MAPA - Livro Curso Sobre IGs

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  • 8/18/2019 MAPA - Livro Curso Sobre IGs

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    Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoISBN: 978-85-7426-091-4

    curso de propriedade intelectua& inovação no agronegóci

    Brasil 2º Semestre 2009

    Módulo II

    Indicação Geográfica

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    Tiragem: 300 exemplares

    1ª Edição

    Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071

    © 2009. Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoTodos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial e total desta obra,desde que citada a fonte e que não seja para a venda ou qualquer fim comercial.

    A responsabilidade pelos conteúdos técnicos dos textos e imagens desta obra é dos autores.

    Tiragem: 300 exemplares

    1ª edição. Ano 2009.

    Elaboração, distribuição, informações:MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

    Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo - SDC

    DEPARTAMENTO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL E TECNOLOGIA DA AGROPECUÁRIA - DEPTA

    Esplanada dos Ministérios, Bloco D, Edifício Anexo, Ala A, Segundo Andar, Sala 233 - Brasília - DF -Brasil - Cep: 70043-900

    Telefones: (61) 3218 2361 / 2761

    Fax: (61) 3322 0676Email: [email protected]

    Homepage: www.agricultura.gov.br

    B823c Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

      Curso de propriedade intelectual & inovação no agronegócio :

      Módulo II, indicação geográfica / Ministério da Agricultura, Pecuária

      e Abastecimento ; organização Luiz Otávio Pimentel. – Brasília : MAPA;

      Florianópolis : SEaD/UFSC/FAPEU, 2009.

      418 p. : il.

      Inclui bibliografia

      ISBN: 978.85.7426.091-4

     1. Agronegócios. 2. Indicações geográficas. 3. Produtos agropecuários.

    4. Fomento. 5. Proteção. 6. Educação a distância. I. Pimentel, Luiz Otávio.

      II. Título.

      CDU: 338.43

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    Governo Federal

    PRESIDENTE DA REPÚBLICA

    Luiz Inácio Lula da Silva

    VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICAJosé Alencar Gomes da Silva

    Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

    MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

    Reinhold Stephanes

    Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo - SDC/MAPA

    SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO E COOPERATIVISMO

    Márcio Antonio Portocarrero

    Diretor de Programa - DP/SDC

    DIRETOR DE PROGRAMA

    Helinton José Rocha

    Departamento de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária - DEPTA/SDC

    DIRETOR

    Paulo César Nogueira

    Coordenação de Acompanhamento e Promoção da Tecnologia Agropecuária – CAPTA

    COORDENADORA

    Marilena de Assunção Figueiredo Holanda

    Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários – CIG

    COORDENADORA

    Bivanilda Almeida Tapias

    Coordenação do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC

    COORDENADORA

    Daniela de Moraes Aviani

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    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

    REITOR

    Prof. Alvaro Toubes Prata

    VICE-REITOR

    Prof. Carlos Alberto Justo da Silva

    Secretaria de Educação a Distância (SEaD)

    COORDENAÇÃO GERAL

    Prof. Cícero Ricardo França Barboza

    COORDENAÇÃO FINANCEIRA

    Prof. Vladimir Arthur Fey

    Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU)

    DIRETORIA EXECUTIVA

    Prof. Pedro da Costa Araújo – Superintendente Geral

    Prof. Cleo Nunes de Souza - Diretor GeralProf. Gilberto Vieira Ângelo – Diretor Administrativo

    Prof. Elizabete Simão Flausino – Diretora Financeira

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    Ministério da Agricultura,

    Pecuária e Abastecimento

    Universidade Federal

    de Santa Catarina

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     Apresentamos com satisfação a segunda parte do Curso de PropriedadeIntelectual e Inovação no Agronegócio, Módulo sobre as Indicações Geo-gráficas de Produtos Agropecuários no Brasil, promovido pelo Ministério

    da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em cooperação com a Univer-sidade Federal de Santa Catarina.

    Trata-se de uma iniciativa para disseminar um modo de valorização deprodutos agropecuários brasileiros que são conhecidos por terem origemespecial, uma propriedade intelectual coletiva de produtores que permiteaos consumidores, entre outros atributos que serão estudados, associarum sabor a um lugar.

    Conforme previsto na lei federal, que regula os direitos e obrigações rela-tivos à propriedade industrial, constitui Indicação Geográfica (IG) a Indi-

    cação de Procedência (IP) ou a Denominação de Origem (DO).

     A IP, neste Curso, será estudada como o nome geográfico de país, cidade,região ou localidade de seu território, que se tenha tornado conhecidocomo centro de extração, produção ou fabricação de determinado produ-to agropecuário.

    Enquanto a DO, considerada um plus em relação à anterior, neste Curso,será estudada como o nome que designe produto agropecuário cujas qua-lidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio

    geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

     A primeira parte do Curso tratará da IG de produtos agropecuários, suaimportância histórica e atual, os impactos sociais, econômicos e ambien-tais; as diferenças entre as espécies de IG e desta e de outros sinais dis-tintivos; a proteção da IG no Brasil, os requisitos para o registro, a iden-tificação dos produtos e seus diferenciais, a notoriedade ou qualidade; aorganização dos produtores; a delimitação geográfica da área, a relaçãoentre homens, produtos e territórios, seu histórico e cultura; a elaboraçãodo regulamento de uso, a organização do conselho regulador, a defini-

    ção do controle e das regras de obtenção do produto; o procedimentode reconhecimento pelo registro da IG, a sua gestão e o controle pós-reconhecimento.

     A segunda parte será dedicada aos estudos das primeiras indicações geo-gráficas do Brasil, o Vale dos Vinhedos, a Cachaça de Paraty, a Carne doPampa Gaúcho da Campanha Meridionalm, o Café da Região do Cerrado

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    Mineiro, o Vale do Submédio do São Francisco e o Vale do Sinos.

    Esperamos que juntamente com os nossos alunos possamos contribuirpara o aperfeiçoamento da produção agropecuária, organização dos pro-

    dutores e valorização dos produtos via reconhecimento nacional e inter-nacional das indicações geográficas brasileiras, conhecendo bem o seumecanismo de proteção jurídica pela IP e DO.

    Bivanilda Almeida TapiasMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

    Luiz Otávio PimentelUniversidade Federal de Santa Catarina

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    Apresentação

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    Caro Aluno,

    Você está iniciando o segundo Módulo do Curso de Propriedade Intelectual e Inovação no Agronegócio – Indicação Geográfica.

    Este Curso é promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) com oapoio da Secretaria de Educação a Distância (SEaD) da Universidade Federal de Santa Ca-tarina (UFSC).

    O Módulo II – Indicação Geográfica - será realizado em dez semanas, contabilizando 120horas-aula. Durante o Curso, você contará com uma equipe especializada para acompa-nhá-lo em seu percurso: o Sistema de Apoio ao Aluno a Distância, formado por MonitoresPedagógicos, Assistentes de Conteúdo e Professores.

    Para iniciar seu estudo, você recebeu um kit didático composto por um livro e uma video-aula em DVD. Além desse kit, encontram-se à sua disposição outros recursos educacionaistambém muito importantes para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagemrealizado a distância. São eles:

     • Teleconferências

     • Fóruns

    • Lição Virtual

     • Enquetes

     • Exercícios Complementares

     • Questionário

     • Dossiê

     • Biblioteca Virtual

     • Biblioteca Participativa

    Vale ressaltar que todos esses recursos estarão disponíveis no Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem (AVEA). O AVEA é o ambiente virtual em que serão desenvolvidas todas asatividades didático-pedagógicas programadas para este segundo Módulo.

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    Este Módulo, como já foi evidenciado anteriormente, tem 120 horas-aula, distribuídas emdez semanas de atividades, conforme disposto na programação a seguir:

    Aulas/Carga-horária Temática Atividades

    Aula 1

    15h/a

    Capítulo 1

    Indicação Geográfica de

    Produtos Agropecuários:

    Aspectos Legais,

    Importância Histórica e

    atual

    Teleconferência 1

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Aula 2

    10h/a

    Capítulo 2

    Diferenças entre

    Indicações Geográficas e

    outros sinais distintivos

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Aula 3

    10h/a

    Capítulo 3

    Proteção de uma IG no

    Brasil

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Aula 4

    10h/a

    Capítulo 4

    Delimitação Geográfica

    da Área: Homem, História

    e Natureza

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Abertura do Questionário de

    Avaliação

    Aula 5

    10h/a

    Capítulo 5Elaboração de

    regulamento de uso,

    Conselho Regulador e

    definição do controle

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Abertura da Lição Virtual sobre a

    Videoaula

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    Aula 6

    10h/a

    Capítulo 6

    Procedimento de registro,

    gestão de controle pós-reco-nhecimento das Indicações

    Geográficas

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Aula 7

    10h/a

    Capítulo 7

    Estudo de caso – Indicação

    de Procedência Vale dos Vi-

    nhedos, IP Paraty e IP Vale do

    Submédio São Francisco

    Capítulo 8

    Estudo de caso – IP do Pam-

    pa Gaúcho da Campanha

    Meridional, IP da Região do

    Cerrado Mineiro e IP Vale do

    Sinos

    Fórum de Conteúdo

    Enquete

    Exercícios complementares

    Encerramento da Lição Virtual

    Aula 8

    15h/aOficina Virtual

    Dossiê: atividade que dará, passo

    a passo, os referenciais necessários

    para a obtenção de uma Indicação

    Geográfica

    Aula 9

     15h/aOficina Virtual

    Dossiê

    Teleconferência 2

    Aula 10

    15h/a Oficina VirtualEncerramento do Dossiê

    Encerramento do Questionário deAvaliação

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    ENTENDA A ICONOGRAFIA CONTIDA NO LIVRO

    O Livro constitui a base do Curso, pois aborda os principais conteúdos que serão apro-fundados no AVEA, na Videoaula e nas Teleconferências deste Módulo. Para uma melhor

    assimilação do conteúdo, sugerimos que você:

     • utilize o material impresso de maneira integrada com os demais recursos didáticos,como o Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem e a Videoaula;

     • sublinhe todas as passagens que você achar importante e elabore seus próprios resumos;

     • tenha o hábito de fazer esquemas e anotações ao longo do texto;

     • anote as dúvidas que surgirem durante a leitura para esclarecê-las com seus colegas eprofessores quando você participar dos fóruns de conteúdo, dos blogs, do estudo de

    casos, das teleconferências etc; • preste atenção ao modo como seu livro está estruturado. Ele sinaliza informações

    relevantes, como representado a seguir.

    Vários ícones sinalizam a integração do material impresso com outros recursos pedagógi-cos e fontes de informação no Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem, o AVEA, ouem referências bibliográficas. Vamos ver o que significam.

    Sinaliza as temáticas que serão aborda-

    das nos Fóruns de Conteúdo

    Informação complementar disponívelna internet.

    Material disponível na Biblioteca Virtual.

    Legislação disponível na BibliotecaVirtual.

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    Lembre-se: Estudar a distância demanda iniciativa e autonomia. Você define o

    seu ritmo! Mas para obter bom aproveitamento é fundamental ter uma postura

    reflexiva, cooperativa e disciplinada. Participe das propostas sugeridas! Questio-ne, dê sua opinião, troque informações com seus colegas e professores!

    SISTEMA DE APOIO AO ESTUDANTE A DISTÂNCIA

    O Sistema de Apoio ao Estudante a Distância está organizado para realizar o acompa-nhamento e a avaliação do seu processo de estudo e de aprendizagem. Ele é formado pormonitores administrativos, pedagógicos e assistentes de conteúdo, que irão lhe oferecer ossubsídios necessários para um melhor aproveitamento do Curso.

    Horário de atendimento (segunda à sexta-feira)

    Manhã: 08h00min às 12h00min

    Tarde: 14h00min às 18h00min

    Monitoria Administrativa

    Entre em contato com a monitoria administrativa caso ocorra alguma das seguintes situa-ções:

     • mudança de endereço postal ou e-mail. Até o momento de receber o seu certificado,é fundamental que seus dados estejam sempre atualizados;

     • dificuldade em acessar o AVEA, em função de problemas com logins e/ou senhas;

     • erro nas informações (nome completo e/ou endereço) que constam na etiqueta daembalagem deste kit;

     •não recebimento do kit completo deste Módulo (um livro e um DVD).

    i

    Leituras complementares indicadas pe-los autores.

    Dicas dos autores sobre as temáticasabordadas.

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    Monitoria Pedagógica

    Esses monitores estarão à sua disposição para orientá-lo a respeito dos procedimentospara a utilização do AVEA e a realização das atividades propostas, inclusive a avaliação

    individual. Eles mantêm uma comunicação dinâmica com você via e-mail, motivando-oa participar das atividades propostas.

    Assistentes de conteúdo

    Os assistentes de conteúdo irão auxiliá-lo em tudo o que está relacionado às temáticasabordadas neste Módulo. Eles serão os mediadores entre você e os seus professores, bus-cando esclarecer suas dúvidas e orientando-o.

    CertificaçãoTodos os estudantes que obtiverem aproveitamento de no mínimo setenta por cento noquestionário de avaliação individual vão receber um certificado de extensão universitária registrado pela Universidade Federal de Santa Catarina.

    O Questionário de Avaliação Individual é uma atividade obrigatória, composta de cin-quenta questões de múltipla escolha.

    Fica disponível no AVEA a partir da quarta semana de aula e você poderá refazê-lo, seassim achar necessário, até a última semana, quando será encerrado.

    Se você tiver qualquer dúvida, entre em contato conosco!

     Anote o endereço eletrônico, o telefone e o fax de contato da SEaD.

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    CONTATOS

    Secretaria de Educação a Distância

    Universidade Federal de Santa CatarinaRua Dom Joaquim, 757

    Centro

    CEP 88015-310

    Florianópolis – SC

    Telefone: (48) 3952-1900

    Fax: (0xx48) 3952-1945  (0xx48) 3952-1904

    E-mail:[email protected]

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    Sumário

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    1. INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DE PRODUTOSAGROPECUÁRIOS: ASPECTOS LEGAIS,IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E ATUAL........................ 31

    1.1. Importância histórica e atual das Indicações geográficas........... 331.2. Indicações Geográficas: impactos econômicos, sociais e

    ambientais..................................................................................................... 421.3. Aspectos legais das indicações Geográficas..................................... 55

    NOTAS............................................................................................ 67

    2. DIFERENÇAS ENTRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

    E OUTROS SINAIS DISTINTIVOS............................... 722.1 Diferenciação entre as espécies de Indicação Geográfica:

    Indicação de Procedência e Denominação de Origem................. 732.2 Diferença entre IG e outros sinais distintivos.................................... 92

    NOTAS.......................................................................................... 109

    3. PROTEÇÃO DE UMA IG NO BRASIL .................. 116

    3.1 Requisitos para o registro de uma IG................................................. 1173.2 Identificação dos produtos e seus diferenciais: notoriedade ou

    qualidade?.................................................................................................... 1203.3 Organização dos produtores................................................................ 132

    NOTAS.......................................................................................... 156

    4. DELIMITAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA: HOMEM,HISTÓRIA E NATUREZA........................................... 164

    4.1 A relação entre homens, produtos e territórios............................. 1654.2 Estudo histórico e cultural..................................................................... 1664.3 Delimitação Geográfica da área.......................................................... 174

    NOTAS.......................................................................................... 190

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    5. ELABORAÇÃO DE REGULAMENTO DE USO,CONSELHO REGULADOR E DEFINIÇÃO DOCONTROLE................................................................. 194

    5.1 A definição das regras de obtenção do produto........................... 1955.2 Conselho regulador e órgão de controle......................................... 212

    NOTAS.......................................................................................... 222

    6. PROCEDIMENTO DE REGISTRO, GESTÃO ECONTROLE PÓS-RECONHECIMENTO DASINDICAÇÕES GEOGRÁFICAS................................... 226

    6.1 Procedimento de registro...................................................................... 2286.2 Gestão e controle pós-reconhecimento........................................... 245

    NOTAS.......................................................................................... 278

    7. ESTUDO DE CASO - IP VALE DOS VINHEDOS,IP PARATY E IP VALE DO SUBMÉDIO SÃO

    FRANCISCO................................................................ 286

    7.1 Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos................................. 2877.2 Indicação de Procedência Cachaça de Paraty................................. 3037.3 Vale do Submédio São Francisco......................................................... 315

    NOTAS.......................................................................................... 325

    8. ESTUDO DE CASO - IP DO PAMPA GAÚCHO DACAMPANHA MERIDIONAL, IP DA REGIÃO DOCERRADO MINEIRO E IP VALE DO SINOS............. 3328.1 IP Pampa Gaúcho da Campanha Meridional.................................. 333

    8.2 IP Região do Cerrado Mineiro............................................................... 3548.3 IP Vale do Sinos.......................................................................................... 371

    NOTAS.......................................................................................... 384

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    Siglas

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     ACIAJ - Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Juazeiro

     ACIP - Associação Comercial de Paraty

     AICSUL - Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

     AOC - Appelation d’origine Protégée francesa e européia

     APACAP - Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça Artesanal deParaty

     APEXBRASIL - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Inves-timentos

     APPUB - Associação dos Pequenos Produtores de Uva de Bebedouro

     APR-NVI - Associação dos Produtores Rurais do Núcleo VI

     APRONZE - Associação dos Produtores Rurais do Núcleo 11

     APROPAMPA - Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúchoda Campanha Meridional

     APROVALE - Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vi-nhedos

     ASPIN-04 - Associação dos Produtores Irrigantes do Núcleo 04

    BGMA - Brazilian Grapes Marketing Association ou Associação dos Ex-portadores de Uvas do Vale do São Francisco

    CACCER - Conselho de Associações de Cafeicultores & Cooperativas doCerrado

    CAJ - Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia

    CAP Brasil - Cooperativa Agrícola de Petrolina

    CIG - Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários.

    CIRAD - Centro Internacional de Pesquisa Agronômica pelo Desenvolvi-mento

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    CIVC - Conselho Interprofissional dos Vinhos de Champagne

    CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francis-co e do Parnaíba

    COMAIAMT - Cooperativa Mista dos. Agricultores Irrigantes da ÁreaMaria Tereza

    COOPAR - Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região SulLtda

    COOPEXVALE – Cooperativa de Produtores e Exportadores Do Vale DoSão Francisco

    COREDEs - Conselhos Regionais de Desenvolvimento

    CUP - Convenção da União de Paris

    DO - Denominação de Origem

    DOC - Origen calificada (Espanha)

    DOP (UE) - Denominação de Origem Protegida

    EMATER- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

    EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

    EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SantaCatarina S/A

    EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

    FAEPE - Federação de Agricultura de Pernambuco

    FAPERGS – Fundação de Apoio à Pesquisa no Rio Grande do Sul

    FARSUL - Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul

    FUNDACCER - Fundação de Desenvolvimento do Café do CerradoHACCP - Hazard Analysis and Critical Control Points (Análise de Perigoe Controlo de Pontos Críticos)

    IBC - Instituto Brasileiro do Café (já extinto)

    IBD - Associação de Certificação Instituto Biodinâmico

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    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IBRAVIN - Instituto Brasileiro do Vinho

    IG - Indicação GeográficaIGP (UE) – Indicação Geográfica Protegida

    IGP - Índice Geral de Preços

    IMA - Instituto Mineiro de Agropecuária

    INAO - Institut National de la Qualité et de l’Origine

    INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e QualidadeIndustrial

    INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial

    INT - Instituto Nacional de Tecnologia

    IP - Indicação de Procedência

    IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

    IPVV - Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos

    ISO (sigla em inglês) - Organização Internacional de Normalização

    MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

    MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

    MMA - Ministério do Meio Ambiente

    NBR - Normas Brasileiras de Referência

    OMC - Organização Mundial do Comércio

    OMPI - Organização Mundial da Propriedade Intelectual

    ONG - Organização não Governamental

    PEQUI - Pesquisa e Conservação do Cerrado

    PROGOETHE - Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe

    SIF - Serviço de Inspeção Federal

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    Indicação Geográfica de produtos

    agropecuários: aspectos legais,

    importância histórica e atual

     

    Neste primeiro capítulo, convidamos você a conhecer aorigem, o referencial jurídico e os benefícios econômicos,sociais e ambientais das Indicações Geográficas (IG).Primeiramente, trataremos da origem e da história da In-dicação Geográfica, buscando explicar como seu uso temse tornado relevante para os agentes rurais no contexto daglobalização da economia e da abertura dos mercados.Em um segundo momento, do ponto de vista sociológico,econômico e ambiental, apresentaremos os benefícios dasIG para os produtores, prestadores de serviço e demais en-volvidos diretamente, bem como para a região reconheci-da e para o país como um todo.Por fim, abordaremos as regras internacionais e nacionais

    de proteção às IG. O objetivo é explicar o que é uma Indi-cação Geográfica, seus limites de proteção, comparar osconceitos de IG contidos na legislação nacional e interna-cional, observando as assimetrias existentes entre estasnormas.

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    CAPÍTULO 01

    1.1 Importância histórica e atual das IndicaçõesGeográficas

    Para melhor compreensão do curso, vamos conhecer qual é o significadode uma Indicação Geográfica (IG)?

    Essa noção de IG surgiu de forma gradativa, quando produtores e con-sumidores passaram a perceber os sabores ou qualidades peculiares dealguns produtos que provinham de determinados locais. Ou seja, qualida-des – nem melhores nem piores, mas típicas, diferenciadas – jamais encon-tradas em produtos equivalentes feitos em outro local. Assim, começou-se a denominar os produtos – que apresentavam essa notoriedade – com onome geográfico de sua procedência1. Os vinhos foram os primeiros nosquais se observou a influência sobretudo dos fatores ambientais (clima,solo, relevo, etc.).

     As qualidades de produtos como esses – ligadas à origem – se devem, toda-via, ao ambiente por completo, que vai muito além das condições naturaise inclui o fator humano e suas relações sociais como elemento importan-te. Dessa maneira, o conceito de indicação geográfica mostra-se impor-tante, pois destaca as particularidades de diferentes produtos de diferentesregiões, valorizando, então, estes territórios. Cria um fator diferenciadorpara produto e território, que apresentam originalidade e característicaspróprias2. Assim, as indicações geográficas não diferenciam somente osprodutos ou serviços, mas os territórios.

    Vários produtos agroalimentares se diferenciam pela sua qualidade ou suareputação devidas, principalmente, a sua origem (o seu lugar de produ-ção). Essas diferenças podem estar ligadas a um gosto particular, uma his-tória, um caráter distintivo provocado por fatores naturais (como clima,temperatura, umidade, solo, etc.) ou humanos (um modo de produção,um saber fazer). Em alguns casos, os produtores e/ou os agentes de umaregião se organizam para valorizar essas características, mobilizando umdireito de propriedade intelectual: a Indicação Geográfica. A IG permitepreservar essas características ou essa reputação e valorizá-las ao nível dos

    consumidores (Figura 1.1).Portanto, em um primeiro momento, definiremos a IG como sendo umnome geográfico que distingue um produto ou serviço de seus semelhan-tes ou afins, por que este apresenta características diferenciadas que po-dem ser atribuídos à sua origem geográfica, configurando nestes o reflexode fatores naturais e humanos.

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    CAPÍTULO 01

    Na época dos romanos, já se utilizava a sigla RPA – res publica augustano-rum, inscrita nos vasos de barro fabricados nos fornos do fisco romano.Também eram conhecidos nesta época os vinhos de Falernum, que antesde indicar o produtor, indicavam a procedência do produto7

    Durante a Idade Média, apareceram as marcas corporativas, utilizadas

    para distinguir os produtos fabricados por um grêmio de uma cidade, deum grêmio de outra cidade. Esses grêmios, ou corporações de ofício, pos-suíam Estatutos e Ordenações que detalhavam todos os aspectos e opera-ções da produção, fixando as normas que seus associados deviam cumprirpara fabricar os produtos.

    Para se distinguir os produtos de um grêmio específico, utilizava-se umselo, marca local ou gremial que, muitas vezes, era o nome da própriacidade ou da localidade. Nesse período, ainda não se utilizavam marcasindividuais para identificar o fabricante do produto.8

    Contudo, havia associados que elaboravam produtos de melhor ou piorqualidade. Para distingui-los entre si e para poder responsabilizar os pro-dutores nos casos em que os produtos eram contrários às boas práticas,passou-se a utilizar uma marca. Assim, sobre os produtos começaram aaparecer duas marcas: a do fabricante e a do grêmio ou corporação a queeste pertencia.9

    Dessa forma, de uma indicação de origem única à diferenciação entre osfabricantes de um produto de uma mesma corporação, vislumbra-se a

    evolução dos signos distintivos.

     A primeira intervenção estatal na proteção de uma IG ocorreu em 1756,quando os produtores do Vinho do Porto, em Portugal, procuraram oentão Primeiro-Ministro do Reino, Marquês de Pombal, em virtude daqueda nas exportações do produto para a Inglaterra. O Vinho do Porto ha-via adquirido uma grande notoriedade, o que fez com que outros vinhospassassem a se utilizar da denominação “do Porto”, ocasionando reduçãono preço dos negócios entabulados.

    Em face disso, o Marquês de Pombal realizou determinados atos visan-do à proteção do Vinho do Porto. Primeiro, agrupou os produtores naCompanhia dos Vinhos do Porto. Em seguida, mandou fazer a delimita-ção da área de produção – não era possível proteger a origem do produtosem conhecer sua exata área de produção.

    Como também não era possível proteger um produto sem descrevê-lo

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    com exatidão, mandou estudar, definir e fixar as características do Vinhodo Porto e suas regras de produção.

    Por fim, mandou registrar legalmente, por decreto, o nome Porto paravinhos, criando, assim, a primeira Denominação de Origem Protegida10.

    De certa forma, ainda hoje, esses são os passos a serem seguidos para darproteção estatal a uma indicação geográfica.

    Figura 1.3 - Demarcação Pombalina dos vinhedos do Vinho do Porto.Fonte: http://www.cm-tabuaco.ptAcesso realizado em: 23 jul. 2009.

    No início, os sinais distintivos não eram propriamente protegidos; con-sequentemente, havia muitas falsificações. Em virtude disso, surgem osregistros nacionais e de forma concomitante, os tratados internacionais,como a Convenção União de Paris (CUP) e o Acordo de Madrid, o Tratadode Lisboa e, nos anos mais recentes, o Acordo sobre aspectos dos Direitos

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    CAPÍTULO 01

    de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio (TRIPS ou ADPIC).

    O objetivo dessas regulamentações foi promover a proteção dos sinais dis-tintivos e a repressão às falsas indicações de procedência. Especificamente,no tocante à proteção e à regulação da indicação da origem ou procedên-cia de um produto – e posteriormente, de um serviço –, cabe salientar que

    a proteção inicial era negativa, ou seja, mediante a condenação do uso dafalsa indicação de procedência de um produto. Posteriormente, a IG pas-sou a ser protegida como um direito positivo.

     Ao longo de todos esses anos, vimos surgir um grande número de IG,ou seja, nomes geográficos que indicam uma origem renomada de umdeterminado produto: além do Vinho do Porto, podemos citar os casosdo queijo Roquefort, do vinho espumante da região de Champagne,do vinho Chianti, do queijo Feta, da Carnalentejana, dos queijos GranaPadano, Gorgonzola, Parmigiano Reggiano, do Prosciutto di Parma, daTequila, do Cognac, etc.

    Mais do que apenas indicar a procedência de um produto, as IG tiveramcomo função, ao longo do tempo, garantir determinadas característicasao produto em decorrência da sua origem.

    No mercado altamente globalizado e massivo de hoje, a importância dasIG é crescente, uma vez que produtos oriundos de determinadas regiõesobtém um reconhecimento internacional. Isso faz com que esses produ-tos necessitem de uma proteção especial nos demais países, e essa prote-

    ção é alvo de diversas discussões no âmbito mundial (OMC – OrganizaçãoMundial do Comércio; OMPI-Organização Mundial da PropriedadeIntelectual).

    1.1.2 Indicação geográfica: uma prática comercial antiga euma resposta às evoluções dos mercados

     As IG continuam sendo, hoje, um tema da atualidade fortemente debati-

    do ao nível internacional e que reflete, em grande parte, a evolução dossistemas agroalimentares (SAA). Vários fatores explicam essa re-atualiza-ção do tema das IG; destacaremos três deles: as mudanças profundas naregulação dos mercados, o surgimento de mercados de nichos e as mu-danças de percepção e de comportamento dos consumidores em relaçãoaos produtos tradicionais.

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    A) Novas formas de regulação dos mercados aos níveis nacionaise internacional

     A abertura dos mercados e a circulação acelerada das mercadorias impli-caram novas formas de regulação entre os diferentes países e à definiçãode regras ao nível internacional de natureza pública (codex alimentarius)e privada (eurepGap).

     Alem disso, novas práticas comerciais aparecem. Relevou-se a utilizaçãopara fins comerciais de termos ou nomes indígenas de produção por pa-íses terceiros, para poder tornar os seus produtos um pouco mais “exó-ticos”. Foi o caso do  Rooibos ( Aspalathus linearis), planta da África do Sul,que foi registrada como marca nos EUA, por uma empresa privada. Ocaso também do cupuaçu (Theobroma grandiflorum) do Brasil, que foi regis-trado como marca por uma empresa japonesa, impedindo o uso do nomepelos produtores de origem.

    Outros países usam o nome de uma região para se beneficiar da sua boa re-putação, ou obter um melhor preço de venda do seu produto. Atualmente,6 milhões de libras de café “Antigua” são produzidos na região de mesmonome, na Guatemala, entretanto, 50 milhões de libras de café são vendi-dos no mundo inteiro com esse nome. Do mesmo modo, 10 milhões dekg de chá “Darjeeling” são produzidos na Índia e 30 milhões de kg de chásão vendidos com o mesmo nome no mundo.

    Esses exemplos confirmam como é importante e urgente para os países

    emergentes implantarem e mobilizarem sistemas de proteção do seu pa-trimônio intangível e da sua biodiversidade.

     

    B) Surgimento de mercados de nichos

    Observamos o surgimento de novos mercados de nichos (orgânico, co-mercio justo, IG)11. Na Tabela 1.1, são apresentados os principais merca-dos e estratégias de valorização dos produtos. As indicações geográficas

    estão inseridas nesse movimento global de segmentação dos mercados.De certo modo, esse movimento favorece a valorização dos recursos ter-ritoriais.

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    CAPÍTULO 01

    Novos mercados para produtos tradicionais e agriculturafamiliar

    Mercado Perfil Exemplos

    Especialidades

    O mercado das especialidadesbaseia-se na valorização de quali-dade particular

    associação produto/ localidade /tradição

    Indicação geográfica

    Produtos da terra (mercados daterra do movimento Slow Food )

    Produto com Garantia deorigem (iniciativa privadade empresa de distribuiçãoCARREFOUR)

    Orgânicos

    Um produto orgânico é um produ-to agrícola ou um alimento produ-

    zido de forma que respeita mais omeio ambiente e à saúde.

    Produto da ECOVIDA

    Produto com certificadoECOCERT, IBD

    ArtesanaisProdutos produzidos de formaartesanal

    Indicação geográfica

    Produtos coloniais

    Produtos da agricultura familiar

    Solidários

    O movimento do Comércio Justosurgiu da iniciativa de organiza-ções e consumidores do HemisférioNorte, visando a melhoria das

    condições de vida de produtorese trabalhadores em desvantagense pouco valorizados nos países doSul12.

    As Redes solidárias são represen-tadas por grupos de produtores,consumidores e entidades de as-sessoria, envolvidos na produção,processamento, comercializaçãoe consumo de alimentos agroe-

    cológicos13

    . Trata-se de uma novaforma de comercializar os produtosagrícolas e de pensar as relaçõesentre o mundo rural e urbano.

    Max Havelaar

    Oxfam

    Rede das feiras da ECOVIDA

    Mercados da Terra doMovimento Slow Food  

    Tabela 1.1 Fonte: Cerdan (2009) adaptado de Wilkinson (2008)14

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     A Figura 1.4 apresenta diversos sinais distintivos de produtos e serviçosdo mundo rural, dando-nos uma ideia de selos e de marcas que surgiramnesses últimos dez anos.

    Figura 1.4 - Exemplos de sinais distintivos para produtos tradicionais. Podem serobservados sinais distintivos públicos (AOC, Appelation d’origine Protégée francesae européia), privados (Carrefour, Apaco) para produtos agrícolas ou para serviçosde hospedagem em meio rural (qualité tourisme, acolhida na Colônia, accueil Pay-san)

    Fonte: Velloso (2009)

    C) Do gosto da Origem ao consumidor

    Constata-se uma procura cada vez mais nítida, por parte dos consumido-

    res urbanos, por produtos de origem. Será que a Origem de um produtotem um gosto particular, produz um prazer específico para o consumidor?

    Uma das explicações é a perda da confiança nos produtos alimentares. As crises profundas que atingiram os sistemas agroalimentares (doençada vaca louca-Encefalopatia Espongiforme Bovina, sementes transgêni-

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    CAPÍTULO 01

    cas, uso de hormônios) provocaram mudanças ao nível da percepção dosconsumidores. Em reação, iniciou-se um movimento geral, exigindo maisgarantias sobre a origem dos produtos, a sua inocuidade e os seus modosde obtenção. Nesse quadro, o nome do produto ou da região de origem éreconhecido pelos consumidores e inspira confiança.

    Ressaltam-se, também, novos comportamentos de consumidores, como areivindicação regional, cultural ou política. Nesse sentido, o consumidornão é mais considerado como um agente passivo, mas um sujeito capazde reagir e promover certos modelos de desenvolvimento. Alguns autoresfalam de consum’ator.

     Assim, ao comer um bode assado, um prato de sarapatel, o Nordestinomanifesta o seu sentimento de pertencer a uma comunidade, a um gru-po, a uma cultura15. A escolha de comprar um produto de origem não éapenas uma prática comercial ou uma questão de gosto, é também uma“reivindicação identitária”. Trata-se de consumir o que está mais próximode si, com a sensação de resistir à globalização, de não perder os seus va-lores (Figura 1.5).

    • Forte identidade coletiva do Sertão, personagens históricos famo-sos, paisagens, condições climáticas

    • Importância da Pecuária na identidade coletiva

    • Forte consumo dos queijos artesanais no dia-a-dia

    Figura 1.5 - O gosto da origem e as referências identitárias dos queijos do NordesteFonte: CERDAN (2004)

    Cabe salientar que essas evoluções não acontecem apenas para produ-tos tradicionais e ancorados num território como o Queijo Serrano doscampos sulinos do Brasil ou o Tacacà da Amazônia. Surpreendentementeessas dinâmicas também referem-se a produtos estandardizados. Váriosestudos evidenciam a emergência das “Cocas-Cola alternativas” (Figura

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    1.6). Trata-se de bebidas de inspiração regional, que promovem um con-sumo engajado, militante, oscilando entre religião, identidade, política,etc., reivindicando uma postura contra a circulação globalizada de certosprodutos (Coca ColaTM).

    Figura 1.6 - Interpretações regionais da bebida Coca- ColaFonte: http://paragonanubis.files.wordpress.com/2008/05/zamzam-cola-2.jpghttp://www.cdi.org.pe/Noticias_2006/Fotografias/inca_kola.jpghttps://reader009.{domain}/reader009/html5/0722/5b54aa89618d4/5b54aa9c56a25.jpghttp://www.breizhcola.fr/images/affiche-breizh-cola-400.jpgAcesso realizado em: 23 jul. 2009.

    1.2 Indicações Geográficas: impactos econômicos,sociais e ambientais

     A proteção da IG pode imprimir inúmeras vantagens para o produtor,para o consumidor e para a economia da região e do país. O primeiroefeito que se espera de uma IG é uma agregação de valor ao produto ouum aumento de renda ao produtor. Além disso, os benefícios das IG sãode diversas dimensões.

    Destacam-se os benefícios econômicos (acesso a novos mercados internos

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    CAPÍTULO 01

    e exportação), os benefícios sociais e culturais (inserção de produtores ouregiões desfavorecidas), benefícios ambientais (preservação da biodiversi-dade e dos recursos genéticos locais e a preservação do meio ambiente).

     Apesar dessa apresentação dos diferentes benefícios possíveis, recomen-damos considerá-los com cuidado: o registro de uma IG, por si só, não

    garante a priori um sucesso comercial determinado.

    Veja na Tabela 1.2 os principais benefícios observados na Europa e emoutros países (México, Peru, Chile, África do Sul, Bolívia).

    Principais vantagens da IG

    • Gera satisfação ao produtor, que vê seus produtos comercializa-dos no mercado com a IG, valorizando o território e o conheci-mento local;

    • Facilita a presença de produtos típicos no mercado, que sentirãomenos a concorrência com outros produtores de preço e quali-dade inferiores;

    • Contribui para preservar a diversificação da produção agrícola,as particularidades e a personalidade dos produtos, que se cons-tituem num patrimônio de cada região e país;

    •  Aumenta o valor agregado dos produtos, sendo que o ciclo detransformação se dá na própria zona de produção;

    • Estimula a melhoria qualitativa dos produtos, já que são subme-tidos a controles de produção e elaboração;

    •  Aumenta a participação no ciclo de comercialização dos produ-tos e estimula a elevação do seu nível técnico;

    • Permite ao consumidor identificar perfeitamente o produto nosmétodos de produção, fabricação e elaboração do produto, emtermos de identidade e de tipicidade da região “terroir ”;

    • Melhora e torna mais estável a demanda do produto, pois criauma confiança do consumidor que, sob a etiqueta da IG, esperaencontrar um produto de qualidade e com características deter-minadas;

    • Estimula investimentos na própria zona de produção (novos

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    plantios, melhorias tecnológicas no campo e na agroindústria);

    • Melhora a comercialização dos produtos, facilitando o acessoao mercado através de uma  identificação especial (IndicaçãoGeográfica ou Denominação de Origem - DO); isso se constata,

    especialmente, junto às cooperativas ou associações de peque-nos produtores que, via de regra, possuem menor experiência erenome junto ao mercado.

    • Gera ganhos de confiança junto ao consumidor quanto à auten-ticidade dos produtos, pela ação dos conselhos reguladores queseriam criados e da autodisciplina que exigem;

    • Facilita o marketing, através da IG, que é uma propriedade inte-lectual coletiva, com vantagens em relação à promoção baseadaem marcas comerciais.

    • Promove produtos típicos;

    • Facilita o combate à fraude, o contrabando, contrafação e asusurpações;

    • Favorece as exportações e protege os produtos contra a concor-rência desleal externa.

    Tabela 1.2 - Fonte: Silva (2009)

    Vamos ilustrar esses benefícios a partir de alguns exemplos citados na lite-ratura16 e as informações disponíveis na internet.

    Para conhecer os benefícios das IG consulte os sites:

    http://www.wipo.int/geo_indications/es/

    http://origin.technomind.be/

    http://www.origin-food.org/2005/base.php?cat=20 (projeto EuropeuSINERGI)

    http://www.foodquality-origin.org/esp/index.html

    Acesso realizado em: 23 jul. 2009. 

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    CAPÍTULO 01

    1.2.1 A importância das IG na União Europeia

    Cabe salientar aqui a importância atual das IG na União Europeia, que re-gistrou mais de 5.000 produtos (4.200 para vinhos e destilados e 812 paraoutros produtos). A título ilustrativo, pode-se sublinhar que as 593 IG daFrança (466 para vinhos e destilados e 127 para outros produtos) represen-tam um valor de 19 bilhões de euros em comércio (16 bilhões para vinhose destilados e 3 bilhões para outros produtos), apoiando 138.000 proprie-dades agrícolas. Da mesma forma, as 420 IG da Itália (300 para vinhos edestilados, e 120 para outros produtos) correspondem a um volume de re-ceitas de 12 bilhões de euros (5 bilhões para vinhos e destilados, e 7 bilhõespara outros produtos), empregando mais de 300.000 pessoas. Na Espanha,as 123 IG rendem 3,5 bilhões de euros, aproximadamente (2,8 bilhões deeuros para vinhos e destilados e 0,7 bilhões para outros produtos). Entre1997 e 2001, o número de produtores franceses sob IG aumentou 14%

    enquanto, no mesmo período, constatou-se uma diminuição de 4% nonúmero de produtores. 17

    As IG são importantes para os países da União Europeiaque registraram 5.000 produtos (4.200 para os vinhos edestilados, e 812 para outros produtos), designando mais de168 queijos, 202 carnes e derivados, 193 frutos ou legumesfrescos ou transformados e 106 óleos e azeites. A definiçãode um símbolo comunitário comum contribuiu para o

    reconhecimento pelos consumidores europeus.

    1.2.2 Um preço de venda dos produtos mais elevado e umanotoriedade protegida

    Para os produtores de leite franceses, o ganho das produções de queijocom IG valoriza mais o litro de leite: enquanto o leite vendido pelos pro-dutores é pago em média nacional 0,30 euros o litro, o leite para a fabrica-ção de queijo AOP Beaufort é vendido a 0,57 euros o litro.

    O óleo de oliva italiano “Toscano” é vendido 20% mais caro desde o regis-tro dessa IG em 1998.

    O molho vietnamita IG “Nuoc Mam de Phu Quoc” é outro exemplo: de-pois que a proteção de IG foi aceita em 2001, o valor desse produto tripli-cou, passando de 0,5 euros o litro, em 2000, a 1,5 euros o litro em 2003.

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    Na China, o reconhecimento do álcool de arroz amarelo de Shaoxing,como IG, permitiu reduzir os contrabandos provenientes de Taiwan e do Japão. Os preços aumentaram em 20%, o mercado interno se desenvolveue as exportações para o Japão aumentaram em 14%.

    O sobre preço observado nas IG europeias ( AOP e IGP) variam entre 10

    e 15%.

    1.2.3 Novas regras coletivas, inovações e relações equilibradasnas cadeias produtivas

     A presença de regras coletivas, visando fixar os preços e estabelecer con-tratos entre os processadores e os produtores, melhora a competitividadeda cadeia produtiva.

    Os consumidores sabem de onde vêm os produtos, os produtores sabem

    para onde vão os produtos. A IG favorece uma distribuição equilibrada damais-valia em toda a cadeia produtiva e neutraliza mais eficazmente oscomportamentos oportunistas intracadeia produtiva.18 

    No Brasil, a implantação da Indicação de Procedência (IP) Carne doPampa Gaúcho da Campanha Meridional se baseia em um controle preci-so da procedência dos animais. Assim, se o consumidor desejar, ele pode,a partir do código de barra, verificar no site da associação de qual animalvem o corte de carne que ele acaba de comprar, conhecer a fazenda deprodução e sua localização.

    O regulamento da IP Vale dos Vinhedos19 incorpora 12 inovações em rela-ção à produção convencional de vinhos no Brasil. Tais inovações incluemaspectos da produção, do controle e da comercialização de vinhos de qua-lidade.20

     As IG também reforçam o valor e, sobretudo, a credibilidade do trabalhodo produtor junto aos consumidores.

    Visite o site da APROPAMPA no endereço eletrônico abaixo e conheça aorigem da carne a partir do código de barras.

    www.carnedopampagaucho.com.br

    Acesso realizado em: 23 jul. 2009.

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    CAPÍTULO 01

    1.2.4 Novas oportunidades para as regiões pobres oudesfavorecidas

     As IG são, com frequência, originárias de regiões agrícolas desfavorecidas,onde os produtores não podem baixar os custos de produção. Dessa for-ma, eles são levados a apostar na valorização da qualidade e dos conheci-mentos locais (savoir-faire).

     A Champagne (França) era uma região pobre, situada no limite norte dazona climática de produção de uvas, com solos geralmente ácidos. O mé-todo “champenoise” de vinificação, bem adaptado às dificuldades dessamatéria-prima, permitiu o sucesso econômico que conhecemos hoje. Amaioria das denominações de origem de queijos está situada em regiõesde montanha ou classificadas como zonas difíceis.

    Um dos elementos chaves das IG foi de promover, criar e implementar no-

    vas formas de governança local e de regulação entre os diferentes agentesdas cadeia produtiva. A emergência de comitês interprofissionais e a buscade uma melhor harmonização dos interesses entre os diferentes agentesacabaram fortalecendo a região e os produtores.

    1.2.5 Região de produção mais atrativa

     A presença de um produto IG numa região pesa na decisão de jovens agri-cultores pela instalação ou implantação de empresas, à medida que elainduz uma estruturação em setores e uma remuneração a priori garanti-da. Essa atratividade oferece novas perspectivas em termos de emprego,permitindo aos jovens permanecerem em suas regiões.

    Ela pode se traduzir, com freqüência, por um aumento do preço das ter-ras agrícolas na região. A valorização do preço das terras na IP Vale dosVinhedos, em Bento Gonçalves (RS), aumentou de 200 a 500%.21

    1.2.6 Sinergia entre produto IG e outras atividades numaregião

    O reconhecimento de uma IG, em uma região, pode induzir a abertura eo fortalecimento de atividades e de serviços complementares, relaciona-das à valorização do patrimônio, à diversificação da oferta, às atividadesturísticas (acolhida de turistas, rota turística, organização de eventos cul-turais e gastronômicos), ampliando o número de beneficiários.

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     A construção de cestas de bens e de serviços22 é uma forma de articularatividades, produtos e serviços para compor uma oferta global. Cria-sesinergia entre agentes locais, entre o produto ou serviço da IG e outrasatividades de produção ou de serviço.

    Na Serra Gaúcha, a forte competição dos vinhos no mercado nacional

    levou as vinícolas a investirem no desenvolvimento do turismo local aoredor do vinho e da cultura italiana. Assim, desenvolveram-se numerosasatividades relacionadas com alojamento (hotéis, pousadas), gastronomia(restaurantes, fabricação artesanal de produtos típicos), enologia e imigra-ção italiana.

    Em Roquefort, os agentes políticos e turísticos se apoiam na notoriedadeinternacional do queijo para assegurar a promoção de um território. Alémde uma bacia de produção fortemente estruturada, a AOC Roquefort con-tribuiu para o surgimento de uma oferta turística localizada.

    Os produtores de Paraty aproveitaram a atividade turística da cidade pararelançar uma produção tradicional, a cachaça. Paraty é uma cidade pe-quena, classificada como Patrimônio Histórico Nacional desde 1958, comgrande afluência turística o ano todo.

    Visite o site do Vale dos Vinhedos e dos Caminhos de Pedra e avalie onível de integração das atividades.

    http://www.valedosvinhedos.com.br/

    http://www.caminhosdepedra.org.br/

    Acesso realizado em: 23 jul. 2009.

    1.2.7 O orgulho do homem por seu produto, sua região, suaidentidade e sua iniciativa coletiva

    Os agricultores na França estimam que a produção de leite IG (AOP) é

    mais interessante, pois está fundamentada em uma finalidade concreta:o produto de origem, ele mesmo carregando os valores positivos.23 Esseapego dos produtores ao seu novo estatuto é observado em diversas ca-deias produtivas (vinhos, queijos).

    Os membros da APROPAMPA (Associação dos Produtores de Carne doPampa Gaúcho da Campanha Meridional) e da PROGOETHE (Associação

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    CAPÍTULO 01

    dos Produtores de Uva e de Vinho de Goethe) demonstram uma grandesatisfação pela sua iniciativa coletiva. Eles declararam estar dispostos aparticipar de novas instâncias particulares ou públicas para testemunharsuas experiências e contribuir na construção de um projeto favorável àregião, da qual eles têm muito orgulho.24

    1.2.8 Preservação e valorização do patrimônio biológico ecultural

     As IG exprimem o reconhecimento de um patrimônio agrícola, gastronô-mico, artesanal e/ou cultural, que elas contribuem para conservar. Umaraça animal, uma variedade vegetal, uma paisagem, um ecossistema, cor-respondem a um acúmulo de conhecimentos, de práticas e de adaptação.

    Numerosas IG são baseadas em recursos genéticos locais e valorizam essa

     biodiversidade:• O óleo de “arganier”, arbusto espinhoso do Marrocos.

    • O vinho da região de Urussanga é produzido a partir de uma varie-dade que está em via de extinção (variedade Goethe).

    • O regulamento de uso da produção de carne do Pampa Gaúcho daCampanha Meridional propõe uma exploração consciente dos cam-pos do Pampa Gaúcho para a alimentação do gado bovino.

    1.2.9 Uma imagem de qualidade e de excelênciaOs produtos sob IG induzem uma imagem de excelência nos territóriosrurais claramente identificados. Muitos são os nomes das IG que evocamsensações gustativas originais e fazem surgir imagens de paisagens agrí-colas emblemáticas: os vinhedos da região de Bordeaux, os vinhedos daSerra Gaúcha, os vastos campos verdes do Pampa Gaúcho, a selva e afloresta Amazônica.

    Com frequência, encontramos essas imagens nos cartazes e prospectos

    publicitários dos produtos IG. Nesse sentido, as IG podem desempenharum papel importante na proteção, gestão ou criação de paisagens: expri-mindo-se de múltiplas maneiras (terraços, modificações em cursos deágua, etc.); concentração de uma vegetação particular induzida pela pro-dução considerada (videira, pomares, campos, etc.); presença de animaisde raças específicas, contribuindo, eles também, a tipificar fortemente a

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    CAPÍTULO 01

    1.2.11 Relativizando esse quadro

    Esses indicadores, referidos anteriormente, geralmente são avaliados pormétodos qualitativos que refletem, com frequência, as opiniões ou ospontos de vista de alguns agentes. É dif ícil distinguir o que é causado pelaproteção legal versus o sistema de regras da IG. Pode-se cogitar que umaformalização da produção com outro selo poderia contribuir da mesmaforma ao desenvolvimento rural.

    Portanto, é importante considerar essas informações com cuidado, anali-sando quem avalia a experiência (técnicos, produtores, comerciantes, pes-soa externa ao processo) e quais são os seus interesses.

    Existe também riscos potenciais na implementação de uma IG. Em certassituações, o sucesso econômico do produto (valor agregado) pode gerarefeitos negativos numa produção específica ou num território.

    O reconhecimento de um produto pode induzir à sobre-exploração derecursos específicos no mercado. Hoje, por exemplo, não se sabe se ossistemas agrícolas tradicionais de produção de mandioca para a farinhade Cruzeiro do Sul, no Acre, região Amazônica, serão capazes de respon-der e de se adaptar ao crescimento da demanda relacionada ao reconheci-mento do produto. De acordo com alguns especialistas, ele pode induziruma sobre-exploração das terras arenosas e pouco férteis dessa região da Amazônia, estimulando, indiretamente, o desmatamento de novas áreaspara o plantio de mandioca (efeitos ambientais).26 

    Em muitas situações, tem-se demonstrado que a IG pode serum instrumento de mercado e/ou de desenvolvimento ruralrelevante, oferecendo novas oportunidades para as regiõesrurais. Entretanto, os efeitos das IG no desenvolvimentorural não são automáticos ou determinados previamente;eles dependem de vários elementos internos ao sistemade IG, assim como de vários fatores externos, sendo o maisimportante o apoio do quadro institucional (presença de

    instituições de apoio, políticas públicas voltadas para apromoção das IG).

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    1.2.12 Fatores chaves para o sucesso de uma IG

     Algumas experiências permitem identificar quais são os fatores importan-tes para garantir o sucesso de uma IG.27 

    • Uma organização de produtores e de agentes territoriais, sensibili-

    zada e preparada (capacitação) para promover e proteger o seu pro-duto;

    • Produto(s) com reputação e/ou características valorizadas nos mer-cados - os consumidores serão capazes de reconhecer essa diferença;

    • Potencial de coordenação na cadeia produtiva (incluindo se possívelos diferentes elos da cadeia);

    •  Apoio financeiro e técnico nas fases iniciais de reconhecimento eimplantação da iniciativa e no manejo das IG;

    • Uma promoção nacional do conceito de IG e negociações interna-cionais para entrada do produto;

    • Uma harmonização da legislação de fiscalização em nível federale estadual, bem como estudos no sentido de preservar a tipicidadedos produtos;

    • Políticas públicas voltadas para o reconhecimento e manutençãodas IG;

     A IG se constitui em um elemento importante da política agrícola comumda União Europeia. Na França, a origem da política pública para apoiaras IG surgiu das pressões dos produtores de vinhos e dos negociantes daregião de Bourgogne para lutar contra as práticas de usurpação.

    Progressivamente, a política de qualidade se tornou mais ampla. Os prin-cípios que orientaram o desenho das políticas públicas rurais passaram adestacar os benefícios das IG, enfatizando as iniciativas como instrumentopotencial para uma política de desenvolvimento rural.

    Hoje, existem movimentos sócio-políticos ao redor das IG, como: Slow Food, ORIGIN e Associação das regiões europeias dos produtos de ori-gem. Constituíram-se, assim, redes de ação política (policy networks).

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    CAPÍTULO 01

    Principais justificativas e orientações das políticas de proteçãoda origem e da qualidade na França.

    PeríodoJustificação das políticas de proteção daorigem e da qualidade

    1905-1970 Regras da concorrência, um sistema deconcorrência justa e leal

    1970-1985

    Regulação da oferta agrícola, Regulação domercado, diversificação / segmentação dosmercados

    Intervenção do Estado na oferta agrícola

    1985-2000

    Desenvolvimento territorial,desenvolvimento rural, Política econômicalocal, externa, desenvolvimento agrícola/

    desenvolvimento rural

    A partir do ano 2000

    Direitos de propriedade intelectual eproteção dos saberes

    Patrimônio e conservação dos recursos(culturais e biológicos) Biodiversidade,proteção dos saberes locais

    Tabela 1.3 - Fonte: ALLAIRE et al. (2005)

    No Brasil, já uma política pública de proteção da origem para o setor agrí-cola começa a ser definida. Além disso, observamos uma convergênciade diferentes programas, que podem contribuir para a construção de umquadro institucional favorável ao desenvolvimento das IG.

     A Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC),do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), tem, en-tre seus objetivos, contribuir para a formulação da política agrícola no quese refere ao desenvolvimento do agronegócio. A Portaria nº 85, de 10 de

    abril de 2006, formalizou a criação de uma coordenação para planejamen-to, fomento, coordenação, supervisão e avaliação das atividades, progra-mas e ações de IG de produtos agropecuários brasileiros.

    Dessa forma, foi oficializada a atuação do MAPA nas questões que envol-vem IG de produtos agropecuários. Desde a sua criação, essa coordena-ção está apoiada em várias iniciativas que oferecem capacitação e apoio

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    financeiro para a organização dos produtores e realização de estudo paraa elaboração do pedido de registro de IG.

    O Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI possui atribuiçãolegal para estabelecer as condições de registro das IG no Brasil, segundoo artigo 182, parágrafo único, da lei 9279/1996. E este, desde 1997, tem

    orientado associações e instituições na implementação de projeto de IG.

    Existem, também, outros programas de políticas públicas ou iniciativasconvergentes apoiadas por outros ministérios: a agroecologia, o movi-mento Slow Food, o apoio à comercialização dos produtos da agricul-tura familiar, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA), assim como o registro de certos produtos nos livros do PatrimônioImaterial28, as políticas e programas do Ministério do Meio Ambiente(MMA), etc.

    Desde 2007, o programa de cooperação técnica Brasil-França para o for-talecimento da gestão integrada e participativa em mosaicos de áreas pro-tegidas, desenvolve atividades sobre a valorização da identidade territoriale a valorização dos produtos, recursos, serviços, cultura e tradição. Essesdiferentes programas consideram as IG como um elemento potencialpara o desenvolvimento rural, a preservação da biodiversidade e do meioambiente.

    De maneira mais geral, o panorama das políticas para o desenvolvimen-to rural na América Latina e no Brasil foi marcado pela emergência da

    abordagem territorial. O que significa uma busca de articulações entremunicípios e entre setores, uma atenção maior para a valorização dos re-cursos locais, das riquezas dos territórios, assim como para uma inserçãomais forte das populações na execução e elaboração dos programas (fó-runs participativos).

    Esses elementos podem contribuir para a implementação de um quadroinstitucional favorável e uma valorização dos produtos típicos ou produ-tos da terra pelos consumidores, elementos chaves para o desenvolvimen-to das IG no Brasil. Nós vamos abordar em detalhe os aspectos legais das

    IG no Brasil, comparando-os com outros países.

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    CAPÍTULO 01

    Para conhecer as orientações e diretrizes da política agrícola e de desen-volvimento rural nacional assim como as orientações para salvaguardaro patrimônio imaterial brasileiro, visite o site do MAPA, do MDA, e doInstituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN):

    www.agricultura.gov.br -> Serviços -> Indicação Geográfica (CIG)

    www.mda.gov.br/saf/

    www.iphan.gov.br

    Acesso realizado em: 23 jul. 2009.

    1.3. Aspectos legais das Indicações Geográficas

    1.3.1 Marco jurídico internacional

    Uma das potencialidades do reconhecimento e proteção de uma IG é amaior capacidade de inserção dos produtos agrícolas diferenciados nomercado internacional, com melhores condições de competitividade. Osconsumidores, atualmente, sobretudo os de países desenvolvidos, buscamcada vez mais produtos de qualidade e com diferenciais. Nestes termos, osprodutos com IG podem ter uma maior demanda.

    Para isso, contudo, faz-se necessário a proteção efetiva das IG além do ter-ritório nacional no qual estão situadas. Tal proteção garantirá aos titulares

    destas IG que essas não sejam indevidamente utilizadas em outros países.De nada adiantaria, por exemplo, o investimento em produtos vitiviníco-las de uma determinada região brasileira, para obter o reconhecimentocomo IG, com fins de inseri-los no mercado nacional e internacional, seestas indicações ou denominações não gozam de proteção em outros pa-íses. Qualquer comerciante poderia utilizar-se indevidamente - no merca-do externo - da notoriedade destes produtos e, consequentemente, pelafalta de controle, não teriam credibilidade perante o mercado consumidor.

     Alguns problemas como este já ocorrem no comércio internacional. Umexemplo disto é o caso da indicação tcheca – Budweiser, que também éuma marca registrada em alguns países, tendo como titular uma empresaestrangeira. A falta de um sistema de registro internacional, ou normasque protejam as indicações no mercado internacional, faz com que pro-dutos como este, com IG, tenham que ser vendidos em alguns países comoutro nome, como mostra a imagem na Figura 1.7.

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    Figura 1.7 - Marca Budweiser e a verdadeira IG Budweiser circulando sob o nomede Czechvar29

    Fonte: www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3483409,00.htmlAcesso realizado em: 23 jul. 2009.

    Considerando, assim, a importância de se proteger as IG, na esfera inter-nacional, indagamos: quais são os tratados internacionais que atualmente

    regulamentam esta matéria? Que regras foram estabelecidas nos tratados?

    Temos em vigor, hoje, vários tratados que regulamentam as IG.Dentre estes, podemos citar:a) três acordos no âmbito da OMPI, quais sejam:- Convenção da União de Paris;- Acordo de Madri;- Acordo de Lisboa;b) o anexo ao constitutivo da OMC

    - o TRIPS

     A Convenção da União de Paris (CUP) assinada, em 1883, foi ratificadapelo Brasil em 1884. Este tratado passou por inúmeras revisões, algumasdas quais também foram ratificadas pelo Brasil.

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    CAPÍTULO 01

    No texto da Convenção, não se conceitua ‘indicação geográfica’, mencio-na-se a proibição de toda falsa indicação de procedência - ainda que indire-ta, que for utilizada com a intenção de fraudar.30

     A Convenção prioriza, assim, vedar somente as indicações que direcio-nem o consumidor a uma falsa origem do produto, permitindo a utiliza-

    ção indevida de indicações quando ressaltada a verdadeira origem do pro-duto. Nestes termos, como observa Almeida, ‘Champagne’ da Califórniaou ‘Port’ da África do Sul, não são falsas indicações nos termos da referidaConvenção.31

    Esse tratado não se preocupou com a utilização indevida da notoriedadede uma IG, desde que a verdadeira origem do produto estivesse identifica-da. Observa-se, nestes termos, que a prioridade é a proteção do consumi-dor e não propriamente da concorrência ou do produtor.

    Posteriormente, veio o Acordo de Madri, firmado em 1891, sendo tam- bém objeto de sucessivas reformas. Este tratado contou com a adesão brasileira em 1896 – Decreto nº 2390 -, não obstante o Brasil não tenharatificado todas as reformas, tal como a realizada em Lisboa.

    O Acordo de Madri caracteriza-se pelo combate as falsas IG, e tambémas enganosas, ou seja, aquelas que apesar de não informarem uma falsaorigem, induzem o consumidor ao erro.32

    Por fim, o Acordo de Madri não protege as IG que tenham se tornado

    genéricas. Excluem-se desta regra, por sua vez, as denominações regionaisde procedência de vinhos33, evidenciando-se aqui uma proteção especialaos produtos vitivinícolas em detrimento de outros segmentos. .

    Em 1958, foi firmado o Acordo de Lisboa relativo à proteção das deno-minações de origem, que entrou em vigor somente em 1966. O acordo deLisboa foi originado de uma das reformas do Acordo de Madri.

    O Acordo de Lisboa tem como fim específico a proteção das denomina-ções de origem – exigindo para tal proteção uma característica ou quali-dade que se deva exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, bem

    como, que as denominações sejam reconhecidas e protegidas em seu paísde origem.

    Suas disposições vedam qualquer usurpação ou imitação de denomina-ções, inclusive quando consta nos produtos sua verdadeira origem, quan-do traduzidas ou acompanhadas de termos retificativos como “tipo” ou

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    “gênero”.34  Pode-se exemplificar aqui, no primeiro caso, o conhaque -Cognac - que foi traduzido no Brasil; e no segundo, alguns vinhos licorososque hipoteticamente utilizassem no seu rótulo “Tipo Vinho do Porto”.35 

     Ademais, esse tratado estabelece um sistema de registro internacional dedenominações de origem, o qual gera vários efeitos, desde a proteção no

    território dos países contratantes, até o fato de que após o registro a deno-minação não poderá mais ser considerada genérica.

    O Acordo de Lisboa conta, atualmente, com países aderentes,sobretudo por consolidar uma proteção bastante rígida. OBrasil, por sua vez, é um dos países que firmaram o Acordo deMadri, mas que não ratificaram o Acordo de Lisboa.

     

    Por fim, no contexto da OMC, temos o TRIPS. Considerando a signi-ficativa representatividade que esta organização detém hoje no cenáriomundial - com mais de 153 Estados Membros -, o TRIPS passou a ser ummarco legislativo internacional em se tratando de propriedade intelectualque condiciona o nacional.

    Essa normativa acabou alterando a legislação de muitos países e influen-ciando as novas legislações nacionais que foram se desenvolvendo, inclu-sive, a brasileira. O TRIPS aborda questões que vão desde o direito doautor, a marca, a indicação geográfica, o desenho industrial até patentes,

    entre outros direitos. Importa referir, também, que esse Acordo visa a es-tabelecer uma proteção mínima, que deve ser respeitada por todos os pa-íses integrantes da OMC, dentre estes o Brasil.

    O Acordo adota como conceito de IG as indicações que identificam umproduto como originário do território de um Membro, ou região, ou lo-calidade naquele território, onde uma determinada qualidade, reputação,ou outra característica deste produto, é essencialmente atribuída a suaorigem geográfica, TRIPS, artigo 22, I.

    O Acordo não distingue, assim, as diversas possibilidades de classificaçãodas IG - como, por exemplo, a classificação adotada pela legislação bra-sileira que distingue entre Indicação de Procedência e Denominação deOrigem. Contudo, ao mesmo tempo em que não contempla especifica-mente as possíveis espécies de indicações, traz uma conceituação bastanteampla que inclui todas estas variações, embora não inclua serviços.

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    CAPÍTULO 01

     A partir da definição legal às IG, o Acordo busca regulamentar a utilizaçãodestas, prescrevendo condutas que devem ser coibidas pelos Membros.

    Veda-se, inicialmente, a utilização de qualquer meio que sugira que o pro-duto é originário de região diferente da verdadeira origem, induzindo oconsumidor ao erro. O TRIPS coíbe não somente as indicações que di-

    retamente remetam a uma origem falsa, mas também as que sugiram.36  Assim, a mera citação “Queijo Bento Gonçalves”, ou “Queijo com a qua-lidade da Serra Gaúcha” pode, nos termos do TRIPS, ser considerada proi- bida se a origem sugerida não for verdadeira.37

    Tal restrição é feita também às IG que, não obstante sejam verdadeiras,também induzam o consumidor ao erro, como por exemplo, quando exis-tir dois nomes geográficos idênticos. 38 

    Os Membros da OMC devem também recusar o registro de uma marca,

    ou invalidá-lo, quando consista em uma falsa IG susceptível de induzir oconsumidor ao erro.39 Aqui se pode citar, por exemplo, uma marca que sedenomine “Castanha do Pará”. Se este produto não for originário destaregião, pelo Acordo, seu registro como marca deve ser invalidado.

    O Acordo é claro ao mencionar que não há nenhuma obrigação de seproteger indicações que não estejam devidamente protegidas em seu paísde origem, bem como as que tenham caído em desuso ou se tornado ge-néricas.40 

    O Acordo TRIPS estabelece uma proteção diferenciada aosvinhos e bebidas alcoólicas, no intuito de que os EstadosMembros impeçam a utilização indevida de indicações em taisprodutos.

     A proteção diferenciada, no que se refere às IG de vinhos e bebidas al-coólicas, centra-se no fato de que o Acordo veda a utilização de uma IG para esses produtos quando eles não forem originários da região indicada,

    mesmo quando a verdadeira origem desses esteja descrita no produto.41

     Tal situação pode ser exemplificada com um vinho que tenha no rótulo“Champagne”, mas descreva neste mesmo rótulo que é produzido na cida-de de Garibaldi. Esta situação é proibida nos termos do TRIPS. Contudo,em situação similar que ocorra com outros produtos que não vinhos e be- bidas alcoólicas, como por exemplo, com queijos, se a descrição da verda-

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    deira origem afasta a possibilidade de induzir o consumidor ao erro, seriaentão permitida pelas normas do TRIPS. Esta proteção especial concedidaaos vinhos e bebidas alcoólicas não é encontrada nos acordos internacio-nais que antecedem o TRIPS.

    Da mesma forma, o Acordo veda a utilização de indicações falsas para

    vinhos e bebidas alcoólicas quando acompanhada de expressões como“tipo”, “gênero” ou “imitação”.42 Quanto às marcas, verifica-se que a pro-teção também é diferenciada.

    Há, ainda, previsão específica quanto às indicações homônimas e legíti-mas que identifiquem vinhos. Nesse caso, ambas as indicações estarãoprotegidas, sendo que cada Membro estabelecerá os diferenciais entre es-tas.43 Tem-se como exemplo fático desta situação os vinhos espanhóis eargentinos que usam a denominação “ Rioja”.

     As regras estabelecidas pelo TRIPS, no que diz respeito as IG, não são defi-nitivas, conforme adverte o próprio texto do acordo. O Acordo prevê quenovas negociações sejam efetuadas com vistas a estabelecer um sistemade registro das IG de vinhos e bebidas alcoólicas, bem como sobre a pos-sibilidade (ou não) de se ampliar a todos os produtos a proteção especialatribuída aos vinhos e bebidas alcoólicas.

    Importa referir que apesar da normativa internacionalexistente, não contamos ainda com um sistema de registro

    internacional de IG que permita a proteção destas nomercado externo. O Acordo de Lisboa que prevê o registro dedenominações origem não foi ratificado por grande parte dospaíses, inclusive o Brasil.Assim, para garantir a proteção de uma IG no território deoutros países, faz-se necessário buscar a proteção – se for ocaso, o registro – em cada um destes países. Destaca-se, que aUnião Européia prevê um sistema de registro comunitário, quegera efeitos em todos os países do bloco.

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    CAPÍTULO 01

    Leia mais sobre caráter territorial da proteção das IG, acessando os se-guintes links:

    http://www.wto.org/indexsp.htm - (Organização Mundial do Comércio)

    http://www.wipo.int - (Organização Mundial de Propriedade Intelectual)

    Acesso realizado em: 23 jul. 2009.

    1.3.2 Marco jurídico nacional

     A regulamentação da propriedade intelectual não é um fenômeno recenteno Brasil, sendo que dentre as primeiras legislações nacionais que se reportaram à matéria podemos citar o Decreto nº 16.254, de 19 de dezem- bro de 1923.

    Hoje, a legislação que regulamenta a propriedade industrial e, no seu bojo, as IG, é a Lei nº 9.279/1996. Conforme estudado no Módulo Básicode Propriedade Intelectual, esta lei classificou as IG em duas espécies:44 

    a. indicação de procedência, que indica o nome geográfico que tenhase tornado conhecido pela produção ou fabricação de determinadoproduto, ou prestação de determinado serviço; e,

    b. denominação de origem, que  indica o nome geográfico do localque designa produto, ou serviço, cujas qualidades ou característicasse devam, essencialmente, ao meio geográfico, incluídos os fatores

    naturais e humanos.

    A diferença entre as duas espécies de IG, nos termos da leibrasileira, centra-se nos seguintes pressupostos fáticos dosprodutos ou prestação de serviços:- IP: indica a notoriedade do local de origem dos produtos/serviços.- DO: a qualidade ou característica relacionada ao local (meiogeográfico) de origem, considerando-se os fatores naturais(como, por exemplo, o clima e o solo) e humanos (como, porexemplo, os conhecimentos técnicos para elaboração de umproduto).

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     A titularidade das IG é coletiva, ou seja, é um direito extensivo a todosos produtores ou prestadores de serviço que estejam na área demarcadae que explorem o produto ou serviço objeto da indicação. Contudo, estesprodutores devem buscar o registro de sua indicação por meio de umapessoa jurídica que os represente, como, por exemplo, uma associação ou

    uma cooperativa. A única exceção à titularidade coletiva está na possibilidade de existir, naárea demarcada, um único produtor no momento do registro.

     Além disso, destaca-se que a lei brasileira não protege as indicações que setornaram genérica, ou seja, aquelas em que o consumidor não relacionao nome geográfico com a origem do produto, mas com uma espécie deproduto.

    Cita-se, aqui, o caso do Queijo de Minas, que acaba sendo associado, na

    mente do consumidor, a uma espécie de queijo branco e não a um produ-to originário de Minas Gerais. Destaca-se, inclusive, que este produto vemsendo fabricado em vários outros Estados do Brasil.

    No que se refere às condutas que a legislação brasileira proíbe, é possívelobservar que em vez de proteger somente as IG reconhecidas e registradas, o sistema adotado pela Lei nº 9.279/1996, artigo. 192 visa à repressãoa quaisquer falsas IG, tendo ou não denominações similares reconhecidas.Por exemplo, uma indicação em um produto que designe: “Calçados deFranca”, mesmo que não tenha uma IG similar reconhecida deve ser coi-

     bida, se a origem mencionada não for verdadeira.

     A legislação nacional proíbe, desta forma, a utilização de qualquer nomeou sinal geográfico em marcas que possam induzir o consumidor ao erroquanto à origem geográfica do produto ou do serviço.45 

     A Lei considera, ainda, crime contra a propriedade industrial, a utilizaçãode termos retificativos, seja no produto ou em meios publicitários de di-vulgação deste e de serviços, quando não ressaltem a verdadeira proce-dência ao consumidor .

    Desta forma, designações geográficas que venham acompanhadas de ex-pressões como “tipo”, “gênero”, “semelhante”, entre outras, são vedadaspela lei, exceto se identificarem claramente a origem do produto.46 Se forutilizado, então, “Tipo Champagne”, ressaltando que é produzido emGaribaldi, a lei brasileira permitirá.

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    CAPÍTULO 01

    1.3.3 Comparativo entre o TRIPS e a legislação nacional

    Conforme estudamos, a Convenção da União de Paris e o Acordo deMadri trouxeram uma proteção bastante superficial às IG. Neste contexto,podemos observar que o Brasil, por meio da Lei nº 9.279/1996, cumprecom as determinações destes tratados, tendo ainda um maior rigor emsua proteção.

    No que se refere ao TRIPS, por sua vez, apesar deste Acordo ainda nãoter criado um sistema de registro internacional, o Brasil ao aderir à OMC,assumiu o compromisso de adotar suas regras como uma proteção míni-ma a ser seguida em matéria de propriedade intelectual. Considerandoque a OMC conta, hoje, com mais de 150 Membros, qualquer deles quedescumprir o referido Acordo pode ser acionado no sistema de solução decontrovérsias da organização.

     Assim, consideramos importante analisarmos se a Lei n. 9279/1996 estáde acordo com as regras mínimas de proteção às IG previstas pelo TRIPS(Tabela 1.4). Inicialmente, analisando o conceito de IG:

    Comparativo entre TRIPS e Lei nº 9279/199

    Lei nº 9279/1996 – Conceito de IG TRIPS– Conceito de IG

    Nome GeográficoNome geográfico, expressões tra-dicionais

    Protege o nome e as representa-ções gráficas do nome

    Protege qualquer forma de indica-ção (nome e/ou representação)

    Classifica em IP e DO

    Conceito genérico: inclui a IP e DO

    (qualidade, reputação ou outra ca-racterística)

    Inclui produtos e serviços Restringe-se aos produtos

    Menciona expressamente fatoresnaturais e humanos

    Não diferencia as características

    Tabela 1.4 - Fonte: Locatelli (2009)

    É possível identificar duas diferenças importantes: a Lei nº 9279/1996 nãoinclui em sua proteção as expressões tradicionais como, por exemplo,“Cava”, “Vinho Verde” e “Queijo Feta”. Por outro lado, o Acordo TRIPS

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    não inclui em sua definição a possibilidade de se protegerem indicaçõesde serviços.

     As disposições do Acordo diferem, também, em alguns aspectos da legis-lação brasileira, no que se refere ao conflito entre marcas e IG. Contudo,um dos aspectos em que a assimetria é mais significativa está no fato de

    que o Acordo, ao consolidar uma proteção diferenciada às indicações devinhos e bebidas alcoólicas, proíbe, nestes produtos, a utilização de ter-mos retificativos como “tipo”, “gênero”, ainda que ressaltada a verda-deira origem dos produtos.

     Já a legislação brasileira permite a utilização desses termos em quaisquerprodutos, conforme analisado acima, quando estiver ressaltada a verda-deira origem dos produtos. Em razão dessas assimetrias entre a legislaçãointernacional e a nacional, além de outros fatores, existem propostas deuma alteração na legislação brasileira que compatibilize nossa lei com oTRIPS e, ainda, preencha algumas lacunas da legislação atual.

    Discuta com seus colegas qual é a percepção que vocês têmsobre um produto ou serviço que seja proveniente de umaIG. Como consumidores, há uma percepção diferenciada comrelação a estes? Vocês pagariam mais por um produto com IGreconhecida? Participe, contribua, sua opinião é essencial parapromover este debate.

    Saiba Mais

    Para conhecer um pouco mais sobre as diferenças entre o Acordo TRIPSe a legislação brasileira, bem como aprofundar seu estudo acerca danormativa interna e internacional de proteção às IG consulte os livros:LOCATELLI, Liliana. Indicações Geográficas: a proteção jurídica soba perspectiva do desenvolvimento econômico. Curitiba: Juruá, 2008.GONÇALVES, Marcos Fabrício Welge. Propriedade industrial e a pro-

    teção dos nomes geográficos. Curitiba: Juruá, 2007.Leia o capítulo 7 do livro “Antropologia e nutrição: um diálogo possível”,intitulado “Patrimônio e Globalização: o caso das culturas alimentares”de Jesús Contreras Hernández.

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    CAPÍTULO 01

    Resumo

    Neste capítulo, vimos que a IG se tornou relevante para os agentes domundo rural no contexto da globalização da economia e da abertura dosmercados.

    Verificamos que as IG constituem um meio de valorizar uma localidade/região e um país de origem. Elas podem transformar-se em instrumentode competitividade no mercado e/ou instrumento de desenvolvimentorural, trazendo uma série de benefícios potenciais:

    a.  benefícios econômicos (abertura de mercado, agregação de valor);

    b.  benefícios sociais (emprego, dinamização de regiões carentes);

    c.  benefícios ambientais (preservação da biodiversidade, práticas pro-

    dutivas mas adequada para o meio ambiente).

    Observamos, ainda, que os efeitos das IG no desenvolvimento rural nãosão automáticos, dependem de fatores internos (organização) e fatoresexternos, (presença de instituições de apoio, política pública voltada paraa promoção das IG).

    Também vimos alguns aspectos da proteção jurídica nacional e interna-cional das IG da seguinte forma:

    a.Em relação à proteção jurídica internacional das IG:

    • há três tratados internacionais, firmados pelo Brasil, que regula-mentam as IG: Convenção da União de Paris, Acordo de Madri e Acordo TRIPS.

    • a Convenção da União de Paris e o Acordo de Madri estabelecemuma proteção superficial às IG, priorizando a repressão às indica-ções falsas e enganosas sem, contudo, disciplinar outras questõesrelevantes como os conflitos com as marcas.

    o TRIPS é o tratado que assumiu maior relevância no comércio in-ternacional, por integrar o marco legislativo