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Marcella Koeler Alves Abertura de capital no Brasil: O estudo de caso da Natura Cosméticos S.A. Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós- graduação em Administração de Empresas do Departamento de Administração da PUC-Rio. Orientador: Prof. Luiz Felipe Jacques da Motta Rio de Janeiro Fevereiro de 2006

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Marcella Koeler Alves

Abertura de capital no Brasil: O estudo de caso da Natura Cosméticos S.A.

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas do Departamento de Administração da PUC-Rio.

Orientador: Prof. Luiz Felipe Jacques da Motta

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2006

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Marcella Koeler Alves

Abertura de capital no Brasil: O estudo de caso da Natura Cosméticos S.A.

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Luiz Felipe Jacques da Motta Orientador

Departamento de Administração – PUC-Rio

Prof. Antonio Carlos Figueiredo Pinto Departamento de Administração – PUC-Rio

Prof. Marco Antonio Cunha de Oliveira IBMEC

Prof. João Pontes Nogueira Vice-Decano de Pós-Graduação do CCS

Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2006

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador.

Marcella Koeler Alves Graduou-se em Economia pela PUC-Rio e pela mesma instituição fez Mestrado em Administração de Empresas no IAG. Atuou em empresas de Telecomunicação, Petróleo e Mineração, sempre ligada a áreas de finanças. Atualmente trabalha como analista na área de Planejamento Financeiro da Companhia Vale do Rio Doce.

Ficha Catalográfica

CDD: 658

Alves, Marcella Koeler Abertura de capital no Brasil: o estudo de caso da

Natura Cosméticos S.A. / Marcella Koeler Alves; orientador: Luiz Felipe Jacques da Motta. - Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Administração, 2006.

122 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Administração.

Inclui referências bibliográficas. 1. Administração – Teses. 2. Abertura de capital. 3.

Oferta pública inicial. 4. Avaliação de empresas. 5. Fluxo de caixa descontado. 6. Natura Cosméticos S.A. I. Motta, Luiz Felipe Jacques da. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Administração. III. Título.

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Para André, o amor da minha vida.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço aos meus queridos pais, Maria Lucia e Paulo

Roberto, por toda a educação e incentivo aos estudos, além da imprescindível

presença nos momentos mais importantes da minha vida. Obrigada pela força e

motivação desde o início!

À minha querida Pat, irmã e amiga, pela torcida e todo o amor.

Ao meu marido Dequinha, pela leitura, revisão e compreensão nos

momentos de maior ansiedade.

Estendo os agradecimentos ao Prof. Luiz Felipe Motta, meu dedicado

orientador, pela parceria e estímulo para a realização deste trabalho.

Agradeço aos eminentes professores da Comissão Examinadora pelas

oportunas observações e sugestões formuladas, todas incorporadas ao texto.

Agradeço por fim à minha querida avó Zezé e todos os familiares que

sempre tiveram palavras de apoio e estímulo.

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Resumo

Alves, Marcella Koeler; Motta, Luiz Felipe Jacques (Orientador). Abertura de capital no Brasil: O estudo de caso da Natura Cosméticos S.A. Rio de Janeiro, 2006. 122p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

O recente crescimento do volume de abertura de capital das empresas

nacionais promoveu o aquecimento do mercado brasileiro de valores mobiliários.

A estabilização político-econômica, a reforma da Lei das Sociedades por Ações, a

criação dos níveis diferenciados de governança corporativa da Bovespa, além do

retorno dos investidores estrangeiros no país, constituíram um cenário favorável

àquelas companhias que viam a abertura de capital como alternativa ao escasso

financiamento bancário, como forma de investimento ou mesmo como

oportunidade para reestruturação societária. O objetivo da pesquisa é estudar o

mercado brasileiro de capitais, em especial as etapas do processo de oferta pública

inicial, identificando seus custos e benefícios, finalizando com o estudo de caso da

Natura Cosméticos, a primeira empresa de cosméticos da América Latina a abrir o

capital. O modelo utilizado para a avaliação da empresa é o fluxo de caixa

descontado, que permite comparar os resultados estimados com os efetivamente

realizados pela empresa. Alguns múltiplos também foram calculados para

comparação com as competidoras internacionais atuantes no setor. Os resultados

obtidos com a pesquisa permitem concluir que a abertura de capital da Natura foi

um caso de sucesso, com contínua valorização das ações e expectativa de

crescimento constante devido à alta geração de caixa, baixa alavancagem e

constantes investimentos. Assim como os benefícios da abertura foram

identificados, foi possível encontrar alguns custos, reforçando a necessidade de

uma avaliação criteriosa pelas empresas para que os custos não inviabilizem o

sucesso da operação.

Palavras-chave Abertura de capital; Oferta pública inicial; Avaliação de empresas; Fluxo de

caixa descontado; Natura Cosméticos S.A.

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Abstract

Alves, Marcella Koeler; Motta, Luiz Felipe Jacques (Advisor). Going public in Brazil: A study case of Natura Cosmeticos S.A. Rio de Janeiro, 2006. 122p. MSc. Dissertation – Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

The recent increase of national firms going public allowed the growth of the

brazilian stock exchange market. The political and economic stabilization, the

edition of new laws on the capital market, aside the return of foreign investors to

the country, created a good environment for those companies interested on going

public as an alternative to the scarce bank finance, as well as on an investment or

as a good chance for its internal reorganization. The scope of the research is to

study the brazilian stock market, especially in the stages of the initial public

offering, identifying its costs and benefits, concluding with the Natura Cosméticos

study case, the first Latin American cosmetic company to go public. The

discouted cash flow was the model elected to the company’s evaluation, because it

allows comparing the estimated results to the consummated ones by the company.

Some multiples were also calculated to compare with the international

competitors in the same line of business. The research’s results show that Natura

was a case of success with continuous stocks valorization and expectancy of

constant growth becasuse of the high cash flow generation, low leverage and

constant investiments. Besides the benefits of going public, some costs were

found, intensifying the need of a criterial analysis by the companies so that the

costs don’t overcome the success of the operation.

Keywords Going public; Initial public offering; Valuation; Discounted cashflow;

Natura Cosméticos S.A.

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Sumário

1. O Problema da Pesquisa 13 1.1. Introdução 13 1.2. Objetivo 14 1.3. Delimitação do Estudo 15 1.4. Relevância do Estudo 15 1.5. Organização do Trabalho

17

2. Referencial Teórico 18 2.1. Componentes de uma Avaliação de Empresas 18 2.1.1. Modelo de Fluxo de Caixa Descontado 18 2.1.2. Custo Médio Ponderado de Capital 22 2.1.3. Método CAPM (Capital Asset Price Model) 23 2.1.4. Múltiplos 26 2.2. Mercado de Valores Mobiliários 27 2.2.1. Comissão de Valores Mobiliários 28 2.2.2. Bolsa de Valores 30 2.2.3. Mercado de Balcão Organizado 31 2.3. A Abertura de Capital 32 2.3.1. Vantagens e Custos da Abertura 34 2.3.2. Instrumentos de Abertura 41 2.3.3. Abertura de Capital por Emissão de Ações 42 2.4. Governança Corporativa 48 2.5. A Evolução do Mercado de Capitais

53

3. Metodologia 59 3.1. Tipo de Pesquisa 59 3.2. Universo e Amostra 60 3.3. Coleta de Dados 60 3.4. Tratamento dos Dados Coletados 61 3.5. Limitações do Método 61 4. Estudo de Caso: Natura Cosméticos S.A.

63

4.1. Panorama da Empresa 63 4.2. Estratégia de Negócios 67 4.2.1. Linhas e Produtos 69 4.2.2. Cadeia Produtiva 69 4.3. Visão Geral do Setor de Cosméticos 72 4.4. Principais Competidores 76 4.5. Motivação para abrir o Capital 81 4.6. Termos e Condições de Oferta 82 4.7. Premissas da Avaliação Financeira 86

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5. Resultados da Pesquisa 99 5.1. Análise de Mercado 99 5.2. Análise Financeira 100 6. Conclusão

109

7. Referências Bibliográficas

113

8. Anexos

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Lista de tabelas

Tabela 1: Empresas listadas nos níveis da Bovespa 52 Tabela 2: Performance de empresas listadas nos índices da Bovespa 53 Tabela 3: Emissões primárias e secundárias em 2004 e 2005 55 Tabela 4: Percentual de matéria-prima por fornecedores 70 Tabela 5: Projeção dos representantes de vendas no Brasil e produtividade 71 Tabela 6: Vendas mundiais de cosméticos por segmento em 2002 73 Tabela 7: Vendas mundiais e consumo per capita de cosméticos em 2002 74 Tabela 8: Porcentagem de vendas por canal de distribuição em 2002 (%) 77 Tabela 9: Segmento de mercado (R$ MM) e market share por companhia (%)

78

Tabela 10: Capital social da Natura antes e após a abertura de mercado 84 Tabela 11: Colocação das ações por tipo de investidor 85 Tabela 12: Projeção da Receita Bruta 87 Tabela 13: Projeção do Volume de Vendas 87 Tabela 14: Reajuste dos preços 88 Tabela 15: Custo dos Produtos Vendidos 89 Tabela 16: Despesas Operacionais 89 Tabela 17: Despesas Operacionais com vendas 90 Tabela 18: Despesas Operacionais administrativas 91 Tabela 19: Impacto da amortização de ágio sobre os impostos 92 Tabela 20: Investimento e Depreciação 94 Tabela 21: Posição da Dívida 98 Tabela 22: Fluxo de Caixa do Acionista em BRL 101 Tabela 23: Fluxo de Caixa do Acionista em USD 102 Tabela 24: Evolução do WACC 102 Tabela 25: Premissas do Cálculo do WACC 104 Tabela 26: Valor Econômico da Empresa em USD e Preço da Ação 105 Tabela 27: Análise de sensibilidade do WACC para o risco país 106 Tabela 28: Análise de sensibilidade do WACC para estrutura de capital 107 Tabela 29: Múltiplos de empresas de cosméticos para 2004 108

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Lista de gráficos

Gráfico 1: Comparação do Valor da Firma / EBITDA para Diferentes Setores

73

Gráfico 2: Investimento e Capacidade de Produção 95 Gráfico 3: Variação do capital de giro 96 Gráfico 4: Apreciação das Ações Natura e Ibovespa 106 Gráfico 5: Evolução dos Preços em US$ das Ações Natura e Competidoras 107

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Lista de figuras Figura 1: Linha de produtos da Natura 68

Figura 2: Estrutura societária da Natura 83

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1 O Problema da Pesquisa

Este capítulo introduz o problema do estudo, apresentando os objetivos

gerais e específicos da pesquisa. Em seguida, são apresentadas a delimitação do

trabalho, a relevância do tema e sua organização.

1.1 Introdução

O mercado de capitais no Brasil vem merecendo atenção especial desde o

início de 2004, quando o mercado de valores mobiliários foi impulsionado pela

retomada de abertura de capital das companhias brasileiras. A conjuntura

econômica e o fortalecimento do mercado financeiro nacional fizeram as

empresas considerarem a abertura de capital, movimento este adormecido há

tempos.

A situação econômica do país, a liquidez na bolsa, a preocupação com a

governança corporativa por parte das empresas e a regulamentação que rege o

setor foram alguns dos fatores que favoreceram a recente abertura do capital das

empresas e estimularam os investidores a retornarem ao mercado de capitais

comprando ações das empresas nacionais. Os anos precedentes não foram

favoráveis nem estimularam a demanda por financiamento neste mercado.

A aplicação prática do presente trabalho envolve um estudo de caso da

Natura, a primeira empresa de cosméticos na América Latina a abrir o capital. A

escolha da empresa foi baseada na sua representatividade no mercado, que desde

2003 constitui a maior companhia de cosméticos de capital doméstico em termos

de receita bruta do Brasil. A abertura de capital da empresa foi um caso de

sucesso no mercado brasileiro, pois se apresentou como um investimento de

qualidade para investidores, com consistente geração de caixa e uma estrutura

desalavancada, além de integrar o seleto grupo de empresas com ações negociadas

no segmento do Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo.

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A abertura de capital foi um movimento estratégico da Natura para o

crescimento, permitindo melhor posicionamento e acesso ao mercado de capitais

para futuros ciclos de expansão de atividades. Espera-se que esse movimento

permita a redução do custo de capital para a companhia, a valorização e liquidez

das ações em face da negociação em bolsa e do compromisso com a governança

corporativa, além de acelerar o processo de internacionalização das operações.

Como o nível de informações demandadas pelo mercado de uma companhia

aberta é enorme e poucas empresas são capazes de corresponder de forma

eficiente, a Natura se preparou para que a transparência fosse um diferencial e

fator atrativo para investidores.

1.2 Objetivo

O trabalho tem por objetivo levantar as etapas do processo de abertura de

capital, identificando seus custos e atrativos, finalizando com um estudo de caso

da Natura Cosméticos S.A.

Para a análise do processo de abertura de capital da Natura, o mercado de

cosméticos nacional e global será analisado, assim como serão identificadas as

motivações da empresa para a abertura. Os dados financeiros serão investigados

para maior conhecimento da gestão financeira e da capacidade de execução de

suas estratégias. A pesquisa pretende, ainda, identificar se a empresa tem

condições de manter crescimento no longo prazo e se os benefícios da abertura de

capital podem ser observados na Natura ou se na realidade tal movimento foi

inócuo para a companhia. O estudo de caso será concluído com a valoração da

empresa e o apreçamento das ações através da metodologia de fluxo de caixa

descontado.

Os objetivos intermediários envolvem:

Os determinantes do processo de retomada de ofertas públicas iniciais a

partir de 2004 no Brasil; e

O posicionamento da empresa com relação às competidoras de

cosméticos internacionais.

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1.3 Delimitação do Estudo

O foco da pesquisa será o estudo do mercado de capitais brasileiro, em

especial os processos referentes à oferta pública inicial (Initial Public Offering -

IPO). O trabalho se debruçará sobre o mercado de ações, uma vez que a Natura

optou por realizar a distribuição pública secundária de ações ordinárias. Dessa

forma, a pesquisa será restringida à análise desta modalidade, não fazendo parte

do escopo a abordagem dos outros valores mobiliários como debêntures, notas

promissórias, ou outros títulos devidamente registrados com o conceito de valor

mobiliário na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O mercado de cosméticos será o mercado alvo. Como principais

competidoras, serão consideradas na pesquisa aquelas que produzem ou

comercializam fragrâncias, maquiagem e tratamento para pele e cabelos, principal

nicho da Natura.

Quanto à delimitação geográfica, pelo fato de ser a única empresa brasileira

de cosméticos de capital aberto, será necessário buscar comparação com empresas

multinacionais do mesmo segmento, presentes em diversos países e continentes.

Quanto à delimitação temporal, pretende-se estudar as regras de abertura de

capital vigentes no ano de 2004 e contextualizar os movimentos de abertura de

capital de empresas nacionais na conjuntura da economia brasileira neste período.

Quanto ao estudo de caso, será estimado o valor esperado das ações a Natura para

o final de 2004, havendo posterior comparação com o preço real observado e com

o preço das ações das competidoras internacionais.

1.4 Relevância do Estudo

O ano de 2004 foi um ótimo período para a economia brasileira. O número

de empresas que realizaram oferta pública1 a partir deste ano sinalizou ao mercado

a retomada de confiança na economia nacional e o fortalecimento do mercado de

capitais brasileiro. Em contrapartida, a política externa e a estabilidade político- 1Em 2004 foram realizadas vinte e uma ofertas públicas de ações e em 2005 vinte e oito. Considerando todas as modalidades de oferta pública, em 2004 foram registradas 359 operações contra 277 de 2003 e 264 de 2002. O número de ofertas realizadas em 2005 foi de 358.

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econômica, associadas à valorização do real frente ao dólar, trouxeram os

investidores externos novamente para o país.

Em 2004 cinco empresas estrearam no mercado abrindo o capital: Natura,

Gol, CPFL Energia, Diagnósticos da América e Grendene. Em 2005 foram seis:

Renar Maças, Submarino, EDP Energias do Brasil, Obrascon Huarte Lain Brasil,

Cosan e Universo Online.

A maioria dessas empresas tem observado a contínua valorização dos seus

papéis, o que de fato representa a confiança do mercado na empresa e sua gestão.

Contudo, houve exceções como no caso da Renar Maçãs S.A., cujo alto valor

inicial de oferta, não sustentado, resultou na queda da cotação, levando muitos

investidores a experimentar perdas com o investimento. Isso mostra que, por mais

que os indicadores econômicos sejam favoráveis à realização da abertura, as

empresas precisam estar preparadas e ter perfil para companhia aberta.

Apesar do capital estrangeiro ser muitas vezes caracterizado como

especulativo e de curto prazo, desde a abertura econômica na década de 90 os

grandes investidores têm investido nas empresas com grande potencial de

distribuição de dividendos e participações. Face o aumento da participação de

grupos estrangeiros na composição do capital social de empresas nacionais, as

empresas aumentaram a preocupação com a geração de valor aos acionistas.

Em um país como o Brasil, onde há carência de capital e expressiva

demanda por investimentos e onde predomina pouca oferta de crédito privado de

longo prazo, é praticamente unânime a visão de que o mercado de capitais pode

desempenhar um papel relevante no processo de captação de recursos necessários

à expansão das empresas.

A abertura de capital é apresentada como uma alternativa a essa

necessidade. A literatura pesquisada apresenta um vasto conjunto de motivações e

custos para este movimento, sem que haja consenso sobre se vale ou não a pena

abrir o capital. Cada empresa apresenta necessidades e propósitos diferentes;

dessa forma, não podendo generalizar os objetivos de cada firma ao ir a mercado.

A Natura é um caso muito interessante de IPO, pois representa a primeira

empresa de cosméticos e de capital nacional a abrir o capital, uma das primeiras a

fazer parte do Novo Mercado da Bovespa e que teve o investidor estrangeiro

como principal participante.

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Devido ao recente processo de reestruturação e consolidação das empresas,

que resultou em novas aberturas de capital no Brasil, a valoração de empresas

torna-se relevante a todos os gestores e analistas de investimento, instituições

financeiras ou investidores interessados no acompanhamento de empresas abertas

no mercado brasileiro e, ademais, a todas as empresas que estudam a possibilidade

de abertura de capital.

1.5 Organização do Trabalho

O trabalho está organizado em oito capítulos. O segundo capítulo tratará do

referencial teórico, onde os componentes financeiros serão apresentados,

identificando-se os modelos, fórmulas e premissas das taxas utilizadas na

avaliação de empresas. Os principais agentes participantes e reguladores do

mercado de valores mobiliários, as vantagens e custos da abertura, instrumentos

de abertura de capital, assim como a evolução do mercado de capitais e o processo

para a abertura de capital, também estarão presentes neste capítulo.

No terceiro capítulo a metodologia adotada será apresentada e explicada.

Serão descritos o tipo de pesquisa, o universo e amostra, além da descrição da

coleta de dados, tratamento dos dados e limitações do método.

O quarto capítulo se refere ao estudo de caso da Natura. As principais

informações da companhia serão apresentadas neste capítulo, assim como será

estudado o setor de cosméticos, os principais competidores comparáveis aos

produtos e o canal de venda da Natura, além da descrição dos termos de oferta da

companhia e de premissas financeiras utilizadas na avaliação.

O quinto capítulo apresentará os resultados da pesquisa. Nesta seção, serão

destacadas as observações sobre o estudo do mercado de capitais no Brasil e do

processo de IPO nos últimos anos. Também serão relatados os resultados

encontrados para o estudo de caso e comparação com os resultados obtidos pelas

instituições financeiras que também acompanharam o processo de IPO da Natura.

O sexto capítulo apresentará as conclusões do trabalho e recomendações

para trabalhos futuros, enquanto os capítulos sete e oito, por fim, tratarão

respectivamente das referências bibliográficas e anexos.

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2 Referencial Teórico

Este capítulo tem como propósito apresentar a estrutura conceitual do tema

abertura de capital. Baseada na literatura pesquisada, cada seção apresentará

detalhes dos assuntos pertinentes à teoria de abertura de capital, além das

ferramentas utilizadas para a valoração de empresas.

Na primeira seção serão destacados os conceitos financeiros utilizados no

estudo de caso para a avaliação da Natura, cujas principais fontes bibliográficas

são Damodaran (2005), Copeland (2005), Elton (2004), Ross (2002) e Brigham

(2001). As seções seguintes abordarão os conceitos teóricos e legais do mercado

de valores mobiliários, assim como os procedimentos para abertura de capital no

Brasil. As principais fontes de consulta, além dos próprios órgãos reguladores,

associações brasileiras2 e textos publicados por seus especialistas, são Casagrande

Neto (2001) e Leal (2001).

2.1 Componentes de uma Avaliação de Empresas

2.1.1 Modelo de Fluxo de Caixa Descontado

Segundo Damodaran, “o problema na avaliação não é de que não haja

modelos suficientes para avaliar um investimento, mas de que há modelos

demais”3. Das três abordagens apresentadas em seu livro para a avaliação de

2Os órgãos que regulamentam e monitoram o mercado de capitais são: CVM, Bovespa e BACEN. Quanto aos órgãos e associações relacionadas à abertura de capital, estes são: Associação dos Analistas do Mercado de Capitais (ABAMEC), Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA), Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (ANBID), Associação Nacional das Corretoras de Valores (ANCOR), Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (ANDIMA), Associação Nacional de Investidores do Mercado de Capitais (ANIMEC), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), Câmara de Custódia e Liquidação (CETIP) e Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). 3DAMODARAN, A. Avaliação de investimentos: ferramentas e técnicas para a determinação do valor de qualquer ativo. Trad. Carlos Henrique Trieschman e Ronaldo de Almeida Rego. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005, p.11 e 615.

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empresas – avaliação por fluxo de caixa descontado, avaliação relativa e avaliação

de direitos contingentes – o modelo escolhido para o desenvolvimento do presente

trabalho será o modelo de fluxo de caixa descontado.

A avaliação de direitos contingentes utiliza modelos de apreçamento de

opções, que não será o foco do trabalho.

No modelo de avaliação relativa, o valor do ativo de uma empresa é baseado

no apreçamento de empresas comparáveis, em relação a variáveis comuns como

lucros, fluxos de caixa ou receita, por exemplo. Este modelo, apesar de atrativo

pela simplicidade e rapidez de cálculo e útil quando há um grande número de

empresas comparáveis sendo negociadas no mercado, não se mostra completo

para a avaliação de empresas pela facilidade de sua manipulação. Considerando

duas empresas exatamente similares em termos de risco e crescimento, a definição

de empresas comparáveis torna-se subjetiva, havendo a possibilidade de uma

superavaliação ou subavaliação dos resultados.

O modelo escolhido para utilização na pesquisa envolve o cálculo do valor

presente líquido (VPL), isto é, o valor presente dos fluxos futuros de caixa

esperados pela empresa. A intuição por trás do modelo é a de que um projeto deve

gerar uma taxa superior de retorno à oferecida nos mercados de capitais. Dessa

forma, o VPL positivo já seria um indicativo para aceitação do projeto de

investimento. Além disso, o modelo apresenta-se mais apropriado pelo fato da

Natura ter realizado oferta pública inicial, o que significa que há resultados

disponíveis para o cálculo do fluxo de caixa descontado. A ausência de empresas

do mesmo segmento com capital aberto no Brasil para viabilizar uma análise por

índices também restringe a utilização desse modelo. O modelo de avaliação

relativa será, portanto, utilizado apenas para complementar o trabalho através da

comparação dos múltiplos da Natura com as competidoras internacionais.

A avaliação por fluxo de caixa descontado pode ser realizada de duas

maneiras, que utilizam diferentes definições de fluxo de caixa e taxas de desconto.

A primeira através do fluxo de caixa do acionista esperado (FCFE), que avalia

apenas a participação acionária do negócio. O procedimento desconta o fluxo de

caixa obtido após todas as obrigações financeiras, incluindo o pagamento das

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dívidas e, depois de atendidas as necessidades de reinvestimento da empresa, o

custo do patrimônio líquido da empresa4.

A segunda forma de avaliação é através do fluxo de caixa da empresa

esperado (FCFF). A avaliação é realizada do ponto de vista de todos os

detentores de direitos na empresa (investidores em patrimônio líquido, detentores

de obrigações e acionistas preferenciais). O procedimento envolve o desconto do

fluxo de caixa para a empresa, isto é, aquele após todos os pagamentos das

despesas operacionais e impostos, porém antes da dívida ou do pagamento a

quaisquer detentores de direitos do custo médio ponderado de capital.

No estudo de caso da Natura será projetado o fluxo de caixa para o acionista

e o fluxo de caixa da empresa, sendo o apreçamento da companhia calculado a

partir do segundo.

Fluxo de Caixa Livre da Empresa (FCFF)5

O fluxo de caixa será calculado utilizando os lucros antes dos juros e

impostos (EBIT) como base de cálculo, observando-se a seguinte fórmula:

FCFF = EBIT x (1- alíquota de impostos) + Depreciação – Desembolso de

Capital – ∆Capital de Giro

Fluxo de Caixa Livre para Acionistas (FCFE)6

O fluxo de caixa do acionista representa o FCFF, descontada a dívida e

dividendos, de acordo com a seguinte equação:

FCFE = EBIT x (1- alíquota de impostos) + Depreciação – Desembolso de

Capital – ∆Capital de Giro – ∆Dívida – Resultado Financeiro

4Um dos principais problemas com o uso de fluxos de caixa do acionista é a ocorrência freqüente de caixa líquido negativo do acionista. Uma vez que o fluxo de caixa líquido da empresa é considerado antes do pagamento das dívidas, é muito menos provável que seja negativo e que traga problemas na avaliação. Fontes: Damodaran, p. 302, e Ross, p. 81. 5Ross, p. 43 6Idem.

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Valor Presente do Fluxo de Caixa Livre7

O valor da empresa será determinado como valor presente do fluxo de caixa

livre, projetado para um determinado número de anos, descontado do custo

de capital, conforme fórmula a seguir:

VPL da Empresa = FC0 + FCF1 + FCF2 + ... + FCF . = Σ FCFt (1 + kc)¹ (1 + kc)² (1 + kc) t =1 (1 + kc)t

em que,

FCF = fluxo de caixa livre esperado das operações no futuro para cada ano t

kc = custo de capital

Valor Terminal ou Perpetuidade8

Após a projeção do fluxo de caixa para um determinado número de

períodos, supõe-se que a empresa alcançará uma situação de equilíbrio e

crescerá constantemente a uma taxa de perpetuidade igual a g. Esta taxa

representa a estimativa do valor da continuidade de crescimento ao final do

último ano de planejamento. Veja-se, a respeito, a seguinte fórmula:

FCFn x (1 + g) Valor Terminal = (kc – g)

Em que,

kc = custo de capital

g = crescimento do fluxo de caixa perpétuo

FCFn = fluxo de caixa líquido no último ano de planejamento

O valor operacional da empresa representará o resultado da soma de todos

os valores presentes dos fluxos de caixa livres anuais com o valor presente do

valor terminal, considerando-se o custo médio ponderado de capital como o custo

de capital.

7Brigham, p. 341. 8Idem, p. 343.

∞∞

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2.1.2 Custo Médio Ponderado de Capital

As empresas geralmente utilizam vários tipos de capital para se financiar.

Os diferentes tipos de capital são chamados de componentes de capital e os mais

freqüentemente usados são o capital próprio9 e ações preferenciais, além do

capital de terceiros (por meio da contratação de dívida). Em virtude das diferenças

de risco presentes em cada título, as taxas de retorno exigidas pelos investidores

variam de acordo com cada um.

O custo médio ponderado de capital (WACC) representa a média ponderada

dos vários custos componentes, sendo utilizado nas decisões de orçamento de

capital, isto é, para selecionar investimentos em função dos retornos dos projetos e

do custo do capital. Quando uma empresa se financia apenas com capital próprio e

deseja avaliar um projeto com risco, o retorno exigido será determinado pelo

custo do capital próprio da empresa. Quando as empresas financiam suas

atividades com capital próprio e de terceiros, a taxa de desconto utilizada é o custo

geral de capital, ou seja, a média ponderada entre o custo de capital de terceiros e

o custo do capital próprio10.

Por estes motivos, o WACC representa o custo do novo capital e não o custo

do capital já investido. O resultado derivado por sua fórmula representa a taxa de

desconto usada para converter o fluxo de caixa livre futuro da empresa em valor

presente para todos os investidores, considerando simultaneamente a presença de

capital de terceiros e capital próprio11. Veja-se:

WACC = Wd Kd (1 – T) + Wce KS

9As principais fontes de capital próprio das empresas são a emissão de novas ações ordinárias e a retenção de lucros. A emissão de novas ações exige que a empresa obtenha uma taxa de retorno superior à exigida pelos acionistas (ks) para compensar os custos de emissão. Devido ao efeito negativo sobre o preço que novas emissões provocam, já que serão ofertadas a um preço menor que o vigente antes do anuncio de emissão, esta alternativa é utilizada excepcionalmente. A retenção de lucros, a principal fonte de novo recurso para as corporações, para compensar o custo de oportunidade do investidor de não receber a parcela em dividendos, deverá apresentar taxa de retorno sobre os lucros retidos pelo menos igual à taxa de retorno de investimentos alternativos e de risco equivalente no mercado. Desta forma o ks representa o custo do capital próprio novo captado pela retenção dos lucros e a taxa de retorno que os acionistas esperam obter sobre investimentos de risco equivalente. Cf. Brigham, p. 375. 10Ross, p. 257. 11Além do WACC, existem enfoques alternativos para avaliação da empresa quando esta se utiliza de capital de terceiro, como o Valor Presente Ajustado (VPA) e o Fluxo de Capital Próprio (FCF). Para maiores informações, v. Ross, p. 379.

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Em que,

Wd e Wce são, respectivamente, os pesos de dívida e das ações ordinárias na

estrutura de capital. Os pesos de cada uma podem ser determinados com

base em: valores contábeis (balanço patrimonial), valores atuais de mercado

ou através de uma estrutura de capital-alvo estimada.

Kd = taxa de retorno requerida pelos detentores da dívida ou taxa de juros

sobre a dívida.

Kd (1 – T) = Custo da dívida após impostos, ressaltando que para efeito de

imposto de renda o pagamento de juros é dedutível.

KS = Custo do capital próprio ou taxa de retorno esperada pelos acionistas

ordinários. O cálculo do custo de capital próprio é mais difícil de estimar

que o custo da dívida, caracterizado por obrigações contratuais com custos

bem definidos. Apesar da existência de outros métodos para a estimativa do

custo de capital próprio12, este trabalho utilizará o método CAPM (Capital

Asset Pricing Model).

2.1.3 Método CAPM (Capital Asset Price Model)

Também conhecido como modelo de precificação de ativos, este método

permite achar o custo do capital próprio da empresa. Descreve a relação entre o

risco de mercado de um título isolado e as taxas requeridas de retorno pelos

acionistas, medido pelo seu beta.

Segundo sua fórmula, o retorno esperado de um título está linearmente

relacionado ao seu coeficiente de risco. Considerando-se que o retorno médio do

mercado é superior à média da taxa livre de risco durante períodos bastante 12Brigham (2001) apresenta três modelos para estimativa do custo do capital próprio: CAPM (Capital Asset Pricing Model), a abordagem do Rendimento de Títulos de Dívida de Longo Prazo mais um Prêmio de Risco (Bond-Yield-plus-Risk-Premium) e a abordagem do Rendimento-de-Dividendo-mais-Taxa-de-Crescimento ou Fluxo de Caixa Descontado (Discounted Cash Flow - DCF). Em princípio, todos os métodos apresentam resultados semelhantes e a média dos resultados, uma estimativa eficiente de ks. Vale ressaltar que nenhum dos métodos é excludente do outro e na prática, quando utilizados, todos estão sujeitos a erros. Para maiores informações, ver Brigham, p. 375.

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longos, presume-se que o retorno esperado de um título esteja positivamente

relacionado ao seu coeficiente de risco beta. A fórmula clássica do modelo CAPM

é representada como segue:

KS = KRF + (KM – KRF) ß

Em mercados emergentes é recomendado que se ajuste o KS pelo Risco País

(Country Spread). Essa metodologia é prática comum no mercado, sendo

observada em todos os relatórios de avaliação de Equity, emitidos por instituições

financeiras. Assim, a fórmula do custo do capital próprio é ajustada para:

KS = KRF + risco país + (prêmio de mercado) ß

Em que,

KS = Retorno esperado de um título ou custo do capital próprio

KRF = Taxa de retorno livre de risco (normalmente considera-se como taxa

de retorno dos títulos do governo).

Autores como Ross (2002) e alguns analistas recomendam os T-bills, por

serem boas estimativas de taxa de juros do governo americano no curto

prazo. A alternativa, mais comum no mercado e sugerida por autores como

Damodaran (2005), recomenda os títulos do governo americano de longo

prazo – T-Bonds – para que haja coerência com o tempo de maturação do

investimento a ser analisado. Na avaliação da Natura será usado T-Bond de

10 anos, calculado pela média dos últimos cinco anos das taxas T-Bond

disponíveis na Economática.

Risco País = O risco país a ser utilizado será o risco soberano do Brasil

encontrado nos relatórios divulgados por agências de rating ou disponível

no site <www.damodaran.com>, de onde este trabalho utilizará a

informação de 6%, referente a maio de 2004.

Prêmio de Mercado = (KM – KRF). O prêmio por risco do mercado é a média

das diferenças entre KM (Taxa de retorno esperada de carteira de mercado) e

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KRF (Taxa livre de risco). Na prática, o desempenho do mercado pode ser

medido pelo índice BOVESPA no Brasil, Dow Jones Industrial, o índice do

New York Stock Exchange nos E.U.A ou o do S&P 500. O índice escolhido

para utilização no modelo será o prêmio do S&P 500 sobre o T-Bond de

4%, referente a maio de 2004.

ß = Medida de risco que reflete o quanto o retorno de uma ação oscila em

relação à variação de um índice de mercado, isto é, carteira diversificada. O

beta pode ser obtido pela regressão linear dos retornos da ação em relação

aos retornos do índice de mercado.

Como representa a tendência de uma ação se mover para cima ou para baixo

com o mercado, em casos de ações com ß menor que 1, seu risco é menor

do que a média de mercado, esperando que os movimentos da ação para

cima ou para baixo sejam menores que os do mercado.

A estimativa de beta utilizada derivará do beta setorial de cosméticos e

artigos de toalete desalavancado, alavancado pela estrutura de capital da

empresa analisada. O beta desalavancado para o setor de cosméticos e

artigos de toalete em 2003 de 0,67 está disponível no site

<www.damodaran.com> e conta com a média mensal de cinco anos dos

betas de 21 empresas do setor.

Abaixo segue a fórmula a ser utilizada para alavancar o beta do setor pela

estrutura de capital da Natura:

BL = BU (1+[D/E (1-T)]

Em que,

BL = beta alavancado ou do capital próprio;

BU = beta desalavancado ou dos ativos;

(1-T) = desconto do imposto de renda;

D = montante de capital de terceiros ou dívidas;

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E = montante de capital próprio da empresa.

2.1.4 Múltiplos

Os múltiplos ou índices, conforme introduzindo na seção anterior, são

ferramentas alternativas a avaliação das empresas pelo fluxo de caixa descontado.

Na ausência de dados financeiros disponíveis, esta técnica permite a comparação

de índices de uma empresa com os de empresas concorrentes, índices médios da

indústria ou setor em questão e entre diferentes períodos de tempo, posicionando a

empresa em relação às do mesmo nicho de atuação.

Os índices são caracterizados pela divisão do valor de mercado da empresa

por variáveis comuns como preço de ação, lucros, fluxos de caixa e outras

demonstrações financeiras. Abaixo seguem os múltiplos utilizados na pesquisa.

Índice preço-lucro: preço/lucro (P/L) ou price/earnings (PE)

Este é indicador bastante comum em avaliações. Uma das maneiras de

calcular este índice consiste em dividir o preço corrente de mercado da ação pelo

lucro por ação no exercício mais recente. Ou seja, representa o quanto os

investidores estão dispostos a pagar por unidade monetária de lucro. Quanto maior

o índice preço/lucro, menor o grau de risco da empresa e maior a perspectiva de

crescimento13.

P/L = Preço de mercado por ação / lucro por ação

As estimativas do índice estão sujeitas, contudo, a dois problemas: não

apresentarão significado quando os lucros por ação forem negativos e a

volatilidade dos lucros pode fazer com que o índice mude consideravelmente de

um período para outro, representando um índice volátil e às vezes sem

significado.

Índice valor da firma-EBITDA: VF/EBITDA ou EV/EBITDA

13DAMODARAN, A. Avaliação de investimentos: ferramentas e técnicas para a determinação do valor de qualquer ativo. Trad. Carlos Henrique Trieschmann e Ronaldo de Almeida Rego. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005, p. 359.

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A análise por este índice vem ao longo dos anos se tornado muito utilizada

por analistas de mercado. O primeiro motivo está no fato de que há menos firmas

com EBITDA negativo do que empresas com lucros negativos por ação,

abrangendo, assim, um maior número de empresas que podem ser avaliadas por

este múltiplo. O segundo motivo envolve a depreciação. Como as empresas e

países possuem diferentes metodologias de depreciação, a utilização do EBITDA

impede que haja distorções por conta deste fator. Este múltiplo ainda permite uma

comparação mais fácil entre empresas com diferentes níveis de alavancagem,

dado que o denominador não considera especialmente gastos da dívida.

VF/EBITDA = Valor da firma / EBITDA

2.2 Mercado de Valores Mobiliários

O mercado de valores mobiliários, também conhecido como mercado de

capitais, representa um segmento do mercado financeiro14. É constituído por um

conjunto de operações com valores mobiliários, realizadas predominantemente em

bolsas de valores ou mercados organizados, representando a médio e longo prazo

uma boa fonte de recursos para as empresas e numa interessante aplicação para os

investidores.

O mercado de valores mobiliários negocia, predominantemente, ações,

debêntures e notas promissórias (commercial papers), além de negociar outros

títulos criados ou emitidos por sociedades anônimas, desde que devidamente

registrados com o conceito de valor mobiliário na Comissão de Valores

Mobiliários. Outros tipos de valores mobiliários são os bônus de subscrição,

certificados de depósito de valores mobiliários, índices representativos de carteira

de ações, opções de compra e venda de valores mobiliários, direitos e recibos de

14O Sistema Financeiro Nacional (SFN) pode ser segmentado em mercado monetário, de crédito, de câmbio e de valores mobiliários. Sua estrutura é composta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o órgão responsável por fixar as diretrizes da política monetária e cambial, por estabelecer as dos demais órgãos reguladores como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – principal órgão regulador do mercado de valores mobiliários – e por definir a regulamentação das instituições do sistema. Para maiores informações, ver CASAGRANDE NETO, H.; SOUZA, L. A.; ROSSI, M. C. Abertura do Capital de Empresas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2000 p. 21.

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subscrição, quotas de fundos imobiliários, recibos de depósitos (depositary

receipts), entre outros.

Estão excluídos deste mercado os títulos da dívida pública federal, estadual,

municipal e os títulos cambiais de responsabilidade de instituição financeira, com

exceção das debêntures.

Os principais participantes deste mercado são os investidores

institucionais15, empresas de grande porte (emissoras de valores mobiliários ou

investidoras), investidores de varejo (pessoa física ou jurídica) e os bancos,

corretoras e distribuidoras participantes do mercado de emissão, distribuição e

negociação de valores mobiliários. A Comissão de Valores Mobiliários representa

a instituição reguladora deste mercado de valores mobiliários, cuja negociação é

realizada em bolsas de valores ou mercado de balcão.

2.2.1 Comissão de Valores Mobiliários

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia vinculada ao

Ministério da Fazenda, criada pela Lei nº 6.385/76, com a finalidade de regular,

fiscalizar e supervisionar o mercado de valores mobiliários. Entende-se por

regulação o estabelecimento de regras específicas de comportamento neste

mercado; a fiscalização consiste na observação de como as regras são obedecidas

e a supervisão ocorre através da verificação do comportamento operacional das

empresas financeiras.

Dentre suas competências, a CVM promove o estímulo à formação de

poupança e sua aplicação em valores mobiliários, especialmente em ações das

companhias abertas de capital nacional. Promove a expansão e o funcionamento

eficiente e regular dos mercados de bolsa e balcão, coíbe fraudes ou manipulação

de condições artificiais de oferta, demanda ou preço negociados no mercado, além

15Por definição, são pessoas físicas e jurídicas cujos valores de investimento excedam o limite estabelecido para os Investidores Não Institucionais – investidores pessoas físicas e jurídicas, residentes e domiciliadas no Brasil, clubes de investimento registrados na BOVESPA – além de fundos de investimentos, fundos de pensão, entidades administradoras de recursos de terceiros registradas na CVM, entidades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, seguradoras, entidades de previdência complementar e de capitalização, clubes de investimento, carteiras de valores mobiliários, pessoas jurídicas com patrimônio líquido superior a cinco milhões de reais e Investidores Institucionais Estrangeiros, residentes no exterior, que vierem a participar de Distribuição Pública. Para maiores informações acessar <www.cvm.gov.br>.

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de assegurar a observância de práticas eqüitativas no mercado e acesso do público

a informações sobre valores mobiliários negociados. Ainda administra os registros

instituídos pela lei que a criou (registro de empresas para negociação de suas

ações no mercado, registro de oferta pública de ações, registro de consultores,

analistas de valores mobiliários, auditores independentes etc.) e propõe ao

Conselho Monetário Nacional (CMN) limites máximos de preços ou qualquer

outro rendimento cobrado pelos intermediários financeiros.

Dos tipos de registro existentes na CVM16 três estão mais relacionados à

abertura da companhia: o registro de emissão primária, distribuição secundária e o

registro de companhia para negociação em bolsa ou balcão. Este segundo

representa o registro identificador da empresa, autorizando a negociação dos seus

valores mobiliários em bolsa de valores ou mercado de balcão. Tanto para

negociação em bolsa quanto para o mercado de balcão organizado a empresa

primeiramente necessita do registro na CVM. Para negociação em bolsa, ainda há

necessidade de registro na instituição escolhida. A negociação de balcão é aquela

realizada fora das bolsas, com intermediação de bancos de investimento,

sociedades corretoras, distribuidoras e agentes autônomos credenciados por essas

instituições.

Para manter a confiabilidade do mercado e atrair um contingente cada vez

maior de investidores, a CVM precisa garantir um tratamento eqüitativo a todos

os participantes, principalmente quanto ao investidor individual. Face ao menor

poder econômico e capacidade de organização, esta classe precisa de proteção

para resguardar seus interesses no relacionamento com intermediários e

companhias. Dessa maneira, a regulação tem por objetivo assegurar condições

para a livre competição entre as instituições financeiras e as companhias,

impedindo o desenvolvimento de monopólio, cartelização ou restrições a qualquer

tipo de oferta de produtos ou serviços.

A instituição também tem o papel de assegurar a ampla divulgação das

informações sobre os emissores e seus valores mobiliários, coibindo emissões

irregulares e atos ilegais de administradores e acionistas controladores de

16Há seis tipos de registros na CVM, a saber: a) registro de companhia para negociações em Bolsa ou no Balcão; b) Registro de emissão primária; c) Registro de distribuições secundárias; d) Registro de operações especiais; e) Registro de operações de insiders; f) Registro de informações relativas ao uso do poder do voto. Conforme Cordeiro Filho, A. Manual de abertura das companhias, p. 102, nota de rodapé.

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companhias ou de administradores de carteira de valores mobiliários. Assim,

regulamenta um regime permanente de informações periódicas a serem

divulgados ao mercado, criando um sistema de informações igualitário e confiável

ao mercado. Em casos de descumprimento das normas estabelecidas para

operação no mercado que regula, a instituição também tem o poder de suspender

ou cassar a autorização de registro das empresas e suspender a instituição da

prática de atividades ou de operações no mercado.

Em 2004, a CVM passou a ser o único órgão regulador e fiscalizador dos

fundos de investimento, alterando sua estrutura anteriormente existente, segundo a

qual os fundos de Renda Fixa eram fiscalizados pelo Banco Central e os fundos de

Renda Variável pela própria CVM17.

2.2.2 Bolsa de Valores

As bolsas de valores, de acordo com a Resolução CMN nº 2.690/2000, são

sociedades anônimas ou associações civis, com autonomia financeira, patrimonial

e administrativa. Estão sujeitas à supervisão e resoluções da CVM, assim como

diretrizes e políticas do CMN. O patrimônio das bolsas é representado por títulos

patrimoniais ou ações ordinárias pertencentes às sociedades corretoras membros.

A Bolsa é o instrumento geralmente utilizado pelas empresas de capital

aberto para captação de recursos. Por viabilizar essa captação, exerce importante

papel como agente propulsor do crescimento das empresas e no desenvolvimento

da economia.

Dentre seus objetivos e atividades constam a manutenção de um sistema

adequado à realização de operações de compra e venda de títulos e valores

mobiliários em mercado livre e aberto, organizado e fiscalizado pelo próprio

órgão, sociedades membros e autoridades competentes; a garantia dos meios

necessários à pronta e eficiente realização, visibilidade e registro das operações; a

divulgação das operações realizadas com rapidez; a garantia de mecanismos para

que as sociedades membros possam atender a quaisquer ordens de compra e venda

dos investidores; o estabelecimento de sistemas de negociação que propiciem

17Em agosto de 2004 foi expedida pela CVM a Instrução n. 409 determinando novas regras para a constituição, administração, o funcionamento e divulgação dos Fundos de Investimentos.

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continuidade de preços e liquidez ao mercado de títulos ou valores mobiliários; o

estabelecimento de normas de comportamento para as sociedades membros e

emissores de títulos, fiscalizando e aplicando as penalidades necessárias; além de

outras atividades regulamentadas e autorizadas pela CVM18.

A mesma documentação requerida pela CVM para o registro da companhia

aberta também é exigida pela bolsa de valores para registro e listagem. O órgão

analisa a documentação, podendo solicitar esclarecimentos ou complementação de

informações.

No ano de 2000 o mercado de capitais acionário brasileiro ganhou

competitividade internacional com a fusão das bolsas de São Paulo e Rio de

Janeiro. A bolsa de valores de São Paulo já concentrava grande parte dos negócios

no país, propiciando o acordo que estabeleceu que negócios secundários com

títulos públicos seriam realizados pela bolsa do Rio de Janeiro, enquanto a

Bovespa realizaria todas as negociações com ações, tornando-se a principal bolsa

de valores do país.

2.2.3 Mercado de Balcão Organizado

O mercado de balcão organizado negocia os valores mobiliários das

companhias abertas que não têm registro em bolsa de valores. De acordo com a

Instrução CVM nº 243/96, as entidades membros deste mercado são constituídas

como sociedades civil ou comercial, que atuam como órgãos auto-reguladores

auxiliares da CVM na fiscalização de seus respectivos participantes e das

operações nelas realizadas.

As entidades têm objetivos parecidos com os da bolsa de valores.

Trabalham para manter o sistema adequado à realização de compra e venda de

valores mobiliários em mercado livre e aberto, tem o papel de divulgar as

operações realizadas com rapidez, assegurar os meios necessários à eficiente

realização e visibilidade das operações, estabelecer sistemas de negociação que

permitam a continuidade de preços e liquidez do mercado. Têm o papel de criar

mecanismos que possibilitem o atendimento pelos intermediários e participantes

18Para maiores informações, consultar <www.bovespa.com.br> e <www.cvm.org.br>.

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das ordens de compra e venda dos investidores, são os responsáveis por efetuar o

registro das operações, estabelecer normas de comportamento e negociação para

intermediários, participantes e companhias, fiscalizando e aplicando as

penalidades necessárias, além das demais atividades regulamentadas e autorizadas

pela CVM19.

2.3 A Abertura de Capital

A legislação define uma companhia aberta como aquela detentora do direito

de negociar seus valores mobiliários de forma pública, isto é, apenas empresas ou

sociedades anônimas que abrem seu capital têm o direito de negociar seus títulos

em bolsa de valores ou mercado de balcão.

Conforme apresentado, a abertura de capital envolve o pedido de registro de

companhia aberta, pela empresa, junto à CVM, além do requerimento

complementar para a negociação dos valores mobiliários em bolsa ou mercado de

balcão. Vale ressaltar que uma empresa fechada com o capital bastante

pulverizado pode requerer à CVM o registro de companhia aberta, sem ter

previamente ofertado valores no mercado ou ter a intenção de novas emissões20.

Quando as empresas estudam a proposta de abertura de capital,

normalmente vislumbram a obtenção de recursos, sejam eles para novos

investimentos ou para financiamento. Contudo, Casagrande Neto, Souza e Rossi21

destacam a importância do mercado de capitais não ser visto apenas como uma

fonte alternativa de recursos, mas como origem permanente de capitalização pela

empresa, desde que haja uma boa política de manutenção dos valores mobiliários

pós-mercado. A lógica por trás desse pensamento é a de que enquanto as empresas

conseguirem liquidez para os seus títulos, disporão de recursos no mercado de

capitais.

A abertura de capital representa uma fonte de liquidez para os investimentos

já realizados na fundação ou crescimento da companhia, permitindo maior 19Para maiores detalhes, consultar <www.cvm.org.br>. 20Para maiores detalhes sobre o processo de abertura de capital, v. CASAGRANDE NETO, H.; SOUZA, L.A.; ROSSI, M.C. Abertura do Capital de Empresas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2000, Cap.5. 21CASAGRANDE NETO, H.; SOUZA, L. A.; ROSSI, M.C. Abertura do Capital de Empresas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2000 p. 40.

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competitividade ou como alternativa para a reestruturação societária (como

exclusão de sócios, partilha de herança ou processo sucessório). Por esses

motivos, as empresas também deveriam associar a abertura de capital a um

instrumento para o crescimento ou consolidação de posições. O mercado,

favorável ao constante relacionamento com as empresas, estará mais receptivo à

emissão de uma empresa que não necessite de recursos ou que apresente bons

resultados do que daquela que busca a abertura de capital apenas quando se

encontra com mau desempenho financeiro. Nesses casos, as cotações serão

penalizadas no mercado secundário, nas comissões e preços futuros de novas

chamadas de capital.

A abertura de capital vem acompanhada de exigências da legislação e do

próprio mercado por informações econômico-financeiras mais visíveis, acessíveis

e confiáveis, assim como por demandas de melhores práticas de governança

corporativa nas empresas. Esses fatores são atrativos para o ingresso de

investidores potenciais e para o acesso das empresas emissoras ao mercado

internacional.

O grande desafio das empresas, além da manutenção do relacionamento

com o mercado, está na busca pelo equilíbrio entre o capital próprio e de terceiros.

Conforme estudo de Famá e Perobelli (2003)22, não existe uma estrutura ótima de

capital, mas aquela mais apropriada ao perfil de cada empresa. Dificilmente as

empresas conseguem se sustentar com apenas um tipo de capital. Para a definição

da estrutura ótima seria preciso considerar o custo e a disponibilidade dos tipos de

capital, analisar índices comparativos setoriais como liquidez, rentabilidade, prazo

de maturação etc. e averiguar qual o grau de risco aceito pelo investidor.

Geralmente, em função do seu grau de risco, os recursos iniciais de um

negócio são, via de regra, originários de seus promotores. O capital próprio obtido

através do reinvestimento de lucros e aportes dos atuais acionistas é aquele que

permite os primeiros estágios de crescimento, servindo de base para os débitos de

médio prazo necessários à consolidação do empreendimento.

Como os recursos próprios serão, em algum momento, insuficientes para o

contínuo crescimento da companhia, as empresas recorrerão ao capital de

22FAMÁ R.; PEROBELLI, F.F. Fatores Determinantes da Estrutura de Capital para Empresas Latino-Americanas. Revista de Administração Contemporânea, v. 7, n. 1, p. 09-35, jan./mar., 2003.

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terceiros, através do financiamento bancário ou lançamento de títulos no mercado

de valores mobiliários. A desvantagem do financiamento bancário é a limitação

do prazo e o lastro de garantia exigido, que são as riquezas já existentes. O Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) representa uma das

poucas fontes de recursos de financiamento com maior prazo e melhores taxas,

não sendo ainda suficiente, contudo, para atender a todo o mercado e as diferentes

modalidades de investimento no país.

Uma vez esgotada a capacidade de endividamento por instituições

financeiras, seja pela escassez de recursos ou pelas altas taxas praticadas, o

lançamento de valores mobiliários surge como alternativa à reposição da

capacidade de alavancagem dos recursos próprios. Emissões primárias,

secundárias ou emissão de títulos de dívida são recursos estáveis de médio e longo

prazo para suprir as permanentes necessidades de capital de giro ou de fundos

para investimentos de longa maturação, que requerem capital mais estável do que

o disponível no sistema bancário de curto prazo.

A forte presença que o mercado brasileiro experimenta de investidores

institucionais reforça o potencial deste mercado, constituindo a base de

permanente demanda por títulos, sendo possível manter o mercado aquecido e

movimentando a economia do país. Apesar da sua importância, existem algumas

questões que dificultam a criação de mecanismos de captação por meio do

mercado de capitais como a condução da política econômica do país com foco no

curto prazo e nas altas taxas de juros (impedindo planejamento de mais longo

prazo), assim como o grande volume de novas normas e resoluções, que geram

incertezas aos investidores a médio e longo prazo.

2.3.1 Vantagens e Custos da Abertura

As Vantagens

A oferta pública de valores mobiliários vem sendo apresentada como

alternativa à escassez de recursos estáveis, voluntários e oportunidades de

negócios favorecidas pela disponibilidade de recursos, além de uma opção para a

reestruturação societária ou para o processo sucessório. Esta seção apresenta as

principais vantagens desta operação, encontradas principalmente no trabalho de

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Pagano, Panetta e Zingales (1998) e em diversos textos publicados pelo professor

Jay Ritter.

Ampliação da base de captação: a abertura de capital facilita o acesso

a novas fontes de recursos em detrimento dos financiamentos bancários.

Segundo Pagano, Panetta e Zingales (1998) e Rodrigues (1999),

empresas que requerem grandes volumes de fundos são aquelas sujeitas

a altas taxas de juros ou restrições de crédito bancário, inconvenientes

amenizados pela emissão de ações junto a novos sócios.

Aumento do poder de barganha frente aos bancos: conforme

Carvalho (2000), os bancos, por possuírem informações sobre a

qualidade creditícia de seus clientes, utilizam essa vantagem em

beneficio próprio cobrando taxas de juros mais elevadas. Com a abertura

de capital e a decorrente disseminação das informações sobre a empresa

através do mercado, Pagano, Panetta e Zingales (1998) destacam a

equidade de informação que todas as instituições financeiras passam a

ter, assegurando menor custo de capital e maiores volumes de recursos

disponíveis para as empresas.

Redução do custo de capital: empresas com grande volume de

investimento, rápido crescimento ou alta alavancagem financeira

requerem consideráveis quantias de capital, elevando seu custo de

captação ou sofrendo restrições de crédito bancário. O aumento da

capacidade de endividamento e estabilidade dos recursos permitidos

pela emissão pública de valores mobiliários, como as ações que não têm

prazos para resgate, permite à empresa cumprir com os planos de

expansão previamente definidos e, conforme Carvalho (2000) e

Rodrigues (1999), negociar as ações a baixo custo. A liquidez para

acionistas a baixos custos proporciona maiores preços para as ações da

empresa e consecutivamente menor custo de capital. Já Pagano, Panetta

e Zingales (1998) apresentam uma visão mais completa ao mostrar em

seu estudo que a abertura de capital, apenas a curto prazo, permite uma

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redução de risco, de custo de capital e valorização das ações, em função

da maior liquidez de mercado.

Criação de liquidez patrimonial: Rodrigues (1999) em seu artigo cita a

criação de liquidez para o patrimônio dos acionistas controladores e

minoritários como uma vantagem. A abertura de capital permite aos

detentores das ações transformar a qualquer momento as ações em

dinheiro, seja no ato da abertura de capital, seja na negociação em bolsa.

Contudo, é preciso mencionar que a liquidez está correlacionada ao

volume negociado. Procianoy (1994), baseado em Casagrande Neto23,

afirma que quanto maior for o volume negociado das ações da

companhia, maior a liquidez para os acionistas, o que de certa forma

favorece a abertura das maiores companhias e desperta o interesse de

novos investidores.

Diversificação de carteira: de acordo com Ritter (1998), a decisão de

abrir o capital permite a diversificação das carteiras dos acionistas,

normalmente representados pelo maior percentual das ações da empresa

que detém. A diversificação do risco pode ser obtida através da venda

direta de ações, quando o acionista pode diretamente comprar ações de

outras instituições, ou indireta, opção em que a empresa levanta fundos

por meio de emissão de ações, atraindo novos sócios para posterior

compra de ações de outras companhias.

Reestruturação acionária ou de passivos: segundo o mesmo autor, a

abertura de capital pode ser a solução para uma partilha de herança, para

facilitar uma associação internacional ou ainda como primeiro passo de

uma estratégia ótima de venda da empresa. Algumas empresas, para

garantir sobrevivência ou recolocar-se no caminho do crescimento, são

motivadas a pensar na abertura de capital em função da necessidade de

reestruturar seus passivos. O ideal, contudo, é que a empresa mantenha

uma estrutura financeira equilibrada e, se tiver a abertura como

23CASAGRANDE NETO, H. Abertura do capital de empresas no Brasil: um enfoque prático. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1989.

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estratégia, procure fazê-la antecipadamente, antes de sinalizar

necessidade unicamente financeira.

Consolidação da imagem institucional: o mercado financeiro tem

reconhecido o esforço das empresas com a abertura das informações

sobre suas atividades, retribuindo com a valorização de seus papéis em

bolsa de valores. O fornecimento de informações transparentes e

confiáveis são, segundo Pagano, Panetta e Zingales (1998) e a própria

CVM, fundamentais para visibilidade da companhia perante os

investidores e para o acompanhamento do mercado financeiro. Esta

maior exposição funciona como um instrumento de marketing para

divulgação das empresas além da consolidação da imagem institucional

junto ao mercado e investidores.

Janelas de oportunidade: as empresas fechadas serão incentivadas a

abrir seu capital quando as empresas abertas pertencentes à sua indústria

estiverem superavaliadas. Portanto, tentarão se aproveitar da onda de

otimismo do mercado para emissões bem sucedidas. Ritter está entre os

autores que acreditam que a venda de uma parcela inicial das ações de

uma empresa pode aumentar o valor de venda do bloco restante das

ações.

Profissionalização da empresa: a abertura das informações da empresa

ao mercado leva à necessidade da profissionalização da estrutura de

comando numa busca pela maximização do resultado. Há um

movimento natural de substituição de membros da família na diretoria

ou em postos de comando por profissionais especializados, a serem

escolhidos para o gerenciamento e administração da empresa.

Todos os benefícios citados dependem ou estão intimamente relacionados à

liquidez das ações das empresas e da possibilidade dos investidores negociarem

volumes significativos de ações sem que isto altere significativamente seu preço.

Alguns autores como Pagano, Panetta e Zingales (1998), Ritter e Rodrigues

(1999) acreditam que as vantagens superam das desvantagens. Contudo, no caso

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brasileiro, questões como o custo dos juros no país, imagem do mercado nacional

perante o mercado externo e escassez de recursos para financiamento de médio e

longo prazo são alguns aspectos que podem influenciar na decisão de abertura de

capital.

Os Custos

As desvantagens e os motivos que levaram algumas empresas a fecharem ou

a não abrirem seu capital nos últimos anos também são analisados com diferentes

enfoques por cada um dos autores estudados. Pagano, Panetta e Zingales (1998)

citam, por exemplo, o custo de underpricing, os custos fixos e perda de

confidencialidade como os principais motivos que inibiriam a abertura de capital

pela via de emissão de ações. Já Leal (2000), destaca o custo do capital próprio, a

falta de proteção ao acionista minoritário e o processo de abertura de capital

praticado no país como principais custos.

Custo do capital próprio: Conforme pôde ser observado na seção

anterior, alguns citam-no como vantagem para abertura de capital. O

custo de capital representa a taxa de desconto utilizada para estimar o

valor de mercado da empresa. Sendo assim, quanto maior esta taxa,

menor o valor de mercado da companhia. Autores como Leal (2000)

identificam as altas taxas de juros brasileiras associadas a um risco mais

elevado da empresa nacional, o que, segundo ele, estimularia um alto

custo de capital próprio. Desta forma, o financiamento através de

emissões de ações seria interessante apenas para empresas sem acesso a

melhores alternativas de financiamento.

O estudo de Pagano, Panetta e Zingales (1998) mostra que, apesar do

custo de capital depender principalmente das taxas de juros de cada

região/país, ele cai apenas nos primeiros anos posteriores à abertura,

retornando em seguida ao que era antes. Dessa forma, há o aumento do

custo de capital próprio para a empresa a médio e longo prazo.

Falta de proteção ao acionista minoritário: segundo Leal (2000), a

falta de proteção do minoritário, associada à possibilidade de

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expropriação pelo acionista majoritário, leva os acionistas a depreciarem

o preço das ações, aumentando o retorno exigido e inibindo novas

emissões.

No Brasil, com a aprovação da Lei das S.A. e criação do Nível 1 e 2 e

do Novo Mercado da Bovespa, foram estabelecidos os direitos dos

minoritários e exigidos maiores níveis de governança corporativa,

minimizando esse problema, além de atrair novos investidores.

Processo de underpricing: uma característica observada não só no

Brasil, mas em outros países, com relação à distribuição inicial de ações

é o preço de desconto. O preço do lote de ações inicialmente distribuídas

precisa ser ofertado em média ao valor inferior ao de fechamento no

primeiro dia em que a ação é transacionada. Segundo Procianoy (1994),

e De Carvalho (2000), o underpricing é um fenômeno natural, em

virtude dos emissores possuírem informações privilegiadas da empresa,

as quais os investidores não possuem. Assim, o underpricing aparece

como prêmio exigido como recompensa desta negociação em condições

de desvantagem.

Leal e Bocater (1992), com uma abordagem um pouco diferente,

sugerem que o método de emissão no Brasil faz com que as empresas

emissoras deixem muito “dinheiro sobre a mesa”. Na realidade, os

retornos iniciais de ofertas públicas para abertura no país são elevados

porque os investidores que adquiriram as ações ao preço de emissão

revendem na bolsa no primeiro dia de negócios a preços muito

superiores ao de lançamento. Se a diferença entre o preço de emissão e o

preço de mercado é alta, isso pode frustrar a emissora por perceber que

obteve menores retornos do que poderia.

Aumento dos custos indiretos: além dos custos do underpricing inicial,

autores como Ritter destacam outros necessariamente incidentes com a

abertura de capital. No Brasil, são os custos com a comissão do

underwriter, despesas fixas com contratação de auditoria externa,

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atendimento ao acionista, publicações legais, taxas de registro na CVM

e na bolsa de valores, entre outros.

Silva (2000) destaca que o mercado brasileiro, comparado com o de

outros países, possui baixa escala de transações de ações. Inspirado em

Pagano, Panetta e Zingales (1998), conclui que sem boas ações na bolsa,

não há entrada de dinheiro novo e consecutivamente as ações não se

valorizam, dando conseqüência a altos custos de manutenção da

empresa aberta. Como as despesas de manutenção da companhia aberta

não aumentam proporcionalmente ao tamanho da emissão inicial, elas

pesam relativamente mais para as pequenas empresas.

Perda de confidencialidade: a necessidade de divulgação de

informações aos investidores pode causar desequilíbrio na concorrência,

possibilitando vantagem competitiva principalmente aos concorrentes de

capital fechado. Conforme Cordeiro Filho (1981), as exigências legais

de divulgação requerem a publicação de informações muitas vezes

consideradas relevantes para sua estratégia competitiva (como

estratégias de marketing futuras e informações de pesquisa e

desenvolvimento).

Rodrigues (1999) questiona até que ponto as empresas abertas perdem

confidencialidade, ressaltando que informações confidenciais não

necessitariam ser divulgadas. Este padrão de informação também expõe

as empresas a uma maior vigilância por parte das autoridades fiscais,

reduzindo a possibilidade de evasão fiscal.

Compartilhamento de decisões: conforme Cordeiro Filho (1981) e

Rodrigues (1999), a diluição do controle e seu reflexo na administração,

ou a necessidade de compartilhar as decisões e definições estratégicas da

companhia com os novos acionistas são fatores de inibição da abertura.

Argumenta-se que as questões legais a que as empresas são submetidas

ao abrir o capital reduzem a flexibilidade operacional e administrativa.

Apenas para ilustrar, as assembléias obrigatórias por lei por vezes

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poderão retardar ou impedir que a empresa tome providências mais

compatíveis com seus interesses de lucratividade, sobrevivência, ou com

aqueles dos controladores.

Pagamento de dividendos: segundo Cordeiro Filho (1981) e Rodrigues

(1999), a obrigatoriedade de distribuição de dividendos mínimos de

empresas de capital aberto em momentos de crescimento ou de

dificuldade, apenas para atender aos acionistas externos, pode

representar um fator desencorajador para a abertura.

2.3.2 Instrumentos de Abertura

Uma das principais decisões do processo de abertura de capital envolve a

análise cuidadosa de que tipos de valores mobiliários lançar, o número de títulos

factíveis e o preço de colocação. Dentre os instrumentos de abertura de capital

existentes, os mais usuais são as ações, debêntures e notas promissórias.

As ações são consideradas o instrumento mais efetivo na abertura de capital.

São títulos nominativos, negociáveis e representativos da propriedade de uma

fração do capital social de uma sociedade por ações. Quanto à espécie, podem ser

ordinárias, preferenciais ou de fruição. As ações podem ainda ser nominativas

registradas (controladas pela companhia emissora ou por terceiros) ou

nominativas escriturais (exigindo designação externa de instituição financeira

depositária dos títulos).

As ações ordinárias constituem aquelas que dão aos detentores direito a

voto, permitindo a interferência nas decisões e rumos da empresa, além da

participação nos resultados da companhia.

As preferenciais, normalmente, não têm direito a voto, ou possuem

restrições ao seu exercício. Também recebem prioridade no recebimento dos

dividendos, exceto em caso de ações com dividendos mínimos ou fixos e no caso

de liquidação da empresa.

As ações de fruição são as resultantes da amortização das ações ordinárias

ou preferenciais, não representando parte do capital social da companhia.

Contudo, são ações que dão direito ao contínuo recebimento de parcelas do lucro

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em forma de dividendos após o reembolso do equivalente à sua parte do capital

social da empresa.

As debêntures são títulos representativos de dívida de médio e longo prazo,

contraída pela companhia junto ao debenturista, com prazo determinado ou

indeterminado. As debêntures são classificadas em simples e conversíveis.

Enquanto as simples não podem ser convertidas em ações de emissão da empresa,

as conversíveis podem ser convertidas em ações, proporcionando eventuais lucros

no momento da conversão. As debêntures ainda rendem juros, prêmios, entre

outras vantagens definidas em escritura. Apesar de títulos de longo prazo, as taxas

podem ser repactuadas com o consentimento dos debenturistas, que, no caso de

não concordarem, obrigam a empresa a recomprá-las.

As emissões de debêntures têm sido utilizadas por empresas que, embora

abertas, não tenham ações de sua emissão negociadas em bolsa de valores. Dada a

limitada transparência do mercado de debêntures, resultante do menor volume e

freqüência de negociação, pode-se dizer que há uma certa ausência de avaliação

regular destas informações como há para a negociação de ações.

As notas promissórias são por sua vez títulos representativos de direito de

curto prazo contra a companhia emitente. Possuem prazo de trinta dias a um ano,

com remuneração prefixada na forma de deságio sobre o valor de face.

Respeitadas algumas condições e regulamentações da CVM, as companhias

fechadas têm a possibilidade de lançá-las.

2.3.3 Abertura de Capital por Emissão de Ações

A abertura de capital pode ocorrer de duas maneiras. A primeira através do

mercado primário, no qual valores mobiliários são lançados no mercado pela

primeira vez em subscrição pública e todo o capital obtido vai para a empresa. A

segunda forma é através da distribuição secundária ou block trade, no qual há

distribuição pública de títulos já existentes, detidas por acionistas ou pela

empresa. Neste caso, os valores mobiliários apenas trocam de dono, não havendo

qualquer entrada de capital para a empresa24.

24Leis sobre os procedimentos de abertura de capital: Lei nº 6.385/76, 6.404/76, 9.457/97 e Instruções CVM nº 13/80, 88/88, 202/93 e 299/99.

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A abertura de capital por emissão de ações consiste na colocação destas

junto ao público investidor através do processo de emissão primária (ou

underwriting) ou através da distribuição secundária ou block trade. A operação de

emissão primária ocorre por iniciativa da empresa, geralmente motivada pelo

objetivo de investimento em um novo projeto, de reforço do capital de giro ou de

saneamento financeiro da firma. Esta mesma iniciativa não representa, contudo, a

motivação da distribuição secundária já que não há entrada de caixa com a

redistribuição das ações para novos acionistas, mas a alteração do capital social da

companhia com o ingresso de novos investidores. Os dois tipos de emissão são

muito similares e podem ser feitos em bolsa de valores ou por outros mecanismos

do mercado de balcão.

O processo de abertura inicia-se com o desejo dos acionistas a ser expresso

na Assembléia Geral. A necessidade de promover alguma reestruturação na

empresa, adequação do sistema contábil e de controles internos, auditoria das

demonstrações financeiras e a própria escolha do intermediário financeiro podem

consumir muito tempo. Portanto, o quanto antes se iniciar a exposição ao

mercado, mais rápido a empresa ganhará visibilidade, favorecendo a ampliação da

demanda pelas ações no momento de abertura.

Da cogitação de abertura até a efetiva oferta ao público e investidores em

geral, são inúmeras as etapas a serem percorridas pela empresa. A seguir, serão

mencionadas as consideradas mais relevantes.

Análise da Conveniência

Uma das primeiras etapas percorridas pelas empresas é a avaliação dos

benefícios e dos custos da abertura de capital. O nível de prestações de

informações de uma companhia aberta é muito superior ao de uma empresa

fechada, o que leva a empresa a analisar mudanças necessárias nos estatutos

sociais, prevendo a criação do Conselho de Administração e eleição de seus

membros, adequação de cultura para o pronto atendimento e prestações de contas

ao mercado, sem mencionar a aceitação da presença de novos acionistas, o

respeito aos direitos dos minoritários, a necessidade da contratação de auditoria

independente para assegurar a credibilidade das demonstrações financeiras, entre

outros requisitos estabelecidos pela CVM e pela legislação.

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As questões econômicas também são de grande relevância. A constância dos

resultados do histórico de lucro líquido, a expectativa de crescimento e

estabilidade na evolução dos lucros (histórico e projetado) e sólidas políticas de

distribuição de dividendos são fatores que conquistam a confiança do mercado.

Escolha do Intermediário Financeiro

A legislação do mercado de capitais requer que toda distribuição pública

seja realizada através de uma instituição financeira (bancos múltiplos e de

investimento, corretoras e distribuidoras de valores). Tanto para o processo de

emissão primária quando secundária é necessária a contratação de uma instituição

intermediadora e coordenadora para liderar e participar das ofertas públicas.

A tradição e força da instituição escolhida é um fator importante para o

sucesso da emissão. Quando instituições de renome no mercado participam de

uma colocação, sinalizam aos investidores a qualidade do papel, influenciando no

sucesso da operação.

O coordenador da operação tem a incumbência de formar o pool das

instituições que farão parte da distribuição, para ampliar a base de potenciais

investidores. Os líderes do pool são aqueles que adquirem um grande lote de

ações, distribuindo-as aos intermediários ou consorciados, que por sua vez

desempenham a função de varejo, colocando o papel junto ao investidor final

(investidores institucionais, empresas de grande porte e investidores de varejo).

O intermediário, como coordenador da operação, orienta a empresa em todo

o processo, inclusive nas questões relacionadas à definição das características e do

tamanho da oferta. Adicionalmente, algumas instituições tornam-se conselheiros

permanentes em assuntos relacionados ao desempenho econômico-financeiro da

firma e à assessoria em assuntos de mercado de valores mobiliários.

Fixação do Preço de Emissão

Uma das maiores dificuldades na abertura de capital pela via da emissão de

ações é a atribuição do seu preço inicial. O único indicativo para uma comparação

entre preços das ações são os valores de mercado das ações de empresas do

mesmo setor econômico ou indústria. Como há diferença nas características

operacionais e financeiras de cada empresa, o processo comparativo torna-se

apenas uma referência para percepção de aceitação dos investidores ao setor e às

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empresas que nele operam. Para estipular um valor aproximado justo de emissão

ou de expectativas de valorização, os investidores geralmente analisam a

lucratividade que o valor mobiliário proporcionará através das perspectivas de

geração de fluxos de caixa e de lucros.

Uma prática observada nas aberturas de capital é a redução do preço inicial

de oferta. Dada a maior percepção de risco no momento de abertura, uma maneira

de motivar os investidores é a redução do preço inicial. Como o desconhecimento

sobre a empresa e sua gestão é maior, a relação entre valor de emissão e valor

patrimonial fica geralmente reduzida.

O preço de distribuição da Natura foi fixado com base na faixa de preço

indicada no Prospecto Preliminar, após a efetivação dos Pedidos de Reserva e a

conclusão do procedimento de coleta de intenções de investimento

(“Procedimento de bookbuilding”) realizado pelas Instituições Intermediárias.

Contrato de Underwriting

O contrato de underwriting aborda a qualificação completa das partes, a

definição de preço, volume e das demais características da operação. Especifica se

o acordo de subscrição será de novas ações e qual será sua natureza (garantia

firme, melhores esforços etc.), o tipo de distribuição (ações ordinárias,

preferenciais ou ambas), se haverá livre acesso a todos os investidores ou se

haverá tratamento diferenciado, especifica a formação da comissão de

underwriting, o valor a ser pago à empresa, comissões, prazo de pagamento, entre

outras informações relevantes à abertura.

Apesar de diversos os tipos de underwriting25, as modalidades mais

utilizadas no Brasil são as da garantia firme e dos melhores esforços. A garantia

firme, mais comumente utilizada, é a garantia de subscrição pelas instituições

financeiras garantidoras da operação, que ficam com as ações caso não haja

25São tipos de underwriting: a) Firme – compromisso firme de subscrição ou compra de ações para revenda ao público. Ocorre quando há lote de ações existentes (block trade), ou seja, trata-se de ações já existentes, cujo aumento de capital já ocorreu pela via da oferta pública; b) Garantia de Sobras (stand-by) – garante a subscrição das “sobras” após a oferta aos próprios acionistas, ou após período de esforço para colocação junto a terceiros; c) Tudo ou Nada (all or nothing) – a emissão apenas será efetivada caso sejam encontrados subscritores para todos os valores mobiliários em determinado período; d) Melhor Esforço (best efforts) – não há garantia de subscrição: o intermediário apenas empenhará seus “melhores esforços” para colocar a emissão. Conforme Cordeiro Filho, A. Manual de abertura das companhias, p. 89.

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colocação final junto aos investidores. Se o mercado não for receptivo ao volume

pretendido, os intermediários contratados são obrigados a assinar os boletins de

subscrição, pagar o preço, deduzir sua comissão e colocar os títulos não

absorvidos pelos investidores em sua própria carteira.

Na operação com melhores esforços, as instituições do pool realizam, como

o nome já diz, seus melhores esforços para colocar as novas ações no mercado e,

se não conseguem, levam à empresa a tentar encontrar através de seu próprio

esforço alguém para subscrevê-las. Caso as condições de mercado tornem-se

desfavoráveis antes ou após assinatura do contrato, o lançamento poderá ser

adiado, abandonado ou a companhia poderá reduzir o tamanho do lançamento ou

preço dos seus valores mobiliários.

Apesar dos diversos tipos de underwriting mencionados, a Natura optou

pelo procedimento de bookbuilding, realizado a partir da faixa de Preço de

Distribuição por Ação indicada no Prospecto Preliminar, a qual foi estabelecida

tendo em vista a avaliação da Companhia elaborada pelas Instituições

Intermediárias com base no método de fluxo de caixa descontado e na

comparação por múltiplos, a partir de informações obtidas junto a Companhia,

além dos relatórios independentes produzidos pelas equipes de mercado de

capitais das Instituições Intermediárias. O Procedimento de bookbuilding permite

a adequada análise do resultado da coleta de intenções firmes de compra das

Ações apresentada pelos Investidores Institucionais para as Instituições

Intermediárias, sendo, desta forma, identificado como o critério mais apropriado

para determinar o Preço de Distribuição da empresa.

Os gastos com uma operação de underwriting variam dependendo da

complexidade de cada empresa e do grau de organização. Normalmente,

envolvem despesas com a contratação de auditoria externa, preparação da

documentação, publicações legais, confecção do prospecto, comissão do

intermediário financeiro e processo de marketing da distribuição, além do tempo

do pessoal interno envolvido na operação. Mesmo após a abertura da companhia,

existem despesas que sustentam a liquidez dos valores mobiliários no mercado

com a contratação de profissionais intermediários para coordenação e

posicionamento dos títulos no mercado secundário, mantendo o mercado

mobiliário como fonte alternativa de recursos, já que muitos dos insucessos de

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lançamentos públicos estão relacionados ao descaso com liquidez dos títulos após

encerramento das operações.

Documentação e Reforma Estatutária

Basicamente, para a abertura são exigidos documentos de duas categorias:

os societários e relatórios financeiros da empresa, que devem seguir os padrões

estipulados pela CVM. Na parte societária, são encontradas as regras que

delineiam e gerenciam as atividades da empresa, requerendo na maior parte das

vezes a reforma dos estatutos da companhia. Quanto à parte financeira, busca-se

atestar as condições da empresa para essa nova fase. Por isso a necessidade de

submissão das demonstrações a uma auditoria externa independente, confecção do

prospecto de venda das ações entre outras medidas já mencionadas.

Marketing e disclosure da companhia

Para o sucesso da operação, a empresa deve oferecer boas perspectivas e

fazer com que os investidores as percebam. O coordenador deverá montar um

esquema de disclosure26 da companhia para que os intermediários conheçam o

produto oferecido muito bem, convencendo-se das suas qualidades para efetuarem

a venda eficientemente. O trabalho de marketing inclui atividades como visita às

instalações da empresa, palestras, reuniões com analistas do mercado, distribuição

de material publicitário e campanha institucional em veículos de comunicação.

Emissão

Finalmente, com os passos anteriores percorridos, marca-se a data da

liquidação financeira da operação e publica-se o anúncio do início de distribuição,

normalmente em jornal de grande circulação ou aquele onde a empresa costuma

fazer suas publicações legais. No anúncio são citados o montante a ser colocado e

quais instituições aptas a trabalhar o papel.

A subscrição deve ser concluída em no máximo seis meses da data de

autorização de emissão. Esse documento comprova a aquisição dos lotes de ações

pelo investidor, garantido sua posse. Com a conclusão da colocação, divulga-se o

26Disponibilização de fluxo de informações relevantes para os minoritários e mercado.

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anúncio de encerramento da distribuição pública em jornal, no mesmo molde do

anúncio de emissão.

A liquidação financeira do pool é a ultima etapa, realizada junto à

instituição financeira coordenadora, encarregada de transferir os recursos para a

empresa/acionistas. Todos os recursos financeiros resultantes da negociação com

os investidores, já excluídas as comissões, serão transferidos ao coordenador da

operação para repasse à companhia emissora ou seus acionistas.

Uma vez concretizada a abertura do capital, a emissora passa a fazer parte

do mercado de valores mobiliários e estabelece uma relação permanente com seus

principais participantes (CVM, acionistas, investidores, bolsas, mercado de

balcão, Cetip, Associações do mercado e analistas).

Dentre as medidas obrigatórias a serem respeitadas pelas empresas, estão: a

criação de um Conselho de Administração para eleição de diretores e fixação de

políticas da empresa, eleição de um diretor de relação com investidores

responsável por falar ao mercado em nome da empresa, as informações

financeiras ficam sujeitas a auditoria externa independente habilitada e registrada

pela CVM, fica obrigada a publicação em jornais de grande circulação os

demonstrativos financeiros anuais, convocações e atas de assembléias, além de

respeitar e atender todos os procedimentos estipulados pela CVM, omitidos no

trabalho por objetividade.

2.4 Governança Corporativa

O conjunto de relacionamentos entre os acionistas e administradores da

empresa é caracterizado como governança corporativa. A discussão atual em torno

deste assunto envolve o esforço para minimizar os potenciais conflitos de

interesse entre os agentes, maximizando o valor da empresa e retorno aos

acionistas.

As dificuldades financeiras de algumas empresas abertas e as falências

ocorridas na década de 90, assim como os desequilíbrios macroeconômicos,

elevadas taxas de inflação e volatilidade das taxas de juros, não favoreceram o

financiamento via mercado acionário no Brasil durante um bom período. Além da

conjuntura econômica, questões políticas como o tipo de gestão adotado por

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algumas empresas de capital aberto, despertaram muitas reclamações dos

minoritários, cuja qualidade do tratamento recebida levantava preocupação do

mercado quanto às práticas de administração adotadas.

Diante do enfraquecimento do mercado de capitais, que na prática deveria

ser a alternativa ao mercado financeiro bancário, o governo buscou uma forma de

incentivo através da reforma da Lei das Sociedades por Ações. A Bovespa,

principal bolsa de valores do país, se empenhou, por sua vez, em buscar

alternativas que, para aplicar ao mercado, independessem de grandes reformas

estruturais ou de intervenção dos órgãos reguladores. Conseguiu estimular o

mercado de capitais através de uma cultura de acionistas com a criação da

listagem das companhias abertas em diversos níveis, conforme o grau de direitos

que as empresas estivessem dispostas a conferir aos seus acionistas minoritários.

A nova Lei das S.A.

A nova Lei das Sociedades por Ações, publicada em 2001, mostrou que o

governo estava convencido a incentivar o aumento da pulverização do mercado de

capitais para fortalecê-lo no país, tentando frear também o fluxo migratório das

empresas para outros pregões dos mercados internacionais. Com a transformação

da CVM em uma agência reguladora independente, permitiu-se maior atuação e

poder de decisão em defesa da eficiência do mercado.

Ao apoiar a modificação da Lei das S.A. o Governo sinalizou claramente a

preocupação com investidores minoritários, proporcionando maior transparência e

garantia aos seus direitos. Apenas para exemplificar, anteriormente à reforma,

para uma empresa fechar seu capital, precisava apenas realizar uma oferta pública

de compra das ações retirando toda liquidez dos papéis, levando ao “fechamento

branco de capital”. O preço oferecido, por mais que não agradasse aos

minoritários, acabava sendo acatado para não haver maiores prejuízos com a

ausência de liquidez provocada no mercado. Com a nova lei, foi permitido aos

minoritários a opção de aceitar ou não a oferta. Agora, para o controlador

recomprar as ações, poderá retirar apenas um terço dos papéis em circulação ou

iniciar o processo de cancelamento de registro. Para o cancelamento do registro,

as empresas ainda deverão conseguir a adesão de pelo menos 67% de seus

acionistas. Caso o controlador feche a empresa, o minoritário ainda tem garantido

pelo menos um preço da ação igual ao valor econômico da empresa.

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Os minoritários também adquiriram o direito de sair da sociedade caso a

empresa reduza o dividendo obrigatório (direito de recesso), admita a entrada de

um novo acionista ou altere o objeto social. As ações preferenciais também

passaram a ter o direito de participar do dividendo a ser distribuído,

correspondente a pelo menos 25% do lucro líquido.

A Lei ainda modificou a forma de escolha dos membros do conselho fiscal.

Antes o controlador indicava três dos cinco membros do conselho e os

minoritários, os dois membros restantes. Agora os controladores elegem apenas

dois membros, sendo o terceiro um representante do auditor independente27.

Novo Mercado

No Brasil, a preocupação com a melhoria das práticas de governança e

transparência já existia antes da iniciativa da Bovespa de criar os níveis de

governança corporativa. Contudo, essas mudanças eram adotadas com pouca

visibilidade pelas empresas, em face do resultado de esforços individuais. A

adesão aos Níveis Diferenciados de Governança Corporativa da Bovespa permitiu

o maior destaque dos esforços das empresas na melhoria da relação com

investidores e elevando o potencial de valorização dos seus ativos. A adesão

ocorre mediante um contrato entre a empresa e a Bovespa, que também assume a

tarefa de fiscalizar e garantir o cumprimento das normas estabelecidas no

regulamento.

No final do ano de 2000 a Bovespa criou um segmento especial de listagem,

chamado Novo Mercado, com o propósito de atrair companhias abertas dispostas

a fornecer maiores informações – adicionais às exigidas pela legislação – ao

mercado e aos seus acionistas a respeito de seus negócios.

A listagem neste segmento representa a adesão a um conjunto de regras

societárias, consolidadas no Regulamento de Listagem da Bovespa, regras estas

que ampliam os direitos dos acionistas e a adoção de uma política de divulgação e

de transparência de informações, só comparável às dos mercados mais

desenvolvidos do mundo. A listagem no Novo Mercado oferece maior segurança

aos investidores também devido à administração diferenciada, tornando as

companhias listadas conhecidas pelo mercado como aquelas de “boas práticas de

27Para maiores informações sobre a lei das S.A. e níveis diferenciados de governança corporativa, acessar: <www.cvm.gov.br> e <www.bovespa.com.br>.

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governança corporativa”, o que influencia positivamente a valorização e a liquidez

das ações no mercado.

As companhias que ingressam no Novo Mercado28 submetem-se

voluntariamente a regras mais rígidas, obrigando-se, por exemplo a emitir apenas

ações ordinárias, manter no mínimo 25% das ações em circulação do capital da

companhia, detalhar e incluir informações adicionais nas informações trimestrais

e disponibilizar as demonstrações financeiras anuais no idioma inglês e com base

em princípios de contabilidade internacionalmente aceitos – US GAAP29 ou

IAS30. As companhias deste segmento destacam-se das demais especialmente

pela extensão a todos os acionistas do direito de receberem o mesmo valor pago

ao controlador, no caso de troca de controle (tag along).

A exigência quanto à emissão apenas de ações ordinárias, apesar de possível

para aquelas em processo de abertura de capital, não é tão simples para as

empresas já listadas na Bovespa e que possuem até 2/3 do capital em ações

preferenciais. Para atender este segmento e devido à demanda do mercado, a

Bovespa também criou os níveis diferenciados de governança corporativa 1 e 2.

O Nível 1 classifica as empresas que têm por objetivo garantir maior

transparência na divulgação de informações ao mercado e que possuam pelo

menos 25% do capital em ações disponíveis no mercado (free float). A

apresentação das demonstrações de fluxo de caixa e divulgação de um calendário

anual de eventos são outras exigências. O Nível 2 exige das empresas a adesão a

todas as obrigações previstas no regulamento do Novo Mercado, havendo

contudo, a possibilidade de manutenção das ações preferenciais. No nível 2 as

empresas precisam oferecer tag along de 70% para as preferenciais e 100% para

as ações ordinárias e o direito de voto para as preferenciais em questão relevantes

como fusões, aquisições e troca de controle da companhia.

A essência do Nível 2 e do Novo Mercado são portanto rígidos princípios de

governança, enquanto que o Nível 1 representa um comprometimento maior com

transparência e liquidez das ações.

28Para maiores detalhes das regras do Novo Mercado, acessar: <www.cvm.gov.br> e <www.bovespa.com.br>. 29US GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles) contém as normas de contabilidade utilizadas nos Estados Unidos da América. 30IAS representa as normas internacionais de contabilidade promulgadas pelo International Accounting Standards Committee.

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Desde sua criação as empresas vêm mostrando receptividade aos novos

padrões de classificação da Bovespa, com o aumento do número daquelas que

anunciaram sua adesão ou ao menos intenção de fazê-lo. Atualmente31 36

empresas estão listadas no Nível 1, 11 empresas no Nível 2 e 20 no Novo

Mercado, conforme pode ser visualizado na tabela a seguir.

Tabela 1: Empresas listadas nos níveis da Bovespa

Novo Mercado Nível 2LIGHT ALL ARACRUZ KLABIN S/ACCR RODOVIAS GOL ARCELOR BR MANGELS INDLSABESP SUZANO PETROQUIMICA BRADESCO GERDAU METCPFL ENERGIA ELETROPAULO ITAUBANCO PERDIGAO S/ADASA NET BRADESPAR RANDON PARTGRENDENE TAM BRASIL T PAR RIPASANATURA CELESC BRASIL TELEC VIGORPORTO SEGURO ETERNIT BRASKEM SADIA S/AENERGIAS BR MARCOPOLO P.ACUCAR-CBD ALPARGATASLOCALIZA UOL CEMIG SUZANO PAPELLOJAS RENNER VIVAX CEDRO ULTRAPAROHL BRASIL CIA HERING UNIBANCO HLDRENAR TRAN PAULIST UNIBANCOSUBMARINO VALE R DOCE UNIPARNOSSA CAIXA CONFAB V C PCOPASA DURATEX WEGCOSAN FRAS-LECYRELA REALT GERDAUROSSI RESID IOCHP-MAXIONTRACTEBEL ITAUSATotal: 20 empresas Total: 11 empresas Total: 36 empresas

Nível 1

Fonte: Bovespa e CVM

Os esforços das companhias quanto às boas práticas de governança

corporativa já estão refletidos na valorização das ações. As ações de empresas

que aderiram aos níveis diferenciados de Bovespa apresentaram, em geral,

performance melhor do que o índice do Ibovespa desde seu lançamento conforme

pode ser visto na tabela 2, que apresenta alguns resultados de empresas.

31Posição extraída do site da Bovespa em 14/02/2006.

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Tabela 2: Performance de empresas listadas nos índices da Bovespa

Ações/Empresas Índice Bovespa

Primeiro dia de

negócioPreços* No dia

seguinte Preços* Var. %Posição

ações em 5/8/2005

Var. % Ações

Var. % Ibovespa

Natura ON Novo Mercado 25/05/04 34,50 26/05/04 39,89 15,62% 77,90 125,80% 40,61%Gol PN Nível 2 23/06/04 26,32 24/06/04 27,74 5,40% 40,00 51,98% 27,27%ALL Améria Latina PN Nível 2 24/06/04 9,20 25/06/04 10,41 13,15% 16,00 73,91% 28,05%CPFL Energia ON Novo Mercado 28/09/04 15,33 29/09/04 16,81 9,65% 21,51 40,31% 14,15%Grendene ON Novo Mercado 28/10/04 30,05 29/10/04 33,68 12,08% 15,59 -48,12% 15,65%Dasa ON Novo Mercado 18/11/04 20,00 19/11/04 24,00 20,00% 29,65 48,25% 9,83%Porto Seguro ON Novo Mercado 19/11/04 18,01 22/11/04 19,16 6,39% 21,90 21,60% 10,33%Renar Maçãs ON Novo Mercado 25/02/05 1,60 28/02/05 1,62 1,25% 0,87 -45,63% -6,71%ALL América Latina Unit Nível 2 24/03/05 72,50 28/03/05 72,50 0,00% 81,00 11,72% -0,69%Submarino ON Novo Mercado 29/03/05 21,62 30/03/05 21,62 0,00% 23,40 8,23% 2,61%Localiza ON Novo Mercado 20/05/05 11,32 23/05/05 11,32 0,00% 14,80 30,74% 8,14%TAM PN Nível 2 13/06/05 18,00 14/06/05 18,00 0,00% 23,75 31,94% 6,49%Lojas Renner ON Novo Mercado 29/06/05 37,00 01/07/05 38,50 4,05% 46,50 25,68% 5,54%Energias BR ON Novo Mercado 12/07/05 18,00 13/07/05 20,01 11,17% 23,01 27,83% 3,84%

* Preços em reais, ajustados por proventos desde o lançamento das ações. Fonte: Jornal Valor Econômico 09/08/05 página D1.

Com o lançamento do Novo Mercado e os níveis de governança, a Bovespa

trouxe as demandas dos investidores para mais perto das empresas. Para os

investidores a governança proporciona maior precisão no apreçamento das ações,

a melhora do processo de acompanhamento e fiscalização, maior segurança

quanto aos seus direitos societários, canalização de mais poupança para

capitalização das companhias e investimentos mais seguros e diversificados. Hoje,

observa-se no mercado que grande parte dos investidores apenas participa de

operações de oferta pública de companhias registradas nos indicadores de

governança corporativa da Bovespa.

2.5 A Evolução do Mercado de Capitais

Mercado nacional

Nos anos 90 as captações no mercado internacional através de instrumentos

de mercado de capitais (bônus, notes e commercial papers) cresceram

consideravelmente, em virtude da inserção do país na globalização financeira e da

farta liquidez disponível aos países em desenvolvimento até 1997, substituindo o

tradicional crédito bancário. Contudo, a excessiva dependência do mercado

internacional apontava para necessidade do desenvolvimento do mercado de

valores mobiliários nacional para fortalecimento e atendimento das empresas

brasileiras e seus investimentos.

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A estabilização e a abertura da economia ao longo da década iniciaram o

movimento de crescimento do mercado de capitais no Brasil. O Plano Real,

implementado em julho de 1994, junto à rígida política macroeconômica, permitiu

a estabilização dos preços e redução da inflação a níveis mínimos. A abertura

comercial tornou o mercado nacional mais atraente e acessível aos investidores

internacionais, facilitando a entrada de capital estrangeiro e investimento em

bolsas, o que se refletiu na valorização das ações e volumes negociados.

As mudanças decorrentes da abertura externa e integração do Brasil à

economia internacional fizeram o setor público se afastar gradativamente da

posição central de mobilização e alocação de recursos e investimentos na

economia brasileira. Neste contexto, o sistema financeiro privado (intermediários

financeiros e o mercado de capitais) assumiu o papel estratégico para retomada do

crescimento econômico.

Apesar dos favoráveis indicadores ao desenvolvimento da economia

brasileira do início da década, a crise asiática em outubro de 1997 e a moratória

Russa em agosto de 1998 criaram uma expectativa de instabilidade no mercado

financeiro internacional, refletindo-se no aumento do risco dos investimentos em

economias emergentes. A conjuntura de crescente atividade produtora, redução

das taxas de inflação e de tendência de estabilização do déficit comercial foram

afetadas pelas medidas do governo para minimizar os rumores sobre o impacto da

crise na economia nacional e evitar especulações à moeda, retornando, assim, o

mercado de câmbio à normalidade.

Meio às flutuações da economia e desempenho do mercado, o número de

empresas abertas no Brasil também vinha declinando desde a década de oitenta.

Segundo Casagrande Neto32, a explicação para esse fenômeno está no fato de

apenas um pequeno número de corporações possuírem condições de liquidez e

valorização adequadas. Os analistas de mercado enxergam esses movimentos de

fechamento de capital como uma seleção natural porque muitas dessas empresas

abriram o capital pelos incentivos tributários e não por vocação. Com o passar do

tempo, contudo, os níveis exigidos de transparência, informações e de governança

corporativa inviabilizaram a manutenção de companhias abertas sem tal perfil.

32Op. cit, p. 38.

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O ano de 2004 representou um marco, revertendo a situação de redução das

empresas de capital aberto no Brasil de pelo menos três anos anteriores, quando o

mercado foi influenciado, dentre outros fatores, pela crise energética (2001),

instabilidade política e econômica da disputa eleitoral, disparada do dólar (2002),

alta relação dívida/PIB e nível de desemprego, além do alto risco país. Segundo a

CVM foram realizados em 2004 nove ofertas primárias e doze ofertas

secundárias, enquanto que em 2005 foram treze ofertas primárias e quinze

secundárias, conforme pode ser visualizado na tabela 3.

Tabela 3: Emissões primárias e secundárias em 2004 e 2005 Ofertas primárias2004 2005

EmissoraDt Registro

CVM Volume em R$Classificação

Bovespa* EmissoraDt Registro

CVM Volume em R$Classificação

Bovespa*

CIA CONCESSOES RODOVIARIAS 27/4/2004 375.000.004,50 NM RENAR MAÇAS SA 24/1/2005 16.000.000,00 NMALL AMERICA LATINA LOGISTICA SA 24/6/2004 267.375.000,00 N2 SUBMARINO S/A 30/3/2005 135.125.000,00 NMGOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES SA 24/6/2004 540.851.613,25 N2 ULTRAPAR PARTICIPAÇÕES SA 13/4/2005 47.218.027,88 N1BRASKEM S.A. 23/9/2004 1.105.650.000,00 N1 GOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES SA 28/4/2005 193.890.882,32 N2CPFL ENERGIA SA 29/9/2004 783.797.350,14 NM TAM S.A. 14/6/2005 437.453.100,00 N2DIAGNOSTICOS DA AMERICA SA 18/11/2004 126.136.300,00 NM LOJAS RENNER SA 30/6/2005 347.371.059,00 NMPORTO SEGURO SA 19/11/2004 194.646.225,00 NM EDP ENERGIAS DO BRASIL S/A 13/7/2005 1.170.132.696,00 NMBRADESPAR S/A 15/12/2004 1.044.546.272,00 N1 OBRASCON HUARTE LAIN BRASIL S/A 14/7/2005 135.000.000,00 NMSUZANO PETROQUIMICA S.A. 17/12/2004 31.900.000,00 N1 BRAZIL REALTY SA EMPRS E PARTS 21/9/2005 511.500.000,00 NMTOTAL NO ANO: 9 Ofertas 4.469.902.764,89 LA FONTE PARTICIPACOES S/A 27/10/2005 104.999.999,96 -

COSAN SA INDUSTRIA E COMERCIO 17/11/2005 885.767.328,00 NMCESP - CIA ENERGETICA DE SAO PAULO 2/12/2005 57.098.252,55 -UNIVERSO ONLINE SA 15/12/2005 322.972.416,00 N2TOTAL NO ANO: 13 Ofertas 4.364.528.761,71

Ofertas secundárias2004 2005

EmissoraDt Registro

CVM Volume em R$Classificação

Bovespa* EmissoraDt Registro

CVM Volume em R$Classificação

Bovespa*

NATURA COSMÉTICOS S.A. 25/5/2004 768.120.636,50 NM SUBMARINO S/A 30/3/2005 408.753.125,00 NMALL AMERICA LATINA LOGISTICA SA 24/6/2004 320.850.000,00 N2 ULTRAPAR PARTICIPAÇÕES SA 13/4/2005 314.786.852,72 N1

GOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES SA 24/6/2004 469.007.661,75 N2 GOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES SA 28/4/2005 322.373.117,68 N2WEG SA 6/9/2004 319.384.800,00 N1 LOCALIZA RENT A CAR S/A 20/5/2005 284.039.937,50 NMCPFL ENERGIA SA 29/9/2004 156.759.532,02 NM TAM S.A. 14/6/2005 187.479.900,00 N2GRENDENE SA 28/10/2004 616.900.000,00 NM AES TIETÊ SA 15/6/2005 1.059.840.083,54 -CIA SANEAMENTO BASICO EST SAO PAULO 29/10/2004 687.987.013,36 NM LOJAS RENNER SA 30/6/2005 542.890.492,00 NMDIAGNOSTICOS DA AMERICA SA 18/11/2004 311.247.760,00 NM EDP ENERGIAS DO BRASIL S/A 13/7/2005 14.570.028,00 NMPORTO SEGURO SA 19/11/2004 248.311.893,75 NM OBRASCON HUARTE LAIN BRASIL S/A 14/7/2005 296.304.336,00 NMGERDAU SA 8/12/2004 421.490.960,00 N1 BRADESPAR S/A 15/9/2005 505.059.260,00 N1METALÚRGICA GERDAU SA 8/12/2004 215.849.920,00 N1 BRAZIL REALTY SA EMPRS E PARTS 21/9/2005 390.675.000,00 NMSUZANO PETROQUIMICA S.A. 17/12/2004 146.740.000,00 N2 BANCO NOSSA CAIXA S.A. 27/10/2005 953.955.994,00 NMTOTAL NO ANO: 12 Ofertas 4.682.650.177,38 GUARARAPES CONFECCOES S.A. 1/12/2005 93.000.000,00 -

TRACTEBEL ENERGIA S.A. 8/12/2005 1.051.700.000,00 NMUNIVERSO ONLINE SA 15/12/2005 209.162.898,00 N2

* Classificação Bovespa TOTAL NO ANO: 15 Ofertas 6.634.591.024,44N1 - Companhias do Nível 1 de Governança CorporativaN2 - Companhias do Nível 2 de Governança CorporativaNM - Companhias do Novo Mercado Fonte: Bovespa e CVM

Segundo dados da Bovespa, a maior parte das ofertas (49%) em 2004 ficou

com estrangeiros, enquanto os fundos de investimentos detiveram 24%, pessoas

físicas 15,1% e fundos de pensão apenas 4,1%. Vale ressaltar que a participação

de pessoas físicas chegou a representar entre 30% e 50% do volume financeiro em

algumas operações, como na abertura da Natura Cosméticos S.A., demonstrando

que a população tem crescente confiança nesses ativos, alocando parte cada vez

maior da sua poupança em investimentos dessa natureza.

A forte aplicação dos investidores estrangeiros que contribuem para a

valorização acentuada da bolsa indica ainda a busca por maiores retornos em

países em desenvolvimento como o Brasil. Apesar desses recursos em sua maioria

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serem especulativos e de curto prazo, o mercado brasileiro não deve ser afetado

quando esse capital for sacado, diferente do que ocorreu em 1997, porque hoje a

economia brasileira está mais estável e menos suscetível a turbulências externas.

A consolidação do ajuste fiscal, a reforma do sistema tributário e a

superação das barreiras de natureza cultural ainda precisam acontecer para que o

investimento em ações continue a ser popularizado. O empresariado brasileiro aos

poucos está percebendo a importância da governança corporativa e da divulgação

de informações transparentes e confiáveis sobre seus balanços para ganhar a

confiança do mercado e investidores.

Mercado internacional

A análise histórica do mercado de capitais de diferentes países auxilia o

entendimento de como os mercados evoluíram, ajudando na compreensão da atual

situação do mercado nacional de capitais e das direções que pode seguir.

Uma grande parcela do mercado de países como Polônia, Tailândia,

México, Chile e África do Sul e sua evolução estão associadas à estabilidade

macroeconômica, que implica o baixo risco país e viabiliza grandes investimentos

e alongamento de prazos para o surgimento de mercados de títulos privados33.

A falta de investimento no Brasil, resultante da instabilidade

macroeconômica e do risco país, é o primeiro ponto que auxilia a explicação do

fraco e atrasado desenvolvimento do mercado de capital. Iniciativas

governamentais como: reformas estruturais na área tributária e previdenciária,

medidas adotadas pelo Tesouro e pelo Banco Central para aumento da liquidez no

mercado de dívida pública e esforços para atrair investimentos, medidas de

proteção ao acionista minoritário e melhoria da governança corporativa foram

adotadas muito antes nestes países do que no Brasil. Os cinco anos de

implementações no país representam um período talvez insuficiente para observar

resultados satisfatórios ou para julgar se as mudanças foram corretamente

aplicadas.

A Itália e a Alemanha por sua vez são dois países com características de

mercados semelhantes ao brasileiro. Há um número reduzido de empresas com

33Informações obtidas em reportagem do Valor Econômico em 3-jan-05. Autor Daniel Gleizer.

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capital aberto em relação à economia, principalmente na Itália, onde é peculiar a

estrutura familiar de muitas empresas.

Nestes dois países, podem ser destacadas três características principais que

antecederam às aberturas: idade da empresa, tamanho da instituição e estrutura.

As empresas bem sucedidas na abertura de capital possuem, em geral, maior

tempo de existência. Quanto maior a empresa, também é maior a probabilidade de

abertura para a consolidação da imagem institucional. Por não estarem

interessadas em maior acompanhamento do mercado, as menores corporações não

estão tão dispostas quanto as maiores em arcar com custos relacionados ao

préstimo das informações para divulgação. Quanto à estrutura, das companhias

que falharam na abertura, dois terços eram familiares e 61% tinham seu controle

nas mãos de um único dono.

Na Itália, um fator que sugere ser motivador para a abertura é a troca de

controle. O estudo de Pagano, Panetta e Zingales (1998) mostrou que os anos

subseqüentes à abertura na Itália apresentaram intensidade maior que o normal na

troca do controle. Nestes países verificaram-se aumentos nas taxa de

crescimento/investimento das empresas no período anterior ao do anúncio de

abertura, os quais seriam reduzidos logo após sua conclusão, indicando que a

abertura seria utilizada para reequilíbrio de contas (após períodos de forte

crescimento ou de pesados investimentos) e não como forma de financiamento.

A bolsa de valores brasileira parece ser, por sua vez, inspirada pelo mercado

alemão, conforme mostra o trabalho de Boehmer e Ljungqvist (1998). O Deutsche

Börse, administrador da bolsa de Frankfurt, criou o Neuer Markt, que lançou

regras com princípios parecidos com os níveis de governança corporativa da

Bovespa para protegerem as relações com as empresas. Além de obedecerem às

leis alemãs, é formalizado um contrato entre a empresa ofertante e a bolsa,

aumentando a transparência das negociações. Com estas medidas, o aumento da

proteção ao acionista minoritário e a retidão na administração das empresas

conduziram ao aumento de aberturas de capital e à melhoria na qualidade das

informações fornecidas aos acionistas. Todavia, devido a uma série de problemas

e a quedas das bolsas de todo o mundo, o Neuer Markt foi fechado em 2003,

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derivando para outros dois índices administrados pela principal Bolsa alemã com

os mesmos objetivos34.

Já no mercado americano, segundo estudo de Ritter e Welch (2002), a

condição de mercado é o fator mais importante na decisão de abrir o capital via

emissão pública. O segundo fator mais importante seria a idade da empresa, como

no mercado alemão e italiano. Apenas após atingir a maturidade, segundo a

definição de cada firma, ela estaria apta a considerar o IPO.

34PEIXE, Franciane Cristiana Darós. Novo mercado: obstáculos e atrativos para as empresas do nível 1 de governança corporativa, dissertação de mestrado, São Paulo: FEA/USP, 2003, p.15.

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3 Metodologia

Este capítulo apresenta o tipo de pesquisa. Serão descritos o modelo em que

seu planejamento e desenvolvimento serão baseados, o universo e amostra, coleta

e tratamento de dados e suas limitações.

3.1 Tipo de Pesquisa

Para a classificação da pesquisa, toma-se como base os critérios

apresentados por Vergara (2003), que qualifica uma pesquisa segundo critérios

relacionados aos fins e aos meios.

Quanto aos fins, a pesquisa será descritiva e exploratória. Descritiva porque

pretende expor o processo de abertura de capital no Brasil, em especial através de

emissão de ações. Exploratória porque apenas em anos recentes, após um grande

período de insegurança política e econômica, houve uma firme retomada do

processo de abertura de capital de empresas no Brasil.

Quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica, documental e estudo de

caso. Bibliográfica porque a fundamentação teórica da pesquisa ocorrerá a partir

de material disponível ao público em geral como: livros e artigos sobre abertura

de capital, legislação e entidades participantes, dados financeiros de empresas,

assim como ferramentas e técnicas para a determinação e avaliação de empresas.

Documental, porque serão utilizados relatórios de instituições financeiras

privadas, não disponíveis para consultas públicas, e estudo de caso porque será

aplicado ao caso de abertura de capital da Natura Cosméticos S.A., em caráter de

profundidade e detalhamento sobre o tema.

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3.2 Universo e Amostra

O universo da pesquisa envolve, conforme amostra por acessibilidade,

algumas empresas de cosméticos multinacionais. A escolha por empresas

exclusivamente internacionais é explicada pelo fato da Natura ser a única empresa

de cosméticos de capital aberto no Brasil. Para o estudo de caso, apenas os

resultados financeiros da Natura serão projetados, enquanto que, na comparação

com as competidoras, o uso de múltiplo será a ferramenta utilizada.

3.3 Coleta de Dados

A coleta de dados abrangeu o período de janeiro a dezembro de 2004 e

2005, efetuada pelo próprio autor deste trabalho, por meio de pesquisa

bibliográfica em livros, artigos e jornais especializados em finanças com

informações pertinentes à abertura de capital, além da busca na internet, nos sites

dos agentes e instituições participantes deste mercado e do setor de cosméticos.

Com relação aos dados financeiros reais de 2004 e cotações ao longo de 2005,

estes foram atualizados com a finalidade de verificar se o que foi projetado para a

empresa realmente aconteceu.

Toda a pesquisa documental e bibliográfica referente à empresa abordada no

estudo de caso foi obtida por intermédio da publicação do prospecto definitivo de

distribuição pública, no site oficial da companhia <www.natura.net.br> e na

Economática.

O acesso a publicações financeiras disponíveis em instituições como a

Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Bolsa de Valores de São Paulo

(BOVESPA), e o acompanhamento de notícias principalmente de jornais e de

periódicos de finanças possibilitará a compreensão de alguns determinantes para a

retomada de aberturas das empresas brasileiras desde 2004. Além da CVM, a

Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos

(ABIHPEC) e a Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD)

constituíram outras fontes úteis sobre legislação do mercado de capitais e dados

atualizados do mercado de cosméticos.

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A pesquisa documental em relatórios de instituições financeiras privadas

justifica-se à medida que contribuirá para o posicionamento da Natura no mercado

de cosméticos doméstico e mundial. Além disso, a análise dos resultados da

avaliação financeira realizada por cada instituição sobre a Natura (valor da ação

encontrado para a companhia por cada banco) será comparada com o resultado

encontrado no estudo de caso. Os relatórios consultados são os do banco Pactual

de abril/2004, da Itaú Corretora de julho/2004, do relatório do banco de

investimento UBS de julho/2004, Unibanco de agosto/2004 e do banco Credit

Suisse de setembro/2004.

3.4 Tratamento dos Dados Coletados

As informações coletadas serão analisadas e as principais características do

processo de abertura de capital, apresentadas. Os dados financeiros pesquisados

para a Natura serão trabalhados no estudo de caso, havendo posterior comparação

com empresas do segmento de cosméticos.

A avaliação da empresa para o estudo de caso será baseada no método de

fluxo de caixa descontado (FCD), que utilizará projeções futuras como base de

avaliação. A comparação com as principais concorrentes será feita através da

análise de múltiplos, obtidos dos relatórios das instituições financeiras

intermediárias e dos dados disponíveis no site <www.damodaran.com>.

Assim como os investidores calculam os múltiplos de empresas listadas em

bolsa que sejam do mesmo setor (no país ou exterior) e os utilizam como base de

comparação para estimar o preço referencial da ação da empresa que está abrindo

o capital, este trabalho tem a intenção de fazer o mesmo.

3.5 Limitações do Método

Quanto à limitação da abrangência, o trabalho deixa à parte o processo de

abertura de capital por outros tipos de valores mobiliários, diferentes da ação,

como debêntures e notas promissórias. Também não está abarcado o processo de

negociação de valores mobiliários em mercados organizados.

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Há severas limitações à obtenção de dados financeiros de empresas de

cosméticos de capital fechado como, por exemplo, O Boticário, o que

compromete comparações com os competidores nacionais.

Quanto ao tratamento dos dados financeiros, as estimativas e projeções

apresentadas estão sujeitas a riscos, incertezas e suposições, que incluem, entre

outras coisas, a conjuntura política e econômica nacional e internacional, a

alteração nos preços de mercado, as preferências dos consumidores e as

tendências antecipadas na indústria de cosméticos, incluindo novos

desenvolvimentos tecnológicos e a ausência de alterações nas leis e regulamentos

tributário, trabalhista e ambiental.

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4 Estudo de Caso: Natura Cosméticos S.A. 4.1 Panorama da Empresa

Introdução

A Natura é a maior companhia de cosméticos de capital brasileiro,

ostentando um resultado de R$ 1.910 milhões em termos de receita bruta em

2003. A companhia desenvolve, fabrica, distribui e comercializa cosméticos,

fragrâncias e produtos de higiene pessoal, possuindo uma marca que está entre as

mais reconhecidas no mercado de cosméticos no país.

As vendas diretas representam o principal canal de distribuição dos produtos

Natura, composta por uma rede de 355.000 revendedoras35 autônomas no Brasil

em 2003 sem relação empregatícia com a empresa, atingindo mais de 5.000

municípios. A empresa está presente na Argentina, Peru e Chile, alcançando a

marca de aproximadamente 26.000 revendedores no exterior no final de 2003. Na

Bolívia, a empresa vende seus produtos através de um distribuidor independente.

A estratégia definida pela Natura envolve o crescimento do mercado

brasileiro e latino-americano de cosméticos através do canal de vendas diretas.

Para isso, a empresa busca o crescimento, capacitação e a retenção da rede de

consultoras. A renovação contínua da carteira de produtos através de

investimentos em inovação, assim como na eficiência operacional (que resulta no

aumento da escala de produção) são outros pontos que compõem sua estratégia na

construção da imagem, competitividade e crescimento da marca. A missão da

Natura é criar e comercializar produtos e serviços que promovam o bem-

estar/estar-bem.

35Uma característica das revendedoras, também conhecidas como Consultoras Natura, é o fato de serem em sua grande maioria mulheres.

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Histórico

A empresa foi criada em 1969, quando Antonio Luiz da Cunha Seabra,

abriu uma loja e um laboratório em São Paulo. No ano de 1974 foi feita a escolha

pelo modelo de vendas diretas. Em 1989, as quatro empresas que compunham o

sistema Natura, originárias de parcerias com outros empreendedores, foram

incorporadas à Natura Cosméticos. Em 1983, a Natura tornou-se uma das

primeiras fábricas de bens de consumo contínuo a comercializar produtos com

recargas ou refil. No período de 1990 a 1992 a empresa ganhou competitividade

para enfrentar o mercado global com a integração de veteranos de multinacionais

na diretoria.

A expansão na América Latina se iniciou em 1994 através do Chile, Peru e

Argentina. Em 1999, a Natura comprou o fabricante de produtos fitoterápicos

Flora Medicinal para aquisição de tecnologia na produção de produtos à base de

plantas, seguindo sua estratégia de desenvolvimento de produtos baseados na

biodiversidade brasileira. A aquisição também visava o ganho de conhecimento

dos canais de venda de varejo – considerável potencial de distribuição de

cosméticos a médio e longo prazo.

A empresa passou a década de noventa reorientando a carteira de produtos

para linhas com base nos conceitos de biodiversidade. Em 2001, inaugurou o

complexo industrial de Cajamar no estado de São Paulo para pesquisa,

desenvolvimento, treinamento e logística de suas operações. A conclusão da

fábrica permitiu a fabricação de produtos de alta qualidade, proporcionou

flexibilidade e eficiência produtiva, além de baixas necessidades de investimento

para futuras expansões.

O ano de 2005 marca o início das operações no México, apesar de há dois

anos já vender seus produtos nos free shops do país e ter há pouco iniciado as

vendas em free shops de Cancun e Aruba. Seguindo a estratégia de

internacionalização, abre sua primeira loja na Europa, em Paris, com

investimentos previstos de US$ 21 milhões. Para mercados fora da América

Latina, a empresa tem em andamento o projeto chamado Ekos International, com

a estratégia de vender apenas produtos desta linha, explorando a imagem da

biodiversidade brasileira com produtos compostos unicamente de ingredientes

naturais. Em 2006, planeja ingressar nos demais mercados latino-americanos,

como Colômbia, Venezuela, Equador, Costa Rica e Uruguai.

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As vendas no mercado internacional, em especial no mercado latino-

americano, ainda representam uma pequena fatia de 2,5% do faturamento total da

Natura em 2003, indicando um desafio de crescimento no mercado internacional.

Vantagens competitivas

Segundo Copeland et alii36, as empresas devem sempre desenvolver e

explorar suas vantagens competitivas para que consigam render mais do que

apenas seu custo de capital. Seguindo esta perspectiva, é apresentada uma análise

onde são relacionadas as vantagens competitivas identificadas na Natura e que

auxiliaram na projeção dos fluxos financeiros. Também são listadas suas

fraquezas, oportunidades e riscos inerentes ao negócio.

Forças

Sólida geração de fluxo de caixa livre e solidez financeira;

Política agressiva e bem definida de dividendos;

Baixo nível de intensidade de capital para investimento em infra-

estrutura;

Estar listada no Novo Mercado garante altos padrões de governança

corporativa, trazendo mais confiança aos investidores e ao mercado;

Sistema de distribuição bem estruturado e em crescimento. A rede de

venda direta é a segunda maior do Brasil;

Logística eficiente, que permite receber pedidos a qualquer hora do dia

pela internet e atender a 98% deles dentro das 24 horas seguintes do seu

recebimento;

Forte marca, com nome conhecido e admirado no mercado, imagem

associada à responsabilidade social, ao desenvolvimento sustentável e à

qualidade de seus produtos;

Foco na inovação de produtos com altos investimentos em pesquisa e

desenvolvimento;

36COPELAND, T.; KOLLER, T., MURRIN, J. Avaliação de Empresas – Valuation: Calculando e gerenciando o valor das empresas. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Makron Books, 2005, p. 239.

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Fraquezas

Necessidade contínua de investimentos em marketing, pesquisa e

desenvolvimento para atrair e reter os consumidores;

Total dependência dos representantes de vendas diretas;

Dependência do mercado brasileiro, pois 97,5% da sua receita bruta vem

deste mercado;

Os produtos da companhia são mais caros que a média dos equivalentes

nacionais;

A penetração em regiões remotas aumenta os custos de logística;

Oportunidades

Expansão nos mercados brasileiro e internacional;

A variedade demográfica e sócio-econômica brasileira permite a

empresa desenvolver produtos diferenciados para atender a necessidades

especificas desses vários nichos;

Com a abertura de uma loja em Paris, a empresa tem a oportunidade de

exportar a biodiversidade brasileira presente em seus produtos pela

Europa;

Riscos

Alto nível de exposição às flutuações da economia e da política

brasileira, já que o consumo de seus produtos está relacionado ao poder

de compra;

A nova legislação global e local, preocupada com o acesso e utilização

da biodiversidade, é um fator que acarretaria em maiores custos;

Alterações na lei trabalhista quanto ao status legal das consultoras

poderia afetar os resultados operacionais já que atualmente não há

relação de emprego entre as consultoras e a empresa;

A entrada dos competidores nos canais de venda direta afetaria os

resultados da Natura.

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4.2 Estratégia de Negócios 4.2.1 Linhas e Produtos

A empresa oferece ampla variedade de cosméticos, fragrâncias e produtos

de higiene pessoal, sempre se empenhando no lançamento e desenvolvimento de

novos produtos. Segundo a empresa, em média 20% das vendas anuais são de

produtos lançados nos dois últimos anos, estimulando o contínuo investimento

nos programas de pesquisa e desenvolvimento.

A atual carteira de produtos é composta por aproximadamente 510

produtos37 e produzidas mais de 130 milhões de unidades. A empresa está

presente em oito categorias do mercado de cosméticos, predominantemente

fragrâncias e perfumes, cremes e loções e maquilagem e desodorantes. As

principais linhas de produto podem ser visualizadas na figura 1.

Fragrâncias: a empresa oferece quinze fragrâncias de perfumes

femininos e sete masculinas, além de fragrâncias para bebês e crianças;

Cremes e loções: são oferecidas três linhas de creme facial e várias

loções para o corpo;

Maquilagem: comercializam um grande portifólio de produtos de

maquilagem sob as marcas Natura Única e Faces de Natura;

Desodorantes: são três as marcas oferecidas, além de óleos para banho;

Produtos capilares: competem no mercado com o apelo da

biodiversidade sob as marcas Natura Ekos e Plants;

Sabonetes: são oito os tipos sob as marcas Erva Doce e Natura Ekos;

Protetores solares: oferecem produtos para adultos e crianças

destacando-se a marca Fotoequilíbrio;

Produtos para barbear: oferece cremes de barbear e produtos pós-barba,

que são extensões das linhas de fragrâncias masculinas.

37Em termos de unidades em estoque (SKU), em que diferentes cores ou tamanhos de qualquer produto são contados como produtos diferentes.

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Figura 1: Linha de produtos da Natura

Foto Linha de produtos Descrição

Chronos

A linha Chronos oferece opções para tratamento da pele do rosto, desenvolvidas para mulheres com mais de 30 anos. Esta linha inclui uma variedade de produtos de limpeza, tonificação e hidratação da pele além de produtos anti-

sinais, divididos em categorias para mulheres de 30 a 45, 45 a 60 e 60 ou mais.

Natura Ekos

A linha Natura Ekos utiliza recursos biodiversidade. Os produtos Natura Ekos são biodegradáveis e utilizam vidros e embalagens que contêm material reciclado e refis que além da diminuição do impacto ambiental, oferecem economia e aproveitamento de embalagens. Natura Ekos cobre a maior parte dos segmentos de mercado nos quais atuam, incluindo

sabonetes, xampus, condicionadores, hidratantes e perfumes.

Mamãe e Bebê

A linha Mamãe e Bebê de produtos para higiene pessoal foi desenvolvida para afirmar o valor do vínculo existente entre mãe e filho. Os ingredientes, texturas, fragrâncias, cores,

formas e funções desses produtos são desenvolvidos para o bebê e para a mulher grávida.

Fragrâncias e perfumes

Uma variada seleção oferece alternativas para ambos os sexos, todas as idades e estilos, contemplando as diferenças nas preferências dos consumidores. Fragrâncias, perfumes,

desodorantes e emulsões hidratantes perfumadas, com ampla variação de preço, embalagem e modo de usar.

Natura Única

A linha de produtos de maquilagem premium Natura Única contêm ingredientes que tratam e protegem a pele, e usam fórmulas testadas. A linha Natura Única inclui produtos para

o rosto, os olhos e os lábios.

Faces de Natura

Faces de Natura é uma linha completa de cosméticos e produtos de higiene pessoal destinada a um mercado mais

jovem. Oferecem produtos para tratamento de pele, cosméticos e fragrâncias.

Tododia

A linha Tododia oferece uma grande variedade de produtos desenvolvidos para uso diário em diversos segmentos. Esta

linha segue uma tendência mundial no uso cosmético de ingredientes naturais como o leite, o açúcar e o mel.

Fonte: www.natura.net.br

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4.2.2 Cadeia Produtiva

Produção

As operações industriais e logísticas da Natura se concentram no “Espaço

Natura”, o centro integrado de pesquisa, desenvolvimento, produção e logística. A

fábrica que fica no município de Cajamar em São Paulo é a maior da América do

Sul, instalada em uma área de 678 mil metros quadrados (77 mil dos quais de área

construída).

A capacidade de produção anual instalada em 2003 era de 170 milhões de

itens, com planos de expansão para 450 milhões de unidades. Apesar da empresa

ainda não ter apresentado um cronograma, os custos da expansão já foram orçados

em R$ 400 milhões.

Com investimentos de aproximadamente R$ 205 milhões, o centro de

operações da empresa é um dos mais modernos deste tipo na América Latina,

composto por doze edifícios, quatro fábricas (perfumes, cremes, maquiagens e

xampus), um armazém vertical de última geração, laboratórios e centros de

pesquisa, áreas administrativas e operacionais, centro de treinamento, centro de

serviços (com restaurante, banco, berçário e lojas de conveniência), biblioteca,

estação de tratamento de efluentes e clube poliesportivo. A fabricação de alguns

produtos, como sabonetes, produtos contendo aerossol e alguns cosméticos, têm

sido terceirizados, representando em 2003, 5,7% da receita bruta.

Matéria-Prima

A Natura compra matéria-prima de diversos fornecedores, sendo os

domésticos responsáveis por aproximadamente 90% dos custos em 2003. Os dez

principais fornecedores representaram 42,8% do total de custos com matéria-

prima no ano passado. A empresa também possui contratos de longo prazo com os

fornecedores mais importantes e possui alguns custos de matéria-prima atrelados

ao dólar.

Para os produtos elaborados com recursos da biodiversidade brasileira,

particularmente a linha Ekos, a Natura compra os ingredientes necessários de

fornecedores que cultivam esses produtos ou de intermediários que os compram

de comunidades que extraem tais recursos. A empresa não depende de uma única

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empresa ou fornecedor para a produção de qualquer de suas linhas de produto

como pode ser visto na tabela 4.

Tabela 4: Percentual de matéria-prima por fornecedores

Tipos de matéria-prima % de custos com matéria-prima em 2003

Número de Fornecedores

Embalagens Plásticas 24% 29Fragrâncias 17% 8Embalagens de Vidro 12% 9Tampas de aerossol 11% 7Rótulos e Caixas 8% 13Outros 28% 128Total 100% Fonte: Natura

Pesquisa e Desenvolvimento

A subsidiária Natura Inovação é a responsável pela análise mercadológica e

pesquisa de novas tecnologias e matérias-primas, assim como pelo

desenvolvimento de produtos. Existem 11 laboratórios no complexo fabril que

realizam pesquisas microbiológicas, se encarregam da aplicação de tecnologia, do

desenvolvimento de embalagens e de outras áreas.

A Natura investiu, em 2001, R$ 27,2 milhões, em 2002 R$ 28,8 milhões e

em 2003 R$ 35,5 milhões, o que representa, respectivamente, 3,3%, 2,9% e 2,7%

da receita líquida em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e matérias-

primas, novas embalagens e pesquisa de mercado. A empresa anuncia que esses

investimentos de 2,7% da receita líquida deverão ser uma constante nos próximos

anos.

As parcerias através de associações com universidades e centros de pesquisa

particulares também contribuem para alavancar sua capacidade de pesquisa e

desenvolvimento. Enquanto em 2002 e 2003 o número de novos produtos criados

foi de 91 e 117 respectivamente. Em 2004 há expectativas de que esse número

aumente para aproximadamente 180.

Vendas

A Natura fechou 2003 com aproximadamente 355.000 representantes de

venda no Brasil e 26.000 no exterior, enquanto em 2002 esse número no país era

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de 307.000 e de 287.000, em 200138. Para as projeções dos resultados financeiros,

o time de consultoras no Brasil foi estimado para 2004 com o mesmo percentual

de crescimento observado em 2003. Para os demais anos acredita-se que esse

crescimento seja mais lento, pois nas premissas utilizadas espera-se um

aquecimento da economia, o que influencia no mercado formal de trabalho,

reduzindo a atratividade do consultor autônomo. Espera-se, com o aumento da

produtividade projetada, uma redução das despesas com vendas e

consecutivamente das despesas operacionais próprias.

Tabela 5: Projeção dos representantes de vendas no Brasil e produtividade

Consultoras Natura 2002 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Consultoras Brasil 307.000 355.000 410.505 469.351 530.532 592.791 654.650 714.454 770.432 820.781 863.751 897.741 Crescimento consultoras % 15,6% 15,6% 14,3% 13,0% 11,7% 10,4% 9,1% 7,8% 6,5% 5,2% 3,9%

unidades / consultora ano 401 446 460 473 488 502 517 533 549 565 582 Aumento produtividade por consultora % 11,2% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0%Aumento produtividade / Receita Líq 0,03% 0,02% 0,02% 0,02% 0,02% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01%

Atualmente, 97% dos representantes de venda são mulheres e, por não terem

vínculo empregatício com a empresa, não recebem salários. Dessa forma são

caracterizados por vendedores autônomos, treinados e registrados, habilitados a

comprar os produtos para revenda. A rede de consultoras Natura é a segunda

maior rede de venda direta do Brasil e possivelmente a mais produtiva em termos

de valor de vendas por revendedora para as companhias de seu porte. A empresa

foi a segunda no Brasil a adotar o sistema de venda direta em 1969, sendo a Avon

a pioneira em dez anos de antecedência.

Os produtos são comercializados em ciclos de 3 semanas, sendo impressos a

cada ciclo cerca de 800.000 exemplares do catálogo Vitrine Natura, revista com

todos os produtos vendidos e com as ofertas promocionais. Pelo menos um

exemplar é enviado para cada representante, que fazem suas encomendas através

do site da empresa (30% do total de encomendas feitas em 2003) ou através de

uma central de atendimento terceirizado.

Os representantes de venda geralmente têm 21 dias para pagar pelos

produtos e podem fazê-lo em duas prestações iguais, em 21 e 42 dias durante os

ciclos de pico de vendas do Natal e Dia das Mães. O catálogo da Natura contém

38 Dados retirados do prospecto de emissão pública da Natura, p. 30.

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preços de referência para o consumidor que incorporam um aumento de 30%.

Contudo, cada representante é livre para estabelecer seu preço para o consumidor.

A estrutura de venda da empresa consiste em 6 gerências de mercado que

cobrem regiões específicas do país e 27 gerentes de vendas responsáveis pela

supervisão do trabalho das 680 promotoras de venda. Estas por sua vez são a

principal ligação com os revendedores, acompanhando-os, recrutando-os e

treinando-os.

Distribuição

Os produtos são distribuídos por representantes de vendas em todo o

território nacional e redes de pequena escala na Argentina, Peru e Chile. Caso haja

receptividade no mercado europeu com a abertura de sua loja na França, a

empresa considerará a expansão da distribuição na Europa.

O canal exclusivo de vendas diretas associado à força de sua marca geram

boas margens de crescimento das vendas, conquistando o market share dos canais

de distribuição convencionais. Apesar do canal ser diferente, concorre de forma

eqüitativa com os seguintes gigantes do setor de cosmético global que atuam no

Brasil: Avon, L’Oréal e Nívea. Apesar da Johnson & Johnson, Unilever, Colgate-

Palmolive também atuarem no país, o nicho de mercado explorado por estas é um

pouco diferente do mercado alvo da Natura.

A empresa recebeu em 2003, em média 22.000 encomendas por dia, das

quais aproximadamente 98% foram encaminhadas em 24 horas. A logística de

transporte dos produtos para as residências dos representantes de venda envolve a

utilização de vinte e seis diferentes empresas e serviço postal e o tempo de entrega

nas poucas regiões classificadas como de difícil acesso leva até dez dias.

4.3 Visão Geral do Setor de Cosméticos

Em uma análise global, as empresas do setor de cosméticos vêm

apresentando um crescimento significativamente superior à média dos demais

setores. A análise do múltiplo Valor da Firma (VF) por EBITDA de diferentes

setores que pode ser visualizado no gráfico 1 evidencia que o mercado de

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cosméticos está entre aqueles com maiores expectativas de geração de caixa futura

e possibilidade de crescimento 39.

Gráfico 1: Comparação do Valor da Firma / EBITDA para Diferentes Setores

Comparação do Valor da Firma / EBITDA para Diferentes Setores

4,0 5,8 6,2 6,5 9,2 10,80 12,417,0

37,7

Tele

com

unic

ação

Petró

leo

Banc

os

Pape

l

Met

ais

e M

iner

ais

Prop

agan

da

Cos

mét

icos

Educ

ação

Biot

ecno

logi

a

Fonte: Damodaran

Nos últimos cinco anos, a indústria mundial de cosméticos, fragrâncias e

produtos de higiene pessoal tem crescido a uma média anual de 2%, com vendas

em 2002 de aproximadamente US$ 180 bilhões e gastos per capita de US$ 29 40,

ultrapassando o desempenho de outros setores de produtos de consumo. A tabela

6 ilustra o valor das vendas para 2002 segmentado por produto e o percentual de

mercado preenchido por cada um.

Tabela 6: Vendas mundiais de cosméticos por segmento em 2002

SegmentoValor das Vendas em 2002 Porcentagem do Mercado

total em 2002Taxa composta de crescimento anual

(bilhões de US$) (1) (%) (2) (%)Produtos para cuidado do cabelo 37,3 20,7 1,3Produtos para tratamento da pele 33,6 18,7 3,3Maquilagem 25,3 12,1 2,8Fragrâncias 20,4 11,4 0,7Produto para banho 19,1 10,7 -Higiene Bucal 19 10,6 0,3Produtos Masculinos 13,9 7,8 2,7Desodorantes 8 4,5 0,4Proteção Solar 3,5 1,9 3,2Produtos para o Bebê 3,1 1,7 1,3Depiladores 2,3 1,3 7,7

(1) A soma excede as vendas totais do setor em 2002 devido à dupla contagem de alguns itens na categoria de produtos mas culinos em outras categorias.(2) A soma das porcentagens excede 100% devido à dupla contagem de alguns itens na categoria de produtos masculinos e em outras categorias. Fonte: Natura e Euromonitor International

39Dados referentes a 2003 extraídos do site <www.damodaran.com>. 40Segundo relatório publicado pela Euromonitor International em julho de 2003, extraído do prospecto da Natura p. 93.

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As condições econômicas e aumento da renda per capita mundial disponível

são os fatores fundamentais no desempenho do mercado global e por isso não é

surpresa observar que os países mais ricos são aqueles com maior participação na

venda e consumo do mercado global de cosméticos. A tabela 7 apresenta os EUA

e Japão como os dois mercados mais valiosos, estando o Brasil em sétima

colocação41. Enquanto os produtos com maior valor agregado e altas margens de

lucro têm sustentado o crescimento nos mercados desenvolvidos, os países

emergentes da América Latina, África e Oriente Médio têm apresentado um

crescimento caracterizado pela mudança no comportamento dos consumidores. A

crescente demanda por produtos sofisticados nas áreas urbanas, apesar da

fragilidade, em geral, das moedas frente ao dólar, tem levado os produtores a

apostar em uma maior taxa de crescimento futura do consumo per capita nesses

países.

Tabela 7: Vendas mundiais e consumo per capita de cosméticos em 2002

Valor das VendasPorcentagem do Mercado Mundial Consumo Per Capita

(bilhões de US$) (%) (US$)

Estados Unidos 45,2 25,1 162Japão 19,4 10,8 153França 9,8 5,4 165Alemanha 9,5 5,3 117Reino Unido 8,7 4,8 146Itália 6,9 3,8 119Brasil 6,3 3,5 37China 5,5 3,0 4,0Coréia do Sul 4,9 2,7 102México 4,5 2,5 55Espanha 4,5 2,5 113Rússia 4,3 2,4 30Canada 3,6 2,0 117Índia 2,9 1,6 3,0Polônia 2,1 1,1 53Outros 41,6 23,1 n.a.Total 179,7 100 29*

* Consumo per capita mundial médio

País

Fonte: Natura e Euromonitor International

41Idem.

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Enquanto o crescimento mundial de cosméticos gira em torno de 2% ao ano,

a indústria brasileira de cosméticos tem crescido na média 13% nos últimos cinco

anos, passando de um faturamento líquido de R$ 7,5 bilhões em 2000 para R$

13,1 bilhões em 200442. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene

Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), apesar dos problemas político-

sociais e baixa renda per capita, o setor nacional apresentou crescimento médio

deflacionado de 8,2% (de 2000 a 2004) sendo mais significativo que o

crescimento do Produto Interno Bruto de 2,6% e da Indústria Geral 2,4% para

esse período.

Com o crescimento esperado do PIB no Brasil, acredita-se no efeito positivo

no consumo per capita de cosméticos. A idade da população brasileira também

representa um bom indicativo para o crescimento do setor. Segundo o IBGE a

concentração da população está em uma faixa entre 18 e 49 anos, representando

53% da população total e grande parte do consumidor alvo. Além disso, 51%

dessa população total é composta por mulheres, principal mercado alvo.

Outros fatores favoráveis ao crescimento do mercado nacional de

cosméticos são o aumento da expectativa de vida, maior segmentação de produtos

atendendo diferentes nichos de mercado (raças, climas, poder aquisitivo variado,

etc.), a substituição de produtos importados pelos nacionais permitindo o

fortalecendo e competitividade da indústria nacional e fortes estratégias de

marketing e publicidade.

O mercado brasileiro aos poucos também vem ganhando espaço no mercado

internacional. As exportações do setor cresceram 97,5% nos últimos cinco anos,

com expectativa de aumento de mais 20% até o fim de 2005. Em 2004 as vendas

externas de cosméticos brasileiros atingiram US$ 332 milhões, alta de 36% em

relação a 2003. A América do Sul representava em 2001 o destino de 70% das

exportações brasileiras com valores de US$ 140 milhões. Contudo, a conquista de

novos mercados, ampliando de 99 para 132 os países destino, fez com que as

42Fonte: Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). O crescimento do faturamento em dólares foi pequeno, US$ 4,1 bilhões em 2000 para US$ 4,5 bilhões em 2004, refletindo, neste período, a maxi desvalorização vivida no país, sendo parcialmente compensada pela apreciação do Real em 2004.

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exportações para América Latina fossem reduzidas para 56,6% em 2004,

movimentando, contudo, US$ 187,8 milhões43.

Finalmente vale destacar as tendências e estratégias das empresas no

mercado de cosméticos atual. Considerado como um segmento altamente

globalizado, já que as grandes marcas estão presentes em todo o mundo e os

produtos assemelham-se na maioria dos países, as empresas precisam sempre

buscar novas formas de se fortalecer e estarem competitivas. O maciço

investimento em inovação, otimização de carteiras de produtos e fusões de

empresas são as práticas mais comumente encontradas. Um dos maiores exemplos

de fusão foram a incorporação bilionária da Neutrogena pela Johnson & Johnson e

compra da Max Factor pela Procter & Gamble nos EUA.

4.4 Principais Competidores

A forte marca, produtos de qualidade, as estratégias promocionais, o

marketing agressivo, lançamentos sucessivos de novos produtos e seu porte, são

alguns dos fatores que transformaram a Natura na maior empresa de capital

nacional entre os fabricantes de cosméticos. Apesar de vice-líder entre os

fabricantes nacionais de cosméticos, compete de forma eqüitativa com os

concorrentes solidamente estabelecidos no país.

O sistema de vendas diretas utilizado no Brasil principalmente pela Natura e

Avon consiste na manutenção de uma ampla rede de consultores. Os produtos têm

a característica de serem geralmente vendidos a um preço maior que no segmento

de varejo, sendo compensados, contudo, pelos menores volumes.

A maior vantagem competitiva da Natura representa o sistema de vendas

diretas, livrando-se das negociações em torno de questões como preço e política

comercial que os concorrentes de varejo são submetidos. A prática de baixos

estoques com o qual o varejo trabalha, implica em trabalhar apenas com os itens

de maior rotatividade, deixando o restante da linha de produtos fora do mercado, o

que não ocorre quando há utilização dos consultores como representantes de

vendas. Segundo a ABIHPEC, a participação da Natura no mercado de

43Fonte: Abihpec.

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cosméticos, fragrâncias e produtos de higiene pessoal no canal de venda direta foi

de 48% em 2003.

Além da competição com a Avon no mercado de vendas diretas, a Natura

também encontra concorrência nas empresas com sistemas de vendas varejistas e

franqueadas como L´Oréal, Nívea, Johnson & Johnson, Unilever, Colgate-

Palmolive e O Boticário. As empresas deste setor vendem seus produtos através

das cadeias de distribuição de supermercados, lojas de departamento e farmácias,

com exceção do O Boticário, que trabalha com lojas de franquia, sendo

normalmente produtos oriundos de produções em massa, com preços mais

acessíveis e altas quantidades vendidas.

A tabela 8 ilustra a divisão mundial dos canais de distribuição, onde é

possível constatar que em 2002 o canal de vendas mais utilizado na América

Latina era o hipermercado, seguido pelas vendas diretas. A participação de 26,2%

para vendas diretas na América Latina representa o maior do mundo, sendo o

melhor lugar para desenvolvimento desse tipo de negócio. Para 2004 espera-se

que a performance do setor de vendas diretas no Brasil continue crescendo,

impulsionada pelo crescimento do PIB, renda per capita, produtividade dos

revendedores e aumento da diversidade do produtos de maior valor agregado.

Tabela 8: Porcentagem de vendas por canal de distribuição em 2002 (%)

Região FarmáciasHiper-

mercadosRedes de desconto

Lojas de Departamento

Lojas Especializadas

Vendas Diretas

Mercados ao ar livre Outros

Europa Ocidental 27 37,7 2,8 10,3 14,8 4,9 0,3 2,2América do Norte 17 17,1 24,2 16,2 7,9 8,1 0,4 9Ásia/Pacífico 15,5 30,7 2 18,8 17,4 12,2 1,7 1,6América Latina 12,3 43,1 0,1 4 11,6 26,2 0,9 1,8África/Oriente Médio 19 41,4 4 15,6 13,2 2,7 2,1 1,9Australásia 12,4 53,5 7,9 12,6 2,1 5,7 0 5,8Europa Oriental 11,4 20,2 1 28,7 16,7 9,5 11 1,5 Fonte: Natura e Euromonitor Internacional

A tabela 9 a seguir apresenta a Receita total das principais competidoras da

Natura no mercado nacional (R$ MM) e a distribuição do market share (%) para o

mercado de cosméticos e produtos de toalete em 2003. A receita com produtos

para homens está considerada em mais de um segmento, implicando em um

resultado de receita maior do que o realizado pelas empresas.

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Tabela 9: Segmento de mercado (R$ MM) e market share por companhia (%)

Segmentos 2003 Cuidados para bebê Banho Desodorantes

Produtos para

cabeloCosméticos

Produtos para

homem

Higiente Oral Fragrâncias Cuidados

da peleProdutos solares

produtos depilatórios Total

Unilever 37 925 542 1224 248 366 17 124 3.483 Participação de Mercado 7% 45% 32% 21% 10% 17% 0% 5% 15%Avon 7 17 163 86 528 75 740 426,4 28 2.070 Participação de Mercado 1% 1% 10% 1% 30% 3% 19% 19% 5% 9%Nivea 19 131 7 50 23 177 69 476 Participação de Mercado 4% 8% 0% 2% 1% 8% 12% 2%Natura 27,4 47,5 128,4 97,5 353 85 7 1290 380,4 47,4 2.464 Participação de Mercado 5% 2% 8% 2% 20% 3% 0% 33% 17% 8% 11%L´Oreal 40 11 908 157 27 93 28 1.264 Participação de Mercado 7% 1% 15% 9% 1% 4% 5% 5%J&J 111 17 33 80 172 32 168 613 Participação de Mercado 21% 1% 2% 1% 8% 1% 30% 3%Colgate 78 281,4 23 332,4 4,9 1036,4 1.756 Participação de Mercado 14% 14% 1% 6% 0% 49% 7%Boticário 14 51 137 22 149 17 849 137 34 1.410 Participação de Mercado 3% 2% 8% 0% 8% 1% 22% 6% 6% 6%Gilette 10 1344 131 18 101 1.604 Participação de Mercado 1% 54% 6% 0% 73% 7%Outros 207 736 530 3111 584 656 394 959 917 187 38 8.319 Participação de Mercado 38% 35% 31% 53% 33% 26% 19% 24% 40% 33% 27% 35%Total 540 2.075 1.708 5.861 1.778 2.480 2.106 3.923 2.287 561 139 23.459

Fonte: Pactual e Euromonitor International

Avon

A Avon é líder mundial em vendas diretas de cosméticos, com 3,9 milhões

de revendedores independentes espalhados em mais de cem países. Os

revendedores Avon vendem os produtos nos Estados Unidos desde 1886. A

empresa está presente no Brasil há 44 anos, possui uma rede de aproximadamente

800.000 representantes de vendas e possui no país sua segunda maior unidade

mundial.

Atualmente é líder do setor nacional de vendas diretas de cosméticos e a

maior competidora global da Natura. Aproximadamente 90% das vendas diretas

do país são oriundas destas duas companhias.

O posicionamento de preço da Avon é diferente do praticado pela Natura.

Enquanto sua estratégia envolve ganhar participação de mercado com a venda de

produtos mais baratos (destinado à classe C e D), a Natura foca na venda de

produtos que possuam alto valor de percepção, permitindo-lhe estipular preços

mais altos (classe A e B).

Sabe-se que as duas empresas possuem planos de conquistar novos

segmentos de mercado. A Natura pretende aumentar a exposição para a classe C

enquanto a Avon pretende alcançar a classe B e A. Apesar de abrir oportunidade

para crescimento adicional de ambas, há riscos inerentes nesta decisão pois, as

empresas passariam a competir em preço, produtos e clientes, e caso venham

realmente a implementar essa estratégia, sinalizariam ao mercado que enxergam

um crescimento limitado no atual nicho de atuação.

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A Avon, assim como a Natura, também está focada no desenvolvimento de

novos produtos com a diferença que grande parte das pesquisas são realizadas no

exterior. Outra diferença entre as competidoras está no tipo de produto vendido.

Apesar de vender os mesmos produtos que a Natura, como ilustrado na tabela 9, a

Avon apresenta nos catálogos de venda uma vasta diversidade de produtos

terceirizados como CDs, lingerie, sapatos, utensílios domésticos, chás, entre

outros, que também são comercializados por suas consultoras.

Nívea

Em 2000, a Nívea Brasil, parte do grupo alemão Beiersdorf, anunciou

investimentos de R$24 milhões para o lançamento da sua linha de maquiagem

Nívea Beauté, já vendida na época na Europa. Em 2003 concluiu a construção de

sua primeira fabrica no Brasil, com investimentos de R$55 milhões e capacidade

de produção de 10.000 toneladas ao ano.

A empresa é uma das maiores companhias de cosméticos e indústria de

higiene pessoal, que utiliza o setor de varejo como canal de distribuição de seus

produtos. Os preços praticados são próximos dos competidores no segmento de

varejo e da Avon.

Como base para inovação de produtos, a empresa também investe em

pesquisa e desenvolvimento. A Nívea atualmente possui uma linha de produtos

mais extensa do que a apresentada no tabela 9 para 2003, entrando também no

segmento de banho. Assim como a Natura, a empresa apresenta uma boa parcela

das vendas oriundas de novos produtos, apresentando similaridade com as

estratégias da Natura.

L´Oréal

A empresa francesa possui extenso portifólio permitindo-na operar em

diferentes nichos de mercado. Possui marcas mais acessíveis ou de massa como

Garnier e Maybelline assim como marcas de alto valor como: Biotherm, Helena

Rubinstein, e Lancôme Paris, que juntamente com Chanel, Estée Lauder e

L´Occitane não representam ameaça à Natura por destinarem-se a outro público.

A estratégia é diferente dos outros competidores globais como Avon e

Nívea, que possuem fortes nomes no mercado. Fiel à segmentação de produtos

que opera, a empresa é uma das mais eficientes na segmentação e diferenciação

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dos produtos de acordo com as características do mercado ou nicho que pretende

operar. Devido ao seu potencial, mais do que sua atual presença no Brasil, pode

ser considerada um perigoso competidor, tendo forças para alterar o atual cenário

de cosméticos, principalmente no segmento de fragrâncias, maquiagem e

tratamento de pele, que são os mais importantes para Natura. Um dos indicativos

de que a empresa acredita no potencial do mercado brasileiro é a presença de duas

fábricas – uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo.

O Boticário

Para não deixar de mencionar uma competidora nacional, O Boticário foi

escolhido por ser o competidor mais próximo da Natura. Contudo opera com o

sistema de franquia, no qual representa um dos líderes de mercado na indústria de

perfumes. A empresa surgiu no final dos anos 70 em Curitiba, no estado do

Paraná. A empresa como marca tornou-se forte quando as grandes cidades

começaram a se interessar pelo negócio, resultando no sistema de franquias.

Atualmente sua rede é composta por 2.200 lojas no Brasil e 520 lojas e

pontos de venda em outros países (Peru, Paraguai, México, Portugal e Japão). Em

2004, a empresa passou a investir na triplicação de sua produção na fábrica com

investimentos de R$ 35 milhões.

Os preços praticados pela empresa são similares aos da Natura, assim como

os produtos, com estratégias de vendas com o conceito de produtos ligados à

natureza, ecologicamente corretos. A empresa já sinalizou que poderia operar com

um sistema híbrido; varejo e vendas diretas, apesar de não ser fácil nem barato

replicar um sistema de distribuição maduro como o da Natura.

A Unilever, Johnson & Johnson e Colgate-Palmolive possuem um portifólio

de produtos de cosméticos e artigos de toalete muito mais amplo do que as outras

competidoras mencionadas. O volume de faturamento, perfil de clientes e

estratégias de mercado são diferentes do nicho explorado pela Natura e portando

não serão detalhadas.

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4.5 Motivação para abrir o Capital

A Natura optou pela abertura de capital através da oferta secundária de

ações porque os acionistas controladores acreditavam que tal movimento

permitiria a criação de liquidez para os seus investimentos, além de consolidar a

posição da companhia no mercado interno e também facilitar a expansão

internacional a longo prazo. Desta forma, a abertura de capital foi motivada pela

busca da execução da estratégia, crenças e valores da companhia, além da busca

por liquidez para os ativos, que teve um peso muito maior para a decisão do que a

necessidade de captação.

A negociação das ações em bolsa, o que não pode-se deixar de mencionar,

também era vista pelos controladores como uma oportunidade de exposição do

negócio aos investidores internacionais, uma vez que depois da oferta pública

inicial, a empresa tende a melhorar seu grau de risco de crédito. Dessa forma, o

acesso ao mercado de capitais para futuras e possíveis captações a melhores taxas

de financiamento, também foram uma motivação, já que a abertura de capital

aumenta a transparência pela divulgação de relatórios financeiros trimestrais.

Além destes fatores, a empresa esperava a valorização e liquidez das ações

uma vez que serão negociadas em bolsa e existe um compromisso com a

governança corporativa, assegurado pela listagem nos níveis de governança da

Bovespa.

Desde 1999 a Natura já adotava práticas de governança corporativa,

valorizando a relação com seus acionistas e colaboradores. Enquanto companhia

fechada, já produzia um relatório anual que obedecia aos parâmetros da

Associação Brasileira das Companhias Abertas, ABRASCA, ainda que não fosse

obrigada a fazê-lo. Em 2003, seu Relatório Anual recebeu diversas premiações,

sendo considerado o melhor relatório anual de companhia fechada pela

ABRASCA, ganhou o primeiro lugar em prêmio concedido pela Associação

Brasileira de Comunicação Empresarial, ABERJE, além de ter recebido o prêmio

Balanço Social, na categoria regional São Paulo, da Associação dos Analistas e

Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais, APIMEC, ABERJE,

Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social, FIDES, e Instituto

Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, IBASE.

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A empresa também foi a primeira companhia brasileira a adotar, na íntegra,

os métodos de divulgação recomendados pelo Global Reporting Initiative (GRI),

uma organização criada por diversas instituições multilaterais para o

desenvolvimento de um padrão comum global para a divulgação voluntária dos

impactos econômico, social e ambiental das organizações.

Observados os níveis de informações disponibilizadas pela empresa

enquanto companhia fechada, pode-se dizer que o processo de abertura de capital

da Natura foi de certa forma um movimento natural, já que há anos se preocupava

e elaborava relatórios em conformidade aos exigidos ou valorizados pelo

mercado. Dessa forma, não foi surpresa que tenha, com a abertura, aderido ao

Novo Mercado da Bovespa, compondo o seleto grupo de empresas com

governança corporativa extremamente avançada.

4.6 Termos e Condições de Oferta

Nos anos de 2000, 2001 e 2002, o capital social da Natura Cosméticos era

de R$56.387 mil. Em 2004 foram realizados três aumentos de capital: o primeiro

com a capitalização dos créditos dos acionistas, obtidos com o resgate das

debêntures e com sua remuneração, aumentando para R$194.955 mil.

O segundo por conta da reorganização societária na qual a Natura

Cosméticos incorporava a Natura Empreendimentos e a Natura Participações,

passando para R$196.370 mil. Essas modificações simplificaram sua estrutura

organizacional, colocando todas as subsidiárias sob apenas uma companhia. A

figura 2 representa a estrutura societária apenas das empresas operacionais.

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Figura 2: Estrutura societária da Natura

Fonte: www.natura.net.br

O terceiro e último aumento de capital até a abertura, ocorreu por conta da

conversão das debêntures conversíveis da BNDESPAR, realizando o aumento de

capital para R$ 230.762 mil.

O capital social da Natura no momento da abertura era, portanto,

R$230.761.985,57 (duzentos e trinta milhões, setecentos e sessenta e um mil,

novecentos e oitenta e cinco reais e cinqüenta e sete centavos) representado por

85.438.611 (oitenta e cinco milhões, quatrocentas e trinta e oito mil e seiscentos e

onze) ações ordinárias.

As negociações das ações da Natura na Bovespa começaram em 25 de maio

de 2004. Inicialmente foram ofertadas 18.582.856 (dezoito milhões, quinhentas e

oitenta e duas mil, oitocentas e cinqüenta e seis) ações ordinárias, em mercado de

balcão não organizado com esforços de venda das ações também no exterior.

O lote suplementar de ações ordinárias destinadas a atender o eventual

excesso de demanda no decorrer da distribuição pública, equivalente a 13,25% das

ações objeto da emissão também foi integralmente distribuído. Ao todo foram

emitidas 21.044.401 (vinte e um milhões, quarenta e quatro mil, quatrocentas e

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uma) ações, no valor total de R$768.120.636,50 (setecentos e sessenta e oito

milhões, cento e vinte mil, seiscentos e trinta e seis reais e cinqüenta centavos).

A distribuição do capital social da Companhia entre seus acionistas, antes e

após a abertura de mercado, pode ser visualizada na tabela 10.

Tabela 10: Capital social da Natura antes e após a abertura de mercado

Ações (1) (%) Ações (%)

Lisis Participações S.A. (3) 24.175.984 28,30% 24.175.984 28,30%Utopia Participações S.A. (4) 23.070.076 27,00% 23.070.076 27,00%Passos Participações S.A. (5) 5.690.291 6,66% 5.690.291 6,66%ANP Participações S.A. (¨) 5.690.445 6,66% 5.690.445 6,66%RM Futura Participações S.A. (7) 4.011.086 4,69% 4.011.086 4,69%Antonio Luiz da Cunha Seabra (*) 7.281.431 8,52% 2 - Guilherme Peirão Leal (*) 6.950.978 8,14% 1 - Pedro Luiz Barreiros Passos (*) 1.715.489 2,01% 1 - Anizio Pinotti (*) 1.715.335 2,01% - - Ronuel Macedo de Mattos (*) 1.208.622 1,41% - - BNDESPAR (**) 2.172.550 2,54% - - Outros Conselheiros e Diretores 880.100 1,03% 880.100 1,03%Outros Acionistas 188.375 0,22% 21.232.776 24,85%Ações em tesouraria 687.849 0,81% 687.849 0,81%

Total 85.438.611 100% 85.438.611 100%

(2) Considerando o exercício integral da Opção de Ações Adicionais.(3) Empresa controlada por Antonio Luiz da Cunha Seabra.(4) Empresa controlada por Guilherme Peirão Leal.(5) Empresa controlada por Pedro Luiz Barreiros Passos.(6) Empresa controlada por Anízio Pinotti.(7) Empresa contrlada por Ronuel Macedo de Mattos.(*) Acionistas Vendedores(**) A BNDESPAR venderá Ações nesta Oferta.

Em 24 maio de 2004 Após a Oferta (2)

(1) Os números de opções de compra ou subscrição de ações não maduras dos Planos de Opção de Ações de 2002, 2003 e 2004 é de 607.608, 763.878 e 380.292 respectivamente.

Acionistas

Fonte: Natura

As ações foram colocadas no mercado em regime de garantia firme de

aquisição através do Banco UBS S.A., instituição líder da operação, auxiliado

pelas instituições intermediárias Banco Pactual S.A. e Banco Itaú BBA S.A. As

instituições subcontratadas para participação da distribuição pública foram o

Banco Merrill Lynch de Investimentos S.A., BB Banco de Investimento S.A. e

Unibanco – União de bancos Brasileiros S.A., que auxiliaram na colocação das

ações no mercado.

Um dado interessante sobre a abertura envolve o percentual de 20% das

ações – não incluídas as ações adicionais – que foram destinadas à investidores

não institucionais (investidores pessoas físicas e jurídicas, residentes e

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domiciliadas no Brasil, clubes de investimento registrados na BOVESPA). A

empresa preocupou-se com a pulverização das ações para esse tipo de investidor,

que acabou ficando com 13,3% da oferta, enquanto os investidores estrangeiros

tiveram participação de 67,2%, a maior participação. Os dados finais de colocação

podem ser visualizados na tabela 11.

Tabela 11: Colocação das ações por tipo de investidor

Tipo de Investidor Número de Investidores

Quantidade de Ações Ordinárias de Emissão da

Companhia Pessoas Físicas 4.376 2.802.821

Clubes de Investimento 69 161.622

Fundos de Investimento 137 1.340.194

Entidades de Previdência Privada 66 409.062

Companhias Seguradoras 1 33.840

Investidores Estrangeiros Qualificados 400 14.148.340

Instituições Intermediárias 1 19.214

Instituições Subcontratada - -

Participantes Especiais - -

Instituições Financeiras Ligadas à Companhia e/ou às Instituições Intermediárias e/ou Instituições Subcontratadas e/ou Participntes Especiais

- -

Demais Instituições Financeiras 3 1.401.445

Demais Pessoas Jurídicas Ligadas à Companhia e/ou às Instituições Intermediárias e/ou Instituições Subcontratadas e/ou Participantes Especiais

1 547

Demais Pessoas Jurídicas 88 459.474

Sócios, Administradores, Empregados, propostos e demais pessoas ligadas à Companhia e/ou às Instituições Intermediárias e/ou Instituições Subcontratadas e/ou Participantes Especiais

318 267.842

Outros - - Total 5.460 21.044.401 Fonte: Natura

O Preço de Distribuição das Ações foi fixado com base na apuração do

resultado do Procedimento de bookbuilding realizado pelas Instituições

Intermediárias a partir da faixa de preço por ação indicada no Prospecto

Preliminar, a qual foi estabelecida tendo em vista a avaliação da Companhia

elaborada pelas Instituições Intermediárias com base no método de fluxo de caixa

descontado e na comparação por múltiplos, a partir de informações obtidas junto a

Companhia; e os relatórios independentes produzidos pelas equipes de mercado

de capitais das Instituições Intermediárias.

Finalmente, o preço de distribuição foi de R$36,50 por ação ordinária, dos

quais R$1,14 por ação foi destinado à comissão. Sendo uma operação por meio de

distribuição secundária, a empresa não recebeu qualquer recurso em decorrência

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da realização da oferta, sendo o valor líquido resultante da venda das ações

ordinárias repassado integralmente aos acionistas vendedores.

4.7 Premissas da Avaliação Financeira

Esta seção será destinada ao detalhamento das premissas utilizadas para a

elaboração das projeções financeiras da Natura. Como a avaliação da companhia

será realizada com base na metodologia de Fluxo de Caixa Descontado, serão

projetados os dados do DRE para composição do fluxo de caixa da firma e

acionista e projeção do balanço patrimonial. Com estes dados, será possível

apreçar a companhia e comparar o valor da ação encontrado com os resultados

estimados das instituições financeiras, além de comparar com o efetivo ocorrido

no período.

Receita Bruta

As projeções de crescimento da receita bruta da Natura são baseadas em

duas principais premissas: a expectativa de um alto crescimento do mercado de

cosméticos mundial e especialmente brasileiro e a expectativa de que o

crescimento da Natura supere o crescimento do mercado brasileiro, conforme

visto na seção “Visão Geral do Setor de Cosméticos”. O crescimento projetado da

receita bruta para 2004 será de 36,5%, acompanhando o histórico de crescimento

de 21% em 2002 e 35% em 2003. Contudo, ao longo dos anos não acredita-se na

manutenção destes altos valores de crescimento, havendo uma gradual redução até

chegar a 10% em 2013 conforme tabela 12.

Em 2003 as vendas internacionais da Natura correspondiam às operações na

Argentina, Chile e Peru, representando apenas 2,5% da receita bruta. Será

projetado um aumento da participação externa nos resultados, chegando a 7,1%

em 2013 devido aos planos de expansão das operações para outros países da

América Latina e a entrada da marca no mercado Europeu.

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Tabela 12: Projeção da Receita Bruta Projeção de Crescimento da Receita por Mercado

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013EReceita Bruta 2.607.742 3.191.219 3.903.090 4.699.097 5.288.840 5.953.007 6.638.716 7.369.158 8.141.953 8.953.798 % Variação 36,5% 22,4% 22,3% 20,4% 12,6% 12,6% 11,5% 11,0% 10,5% 10,0%Rec Bruta Merc Interno 2.535.323 3.087.550 3.757.945 4.502.215 5.042.065 5.646.594 6.264.720 6.917.812 7.602.881 8.316.110 Rec Bruta Merc Externo 72.419 103.669 145.145 196.883 246.774 306.412 373.996 451.346 539.072 637.688

Crescimento Receita Bruta % 36,5% 22,4% 22,3% 20,4% 12,6% 12,6% 11,5% 11,0% 10,5% 10,0%Receita MI % 97,2% 96,8% 96,3% 95,8% 95,3% 94,9% 94,4% 93,9% 93,4% 92,9%Receita ME % 2,8% 3,2% 3,7% 4,2% 4,7% 5,1% 5,6% 6,1% 6,6% 7,1%

O volume de vendas da Natura foi projetado a partir de 2005 em função do

PIB uma vez que há correlação das vendas do setor de cosméticos com o poder de

compra da população. Para 2004 os itens vendidos foram estimados em função

dos resultados do primeiro trimestre de 2004 e 2003. No primeiro trimestre de

2003 a Natura vendeu no mercado interno (MI) 29.000 unidades, enquanto no

mesmo período de 2004 as vendas no MI foram de 37.400. Dessa forma o

crescimento anual para 2004 foi projetado em 29%.

O crescimento de 29% em 2004 observado na tabela 13 corresponde a 7,9

vezes o crescimento projetado do PIB. Segundo dados da ABIHPEC de 2003, o

crescimento anual médio deflacionado do setor corresponde a 8,2 vezes o

crescimento real do PIB. Dessa forma, a relação encontrada de 7,9 não está muito

longe da realidade. As projeções de 2005 foram mais conservadoras, adotando

metade do crescimento o ano anterior. Para os anos seguintes acredita-se no

contínuo espaço para crescimento do setor de cosméticos, contudo, convergindo

em 2013 para a relação de uma vez o crescimento do PIB.

Espera-se que a participação do mercado externo (ME) nas vendas da

Natura aumentem de 1,9% em 2004 para 4,6% em 2013 dados os grandes

investimentos previstos em operações fora do país.

Tabela 13: Projeção do Volume de Vendas Quantidade de ítens vendidos ('000)

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Total Itens vendidos 186.742 217.667 254.300 292.445 314.378 337.957 359.924 381.519 402.503 422.628 % Variação 29,0% 16,6% 16,8% 15,0% 7,5% 7,5% 6,5% 6,0% 5,5% 5,0%

Vendas MI % 98% 98% 98% 97% 97% 97% 96% 96% 96% 95%Vendas ME % 1,9% 2,2% 2,5% 2,8% 3,1% 3,4% 3,7% 4,0% 4,3% 4,6%

Crescimento Vendas em função do PIB % 29,0% 16,6% 16,8% 15,0% 7,5% 7,5% 6,5% 6,0% 5,5% 5,0%x PIB 7,9 4,0 3,7 3,0 1,5 1,5 1,3 1,2 1,1 1,0

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Vale destacar que o aumento na quantidade de itens vendidos também está

em relacionado ao crescimento do número de consultoras e sua produtividade

conforme visto na tabela 5. Os esforços de marketing e o lançamento de novos

produtos (em média, 20% das vendas anuais são de produtos lançados nos dois

últimos anos), assim como o aumento de eficiência na linha de produção, também

colaboram para o crescimento anual das vendas.

A Natura normalmente aumenta o preço de seus produtos uma vez ao ano.

Como o histórico mostra que na média esse reajuste está alinhado com a inflação

acumulada dos últimos 12 meses, os preços projetados foram corrigidos pelo

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e pela inflação americana para o

percentual correspondente a receita projetada para o mercado externo. Não será

considerada nenhuma mudança no mix de venda da empresa.

Tabela 14: Referência de preço médio da Natura

Aumento de Preços 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Preço Merc Interno (R$) 13,8 14,5 15,2 15,8 16,6 17,3 18,1 18,9 19,7 20,6Preço Merc Externo (R$) 20,4 21,6 22,8 24,0 25,3 26,7 28,1 29,6 31,1 32,8

Para estimativa da receita líquida, as mudanças recentes nos cálculos do

PIS/Cofins (eliminando o efeito cascata de sua cobrança) não devem afetar a

Natura, já que o setor de Cosméticos e Produtos de Toaletes (CPT) foi

classificado como exceção, por conta da natureza monofásica da arrecadação

desses impostos no setor. Dessa forma, não espera-se uma mudança na taxa média

de dedução das receitas brutas de 2003, sendo mantido o valor de 30,5% na

projeção.44

Custo dos Produtos Vendidos

Os principais componentes do custo de produtos vendidos (CPV) são a

matéria-prima 80% e os remanescentes 20% são relacionados a mão-de-obra e

outros custos fixos. A matéria-prima é utilizada para produtos de embalagens, em

especial plásticos, materiais químicos e fragrâncias. Como a matéria prima é o

principal componente da estrutura de custos da empresa, a projeção foi reajustada

em 70% pela inflação nacional e 30% pela variação cambial, visto que parte da

44Informações obtidas no prospecto de emissão pública da Natura.

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matéria prima é vinculada às cotações do dólar. Os custos de mão-de-obra foram

reajustados pela inflação nacional.

A projeção mantém a tendência de redução da razão CPV/Receita Líquida,

que de 43% em 2001, reduziu para 35% em 2002, 34% em 2003, correspondendo

a 34% em 2004 e terminando 2013 em 32%.

Tabela 15: Custo dos Produtos Vendidos Custo dos Produtos Vendidos (CPV)

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

CPV 612.317 745.083 905.620 1.083.269 1.211.350 1.354.681 1.501.000 1.655.434 1.817.281 1.985.650 % Variação 33,6% 21,7% 21,5% 19,6% 11,8% 11,8% 10,8% 10,3% 9,8% 9,3%CPV / Rec Líq % 33,8% 33,6% 33,4% 33,2% 33,0% 32,7% 32,5% 32,3% 32,1% 31,9%

Custo unitário 3,28 3,42 3,56 3,70 3,85 4,01 4,17 4,34 4,51 4,70 mão de obra 0,67 0,70 0,74 0,77 0,80 0,84 0,88 0,92 0,96 1,00 matéria prima 2,61 2,72 2,83 2,94 3,05 3,17 3,29 3,42 3,56 3,70 US$ atrelado 0,73 0,75 0,77 0,79 0,80 0,82 0,84 0,86 0,88 0,90 R$ atrelado 1,88 1,97 2,06 2,15 2,25 2,35 2,45 2,56 2,68 2,80

Despesas Operacionais

As despesas operacionais são divididas em despesa com vendas, despesas

administrativas, participação no lucro e remuneração dos administradores, sendo

as duas primeiras correspondentes a 96% das despesas totais em 2003. Vale

ressaltar que as despesas operacionais são maiores que os custos dos produtos

vendidos, refletindo o fato de a Natura ser um negócio com intensidade em seu

pessoal e não em seu capital.

Iniciando a análise pela Participação no Lucro e Remuneração dos

Administradores, não há motivos para esperar qualquer alteração sobre o total das

despesas operacionais. Portanto a razão de cada uma com relação a receita líquida

correspondente a 2003 será mantida constante na projeção em 1,5% e 0,3%

respectivamente.

Tabela 16: Despesas Operacionais Despesa Operacional Própria

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013EReceita Liquida Operac 1.812.381 2.217.897 2.712.647 3.265.873 3.675.744 4.137.340 4.613.907 5.121.564 5.658.658 6.222.890 Rec Liq Oper Crescimento % 36,4% 22,4% 22,3% 20,4% 12,6% 12,6% 11,5% 11,0% 10,5% 10,0%

Despesas Operac Proprias 798.900 973.422 1.185.480 1.421.211 1.592.823 1.785.298 1.982.564 2.191.445 2.420.695 2.661.483 Desp Op Proprias/ Rec Liq % 44,1% 43,9% 43,7% 43,5% 43,3% 43,2% 43,0% 42,8% 42,8% 42,8%

Despesas com Vendas 540.132 660.525 807.397 971.572 1.093.003 1.229.744 1.370.861 1.521.145 1.680.101 1.847.044Despesas Administrativ 227.594 274.747 331.424 393.464 436.595 484.389 532.340 582.206 643.261 707.401Particip colabor no lucro 26.280 32.160 39.333 47.355 53.298 59.991 66.902 74.263 82.051 90.232Remuneração dos adm 4.895 5.990 7.326 8.820 9.927 11.174 12.461 13.832 15.282 16.806

Desp Vendas / Rec Liq % 29,8% 29,8% 29,8% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7%Desp Adm / Rec Liq % 12,6% 12,4% 12,2% 12,0% 11,9% 11,7% 11,5% 11,4% 11,4% 11,4%Participação lucro/ Rec Liq % 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5%Remuneração / Rec Liq % 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3%

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As Despesas com Vendas por sua vez são compostas em 40% por força de

vendas, 37% por recebimento, separação e transporte e 23% de outros. A razão

força de vendas sobre receita líquida projetada apresenta uma suave redução de

12,1% em 2003 para 11,99% em 2013 por considerar um aumento na

produtividade das consultoras. Estima-se que a quantidade vendida por consultora

aumentará em média 3% ao ano, representando um aumento de produtividade

com relação à receita líquida de 0,02% ao ano até 2006 e 0,01% ao ano até 2013.

As despesas com recebimento, separação e transporte também apresentam uma

leve redução sobre a receita líquida como conseqüência dos investimentos em

eficiência produtiva, reduzindo de 11,2% em 2003 para 10,7% em 2013. A razão

outros custos sobre receita líquida foram mantidos constantes em 7%.

O resultado da projeção, portanto, representa uma pequena redução das

despesas de vendas de 30,3% sobre a receita líquida em 2003 para 29,7% em

2013.

Tabela 17: Despesas Operacionais com vendas

Despesas com Vendas 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013EDespesas com Vendas 403.018 540.132 660.525 807.397 971.572 1.093.003 1.229.744 1.370.861 1.521.145 1.680.101 1.847.044 Desp Vendas / Rec Liq % 30,3% 29,8% 29,8% 29,8% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7% 29,7%

Força de venda/canal 40% 12,1% 12,1% 12,09% 12,07% 12,05% 12,04% 12,03% 12,02% 12,00% 11,99% 11,99%Receb./separação/transp. 37% 11,2% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7% 10,7%Outros 23% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0% 7,0%

Consultoras Natura 2002 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Consultoras Brasil ### 355.000 410.505 469.351 530.532 592.791 654.650 714.454 770.432 820.781 863.751 897.741 Crescimento consultoras % 15,6% 15,6% 14,3% 13,0% 11,7% 10,4% 9,1% 7,8% 6,5% 5,2% 3,9%

unidades / consultora ano 401 446 460 473 488 502 517 533 549 565 582 Aumento produtividade por consultora % 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0%Aumento produtividade / Rec Líq % 0,03% 0,02% 0,02% 0,02% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01%

As despesas administrativas apresentam um comportamento de queda

similar e são compostas por inovações 29%, pessoal 18%, CPMF e provisões

fiscais 12%, serviços terceiros 12%, depreciação 4% e outros 25%. As despesas

administrativas foram projetadas de forma que seu percentual sobre a receita

líquida caia de 13,8% em 2003 para 11,4% em 2013. As principais reduções estão

relacionadas aos serviços contratados da Natura Inovação, cujo percentual de

3,5% da receita líquida representa uma estratégia de negócio. A manutenção deste

percentual sobre a receita é fundamental para o crescimento da empresa uma vez

que a participação de produtos lançados nos últimos 24 meses são responsáveis

por aproximadamente 45% da receita bruta e os serviços contratados da Natura

Inovação representam gastos com pesquisa e desenvolvimento.

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91

O gasto de pessoal foi reduzido de 2,5% em 2003 para 1,1% em 2013

visando cortes de overhead na fábrica e outras despesas tiveram queda de 3,4%

em 2003 para 3% devido especialmente à maior automação dos processos fabris.

Com relação aos demais itens administrativos, são considerados variáveis que

espera-se que continuem estáveis com relação à receita líquida da empresa.

Tabela 18: Despesas Operacionais administrativas

Despesas Administrativas 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Despesas Administrativ 182.890 227.594 274.747 331.424 393.464 436.595 484.389 532.340 582.206 643.261 707.401 Desp Adm / Rec Liq % 13,8% 12,6% 12,4% 12,2% 12,0% 11,9% 11,7% 11,5% 11,4% 11,4% 11,4%Serv. Contratados Natura Inovação 53.038 63.433 77.626 94.943 114.306 128.651 144.807 161.487 179.255 198.053 217.801Pessoal 32.920 41.816 47.402 53.364 58.695 59.813 60.291 59.392 57.220 63.220 69.524CPMF e Provisões fiscais 21.947 28.998 35.486 43.402 52.254 58.812 66.197 73.823 81.945 90.539 99.566Serviços terceiros 21.947 28.998 35.486 43.402 52.254 58.812 66.197 73.823 81.945 90.539 99.566Depreciação 7.316 9.977 12.209 14.933 17.979 20.235 22.776 25.399 28.194 31.151 34.257Outros 45.723 54.371 66.537 81.379 97.976 110.272 124.120 138.417 153.647 169.760 186.687

Serv. Contrat. Natura Inovação 29% 4,0% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5% 3,5%Pessoal 18% 2,5% 2,3% 2,1% 2,0% 1,8% 1,6% 1,5% 1,3% 1,1% 1,1% 1,1%CPMF e Provisões fiscais 12% 1,7% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6%Serviços terceiros 12% 1,7% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6% 1,6%Depreciação 4% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6%Outros 25% 3,4% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0%

Impostos

Em dezembro de 2000 a Natura Empreendimentos tornou-se subsidiária

integral da Natura Participações. A incorporação das ações da Natura

Empreendimentos na Natura Participações foi realizada com base no valor

econômico da primeira, calculado através da metodologia de fluxo de caixa

descontado, projetado ao longo de um período de dez anos.

A Natura Participações emitiu novas ações para os antigos acionistas da

Natura Empreendimentos e reconheceu em seu balanço por conta da incorporação,

um ágio equivalente à diferença entre o valor contábil e o valor econômico das

ações da Natura Empreendimentos.

Em março de 2004, a Natura Cosméticos incorporou sucessivamente a

Natura Participações e a Natura Empreendimentos. De acordo com a legislação

tributária, estas operações permitiram à Natura amortizar fiscalmente o ágio

originalmente contabilizado pela Natura Participações quando incorporou a

Natura Empreendimentos e reduzir os pagamentos de impostos de renda e

contribuição social sobre o lucro líquido. Dessa forma a empresa espera deduzir

fiscalmente em 2004 uma parcela de ágio de R$125,4 milhões e posteriormente

R$150,4 milhões por ano até 2010, totalizando aproximadamente R$1.028

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92

milhões. Esse ágio está sendo descontado nas projeções do DRE, abatendo dessa

forma o imposto sobre o lucro operacional.

Tabela 19: Impacto da amortização de ágio sobre os impostos Amortização de Ágio (R$ mil)

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Lucro Operacional 363.478 453.941 565.864 701.441 806.489 927.210 1.055.258 1.195.060 1.336.584 1.488.110 Amortização de Ágio 125.400 150.400 150.400 150.400 150.400 150.400 150.400 - - - Alíquota de 34% após ágio 80.947 103.204 141.258 187.354 223.070 264.116 307.652 406.320 454.439 505.957 Taxa efetiva de impostos 22% 23% 25% 27% 28% 28% 29% 34% 34% 34%

Investimento

A empresa investiu recentemente R$200 milhões na construção de sua

fábrica em Cajamar (para o desenvolvimento, fabricação e distribuição dos seus

produtos, com sistemas automatizados de gerenciamento de separação de pedidos

e estoque). Inaugurada em 2001, a unidade foi projetada de modo a permitir a

expansão modular das linhas de produção.

Com o atual volume de vendas girando em torno de 144,8 milhões de

unidades em 2003, a Natura deve brevemente chegar a operar em capacidade

máxima. A empresa produziu 136,2 milhões de unidades em 2003, com uma

capacidade de produção de 170 milhões de unidades, o que representa a utilização

de 80% da capacidade instalada. Com investimento de R$ 80 milhões previstos

para 2004 esperam chegar à capacidade de produção de 200 milhões de unidades

por ano, correspondendo a uma utilização de 88% da capacidade fabril, além do

aumento da capacidade de estocagem e separação, de manufatura entre outros

investimentos (manutenção, equipamentos de informática, software, moldes e

veículos).

A premissa de projeção do aumento de capacidade, com exceção de 2004,

cuja premissa de investimento já foi informada pela companhia, está em linha

com o crescimento projetado das vendas. Para 2004 os investimentos divulgados

permitirão o aumento da capacidade para 200 milhões de unidades, o que

representa 88% da utilização da capacidade instalada. Deste investimento previsto

em 2004, 42% será investido em melhoria de processos e manutenção (troca de

veículos de promotoras de vendas e de gerentes, novos moldes e ferramentas em

virtude de lançamentos de produtos novos, software e equipamentos de

informática), enquanto 58% será destinado à expansão da capacidade produtiva da

empresa, isto é, armazenagem, separação e manufatura.

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O principal destino deste investimento em imobilizado é a construção do

novo Armazém Vertical da empresa, que através do investimento de R$ 32

milhões, dos quais R$17 milhões desembolsados ainda em 2004, permitirão

aumentar a capacidade de estocagem de 24.000 pallets para 52.000 pallets em

2005. Quanto à nova linha de separação, esperam desembolsar em 2004 R$8

milhões dos R$10 milhões necessários para expansão da capacidade de separação

em 125%, de 32.300 pedidos por dia para aproximadamente 72.700. A empresa

ainda espera investir R$21,0 milhões em 2004 para aumentar a capacidade de

manufatura através da aquisição de novo maquinário ou sua atualização.

Todos estes investimentos no curto prazo permitem a Natura operar

confortavelmente sua produção sem restrições nas linhas de separação,

armazenagem e manufatura. Contudo, dada a alta taxa de crescimento do volume

das vendas projetadas para a empresa, haverá necessidade contínua de expansão

da capacidade de produção. A empresa inclusive levantou o custo, a preços atuais,

de uma expansão de capacidade em todos os estágios de produção, dos 200

milhões de unidades anuais previstos em 2004 para 450 milhões de unidades por

ano.

Com o investimento de R$ 400 milhões a empresa conseguiria chegar aos

450 milhões de unidades desejadas. Deste valor, R$50 milhões seriam destinados

à expansão modular das três fábricas, R$70 milhões para 2 armazéns verticais, R$

45 milhões para as 3 linhas de separação e coleta, R$115 milhões para maquinário

das novas fábricas, R$25 milhões para administração dos edifícios, R$30 para

informática e R$65 milhões para outros investimentos.

Apesar do cronograma para tais investimentos ainda não ter sido divulgado,

estima-se nas projeções que a empresa operará com uma capacidade ociosa média

de 10%, a ser utilizada durante os picos de demanda derivados da sazonalidade de

vendas e promoções. Espera-se, ainda, que em 2005 o investimento em

capacidade seja maior que nos anos seguintes, pela expectativa de que as

operações internacionais iniciadas em 2004 (loja em Paris) e inicio de 2005

(entrada no México) irão provocar bons retornos no curto prazo.

O investimento em capacidade produtiva foi projetado em função da

utilização da capacidade aproximada de 90%, além de considerar o cálculo de

investimento por 1.000 unidades. Para expandir a capacidade de produção em 280

milhões de unidades/ano, chegando a 450 milhões de unidades/ano ao custo de

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R$400 milhões, foi calculado um índice em valores atuais de R$ 1.429. Este valor

será remunerado pela inflação anual até 2013. Os investimentos em manutenção e

melhorias de processo, parte desse investimento em imobilizado, foram projetados

como 58% da depreciação anual projetada.

Segundo as premissas mencionadas, pode-se dizer que a projeção total de

investimentos foi elaborada, relativamente constante ao longo dos anos, salvo em

2005 quando projetou-se um investimento um pouco maior. Os investimento para

aumento de capacidade até 2013 não alcançam os 450 milhões de unidades

pretendidas mas, 430 milhões por acompanhar o crescimento projetado das

vendas, respeitando a premissa de utilização da capacidade ociosa em torno de

10%.

Apesar do cronograma de investimento na tabela 20 para os dez anos

seguintes representar consideráveis investimentos anuais, será visto mais adiante

que com a própria geração de caixa seria possível desempenhar estas metas de

investimento, sem necessidade de recorrer ao capital de terceiros. O gráfico 2

permite visualizar a evolução do crescimento da capacidade de produção e gastos

com investimento.

Tabela 20: Investimento e Depreciação Investimento (R$ mil)

2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Investimento em capacidade 80.000 79.349 37.314 40.730 45.422 45.779 44.817 45.659 46.328 41.796 Manutenção 26.361 32.760 35.083 37.653 40.598 43.464 46.101 48.700 51.233

Total Investimento 23.891 80.000 105.710 70.074 75.813 83.075 86.377 88.281 91.761 95.028 93.029 Investimento/Rec Liq % 1,8% 4,4% 4,8% 2,6% 2,3% 2,3% 2,1% 1,9% 1,8% 1,7% 1,5%

Utilização da capacidade 80% 88% 82% 88% 93% 92% 92% 92% 92% 92% 92%Produção/Vendas 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1% 94,1%Capacidade 170.000 200.000 250.000 272.500 296.002 321.084 345.274 367.935 390.029 411.480 430.000 Produção 136.200 175.651 204.739 239.196 275.076 295.707 317.885 338.547 358.860 378.597 397.527 Vendas 144.800 186.742 217.667 254.300 292.445 314.378 337.957 359.924 381.519 402.503 422.628

Cresto vendas % 29,0% 16,6% 16,8% 15,0% 7,5% 7,5% 6,5% 6,0% 5,5% 5,0%Cresto capacidade % 17,6% 25,0% 9,0% 8,6% 8,5% 7,5% 6,6% 6,0% 5,5% 4,5%

custo por item 1,429 1,514 1,587 1,658 1,733 1,811 1,892 1,978 2,067 2,160 2,257

Depreciação (R$ mil)

2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Depreciação 33.673 37.686 45.451 56.483 60.487 64.920 69.996 74.937 79.485 83.965 88.333 Deprec / Imobilizado % 12,9% 14,9% 15,4% 15,9% 16,4% 16,9% 17,4% 17,9% 18,4% 18,9% 19,4%

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95

Gráfico 2: Investimento e Capacidade de Produção

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

450.000

2003

2004

E

2005

E

2006

E

2007

E

2008

E

2009

E

2010

E

2011

E

2012

E

2013

E

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

100.000

110.000

Capacidade de Produção Investimento

Maior investimento em expansão

Capital de Giro

O capital de giro é composto pelo ativo circulante subtraído do passivo

circulante. O capital de giro líquido é positivo quando o ativo circulante é maior

que o passivo circulante, indicando que o dinheiro disponível nos doze meses

seguintes será superior ao desembolsado. Na prática, esse saldo representará uma

reserva de capital necessária para que a empresa possa cumprir com suas

obrigações correntes. A variação do capital de giro é a diferença entre o capital de

giro de um ano com relação ao ano anterior, sendo geralmente positiva em

empresas em processo de crescimento como a Natura.

Os principais itens de capital de giro da Natura são contas a receber

(descontada provisão para devedores duvidosos), estoques e contas a pagar. Nota-

se no gráfico 3 que apesar da empresa perder eficiência no prazo médio de

estoques e recebimentos em 2002 em relação ao ano anterior, conseguiu uma

recuperação em 2003. Na projeção será considerada a manutenção dos patamares

de 2003 para todos os itens, apesar de considerar que os contínuos investimentos

na administração de estoque e logística provavelmente permitirão maior eficiência

para esta linha ao longo do tempo. Portanto, o prazo médio projetado de

recebimento será de 49 dias, o estoque 62 dias e o prazo médio de fornecedores 45

dias.

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Gráfico 3: Variação do capital de giro

0102030405060708090

2001 2002 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E0100002000030000400005000060000700008000090000

Variacao de capital de giro Prazo Med Recebim dias

Prazo Med Estoques dias Prazo Med Forneced dias

O ciclo operacional da empresa45, caracterizado pelo prazo entre a chegada

de matéria-prima para estoque e a data na qual as contas a receber são pagas pelos

clientes, teve duração de 111 dias em 2003. Este ciclo, também caracterizado

como soma dos prazos de estoques e contas a receber é reduzido discretamente

para 110 dias a partir de 2004 refletindo uma pequena evolução esperada na

eficiência de estoques e recebimentos. O ciclo de caixa ou financeiro é por sua vez

iniciado quando as compras de matérias-primas são pagas, terminando quando há

o recebimento efetivo do contas a receber. De maneira análoga é o período entre o

pagamento e o recebimento do dinheiro, representado pelo ciclo operacional

menos o prazo de contas a pagar. Em 2003 esse ciclo foi de 66 dias, reduzido nas

projeções para 65 dias a partir de 2004.

Política de Dividendos e Estrutura de Capital

Em março de 2004 o Conselho de Administração da Natura adotou uma

política de dividendos que estabelece um cálculo de pagamento de dividendos

mínimos de 45% do lucro líquido, apesar do dividendo obrigatório ter sido fixado

no Estatuto Social em valor mínimo de 30% do lucro líquido anual conforme a

Lei das Sociedades por Ações.

Seguindo a política indicativa de distribuição de dividendos da companhia, a

projeção considerará a distribuição de 45% do lucro líquido para todos os anos,

exceto em 2004, quando haverá a distribuição do excesso de caixa gerado no

45Ross, p. 603.

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período o que significa que para este período a taxa distribuída será de 95% do

lucro líquido do exercício de 2003.

A taxa de distribuição definida para 2004 ainda levou em consideração a

política de caixa mínimo de 5% da Receita Líquida, estabelecida pela empresa

com o objetivo de manutenção apenas de caixa operacional (para ajudar a

financiar os gastos planejados, ou como reserva para gastos inesperados) devido à

natureza sazonal e cíclica das atividades, minimizando o pagamento de impostos

sobre receita financeira. Como os impostos sobre rendimentos financeiros da

pessoa jurídica são maiores que os cobrados sobre pessoa física, a distribuição do

excesso de caixa da empresa sob forma de dividendos traz mais ganhos aos

acionistas do que a manutenção do dinheiro em caixa.

Dentre as vantagens do pagamento de altos dividendos podem ainda ser

citados o reforço ou aumento do preço da ação e o fato de dividendos atraírem

investidores institucionais e individuais, permitindo a redução do custo de

captação da empresa pela pulverização no mercado. Os dividendos ainda reduzem

o fluxo de caixa excedente, minimizando os possíveis custos de agency resultantes

de conflitos entre administradores e acionistas quanto ao destino do valor em

caixa. Dentre as desvantagens existe a redução da capacidade de financiamento

interno e a dificuldade de reduzir a distribuição futura dos dividendos sem afetar

negativamente o preço da ação46.

A composição da dívida em dezembro de 2003 era de R$33,0 milhões em

empréstimos e financiamentos de longo prazo e R$75,1 milhões em empréstimos

e financiamentos de curto prazo. Adicionalmente, em dezembro de 2003, a

empresa possuía debêntures subordinadas em circulação no montante principal de

R$130,6 milhões, resgatadas integralmente em março de 2004. Os antigos

detentores das debêntures realizaram uma contribuição de capital à companhia na

forma dos créditos que obtiveram com o resgate das debêntures recebendo em

troca ações ordinárias da emissão. Esta operação associada a abertura de capital

acabou por alterar o valor do capital social da companhia, que passou de R$56,3

milhões em 2003 para R$230,7 milhões em 2004.

46Tirado de Ross p. 414 rodapé – ROZEFF, Michael. How companies set their dividend payout rations. In: STERN, Joel M.; CHEW, Donald H. (Ed.). The revolution in corporate finance. New York: Basel Blackwell, 1986. Ver também HANSEN, Robert S.; KUMAR, Raman; SHOME, Dilip K. Dividend policy and corporate monitoring: evidence from the regulated electric utility industry. Financial Management, Spring 1994.

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98

Em março de 2004 a posição de empréstimos de longo prazo era R$101,1

milhões e de curto prazo R$39,7 milhões representando principalmente

obrigações com o BNDES e agências governamentais brasileiras. Apesar do

percentual da dívida atrelado ao dólar ter sido 55% em 2003 e 21% no primeiro

trimestre de 2004, foi projetado a partir de 2005 um percentual de participação de

30%.

Tabela 21: Posição da Dívida

Posição Dívida: 2001 2002 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013EFinanciamento CP 103.111 104.271 75.102 39.716

Moeda Estrangeira 59.730 29.548 Moeda Nacional 3.278 10.168

Financiamento LP 134.212 99.850 32.986 101.181 Moeda Estrangeira - - 35.798 27.017 21.089 16.158 14.649 13.236 11.915 11.915 11.915 Moeda Nacional 45.080 101.181 83.529 63.039 49.208 37.701 34.182 30.884 27.801 27.801 27.801

Total do Débito 237.323 204.121 108.088 140.897 119.327 90.055 70.297 53.859 48.831 44.120 39.716 39.716 39.716

Estrutura da Dívida 2001 2002 2003 31/3/2004

Curto Prazo (%) 43,4% 51,1% 69,5% 28,2%

Longo Prazo (%) 56,6% 48,9% 30,5% 71,8%

Moeda Estrangeira (%) 73,6% 74,9% 55,3% 21,0%

Moeda Doméstica (%) 26,4% 25,1% 44,7% 79,0%

A redução dos empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo de

R$204,1 milhões em 2002 para R$108,1 milhões em 2003 deveu-se, em parte, ao

pagamento líquido no valor de R$82,5 milhões do principal destas dívidas, e em

parte ao efeito positivo da valorização do real frente ao dólar sobre a dívida em

dólar. A mesma lógica ocorreu quanto à redução do endividamento total de curto

e longo prazo para R$204,1 milhões em 2002 comparado a R$237,3 milhões em

2001, sendo parcialmente compensado pelo efeito negativo da taxa de câmbio

entre o real e o dólar sobre o montante da dívida em dólar.

Os empréstimos e financiamentos de 2001 foram destinados especialmente

para a construção da unidade em Cajamar. Desde então, por meio da própria

geração de caixa, a empresa tem de modo geral, reduzido seus empréstimos e

financiamentos. Dessa forma, não havendo necessidade de captação de novas

dívidas, a variação anual das mesmas é representada pelos pagamentos de

principal, isto é pagamento das parcelas de dívida nas datas de vencimento.

A premissa de não renovar os empréstimos da Natura fará com que, a longo

prazo, seu custo médio ponderado de capital aumente. Dessa forma espera-se que

o valor encontrado para as ações da Natura fique um pouco abaixo do real

potencial de valorização que a empresa tem.

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5 Resultados da Pesquisa

Este capítulo apresenta os resultados encontrados com a pesquisa. Os dados

estimados para a Natura serão comparados com aqueles efetivamente realizados.

O real valor da ação ao final de 2004 e sua flutuação também serão abordados.

Adicionalmente, de forma a enriquecer a avaliação financeira, os múltiplos

implícitos da Natura serão comparados aos múltiplos das empresas internacionais

atuantes no setor.

5.1 Análise de Mercado

A participação histórica da Natura no mercado de cosméticos vem

mostrando um desempenho muito expressivo. De 13,9% em 2000, a empresa

cresceu seu market share nacional nas categorias em que opera para 14,3%,

14,5%, 17,1%, 18,9% e 20,5% respectivamente em 2001, 2002, 2003, 2004 e

primeiro semestre de 200547. Quanto a receita líquida, enquanto o mercado alvo

apresenta uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 16,6% de 2000 a

2004, a Natura apresenta um CAGR de 26,6% para o mesmo período.

Enquanto o mercado alvo nacional48 cresceu 14% em 2003 em termos de

receita líquida, movimentando R$7,2 bilhões e 21% em 2004 movimentando

R$8,7 bilhões, a Natura cresceu 30% em 2003 com receita líquida de R$1,3

bilhões e 39% em 2004 com receita de R$1,8 bilhões (exatamente o valor

projetado no estudo de caso para 2004). Estes resultados mostram a eficiente

administração da empresa para gerar o crescimento dos negócios e confirmam as

premissas adotadas na projeção para continuidade do crescimento da empresa ao

longo dos próximos anos.

Espera-se ainda que a empresa se beneficie com as mudanças incrementais

na renda per capita do brasileiro, já que o consumo de cosméticos é altamente

47Dados ABIHPEC 48Considera somente os segmentos nos quais a Natura opera. Exclui fraldas, itens de higiene oral, tintura para cabelo, esmaltes, absorventes dentre outros.

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influenciado pelo desenvolvimento econômico. Como nas projeções

macroeconômicas projetou-se um aumento do PIB para os próximos anos,

acredita-se que também haja o aumento do poder de consumo do trabalhador

estimulando as vendas. A grande participação da mulher no mercado de trabalho

(45,1% em 200449) e a faixa etária média da população brasileira (53% da

população está na idade alvo do mercado) são outras variantes que impulsionam o

crescimento da Natura.

Da mesma forma, o crescimento da rede de vendas diretas e a produtividade

incremental devem alavancar sua performance. A Natura tem contabilizado

excelentes resultados de vendas – crescimento no volume de consultoras de 15,6%

em 2003 e aumento nas vendas de 5,5% em 2002 e 24,8% em 2003.

Observou-se que a Natura, com dados de 2003 do mercado nacional de

cosméticos fragrâncias e artigos de toalete (CF&T), já possuía sólida participação

de 33% no segmento de perfumes, 20% no segmento de maquiagem, e 17% em

produtos para pele, ao passo que sua presença nos segmentos de produtos para

cabelos e banho era de apenas 2%. Isso demonstra que a Natura segue o padrão

clássico de uma empresa de cosméticos que usa as revendas diretas como seu

principal canal, sendo mais forte nos segmentos em que o aconselhamento ou

consulta é mais necessário e mais fraca em produtos tradicionalmente vendidos no

mercado a varejo (supermercados, farmácias etc) e onde uma assistência

personalizada para a escolha do produto não é exigida. Levando em conta o bem-

sucedido histórico e sua forte posição competitiva, estima-se que a empresa

continuará ampliando sua participação de mercado mais rápido para as categorias

de produto nas quais tem atualmente menor penetração e mais lento nas três

categorias em que já se encontra bem estabelecida.

5.2 Análise Financeira

O estudo do mercado de cosméticos, o enfoque no mercado brasileiro e as

premissas da avaliação financeira, foram as bases para construção do estudo de

caso da Natura. Com a projeção das Demonstrações do Resultado do Exercício

49Fonte: IBGE.

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(DRE) foi possível montar o fluxo de caixa livre da empresa e identificar a

geração de caixa anual. A seguir serão demonstrados os resultados encontrados na

pesquisa e o que sucedeu com a empresa nos meses subseqüentes à abertura.

As projeções sugerem que a empresa continuará a crescer devido a alta

geração de caixa, baixa alavancagem e contínuo investimentos na produção.

Para 2004 foi estimado um EBITDA de R$ 401 milhões e margem EBITDA

de 22%, acompanhando a tendência de crescimento histórico da companhia

impulsionado pelo fortalecimento da posição de mercado e ganhos de

produtividade. O EBITDA realizado pela empresa ao final de 2004 foi de R$ 432

milhões e margem 24%, surpreendendo as expectativas e mostrando que a

estimativa foi relativamente conservadora.

O lucro líquido estimado de R$ 285,6 milhões para 2004, 347% maior que o

lucro de 2003 e margem líquida de 15,8% ficaram próximos dos R$ 300 milhões e

margem líquida de 17% realizados pela Natura no final do exercício de 2004.

As projeções ainda indicam um fluxo de caixa da firma de R$ 893 milhões e

fluxo de caixa para o acionista de R$ 895 milhões para 2013 como pode ser visto

nas tabelas 22 e 23. Observando o fluxo de caixa para o acionista nota-se de que a

empresa não necessita de novas captações até o final de 2013 para realizar os

investimentos pretendidos, havendo uma variação na dívida negativa ao longo dos

anos e levando seu peso sobre a estrutura de capital a 1%, ou seja, praticamente

zero no final das projeções.

Tabela 22: Fluxo de Caixa do Acionista em BRL

Fluxo de Caixa (Reais Mil) 2002 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013ELucro Operacional (EBIT) 165.451 260.542 363.478 453.941 565.064 700.906 806.651 927.365 1.055.406 1.195.200 1.336.717 1.487.424 Depreciação (+) 28.263 33.673 37.686 45.451 56.483 60.487 64.920 69.996 74.937 79.485 83.965 88.333 EBITDA 193.714 294.215 401.164 499.392 621.547 761.393 871.570 997.361 1.130.344 1.274.686 1.420.682 1.575.757 Impostos sobre Lucro Operacional (-) 71.847 94.514 80.947 103.204 140.986 187.172 223.125 264.168 307.702 406.368 454.484 505.724 Aumento do Capital de Giro (-) 37.707 21.547 69.533 60.533 73.789 82.427 60.911 68.557 70.707 75.256 79.552 83.498 Investimentos(-) 25.230 23.891 80.000 105.710 70.074 75.813 83.075 86.377 88.281 91.761 95.028 93.029 Fluxo de Caixa Livre para Firma - FCFF 58.930 154.263 170.685 229.945 336.699 415.981 504.459 578.259 663.653 701.300 791.619 893.507 Variação na Dívida (+) (33.202) (96.033) 32.809 (21.570) (29.272) (19.758) (16.438) (5.028) (4.711) (4.404) - - Resultado Financeiro (+) (44.344) (30.100) 3.151 (78) 215 912 1.462 1.630 1.787 1.934 1.934 1.934 Fluxo de Caixa Livre para Acionistas - FCFE (18.616) 28.130 206.645 208.297 307.641 397.136 489.482 574.861 660.729 698.830 793.554 895.441 Recompra Debentures (+) 4.080 98.090 (232.826) - - - - - - - - - Aumento de Capital Social (+) - - 174.375 - - - - - - - - - Dividendos(-) 9.308 33.717 28.748 128.557 157.797 190.932 231.591 263.244 299.172 337.271 355.845 397.875 Dividendos Extraordinários (-) - - 31.942 - - - - - - - - - Geração de Caixa do ano (23.844) 92.503 87.504 79.740 149.845 206.204 257.892 311.616 361.557 361.560 437.709 497.565

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Tabela 23: Fluxo de Caixa do Acionista em USD

Fluxo de Caixa (Dólar Mil) 2002 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013ELucro Operacional (EBIT) 56.671 84.702 123.226 149.446 181.693 220.418 248.101 278.966 310.505 343.913 376.190 409.409 Depreciação (+) 9.681 10.947 12.776 14.963 18.162 19.022 19.967 21.056 22.047 22.871 23.630 24.313 EBITDA 66.352 95.649 136.002 164.409 199.854 239.439 268.068 300.021 332.552 366.784 399.821 433.722 Impostos sobre Lucro Operacional (-) 24.609 30.726 27.442 33.977 45.333 58.861 68.626 79.466 90.527 116.930 127.905 139.199 Aumento do Capital de Giro (-) 12.916 7.005 23.573 19.928 23.726 25.921 18.734 20.623 20.802 21.655 22.388 22.982 Investimentos(-) 8.642 7.767 27.121 34.802 22.532 23.841 25.551 25.984 25.973 26.404 26.743 25.606

Fluxo de Caixa Livre para Firma - FCFF 20.185 50.151 57.865 75.702 108.263 130.816 155.156 173.949 195.250 201.796 222.784 245.935

Variação na Dívida (+) (11.372) (31.220) 11.123 (7.101) (9.412) (6.213) (5.056) (1.512) (1.386) (1.267) - - Resultado Financeiro (+) (15.189) (9.785) 1.068 (26) 69 287 450 490 526 557 544 532 Fluxo de Caixa Livre para Acionistas - FCFE (6.376) 9.145 70.056 68.575 98.920 124.889 150.550 172.927 194.389 201.085 223.329 246.467

Recompra Debentures (+) 1.397 31.889 (78.932) - - - - - - - - - Aumento de Capital Social (+) - - 59.116 - - - - - - - - - Dividendos(-) 3.188 10.961 9.746 42.323 50.738 60.043 71.230 79.188 88.018 97.048 100.145 109.514 Dividendos Extraordinários (-) - - 10.829 - - - - - - - - - Geração de Caixa do ano (8.167) 30.073 29.665 26.252 48.182 64.846 79.320 93.739 106.372 104.037 123.184 136.953

VP do Fluxo de Caixa - FCFF 50.151 51.401 59.059 73.797 77.777 80.452 78.820 77.317 69.845 67.451 65.089 VP da Perpetuidade - FCFF 787.738

Em contrapartida, vale destacar que a não renovação de financiamentos

elevará, ao longo dos anos, o custo médio ponderado de capital de 12,6%

estimado em 2004 para 14,2% em 2013, conforme pode ser visto na tabela 24.

Sendo assim, conforme os valores futuros do fluxo de caixa da firma forem

trazidos a valor presente, descontados pelos diferentes valores de WACC para

cada ano, o valor presente do fluxo de caixa da firma e perpetuidade terão um

valor menor do que se na projeção as dívidas tivessem sido mantidas.

Tabela 24: Evolução do WACC

Dívida (R$ mil) 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013EDívida início Ano 140.897 140.897 119.327 90.055 70.297 53.859 48.831 44.120 39.716 39.716 Vencimentos - (21.570) (29.272) (19.758) (16.438) (5.028) (4.711) (4.404) - - Novas dívidas - - - - - - - - - - Dívida Total (D) 140.897 119.327 90.055 70.297 53.859 48.831 44.120 39.716 39.716 39.716

Patrimônio Líquido (E) 420.897 613.759 847.120 1.130.176 1.451.919 1.817.574 2.229.794 2.664.715 3.151.007 4.134.642 D / E 0,33 0,19 0,11 0,06 0,04 0,03 0,02 0,01 0,01 0,01 D / E+D 0,25 0,16 0,10 0,06 0,04 0,03 0,02 0,01 0,01 0,01 E / E+D 0,75 0,84 0,90 0,94 0,96 0,97 0,98 0,99 0,99 0,99

WACC nominal em US$ 12,6% 13,2% 13,6% 13,9% 14,0% 14,1% 14,1% 14,2% 14,2% 14,2%

O aumento do custo médio ponderado de capital observado no caso da

Natura está em linha com o estudo de Pagano, Panetta e Zingales (1998),

abordado na seção “Vantagens e Custos da Abertura de Capital” deste trabalho,

no qual há constatação de que o custo de capital a médio prazo e longo prazo

aumenta. Esta verificação, contudo, não seria o movimento esperado das empresas

que abrem o capital; afinal, a possibilidade de redução deste custo também foi

abordada como um dos benefícios para uma empresa buscar a abertura.

A empresa vem reduzindo sua alavancagem nos últimos anos – em 2001 a

participação da dívida sobre a estrutura de capital era de 75%; 2002 69%; 2003

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47% e 2004 fechou em 24%, enquanto esperava-se nas projeções 25% para o

mesmo período. Entre os anos de 2001 e 2002 a empresa apresentou um maior

grau de endividamento líquido, principalmente como conseqüência dos

investimentos na construção da fábrica em São Paulo. No final de 2001, a Natura

tinha uma dívida líquida de R$179 milhões, equivalente a 1,5 vezes o EBITDA.

Em 2003 a empresa começou a ter dívida líquida negativa, ou seja, tinha mais

dinheiro em caixa do que dívida no mercado. Mantendo a curva de redução da

alavancagem financeira, a projeção da dívida para 2004 foi baseada na posição

bruta do primeiro trimestre de 2004, que era de R$140,8 milhões, tornando a

razão dívida líquida/EBITDA negativa em 0,2 vezes o EBITDA.

Apesar do aumento do WACC para a Natura ao longo dos anos em razão da

redução da participação da dívida na estrutura de capital, a empresa apresenta

condições de, com a própria geração de caixa, conseguir realizar os investimentos

pretendidos durante todo o período de projeção e ser vista pelos investidores e

pelo próprio mercado como uma empresa sólida e atrativa a investimentos dadas

as possibilidades de altos pagamentos de dividendos e baixa necessidade de

captação para expansão da produção. Além disso, por estar listada no Novo

Mercado da Bovespa, tem um compromisso com o mercado de excelência na

divulgação das informações financeiras ou sobre qualquer outro assunto que

impacte nas suas operações ou flutuações do preço das ações. Ao longo desta

seção será realizada uma sensibilidade do WACC com a variação da estrutura de

capital, detalhando um pouco mais esta questão.

Os dividendos propostos para 2004 na projeção, de forma que fosse

esperada uma geração de caixa de R$ 87,5 milhões, consideraram a distribuição

de 95% do lucro líquido, uma vez que os outros 5% são destinados por lei para

reserva legal até que esta atinja 20% do capital social. Para os demais anos foi

considerada a distribuição de 45% do lucro líquido; mínimo que a empresa está

disposta a pagar, conforme o estatuto.

O preço da ação encontrado para o fluxo de caixa descontado da firma para

todos os anos já era esperado. Sua explicação está em linha com as observações

feitas por Ross, Weaterield e Jaffe50. Para os autores existem algumas formas

pelas quais as empresas podem criar VPL positivos e que se aplicam exatamente

50Ross, p. 171.

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aos resultados encontrados na Natura. A firma compõe um seleto grupo que

estimula a constante introdução de novos produtos (sabe-se que estes

correspondem a aproximadamente 20% das vendas anuais da empresa). Seu alto

gasto com pesquisa e desenvolvimento produzem bens a custo menores que os

concorrentes (a empresa estimula parcerias com universidades, além de contar

com uma fábrica de última geração que permitiu eficiência produtiva) e

introduzem variações de produtos existentes, aproveitando-se das demandas não

atendidas.

Para calcular o custo médio ponderado de capital para cada ano, foram

consideradas as premissas de taxa livre de risco de 5%, que corresponde a média

dos últimos cinco anos da T-Bond de 10 anos; prêmio pelo risco país de 6%,

obtido no site <www.damodaran.com> para 2004; prêmio pelo risco de mercado

de 4% obtido na Bloomberg ainda no primeiro semestre de 2004 e beta

alavancado de 0,8 conforme primeira coluna da tabela 25.

Apenas para ilustrar as premissas utilizadas pelas instituições financeiras

pesquisadas, alguns dados disponíveis também foram transcritos.

Tabela 25: Premissas do Cálculo do WACC

Cálculo do Custo Médio Ponderado de Capital - WACCmar/04 ago/04 abr/04 jul/04 set/04

Estimativa Unibanco Pactual UBSedit SuisseTaxa livre de risco 5,0% 4,5% 4,6% 5,0%Prêmio pelo risco país 6,0% 5,5% 6,2% 6,0%Prêmio pelo risco de mercado 4% 6% 4% 5%Beta alavancado 0,8 0,7 1,0 0,8 Ks - Custo do capital próprio US$ 14,3% 14,2% 13,0% 14,8% 15,0%

Kd - Custo da Dívida US$ 11,3% 8,0% 10,3%Alíquota de IR 34% 34% 34% 34% 34%

Dívida / Equity 33,5% 20,0%Dívida / Capital Total 25,1% 16,7%Equity / Capital Total 74,9% 83,3%

Custo Médio de Capital em US$ para 2004 12,6% 12,7% 13,0% 13,9% 16,0%

Conforme pode ser visto na tabela 26, o valor presente do fluxo de caixa da

Natura (VP do Fluxo de Caixa – FCFF) somado ao valor presente da perpetuidade

(VP da Perpetuidade – FCFF) projetada em 5,5%, corresponde ao valor da

empresa de US$1.539 milhões, que descontado a dívida de US$ 48 milhões do

primeiro trimestre de 2004, equivale a US$ 1.490 milhões. Com as 85,45 milhões

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105

de ações chega-se ao preço final estimado de US$ 17,44/ação ou R$ 51,46/ação;

potencial de valorização de 41% com relação ao preço de R$36,50 do lançamento.

Tabela 26: Valor Econômico da Empresa em USD e Preço da Ação

Fluxo de Caixa Descontado Estimativa Pactual Itaú UBS Unibanco Credit Suissemar/04 abr/04 jul/04 jul/04 ago/04 set/04

WACC (%) 12,6% 13,0% 16,0% 13,9% 14,7% 16,0%Crescimento na Perpetuidade (%) 5,5% 4,0% 4,4% 6,5% 4,5% 5,0%VP do Fluxo de Caixa (US$ milhões) 751 967 n.d n.dVP da Perpetuidade (US$ milhões) 788 899 n.d n.d

Valor da Empresa (US$ milhões) 1.539 1.866 n.d n.d(-) Dívida Total 2004E (US$ milhões) 48 48 48 48 48 48 Valor do Equity (US$ milhões) 1.490 n.dNúmero de Ações (milhões) 85 85 85 85 85 85 Preço Alvo (US$ / Ação) 17,44 21,83 23,29 18,54 23,32 22,71 Preço Alvo (R$ / Ação) 51,46 64,40 68,70 54,69 68,78 67,00

Preço em 25/05/2004 36,50 41% 76% 88% 50% 88% 84%Preço em 31/05/04 40,97 Preço em 31/12/04 75,84 47% sobre estimativaPreço em 29/12/05 102,98 100% sobre estimativa

Potencial de crescimento da ação

As ações fecharam o ano de 2004 cotadas a R$ 75,84/ação, valor 47%

superior ao estimado na projeção e 108% maior do que o preço de lançamento.

Em 2005 as ações fecharam a R$102,98/ação, valorizando 182% sobre o preço de

lançamento. O valor encontrado na projeção para as ações em 2004 também pode

ser comparado com aqueles estimados pelas instituições financeiras que

acompanharam a abertura, que também utilizaram a metodologia de Fluxo de

Caixa Descontado.

O preço de R$ 51,46/ação para a Natura foi encontrado com premissas

baseadas nos indicadores financeiros do final de 2003 e primeiro semestre de

2004, que foram diferentes do cenário econômico de 2005. Uma sensibilidade

interessante para o estudo consiste em atualizar o prêmio pelo risco país utilizado

de 6% para 3%. Em janeiro de 2006 o risco-Brasil, que mede a confiança dos

investidores estrangeiros no país e que já apresentava uma curva decrescente

desde maio de 2005, atingiu 284 pontos centesimais, o menor nível desde que o

indicador começou a ser calculado em 1994. Considerando um risco de 300

pontos na sensibilidade, como pode ser visto na tabela 27, o preço estimado para a

ação subiria para R$ 81,81, valor esse bem mais próximo aos R$ 102,98 da última

cotação do ano de 2005; indicando a idoneidade das premissas utilizadas no

modelo.

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106

Tabela 27: Análise de sensibilidade do WACC para o risco país

250 300 500 600 650WACC 10,0% 10,3% 11,8% 12,6% 12,9%Preço alvo 90,28 81,81 58,93 51,46 48,34

Risco País bps

Os gráficos abaixo apresentam respectivamente a evolução do preço das

ações da Natura desde a abertura comparada à evolução do Ibovespa no mesmo

período e sua evolução comparada às cotações de algumas competidoras

internacionais. A curva ascendente de valorização da Natura explicita a

receptividade do mercado à emissão. Do ponto de vista do acionista e da empresa,

a abertura de capital trouxe, até o momento, um dos maiores benefícios, que é a

confiança dos investidores no papel, refletindo na valorização contínua e crescente

das ações, da companhia e melhora dos seus indicadores financeiros.

Gráfico 4: Apreciação das Ações Natura e Ibovespa

NATU3

IBOV

15

35

55

75

95

115

mai

/04

Jun/

04

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4

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04

set/0

4

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4

nov/

04

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04

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05

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05

mar

/05

abr/0

5

mai

/05

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5

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05

set/0

5

out/0

5

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05

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05

+ 200%

+77,4%

Base

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0 (2

5/05

/200

4)

NATU3

IBOV

15

35

55

75

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4

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04

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05

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05

mar

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abr/0

5

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5

ago/

05

set/0

5

out/0

5

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+ 200%

+77,4%

NATU3

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NATU3

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4

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04

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NATU3

IBOV

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15

35

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+ 200%

+77,4%

Base

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107

Gráfico 5: Evolução dos Preços em US$ das Ações Natura e Competidoras

Em uma outra análise de sensibilidade, se o peso da dívida sobre a estrutura

de capital que era de 47% em 2003 fosse mantida para o ano seguinte, o custo

médio ponderado de capital da Natura reduziria de 12,6% para 11,1%, custo este,

menor do que sem a aquisição de novas dívidas em 2004. Caso fosse adotada a

relação (D/D+E) da Avon de 10% referente a março de 2004 – a maior

competidora da Natura – o WACC da Natura aumentaria para 13,6%, como pode

ser observado na tabela 28.

A variação na estrutura de capital na tabela em questão mostra como o grau

de alavancagem financeira influencia, dessa forma, o WACC. Em empresas muito

alavancadas, ainda que o custo do capital próprio seja muito alto em função do

beta alavancado, o custo do capital de terceiros acaba sendo o fator preponderante,

resultando em um menor valor para o WACC.

Tabela 28: Análise de sensibilidade do WACC para estrutura de capital

Debt 5% 10% 25% 47% 70%Equity 95% 90% 75% 53% 30%WACC 13,9% 13,6% 12,6% 11,1% 9,5%Preço Alvo R$ 51,44 51,44 51,46 51,48 51,51

Estrutura de Capital

0

10

20

30

40

50

60

70

80

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ago/0

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t/04

out/0

4no

v/04

dez/0

4jan

/05fev

/05mar/

05

abr/0

5mai/

05jun

/05jul

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5

out/0

5no

v/05

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5

Procter Avon Estee Lauder Colgate Palmolive J&J Natura

28,55

33,48

44,00

54,8557,88

60,10

0

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abr/0

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5

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Procter Avon Estee Lauder Colgate Palmolive J&J Natura

28,55

33,48

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54,8557,88

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/05jul

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5no

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Procter Avon Estee Lauder Colgate Palmolive J&J Natura

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44,00

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Para complementar a análise dos resultados financeiros encontrados pelo

fluxo de caixa descontado, foram calculados dois múltiplos freqüentemente

utilizados no mercado. O múltiplo Valor da Firma/EBITDA e Preço/Lucro.

A tabela 29 apresenta os índices estimados para 2004 das empresas mais

significativas do segmento de cosméticos. A partir desses valores foi calculada a

média do setor e comparada com os mesmos índices obtidos com os resultados

encontrados na Natura.

Tabela 29: Múltiplos de empresas de cosméticos para 2004

Companhia VF/EBITDA P/L

AVON 15,8 26Estee Lauder 14,5 30,8Colgate-Palmolive 13,9 22,6Procter & Gamble 13,3 23,9J & J 11,2 18,2

Média 13,74 24,3Natura 2004E 13,2 18,6 Fonte: Damodaran

O múltiplo Valor da Firma/EBITDA indica o valor da empresa em relação à

sua perspectiva de geração de resultado em determinado ano. Ou seja, representa

o número de vezes que a empresa vale a mais do seu EBITDA. Quanto menor no

numerador, mais “barata” uma empresa está em relação à sua capacidade de gerar

resultado operacional.

O índice VF/EBITDA de 13,74 51 encontrado para o setor de cosméticos e

artigos de toalete foi utilizado para o cálculo do valor da Natura por múltiplo. O

índice multiplicado pelo EBITDA esperado para 2004 na Natura resultou em

US$1,87 bilhões, valor um pouco acima do valor da empresa encontrado de

US$1,54 bilhões pelo fluxo de caixa descontado.

A razão Preço/Lucro do setor não ficou próximo ao calculado para a Natura.

A avaliação da empresa por este múltiplo resultou em um valor para a Natura de

US$2,3 bilhões, enquanto a avaliação pelo fluxo de caixa descontado foi obtido

US$1,5 bilhões.

51Fonte: Site <www.damodaran.com>.

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6 Conclusão

A década de 90, marcada por fatores como altas taxas de inflação e

volatilidade da taxa de juros até a implantação do Real, apresentava um cenário

favorável a captações no mercado internacional. A inserção do país na

globalização financeira associada à farta liquidez de capital disponível aos países

em desenvolvimento até 1997, quando foi desencadeada a crise asiática e

moratória Russa aumentando o risco de investimentos em economias emergentes,

fez com que as empresas preterissem o mercado interno. A excessiva dependência

do mercado internacional, contudo, apontava para a necessidade do

desenvolvimento do mercado de valores mobiliários nacional para fortalecimento

e atendimento das empresas brasileiras e seus investimentos.

Além destes fatores, que justificam em parte, a redução do volume de

ofertas até 2004, muitas empresas que eram abertas, se viram obrigadas a fechar

seu capital pela falta de vocação para operar conforme a regulação da CVM. Do

final da década 90 até 2003, o mercado ainda passou por algumas turbulências,

resultando em acentuada redução das ofertas públicas, causadas pela crise

energética (2001), instabilidade política e econômica da disputa eleitoral e

disparada do dólar (2002), além de desequilíbrios macroeconômicos. A baixa

preocupação com governança corporativa nas empresas também não motivaram a

entrada de novos investidores no mercado.

Atualmente o país vive um ambiente cultural e regulatório muito diferente

dos períodos anteriores. O fortalecimento da CVM como instituição reguladora do

mercado, reforma da Lei das Sociedades por Ações e preocupação na área de

governança, resultando na criação dos índices da Bovespa, foram fatores decisivos

para mitigar os riscos e retornar as operações no mercado de capitais.

O ano de 2004 foi um marco para o mercado de capitais brasileiro. Esse

período foi caracterizado pela retomada das ofertas públicas de ações, debêntures

e notas promissórias, que representaram 72% da movimentação do mercado

mobiliário no período e 78% em 2005.

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110

A receptividade do mercado às ofertas públicas mostrou a retomada de

confiança na economia nacional e fortalecimento do mercado de capitais. A

estabilidade político-econômica e redução do risco país associadas à valorização

do real frente ao dólar e maior adesão das empresas aos níveis de governança da

Bovespa, trouxeram os investidores externos novamente ao país. Segundo dados

da Bovespa, a maior parte das ofertas em 2004 ficaram com estrangeiros, 49%,

enquanto os fundos de investimentos tiveram uma participação de 24%, pessoas

físicas 15,1% e fundos de pensão com apenas 4,1%.

Uma característica observada nas ofertas de ações foi o crescente número de

empresas que fizeram oferta secundária, isto é, empresas que abriram o capital

sem a finalidade de captação para financiar seu crescimento. Apesar do mercado

de capitais representar uma alternativa às limitações de crédito bancário e

possibilidade de redução do custo de capital, as empresas o têm buscado também

como meio para melhor posicionamento e penetração no mercado de atuação,

consolidação da imagem institucional e reestruturação societária.

O preço das ações nos recentes lançamentos também representa outro

motivador para muitos acionistas controladores desejarem a abertura. Com a

venda de uma parcela de sua participação eles poderiam se favorecer dos altos

preços pagos atualmente pelo mercado. Efetivamente as empresas que abriram o

capital nos dois últimos anos tiveram o preço inicial de venda relativamente alto

em comparação com ações de outras firmas já negociadas em pregão.

Após 21 ofertas públicas de ações em 2004 e 28 em 2005, o mercado

começa a enxergar com cautela o grande fluxo de empresas desejosas de realizar

ofertas públicas. Muitos analistas temem uma nova onda de euforia de

lançamentos como ocorrido na década de 70, quando as empresas abriram o

capital motivadas pelos subsídios tributários e, posteriormente, por não terem

estrutura ou real intenção para ser aberta, fecharam o capital, gerando perdas para

os investidores que compraram os papéis. Aos poucos o porte das empresas vem

caído, assim como sua qualidade, já que algumas empresas que manifestaram

interesse na abertura não apresentaram um bom histórico de lucros ou são líderes

do mercado que atuam. Vale ressaltar a necessidade de cautela dos investidores na

hora de escolher as empresas para investir.

O estudo do mercado de cosméticos nacional e global permitiu observar que

o setor tem potencial para contínuo crescimento, já que atualmente apresenta um

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111

crescimento superior à média dos demais setores. Foi constatado que este mercado

está entre aqueles com maiores expectativas de geração de caixa futura e

possibilidade de crescimento. No Brasil, o histórico de crescimento do setor de

cosméticos também ultrapassa em muito o crescimento internacional, destacando

o potencial do país para o segmento. A correlação com a renda per capita e

crescimento da economia também leva a acreditar que o crescimento esperado do

PIB no Brasil terá um efeito positivo no consumo per capita de cosméticos. A

idade da população concentrada na faixa alvo do setor, além da grande

participação da mulher nesse percentual, o aumento da expectativa de vida, maior

segmentação de produtos e fortes estratégias de marketing e publicidade são

outros fatores que beneficiam o crescimento do setor nacional de cosméticos.

A Natura foi o caso de oferta pública inicial escolhido para o estudo por ter

representado um caso de sucesso. Representou a primeira empresa de cosméticos

e de capital nacional a abrir o capital, além de ser uma das primeiras a participar

do Novo Mercado da Bovespa e ter o investidor estrangeiro como principal

participante.

A oferta de ações da empresa não teve como objetivo a captação de

recursos. A distribuição foi secundária e motivada especialmente pelo desejo de

concretizar sua estratégia de expansão internacional e fortalecimento no mercado

doméstico, já que muitas competidoras internacionais estão presentes no país pelo

alto potencial de vendas. A abertura também representou um meio para alcançar

maior visibilidade no cenário globalizado e fácil acesso ao mercado de capitais a

menor custo, além de permitir a pulverização dos investimentos dos acionistas.

A escolha pela listagem no Novo Mercado da Bovespa foi uma

conseqüência do trabalho desempenhado ao longo dos anos, sendo mais um fator

que favoreceu a valorização das ações e o sucesso da operação. Anos antes de

assinar o convênio com a Bovespa para negociação no pregão, a Natura já adotava

altos padrões de transparência em seus relatórios financeiros e preocupava-se com

a idoneidade das informações destinadas ao mercado, sendo inclusive premiada

em vários momentos pelo melhor relatório financeiro de companhias fechadas.

Quase dois anos após a abertura de capital, as ações da Natura tiveram uma

valorização incrível, fechando 2004 em R$ 75,84/ação – valor 108% maior do que

o preço de lançamento – e R$ 102,98/ação em 2005, valorização de 182%.

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112

Sua receita bruta de R$ 1,9 bilhões de 2003 foi para R$ 2,5 bilhões em

2004, um pouco menor do que o esperado nas projeções, não obstante um

resultado surpreendente. A empresa tem visto sua receita líquida crescer na casa

dos 30% nos últimos três anos, com uma geração de fluxo de caixa crescente.

Enquanto a receita líquida do mercado em que atua cresceu a uma taxa

anual composta ou CAGR (Compound Annual Growth Rate) de 16,6% para o

período de 2000 a 2004, a Natura apresentou um CAGR de 26,6%. Seu EBITDA

de R$ 294 milhões em 2003 foi para R$ 432 milhões em 2004 e sua margem

EBITDA 24%. A empresa ainda observou sua participação de mercado subir de

17,1% em 2003 para 18,9% em 2004 e 20,5% (até o primeiro semestre de 2005).

Pode-se dizer que a velocidade de valorização das cotações da Natura são

resultado da confiança dos investidores. O desempenho apresentado ainda indica

que a empresa passa por um forte período de crescimento e geração financeira,

trilhando seu caminho para a expansão internacional e aumento da participação no

mercado doméstico, sem falar da consolidação de sua imagem institucional. As

projeções para os anos seguintes seguem a mesma tendência de crescimento e não

há razões para desacreditar que a empresa continuará essa curva ascendente.

Futuramente, caso haja necessidade de captação, uma vez mantida a relação

de transparência estabelecida com o mercado e mantida a liquidez das ações, não

há dúvidas de que a empresa tem tudo para conseguir menores taxas do que se

tivesse o capital fechado. Seu potencial de geração de caixa e baixa alavancagem,

ainda leva a esperar grandes distribuições de dividendos ao longo dos anos.

Quanto aos benefícios experimentados pelos acionistas com a abertura de

capital, a valorização das ações é o maior deles. A criação de liquidez patrimonial

com a negociação das ações no mercado também permitiu a diversificação das

carteiras de investimento e aumento dos rendimentos pela valorização

experimentada das ações.

Até o momento a empresa apresenta apenas excelentes resultados, não

havendo dúvidas sobre o sucesso da abertura. Contudo, não há como afirmar que

a empresa não experimentaria os mesmos resultados se não tivesse aberto o

capital. Talvez outros benefícios advindos dessa operação, e alguns custos diretos,

possam ser vistos a médio e longo prazo. Para tanto, futuros trabalhos se fazem

necessários para o acompanhamento do desempenho da corporação, liquidez das

ações e sua valorização.

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7 Referências Bibliográficas

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8 Anexos

Anexo 1: Balanço Patrimonial em Reais

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PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0310785/CA
Page 118: Marcella Koeler Alves Abertura de capital no Brasil: O estudo de … · 2015-03-07 · Marcella Koeler Alves Abertura de capital no Brasil: O estudo de caso da Natura Cosméticos

118

Anexo 2: Demonstração de Resultado do Exercício em Reais

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8

983.

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119

Anexo 3: Projeção da Dívida

Índice juros(1)

Moeda EstrangeiraEmpréstimos e Financ. USD VC 7,2% 29.548 100,0% 7,2%

bancários 21% Total 29.548 100% 7,2% -4,1%Moeda NacionalBNDES Exim BRL TJLP 3,7% 4.403 4,0% 0,1%BNDES BRL TJLP 4,0% 75.195 67,5% 2,7%

BNDES-FINAME BRL TJLP 5,2% 3.943 3,5% 0,2%BNDES-Poc BRL TJLP 4,5% 1.593 1,4% 0,1%Finep BRL TJLP 3,0% 26.215 23,5% 0,7%

79% Total 111.349 100% 3,8% 9,3%

% Dívida por

Moeda(2)

Peso dos Juros (% por ano)

(1)*(2)

Posição 31/3/2004 Moeda Dívida 03/2004

EncargosÍndice 2004E

Débito por Indexador

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013EMoeda Estrangeira 3,09% 10,18% 9,59% 9,45% 9,45% 9,45% 9,45% 9,44% 9,44% 9,45%

VC -4,11% 2,98% 2,39% 2,25% 2,25% 2,25% 2,25% 2,24% 2,24% 2,25%Moeda Nacional 13,10% 12,10% 11,80% 11,80% 11,80% 11,80% 11,80% 11,80% 11,80% 11,80%

TJLP 9,30% 8,30% 8,00% 8,00% 8,00% 8,00% 8,00% 8,00% 8,00% 8,00%Custo da Dívida (Kd) R$ 11,00% 11,52% 11,14% 11,10% 11,10% 11,10% 11,10% 11,10% 11,09% 11,10%Custo da Dívida (Kd) US$ 11,32% 11,73% 11,30% 11,26% 11,26% 11,26% 11,26% 11,26% 11,26% 11,26%

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Anexo 4: Capital de Giro Projetado Capital de Giro (R$ mil)

2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013E

Receita Liquida Operac diário 5.034 6.161 7.535 9.072 10.210 11.493 12.816 14.227 15.718 17.286 CPV diário 1.701 2.070 2.516 3.009 3.365 3.763 4.169 4.598 5.048 5.516

Vendas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1CPV 0,34 0,34 0,33 0,33 0,33 0,33 0,33 0,32 0,32 0,32Lucro 0,66 0,66 0,67 0,67 0,67 0,67 0,67 0,68 0,68 0,68

Creditos Comerciais CP 244.168 298.800 365.454 439.986 495.204 557.392 621.596 689.989 762.347 838.362 Estoques 104.604 127.285 154.710 185.058 206.939 231.425 256.421 282.803 310.452 339.215 Fornecedores CP 77.390 94.170 114.460 136.913 153.101 171.217 189.710 209.228 229.684 250.964

Prazo Med Recebim dias 49 49 49 49 49 49 49 49 49 49Prazo Med Estoques dias 62 62 62 62 62 62 62 62 62 62Prazo Med Forneced dias 45 45 45 45 45 45 45 45 45 45

Capital de Giro 271.382 331.915 405.704 488.131 549.042 617.600 688.307 763.563 843.115 926.613 Variacao de capital de giro 69.533 60.533 73.789 82.427 60.911 68.557 70.707 75.256 79.552 83.498

Ciclo Operacional dias 110 110 110 110 110 110 110 110 110 110Ciclo Financeiro dias 65 65 65 65 65 65 65 65 65 65

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Anexo 5: Premissas Macroeconômicas

Premissas Macroeconômicas 2003 2004E 2005E 2006E 2007E 2008E 2009E 2010E 2011E 2012E 2013ECrescimento Real PIB -0,20% 3,65% 4,14% 4,50% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0%IPCA 9,3% 6,0% 4,8% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5%Inflação Americana 2,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0%Taxa de câmbio média (R$/US$) 3,0760 2,9497 3,0375 3,1100 3,1799 3,2513 3,3243 3,3990 3,4753 3,5533 3,6331Variação (%) 5,36% -4,11% 2,98% 2,39% 2,25% 2,25% 2,25% 2,25% 2,24% 2,24% 2,25%TJLP 11,5% 9,3% 8,3% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0%Taxa Selic 14,2% 11,8% 10,8% 10,8% 10,8% 10,8% 10,8% 10,8% 10,8% 10,8%

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Anexo 6: Relatório de Avaliação dos Bancos

Instituição Preço R$ Ação Data Analista Metodologia

Pactual 64,40 abr/04Gustavo HungriaRicardo Kobayashi

FCD

Itaú 68,70 jul/04 Juliana Rozenbaum Múltiplo

UBS 54,69 jul/04Marcelo MesquitaMarcio Brito

FCD

Unibanco 68,78 ago/04 Tania Sztamfater FCD

Credit Suisse 67,00 set/04 Tufic SalemJulia Rizzo FCD

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