22
arTe +

manual_Arte +Museu

Embed Size (px)

DESCRIPTION

manual arte no museu

Citation preview

arTe+Convidamos voc a compartilhar conosco o prazer detrabalharcomaArte.Paraissodesenvolvemosestematerial a fim de subsidiar a utilizao de contedosdaArteedoPatrimnio1emsuasprticassocio-educativas, a partir de uma seleo de 4 imagens doacervo da Pinacoteca do Estado de So Paulo.Este material foi feito para educadores atuantes emprojetossociaisvoltadoseducaodegruposdecrianas,jovenseadultosqueseencontramemsituao de vulnerabilidade social.OArte + temorigemnasaeseducativasrealiza-daspeloProgramadeInclusoSocioculturaldoNcleo deAo Educativa da Pinacoteca do Estado.Entreelas,destaca-seocursoAesMultiplicado-ras:omuseueainclusosociocultural,umafor-maodestinadaaeducadoressociaisquetemcomoresultadoprojetoseducativosquearticulamasaesdesenvolvidasnasinstituiesdeorigemdoseducadoresparticipantescomaspotenciali-dades educativas da Pinacoteca e de outros equipa-mentos culturais.ApartirdasaesdessePrograma,percebemosointeresse por materiais de apoio s prticas educa-tivasenvolvendomuseusjuntoapblicosqueseencontramemsituaodevulnerabilidadesocial.Emrespostaaessademanda,econtandocomoapoio do IMPAES Instituto Minidi Pedroso de Artee Educao Social, elaboramos o Arte +.Acreditamos que ao trabalhar com a Arte temos umcaminhopotenteparaodesenvolvimentodeaeseducativasedeinclusosocial,geradaspelaopor-tunidade de explorar seus aspectos contextuais, tc-nicos, cognitivos e expressivos, entre outros. Assim,apresentamos reprodues de obras de quatro artis-tas referenciais da arte brasileira, desde fins do scu-lo XIX at os dias de hoje: Almeida Jnior, Paulo RossiOsir,TomieOhtakeeRubemValentim,apartirdasquais elaboramos nossas sugestes educativas.Nossa inteno com esse material que as sugestesaqui apresentadas possam ser transformadas a partirdaprticadecadaeducador,docontextosocialnoqual atua e do perfil de cada grupo atendido. Portanto,nopretendemosapresentarumadeterminadapro-postaeducativaemartecomoverdadeiraoumelhordoqueasdemais. Tampoucoacreditamosqueessassugestes devam ser tomadas como modelos a seremaplicados repetidas vezes sem as devidas adequaeseinovaes.Lembramosqueessaspropostastmcomo objetivo estimular a participao de todos e pro-moverumaobservaomaisaprofundadadasima-gens. Caber a cada educador avaliar, no decorrer doprocesso, se deve aplic-las todas ou em parte.Alm disso, esperamos que o material possa estimu-lar o interesse e o uso qualificado de imagens artsti-cas e das instituies culturais, como os museus, emsua prtica profissional. O Arte + est organizado da seguinte maneira: Pranchas com reprodues de obras, contendo noversosugesteseducativasparaaleituradaima-gem e propostas poticas: O violeiro, de Almeida Jnior, de 1899; Bonde de Santa Teresa, de Paulo Cludio Rossi Osir,de 1946;Pintura, de Tomie Ohtake, de 1969; Srie emblemas, de Rubem Valentim, de 1989. Livreto:ApresentaointroduoaohistricodaPinaco-tecadoEstado,aoProgramadeInclusoSociocul-tural e ao IMPAES;1Caro educador social,1Os termos sublinhados constam do Glossrio.arTe+arTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 1Pensando a atuao em rede discusses sobre oconceito de excluso social;Comoomuseupodeparticiparnapromoodaincluso sociocultural? discusses sobre o papelsocial dos museus e conceitos de preservao;Educao em museus especificidades da educa-o no-formal e patrimonial;O que chamamos de Arte? discusses sobre pos-sibilidades de conceituar a arte, a arte no museu erelaes entre arte e artesanato;Ler imagens apresentao de conceitos e sistemaspara a relao entre observador e imagem;Projetos educativos: organizar o pensamento e a ao sugestes para sistematizar a prtica educativa;Percursos educativos apresentao dos caminhoseducativos escolhidos para as leituras de imagem;Glossrio definiesdetermosutilizadosnestematerial (sublinhados no texto);Bibliografia indicao de textos consultados e/ourecomendados para aprofundamento. ApresentaoA Pinacoteca foi fundada em 1905 pelo Governo doEstadodeSoPauloeoprimeiromuseudeartedesse estado.Oedifcionoqualseencontrasuacoleofoicons-trudo entre 1897 e 1900 para abrigar o Liceu de ArteseOfcios,umaescolaqueformavaprofissionaisespecializadosemarteseemreastcnicascomomarcenariaeserralheria.JuntoPinacotecajfun-cionaramvriasescolasalmdoLiceu,comoaFa-culdade de Belas Artes e a Escola de Arte Dramtica.Apenasapartirde1989omuseupassouaocupartodooprdio,umaconstruotomarcanteparaahistriadeSoPauloqueoCondephaat(ConselhodeDefesadoPatrimnioHistrico,Arqueolgico,Artstico e Turstico) o reconheceu como monumentoarquitetnico do estado na dcada de 1980. Durante a dcada de 1990 ele sofreu uma grande refor-ma que alterou seus espaos, adequando-os s neces-sidadesdeummuseucontemporneo,comsalasdeexposio com temperatura controlada, laboratrio derestauro, espaos acessveis a cadeirantes etc. Em janeiro de 2004 foi incorporado Pinacoteca maisum edifcio, que passou a chamar-se Estao Pinaco-teca. Essa construo foi finalizada em 1914, e antesdesuaatualfunotevediferentesusos,entreelescomo escritrios e depsitos da Sorocabana RailwayCompanyecomosededoDEOPSDepartamentoEstadualdeOrdemPolticaeSocial.Atualmente,alm de apresentar exposies temporrias de artesvisuais, abriga tambm o Gabinete de Gravura Guita eJos Mindlin, a Fundao Nemirovsky, o Memorial daResistnciaesetorestcnicoscomoaBibliotecaeoCentro de Memria do museu.Ambos os edifcios da Pinacoteca tiveram seus pro-jetosrealizadospeloEscritrioTcnicoRamosdeAzevedoeconstituemmarcosdaarquiteturadocentro de So Paulo.Nesse museu se encontram mais de 7 mil obras deartistas brasileiros e estrangeiros, do sculo XIX atos dias de hoje, que so patrimnio pblico, perten-cendo ao Estado de So Paulo. Cerca de 800 dessasobrasencontram-seemexposiodelongadura-o.Omuseuresponsvelporcuidaremostraressacoleo,formadaporpinturas,esculturas,desenhos,gravuras,fotografiaseobjetosquesopatrimnio cultural de todos os brasileiros. Para cumprir suas funes, a instituio conta comumaequipedeprofissionaisdediferenteses-pecialidades,quecuidamdoacervoedasexpo-siestemporrias.Nomuseutrabalhampessoasresponsveis pela administrao, pela manutenoe limpeza dos prdios, pela conservao das obrasdearte,pelapesquisaeregistrodasinformaessobre elas, e tambm os educadores, que realizamdiversas atividades para estabelecer dilogos a par-tir do encontro do pblico com as obras. AimplantaodoatualNcleodeAoEducativada Pinacoteca, em 2002, teve como objetivos geraisdesenvolver aes educativas a partir das obras doacervo, promovendo a qualidade da experincia dopblico no contato com as obras, alm de garantir aampla acessibilidade ao museu, incluindo e estimu-lando a visitao de pblicos no freqentadores.NesseesforoseinsereoProgramadeInclusoSociocultural, que visa promover o acesso aos bensculturaispresentesnomuseuagruposqueseencontram socialmente vulnerabilizados e que pos-suempoucoounenhumcontatocominstituiesoficiaisdecultura.OProgramabuscacontribuirpara a promoo de mudanas qualitativas no coti-diano dos participantes e ainda para a formao denovos pblicos de museus. Pormeiodeparceriascomorganizaespblicasouprivadasquedesenvolvemtrabalhossocioedu-cativos, o Programa elabora e realiza aes educati-vas continuadas, com o fim de responder especifi-cidade do perfil de cada grupo em busca das metascomunsdaparceria,comconstanteacompanha-mento e avaliao dos resultados.Atualmentetrabalhacomumaamplavariedadedeperfis, como cooperativas e grupos de artesos, gru-posemsituaoderua,moradoresdehabitaesprecrias, jovens e crianas de setores populares par-ticipantes de projetos socioeducativos, entre outros.2ApresentaoarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 2Osprincipaisobjetivosdesseprogramasoaam-pliao do repertrio e da noo de pertencimentocultural dosindivduos,odesenvolvimentodesuapercepoesttica subsdioparasuascriaesepara o fortalecimento de sua capacidade crtica , apromoodeoportunidadesdedilogoqueesta-beleamaautoconfianadosparticipanteseaaquisioemanejodeconhecimentosehabilida-des cognitivos, emocionais ou vivenciais.Desde 2005, o programa promove o curso Aes Mul-tiplicadoras: o museu e a incluso sociocultural. A partir de 2008 o programa passou a desenvolveraeseducativassistemticasexternasaomuseujuntoagruposdeadultosemsituaoderua.Aao educativa extramuros se estrutura por meio deoficinasartsticassemanaisnasorganizaessoci-ais de origem dos grupos, e visitas educativas regu-laresPinacoteca,afimdeadensarosprocessosdesenvolvidos nas oficinas.O IMPAES tem como proposta apoiar e desenvolverprojetosnocampodaarte-educaosocialpormeiodaformaodemultiplicadoresvoltadoses-pecialmentepopulaodebaixarenda.Asaespromovidas pelo IMPAES no visam formar artistas,masdisseminaropotencialdaartecomomeiotransformador,estimulandoocrescimentopessoalao ampliar as capacidades dos indivduos. Pensando a atuao em redeNos ltimos anos, o termo excluso social tem sidousado recorrentemente com diferentes significadose para diversos fins. Em nossa prtica, ao utilizarmos esse conceito, nosreferimosaosprocessospelosquaisumindivduoou grupo tem acesso limitado s aes, sistemas einstituies tidas como referenciais e consideradaspadrodavidasocial,eporissoessesindivduosencontram-seprivadosdapossibilidadedeumaparticipao plena nessa sociedade.2Essesindivduosougruposquandoseencontramsocialmentevulnerabilizadospodemenfrentardi-versasesimultneassituaesdeexcluso:aperdadedireitos pelaexclusodesistemaspol-ticos, a perda de recursos pela excluso dos merca-dos de trabalho e a deteriorao das relaes pes-soais peloenfraquecimentodelaosfamiliaresecomunitrios, ficando, assim, sujeitos a um contex-todeprivaomltipla.3Aessasituaopodemosacrescentar, ainda, o enfraquecimento de sentimen-tosdepertencimento ereconhecimentoculturalpela excluso dos circuitos e instituies da culturaoficialmente instituda. Para combater esse complexo quadro de excluses,necessriaumaatuaoemredequeperpasseserviossociaiscivisegovernamentais,emeiosque possibilitem a participao poltica, econmicae cultural dos grupos em questo.4Como o museu pode participar na promooda incluso sociocultural?Os museus so instituies culturais a servio da socie-dadeedeseudesenvolvimento,quetmcomofunes adquirir, conservar, pesquisar, divulgar e expor,para fins de estudo, educao e entretenimento, obje-tos que sejam testemunhos materiais do povo e de seuambiente.5Seuprincipalobjetivopromoverbenef-cios sociais para as sociedades s quais pertencem.Osobjetospreservadospelosmuseuspodemserreferncias de identidade para as sociedades, umavezquesocapazesderevelarinformaesrela-cionadasaoscontextoshistricos,sociaisecultu-raisnosquaisforamproduzidos;mas,poroutrolado,tambmsocapazesderevelaressesmes-mos aspectos sobre as sociedades que os mantmnopresente.6Assim,osobjetosdosmuseustor-nam-se testemunhos a partir dos quais se possibili-ta ao Homem a leitura do Mundo em que vive.7Porm, o encontro por si s com o objeto preserva-do pelo museu no garante sua compreenso. Paracompreend-lonecessrioodesenvolvimentodeum processo educativo que possibilite que o conta-to com os objetos preservados estimule reflexes eodesenvolvimentodacapacidadecrtica;dessaforma,asinformaes adquiridasnocontatocomasobrasnomuseupodemfacilitarasaes trans-formadoras do homem na sociedade.8Assim, quando afirmamos que o museu uma insti-tuiovoltadapreservaodamemriadeumasociedade, salientamos que preservar no se refereapenassaesdeguardarecuidardosobjetos,mastambmdemostr-los,paraqueelespossamservistos,explorados,conhecidosesignificadospelosobservadores,reafirmandosuarelevnciapara as sociedades que os mantm nos museus. ComodizopoetaAntnioCcero,guardarumacoisanoescond-laoutranc-la.Emumcofre34Idem, p. 57.5AdaptadodadefiniodemuseudosEstatutosdoConselhoInternacionaldeMuseus(ICOM) de 2001, artigo 2.6BRUNO (1996).7GUARNIERI (1990), p. 8.8Idem, ibidem. 2AIDAR (2002), p. 54.3Idem, ibidem.Pensando a atuao em rede / Como o museu pode participar na promoo da incluso sociocultural?arTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 3noseguardacoisaalguma.Emcofreperde-seacoisavista.Guardarumacoisaolh-la,fit-la,mir-laporadmir-la,isto,ilumin-laouserporela iluminado.9Numapocadevelozestransformaescomoanossa,emquepopulaesmigramelaoscomu-nitriosseenfraquecem,recorrentequeseper-camasrefernciasdeidentidadeeorigem,quepodem ser fortalecidas por meio da preservao dacultura(materialeimaterial) produzidaporumacomunidade ou grupo.Visitarosmuseusofereceaoportunidadedereco-nheceraspectosdanossaidentidadeaomesmotempo que podemos entrar em contato com objetose idias que revelam a diversidade do conhecimen-to humano e do mundo em que vivemos.10Educao em museusEducao um processo social que pode manter astradiesoutransform-las,mas,independentedessas opes, sempre um ato poltico.comumpensarmosemeducaoapenasapartirdosdoisexemplosmaishabituais,odaescolaeoda famlia. Entretanto, a educao se d na prpriaexistncia, no cotidiano, e as instituies que nossasociedade acredita responsveis por esse processoso apenas parte de um processo de educao maisamplo.Aeducaorealizadanosmuseuseinsti-tuiesculturais,assimcomoaqueladesenvolvidaemorganizaessociais,insere-senocampodaeducao no-formal. Demaneiragenrica,podemosdiferenciaravarie-dadedesistemasemeducaoinformal,formal eno-formal.Aeducaoinformalsednodecorrerdenossasvidas,semanecessidadedeprofessoresoulivros,como a educao realizada pela famlia, por exemplo;jaeducaoformalsedefineexatamenteporsuaestruturaoelegalidade,sendoligadaaumrgoespecfico (Ministrio da Educao) e por ele legislada. Aeducaono-formalpodeserdefinidapelofatodenoteramesmacargadeformalidadequeaeducaoescolar,embora,comoesta,tambmtenhaintencionalidadeeplanejamentoprviosdeaes e acontea inserida em diferentes contextos.Temcomocaractersticasmaiscomunsumamaiorflexibilidade em relao a tempo, espaos, conte-dosemetodologiasdetrabalho;adaptaodoscontedos de aprendizagem a cada grupo especfi-co;maiorpossibilidadedetrabalharaomesmotempo diversas reas do conhecimento; no-certifi-cao; foco na aprendizagem baseada em aspectosdoconhecimentoprvio,daprticaedocotidianodoseducandos;valorizaodaoralidade;desen-volvimentodeprocessoseducativosquerespon-damsdemandasmaisimediatasdosgrupos;busca por uma relao prazerosa com a aprendiza-gem; no-exigncia de controle legal; trabalho coma diversidade (etria, tnica, de gnero, econmica,declassesocialetc.)eparticipaovoluntriaporparte dos educandos nas propostas.11Todo processo educativo desenvolvido pelos museustemcomopontodepartidaosobjetosdesuacoleo, entendidos como fontes de conhecimento eportadores de significados. Para isso, os educadoresdosmuseusutilizam-sedaEducaoPatrimonial,que prope a percepo e compreenso dos fatos efenmenosdaculturapormeiodocontatodiretoedainvestigaodosobjetosculturais,quealmdemveispodemserimveis,comoasconstrueshistricas e os monumentos. Essa investigao podeserfeitapormeiodeperguntasquenoslevemaobservar,refletir,discutireestudarosaspectosfsi-cos, simblicos e subjetivos dos objetos, sua forma,suafuno,seuprocessodeconstruo,seuvalor,possveisinterpretaesesignificados.Taisques-tionamentospodemseraplicadosinvestigaoeaprendizagemapartirdequaisquerobjetos,desdequesejamadaptadosespecificidadedecadamuseuedosobjetosquepreservam(dearte,dehistria, de arqueologia, de cincias etc.).12O que chamamos de Arte?naturalqueassociedadesdesenvolvamculturasparticulares, estando a contempladas suas lingua-gens, formas de expresso, construes etc. Algunsaspectosdaculturadeumasociedadesoconcre-tizadosemobjetos,participandodaculturamate-rialdessepovo.Entreasvriasformasdeculturamaterial,nossasociedadereservaarteumpapelde destaque, considerando-a um fazer humano dis-tinto e muitas vezes superior aos demais. Podemos compreender a necessidade de colecionaraarteemmuseus,poisseacreditaque,porseupotencial expressivo, tcnico, contextual e lingsti-co, ela faz parte do que somos e pode revelar comosomos,transformando-seemvaliosoinstrumentode autoconhecimento e de conhecimento da socie-49CCERO (1997).10MENEZES, Ulpiano Bezerra de, apud RAMOS (2004), p. 12.11FERNANDES e GARCIA (2005), p. 3.12HORTA, GRUNBERG e MONTEIRO (1999), pp. 6 a 14.Educao em museus / O que chamamos de Arte?arTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 4dadequeaproduziu.Almdisso,diferentementedeoutrosobjetos,maispropciaarteacapaci-dade de interagir com nossa sensibilidade. No simples definir o que arte. Toda uma rea dafilosofia, a esttica, dedica-se, entre outras investi-gaes,aessatarefa.Pormasrespostasqueaestticaofereceaesseproblemasovariadasemuitas vezes contraditrias.H objetos que hoje consideramos artsticos que emsuas culturas de origem cumpriam outra funo (reli-giosa,utilitriaetc.),diferentedadeserarte.Porexemplo, um pote de cermica produzido para arma-zenar gua pode ser admirado posteriormente comoobjeto artstico, por suas caractersticas estticas.Outraquestoqueaidiadearte,talcomoatemoshoje,nocomumatodasasculturasepocas,eosentidodoqueseconsideraartetam-bmvarivel:atualmenteentendemosartedeformamuitodiversadecomoeraentendidanaIdade Mdia, por exemplo. importantelembrarqueafunoartsticaqueatribumosaumobjetonoprpriadele.Somosns que damos a ele esse valor.13Entre as definies mais tradicionais da arte tratadaspela esttica, notam-se trs tendncias bsicas: a deentend-lacomoumfazer (ligadoaodomniodedeterminadatcnica,portantoconsideradocomoprocessodemanualidade);adeconsider-laumaformadeconhecer (entendidacomomeioparaacompreenso do mundo, de si mesmo, de aspectostranscendentes,eportantoconsideradacomopro-cessodecognio);ouumaformadeexpressar(entendidacomomeiodeapresentaraomundoosvaloresinternosdoartista,portantoconsideradacomo pura traduo da subjetividade deste).Emdiferentesmomentoshistricos,essastrsver-tentes se alternam e se sobrepem,14porm o funda-mental lembrarmos que nenhuma delas definitiva.Hoje em dia as tendncias mais valorizadas so asqueencaramaartecomoformadeconhecereexpressar, mais do que aquelas que valorizam o do-mnio tcnico. Muitas vezes na arte contemporneano o artista o responsvel pela execuo tcnicada obra, mas pela atribuio de um significado par-ticularadeterminadosobjetos,aesouidias,garantindo por esse processo a autoria. Acadapoca,eportantoacadadiferentemaneiracomo o Homem entende a si mesmo e ao Mundo, cor-responde uma diferente noo de arte. Dessa forma,cada poca e cada cultura definem o que para si ou pode ser arte.15Aarte,porserumaformadecomunicao,utilizaumalinguagemparticular,quechamadadelin-guagemartstica,comcaractersticaseelementosprprios.Assimcomoalinguagemverbaltemassuaspeculiaridades,trabalhandocompalavrasesuasintaxeesignificaes,oualinguagemmate-mtica utiliza os nmeros e os seus cdigos e ope-raes,alinguagemartsticautilizaformas,cores,espao, linhas, luz em composies e tem seus c-digos e significados prprios.16Aartecomoformadecriaoecomunicaosem-pre tem uma inteno. preciso compreender que ainteno do artista existe sempre, independente seaosolhosdoobservadoraobrafinalparecealea-tria como a tinta jogada sobre a tela, ou se pareceo fiel retrato da realidade. O artista, ao dar forma sidiaseaossentimentos,escolheamaneiradetorn-los visveis, e portanto cada gesto, cor, movi-mento, forma so propostos com alguma inteno,comalgumsignificado.Osacasospodemocorrer,masseroincorporadosobraapartirdadecisodo artista.Nossasociedadeenossapoca,comooutrasaolongodahistria,selecionamexemplaresdealgu-mas das manifestaes de sua variada produo ar-tsticaparaintegrarosacervosdosmuseus.Essaseleoestbaseadaemcritriosconcretos,taiscomoaqualidadeeapertinnciadaproduodeum artista; a relevncia das idias apresentadas; acoernciadatrajetriaartsticaetc.,emborataiscritrios possam mudar segundo a poca.Os objetos artsticos dos museus, uma vez expostosedisponibilizadosparaaapreciao,podemnosaproximar dos modos de pensar, sentir, agir e ser deseus produtores e de sua sociedade de origem. Almdisso,porserumaformadecomunicaoeexpresso, a arte tem o potencial de interagir com asubjetividade do observador, podendo emocionar eser percebida como prazerosa, agradvel ou angus-tiante,tristeetc.,independentedasuapocadeproduo ou da poca a partir da qual se observa.Tambmcomumdistinguirmosentrearteearte-sanato, sendo atribudo arte um carter superior.Mas essa diferena no est no objeto, mas naqui-lo que atribumos a ele, sendo portanto discutvel.Adistinoentrearteeartesanatonormal-mentejustificadapelapercepodoartesanatocomoumaproduodestinadaaomercadodemassa, e portanto de produo em srie, enquan-toaarteteriaumdestinoparaocomrciodeelite, com uma produo restrita, geralmente em513COLI (2003a), p. 7.14PAREYSON (1989).15COLI, ibidem.15CANTO (2005), p. 1.O que chamamos de Arte?arTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 5peasnicas.Assim,oscritriosquesustentamessadistinoestobaseados,entreoutrascoisas,navalorizaodaarteemdetrimentodoartesanatopelacrenanaidiadoartistacomoindivduocriadororiginal.possvelperceber-mos que esses mesmos critrios so aplicados nadiferenciaodovalordaproduoartesanal,quando o arteso desenvolve um estilo particularque o distingue dos demais artesos, sendo con-sideradomaiscriativo,originaleinovador,e,portanto,melhordoqueaquelemeramentereprodutor de modelos.Ler imagensLer uma imagem fazer-lhe,implicitamente, perguntas. Compreend-la ter as perguntasrespondidas por ela.17Como vimos, por sua natureza cognitiva e expressi-va, a arte pode se revelar um meio de compreensodanaturezahumana,desuahistriaedeseupotencialcriador,subsdiosparaareflexocrticaacercadensmesmosedomundoemquevive-mos.Emvirtudedisso,aapropriaodaartecomfinalidades educativas tem sido amplamente difun-dida, desde oficinas de artesanato aprendizagemde tcnicas artsticas, por exemplo. Paraeducaremartepodemosnosutilizardedife-rentescaminhos.Nocasodestematerial,optamospelaLEITURADEIMAGEM,quepropiciaaoedu-cadorconduzirumdilogoentreoseducandosapartirdaobservaodeumaimagem,explorandoseus aspectos tcnicos, formais e contextuais, pro-movendoacompreensodoselementosformaiseexpressivos da imagem, que estimulam a atribuiode significados mesma. Informaes e contedos sobre a arte, os processosdeproduo,autoresepocaspodemserco-nhecimentosimportantesparaampliareestimularapercepo,interpretao,anliseecrticadasobras,18desde que no prejudiquem o ato de olharcom curiosidade para uma imagem como algo novo,a ser descoberto.Omundodehojeapresentaumagrandequanti-dadedeimagens.Estamosacostumadosav-las,masnoapensarcriticamentesobreelas.Assu-gesteseducativasaquipropostasprocuramesti-mular os educandos a refletir de modo crtico e cria-tivo sobre o que vem.Aleituradeimagemumpontodepartidaparaestabelecer um dilogo: o mais importante parti-lhar com os educandos o prazer de descobrir signifi-cados ao interagir com o universo da arte. Para des-pertar realmente seu interesse, fundamental queelespercebamqueoscontedosexploradospo-dem adquirir um sentido prprio e que as descober-taspodemterrepercussesprticasemsuavidapresente e futura.Emumdilogo,podehaverconcordnciasedesa-cordos, desde que esteja baseado em saber escutaro outro e poder expressar-se. Assim, fundamentalgarantir que todos tenham a possibilidade de apre-sentar suas idias e compartilh-las num ambientederespeitomtuo,trocandoidiasprazerosaeconscientemente.Aoeducadorcabeconduzirumaobservaodaimagem a partir da qual os significados sejam cons-trudospeloseducandospormeiodesuainvesti-gao, percepo e anlise. Asquestesformuladasparaorientarumaleiturade imagem admitem como corretas respostas diver-sas.Acadaresposta,incentivearefernciaimagemdaqualpartiualeitura,reconduzindooolhar de todos ao objeto em anlise. Lembre-se quecabeaoeducadorvalorizarcadainterpretaoatribuda imagem, favorecer o dilogo e o compar-tilhamentodeopiniesentreoscomponentesdogrupo, e articular a integrao dos diversos signifi-cados percebidos na imagem.Eviteleroscrditosdasobras(ttulo,dimenses,tcnica)antesdeprocederleituracomogrupo,pois expor prematuramente esses dados pode inibirsuainvestigao.Ocontextohistricodaobra,doartista, do perodo ou dos estilos artsticos deve serconsiderado como estmulo para novas discusses,elementoparaarticularasinterpretaesdeseuseducandos,enoumamassadedadosaseremmemorizados.A arte uma rea de conhecimento com contedosprpriosehabilidadesespecficas.Otrabalhocomarteincluiaspectosrelativosrecreao,aoequi-lbrio psquico, expresso criativa e ao desenvolvi-mentodehabilidadesmotoras,masdeveiralmdisso. preciso ter clareza quanto aos objetivos decadaatividadepropostaeestabelecercritriosdeavaliaodeseusprocessoseresultadosquesejam claros para o educador e para os educandos.617ROSSI (2004).18TaiscategoriasparaobservareanalisarasimagensartsticastmcomobaseoDiscipline-BasedArtEducation(DBAE),desenvolvidoapartirdaspesquisasfeitasnadcadade1980noGettyCenterforEducationintheArts,nosEstadosUnidos.Emsuaconcepo,oDBAEpropequatroinstnciasdoconhecimentoemarte:aproduo,acrtica, a esttica e a histria da arte. Essa proposta foi adaptada ao contexto brasileiroporAnaMaeBarbosa,sendochamadadeAbordagem Triangularporenvolvertrsver-tentes:ofazerartstico,aleituradaimagem(queabrangeacrticaeaesttica)eahistriadaarte,instnciascontempladasaindanosParmetrosCurricularesNacionaisde Arte, de forma distinta. Ver PILLAR e VIEIRA (1992), pp. 3-10.Ler imagensarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 6Procure aproveitar as possibilidades geradas a par-tirdaleituradasimagenspararealizarpropostassomando outras reas de conhecimento.... no h leitura de imagens que no seja influen-ciada pela experincia de vida do leitor. Ao mesmotempo,aleituraestticavaiampliaraleituradomundo.Quandoosalunospensamqueestoape-nasdescrevendooqueestobjetivamentesuafrente, esto, na verdade, interpretando. Suas falasso interpretaes do que vem. Tais interpretaessogeradasnoscontextosporelesvivenciados,pois nada pode ser interpretado sem uma conexocomomundocomoqualsevive.Porissonopodemosimporumainterpretaoeumacompre-ensodaartedeacordocomoquepensamosseradequado; de acordo com a nossa vivncia e expe-rinciaesttica.Acompreensoesttica,ento,umaconstruosocial,poisasidiasarticuladasdurantealeiturasoengendradasnos(epelos)contextos culturais e seus discursos.19Aoolharumamesmaimagem,nemtodostmasmesmas perguntas a fazer. A partir de uma imagemosinteressesemrelaoaelavariamdepessoaapessoa,eessavariedadeenriquecedoraparaoprocesso de leitura de imagem. Assim, uma media-o sertantomelhorquantomaisforcapazdecompreenderavariedadedeinteressessuscitadosnosobservadoresapartirdoencontrocomaima-gem, e fazer brotar respostas a partir disso.Contamos com a capacidade de mediao e a criativi-dadedoeducadorparatransformarospercursoseducativosaquipropostossegundoasespecifici-dadesdosgruposcomosquaisatuam,demodoaconduzirumainteraosignificativadosseusedu-candoscomaarte.Asestratgiasdemediaoqueapresentamos so inter-relacionadas e no precisamacontecer necessariamente na ordem do texto.Paracomplementarasleiturasdeimagemetornarvivenciaisoscontedosalitratados,sugerimosPROPOSTASPOTICAS,quesoatividadesdeca-rter ldico e plstico que, alm de visuais, podemtambmsermusicais,corporaisouverbais.Pro-pemumainvestigaoprticacomosmesmosfocos de interesse tratados na leitura de imagem, eostrabalhosresultantesdesseprocessotambmpodero ser lidos.Apartirdesuaexperinciacomessematerial,in-centivamosvocapesquisaroutrosartistaseobras, procurando estabelecer relaes com as ima-gensaquiestudadas,criandonovospercursoseducativos.Tambmesperamosqueessematerialpossa ser um ponto de partida ou participar de pro-jetos educativos que voc desenvolva.Projetos educativos: organizaro pensamento e a aoTodaprticaeducativaquedesenvolvemosestba-seada em nossos conhecimentos prvios, em nossaexperincia cotidiana, no envolvimento com o grupoecomunidadenoqualnosinserimos,napropostaeducativa da instituio em que atuamos etc. Esseconjuntodesabereseexperinciasoquefundamentanossaaoprofissional,pormvli-dotambmsistematizarmosessasaespormeiodeprojetos.Osprojetossoformasdeorganizarnossa prtica educativa, aquilo que sabemos, aqui-loquequeremosalcanar,paraquemdestinamosnossa ao e como pretendemos que ela acontea. Porm,devemosestarcientesdequeumprojetonoalgodefinitivo,masestsempreemcons-tanteconstruo,sujeitoamudanasetransfor-maesumavezqueestdiretamenteligadoaosacontecimentoseinteressesdecadainstituio,educador e grupo em particular.20Um projeto no precisa, necessariamente, ser feitoporescrito,massermaiseficazsetentarrespon-der s seguintes questes: O que ? A quem se destina? (Apresentao)O que pretende alcanar? (Objetivos)Por que deve ser feito? (Justificativa)Como ser feito? (Desenvolvimento)Quando e em que etapas ser feito? (Cronograma)Comoregistraremosessesprocessos?(Documen-tao/formas de registro)Como saberemos se alcanamos nossos objetivos ese o processo foi produtivo? (Avaliao) Salientamosque,aoorganizaropensamentoeaao educacional em forma de projetos, possvelconstruirumbancodeidiasqueestimularnovasprticas,noapenassuas,mastambmdeseuscolegaseducadores.Lembramosqueaseta-pasderegistrareavaliarasaessodefunda-mentalimportnciaparaaconstantemelhoriadaprticaprofissional,equeregistrarprocessosnoserestringeafotograf-los,maspodeincorporardepoimentos, textos, desenhos, entrevistas etc.Lembre-setambmqueapenasoregistronoga-ranteacompreensodosprocessosrealizados:719ROSSI, ibidem.20FERNANDES e GARCIA (2005), p. 5.Projetos educativos: organizar o pensamento e a aoarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 7preciso analisar os dados recolhidos, dar sentido aeles.Oprocessodeavaliaopodetambmserrealizadopormeiodeinstrumentosespecficos,como questionrios, entrevistas, observaes, des-de que contemplem os objetivos propostos.Percursos educativosProporpercursoseducativosimplicaescolherumcaminho entre os muitos possveis. Esperamos que,almdosquesugerimosaqui,oeducadorbusqueoutrastrilhasparatrabalharcomessasimagens,eque tambm as registre para poder compartilh-lascomoutroscolegaserefletirsobresuaprpriaprtica educativa. Novasidiasparaseustrajetospodemserencon-tradas a partir das indicaes bibliogrficas, de su-gestesdeseuseducandos,depesquisasemsuacomunidade,dosequipamentosculturaisdesuaregio,dosmeiosdecomunicaoedetudoquelhe chame a ateno.A seleo das imagens aqui proposta partiu da per-cepodeseuspotenciaiseducativosemnossasaes na Pinacoteca.Essas imagens podem ser utilizadas como recursoseducativosparaquaisqueridades,desdequesediferenciem as abordagens e os contedos a seremtrabalhados,ouseja,trata-sedediferenciarparacada idade o qu e como se vai trabalhar.Apresentamossugestesdeabordagemparadiferentes faixas etrias que chamaremos de crian-as, jovens e adultos. Lembramos que esses termosapenas indicam genericamente um parmetro paraotrabalhoedevemseradaptadosaoperfildogrupocomoqualsetrabalha;portanto,contamoscomsuaexperinciaparaasdevidasadequaes.Incentivamosquevocseapropriedassugestesapresentadasnoversodecadaimagememsoma-triacomostrabalhosjdesenvolvidosemsuaorganizao de origem.Paracomporessematerial,escolhemosimagensdeobrasdeAlmeidaJnior,PauloRossiOsir,To-mieOhtakeeRubemValentim,eparacadaumadelas optamos por um parmetro de idade. Inclu-mos, entretanto, algumas orientaes gerais parautilizaramesmaimagemcomasduasoutrasfai-xas etrias.Focos de abordagemO violeiro, de 1899, de Jos Ferraz de Almeida Jnior(Itu/SP, 1850 Piracicaba/SP, 1899). Paraestaimagemoptamosportrabalharcomcrianas,explorandoaspossibilidadesdecriaode histrias a partir da leitura de imagem.BondedeSantaTeresa,de1946,dePauloCludioRossi Osir (So Paulo/SP, 1890 So Paulo/SP, 1959).Para esta imagem optamos por trabalhar com adul-tos, explorando os potenciais de resgate de mem-riaseprojetosparaofuturoapartirdaleituradeimagem.Pintura,de1969,deTomieOhtake(Kyoto/Japo,1913).Paraestaimagemoptamosportrabalharcomjo-vens, explorando as mltiplas interpretaes pos-sveis a partir da leitura desta imagem abstrata.Srie emblemas, 30/120, de 1989, de Rubem Valen-tim (Salvador/BA, 1922 So Paulo/SP, 1991). Paraestaimagemoptamosportrabalharcomjo-vens, explorando o universo simblico e da cons-truo de cdigos a partir da leitura desta imagemabstrata.Gostaramosdesabersuaopinioeternotciassobre como voc utiliza e avalia este material. Comunique-se conosco pelo [email protected] Contamos com sua participao!GlossrioAcervo:conjuntodedocumentoseobjetosquein-tegram uma coleo, seja de uma biblioteca, de ummuseu, arquivo etc.Aspectos contextuais, tcnicos, cognitivos, expres-sivos:emrelaoaumaobradearte,osaspectoscontextuais tratam dos momentos histricos e soci-aisdesuaproduo;atcnicasereferepartematerialdamesma,ou,ainda,maneira,jeitoouhabilidadedesuafeitura.Osaspectoscognitivosestoligadosaquisiodeconhecimentoeaosprocessos de percepo a partir da anlise da obra.Aspectosexpressivosreferem-setantomanifes-taoemocionaldoartistaperceptvelnaobra,quanto aos sentimentos e pensamentos suscitadospela mesma no observador. Bidimensionaletridimensional:bidimensoumtermo que se refere a algo que possui duas dimen-ses espaciais: altura e largura (exemplo: pintura);tridimensoumtermoqueserefereaalgoque8Percursos educativosarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 8possuitrsdimensesespaciais:altura,larguraeprofundidade (exemplo: escultura).Corescomplementares:ascoresprimriassoovermelho,oazuleoamarelo,quemisturadaspro-duzemoutrascores.Ascorescomplementaressoresultantes da mistura de duas cores primrias, emrelao cor primria restante, assim como segue:vermelhocorcomplementardoverde(evice-versa),queformadopelamisturadasprimriasamarelocomoazul;amarelocorcomplementardo violeta (e vice-versa), que formado pela mistu-ra do azul com o vermelho; azul cor complementardo laranja (e vice-versa), que formado pela mistu-radoamarelocomovermelho.Ascorescomple-mentares so as que mais contrastam entre si.Culturamaterialeimaterial:aculturadohomemcompreendesuasidias,valoreseimaginrio,quepodemresultaremcriaesintelectuaise/oucria-es materiais, como produtos e objetos. Um exem-plo de cultura imaterial poderia ser a forma de danardeumadeterminadacoletividadeeumexemplodecultura material, as roupas utilizadas para danar.Estranhamento:asensaodeespantar-se,ad-mirar-se, surpreender-se por achar que algo dife-rente do que seria natural esperar-se.Exposiestemporriasedelongadurao:estasdenominaes so utilizadas com relao ao tempoqueumadeterminadaexposiopermaneceemcartaz.NocasodaPinacoteca,amostradelongaduraodoacervoesteveexpostade1998a2010,quando uma nova mostra do acervo ser organiza-da.Exposiestemporriassoorganizadasparaseremexibidasduranteumtempodeterminado,usualmenteentreummseumano,porexemplo,quandoomuseurecebeumaexposiodeoutrainstituio, como a retrospectiva de obras do artistafrancsHenriMatisse,realizadadesetembroanovembro de 2009 na Pinacoteca.Gnero:termoempregadoparadesignarcatego-riasparticularesdapintura,comoapaisagem,oretrato, as pinturas histricas e a natureza-morta,por exemplo. GrupoSantaHelena:grupoquesurgedaunioespontneadealgunsartistas queutilizam comoateli algumas salas no Palacete Santa Helena, anti-go edifcio na praa da S, em So Paulo, a partir demeadosde1934.Formadoporartistasdeorigemoperriaqueatuavamcomopintoresdeparede,empreiteiros de obras e artesos, e se reuniam emseu tempo livre para pintar, entre eles Alfredo Volpi,ClvisGraciano,FlvioPennacchi,MarioZanini,FranciscoRebolo.Entreseustemasestavamosarredoresdacidade,paisagensdolitoral,nature-zas-mortas, figuras humanas populares, temas reli-giosos e outros motivos do modo de vida dos com-ponentes do grupo.Mediao: a figura do mediador aparece, por exem-plo, nos debates polticos e nas mesas redondas emcongressos. Sua presena garante o desenvolvimen-todaao.eleoresponsvelpordosarasinfor-maesdosparticipantesafimdeconstruir,pelaexatasomadaspartes,umtodocompreensveleimparcial. A ao do educador no se reduz trans-misso de informaes e conhecimentos, mas ativanaconstruodetramasquearticulamcontedos,mundo,vida,experincias(suasedosalunos)numtodo significante, numa construo coletiva. A medi-aodeveconsiderartodasasnecessidadeserespond-las,explorandoeaprofundandocadadescoberta,garantindo-lhessentidoearticulandotodos esses aspectos segundo as especificidades dasituao. provocar no espao especfico entre aobra de arte e o espectador negociaes dos senti-dospossveisdessaobra.Amediaoconduz,por-tanto, segundo o grupo que a aprecia, a novos senti-dos para cada obra (MARTN-BARBERO, 1997).Patrimnio:qualquerevidnciamaterialouma-nifestao da cultura resultante da relao entre osindivduoseseumeioambiente.Conjuntodebens,frutodasrelaesdohomemcomomeioambiente e com os demais homens, assim como asinterpretaes dessas relaes (BRUNO, 1998). Percepoesttica:nomeamospercepoesttica no mbito deste material a capacidade de perce-berasformasconstitutivasdaimagem,bemcomosuasrelaes,depreendendodasignificaeseenvolvendo, nesse processo, tanto o conhecimentoquanto a sensibilidade.Pertencimento cultural: a percepo de uma iden-tidadeculturalentendidacomoumsistemadecrenas, tradies orais, atitudes e comportamentoscoletivos;umapercepodefazerparte,integrar,partilhar,pertenceraumacomunidade,religiooutribo, que compartilham certas caractersticas comocostumes, tradies e sentimentos de lugar.Repertrio:conjunto,coleodeconhecimentoseexperincias. 9GlossrioarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 9Serigrafia:tcnicadeimpressodeimagens quereproduz desenhosdecoresplanaspormeiodeumaarmaodemadeirae telafeitadetecidodeseda, nilon ou rede metlica, sobre uma base quepodeserdepapel,tecido,metalououtros.Oprocesso se d a partir da aplicao de tinta sobrepartespermeveise impermeveisdatela, queafiltra formandoaimagemaserimpressa.Otermosinnimosilkscreen normalmenteutilizadonumcontexto comercial. Subjetividade:queexistenamente;quepertenceaosujeitopensanteeaseuntimo(emcontrastecomasexperinciasexternasegerais).Considera-se o sujeito como dotado de capacidade de pensare agir conforme sua prpria deciso. Para esse fim, necessrio que tenha em si capacidades sensori-ais,afetivas,imaginativaseracionaisparticulares,queodiferenciemdeoutrosindivduosecaracte-rizem a sua subjetividade.Totem:animal,plantaouobjetoqueservecomosmbolo sagrado de um grupo social e considera-docomoseuancestraloudivindadeprotetora.Representaoouemblemadesseanimal,plantaou objeto. BibliografiaBARBOSA, Ana Mae (1991). A imagem no ensino da arte. SoPaulo: Perspectiva/Fundao Iochpe.BARBOSA, Ana Mae (1998). Tpicos utpicos. Belo Horizon-te: C/Arte. BRUNO,MariaCristinadeOliveira(1996).Museologiaecomunicao. Cadernos de Sociomuseologia, n 9. Lisboa:UniversidadeLusfonadeHumanidadeseTecnologias/Edies Universitrias Lusfonas.BRUNO,MariaCristinadeOliveira(1998).Museologiaetu-rismo: os caminhos para a educao patrimonial. So Paulo:Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza.CANTO, Daniela (2005). Leitura de obras de arte para qu?.Texto no publicado.CARVALHO, Maria do Carmo Brandt de (coord.) (2005). Ava-liao:construindoparmetrosdasaessocioeducativas.So Paulo: CENPEC.CCERO, Antnio (1997). Guardar. Rio de Janeiro: Record.COLI, Jorge (2003a). O que arte. So Paulo: Brasiliense.COLI, Jorge (2003b). Violeiro violento. So Paulo. Texto nopublicado.FERNANDES, Renata Sieiro e GARCIA, Valria Aroeira (2005).Algumasorientaesparanavegadoreseprincipiantesnanavegao:relacionandoapedagogiadeprojetoscomaeducao no-formal. Texto no publicado.FERREIRA,AurlioBuarquedeHolanda(org.)(1988).DicionrioAurlioBsicodaLnguaPortuguesa.RiodeJa-neiro: Nova Fronteira.GRINSPUM, Denise e JAFFE, Noemi (2003). Ver palavras, lerimagensLiteraturaearte.SoPaulo:AoEducativa,Assessoria, Pesquisa e Informao/Global. HORTA,MariadeLourdesP.;GRUNBERG,EvelinaeMON-TEIRO, Adriane Q. (1999). Guia bsico de educao patrimo-nial. Rio de Janeiro: Museu Imperial/Iphan/MinC.HOUAISS,Antnioe VILLAR,MaurodeSalles(2001).Dicio-nrioHouaissdaLnguaPortuguesa.RiodeJaneiro:Objetiva.LARROSA, Jorge (2004). Nietzsche & a educao. Belo Hori-zonte: Autntica.LOURENO, Maria Ceclia Frana (1977). Almeida Jr., o poetaque pintou o caipira. So Paulo. Monografia.LOURENO,MariaCecliaFrana(1995).Operriosdamo-dernidade. So Paulo: Hucitec/Edusp.MARCONDES,LuizFernando(1998).Dicionriodetermosartsticos. Rio de Janeiro: Pinakotheke.MARTN-BARBERO,Jess(1997).Dosmeiossmediaes.Comunicao,culturaehegemonia.RiodeJaneiro:Editorada UFRJ.MARTINS,MirianCeleste;PICOSQUE,GisaeGUERRA,Maria Terezinha Telles(1998).Didticadoensinodaarte:alnguadomundo:poetizar,fruireconhecerarte.SoPaulo: FTD.MORAIS, Frederico (1998). Arte o que eu e voc chamamosde arte. Rio de Janeiro: Record.NAVES,Rodrigo(2003).AlmeidaJnior:osolnomeiodocaminho. So Paulo. Texto no publicado.PAREYSON,Luigi(1989).Osproblemasdaesttica.SoPaulo: Martins Fontes.PILLAR, Analice e VIEIRA, Denyse (1992). O vdeo e a meto-dologiatriangularnoensinodaarte.PortoAlegre:UFRGS/Fundao Iochpe.RAMOS, Francisco Rgis Lopes. Museu, ensino de histria esociedade de consumo. Cadernos Paulo Freire, 2. Fortaleza:Museu do Cear/Secretaria da Cultura do Estado do Cear,2004.RIBEIRO, Maria Izabel Branco (2004). Bonde de Santa Teresa a tradio da pintura nos anos 40. So Paulo. Texto no pu-blicado.ROSSI,MariaHelenaWagner(2003).Imagensquefalam:leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediao.TAVARES,Ulisses(2005).MeuBrasildeAaZ.SoPaulo:Paulus.VERGER, Pierre Fatumbi (1999). Notas sobre o culto aos ori-xsevodunsnaBahiadeTodososSantos,noBrasil,enaAntiga Costa dos Escravos, na frica. So Paulo: Edusp. VONSIMSON,Olga;PARK,MargarethBrandinieFERNAN-DES, Renata Sieiro (orgs.) (2001). Educao no-formal: ce-nrios da criao. Campinas: Editora da Unicamp/Centro deMemria.10BibliografiaarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 10ArtigosAIDAR,Gabriela(2002).Museuseinclusosocial.Patri-mnio e Educao, Cincias & Letras Revista da FaculdadePorto-Alegrense de Educao, Cincias e Letras, n 31. PortoAlegre, jan./jun., pp. 53-62.ALMEIDA, Adriana Mortara e LOPES, Maria Margaret (2003).Modelosdecomunicaoaplicadosaosestudosdepbli-cos de museus. Revista de Cincias Humanas da UNITAU, v.9, n 2, jul./dez., pp. 137-145.CHAIA, Miguel (2001). A dimenso csmica na arte de TomieOhtake. In: OHTAKE, Ricardo (org.), Tomie Ohtake. So Pau-lo: Estdio RO Projetos.CHIOVATTO, Milene (2000). O professor mediador. BoletimArte na Escola, n 24, out./nov.FONTELES,Ben(2001).Sagradageometria.In: Catlogoda exposio Rubem Valentim Artista da Luz. So Paulo: Pi-nacoteca do Estado.FREIRE,CristinaeCOSTA,Helouise(2002).Aexposiocomotema:oexemplodoGrupoSantaHelena.In:Oper-riosnaPaulista:MAC/USP eartistasartesos.SoPaulo:Museu de Arte Contempornea/USP.GUARNIERI,WaldisaRussioCamargo(1990).Conceitodecultura e sua inter-relao com o patrimnio cultural e a pre-servao.RevistadoInstitutoBrasileirodePatrimnioCultural, n 3, pp. 7-12.LOURENO, Maria Ceclia Frana (2000). Almeida Jnior e aexpressodevalores.In:CatlogodaexposioAlmeidaJr.: um artista revisitado. So Paulo: Pinacoteca do Estado.LOURENO,MariaCecliaFrana(2002).Modernidadeecompromisso. In: Operrios na Paulista: MAC/ USP e artistasartesos. So Paulo: Museu de Arte Contempornea/USP.MORAIS,Frederico(2001a).CaractersticasesignificaodaartedeRubemValentim.In: CatlogodaexposioRubem Valentim Artista da Luz. So Paulo: Pinacoteca doEstado.MORAIS,Frederico(2001b).Oedifciodeformas:TomieOhtake. In: OHTAKE, Ricardo (org.), Tomie Ohtake. So Paulo:Estdio RO Projetos.ROSSI, Maria Helena Wagner (2004). Algumas reflexes so-breleituradeimagens.In: www.iberecamargo.org.br, Pro-grama Escola, Guia do Professor. VALENTIM, Rubem (2001). Manifesto ainda que tardio. In:Catlogo da exposio Rubem Valentim Artista da Luz. SoPaulo: Pinacoteca do Estado.Catlogos de exposioAlmeida Jr.: um artista revisitado. So Paulo: Pinacoteca doEstado, 2000.OperriosnaPaulista:MAC/USP eartistasartesos.SoPaulo: Museu de Arte Contempornea/USP, 2002.PauloClaudioRossiOsir.Milo:AssociazioneArtistico-Culturale Presenze, 1976.Pinturabrasileira:osprecursores.SoPaulo:MuseuLasarSegall, 1974.RubemValentimArtistadaluz.SoPaulo:PinacotecadoEstado, 2001. TomieOhtakenatramaespiritualdaartebrasileira.SoPaulo: Instituto Tomie Ohtake, 2004.PublicaesArte o que bom e eu gosto entrevista de Llia CoelhoFrotaaRicardoGambarotto.RevistaRaiz,n1,nov.2005,pp. 82-86.AartesemiticadeRubemValentim:signostraduzindooinexplicvel. Jornal de Braslia, Braslia, 23/8/1981.Tomie Ohtake, 70 anos, uma retrospectiva Pintura e siln-cio entrevista a Frederico Morais. Jornal O Globo, Rio deJaneiro, 28/10/1983.TesesARAUJO,MarceloMattos(2002).OsmodernistasnaPina-cotecaomuseuentreavanguardaeatradio.TesedeDoutorado. So Paulo: FAU/USP.RIBEIRO, Niura A. L. (1995). Rossi Osir artista e idealizadorcultural. Dissertao de Mestrado. So Paulo: ECA/USP. WILDER,GabrielaS.(2004).AsartesvisuaisdosculoXXcomovisodemundoeexercciodediversidade.Inclusocultural:umamissodemuseusdeartecontempornea.Tese de Doutorado. So Paulo: ECA/USP.Materiais didticosPINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULO. Material de apoioaoprofessor.ExposioVistasdoBrasilColeoBra-siliana/FundaoEstudarnaPinacotecadoEstado.SoPaulo: Fundao Estudar/Vitae, 2003a.PINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULO. Material de apoioaoprofessor.AcervoArtebrasileira,vol.1,2,3e4.SoPaulo: Pinacoteca do Estado, 2003, 2004, 2005 e 2006.PINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULO. Material de apoioaoprofessor.Exposio100AnosdaPinacoteca:aforma-o de um acervo. So Paulo: Galeria de Arte do Sesi/Pina-coteca do Estado, 2005a.PINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULO. Material de apoioao professor. Exposio A figura humana em representaoColeoBrasiliana/FundaoEstudarnaPinacotecadoEstado. So Paulo: Fundao Estudar, 2005b.Siteswww.iberecamargo.org.brwww.impaes.orgwww.institutotomieohtake.org.brwww.itaucultural.org.brwww.macvirtual.usp.brwww.wikipedia.org11BibliografiaarTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 1112GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOGovernador do Estado de So PauloJos SerraSecretrio de Estado da CulturaJoo SayadSecretrio-AdjuntoRonaldo BianchiChefe de GabineteSrgio TiezziDiretora da Unidade de Preservao do PatrimnioMuseolgicoClaudinli Moreira RamosPINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULOOrganizao Social de CulturaConselho de AdministraoPresidenteMarcelo SecafVice-PresidenteCelso LaferConselheirosCarlosWendeldeMagalhes,ConceliRochadeSouza,DeniseAguiarlvaresValente,FernandoTeixeiraMendesFilho, Horcio Bernardes Neto, Jos Roberto Marcellino dosSantos,JulioLandmann,MariaAnnaOlgaLuizaBonomi,MariaLuisadeSouzaAranhaMelaragnoeNiloMarcosMingroni Cecco.Diretor ExecutivoMarcelo Mattos AraujoDiretor FinanceiroMiguel GutierrezNcleo de Ao EducativaMila Milene ChiovattoPrograma de Incluso SocioculturalGabriela AidarEducadoresDaniele CarvalhoLuis Roberto SoaresEstagiriosDanilo Palomares RodriguesGabriela da Conceio SilvaMayana VianaIMPAES Instituto Minidi Pedroso de Artee Educao Social PresidenteMinidi PedrosoDiretoraMaria Cristina Pedroso PittelliArte +Pesquisa, concepo e redaoMila Milene ChiovattoGabriela AidarReviso de contedoLcia Helena NilsonMrcia Regina SilvaWalderez Nose HassenpflugPreparao de textoCeclia RamosDesign grficoLeticia Dias de MouraDouglas Kenji WatanabeProduo grficaMalu TavaresChiovatto, MileneArte +/ Milene Chiovatto, Gabriela Aidar. So Paulo :Pinacotecado Estado, 2009.Bibliografia: p. 10-11.PinacotecadoEstadodeSoPauloAoEducativa:materialelaboradoparaeducadoresatuantesemprojetossociaisvoltadoseducaodepessoasemsituaodevulnerabilidade social.1. Almeida Jnior, Jos Ferraz de, 1850-18992. Valentim,Rubem,1922-19923.Ohtake,Tomie,1913-4.Osir,Rossi,1890-19595. Arte-Educao - Brasil6. Pinacoteca do Estadode So Paulo Ao EducativaI. Aidar, GabrielaII. Ttulo.CDD 707 BrDados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)2009 (2 impresso)Pinacoteca do Estado de So PauloPraa da Luz, 2 So Paulo, SP 01120-010(11) 3324 1000www.pinacoteca.org.brHorrio de FuncionamentoTera a domingo, das 10h s 18h.arTe+Educacional ARTE MAIS 200915.09.0912:41Page 12Jos Ferraz de Almeida JniorO violeiro, 1899, leo sobre tela, 141 x 172 cm.acervo Pinacoteca do Estado de So Paulo1LOURENO (1977).2COLI (2003b).3As construes de pau-a-pique, ou taipa, consistem numa estrutura de ripas de madeira ou bambu, for-mando uma grade, cujos vazios so preenchidos combarro amassado. Fonte: www.csaarquitetura.com.br4LOURENO (2000), p. 14.Para trabalhar esta imagem com crianasCrianas costumam ver as imagens como se fossem cenas da realidade e interagemcom elas imaginando histrias que incluem sua prpria experincia de vida. Quando apresentada a crianas, esta imagem provoca muito interesse, pois a partirdela parece ser possvel contar muitas histrias; ainda mais porque os personagensrepresentados parecem divertir-se, num momento de descontrao. Sobre o artista e a obraAlmeida Jr. realizou seu aprendizado artstico segundo os padres da arte de fins dosculoXIX,que,apartirdetradieseuropias,valorizavacenashistricasereli-giosas,epersonagensdaelite.Porm,empartedasuaproduoeleoptouporretratartipospopulares,principalmentereconhecveisnointeriorpaulista,oscha-mados caipiras. A pesquisadora Maria Ceclia Frana Loureno diz que, aqui no Brasil, Almeida Jr. napinturaoprimeiroaassumircomnotoriedadeavida,otrabalhoeolazerdohomemdazonarural,tendo-sevalidoparamodelosdocaipiradoEstadodeSoPaulo.1Emsuaspinturasdepersonagenseambientesdointeriorpaulista,chamadasregionalistas,oartistasepreocupaemrevelaraculturadocaipira,aotornar evidentes os costumes, os gestos, os cenrios e os objetos que compem ascenas, integrando, assim, os personagens e seu meio.2Nessas obras regionalistas, Almeida Jr. elege o homem do campo como assunto prin-cipal, valorizando no caipira sua simplicidade, integridade, coragem e modos de vidaligados ao trabalho no campo. possvel pensar nesses personagens como capazesde representar aspectos mais populares da realidade brasileira.Leitura de imagemPelo fato de esta imagem regionalista de Almeida Jr. ser representada de maneira toprxima ao real, podemos estimular a imaginao criadora de histrias das crianas pormeio das perguntas abaixo, lembrando de conduzir a observao de volta imagem naseqncia das perguntas, para mant-la como referncia para todo o grupo.O que vemos nesta imagem?O que parece estar acontecendo?Vocs j viram pessoas parecidas com estas? Quem? Onde?Como eles esto vestidos?Eles parecem estar contentes? Por qu? Para onde eles olham?Onde esta cena acontece?Observem a casa. Quais materiais foram utilizados na construo?Vocs sabem como ela foi construda?Algum do grupo conhece ou j esteve em uma casa como esta?No podemos, pela imagem, ver a casa inteira. Como vocs imaginam que ela ? Como vocs imaginam ser o lugar ao redor da casa?Imaginem o interior desta casa. Ela grande? Como so os mveis, a cozinha? Quecheiros ser que ela tem? Ela quente ou fria?Essas pessoas parecem morar nessa casa? Observem a pintura da parede e da janela, a casa parece antiga?Naimagemvemosrepresentadosumhomemeumamulherapoiadosnobeiraldeuma janela de uma casa de pau-a-pique, sistema de construo tradicional encontra-do ainda hoje em regies rurais do pas.3No apenas a construo poderia ser vistanos dias de hoje, mas tambm o tipo de vestimenta dos personagens e a cena comoum todo, embora esta obra tenha sido feita h mais de cem anos. Qual parece ser a relao entre estas duas pessoas? Eles cantam um para o outro ou para outras pessoas?H algum assistindo? Quem? Qual nome vocs dariam s pessoas que aparecem na imagem? Essas pessoas parecem estar perto ou longe de ns?Perceba que se pudssemos comparar esta imagem a uma fotografia, para captar amesma cena, deveramos estar muito prximos ou utilizar o zoomda cmera fotogr-fica. Essa aproximao entre o observador e os personagens cria uma sensao deintimidade e participao, como se fizssemos parte da cena.4Parece ter sido a inteno do artista criar a sensao de que estes personagensse conhecem h muito tempo. Essa impresso reforada, entre outros fatores,pela forma com que Almeida Jr. organizou a imagem. Note que o beiral da janelafunciona como uma moldura, aproximando os personagens e fazendo com que ainterao entre eles se d sobre um fundo escuro, tornando a cena mais teatrale intimista.Que tipo de msica estas pessoas podem estar cantando? Sobre o que a msica? Como a msica (lenta, rpida etc.)?Como a voz da mulher (grossa, fina etc.)? Por qu?Qual ser o cotidiano deste casal?Aoobservarmosestaimagemprovvelquepensemosemmodasdeviolaemsicas sertanejas, e no num rock ou num rap. A soma dos diferentes elemen-tostrabalhadosnaleituradaimagemconduzanossapercepoparaacom-preensodeumaculturalocal,nestecasorural.Asimplicidadepercebidanasroupas e no prprio instrumento do violeiro nos indica que a ao se desenvolveprovavelmente num momento de lazer dos personagens, e no como uma prti-ca profissional.Sabendo que a representao da figura humana numa imagem artstica no neces-sariamenteumacpiadoreal,masconstruda,equeacombinaodeseusele-mentos pode ser lida de forma a indicar aspectos da personalidade e caractersticasdos retratados, podemos perguntar para as crianas:Se vocs fossem retratados, como gostariam de aparecer? De que jeito? Como estariam seus rostos e seus corpos? Com que roupas estariam vestidos? Em que lugar? Por qu? Propostas poticas1) A partir das opes reveladas nas respostas ltima pergunta, proponha aos indi-vduosdogrupoacriaodedesenhosoucolagensderetratosseuse/oudosseus colegas.2) Proponhaaogrupoquerealize,apartirdasobservaesdaimagem,acriaocoletiva de uma histria, com comeo, meio e fim. Para tornar essa proposta maisdinmica, possvel sugerir que, em roda, cada participante conte uma parte dahistria, a ser continuada pelo prximo e finalizada pelo ltimo da roda.3) Usando a histria criada como base, possvel fazer fantoches dos personagense encen-la. Cuide para que tanto os personagens quanto o ambiente e o cenriosejam pensados de forma a contribuir para o sentido da narrativa. Se preferir, emvezdefantoches,possvelestimularaencenaodahistriacomoumteatro,usando roupas e adereos.4) Sesuacomunidadeestiveremumaregiourbana,possvelacentuaraper-cepo do ambiente caipira levando para os educandos elementos como terra,carvo,madeira,folhas,sementesetc.,explorando-ospormeiodossentidos,para revelar seus cheiros e texturas. possvel tambm utilizar alguns dessesmateriais como base para pinturas, dissolvendo-os em diferentes quantidadesde gua. 5) possvelproporaogrupoquecomplemente,comtcnicasvariadascomorecorteecolagem,desenhooupintura,aimagemanalisada.Paratanto,provi-denciefotocpiasreduzidasdaimagem,cole-asemfolhasbrancasesugiraaampliaodeseuslimites,paraincluirelementosaoredor,acimaeabaixodacena representada.Para trabalhar esta imagem com jovensProcure relacionar o tema tratado com aspectos da vida cotidiana dos jovens, apon-tando para as possveis semelhanas ou diferenas em relao a seus momentos delazer, encontros e estilos musicais.Para trabalhar esta imagem com adultosEstaumaimagemparticularmenteinteressantepararesgataraspectosdamemria,experinciaseconhecimentosprvios,especialmentedepessoasquevivem ou viveram em cidades pequenas ou zonas rurais. Incentive o grupo a resgatarconhecimentoseprticasrelacionadosaessesambientes,assimcomoantigascanes que povoam essa memria.arTe+Para trabalhar esta imagem com adultosDiantedestaimagem,gruposdeadultosnormalmentesolevadosaresgataramemria de lugares prazerosos para se morar ou visitar; por outro lado, tambm pro-jetamodesejodeestarnestelugarnofuturo.Emambasassituaes,ainterpre-tao desta imagem tende a ser vinculada a sentimentos agradveis. Talvez isso se deva ao fato de esta paisagem representar uma cidade, mas sem mos-trarossmbolosmaiscomunsdocontextourbano,comoedifcios,aglomeraodepessoas e o tradicional corre-corre nas ruas. Pelo contrrio, a representao de casas,ladeiras, vegetaes e personagens nos causa uma sensao de tranqilidade.Sobre o artista e a obraPauloRossiOsirformou-seemarquiteturaeartes,tendoestudadonaItlia,Inglaterra e Frana. Filho do imigrante italiano e tambm arquiteto Cludio Rossi, quefoi um dos autores do projeto do Theatro Municipal de So Paulo, o artista optou porincorporarOsiraseusobrenomeem1938,afimdedistinguir-sedeoutrostantosRossis de origem italiana que viviam em So Paulo na poca. Em virtude da atuaodo pai, o artista transitou junto elite paulistana, transformando-se em articuladorde diversas iniciativas artsticas e culturais.Entre suas realizaes de destaque encontra-se a criao, em 1940, da Osirarte, umaoficinadeproduodeazulejosartsticos.EsseempreendimentorespondiaaosanseiosdeRossiOsirdedifundirsocialmenteofazerartsticoeaomesmotempoinserir-se na lgica de produo semi-industrial, em desenvolvimento na So Paulo dapoca.CriadaoriginalmenteparaatenderencomendafeitaaotambmartistaPortinari para a decorao da fachada do edifcio do Ministrio da Educao e Sade,1no Rio de Janeiro, a Osirarte, em seus dezenove anos de existncia, empregou artistascomo Volpi, Portinari, Zanini, Hilde Weber e Gerda Brentani, entre outros.Outra iniciativa cultural do artista foi a divulgao do Grupo Santa Helena, formadopor artistas de origem imigrante e operria,2junto elite cultural da poca. Os artis-tasparticipantesdoSantaHelenatrabalhavamtemticascotidianas,comopopelo realismo, ou seja, pela representao direta da realidade, enfatizando a temti-ca social e popular. Em sua produo, esses artistas optaram pela pintura ao ar livree pela valorizao do trabalho artstico manual.3A segunda fase modernista, da qual o Grupo Santa Helena participa, diverge das pro-postasdaartedomodernismobrasileirodasprimeirasdcadasdosculoXX,quebuscavam formas mais geometrizadas e temas ligados indstria e modernizao.Entre os assuntos cotidianos tratados pelos santelenistas encontra-se, por exemplo,o gnero da pintura de paisagens. Esse gnero artstico representa espaos externosnaturaisouconstrudosobservadosapartirdeumpontodevista.4Podemoscom-preenderapinturadepaisagenscomooregistrofieldascaractersticasdeumter-ritrio ou podemos perceb-la como uma imagem melhorada de determinado local,numatentativadecriarumarepresentaoidealizada.Aspinturasdepaisagemsedistinguem pelo assunto que retratam, podendo ser paisagens rurais, marinhas ouurbanas, como a que reproduzimos no verso.Leitura de imagemApartirdessapaisagemurbana,propomosumdilogocomosparticipantesdogrupo, abordando tanto os elementos visveis da imagem, como cores, formas, fi-guras, quanto os sentimentos e sensaes que a imagem evoca, buscando nessaassociaotrazertonaoscontedosdememriaeexperinciadospartici-pantes.O que mais chama sua ateno na imagem? Por qu?Esta imagem lembra algum lugar em que vocs estiveram? Qual? Vocs gostariam de viver num lugar como esse? Por qu?Que elementos (construes, plantas, figuras humanas, objetos etc.) podemos re-conhecer nesta paisagem?possvelperceberelementosqueaparecemmaisabaixoeoutrosmaisacima?Quais so eles?A partir de que lugar o artista parece ter observado esta paisagem? Como o artista nos transmite a idia de que essas ruas so ladeiras?Que cores podemos ver na imagem?Percebamavariedadedeconstrues.Elasparecemtersidofeitasnamesmapoca? Qual parece mais antiga ou mais recente? Por qu?Com que materiais as construes parecem ter sido feitas?Almdaruarepresentadanocentrodaimagem,podemosperceberoutraspas-sagens por onde poderamos andar? Quais?Esta imagem revela o interesse de Rossi Osir em representar fielmente a realida-de,escolhendodeformacuidadosaolocaleoselementosquecompemapai-sagem. possvelqueoartistatenhaobservadoestaesquina,dobairrocariocadeSantaTeresa,duranteumadesuasvriasviagensaoRiodeJaneiro,quandoestava produzindo o painel de azulejos para o prdio do Ministrio da Educaoe Sade. Aopintar,Osirbuscavaafidelidadeemrelaoaoreal,oquenosindicaqueestapaisagem de fato existiu. Pela variedade dos estilos arquitetnicos representados, possvelperceberumpoucodahistriadaformaodessebairro,localizadoemuma colina prxima ao bairro da Lapa, na regio central da cidade. Desenvolvido apartirdoconventodosculoXVIIIdemesmonome,essebairrofoiinicialmentehabitado pela classe alta, que ali construiu vrios casares inspirados na arquitetu-ra francesa da poca, muitos dos quais existem at hoje.Se achar pertinente, o educador pode conduzir um exerccio em que se imaginem osespaos internos das casas representadas.Embora aparea parcialmente no canto inferior direito da imagem, o bonde de SantaTeresa d nome a esta obra. Esse meio de transporte circula pelo bairro desde 1896e se transformou em seu smbolo, tanto assim que o nico ainda hoje em funciona-mento no Rio de Janeiro. Qual parece ser o assunto principal da imagem?Qual ttulo vocs dariam a esta imagem? Por qu?Podemos perceber movimento na cena? Onde?Para onde parece ir o bonde?Quem poderia ser a figura masculina encostada no poste?O que ele parece estar fazendo?Quais sensaes esta imagem nos transmite?A forma como o artista organizou os elementos que compem a imagem favorece asensaoagradvelquetemosaoobserv-la?Queoutroselementosvocsapon-tariam que tambm favorecem essa sensao? 1) A partir das reflexes desenvolvidas na leitura da imagem, proponha aos partici-pantesdogrupoqueescolhamumdoselementosanalisadosdestapaisagem.Reproduza-o em fotocpia, recorte-o e pea para que colem esse elemento numafolha de papel A4, e complementem a paisagem a partir dele. Lembre que no setrata de reproduzir a paisagem do Bonde de Santa Teresa, mas de criar uma novapaisagem a partir da imaginao de cada um.2) Proponha ao grupo a criao de uma histria coletiva pensando a imagem comoambiente,incluindoasfigurashumanasrepresentadascomopossveispersona-gens.Paraqueessapropostasetornemaisdinmica,cadaintegrantedogrupodeve dar seqncia ao raciocnio do colega que o precedeu. 3) Pela sensao de prazer que a imagem capaz de suscitar, sugerimos que os par-ticipantes representem uma paisagem que gostariam de ver a partir de sua janela.Para tanto podem utilizar-se tcnicas diferenciadas, como desenho, pintura, foto-grafia ou recorte e colagem.4) EmfunodaprticadeRossiOsirdeassociaraexpressoartsticasuaapli-cao industrial, como na produo de azulejos decorativos, sugerimos que a par-tir de recortes de papel de tamanho 15 x 15 cm se proponha aos participantes dogrupo a criao de uma paisagem num mural, no qual cada recorte pode ser umaimagem independente ou a somatria dos recortes pode compor uma nica pai-sagem. Se houver condies, esse mural pode ser executado posteriormente emazulejos e aplicado parede do espao de encontro do grupo. Para trabalhar esta imagem com crianasProcure explorar as possibilidades de compreenso desta imagem como cenrio deuma histria. A partir disso, estimule o grupo a criar narrativas individuais ou coleti-vas. Se considerar apropriado, pode-se depois encenar as narrativas criadas. Para trabalhar esta imagem com jovensA imagem pode parecer antiquada aos jovens, apesar de retratar um bairro cariocaque ainda hoje mantm caractersticas de outra poca. Proponha que cada um sele-cioneapartirdesuavidacotidianaumaesquinaemparticular,quepodeserdasredondezasdeondemoraoudocentrodacidade.Conduzaaatividadeparaquecada participante desenvolva uma representao do local selecionado, incorporan-do aspectos geogrficos e arquitetnicos, e indicando as atividades que ali se desen-volvem.Seconsiderarapropriado,ultrapasseesseselementosembuscadeumasensao que o local escolhido transmite.Paulo Cludio Rossi OsirBonde de Santa Teresa, 1946, leo sobre tela, 45 x 57 cm.acervo Pinacoteca do Estado de So Paulo1Este edifcio, atualmente ocupado por organizaes ligadas ao Ministrio da Cultura, representa, naarquitetura brasileira, uma edificao smbolo, tanto da arquitetura e arte modernas quanto do governoVargas. Ver LOURENO (2002), p. 25.2Entre os participantes do Grupo Santa Helena estavam os artistas Alfredo Volpi, Clvis Graciano, FlvioPennacchi, Mario Zanini e Francisco Rebolo.3FREIRE e COSTA (2002), p. 22.4PINACOTECA DO ESTADO DE SO PAULO (2003a).Propostas poticasarTe+Tomie OhtakePintura, 1969, leo sobre tela, 135 x 135 cm.acervo Pinacoteca do Estado de So PauloPara trabalhar esta imagem com jovensTrabalhareducativamentecomestaimagemumdesafio,poismaisfcilparaamaioria das pessoas gostar de imagens figurativas, aquelas que representam coisasdarealidade.Esta,aocontrrio,umaimagemabstrata,quenorepresentaalgoreconhecvel do mundo real. Por isso comum, diante delas, que as pessoas sejamtomadas por uma sensao de estranhamento, procurando referncias a partir dasquais possam atribuir algum sentido imagem. Escolhemos esta imagem porque, embora ela no imite a realidade, percebemos queoferece a possibilidade de ser associada a diversas outras imagens, objetos e coisasreconhecveis. Embora de difcil identificao imediata, grande parte de suas obras [de Tomie], []tem inspiraes nas coisas (pedras, artefatos e utenslios diversos), nos seres vivos(conchas,corpohumano)enapaisagem (ocorrnciasgeogrficas,vodeumps-saro, corpos celestes sol e lua).1Porm, importante notar que as associaes surgidas diante da imagem so bas-tante pessoais e diferenciadas, revelando a subjetividade dos observadores. Esse um dos aspectos que podemos explorar ao valorizar a variedade de interpretaespossveis para esta imagem. Sobre a artista e a obraTomie Ohtake nasceu no Japo e veio para o Brasil em 1936, aos 23 anos de idade,residindo em So Paulo desde ento. Aqui se casou e teve dois filhos, num cotidianodedona-de-casa.Elainiciousuacarreiraartsticaem1951,aos38anosdeidade,apsfazerumrpidocursodepinturacomoartistajaponsKeisukeSugano,queexpunha sua obra no Brasil.Tomieiniciasuaproduocompinturasfigurativas,retratandoapaisagemdesuavizinhana, no bairro da Mooca, mas rapidamente orienta-se para a pintura abstrata,para ela a mais propcia a expressar suas sensaes e impresses sobre o mundo.A maior parte dos estudiosos reconhece a presena marcante da cultura japonesa naproduo de Tomie. Sobre isso, ela mesma afirmou: A minha obra ocidental, pormsofre grande influncia japonesa, reflexo de minha formao. Essa influncia se verifi-canaprocuradesntese:poucoselementosdevemdizermuitacoisa.Napoesiahaikai,2porexemplo,fala-sedomundoem17slabas.Sendopoucososelementos,eles devem ser muito precisos, tanto na forma quanto nas cores e nas relaes.3Leitura de imagemAsobrasde Tomietransitamentreoreconhecveleono-reconhecvel,trazendoele-mentos da cultura japonesa, mas mesclando-os com as tradies da arte ocidental. Suabusca pela sntese entre formas e cores nos estimula a realizar as seguintes questes:O que vocs vem nesta imagem? Existe algo reconhecvel?O que essas formas parecem? Elas lembram algo? O qu? Serfcilperceber,japartirdessasquestesiniciais,avariedadederespostaspossveisdiantedaimagem.Estimuleogrupoareconheceressavariedade,bemcomo o fato de que no h uma resposta melhor ou mais verdadeira que outra. Quais cores so usadas?Conduza a investigao para que o grupo perceba que as cores escolhidas pela artistaparacomporestaimagemsotratadasdeformasdiferentes:aspartesamarelasebrancas so mais uniformes do que a parte em cinza, que aparece mais manchada.Qual a diferena da forma amarela para um quadrado?Como a forma do centro da imagem?Qual a diferena entre as formas geomtricas regulares (quadrado e crculo) e estascriadas pela artista?As formas utilizadas pela artista, embora se assemelhem s geomtricas, so trata-das de maneira mais solta; por exemplo, podemos perceber que para construir o cr-culo do centro da imagem, bem como o quadrado, no parecem ter sido utiliza-dos instrumentos de preciso como o compasso e a rgua.Qualasensaocausadapelalinhabrancaverticalqueatravessaestasduasfor-mas? E ao observar a obra como um todo?Considerando as respostas das questes anteriores, qual ttulo vocs dariam a essaimagem? Por qu?Em obras abstratas bastante comum que os artistas deixem de dar ttulos a seustrabalhos,oferecendoaosobservadoresmaiorespossibilidadesinterpretativas,comonocasodeTomie,queoptapornome-lapelatcnicaartsticaempregada:pintura. A prpria artista diz: No coloco ttulo na obra porque a pessoa fica muitoimpressionada e fica pensando no ttulo e no na obra.4Dica!Proponha uma leitura que relacione essa imagem e a de Rubem Valentim, presentenestematerial,paracompararasdiferentespossibilidadesdeutilizaodeformasgeomtricasnaconstruodeobrasartsticaseasdiferentessensaescausadasporelas.Normalmentechamamosasobrasabstratasqueseutilizamdorigordasformas geomtricas de abstratas geomtricas, em diferenciao quelas que explo-ram formas mais orgnicas, muitas vezes tratadas de maneira gestual, chamadas deobras abstratas informais ou lricas.Propostas poticas1) Apartirdasrespostassquestesqueinvestigamassensaesdiantedaimagem,selecionealgumaspalavrascitadaspelogrupo.Proponhaaospartici-pantes que, em grupos, criem gestos tendo como foco as palavras selecionadas. possvel tambm propor que alm dos gestos os grupos criem sons capazes dese referir imagem. Sugira uma apresentao aos demais colegas dos resultadosdaassociaoentregestosesonsdosdiversosgrupos.Lembramosquenohaprendizagem separada do prazer de aprender. Os jovens diferem uns dos outrosem seus temperamentos, por isso salientamos que devem participar da apresen-tao apenas aqueles que se sentirem vontade para isso.2) Aindacomaspalavrascomoreferncia,proponhaaelesquecriemimagensuti-lizando quaisquer tcnicas, que podem ser figurativas ou abstratas. 3) Outra opo compor com as palavras selecionadas um poema para esta imagemde TomieOhtake,oumesmoumhaicai!Seacharoportuno,sugiraaogrupoquecomponha um poema com apenas 17 slabas, como nos haicais tradicionais. Complemente essa sugesto com a possibilidade de criar imagens figurativas ouabstratas a partir dos haicais que selecionamos abaixo:Comea a ventar:o velho apanha o casaco,o menino, a pipa.Neusa Peanhacortinas de sedao vento entrasem pedir licena.Paulo LeminskiPara trabalhar esta imagem com crianasProponha esta imagem como um jogo de formas articuladas, de maneira a gerar re-flexes sobre encaixes de formas e cores. Se possvel, utilize papis coloridos recor-tados com formas, cores e texturas distintas.Para trabalhar esta imagem com adultosUtilize as sugestes que propomos para os jovens, porm investigue mais a fundo ashistrias, situaes e memrias suscitadas pela leitura desta imagem.1CHAIA (2001), p. 224.2Haicai um poema de origem japonesa que chegou ao Brasil no incio do sculo XX e hoje conta commuitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japo conhecido como haiku. O haicai clssico japonsobedece a quatro regras: consiste em 17 slabas japonesas, divididas em trs versos de 5, 7 e 5 slabas;contmalguma referncia natureza (diferente da natureza humana); refere-se a umevento particular (ouseja, no uma generalizao); apresenta um evento como acontecendo agora, e no no passado.Quando feito em outros pases, algumas das regras anteriores so seguidas com maior ou menor fideli-dade, enquanto outras podem ser mesmo ignoradas, dependendo de cada poeta ou da escola seguida.Fonte: http://www.kakinet.com/caqui/nyumon.htm3MORAIS (2001b), p. 135.4Ver catlogo da exposio Tomie Ohtake na trama espiritual da arte brasileira. So Paulo: Instituto TomieOhtake, 2004, p. 27.arTe+Rubem ValentimSrie emblemas, 30/120, 1989, serigrafia a cores, 88,4 x 60 cm.acervo Pinacoteca do Estado de So PauloPara trabalhar esta imagem com jovensDiante das obras de Rubem Valentim, h nos jovens um estmulo curiosidade, pois almde as imagens serem chamativas pelas formas e cores utilizadas pelo artista, provocam asensao de que so conhecidas, porm difceis de identificar com preciso.Essasensaocausada,emparte,peloreconhecimentoparcialdasformasquecom-pem a imagem, uma vez que o artista as simplifica e geometriza, utilizando-se de formasessenciais (crculo, tringulo etc.). A inteno de Rubem Valentim de construir em suas obras um alfabeto simblico visual,uma espcie de cdigo, uma linguagem particular, interessa principalmente ao jovem, emseu momento de buscar afinidades com seus pares e organizar-se em grupos, as famosastribos.comumessesgruposcriaremformasprpriasdeexpressoecomunicao,em busca de uma identidade particular.Sobre o artista e a obraO artista Ben Fonteles, ao falar sobre a obra do amigo baiano Rubem Valentim, acreditaque ela seja resultado da combinao das influncias de suas visitas com o pai aos rituaisdo candombl, onde ficou impactado pelos ritmos, pelas vestimentas e pelos ferros quesimbolizavam os orixs; das sacras e dramticas procisses catlicas e festas popularesde Salvador; da cor e da forma bsicas dos brinquedos populares e da cermica utilitriado Recncavo Baiano.1Sobre isso, o prprio Valentim diz: A minha arte vem do povo, tem influncia do afro-bra-sileiro,daartepopular.Issotudoeurecrio,transportoparaumalinguagemcontempo-rnea universal .2Aobracujaimagemapresentamosaquifoifeitacomatcnicadaserigrafia,umtipodegravura. A gravura uma linguagem artstica na qual desenhos so feitos em superfcies como madeira, tecido, pedra e metal , a partir de incises, corroses e talhos realizadoscominstrumentosemateriaisespeciais,quepermitemareproduodaimagem.3Asvrias cpias resultantes, assinadas e numeradas pelo artista (que chamamos de tiragem),constituemumasrie;nestecaso,agravurapertencentePinacotecaa30das120cpias feitas pelo artista.Isso demonstra a opo do artista em utilizar uma tcnica que permite a reproduo daimagem, podendo democratiz-la ao oferecer a possibilidade de que mais pessoas vejamou tenham acesso a essa obra. Essa tcnica tambm utilizada em processos semi-indus-triais, como estamparia de camisetas, por exemplo.Leitura de imagemOstrabalhosdeValentimpartemderefernciasdamemriadesuavidaeorigens,mescladas construo de um repertrio de smbolos e cores em inmeras combinaes.A partir dessas constataes sugerimos a seguinte leitura da imagem:Vocs j viram uma imagem como esta? Onde? Com o que se parece?Reparem nas formas que aparecem na imagem. Quais delas vocs identificam?Quantas vezes as formas se repetem? Estasformasparecemtersidoorganizadasdeumamaneiraintencionalpeloartista?Como podemos perceber isso?Quais cores se repetem? As cores combinam entre si? Por qu?O que as formas e cores escolhidas pelo artista podem significar? Que sensaes estas cores nos causam?O crtico de arte Frederico Morais fala acerca das imagens criadas pelo artista como signosplsticosqueremetemscivilizaesarcaicas,mastambmrealidadedosdiasatuaismquinas,logotipos,marcas,formasindustriais,sinais.Peloladoremoto,aludemasitua-es vitais bsicas e que na memria do tempo constituem o ncleo da prpria existncia.Valem como representaes estilizadas do homem, da mulher (e do sexo), da casa, do pssa-ro (movimento, vo), da gua (barcos), da terra e da vegetao, da religio (cruz, templos).4DiantedasimagensdeRubemValentim,comumquensbrasileiros,dediferentesidades e origens, tenhamos uma sensao de reconhecimento. Isso se deve ao fato de oartista utilizar formas e cores elementares, ou seja, as mais simples, e que portanto foraminfinitas vezes usadas por todas as culturas que participam da nossa formao. Ao analisar a imagem percebemos, entre outras formas marcantes, crculos concntricos,que na tradio religiosa afro-brasileira podem simbolizar o abeb, espcie de espelho elequedosorixsIemanjeOxum.Osdoistringulosunidosporumdosvrtices,bemcomo outras formas semelhantes, simbolizam de maneira estilizada o machado duplo deXang. As recorrentes setas podem nos remeter s flechas de Oxossi,5mas tambm dire-cionam nosso olhar. Algumas apontam para baixo, outras se irradiam a partir do centro.Essasformassotrabalhadasemcorescomplementares, realandoocontrasteentreelas, criando uma relao entre positivo e negativo/figura e fundo.Ver a imagem invertida muda nossa percepo sobre ela? De que maneira?Temos a sensao de equilbrio ou desequilbrio ao vermos a imagem? Por qu?A parte de baixo da imagem em forma de meia-lua influi nessa sensao? Por qu?Asensaodeequilbriocausadaprecria,umavezquetodaaestruturadaimagempareceapoiar-sesobreumpontodeumsemicrculo.visvelaindaosentidoverticalcomoreferncianaconstruodaimagem,oquereforaumaaparnciaimponente,levando idia de totem ou altar. curioso como esta imagem resume duas sensaesopostas: instabilidade e solidez.O artista, ao falar sobre sua obra, diz que: Intuindo o meu caminho entre o popular e o eru-dito, a fonte e o refinamento e depois de haver feito algumas composies, j bastante dis-ciplinadas,comex-votos,passeiavernosinstrumentossimblicos,nasferramentasdocandombl,nosabebs,nospaxors,nosoxs,6umtipodefala,umapoticavisualbrasileiracapazdeconfiguraresintetizaradequadamentetodooncleodemeuinteressecomoartista.Oqueeuqueriaecontinuoquerendoestabelecerumdesign(RISCADURABRASILEIRA), uma estrutura apta a revelar a nossa realidade a minha, pelo menos em ter-mos de ordem sensvel[] Isso tudo partindo das formas vivas da fala no-verbal do nossopovo, de uma potica visual brasileira, da iconologia afro-amerndia-nordestina.7A repetio das formas e cores e suas combinaes podem funcionar como uma espciede alfabeto visual. Pensando dessa maneira, o que esta imagem pode comunicar?Propostas poticas1) A partir das investigaes realizadas sobre esta imagem e seus possveis significados, pro-ponhaaosparticipantesquecriemindividualmentesmbolosapartirdastrsformasgeomtricas bsicas (crculo, tringulo e quadrado). Esses smbolos devem buscar traduzira identidade particular de cada educando, ou seja, como cada um se representa, utilizan-do para tanto diferentes composies (combinaes de formas e cores). Apresente as ima-gensproduzidas,semasidentificar,atodoogrupo,epeaaelesquerelacionemasimagens a seus possveis autores, explicitando o porqu das relaes. O importante aquinoacertarqueautorfezqualimagem,massimperceberapossibilidadeinfinitaderecombinaes e a construo de significados por meio desse cdigo. Depois, devolvaas imagens a seus autores, estimulando-os a compartilhar os motivos de cada construo. 2) Percebendo que as bases da obra de Valentim encontram-se em suas vivncias com aculturapopular,busqueemsuacomunidaderefernciasparticulareseapartirdelasproponha ao grupo que, como o artista, crie smbolos para a construo de um alfa-beto visual, ou seja, um alfabeto sem letras. Experimente com eles as diferentes pos-sibilidades de combinao dos elementos para a criao dos smbolos, que no neces-sariamente precisam ser feitos apenas com formas geomtricas. Lembre tambm que,por ser um alfabeto, diferentes combinaes dos smbolos podem gerar diferentes sen-tidos.Apartirdessaconstruo,peaaogrupoqueorganizeessessmbolosnummural coletivo que lhes transmita uma idia relevante.3)Asidiasacimapodemserdesdobradascomautilizaodetcnicasdegravura.Experimente usar como matriz placas de isopor (feitas com as bandejas de embalagensde frios), nas quais as incises so feitas por meio do corte. Como tinta sobre a matrizpodeserutilizadooguache.Tambmpossvelfazerserigrafias.Tantoossmbolospessoaisquantooresultadodomuralsoimagenspossveisdeseremreproduzidaspor essa tcnica. Assim, pode-se sugerir que sejam impressas em camisetas, adesivos,papis etc., criando uma espcie de logotipo ou marca dos indivduos ou do grupo.Para trabalhar esta imagem com crianasA grande variedade de formas e cores da imagem, combinadas entre si, pode ser percebi-da como um jogo grfico. Assim, explore com seu grupo aspectos das relaes entre asformas e as cores, repetio de formas, sensaes de equilbrio e desequilbrio etc. Pro-ponhamontagensapartirderecortesdeformasgeomtricasempapisdediferentescores e tamanhos, explorando as diferenas entre os resultados.Dica! Ultrapasseaexploraobidimensional eproponhajogosdeformasecoresemcons-truestridimensionais,comoosjogosdemontar,comvolumesgeomtricossimplescomo o cubo, o paralelogramo, a esfera etc. Para trabalhar esta imagem com adultosParagruposdeadultos,sugerimosacompanharassugestesdadasaosjovens,pormexplorando mais densamente a busca por elementos do conhecimento prvio e da memria.Assim, investigue com o grupo os smbolos presentes na imagem, a fim de perceber se essessmbolos so possveis de serem reconhecidos ou se j foram vistos em outro contexto, apro-fundando a investigao a respeito dos possveis significados de suas memrias.1FONTELES (2001), p. 24. 2Ver A arte semitica, 23/8/1981.3Enciclopdia de Artes Visuais, www.itaucultural.org.br4MORAIS (2001a), p. 55. 5Os orixs so divindades da cultura Yoruba (oriunda da regio que atualmente compreende parte da Nigria e daRepblica do Benin), que representam as foras da natureza e que servem de intermedirios entre os homens eodesconhecido.Elespodemserrepresentadosporobjetos,suportesdesuaforaespiritual,comonocasodoarco-e-flecha de ferro de Oxossi, orix da caa. Iemanj originalmente o orix das guas doces e salgadas, sendoque no Brasil mais cultuada como divindade do mar; Oxum o orix do rio de mesmo nome que corre na Nigria,e no Brasil cultuada como a divindade das guas doces; Xang o orix do trovo. Ver VERGER (1999). 6Paxor o cajado utilizado por Oxal; ox o machado duplo de Xang. Fonte: www.wikipedia.org.7VALENTIM (2001), p. 29.arTe+