloco de papel em cavalete e marcadores em cores ou quadro de ardósia e giz. 6.7.4 Notas para a equipa de AR

Encorajar uma discussão sobre as causas de aparecimento das tendências. Isso ajudará na compreensão dos principais problemas. Discutir que soluções foram tentadas no passado e o quanto foram eficazes. Perguntar o que poderia melhorar a situação. Experimentar para ver se há uma relação entre duas ou mais tendências, p. e., diminuição dos recursos florestais paralelo ao aumento da população e/ou aumento das cabeças de gado. Se o tempo permitir, as linhas tendenciais podem estender-se ao futuro. Pedir aos participantes para mostrarem como gostariam que fosse o futuro para cada um dos temas. Discutir que mudanças seriam necessárias para atingir esses fins.

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6.7.5 Instrumentos suplementares

Linhas temporais, perfis históricos, matriz histórica, mapas históricos. 6.7.6 Exemplo

Linhas tendenciais da Aldeia Jeded, na Somália, foram elaboradas por mulheres, homens e jovens. Pediu-se a cada grupo para discutir o que julgava ser importante entre as tendências e mudanças recentes. As tendências, de longe, as mais importantes e discutidas com mais frequência foram as tendências na população e na educação. A população foi um assunto de interesse devido ao grande afluxo de novas famílias (fugindo dos problemas predominantes nas áreas urbanas). A educação era um problema persistente devido à ausência de um governo. Uma escola móvel fechou em 1980 e não voltou a ser substituída. A escola de Corão foi aberta em 1990 e enraizou-se mas não foram admitidas meninas.

Instrumento A4: Linhas Tendenciais

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais são as mais importantes tendências ambientais? Por exemplo, seca, desflorestação, erosão.

• Quais são as mais importantes tendências económicas? Por exemplo, emprego, preços, custo de vida, rendimentos dos cultivos, gado.

• Quais são as mais importantes tendências demográficas? Por exemplo, natalidade, mortalidade infantil, imigração, emigração, aumento do número de agregados geridos por mulheres.

• Quais são as outras tendências importantes?

• Quais são as ligações entre as tendências?

• O que está a melhorar? O que está a piorar?

• Há tendências que atingem de modo diverso mulheres e homens?

• Há tendências que atingem mais os pobres do que os ricos?

• Há diferenças em termos de etnia, classe social, etc.?

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Instrumento A4: Linhas Tendenciais Exemplo: Linhas de Tendências na Aldeia Jeded, Somália

.

OBSERVAÇÕES

1975-1980 - Diminuição acentuada da população devido à Seca da «Cauda Longa» (Dabadheer).

1980-1994 - Aumento gradual da população, especialmente no início dos anos 90 devido a perturbações sociais e às pessoas deslocadas pelas guerras civis na Somália.

OBSERVAÇÕES

1970-1975 - nível satisfatório de emprego devido à construção de reservatórios de água.

1975 - 1980 - redução do emprego devido à seca de Dabadheer.

1980 - 1985 - criação de emprego ligada à construção de casas e reservatórios de água.

1985 - 1994 - muitas pessoas deslocadas (desempregadas) vieram do sul devido às guerras civis.

C GADO

OBSERVAÇÕES

1975 - 1980 - o número de cabeças de gado aumentou devido à abundância de chuvas, após a seca de 1973 - 1974

1980 - 1985 - muito gado morreu devido à seca

1985 - 1990 - mais mortes de gado devido à continuação da seca

1990 - 1994 - chuvas abundantes aumentaram o número de cabeças de gado

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Instrumento A4: Linhas Tendenciais (continuação) Exemplo: Linhas de Tendências na Aldeia Jeded, Somália

Fonte: Ford, Adam, Abubaker, Farad and Barre, (1994) PRA with Somali Pastoralists: Building Community Institutions for Africa’s Twenty-first Century, Clark University/GTZ/Gardo.

D - VEGETAÇÃO

Alta Média Baixa

OBSERVAÇÕES: 1975-1994 - Fundação da aldeia, novas fontes de águas e sobrepastoreio diminuíram em muito a vegetação em Jeded e arredores, ocasionando ventos sazonais fortes e poeira.

E - EDUCAÇÃO

Alta Média Baixa

OBSERVAÇÕES 1979-1980 - A escola primária foi inaugurada e encerrada no mesmo ano. 1970-1975 – A campanha governamental de alfabetização ajudou algumas pessoas a aprender a ler. 1990-1994 - A escola de ensino do Corão foi aberta

F - SAÚDE

ANOS

(ANOS)

(ANOS)

Alta Média Baixa

OBSERVAÇÕES 1970-1975 - Chuvas abundantes e ausência de epidemias contribuíram para um bom estado geral de saúde. 1975-1980 - A seca de Dabadheer causou doenças e mortes. 1980-1994 - Aparecimento de casos de malária devido a fortes chuvas; mortalidade infantil devido à chegada de deslocados do Sul; em geral, melhoria no estado de saúde devido ao programa de cuidados de saúde com mulheres e crianças e à melhor nutrição da população.

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6.8 Instrumento A5: Diagramas de Venn

6.8.1 Finalidade

O Diagrama de Venn é um instrumento que nos ajuda a perceber a importância dos grupos e instituições locais. Isso pode ser útil para esclarecer os papéis nas tomadas de decisão e para identificar os conflitos potenciais entre os diferentes grupos sociais. Auxilia, também, a identificar as ligações entre as instituições locais e aquelas aos níveis macro e intermédio. 6.8.2 Processo

Organizar grupos de interesse de mulheres e homens, em separado, incluindo grupos sociais mistos. Assegurar que os mais pobres e mais desfavorecidos (por etnia ou classe social, etc.) sejam incluídos, ou que tenham os seus próprios grupos, se for necessário. O Diagrama de Venn pode ser traçado no chão, mas é particularmente claro (e mais divertido!) se forem usados círculos de papéis coloridos autocolantes numa grande folha de bloco de papel. É melhor recortar antecipadamente os círculos, em cores e tamanhos diferentes. Começar por pedir aos participantes para fazerem uma lista dos grupos e organizações locais, assim como de instituições exteriores que consideram ser as mais importantes para eles. Então, pedir aos participantes para decidirem se cada organização merece um círculo pequeno, médio ou grande (para representar a sua importância relativa). O nome (símbolo) de cada organização deve ser indicado em cada círculo. (Se possível, assegurar que cada organização tenha uma cor diferente). Perguntar quais as instituições que trabalham juntas ou têm membros comuns. Os círculos devem ser colocados da seguinte forma:

círculos separados = nenhum contacto

círculos tangentes = troca-se informação entre as instituições

pequena sobreposição = pouca cooperação na tomada de decisões

grande sobreposição = intensa cooperação na tomada de decisões

Discutir sobre o maior número possível de instituições e pedir aos participantes para posicioná-las entre si. Pode haver um intenso debate e reordenamento dos círculos até se chegar ao consenso. 6.8.3 Materiais

Bloco de papel em cavalete, marcadores, papel autocolante (em várias cores) e tesouras. 6.6.4 Notas para a equipa de AR

Em geral, é importante descobrir de que modo os diversos participantes estão satisfeitos ou insatisfeitos com os grupos ou instituições a que têm acesso. É, também, importante perceber se certos tipos de pessoas, p. e., mulheres, pobres ou um determinado grupo étnico são excluídos da participação em determinadas instituições. Aplicar as Questões da ASEG para aprofundar as discussões.

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Finalmente, assegurar que sejam discutidos e comparados os Diagramas de Venn produzidos pelos diferentes grupos de participantes. Se um grupo atribuiu a uma determinada instituição um círculo grande e a um outro um círculo pequeno, descobrir porquê. Como se relaciona aquela instituição com os diversos habitantes da comunidade? Verificar, também, se um grupo inclui menos organizações no seu diagrama. 6.8.5 Exemplo

O Quadro A5 mostra a importância da informação sobre as instituições recolhida entre mulheres e homens. Discussões de grupo em El Zapote, Honduras, mostraram que mulheres e homens posicionaram a importância dos grupos da comunidade para o bem-estar local de modo muito diverso. Esse exemplo centrou-se em diferenças de género. Seria possível uma diferenciação maior através da sua caracterização sócio-económica.

Instrumento A5: Diagramas de Venn

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Estão os grupos locais organizados à volta das questões ambientais? Por exemplo, grupo de utilizadores da floresta, grupo de utilizadores de água?

• Estão os grupos locais organizados à volta de temas económicos? Por exemplo, crédito, produção agrícola?

• Estão os grupos locais organizados à volta de temas sociais? Por exemplo, saúde, educação, religião?

• Há grupos dos quais as mulheres estão excluídas? Quais são? Porquê? O que perdem com a falta de participação?

• Há grupos formados exclusivamente por mulheres? Se for assim, quais são os interesses desses grupos? O que ganham as mulheres com eles?

• Estão os pobres excluídos de algum dos grupos locais? Quais são? O que perdem com a falta de participação?

• Quais são as ligações entre os grupos e organizações locais ou instituições externas? Por exemplo, ONG's, partidos políticos, instituições governamentais?

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6.9 INSTRUMENTO A6: PERFIS INSTITUCIONAIS

6.9.1 Finalidade

Os Perfis Institucionais são instrumentos que nos ajudam a conhecer a natureza das instituições identificadas nos Diagramas de Venn. Um gráfico analítico é criado para cada instituição na comunidade para examinar o que foi conseguido e o que é necessário para encorajar o trabalho de desenvolvimento. No caso de as comunidades locais terem a função de implementar as actividades de desenvolvimento que possam ser sustentadas por elas próprias, deve ser dada especial atenção às suas capacidades. 6.9.2 Processo

Trabalhar com os mesmo grupos de participantes que produziram os Diagramas de Venn. Para cada grupo ou instituição identificado nos Diagramas de Venn, discutir pelo menos quatro tipos de informação: estabelecimento e metas, gestão, realizações e necessidades. Preparar previamente um gráfico ou bloco de papel em cavalete para cada instituição (ver exemplo). Aplicar as Questões da ASEG para aprofundar a discussão. Não esquecer de perguntar sobre liderança, qualidade de associado, actividades, processos decisórios e interacções ou conflitos com outros grupos ou instituições, incluindo aqueles dos níveis macro e intermédio. 6.9.3 Materiais

Diagramas de Venn, bloco de papel em cavalete e marcadores. 6.9.4 Notas para a equipa de AR

Sempre que os Diagramas de Venn mostrarem a importância das instituições locais e o grau de interacção entre elas, os Perfis Institucionais mostram detalhes sobre como essas instituições funcionam e com que finalidade. Em conjunto, esses instrumentos facilitam a aprendizagem sobre o contexto das instituições locais. Essa informação será importante quando a comunidade estiver a planear actividades de desenvolvimento.

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6.9.5 Exemplo

No caso da Aldeia de Jeded, na Somália, há apenas três instituições comunitárias — idosos, mulheres e jovens. Os Perfis Institucionais para cada uma são apresentados no Quadro A6. As discussões mostraram que o Conselho dos Idosos de Jeded era, de longe, a mais importante e que funcionava em estreita colaboração com os outros grupos da aldeia. Mais tarde, aquando da elaboração do Plano de Acção da Comunidade decidiu-se que o Conselho dos Idosos desempenharia o papel de líder, mas uma Comissão Directiva seria, também, formada por três membros, um de cada grupo: idosos, mulheres e jovens. Além disso, a responsabilidade por determinadas prioridades de desenvolvimento foi atribuída a diferentes grupos: educação e erosão do solo à Comissão dos Jovens, saúde humana e criação de rendimentos às Organizações das Mulheres, enquanto que a saúde animal e as tarefas à Comissão dos Idosos. As questões da água seriam controladas por idosos e mulheres.

Instrumento A6: Perfis Institucionais

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quantos são os grupos ou instituições locais? Quem participa neles? Por exemplo, idosos, mulheres, agricultores. Quais são as suas finalidades?

• São as posições de liderança dominadas por um determinado grupo social (p. e., homens idosos ricos, de uma alta classe social)?

• Ocupam as mulheres posições de liderança em qualquer uma das instituições locais? Se sim, que mulheres?

• Que instituições têm obtido resultados positivos relacionados com a satisfação das necessidades de desenvolvimento?

• Que instituições locais mantêm ligações com instituições externas? Com que finalidade?

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Instrumento A6: Perfis Institucionais Exemplo: Perfis Institucionais da Aldeia Jeded, Somália

Conselho dos Idosos

Grupo Fundação e Metas

Gestão Realizações Necessidades

Conselho dos Idosos

Fundado em 1954. Metas: resolver os problemas da comunidade ..gerir os assuntos relacionados com a água e outros problemas da comunidade ..desenvolver um plano de utilização da água para os nómadas ..resolver disputas

O Conselho elege um presidente por um termo flexível; os critérios para pertencer ao Conselhos incluem: idade, sapiência e experiência significativa

..Manter a paz na aldeia ..Gestão das águas de poços ..Saneamento ..Educação

..Equipamentos e artigos de papelaria ..Formação ..Transportes ..Fundos de maneio

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Organização das mulheres

Grupo Fundação e Metas

Gestão Realizações Necessidades

Organização das mulheres

Fundada em 1991 Metas: ..resolver problemas ligados às mulheres ..defender os direitos das mulheres e das crianças ..participar na implementação de projectos de desenvolvimento ..resolver problemas entre elas próprias ..servir de ligação entre as mulheres de Jeded e organizações de ajuda ..iniciar projectos de gestão de rendimentos ..cuidar das famílias deslocadas

Presidente eleita num Congresso de mulheres de Jeded Eleições anuais para a presidência e outros líderes Qualquer mulher com 20 ou mais anos pode ser um membro A taxa de inscrição na Organização é de 1000 shillings somalis Reúnem-se uma vez por mês Ligações com grupos de mulheres em outras aldeias

Ajudaram a realojar famílias que regressaram da guerra civil no Sul Actividades de saneamento Criaram projectos de gestão de rendimentos tais como capachos tecidos Recolha de fundos para actividades de negócios

Formação Espaço e equipamentos Actividades geradoras de rendimentos

Perfis Institucionais A6: (continuação) Exemplo: Perfis Institucionais da Aldeia Jeded, Somália

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Organização dos Jovens

Grupo Fundação e

Metas

Gestão Realizações Necessidades

Organização dos jovens

Fundada a 19 de Junho de 1991 Os objectivos incluem: ..manter a segurança; ..resolver problemas rotineiros; ..estimular cooperação e criação de rendimentos na comunidade Fundada por jovens instruídos na aldeia

Presidente Vice-presidente Comissão Central Subcomissões; Segurança Justiça Ajuda e Reabilitação Desportos, Saúde, Educação, Água Gado Pessoas deslocadas Agricultura Pastagens Silvicultura Presidente seleccionado pela Comissão Central de acordo com competências e conhecimentos; eleições realizadas a cada quatro anos

Segurança Construção da Escola Professores voluntários Ajuda ao posto de saúde Realojamento das pessoas deslocadas Plantio e conservação do solo Manutenção das estradas Reparação dos buracos de água Desportos

Formação Sala de reuniões e escritório Instrumentos para funcionamento e artigos de papelaria Comunicações e transportes

Fonte: Ford, Adam, Abubaker, Farad and Barre, (1994) PRA with Somali Pastoralists: Building Community Institutions for Africa’s Twenty-first Century, Clark University/GTZ/Gardo.

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7 PACOTE B DE INSTRUMENTOS. ANÁLISE DOS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA

7.1 O quê?

Os meios de subsistência compreendem actividades e recursos. As pessoas dedicam-se a actividades como a produção agrícola e pecuária, à comercialização e ao trabalho assalariado, para assegurar as suas necessidades básicas e para obter rendimentos; mas essas actividades dependem, principalmente, do acesso a recursos como a terra, água, produtos florestais e tecnologia. Dentro de uma certa cultura, o acesso aos recursos, e, portanto, aos meios de subsistência, variam de acordo com os papéis de género, idade, riqueza, classe social e etnia. Os modos de sustento dos agricultores, empreendedores e trabalhadores assalariados são influenciados por padrões ambientais, económicos, sociais e institucionais, apresentados no Contexto do Desenvolvimento. Mas as responsabilidades e oportunidades relacionadas com os meios de subsistência variam, também, dentro dos agregados, de acordo com os papéis de género, idade e situação no agregado (chefe, marido, primeira esposa, irmã). Por essa razão, na análise dos meios de subsistência, começamos pelo nível individual a fim de conhecermos os papéis e responsabilidades de cada membro da família. Os diversos membros dos agregados têm níveis diferentes de acesso aos recursos. Por exemplo, uma mulher que gere o seu próprio negócio não tem automaticamente acesso aos recursos controlados pelo marido. Ela tem de negociar com o marido para ter acesso a terra suplementar em troca da sua ajuda no cultivo que é controlado inteiramente por ele. Para iniciar um negócio de comércio de alimentos, uma mulher teria de obter um empréstimo do seu marido ou irmão, pagando com juros. A análise dos meios de subsistência revela não apenas onde mulheres e homens têm interesses e responsabilidades separados mas também onde se sobrepõem. Um negócio de cultivo de legumes da esposa, um negócio de cultura de rendimento do marido e o negócio de fermentação de cerveja da filha podem estar interligados através de trocas de trabalho, acesso partilhado aos recursos e dos rendimentos partilhados. A análise das ligações entre as actividades do agregado pode mostrar que todas são controladas pelo mesmo grupo, ou que todas as mulheres e todos os homens têm responsabilidade em decidir sobre o que produzir, como produzir e como distribuir os benefícios. Na Análise dos Meios de Subsistência, examinamos, também, os agregados e grupos de agregados, por inteiro, para melhor conhecer a sua pobreza e vulnerabilidade económica. Um aspecto fundamental do bem-estar é a proporção de actividades e recursos votados somente à satisfação das necessidades básicas: alimentos, água, abrigo, vestuário, cuidados médicos e educação. Há pouca esperança para o desenvolvimento em situações onde satisfazer as necessidades básicas é uma luta diária. A vulnerabilidade económica pode ser percebida examinando se as actividades e recursos estão concentrados ou diversificados. Por exemplo, aqueles que dependem apenas da produção pecuária têm meios de subsistência que são vulneráveis à degradação ambiental e às doenças dos animais. Por outro lado, aqueles que

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dependem do gado, além da avicultura, horticultura e trabalho assalariado estão numa posição menos vulnerável. Na Análise dos Meios de Subsistência comparamos, também, os agregados de vários grupos sócio-económicos. Determinados grupos étnicos, p. e., têm uma longa tradição de ganhar o seu sustento ocupando-se de determinadas actividades, como o trabalho de ferreiro ou tomando conta de rebanhos. É, também, importante perceber se tais actividades estão ameaçadas pelas tendências do Contexto do Desenvolvimento. Muitas diferenças nas oportunidades económicas podem ser entendidas apenas quando se entende que o controlo dos recursos-chave não é apenas exercido pelos ricos, mas, também por determinados grupos religiosos, raciais ou classes sociais. Quando conseguirmos perceber as diferenças dentro dos agregados, assim como entre agregados, estaremos numa melhor posição para entender como as actividades de desenvolvimento podem trazer resultados muito diferentes para diferentes grupos de pessoas. A Análise dos Meios de Subsistência responde a questões como Quem faz o quê? Quem usa o quê? E quem controla o quê? Por outras palavras, a Análise dos Meios de Subsistência ajuda-nos a conhecer as actividades de diferentes pessoas e seu acesso relativo aos recursos, tanto os relacionados com as necessidades básicas como com os rendimentos. Ficamos a conhecer, também, quem toma as decisões sobre o uso de recursos e a distribuição dos benefícios, com uma abordagem acentuada nas diferenças de género e entre grupos sociais.

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7.2 Como?

Tabela 3: Pacote B de instrumentos. Análise dos Meios de Subsistência

Instrumentos Participantes Foco Ligações

Diagrama dos sistemas agrícolas

Fluxogramas da análise dos benefícios

Todos os membros do agregado (juntos)

Actividades e recursos agrícolas e não agrícolas dos membros do agregado

Uso e distribuição dos benefícios por género

Mapa social da Comunidade

Mapa de recursos da Comunidade

Perfis

Linhas tendenciais

Relógios das actividades diárias

Calendários sazonais

Cartões figurativos dos recursos

Mulheres e homens em grupos de interesse separados

Divisão do trabalho dentro dos agregados

Intensidade do trabalho

Sazonalidade do trabalho

Sazonalidade da disponibilidade de alimentos e de água

Sazonalidade dos rendimentos e despesas

Acesso aos recursos por género

Controlo dos recursos por género

Diagrama dos sistemas agrícolas

Mapa dos recursos da Comunidade

Perfis

Linhas tendenciais

Fluxograma de análise dos benefícios

Matrizes de Rendimentos e de Despesas

Cada grupo sócio-económico identificado no Mapa Social em grupos separados (incluindo mulheres e homens)

Fontes de rendimentos

Fontes de despesas

Estratégias de lidar com crises

Mapa Social da Comunidade

Cartões figurativos dos recursos

Fluxograma de análise dos benefícios

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7.3 Questões da ASEG para análise e resumo

Resumir as actividades de subsistência das mulheres que contribuem para satisfazer as necessidades básicas das suas família: alimentos, água, abrigo, vestuário, cuidados de saúde e educação. Resumir as dos homens. Em que são comparáveis?

Há agregados ou indivíduos incapazes de satisfazer suas necessidades básicas? Quais?

Quão diversificadas são as actividades de subsistência dos agregados de diferentes grupos sociais? Têm determinados grupos ou indivíduos meios de subsistência altamente vulneráveis? Por exemplo, dependem apenas de um tipo de actividade ou recurso?

Resumir os padrões diários e sazonais das actividades dos homens. Em que se comparam com as actividades das mulheres? São as actividades de mulheres e homens separadas ou sobrepostas? Em que são comparáveis os padrões de actividades dos diferentes grupos sociais?

Resumir o uso e o controlo de recursos e benefícios pelas mulheres. Em que são comparáveis com os dos homens? Têm mulheres e homens acesso aos recursos valiosos ou apenas os homens? Mulheres e homens partilham o processo decisório sobre os recursos e benefícios ou apenas os homens intervêm? Em que são comparáveis os padrões de recursos dos diferentes grupos sociais?

Resumir as mais importantes fontes de rendimentos dos homens. Em que se comparam às das mulheres? Em que são comparáveis as fontes de rendimentos dos diferentes grupos sociais?

Resumir os padrões de despesas das mulheres. Que proporção é gasta na satisfação das necessidades básicas? Em que são comparáveis os padrões de despesas das mulheres e os dos homens? Em que são comparáveis os padrões de despesas dos diferentes grupos sociais?

Depois de satisfazerem as necessidades básicas, resta algum dinheiro às pessoas para poupança ou investimentos em meios de subsistência? Por exemplo, vacinas animais, fertilizantes, tecnologias?

Que temas sobre os meios de subsistência estão ligados aos temas abordados no pacote de instrumentos Contexto do Desenvolvimento?

Que temas sobre os meios de subsistência a nível macro estão ligados às instituições, a programas ou políticas a nível intermédio ou macro?

Que outras questões ou temas foram abordados?

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7.4 Instrumento B1: Diagrama dos Sistemas Agrícolas

7.4.1 Finalidade

O Diagrama dos Sistemas Agrícolas ajuda-nos a perceber como os meios de subsistência dos agregados rurais estão reunidos. É um diagrama elaborado para destacar o sistema agrícola, incluindo as actividades no campo, como a produção de culturas, actividades agrícolas fora do campo como a recolha de combustível, e actividades não agrícolas como a comercialização. O diagrama mostra também a entrada e saída de recursos dos agregados e quem está envolvido, por género. Um diagrama dos sistemas agrícolas feito pelos membros do agregado ajuda a perceber a gama completa de actividades dos agregados uma vez que capta a complexidade do sistema dos meios de subsistência. Mostram, também, com frequência, como os meios de subsistência podem depender de diferentes tipos de agro-ecossistemas, muitos dos quais podem ser recursos de propriedade comum, como florestas, pastagens, rios e riachos. Os diagramas dos sistemas agrícolas podem também ilustrar o facto que as mulheres e homens em separado têm conhecimentos especializados sobre determinados animais, culturas, ou produtos arbóreos — conhecimentos que podem ser utilizados para o desenvolvimento. 7.4.2 Processo

Seleccionar dois agregados de cada um dos grupos sociais identificados no Mapa Social. Visitar cada agregado individualmente. Depois das apresentações de cortesia, explicar à família que deseja saber mais sobre as suas actividades agrícolas (até esse ponto, não é necessário mencionar o desenho do mapa). Perguntar às mulheres e homens do agregado se desejam acompanhá-lo numa caminhada pela exploração agrícola. Isso ajuda as pessoas a sentirem-se à vontade, uma vez que permite aos membros do agregado mostrarem os seus conhecimentos. Não esquecer de percorrer a área de habitação e as áreas de propriedade comum. Enquanto estiver a caminhar fazer perguntas sobre as actividades e recursos que vai vendo. Não esquecer de perguntar o que acontece em outras estações do ano e em lugares demasiado afastados para serem visitados. Depois de uma caminhada de 30 a 40 minutos, reunir o maior número possível de membros do agregado — homens, mulheres, crianças — para discussões sobre o que conversou e viu. Então, parar e sugerir à família que a informação que está a prestar é demasiada para poder guardar tudo na sua cabeça e que seria melhor desenhar a informação num pedaço de papel. Continuar a discussão mas pedir aos presentes para o ajudarem a fazer o desenho. Logo que puder, deixar à família a tarefa de desenhar, após o que estará apenas a fazer perguntas e a ouvir.

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7.4.3 Materiais

Papel, lápis ou canetas de colorir.

7.4.4 Notas para a equipa de AR

O conceito de um sistema agrícola é, com frequência, mais facilmente representado num diagrama do que expresso em palavras. O diagrama deve incluir actividades que ocorrem em qualquer estação do ano e em qualquer lugar mas não se deve tentar documentar todos os detalhes. Com esse instrumento, quer-se apenas entender a circunstância típica ou geral. Concentrar-se em obter uma visão geral do sistema inteiro. Conforme os membros do agregado forem progredindo com o desenho, aplicar as questões da ASEG para expor os fluxos de trabalho e de recursos no sistema agrícola. Assegurar-se de que o diagrama mostra os papéis e as responsabilidades de homens e mulheres e, também, por idade e posição no agregado (chefe, marido, mulher, irmã), quando se mostrar adequado. 7.4.5 Instrumentos suplementares

Perfil das actividades, perfil dos recursos. 7.4.6 Exemplo

O Diagrama dos Sistemas Agrícolas apresentado na Instrumento 7 mostra a divisão genérica do trabalho e dos recursos num agregado em Bangladesh. O diagrama mostra claramente que os meios de subsistência da família consistem num determinado número de actividades e recursos que dependem de diversos agro-ecossistemas.

Instrumento B1: Diagrama dos Sistemas Agrícolas

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais são as principais actividades exercidas na exploração agrícola? Produção de culturas? Avicultura? Horticultura e fruticultura? Quem é o responsável, mulheres, homens ou ambos?

• Quais são as principais actividades ligadas à exploração agrícola? Recolha de lenha? Recolha de água? Pesca? Quem é o responsável por cada uma delas?

• Quais são as principais actividades não ligadas à exploração agrícola? Vendas no mercado? Trabalho assalariado?

• Quem é o responsável por cada uma dessas actividades?

• Quais são as actividades e os recursos que mais contribuem para satisfazer as necessidades básicas do agregado?

• Como podem ser comparados os diagramas dos diversos grupos sociais? Quais são os agregados que encontram dificuldades em satisfazer as necessidades básicas? Porquê?

• Quais são os agregados que têm os meios de subsistência mais diversificados? Quais são os mais vulneráveis que dependem de apenas uma ou duas actividades ou recursos?

• Identificar as principais ligações entre os diversos tipos de actividades e recursos, p. e., entre produtos florestais e produção de gado?

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Demonstra, também, que as mulheres e homens têm interesses que se sobrepõem, p. e., produção de arroz; e interesses distintamente separados, p. e., avicultura, actividade exercida por mulheres. Instrumento B1: Diagrama dos Sistemas Agrícolas Exemplo: Os sistemas Agro-ecológicos dos Agregados e Gestão dos Recursos Rurais, Bangladesh

Fonte: Lightfoot, Feldman and Abedin, (1994) Incorporating Gender in Conceptual Diagrams of Household and Agroecosystems. In: Feldstein and Jiggins (eds). (1994) Tools for the Field, Methodologies Handbook for Gender Analysis in Agriculture. Kumarian Press.

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7.5 Instrumento B2: Fluxograma de Análise dos Benefícios

7.5.1 Finalidade

O Fluxograma de Análise dos Benefícios é um instrumento que nos ajuda a entender quais são os «frutos» das actividades de subsistência e quem usufrui deles. É um instrumento que elabora a informação obtida dos Mapas dos Sistemas Agrícolas. As actividades e recursos de subsistência resultam, em geral, em produtos e subprodutos que denominamos benefícios. Por exemplo, os benefícios de plantar e cuidar de uma árvore podem incluir frutos, forragem, lenha, madeira, casca e varas. Os benefícios resultantes do plantio do milho podem incluir alimento, óleo, combustível, vedações e comida para os animais. O Fluxograma de Análise dos Benefícios mostra quem usa cada um desses produtos, quem decide como é usado e quem controla o dinheiro se houver venda.

1. Pastagem comum 2. Aquisição de peixes pequenos para viveiros 3. Pescadores contratados 4. Terras altas 5. Recolha de ervas 6. Dejectos de bovinos 7. Venda de estacas 8. Venda de frutas 9. Salão de estar 10. Bambual 11. Bananeira 12. Viveiro de peixes 13. Água para o gado 14. Depósito de dejectos de bovinos 15. Dejectos de bovinos 16. Gado 17. Venda de aves e ovos 18. Mercado 19. Cuidados com aves 20. Palha de arroz 21. Alimento para o gado 22. Abrigo para o gado 23. Terra alta - plantio de chilli 24. Venda de frutas 25. Viveiro de peixes 26. Mangueira 27. Peixe

28. Ovos, carne 29. Cozinha 30. Lenha 31. Mangueira 32. Goiabeira 33. Compra de hortaliças 34. Grãos 35. Trabalho por conta própria mais contratado.

Custos da compra de fertilizantes e da lavra da terra

36. Peixe 37. Campo de arroz 38. Irrigação 39. Mangueira 40. Pomar 41. Fruta - para consumo doméstico e venda 42. Amoreira 43. Palha 44. Debulha do arroz 45. Campo de trigo 46. Colheita e transporte do arroz 47. Arroz em terras médias ou altas 48. Grãos de arroz 49. Secagem do arroz + debulha + transporte 50. Frutas + vendas 51. Campo de arroz / Trabalho por conta própria e

contratado

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7.5.2 Processo

Voltar a visitar cada uma das famílias que elaboraram o Diagrama dos Sistemas Agrícolas (marcada para uma hora adequada, combinada ao fim da sua primeira visita). Chegar com um conjunto de cartões índice (um conjunto diferente para cada família) preparado previamente, baseado em informação sobre os recursos obtida durante as discussões do Diagrama dos Sistemas Agrícolas. Cada cartão deve representar um recurso ou um produto ou subproduto (benefício) das várias actividades de subsistência da família. Por exemplo, a produção de aves pode resultar não somente em ovos e carne para autoconsumo mas também em ovos e carne para venda, penas, fertilizantes e presentes para ocasiões especiais. Cada um desses produtos ou recursos pode ser apresentado num cartão separado. Trazer consigo um número de cartões em branco assim como o Diagrama dos Sistemas Agrícolas. Distribuir alguns dos cartões preparados para os membros adultos da família, que passam os cartões em volta depois de darem uma olhada neles. Pedir que descrevam quem da família usa os produtos, como são usados, quem decide como devem ser usados e quem controla o dinheiro se houver venda. Se um membro da família não souber muito sobre um determinado produto, ele ou ela deve passar o cartão para a pessoa que sabe. Informação suplementar é obtida de outros membros do agregado. Usar os cartões em branco para adicionar produtos e subprodutos suplementares conforme surgirem na discussão. Voltar a fazer referência ao Diagrama dos Sistemas Agrícolas se necessário. 7.5.3 Materiais

Cartões índice em branco, lápis ou canetas de colorir, caderno com vários Fluxogramas de Análise dos Benefícios para registar as discussões e o Mapa dos Sistemas Agrícolas elaborado por cada família. 7.5.4 Notas para a equipa de AR

Este instrumento é uma oportunidade para explorar de uma maneira viva, mas detalhada, os temas económicos fundamentais dos meios de subsistência. Os temas que venham a ser levantados podem continuar a ser explorados através de observação directa e entrevistas semi-estruturadas.

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7.5.5 Exemplo

O Fluxograma de Análise de Benefícios de Agbanga, Leyte, nas Filipinas, mostra os muitos benefícios ou subprodutos recolhidos da bananeira e as suas principais aplicações. Mostra também que as mulheres tomam a maior parte das decisões sobre o uso de cada subproduto, p. e., se é para consumo da família ou para venda no mercado local. As mulheres decidem também como pode ser aplicado o dinheiro obtido na venda dos frutos.

Instrumento B2: Fluxograma de Análise de Benefícios

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais são os principais benefícios resultantes das actividades exercidas na exploração agrícola? Por exemplo, produção de culturas, produção de gado, produção de aves, produção de frutas e legumes.

• Como são usufruídos?

• Quem decide sobre o seu uso? Quem produz?

• Se a produção for vendida, como é aplicado o dinheiro? Quem decide sobre isso?

• Quais são os principais benefícios resultantes das actividades ligadas à exploração agrícola? Por exemplo, recolha de lenha, recolha de água, pesca?

• Como são usufruídos?

• Quem decide sobre o seu uso? Quem produz?

• Se a produção for vendida, como é aplicado o dinheiro? Quem decide sobre isso?

• Quais são os principais benefícios resultantes das actividades não ligadas à exploração agrícola? Por exemplo, venda no mercado, trabalho assalariado?

• Como são usufruídos?

• Quem decide sobre o seu uso? Quem produz?

• Se a produção for vendida, como é aplicado o dinheiro? Quem decide sobre isso?

• Em geral, quais os benefícios usufruídos pelo agregado? Quais os vendidos para obter rendimentos?

• Quais os que contribuem mais para satisfazer as necessidades básicas do agregado?

• Quais são os controlados pelos homens? E pela mulheres?

• Em que são comparáveis os diversos grupos sociais?

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Instrumento B2: Fluxograma de Análise dos Benefícios Exemplo: Agbanga Leyte, Filipinas

Fonte: Buenavista and Flora, (1993) Surviving Natural Resource Decline: Explaining Intersections of Class, Gender and Social Networks in Agbanga, Leyte, Philippines. Análise ECOGEN Case Study, Blackburg. VA: VPI & SU.

Bananeira

Folhas

Fruta

Flor

Tronco

Brotos

dão-se a amigos ou familiares (troca social)

transplantados para os quintais dos agregados

corte transformação

ralada para servir de alimento aos porcos

consumo doméstico: para comer como hortaliça ou em saladas

dá-se a amigos ou familiares quando é pedida (troca social)

processada e vendida em eventos sociais locais

consumo doméstico: para comer cozida, frita ou

crua

dá-se a amigos ou familiares quando

é pedida (troca social)

para comprar alimentos para o

agregado e outras necessidades básicas

vendida nos mercados e lojas locais

para embrulhar comida

como prato

protecção contra a chuva e o sol

qualquer

qualquer um

USO DOS PRODUTOS

QUEM DECIDE O USO

QUEM O FAZ

QUANDO VENDIDO, COMO É USADO

O DINHEIRO

QUEM DECIDE SOBRE O USO DO DINHEIRO

Mulheres e crianças

Produtos secundários

Mulheres/crianças

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7.6 Instrumento B3:

Relógios das Actividades Diárias

7.6.1 Finalidade

Os Relógios das Actividades Diárias ilustram todos os diversos tipos de actividades executadas durante um dia. São particularmente úteis para examinar as relativas cargas de trabalho entre os diversos grupos de pessoas da comunidade, p. e., mulheres, homens, ricos, pobres, jovens e idosos. As comparações entre os diversos Relógios das Actividades Diárias mostram quem trabalha mais tempo, quem se concentra num pequeno número de actividades e quem deve dividir o seu tempo entre um número imenso de actividades, e quem usufrui de mais tempo para dormir e descansar. Podem, também, ilustrar variações sazonais. 7.6.2 Processo

Organizar grupos separados de mulheres e homens. Assegurar-se que pessoas de diferentes grupos sociais sejam incluídas em cada grupo. Explicar que gostaria de saber o que fazem num dia típico. Pedir que cada grupo de mulheres e homens elabore os seus próprios relógios. Devem, primeiro, concentrar-se nas actividades do dia anterior, elaborando um quadro de todas as actividades executadas em diversas horas do dia e quanto tempo levaram. Marcar cada actividade num diagrama circular tipo queijo (para que pareça um relógio). Actividades que são executadas simultaneamente, como cuidados com as crianças e trabalho na horta, podem ser marcadas dentro do mesmo espaço. Quando os relógios estiverem completados pergunte sobre as actividades apresentadas. Perguntar se ontem foi ou não um dia típico para essa época do ano. Anotar qual é a estação actual, p. e., das chuvas, e pedir, então, aos mesmos participantes para fazer novos relógios para representar um dia típico de outra estação, p. e., a das secas. Comparar. 7.6.3 Materiais

Bloco de papel em cavalete, marcadores de colorir e uma régua. 7.6.4 Notas para a equipa de AR

Um dos melhores modos (e, frequentemente, o mais divertido) de introduzir o instrumento Relógio das Actividades Diárias é começar por mostrar como é o seu próprio dia. Desenhar um grande círculo no papel e indicar a que horas acorda, a que horas vai para o trabalho, quando toma conta dos filhos, e assim por diante (não é necessário entrar em grandes detalhes, mas é importante mostrar que todos os tipos de actividades são incluídos, como o trabalho agrícola, trabalho assalariado, cuidados com as crianças, cozinhar, dormir, etc.). 7.6.5 Instrumentos adicionais

Histograma das actividades diárias

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7.6.6 Exemplo

O Quadro B3 mostra os Relógios das Actividades Diárias para mulheres e homens em Ozinavene, Distrito de Chivi, Zimbabwe, nas estações das secas e das chuvas. Mostram que mulheres e homens têm horas mais longas de trabalho nos campos durante a estação das chuvas, mas durante a estação das secas os homens têm muito mais tempo de lazer enquanto as mulheres executam um grande número de actividades, incluindo o trabalho na horta.

Instrumento B3: Relógios das Actividades Diárias

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Para cada pessoa, como é o seu tempo dividido? Quanto tempo é votado a actividades produtivas? A actividades domésticas? A actividades comunitárias? Ao lazer? A dormir? Como variam conforme a estação do ano?

• Para cada pessoa, o seu tempo está dividido entre vários tipos de actividades ou concentrado em poucas?

• Em que são comparáveis os relógios das mulheres e dos homens?

• Em que são comparáveis os relógios de diferentes grupos sociais?

• Qual é o mais ocupado de todos os relógios?

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Instrumento B3: Relógios das Actividades Diárias Exemplo: Actividades Diárias Sazonais de Homens e Mulheres em Dzinavene, Chivi District, Zimbabwe

12.0013.00

14.00

15.00

16.00

17.00

18.00

19.00

20.00

21.00

22.00

23.0024.001.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

9.00

10.00

11.00

Sleep

12.0013.00

14.00

15.00

16.00

17.00

18.00

19.00

20.00

21.00

22.00

23.0024.001.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

9.00

10.00

11.00

Sleep

Work in Fields

Rest

Work in Fields

12.0013.00

14.00

15.00

16.00

17.00

18.00

19.00

20.00

21.00

22.00

23.0024.001.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

9.00

10.00

11.00

Fields

Fields

Cooking

Workin

Firewood

Rest

Sleep

Workin

Housework/Firewood

12.0013.00

14.00

15.00

16.00

17.00

18.00

19.00

20.00

21.00

22.00

23.0024.001.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

9.00

10.00

11.00

Drinking

Odd Job

Field Preparation

Sleep

Men

Women

WinterDry Season

Summer WetSeason

Winter Dry Season

Summer WetSeason

Fo Fonte: Townsley. (1993) Training of Rapid Appraisal Teams. Notes for Trainers, FAO.

� Trabalho nos campos

� Trabalho doméstico

� Descanso

� Trabalho nos campos

� Lenha

� Descanso

� Dormir

Mulheres

� Trabalho doméstico

� Lenha

� Trabalho doméstico

� Café da manhã

� Cozinhar

� Descanso

� Jardinagem

� Lenha

� Cozinhar

� Descanso

� Dormir

Homens

Inverno Estação seca

Verão Estação chuvosa

Inverno Estação Seca

Verão Estação chuvosa

� Descansar

� Cafe da manhã

� Trabalhos diversos

� Preparo dos campos

� Dormir

� Beber

� Dormir

� Trabalhar nos campos

� Comer e descansar

� Trabalhar nos campos

� Descansar

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7.7 Instrumento B4: Calendários Sazonais

7.7.1 Finalidade

Os Calendários Sazonais são instrumentos que nos ajudam a explorar mudanças nos sistemas de meios de subsistência que ocorrem durante o período de um ano. Podem ser úteis para contra-atacar ideias preconcebidas sobre o tempo uma vez que são usados para descobrir o que acontece em diferentes estações do ano. Caso contrário, há uma tendência para se discutir apenas sobre o que está a acontecer durante o tempo em que está a decorrer a AR. Os calendários podem ser usados para estudar muitas coisas como a quantidade de trabalho que as pessoas têm em diferentes épocas do ano ou como os rendimentos mudam em períodos diversos. Podem, também, ser usados para mostrar a sazonalidade de outros aspectos importantes dos meios de subsistência como a disponibilidade de alimentos e água. 7.7.2 Processo

Trabalhar com o mesmo grupo de mulheres e homens que elaboraram os Relógios das Actividades Diárias. Explicar que desta vez quer saber o que as pessoas fazem num ano. Procurar um grande lugar aberto para cada grupo. Os calendários podem ser desenhados num grande papel ou podem ser traçados na areia ou no chão de terra, usando-se pedras ou folhas para a quantificação. Desenhar uma linha em toda a extensão da parte superior do espaço limpo (ou do papel). Explicar que a linha representa um ano — e perguntar às pessoas como dividem o ano, p. e., em meses, estações, etc. A escala a usar deve ser a que faz maior sentido aos participantes. Pedir que marquem as divisões por estações ao longo do topo da linha. É, em geral, mais fácil começar a elaboração do calendário fazendo perguntas sobre os padrões das chuvas. Pedir aos participantes para colocar pedras sobre cada mês (ou outra divisão) do calendário para representar as quantidades de chuva (mais pedras igual a mais chuva). Quando o calendário das chuvas estiver completo, pode traçar outras linha abaixo dessa e pedir para fazerem outro calendário, dessa vez mostrando o trabalho na agricultura (colocando mais pedras nos períodos de maior intensidade de trabalho). Assegurar-se que o calendário do trabalho e os calendários subsequentes estejam perfeitamente alinhados com o calendário das chuvas. Este processo é repetido, um calendário abaixo do outro, até que sejam cobertos todos os temas sazonais de interesse. Assegurar-se que os calendários incluam aqueles sobre disponibilidade de alimentos, disponibilidade de água, fontes de rendimentos e de despesas. Pedir aos participantes para colocar um símbolo ou sinal ao lado de cada calendário para indicar o tópico. Peça aos participantes, sempre que for possível, para descreverem as fontes de alimentação e de rendimentos, etc.

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7.7.3 Materiais

Paus, seixos, folhas, estrume ou qualquer outro material local podem ser usados. Papel e marcadores podem, também, ser usados. 7.7.4 Notas para a equipa de AR

Temas suplementares para os Calendários Sazonais podem ser adicionados de acordo com as necessidades e os interesses dos participantes, como doenças dos animais, recolha de forragem, estações de pesca, oportunidades de venda no mercado, problemas de saúde, e assim por diante.

7.7.5 Instrumentos suplementares

Calendário do Trabalho e dos Benefícios 7.7.6 Exemplo

Cada grupo de mulheres jovens, homens jovens, mulheres idosas e homens idosos, produziu seus calendários sazonais durante os exercícios de ARP que foram realizados na comunidade de Pemba, no Malawi. Os aqui mostrados são aqueles das mulheres jovens e dos homens jovens. Esse exemplo ilustra como os Calendários Sazonais podem ser usados para examinar as ligações entre diversos padrões: chuvas, trabalho agrícola, outros tipos de trabalho, disponibilidade de alimentos, doenças, disponibilidade de rendimentos e água. (Um calendário de despesas deveria ser adicionado aqui). Esses calendários podem mostrar também diferenças importantes entre o trabalho e os recursos à disposição de mulheres e homens, neste caso, padrões de rendimentos e de trabalho.

Instrumento B4: Calendários Sazonais

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Os sistemas gerais de meios de subsistência são suficientemente estáveis ou apresentam variações sazonais?

• Em que são comparáveis os calendários das mulheres e dos homens? Quais são os períodos de maior actividade para as mulheres? E para os homens? Há períodos de estrangulamento em termos de trabalho?

• Como varia a disponibilidade de alimentos durante o ano? Há períodos de fome?

• Como variam os rendimentos durante o ano? Há períodos de ausência de rendimentos?

• Como variam as despesas durante o ano? Há períodos de grandes despesas, p. e., propinas escolares, compra de alimentos?

• Quais são as ligações entre os diversos calendários? Por exemplo, rendimentos e abastecimento de alimentos ou chuvas e trabalho.

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Instrumento B4: Calendários Sazonais

Exemplo: Calendários Sazonais para a Aldeia de Pemna, Malawi

Fonte: Wellbourne, (1992) PRA Materials on Gender, IIED. 11.Nov. 1992

7.8 Instrumento B5: Cartões Figurativos dos Recursos

7.8.1 Finalidade

Os Cartões Figurativos dos Recursos ajudam-nos a conhecer o uso e o controlo dos recursos baseados nas diferenças de género dentro de um agregado. Está incluída a variação entre diferentes grupos sociais. Os papéis de género são um dos principais aspectos em relação à gestão dos recursos e nas decisões que vão ser tomadas. Quem, num agregado, tem acesso a recursos como a terra, o gado e os alimentos? Quem toma decisões sobre o uso dos recursos? Entender as respostas a essas perguntas ajuda-nos a saber quem eventualmente perde ou ganha com uma determinada actividade de desenvolvimento. O instrumento dos Cartões Figurativos dos Recursos é particularmente útil para moderar discussões abertas sobre um tema delicado de um modo divertido e não ameaçador. De uma maneira visualmente clara o recurso base de mulheres e homens é apresentado, levando as discussões sobre prioridades e necessidades de recursos para planos de acção de desenvolvimento.

Mulheres jovens Homens Jovens

chuva

trabalho agrícola

trabalho em casa

trabalho ocasional

disponibilidade de alimentos

incidência de doenças

rendimentos

fontes e disponibilidade

de águaa

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7.8.2 Processo

Trabalhar com os mesmos grupos de mulheres e homens que produziram os Relógios das Actividades Diárias e os Calendários Sazonais. Explicar que desta vez quer saber sobre o uso e o controlo dos recursos. Colocar no chão, em fila, três desenhos grandes, um de um homem, um de uma mulher e um de um homem e de uma mulher juntos, com bastante espaço entre eles. (Podem, também, ser afixados numa parede). Abaixo desses desenhos colocar, de modo disperso e ao acaso, cerca de 20 cartões menores, cada um retratando um recurso diferente. Incluir alguns cartões em branco para que os participantes possam adicionar outros recursos. Pedir aos participantes para ordenar os cartões colocando-os sob os três grandes desenhos, dependendo de quem usa o recurso, se as mulheres, os homens ou ambos. Moderar a discussão entre os participantes sobre o porquê de terem feito tais escolhas. Então, colocar o segundo grupo de desenhos e cartões no chão, próximo do primeiro grupo. Repetir o exercício mas desta vez centrando-se em quem tem controlo, propriedade ou poder decisório quanto a cada recurso. Outra vez, moderar a discussão entre os participantes sobre o porquê de terem feito tais escolhas. Pedir aos participantes para comparar o modo como dispuseram os dois grupos de Cartões Figurativos de Recursos. Repetir com outros grupos, se necessário, e compará-los. 7.8.3 Materiais

Dois grupos de Cartões Figurativos dos Recursos, pequenas pedras para os segurar, se o exercício for executado ao ar livre, ou fita adesiva se for uma parede a ser utilizada. 7.8.4 Notas para as equipas de AR

Este instrumento gera rapidamente muita discussão, conforme as pessoas vão decidindo onde colocar um cartão figurativo de um recurso, se sob o desenho da mulher, do homem ou de ambos. Especificar que apenas os recursos usados ou controlados 50/50% por mulheres e homens podem ser colocados abaixo do desenho de ambos; fora disso, devem colocar os cartões abaixo ou da mulher ou do homem para indicar quem tem o uso ou o controlo maioritário sobre ele.

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Durante as discussões, os participantes chegarão ao consenso sobre o que representa cada cartão. Por exemplo, podem decidir que o cartão dos cestos representa cestos para venda ou cestos para armazenar grãos. Representações de recursos que não são relevantes devem ser retirados. Os cartões em branco devem ser usados para adicionar recursos importantes que não foram ainda mostrados. Haverá alguma variação entre os diferentes grupos sociais e esses devem ser evidenciados. 7.8.5 Instrumentos suplementares

Perfil dos recursos 7.8.6 Exemplo

Na comunidade de Okahitua da Região de Otjizundjupa, na Namíbia, a produção de gado é a fonte principal de subsistência. Apesar do mito de que as mulheres têm pouco a ver com a produção de gado, na realidade ficou demonstrado durante os exercícios de ARP que as mulheres são as responsáveis por assistir ao parto, alimentar e ordenhar o gado; as mulheres e os homens juntos são responsáveis por pastorear, castrar, desparasitar e vacinar o gado. De facto, a única actividade ligada à criação de gado da qual as mulheres estão realmente excluídas é a comercialização. Entretanto, o exercício com os Cartões Figurativos dos Recursos revelou que enquanto os homens e as mulheres partilham o acesso a animais de grande e pequeno porte, apenas os homens têm controlo e poder de decisão a respeito dos animais. De facto, as mulheres não têm controlo algum sobre qualquer recurso.

Instrumento B5: Cartões Figurativos de Recursos

Algumas questões da ASEG a serem formulaas pelo Moderador

• Quais são os recursos utilizados pelos homens? Pelas mulheres? Por ambos?

• São as mulheres, os homens ou ambos que utilizam os recursos de maior valor? Por exemplo, terra, gado, tecnologia.

• Quais são os recursos controlados pelas mulheres? Pelo homens? Por ambos?

• São as mulheres, os homens ou ambos que decidem sobre os recursos de alto valor?

• Entre mulheres e homens de diferentes grupos sociais, quem são os mais ricos em recursos? Quais são os mais pobres em recursos?

• Quais são as ligações entre o trabalho das mulheres e seu uso e controlo dos recursos? Quais são as ligações entre o trabalho dos homens e seu uso e controlo dos recursos?

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Instrumento B5: Cartões Figurativos dos Recursos Exemplo: Aldeia de Okahitua, Região de Otjizundjupa, Namíbia

Fonte: Adaptado por Wilde and Byram durante a missão em Namíbia (Maio — Junho 1996) de Narayan and Srinivasan. (1994) Participatory Development Tool Pacote. Training Materials for Agencies and Communities. The World Bank.

USO DOS RECURSOS

Mulheres

Homens Ambos

CONTROLO DOS RECURSOS

Mulheres Homens

Ambos

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7.9 Instrumento B6: Matrizes dos Rendimentos e das Despesas

7.9.1 Finalidade

As matrizes de Rendimentos e Despesas são produzidas para nos ajudarem a entender um aspecto muito importante dos meios de subsistência da população: fontes de rendimentos e fontes de despesas. Este instrumento pode também revelar mudanças nas despesas em tempos de crise. Quantificando a importância relativa das diferentes fontes de rendimentos para diferentes pessoas, incluindo tanto mulheres como homens de cada grupo social, podemos entender a segurança ou vulnerabilidade dos diferentes meios de subsistência da população. Quantificando a importância relativa das diversas fontes de despesas para pessoas diferentes, podemos ficar a conhecer as suas prioridades e limitações. Na Matriz das Despesas é importante verificar se todos, a maioria ou apenas alguma parte dos rendimentos totais é gasta para satisfazer as necessidades básicas — alimentação, água, vestuário, habitação, cuidados de saúde e educação. Depois de satisfazer as necessidades básicas, resta algum dinheiro às pessoas para poupança ou para investir em meios de subsistência, como vacinas para os animais ou fertilizantes? 7.9.2 Processo

Organizar dois ou três novos grupos, desta vez combinando os grupos sociais, homens e mulheres, jovens e idosos, etc. Trabalhar com cada grupo em separado. Explicar que quer saber de onde vem o dinheiro que ganham e em que é que o gastam. Começar por pedir ao grupo para listar as suas fontes de rendimentos. Começar por desenhar a matriz no chão ou num grande pedaço de papel, indicando cada fonte de rendimentos através do eixo horizontal. O grupo pode querer seleccionar gravuras ou símbolos para representar cada categoria. Juntar 50 pedras (pedir às crianças para ajudar). Explicar que essas pedras representam os rendimentos totais da comunidade para o ano todo. Pedir aos participantes para dividir as pedras de acordo com a sua riqueza/rendimentos, com uma pessoa representando cada grupo sócio-económico com uma parte proporcional das 50 pedras, conforme foi discutido e decidido pelo grupo inteiro. Pede-se ao representante de cada grupo sócio-económico para ficar de pé ao longo do eixo vertical com a sua proporção de pedras. Por outras palavras, o eixo vertical pode incluir um representante das mulheres ricas, das mulheres pobres, dos homens ricos, dos homens pobres, etc. Pede-se a cada um sucessivamente para distribuir as suas pedras na matriz e indicar as suas fontes de rendimentos — colocando muitas pedras sobre as fontes principais de rendimentos, poucas pedras sobre as fontes secundárias de rendimentos e nenhuma pedra se não ganham dinheiro de uma determinada fonte. Isso é executado enquanto se discute com os participantes, até que todas as pedras tenham sido distribuídas. Registar a matriz, contando todas as pedras de cada fonte de rendimentos de cada grupo sócio-económico.

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Então, pedir aos participantes para fazer uma lista das suas despesas, incluindo a poupança. Mudar o eixo horizontal da matriz para que represente cada categoria de despesas. Também nesse caso, gravuras ou símbolos são recomendados. Pedir aos representantes de cada grupo sócio-económico para recolher as suas pedras (o mesmo número que cada um usou para a matriz dos rendimentos) e para distribuí-las a fim de mostrar como gastam o dinheiro. Registar a matriz, contando todas as pedras para cada despesa de cada grupo sócio-económico. Finalmente, imaginar uma crise importante (infestação de vermes, seca) e pedir a cada representante para remover várias pedras da matriz para mostrar onde arranjariam dinheiro para fazer frente à crise. Discutir o impacto da crise e as estratégias de combate dos diversos participantes. Registar de onde as pedras foram retiradas para fazer frente à crise. Das propinas escolares? Do vestuário? Da alimentação? 7.9.3 Materiais Materiais locais incluindo 50 pedras (ou folhas ou paus), ou papel e canetas. 7.9.4 Notas para a equipa de AR

Discutir rendimentos e despesas pode ser muito delicado. As pessoas, em geral, não se sentem à vontade a discutir esses temas num foro público. Mas este instrumento tende a funcionar bem porque não são discutidas somas mas recursos. Ajuda também quando são fixados os rendimentos totais anuais da comunidade em 100 pedras. O único momento delicado é quando lhes é pedido para chegarem a um acordo quanto ao número de pedras que devia ter o representante de cada grupo sócio-económico. Mas isso, também, se consegue porque os rendimentos individuais não são revelados — apenas somas relativas entre um e outro grupo. 7.9.5 Instrumentos suplementares

Mapa dos Meios de subsistência

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7.9.6 Exemplo

Na aldeia de Yabrang no Leste do Butão, as matrizes dos rendimentos e das despesas foram produzidas por dois grupos, um centrado nas diferenças à luz da categoria género e outro centrado nas diferenças quanto à riqueza. O primeiro revelou que mulheres e homens em Yabrang têm fontes de rendimentos totalmente diferentes. Para as mulheres, a criação de aves e a cultura de legumes são as mais importantes, enquanto que os homens obtêm a maior parte dos rendimentos da criação de gado de grande porte e da cultura de cereais. As responsabilidades quanto às despesas, por outro lado, sobrepõem-se bastante; a maior despesa tanto das mulheres como dos homens recai sobre as propinas escolares. As matrizes centradas nas diferenças quanto à riqueza revelaram que as actividades de desenvolvimento que melhor funcionaram em diversificar os rendimentos dos agregados mais pobres são aquelas que requerem pouca terra e insumos limitados, nomeadamente os porcos, as aves, as frutas e os legumes.

Instrumento B6: Matrizes dos Rendimentos e das Despesas

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

Matriz dos Rendimentos

• Há muitas ou poucas fontes de rendimentos na comunidade? Quais são as mais importantes?

• Quanto são vulneráveis essas fontes de rendimentos em tempo de crise? Por exemplo, seca ou doenças?

• Determinados grupos sociais têm meios de subsistência mais vulneráveis do que outros? Por outras palavras, determinadas pessoas dependem apenas de uma ou duas fontes de rendimentos, enquanto que outras têm fontes diversificadas?

• Há fontes de rendimentos disponíveis para certos grupos, p. e., homens idosos, ricos, grupos das altas classes sociais, que não são disponíveis para os outros, a saber, mulheres jovens, pobres, grupos das classes sociais mais baixas?

• Em que são comparáveis as fontes de rendimentos das mulheres e dos homens?

Matriz das Despesas

• As despesas são poucas e concentradas ou distribuídas por vários tipos de despesas?

• Quais são as despesas comuns a praticamente todos?

• Para cada grupo social, que proporção de rendimentos vai para satisfazer as necessidades básicas, a saber, alimentação, água, habitação, vestuário, cuidados de saúde e educação?

• Para cada grupo social, qual a proporção de rendimentos destinada à poupança? A investimentos produtivos, p. e., inputs, equipamento, gado?

• Em que são comparáveis as despesas das mulheres e dos homens?

• Para enfrentar uma crise, em que gastaria menos a população? Em actividades de lazer? Em vestuário? Em propinas escolares? Em alimentação? Quais são as implicações futuras?

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Instrumento: Matrizes dos Rendimentos e das Despesas (á luz da categoria género)

Localização: Aldeia de Yabrang, Phongmey Gewog, Trashigang Participantes: 8 mulheres, 2 homens Data: 16 de Novembro de 1996

Fontes de Rendimentos Mulheres Homens

Trigo mourisco 6

Arroz 6

Milho 6

Batatas 7

Cana-de-açúcar 7

Legumes 9

Bananas 4

Gado vacum 11

Cavalos 7

Porcos 6

Aves 14

Venda de roupas 9

Construção de estradas 8

Nota: Foram dados 50 paus cada ao grupo das mulheres e ao dos homens para representarem os seus rendimentos totais anuais. Após terem seleccionado os cartões figurativos dos recursos e as actividades relevantes, atribuíram-lhes o respectivo número de paus.

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Fontes de Despesas Mulheres Homens

Despesas religiosas 7 4

Básicas (sabão, sal) 5 8

Propinas escolares 14 11

Vestuário 5 6

Jóias 3

Sementes e insumos 2 1

Gado vacum 3 3

Cavalos 3 5

Porcos 4 3

Aves 3 1

Manteiga e queijo 1

Implementos agrícolas 3

Rádio e relógio 5

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Instrumento: Matrizes dos Rendimentos e das Despesas quanto à Riqueza Localização: Aldeia de Yabrang, Phongmey Gewog, Trashigang Participantes: 3 mulheres, 5 homens Data: 16 de Novembro de 1996

Fontes de Rendimentos Rico Médio Pobre

Milho 5 1

Trigo 1 1

cana-de-açúcar 1 2

Frutas 1 1 1

Laranjas 1 1

Legumes 1 2 1

Touros 5 1

Cavalos 5 1

Porcos 3 1 1

Ovos 2 1 1

Manteiga 5 2

Trabalho remunerado 1 1

Nota: 50 folhas grandes representavam os rendimentos totais anuais da comunidade. Os participantes escolheram dividir as folhas como se segue: 30 folhas = rendimentos anuais dos «ricos»; 15 folhas = rendimentos anuais dos «médios»; e 5 folhas = rendimentos anuais dos «pobres». As mesmas proporções foram usadas para discutir as despesas.

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Fontes de Despesas Rico Médio Pobre

Casa 4 2 1

Religião 3 1

Uniformes escolares 1 1 1

Básicas (óleo, sal, peixe seco) 2 2 1

Vestuário 2 1

Gado vacum 2 1

Touros 2 1

Cavalos 2 1

Porcos 1 1

Aves 1

Sementes, plantas criadas em viveiros, ferramentas

3 2 1

Fertilizante 1 1

Poupança 3

Misto 3 1 1

Fonte: Wilde (1996)

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8 PACOTE C DE INSTRUMENTOS. AS PRIORIDADES DAS PARTES ENVOLVIDAS COM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO

8.1 O quê ?

Com os dois pacotes de instrumentos anteriores aprendemos sobre o contexto do desenvolvimento, constituído por padrões ambientais, económicos, sociais e institucionais e analisámos os meios de subsistência de diversas pessoas, incluindo os meios para satisfazer as necessidades básicas. Por outras palavras, chegámos a um conhecimento detalhado da situação actual.

Com este pacote de instrumentos, os residentes locais passam do examinar «o que é» para decidir «o que deve ser feito». O pacote C de instrumentos não nos ajuda apenas a identificar os problemas prioritários que provêm da situação actual, mas a usar a informação de AR para nos centrarmos no futuro, com instrumentos projectados especificamente para planear o desenvolvimento. Entretanto, um dos desafios nesta altura é que pessoas diferentes têm diferentes prioridades e, portanto, desejam diferentes actividades de desenvolvimento. Por essa razão, a análise das partes envolvidas é necessária antes que sejam concluídos os planos para as actividades de desenvolvimento. As partes envolvidas são aquelas que afectam e/ou são afectadas pelas políticas, programas e actividades de desenvolvimento. Podem ser mulheres e homens, grupos sociais ou instituições de qualquer tamanho e de qualquer nível da sociedade. Uma comunidade pode incluir grandes e pequenos agricultores, grupos de pastores, habitantes da floresta, comerciantes, mulheres-chefes do agregado, trabalhadores sem terra e outros. Cada um desses grupos tem necessidades e recursos específicos — portanto, cada um deve ser representado no processo de decisão sobre as actividades de desenvolvimento. Entre outras coisas, isso assegura que o processo de decisão não seja efectivamente assumido por um determinado grupo económico ou político. Mas as partes envolvidas abrangem, também, as pessoas ou grupos fora da comunidade, incluindo os dos níveis macro e intermédio. Esses compreendem criadores de políticas, técnicos de planeamento e outros quadros governamentais e não

Quadro 26: O planeamento do desenvolvimento participativo a Nível Micro requer:

• motivação da população local para tratar os problemas existentes

• identificação pela população local dos problemas prioritários

• identificação das oportunidades para tratar dos problemas

• identificação dos recursos locais e externos, e das partes envolvidas com cada um

• harmonização dos recursos com os problemas

• estabelecimento de mecanismos entre as partes envolvidas para gerir as actividades de desenvolvimento.

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governamentais e aqueles que podem ter interesses comerciais ou ideológicos no sucesso ou fracasso de determinadas actividades de desenvolvimento. Não é invulgar haver desacordo entre as diversas partes envolvidas. Conflitos de interesses surgem frequentemente da competição pelo acesso aos recursos. Podem também surgir devido a fins competitivos de desenvolvimento. Por exemplo, o objectivo de um grupo ecologista pode ser proteger elefantes enquanto que o da população local é proteger os seus cultivos dos danos dos elefantes a fim de crescerem o bastante para alimentá-los.

As partes envolvidas incluem tanto aqueles que ficam a ganhar e aqueles que ficam a perder, dada uma determinada actividade de desenvolvimento. O modo mais fácil de identificá-lo é centrar a atenção nos recursos necessários para implementar a actividade, incluindo terra, água, árvores, formação, insumos e poder de decisão. Identificar as partes envolvidas ajuda-nos a assegurar que os planos de acção de desenvolvimento sejam realistas. As actividades propostas que dependem dos recursos que não estão disponíveis ou das metas que são profundamente contenciosas estão votadas ao fracasso. Por outro lado, identificar os padrões e redes existentes, ou criar novos padrões entre as partes envolvidas que partilham interesses comuns, é um bom ponto de partida para o planeamento do desenvolvimento. Através da identificação dos parceiros e dos possíveis conflitos, usando o processo participativo esboçado neste pacote de instrumentos, podemos, também ser capazes de identificar os modos de resolver o conflito, atingir consenso e chegar a um compromisso.

Quadro 27: Tipos de partes envolvidas

� Aqueles que têm ou necessitam de um recurso

� Aqueles que são afectados pelo uso de um recurso por outros

� Aqueles que influenciam as decisões sobre os recursos

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8.2 Como?

Tabela 4: Pacote C de instrumentos.

Prioridades das Partes Envolvidas em relação ao desenvolvimento

Instrumentos Participantes Foco Ligações

Matriz de ordenamento em pares

Fluxograma

Grupos separados de mulheres e homens (representando todos os grupos sócio-económicos)

e

Grupos separados de diversos grupos sócio-económicos (incluindo mulheres e homens, jovens e idosos)

Problemas prioritários de mulheres e homens

Problemas prioritários de diversos grupos sócio-económicos

Causas e efeitos dos problemas prioritários

Mapa dos recursos da Comunidade

Perfil

Mapa social

Linhas de tendências

Diagrama de Venn

Sistemas agrícolas

Mapa

Calendário sazonal

Cartões figurativos dos recursos

Análise dos benefícios

Matriz rendimentos e das despesas

Gráfico de análise dos problemas

Plano de acção preliminar da Comunidade

Todos os membros da Comunidade (representando todos os grupos sócio-económicos, tanto mulheres como homens) mais peritos técnicos de importantes organizações e agências

Problemas prioritários

Causas dos problemas

Estratégias locais para enfrentar crises

Identificação de oportunidades para abordar os problemas

Planear as possíveis actividades de desenvolvimento, incluindo recursos necessários, grupos a serem envolvidos e calendarização

Ordenamento em pares

Fluxograma

Gráfico de análise dos problemas

Diagrama de Venn

Perfis institucionais

Calendários sazonais

Diagrama Venn das partes envolvidas

Matriz dos conflitos e das parcerias das partes envolvidas

Todos os membros da Comunidade (representando todos os grupos sócio-económicos, tanto mulheres como homens) mais Peritos Técnicos de importantes organizações e agências

Identificação das partes envolvidas locais e exteriores para cada acção proposta no plano de acção preliminar da Comunidade

Identificação dos conflitos e interesses entre as partes envolvidas

Identificação dos interesses comuns e das parcerias entre as partes envolvidas

Plano de acção preliminar da Comunidade

Diagrama de Venn

Perfis institucionais

Planos de acção das melhores apostas

Grupos consistindo daqueles que compartilham prioridades para a acção de desenvolvimento

Planos de acção finais para as actividades de desenvolvimento incluindo prioridades das mulheres, dos homens e de cada grupo sócio-económico

Plano de acção preliminar da Comunidade

Diagrama de Venn das partes envolvidas

Matriz das parcerias e dos conflito das partes envolvidas

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8.3 Questões da ASEG para Análise e Resumo

Quais são os problemas prioritários na comunidade? Como diferem entre os diversos grupos, incluindo mulheres e homens? Que grupos compartilham prioridades? Quais têm prioridades opostas?

Para tratar dos problemas prioritários, que actividades de desenvolvimento propõem as diversas pessoas?

Para cada actividade de desenvolvimento proposta, quais são as partes envolvidas? Quão grande é a sua participação? Quem fica a ganhar e quem fica a perder?

Há conflitos entre as partes envolvidas? Há parcerias entre as partes envolvidas?

Dadas as limitações de recursos e os conflitos potenciais entre as partes envolvidas, que actividades de desenvolvimento propostas podem realisticamente ser implementadas?

Quais as actividades de desenvolvimento propostas que favorecem mais o objectivo da ASEG de estabelecer um ambiente em que mulheres e homens possam prosperar?

Quais das actividades de desenvolvimento propostas sustêm mais o princípio da ASEG de dar prioridade aos mais desfavorecidos?

8.4 Instrumento C1: Ordenamento em Pares

8.4.1 Finalidade

O Ordenamento em Pares é um instrumento que nos ajuda a conhecer os problemas mais importantes dos diversos membros da comunidade. Facilita, também, a comparação das prioridades de diferentes pessoas. Muitos dos problemas prioritários das populações são aqueles relacionados com a luta diária para satisfazer as necessidades básicas enquanto que outros provêm das esperanças para o futuro. Alguns problemas estão relacionados especificamente com questões de género, tais como a falta de controlo das mulheres sobre os recursos-chave ou a divisão do trabalho baseada na diferença entre homens e mulheres. O Ordenamento em Pares enfatiza como os problemas prioritários das mulheres e homens diferem e onde há sobreposições. De modo semelhante, as necessidades prioritárias dos membros de diferentes grupos sócio-económicos são revelados.

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8.4.2 Processo

Organizar dois grupos separados: um de mulheres e um de homens. Assegurar-se que uma combinação de grupos sócio-económicos (como foram identificados no Mapa Social) seja incluída em cada um deles. Pedir aos participantes para pensar sobre os seus «problemas», fazendo referência aos principais temas apreendidos dos instrumentos do Contexto do Desenvolvimento e da Análise dos Meios de subsistência. Em discussão entre eles, pedir-lhes para fazerem uma lista dos 6 problemas (em qualquer ordem) mais importantes para eles. Escrever uma lista de 6 problemas tanto no eixo vertical como horizontal da Matriz de Ordenamento em Pares, em branco (ver exemplo). Escrever, também, cada um dos seis problemas em cartões separados. Apresentar um par de cartões (mostrando dois problemas diferentes) ao grupo. Pedir-lhes para escolherem o mais importante. Registar a escolha na matriz preparada. Pedir-lhes, também, para explicarem as razões dessa escolha. Repetir até que todas as combinações de cartões tenham sido apresentadas e as escolhas feitas. Examinando a Matriz de Ordenamento em Pares completa, contar o número de vezes que cada problema foi seleccionado e ordená-los. Os três problemas seleccionados o maior número de vezes, são os problemas prioritários do grupo. Organizar um segundo conjunto de grupos — esta vez de acordo com o grupo sócio-económico. Assegurar-se que mulheres e homens estejam representados em cada um. Repetir o exercício. Comparar os conhecimentos obtidos dos dois conjuntos de grupos de interesse.

Quadro 28: Uma batalha clássica entre os Idosos e os Jovens

Numa comunidade na Serra Leoa, pediu-se aos aldeões idosos, aos homens e mulheres jovens para comparecer a uma reunião para ouvir sobre os exercícios de ARP propostos. Perguntaram-lhes sobre o que os preocupava e alguns idosos começaram a responder. Quando os idosos falavam, os homens jovens levantaram-se repentinamente e saíram, reclamando.

Quando lhes perguntaram qual era o problema, os homens jovens responderam: «Esses homens idosos nunca nos representaram nem às nossas necessidades. Eles esqueceram-se de nós. Que sentido tem ficarmos?» Quando prometeram aos homens jovens que os seus pontos de vista também seriam ouvidos concordaram em ficar e a reunião foi reiniciada.

Os homens idosos disseram que necessitavam de uma nova ponte no rio para terem acesso à terra agrícola e de uma nova mesquita. Os homens jovens falaram sobre a necessidade de haver uma escola e de balizas para o futebol.

Fonte: Wellbourne (1992)

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8.4.3 Materiais

Matriz de Ordenamento em Pares preparada em bloco de papel em cavalete, um cavalete de pintor ou parede, fita adesiva, marcadores e cartões tamanho A3.

8.4.4 Notas para a equipa de AR

Discutir problemas pode encorajar as pessoas a identificar uma lista desejada de necessidades, mais do que de temas que são adequados a actividades de desenvolvimento. É importante fazer referência aos conhecimentos obtidos dos instrumentos de Contexto do Desenvolvimento e da Análise dos Meios de subsistência. 8.4.5 Exemplo

A Matriz de Ordenamento em Pares do Quénia mostra que os participantes seleccionaram «falta de insumos», «clima» e «falta de terra» como os problemas prioritários.

Instrumento C1: Matriz de Ordenamento em Pares

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais são os diferentes problemas identificados por mulheres e homens? Que problemas resultam da divisão de trabalho baseada nas diferenças de género ou do acesso desigual aos recursos? Que problemas são compartilhados por ambos?

• Quais são os diferentes problemas identificados pelo diversos grupos sócio-económicos? Que problemas resultam da pobreza e da discriminação? Que problemas são compartilhados por todos os grupos?

• Que problemas estão relacionados com os temas do Contexto do Desenvolvimento? Que problemas estão relacionados com os temas da Análise dos Meios de Subsistência? Com ambos?

• Os problemas estão interrelacionados?

• Houve consenso ou discordância sobre o ordenamento dos problemas pela sua importância?

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Instrumento C1: Matrizes de Ordenamento em Pares Exemplo: Quénia

Problemas Clima Pestes Ervas daninhas

Custos dos insumos

Falta de terras

Falta de irrigação

Falta de Conhe-cimentos Técnicos

Clima Clima Clima Custos dos insumos

Clima Clima Clima

Pestes Pestes Custos dos insumos

Falta de terras

Falta de irrigação

Pestes

Ervas daninhas Custos dos insumos

Falta de terras

Falta de irrigação

Ervas daninhas

Custos dos insumos

Custos dos insumos

Custos dos insumos

Custos dos insumos

Falta de terras Falta de terras

Falta de terras

Falta de irrigação Falta de irrigação

Falta de Conhecimentos Técnicos

Problemas Números de vezes preferidas Ordenamento

Clima 5 2

Pestes 2 5

Ervas daninhas 1 6

Custos dos insumos 6 1

Falta de terras 4 3

Falta de irrigação 3

Falta de conhecimentos técnicos

0 7

Fonte: National Environmental Secretariat, Government of Kenya; Clark University; Egerton University and the Center for International Development and Environment of the World Resources Institute (February 1990) Participatory Rural Appraisal Handbook

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8.5 Instrumento C2: Fluxograma

8.5.1 Finalidade

O Fluxograma é um instrumento que é elaborado a partir dos conhecimentos adquiridos com a Matriz de Ordenamento em Pares. Ajuda-nos a ficar a saber mais sobre os conhecimentos que as pessoas têm sobre as causas dos seus problemas assim como sobre os efeitos resultantes. Pode também ser usado para identificar possíveis soluções. O Fluxograma aprofunda-se na análise dos problemas principais da comunidade revelando como os problemas, causas, efeitos e soluções estão ligados. Pode, também, indicar que problemas têm soluções que podem ser implementadas pela comunidade, que problemas requerem assistência externa para serem resolvidos e quais parecem não ter solução alguma, como os desastres naturais. 8.5.2 Processo

Trabalhar com os mesmos grupos que participaram na Matriz de Ordenamento em Pares. Tratar apenas um problema prioritário (que foram identificados na Matriz de Ordenamento em Pares) de cada vez. Colocar o nome (ou símbolo) do problema no centro do bloco de papel em cavalete e desenhar um círculo em volta dele. Primeiro, inquirir sobre as causas do problema. Conforme cada causa é mencionada, escrevê-la num cartão separado. Discutir e continuar com o exercício até que não haja mais causas por identificar. Perguntar aos participantes que causas estão interrelacionadas. Pedir ajuda aos participantes para colocar os cartões das causas no bloco de papel em cavalete na posição correcta em relação ao problema. Quando todos tiverem concordado com a colocação, desenhar flechas das causas para os problemas. Segundo, perguntar sobre os efeitos que resultam do problema. Conforme cada efeito é mencionado, escrevê-lo num cartão separado. Discutir e continuar com o exercício até que não hajam mais efeitos por identificar. Pedir ajuda aos participantes para colocar os cartões dos efeitos no bloco de papel em cavalete nas posições correctas. Quando todos tiverem concordado com a colocação, desenhar flechas do problema para os efeitos e vice-versa. Terceiro, perguntar sobre as soluções. Conforme cada solução vai sendo mencionada, escrevê-la num cartão separado. Discutir e continuar com o exercício até que não hajam mais soluções por identificar. Pedir ajuda aos participantes para colocar os cartões das soluções no bloco de papel em cavalete nas posições correctas. Quando todos tiverem concordado com a colocação, desenhar linhas duplas entre as soluções e os problemas. Repetir o mesmo procedimento para cada problema prioritário e para cada grupo.

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8.5.3 Materiais

Bloco de papel, cavalete ou parede, fita adesiva, marcadores, cartões tamanho A3 (em 3 cores).

8.5.4 Notas para a equipa de AR

É importante assegurar que todos entendam as diferenças entre causas, efeitos e soluções. Por essa razão, é importante discuti-las somente uma de cada vez, como foi descrito acima. Por exemplo, no Fluxograma da Etiópia, mostrado abaixo, o grupo dos homens seleccionou «doenças animais» como um de seus problemas prioritários. Identificaram falta de medicamentos veterinários, carraças, doenças da estação seca e «a vontade de Deus» como causas das doenças do gado; aumento das doenças contagiosas dos animais e mortes do gado como efeitos e um bom abastecimento de medicamentos baratos e eficazes como uma solução. 8.5.5 Exemplo

Os dois Fluxogramas mostrados abaixo são dois exercícios de ARP, na Etiópia. Mostram as causas, efeitos e soluções identificadas pelo grupo de homens para as doenças do gado e pelo grupo das mulheres para os períodos de escassez de alimentos.

Instrumento C2: Fluxograma

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais são as causas do problema? Quais estão relacionadas com os resultados do Contexto do Desenvolvimento? Por exemplo, quais são as de carácter ambiental, económico, social ou institucional? Quais estão relacionadas com os resultados da Análise dos Meios de Subsistência? Quais estão relacionadas com as questões de género?

• Quais são os efeitos do problema? Quais estão relacionados com os resultados do Contexto do Desenvolvimento? Por exemplo, quais são os de carácter ambiental, económico, social ou institucional? Quais estão relacionados com os resultados da Análise dos Meios de Subsistência? Quais estão relacionados com as questões de género?

• Quais são as soluções propostas? Quais podem ser implementadas pela comunidade local? Quais requerem assistência externa? Há problemas para os quais não foram identificadas soluções?

• Há sobreposição das causas, efeitos ou soluções para os três problemas prioritários de cada grupo? Entre os diferentes grupos?

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Instrumento C2 (a): Fluxograma Exemplo: Fluxograma das Doenças do Gado (homens), Aldeia na Etiópia

Doenças da estação seca

Proibição de queima de ervas

Controlo da qualidade dos medicamentos

«Waka» (vontade de Deus)

Carraças

Doenças do gado Fortes chuvas

trazem algumas doenças

Morte do gado

Fraca qualidade das drogas dos comerciantes

privados

Doenças contagiosas dos animais em aumento

Falta de medicina

veterinária

Bom abastecimento de medicamentos baratos e

eficazes Os medicamentos Sordu eram antes fornecidos regularmente,

agora parou de sê-lo.

Causa: Efeito:

Solução:

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Instrumento C2 (b): Fluxograma

Exemplo: Fluxograma da Falta de Alimentos (mulheres), Aldeia na Etiópia

Fonte: FAO/ IIED (Forthcoming), Explaining Gender Issues in Agriculture: Key Issues and Participatory

8.6 Instrumento C3: Quadro de Análise dos Problemas

8.6.1 Finalidade

Uma vez identificados os problemas de todos os grupos de uma comunidade, é a vez de juntá-los para continuar a análise. Esta é a finalidade do Gráfico de Análise dos Problemas. Com este instrumento todos os diferentes problemas são apresentados e discutidos com toda a comunidade, mostrando onde as prioridades de diferentes grupos se sobrepõem e onde diferem. Permite, também, uma discussão alargada sobre as causas dos problemas, assim como sobre as estratégias para enfrentá-los. É importante conhecer as estratégias porque podem ser estratégias que podem ser elaboradas para o desenvolvimento. Podemos também saber se os esforços para tratar de um determinado problema já foram feitos e falharam ou não trataram o problema integralmente. O Gráfico de Análise dos Problemas examina, também, as oportunidades de desenvolvimento. Por essa razão, é importante que «peritos» técnicos de agências e organizações exteriores, funcionários de extensão rural e técnicos das ONG sejam convidados a participar. Embora a população local possa ter boas ideias sobre o que

Sem tradição agrícola

Falta de conhecimentos de técnicas agrícolas

As pessoas não cultivam Falta de dinheiro para

comprar comida

Doenças Falta de alimentos

Baixa produtividade do gado leiteiro

Agricultura com inputs de extensão agrícola

Incapaz de trabalhar Melhoria das pastagens e

alimentação dos animais em aumento

Falta de comida para os animais

Alojamento de pessoas

Grande número de cabeças de gado Falta de chuva

Causa: Efeito:

Solução:

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necessita pode não ter informação sobre as opções que os programas de desenvolvimento podem oferecer. É muito importante, nessa etapa da análise, que a população local obtenha informação adequada a fim de que possa decidir sobre o seu desenvolvimento. 8.6.2 Processo

Planear e organizar uma reunião com toda a comunidade. Assegurar que seja marcada para uma hora em que mulheres e homens possam estar presentes, incluindo uma combinação de grupos sócio-económicos. Convidar, com bastante antecipação, pelo menos dois ou três peritos técnicos de agências e organizações exteriores. Assegurar que as pessoas exteriores convidadas sejam peritos em temas directamente relacionados com os problemas identificados pelos membros da comunidade. A reunião deve começar com uma apresentação dos conhecimentos obtidos até agora, iniciando com um resumo dos resultados do Contexto do Desenvolvimento, seguido por um resumo da Análise dos Meios de Subsistência e concluindo com os problemas prioritários (e suas causas e efeitos) de mulheres e homens e dos diferentes grupos sócio-económicos. Isto proporciona a toda a comunidade uma visão geral completa (uma vez que muitos participaram apenas de algumas das actividades da avaliação rural). Oferece, também, uma excelente oportunidade aos peritos externos para terem conhecimento da situação da comunidade local. A apresentação deveria ser acompanhada por vários mapas, diagramas e gráficos produzidos pelos participantes. É melhor que esses sejam expostos em volta para que os participantes possam circular e olhar cada um. É, também, conveniente pedir aos diversos membros da comunidade para ficarem perto dos gráficos expostos para responderem a questões. Dependendo do tamanho da comunidade, reservar pelo menos algumas horas. Preparar o Gráfico de Análise dos Problemas, registando na coluna da esquerda os três principais problemas identificados por cada um dos diferentes grupos na Matriz de Ordenamento em Pares. No caso do problema ter sido identificado por mais de um grupo, registá-lo apenas uma vez. Na segunda coluna, fazer uma lista das causas dos problemas identificados nos Fluxogramas. Apresentar o Gráfico de Análise dos Problemas a todos os participantes da reunião. Explicar que grupos identificaram que problemas e salientar onde as prioridades se sobrepõem. Para cada problema, apresentar, também, as causas identificadas e perguntar se alguém, incluindo os peritos externos, tem algo a adicionar. Pedir, então, às pessoas para explicar o que fazem geralmente para enfrentar os seus problemas. Registar as estratégias de luta na terceira coluna. Finalmente, fazendo referência especial a cada problema, discutir oportunidades para o desenvolvimento, pedindo tanto aos membros da comunidade local como aos peritos externos para contribuir com as suas ideias. Elaborar as soluções identificadas nos Fluxogramas. Registar as soluções na quarta coluna.

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8.6.3 Materiais

Uma cópia dos instrumentos anteriores, bloco de papel, cavaletes, paredes ou cercas para pendurar os mapas, diagramas e gráficos, fita adesiva ou «punaises», marcadores e um Gráfico de Análise dos Problemas preparado previamente. 8.6.4 Notas para a equipa de AR

Para fazer com que a apresentação de todos os conhecimentos obtidos com a avaliação rápida não seja demasiado detalhada e demorada, usar as Questões da ASEG para a Análise e Resumo que acompanha cada um dos pacotes de instrumentos para que a apresentação seja centrada nos temas principais. As pessoas podem saber mais detalhes examinando os gráficos e discutindo-os com os outros membros da comunidade. O Gráfico de Análise dos Problemas é, também, uma oportunidade para limitar o número de problemas prioritários a serem analisados em detalhe. Usar os critérios seguintes para diminuir a lista de problemas:

i) quando um problema tiver sido identificado por mais de um grupo, registá-lo apenas uma vez;

ii) quando dois ou mais problemas estão estreitamente relacionados (partilhando causas, efeitos e soluções) dar-lhes um nome em comum e considerá-lo como um;

iii) quando um problema não tem solução, p. e., clima, eliminá-lo da lista de problemas (mas mantê-lo como uma parte importante do Contexto do Desenvolvimento).

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8.6.5 Exemplo O Gráfico de Análise dos Problemas produzido pela população da comunidade de Jeded, no Distrito de Gardo, na Somália Norte-Oriental, mostra onze problemas importantes e as causas, estratégias correntes para enfrentá-los e oportunidades de desenvolvimento para cada um deles.

Instrumento C3: Quadro de Análise dos Problemas

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais os problemas prioritários partilhados pelos diversos grupos? Que problemas prioritários estão relacionados? Há consenso ou desacordo sobre que problemas são os mais importantes para toda a comunidade?

• Os peritos externos identificaram causas adicionais dos problemas? Quais são?

• Quais são as estratégias correntes de luta? Quais são as implicações de género? Por exemplo, as mulheres deslocam-se cada vez mais longe para apanhar água.

• Quais são as oportunidades para solucionar os problemas? Que oportunidades foram sugeridas pelos membros da comunidade? Pelos peritos técnicos? Quais podem ser implementadas localmente? Quais requerem assistência externa?

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Instrumento C3: Quadro de Análise dos Problemas

Problema Causas Estratégias de lidar com os problemas

Oportunidades

Saúde e Saneamento

Escassez de água; fraco saneamento das águas; ausência de buracos para latrinas; vento sujo e torrentes de água; falta de equipamentos médicos; má nutrição; acumulação de lixo; exposição ao vento-chuva-sol; habitações pobres

..medicamentos tradicionais

..cura pela fé

..cercas de arbustos para os reservatórios de água (berkeds)

..fornecimento de equipamentos médicos

..formação

vacinação

..cuidados de saúde com crianças e mulheres

..medicina curativa e preventiva

Saúde Animal Secas; sobrepastoreio; endoparasitas; ectoparasitas, bactérias; vírus

Banhos de imersão; cura pela fé; extermínio manual de carraças; queima; drogas veterinárias

Posto para banhos de imersão; fornecimento de medicamentos veterinários; drogas, formação, vacinação, tratamento em massa

Educação Falta de escola, professores e equipamentos educativos

Aprendizagem do Corão Escola; professores; fornecimento de equipamentos educativos

Erosão Enchentes (sarjetas e erosão de lençol) erosão eólia, sobrepastoreio; desflorestamento

De momento, nenhuma Aumento do coberto vegetal com o plantio de árvores e relva; controlar os açudes, desvio de tirantes, diques

Água Falta de condutas de água; falta de manutenção escassez de diesel; secas

Apanhar água a longas distâncias; fundos de contribuição para a manutenção das máquinas; migrar para onde há disponibilidade de água; reservatórios de água (berkeds)

..condutas de água

..diesel para as bombas

..construção de tanques de água

Seca Localização geográfica; intensidade da chuva quando vem; chuvas irregulares; desflorestamento

De momento, nenhuma ..tipo de comportamento

..protecção ambiental

Energia Falta de fogões de cozinha, falta de querosene; custo do querosene

Lenha; diesel para lâmpadas ..introdução de fogões de cozinha

..querosene mais barato

Desemprego e baixos rendimentos

Falta de governo; actividades de baixos rendimentos; falta de competências; isolamento da comunidade

..dependência da família e parentes

..desemprego disfarçado

..programas geradores de rendimentos

..formação vocacional

..estradas que dêem acesso às cidades principais sob quaisquer condições de tempo

Agregados chefiados por mulheres

Morte do «ganhador do pão”; divórcio; emigração para trabalhar

Trabalho fora do agregado; gere o agregado; dependência da família e parentes; trabalho infantil; casamento precoce

..actividades geradoras de rendimentos;

..máquinas de costura;

..formação vocacional

Mercados e marketing

Conhecimento inadequado de mercados locais e internacionais; carência de transportes; má localização da comunidade; ausência de firmas de negócios; sobrepopulação

..sistema de permutas

..pequenos negócios

..estabelecer firmas comerciais;

..melhorar o sistema de transportes;

..melhorar os mercados e o marketing

Habitação Pessoas deslocadas da Guerra Civil; condições de habitação pobres causadas por limitações financeiras

..vivendo com a família ou com parentes;

..limpeza rotineira pelas mulheres da família

..construir habitações de baixo custo

..habitações de baixa renda e custo

Fonte: Ford, Adam, Abubaker, Farad and Barre, (1994) PRA with Somali Pastoralists: Building Community Institutions for Africa’s Twenty-first Century, Clark University/GTZ/Gardo.

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8.7 Instrumento C4: Plano Preliminar de Acção da Comunidade

8.7.1 Finalidade

O Plano Preliminar de Acção da Comunidade é um instrumento que resulta do Gráfico de Análise dos Problemas. Este instrumento começa com as oportunidades de desenvolvimento identificadas na última coluna do Gráfico de Análise dos Problemas e ajuda-nos a reflectir sobre os recursos requeridos para a sua implementação, sobre os grupos (locais e externos) que deveriam ser envolvidos e sobre quando poderia começar a sua implementação. A elaboração do Plano Preliminar de Acção da Comunidade ajuda a população a dar passos concretos e realísticos em direcção ao planeamento participativo do desenvolvimento. Fazendo com que todos reflictam juntos sobre os recursos e sobre o envolvimento do grupo, este instrumento aumenta a consciência sobre as competências e os recursos já disponíveis na comunidade. 8.7.2 Processo

Organizar, outra vez, uma reunião com toda a comunidade de preferência no mesmo dia em que se realiza a reunião para elaborar o Gráfico de Análise dos Problemas (talvez após um almoço com todos os participantes). Assegurar que tanto mulheres como homens estejam presentes, incluindo uma combinação de grupos sócio-económicos. Convide, também, técnicos peritos de agências e organizações exteriores para participar na reunião. No bloco de papel em cavalete preparar, antecipadamente, um esboço do Plano Preliminar de Acção da Comunidade (ver exemplo abaixo). Para cada problema prioritário, preencher a primeira coluna, Actividades, cada uma delas baseada em cada uma das oportunidades para o desenvolvimento, reveladas no Gráfico de Análise dos Problemas. Aquando da discussão com os membros da comunidade e com os peritos técnicos, inquirir sobre os recursos requeridos para a implementação de cada actividade. Assegurar que todos os recursos necessários estejam listados na segunda coluna, incluindo terra, água, trabalho, insumos, formação, etc. Perguntar quais os recursos que já estão disponíveis na comunidade e quais só podem ser obtidos de fora. Na terceira coluna, listar os grupos que seriam envolvidos na implementação de cada actividade. Aqui é importante examinar, outra vez, o Diagrama de Venn e os Perfis Institucionais elaborados como parte da análise do Contexto do Desenvolvimento. Que grupos e organizações locais podem participar? Que organizações e agências exteriores podem participar? Quando as agências exteriores são identificadas, tentar identificar, também, um grupo local. É uma oportunidade para formar parceiros! Para a última coluna, pedir aos participantes para estimarem aproximadamente quando o trabalho para cada actividade específica de desenvolvimento poderia ser iniciado. Assegurar que os padrões sazonais do clima e do trabalho sejam tomados em consideração (ver os Calendários Sazonais).

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8.7.3 Materiais

Bloco de papel em cavalete, marcadores, fita adesiva, Plano Preliminar de Acção da Comunidade já preparado e cópias do Diagrama de Venn, da Análise Institucional, dos Calendários Sazonais e do Gráfico de Análise dos Problemas.

8.7.4 Notas para a equipa de AR

Assegurar que todos tenham entendido que o Plano Preliminar de Acção da Comunidade não é o plano definitivo para as actividades de desenvolvimento. É um plano preliminar. Decisões sobre o que é realmente viável implementar serão tomadas usando os instrumentos que se seguem. 8.7.5 Exemplo

O Plano Preliminar de Acção da Comunidade elaborado pela população da Comunidade Jeded no Distrito de Gardo, na Somália Norte-Oriental, é baseado em problemas prioritários apresentados no Gráfico de Análise dos Problemas acima (Quadro C3). Por exemplo, uma das oportunidades identificadas no Gráfico de Análise dos Problemas para tratar o problema da saúde animal é um posto de banhos de imersão. Um posto para banhos de imersão tornou-se uma actividade de desenvolvimento proposta, listada na primeira coluna. Os recursos requeridos para o posto de imersão incluem trabalho para cavar um buraco, cimento, pedras para construção e areia. Os grupos comunitários que estariam envolvidos são o Grupo dos Idosos e o Grupo dos Jovens, que foram obtidos através do Diagrama de Venn e a Análise Institucional. As agências exteriores que estariam envolvidas são a «GTZ» e a «África 70», as quais já realizam actividades de desenvolvimento na área.

Instrumento C4: Plano Preliminar de acção da Comunidade

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Quais os recursos necessários para implementar as actividades de desenvolvimento propostas? Examinando os resultados do Contexto de Desenvolvimento, quais deles estão disponíveis na comunidade? Quais deles são problemáticos? Quais deles podem ser obtidos apenas de fontes exteriores?

• Quais são as implicações para homens e mulheres de cada recurso listado? Por exemplo, a água é necessária para a horticultura e são as mulheres que apanham água.

• Que grupos precisam de ser envolvidos na implementação das actividades de desenvolvimento propostas? Examinando o Diagrama de Venn e a Análise Institucional, que grupos da comunidade poderiam realizar que actividades? Que agências ou organizações de fora da comunidade são necessárias?

• Os grupos selecionados para realizar as actividades de desenvolvimento incluem mulheres? E outros grupos marginalizados? Estariam as mulheres em condições de decidir sobre actividades prioritárias de desenvolvimento? E os outros grupos marginalizados?

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Instrumento C4: Plano Preliminar de Acção da Comunidade Exemplo. Plano preliminar de acção para a Aldeia de Jeded, Distrito de Gardo, Nordeste da Somália

Educação

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo

Escola Primária de Jeded

Mobiliário escolar

Escola de Formação de professores

Incentivos aos professores

GTZ

UNICEF

WFP

Início de Setembro de 1994

Formação Vocacional Costura e Artesanato UNICEF

WFP

Julho de 1995

Saúde Animal

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo Posto para banhos de imersão perto do Ponto da Água

Mão-de-obra para cavar o buraco

Cimento; pedras para construção; areia

Idosos e jovens

GTZ; África 70

Estação Deir, 1994

Drogas e medicamentos de baixo custo

Medicamentos e drogas GTZ; África 70; companhias privadas

Deir, 1994

Vacinação Vacinas; materiais para vacinação; refrigeração

GTZ; UNICEF Estação de Gu, 1995

Formação Formação de para-veterinários

GTZ; Jovens Estação Deir, 1995

Bebedouro para os animais

Mão-de-obra

Cimento; canos; outros materiais de construção

Idosos e jovens

GTZ; PNUD

Estação Gu, 1995

Equipamento veterinário

Pacotes para veterinários GTZ; PNUD Janeiro de 1995

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Instrumento C4: Plano Preliminar de acção da Comunidade (continuação) Desemprego e Criação de Rendimentos (Homens)

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo

Formação para a pesca e materiais de pesca

Gerir um negócio

Pagar o crédito

Financiar

Fornecimento de formação e materiais

Cooperativas privadas

PNUD; GTZ

Estação Deir, 1994

Formação e emprego para para-veterinários

Pagamento de serviços dos para-veterinários;

Formação e materiais de formação

Comunidade

GTZ

Estação Deir, 1995

Pequena indústria de curtume

Idosos — espaço

Jovens — trabalho

Pagar o crédito

Materiais; custos iniciais de gestão; alimento para os trabalhadores; crédito

Comunidade

Cooperativas privadas

PNUD; GTZ; WFP

Estação Gu, 1995

Represa de água para agricultura de subsistência

Idosos — espaço

Jovens — trabalho

Preparação da represa e dos canais

Provisão de sementes e ferramentas

Comunidade

Africare; CARE internacional

Dezembro de 1994

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Instrumento C4: Plano Preliminar de acção da Comunidade (continuação) Desemprego e Criação de Rendimentos (Mulheres)

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo

Artesanato; Formação de professores, equipamento, pacotes de ensino; construção (com cozinha e casa de banho)

Idosos — espaço

Jovens — trabalho

Mulheres — gestão

Materiais para o artesanato

Comunidade

WFP; UNICEF; GTZ

Setembro de 1994

Empréstimos Mulheres — gestão

Fundos

Comunidade Setembro de 1994

Aves Distribuição inteligente das aves

Comunidade

GTZ; AICF

Setembro de 1994

Erosão do Solo

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo

Controlar os diques Trabalho

Máquinas; materiais

Comunidade

Africare; GTZ

Estação seca, 1994

Canais de desvio Trabalho

Máquinas, materiais

Comunidade

PNUD

Estação seca, 1994

Plantio de árvores Trabalho

Apoio técnico e financeiro

Comunidade

GTZ; AICF

Estação chuvosa, 1994

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Instrumento C4: Plano Preliminar de Acção da Comunidade (continuação)

Saúde Humana

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo

Vacinação Equipas de vacinação para BCG, DTP, poliomielite, sarampo

UNICEF Todas as estações

Formação de parteiras tradicionais

Formar uma parteira AICF; UNICEF Estação Deir, 1994

Construção do posto de saúde

Idosos — espaço

Jovens — trabalho

Materiais de construção

Alimentos para os trabalhadores

Comunidade

PNUD; África 70; WFP

Estação Gu, 1995

Construção de depósitos de lixo

Idosos — espaço

Jovens — trabalho

Materiais de construção

Alimentos para os trabalhadores

Comunidade

UNICEF; WFP

Estação Deir, 1994

Água

Actividades Recursos Grupos envolvidos Tempo

Turvação da água Materiais e técnicos GTZ; Africare Dezembro, 1994

Bebedouro da Comunidade

Trabalho

Material técnico e de construção

Idosos e jovens

GTZ; Africare

Março, 1995

Acessórios para as bombas

Acessórios GTZ; África 70; PNUD, Africare

Estação gu, 1995

Tratamento de águas Cloreto UNICEF Setembro, 1994

Fonte: Adaptado de Ford, Adam, Abubaker, Farad and Barre, (1994) PRA with Somali Pastoralists: Building Community Institutions for Africa’s Twenty-first Century, Clark University/GTZ/Gardo.

8.8 Instrumento C5: Diagrama de Venn das Partes Envolvidas

8.8.1 Finalidade

O Diagrama de Venn das Partes Envolvidas é um instrumento que nos ajuda a perceber quem será afectado pelas actividades de desenvolvimento propostas. As partes envolvidas dentro da comunidade, assim como as exteriores, têm recursos para investir nas actividades de desenvolvimento. Procurarão investir naqueles recursos que minimizem os riscos e maximizem os benefícios. Por essa razão, é importante saber

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quem são e o que pensam antes que os planos de acção de desenvolvimento possam ser completados. Uma parte envolvida é quem tem interesses em ou é afectado pela actividade de desenvolvimento. Por exemplo, um agricultor é uma parte envolvida em relação à localização de água para irrigação de uma fonte comum ou a decisões sobre os direitos a pastagem do gado em terra comunitária. O termo pode, também, ser aplicado a grupos, no caso de grupos diferentes terem interesses diversos quanto a um determinado recurso, tais como quando árvores são usadas pela mulheres para retirar frutas, nozes e forragem e pelos homens para combustível e materiais de construção. O grau de interesse de uma parte envolvida numa actividade é determinado pelo tamanho do envolvimento que ele ou ela podem ter naquela; por outras palavras, em que medida a parte envolvida será afectada pela decisão.

Aqueles afectados mais directamente são as pessoas cujos meios de subsistência podem ser afectados através do uso do recurso por outros, e finalmente aqueles que, por várias razões, têm opiniões sobre o assunto que julgam merecer ser discutido. 8.8.2 Processo

Mais uma vez, planear e organizar uma reunião com toda a comunidade. Assegurar que seja marcada para uma hora em que mulheres e homens possam participar, incluindo uma combinação de grupos sócio-económicos. Convidar, também, dois ou três peritos técnicos de agências e organizações exteriores importantes (de preferência, as mesmas pessoas que participaram na elaboração do Gráfico de Análise dos Problemas e no Plano Preliminar de acção da Comunidade). Rever as actividades de desenvolvimento propostas (primeira coluna do Plano Preliminar de acção da Comunidade) que foram discutidas anteriormente pelos membros da comunidade e por peritos externos. Tratar um problema e seu conjunto de actividades relacionadas de cada vez. Escreve-los na parte de cima do bloco de papel em cavalete. Então, desenhar um grande círculo no centro do papel. Explicar que o círculo representa a comunidade.

Quadro 29: Resistindo ao «Desenvolvimento» na Colômbia

Mulheres no Vale de Cauca, na Colômbia, resistiram a uma estratégia governamental de desenvolvimento rural, desde o início dos anos 70. A estratégia era baseada em monocultura para o mercado, enquanto que as mulheres preferiam pluricultura para satisfazer tanto as necessidades de subsistência como as monetárias. Em particular, o plano do governo exigia a remoção das árvores de fruto para permitir o cultivo mecanizado dos campos. Em jogo não estava simplesmente um conflito entre dois sistemas de conhecimentos - o das mulheres e o do governo - mas um conflito mais profundo sobre a definição de “desenvolvimento” e sobre o controlo dos recursos.

Fonte: Wisner (1995)

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Pedir aos participantes para dar os nomes das diversas partes envolvidas nessas actividades específicas de desenvolvimento. A fim de ajudar a identificar todas as diversas partes envolvidas é útil considerar todos os grupos envolvidos conforme foram identificados no Plano Preliminar de acção da Comunidade, assim como os recursos necessários, discutindo quem ganharia ou perderia com o uso acrescido desses recursos específicos. Por exemplo, se a actividade é um posto de banhos de imersão, as partes envolvidas podem incluir o líder rico que possui 200 cabeças, homens pobres, possuindo cada um 5 a 15 cabeças, assim como as mulheres-chefes do agregado que possuem de 1 a 3 cabeças de gado. As partes envolvidas locais podem incluir, também, o proprietário da terra onde o posto de banhos de imersão seria estabelecido. As partes envolvidas exteriores à comunidade podem incluir os serviços de extensão veterinária e a comissão para a comercialização de carne, assim como os camponeses das comunidades vizinhas que podem sofrer impactos negativos devido a um aumento na população bovina que depende de áreas de pasto comuns. Pedir, então, aos participantes para decidir a magnitude do envolvimento de cada um, por outras palavras, quanto estão dispostos a ganhar ou a perder. Aquando da discussão, devem decidir que tipo de círculo de papel colante, ou seja, pequeno, médio ou grande deve ter cada parte envolvida (quanto maior o envolvimento maior o círculo). Certificar-se de usar uma cor de papel colante para representar aqueles que ganharão e uma outra cor de papel colante para representar aqueles que perderão. Colocar o papel colante representando as partes envolvidas locais dentro do círculo no centro do bloco de papel em cavalete. O papel colante representando as partes envolvidas fica fora do círculo. Se os interesses são compartilhados entre as partes envolvidas os círculos devem sobrepor-se. Utilizar as Questões da ASEG para moderar as discussões. Elaborar um Diagrama de Venn das Partes Envolvidas para cada problema de desenvolvimento no Plano Preliminar de acção da Comunidade. 8.8.3 Materiais

Copiar o Plano Preliminar de acção da Comunidade, bloco de papel em cavalete, marcadores, cavaletes ou uma parede, fita adesiva, papel colante (em 2 cores) e tesoura.

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8.8.4 Notas para a equipa de AR

Enquanto que o Diagrama de Venn, elaborado como parte do pacote de instrumentos do Contexto do Desenvolvimento se centra nas instituições, organizações e grupos, locais e externos, importantes para os diversos grupos da população local, o Diagrama de Venn das Partes Envolvidas centra-se nas instituições, organizações e grupos, assim como em indivíduos que ganham ou perdem com uma determinada actividade de desenvolvimento. Haverá alguma sobreposição entre os grupos identificados nos dois tipos de diagramas, mas o último deve fornecer mais detalhes de importância directa para essa etapa do planeamento participativo do desenvolvimento. 8.8.5 Exemplo

O Diagrama de Venn das Partes Envolvidas abaixo mostra as partes envolvidas nas actividades de desenvolvimento propostas para tratar do problema da saúde animal. As mulheres-chefes de agregado, seguidas por homens pobres, são as partes envolvidas locais identificadas como aquelas que ganham mais. Embora as mulheres-chefes de agregado tendam a ter apenas poucos animais, ganham mais porque os animais são essenciais para satisfazer as suas necessidades básicas. Os agregados são os mais atingidos pela situação actual de alta incidência de doenças animais. As partes envolvidas exteriores que ganham incluem as companhias privadas de medicamentos (através do aumento das vendas de vacinas e medicamentos) e a associação para a comercialização de carne (através do aumento da oferta de gado bovino). Os únicos perdedores identificados são os camponeses das comunidades vizinhas. Uma vez que as áreas de pasto são partilhadas entre as comunidades próximas, um aumento do número de cabeças de gado põe em risco de degradação as áreas comuns. Tendo identificado este problema é importante discutir modos de evitá-lo, p. e., acrescentando a gestão das pastagens naturais ou a produção de forragem à lista de actividades de desenvolvimento propostas.

Instrumento C5: Diagrama de Venn das Partes Envolvidas

Algumas questões da ASEG a serem feitas pelo Moderador

Para cada Diagrama:

• Quem são as partes envolvidas locais? Incluem mulheres, homens ou ambos? Incluem diferentes grupos sócio-econômicos?

• Quem são as partes envolvidas externas?

• Quem ganha com cada actividade de desenvolvimento ? Quem perde?

• que pode ser feito para ajustar as actividades de desenvolvimento a fim de que sejam diminuídos os impactos negativos?

Comparar os Diversos Diagramas de Venn das Partes Envolvidas que foram elaborados para todos os problemas de desenvolvimento:

• Há determinados grupos que ganham mais do que outros? Homens ou mulheres? Ricos ou pobres?

• Há determinados grupos que perdem mais do que outros? Homens ou mulheres? Ricos ou pobres?

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Instrumento C5: Diagrama de Venn das Partes Envolvidas Exemplo: Saúde Animal Actividades: Posto de banhos de imersão, Remédios, Vacinação, Formação, Bebedouro, Equipamento para veterinários

Fonte: Wilde, (em processamento)

Camponeses vizinhos

Proprietário da terra onde se

localizará o postode banhos de

imersão

Homem-chefe

Homens pobres

Mulheres, chefes dos agregados

Grupo dos idosos

Grupo dos jovens

Grupo das mulheres

Serviço de extensão

veterinária

UNICEF PNUD

GTZ

África 70

Comissão para o

marketing da carne

Companhias privadas de

drogas

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8.9 Instrumento C6: Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas

8.9.1 Finalidade

A Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas é um instrumento que nos ajuda a saber onde há conflito e onde há parceria entre as diferentes partes envolvidas e se a raiz da extensão do conflito ou parceria é pequena ou grande. O conflito é um facto da vida. Conflitos de interesses surgem devido à competição pelo uso ou controlo dos recursos ou devido a diferenças de objectivos. Exemplos disso são quando o cultivo de terras invade a terra tradicionalmente usada para pasto, ou quando é negada à população o acesso a produtos florestais necessários aos seus meios de subsistência dentro do sistema tradicional de produção, ou quando há competição pela água para o gado ou para rega. O próprio processo de planeamento participativo, quando permite a todos partilhar informação e expor suas opiniões, cria frequentemente um ambiente de apoio para resolver conflitos e atingir o consenso. Mas não é sempre o caso; algumas vezes os conflitos são muito fortes e duradouros. É importante reconhecer onde tais conflitos podem condenar a um certo fracasso actividades específicas de desenvolvimento. As parcerias ocorrem com bastante frequência entre as diversas partes envolvidas. As redes existentes de grupos de indivíduos ou de instituições que partilham um interesse comum podem ser fortalecidas no processo de desenvolvimento. A identificação de tais parcerias podem promover modos mais eficientes de obter informação e mostrar onde há peritos para tratar de um problema específico de desenvolvimento. Novas parcerias podem ser, também, formadas à volta de metas específicas de desenvolvimento, especialmente entre aqueles que têm interesse nelas. Trabalhar com as parcerias existentes e formar novas é uma boa forma de assegurar o êxito da implementação das actividades de desenvolvimento. 8.9.2 Processo

Continuar a trabalhar com os membros da comunidade e com os peritos técnicos que elaboraram o Diagrama de Venn das Partes Envolvidas. Certificar-se que a reunião seja marcada para uma hora em que mulheres e homens possam comparecer, incluindo a combinação de grupos sócio-económicos. Centrando-se num problema de desenvolvimento de cada vez (como foi identificado no Plano Preliminar de acção da Comunidade), listar todas as partes envolvidas identificadas no Diagrama de Venn das Partes Envolvidas, para cada conjunto específico de actividades de desenvolvimento nos eixos vertical e horizontal do flip chart paper preparado para a Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas (ver exemplo). Escrever, também, os nomes (ou símbolos) dos grupos das partes envolvidas em dois conjuntos de cartões de tamanho A3. Preparar com antecedência círculos de papel autocolante, pequenos, médios e grandes, de uma cor, e quadrados de papel autocolante, pequenos, médios e grandes, de outra cor.

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Apresentar um par de cartões de cada vez, mostrando dois grupos diferentes de partes envolvidas e perguntar se há conflito, parceria ou nada disso, entre eles. Se os participantes disserem conflito, p. e., mostrar os círculos de papel autocolante e perguntar se o conflito é pequeno, médio ou grande. Se disserem parceria, mostrar os quadrados de papel autocolante e perguntar-lhes se a parceria é pequena, média ou grande. (Se não disserem nenhum dos dois, proceder com um novo conjunto de cartões). Tentar descobrir as razões de tal selecção. Então, colocar o tamanho seleccionado de círculo ou quadrado no quadro adequado na matriz de bloco de papel em cavalete. Repetir até que tenham sido apresentadas todas as combinações de cartões e tenham sido feitas as escolhas. Olhando para a Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas, perguntar aos participantes para explicar as razões do conflito e as histórias das parcerias. Aplicar as Questões da ASEG para aprofundar a análise. Repetir o processo para cada actividade de desenvolvimento proposta. 8.9.3 Materiais

Cópias do Plano Preliminar de Acção da Comunidade e do Diagrama de Venn das Partes Envolvidas, bloco de papel, um cavalete ou parede, fita adesiva, cartões tamanho A3 e papel autocolante (de 2 cores). 8.9.4 Notas para a equipa de AR

Assegurar que os conflitos discutidos se centrem nos interesses e actividades de desenvolvimento das partes envolvidas. Devem ser evitadas animosidades pessoais.

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8.9.5 Exemplo

A Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas, mostrada abaixo, foca as partes envolvidas a nível local, intermédio e macro com os recursos arbóreos no Norte da Tailândia. (Para a abordagem ASEG, a categoria das partes envolvidas a nível local necessita de ser desagregada em categorias que incluam mulheres, homens e outros grupos, uma vez que podem haver conflitos ou parcerias entres esses grupos locais). A matriz mostra que há um conflito entre a população local e os departamentos do governo, mas uma parceria forte entre a população local e as ONG.

Instrumento C6: Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Que grupos de partes envolvidas têm interesses comuns com respeito às actividades de desenvolvimento em questão?

• Há parcerias existentes (ou histórias de apoio e colaboração ou de cooperação em rede) entre alguns grupos de partes envolvidas? À volta de que actividades, temas ou ideais foram formadas essas parcerias? Há parcerias ligadas a atributos de género ou outros?

• Poderiam ser as parcerias existentes trabalhadas para implementar actividades específicas de desenvolvimento? Ou poderiam ser formadas novas parcerias?

• Que grupos de partes envolvidas têm interesses conflituosos com respeito às actividades de desenvolvimento em questão? Há uma história de conflito entre esses grupos? Há conflitos ligados aos atributos de género ou outros grupos? Como foram resolvidos os conflitos no passado?

• Há conflitos tão profundos e duradouros que certas actividades de desenvolvimento propostas estão condenadas a fracassar? Quais são as implicações para as mulheres? Para outros grupos marginalizados?

• Dadas as áreas de conflito e de parceria, que actividades de desenvolvimento propostas poderiam ter maior probabilidade de êxito?

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Instrumento C6: Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas Exemplo: Matriz mostrando Conflitos e Parcerias entre as Partes Envolvidas nos Recursos Arbóreos, Norte da Tailândia

Departamentos governamentais

ONG’s

Indústria baseada na madeira

Proprietários de terras absentistas

População local

Departamentos governamentais

ONG’s Indústria baseada na madeira

Proprietários de terras absentistas

População local

Nota: o símbolo representa a existência de conflito, o símbolo representa a existência de parceria, apoio ou cooperação O tamanho dos símbolos indica a sua importância relativa

Fonte: Adaptado de Grimble, Chan, Aglionby and Quan (1995), Trees and Trade-offs: A Stakeholder Approach to Natural Resources Management, IIED, Gatekeepers Series N.º

8.10 Instrumento C7: Plano de Acção das Melhores Apostas

8.10.1 Finalidade

O Plano de Acção das Melhores Apostas é um instrumento que nos ajuda a fazer planos concretos e realísticos para implementar as actividades prioritárias de desenvolvimento. É o instrumento final no processo de planeamento participativo como é aqui esboçado, tendo surgido dos conhecimentos adquiridos com o Plano Preliminar de Acção da Comunidade, mas centralizado nas actividades de desenvolvimento com maior probabilidade de sucesso, devido ao consenso e à disponibilidade de recursos, como foram identificados através do Diagrama de Venn das Partes Envolvidas e da Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas. Nesta etapa é importante reconhecer que todos os membros da comunidade tiveram a mesma oportunidade de beneficiar dos conhecimentos obtidos com os instrumentos do Contexto do Desenvolvimento e da Análise dos Meios de Subsistência e que todos tiveram a oportunidade de identificar e analisar os seus problemas prioritários, assim como de beneficiar das discussões e das sugestões de outros membros da comunidade

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e de peritos técnicos externos. Neste processo, houve a contribuição de mulheres e homens e de todos os grupos sócio-económicos. E através do processo de trabalho com grupos separados, assim como com toda a comunidade, certamente que surgirão prioridades comuns e particulares.

Para elaborar os Planos de Acção das Melhores Apostas, são encorajadas parcerias entre as diversas partes envolvidas que compartilham interesses comuns; mas quando os interesses não são comuns, cada grupo tem a oportunidade de produzir os seus próprios planos.

8.10.2 Processo

Organizar todos os participantes da comunidade em grupos de interesse baseados em prioridades comuns. Por exemplo, onde as mulheres e homens compartilham uma prioridade de desenvolvimento, p. e., escassez de água, elaboram juntos um Plano de acção das Melhores Apostas para tratar do problema — mas onde têm diferentes prioridades, p. e., as mulheres querem árvores de fruto e os homens querem algodão, cada um deles elaborará os seus próprios planos. O mesmo se aplica aos diversos grupos sócio-económicos. Explicar que a finalidade do Plano de Acção das Melhores Apostas é para aperfeiçoar e completar as suas ideias do Plano Preliminar de Acção da Comunidade, incorporando os conhecimentos da análise das partes envolvidas. A ideia é elaborar planos que sejam o mais que possível realistas e detalhados. Para cada grupo, preparar com antecedência um quadro das «Melhores Apostas» em bloco de papel em cavalete. Na primeira coluna está o problema prioritário do grupo. Para a segunda coluna («Soluções») pedir ao grupo para rever as soluções identificadas previamente e completar a lista, se for necessário.

Quadro 30: Dando voz aos Sem Voz

Logo após os exercícios de ARP terem sido completados numa aldeia em Marrocos, as autoridades locais fizeram uma visita. Como é comum em tais reuniões, os homens sentaram-se na parte da frente da sala e as mulheres juntaram-se na parte traseira. Nessa ocasião, o representante da população local foi bastante loquaz exprimindo o desejo da comunidade em instalar tubos de captação de água do subsolo (em localizações situadas bastante próximo de sua própria casa).

De repente, uma mulher levantou-se e verbalizou a sua objecção a essa reivindicação. Durante os exercícios de ARP, junto com outras mulheres, ela tinha trabalhado numa análise de custos/benefícios que mostrou que apenas poucas pessoas seriam beneficiadas com a instalação desses tubos. Ela expôs, então, a sua própria sugestão de um forno colectivo do qual beneficiariam, argumentou ela, muitas outras mulheres da aldeia, que então se sentiram encorajadas a falar. Essas mulheres conseguiram ter força por terem feito a sua própria análise e examinado os prós e os contras de várias opções. O consenso que elas conseguiram à volta dessas prioridades durante as discussões de grupo deram-lhes o poder de falar e de saber defender suas escolhas.

Fonte: World Bank (1994)

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Para a terceira coluna («Actividades») pedir aos participantes para reverem as actividades identificadas no Plano Preliminar de Acção da Comunidade. Há actividades suplementares ou detalhes a adicionar? Há actividades que devem ser mudadas ou eliminadas devido aos problemas revelados no Diagrama de Venn das Partes Envolvidas ou na Matriz dos Conflitos e Parcerias das Partes Envolvidas? Para a quarta coluna («Quem fará o quê?») pedir aos participantes para reverem a coluna dos «grupos envolvidos» do Plano Preliminar de Acção da Comunidade. Dados os conhecimentos do Diagrama de Venn das Partes Envolvidas e da Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas, há grupos a serem adicionados? Oportunidades de parcerias? Grupos identificados previamente que não se pode, realmente, esperar que participem? Para a quinta coluna («Custos») pedir aos participantes para, primeiro, identificarem as contribuições locais e, segundo, para identificarem onde os recursos externos podem ser requisitados.

Para as duas últimas colunas («Quanto tempo levará?» e «Quando pode começar?») pedir aos participantes para estimarem o tempo necessário e a melhor ocasião para se começar.

8.10.3 Materiais

Uma cópia do Plano Preliminar de Acção da Comunidade, bloco de papel, um cavalete ou parede, fita adesiva e marcadores. 8.10.4 Notas para a equipa de AR

É muito importante que os participantes sejam encorajados, o mais possível, a ser realistas, concretos e detalhados para este instrumento. Quanto mais realistas forem os planos de acção maior será a probabilidade de serem implementados. Por outro lado, ser bastante claro quanto às probabilidades de assistência externa para implementação. Há agências ou organizações de desenvolvimento prontas a dar assistência a actividades identificadas pelos membros da comunidade ou não?

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8.10.5 Exemplo

O Plano de Acção das Melhores Apostas, elaborado por um grupo de mulheres, na Etiópia, mostra o planeamento de actividades de desenvolvimento destinado aos problemas prioritários de escassez de alimentos, falta de água e doenças animais.

Instrumento C7: Planos de acção das Melhores Apostas

Algumas questões da ASEG a serem formuladas pelo Moderador

• Há actividades de desenvolvimento que devem ser mudadas ou eliminadas devido a problemas revelados no Diagrama de Venn das Partes Envolvidas ou na Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas?

• Dados os conhecimentos adquiridos com o Diagrama de Venn das Partes Envolvidas e com a Matriz dos Conflitos e das Parcerias das Partes Envolvidas, há grupos que deveriam ser adicionados para a implementação de determinadas actividades de desenvolvimento? Oportunidades de parceria? Grupos previamente identificados que não se pode esperar, realmente, que participem?

• Que Planos de acção das Melhores Apostas incluem actividades de desenvolvimento que beneficiarão directamente as mulheres? Os homens?

• Que Planos de Acção das Melhores Apostas incluem actividades de desenvolvimento que beneficiarão directamente os grupos mais desfavorecidos na comunidade?

• Que Planos de Acção das Melhores Apostas incluem actividades de desenvolvimento que beneficiarão a maioria ou toda a comunidade?

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Quando pode começar

Agora Agora Agora

Quanto tempo levará

Custos Locais: mão-de-obra e vontade de trabalhar Externos: Ajuda técnica e financeira para ser decidida pelo governo

Locais: Mão-de-obra local e vontade de trabalhar

Externos:

Ajuda técnica e financeira

Apoio técnico e financeiro de fora e da mão-de-obra local

Quem Os membros da comunidade que são capazes de trabalhar, ambos homens e mulheres. Peritos profissionais

A população local fornecerá a mão-de-obra.

Profissionais fornecerão o apoio técnico

População local e profissionais

O que

it

Governo: formação e serviços de extensão agrícola, insumos agrícolas (sementes ferramentas). Plantar alimento para os animais e formação em preservação/Peritos nomeados pelo Governo, investir dinheiro e fornecer alimentos

Cavando poços e tanques e instalando condutas. Formação para a população local em como manter as condutas e a gestão da água

Governo e Doadores forneceri-am medicamentos, prestariam tratamentos e disporiam de equipamentos para os tratamentos. Serviços de extensão treinariam a população local em como dar os medicamentos

Solução Começar o cultivo

Preparar a alimentação dos animais

Melhoria das pastagens

Cavando água do subsolo para consumo humano.

Colectando água das chuvas em tanques para os animais.

Fornecendo água encanada para a população

Disponibilidade de medicamentos para os animais através dos governos ou comerciantes locais. Programa de extensão rural

Instrumento C7: Plano de acção das Melhores Apostas Exemplo: Melhores Apostas do Grupo de Mulheres, Etiópia

Problema Escassez de alimentos

Falta de água Doenças dos animais

Fonte: FAO/IIED (Forthcoming), Explaining Gender Issues in Agriculture: Key Issues and Participatory Methods.

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9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Serviço da Igualdade Entre Homens-Mulheres e Desenvolvimento

Divisão da Igualdade Entre Homens-Mulheres e População

Departamento do Desenvolvimento Duradouro

Organização das Nações Unidas

para a Alimentação e a Agricultura

Viale delle Terme di Caracalla00100 Roma, Itália

Tel : (+39) 06 5705 6751Fax : (+39) 06 5705 2004

E-mail: [email protected] Site: www.fao.org/sd/SEAGA

ASEGPrograma de Análise Sócio-Económica e de Género