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Mapeando as tipografias do periódico O Jornal das Senhoras (1852- 1855): as relações sócio-espaciais nos impressos. Everton Vieira Barbosa Mestrando em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP/Assis-SP Bolsista pelo processo 2013/15555-8, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Resumo: Este texto busca mapear as tipografias em que O Jornal das Senhoras (1852-1855) foi impresso. Por meio deste mapeamento, refletiremos a relação e a importância desses espaços físicos, bem como a circularidade do impresso periódico pela cidade do Rio de Janeiro. A identificação dos endereços tipográficos também permitirá averiguar os rearranjos e as estratégias jornalísticas necessárias para realocar o local de impressão de seu periódico, assim como readequar seu acesso pela cidade. Neste sentido, questionamos se as mudanças no endereço tipográfico, ou de tipografia, alteraram o valor do periódico, o layout, o formato, o número de páginas, o assunto e/ou o público leitor? A resposta a esta questão fornecerá indícios sobre a influência e a importância dos endereços tipográficos e das tipografias existentes nesse período, assim como a readequação na circulação dos impressos periódicos pela cidade do Rio de Janeiro na metade do Oitocentos. Palavras-chave: Endereços tipográficos; O Jornal das Senhoras; Circulação de impressos. Abstract: This text seeks to map the printers that O Jornal das Senhoras (1852- 1855) was printed. Through this mapping, we will reflect the relationship and the importance of these physical spaces, and the circularity of the printed journal the city of Rio de Janeiro. The identification of typographical addresses also will investigate the rearrangements and the journalistic strategies necessary to relocate the place of its regular printing, as well as readjust access the city. In this sense, we question whether changes in the typographical address, or typography, changed the value of the journal, layout, format, number of pages, the subject and/or the reading public? The answer to this question will provide evidence on the influence and importance of typographical and addresses the existing printers in this period, as well as the readjustment in the circulation of periodicals printed by the city of Rio de Janeiro in the mid-nineteenth century. Keywords: Typographical Addresses; O Jornal das Senhoras; Printed Circulation.

Mapeando as tipografias do periódico O Jornal das ... · Palavras-chave: Endereços tipográficos; ... Conde, nº 10, em 1854.. Cabe ressaltar que a Tipografia Franceza, propriedade

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Mapeando as tipografias do periódico O Jornal das Senhoras (1852-

1855): as relações sócio-espaciais nos impressos.

Everton Vieira Barbosa Mestrando em História pela Universidade Estadual Paulista

Júlio de Mesquita Filho – UNESP/Assis-SP Bolsista pelo processo 2013/15555-8, Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

Resumo: Este texto busca mapear as tipografias em que O Jornal das Senhoras (1852-1855) foi impresso. Por meio deste mapeamento, refletiremos a relação e a importância desses espaços físicos, bem como a circularidade do impresso periódico pela cidade do Rio de Janeiro.

A identificação dos endereços tipográficos também permitirá averiguar os rearranjos e as estratégias jornalísticas necessárias para realocar o local de impressão de seu periódico, assim como readequar seu acesso pela cidade.

Neste sentido, questionamos se as mudanças no endereço tipográfico, ou de tipografia, alteraram o valor do periódico, o layout, o formato, o número de páginas, o assunto e/ou o público leitor? A resposta a esta questão fornecerá indícios sobre a influência e a importância dos endereços tipográficos e das tipografias existentes nesse período, assim como a readequação na circulação dos impressos periódicos pela cidade do Rio de Janeiro na metade do Oitocentos. Palavras-chave: Endereços tipográficos; O Jornal das Senhoras; Circulação de impressos.

Abstract: This text seeks to map the printers that O Jornal das Senhoras (1852-1855) was printed. Through this mapping, we will reflect the relationship and the importance of these physical spaces, and the circularity of the printed journal the city of Rio de Janeiro.

The identification of typographical addresses also will investigate the rearrangements and the journalistic strategies necessary to relocate the place of its regular printing, as well as readjust access the city.

In this sense, we question whether changes in the typographical address, or typography, changed the value of the journal, layout, format, number of pages, the subject and/or the reading public? The answer to this question will provide evidence on the influence and importance of typographical and addresses the existing printers in this period, as well as the readjustment in the circulation of periodicals printed by the city of Rio de Janeiro in the mid-nineteenth century. Keywords: Typographical Addresses; O Jornal das Senhoras; Printed Circulation.

Introdução

A atenção dada aos endereços tipográficos no periódico O Jornal das

Senhoras começou a partir da pesquisa de mestrado, iniciada no segundo semestre

de 2013, e atualmente em fase de conclusão.

Desde este período até o presente momento, percebemos que durante os

quatro anos de existência deste impresso, de janeiro de 1852 a dezembro de 1855,

ele foi publicado por três redatoras-chefe sucessivamente1, e em cinco endereços

tipográficos diferentes.

Além disso, foi possível identificarmos algumas estratégias utilizadas para

manter a circulação do impresso no Rio de Janeiro, na busca por torná-lo acessível

e bem quisto pelas senhoras cariocas que aderissem à assinatura deste periódico.

Neste sentido, apresentaremos, em um primeiro momento, os locais em que

O Jornal das Senhoras foi impresso, demonstrando a importância desta localização

para o acesso das assinantes do periódico.

Seguiremos pontuando as redatoras-chefe que atuaram no periódico e as

mudanças feitas na estrutura do impresso, tais como o seu layout, o número de

páginas e assuntos, relacionando com alguns jornais publicados no mesmo período,

e identificando as estratégias utilizadas pelas redatoras para tornar O Jornal das

Senhoras aceito pelas senhoras cariocas no Oitocentos.

O Mapeamento dos endereços tipográficos do periódico O Jornal das

Senhoras

Para identificar as casas tipográficas em que O Jornal das Senhoras foi

impresso, recorremos à leitura do periódico, identificando nas últimas páginas de

cada edição dominical, o seu programa, contendo o endereço onde ele era

publicado e o local de subscrição.

Assim, a primeira casa tipográfica que imprimiu o periódico foi a Tipografia

Parisiense. Inaugurada em 1850, esta tipografia estava localizada inicialmente na

1 Joanna Paula Manso de Noronha (1819-1875) foi a primeira redatora-chefe e permaneceu na direção do periódico de janeiro a junho de 1852; Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco (1816-1875) foi a segunda redatora-chefe e permaneceu na direção do periódico de julho de 1852 a maio de 1853; Gervasia Nunezia Pires dos Santos Neves (1824-?) foi a terceira redatora-chefe e permaneceu na direção do periódico de junho de 1853 a dezembro de 1855.

Rua da Quitanda, nº 68, e só em 1852 ela passou para a Rua Nova do Ouvidor, nº

20. Neste endereço, O Jornal das Senhoras foi impresso por dois meses, entre a 1ª

edição (01/01/1852) e a 9ª edição (29/02/1852).

Enquanto no ano de 1852 esta tipografia foi anunciada pelo periódico

Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro2 sem a identificação

de proprietário(a), para o ano de 1853 e 1854, ela apareceu pertencendo a Frederico

Alfredson3.

Porém, este tipógrafo deixou de ser dono da Tipografia Parisiense em 1855 e

ele só reapareceu nas páginas do periódico Almanak Laemmert em 1859, como

proprietário da Tipografia Franceza, endereçada no Largo da Carioca, nº 11.

Com a saída de Frederico Alfredson da Rua Nova do Ouvidor, nº 20, em

1855, foi instalada no local a Tipografia Fluminense, sob propriedade de Domingos

Luiz dos Santos, que foi proprietário da Tipografia da Nação, localizada na Rua do

Conde, nº 10, em 1854..

Cabe ressaltar que a Tipografia Franceza, propriedade de Frederico

Alfredson, a partir de 1859, pertenceu a J. S. Saint Amant até o ano de 1852, na Rua

de São José, nº 64, e a Jorge – ou George – Leuzinger entre os anos de 1853 a

1857, na Rua do Ouvidor, nº 36. E a Tipografia da Nação, de Domingos Luiz dos

Santos, pertenceu a Macedo & Irmão, em 1853.

Estas informações demonstram como foi curto e efêmero o tempo em que as

casas tipográficas permaneciam sob o mesmo endereço e/ou sob a mesma direção.

Assim, podemos compreender o curto período de impressão dos periódicos nestes

estabelecimentos, bem como suas constantes transições entre as casas tipográficas

no Rio de Janeiro.

Devido a mudança de direção na Tipografia Parisiense, O Jornal das

Senhoras, a partir da 10ª edição (07/03/1852), passou a ser impresso pela Tipografia

de Santos e Silva Junior, localizada na Rua da Carioca, nº 32.

Esta tipografia permaneceu sob a direção de Santos e Silva Junior de 1851 a

1854, e a partir de 1855, ela passou a ser chamada de Tipografia Imparcial4, tendo

2 Conhecido também como Almanak Laemmert, por pertencer aos irmãos Eduardo Laemmert e Henrique Laemmert. 3 Também identificamos como Frederico Afredson e Frederico Arfrevdson. 4 A Tipografia Imparcial foi propriedade de Francisco de Paula Brito até o ano de 1850, localizada na Praça da Constituição, nº 64. A partir de dois de dezembro de 1850, Paula Brito modificou o nome do estabelecimento para Tipografia Dous de Dezembro, em homenagem a data de seu aniversário e, em especial, de D. Pedro II.

como diretor Manoel José Pereira da Silva Junior, denotando o fim de sociedade

com o outro proprietário, de sobrenome Santos.

Apesar de esta tipografia ter permanecido no mesmo endereço e com os

mesmos diretores por quatro anos seguidos, O Jornal das Senhoras foi impresso

neste estabelecimento por apenas um ano, de março de 1852 a fevereiro de 1853.

Durante este período, houve a mudança na direção do periódico, quando Joanna

Paula Manso de Noronha passou o cargo para Violante Atabalipa Ximenes de Bivar

e Vellasco, entre junho e julho de 1852.

A nova alteração no endereço tipográfico, portanto, não foi causada pela

mudança de direção ou de localização no estabelecimento de Santos e Silva Junior,

nem pela mudança na direção d’O Jornal das Senhoras, mas pelo objetivo da nova

redatora-chefe em obter uma tipografia própria para o seu periódico.

Deste modo, o novo endereço de impressão do impresso estava localizado na

Rua do Ouvidor, nº 36, intitulado como Tipografia do Jornal das Senhoras de G.

Leuzinger5, o mesmo que dirigiu a Tipografia Franceza entre 1853 e 1857.

George – ou Jorge - Leuzinger (1813-1892), veio da Suíça para o Brasil em

1832. Em 1845, ele apareceu no periódico Almanak Laemmert como proprietário de

uma loja de papel e objetos de escritório, e a partir da 62ª edição, (06/03/1853), ele

começou a imprimir O Jornal das Senhoras em sua tipografia.

O período de impressão nesta casa tipográfica foi de apenas quatro meses, e

neste meio tempo Gervasia Nunezia Pires dos Santos Neves assumiu a direção do

periódico, no lugar de Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco, que deixou o

cargo “por motivos pessoais e financeiros” (LIMA, 2012, p. 12).

E mesmo com a mudança na direção do periódico, Gervasia manteve o

objetivo de obter um endereço próprio para a impressão de seu periódico. Tal

empreitada ainda não havia se efetivado totalmente, pois apesar de a tipografia já

possuir a nomenclatura “O Jornal das Senhoras”, o estabelecimento mantinha a

sociedade com o comerciante Leuzinger.

5 A nomenclatura “Tipografia do Jornal das Senhoras de G. Leuzinger” apareceu apenas na 62ª edição (06/03/1853) do periódico. Nas outras edições em que O Jornal das Senhoras foi impresso, na Rua do Ouvidor, nº 36, apareceu apenas a nomenclatura “Tipografia do Jornal das Senhoras”. Porém, consideramos G. Leuzinger como proprietário deste estabelecimento por permanecer neste logradouro nos anos seguintes.

Deste modo, a partir da 79ª edição (03/07/1853), o impresso começou a ser

publicado pela Tipografia do Jornal das Senhoras, localizado na Rua da Alfândega,

nº 54.

Antes de se tornar a Tipografia do Jornal das Senhoras, havia neste

endereço, entre 1851 e 1853, a Tipografia Litteraria, de João do Espírito Santo

Cabral, que também foi impressor do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, desde

1839 (CABRAL, 1839, p. 353), e foi proprietário de uma tipografia com seu nome até

o ano de 1846, localizada na Rua do Hospício, nº 66.

Conforme consta no Correio Paulistano, este homem se mudou para São

Paulo em 1853, na busca por “estabelecer um jornal em qualquer cidade desta

província ou na de Minas Gerais até a distância de 60 léguas” (MARQUES, nº 1063,

quinta-feira, 27/10/1859: 03), deixando livre o endereço no Rio de Janeiro para que a

redatora d’O Jornal das Senhoras pudesse imprimir seu periódico.

Porém, a permanência na Rua da Alfândega, nº 54, durou menos de dois

meses, e a partir da 86ª edição (21/08/1853), Gervásia instalou a Tipografia do

Jornal das Senhoras na Rua do Cano, nº 165, local em que manteve a publicação do

periódico até sua última edição, em 30 de dezembro de 1855.

Após a mudança de endereço da Tipografia do Jornal das Senhoras, a Rua

da Alfândega, nº 54, deixou de servir como estabelecimento tipográfico. Naquele

logradouro a “Emile Kahn e Torres era importadora de vinhos e Arthur Aron,

comerciante de artigos de armarinho, chapéus, meias, bijuterias, fazendas e

perfumes” e era “também endereço da sede da Heymann e Aron Cia” (VIDAL;

LUCA, 2009:183).

Assim, a Rua do Cano, nº 165 foi o endereço de maior permanência da

Tipografia do Jornal das Senhoras. Na última edição d’O Jornal das Senhoras, a

redatora-chefe Gervásia mencionou uma pausa em 1856 e que retornaria com a

impressão do periódico em 1857, porém ela não conseguiu concretizar este objetivo,

findando com a publicação do mesmo. Com isso, a partir de 1857, este endereço

passou a sediar a Tipografia de João Xavier de Souza Menezes, mantendo no

logradouro um estabelecimento tipográfico.

Além da Tipografia do Jornal das Senhoras, outros estabelecimentos atuaram

no Rio de Janeiro, localizados próximos a região comercial da cidade. E para

identificar quais periódicos circularam pela cidade, além d’O Jornal das Senhoras, e

quais tipografias funcionaram no período, utilizamos o periódico Almanak Laemmert,

obtendo o seguinte resultado: Em 1852 constatamos 22 periódicos e 23 tipografias;

Em 1853, 30 periódicos e 25 tipografias; Em 1854, 30 periódicos e 27 tipografias; E

em 1855, 24 periódicos e 24 tipografias.

Com estas informações, propomos visualizar o endereço onde estas

tipografias estavam localizadas, utilizando um mapa da cidade do Rio de Janeiro6.

Nele, inserimos uma numeração em ordem crescente, indicando os

estabelecimentos tipográficos divulgados pelo Almanak Laemmert para o ano de

1854, por ser um período com o maior número de tipografias:

Fonte: CANO, J. et al (Orgs.). MAPAS TEMÁTICOS SANTANA E BEXIGA 09, 10, 11, 14, 15, 16, 19 e

20 (Mapas da Coleção Gotto – Rio de Janeiro, 1866). Projeto Temático FAPESP Proc. 01/05017-1.

Complementando estas informações, elaboramos uma legenda separada do

mapa, contendo a mesma numeração em ordem crescente, que determina cada

6 Com o uso dos softwares OneNote 2007 e Paint, utilizamos os mapas temáticos Santana e Bexiga 09, 10, 11, 14, 15, 16, 19 e 20 (Mapas da Coleção Gotto, Rio de Janeiro, 1886) referente ao Projeto Temático FAPESP Proc. 01/05017-1, organizado pelo professor Dr. Jefferson Cano (Professor da Universidade de Campinas, UNICAMP), para criarmos um mapa e identificarmos em ordem numérica, os endereços tipográficos em 1854. As plantas foram publicadas “originalmente por Edward Gotto, em Plan of the City of Rio de Janeiro, de 1866

tipografia, seguida pelo nome do estabelecimento, pelo nome do(a) proprietário, e o

logradouro de funcionamento:

Legenda indicando as tipografias na cidade do Rio de Janeiro em 1854

Nº Tipografia: Proprietário(a) Endereço

1 Americana * Rua d’Alfandega, 210

2 Brasiliense Maximiano Gomes Ribeiro Rua do Sabão, 114

3 Commercial Soares & C. Rua d’Alfandega, 6

4 Do Correio Mercantil J. F. A. B. Muniz Barreto Rua da Quitanda, 55

5 Do Diário do Rio Luiz Antonio Navarro de Andrade & Antonio Maria Navarro de Andrade

Rua do Rosário, 84

6 Dous de Dezembro Francisco de Paula Brito Praça da Constituição, 64, 66 e 68

7 Episcopal Agostinho de Freitas Guimarães & C. Rua do Sabão, 135

8 Franceza Jorge Leuzinger Rua do Ouvidor, 36

9 Do Jornal do Commercio J. Villeneuve & C. Rua do Ouvidor, 65

10 Do Jornal das Senhoras Gervasia Nunezia Pires dos Santos Neves

Rua do Cano, 165

11 Da Nação Domingos Luiz dos Santos Rua do Conde, 10

12 Nacional Braz Antonio Castriolo Rua da Misericórdia, 91

13 Parisiense Frederico Afredson Travessa d’Ouvidor, 20

14 Do Republico Antonio dos Santos Cordeiro da Cruz Rua dos Latoeiros, 53

15 Universal Eduardo e Henrique Laemmert Rua dos Inválidos, 61 B

16 De Antonio Maximiano Morando Antonio Maximiano Morando Rua d’Assembléa, 82

17 De Fortunato Antonio de Almeida Fortunato Antonio de Almeida Rua da Valla, 141

18 De Innocencio Francisco Torres Innocencio Francisco Torres Rua do Cano, 94

19 De Joaquim Antonio Piacentini Joaquim Antonio Piacentini Rua d’Alfandega, 135

20 De Joaquim José Ferreira Coelho Joaquim José Ferreira Coelho Rua do Cano, 77

21 De L. A. F. de Menezes L. A. F. de Menezes Rua de São José, 47

22 De Manoel Affonso da Silva Lima Manoel Affonso da Silva Lima Rua de São José, 8

23 De Manoel Gaspar de Siqueira Rego Manoel Gaspar de Siqueira Rego Praça da Constituição, 39

24 De Santos & Silva, junior Santos & Silva, junior Rua da Carioca, 32

25 De Vianna Vianna Rua d’Ajuda, 79

26 De Vianna, & C. Vianna, & C. Rua dos Ciganos, 29

27 Imprensa do Typographo Luiz de Souza Teixeira

Luiz de Souza Teixeira Praça da Constituição, 21

* A partir de 1855, José Soares de Pinho apareceu como proprietário da Tipografia Americana. Fonte: Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro para o ano de 1854 –

Hemeroteca Digital7

Ao observarmos o mapa e a legenda com endereço das tipografias no Rio de

Janeiro, é possível perceber que elas não estavam totalmente agrupadas em uma

mesma rua ou espaço, porém a maioria se localizava próxima à região comercial da

cidade, o que favorecia na divulgação e na venda dos impressos por elas

publicados.

No caso d’O Jornal das Senhoras, podemos observar que as três redatoras

buscaram estabelecer a impressão deste periódico em tipografias próximas à região

comercial da cidade: Na Rua Nova do Ouvidor (Ou Travessa do Ouvidor), Rua da

Carioca, Rua do Ouvidor, Rua da Alfândega e Rua do Cano. E dentre os cinco

endereços em que O Jornal das Senhoras foi impresso, podemos destacar, com

atenção especial, a Rua do Ouvidor.

7 Optamos manter neste trabalho a grafia original das fontes.

Além de esta rua ter sido o local de impressão do periódico por quatro meses,

de março a junho de 1853, em sociedade com o comerciante Jorge Leuzinger, este

logradouro possuiu dois fatos importantes: O primeiro, é que durante os quatro anos

de duração do periódico, nesta rua estavam localizadas as três casas comerciais

que subscreviam para o impresso. O segundo fato, é que nela, havia diversos

estabelecimentos voltados ao público feminino.

Conforme identificamos no programa ao final do periódico, “Subscreve-se

para este Jornal nas casas dos Snrs. Wallerstein e C. n. 70, A. e F. Desmarais n. 86,

Mongie n. 87, rua do Ouvidor” (MANSO, 01 jan. 1852, p. 08).

A casa dos senhores Wallerstein era um espaço de múltiplas atividades: Além

de perfumaria e loja de arreios, também era uma loja de fazendas secas de todas as

qualidades de seda, lã, algodão e linho da França, Inglaterra e Alemanha.

Já a casa de Alexandre e Francisco Desmarais atendia como perfumaria e

salão de cabelo. E a casa de Mongie era um mercado de livros.

Estes locais de subscrição demonstraram algumas das estratégias utilizadas

pelas redatoras do periódico, que era divulgar este impresso em espaços de

frequência feminina, tanto em uma perfumaria, em uma loja de fazendas, em um

salão de cabelo, quanto em um espaço de leitura.

E dentre outros estabelecimentos existentes nesta rua, identificamos dezoito

alfaiates de todas as qualidades de obras, treze lojas de fazendas secas de todas as

qualidades de seda, lã, algodão, onze lojas de fazendas com roupas feitas de todas

as qualidades, onze perfumarias, oito casas de modistas, seis fábricas de chapéus e

quatro fábricas de flores de pano e de penas (LAEMMERT, 1852).

Estes indícios confirmam a importância que a Rua do Ouvidor tinha para as

redatoras do jornal e a atenção dada por elas ao colocar este impresso em

determinadas casas comerciais para receber assinatura de leitoras.

Tanto para as redatoras do periódico quanto para os estabelecimentos

comerciais, era favorável a divulgação e a assinatura do periódico, afinal enquanto o

periódico ganhava visibilidade das mulheres que frequentavam tais endereços, nas

páginas d’O Jornal das Senhoras constantemente se divulgou estes espaços, como

exemplo, a casa dos senhores Wallerstein, para encomenda e retirada de

vestimentas, oriundas da Europa.

Neste sentido, O Jornal das Senhoras não foi subscrito na Rua do Ouvidor

por acaso, mas ele conseguiu se estabelecer estrategicamente em um espaço

destinado ao público feminino, ganhando visibilidade e consequentemente aceitação

por quem acessava tais estabelecimentos.

Pierre Bourdieu também deu atenção aos endereços de editoras que

publicavam e vendiam periódicos, ao avaliar o capital simbólico de algumas

empresas francesas entre os anos de 1995 e 1996. Ele mencionou que “on peut

l’évaluer à l’aide de différents índices: l’ancienneté, la localisation, le prestige du

fonds editorial (capital symbolique accumulé) et le prix Nobel de littérature” e

estabeleceu que “Le siège de l’entreprise peut être situe: dans lês 5e, 6e ou 7e

arrondissement de Paris (29); autres arrondissements de la rive gauche (4); rive

droite (9); em province (9) ou à l’étranger (5)” (BOURDIEU, 1999, p. 10).

Dentre os fatores que contribuíram para um acúmulo de capital simbólico das

maiores e menores empresas editoriais francesas, Bourdieu constatou que a

localização influenciou na visibilidade dos estabelecimentos e, consequentemente,

na sua divulgação e venda dos periódicos.

A preocupação na localização tipográfica e de subscrição por parte das

redatoras d’O Jornal das Senhoras demonstrou como estas mulheres estavam

atentas ao trabalho com o impresso periódico.

Neste sentido, é válido conhecermos as três redatoras que estavam por trás

da direção do jornal, bem como algumas das estratégias utilizadas por elas para

inserir O Jornal das Senhoras na rede de impressos cariocas.

As redatoras d’O Jornal das Senhoras e suas estratégias tipográficas

Se analisarmos o contexto em que O Jornal das Senhoras foi inaugurado, e

por quem ele foi dirigido inicialmente, podemos afirmar que o periódico surgiu para

dar visibilidade às reivindicações de uma exilada.

Tal empreitada não se resumiu apenas em apresentar a conjuntura ditatorial

existente na Argentina, mas também na tentativa de ampliar e melhorar o espaço

público feminino. Com estes objetivos, Joanna Paula Manso de Noronha fundou O

Jornal das Senhoras em janeiro de 1852, no Rio de Janeiro.

Natural da Argentina, Joanna estava exilada com sua família no Brasil por

causa da ditadura instaurada por Juan Manoel Rosas (1793-1877).

Caracterizados como “antirrosista”, ela, sua família, e muitos argentinos eram

opositores do governo ditatorial de Rosas, que impediu a liberdade de expressão da

população e prendeu quem se opusesse às imposições governamentais. Neste

sentido, muitas pessoas recorreram ao exílio em países como o Chile, o Uruguai e o

Brasil.

Antes de se mudar para o Brasil, Joanna e sua família foram para

Montevidéu, no Uruguai, em 1840. Neste país, Manso começou a atuar em 1841 no

“Ateneo de las Señoritas, destinado a jóvenes y señoras que aprendían aritmética,

lectura, labores, lecciones de moral, gramática, francés, piano, canto y dibujo”

(ROITENBURD, 2009, p. 45), demonstrando habilidade com as letras e as artes.

Sua atuação neste país foi curta, pois “Apenas un año después, en 1842, la

familia Manso debió exilarse nuevamente, debido al sitio de Montevideo declarado

por Manuel Oribe, en esta ocasión se trasladaron a Brasil” (PAGLIARULO, 2011, p.

26). Porém, os problemas econômicos fizeram-na regressar ao Uruguai, assumindo

temporariamente a direção de uma escola para meninas.

Tais dificuldades enfrentadas no país levaram-na a retornar para o Brasil em

1844, onde conheceu Francisco Sá de Noronha, músico português com quem se

casou (LOBO, 2009, p. 47).

A fim de divulgar a carreira musical do marido e a conjuntura ditatorial na

Argentina, Joanna viajou com Noronha para Estados Unidos e Cuba, onde iniciou,

em 1846, a escrita do romance histórico Misterios del Plata. E apesar de não obter

sucesso nestas viagens, ela concretizou seus objetivos ao fundar O Jornal das

Senhoras, em 1852 no Rio de Janeiro.

Para impulsionar a carreira musical do marido, Manso inseriu algumas

partituras de Noronha e também divulgou peças teatrais que eram realizadas no

mesmo teatro que ele trabalhou. E para divulgar a conjuntura política e social na

Argentina, ela publicou partes de ser romance histórico.

Tais estratégias também atingiram outros objetivos da redatora, que era de

ampliar a educação feminina, por meio da leitura e da música, bem como melhorar o

espaço feminino no âmbito público.

O pouco tempo que Joanna Manso permaneceu na direção do periódico foi

justificado por Luiza Lobo pela separação com o músico Noronha, o fim da ditadura

na Argentina e ser proibida de ingressar no curso de medicina (LOBO, 2009, p. 48).

E durante os seis meses em que esteve à frente d’O Jornal das Senhoras, houve

apenas a alteração de tipografia e endereço, conforme já identificamos, mantendo a

mesma a estrutura, páginas, e o layout do periódico.

Assim, ao retornar para a Argentina, a direção do periódico passou para

Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco. Colaboradora no impresso de

Joanna e experiente na tradução e escrita de textos, Violante demonstrou ser capaz

de assumir a direção d’O Jornal das Senhoras, mantendo os objetivos iniciais da

primeira redatora.

Além disso, Violante era filha de Diogo Soares da Silva de Bivar (1785-1865),

redator do periódico Idade d’Ouro do Brazil (1811-1823) e fundador do jornal literário

As Variedades ou Ensaios de literatura (1812). Estes fatos indicaram a proximidade

que Violante já tinha na redação de periódicos quando assumiu o cargo de redatora

chefe d’O Jornal das Senhoras.

Durante os onze meses em que esteve à frente deste impresso, Violante

buscou realizar algumas mudanças na estrutura física do periódico. A primeira delas

foi quando anunciou a ampliação no número de páginas:

Estas páginas pois, serão sempre reservadas para a tabella dos dias de baile das diversas sociedades desta côrte; para indicar as modistas de primeira ordem; para os annuncios dos primeiros armazens de fazendas, modas, perfumarias, joias, obras de cabello, decorações, objectos de toilette, de desenho, de bordar, etc.; para os primeiros estabelecimentos de pianos, musica e copistaria; para as casas que se incubem particularmente de arranjar flores especiaes e ramos para bailes e mais funcções; finalmente para todos os annuncios que satisfizerem as exigencias do bom-tom e servirem de prompto recurso a todas as familias em geral (VELLASCO, 17 out. 1852, p. 02).

Porém, ao longo das edições seguintes, estes acréscimos apareceram em

poucas edições, quando vinham acompanhadas com uma partitura musical, ou peça

de modas ou molde de roupas.

Sobre as mudanças na nomenclatura, O Jornal das Senhoras recebeu uma

pequena alteração na 53ª edição (01/01/1853). A partir desta data, foi retirada a

palavra “Críticas” que aparecia no subtítulo “Modas, Literatura, Belas-Artes, Teatros

e Críticas”. Porém, na 62ª edição (06/03/1853) a palavra retornou ao subtítulo do

impresso, sendo extraído desta vez, o artigo “O” do nome do periódico: “O Jornal

das Senhoras”.

Ao que se nota, não houve uma justificativa específica sobre o uso da palavra

“Crítica” no subtítulo, já que ela foi retirada novamente, e definitivamente, a partir da

92ª edição (02/10/1853), sob direção da terceira redatora, Gervásia Nunezia Pires

dos Santos Neves.

Ainda sob direção de Violante, O Jornal das Senhoras deixou de ser impresso

na Tipografia de Santos e Silva Junior, para se fixar na Tipografia do Jornal das

Senhoras de George Leuzinger, na Rua d Ouvidor, nº 36, iniciando o processo de

aquisição de uma tipografia própria, mas ainda em sociedade com outra pessoa.

E apesar de O Jornal das Senhoras permanecer apenas quatro meses neste

endereço, este foi o período em que ele se aproximou do local onde estavam os

estabelecimentos comerciais que subscreviam para o periódico, e dos demais

espaços voltados ao público feminino.

Quando Gersasia Nunezia Pires dos Santos Neves assumiu a direção do

jornal, no mês de junho de 1853, ela já atuava como colaboradora do periódico, e

desde o dia 22 de maio deste ano, ela havia se casado com o Sr. Antonio José dos

Santos Neves (VELLASCO, 29 mai. 1853, p. 11).

Estas informações apontam a provável necessidade de possuir um

conhecimento prévio no trabalho com impressos, bem como ser casada para

assumir a direção d’O Jornal das Senhoras.

Neste sentido, o conhecimento prévio com periódicos favorecia no trabalho

tipográfico e nas estratégias utilizadas para dar visibilidade e torná-lo acessível e

aceito pelas leitoras. E o casamento era necessário, uma vez que as mulheres da

corte ou de famílias com um melhor poder aquisitivo, não trabalhavam e dependiam

de seus maridos para manter o funcionamento de um periódico. Deste modo,

Gervásia possuía os requisitos mínimos para assumir o cargo de redatora chefe d’O

Jornal das Senhoras a partir de junho de 1853.

Permanecendo por dois anos e sete meses na direção do periódico, Gervásia

fez duas alterações no endereço tipográfico. A primeira foi na 79ª edição

(03/07/1853), saindo da Tipografia do Jornal das Senhoras de G. Leuzinger, na Rua

do Ouvidor, nº 36 e se deslocando para a Tipografia do Jornal das Senhoras, na Rua

da Alfândega, nº 54.

Apesar de já adquirir uma tipografia própria, ela se estabeleceu neste

endereço por apenas um mês e meio, transferindo-se a partir da 86ª edição

(21/08/1853) para a Rua do Cano, nº 165, onde permaneceu até a 209ª edição

(30/12/1855), última do periódico.

Dentre as alterações na nomenclatura, já mencionamos a retirada da palavra

“Crítica” do subtítulo do periódico, e a partir da 105ª edição (01/01/1854) foi

acrescentado após o título, a mensagem “Jornal da Boa Companhia”. Nesta mesma

edição, o título do periódico “das senhoras” deixou de vir sob o formato de meia lua,

e passou a seguir a ordem horizontal:

Fonte: NEVES, G. N. P. S. Jornal das Senhoras. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal das Senhoras, 104ª ed. 25 dez. 1853.

Fonte: NEVES. G. N. P. S. Jornal das Senhoras. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal das Senhoras, 105ª ed. 01 jan. 1854.

De todas as alterações feitas, na estrutura, no layout, em edições especiais

com acréscimo de páginas, na inserção de peças de moda, partituras ou moldes de

roupas, nenhuma estava relacionada com as alterações nos endereços tipográficos

e/ou de tipografias.

Além disso, a única alteração no valor do periódico foi feita com a entrada da

segunda redatora chefe Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco, na 27ª

edição (04/07/1852).

Durante a direção de Joanna Paula Manso e Noronha, a assinatura do

periódico por três meses custou 3$000rs para a corte, e 4$000rs para a província. E

com a entrada de Violante, o periódico podia ser assinado semestralmente por

6$000rs na corte e 7$000rs nas províncias.

Neste sentido, percebemos que houve a alteração no período de assinatura,

passando de três para seis meses, e, consequentemente, modificando o valor de

3$000rs para 6$000rs na corte, e de 4$000rs para 7$000rs para as províncias. Este

fato demonstrou a estratégia usada para ampliar a assinatura do periódico em outras

regiões do país, devido à ligeira diminuição no valor de assinatura para as

províncias.

Dos 30 periódicos anunciados pelo Almanak Laemmert em 1854, três não

indicavam o valor de assinatura8, um era vendido a 320rs avulso9, três eram

vendidos por uma quantidade específica de edições10, quatorze possuíam um preço

semestral abaixo de 6$000rs11, sete possuíam um preço semestral acima de

6$000rs12, e apenas o periódico O Brado do Amazonas era assinado

semestralmente pelo valor de 6$000rs, o mesmo que O Jornal das Senhoras.

(LAEMMERT, 1854, pp. 569-571).13

Não podemos desconsiderar os fatores que influenciavam no custo de um

impresso, como por exemplo, o tamanho, a quantidade de páginas, e demais meios

de produção, porém O Jornal das Senhoras mesmo com as mudanças de endereço

e de tipografias permaneceu com sua assinatura estável, e na média entre os

impressos vendidos no Rio de Janeiro.

Mantendo uma quantidade média de oito páginas por edição e dividido em

duas colunas por página, O Jornal das Senhoras abordou assuntos sobre modas,

religião, casamento, moral, poesias, educação, divertimentos na cidade, teatros,

músicas, receitas caseiras, contos românticos e assuntos variados envolvendo o

universo feminino.

Vale destacar que o periódico não foi lido apenas por mulheres. Logo após o

lançamento do impresso, alguns homens escreveram uma carta para a redatora,

assinada “O Homem”, criticando as ideias que seriam publicadas por ela

(NORONHA, 08 fev. 1852, p. 01). Porém, esta carta não inibiu a iniciativa da

redatora Joanna, que confrontou a carta e continuou publicando o periódico,

expondo suas ideias e ideais.

Além disso, como afirmou Carlos Costa,

8 Os três periódicos sem indicação de valores são: A Época; Ilustração Brasileira; Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. 9 O periódico Revista Pharmaceutica era vendido por 320rs avulso. 10 Os periódicos: Grito Nacional custou 2$000rs por 20 números; O Guanabara custou 15$000rs por 18 números; e O Guarany custou 5$000rs por 60 números. 11 Agricultor Brasileiro (3$000rs); Annaes de Medicina Brasiliense (3$000rs); Auxiliador da Industria Nacional (3$000rs); O Guerreiro (5$000rs); O Liberal (4$000rs); A Marmota (4$000rs); O Monarchista (4$000rs); A Nação (5$000rs); Nova Gazeta dos Tribunaes (4$000rs); Periódico dos Pobres (3$600rs); O Provinciano (5$000rs); Restaurador (5$000rs); Revista Marítima Brasileira (2$500rs); e Rosa Brasileira (4$000rs). 12 O Brasil Musical (8$000rs); Correio Mercantil (8$000rs); Diário do Rio de Janeiro (8$000rs); A Gazeta Judiciária (9$000rs); Jornal do Commercio (10$000rs); Novo Correio das Modas (7$00rs); e Rio Mercantile Journal (12$000rs). 13 Além dos periódicos anunciados pelo Almanak Laemmert, identificamos outros impressos em 1854, no site da Hemeroteca Digital (Fundação Biblioteca Nacional): Courrier du Bresil (6$000rs); Folhinha Nacional (?); Indicador Comercial (?); O Globo (5$500rs); O Republico (6$000rs); e Revista Pharmaceutica (?).

O sucesso do Jornal das Senhoras serviu como alavanca para que outras iniciativas surgissem. Como o relançamento, pela casa impressora dos irmãos Laemmerts, de seu Correio das Modas, que deixara de circular em 1840. A publicação voltou a circular em março de 1852, em formato maior e com o nome de Novo Correio de Modas, “jornal do mundo elegante consagrado às famílias brasileiras”. Circulou até outubro de 1854. Com esse filão aberto aparece, em 1856, o Recreio do Bello Sexo, com o subtítulo de “modas, litteratura, bellas-artes e theatro”. E o grande editor Francisco de Paula Brito lança seu O Espelho: Revista de litteratura, modas, industria e artes, que circulará entre 4 de setembro de 1859 e 1 de janeiro de 1860, somando dezoito números (COSTA, 2014, pp. 28-29).

Além destes impressos, também identificamos no Almanak Laemmert o

periódico Rosa Brasileira (1852-1854) como “Jornal do Bello Sexo”, publicado “todos

os domingos, com música, redigida por uma associação de jovens” (LAEMMERT,

1854, p. 571).

Neste sentido, percebemos que O Jornal das Senhoras foi o propulsor de

novas empreitadas feitas por mulheres, que buscavam através da imprensa,

melhorar e ampliar o espaço feminino na esfera pública.

Considerações

As mudanças nos endereços tipográficos e de tipografias não influenciaram

no valor, layout, nomenclatura, número de páginas, nos assuntos, nem no público

leitor d’O Jornal das Senhoras, uma vez que ele manteve a subscrição nos mesmos

estabelecimentos comerciais durante os quatro anos de publicação, localizados na

Rua do Ouvidor.

Contudo, as alterações nos endereços e nas tipografias serviram para manter

a publicação do periódico próxima à região comercial do Rio de Janeiro, bem como

estabelecer uma autonomia, ao adquirir um estabelecimento próprio para o jornal, a

partir de 1853.

Lançado por uma argentina exilada no Brasil, O Jornal das Senhoras surgiu

com o propósito dar visibilidade ao contexto ditatorial na Argentina, por meio do

romance histórico Mistérios del Plata, e de ampliar e melhorar a condição feminina

no espaço público.

E com o fim da ditadura em 1852, não houve mais a necessidade de publicar

o romance de Joanna, que retornou ao seu país de origem. Porém, as duas

redatoras seguintes, Violante e Gervasia, mantiveram o propósito de ampliação e

melhoramento do belo sexo em sociedade, dando continuidade aos assuntos de

interesse feminino.

Por fim, O Jornal das Senhoras repercutiu positivamente no Rio de Janeiro:

se por um lado ele causou a inquietação de alguns homens, receosos com tal

empreitada, por outro, ele deu visibilidade à condição das mulheres no âmbito

público e ampliou a esfera de atuação feminina na imprensa brasileira.

E se para a época, estar à testa da redação de um periódico era um bicho de

sete cabeças, como atestou a redatora Joanna, hoje, tal atividade significa a

conquista, a legitimação, e a equiparação de gênero neste espaço.

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