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MAPEAMENTO DE ÁREAS DEGRADADAS E COM RISCO À DESERTIFICAÇÃO NO SUDOESTE BAIANO
Israel de Oliveira Junior 1, 2
Raquel de Matos Cardoso do Vale 1, 3 Jocimara Souza Britto Lobão 1, 4
Washington Jesus Sant’Anna da Franca Rocha1, 5
1 Laboratório de Geoprocessamento Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.
Av. Transnordestina, s/n – Novo Horizonte. Caixa Postal: 252 e 294. Feira de Santana-BA 2 [email protected]
3 [email protected] 4 [email protected] 5 [email protected]
RESUMO A desertificação é um problema socioambiental que afeta diversas regiões brasileiras, provocando a degradação das terras em regiões árida, semi-árida e sub-úmida seca. Este é um processo relacionado à super-exploração dos recursos naturais de forma não sustentável, onde o manejo e práticas agropecuárias exercem intensa pressão sobre o ambiente. Neste trabalho foi proposto mapear este processo no sudoeste da Bahia, utilizando, principalmente, indicadores físicos e biológicos, os quais foram integrados em banco de dados em formato SIG. Os dados e informações adquiridos por meio de revisão bibliográfica foram convertidos em imagens NDVI e MDT, e confrontados com resultados de levantamentos e estudos de campo. Assim, foi possível identificar a existência de setores com deterioração ambiental – maior isco à desertificação – decorrente do manejo insustentável das terras, como uso sistemático de queimadas, substituição massiva da cobertura vegetal por pastos, pecuária extensiva e supressão da mata ciliar. Isto tem corroborado para uma maior exposição dos solos aos agentes intempéricos e erosivos, elevando a rusticidade ambiental da região. A análise do NDVI apontou extensas superfícies com essas características, a maior parte situa-se em depressões e planaltos, relacionada ao uso, sobretudo, de atividades agropecuária. PALAVRAS-CHAVE: Deterioração. Insustentabilidade ambiental. NDVI.
ABSTRACT Desertification is a social problem that affects many regions of Brazil, causing degradation of land in arid, semi-arid and dry sub-humid regions. This is a process related to the super-exploitation of natural resources with not sustainable forms, where the management and farming practices play intense pressure on the environment. Throughout the present work, it was proposed to map this process in the southwest of Bahia, using, primarily, physical and biological indicators, which were integrated into the database in GIS frame. The data and information acquired through literature review were converted into NDVI and MDT images, then confronted with results of surveys and studies in the field. It was possible to identify the existence of sectors with environmental deterioration – more risk to desertification - resulting from unsustainable land management and systematic use of fires, massive replacement of vegetation by pastures, livestock and extensive removal of riparian vegetation. This is corroborated to a greater exposure to the agents of weathering and soil erosion, raising the rustic environment of the region. The analysis of NDVI showed extensive areas with these characteristics, most situated in depressions and plateaus, related to use, especially for agricultural and cattle breeding activities. KEYWORDS: Deterioration. Environmental unsustainability. NDVI.
1. INTRODUÇÃO
O nordeste brasileiro possui quase a totalidade de seu território localizado no polígono das
secas, onde são identificados manejos insustentáveis dos recursos naturais. Este fato aliado à
fragilidade natural desse ecossistema acarreta graves problemas socioambientais, que culminam na
geração e aumento da pobreza da população local. Um dos problemas evidenciados é a desertificação,
processo decorrente de práticas inadequadas na exploração dos recursos naturais, que, em conjunto
com o fator climático, vitima o próprio homem.
Em estudo recente realizado pela EMBRAPA (2008), intitulado “Aquecimento Global e a
nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil”, evidencia-se que a região semi-árida nordestina
sofrerá os maiores impactos das mudanças climáticas no Brasil, o que ampliará as áreas desertificadas
nessa região. Um dos efeitos mais drásticos será a queda da produção agrícola, sobretudo da mandioca
e do milho, base alimentícia de grande parte da população regional.
Uma das marcas do semi-árido é o sofrimento e as condições sub-humanas a que está
submetida parte da população, conseqüente de um ecossistema frágil e de difícil manejo, mas, acima
de tudo, de políticas sociais públicas inadequadas que refletem na extrema pobreza da região e na
utilização de técnicas inapropriadas para a produção agropecuária, o que tem favorecido a ampliação
da deterioração e da desertificação desse ambiente.
A Bahia possui cerca de 70% de seu território (CAR, 1995) e aproximadamente 45% da
população sob o domínio morfoclimático semi-árido. Essa região apresenta escassez de água, com
chuvas irregulares e concentradas em um curto período do ano, solos rasos e/ou de baixa fertilidade
agrícola e, em muitas áreas, a exploração ambiental é marcada pela insustentabilidade, o que amplia o
risco de tornarem-se desertificadas. A ocorrência desse fato tem ampliado a pobreza, a insegurança
alimentar, migração, perda da biodiversidade, entre outros problemas socioambientais, sendo de
fundamental importância reconhecer as áreas desertificadas e suscetíveis à desertificação para que
sejam propostas soluções factíveis para a mitigação e reversão de seus efeitos, ou mesmo, o
impedimento da instalação desse problema. Entretanto, os estudos já realizados na Bahia são pontuais
e predominam no setor norte-nordeste. Algumas ações já foram iniciadas para o preenchimento dessa
lacuna, dentre as quais a elaboração do Plano Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca (PAN-Bahia), cujas metas refletem as do PAN-Brasil: reconhecimento e
monitoramento das áreas desertificadas ou suscetíveis ao processo.
O presente trabalho desenvolveu estudos na região sudoeste baiana, agrupando, total ou
parcialmente, 128 municípios, os quais integram 12 Territórios de Identidade: Chapada Diamantina,
Litoral Sul, Baixo Sul, Itapetinga, Vale do Jeriquiriçá, Bacia do Paramirim, Sertão produtivo,
Piemonte do Paraguaçu, Bacia do Jacuípe, Vitória da Conquista, Médio Rio de Contas. Engloba uma
extensão de 878.324 km2 delimitada pelas coordenadas geográficas: 42º00’00”S e 39º67’06” S e
15º10’00”W e 11º97’00” W (Figura 1).
As condições socioambientais da área, como clima, tipos de solo e manejo dos recursos
naturais, que podem ampliar a vulnerabilidade desses espaços à desertificação, foram os pressupostos
que nortearam a escolha desta área. O tratamento de imagens de satélites e estudos de campo
possibilitou a identificação de áreas com níveis diferenciados de deterioração ambiental, o que pode
ser um forte indício de risco de desertificação. Essas informações foram agregadas em um banco de
dados em formato SIG que possibilitaram a confecção de mapas e a identificação de áreas
desertificadas ou de risco à desertificação.
Figura 1. Localização da área de estudo.
2. OS ESTUDOS DA DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL
A desertificação é um problema que aflige a comunidade internacional há muitos anos.
Entretanto, os estudos desse processo ainda carecem de aprofundamento no conhecimento de suas
causas e conseqüências socioespaciais, o que gera algumas confusões como, por exemplo, a amplitude
da escala de ocorrência, a indicação de áreas sob o efeito da arenização como desertificadas
(VERDUM et al, 2001) e/ou a relação direta entre desertificação e formação de desertos (NIMER,
1988).
A palavra desertificação foi primeiramente empregada pelo francês Aubreville, em 1949, e se
referia às áreas de degradação na África devido às práticas de exploração predatória dos recursos
naturais (DANTAS, 2005). Entretanto, é a partir da ocorrência de períodos extensos de seca em
determinadas áreas geográficas mundiais, que muitos estudiosos e políticos notaram a necessidade de
obter um maior nível de informações a respeito desse processo (PAN-BRASIL, 2005). Perceberam que
as conseqüências das secas eram dramáticas, uma vez que reduziam a produtividade agropecuária com
perdas irremediáveis, aumentava o fluxo migratório, ocasionavam propagação da fome, e, muitas
vezes, dizimavam animais e a população local, como ocorrido no Sahel entre os anos de 1967 e 1976
(SALES, 2003).
A partir dos anos de 1960 iniciou-se uma discussão sobre a relação da seca com a ação
humana e o processo denominado desertificação (PACHÊCO et al., 2003). Todavia, 1977 é
considerado o marco dos estudos envolvendo a comunidade científica internacional, na Conferência
das Nações Unidas sobre a Desertificação, ocorrida em Nairobi-Quênia (VERDUM et al., 2001).
Alguns resultados foram obtidos, sobretudo a identificação das áreas com risco à desertificação e a
conceituação do processo como: diminuição ou destruição do potencial biológico da terra, ocasionando
formação de desertos. Dessa forma, a idéia central era que a desertificação ocasiona a formação de
desertos e que não haveria medidas para revertê-la (SALES, 2003). Destarte, muitas críticas foram
realizadas acerca da fragilidade da conceituação – visto que dificultava a caracterização do processo –
e da escala de ocorrência, uma vez que abrangia apenas as zonas áridas e semi-áridas – cerca de 15%
da superfície terrestre (VERDUM, et al., 2001).
Com isto, muitos debates em nível mundial foram realizados em torno da conceituação e da
escala espaço-temporal de ocorrência da desertificação. Em 1992, durante a Eco 92 foi ratificado o
conceito do processo, como “degradação da terra em regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas,
resultante de diversos fatores, inclusive de variação climática e de atividades humanas” (ONU, 1997).
Deste modo, foi determinado que a escala espacial de ocorrência da desertificação é determinada pela
ação climática, especificamente pelo índice de aridez. No entanto, Andrade (1999) citado por Pachêco
(2003) afirma que o índice de aridez é variável de região para região e a regularidade da distribuição
das chuvas durante o ano pode influenciar em dinâmicas socioambientais diferenciadas entre esses
espaços. Além disso, o autor especifica que o índice de aridez não determina a produtividade local,
uma vez que as condições ambientais aliadas ao emprego de técnicas adequadas podem favorecer a
produtividade agropecuária. Assim, o emprego do conceito de desertificação e sua caracterização
devem adequar-se as condições socioambientais específicas de cada realidade estudada (op cit.).
De acordo com os resultados das pesquisas em torno do processo, o fator mais agravante para o
desencadeamento da desertificação é a ação humana por meio do manejo insustentável dos recursos
naturais (NIMER, 1988). Assim sendo, “o homem é simultaneamente ativo e passivo no caso da
desertificação” (MONTEIRO, 2001), ou seja, ao mesmo tempo em que as suas práticas transformam
espaços, antes com potencial produtivo, em áreas desertificadas, ele sofre com os efeitos dessas ações,
como a diminuição dos resultados das atividades agropecuárias e o aumento da insegurança alimentar
(PAN-BRASIL, 2004).
Segundo Matallo Junior (2001), o conceito de desertificação é amplo e complexo, pois a idéia
de “degradação da terra” concatena distintos componentes, tais como degradação de solos, degradação
da vegetação, degradação de recursos hídricos, redução da qualidade de vida da população, o que estão
relacionados a variados campos científicos. Dessa forma Pachêco (2003) ressalta que o estudo da
desertificação é transdisciplinar. Matallo Junior (2001) especifica que a “amplitude conceitual” da
desertificação dificulta a elaboração e aplicação de uma metodologia para efeito de estudo, uma vez
que ainda não foram conquistados progressos que superem as fronteiras entres as ciências, pois
não houve pesquisa suficiente para oferecer caminhos a serem seguidos para a formulação de
uma metodologia unificada de trabalho e seus correspondentes indicadores sobre a
desertificação, e não parece, à primeira vista, que isso possa ser alcançado a curto prazo (p.
25).
No Brasil, as pesquisas sobre o processo remontam a década de 1970, quando Vasconcelos
Sobrinho publicou a tese Núcleos de Desertificação no Polígono das Secas. Este estudo realizou-se no
nordeste semi-árido brasileiro e identificou seis núcleos designados de áreas-piloto (MATALLO
JUNIOR, 2001), localizados nos estados de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e
Bahia. As escalas espaciais eram pontuais e, inicialmente, tinham o caráter de serem alvos de
pesquisas para elucidar lacunas referentes ao processo. O aprofundamento dos estudos por
Vasconcelos Sobrinho em algumas áreas pilotos demonstrou que a principal causa da desertificação é a
substituição da caatinga por agricultura e pecuária, e também por mineração e de extração de argila, de
madeira e lenhas (PAN-BRASIL, 2005).
Apesar de Matallo Junior (2001) afirmar que ainda não existe uma metodologia
universalmente aceita para a investigação da desertificação, ele formulou uma proposta que unifica os
procedimentos de investigação do processo, que totaliza 19 indicadores que dizem respeito a diferentes
campos do saber (ambiental, social, econômico e biológico) – Tabela 1.
Entre os indicadores de desertificação (Tabela 1) apresentados por Matallo Junior é
especificado o índice de erosão, entretanto, a relação entre formas de relevo e erosão está ausente. Esta
relação é importante visto que a morfologia dos relevos e seus compartimentos topográficos e de
declividade, podem potencializar a ação dos processos erosivos. De acordo com Cunha e Guerra
(2007, p. 200), a erosão “é resultado de processos de salpicamento, escoamento superficial e
ravinamento, que por sua vez dependem da erodibidade, das características das encostas e da natureza
da cobertura vegetal”. Segundo Nimer (1988), a forma que o homem mais contribui para a instalação
da desertificação é através da retirada da cobertura vegetal, que por sua vez amplia os processos
erosivos.
a degradação [...] tem sido iniciada com a erradicação da vegetação natural, sobretudo nas
áreas de terrenos não-planos, transformando os solos, até então protegidos, em solos
completamente expostos a erosão acelerada que acompanha as chuvas e enxurradas na estação
chuvosa. [... Assim] a erosão acelerada constitui-se no impacto mais sério do homem sobre o
meio ambiente (op. cit. p. 20).
De acordo com o PAN-Brasil (2005) a Bahia agrega a maior porção de terras semi-áridas e
subúmidas secas do Brasil (36,64% do total). Todavia, ainda não foram identificados núcleos
fortemente afetados por desertificação, apesar da constatação que são áreas de risco: Remanso, Casa
Nova, Pilão Arcado, Jeremoabo, Paulo Afonso, Euclides da Cunha, Barra e região do Raso da Catarina
(PAN-BRASIL, 2005 e PAIVA et al., 2008). As condições socioambientais dessas áreas demonstram
o risco delas tornarem-se desertificadas, pois “já foi removida a cobertura vegetal e o horizonte
superficial do solo, que já não dispõe de capacidade de retenção de água, pela impermeabilidade ou
permeabilidade excessiva” (op cit., p. 26).
Tabela 1. Resumo dos indicadores de desertificação
Clima precipitação, Insolação, evapotranspiração
Socioeconômico estrutura de idades, taxa de mortalidade infantil, nível educacional, densidade demográfica, renda per capita
Agrícola uso do solo agrícola, rendimento dos cultivos, rendimento da pecuária
Biológicos cobertura vegetal, estratificação da vegetação, composição específica, espécies indicadoras
Físicos índice de erosão, redução de disponibilidade hídrica
Fonte: Matallo Junior, 2001, p. 101-104
Estes dados demonstram que as áreas de risco à desertificação no estado são amplas e pode ser
de fato, ainda maior, uma vez que cerca de 70% do território baiano está sob este domínio
morfoclimático. Além do mais, as práticas tradicionais de uso do solo são marcadas pela
insustentabilidade, que geram, ao longo do tempo, degradação ambiental.
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está sob ação do domínio morfoclimático semi-árido, caracterizado pela
irregularidade e má distribuição das chuvas durante o ano, com ocorrência periódica de secas
prolongadas. Este fato, aliado às técnicas utilizadas no sistema produtivo, culmina na redução da
produção agropecuária e no aumento da pobreza, o que indica a fragilidade e a suscetibilidade
ambiental da região para o desenvolvimento da desertificação.
São encontrados 14 tipos de solos. As classes de maior extensão são os Argissolos – solos
profundos, próprios de paisagens de topografia suavemente ondulada e ondulada (GUERRA e
CUNHA, 2000) –, os Latossolos, os quais são altamente intemperizados, profundos e de baixa
fertilidade natural (op cit.), Planossolos – de drenagem imperfeita com distribuição em pedimentos e
superfícies planas e suavemente onduladas, associados à vegetação de caatinga hipoxerófila e, em
menor grau, hiperxerófila (op cit.) – e Neossolos, os quais são rasos e muito rasos, apresentando o
horizonte A diretamente sobre o substrato rochoso, sendo que, às vezes, possuem horizonte B pouco
espesso, acima do material rochoso pouco intemperizado; são solos pobres e ácidos e, geralmente,
desenvolvem-se em paisagens íngremes, cornijas e frente de cuestas, encostas das serras, penhascos
etc.(op cit.).
Os compartimentos geomorfológicos abrangem setores da Chapada Diamantina, Depressões
Periféricas, Planaltos Pré-litorâneos e Sul-baiano e Regiões de Acumulação (Figura 2). A variação da
altitude encontra-se entre 116 m e 2.025 m, sendo que os pontos mais elevados localizam-se no setor
da Chapada Diamantina e as declividades mais acentuadas distribuem-se nas escarpas da Serra do
Sincorá e na borda do Planalto Sul-Baiano. No setor da Chapada Diamantina predominam relevos em
estruturas dobradas e falhadas, formados, principalmente, por rochas metasedimentares, englobando
parte dos Pedimentos Funcionais e do Pediplano Cimeiro. Predominam Neossolo Litólico Distrófico,
onde se desenvolve o Campo Rupestre e o Campo Limpo. Devido ao difícil acesso e as características
do solo, a agropecuária é quase inexistente, o que distingue essa região das demais que constituem a
área de estudo. As áreas menos elevadas são formadas, sobretudo, por Latossolo Vermelho-Amarelo
Distrófico, o qual possui boa drenagem mais de baixa fertilidade (IBGE, 2007). Reúne a maior
quantidade de tipos de vegetação, onde predominam a Caatinga Arbórea-arbustiva, Campo Rupestre,
Cerrado, Floresta Estacional e Agropecuária (Figura 3).
Fonte: SRH, 2002. Elaborado por: OLIVEIRA JUNIOR, 2008.
Figura2. Mapa de relevo
Fonte: SRH, 2002. Elaborado por: OLIVEIRA JUNIOR, 2008.
Figura 3. Mapa de Vegetação
O Planalto Pré-litorâneo é caracterizado por formas aplainadas, altimetria em torno de 400 a
600 metros e substrato rochoso ígneo. O clima seco desse setor não favorece o intemperismo químico
e acentuada erosão, o que contribui para a conservação do planalto. Os solos predominantes são o
Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico e Chernossolo Háplico. A ação humana é acentuada, com
intenso desenvolvimento da agropecuária, inclusive para o cultivo de cacau (SRH, 2002), com exceção
de alguns espaços, onde há manchas de florestas secundárias.
O Planalto Sul-Baiano é composto por superfícies planas e vertentes abruptas. Parte do vale do
Rio de Contas distribui-se nesse setor. É constituído por rochas metamórficas e ígneas e os principais
solos são: Argissolo Vermelho-amarelo Eutrófico, Planossolos Háplico Eutrófico solódico e Latossolo
Vermelho-Amarelo Distrófico. Em grande extensão da área é praticada a agropecuária, mas há manc
has de Caatinga Arbória-Arbustiva e Floresta Estacional (Figura 3).
A maior extensão da área de estudo é formada pela Depressão Periférica e Interplanáltica,
constituída pelos Pedimentos Funcionais ou Retocados por drenagem incipiente e Pediplano Sertanejo.
É nessa área que se encontram as menores elevações, algumas vezes inferior a 200 metros de altitude.
Os solos mais expressivos são Argissolo Vermelho-amarelo Eutrófico, Latossolo Vermelho-Amarelo
Distrófico, Latossolo Vermelho Eutrófico e Cambissolo Háplico Eutrófico, onde é desenvolvida a
agropecuária. Neste setor existem manchas de Caatinga Arbórea-Arbustiva, Floresta Estacional,
Caatinga Parque, Cerrado e Campo Rupestre (este no Pediplano Sertanejo).
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo está apoiado em uma abordagem sistêmica, que parte do princípio que as paisagens
são sistemas integrados e interdependentes, onde “o todo possui propriedades que não podem ser
explicadas em termos de seus constituintes individuais” (CHRISTOFOLETTI, 1999. p. 4) e foi
desenvolvido em três etapas.
A primeira, após revisão bibliográfica, foram obtidos dados e informações preexistentes em
fontes analógicas e digitais, para montagem de um SIG, que possibilitou o tratamento de dados
espaciais georreferenciados, viabilizando a confecção dos mapas (MIRANDA, 2005). Neste SIG
encontra-se a descrição da realidade espacial da área de estudo (geomorfologia, uso e tipos de solos,
hidrografia, vegetação e geologia) somada ao SIG-Bahia (SRH, 2002).
Para quantificação das condições e distribuições espaciais da vegetação, foram selecionadas
imagens multiespectrais do satélite LANDSAT-7 ETM+ (Tabela 2) e aplicado o Índice da Diferença
Normalizada (NDVI – Normalized difference vegetation índex), o qual foi proposto por Rouse et al.
(1973) apud Rosemback (2005) definido pela seguinte equação:
NDVI= (ρivp – ρv) / (ρivp + ρv) (1) Onde: ρivp é a reflectância no infravermelho próximo e ρv é a reflectância no vermelho.
Após aplicação do NDVI, identificaram-se áreas com diferentes graus de interferência
antropogênica, sendo que os locais que apresentavam menor densidade de cobertura vegetal foram
caracterizados e selecionados para a realização de estudos de campo. Nesta fase, por meio do Modelo
Digital de Terreno – MDT/SRTM-NASA (2003) – gerou-se os produtos altitude e curvas de nível, que
compuseram o banco de dados e possibilitou uma melhor compreensão das paisagens.
Tabela 2. Dados das imagens LANDSAT 7 ETM+ utilizadas para aplicação do NDVI
ÓRBITA/PONTO DATA DA IMAGEM RESOLUÇÃO ESPACIAL PERÍODO 216/069 12/01/2003 30 m Chuvoso 216/070 27/06/2000 30 m Seco 217/068 28/01/2001 30 m Chuvoso 217/069 06/02/2001 30 m Chuvoso 217/070 10/10/2003 30 m Seco
A quarta etapa consistiu na realização do estudo de campo para correlação dos resultados
alcançados, validação do NDVI e aprofundamento sobre o conhecimento da região. Foram obtidas
informações acerca dos tipos e uso dos solos, vegetação, hidrografia, geomorfologia, principais bases
econômica e sócio-rural, as quais foram agregadas ao SIG. Após a comparação e integração das
informações logradas em cada etapa desse estudo, indicaram-se as áreas deterioradas, com
possibilidade de desenvolver desertificação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas imagens selecionadas do Satélite LANDSAT-7 ETM+, após a fase de pré-processamento, foi
aplicado separadamente o NDVI, após realização e descarte de mosaicos, em razão de os recortes
apresentarem índices de vegetação bastante extremos e os contatos diferenças marcantes. Isso decorreu
das imagens disponibilizadas serem de escalas temporais distintas, em que a sazonalidade climática,
comum à área de estudo, imprime significativas alterações na cobertura vegetal, o que modifica as
respostas espectrais do sensor (LINGNAU et al., 2003). Esta alternativa logrou melhor detalhamento
do índice de vegetação e maior qualidade para os resultados, pois possibilitou a identificação mais
acurada das classes obtidas em cada recorte.
A tabela 3 indica as classes produzidas no NDVI (Figuras 4 a 8) e caracteriza cada uma delas em
função do tipo de cobertura da superfície, tendo por base mapeamentos anteriores (SRH, 2002) e os
trabalhos de campo. Esta associação contribuiu para a análise dos resultados do NDVI, que
posteriormente foram agregados aos demais temas da pesquisa, ampliando a capacidade analítica dos
processos de deterioração, degradação e desertificação.
A análise do NDVI favoreceu à caracterização da área de estudo, visto que as diferentes
respostas espectrais dos alvos da superfície terrestre, como solo exposto, espelho d’água e
afloramentos rochosos, são facilmente distinguíveis da vegetação (ALMEIDA, 1997).
Tabela 3. NDVI
PERÍODO SECO PERÍODO CHUVOSO
CENAS/ DATAS (NDVI) CLASSES
CENAS/ DATAS
NDVI) CLASSES
216/070 27/06/2000
-1,00 a -0,10 Água5/B. areia6
216/069 12/01/2003
-0,44 a -0,20 Água/Aflor. roch. -0,10 a 0,12 Aflor. roch.7/S. exposto8 -0,20 a -0,07 Solo exposto/Aflor. roch. 0,12 a 0,35 Veg9. gramíneo-lenhosa -0,07 a 0,04 Veg. Gramínea 0,35 a 0,57 Veg. Aberta 0,04 a 0,17 Veg. gramíneo-lenhosa 0,57 a 0,80 Veg. Densa 0,17 a 0,29 Veg. Aberta
217/070 10/10/2003
-0,50 a -0,20 Água/B. de areia 0,29 a 0,54 Veg. densa. -0,20 a -0,06 B. areia7/aflor. roch./S. exposto
217/068 28/01/2001
-0,33 a -0,22 Aflor. rocha/S. exposto -0,06 a 0,08 Veg. gramínea 0,22 e -0,10 S. exposto 0,08 a 0,23 Veg. aberta -0,10 e 0,01 Veg. Gramínea 0,23 a 0,37 Veg. gramíneo-lenhosa 0,01 e 0,12 Veg. gramíneo-lenhosa 0,23 a 0,66 Veg. densa 0,12 a 0,35 Veg. Aberta
0,35 e 0,58 Veg. Densa
217/069 06/02/2001
-0,60 a -0,29 Água/Aflor. rocha /S. exposto
-0,29 a -0,14 S. exposto -0,14 a 0,01 Veg. Gramínea 0,01 a 0,16 Veg. gramíneo-lenhosa
5: espelho d’água / 6: bancos de areia/ 7: afloramentos rochosos / 8: solo exposto / 9: vegetação.
O recorte da imagem 216_69 refere-se à área de Depressão Periférica e Interplanálticas, da
Chapada Diamantina e do Planalto Sul-Baiano. Os valores mais baixos do índice de vegetação
distribuem-se na depressão, os quais englobam espelho d’água, afloramentos rochosos e solo exposto.
Os tipos de solos predominantes são Planossolo Háplico Eutrófico solódico, Latossolo Vermelho-
Amarelo Distrófico e Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico. Após a associação do NDVI com o
mapa de vegetação, percebeu-se que os valores baixo são resultantes das espécies de vegetação
deciduais que compõem a Caatinga Arbórea-Arbustiva e do período de preparação da terra para a
plantação, pois em quase toda área é desenvolvida a agropecuária. No topo do Planalto Sul-Baiano os
menores índices de vegetação estão associados à ausência de cobertura vegetal ou das características
das vegetações predominantes nos Neossolo Litólico Eutrófico.
As demais áreas concernentes ao recorte da imagem 216_69, predominam valores altos do
NDVI e distribuem-se a leste do Planalto Sul-baiano e do Planalto Pré-Litorâneo. Os solos são
formados tipicamente por Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico e Distrófico, Chernossolo Háplico e
Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico. Nestes, predominam o uso do solo para a agropecuária, com
manchas de Florestas Secundárias, Cabruca, Floresta Estacional e Floresta Primária.
A área correspondente ao recorte da imagem 216_070 alcançou valores extremos do NDVI – os
mais acentuados em toda região –, sendo que os mais baixos corresponderam a espelho d’água e
bancos de areia da bacia do Rio de Contas. As áreas de solo exposto (algumas manchas) e de cobertura
vegetal de porte gramíneo-lenhosa distribuem-se predominantemente no Planalto Sul-baiano, onde
encontram-se os seguintes solos: Planossolo Háplico Eutrófico solódico, Neossolo Litólico Eutrófico,
Cambissolo Háplico Eutrófico e Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico. Nessas áreas é praticada a
agropecuária e distribui-se a Caatinga Arbórea-Arbustiva e Floresta Estacional.
O recorte da imagem 217_068 compõe a extremidade noroeste da área de estudo. Os índices de
vegetação mais baixos correspondem às áreas de afloramentos rochosos e solos expostos no topo da
Chapada Diamantina e é a leste deste setor que concentra os valores mais altos do NDVI.
Na depressão, localizada na parte leste da região, os índices são bastante diferenciados.
Predominam o desenvolvimento da agropecuária e manchas de Floresta Estacional. A área é composta
por Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico, Latossolo
Vermelho-Amarelo Eutrófico, e Neossolos Litólicos Distrófico – sendo que este se distribui nos pontos
mais elevados e é caracterizado pelo desenvolvimento de Campo Limpo.
A área correspondente ao recorte 217_069 refere-se à Chapada Diamantina e Depressões
Periféricas e Interplanálticas. Os valores mais baixos do NDVI distribuíram-se no Topo da Chapada,
com altitudes que variam de 600 a 2000 metros de altitude. Essas áreas são constituídas por Latossolo
Vermelho-Amarelo Distrófico, Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico e Distrófico, Neossolo Flúvico
Distrófico – os quais são formados pela sucessão de camadas de caráter aluvionar, em que não há
relação pedogenética entre si (IBGE, 2007) –, e nos topos os Neossolos Litólicos Distróficos, onde
predominam os Campos Limpos.
As áreas de depressão possuem valores diferenciados de NDVI. É constituída pelos Pedimentos
Funcionais por drenagem incipiente, onde predominam o Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico,
Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico, Latossolo Vermelho Eutrófico e Cambissolo Háplico
Eutrófico.
A área concernente ao recorte da imagem 217_070 constitui-se a Depressão Periférica
(Pediplano Sertanejo), Planalto Sul-baiano e Chapada Diamantina, sendo que os menores índices de
vegetação situaram na depressão. É formada por Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico, Latossolo
Vermelho-Amarelo Distrófico e Eutrófico, Cambissolo Háplico Eutrófico, onde se desenvolvem a
agropecuária, Caatinga Arbórea-arbustiva, Floresta Estacional e Cerrado.
A identificação dos compartimentos topográficos foi realizada a partir do MDT/SRTM-NASA,
construindo-se o mapa topográfico – que apresentou altitudes entre 200 e 2.000 m – e de declividade.
As altitudes entre 200 e 400 metros distribui-se em áreas de Depressão periféricas, com extensas
superfícies aplanadas. A borda da Serra do Sincorá possui escarpas abruptas, que intensificam os
processos erosivos. Os locais de acumulação destacam-se ao longo das bacias hidrográficas dos rios de
Contas e Paraguaçu. As maiores altitudes se distribuem a noroeste, Serra do Sincorá.
Esses resultados fundamentaram a seleção de 20 pontos para estudos de campo (Figura 9) cujos
dados estão sistematizados na tabela 4 e 5. Dentre os locais onde foram realizados os estudos de
campo, os pontos 3, 5, 6, 7 e 19 apresentaram-se mais deteriorados, com forte indício de degradação,
podendo, em longo prazo, constituírem-se áreas de ricos à desertificação.
O terceiro ponto, situado no Planalto Sul-baiano, possui superfície dissecada e irregular,
concentrando algumas áreas de ravinas profundas (Figura 10 e 11). Foram identificadas queimadas
que suprimiu parte da vegetação que, em combinação com as formas de relevo local, com o solo
friável e com o pisoteio de gados, intensificam os processos erosivos e acarretam à formação de
voçorocas e no aumento de ravinas. Possui marcas de canais de rios, mas todos intermitentes e é
praticada a pecuária extensiva, com plantações de capim. Segundo Selby (1990), as voçorocas podem
se formar numa ruptura de encosta, ou em áreas onde a cobertura vegetal foi removida, em especial
quando o material subjacente for mecanicamente fraco e incosolidado [...] em conjunto com a retirada
da vegetação, o aumento das terras cultivadas, as queimadas excessivas e o super-pastoreio (apud
Cunha e Guerra, 2007, p. 200).
Estes fatos podem contribuir para o agravamento da degradação ambiental e no aumento do
grau de risco à desertificação, pois algumas das principais formas do homem contribuir para a
instalação desse processo foram evidenciadas nesse espaço.
Figura 9. Localização dos pontos de campo
Figura 10. Ponto 3 – Desmatamento em encostas de forte
declividade
Figura 11. Ponto 3 – Formação de ravinas; queimadas
O ponto 5, localiza-se em áreas de serras com topos convexos, onde desenvolve-se Caatinga
Arbórea Arbustiva. Entretanto, nas encostas, que possuem forma retilínea, as vegetações são de porte
gramíneo com alguns arbustos espaçados. O solo da região é o Planossolo Háplico Eutrófico solódico,
onde há marcas intensas de pisoteio de gados e de queimadas (Figura 12).
O ponto 6, localizado numa encosta acentuada dos Patamares da Serra do Rio de Contas. A
vegetação predominante é a Caatinga Arbórea-Arbustiva, de onde há extração de lenhas, sendo que nas
áreas mais baixas o porte vegetativo é gramíneo, predominando pastagens para a criação de gados.
Nessa área há marcas de queimadas e extração de recursos minerais (Figura 13).
Figura 12. Ponto 5 – Ravinas
Figura 13. Ponto 6 – Estração de recursos minerais
Tabela 4. Dados gerais dos pontos de campo
PONTO COORDENADAS MUNICÍPIO RELEVO SOLO
1 399745 8567183 Nova Itarana Chapada Diamantina ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico
2 366675 8543081 Planaltino Chapada Diamantina LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico
3 336379 8511514 Maracás Planalto Sul-baiano LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico
4 327345 8503365 Maracás Planalto Sul-baiano CAMBISSOLO HÁPLICO Eutrófico - CXbe
5 375980 8462659 Jequié Planalto Sul-baiano PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico solódico
6 373049 8454026 Jequié Planalto Sul-baiano PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico solódico
7 369835 8444832 Jequié Planalto Sul-baiano PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico solódico
8 342294 8442352 Manoel Vitorino Planalto Sul-baiano PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico solódico
9 336726 8448071 Manoel Vitorino Planalto Sul-baiano ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico
10 317903 8443376 Manoel Vitorino Depressão periférica interplanáltica
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico
11 310733 8426356 Mirante Depressão periférica interplanáltica
Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico
12 276728 8426356 Contendas do Sincorá Chapada Diamantina ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico -
13 270091 8413377 Aracatu Depressão periférica interplanáltica
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico
14 268322 8384042 Anagé Depressão periférica interplanáltica
LATOSSOLO VERMELHO Eutrófico
15 230934 8396470 Aracatu Depressão periférica interplanáltica
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico
16 234709 8434300 Aracatu Depressão periférica interplanáltica
LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico
17 210751 8445842 Brumado Depressão periférica interplanáltica
PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico solódico
18 207849 8456309 Dom Basílio Depressão periférica interplanáltica
PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico solódico
19 204845 8454709 Dom Basílio Depressão periférica interplanáltica
LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico
20 180939 8480661 Livramento de Nossa Senhora
Depressão periférica interplanáltica
CAMBISSOLO HÁPLICO Eutrófico
A extração de minerais do solo constitui em um dos fatores desencadeadores da desertificação,
uma vez que necessita da retirada parcial ou total do solo, principalmente da parte mais fértil. Esse fato
desencadeia a degradação do solo e a sua recuperação é lenta e dificultosa (PAN-BRASIL, 2005).
Tabela 5. Dados ambientais dos pontos de campo
PONTO USO/OCUPAÇÃO MANEJO REALIDADE AMBIENTAL
1 Agropecuária, extração de lenhas Queimadas e desmatamento
Áreas predominando solos desnudos e pequenas concentração de Caatinga arbórea-arbustiva
2 Agropecuária - -
3 Agropecuária Queimadas, desmatamento
Superfície dissecada irregular, solo pisoteado (gados), friável e desnudo, intensificação dos processos erosivos,
expansão de ravinas e voçorocas
4 Caatinga Arbórea-arbustiva, pecuária e extração de lenhas
Queimadas e desmatamento
Solo pisoteado e desnudo, intensificação dos processos erosivos, com formação de ravinas
5 Caatinga Arbórea-arbustiva, agropecuária Queimadas Solo pisoteado pelo gado e algumas áreas cobertas por
vegetação de porte gramíneo
6 Caatinga Arbórea-arbustiva,
agropecuária, extração de lenhas e pedras
Queimadas Solo pisoteado pelo gado e removido devido a extração de rochas
7 Agropecuária Queimadas e desmatamento
Vegetação antropizada, com áreas de solos desnudos, onde os processos erosivos são intensos, pripiciando a formação
de sulcos e ravinas
8 Agropecuária Queimadas e desmatamento Solos desnudos com formação de ravinas
9 Agropecuária Queimadas e desmatamento
Solos desnudos e processos erosivos atuantes, onde parte das raízes das vegetações estão expostas
10 Caatinga Arbórea-arbustiva,
agropecuária, extração de madeira e lenha
Queimadas e desmatamento Solos expostos aos agentes intepéricos e erosivos
11 Caatinga Arb./Arbust Queimadas e desmatamento
Solos expostos com atuação dos processos erosivos, predominado a formação de ravinas
12 Caatinga Arbórea-arbustiva, agropecuária
Queimadas, desmatamento
Vegetação espaçada, marcas de pisoteio de gados, solos expostos aos agentes erosivos, formação de sulcos
13 Caatinga Arbórea-arbustiva, agropecuária
Queimadas e desmatamento Áreas de solos expostos
14 Agropecuária Queimadas e desmatamento
Vegetação de pequeno porte e espaçada, predomínio de solo exposto. Localização de canal de rio intermitente,
onde a mata ciliar foi suprimida, favorecendo a erosão das margens e assoreamento do canal
15 Agropecuária, extração de lenha Queimadas e desmatamento
Vegetação de pequeno porte e de baixa densidade, com áreas de solos expostos.e desenvolvimento da fruticultura
e bovinocultura
16 Agropecuária Queimadas e desmatamento
Solos desnudos, atuação dos processos erosivos, predominando a formação de ravinas
17 Caatinga Arbórea-arbustiva, agropecuária
Queimadas e desmatamento
Agricultura Familiar, com o desenvolvimento da fruticultura e bovinocultura
18 Caatinga Arbórea-arbustiva, agropecuária
Queimadas e desmatamento
Agricultura Familiar, predominando a plantação de feijão e palma, sendo que esta para alimentar os gados
19 Agropecuária Queimadas e desmatamento
Vegetação totalmente suprimida, horizonte superficial do solo arenoso, atuação intensa dos processos erosivos em
lençol e sulcos, com formação de ravinas
20 Caatinga Arbórea-arbustiva, agropecuária
Queimadas, desmatamento e
irrigação
Desenvolve a agricultura familiar, predominando a fruticultura
No ponto 7, a vegetação, formada de espécies de porte arbustiva, arbórea e gramínea, está
bastante antropizada pela utilização excessiva de queimadas e desmatamentos. Este fato se estende por
toda a área, inclusive nas encostas das serras, ampliando as áreas de solos desnudos (Figuras 14).
Figura 14. Ponto 7 – Queimadas
O ponto 19 (Figuras 15) localiza-se na Depressão Periférica, circundada por serras e morros de
dimensões variadas, apresenta altitudes médias de 392 m. A vegetação foi suprimida para
desenvolvimento de agricultura de subsistência, tendo como principais produtos o maracujá e a palma
(para alimentação do gado nos períodos de seca prolongada). Além do desmatamento, no processo de
preparação da área para o cultivo empregou-se a coivara (técnica de queimada utilizada por pequenos
produtores rurais, que consiste na derrubada e empilhamento da vegetação e posterior queima). O solo
(Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico) é arenoso (horizonte superficial) e sem estrutura, o que
favorece processos erosivos na estação chuvosa, com rápida abertura de sulcos e ravinas. A remoção
de solo por erosão laminar e em lençol é muito expressiva. Estes processos são violentos, marcados
por torrencialidade, e possuem uma forte competência erosiva, removendo a superfície do solo,
tornando-o estéril.
Figura 15. Ponto 19 – Desmatamento com mobilização superficial do solo
5. CONCLUSÕES
O sudoeste baiano possui áreas que encontram-se deterioradas, devido à exploração intensa dos
recursos naturais, principalmente pela utilização das técnicas de queimadas e desmatamento,
proporcionando a exposição do solo aos agentes erosivos e a constante insolação. Em grande parte
dessas áreas são desenvolvidas a agricultura e a pecuária extensiva, principalmente, a bovinocultura,
cuja continuidade pode elevar ainda mais o risco dessas áreas tornarem-se desertificadas, caso não
sejam adotadas práticas conservacionistas. Como aponta Matallo Junior (2001), a ampliação de áreas
para a produção agropecuária pode culminar na desertificação, na hipótese de não haver o manejo
sustentável dos recursos ambientais, o que é perceptível na área de estudo.
Entre as principais causas dos impactos ambientais antropogenéticos na área de estudo
encontra-se as queimadas. Essa técnica é utilizada comumente para a preparação da terra para a
introdução de culturas e para a formação de pastagens, devido, sobretudo, a tradição cultural, falta de
conhecimento dos produtores e “ausência” de investimentos por parte do poder público.
Quando a utilização dessa técnica é intensa, apenas as espécies arbóreas e arbustivas mais
resistentes às queimadas e que possuem mecanismos biológicos adequados para adaptação, como a
casca suberosa ou cortical, sobrevivem (PAN-BRASIL, 2005). Isso ocasiona, entre outras coisas, a
diminuição da biodiversidade e tornam os solos desnudos, o que os expõe a insolação excessiva e a
atuação dos processos erosivos no período das chuvas (op cit). Outro fator ocasionado pela queimada
demasiada é a diminuição do estoque de sementes no solo, uma vez que as sementes não brotam
imediatamente, mas logo em seguida aos primeiros dias de chuvas, em que o ambiente é propício para
a sua germinação e desenvolvimento; fato crucial para a manutenção da cobertura vegetal dos solos
(VASCONCELOS SOBRINHO, 1983).
Esses fatos propiciam, inclusive, a intensificação dos processos erosivos que culminam na
formação de ravinas, voçorocas, perdas de solo e assoreamentos dos rios. Em longo prazo, a
combinação desses fatores com a variação climática cria condições potenciais para o desencadeamento
da desertificação, que pode ocorrer em diferentes espaços da área de estudo, sobretudo nas depressões,
em razão da exploração intensa dos solos.
A utilização de ferramentas de sensoriamento remoto, especialmente, a aplicação do NDVI nos
recortes das imagens, proporcionou a caracterização da superfície da área de estudo, constatando os
locais de solos expostos – indicador do processo em questão – e viabilizou a seleção de pontos
estratégicos para a realização de estudos de campo e o aprofundamento do conhecimento acerca da
dinâmica ambiental e social da região.
Assim, averiguou-se que a intensidade das práticas agropecuárias, realizadas num contexto
ambiental frágil, sobretudo nas áreas de depressão, é um dos principais fatores que intensificam a
degradação das terras, uma vez que são praticadas técnicas que não possibilitam a sustentabilidade. A
integração dessas informações no SIG mostrou-se uma estratégia válida para a utilização de inúmeros
dados, necessário para a realização de estudos sobre a desertificação, devido à grande quantidade de
indicadores do processo.
Verificou-se inclusive que os pontos 3, 5, 6 e 7 estão localizados em regiões de planaltos, sendo
que os três últimos no município de Jequié. Os pontos 5, 6, 7 e 19 são formados por PLANOSSOLO
HÁPLICO Eutrófico solódico, onde é desenvolvida a bovinocultura. A característica deste solo e o
constante pisoteio do gado, tenderá a diminuir a permeabilidade da água nos horizontes do solo,
dificultando o desenvolvimento da vegetação. Além disso, nessas áreas há ampliação do desmatamento
para a formação de pastos. Assim, nos períodos de seca a quantidade de biomassa é baixa, o que tem
promovido a intensificação dos processos erosivos, com a formação de ravinas e voçorocas, elevando
o risco desses espaços à desertificação.
Os resultados obtidos nesse trabalho, embora ainda necessite de aprofundamento, tende a
contribuir com os esforços de combate à desertificação promovido pelas PAN-BRASIL (2005), que
estabelece como prioridade o fortalecimento da base de conhecimentos sobre este processo. No seu
desencadeamento, o homem possui um papel crucial, pois o emprego de técnicas impróprias promove
a insustentabilidade e intensifica a degradação ambiental, ocasionando uma série de desequilíbrios
socioambientais que, na pior das hipóteses, amplia a pobreza e deteriora a qualidade de vida das
populações que residem nessas áreas.
Entretanto, há necessidade de estudos mais detalhados sobre essa temática no sudoeste baiano,
sobretudo nas áreas de depressão, tendo como parâmetros outros indicadores, para o conhecimento
mais específico sobre a situação ambiental, o que poderá apontar as áreas de franco risco à
desertificação. Verificou-se que regionalmente há expressivos indícios de que a deterioração se
manifesta sob diferentes feições e perspectivas. O alto curso do Rio de Contas e a região de Guanambi
demonstram feições morfológicas e de uso do solo com acentuado grau de desequilíbrio ambiental.
Portanto são áreas suscetíveis que merecem estudos mais detalhados.
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Vol. 06, 2001.
7. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Instituto do Meio Ambiente – BA (IMA/BA) e à Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS), que viabilizou a realização dessa pesquisa através do Programa de Bolsas de
Iniciação Científica – PROBIC/UEFS.