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ANO LVII – N.º 9 OUTUBRO 2011 ASSINATURA ANUAL | Nacional 7,00 € l Estrangeiro 9,50 € Cidadão do mundo Marco Alves em Moçambique António Fernandes novo provincial | Só vê quem acredita | Oito pergun- tas & respostas sobre a Primavera Árabe | Arte de transformar o ambiente

Marco Alves em Moçambique

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"Cidadão do mundo"

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Page 1: Marco Alves em Moçambique

ANO

LVII –

N.º

9 OUT

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2011

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50 €

“Cidadão do mundo”

Marco Alvesem Moçambique

António Fernandes novo provincial | Só vê quem acredita | Oito pergun-tas & respostas sobre a Primavera Árabe | Arte de transformar o ambiente

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Apoie a formação de jovens missionáriosFunde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250€ e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar.São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: 8fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; 8participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; 8beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATARua Francisco Marto, 52 – Ap. 5 – 2496-908 FÁTIMA | T. 249 539 430 | [email protected] Rua D.a Maria Faria, 138 – Ap. 2009 – 4429-909 Águas Santas MAI | T. 229 732 047 | [email protected] Quinta do Castelo – 2735-206 CACÉM | T. 214 260 279 | [email protected] Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 – 1800-048 LISBOA | T. 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 – 4700-713 PALMEIRA BRG | T. 253 691 307 | [email protected]

Consolata é cheia de graça, por Deus agraciada para levar ao mundo a consolação de JesusConsolados são os evangelizados, porque amados de DeusConsolar é levar a toda a parte a consolação de Deus salvadorComo Maria tornamo-nos solidários com todos. Solidariedade é o outro nome da consolaçãoComo Ela somos presença consoladora em situações de afliçãoPor seu amor colocamos a nossa vida ao serviço do homem todo e de todos os homensAllamano deu-nos Maria por mãe e modelo. Por isso chamamo-nos Missionários da Consolata

Nossa Senhora da Consolata

Page 3: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 2011 03 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Um dia destes, contou-me alguém do grupo das «Mulheres Missionárias da Consolata» que, na sua paróquia, fora interpelada por uma paroquiana que lhe disse: “Toda a Igreja é missionária. Porquê um grupo missionário na nossa comunidade?”. A pergunta contém uma afirmação fundamental, que deveria estar enraizada na mente e no coração de todos baptizados. Já a pergunta propriamente dita revela alguma confusão. Felizmente, já lá vai o tempo em que, na Igreja, se pensava que a missão estava delegada, unicamente, a um «corpo de homens e mulheres», que deixavam a sua terra, partiam para países distantes e por lá gastavam a vida, anunciando o Evangelho. Ao passo que os fiéis da Igreja pouco ou nada teriam a ver com o trabalho missionário. A partir do concílio Vaticano II operou-se uma reviravolta. Pouco a pouco, a Igreja toda começou a assumir que a missão lhe compete por natureza própria e os discípulos de Cristo tornam-se conscientes da sua responsabilidade missionária. A ideia de delegar a missão a uns tantos privilegiados foi perdendo força, sendo substituída por uma nova mentalidade que se traduz na expressão: “Toda a Igreja é missionária”.

A partir daqui, há quem tenha começado a pensar que os missionários são dispensáveis e, pelos vistos, também já há quem julgue inútil a presença e a acção de grupos missionários vigorosos e dinâmicos nas paróquias. Seguindo a linha do movimento missionário pós-conciliar, a recente carta pastoral dos bispos portugueses, “Para um rosto missionário da Igreja em Portugal”, contraria esta tendência, sem margem para dúvidas: “Para se dar à animação e cooperação missionária o lugar a que têm direito, torna-se necessário fazer surgir também na Igreja portuguesa centros missionários diocesanos e grupos missionários paroquiais, laboratórios missionários, células paroquiais de evangelização, que, em consonância com as Obras Missionárias Pontifícias e os centros de animação missionária dos institutos missionários, possam fazer com que a missão universal ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã”.As grandes transformações em curso nas sociedades ocidentais, que também atingem as nossas Igrejas, exigem dos baptizados um renovado zelo missionário. Neste contexto, percebemos a importância de grupos bem formados, capazes de contribuir activamente para colocar toda a Igreja em estado de missão. A acção destes grupos é decisiva para animar missionariamente toda a pastoral da Igreja. “A missão não pode ser apenas o ponto conclusivo dos nossos programas pastorais, mas o seu horizonte permanente e o seu paradigma por excelência, a alma de toda a programação e de todos os itinerários de formação cristã”, afirmam os bispos na referida carta pastoral. Aliás, recordam a afirmação de Bento XVI: “A missão «ad gentes» deve ser a prioridade dos seus [das Igrejas] planos pastorais”. Para estimular uma pastoral com este respiro missionário, a carta pastoral indica claramente que é “imperioso constituir, preparar e formar grupos consistentes de evangelização, também por áreas profissionais, uma verdadeira rede de evangelização, que, no coração do mundo, sinta a alegria de levar o Evangelho a todos os sectores da vida”. O Outubro missionário, arranque de um novo ano pastoral, é uma ocasião propícia para repensar a pastoral das nossas paróquias à luz das orientações dos nossos bispos, colocando a missão no coração de todas as actividades pastorais.

Repensar a pastoral

O Outubro missionário,

arranque de umnovo ano pastoral,

é uma ocasiãopropícia para

repensara pastoral das

nossas paróquiasà luz das

orientaçõesdos nossos bispos,

colocandoa missão no

coração de todas as actividades

pastorais EA

Page 4: Marco Alves em Moçambique

Pagamento da assinaturamultibanco (ver dados na folha de endereço),transferência bancária nacional (Millenniumbcp)NIB 0033 0000 00101759888 05transferência bancária internacionalIBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05BIC/SWIFT BCOMPTPLcheque ou vale postal

Assinatura AnualNacional 7,00€Estrangeiro 9,50€De apoio à revista 10,00€Benemérito 25,00€Avulso 0,90€(inclui o IVA à taxa legal)

Nº 9 Ano LVII – Outubro 2011Tel. 249 539 430 / 249 539 460Fax 249 539 429 [email protected]@fatimamissionaria.ptwww.fatimamissionaria.pt

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da ConsolataContribuinte Nº 500 985 235Superior Pro vin cial Norberto Ribeiro LouroRedac ção Rua Francisco Marto, 522496-908 FátimaIm pres são Gráfica Almondina,Zona Industrial – Torres NovasDepósito Legal N.º 244/82Tiragem 28.000 exemplaresDirector Elísio AssunçãoRedacção Elísio Assun ção, Manuel CarreiraConselho de Re dac ção António Marujo, Elísio Assunção, Manuel CarreiraColabora ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Cristina Santos, Darci Vila ri nho, Leonídio Ferreira, Luís Mau rício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diaman tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Quénia, Álvaro Pa che co – Coreia do SulFotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As sunçãoe ArquivoCapa e Contra-capa Ana PaulaIlustração H. Mourato, Mário José Teixeirae Ri car do NetoCom po sição e Design Ana Pau la RibeiroAd mi nis tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Rua Francisco Marto, 52Apartado 52496-908 FÁTIMA

Tem a sua assinatura da revista

atrasada? Com ape nas 10 eurospode actualizá-la para 2011Porque continua à espera?Não perca tempo!

FÁTIMA MISSIONÁRIA 04 OUTUBRO 2011

03 EDITORIAL 805 PONTO DE VISTA No coração da Igreja e da Missão 806 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Saber soltar 808 MUNDO MISSIONÁRIO Crianças refugiadas expostas “a grande risco” | Maior campo de refugiados do mundo situa-se no norte do Quénia | Japão descobre a solidariedade na desgraça | UNESCO promove 7º fórum de jovens | No Afeganistão nove milhões de pessoas enfrentam a fome 811 AVENTURAS Pipo e os voluntários 812 APÓSTOLOS MODERNOS Só vê quem acredita 822 GENTE NOVA EM MISSÃO Festa do regresso 824 TEMPO JOVEM Arte de transformar o ambiente 826 SEMENTES DO REINO O motor da missão 828 O QUE SE ESCREVE 830 O QUE SE DIZ 831 VIDA COM VIDA Optou pelo melhor 832 OUTROS SABERES Nem tudo o que parece é 833 A MISSÃO É SIMPÁTICA Tão diferentes e tão iguais 834 FÁTIMA INFORMA Voluntariado promoção e reconhecimento precisa-se

Fome atinge13 milhões de pessoas

Oito perguntas & respostassobre a Primavera Árabe

Marco Alves recomenda a missão de Guiúa, Inhambane

Cidadãodo mundosem

fronteiras

Ano Europeu do Voluntariado

António Fernandes novo provincial

Page 5: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 201105 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto ALBERTO OLIVEIRA E SILVA*

A história dos institutos missionários é exemplo vivo da dedicação total à missão, com a intensidade da vida toda e de todas as suas vidas. São páginas extraordinárias de vigor missionário, envolvendo num mesmo movimento tantos jovens e colaboradores. Ontem, os institutos missionários eram os garantes e os “profissionais” da missão; a eles foi confiado a missão que, por natureza, pertencia a toda a Igreja e a cada baptizado. Hoje, perante as rápidas mudanças de modelos da vida e dos valores culturais na sociedade e na Igreja, que agora se assume como “sujeito primeiro da missão”, os institutos missionários procuram o seu lugar específico na Igreja e interrogam-se sobre o modo possível de ser missão, no contexto das Igrejas locais onde estão inseridos. Para os que pensam que a hora dos institutos missionários já passou e se tornaram irrelevantes, a Carta Pastoral «Como eu vos fiz, fazei vós também – Para um rosto missionário da Igreja em Portugal» despede qualquer equívoco. Com as mesmas palavras da Redemptoris Missio (RM), a Carta reafirma a sua centralidade no coração da Igreja e da missão: “Os institutos missionários não passam para a margem, mas continuam bem no centro, assumindo o seu compromisso missionário ad vitam”. Apresenta-os como “paradigma do compromisso missionário da Igreja”. E, usando as mesmas palavras de João Paulo II,

pede-lhes que “se sintam parte viva da comunidade eclesial e trabalhem em comunhão com ela” (Cf. nº 18).Nesta hora de mudança, estas palavras reconhecem o lugar específico dos institutos e sugerem-lhes uma maior integração nas comunidades eclesiais, através da sua inserção na Igreja local. Tenho pena, contudo, que a Carta não apresente alguns dos caminhos onde os institutos missionários, pelo seu carisma específico, poderiam animar as Igrejas locais no seu compromisso missionário, facilitando a formaçãodo grande movimento missionárioque deve animar toda a Igreja.Sugiro apenas três, se bem que cada um deles podia abrir inúmeros caminhos de novidade missionária no coração das nossas Igrejas locais:– Investir no anúncio: Perante a descristianização e o abandono, que se vive com mais acuidade aqui na nossa Europa, temos que nos preocupar com a presença de Deus nos caminhos dos homens. Ele não é irrelevante no nosso projecto de vida pessoal nem no projecto das nossas sociedades. Este é o desafio da novaevangelização. Neste contexto, afigura-se-me necessário investir as nossas forças pastorais na formação de evangelizadores, de modo a pôr toda a Igreja em estado de missão, capaz de ir ao encontro da grande maioria dos que não frequentamas nossas igrejas e assembleias. – Cultivar a atenção ao “outro” e o serviço ao pobre: A missão tem

que dirigir-se para uma autêntica humanização com uma presença e um estilo de vida que reconhece o outro, quem quer que ele seja, na sua dignidade de “pessoa”. As comunidades cristãs tornam-se assim espaços abertos ao acolhimento, ao diálogo multicultural e à presença do outro, onde a lógica da fraternidade e da solidariedade com e para o outro são sinais sensíveis do Reino. – Inserir a animação missionária na pastoral ordinária: Se na realidade a dimensão missionária é essencial para a vida da Igreja, então ela deve estar presente em toda a pastoral da Igreja. Neste sentido, a carta sublinha o papel insubstituível dos institutos na animação missionária das comunidades eclesiais, que “não devia ser vista como marginal, mas central na vida cristã”. Assim, do “centro” – do coração da Igreja –, através de uma maior inserção nas Igrejas locais, os institutos missionários continuam a ser promotores de comunhão e criadores de pontes entre as Igrejas. Das “margens” e dos “desertos” da missão, eles são facilitadores de encontros com o outro – o pobre, o marginalizado, o sem Igreja nem Deus –, colocam-se ao serviço da vida com a “compaixão” do Bom Pastor e apontam à sua Igreja local o caminho da missão a percorrer.

* superior provincial dos Missionários Combonianos | texto conjunto das publicações da Missãopress

No coração da Igreja e da Missão

Page 6: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 06 OUTUBRO 2011

DIÁLOGO ABERTO

Comentário

Morreu a senhora Emília Mónico, que foi nossa amiga

e colaboradora da FÁTIMA MISSIONÁRIA. Antes de

partir para Deus, deixou-nos várias poesias. Mesmo

sem ter grandes estudos, ela tinha uma veia poética

muito acentuada e os versos e as rimas vinham-lhe à

ideia quando menos ela as esperava. Logo que tinha

um momento de intervalo nas suas lidas caseiras,

punha por escrito a inspiração que a musa lhe dava.

E saíam coisas lindas. Vejamos este poema que aqui

publicamos. É poesia cristalina, como a água fresca e

pura de um ribeiro. Uma simplicidade encantadora,

uma profundidade que mal se lhe chega. Parabéns, dona

Emília! Que Deus lhe dê o céu que merece.

MC

Gracinhas de AllamanoUm leitor identificado, que se assina com as iniciais M. S. M., escreveu uma longa carta onde menciona várias situações em que sentiu a protecção celeste do Beato Allamano em seu favor pes-soal e de seus familiares. São

cartas de condução, exames, doenças, partilhas e outras. Por ser tão longo o texto não temos espaço para o publi-car todo. Fica aqui este resu-mo, para cumprirmos o pe-dido de publicação que ele nos faz. Ficamos contentes por sabermos que o Beato

Allamano está “vivo” no céu e continua a olhar por nós e a atender os nossos pedidos.Leitor nº 47868

Contas em diaEm primeiro lugar, os meus melhores votos e saudações. No último número da “nos-

Renove a sua assinatura

AGRADECEMOS que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2011.SÓ AS ASSINATURAS actualizadas poderão usufruir do pequeno apoio do estado ao porte dos correios.NA FOLHA on de vai escrita a sua direcção, do lado esquerdo, poderá verificar o ano pago e o seu número de assinante.

O PAGAMENTO da assinatura poderá ser feito através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferên-cia bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05IMPORTANTE Refira sempre o número ou nome do assinante.

OS DO NA TIVOS para as missões são de dutíveis no IRS.SE DESEJAR RECIBO, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte.

MUITOS LEITORES chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil assinantes. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

sa” revista, li o relato de uma assinante que, por ser muito idosa e viver só, resolveu pa-gar antecipadamente, cin-co anos de assinatura. Isso deu-me uma ideia. Eu com os meus 85 anos só pode-ria pagar dois anos. Ajudo também o vosso projecto do Gurué que muito me sensibi-lizou. Envio pois um cheque de 25,00€. É pouco, mas as minhas posses são fracas. Se não voltar a escrever é sinal de que já “parti”, e peço a ca-ridade de uma oração.Maria Luísa

NR Belo exemplo o desta se-nhora de 85 anos de idade. Quer ter as contas em dia e não ficar a dever nada. Por isso paga adiantado a assi-natura e não se esquece do projecto do Gurué. Como diz o outro: “a candeia que vai na frente é que alumia”. Tem razão. A única virtude que entra no céu é a caridade.

Miúdos da catequeseAmigos missionários da Con -solata,Sou catequista e gosto mui-to de ler a vossa revista, pois traz sempre artigos cheios de interesse. Além disso ficamos a saber um pouco do que se passa nas missões. Este ano pedi às crianças do meu gru-po de catequese (1º ano) para juntarem algumas moedas, para mandarmos aos meni-nos que não têm nada. Con-seguiram arranjar 100,00€. Mando mais 25,00€ para a minha assinatura. Com todo o nosso carinho.Maria Lurdes e as crianças de 1º ano da catequese de Montechoro – Albufeira

NR Meninos e meninas vós dais as mãos cá ao perto e lá ao longe. E dais tam-bém alguns dos vossos eu-ros. Que Deus vos abençoe! Dêem um abraço a vossa simpática catequista. Para vós um beijinho.

Sou quase analfabetaMas brinco à poesiaA imitar um poetaCom a minha fantasia

De caneta na mãoVou imaginandoE o meu coraçãoMe vai ajudando

Abrem-se os olhosÀ grandeza da vidaPalavras aos molhosÉ semente renascida

A semente é de alegriaApesar da letra modestaÉ a minha companhiaNas horas mortas da sesta

Emília Mónico

Page 7: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 2011 07 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto TERESA CARVALHO ilustração MIGUEL CARVALHO

Saber soltar

mio, já se vêm a trocar uma casa minúscula por uma casa construída à sua medida; a saudade, por visitas aos filhos e netinhos, e tantos outros motivos de felicidade. Mas há coisas que Jaime e Natália não soltam nunca: os ami-gos, a sabedoria adquirida, a arte de fazer cedências e de libertar-se do supérfluo para encontrar o essencial.

Sílvia candidatou-se ao cur-so dos seus sonhos. Tem nota para ser admitida. Foram mui-tas lutas até chegar aqui. Mas, a mãe deita contas à situação da família e percebe que não consegue suportar a despesa. Tudo balança numa corda frágil que antes foi sólida. Que fazer? A mãe dá tudo o que pode. Sílvia vai ao gabinete de acesso ao Ensino Superior

e investiga as alternativas na faculdade da sua terra, com-patíveis com as possibilidades da família. “Solta” o sonho que não pode acontecer, mas não fica de mãos vazias. Traça ou-tro projecto sólido e lança-se a concretizá-lo, de sorriso largo. Até porque há caminhos para-lelos, por onde se alcança bens ainda maiores. A família está com ela, dando tudo o que pode e reconhecendo a gran-diosidade da sua persistência.

Matilde deu entrada no hospital, na véspera da ci-rurgia. A diabetes descon-trolada não lhe permite sal-var o pé esquerdo. Vê tudo a desmoronar: a vida profis-sional, as exigências familia-res, a autonomia e até a sua imagem. Tudo parece ter caído por terra, sem poder

fazer nada para o impedir.Três meses depois, Matilde levanta-se sorridente da ca-deira para acolher Júlia que entra no gabinete do serviço de cirurgia. A equipa clínica pediu-lhe para mostrar à Jú-lia como é possível, na vida real, viver “completa”, sem a perna que irá perder na se-mana seguinte. A alegria sin-cera de Matilde e a descrição da vida intensa que tem, com aproveitamento do “tanto possível”, vão, gradualmen-te, oferecendo a Júlia o novo oxigénio que desintoxica dos fantasmas e faz olhar para a vida como fonte dinâmica de oportunidades, sempre re-novadas quando abraçadas. Agradecidas por isso, ambas perceberam que queriam e estavam a agarrar a vida com olhos de “Mais Além”!

Quando chegar a casa, vou mudar o pessegueiro que está muito à sombra; fico a cuidar da horta, enquanto vais ao cabeleireiro e ficas com os pequenos; pode-se dar uns passeios aos do-mingos, visitar a família e os amigos… Natália ouvia o dis-curso do marido, quase sem pontuação, tão rápido era o seu pensamento. Desde que Jaime marcou no calendá-rio, com um círculo, o 16 de Dezembro, data dos bilhetes de avião comprados há sete meses, qualquer situação desencadeava um turbilhão de ideias. Era como se tudo estivesse já a acontecer.Tinham partido de Portugal, há 42 anos, com muitos so-nhos no saco e uma dose sem-pre insuficiente de anestesia à saudade. Ambos fizeram muitas “idas e vindas”, deram muitos abraços de despedidas e de reencontros. Sonharam vezes sem conta com este “16 de Dezembro”, deitaram fora os desejos tentadores de pa-rar. Soltaram a exigência do conforto, ultrapassaram a so-lidão. Até da língua materna se conseguiram despir.Porque não desistiram? Havia um projecto maior a exigir que se “soltassem” de tudo isso. Conseguiram fazê-lo, porque encontraram felicidade em tantos outros cantos, em tantos amigos, em tantas alegrias, noutra língua. Quando, finalmente, chega o momento do grande pré-

Havia um projecto maior a exigir que se “soltassem” de tudo isso. Conseguiram fazê-lo, porque encontraram felicidades em tantos outros cantos, em tantos amigos, em tantas alegrias, noutra língua

Page 8: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 08 OUTUBRO 2011

Crianças

refugiadas

expostas

“a grande

risco”Mais de 18 milhões de crianças no mundo são forçadas a

viver longe das suas terras e dos seus lares, devido

a conflitos. Segundo estatísticas recentes, um terço

são refugiados, cujas famílias foram obrigadas a fugir,

cruzando as fronteiras. A situação destas crianças não

é suficientemente conhecida, sobretudo em relação

ao que se passa nos países mais pobres que acolhem

refugiados, onde falta alimentação, tendas e outras

estruturas, assim como um apoio ao desenvolvimento

e à construção de infra-estruturas necessárias.

A sua situação tende a piorar, tanto mais que a crise dos

países ricos e desenvolvidos coloca restrições ao asilo

e ao financiamento, obrigando os países mais pobres

a suportar a parte mais pesada. Entretanto as crianças

refugiadas, necessitadas de apoio para melhor suportar

o exílio, conservam na memória imagens de conflitos.

Mergulhadas em fantasmas de um passado horroroso,

estão expostas, com frequência, a actos de violência,

que causam danos à sua saúde mental, com stress,

angústias, traumas, depressões e outras perturbações.

Dadaab, no Quénia, abriga o maior campo de refugiados do mundo. Segundo um estudo recente, aumenta a um ritmo anual superior a 11 por cento, num raio de 50 quilómetros à volta de Dadaab. Criados em 1991,

os acampamentos de Dagahaley, Ifo e Hagadera foram pensados para abrigar 90 mil pessoas, mas actualmente abrigam uma população de 400 mil refugiados. Dadaab tem recebido um fluxo constante

Maior campo de refugiados do mundo situa-se no norte do Quéniade mais de mil refugiados novos por dia. Situado no Quénia a 80 quilómetros da fronteira com a Somália, na região árida de Garissa, o campo de refugiados de Dadaab acolhe os somalis que fogem, desde há 20 anos, da seca e dos conflitos na sua terra. O acolhimento gera problemas complexos que aumentam a frustração da população da região, obrigada a suportar um fardo pesado, sem o necessário e devido apoio. Entretanto o fluxo de refugiados não pára de crescer, assim como os problemas dentro e fora dos acampamentos.

Page 9: Marco Alves em Moçambique

TOBIAS OLIVEIRA,

NAIROBI, Quénia

OUTUBRO 2011 09 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Chover no molhadoQuando a meados do mês procuro um tema para partilhar com os leitores da FÁTIMA MISSIONÁRIA, começo a prestar mais atenção às notícias e, inexoravelmente, deparo com uma ladainha de desgraças. Nestes dias, as notícias dizem respeito à fome que alastra no Quénia e em toda a África Oriental, mas há também desgraças novas e evitáveis. Vejamos! Na semana passada, numa favela de Nairobi, os habitantes descobriram que o oleoduto que passa por baixo das suas barracas perdia gasolina. A fome é má conselheira e o povo começou a recolher o precioso líquido em jarros e panelas. Mas, bem cedo, a fartura se transformou em tragédia, quando o oleoduto explodiu levando consigo mais de cem vidas e outras tantas barracas com todo o seu recheio. Caso semelhante é a tragédia da carnificina nas estradas onde quase diariamente o número de mortos supera a dezena. No domingo 18 de Setembro, os jornais mencionavam onze mortos no choque frontal de um autocarro com um camião, na estrada que liga Nairobi a Mombaça. Mais triste ainda é caso das aguardentes caseiras falsificadas, que causam a morte ou deixam cego ou inválido quem as consome. Porquê estas calamidades? Nalguns casos é a ignorância, noutros a incúria, em todos a ineficácia do poder político. Gostaríamos de narrar um mundo diferente, mas a nossa missão é aqui e agora.A ordenação sacerdotal de um novo missionário da Consolata, em que participei, em 17 de Setembro, recorda-me que afinal não há só “chover no molhado”. Há também bênçãos para hoje e nova esperança de um amanhã melhor e mais justo.

A seca no norte do Afeganistão está a provocar uma crise alimentar muito perigosa. Mais dois milhões de afegãos vão juntar-se aos sete milhões de todo o país que já vivem em situação de pobreza e fome. O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas só tem recursos para socorrer quatro milhões. O próprio presidente afegão, Hamid Karzai, já exprimiu a sua preocupação pela situação, declarando que a fome já está a provocar sérios prejuízos na vida dos afegãos. Todas as nascentes de água estão secas, impedindo a rega dos campos e as respectivas colheitas.

O “desastre enorme” do sismo e do tsunami de 11 de Março tornou-se

para o Japão numa “descoberta de uma grande e sincera solidariedade,

que brotou de todo o país, mas também do estrangeiro”, afirmou

Gijun Sugitani, representante extraordinário de Tendai Zasu,

monge supremo budista da linha Tendai. Muitos dos “fundos reunidos

vieram de pessoas com pouca disponibilidade económica e até de

crianças”. O monge acrescentou: “Com este fortíssimo terramoto,

aprendemos que os seres humanos devem ser mais humildes diante

da natureza e que somos parte integrante da família humana”.

Os jovens “estão a levantar a voz para transformar o presente e o futuro dos

seus países”, afirmam os organizadores do 7º fórum, que terá lugar, em Paris,

de 17 a 20 de Outubro. “Querem ser escutados e tomar parte nos debates e

nos processos de decisão de mudança”. Sobre o tema “Como os jovens

conduzem a mudança”, o 7º fórum reúne delegados de organizações

juvenis, personalidades da sociedade civil, de organismos das Nações Unidas

e organizações governamentais, académicos e representantes do sector

privado, para que possam “discutir, confrontar-se e trocar ideias sobre os

diferentes temas”.

No Afeganistão nove milhões de pessoas enfrentam a fome

Japão descobre a solidariedade na desgraça

UNESCO promove 7º fórum de jovens

Page 10: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 10 OUTUBRO 2011

entrevista E. ASSUNÇÃO foto ANA PAULA

Qual o sentimento dominan-te nesta hora de mudança da sua vida missionária?São muitos os sentimentos que, neste momento, me in-vadem o coração e que, con-tinuamente, tenho presentes na minha mente. O primeiro é, sem dúvida, que os cami-nhos e os planos de Deus são diferentes dos meus. Não pensava, nem deseja-va, neste momento, assumir serviços de animação no Instituto. Queria e desejava regressar para o continen-te americano e viver aí uma nova experiência de missão. Num primeiro momento, depois de conhecer o resul-

tado da minha eleição e dar o meu «sim», chorei sentin-do que estava a perder algo que desejava viver num fu-turo muito próximo.O segundo sentimento é de confiança e esperança. Sem-pre acreditei que Deus não deixa de estar presente na história e de me acompa-nhar nos aconteci mentos do dia-a-dia. Consciente da sua presença consoladora, quero viver, com muita esperança, a redescoberta contínua des-sa mesma presença na nossa história e na construção da missão, juntamente com os missionários, missionárias, leigos, leigas da Consolata

e todos os que partilham o sonho do nosso Fundador, Beato José Allamano.Qual o sonho que acalenta perante o serviço à província portuguesa da Consolata? Como todo o ser humano,

tenho, dentro de mim, mui-tos sonhos, que vão alimen-tando a minha vida pessoal e o meu ser missionário da Consolata. Antes de tudo, quero viver com muita espe-rança e alegria e, na medida

António Fernandes

novoprovincialSonhos e projectos enchem o coração e a mente do novo superior dos Missionários da Consolata. António Fernandes inicia a nova etapa enriquecido com 12 anos de serviço missionário em Roraima, Brasil,e seis como conselheiro geral do Instituto

“Sonho com o dia em que todosos que partilham a vocação missionária, imbuídos do carisma de Allamano, possam construir novos caminhos missionários”

Nova direcção provincial

da Consolata, eleita a

14 e 15 de Setembro

de 2011, em Fátima:

padres Luís Maurício,

Ramon Cazallas, António

Fernandes, Carlos

Domingos e Eugénio Butti

Page 11: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 2011 11 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto CARREIRA JÚNIOR ilustração H. MOURATO

– Pipo, estamos outra vez em Outubro. É o mês das missões. Tens alguns projectos?– Tenho. Quando se fala de missões e vocações estou sempre alerta. Em anos passados olhei mais para o dinheiro, as ofertas que se dão para as missões. Este ano estou mais voltado para o voluntariado laical. Laical é aliás, uma palavra que eu domino pouco. Mas sei que há vários tipos de voluntariado. Por exemplo o meu grupo de escuteiros tem participado em várias acções desse género. Há tempos fomos ajudar a consertar a casa de uma família pobre. Alguns começaram logo a dizer: Isto é voluntariado! Mas a mim o que mais me interessa é o voluntariado missionário, os jovens que oferecem as suas férias e vão para outras terras e lá trabalham ao lado dos missionários: uns dão aulas, outros ensinam línguas e dão catequese. Alguns até se dedicam à agricultura e à pecuária ensinando técnicas modernas. Quando regressam, trazem a alegria de uma experiência quelhes fica para toda a vida.

Pipo e os voluntários

do possível, irradiá-las, com quem partilho o meu dia--a-dia, no dom que é nossa vocação missionária para a Igreja e para o mundo.Sonho com o dia em que todos os que partilham esta vocação missionária, im-buídos do carisma do Beato Allamano, possam cons-truir, com espírito de famí-lia, caminhos missionários que ajudem as pessoas a encontrar-se com Deus, na realidade em que vivemos. Iluminados pela vida e op-ções de Jesus Cristo, pos-sam ser sinal profético da acção do Espírito de Deus na vida da Igreja e da nossa sociedade. Sonho com o dia em que to-dos os que se sentem parte viva da família allamania-na possam colaborar para construir uma missão leve de estruturas e cheia de vida. Onde a atenção à pessoa na sua totalidade e o anúncio da boa nova do Evangelho possa ser uma realidade vivida gra-tuitamente. Sonho com uma família mis-sionária que não se cansa de procurar caminhos novos, agindo na comunidade em que vive e pensando global-mente. Uma família aberta à novidade do Reino de Deus que está presente nas dife-rentes e mais diversas reali-dades que encontramos na história de cada pessoa: ins-tituição religiosa, eclesial, social, independentemente da sua cultura, credo, situa-ção social ou outra. Quais os novos caminhos da missão na Europa apontados pelo recente capítulo geral da Consolata? Como família allamaniana, inserida no continente euro-peu, não podemos deixar de ter presente alguns aspectos inerentes ao nosso carisma de Missionários da Consolata:Anúncio: Desde há sécu-

los, pioneira na obra evan-gelizadora, a Europa vê-se hoje confrontada com um processo de secularização das nossas famílias e socie-dades. É necessário viver-mos com alegria a nossa vocação missionária, dentro da própria Igreja, e apresen-tar com radicalidade a pro-posta do Evangelho que em todos os tempos não deixa de ser provocadora. É ne-cessário construir novas co-munidades, que sejam sinal da presença de Deus e sejam criadoras de novas relações humanas. Comunidades on-de o amor, a gratuidade e o serviço aos mais despro-tegidos e carentes da vida em abundância – que Deus quer para todo o ser huma-no – sejam o centro da nos-sa prática quotidiana.Presença consoladora: A nossa espiritualidade, a nossa acção evangelizado-ra devem ser sinal visível da nossa proximidade nas situações que clamam por justiça e que permitem a redescoberta da presen-ça de Deus que se encarna continuamente na história da humanidade. Necessi-tamos de estar mais aten-tos aos gritos e anseios, que o ser humano na sua rea lidade concreta lança a todo o baptizado que está consciente da sua missão no mundo de hoje, à luz das opções de Jesus Cristo.Testemunho de Deus e comunidades frater-nas: Somos instrumentos de Deus. Ele chamou-nos e envia-nos. É presença con-soladora para cada um de nós e n’Ele encontramos a força. Com Ele queremos construir comunidades que sejam espaço de comunhão, capazes de acolher o dife-rente das diversas culturas, e viver a missão entre os outros e com os outros.

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 12 OUTUBRO 2011

texto DOMINGOS FORTE foto E. ASSUNÇÃO

Só vê quem acreditaTem um jeito muito pessoal de anunciar Jesus Cristo! No sertão do nordeste brasileiro, Domingos Forte, jovem missionário da Consolata de Airão, Guimarães, arrasta jovens e adultos. Pelas ruas da cidade de Jaguararí, saúda toda a gente, ouve confidências e desabafos, e espalha sorrisos e palmadas nas costas

odos os homens por natureza ten ­dem ao saber.Isso demonstra o seu amor pelos

sentidos, […] independente­mente da utilidade. E, entre todos, preferem a visão […].O motivo é que, mostran­do a multiplicidade das di­ferenças, a vista consegue adquirir o conhecimento, mais do que todos os outros sentidos”. Palavras de Aris­tóteles, na sua obra mais famosa, «A Metafísica», um verdadeiro marco milenar do pensamento humano. Haverá alguém que se atreva a contestar o ponto de vista do filósofo? A visão é o sen­tido que mais proporciona o conhecimento. Prova disso, é o facto de a palavra “ideia” vir do grego “ver”. Podemos ter ideias, conhecer, porque vemos. Na cultura ocidental – na Bíblia, as coisas são um

pouco diferentes! – é muito importante ver, muito mais que ouvir, por exemplo. Na era digital, da imagem, do look, ver reveste­se de uma importância especial. Mas, Deus não se pode ver!

Está aqui? Não O vemosOs primeiros cristãos viam Jesus porque “o Senhor [in­visível] todos os dias visitava a comunidade daqueles que eram salvos” (cf At 2, 47). Se­gundo Pedro, é uma presença que se vê e se sente no amor. “Este Jesus, vós O amais, mesmo não o tendo visto, e agora, sem vê­lo, acreditais nele” (1Pd 1, 8). Tomé, nosso irmão gémeo, não via, mas depois viu: “Porque me viste, creste, Tomé; bem­aventura­dos os que não viram e acre­ditaram” (Jo 20, 29).Este itinerário espiritual baseado sobre o invisível propõe uma visão sobre­

natural, assente num sex­to sentido – em nós muito pouco desenvolvido! – a fé.

Crer no Invisível“O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ensinar­vos­á todas as coisas” (Jo 14:26). É belíssima a imagem de Cris­to que sopra o Espírito Santo sobre os Apóstolos. Na missa crismal de quinta­feira santa, o mesmo gesto é feito pelo Papa e bispos do mundo in­teiro, sobre o óleo perfumado, para que se transforme em crisma de salvação. Soprar para comunicar o Espírito: um gesto eficaz. O Espírito é chamado por um título tão es­tranho: “Consolador”.

Consolador de quem?Consolador dos homens que não podem ver o Amado, mas caminham na luz­sombra da fé. Consola­nos na nossa

incapacidade de ver Cristo, como os apóstolos viram. Precisamos do Espírito Con­solador, o sopro de Cristo que aviva no coração de cada cris­tão a fé baptismal. O evange­lista João diz­nos que é possí­vel acreditar sem ver. Diz­nos algo ainda muito mais forte: há uma bem­aventurança, uma felicidade, na fé sem vi­são. A nossa fé está radicada na Palavra e nos actos prati­cados por Cristo. Precisamos de um regresso diário e pes­soal ao Evangelho. O enérgico convite do Res­suscitado, dirigido hoje, a cada um de nós, é para abrir­mos os nossos corações e mentes à sua Palavra. Como Tomé, possamos gritar: “Meu Senhor e meu Deus!”. Que o amor empurre os cristãos para o heroísmo da sequela, para que a fé aumente no co­ração dos que crêem. Afinal, isto não é ofício só de padres!

Em Jaguararí, cidade do nordeste brasileiro, Domingos Forte preside à procissão da festa de São João Baptista

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OUTUBRO 2011 13 FÁTIMA MISSIONÁRIA

ais de 13 milhões de pes-soas de uma região que abrange a Somália – o país mais afectado – a Etió pia e, com menos intensidade, o

Djibuti e o Uganda, enfrentam a pior crise alimentar dos últimos 20 anos. Segundo as Nações Unidas, vai per-durar até, pelo menos, 2012. Calcula--se que cerca de 100 crianças morrem todos os dias na Somália vítimas da fome e da má nutrição, enquanto mi-lhares de pessoas tentam diariamen-te alcançar os campos de refugiados superlotados, em Mogadíscio ou em países vizinhos, arriscando semanas de caminhada e a passagem por re-giões controladas pelo grupo terroris-ta Al-Shabab, considerado próximo da Al-Qaeda. Os seus guerrilheiros têm dificultado o acesso da ajuda hu-

Somália, Etiópia, Djibuti e Uganda

Fome atinge13 milhões de pessoas

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

cultura. Quénia e Etiópia mostraram-se incapazes de antecipar medidas para mi-norar uma situação que já vinha sendo alertada, desde o ano passado, pelas or-ganizações internacionais. Por seu lado, a prioridade do governo da Somália tem sido tentar sobreviver aos ataques dos grupos armados, numa guerra civil que se arrasta há cerca de 20 anos.Para além disso, estamos numa região com um crescimento populacional for-te, agravando ainda mais a situação alimentar em tempo de crise. Como se isso não bastasse, a pequena agricul-tura, da qual depende a alimentação da maioria da população, tem vindo a ceder terreno para as grandes explo-rações agrícolas, muitas delas dedica-das a produtos destinados a mercados internacionais, como acontece com o caso dos biocombustíveis e das flores.

Números da criseA gravidade da situação levou a Orga-nização das Nações Unidas a pedir aos países membros um reforço da ajuda humanitária necessária para combater a crise alimentar. As estimativas iniciais cifravam-se em 2,4 biliões de dólares, mas face ao agravamento da situação e à identificação de novas regiões afec-tadas pela seca, as Nações Unidas têm vindo a rever os números que se si tuam agora em cerca de 7,9 biliões.Falamos de um montante certamente elevado, quando sabemos que os Esta-dos Unidos e a Europa, que se encon-tram entre os principais doadores da ajuda humanitária mundial, enfren-tam uma crise económica e financeira grave. Mas, como nos recordava recen-temente um editorialista do jornal Le Monde, as despesas do Pentágono se-rão, em 2012, de 600 biliões de dólares e o plano financeiro de ajuda à Grécia irá ultrapassar os 400 biliões.

A gravidade da situação levou a Organização das Nações Unidas a pedir aos países membros um reforço da ajuda humanitária necessária para combater a crise alimentar

A fome voltou a assolar a região do Corno de África,que vive a maior seca dos últimos 60 anos

manitária a milhões de pessoas ne-cessitadas, alegando que o problema humanitário na região não passa de uma invenção e um complot das or-ganizações humanitárias para melhor controlarem a região.

Seca, guerra e desestruturaçãoAs causas desta crise humanitária são unanimemente atribuídas às condições climáticas: a seca. Cerca de 75 por cento da população da região depende da agri-

Page 14: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 14 OUTUBRO 2011

Qual foi o início da chamada Prima-vera Árabe?Na manhã de 17 de Dezembro, um ven-dedor ambulante de vegetais tunisino foi multado pela polícia em Sidi Bou-zid, no Sul do país. Por protestar, apre-enderam-lhe a pequena carroça onde transportava as hortaliças. Indignado, Mohammed Bouazizi foi-se queixar dos polícias às autoridades locais. Ninguém o quis escutar. Ninguém o quis rece-ber. Nem sequer quando explicou ser o único sustento de uma mãe viúva, de um tio-avô e de uma dúzia de irmãos. De seguida, regou-se com gasolina e deitou fogo a si próprio. Socorrido, so-breviveu, mas com queimaduras graves por todo o corpo. A sua imolação gerou uma onda de protestos solidários em Sidi Bouzid e depois no resto da Tuní-sia. De repente, o regime tunisino era acusado de prepotência. E de ignorar as dificuldades da população, sobretudo dos jovens, muitos deles com estudos universitários mas sem perspectiva de emprego. Calcula-se que em alguns paí-ses árabes o desemprego jovem ronde os 40 por cento, o que significa o adiar de uma vida independente.

Como reagiu o presidente Ben Ali aos protestos?De início, o homem no poder em Tunis desde 1987 preferiu ignorá-los. Mas com

Uma vaga revolucionária assola o mundo árabe

desde Dezembro. E três ditadores já caíram. Juntos

somavam quase cem anos no poder. Mas se a ideia

é criar democracias no Magrebe e no Norte de África,

uma andorinha não faz a Primavera

texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA

perguntas & respostassobre a Primavera Árabe

a pressão popular a crescer, até visitou Bouazizi no hospital, sendo fotografado ao lado do jovem totalmente coberto por ligaduras, poucos dias antes deste morrer a 4 de Janeiro. Depois, o ditador ordenou à sua polícia que reprimisse os manifestantes. Como mesmo assim os protestos prosseguiram, não só na capital Tunis, com um pouco por todo o país, pediu a intervenção do exército. Os chefes militares recusaram intervir contra o povo e Ben Ali ficou isolado. A 14 de Janeiro fugia do país num avião a caminho da Arábia Saudita.

Os protestos alastraram ao Egipto. De que forma?A televisão Al-Jazeera, baseada no Qa-tar mas vista em todo o mundo árabe, foi decisiva. Mostrou a revolta tunisi-na aos outros países do Magrebe e do Médio Oriente. De repente, populações habituadas a terem líderes que manda-ram durante décadas sem contestação viam Ben Ali ser desafiado nas ruas e derrubado. Ao mesmo tempo, as redes sociais na internet, como o facebook e o twitter, permitiram aos opositores con-tornar a apertada vigilância das polícias políticas e organizar protestos de rua. A chegada dos jornalistas estrangeiros, que mostravam a Primavera Árabe ao mundo, também incentivou os povos a acreditar na mudança. No Egipto, as

manifestações contra Hosni Mubarak começaram a 25 de Janeiro. No Iémen, a contestação iniciou-se a 11 de Feverei-ro. E no Bahrein, a população começou a sair à rua a 14 de Fevereiro.

Porquê Primavera Árabe, se começou em Dezembro?A designação é uma referência à Prima-vera dos Povos, que a Europa viveu em meados do século XIX. Na época, houve revoltas populares contra os monarcas absolutos e a exigir mais direitos para as populações. Nas ditaduras árabes, mes-mo nas repúblicas, a sucessão dinástica estava na moda: Bashar Assad sucedeu há uma década ao pai na Síria, Gamal

Manifestantes protestam contra o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, e as suas tropas que abriram fogo sobre a multidão

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OUTUBRO 2011 15 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Mubarak preparava-se para substituir o pai no Egipto e até Muammar Khada-fi, o líder líbio, promovia Saif al-Islam, o seu filho mais velho, como herdeiro político. Os povos árabes revoltaram-se contra déspotas que se viam já como donos dos seus países.

Onde foi até agora vitoriosa a onda revolucionária?Os protestos na Tunísia forçaram Ben Ali ao exílio. O egípcio Mubarak caiu em meados de Fevereiro e está a ser julgado no Cairo. Khadafi, que viu a 21 de Agos-to Tripoli, a capital, passar para as mãos dos rebeldes, promete agora resistência de um esconderijo que se julga ser na

perguntas & respostassobre a Primavera Árabe

Líbia. Nestes três países pode dizer-se que a revolução triunfou, mas isso não significa que a democracia venha a ser conseguida nos tempos mais próximos.

Que país promete mais vir a ser uma democracia?Com os seus dez milhões de habitantes, 7,1 por cento da riqueza nacional inves-tida na Educação e as mulheres com di-reitos únicos no mundo árabe, a Tunísia está bem posicionada para lá chegar. Desde a independência da França em 1956, tem havido um sério esforço de modernização por parte dos seus líde-res, com Habib Bourguiba a promover o estatuto feminino e a criticar o islão or-todoxo o seu sucessor, e Ben Ali, mesmo ditador, a apostar forte nas novas tecno-logias que levariam de certo modo à sua queda. Estão marcadas eleições para Outubro, com partidos de todas as ideo-logias, desde os islamitas aos comunis-tas. No Egipto, com os seus 82 milhões de habitantes, o processo advinha-se mais complicado, porque os militares dominam a vida política desde o derru-be da monarquia na década de 1950. Os civis exigem que se acelere a passagem

de poder, mas os generais, todos ex-ca-maradas de Mubarak, temem ver o país mergulhar no caos. Já na Líbia, de sete milhões, e além das bolsas de resistên-cia pró-khadafistas, a legitimidade dos rebeldes é limitada pela necessidade de terem contado com os bombardea-mentos da NATO para o triunfo. O novo líder é Mustafa Jalil, que até Fevereiro era ministro da Justiça de Khadafi. E as divisões tribais são fortes, pelo que se teme que haja ajustes de contas e luta pelo maná petrolífero (mas este até po-derá pagar consciências).

Onde falhou a Primavera Árabe?Na Jordânia e em Marrocos, medidas liberalizadoras dos monarcas permiti-ram, aliviar a pressão popular e não há grandes hipóteses de revolução. Na Argélia, os militares sufocam qualquer contestação e a própria população, ain-da com uma guerra civil na memória, não se arrisca a destabilizar o regime. No Iémen, muito tribal, o poder de Ali Abdullah Saleh está fragilizado, mas tar-da a mudança de líder. Já no Bahrein, o apoio militar saudita permitiu ao rei esmagar a revolta. A grande incógnita é a Síria, onde os protestos iniciados a 18 de Março prosseguem, apesar da dura repressão do regime, incluindo fazer entrar blindados nas cidades, ter feito mais de dois mil mortos. Assad promete abertura do regime, mas sem convencer ninguém. Está cada vez mais isolado.

A religião joga algum papel nestas revoltas?Pouco, tirando que no Bahrein e na Síria, são minorias islâmicas que go-vernam maiorias de outra corrente do islão. Nos protestos ninguém queimou bandeiras americanas ou de Israel e não houve palavras de fidelidade à Al-Qaeda. Tanto na Tunísia como no Egipto, os partidos islâmicos prome-teram respeitar o jogo democrático. Só na Líbia, se suspeita que boa parte dos rebeldes gostaria de ver proclamado um Estado islâmico, mas a influência internacional não o permitirá. Mas houve alguns incidentes com cristãos: um padre foi degolado na Tunísia e igrejas coptas atacadas no Egipto, mas já o eram antes da mudança de regime.

* Jornalista do DNManifestantes protestam contra o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, e as suas tropas que abriram fogo sobre a multidão

Page 16: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 16 OUTUBRO 2011

Ano Europeu do Voluntariado

Cidadãodo mundosemfronteiras

Jovem estudante de medicina, a entrar para o último ano, 25 anos, Marco Alves partiu para Moçambique em acção de voluntariado, nesteVerão. Esteve no Guiúa, Inhambane, mais de um mês, onde fez práticade medicina no Centro de Saúde local. “Apesar do voluntariado serum acto altruísta, quando fazemos o gesto voluntário, recebemossempre muito mais das pessoas do que lhes damos”, garante o jovemde Leiria. “Considero-me um cidadão do mundo e não tenho algumtipo de fronteiras. Onde quer que a vida me leve, não tenhonenhum problema em atravessar para outro país”. Moçambiquefoi a sua opção. “Se tiver que rumar para outro destino, não vou dizerque não, nem ficar preso a nenhum paradigma de fronteira”

texto E. ASSUNÇÃO fotos ANA PAULA E MARCO ALVES

Page 17: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 201117 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Sempre tive o desejo de fazer volun-tariado em África e tinha preferência por um PALOP (país africano de lín-gua oficial portuguesa)”, explica Mar-co Alves. “De entre todos, Moçambi-que é o meu país de preferência, pela beleza natural e pelas pessoas”. É um desejo que acompanha, desde os tem-pos em que era escuteiro em Leiria, o jovem estudante de medicina: “Apesar do voluntariado ser um acto altruísta, quando fazemos um gesto voluntário, recebemos sempre muito mais das pes-soas do que lhes damos. Independen-temente de acontecer em Portugal ou noutro país qualquer, o sentimento é

sempre igual”. Servir os outros tem um gosto especial: “Quando uma pessoa faz gestos em que não existe nenhuma remuneração, nenhum sentido físico monetário, os gestos são mais naturais e mais verdadeiros”.Quem parte para um país do Tercei-ro Mundo “imagina sempre tantas coisas, ouve, lê, vê na televisão”. Mas a realidade “é mais intensa, é tudo di-ferente”. O jovem estudante partiu na expectativa de encontrar precariedade e miséria. “As necessidades da popula-ção são diferentes, as nossas perspecti-vas são muito mais ocidentalizadas em relação ao que existe lá”. Mas a gran-de descoberta foi “o sentido de comu-nidade que se vive em Moçambique, neste caso no Guiúa e nas missões”. É uma experiên cia difícil de traduzir. “Só mesmo estando lá, é que uma pessoa vê o sentido de comunidade das popu-lações, a ligação que têm à Igreja e a tudo o que está à sua volta”.

País em mudançaA chegada a um novo país per mite, pouco a pouco, descobrir uma reali-dade diferente. “Aterrar numa capi-tal dá sempre uma imagem difícil de compreen der. As metrópoles são mui-to movimentadas, muito ocupadas e aí não conseguimos ver o país em si, con-tactar com a população, nem ver e sen-tir da mesma maneira o que vamos à procura”. Maputo não foge à regra. “Se um moçambicano aterrar em Lisboa, terá a mesma sensação e não consegui-rá conhecer Portugal como ele é, se não sair de Lisboa”. A capital moçambicana dá a imagem de “um capitalismo muito marcado, tudo está a mexer, há cons-truções em andamento, a cidade está a mudar e tudo com ela, após tantos anos da guerra civil”. São visíveis “as marcas da presença dos portugueses, boas e más”. Moçambique não é só Maputo. “Ainda bem que, passados uns dias, tive a oportunidade de viajar para ou-tras regiões de Moçambique”.

Surpresa e acolhimento familiarA viagem para Inhambane mostrou ao jovem voluntário outra realidade. “A transição do alcatrão para a terra bati-da foi quase a transição de Maputo para

“De entre todos,Moçambique é o meu paísde preferência,pela beleza naturale pelas pessoas”

Page 18: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 18 OUTUBRO 2011

A missão de Guiúa acolhe uma multidão de doentes, sobretudo nos dias de mercado

“As pessoas têm

uma ansiedade

enorme

de receber bem,

de nos

cumprimentar,

de nos fazer sentir

que estamos em

família. É óptimo,

maravilhoso!”

Ano Europeudo Voluntariado

o Guiúa. É tudo tão diferente, mesmo dentro do país o contraste é gigante. As pessoas, os sorrisos, o receber, a pró-pria natureza, tudo é totalmente dife-rente”. Mas o que mais impressionou Marco Alves foi o acolhimento. “É mui-to difícil descrever o modo como aco-lhem. É algo a que já não estamos ha-bituados, na sociedade moderna”. Um acolhimento familiar, como se chegas-se alguém que sempre esperaram. “As pessoas têm uma ansiedade enorme de receber bem, de nos cumprimentar, de nos fazer sentir que estamos em famí-lia. É óptimo, maravilhoso!”.

Sentimento de impotênciaAos mais variados sentimentos, que o contacto com as gentes de Guiúa des-perta no coração do jovem leiriense, ressalta a impotência. “Quando esta-mos tão perto dos problemas e não os conseguimos resolver da maneira que precisam de ser resolvidos, diante das

carências e da precariedade, as situa-ções tornam-se complicadas, pois não temos meios para resolver. Não che-gam as mãos humanas”. Guiúa é uma missão “altamente orga-nizada e dinâmica”, onde funcionam múltiplas actividades. Além da evan-gelização, dispõe de um centro de pro-moção humana, com diversas valên-cias, entre as quais sobressai a escola de formação de catequistas.

Magia da informáticaDurante mais de um mês de perma-nência em Guiúa, Marco Alves esteve mais ligado ao Centro de Saúde e à ma-ternidade. “Mas também tive a sorte de estar com os catequistas, nas aulas de informática”. Ensinar informática em África “é algo quase mágico, como começar, por exemplo, a explicar o que é um computador”. Mas é, sobretudo, fascinante e compensador. “Quando se ensina uma coisa tão diferente e, às ve-

zes, tão inacessível a uma população na faixa etária dos catequistas, eles mos-tram uma vontade enorme de aprender e de ter o conhecimento de uma coisa que eles nunca viram. Sente-se que eles querem estar ali e aprender”. Dá gosto ensinar. “Começaram por escrever no computador o que é que eles queriam com a informática”. As expectativas eram enormes. “Foi interessante des-cobrir os sonhos que eles têm com o conhecimento que adquirem no Cen-tro de Promoção Humana do Guiúa”. É evidente “a enorme vontade de apren-der e retirar conhecimento para volta-rem às suas comunidades de origem, e conseguirem transmitir e dar de volta”. Poderá pensar-se que se trata de um esforço inútil, num país com tantas li-mitações e carências. “Acho que não! Adquirem o sentimento de aprende-rem algo de novo. Como em todas as experiências da nossa vida, há coisas que nunca mais voltamos a repetir”. Mas fazê-las, “tem valor por si só”, afir-ma o jovem voluntário. “Ainda que seja somente para alargar os horizontes dos catequistas tem sempre valor. Mesmo que seja apenas um que consiga apli-car, quando regressar à sua terra, já faz sentido”.

Peixe na águaO campo em que Marco Alves se sentiu “como peixe na água”, foi o exercício da medicina no Centro de Saúde. “Em Áfri-ca é muito complicado agir com a medi-cina”. As carências são enormes e gritan-

Page 19: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 201119 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Crianças foram a grande paixão de Marco Alves durante o mês de voluntariado na missão de Guiúa, Inhambane, Moçambique

Vai celebrar-se, a 15 de Outubro, em

Lisboa, no Parque das Nações, o «Dia

do Voluntário Missionário». As mis-

sões ca tó licas dos mais variados paí-

ses do mundo acolhem voluntários,

que apoiam as populações desfavo-

recidas, motivados pelo seu desejo

de agir e pela vontade de dar a co-

nhecer os valores do Evangelho. Em

2011, mais de 1.130 jovens e adultos

estão envolvidos em projectos de vo-

luntariado missionário em países em

desenvolvimento ou no próprio país.

Na Europa, mais de 100 milhões rea-

lizam trabalho voluntário. Um nú-

mero considerado insuficiente pela

União Europeia, que fez de 2011 o

Ano Europeu do Voluntariado, para

promover uma cidadania mais activa.

Os Objectivos de Desenvolvimento

do Milénio, fixados para 2015, só po-

derão ser atingidos com a expansão

do voluntariado, não apenas na Euro-

pa, mas também nos países à procu-

ra de maior progresso, exigindo para

isso passos significativos.

A crescer mas insuficiente

tes. “Existem muitas doenças, mais pela falta de prevenção do que por causa das patologias. Basta pensar que o maior fla-gelo, o HIV, é fruto dessa falta em Mo-çambique e em muitos países de África”. A formação e a prevenção resolveriam muitos problemas. “É um processo lon-

go, que tem de começar com as crian-ças. Gradualmente, elas vão adquirir o conhecimento para evitar as doenças e tornar-se mais saudáveis”.As crianças são a grande paixão de Marco Alves. “Estive na pesagem dos bebés, a falar com as mamãs, nas vaci-

nas, a verificar se estavam bem ou mal nutridos, a tentar perceber se havia al-gum problema”. Passou grande parte do tempo nas consultas de pacientes. “É tentar fazer diagnósticos sem meios auxiliares, discernir se enviar a pes-soa para o hospital ou fornecer o tra-tamento. Sabemos de antemão que se as pessoas não receberem algum trata-mento ficam abandonadas, porque não têm possibilidade de ir ao hospital”. A afluência ao Centro de Saúde, princi-palmente em dias de mercado, “é algo do outro mundo”. É complicado e avas-salador. “Chegámos a consultar 50 pes-soas numa manhã. É um dilema muito grande entre conseguir chegar às pes-soas todas e tentar auxiliá-las de algum modo, dando-lhes alguma dignidade e alguma humanidade nas consultas”.Marco Alves sentiu-se bem entre a equi-pa do Centro de Saúde, constituída pela irmã Flora, responsável pelo Centro, e mais três colaboradoras, todas enfer-meiras moçambicanas. “Acolhem mui-tíssimo bem, agradecem imenso o facto de existir alguém que se preocupa e não espera nada em troca, alguém para aju-dar, nem que seja minimamente”. A continuidade do trabalho dos voluntá-rios pode parecer um problema. “Em ge-

Page 20: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 20 OUTUBRO 2011

ral, não só no Centro de Saúde, mas tam-bém nas outras áreas, têm já o hábito de receberem voluntários e a receptivida-de é imensa”. Uns mais, outros menos tempo, são numerosos os jovens que são recebidos anualmente pelo superior da missão de Guiúa, o missionário da Con-solata Diamantino Antunes. Na missão, “estão sempre à espera que voltem, que fiquem mais tempo, que venham mais”.

Oásis de esperançaGuiúa é um oásis num deserto de meios e de assistência às populações, embo-ra diste poucos quilómetros da cidade de Inhambane. “Sem a missão haveria uma quantidade de coisas que simples-mente não existiriam. A ausência do es-tado no apoio às populações só é mesmo combatida pelo simples facto de existi-

rem as missões”. Sem a sua presença no terreno, “as populações ficavam com muito pouco”. Acabam por ser “a voz da população, mesmo junto do estado ou de outras organizações, para mos-trar os problemas que existem e ten-tar ajudar”. A população de Guiúa e de Moçambique, em geral, “não consegue imaginar a organização de um país sem

um papel activo da Igreja. Esta menta-lidade é o reflexo da acção que a Igreja exerce na sociedade moçambicana”.

Igreja inculturadaA Igreja de Moçambique tem uma iden-tidade própria e original: “É completa-mente diferente, não só pela maneira como chega às pessoas, mas também

Código do voluntário missionário

Ano Europeudo Voluntariado

A Igreja de Moçambique tem uma identidade própria e original: “É completamente diferente, não só pela maneira como chega às pessoas, mas também como as pessoas estão dentro da Igreja”

Sê voluntário, promove a justiça!

Sê voluntário, ensina valores!

Sê voluntário, combate a violência!

Sê voluntário, celebra a vida!

Sê voluntário, constrói a paz!

Sê voluntário, educa para o bem!

Sê voluntário, comunica a Boa Nova!

Sê voluntário, remove a mágoa!

Sê voluntário, consola quem sofre!

Sê voluntário, dedica-te aos outros!

Sê voluntário, vence os teus limites!

Sê voluntário, serve com alegria!

Sê voluntário, parte em Missão!

Fruto de uma caminhada, o código do voluntário missionário foi composto pelos Jovens Missionários da Consolata, durante o Ano Europeu do Voluntariado.O código, que a seguir se transcreve, está editado em formato catálogo de bolso plastificado. Cada folha apresenta um artigo do código, com uma explicação,uma oração e um pequeno desafio

Page 21: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 201121 FÁTIMA MISSIONÁRIA

como as pessoas estão na Igreja. É mais nivelada, há mais contacto humano. As palavras são decifradas mais facilmente, as próprias leituras e homilias, tudo é mais decifrado para chegar mais perto e da melhor forma aos crentes”, explica o jovem voluntário. “As comunidades são muito chegadas umas às outras, as cele­brações são animadíssimas. Não fazem uma separação entre a Igreja e a vida normal. Está tudo interligado, é a reali­dade inteira da vida das comunidades”.Marco Alves teve a oportunidade de participar na celebração das “Jornadas Eucarísticas”, em Cumbane, presididas pelo bispo de Inhambane. “As músicas, o ambiente, as pessoas de várias zonas que viajaram até ali para estarem jun­tas e para comungarem juntas, foi tudo muito gratificante”, confessa o jovem.

“Durou entre cinco a seis horas. Foi uma manhã longa, com bastante fraqueza no final. Mas valeu a pena. Foi um domingo muito diferente e muito gratificante”.

Ausência do estadoA visão de Marco Alves sobre Moçambi­que é parcial. “Tenho a noção que é ape­nas um nicho o que vi, comparado com a imensidão do país. As diferenças entre

o norte e o sul, mesmo só no que me foi contado, são gigantes. É um país que está em construção, mas com vontade de viver e de receber, com uma alegria imensa”. O progresso é semelhante ao de muitos países africanos, salvo raras excepções. “Não lhe falta sentido patrió­tico, mas falta­lhe o estado para investir na população para se desenvolver”. Do ponto de vista político, nota­se um défice. “As democracias em África não o são na totalidade. Vê­se não só nas elei­ções, mas também na televisão pública, onde não passam os problemas, nem as realidades moçambicanas que possam fragilizar o poder do estado e do gover­no”. Em contrapartida, as pessoas vêem no ecrã “os aspectos positivos, as mu­danças na saúde, no ensino e noutros sectores importantes”. Essas imagens transmitem “uma visão mais positiva e uma vontade de viver, sentindo­se mais impulsionadas diante do progresso, em vez de verem fatalidades todos os dias”.

Experiência positivaMarco Alves avalia a sua experiência de voluntariado de modo positivo. “Foi maravilhoso, curto, mas muito com­pensador. As pessoas deram­me muito em troca. Tanto os mais idosos como os mais pequeninos”.Voltar? “Espero bem que sim. O que nos marca dá­nos vontade de regressar. Espero ter essa oportunidade”. Guiúa tem um sentido de comunidade extraor­dinário e fascinante. “Inhambane é um sítio que eu recomendo. Não é fácil ex­plicar este sentimento. É a entreajuda, é o sentido de família, de união, de nunca deixar as pontas soltas, de resolver os problemas em conjunto, de se ajudarem uns aos outros, de comungarem a vida em conjunto”. É uma expressão viva. “Não é nenhum livro ou conceito. É viver mesmo a definição”.

Guiúa tem um sentido de comunidade extraordinário e fascinante. “Inhambaneé um sítio que eu recomendo.Não é fácil explicar este sentimento”

Estudante de medicina transforma-se em professor improvisado de informática

Marco Alves avalia a sua experiênciade voluntariado de modo positivo.“Foi maravilhoso, curto, mas muito compensador”

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texto CARLOS E MAGDAilustrações RICARDO NETO

Festado regresso

Olá queridos missionários! Cá estamos de volta

com muita alegria. Outubro é o mês das missões e é também o mês do regresso. Podem perguntar:

Do Regresso? Claro que sim! Regresso à escola, à catequese, reencontro com os

amigos e regresso do Outono.

Preparem-se para o tema deste ano, que será: a Festa. Toda a

nossa vida está sempre envolvida em festa.

Com certeza, também existem tristezas. Mas a alegria da

comemoração regressa sempre. Gostaríamos

que pensassem na melhor forma de

regressar. E, sobretudo, coloquem sempre um

enorme sorriso. Vamos fazer deste o melhor

ano de sempre!

Na escola a Catarina estava cheia de sono, sempre a bocejar, ao passo que os colegas participavam com entusiasmo na aula de História.

É sábado! Começa a catequese na paróquia da Joana. Ela vai para o 4º ano. O irmão prefere ficar a jogar à bola com os amigos.

O Diogo e a Matilde gostam muito do verão, dos gelados, da praia. Mas agora está a chegar Outono, a chuva, o frio e o vento.

FÁTIMA MISSIONÁRIA 22 OUTUBRO 2011

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O meu momento de oraçãoQuerido Jesus,É bom sentir alegria pelo regresso.Regresso do Outono, como uma tela de um pintorcom as suas cores calmas e serenas…Regresso à escola, pelas oportunidades de aprender mais,conhecer melhor o mundo e as pessoas…Regresso à catequese, por Te poder conhecer melhor e dar-Tea conhecer aos outros…Obrigado pelas minhas mãos, pelos meus olhos, pela natureza, pelos amigos, pela família…Ajuda-me a sentir alegria pelo pouco e pelo muito.Ensina-me a observar, para melhor Te conhecer e com alegriame entregar.

1 Estás ansioso por voltar para a escola? Muito Pouco Nada

2 Sentes que depois das férias tens forças renovadas? Muito Pouco Nada

3 És capaz de observar tudo de bom que te rodeia, apesar de nem tudo correr como desejarias? Muito Pouco Nada

4 Tens intenção de te organizares entre o trabalho e os tempos livres? Muito Pouco Nada

5 Sentes-te satisfeito com o teu material para a escola e catequese, mesmo que seja do ano anterior? Muito Pouco Nada

6 Em dias de chuva, aproveitas o tempo que te é oferecido? Muito Pouco Nada

7 Costumas acordar com energia de manhã cedo? Muito Pouco Nada

8 Gostas de ir à catequese e sentir que o fazes por amor a Jesus e não por obrigação? Muito Pouco Nada

Realiza o seguinte teste, para descobrires se te sentes com alegria e entusiasmo para o teu REGRESSO EM FESTA:

MUITO: 10 respostas = Parabéns! Estás preparado para o regresso com alegria.POUCO OU NADA: Maioria das respostas = Cuidado! Tens de ser mais optimista e ver as coisas boas que te rodeiam!NADA: Todas as respostas = Nada? Tu tens sempre alguma coisa. Observa!

OUTUBRO 2011 23 FÁTIMA MISSIONÁRIA

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 24 OUTUBRO 2011FÁTIMA MISSIONÁRIA 24 OUTUBRO 2011

No mundo em que vivemos a capacidade de transformar algo aparentemente inútil e sem valor, em algo economica-mente vantajoso passou a ser uma das regras de ouro. As grandes empresas são aquelas capazes de pegar em algo que parecia não valer nada e de transformar esse “nada” em algo que as massas desejam e compram. A palavra transformar evoca três possíveis dimensões: dar nova forma; converter, mudar; e transfigurar. Gostaria de pegar nestas três dimensões e ver o exemplo que Jesus deixou, pois foi a pessoa que mais ensinou a importância da arte de transformar.

Transformar é dar nova formaAo subir à montanha para proferir o seu discurso, Jesus re-corda aos discípulos de que são sal da terra e luz do mundo.

As imagens usadas por Jesus são perfeitas para nos mostrar que o discípulo é chamado a ser agente de transformação. Todos conhecemos bem a importância do sal na nossa ali-mentação. Comida sem sal não tem sabor, mas com sal a mais é prejudicial à saúde e impossível de comer. Como o sal muda por completo a realidade em que é colocado, do mesmo jeito o discípulo de Jesus é convidado a ser sal, isto é, agente que transforma, que dá nova forma à realidade em que está inserido.Assim também, a imagem da luz. A escuridão é algo que nos assusta; pelo contrário, com a luz tudo fica mais fácil, pode-mos ver tudo. A luz permite ver bem. Estas duas imagens usadas por Jesus mostram que os seus discípulos devem ter a capacidade de transformar o ambiente em que estão inse-ridos; não podem permitir que o ambiente os transforme.

Artede transformaro ambiente

texto PATRICK SILVA foto LUSA

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OUTUBRO 2011 25 FÁTIMA MISSIONÁRIA

“O homem enérgicoe bem sucedidoé o que conseguetransformarem realidadeas fantasias do desejo”.Sem transformação,não seremos pessoasde verdade

Mas, pelo contrário, eles e elas serão os agentes de trans-formação ou, numa linguagem mais bíblica, serão os cons-trutores do Reino. A história da humanidade ficou marcada por homens e mulheres que foram capazes de dar nova for-ma, de transformar a sua realidade. Uns fizeram-no para o bem e outros para o mal. E, eu, de que jeito irei modificar a minha realidade?

Transformar é conversãoAntes de mais, Jesus mostrou o poder da transformação pessoal que, em termos mais próximos à nossa mentali-dade, chamamos conversão. Na verdade, a palavra grega, utilizada nos evangelhos, que está na base daquilo que traduzimos por conversão, é “metanoia”. É uma palavra que significa mudança de mente, ou seja, capacidade de mudar o jeito de pensar e, por conseguinte, mudar o esti-lo de vida. Assim, a transformação pessoal passa por esta mudança da nossa mentalidade. É a arte de transformar o jeito de pensar, ver, estar e agir.De todos os exemplos que as Escrituras nos oferecem, o mais eloquente é o de Zaqueu. Homem habilidoso nos seus negócios, que quase sempre envolviam extorquir al-guém para benefício próprio. Ao encontrar Jesus, que sem vergonha se hospeda em sua casa, sente a necessidade de se “transformar”. Essa transformação acontece com uma mudança radical, deixando o que era a sua vida antiga para acolher uma vida nova modelada ao estilo de Jesus. O Evangelho não nos oferece os detalhes do diálogo entre Jesus e Zaqueu. Mas resulta fácil entender que a proposta de Jesus mereceu toda a atenção da parte de Zaqueu, que se deixou transformar para acolher um novo jeito de ser.

Transformar é transfigurarOs evangelhos narram um episódio em que Jesus sobe a um monte com três discípulos que escolhera e, peran-te eles, transfigura-se. É uma narração que conhecemos

como Transfiguração. A palavra significa mudar de figura, ou seja, mudar de aparência. Jesus colhe a ocasião para re-velar a sua verdadeira identidade: Jesus é, ao mesmo tem-po, divino e humano. Ora, criados à imagem e semelhança de Deus, nós somos também divinos. Na nossa vida, somos convidados a transfigurar-nos para assumir uma nova aparência: a aparência divina. Num tempo que esqueceu e continua a esquecer Deus, os discípulos são convidados a serem aqueles que “mostram” Deus ao mundo. Mas só o conseguirão, quando se “transfigurarem” para revelarem a face de Deus aos homens.A concluir, uso as palavras de Sigmund Freud que escreveu: “O homem enérgico e bem sucedido é o que consegue trans-formar em realidades as fantasias do desejo”. Sem transfor-mação, não seremos pessoas de verdade.

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 26 OUTUBRO 2011

o programa de vida de todo e qualquer cris-tão, de todo e qualquer missionário. O homem, nosso próximo, é o nos-so caminho para Deus. O amor é o verdadeiro

motor da missão. É o único critério pelo qual tudo deve ser feito. É o prin-cípio que deve orientar cada acção, e o fim para o qual devemos tender. Nas palavras de Bento XVI, “ser missioná-rio significa debruçar-se, como o bom Samaritano, sobre as adversidades de todos, de forma especial dos mais po-bres e necessitados, porque quem ama com o Coração de Cristo não busca o seu próprio interesse, mas unicamen-te a glória do Pai e o bem do próximo. Aqui está o segredo da fecundidade apostólica da acção missionária, que ultrapassa as fronteiras e as cultu-ras, alcança os povos e se espalha até aos extremos confins do mundo”.Apraz-me a tal respeito citar o testemu-

nho admirável da irmã Irene Stefani, missionária da Consolata, que breve-mente a Igreja irá beatificar. Durante a Primeira Guerra Mundial, com heróica abnegação prestou serviço em vários hospitais militares, na África. Conta uma sua biógrafa que, nos fins de Feve-reiro de 1917, a irmã Irene, foi enviada para o acampamento hospitalar de Ki-lwa, na Tanzânia, onde a desordem era completa e os doentes pessimamente assistidos. Mal acolhida pela direcção e enfermeiros, a irmã não dispunha, para o seu serviço, nem de alimentos nem de remédios, rigidamente aferrolhados, à mercê dos guardas.Nem por isso se sentiu bloqueada.Quem bloqueia a caridade? Ela é como um rio caudaloso, diz a Escritura, e nada pode travar o amor. Foi o que aconteceu com a irmã Irene. Sem nada para oferecer aos doentes, ofereceu-se a si mesma, assistindo com todo o amor os mais graves, os mais nojentos e des-cuidados. A água era racionada, o calor

passava dos 45 graus e os doentes mor-riam à sede. Cedia então a água que lhe cabia aos que mais precisavam. Depois, sob um sol abrasador, de tigela na mão, ia suplicar ao armazenista um pouco mais desse precioso líquido. A sua ati-tude humilde desarmava os guardas mais carrancudos, que lhe enchiam a vasilha e se comoviam perante os seus agradecimentos.Sem impor nada a ninguém, o ambien-te transformou-se. O próprio médico, impressionado pelos seus gestos para com os doentes, perguntava a si mes-mo se, para agir assim, essa mulher não era uma louca ou uma criatura do outro mundo. Talvez fosse um anjo revestido de carne humana! Opinião que coinci-dia com a de outro médico protestante, que dizia: “Aquela não é uma mulher. É a caridade personificada”. Morrerá alguns anos mais tarde com 39 anos de idade, contagiada pelos doentes de peste que serviu até ao fim. A caridade é efectivamente o motor da missão.

O motor da missão

texto DARCI VILARINHO foto FM

Irmã Irene Stefani é uma missionária da Consolata que, durante a Primeira Guerra Mundial, prestou serviço em vários hospitais militares,na África

“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua inteligência e com todas as tuas forças, e amarás o próximo como a ti mesmo”, lê-se num texto de São Mateus, que é proclamado em Outubro, mês missionário por excelência

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OUTUBRO 2011 27 FÁTIMA MISSIONÁRIA

A palavra faz-se missão

27º Domingo ComumIs 3, 1-7; Fil 4, 6-9; Mt 21, 33-43

A NOSSA VINHATodos fazemos parte da Igreja, a vinha do Senhor, que Jesus plantou com tan-to esmero e que depois confiou a todos os homens para que nela produzissem frutos de salvação. Para realizar tal projecto, serve-se de cada um de nós, trabalhadores da sua vinha. Tudo o que recebemos: vida, baptismo, fé, saúde, inteligência, tudo deve ser posto ao serviço do Reino de Deus. Sempre, mas sobretudo neste mês missionário.A vida que me concedeste, Senhor, co-loco-a nas tuas mãos, como contributo pessoal para a redenção do mundo.

28º Domingo ComumIs 25, 6-10; Fil 4,12-14.19-20; Mt 22, 1-14

O BANQUETE DO FILHOComo é que a Igreja, esposa de Cristo, conseguirá apresentar aos homens do nosso mundo, da nossa sociedade pós--cristã, o convite incrível do Pai para tomar parte na boda do Filho? Como é que se há-de fazer para sentar à mesa deste banquete de pratos suculentos e de vinhos refinados uma humanidade aparentemente sem apetite? É esta a tarefa apaixonante de toda a Igreja missionária, na qual todos estamos envolvidos.Continua, Senhor, a fazer os teus con-vites e dá-nos a graça de nunca os re-cusarmos.

29º Domingo ComumIs 45, 1.4-6; 1 Tes 1, 1-5;Mt 22, 15-21

A DEUS O QUE É DE DEUSSó a Deus se deve adoração e culto. Nem o Estado ou outra qualquer en-tidade deste mundo podem usurpar o que só a Deus pertence. O martírio é a expressão suprema da resistência cristã perante as tentativas de usurpar

o lugar de Deus. A César pertencem coisas, as moedas. A Deus pertence a pessoa com todo o seu coração, a sua mente e as suas forças. Trago em mim a imagem de Deus. Por isso a Ele me devo restituir, vivendo com integridade para não sujar essa imagem.Que toda a minha pessoa e o meu modo de viver te louvem sempre, Senhor.

30º Domingo ComumEx 22, 20-26; 1Tes 1, 5-10; Mt 22, 34-40

É DIA MISSIONÁRIO MUNDIALQual o fim da Missão da Igreja? Levar o homem a conhecer e amar a Deus “com todo o coração, com toda a alma e toda a inteligência” e amar o próximo como a nós mesmos. Esse todo, três vezes repetido, diz-nos da absoluta ex-clusão de tantos outros ídolos que ten-tam substituir-se a Deus: o dinheiro, o prazer, o poder, o interesse, o orgulho. Pelo amor ao próximo, concretizado em milhentas maneiras, chegaremos ao conhecimento de Deus que só deseja a fraternidade universal.Celebramos, Senhor, a tua salvação e glorificamos o teu santo nome.

31º Domingo ComumMal 1, 14-2;2.8-10;1 Tes 2, 7-9; Mt 23, 1-12

MAIS VALE FAZER QUE DIZERO Evangelho oferece-nos três regras para viver com verdade a nossa vida: o agir escondido em vez do aparecer, a simplicidade no lugar da duplicidade, o serviço em vez do poder. Disse Jesus que o maior mandamento é este: “Tu amarás”. Queres ser grande? À imita-ção de Jesus, traduz o amor na divina loucura do serviço: “O maior entre vós seja vosso servo”.Que a minha vida, Senhor, não se encha de palavras ou boas intenções, mas de serviço leal e coerente na missão que me confiaste.

Invençãode AllamanoO Dia Mundial das Missões foi uma grande invenção! Nesta invenção colaborou, de modo muito eficaz o nosso fundador, o Beato Allamano. Aí por 1912 ele pôs-se a pensar na melhor maneira de levar os cristãos a participar activamente na evangelização dos povos. Se era verdade – e todos reconheciam isso – que todo o cristão, pelo facto de ser baptizado, é automaticamente, um evangelizador, então era preciso “inventar” uma fórmula prática e abrangente que estivesse ao alcance de todas as pessoas. Nada melhor do que sugerir ao Papa que instituísse este dia. Isso aconteceu em 1926. A ideia foi tão abrangente que, chegou aos mais recônditos locais onde quer que se fizesse uma celebração. Desde esse longínquo 1926, em que o Papa Pio XI lançou o repto, tem-se vindo a aperfeiçoar o modo como os cristãos podem participar. A data cai sempre no penúltimo domingo de Outubro. Para facilitar aos sacerdotes a organização da homilia é-lhes permitido que nesse domingo usem os textos da missa “pela evangelização dos povos”, que se encontra no missal em lugar próprio. Fora das igrejas costuma-se ainda fazer o peditório para as missões que atinge mesmo os que não entram na Igreja, o cerimonial repete-se todos os anos. Parabéns ao Beato Allamano por esta ideia, parabéns ao Papa Pio XI, que em 1926 a tornou obrigatória.

Para que a celebraçãodo dia missionário mundial inspire no povo de Deus o desejo de colaborar na evangelização dos povos através da oração e da ajuda económica

MC

EM OUTUBRO

DV

Page 28: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 28 OUTUBRO 2011

YoucatFoi escrito a pensar nos jovens, de modo particular nas Jornadas Mundiais da Juventude. Trata-se de um catecismo todo especial, a começar pelo título, seguindo--se a configuração

e disposição do texto, onde são transcritos os pensamentos de grandes autores e santos. O prefácio de Bento XVI e o posfácio do cardeal patriarca de Lisboa dão garantias de verdade.Tradução: Ricardo Tavares304 páginas | preço: 12,50€Paulus Editora Etty Hillesum

Em subtítulo: “Uma vida transformada”. É o percurso sinuoso de uma jovem inteligente, bondosa, caridosa e temente a Deus. Para sua “desgraça” tinha o azar de ser judia. Quer dizer, era odiada com um ódio mortal que não havia virtude que a pudesse salvar dos nazis. Viveu apenas 39 anos, mas o suficiente para procurar e encontrar o verdadeiro Deus e entregar-se-lhe tão profundamente que do mal que lhe faziam os homens ela construía escadas para subir aos mais altos cumes da perfeição. Mensagem forte e contagiante.Autor: Patrick Woodhouse240 páginas | preço: 15,80€Paulinas Editora

As minhas canções portuguesas e francesasO livro tem muitas canções tradicionais em português e em francês, com a respectiva música que se adapta bem tanto a uma língua como à outra. Em todas as canções há actividades que levam as crianças a puxar pela cabeça: pintar, descobrir, comparar. Enfim,um livro para cantar em família, em grupo, na escola.

Autoria: Barbara Bell e Clara Abreu Elliott40 páginas | preço: 6,50€ | Papa-Letras Editora

Os piratas que roubavam verdades Livrinho para crianças. Faz parte da colecção: «Perguntas e respostas», da qual é o número seis. Os desenhos e as próprias letras brilham por todos os ladose metem-se-nos pelos olhos dentro. Qualquer criança, ao deparar

com um livro destes, fica de beicinho e não descansará enquanto o padrinho ou o vovô lho não comprarem.Autora: Rita Vilela | 16 páginaspreço: 4,99€ | Paulus Editora

Os 40 mártires do BrasilTrata-se de um livrinho de bolso com uma centena de páginas, todas muito cheias e pouco convidativas à leitura. É pena porque o tema abordado pelo

autor é sumamente importante e elucidativo para conhecermos a força e a coragem destes 40 jovens mártires jesuítas que iam a caminho do Brasil para lá exercerem o seu apostolado. O martírio aconteceu no alto mar às mãos dos corsários, inimigos da fé católica.É epopeia de fé e amor.Autor: Eduardo Kol de Carvalho110 páginas | preço: 5,00€Editorial A.O.

São TeotónioÉ uma vidinha, um

pequeno resumo de uma grande

vida. Não é nesta meia centena de

páginas que se pode encerrar a vida e a obra

deste grande homem, diante do qual se ajoelharam reis e príncipes. D. Afonso Henriques, quando o viu morrer tão santamente,

profetizou: “Antes que o seu corpo desça à sepultura, há-de a sua

alma entrar no céu”. Livro piedoso, edificante, que a todos dispõe bem.

Autor: Januário dos Santos | 48 páginaspreço: 2,50€ | Editorial Missões

Jesus em NazaréPequeno livro de

bolso, em que o autor nos apresenta aquilo

que se costuma chamar “a vida

oculta de Jesus” em casa de seus pais, em

Nazaré da Galileia. Os evangelhos falam-nos

pouco desses 30 anos que Jesus viveu, como que recolhido, antes de iniciar a sua actividade apostólica. Por isso, o

autor teve de idealizar muitos aspectos servindo-se da sua experiência. Sem ser

doutrina de fé, o livro lê-se bem e dá-nos pistas para refazermos o fio da história.Autor: Hugo de Azevedo | 150 páginas

preço: 9,00€ | Editora Diel

Page 29: Marco Alves em Moçambique

Escola católica“A escola católica continua a ser um espaço alternativo que a Igreja oferece para concretizar o seu modelo educativo. Talvez, porém, que o melhor seria que as parcerias publico--privadas funcionassem plenamente e de forma mais alargada que as questões económicas e financeiras”.Rui RibeiroO Mensageiro | 8 Setembro 2011

Valores da família“Nos dias que correm, difíceis, problemáticos e de incertezas, mais do que nunca é necessário saber dar o devido valor à família fomentando essa nova realidade e com conta, peso e medida, seleccionar entre o supérfluo e o necessário; o saber economizar sensato e o esbanjar leviano”.Mira FerreiraA Defesa | 3 Agosto 2011

Apoio à missão“A evangelização é um processo complexo e compreende vários elementos. Entre eles está a atenção peculiar que a animação missionária sempre deu à solidariedade. Esta é também uma das finalidades do Dia Mundial Missionário que, através das Obras Missionárias Pontifícias, solicita a ajuda para o cumprimento das tarefas de evangelização nos territórios da missão”.Autores: VáriosItinerário de Vida e de Missão | Outubro 2011

Evangelização“A razão de ser da Igreja é a evangelização e esta realidade não é apenas algo que tem a ver com a dimensão da acção, mas, pelo contrário, marca a Igreja na sua mais profunda identidade. Ao falar em evangelização, estamos pois perante uma realidade e dimensão que não é simplesmente do âmbito do fazer”.Juan AmbrósioBoa Nova | Julho 2011

Os bons e os maus“O mundo de hoje, com a sua perda de valores, com a multiplicidade de ideologias falsas e confusas, e o perigo de deriva para leis que se baseiam no consumismo e no individualismo, poderia incitar-nosa marginalizar o outro ou a sentirmo--nos nós próprios marginalizados, a classificar e a encerrar os homens, bons e maus, em categorias, a levantar barreiras e muros com base no ódio e no amor”.Equipas de Nossa SenhoraJulho 2011

Plano de acção“A Igreja deve “apostar na evangelização dos novos bairros e urbanizações das grandes superfícies, nas minorias e nos mais pobres”, publicar documentos “simples, breves, espaçados, actuais e voltados para as realidades concretas das pessoas” e pensar num plano evangelizador “de3 ou 5 anos, para todas as dioceses”.Manuel ClementeCorreio de Coimbra | 8 Setembro 2011

O bem comum“A doutrina social da Igreja baseia a prioridade do «bem-comum» na vocação comunitária da sociedade. Esta não é um agregado de «indivíduos», mas tende a ser comunidade, onde cada um se sente co-responsável pelo bem de todos, onde cada homem e cada mulher é nosso irmão”.Manuel BarbosaVida Consagrada | Julho 2011

Vidas com alegria“Toda a missão da Igreja é dirigida à pessoa humana e ao seu relacionamento com a pessoa de Jesus, porque só a partir dessa relação é que se podem transformar vidas, enchendo-as da alegria que testemunha a presença de Deus”.João CaniçoAmar e Servir | Abril/Junho 2011

Os MestresEstão aqui

condensadas neste volume as catequeses

do Papa Bento XVI referentes

aos grandes mestres

da história do cristianismo. Escrito de uma forma dinâmica

e atraente o livro destaca elementos essenciais da vida

e obra destes personagens fundamentais para entender a tradição e a espiritualidade

cristãs. Divide-se em três partes: 1º milénio; idade

média; e padres franciscanos e dominicanos. É vida, é

doutrina, é história. Exige paciência e uma certa cultura.

Autor: Bento XVI | 304 páginaspreço: 16,00€ | Paulus Editora

«Repensar a Pastoralda Igreja em Portugal»

Um título que se inspira

no “corajoso desafio da

Conferência Episcopal

Portuguesa para repensar

a pastoral da Igreja em Portugal”. Até aqui tudo bem, tudo fácil. Qualquer pessoa o

reconhece. Daqui para a frente, o próprio autor diz que lhe tem sido difícil dar o passo seguinte. Um trabalho interessante, com apelos sistemáticos à doutrina da Igreja. Apresenta sugestões

e esquemas de trabalho que até apetece discutir e

pôr em prática.Autor: Carlos Paes

48 páginas | preço: 3,50€ Paulinas Editora

OUTUBRO 2011 29 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Deus é amigo dos pobres“Deus não ama os pobres porque eles são melhores que os outros, mas porque são necessitados. Jesus nunca louvou os pobres pelas suas virtudes ou qualidades, mas porque viviam situações difíceis, estavam sujeitos à exploração dos mais poderosos, sofriam a discriminação de uma sociedade organizada na base da injustiça, da desigualdade, da corrupção, da exclusão”.

José Dias da Silva | Além-Mar | Setembro 2011

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 30 OUTUBRO 2011

8 Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | [email protected] 8 Rua D.a Maria Faria, 138 Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | [email protected] 8 Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM Telefone 214 260 279 | [email protected] 8 Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | [email protected] Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | [email protected]

Donativos de apoio aoCentro de Acolhimento

Gurué, Moçambique

Solidariedade vários projectos

Gurué

tijolo 1 euro

porta 25 euros

Acolhimento a doentes e acompanhantesParóquia do Gurué, MoçambiqueImagine-se doente, a dormir ao relento, ou ter um filho hospitalizadoe não poder estar perto dele. Isso acontece na diocese de Gurué,que tem dois milhões de habitantes e apenas um hospital.O bispo da diocese, Francisco Lerma, missionário da Consolata,pretende construir um centro de acolhimento paradoentes e acompanhantes.

pregos 5 euros

sacos de cimento15 euros

telhas 10 euros

Projecto 2011

viga de madeira20 euros

BOLSAS DE ESTUDO Noémia Canavarro – 34,50€; Carminda Marques – 250,00€; Conceição Policarpo – 15,00€; Irene Peredo – 100,00€; Manuel Neto – 10,00€; Anónimo (Canadá) – 250,00€. CRIANÇAS DE MOÇAMBIQUE Manuel Neto – 20,00€. MECANHELAS (MOÇAMBIQUE) Padre Simão Pedro – 1.215,00€. FLORES PARA O PADRE PAULINO (TANZÂNIA) Anónimo – 20,00€. BAIRRO DEEP SEA DE NAIROBI (QUÉNIA) Anónimo (Fiães) – 125,00€. EM-PADA GUINÉ-BISSAU António Ribeiro – 50,00€. PADRE TOBIAS OLIVEIRA (QUÉNIA) Manuel Neto – 10,00€. PADRE ANTÓNIO FERNANDES Anónimos (Núcleo AMC do Algarve) – 320,00€. OFERTAS VÁRIAS Fátima Pereira – 36,00€; Helena Medeiros – 43,00€; Rosa Rocha – 50,66€; Isabel Pacheco – 50,00€; Manuel Inácio – 100,00€; Concei-ção Monteiro – 53,00€; Anónimo – 54,00€; Julieta Pereira – 50,00€; Manuela Bravo – 193,00€; José Moreira – 500,00€; Manuela Gonçalves – 25,00€; Marcolina Lopes – 33,00€; Ana Inês – 100,00€; Ascensão Carvalho – 243,00€; Céu Oliveira – 43,00€; Antero Moutinho – 25,00€; Maria Amaral – 50,00€; António Sampaio – 50,00€; Amélia Alves – 43,00€; Manuel Vilas Boas – 36,00€; Rosa Gomes – 150,00€; Albertina Bessa – 50,00€; Tomás Rebelo – 43,00€; José Coelho – 26,00€; José Nogueira – 86,00€; Amélia Pais – 33,00€; Anónimo – 200,00€; Fernando Queirós – 72,00€; João Monteiro – 81,00€; An-tónio Cruz – 93,00€; António Gomes – 29,00€; Fernanda Neves – 50,00€; Lucília Santos – 36.00€; Maria Luz Albuquerque – 30,50€; Marcelina Santos – 100,00€; Julieta Sousa – 20,00€; Anónimo – 50,00€; Anónimo – 13,63€.

José Fontes – 15,00€; Fátima Matias – 20,00€; Manuel Mendes – 25,00€; Grupo de Catequese 1º Ano (Monte-choro - Albufeira) – 100,00€; Anó-nimo – 40,00€; Anónimo – 15,64€; José Neves – 170,00€; Maria Anjos Barradas – 20,00€; Conceição Poli-carpo – 85,00€; Anónimo – 6,00€; Manuel Oliveira – 10,00€; Maria Ro-sário Dinis – 10,00€; Luísa Figueira – 10,00€; José Pereira – 100,00€; Anónimo – 30,00€; António Mon-teiro – 20,00€; Olinda Vieira – 10,00€; Nuno Guedes – 125,00€; M. C. – 20,00€; José Ferreira – 10,00€; Manuel Neto – 20,00€; Bárbara Sil-va – 30,00€; Maria Oliveira – 5,00€; Cândida Barros – 130,00€; Anónimo – 23,00€; José Lourenço – 25,00€; Miquelina Oliveira – 90,00€; Ma-ria Domingues – 20,00€; Anónimo – 5,00€; Luba – 5,00€; Anónimo – 20,00€; Anónimo – 5,00€; Anónimo – 200,00€; Paula Pereira – 50,00€; Lucinda Silva – 20,00€; Elias Olivei-ra – 100,00€; Irmã Albina Oliveira – 5,00€; Maria Anjos Duarte – 10,00€; Serafim Castanheira – 10,00€; Anó-nimo – 15,00€; Anónimo – 100,00€; Anónimo – 1,00€; Fátima Alves – 20,00€. Total geral = 36.780,97€.

Page 31: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 2011 31 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

Nos tempos em que o Ga-briel nasceu, o Piemonte italiano era um autêntico viveiro de vocações. Os pa-dres e as freiras eram ali tão bastos como as pedras numa calçada, salvo seja! Os pais do Gabriel tiveram sete filhos, o Gabriel foi o pri-meiro, e quando ele atingiu os 10 anos matricularam--no no seminário de Brá. A seguir ao Gabriel veio o segundo, depois o terceiro, até ao sétimo e todos fo-ram indo para seminários ou conventos para se for-marem em padres ou irmãs religiosas. Dos sete filhos só escapou um, o Francisco, para se casar e dar continui-dade ao nome da família.

Entretanto o Gabriel, que era esperto e inteligente, foi percorrendo com agilidade os primeiros anos do curso liceal, até que, em 1919, com 15 anos de idade, parou para reflectir e, depois de muito pensar chegou à seguinte conclusão: Ser padre dioce-sano é uma coisa boa; ser pároco em qualquer aldeia ou cidade ainda é melhor; mas ser missionário, ir ao encontro de outros povos para levar a mensagem de Cristo aos homens e mulhe-res que ainda a não conhe-cem, é óptimo. Face a isto, mudou de agulha e seguiu por outro carril. Foi ter ao seminário da Consolata a Turim onde Allamano o

acolheu de braços abertos.O jovem seminarista, com metade da filosofia já feita, levava na pasta a carta de recomendação do reitor do seminário de Chieri que re-zava mais ou menos assim: “O jovem seminarista Ga-briel Quaglia teve sempre um comportamento exemplar e óptimos resultados nos estu-dos, dando por isso, boas es-peranças de vir a ser um bom missionário”.Assim aconteceu, seja nos estudos, seja como missio-nário na Etiópia para onde partiu em 1928. Exerceu ali a sua actividade até 1935, ano em que, devido à guer-ra entre a Itália e a Etiópia, foi recambiado para a Itá-

lia. Pediu então ao supe-rior: “Dêem-me que fazer!”. E abriram-lhe as portas de Moçambique. Chegou lá, lançou-se com entusiasmo no apostolado, na aprendi-zagem das línguas, na cate-quese, na literatura e até no desenho e na pintura. Fale-ceu em 1956 num hospital de Joanesburgo. As exéquias em Lourenço Marques (Ma-puto) foram presididas pelo cardeal Gouveia que durante a homília exclamou: “Perde-mos um grande missioná-rio!”. O cardeal Gouveia, conhecia bem as qualidades e virtudes do padre Gabriel, pois, durante 10 anos o tinha tido como fiel servidor no apostolado missionário.

Optou pelo melhor

Padre Gabriel Quaglia nasceu em Murello – Itália,

no dia 11 de Fevereiro de 1904. Entrou na Consolata

em Agosto de 1919. Foi ordenado sacerdote em 1926; dois anos depois,

em 1928, partiu para as missões da Etiópia. Em

1936 foi enviado para Moçambique. Faleceu a 17

de Novembro de 1956

Page 32: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 32 OUTUBRO 2011

texto MANUEL CARREIRA foto LUSA

Não penses que o conhecimento e a sabedoria são coisas pequenasApoio à compreensão A Mongólia é um país extensíssimo. Mas não chega a ter três milhões de habitantes. É, pois, um povo perdido na vastidão dos horizontes. Por isso é levado a ter menos em conta as coisas pequenas. Este provérbio parece querer chamar a atenção das pessoas para o valor daquilo que não se vê, como é neste caso, o conhecimento e a sabedoria.Mongólia

O pimento pequeno é mais picanteApoio à compreensão Na Coreia (e não só) a comida, para ser mais saborosa, é temperada com pimentos. A experiência diz que os pimentos pequenos são mais picantes do que os grandes. O mesmo se dá com outros frutos. Aplicando isto às pessoas está a dizer-nos que os homens (e as mulheres) não se medem aos palmos. De facto há homens pequenos de estatura que são mais espertos e mais activos do que os grandes.Coreia

No tempo das provações a família é o melhor refúgioApoio à compreensão O provérbio concentra a sua força na união da família próxima e afastada: avós, pais, filhos, netos, e o valor da piedade filial e da lealdade familiar, valores fundados no sentido de pertença e na veneração dos que já partiram. É usual ver-se no dia dos funerais, os familiares abraçados uns aos outros, tentando consolar-se entre lágrimas e sinais de afecto. Nestes momentos, quando todos nos deixam, o calor da família é o melhor lenitivo.Birmânia

O mel, tão doce, torna-se amargo quando é dado como medicinaApoio à compreensão Regra geral, os remédios amargosos são os mais eficazes. Este provérbio quer sublinhar que as críticas, difíceis de aceitar, se podem revelar úteis para corrigir certos aspectos negativos da nossa vida. Dito de outra maneira, podemos confrontá-lo com outro que reza assim: “Quem me avisa, meu amigo é”. Qualquer injecção ou vacina a que temos de nos sujeitar, repugna à nossa sensibilidade, mas no fim sentimos as melhoras.Coreia

Nem tudo o que parece é

Continuamos

hoje a nossa

viagem

pela Ásia à

procura de

provérbios.

Eles dizem-

-nos que nem

tudo o que

luz é ouro.

Temos de

ter cuidado

para não nos

deixarmos

iludir pelas

aparências:

Nem sempre

o que é

grande, o que

tem melhor

aspecto, deve

ter a nossa

preferência.

Precisamos

de calma e

reflexão

Planalto da Mongólia, terra de pastagens, localizada na Ásia Oriental e Central

Page 33: Marco Alves em Moçambique

OUTUBRO 2011 33 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto NORBERTO LOURO ilustração MÁRIO JOSÉ TEIXEIRA

Em Julho passado, houve fes-ta rija na comunidade mis-sionária da Consolata. Dois jovens missionários foram ordenados sacerdotes. Jorrou alegria a potes, como narrou a FÁTIMA MISSIONÁRIA.Vou referir-me, isso sim, ao encontro, digno de menção, entre um dos jovens sacer-dotes e o padre mais idoso (92 anos), em que ambos lembraram factos e experiên-cias, alguns com mais de setenta anos. Explicava o an-cião, natural de Itália, que a sua vocação tivera um ritmo regu lar de crescimento e de amadurecimento. Entrara no seminário diocesano, mas de-cidira ser missionário. Averi-guada a se riedade da escolha, o seu bispo disse-lhe: “Queres um conselho? Faz-te missio-nário da Consolata. Conheço--os bem!”. E ele foi e fez-se!O jovem sacerdote esbuga-lhou os olhos! “Mas a minha ordenação – continuou o ancião – esteve em risco”. É que a Itália estava em plena segunda guerra mundial e o seu zeloso pároco, já com tudo organizado, fora preso e raptado pelos alemães na noite da vigília, só lhe ficando tempo para escrever num bi-lhete: “Proceda-se como se eu estivesse”. E assim se fez.Ainda antes da guerra ter-minar, passou por outros tormentos. Lembrou aquela vez que fora de bicicleta levar mudas de roupa e víveres a um colega que ficara sozinho numa casa missionária ocu-pada pelos alemães. Tinha mudado o oficial de dia e o novo não o reconhecera. Cui-dando-o espião, pelo pouco

alemão que falava, encostou--o à parede e apontou-lhe a arma para o golpe fatal. Salvou-o da morte certa um superior que se apercebeu do erro e interveio com dignida-de e desculpas. Os anos sucessivos – 50 no Brasil – foram bem dife-rentes. Só o que ele contou, dava para escrever um livro! O padre jovem ia escutando embevecido. A sua vocação nascera precoce, a partir da visita de um missionário à sua escola. Consumara-se com a entrada no seminário e os estudos que precedem a ordenação. Mas decidiu in-terromper, à procura de algo que lhe parecia faltar. Em-brenhara-se na sociedade,

onde conheceu a precarieda-de do emprego. Situou-se no ensino de religião e moral, com grande agrado, e palpou concretamente os anseios té-nues e fúteis de muitos jovens em crescimento, ao sabor do imediato, sem descortinar o que lhes faltava. Mas ele descobriu-o. Era afinal o que tinha interrompido e, sem mais, regressou. Ali estava agora, de pedra e cal, já com três anos de expe riência na Coreia do Sul, onde, só para aprender bem a língua, são necessários oito anos.Continua inquieto com a indi -ferença da sociedade insen sí-vel ao que ultrapassa os ho-rizontes do egoís mo edonista. E exemplifica com um caso

de vida ou de morte, aconte-cido numa estação do metro. “Na confusão, um homem caíra à linha. Ninguém se mexeu! Perante tal absurdo, fui tentado a pensar se devia ou não agir, caindo no mes-mo absurdo da indife rença. Mas, não! Dei um sal to para a linha, agarrei o homem, elevei-o até à plataforma. Mal consegui escapar para não ser apanhado pelo comboio. À minha volta, só indiferença e mera curiosidade!”.Duas vidas tão diferentes e tão iguais. Colocados peran-te uma questão de vida ou de morte, ambos a davam gra-tuitamente. Missão digna e simpática contra a indiferen-ça e a apatia!

Tão diferentes e tão iguais

Page 34: Marco Alves em Moçambique

FÁTIMA MISSIONÁRIA 34 OUTUBRO 2011

Jornadas de Catequistas“A catequese e a família” é o tema das Jornadas Nacionais de Catequistas, de 7 a 9 de Outubro. O objectivo é “reflectir sobre a relação entre a família e a cate-quese” e “potenciar o desenvolvimento de estratégias de trabalho com as famí-lias, no contexto da catequese”. Durante os trabalhos, que irão decorrer no Con-vívio de Santo Agostinho, na igreja da Santíssima Trindade, serão lançados os livros “A catequese familiar: reflexões: reflexões e propostas de trabalho” e “Fa-mília, lugar de educação na fé?”. “Estrela para novos rumos”A Ordem da Imaculada Conceição, fun-dada pela portuguesa Santa Beatriz da Silva, celebra 500 anos de fundação, em 2011. Para assinalar a efeméride, realiza-

-se um congresso internacional, de 14 a 15 de Outubro, em Fátima. “Beatriz da Silva: a mulher, a fundadora e a san-ta”, “Implantação da Ordem da Imacu-lada Conceição na Península Ibérica e no mundo” e “A Ordem da Imaculada Conceição, um desafio às mulheres e ao mundo de hoje” serão alguns do temas apresentados para ilustrar o carisma e o sentido da vida contemplativa como ex-pressão humana, cultural e religiosa. “Família: compromisso na verdade” Formação, partilha de experiências, tra-balho de reflexão, bem como “ocasião de nos fortalecermos, através da oração e do encontro com outros casais” fazem parte dos trabalhos das Jornadas Nacio-nais da Pastoral Familiar, de 28 a 30 de Outubro, no Seminário do Verbo Divino,

em Fátima. Haverá um programa para crianças, “aproveitando para explorar Fátima e a mensagem deixada por Nossa Senhora aos pastorinhos, também eles crianças”, adianta o Secretariado nacio-nal do Apostolado dos Leigos e Família.

“Sou muito feliz a fazer vo-luntariado”, afirmou a pre-sidente Ano Europeu do Voluntariado, em Portugal, Fernanda Freitas, durante as Jornadas Missionárias, que decorreram em Fátima. O voluntariado é a gran-de força motriz: “73,6 por cento do apoio a crianças, jovens, idosos, deficientes, na área da saúde, educação, acção social é feito por ins-tituições de voluntariado”, sublinhou o presidente da Confederação Nacional das

Instituições de Solidarie-dade (CNIS). 41 por cento destas instituições são da Igreja. Mas “há mais, cria-das em paróquias, movidas pelo espírito cristão, e até da própria Igreja”, acres-centou o padre Lino Maia.No entanto, falta “reconhe-cimento” ao voluntariado, considera a jornalista do programa “Sociedade civil”. E defende que baixe para 16 anos (em vez de 18), a ida-de em que é permitido fazer o seguro social voluntário,

proposta apresentada ao mi-nistro da Solidariedade que já anunciou publicamente a revisão da legislação. Para Fernanda Freitas o vo-luntariado deve ser reconhe-cido no curriculum vitae, algo que o padre Lino Maia lem-bra já estar em vigor noutros países. O regresso ao empre-go depois de voluntariado de longa duração, será “o ponto que vai reunir menos con-senso” do projecto de lei que a Universidade Católica está a redigir sobre o voluntaria-

do empresarial, até agora sem enquadramento legal. “Espero que esse ponto não caia”, acrescentou Fernanda Freitas. A jornalista defende que se deve “incutir o espírito de boas práticas de cidada-nia a partir dos 12, 13 anos”, enquanto o padre Lino Maia aponta para a necessidade da introdução de uma disciplina nas escolas, dedicada à pro-moção do voluntariado. “É fundamental que os jovens se dediquem ao voluntariado”, disse o presidente da CNIS.

Outubro em agenda 01/02 Peregrinação da Família

Franciscana 07/09 Jornadas nacionais de

catequistas 09/16 Semana nacional de

Educação Cristã 13 Aniversário do Museu de Arte

Sacra e Etnologia às 17 horas 16 Peregrinação do Apostolado

da Oração19/20 Peregrinação Legião de Maria

texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA

Coordenadora e apresentadora do programa "Sociedade Civil", Fernanda Freitas é presidente nacional do Ano Europeu do Voluntariado

Voluntariadopromoção e reconhecimento precisa-se

Page 35: Marco Alves em Moçambique

Apenas 7 euros por anoMISSIONÁRIOS DA CONSOLATA | Rua Francisco Marto, 52 | Ap. 5 | 2496-908 FÁTIMATelefone 249 539 430 | 249 539 460 | [email protected] | www.fatimamissionaria.pt

un’altra visione del mondo mwingine mtazamo wa dunia another view of the world otra visión del mundo inny pogląd na świat une autre vision du monde wona wunyowani wa elapo eine andere sicht der welt djôbe mundu di oto manêra

Page 36: Marco Alves em Moçambique

ANO

LVII –

N.º

9 OUT

UBRO

2011

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ciona

l 7,0

0 € l

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50 €

No alto do monteCristo pregava um dia.À multidão que o escutavaCristo dizia: a messe é grandeO trigo maduro já loureja.Quem vai lançar-lhe a foice?São tão poucos os ceifeiros!

Pela praça, o dono da searaPassa uma e outra vezDe manhã, ao meio-diaE à tarde tambémSempre em busca de mais alguémVem tu e tu também. Venham todosQue a messe é grandePoucos são os operários.Padre Manuel Carreira

Venham todos