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Vladimir Sobral de Souza Centro Universitário de João Pessoa - Unipê [email protected] Mapa climático urbano da cidade de João Pessoa/PB. Lutz Katzschner Universidade de Kassel [email protected] 1622

Mapa climático urbano da cidade de João Pessoa/PB.Fundada em 05 de Agosto de 1585, a cidade de João Pessoa está localizada na zona costeira do estado da Paraíba distribuída em

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Vladimir Sobral de Souza

Centro Universitário de João Pessoa - Unipê

[email protected]

Mapa climático urbano da cidade de João Pessoa/PB.

Lutz Katzschner

Universidade de Kassel

[email protected]

1622

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8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

MAPA CLIMÁTICO URBANO DA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB.

V. S. Souza, L. Katzschner

RESUMO

A proposta deste trabalho é elaborar um mapa climático urbano para a cidade de João

Pessoa/PB, a partir de análises de aspectos físicos que se inter-relacionam e influenciam o

clima local. Para tanto, utilizou-se de metodologia alemã de construção de mapas climáticos

que caracteriza o clima de ambientes urbanos segundo uma consideração do balanço de

energia da cidade, determinado pela sua carga térmica e potencial dinâmico. Deste modo,

realizaram-se a classificação e a valoração de áreas da cidade segundo suas capacidades de

elevação da temperatura do ar e de obstrução dos escoamentos dos ventos. Estas avaliações

foram fundamentadas no conhecimento científico do comportamento de regiões

homogêneas do ponto de vista climático (topoclimas). Para o gerenciamento e a apresentação

das informações do espaço geográfico estudado, empregou-se o Sistema de Informação

Geográfica (SIG) que é amplamente utilizado nos estudos de mapeamento urbano.

1 INTRODUÇÃO

De um total de 6,6 bilhões em 2007, a população mundial está projetada para aumentar para

8,2 bilhões em 2025 segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Isto significa

que haverá um aumento da proporção de habitantes urbanos da ordem de 45 para 65 porcento

no mesmo período. Logo percebe-se que a maioria da população mundial irá viver e

desenvolver todas as suas atividades sob a influência de um clima tipicamente urbano (Barry

e Chorley, 2010).

O caráter do clima urbano é, primeiramente, devido ao tamanho da cidade, mas a topografia,

a vegetação, a forma urbana, permeabilidade do solo e a proporção entre espaços abertos

(campos, praças, corpos d’água, entre outros) e áreas edificadas determinam suas principais

características. Com o aumento da estrutura urbana, mais extensa e densa, as cidades afetam,

significativamente, a dinâmica da superfície atmosférica e, consequentemente, modificam o

clima local. Modificação no balanço de calor urbano, regiões com temperaturas elevadas

(ilha de calor urbano), redução da umidade do ar, aumento das precipitações, mudança nos

fluxos de ventos, inversões térmicas e poluição do ar foram constatadas em inúmeras

pesquisas no campo da climatologia urbana (Monteiro, 1975).

Estas alterações climáticas podem causar adversidades para os habitantes de uma cidade,

afetando negativamente tanto as reações humanas físicas e psicológicas (produtividade,

saúde, energia mental e física) como a própria estrutura urbana por meio da elevação da

temperatura do ar, de rajadas de ventos incômodas, do aumento do consumo de energia e de

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implicações na higiene do ar (Olgyay, 1988). Situações como estas reforçam a necessidade

do entendimento das variáveis climáticas no planejamento urbano para a mitigação dos

efeitos adversos da urbanização.

Um planejamento urbano consciente do clima precisa garantir um menor impacto ambiental

decorrente das transformações urbanas, buscando por meio de suas ferramentas de

ordenamento do município, adequar o ambiente construído às exigências de conforto

humano, proteger e desenvolver os recursos naturais (também no que se diz respeito ao

clima), promover a redução do consumo de energia e ordenar adequadamente o padrão

urbano (Higueras, 2006).

Os estudos iniciais de ordenamento urbano pautado em questões climáticas surgiram na

Alemanha, respaldados por um conjunto de fatores entre eles: o serviço meteorológico

nacional, o governo local, as pesquisas de campo acadêmicas e, principalmente, a

administração pública (Schirmer, 1976, 1984; Weischet, 1980). A partir deste contexto

multidisciplinar é proposto o Atlas do Clima, que integrava o emprego de mapas temáticos

representando aspectos do clima local (topoclimas) no planejamento da cidade

(Wirtschaftsministerium Baden-Württemberg,1995).

O trabalho pioneiro foi realizado na cidade de Stuttgart. No ano de 1938 estabeleceu-se pela

primeira vez uma Agência de Proteção Ambiental, incluindo um meteorologista municipal

para lidar com os aspectos relacionados à poluição de seu Estatuto de Construção Urbana de

1935. Em 1993, a metodologia do Atlas do Clima foi adotada como padrão nacional alemão

pelos Mapas de Meteorologia Ambiental, Clima e Poluição Atmosférica da Verein

Deutscher Ingenieure (VDI-37871) para cidades e regiões (Hebbert, 2014).

De acordo com as leis alemãs o ar e o clima têm que ser considerados no planejamento

urbano, a fim de assegurar o bem-estar dos cidadãos e promover a redução no consumo de

energia das cidades (VDI, 2015). A Lei requer que as condições higiênicas e climáticas

existentes não devam ser pioradas. Isto significa que o Governo Alemão ou as comunidades

deveriam ter ferramentas de informações adequadas na avaliação dos planos urbanos, o qual

poderia ser alcançado por meio de mapas que representassem o clima urbano (Departamento

de Planejamento de Hong Kong, 2006).

Em Portugal a partir de trabalhos de doutoramento e mestrado com foco na investigação do

clima urbano da capital desenvolve-se o projeto Princípios climáticos para o planejamento

urbano. Aplicação a Lisboa” (CLIMLIS). Com o sucesso do trabalho a câmara municipal

da cidade apoia o início de outro projeto intitulado Orientações climáticas para o

planeamento e o ordenamento em Lisboa, que se utiliza de mapas de clima para esta

finalidade (Alcoforado et al, 2005).

O conceito do mapa climático urbano (urban climatic map – UCMap) consiste em uma série

de camadas de dados espaciais (mapas analíticos) que contém informações do clima, dados

geográficos do terreno, informações sobre vegetação e parâmetros de planejamento.

Segundo as leis alemãs define-se o UCMap como uma ferramenta de informação e avaliação

para integrar fatores climáticos urbanos e considerações de planejamento urbano,

apresentando fenômenos e problemas climáticos em mapas espaciais bidimensionais. Sua

1 VDI – 3787 Part 1 Environmental meteorology – climate and air pollution maps for cities and regions, 1997.

VDI – 3787 Part 2 Environmental meteorology – methods for the human bio-meteorological evaluation of

climate and air quality for urban and regional planning at regional level, 1998.

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escala varia de 1:100.000 a 1:5000, o que poderia ser usado no planejamento espacial de

nível regional para distrital.

O UCMap pode ser composto em dois mapas individuais, nomeadamente Mapa de Análise

Climática Urbana (Urban climatic analysis map - UC-AnMap) e Mapa de Recomendação

Climática Urbana (Urban climatic recommendation map - UC-ReMap). O UC-AnMap

contém informações do clima e da estrutura física da cidade com foco na caracterização do

clima urbano da região. O outro mapa, UC-ReMap, contém recomendações estratégicas de

planejamento urbano para cada topoclima, a fim de melhorar os espaços do ponto de vista

do conforto humano (NG et al, 2007).

Segundo Ren et al (2011), em meados da década de 1980, inúmeros países europeus iniciam

estudos acerca de Mapas Climáticos Urbanos, entre eles Suíça, Áustria, Suécia, Hungria e

Reino Unido. Já na década de 2000 outros países passam a integrar em seu planejamento

urbano a estrutura do UCMap, entre eles a França que conduziu pesquisas para entender as

ondas de calor ocorridas no ano de 2003. Neste projeto, os dados de excesso de mortalidade,

juntamente com parâmetros ambientais selecionados, tipos de materiais dos telhados, dados

das construções, áreas verdes e corpos d’água foram considerados e mapeados como

camadas de análise de entrada.

Na Ásia, o país pioneiro em estudos do UCMap, apoiado por pesquisadores alemães, é o

Japão. Destaca-se o trabalho desenvolvido pelo governo metropolitano de Tóquio que,

detectando um contínuo aumento no consumo de energia e no aquecimento de áreas urbanas

(“ilha de calor”), desenvolve no ano de 2005 um mapa ambiental térmico focado na

mitigação de efeitos adversos da urbanização. Em Hong Kong, a partir de 2006 estudos são

desenvolvidos para implementar a metodologia do UCMap em áreas altamente adensadas,

buscando definir o balanço de energia da cidade por meio da carga térmica, potencial

dinâmico e informações de padrão de ventos. (Departamento de Planejamento de Hong

Kong, 2006).

Com foco principalmente acadêmico, os estudos acerca de mapas climáticos urbanos

iniciaram-se na América do Sul em meados de 2000. A cidade de Salvador (BA) é a pioneira

no desenvolvimento desta metodologia apresentada por Katzschner em 2005 (Nery et al,

2006). Posteriormente pesquisas desenvolvidas nas cidades de João Pessoa e Belo Horizonte

desenvolvem mapas utilizando-se de dados espaciais e climáticos tratados em ambiente SIG

(Ferreira et al, 2016). Já na cidade de Campinas Prata-Shimomura et al (2015) adiciona

dados de vento e informações de topoclimas para o desenvolvimento do mapa climático da

cidade.

Nos primeiros anos, os mapas climáticos urbanos foram inicialmente desenhados à mão. A

partir da evolução das ferramentas SIG, a partir da década de 1990 o desenvolvimento de

UCMaps passa a ser realizados também neste ambiente computacional (Burghardt, 2015).

Com este recurso os mapas tornam-se ferramentas mais práticas e precisas nos estudos do

planejamento da cidade pois passaram a representar de maneira clara e fácil os múltiplos e

diversos aspectos, propriedades e graus de intensidade de fenômenos urbanos. Fenômenos

estes que demandam celeridade de atualizações em suas informações.

Percebendo-se a importância do Mapa Climático Urbano como uma importante ferramenta

de gestão urbana, uma vez que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos e

construir um referencial futuro para as cidades, no que diz respeito à busca por mudanças na

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morfologia urbana e nas diretrizes urbanísticas para um melhor aproveitamento do uso e

ocupação do solo quanto aos aspectos do clima é que se buscou desenvolver este trabalho.

2 ÁREA DE ESTUDO

Fundada em 05 de Agosto de 1585, a cidade de João Pessoa está localizada na zona costeira

do estado da Paraíba distribuída em uma área de 210,45km² (Figura 1). Considerada uma

cidade de porte médio, é a cidade mais populosa do estado com 723.515 habitantes e uma

densidade demográfica de 3.421hab/km² (Censo 2010 – IBGE). Localiza-se próxima a linha

do Equador recebendo uma radiação solar próxima das 3000 horas anuais. Este fato

determina um clima quente, caracterizado por uma temperatura média anual de 26°C e um

regime de ventos predominantemente diário correspondendo durante todo o ano aos ventos

alísios de sudeste (Silva,1999).

.

Fig. 1 Localização da cidade de João Pessoa - Paraíba.

3 MATERIAS, MÉTODOS E TÉCNICAS

Para a realização deste estudo foram utilizados dados espaciais e climáticos referentes a

aspectos da estrutura urbana e que se relacionam com o balanço de energia da cidade. Os

dados coletados foram: Mapa básico de uso e ocupação do solo, Mapa urbano digital; Mapa

de projeção horizontal das edificações, Mapa Hipsométrico, Cartas Imagem Quickbird e

Imagens de Satélite do programa GoogleEarth.

A elaboração do mapa climático urbano da cidade de João Pessoa baseia-se no sistema de

classificação climática de áreas da cidade, metodologia alemã que adota o conceito de

topoclimas, diante de sua importância no conforto térmico e na qualidade do ar. Está

relacionado à caracterização do clima urbano segundo consideração dos efeitos da carga

térmica e do potencial dinâmico no balanço de energia da cidade.

A carga térmica envolve a intensidade de calor emitida ou armazenada pela estrutura urbana

e tem efeito no aumento da temperatura do ar local. O potencial dinâmico de uma área

relaciona-se com a ventilação natural e é influenciado principalmente pela rugosidade do

solo que modifica o escoamento dos ventos e as trocas de ar. Estes dois aspectos são regidos

PAÍS: BRASIL ESTADO: PARAÍBA CIDADE: JOÃO PESSOA

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por diversos elementos da cidade, mas de uma forma geral, a morfologia urbana, as

características da superfície e o clima determinam a sua intensidade.

Para o tratamento dos dados obtidos e a elaboração dos mapas desenvolvidos foram

utilizados os softwares AutoCad ©2 e ArcMap ©3. Neste último realizaram-se as operações

de álgebras de mapas, a definição de áreas com características homogêneas, a determinação

das classes climáticas urbanas e o mapa final, objeto deste estudo.

3.1 Sistema de classificação climática e camadas.

As características físicas urbanas avaliadas no sistema de classificação climática para

caracterizar a carga térmica de uma dada região consideram o volume das construções, a

topografia e a disponibilidade de espaços verdes. Quanto ao potencial dinâmico de uma área,

aspectos da cobertura do solo, da paisagem natural e dos espaços abertos (locais com baixa

obstrução aos ventos) são observados.

Com base no conhecimento científico dos efeitos positivos e negativos de critérios físicos

da cidade no conforto térmico e consequente, pode-se representar espacialmente a

classificação climática das regiões da cidade por meio de mapas temáticos. Estes mapas, no

sistema de classificação, são considerados camadas pois serão sobrepostos e darão origem

ao Mapa climático urbano (Tabela 1).

3.2 Descrição das camadas e mapas

Para a caracterização dos aspectos da carga térmica e do potencial dinâmico realizou-se a

identificação, classificação e valoração de áreas que contribuem, de forma positiva ou

negativa, no balanço de energia da cidade. Para cada camada do sistema de classificação

climática, foi desenvolvido um mapa temático representando os valores de classificação.

Seis mapas foram desenvolvidos em formato de imagem raster com resolução espacial de

100m como visto na Figura 2.

2 AutoCad © - software do tipo CAD (computer aided design). Ainda que não seja um software específico para o tratamento

de mapas, ainda é amplamente utilizado no Brasil em departamentos públicos de planejamento urbano. 3 ArcMap © - software do tipo SIG (Sistema de Informação Geográfica).

Tabela 1 Descrição sintética do sistema de classificação climática

Balanço

de energia

Aspecto do clima

urbano

Característica

física urbana

Efeito no

conforto térmico Camada

Carga

térmica

Armazenamento de

calor

Volume de

Construções Negativo

1. Mapa de

Volume de Construções

Resfriamento

adiabático do ar

Altitude e

elevação Positivo 2. Mapa de Topografia

Resfriamento do ar Vegetação Positivo 3. Mapa de Espaços

verdes

Potencial

dinâmico

Obstrução e

modificação dos

fluxos de ar

Permeabilidade

urbana Negativo

4. Mapa de

Cobertura do solo

Movimento do ar frio

pelo relevo

Topografia e

vegetação Positivo

5. Mapa de

Paisagens naturais

Trocas de massas de

ar e efeitos nas

redondezas

Espaços abertos Positivo 6. Mapa de proximidade

a espaços abertos

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Fig. 2 Estrutura de camadas do mapa climático urbano de João Pessoa/PB.

Camada 1 - mapa de volume das construções

A camada 1 refere-se à relação do volume das edificações com o armazenamento de calor.

As construções armazenam a energia solar (radiação direta e indireta) recebida durante o dia

e a liberam, gradativamente, ao longo da noite. Esta energia é responsável pela elevação da

temperatura do ar e das superfícies e precisa ser dissipada para a atmosfera, ocorrendo

principalmente à noite. Dependendo do volume que as edificações ocupem numa dada área

da cidade, elas podem obstruir o retorno da energia à atmosfera no período da noite e, diante

disso, prejudicar o resfriamento noturno. Isto também favorece o fenômeno “Ilha de Calor”

(Oke, 1981).

Para a elaboração da camada 1 foram utilizados dados de uso e ocupação do solo, a partir do

Mapa Urbano Digital da cidade, das Cartas Imagem Quickbird e de imagens de satélite do

programa GoogleEarth. Com o objetivo de determinar o volume de cada edificação

constante do Mapa Urbano digital, realizou-se um levantamento de dados em campo para

identificar o gabarito em altura das construções da cidade. Determinou-se a altura pela

contagem in loco da quantidade de pavimentos de cada construção e pela multiplicação do

dado coletado pelo valor 3 (altura média em metros de um pavimento).

No sistema de classificação climático, áreas com elevado volume de construções recebem

valores de classificação positivos por contribuírem de maneira significativa na elevação da

temperatura do ar e, de modo inverso, áreas com pouca ou nenhuma edificação recebem

valor. Na tabela 2 é demonstrado o impacto na carga térmica de áreas da cidade segundo

percentual de volume de construção e a respectiva valoração das classes climáticas numa

escala de 0 (Nenhuma construção) a 4 (alta concentração de edificações).

Carga Térmica Potencial Dinâmico

Mapa climático urbano da cidade de João Pessoa/PB.

Volume de construção

Topografia Áreas Verdes

Cobertura do solo

Paisagem Natural

Espaços abertos

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Camada 2 - mapa de topografia

A topografia pode contribuir com a redução da temperatura do ar devido a mudanças de

altitude e de relevo. Para a avaliação da capacidade da topografia de reduzir os efeitos da

carga térmica, é considerado o gradiente térmico de temperatura do ar (0,6ºC/100m) na

classificação (Barry e Chorley, 2010). Desta forma, os valores designados no sistema de

classificação para a topografia são negativos e decrescentes a partir de determinadas

altitudes.

A análise dos efeitos da topografia da cidade de João Pessoa na redução da temperatura do

ar ocorreu por meio do mapa de curvas de nível. O mapa contém a informação das cotas

topográficas de toda a extensão territorial do município de João Pessoa, variando da máxima

de 71m a mínima de -17m. Considerou-se um benefício a redução de temperatura do ar,

ainda que pequeno, a partir de 50m.

Com estas informações, procedeu-se à elaboração do Mapa de Topografia que representa a

contribuição da topografia da cidade na redução da carga térmica, delimitando áreas urbanas

com valores negativos e nulos de acordo com sua classificação climática (Tabela 3).

Camada 3 - mapa de espaços verdes

Devido ao seu poder de arrefecimento da temperatura e de renovação do ar em espaços

urbanos, os espaços verdes (florestas, matas, bosques, etc.) cooperam com a redução da

carga térmica, mitigando seus efeitos adversos. Deste modo, para áreas da cidade cobertas

por superfícies verdes é atribuído um valor negativo no sistema de classificação climática.

A partir de dados espaciais da vegetação constantes no Mapa urbano digital, nas Cartas

Imagens Quickbird e em imagens de satélite do programa GoogleEarth foram identificadas

áreas verdes de alta rugosidade da cidade (Florestas, Matas, Bosques, etc.) para em seguida,

classificá-las quanto ao seu potencial dinâmico. Na tabela 4 é apresentada a classificação

definida nesta camada. As áreas verdes receberam um valor de classificação negativo devido

a seus efeitos de amenização climática na carga térmica da cidade. Todas as demais áreas

receberam um valor nulo.

Tabela 2 Classificação da camada 1

Carga Térmica Volume de Construções em porcentagem (%) Valoração

Nenhuma 0 (nenhuma construção ou área pavimentada) 0

Muito baixa 0 - 4 1

Baixa 4 - 10 2

Média 10 - 25 3

Alta 25 - 100 4

Tabela 3 Classificação da camada 2

Efeito na Carga Térmica Intervalo de altitudes Valoração

Sim 50 - 71 -1

Não 0 - 50 0

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Camada 4 - mapa de cobertura do solo

A cobertura do solo diz respeito à quantidade de solo ocupado pelas construções na cidade

e tem relação direta com a permeabilidade do vento na estrutura urbana. Em geral, o

potencial de ventilação de uma área é inversamente proporcional à cobertura do solo, ou

seja, se uma dada região apresenta um alto índice de terrenos ocupados por edificações,

provavelmente terá um baixo potencial de ventilação (Silva, 1999). Deste modo, na

classificação climática, espaços com elevado número de edificações recebem valores

negativos, pois não contribuem com o potencial dinâmico.

Para elaboração desta camada, informações do Mapa urbano digital se fizeram necessárias.

No Mapa de Cobertura do Solo são ilustradas as áreas da cidade segundo sua classificação e

valoração quanto ao seu impacto no potencial dinâmico. Áreas densas receberam um valor

nulo enquanto que áreas pouco adensadas receberam valores negativos (Tabela 5).

Camada 5 - mapa de paisagens naturais

Do ponto de vista do escoamento das correntes de vento, a vegetação rasteira presente em

campos, parques e pastos pode ser benéfica devido a sua baixa rugosidade de superfície.

Podem favorecer os movimentos de ar que têm efeito no resfriamento da temperatura do ar

da cidade. Logo contribuem com o potencial dinâmico. Entretanto, nem todo tipo de

vegetação é capaz de produzir este efeito, devido ao fato de que grandes formações vegetais

tais como florestas, matas e bosques apresentam uma rugosidade considerada elevada,

similar até ao áreas edificadas (Olgyay,1998).

Deste modo, na camada 5 caracterizou-se a vegetação natural da cidade de João Pessoa,

tomando como base o atrito (rugosidade) causado pelo dossel vegetativo aos fluxos do vento

local. Matas e bosques receberam valores de classificação nulo por não contribuírem com o

potencial dinâmico. De modo contrário, áreas cobertas por vegetação rasteira receberam

valor de classificação positivo devido à pouca obstrução aos ventos, favorecendo então o

potencial dinâmico.

Na tabela 6 é demostrada a classificação e valoração da camada 5.

Tabela 4 Classificação da camada 3

Presença de espaços verdes Valoração

Sim -1

Não 0

Tabela 5 Classificação da camada 4

Solo coberto por

edifícios

Potencial de ventilação

do ar Cobertura do solo (%) Valoração

Baixo Alto 0 -30 - 2

Médio Médio 30 – 50 - 1

Alto Baixo >50 0

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Camada 6 - mapa de proximidade à espaços abertos

Áreas urbanas localizadas próximas à orla marítima, à corpos d’água, à grandes espaços

abertos e à encostas se beneficiam dos movimentos da ventilação natural. Brisas marinhas e

movimentos de ar nas encostas são exemplos característicos destas áreas. Estas regiões

recebem uma classificação climática negativa devido a seus efeitos benéficos no potencial

dinâmico.

Para estabelecer a localização geográfica dos espaços urbanos abertos, utilizaram-se dos

dados espaciais da Camada 1 (Mapa de Volume de Construções) e da Camada 4 (Mapa de

Cobertura do Solo). Segundo o Sistema de Classificação Climática, as áreas da cidade que

obtiveram volume construído menor do que 5% na Camada 1 e cobertura de solo menor do

que 5% na Camada 4 foram classificadas como espaços urbanos abertos. A localização de

áreas intra-urbanas beneficiadas pela ventilação dos espaços abertos deu-se pela seleção de

regiões da Camada 4 com ocupação menor do que 30%. Quanto às encostas, por se tratar de

uma cidade com topografia praticamente plana, não tiveram contribuição no potencial

dinâmico.

O produto desta camada é o Mapa de Proximidade à espaços abertos. Apenas áreas com os

maiores valores negativos em cada mapa devem ser selecionadas, segundo o sistema de

classificação climático (Tabela 7).

Mapa climático urbano da cidade de João Pessoa.

Por meio da álgebra de mapas (operação adição) das camadas 1, 2 e 3 gerou-se um mapa

que representa a carga térmica da cidade com 10 classes climáticas. De modo similar, a

representação do potencial dinâmico da cidade foi determinada pela adição dos valores de

classificação das camadas 4, 5 e 6 na forma de um mapa com 06 classes climáticas.

O mapa climático urbano da cidade de João Pessoa/PB resulta da operação de adição dos

mapas de carga térmica e de potencial dinâmico. Esta operação resultou em 11 valores de

classificação climática, porém com o propósito de facilitar o entendimento dos aspectos

climáticos para o planejamento urbano, os valores extremos da escala de valores resultante

foram agrupados, enquanto que os valores médios foram mantidos. Deste agrupamento

resultaram 8 classes climáticas urbanas. Descreve-se na tabela 8 o processo desta adição e

as classes climáticas resultantes.

Tabela 6 Classificação da camada 5

Paisagem natural Valoração

Campos, pastos -1

Florestas, matas, paisagem urbana 0

Tabela 7 Classificação da camada 6

Proximidade a aberturas (Benefícios no potencial dinâmico) Valoração

Baixo 0

Médio -1

Alto -2

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Tabela 8 Operação de adição dos mapas CT e PD e classes do UCmap.

Mapa Classificação Operação de

Adição

Resultado/

Agrupamento

Classes

climáticas

Car

ga

Tér

mic

a

(CT

)

-2

-1 -6

0 -5

1 -4 1

2 -3 2

3 -2 3

4 -1 4

0 0 5

Pote

nci

al

Din

âmic

o

(PD

)

-1 1 6

-2 2 7

-3 3 8

-4 4

-5

4 RESULTADOS

O mapa climático urbano da cidade de João Pessoa, com as respectivas classes climáticas

urbanas, é apresentado na Figura 3. Áreas da cidade foram agrupadas e categorizadas

segundo suas características topoclimáticas e seus efeitos no balanço de energia térmica da

cidade. Dessa maneira, distinguiu-se, claramente por meio do mapa, quais foram as áreas da

cidade que apresentam uma implicação negativa ou positiva no balanço de energia urbano.

Fig. 3 Mapa climático urbano da cidade de João Pessoa e descrição das classes.

Classe

Impacto no

conforto

térmico

Avaliação

1 Amenização

Moderada

Muito importante

para a amenização

climática

2 Amenização

Leve

Importantes na

circulação dos

ventos

3 Neutro

Não afeta o

aumento da

temperatura do ar

4 Elevação

Leve

Relevante

influência no

clima

5 Moderado Sem altas cargas

térmicas

6 Moderado

Forte

Conforto térmico

já prejudicado

7 Elevação

Forte

Efeitos negativos

no clima local

8 Muito Forte Efeitos críticos no

clima local

Legenda

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Áreas da classe 1 são áreas vegetadas localizadas em elevadas altitudes ou próximas a corpos

d’água. Promovem a redução da temperatura do ar pelos efeitos do resfriamento adiabático,

da evapotranspiração das plantas e da presença de brisas provenientes de corpos d’água. A

classe 2 agrupa áreas que favorecem a renovação e circulação do ar, isto devido a presença

de matas, bosques, campos verdes e planícies fluviais. Aliada a absorção de parte da radiação

solar pela vegetação, a temperatura do ar tende a ser mais baixa. A classe 3 contém áreas

que não afetam o aumento da temperatura do ar.

A partir da classe 4 temos áreas que interferem negativamente no conforto térmico. Em

menor ou maior grau são caracterizadas por apresentarem edificações, pouca permeabilidade

(porosidade) da estrutura urbana a circulação dos ventos locais, escassez de vegetação e de

espaços abertos. Observa-se o fato da orla marítima contar com áreas da classe 8

caracterizadas pelo alto adensamento, a vegetação inexistente e a elevada impermeabilização

do solo o que favorece, fortemente, o surgimento do fenômeno “ilha de calor urbana”.

Com estes resultados pretende-se fazer uma compatibilização do crescimento urbano de João

Pessoa, ditado pelos atuais índices e diretrizes do planejamento urbano vigente, com o

conforto térmico da população para, em seguida, sugerir recomendações de planejamento

que possam orientar os gestores urbanos a tomar decisões embasadas na qualidade do

conforto humano e na higiene do ar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo com a expressiva quantidade de dados coletados e tratados com a finalidade de

conceber o clima urbano da cidade de João Pessoa numa representação cartográfica, as

informações deste mapa ainda devem ser calibradas e ajustadas continuadamente, afim de

que se possa compreender, em todos os seus aspectos, a interação do clima local com a

realidade do ambiente urbano e apresentar recomendações ao planejamento urbano local.

Percebe-se que estando o crescimento urbano de João Pessoa ordenado pelos atuais índices

e diretrizes do planejamento urbano vigente, é provável que mais áreas da cidade

comprometam a qualidade de vida, o consumo de energia e a higiene do ar. Faz-se necessário

a aplicação de ferramentas de apoio a tomada de decisão na gestão urbana e o mapa climático

urbano pode ser uma delas. Quanto mais claro e preciso forem representados os fenômenos

climáticos e as suas relações com a estrutura urbana, mais objetividade poderá ter o gestor

em construir, organizar e gerenciar a cidade, uma vez que estas ações refletem

significativamente na sustentabilidade ambiental e no bem-estar da população.

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