Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

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    COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ

    SIMULAO COMPUTACIONAL DE ESCOAMENTO TURBULENTO EM

    COMPRESSOR AXIAL UTILIZANDO FERRAMENTA DE CFD

    Marcelo Rodrigues Simes

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-graduao em Engenharia

    Mecnica, COPPE, da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, como parte dos requisitosnecessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Engenharia Mecnica.

    Orientadores: tila Pantaleo Silva Freire

    Su Jian

    Rio de Janeiro

    Junho de 2009

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    Simes, Marcelo Rodrigues

    Simulao Computacional de Escoamento Turbulento

    em Compressor Axial Utilizando Ferramenta de

    CFD/Marcelo Rodrigues Simes. Rio de Janeiro:

    UFRJ/COPPE, 2009.

    XIX, 111 p.: il.; 29,7 cm.

    Orientadores: tila Pantaleo Silva Freire

    Su Jian

    Dissertao (mestrado) UFRJ/ COPPE/ Programa de

    Engenharia Mecnica, 2009.

    Referencias Bibliogrficas: p. 109-111.

    1. Compressor. 2. Fluidodinmica Computacional. 3.

    Escoamento Turbulento. I. Freire, tila Pantaleo Silva et

    al II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,

    Programa de Engenharia Mecnica. III. Ttulo.

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    Ao Dr. Xiao Xiang (In Memorian), por seus conselhos,

    ensinamentos e sua contribuio inestimveis.

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    AGRADECIMENTOS

    Concluir uma Dissertao de Mestrado uma tarefa difcil que demanda

    disciplina, dedicao e tempo, porm a recompensa obtida aps tantos sacrifcios

    muito gratificante. Este trabalho no seria concludo se no fosse pela ajuda de diversas

    pessoas que me apoiaram nesta jornada.

    A primeira pessoa a quem eu quero agradecer a minha esposa Aline. Sem o

    seu apoio, carinho, compreenso e incentivo, talvez eu no tivesse chegado aqui.

    Agradeo aos meus pais por minha formao e educao na minha vida.

    Quero agradecer tambm PETROBRAS, pela oportunidade e estmulo dado

    aos seus funcionrios para buscarem uma constante capacitao profissional.

    Agradeo a COPPE-UFRJ, centro de excelncia em ensino e pesquisa, pela

    oportunidade e pela alta qualidade de seu corpo docente.

    Fundamental tambm foi o conhecimento transmitido pelo Dr. Xiao Xiang (In

    Memorian), uma pessoa brilhante e profissional de elevado conhecimento na rea de

    projeto de compressores e CFD, capaz de dar um novo significado ao trabalho.A equipe do LASME-COPPE deixo minha gratido, especialmente aos futuros

    engenheiros mecnicos Bruno Guimares de Montojos e Alessandro Cassolari Vaz da

    Silva pelo apoio na configurao e elaborao das simulaes em CFD.

    Finalmente quero agradecer tambm aos professores Su Jian e tila pela

    orientao, confiana, contribuio e apoio a esta dissertao de mestrado.

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    Resumo da Dissertao apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

    necessrios para a obteno do grau de Mestre em Cincias (M.Sc.)

    SIMULAO COMPUTACIONAL DE ESCOAMENTO TURBULENTO EM

    COMPRESSOR AXIAL UTILIZANDO FERRAMENTA DE CFD

    Marcelo Rodrigues Simes

    Junho/2009

    Orientadores: tila Pantaleo Silva Freire

    Su Jian

    Programa: Engenharia Mecnica

    Este trabalho apresenta a aplicao de uma ferramenta de fluidodinmica

    computacional (CFD) na avaliao do escoamento turbulento no interior de um rotor de

    compressor axial transnico denominado NASA Rotor 37. O principal objetivo deste

    trabalho foi fornecer solues numricas precisas para o problema proposto e comparar

    os resultados encontrados com os de testes experimentais disponveis na literatura. Trs

    modelos de turbulncia disponveis no cdigo ANSYS CFX 11 foram testados e

    validados contra dados experimentais. Os modelos de turbulncia, todos de duas

    equaes, selecionados so: -padro, -e SST. Os detalhes e etapas da preparao

    das simulaes so apresentados. As curvas de desempenho do rotor foram obtidas para

    cada modelo de turbulncia e os resultados comparados com dados experimentais.

    Tambm foram observados se os modelos avaliados representaram corretamente os

    fenmenos fsicos do problema. Conclui-se que o modelo de turbulncia SST foi

    validado para o problema e este provou ser superior ao -nas comparaes, e estes

    dois superiores ao modelo -que apresentou elevado desvio dos resultados.

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    Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

    COMPUTATIONAL SIMULATION OF TURBULENT FLOW IN AN

    AXIAL-FLOW COMPRESSOR USING CFD TOOL

    Marcelo Rodrigues Simes

    June/2009

    Advisors: tila Pantaleo Silva Freire

    Su Jian

    Department: Mechanical Engineering

    This work presents the application of a computational fluid dynamics tool (CFD)

    in the evaluation of the turbulent flow inside a transonic axial compressor rotor named

    NASA Rotor 37. The major objective of this work was to provide accurate numerical

    solution for the proposed problem and to compare the numerical results with available

    experimental data in the literature. Three turbulence models available in software

    ANSYS CFX 11 were tested and validated against experimental data. The turbulence

    models selected, all being two-equation type, are standard -, -and SST. The steps

    and details for the simulation preparation are presented. The compressor rotor

    performance curves were obtained for each turbulence model and numerical results

    were compared with experimental data. It was also verified whether the turbulence

    models could correctly represent the real physical phenomena of this problem. It was

    concluded that the turbulence model SST was validated for this problem, and proved to

    be superior to the -model in the comparison and both models were superior to the -

    model that presented high deviation from the results.

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    Sumrio

    Resumo vi

    Abstract vii

    ndice de Figuras xi

    ndice de Tabelas xiv

    Lista de Smbolos xv

    1 Introduo 1

    1.1 Motivao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

    1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

    1.3 Escopo e metodologia do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    2 Reviso Bibliogrfica 6

    2.1 Uma viso histrica do projeto aerodinmico de turbomquinas . . . 6

    2.1.1 Projeto unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    2.1.2 Tratamento bidimensional do projeto . . . . . . . . . . . . . . 9

    2.1.3 O incio do tratamento tri-dimensional . . . . . . . . . . . . . 10

    2.1.4 Escoamento sobre a parede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

    2.1.5 Escoamento atravs das palhetas e curvatura das linhas de

    corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    2.1.6 Mtodos de projeto tridimensionais . . . . . . . . . . . . . . . 14

    2.1.7 Mtodos experimentais no desenvolvimento e pesquisa de com-

    pressores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

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    2.2 Anlise de projeto de compressores axiais transnicos . . . . . . . . . 16

    2.3 Experincia e pesquisas em fluidodinmica computacional em 3D . . 18

    2.4 Estudos do comportamento fluidodinmico de compressores axiais

    transnicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    3 Fundamentos da Aerotermodinmica para Compressores Axiais 24

    3.1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    3.2 Compressores axiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    3.3 Fundamentos da Termodinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    3.3.1 Equaes de estado para fluidos . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

    3.3.2 Eficincia adiabtica e politrpica . . . . . . . . . . . . . . . . 32

    3.4 Compressibilidade dos fluidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    3.4.1 Onda de choque normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    3.4.2 Onda de choque oblqua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

    3.4.3 Leque de expanso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    3.5 Caractersticas aerodinmicas de um compressor axial . . . . . . . . . 41

    3.5.1 Tringulo de velocidades para um estgio . . . . . . . . . . . . 43

    3.5.2 Geometria bsica de uma palheta . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    4 Fluidodinmica Computacional 50

    4.1 Introduo mecnica dos fluidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

    4.1.1 Princpio da conservao de massa . . . . . . . . . . . . . . . 51

    4.1.2 Princpio da conservao da quantidade de movimento linear . 51

    4.1.3 Princpio da conservao da quantidade de movimento angular 52

    4.1.4 Equao da energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    4.2 Metodologia do CFD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

    4.3 Teoria de Turbulncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    4.3.1 As equaes de Navier-Stokes de mdia de Reynolds . . . . . . 57

    4.3.2 Equaes de transporte para o tensor de Reynolds . . . . . . . 61

    4.4 Modelos de Turbulncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

    4.5 Modelos baseados no conceito de viscosidade turbulenta . . . . . . . . 65

    4.5.1 O modelo- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

    ix

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    4.5.2 O modelo- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    4.5.3 O modelo shear stress transport (SST) . . . . . . . . . . . . . 75

    4.5.4 Concluso sobre os modelos de turbulncia . . . . . . . . . . . 77

    5 Anlise de Resultados 79

    5.1 Descrio do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

    5.1.1 A geometria do compressor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

    5.1.2 Gerao da malha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

    5.1.3 Condies de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

    5.2 Resultados encontrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    6 Concluses e Sugestes 106

    6.1 Concluses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

    6.2 Recomendaes e Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

    Referncias Bibliogrficas 109

    x

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    Lista de Figuras

    2.1 Tringulos de velocidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    2.2 Tringulos de velocidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82.3 Viso conceitual das linhas de corrente no anel para a hiptese de

    equilbrio radial: carcaa na linha superior e cubo na inferior (Cumpsty

    e Greitzer, 2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    2.4 Representao das modificaes em palhetas em funo do plano cir-

    cunferencial e meridional (Benini e Biollo, 2007) . . . . . . . . . . . . 18

    2.5 Bloqueio em funo da altura da palheta para 3 rotaes. Mediesa 115% da corda (Suder, 1998) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    2.6 Interao entre uma onda de choque normal e camada limite (Green,

    1971) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

    3.1 Compressor axial (Cortesia MAN-TURBO) . . . . . . . . . . . . . . . 25

    3.2 Curva de desempenho de um compressor axial (Cortesia MAN-TURBO) 26

    3.3 Desenho de corte de um compressor axial (cortesia MAN-TURBO) . 27

    3.4 Volume de Controle (Dixon, 2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    3.5 Ponto esttico 1, ponto de estagnao 01 e ponto de estagnao isen-

    trpico de um fluido (Dixon, 2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    3.6 Diagrama entalpia-presso (www.mspc.eng.br mai/09) . . . . . . . . 31

    3.7 Diagrama entalpia entropia (Aungier, 2003) . . . . . . . . . . . . . . 33

    3.8 Diagrama entropia-entalpia (Whitfield e Baines, 1990) . . . . . . . . . 34

    3.9 Diagrama entropia-entalpia (Whitfield e Baines, 1990) . . . . . . . . . 35

    3.10 ngulo de Mach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

    3.11 Onda de choque normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    xi

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    3.12 Onda de choque oblqua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    3.13 Leque de expanso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    3.14 Desenho esquemtico em corte de um compressor axial . . . . . . . . 42

    3.15 Tringulo de velocidades para as ps guias de entrada . . . . . . . . . 44

    3.16 Tringulo de velocidades para o rotor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    3.17 Geometria bsica de um aeroflio (Aungier, 2003) . . . . . . . . . . . 46

    3.18 Geometria bsica de um aeroflio (Aungier, 2003) . . . . . . . . . . . 47

    3.19 Abertura e vo entre duas palhetas adjacentes . . . . . . . . . . . . . 49

    4.1 As diferentes regies de umescoamento prximo uma parede (Silva Freireet al., 2006) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

    5.1 Vista lateral do rotor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

    5.2 Vista transversal em corte da ponta da palheta . . . . . . . . . . . . 82

    5.3 Vista superior com direo de rotao e sentido do escoamento . . . . 84

    5.4 Rotor 37 em 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

    5.5 Vista do volume de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

    5.6 Malha gerada em vista superior das palhetas (ANSYS CFX) . . . . . 87

    5.7 Representao das regies de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    5.8 Grfico com curva de razo de presso por vazo mssica normalizada 92

    5.9 Grfico com curva de eficincia por vazo mssica normalizada . . . . 93

    5.10 k-, contorno do nmero de Mach relativo a 95% do span . . . . . . . 94

    5.11 k-, contorno do nmero de Mach relativo a 95% do span . . . . . . . 95

    5.12 SST, contorno do nmero de Mach relativo a 95% do span . . . . . . 95

    5.13 k-, detalhe da interao entre a onda de choque e a camada limite . 96

    5.14 k-, detalhe da interao entre a onda de choque e a camada limite . 97

    5.15 SST, detalhe da interao entre a onda de choque e a camada limite 97

    5.16 SST, contorno do valor de entropia a 80% do span . . . . . . . . . . . 98

    5.17 k-, contorno do valor de entropia no bordo de fuga . . . . . . . . . . 99

    5.18 k-, contorno do valor de entropia no bordo de fuga . . . . . . . . . . 99

    5.19 SST, contorno do valor de entropia no bordo de fuga . . . . . . . . . 100

    5.20 Bancada de teste do experimento (laboratrio da NASA) . . . . . . . 101

    xii

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    5.21 Grfico comparativo razo de temperatura por span . . . . . . . . . . 102

    5.22 Grfico comparativo razo de presso por span . . . . . . . . . . . . . 102

    5.23 Linhas de corrente na superfcie da palheta e do hub no lado suco . 103

    5.24 Vetores de velocidade no tip clearance . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

    5.25 Contorno de nmero de Mach a 20% da corda . . . . . . . . . . . . . 105

    5.26 Contorno de nmero de Mach a 20% da corda . . . . . . . . . . . . . 105

    xiii

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    Lista de Tabelas

    4.1 Vantagens e desvantagens dos modelos de turbulncia de duas equaes 78

    5.1 Principais parmetros do Rotor 37 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

    5.2 Dados experimentais no ponto de projeto . . . . . . . . . . . . . . . . 83

    5.3 Condies de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

    5.3 Condies de contorno (Continuao) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

    5.4 Detalhes do solver . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

    5.5 Detalhes do domnio rotor 37 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

    5.6 Modelos de turbulncia e funo de parede . . . . . . . . . . . . . . . 90

    5.7 Razo de Presso Global (Ptot/Pref) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    5.8 Eficincia Adiabtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    5.9 Pontos da curva de desempenho experimental . . . . . . . . . . . . . 92

    xiv

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    Lista de Smbolos

    A rea [m2]

    a velocidade do som [m/s]

    b corda [m]

    C velocidade absoluta [m/s]

    Cp calor especfico presso constante [kJ/kg]

    Cv calor especfico a volume constante [kJ/kg]

    C constante adimensional emprica

    e energia interna especfica total [kJ/kg]

    fi fora de corpo

    g acelerao da gravidade - 9,81 m/s2

    h entalpia especfica [kJ/kg]

    H head [m2/s2]

    i ngulo de incidncia

    k energia cintica turbulenta [m

    2

    /s

    2

    ], relao de calores especficos oucoeficiente isentrpico do gs

    L comprimento [m]

    L escala de comprimento [m]

    xv

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    lt comprimento caracterstico [m]

    M nmero de Mach

    M nmero de Mach relativo

    m massa [kg]

    m vazo mssica [kg/s]

    N rotao [rpm]

    n expoente politrpico, direo normal

    p presso [Pa]

    Q vazo [m3/s]

    q taxa de calor [kJ/s]

    q troca de calor especfico [J/Kg]

    Re Nmero de Reynolds

    R constante do gs [kJ/kg K]

    Rp razo de presso

    R constante universal dos gases [kJ/kmolK]

    r raio [m]

    Sij tensor da taxa de deformao desviatria

    s entropia [kJ/kgK], afastamento entre palhetas

    T temperatura [K]

    t tempo [s]

    U velocidade perifrica do impelidor [m/s],

    u vetor velocidade [m/s]

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    u velocidade instantnea [m/s]

    U velocidade mdia [m/s]

    u velocidade flutuante [m/s]

    v volume especfico [m3/kg]

    w trabalho especfico [J/kg]

    W velocidade relativa [m/s]

    Z altura [m]

    ngulo de ataque

    ngulo de escoamento relativo em relao direo radial

    ngulo de escoamento relativo em relao direo radial

    1 ngulo de entre a linha da central e a corda e no bordo de ataque

    2 ngulo de entre a linha da central e a corda e no bordo de fuga

    ngulo de escalonamento da palheta (ou de montagem)

    eficincia

    taxa de dissipao da energia cintica turbulenta

    energia cintica turbulenta por unidade de massa

    1 ngulo entre a direo axial e a linha de arqueamento para o bordo

    de ataque

    2 ngulo entre a direo axial e a linha de arqueamento para o bordo

    de fuga

    ngulo de arqueamento (camberline)l

    viscosidade [Pa.s], ngulo do cone de Mach

    xvii

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    viscosidade cinemtica [m2/s], ngulo do cone de Mach

    t viscosidade turbulenta

    massa especfica [kg/m3]

    taxa de dissipao de energia cintica

    solidez da cascata

    k parmetro constante para fechamento das equaes de RANS

    ij tensor tenso

    taxa de dissipao turbulenta especfica

    t difusividade turbulenta

    velocidade angular

    ij delta de KRONECKER

    Subscritos

    B palheta

    C compressor

    CF X CFX

    E Euler

    e sada

    h hub

    m componente meridional

    N extremidade

    n processo politrpico, direo normal

    xviii

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    19/130

    P superfcie de presso

    p politrpico

    R rotor, razo

    r direo radial

    s processo ideal ou isoentrpico

    slip escorregamento

    stg estgio

    u componente tangencial

    t turbulento

    direo circunferencial

    processo isoentrpico

    0 estado de estagnao

    1 2 localizao no impelidor

    xix

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

    20/130

    Captulo 1

    Introduo

    1.1 Motivao

    Diante da intensificao do processo de abertura do mercado mundial, denomi-

    nado Globalizao, especialmente a partir do incio do presente sculo, propiciando

    a fuso de grandes companhias, para as indstrias, em geral, os maiores desafios pas-saram a ser a elevao dos ndices de produtividade, da confiabilidade operacional,

    e o atendimento da demanda da sociedade pela reduo das emisses de gases cau-

    sadores de efeito estufa. Nas indstrias de petrleo, gs natural, petroqumica e

    biomassa as turbomquinas so os maiores consumidores ou geradores de energia

    trmica ou eltrica, conforme sua aplicao.

    As turbomquinas so equipamentos dinmicos que transferem energia entreum eixo girante, que denominamos rotor, e um fluido, e podem ser classificadas de

    forma simplificada como turbinas e compressores. As turbinas so mquinas que

    realizam trabalho a partir da expanso de um fluido em uma roda solidria a um

    eixo, seja para o acionamento de um gerador eltrico ou para o acionamento de outra

    mquina ou equipamento, enquanto os compressores transferem a energia mecnica

    atravs de seu rotor para a compresso de um fluido. Os compressores dinmicospodem ser divididos em centrfugos e axiais.

    Os compressores axiais so os que possuem projeto e fabricao mais comple-

    xos, pois so construdos a partir de conjuntos de palhetas em arranjos circulares.

    Diversas fileiras dessas palhetas so montadas tanto no eixo quanto na parte estaci-

    1

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    onria, no sentido axial do eixo da mquina de forma a transmitir energia mecnica

    presente no conjunto rotativo convertendo-a em energia termodinmica ao final do

    conjunto estacionrio. Cada seqncia de duas fileiras, uma rotativa e uma estaci-

    onria, constituem-se em um estgio de compresso, e o somatrio desses estgios

    forma o compressor.

    Os compressores axiais so comumente encontrados em duas aplicaes: com-

    pressor de ar em turbinas a gs de mdio e grande porte, compressor de ar em

    unidades de craqueamento cataltico fluido (CCF) na indstria de petrleo e, ainda,

    sopradores de ar na indstria siderrgica. Por suas caractersticas construtivas, ope-

    ram com elevadas vazes volumtricas e razes de compresso moderadas. Seu custo

    de aquisio maior do que o de um compressor centrfugo. Porm, por possurem

    maior eficincia termodinmica, resultando em um custo operacional energtico sig-

    nificativamente inferior, temos assim um menor tempo de retorno do capital inves-

    tido. Atualmente os maiores fabricantes mundiais de compressores axiais, os quais

    possuem tecnologia de ponta em termos de eficincia e qualidade do projeto, esto

    localizados principalmente nos Estados Unidos, Europa e Japo.

    No Brasil, este tipo de equipamento utilizado com maior freqncia na in-

    dstria do petrleo e gs, onde a companhia PETROBRAS se destaca com diversas

    aplicaes, como turbinas a gs na gerao de energia eltrica em plantas termel-

    tricas ou em plataformas em alto mar, no acionamento de equipamentos mecnicos

    e na compresso de ar em unidades de CCF. Por possuir larga experincia em sua

    utilizao, passando pela especificao desse tipo de mquinas, no acompanhamento

    de sua fabricao e dos testes de aceitao de fbrica das mesmas, na manuteno

    e na sua operao, a companhia possui um corpo tcnico com elevado grau de co-

    nhecimento acumulado, disseminado em suas unidades operacionais espalhadas pelo

    pas.

    Visando reduzir a dependncia do mercado internacional tanto na assistncia

    tcnica, como no desenvolvimento de solues para a otimizao do desempenho

    termodinmico desses equipamentos, diversas linhas de pesquisa e projetos foram e

    continuam sendo estimulados. possvel destacar os avanos alcanados nas reas de

    manuteno preditiva ao se acompanhar o desempenho termodinmico da mquina

    2

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    durante uma campanha operacional atravs de softwareprprio e assim identificar a

    necessidade, ou no, de uma interveno, baseando-se na condio do equipamento.

    Na rea de especificao tcnica, novos critrios foram adotados levando em conta

    o acompanhamento de testes de aceitao do equipamento nas instalaes do fabri-

    cante e, ainda, estudos que apontaram falhas de projeto de fornecedores. Na rea

    de automao e controle foi possvel desenvolver mtodos numricos para controlar

    o ponto de menor vazo do compressor em funo das condies operacionais e com

    isso aumentar a flexibilidade do envelope operacional da mquina. Para o melhor

    entendimento dos fenmenos aerotermodinmicos que ocorrem no interior dessas

    mquinas indispensvel o aprofundamento na teoria em torno de seu projeto.

    O estudo do comportamento fluidodinmico de um compressor axial funda-

    mental quando se busca obter o melhor rendimento deste equipamento. Para isso,

    indispensvel a especializao em diversas disciplinas como termodinmica, mec-

    nica dos fluidos, projeto mecnico, dentre outras. Com a evoluo de ferramentas

    computacionais ora disponveis possvel realizar os complexos clculos necessrios

    para o projeto aerotermodinmico de um compressor em um tempo razovel. Os

    softwares desenvolvidos, e disponveis comercialmente, incorporam diferentes mo-

    delos de turbulncia e so capazes de calcular numericamente as equaes da flui-

    dodinmica e transferncia de calor em tempo reduzido, possibilitando simular o

    comportamento do escoamento do fluido no interior do compressor e analisar a qua-

    lidade de seu projeto.

    Com isso, os fabricantes desses equipamentos puderam reduzir o prazo neces-

    srio ao desenvolvimento de um novo perfil aerodinmico, pois o tempo e elevados

    custos anteriormente despendidos na criao de diversos prottipos para testes em

    bancada foram eliminados, e os esforos foram voltados para a otimizao do pro-

    jeto em 3D. Esses fabricantes, devido ao elevado grau de conhecimento e experi-

    ncia necessrios, desenvolvem seus prprios algoritmos para soluo das equaes,

    incorporando sua tecnologia proprietria, agregando seu conhecimento adquirido em

    simulaes e evitando tambm que seus concorrentes compartilhem seus desenvol-

    vimentos.

    A motivao principal desta tese de mestrado adquirir o conhecimento tc-

    3

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    nico e terico para utilizar as ferramentas computacionais disponveis comercial-

    mente para aplic-las na compreenso dos fenmenos aerotermodinmicos do es-

    coamento no interior do compressor. Com o domnio desta tecnologia ser possvel

    incorporarmos mais uma linha de desenvolvimento na PETROBRAS visando buscar

    novos caminhos para vencer os desafios de se produzir energia com a maior efici-

    ncia. Os resultados ora obtidos serviro de base para diversas aplicaes na rea

    de turbomquinas, como a avaliao de equipamentos existentes e a verificao do

    projeto de fabricantes. Devido a essa ferramenta ser aplicvel a diversos tipos de

    turbomquinas, como turbinas, compressores, ventiladores, turbinas elicas e bom-

    bas centrfugas, linhas de pesquisa envolvendo a indstria, os centros de pesquisa

    e as universidades, objetivando o aumento do contedo nacional no projeto e na

    fabricao destes equipamentos devem ser incentivadas.

    1.2 Objetivos

    O objetivo dessa dissertao de mestrado aplicar as ferramentas de fluidodi-

    nmica computacional, tambm conhecidas como CFD, na avaliao do comporta-

    mento tridimensional, viscoso e turbulento do escoamento no interior de um rotor

    de um compressor axial transnico chamado NASA 37. Trs modelos de turbulncia

    baseados no conceito de viscosidade turbulenta, todos de duas equaes, foram sele-

    cionados para as simulaes numricas do problema: -,-e SST. O programa de

    CFD utilizado nas simulaes numricas ser o CFX fornecido pela empresa ANSYS.

    Sero realizadas diversas simulaes com cada modelo de turbulncia com o

    intuito de se traar as curvas de desempenho do compressor. Os resultados obti-

    dos sero comparados com dados experimentais disponveis na literatura para esse

    rotor. O modelo de turbulncia que representar com melhor acurcia o comporta-

    mento termodinmico do compressor ser validado para o problema. Tambm ser

    verificado se o modelo de turbulncia foi capaz de reproduzir os fenmenos fsicos

    no interior do compressor.

    4

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

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    1.3 Escopo e metodologia do trabalho

    Este trabalho ir apresentar o conhecimento necessrio para avaliar o projeto

    aerodinmico de um compressor, compreender os fenmenos fsicos relacionados ao

    escoamento do fluido no interior de um compressor axial transnico e tambm para

    a adequada utilizao das ferramentas de CFD disponveis comercialmente.

    Inicialmente ser realizada uma reviso bibliogrfica de diversos autores que

    desenvolveram estudos relacionados a: (i) projeto de compressores axiais, (ii) apli-

    cao do CFD na pesquisa, projeto e avaliao de compressores e (iii) estudo dos

    fenmenos fluidodinmicos do escoamento.

    Dois captulos do texto sero dedicados apresentao de um resumo da teoria

    necessria para compreenso do trabalho desenvolvido. Portanto, as disciplinas de

    termodinmica, construo de perfis aerodinmicos, fluidodinmica computacional

    e modelos de turbulncia sero tratadas.

    No captulo seguinte ser descrito o escopo do trabalho. O trabalho envolve

    utilizar um perfil aerodinmico conhecido para a aplicao do CFD. O perfil sele-

    cionado foi criado pela NASA para a construo de um rotor de um compressor

    axial transnico, chamado rotor 37. As seguintes etapas sero descritas: (i) Apre-

    sentao do rotor NASA 37 e (ii) Descrio das simulaes realizadas e modelos de

    turbulncia aplicados.

    Finalmente sero apresentados os resultados obtidos atravs das diversas simu-

    laes realizadas com o programa de CFD disponvel comercialmente. O aplicativoselecionado foi o CFX desenvolvido pela empresa ANSYS. Este programa utili-

    zado h anos na simulao numrica tridimensional de turbomquinas. Os modelos

    de turbulncia selecionados foram k-, o k- e o SST. Com os resultados das si-

    mulaes obtidos ser possvel levantar a curva de desempenho do rotor 37 com os

    trs modelos de turbulncia simulados no CFX. A anlise dos resultados ser deta-

    lhada, para melhor compreenso dos fenmenos fluidodinmicos, e apresentada emconjunto com algumas observaes feitas por outros pesquisadores. Na concluso,

    ser validado para o problema proposto, o modelo de turbulncia que alcanar os

    resultados termodinmicos mais prximos dos encontrados nos dados experimentais.

    5

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

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    Captulo 2

    Reviso Bibliogrfica

    A reviso da literatura publicada por especialistas aprofunda e dissemina ex-

    perincias e desenvolvimentos sobre uma mesma rea de conhecimento. Pretende-se

    estudar diversos artigos relacionados aos temas relacionados a esta tese de mestrado

    e apresent-los conforme sua relevncia e aplicao.

    2.1 Uma viso histrica do projeto aerodinmico de

    turbomquinas

    O projeto aerodinmico de turbomquinas se desenvolveu com maior intensi-

    dade no decorrer do sculo passado. Os projetistas muitas vezes obtinham sucesso

    utilizando mtodos de projeto que muitas vezes no traziam uma compreenso com-

    pleta das caractersticas do escoamento. Muitas dessas lacunas estimularam o desen-

    volvimento de novas idias e conceitos que superaram os mtodos antes utilizados.

    Porm, at hoje no possvel se descrever todos os efeitos fluidodinmicos que

    ocorrem no campo do escoamento atravs das palhetas e sobre a interao entre os

    rotores adjacentes.

    Cumpsty e Greitzer (2004) realizaram um estudo sobre a evoluo histricado projeto de turbomquinas descrevendo as principais caractersticas e limitaes

    de cada mtodo. Alm disso, algumas discusses sobre os problemas que ainda so

    obstculos para as futuras geraes tambm so abordadas. Sero relatadas abaixo

    6

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

    26/130

    as principais contribuies do texto sobre o assunto.

    2.1.1 Projeto unidimensionalA primeira simplificao feita para o projeto de turbomquinas foi considerar

    um plano de referncia esttico para o escoamento sobre as palhetas fixas e um

    plano de referncia rotativo para as palhetas do rotor. Era assumido que os efeitos

    da prxima fileira de palhetas eram tomados de forma axi-simtrica em relao

    jusante da anterior e a montante da seguinte, obtendo um plano de referncia

    uniforme para o estator e para o rotor. Com isso um tringulo de velocidadespoderia ser criado para cada plano de referncia. Como resultado, a equao do

    Head de Euler foi elaborada combinando a quantidade de energia fornecida pelo

    escoamento com o torque gerado ou recebido pelo sistema.

    h0 = (U v) (2.1)

    ondeh0 entalpia de estagnao,U a velocidade de rotao ev a componente

    tangencial da velocidade. De maneira geral esta equao utilizada at hoje para

    avaliar o projeto preliminar de compressores.

    No comeo, as turbinas eram construdas com palhetas com perfil reto ou em

    arco circular, e a variao do perfil em funo do comprimento da palheta era des-

    considerado, ou seja, a variao da velocidade perifrica em funo do raio do rotor

    era calculada para um valor mdio e o escoamento era visto como unidimensional

    com perdas. Para compressores axiais as eficincias encontradas eram muito baixas,

    devido, principalmente, ao efeito de estagnao da vazo em pores da palheta.

    Nesta poca (em 1920) o conceito de camada limite era relativamente novo,

    e os especialistas em mecnica dos fluidos no eram familiarizados com a aplicao

    desse conceito no projeto. A partir deste momento a preocupao com os efeitos da

    separao da camada limite na palheta e nas paredes do compressor foi levantada e

    estudada.

    Ciclo de Surge

    Atualmente o uso do tringulo de velocidades, representado na figura 2.1,

    7

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    27/130

    Figura 2.1: Tringulos de velocidades

    Figura 2.2: Tringulos de velocidades

    8

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    28/130

    utilizado em conjunto com correlaes empricas para estimar, por exemplo, o au-

    mento da presso esttica e a perda na presso total. Tambm pode ser utilizado

    para avaliar a condio de estrangulamento da vazo devido proximidade da ve-

    locidade do som no escoamento (tambm conhecido como choke), ou verificar a

    limitao de estabilidade do compressor que possa resultar em reverso do fluxo

    devido incapacidade do compressor ultrapassar a presso do sistema a jusante do

    compressor. Este fenmeno denominado surgeem ingls e, sem traduo livre para

    o portugus, representa o ponto da curva vazo-razo de presso onde a razo de

    presso mxima, sendo que, a partir deste ponto, a presso do sistema rompe a

    capacidade de compresso do equipamento e uma grande flutuao na vazo per-

    cebida com possibilidade de escoamento do fluido em fluxo reverso. Esta flutuao

    repetida em ciclos at que a razo de presso seja compatvel ao projeto da mquina

    novamente. O surge pode causar diversos danos a um compressor axial, inclusive a

    ruptura das palhetas devido s grandes tenses a que estas so submetidas durante

    o ciclo. A figura 2.2 apresenta esquematicamente um ciclo de surge completo.

    2.1.2 Tratamento bidimensional do projeto

    Por volta de 1930 muitos compressores axiais j utilizavam o perfil aerodin-

    mico da palheta em forma de aeroflio. Nessa poca, as palhetas j eram construdas

    com um ngulo de toro em relao raiz para compensar a diferena da veloci-

    dade tangencial do escoamento em funo da direo radial, e com isso era possvelmanter constante o ngulo de incidncia do fluido na palheta.

    Alguns tneis de vento foram construdos para testar as palhetas em cascata

    e avaliar seu desempenho. Os resultados obtidos serviram de base para os projetos

    seguintes e os conhecimentos adquiridos durantes os anos criaram uma srie de cor-

    relaes, como por exemplo as que relacionam a inclinao das palhetas em relao

    direo axial, rotao e solidez do rotor (o quo prximo as palhetas podem serposicionadas), tambm conhecidas como correlao de Howell, ao passo que corre-

    laes referentes ao desvio do fluxo, ou seja, a diferena entre a direo do fluxo na

    sada da palheta e a direo da sada da palheta conhecida como correlaes de

    Carter.

    9

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    29/130

    Diversas correlaes empricas foram desenvolvidas nos anos seguintes, sendo

    uma das mais importantes criadas aps a segunda guerra mundial, chamada fator

    de difuso, que relaciona a inclinao da palheta, sua curvatura e solidez com o fator

    de carga aerodinmica da palheta.

    D= 1 V2V1 s

    2b

    |v2 v1|V1

    (2.2)

    ondeb a corda e so afastamento entre palhetas.

    O auge do desenvolvimento das correlaes foi nos anos 50, porm at hoje

    os fabricantes de compressores utilizam esta prtica internamente para avaliao deseus perfis aerodinmicos. Uma mudana na forma de se projetar os compressores,

    advindo do desenvolvimento de procedimentos computacionais para clculo do es-

    coamento potencial transnico foi o uso da distribuio da velocidade prescrita na

    palheta, ou seja, a definio de uma distribuio da presso ao longo da superfcie

    de suco que no permitisse a separao da camada limite.

    2.1.3 O incio do tratamento tri-dimensional

    Nos anos 30 pouco era conhecido que o escoamento atravs dos rotores produzia

    um vrtice entre os anis rotores e os estatores, e que esse fenmeno implicava

    em um diferencial de presso na direo radial. Uma aproximao da variao

    da presso radial afirma que a acelerao centrpeta gerada pelo escoamento em

    vrtice balanceada por um gradiente de presso radial, tambm conhecido comoequilbrio radial. Sua representao matemtica deriva da forma da equao do

    momento radial como:

    dp

    dr =

    v2r

    (2.3)

    onder o raio a partir do centro e v a velocidade tangencial.

    A equao do equilbrio radial simples considerada uma aproximao por ne-

    gligenciar a curvatura das linhas de corrente em outras direes e, portanto descon-

    siderar a acelerao radial exceto pela fora centrpeta. Atravs do plano meridional

    o equilbrio radial simples impe que a mudana na posio radial da linha de cor-

    10

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    rente s ocorre nas palhetas conforme figura 2.3, seguindo uma trajetria constante

    nos espaos anulares.

    Figura 2.3: Viso conceitual das linhas de corrente no anel para a hiptese deequilbrio radial: carcaa na linha superior e cubo na inferior (Cumpsty e Greitzer,

    2004)

    A equao 2.3 pode ser combinada com a equao do Head de Euler para gerar

    expresses para a variao da presso e temperatura de estagnao. Era prtica

    comum no projeto de turbomquinas considerar uniforme a distribuio do aumento

    da presso de estagnao. Se as perdas fossem uniformes na direo radial, isto

    corresponderia a um aumento uniforme no aumento da temperatura de estagnao.

    Para manter uniforme a temperatura de estagnao atravs do compressor seria

    imposto que o trabalho consumido pelo compressor seria uniforme na direo radial,

    e portanto:

    (U v) = (r2v2 r1v1) =constante (2.4)

    A equao acima satisfeita se a velocidade circunferencial obedece s seguintes

    relaes,v2r2

    =constante, e v1

    r1=constante

    11

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    sendor1e r2os raios interno e externo do tubo de corrente e a velocidade angular.

    Desta forma, o escoamento a montante e a jusante do rotor teriam um vrtice livre

    de distribuio da velocidade tangencial durante muitos anos a teoria de vrtice

    livre serviu de base para o projeto de compressores pois partia do princpio de que

    com as perdas uniformes a velocidade axial seria radialmente uniforme. Alm disso,

    projetos que desviavam deste conceito tornavam os clculos mais complexos. Outra

    vantagem considerada seria sobre a circulao entorno das palhetas. Se o escoamento

    era de vrtice livre a montante e a jusante do rotor, a circulao sobre cada palheta

    seria radialmente uniforme e, conseqentemente, no ocorreria vorticidade no bordo

    de fuga. Um problema com o conceito de vrtice livre era que as perdas no eram

    uniformes e portanto seria necessrio adicionar mais trabalho ao compressor para

    compensar os pontos onde as perdas eram maiores. Outro problema seria o alto

    nmero de Mach na ponta das palhetas, levando a altas perdas com os perfis em uso

    na poca.

    2.1.4 Escoamento sobre a parede

    As dificuldades encontradas na avaliao da regio das paredes das palhetas

    vo alm das encontradas nos mtodos de projeto descritos at agora. Ferramentas

    computacionais e experimentos demonstram que o comportamento da camada limite

    ao longo da palheta gera campos de velocidade normais parede da palheta, e

    portanto, campos de presso diferentes das encontradas no fluxo livre.Atravs da passagem entre palhetas h um gradiente de presso entre a regio

    das paredes no lado suco e descarga capaz de desviar o escoamento na corrente

    livre. Se na corrente livre a velocidade Ve o gradiente mdio de presso entre o

    espaamento entre palhetas p/pn, onden a direo paralela a parede e normal

    a linha de corrente, ento a componente normal da equao de Euler :

    p

    n=

    V2

    rc(2.5)

    onde rc o raio de curvatura da linha de corrente e o escoamento considerado

    bi-dimensional e paralelo a parede. A velocidade na camada limite sobre a parede

    12

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    vbl, menor que na corrente livre. No entanto, como o escoamento na camada

    limite aproximadamente paralelo a parede, o gradiente normal de presso se torna

    aproximadamente inalterado. Na camada limite, temos portanto:

    p

    n=

    v2blrcbl

    (2.6)

    onde rcbl representa o raio de curvatura do fluido na camada limite. Das equaes

    acima obtemos:

    rcbl=rc vblV (2.7)Como a vbl menor do que V, ento o raio de curvatura das linhas de corrente

    na camada limite diminuem em relao ao raio da corrente livre, ou seja, a baixa

    velocidade do escoamento na camada limite tende a ser perturbada em relao ao

    escoamento fora da camada limite, adquirindo uma velocidade com componente nor-

    mal a direo do escoamento na corrente livre. Com as palhetas projetadas para a

    condio da corrente livre o escoamento nas paredes perturbado e deixa a palhetaem condies fora do projeto. Uma aproximao clssica para incluir este escoa-

    mento secundrio em escoamentos tridimensionais introduzir uma perturbao ao

    escoamento principal. Um dos problemas desta teoria que o escoamento na ponta

    da palheta do rotor influencia fortemente o comportamento do escoamento na regio

    da parede e, predominando mais quanto maior a folga entre a palheta e a carcaa.

    2.1.5 Escoamento atravs das palhetas e curvatura das linhas

    de corrente

    A teoria de equilbrio radial deixa de apresentar uma boa soluo nos casos

    em que a relao entre o raio do cubo e o raio da ponta da palheta pequena, como

    por exemplo nas primeiras rodas de grandes compressores axiais ou nas ltimas ro-

    das de turbinas a vapor condensantes. Alm disso, muitas mquinas possuem uma

    inclinao das paredes, no cubo ou na carcaa na direo axial, grandes o suficiente

    para que o efeito da acelerao radial do fluido, alm da centrpeta, no seja des-

    considerado. Uma abordagem sobre o escoamento axi-simtrico que considerasse a

    13

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

    33/130

    linha de curvatura no plano meridional (eixo radial re axial z) foi portanto neces-

    sria. Para incluir esse efeito foi criado o modelo do disco atuador, que pressupe

    que a velocidade radial e o produto da velocidade axial e densidade so contnuos

    atravs do disco atuador, primeiro porque o disco atuador no exerce fora radial e

    segundo porque a vazo mssica atravs do tubo de corrente deve ser contnua. A

    complexidade algbrica sobre essa anlise grande, especialmente quando o cubo

    e a carcaa no so cilndricos e quando o escoamento compressvel (quando o

    nmero de Mach alto suficiente para variar a densidade como em compressores

    transnicos).

    Um dos mtodos mais conhecidos para soluo do escoamento atravs da pa-

    lheta o mtodo da curvatura da linha de corrente. Esse mtodo baseado na

    componente radial axi-simtrica da equao do momento (que inclui os efeitos da

    curvatura das linhas de corrente no plano meridional). O procedimento de soluo

    supor o perfil da linha de corrente meridional, encontrar sua curvatura e ento

    incluir o gradiente de presso na equao. Esses mtodos so utilizados at hoje na

    anlise de resultados de projeto de turbomquinas.

    Para que a vazo do compressor seja estimada corretamente preciso calcular

    tambm o efeito da espessura da camada limite sobre a rea da passagem do esco-

    amento. Segundo Gallimore (1999), a camada limite na parede da palheta reduz a

    rea livre do escoamento entre duas palhetas e, portanto, devem-se introduzir nos

    clculos as perdas adicionais e o fator de bloqueio sobre a passagem do fluido. Caso

    o efeito do bloqueio no seja considerado corretamente a capacidade de cada estgio

    do incio do compressor ao fim no se corresponder e o desempenho do conjunto

    ser prejudicado.

    2.1.6 Mtodos de projeto tridimensionais

    Os primeiros clculos envolvendo os mtodos tridimensionais solucionavamapenas os escoamentos no-viscosos e as equaes de Euler. Apesar de no inclurem

    as perdas por efeitos viscosos, os clculos forneciam o perfil do escoamento em que

    alguns efeitos podiam ser inferidos. Inicialmente esse mtodo era til no projeto de

    turbinas porm, para compressores, o escoamento na corrente livre entre palhetas

    14

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    era fortemente impactado pelo crescimento da camada limite e sua tendncia de

    separao, principalmente nas extremidades da palheta, onde o bloqueio parcial do

    escoamento na corrente livre levava a um aumento significativo da presso a jusante

    desta tornando o projeto inaceitvel.

    Com o avano da capacidade computacional, foi possvel introduzir os efeitos

    viscosos nos clculos, e tambm foi possvel solucionar as equaes de Navier-Stokes

    em escoamentos tri-dimensionais uniformes. O modelo utilizado na soluo, tambm

    conhecido como as equaes mdias de Reynolds de Navier-Stokes (RANS), intro-

    duz a turbulncia apenas como um valor mdio de sua quantidade. Os mtodos

    sustentam-se em modelos que representam o efeito da turbulncia na viscosidade

    efetiva e, se diferenciam em complexidade, e por ltimo se baseiam em informaes

    empricas no seu uso.

    Os mtodos computacionais de simulao do escoamento tri-dimensional esto

    em crescente evoluo e uso, podendo, por exemplo, ser utilizado para modelar o

    comportamento instvel do escoamento em compressores transnicos e subsnicos.

    2.1.7 Mtodos experimentais no desenvolvimento e pesquisa

    de compressores

    Uma grande gama de mtodos experimentais tm sido utilizados e desenvol-

    vidos para avaliao da aerodinmica de turbomquinas. Mtodos pticos, como a

    anemometria a laser e velocimetria por imagem da partcula permitem a medio do

    fluxo do escoamento onde sensores no podem ser aplicados, como por exemplo na

    passagem entre as palhetas. Temperatura de estagnao so medidas com termopa-

    res, sensores de capacitncia medem a folga entre a palheta e a carcaa enquanto

    a mquina funciona. Trandsutores de alta freqncia permitem avaliar a presso

    associada vibrao nas palhetas e a interao rotor-estator. Alm dos fenme-

    nos de stalle surge, torqumetros permitem medir a potncia aplicada no eixo decompressores.

    Muitos dos mtodos experimentais so utilizados h mais de 50 anos, e tam-

    bm segundo Cumpsty e Greitzer (2004) trs so os fatores que determinaram a

    15

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    mudana destes nos ltimos anos. Primeiro, as modernas bancadas de teste per-

    mitiram a avaliao de compressores operando em alta velocidade permitindo uma

    melhor representao entre a configurao mecnica e aerodinmica do que no pas-

    sado. Segundo, o elevado custo dos testes em bancada acoplado a maior capacidade

    das tcnicas computacionais, reduziram a necessidade de diversos testes entre o pro-

    ttipo e modelo final. E, em terceiro, apesar de a maioria dos testes com mtodos

    pticos terem sido utilizados em ventiladores ou compressores de simples estgio em

    alta velocidade, estes testes tm fornecido importantes informaes sobre localiza-

    o de ondas de choque. No entanto, quando tratamos de mquinas multi-estgio,

    enfrentam-se problemas no acesso a visualizao ptica dos eventos, que requerem

    janelas transparentes atravs das paredes, partculas finas o suficiente para acompa-

    nhar o escoamento, resultando no aumento do custo e tempo destes experimentos.

    2.2 Anlise de projeto de compressores axiais trans-

    nicos

    Os compressores axiais so classificados como transnicos quando a velocidade

    relativa do escoamento em seu interior prxima a velocidade snica. Apesar da

    velocidade do escoamento na direo axial do compressor ser sempre subsnica, a

    velocidade relativa do fluido em relao palheta pode atingir valores superiores a

    Mach = 1 no bordo de ataque ou mesmo no interior da passagem livre do fluido,principalmente na regio prxima a ponta da palheta rotativa onde a velocidade

    tangencial alta.

    Segundo Calvert e Ginder (1999) compressores e ventiladores transnicos so

    amplamente utilizados desde 1960 devido aos seus benefcios em termos de tamanho,

    peso e custo reduzidos. No entanto, um projeto preciso essencial caso seja desejado

    alcanar um alto rendimento termodinmico.O projeto dos compressores axiais de turbinas a jato de aeronaves comerciais

    e militares, assim como alguns compressores a ar industrial, utiliza como base de

    projeto a entrada do ar no rotor em uma velocidade relativa de at Mach = 1, 7.

    Nas palhetas estatoras observa-se que normalmente que a velocidade relativa do es-

    16

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    coamento subsnica, porm em alguns projetos esta pode atingir at M ach= 1, 2.

    Calvert e Ginder (1999) destacam que para o projeto adequado de um compressor

    transnico os seguintes pontos devem ser considerados:

    O projeto do perfil da palheta deve controlar a acelerao supersnica naentrada e a difuso subsnica na camada limite no interior da passagem do

    fluido;

    importante que compressores axiais utilizem controle do ngulo de inclinaodas palhetas estatoras em relao direo axial nos primeiros estgios, para

    permitir maior desempenho e faixa operacional quando a mquina opera fora

    do ponto de projeto;

    essencial incluir os efeitos viscosos no mtodo de anlise fluidodinmicacomputacional em 3D j que a camada limite na superfcie da palheta ir

    determinar o desempenho do compressor. Os resultados obtidos permitem

    analisar o nmero de Mach, as ondas de choque e a camada limite previstospara cada seo ao longo da palheta. Com isso possvel prever por exemplo

    as perdas por choque, quando o ngulo de incidncia elevado em funo do

    carregamento da palheta no bordo de ataque, o fator de forma da palheta e

    sua relao com a difuso da camada limite dentre outros resultados.

    A espessura do bordo de ataque e a forma da palheta de compressores trans-

    nicos influenciam diretamente no tipo de escoamento. O bordo de ataque deve

    ser o mais fino possvel e a forma mais esbelta, sendo que o limitante nesse

    caso seria o projeto mecnico. Algumas modificaes no projeto, como por

    exemplo inclinar a palheta na direo tangencial, pode reduzir as perdas por

    ondas de choque na entrada ao se obter uma onda de choque mais obliqua.

    Benini e Biollo (2007) realizaram um estudo sobre a influncia de modificaesno projeto original do Rotor NASA 37 sobre o escoamento transnico nas palhetas.

    As modificaes propostas na geometria so referentes aos planos ortogonais di-

    reo axial. As modificaes, chamadas de palheta varrida (swept blade) e palheta

    inclinada (lean blade), so na verdade alteraes na curvatura da palheta em relao

    17

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    direo axial e direo tangencial respectivamente, conforme observado na figura

    2.4.

    Figura 2.4: Representao das modificaes em palhetas em funo do plano cir-

    cunferencial e meridional (Benini e Biollo, 2007)

    Os resultados apontaram que as palhetas inclinadas na direo axial para trs

    obtiveram uma eficincia adiabtica de aproximadamente 0,5% maior quando com-

    parado ao projeto original, alm uma vazo em choke relativamente maior. Da

    mesma forma, palhetas inclinadas positivamente na direo tangencial da rotao

    obtiveram eficincia superior ao projeto original de at 1.3%.

    2.3 Experincia e pesquisas em fluidodinmica com-

    putacional em 3D

    Segundo Denton e Dawes (1999) a fluidodinmica computacional provavel-

    mente tem o papel mais importante no projeto de uma turbomquina do que em

    qualquer outra aplicao da engenharia. Por muitos anos o projeto de uma turbina

    ou um compressor moderno seria impensvel sem a ajuda da CFD e sua dependn-

    cia tem aumentado, pois cada vez mais os escoamentos tornam-se propcios a uma

    predio numrica. Simulaes em CFD so conduzidas durante as fases do projeto

    18

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    para se obter uma anlise qualitativa da qualidade do projeto aerotermodinmico.

    No entanto, Marini et al. (2002) destaca que o uso do CFD fortemente afetado

    pela metodologia numrica empregada e os recursos computacionais, sendo que os

    dois interagem entre si. Portanto, importante ressaltar que uma soluo num-

    rica uma aproximao de um fenmeno real do qual pode se desviar por diversos

    erros, como erros de aproximao, erros de arredondamento, erros propagados de

    erros iniciais, os quais devem ser avaliados e controlados de forma a produzir uma

    informao confivel sobre o campo de escoamento. Desta forma a credibilidade do

    uso do CFD s pode ser estabelecida atravs de um rigoroso processo de verificao

    e validao.

    Verificao um processo que visa instituir que as equaes de modelagem so

    solucionadas corretamente, enquanto validao est relacionada ao processo de ava-

    liao de que, para um dado problema, as equaes so solucionadas corretamente.

    A credibilidade de uma simulao somente alcanada atravs da validao da si-

    mulao, ou seja, se o modelo avaliado representa com acurcia um fenmeno fsico

    real, e para isso necessrio sua comparao com dados experimentais. A validao

    da simulao em CFD implica em atender os seguintes passos: (i) definir o modelo

    fsico apropriado, (ii) avaliar o nvel de confiabilidade dos dados experimentais e dos

    mtodos numricos, e (iii) quantificar as fontes de incertezas.

    Ding et al. (2006) apresentam o resumo de uma tese de mestrado que descreve a

    aplicao do aplicativo CFX na anlise da simulao da operao de um compressor

    centrfugo fora da condio de projeto. Foi utilizada malha estruturada em multi-

    blocos na regio do impelidor e malha no estruturada com elementos tetradricos

    com refino nas camadas ao longo da superfcie das paredes para soluo do problema

    de escoamento da camada limite prxima a parede do difusor. A malha foi refinada

    em regies mais complexas como bordo de ataque do impelidor e reas irregulares.

    O modelo de turbulncia utilizado em uma das simulaes foi o SST.Os resultados

    foram comparados com os dados experimentais e considerados satisfatrios, com

    elevada acurcia, mesmo para pontos fora da condio de projeto.

    Dunham (1998) editou um relatrio, onde um grupo de trabalho realizou um

    teste cego para analisar diversos cdigos para soluo das equaes mdias de Rey-

    19

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    nolds de Navier-Stokes (RANS), para a simulao do escoamento transnico em um

    rotor NASA 37. Foi observado que a maioria das simulaes superestimou a razo

    de presso para todos os pontos da curva de desempenho do compressor, enquanto

    subestimou o valor da eficincia. Os motivos provveis para esses desvios foram a

    no incluso de uma folga circunferencial entre o rotor e a entrada do fluxo que

    influenciava na separao do escoamento na parede da palheta prxima ao cubo que

    afeta a razo de presso total do rotor e, o escoamento sobre a ponta da palheta

    que provou ser complexo de se estimar para os cdigos utilizados, acarretando na

    reduo da eficincia do rotor.

    Bardina et al. (1997) realizou uma pesquisa para avaliar e validar quatro mode-

    los de turbulncia conhecidos: modelok-de duas equaes de Wilcox, modelo k-

    de Launder e Sharma de duas equaes, modelo de duas equaes k-/k-SST de

    Menter e o modelo de uma equao de Spalart e Allmaras. Os casos estudados englo-

    bavam escoamentos livres e escoamentos na camada limite, sub ou supersnicos. A

    concluso geral que o melhor modelo de turbulncia julgado foi o k-SST, seguido

    pelo modelo Spalart-Allmaras, o modelok-de Launder-Sharma, e finalmente o mo-

    delok-de Wilcox. O modelo SST foi considerado o melhor por cumprir melhor do

    que os demais o trabalho de calcular escoamentos complexos envolvendo separao

    enquanto prevendo resultados comparveis com o melhor dos outros modelos para

    escoamentos simples. Sobre o desempenho dos modelos, o Spalart-Allmaras superou

    os demais, seguido pelo SST e depois pelo Launder-Sharma e Wilcox.

    2.4 Estudos do comportamento fluidodinmico de

    compressores axiais transnicos

    O escoamento no interior de compressores axiais complexo por envolver in-

    meros fenmenos aerotermodinmicos que requerem estudos especficos para sua me-lhor compreenso. Nestes fenmenos incluem-se escoamentos secundrios, camada

    limite turbulenta, choques normais e oblquos, leques de expanso, interao entre

    choques e a camada limite, separao da camada limite, interao do escoamento

    na ponta da palheta entre outros.

    20

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    Suder (1998) realizou uma investigao experimental para compreender e quan-

    tificar a evoluo do bloqueio do campo de escoamento de um compressor axial

    transnico. O bloqueio um parmetro importante para se avaliar se os estgios

    do compressor esto bem casados e tambm para analisar o escoamento entre as

    palhetas do rotor. O bloqueio, definido pela letra B, definido por:

    B =

    1 rea efetiva do escoamento

    rea Geomtrica do escoamento

    (2.8)

    O autor optou por realizar um estudo experimental, mesmo tendo disponveis as

    ferramentas de soluo da equao de Navier-Stokes em 3D, pois diversos artigos

    relataram a inabilidade dos cdigos de CFD de predizer com acurcia a caracterstica

    do campo de escoamento no Rotor 37. Primeiro ele dividiu a regio de passagem

    entre palhetas em duas: regio da parede prxima ponta da palheta, ou seja, regio

    entre 80% e 100% da altura da palheta at a carcaa, e regio central, entre 20 e

    80% da altura da palheta. Atravs das medies realizadas, uma das constataes

    foi de que o bloqueio na regio prxima parede maior do que na regio central

    para vrias rotaes avaliadas, principalmente devido ao fluxo atravs da ponta da

    palheta que influencia o escoamento nessa rea, conforme figura 2.5

    Figura 2.5: Bloqueio em funo da altura da palheta para 3 rotaes. Medies a

    115% da corda (Suder, 1998)

    Uma das principais contribuies deste artigo est relacionada observao

    de que na regio central o bloqueio muito maior na rotao de projeto do que em

    21

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    rotaes menores. Esse fato ocorre porque a interao entre o choque e a camada

    limite ocasiona separao da camada limite na parede da palheta no lado suco

    nesta regio.

    Um dos trabalhos mais completos sobre a interao entre a camada limite

    e ondas de choque foi realizado por Green (1971), onde diversas configuraes de

    interao so descritas, assim como os mtodos para calcular a altura e velocidade

    da camada limite conforme a interao encontrada, como por exemplo a descrio

    de uma onda de choque normal criada a partir de um escoamento a um nmero de

    Mach em torno de 1,5. Neste caso a interao entre uma onda de choque normal e

    a camada limite foi capaz de causar a separao desta ltima

    Figura 2.6: Interao entre uma onda de choque normal e camada limite (Green,1971)

    A regio prxima a parede do compressor e sua interao com a folga pela pas-

    sagem da ponta da palheta fonte de complexos fenmenos fluidodinmicos. Chima

    (1998), comparou os resultados de medies experimentais do rotor NASA 37 com

    simulaes em CFD na regio prxima a ponta da palheta, onde distintas propostas

    de modelar o problema foram elaboradas, como criar uma malha do tipo-H acima

    da palheta, ou a proposta de um modelo que assume que o escoamento tangen-

    cialmente peridico acima da palheta sem incluso de malha utilizando a altura

    total da folga e metade da altura. As comparaes realizadas no trabalho, aponta-

    22

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    ram que os dois mtodos propostos (multi-blocos ou bloco simples com condio de

    periodicidade e dois casos com alturas diferentes) encontraram valores similares de

    desempenho no escoamento. A simulao com multi-blocos correspondeu aos valores

    medidos experimentalmente para 95% da altura da p quando prximo a ponto de

    maior eficincia, divergindo prximo ao stall. O carregamento da palheta no lado

    de presso e as ondas de choque no bordo superior determinaram a forma do escoa-

    mento sobre a ponta da palheta, com ondas de choque e acelerao do escoamento

    entre a palheta e a carcaa e formao de vrtices na sada e jato no lado de suco

    da palheta.

    23

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    Captulo 3

    Fundamentos da Aerotermodinmica

    para Compressores Axiais

    3.1 Introduo

    Segundo Rodrigues (1991), os compressores constituem a famlia das mquinasoperatrizes de fluxo compressvel. Estes equipamentos subdividem-se em volumtri-

    cos ou dinmicos.

    O princpio de funcionamento de um compressor volumtrico admitir um

    volume de gs em um volume definido, aprision-lo, e elevar sua presso atravs

    da reduo de seu volume ocupado e enfim descarreg-lo em um sistema em alta

    presso. Nesses compressores seu processo intermitente, pois no existe contatoentre o sistema de baixa presso e o de alta presso.

    Os compressores dinmicos por sua vez operam a partir de dois elementos

    principais: o impelidor e o difusor. Rodrigues (1991) descreve que o impelidor

    um rgo rotativo munido de ps que transfere ao gs a energia recebida de um

    acionador. Essa transferncia de energia se faz na forma cintica e em outra parte

    na forma de entalpia. Posteriormente, o escoamento estabelecido no impelidor recebido por um rgo fixo denominado difusor, cuja funo promover a transfor-

    mao da energia cintica do gs em entalpia, com conseqente ganho de presso.

    Os compressores dinmicos efetuam o processo de compresso de maneira contnua,

    e correspondem ao que se denomina, em termodinmica, um volume de controle.

    24

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    Figura 3.1: Compressor axial (Cortesia MAN-TURBO)

    3.2 Compressores axiais

    Os compressores axiais so equipamentos dinmicos onde o caminho do gs no

    interior da mquina paralelo ao eixo conforme. A compresso dada atravs de

    uma srie de palhetas presas ao eixo no sentido circular e outra srie de palhetas

    presas carcaa conforme pode ser observado na figura 3.1 apresentando um com-

    pressor aberto sem a parte superior da carcaa. Cada seqncia de palhetas fixas e

    mveis denominada estgio de compresso.

    Suas caractersticas principais so a capacidade de operar com vazes elevadas

    e tambm sua alta eficincia termodinmica. Este tipo de mquina possui flexibili-

    dade maior do que um compressor centrfugo radial, porm no capaz de atingir

    altas presses de descarga quando comparados a estes. Suas aplicaes principais na

    indstria so na compresso de ar para a cmara de combusto em turbinas a gs ou

    turbinas para aeronaves comerciais ou militares e sopradores de ar na indstria de

    petrleo e gs, petroqumica e siderrgica. possvel encontrar compressores com

    vazo volumtrica superior a 1.000.000 de m3/h ou tambm com razo de compres-

    so prxima de 20:1. A figura 3.2 apresenta uma curva de vazo mssica-presso de

    descarga tpica de um compressor axial.

    25

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    Figura 3.2: Curva de desempenho de um compressor axial (Cortesia MAN-TURBO)

    As principais partes de um compressor axial so seu eixo, palhetas rotativas,

    palhetas fixas, mancais e selagem entre o eixo e a carcaa. Apesar de sua sim-plicidade construtiva, seu projeto e fabricao so extremamente complexos. Para

    seu funcionamento adequado so necessrios sistemas auxiliares como o sistema de

    lubrificao forada dos mancais, o de controle de capacidade, de monitorao de

    vibrao e temperatura dos mancais e o de anti-surge, composto pelo controlador e

    vlvula de alvio para atmosfera. A figura 3.3 apresenta um desenho em corte com

    detalhes de algumas partes do compressor.

    3.3 Fundamentos da Termodinmica

    Sero apresentados os conceitos termodinmicos essenciais para o projeto termo

    aerodinmico de um compressor axial. Estes conceitos renem a base para a ava-

    liao do processo de transferncia de energia que ocorre durante a compresso.Como os compressores axiais normalmente operam com fluidos ideais como o ar a

    baixa temperatura e moderada presso no ser necessrio desenvolver descrio

    para fluidos no ideais.

    A primeira lei da termodinmica cobre o princpio da conservao de energia

    26

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    Figura 3.3: Desenho de corte de um compressor axial (cortesia MAN-TURBO)

    onde toda energia transferida para um sistema igual variao de sua energia

    interna. Este princpio valido para um volume de controle. Como um compressor

    axial um sistema aberto com entrada e sada de massa, conforme figura 3.4, deve-

    mos aplicar uma restrio de fluxo constante para sua validade. Portanto se w o

    trabalho entregue ao compressor e q a transferncia de calor entre o compressor e

    sua vizinhana, temos:

    q w= m[u+12

    c2 +P

    +gZ) (3.1)

    onde m o fluxo de massa e u a energia interna especfica, c a velocidade, P apresso ea densidade. A variao da energia potencial gZ desprezvel portanto

    ser desconsiderada no restante das demonstraes. Da expresso acima temos que

    a entalpiah dada por:

    h= u+P

    ou h= u+pv (3.2)

    As condies termodinmicas acima so simples condies estticas. Para oestudo de turbomquinas, grandes variaes de velocidade ocorrem atravs dos est-

    gios como resultado das variaes de presso causadas pelos processos de compresso

    ou expanso. interessante inserir um estado termodinmico em qualquer ponto

    do escoamento de forma a combinar os termos de energia. Essa condio definida

    27

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    Figura 3.4: Volume de Controle (Dixon, 2005)

    como um valor onde todo fluido levado para o repouso, sem transferncia de ca-

    lor ou trabalho externo, onde toda energia cintica recuperada. Essa condio

    chamada de entalpia total ou de estagnao, e descrita como:

    h0 =h+c2

    2 (3.3)

    A entalpia de estagnao constante em um processo que no envolva transfe-

    rncia de trabalho ou de calor, mesmo que processos irreversveis estejam presentes.

    Na figura 3.5 o ponto 1 representa o ponto atual ou estado esttico de um fluido no

    diagrama entalpia-entropia. O estado de estagnao representado pelo ponto 01

    onde uma desacelerao irreversvel do fluido ocorre. O ponto 01s descreve o pontode desacelerao reversvel descrevendo um estado isentrpico.

    Em uma compresso a transferncia de calor pode ser negligenciada e, portanto

    podemos cham-la de compresso adiabtica. Nesse caso, temos:

    w= m(h0d h0i) (3.4)

    onded e ireferem-se as condies de descarga e suco respectivamente. A segundalei da termodinmica introduz o conceito de reversibilidade de um processo. Um

    processo dito reversvel se um sistema puder ser retornado ao seu estado inicial aps

    um processo ter ocorrido. Processos influenciados pela transferncia de calor entre

    28

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    Figura 3.5: Ponto esttico 1, ponto de estagnao 01 e ponto de estagnao isentr-

    pico de um fluido (Dixon, 2005)

    sistemas ou perdas por atrito so exemplos de processos irreversveis. A entropiaespecfica definida como:

    ds=dqrev

    T (3.5)

    onde T a temperatura, qrev a transferncia de calor reversvel. A partir da

    equao 3.2 chegamos a:

    T ds= du+pdv (3.6)

    e,

    T ds= dh vdp (3.7)

    A segunda lei da termodinmica conclui que em qualquer processo reversvel

    a variao da entropia nula e, em processos reversveis ela maior do que zero.

    s 0 (3.8)

    Portanto, um processo adiabtico e reversvel dito um processo isentrpico.

    Atravs da variao da entropia possvel determinar o quanto um processo irre-

    29

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    versvel, associando ineficincias e demais perdas a este processo. A primeira lei da

    termodinmica aplicada a um elemento de fluido em um circuito fechado como:

    dqrev =T ds= du+dw+du+pdv (3.9)

    ondev= 1/ o volume especfico.

    3.3.1 Equaes de estado para fluidos

    A termodinmica possui basicamente dois tipos de equaes de estado para o

    projeto aerodinmico de um compressor axial. A primeira, conhecida como equao

    de estado dos gases ideais, relaciona presso, temperatura e volume e se apresenta

    da seguinte forma:

    pv=RT (3.10)

    onde R uma constante que depende do peso molecular do gs. Esta equao

    vlida para gases, quando normalmente submetidos a presses baixas e temperaturas

    elevadas. R igual a:

    R=R

    M W (3.11)

    e,

    R= 8314J/kmol K (3.12)

    O segundo tipo de equao relaciona a energia contida no fluido com suas

    variveis de estado na forma h= h(T, P)ou u= u(T, P).

    Todos fluidos podem exibir um comportamento no-ideal sob certas condies.

    A figura 3.6 um diagrama esquemtico de um grfico presso-entalpia de um fluido

    qualquer. Como possvel observar no factvel modelar todos os estados termo-dinmicos atravs das equaes para fluidos termicamente perfeitos. As equaes

    acima descritas so vlidas para a fase vapor de um fluido. A figura 3.6 tambm

    apresenta o ponto crtico do fluido, que a temperatura na qual tanto gs quanto

    vapor coexistem. Normalmente, a equao para gases termicamente perfeitos geram

    30

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    uma aproximao razovel caso Tseja muito maior que Tc e a Pseja muito menor

    que a Pc. Para presses acima da presso crtica o fluido dito estar em regime

    supercrtico. Quanto menor a densidade do gs, mais prximo de corresponder a

    equao para gases perfeitos ele estar. Onde o gs dito perfeito possvel mostrar

    que a energia contida no gs independente de sua presso, sendo funo apenas

    da temperatura. Com isso possvel se determinar as equaes de estado de calor

    em funo de apenas uma varivel de estado.

    Figura 3.6: Diagrama entalpia-presso (www.mspc.eng.br mai/09)

    Conforme acima exposto, para baixas densidades onde o gs termicamente

    perfeito, os calores especficos a presso constante e a volume constante so definidos

    como:

    C0p (T) =h0

    T

    p

    (3.13)

    C0v (T) =

    u0

    T

    v

    (3.14)

    E para um gs perfeito:

    C0p (T) C0v (T) =R (3.15)

    O ndice sobrescrito 0 descreve uma condio onde o fluido termicamente perfeito.A partir da equao acima podemos tambm encontrar o coeficiente isentrpico de

    um gs atravs da seguinte relao:

    k=CpCv

    (3.16)

    31

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

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    conseqentemente,

    Cp

    = R

    k 1 (3.17)

    Portanto a temperatura de estagnao pode ser descrita como:

    T0=T+ c2

    2Cp(3.18)

    onde chegamos a:

    T0T

    = 1 + k 12

    c2

    kRT = 1 +k 1

    2 M2 (3.19)

    Sendo queM o nmero de Mach, que a relao entre a velocidade do escoamento

    e a velocidade do som nas condies do meio.

    M= c

    a (3.20)

    onde a velocidade do som no meio dada por:

    a=

    kRT (3.21)

    3.3.2 Eficincia adiabtica e politrpica

    A qualidade aerodinmica do projeto de um compressor ou de parte de seus

    componentes pode ser medida em termos de sua eficincia, onde a medida de seudesempenho atual seria comparada com o desempenho alcanado por um sistema

    ideal realizando um processo reversvel. A figura 3.7 ilustra um tpico diagrama

    entalpia-entropia onde trabalho foi realizado trabalho sobre o fluido. Note que as

    condies de estagnao e esttica so por definio relacionadas por um processo

    reversvel, portanto no necessrio incluir o subscrito 0 para a entropia. Pode

    ser observado que o processo ideal representado por um incremento de entalpiaHad, tambm chamado de Head adiabtico ou isentrpico. O processo atual

    representado por um aumento de entalpia H.

    32

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    Figura 3.7: Diagrama entalpia entropia (Aungier, 2003)

    Como as linhas de presso constante sempre divergem no diagrama h-s, H

    ser sempre maior queHadpara um processo no isentrpico. Portanto a eficincia

    adiabtica pode ser definida como:

    ad =Had

    H (3.22)

    ondeHad dado por

    Had = Ptd

    Pit

    dP

    parasconstante (3.23)A equao acima desenvolvida considera apenas as condies totais na suco e

    na descarga para seu clculo. Portanto tambm comumente chamada de eficincia

    adiabtica total-total. Normalmente a energia cintica disponvel na descarga do

    compressor no pode ser utilizada. Neste caso a Ptdpoderia ser substituda pela Pd

    na equao 2.16 para encontrar a eficincia adiabtica total-esttica. A substituio

    da Pipor Ptileva a eficincia termodinmica esttica-esttica.A desvantagem de se utilizar a eficincia isentrpica na anlise de compressores

    devido ao fato desta ser funo da razo de compresso do processo em questo.

    Este fato torna impossvel comparar duas mquinas idnticas operando sob razes

    de presso diferentes. No caso de uma mquina multi-estgios na qual os estgios

    33

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    53/130

    so idnticos e, portanto possuem a mesma razo de presso, a eficincia por estgio

    seria igual, porm a eficincia global da mquina seria diferente da de cada estgio.

    A razo para isto pode ser observada na figura 3.8 para o caso de dois compressores

    idnticos operando em srie.A eficincia isentrpica total-total neste caso de cada

    estgio independentemente :

    tt(1) =h01s

    h01=

    h02sh02

    (3.24)

    enquanto a eficincia dos estgios juntos

    tt(2) = h01s+ h02s

    h01+ h02(3.25)

    Figura 3.8: Diagrama entropia-entalpia (Whitfield e Baines, 1990)Devido inclinao das curvas de presso constante no grfico entalpia-entropia

    ser positiva e aumentar com a temperatura segue que

    h02s >h02ss ento tt(2)< tt(1) (3.26)

    34

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    Atravs deste argumento percebe-se que a diferena entre tt(1)e tt(2)diminui

    quando as diferenas entre as entalpias por estgio diminuem, e no limite, para

    nenhuma mudana de entalpia essa diferena tende a zero. Podemos ento utilizar

    este fato para definir uma eficincia na qual o limite seria a eficincia isentrpica

    quando a razo de presso tende-se a um, e conseqentemente nenhuma mudana

    de entalpia ocorra. Esta definio conhecida como eficincia por pequenos estgios

    ou eficincia politrpica. Um estgio de compresso infinitesimal apresentado na

    figura 3.9. A eficincia politrpica definida como o limite de dhs/dh quando dh

    tende a zero:

    Figura 3.9: Diagrama entropia-entalpia (Whitfield e Baines, 1990)

    p=dhs

    dh =

    v

    Cp

    dP

    dT (3.27)

    j que,

    T ds= 0 =dh vdP (3.28)e substituindo

    v =RT

    P (3.29)

    35

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    encontrando:

    p= R

    CP

    T

    P

    dP

    dT (3.30)

    e portanto, dTT

    =k 1

    kP

    dP

    P (3.31)

    Integrando tem-se que,

    T02T01

    =

    P02P01

    k1kP

    =

    P02P01

    n1n

    (3.32)

    onden o coeficiente politrpico. Desta maneira podemos obter a seguinte relao

    entre eficincia isentrpica e politrpica:

    tt =

    P02P01

    k1k

    P02P01

    k1kP

    (3.33)

    Para uma dada relao de compresso conclui-se que a eficincia politrpica

    de um compressor ser maior que sua eficincia isentrpica.

    3.4 Compressibilidade dos fluidos

    Quando um gs atravessa o interior de um compressor axial suas molculas

    so desviadas ao entorno dos objetos por onde passam, sendo estes objetos palhetas

    ou a prpria carcaa, por exemplo. Se a velocidade relativa entre o gs e o objeto muito menor que a velocidade do som deste gs, a densidade deste gs permanece

    constante e seu escoamento pode ser descrito atravs das equaes da conservao

    do momento e da energia. Quando a velocidade do escoamento se aproxima da

    velocidade do som do gs, necessrio se considerar os efeitos de compressibilidade

    no gs. A densidade do gs varia localmente pelo efeito de compresso local pelo

    objeto e, portanto, o escoamento dito compressvel.

    Escoamentos compressveis com pequenos desvios no escoamento so conside-

    rados processos reversveis e as mudanas nas propriedades do fluido so governadas

    pelas relaes isentrpicas. Porm, quando a velocidade relativa entre o gs e o

    objeto maior que a velocidade do som deste gs, e ocorre uma reduo abrupta na

    36

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    56/130

    passagem do gs, ondas de choque so criadas no escoamento. Ondas de choque so

    regies de pequenas dimenses no escoamento onde as propriedades do fluido se alte-

    ram em grandes valores. Atravs de uma onda de choque a densidade, temperatura

    e presso do gs aumentam quase que instantaneamente. As mudanas nas proprie-

    dades do escoamento so irreversveis, ou seja, a entropia no sistema aumenta. Pelo

    fato de uma onda de choque no realizar trabalho, e j que no h adio de calor

    no sistema, podemos afirmar que a entalpia total e a temperatura total permanecem

    constantes. Como o processo no isentrpico, a presso total a jusante da onda de

    choque ser menor do que a presso a montante, ou seja, h uma perda de presso

    total associada a uma onda de choque. Com isso, no possvel se aplicar equao

    de Bernoulli para escoamentos incompressveis atravs de uma onda de choque. A

    velocidade do escoamento ou seu nmero de Mach sempre reduzem atravs de uma

    onda de choque.

    Para um escoamento acima da velocidade do som, ou supersnico, as pertur-

    baes so sempre criadas no interior de um cone formado a partir de uma relao

    do nmero de Mach. O ngulo de abertura deste cone, denominado ngulo de Mach

    representado pela figura 3.10 e definido pela seguinte equao:

    = arcsin 1

    M (3.34)

    As ondas de choque formadas no escoamento supersnico podem ser de dois

    tipos: normal ou oblqua. As equaes sobre as ondas de choque listadas a seguir

    foram obtidas a partir do relatrio de nmero1135 emitido pelo comit consultivo

    americano para assuntos de aeronutica (NACA).

    3.4.1 Onda de choque normal

    Se a onda de choque formada perpendicular direo do escoamento ela

    denominada de choque normal. As equaes que governam seu comportamentoderivam das equaes de conservao da massa, momento e energia. Abaixo so

    apresentadas as equaes referentes a uma onda de choque do escoamento sobre uma

    cunha. O fluido compressvel, porm os efeitos viscosos no so considerados. As

    equaes descritas para onda de choque normal e bidirecional so vlidas somente se

    37

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    Figura 3.10: ngulo de Mach

    o ngulo da cunha na figura 3.11 atender a seguinte relao em relao velocidade

    do escoamento:

    b > 4

    33(k+ 1)(M2

    1)3/2

    M2 (3.35)

    As relaes termodinmicas so definidas por:

    P1P0

    =2kM2 (k 1)

    k+ 1 (3.36)

    Pt1Pt0

    =

    (k+ 1)M2

    (k 1)M2 + 2 k

    k1

    k+ 1

    2kM2 (k 1) 1

    k1

    (3.37)

    T1T0

    =[2kM2 (k 1)][(k 1)M2 + 2]

    (k+ 1)M2 (3.38)

    Tt1Tt0

    = 1 (3.39)

    10

    = k+ 1)M2

    (k 1)M2 + 2 (3.40)

    M21 = (k 1)M2 + 2

    2kM2

    (k 1) (3.41)

    3.4.2 Onda de choque oblqua

    Quando a onda de choque inclinada em relao direo do escoamento ela

    chamada de oblqua. Abaixo sero apresentadas as relaes termodinmicas para

    38

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    Figura 3.11: Onda de choque normal

    uma onda de choque formada a partir do escoamento sobre uma cunha. Essas equa-

    es so derivadas das equaes de conservao de massa, momento e energia para

    um escoamento compressvel, desprezando os efeitos viscosos. Quando o nmero de

    Mach muito baixo ou o ngulo da cunha grande, uma onda de choque normal

    formada, portanto a condio da equao 3.36 no pode ser satisfeita para a forma-

    o de uma onda de choque oblqua. Para a rea de turbomquinas esse escoamento

    pode ser observado sobre o bordo de ataque de uma palheta, por exemplo. A figura

    3.12 apresenta o efeito de uma onda de choque oblqua.

    P1P0

    =2kM2(sin2 s) (k 1)

    k+ 1 (3.42)

    Pt1Pt0

    =

    (k+ 1)M2(sin2 s)

    (k 1)M2(sin2 s) + 2 k

    k1

    k+ 1

    2kM2(sin2 s) (k 1) 1

    k1

    (3.43)

    T1

    T0=

    [2kM2(sin2 s) (k 1)][(k 1)M2(sin2 s) + 2](k+ 1)M2(sin2 s)

    (3.44)

    10

    = k+ 1)M2(sin2 s)

    (k 1)M2(sin2 s) + 2 (3.45)

    M21 (sin2 s a) = (k 1)M

    2(sin2 s) + 2

    2kM2(sin2 s) (k 1) (3.46)

    39

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    Figura 3.12: Onda de choque oblqua

    cot(a) = tan (s)

    (k+ 1)M2

    2(M2 sin2 s 1) 1

    (3.47)

    3.4.3 Leque de expanso

    Existem diferenas notveis entre ondas de choque e leques de expanso. Em

    uma onda de choque o nmero de Mach diminui e a presso esttica aumenta e

    h perda de presso total pois o processo irreversvel. Atravs de um leque de

    expanso o nmero de Mach aumenta, a presso esttica diminui e a presso total

    se mantm constante, pois o processo neste caso isentrpico.O clculo do leque de expanso envolve o uso da funo de Prandtl-Meyer,

    que cujo valor funo do nmero de Mach e da relao de calores especficos. A

    interpretao fsica da funo de Prandtl-Meyer o valor do ngulo atravs do qual

    pode-se expandir uma onda snica (M=1) de modo a obter um dado nmero de

    Mach. Para se calcular uma expanso a partir de outro nmero de Mach, simboli-

    zamos a condio a montante da expanso como zona 0 e calculamos o ngulo dePrandtl-Meyer para aquele nmero de Mach. Portanto a funo de Prandtl-Meyer

    definida por:

    =

    k+ 1

    k 1arctan

    k 1k+ 1

    (M2 1) arctan

    (M2 1) (3.48)

    40

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    ParaM0>1 a montante do leque de expanso, temos:

    0 = k+ 1

    k

    1arctan

    k 1k+ 1

    (M20 1) arctan(M20 1) (3.49)

    Para a regio 1 aps o leque de expanso temos:

    1 =

    k+ 1

    k 1arctan

    k 1k+ 1

    (M21 1) arctan

    (M21 1) (3.50)

    Figura 3.13: Leque de expanso

    Onde,

    1= arcsin 1

    M1, 2 = arcsin

    1

    M2(3.51)

    3.5 Caractersticas aerodinmicas de um compres-

    sor axial

    Os compressores axiais possuem caractersticas nicas que o transformam na

    mquina mais adequada para compresso de altas vazes volumtricas atreladas a

    41

  • 7/23/2019 Marcelo Rodrigues Simoes 09 D

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    mdias ou baixas razes de compresso. Comeando pela sua grande rea frontal

    para entrada do fluido, esta mquina transporta o fluido atravs de uma trajetria