2

Click here to load reader

Marchand Franco Terranova Morre Aos 90 Anos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Marchand Franco Terranova Morre Aos 90 Anos

8/13/2019 Marchand Franco Terranova Morre Aos 90 Anos

http://slidepdf.com/reader/full/marchand-franco-terranova-morre-aos-90-anos 1/2

31/12/13 07:44hand Franco Terranova morre aos 90 anos

Página 1 de 2//oglobo.globo.com/cultura/marchand-franco-terranova-morre-aos-90-anos-11180083?service=print

Marchand Franco Terranova

morre aos 90 anos

Um dos idealizadores da Petite Galerie, ele lutava contra um câncer 

Fernanda Pontes, da coluna Gente Boa Audrey Furlaneto

RIO - Morreu na manhã desta segunda-feira aos 90 anos o marchand Franco Terranova. Um dos idealizadores daPetite Galerie, que funcionou entre 1954 a 1988 em Ipanema, foi um do precursores no mercado de arte brasileiro.Pela galeria passaram artistas como Carlos Vergara, Ernesto Neto, Volpi, Luiz Áquila, entre outros. Ele lutavahavia dois meses contra um câncer.

Quando chegou ao Brasil vindo da Itália, em 1947, o estudante de literatura e poeta Franco Terranova tinhaexperiência como aviador, tendo atuado em batalhas da Segunda Guerra Mundial. Deixou o país pelo qual lutou,bradando que se recusava a viver numa Itália comandada por Mussolini — e já encantado com o personagem deZé Carioca, que o fez pegar um navio rumo ao Brasil.

Chegou aqui sem dinheiro, primeiro ao Paraná e a São Paulo e, em seguida, ao Rio. Na cidade em que seconsagraria como um dos grandes nomes das artes visuais, Terranova dormiu uma ou outra noite na praia até ser abrigado pela família Matarazzo, com quem tinha parentesco. O imigrante conseguiu emprego na Petite Galerie, adiminuta casa inaugurada em 1953, em Copacabana, pelo pintor Mario Agostinelli (1915-2000).

Um ano depois, Terranova já era um dos sócios da galeria de arte que, por suas mãos, seria convertida num dosprincipais pontos de encontro de artistas na década de 1960. Em 1954, a casa migrou para o endereço em que fezhistória (na Praça General Osório, 53, em Ipanema).

Lá, Terranova expôs, nos anos 1950, José Pancetti e Alfredo Volpi, e, na década seguinte, Carlos Vergara e Antonio Dias. Nos anos 1970, chegou a ter uma filial em São Paulo, mas era o Rio que ganhava força comoespaço de vanguardas artísticas. Mais tarde, nos anos 1980, lançou artistas como Ernesto Neto e Jac Leirner.

— Lembro do dia em que ele foi ao meu ateliê pela primeira vez. Era julho de 1987, e tive um dos maioresencontros da minha vida. Mostrar meu trabalho a ele foi um dos momentos mais espirituais que vivi — lembra

Ernesto Neto, que, em março de 1988, fez, na galeria de Terranova, sua primeira exposição individual. — Mesmoantes de expor lá, eu já sonhava com uma mostra na Petite. Estar na galeria em 1988 foi muito importante naminha carreira, mas, mais que isso, foi emocionante. Tenho um amor profundo por ele, um respeito enorme.Considero Franco um pai.

Emocionado, Neto conta que Terranova sonhava fazer uma exposição num navio “e sair com ela pelo mundo,navegando” (“Era um poeta, tinha uma visão ampla da vida”, diz o artista).

Casado desde o início da década de 1960 com Rossella Terranova, italiana nascida em Atenas, o galeristamanteve nos fundos da Petite um espaço, o Petit Studio, em que a mulher trabalhava preparando atores paraespetáculos, filmes e novelas.

Em 1988, ele decidiu fechar a galeria. Mais tarde, em entrevista ao GLOBO, disse ter deixado o ofício para asmulheres, citando nomes como os das galeristas Raquel Arnaud e Nara Roesler, ambas marchandes que atuam

em São Paulo.

Um dos quatro filhos que teve com Rossella, o fotógrafo Marco Terranova conta que, desde o fechamento da PetiteGalerie, o pai passou a se dedicar integralmente à poesia. Embora tenha seguido investindo em obras de arte (eainda servindo de referência para colecionadores e artistas), deixou de ter o espaço físico da galeria.

— Ele continuou interessado em arte, mas virou poeta em tempo integral. Seguia para o computador todos os diaspara escrever poemas — lembra Marco, que trabalhou ao lado do pai em “Sombras”, livro lançado pela editoraRéptil em 2012.

No título também participou outra filha do galerista, a designer Paola Terranova. Para o projeto, ele convidou 72artistas a fazerem ilustrações. Um time de artistas consagrados, como Cildo Meireles, Abraham Palatnik, FransKrajcberg e Carlos Vergara, aceitou seu convite.

— Franco tinha visão de artista de vanguarda e também uma adesão às vanguardas. Era um poeta que a vidatoda praticou poesia — disse, entre lágrimas, Vergara, que também fez sua primeira individual na Petite Galerie,em 1967. — Vivemos coisas inesquecíveis. Fiz uma exposição com Franco fechada por um general em 1968, deforma brutal, durante a ditadura. E ele docemente segurou o tranco. Foi um companheiro que sabia manter distância, não era invasivo, passava uma amorosa segurança. Foi importante no início da minha carreira e, agora,na maturidade, me deu um presente: quando abri minha exposição no Museu do Açude (em setembro passado),Franco surgiu lá, caminhando. Era um homem capaz disso: aos 90 anos, subir lá para ver minha exposição.

Page 2: Marchand Franco Terranova Morre Aos 90 Anos

8/13/2019 Marchand Franco Terranova Morre Aos 90 Anos

http://slidepdf.com/reader/full/marchand-franco-terranova-morre-aos-90-anos 2/2

31/12/13 07:44hand Franco Terranova morre aos 90 anos

Página 2 de 2//oglobo.globo.com/cultura/marchand-franco-terranova-morre-aos-90-anos-11180083?service=print

Notícia publicada em 30/12/13 - 15h25 Atualizada em 30/12/13 - 17h37 Impressa em 31/12/13 - 08h29

Poemas concretos

Como poeta, Terranova também foi prestigiado. Lançou 13 livros e é tido como um precursor da poesia concretapor Ferreira Gullar, que assinou o prefácio de “Sombras”. Em 1960, no “Jornal do Brasil”, ele publicou um poemapela primeira vez. A construção espacial se repetiria em todos os seus textos, desde o primeiro livro, “O girassol”(1973).

— Conheço Franco desde a Petite Galerie. Fomos muito amigos, ele me visitou no exílio, em Buenos Aires. Teveuma importância enorme nas artes plásticas do Brasil. Tinha o juízo crítico de um artista, o que ele também era.Não fazia só pelo dinheiro, prezava pela qualidade. Pela Petite Galerie só passavam os melhores — disse Gullar.

Ele deixa mulher, quatro filhos, duas netas e um livro no prelo, “Carma carnadura”, que será lançado pela Réptil noinício de 2014. Para a obra, posou nu diante das lentes do filho Marco, a fim de registrar as marcas da velhice nocorpo humano. Já seu texto trata de um homem que morre em plena vida.

URL: http://glo.bo/19xhETZ