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6 FOLHA DE LONDRINA, domingo, 5 de abril de 2009 CÉLIA MUSILLI [email protected] www.sensivelldesafio.zip.net O adeus ao ‘detetive’ Sherlock era um cão astuto como o personagem que lhe deu o nome Existem amigos com quem dialogamos a vida inteira, mas sem palavras, vírgulas ou interrogações. Alguns des- ses amigos nos abanam o rabo de maneira alegre e qua- se indecente, pulam em nosso peito com duas patas, nos fazem incômodas serenatas de latidos. Quando um des- ses amigos vai embora é como se parte da nossa vida mi- grasse para um território desconhecido e o quintal ga- nhasse o contorno de um vazio. Perdi um amigo assim essa semana. Sherlock era um cachorro ‘‘de grife’’ que viveu sem frescuras, um ‘‘aireda- le terrier’’ com nome de detetive. Nós éramos a sua famí- lia desde que chegou há doze anos para fazer companhia a meus filhos que tinham acabado de nascer, tornando- se um bicho de estimação. Sherlock viveu como um cachorro humilde, sem tratos especiais nem coleiras de falso brilhante. Criado no quin- tal, sempre teve ração, água fresquinha, sol e sombra pa- ra descansar. Por ter a mesma idade dos meus filhos gê- meos, não recebeu regalias, a prioridade sempre foi dos meninos, mas teve uma vida relativamente alegre, apesar dos olhos tristes que enxergo em todos os cães. Para mim, eles sofrem da melancolia de terem perdido o elo com sua vida selvagem. Acho que sentem falta da liber- dade substituída à revelia por casinhas, passeios com guias, banhos e tosas, trocando as matas pela civiliza- ção. Acredito que às vezes uivam de saudades, como se ansiassem pela memória do que foram. Aqui em casa Sherlock fez muita estripulia e, de vez em quando, eu desabafava: ‘‘Este cachorro é o cão’’. Entre suas artes estava o ‘‘assalto’’ à comida dos gatos, dispu- tando a ração em lata e a tigela de leite com a gula de quem chegava a uma lanchonete. A disputa na cozinha às vezes cedia espaço a uma inti- midade prazerosa. Num canto, cão e gato acompanha- vam nossas refeições, intrigados com o fio de mussarela esticado da pizza à boca como a corda de um varal, só que muito mais saboroso. Nessas horas tornavam-se cúmplices, esperando um pedaço de marguerita com o qual os brindávamos, esquecendo as recomendações de ‘‘não dar massa aos animais para evitar que seus pelos caiam’’. Com um pelo a mais ou a menos, Sherlock foi um bom gourmet que comeu pão e pizza, sempre atento ao que estava nos pratos. Como um detetive, investigava o quintal para perseguir as sombras das roupas nos varais quando ainda era um filhote. Perdi vestidos estraçalhados pelo meu cão que também se divertia quando cismava com um camundon- go na lavandeira, derrubando pregadores e caixas de sa- bão, bacias e jornais velhos para dar conta de sua caça- da implacável. Seu triunfo consistia em acuar os peque- nos inimigos para que os pegássemos. Nessas horas, ainda que nunca tenha usado lupas ou fumado cachim- bo, Sherlock era astuto como o personagem inglês que lhe deu o nome e dele guardo lembranças que renderiam novelas de suspense ou humor. Despedi-me do meu amigo na última quarta-feira. Não queria mais ver um detetive imobilizado pela doença, um guerreiro a quem o tempo roubou o movimento das pa- tas. O orgulho de um cão é ficar em pé, latir para a lua, praticar ‘‘assaltos’’ em busca de boa comida, caçar ca- mundongos, implicar com a sombra das nossas meias e vestidos, lutar com inimigos reais ou imaginários. Antes que a dor lhe roubasse as forças, deixei que fosse embo- ra e o quintal ficou vazio, perdi para sempre os seus lati- dos. Mas sua história vive nos espaços que dedicamos aos melhores amigos, mesmo quando eles não podem mais responder, pulando em nosso peito com a euforia tí- pica e sem palavras de quem trava um diálogo pelo cora- ção. Ele deixa como herança uma bola velha, uma vasi- lha, uma coleira roída e todas as alegrias que um cão de- vota ao dono. Marco Jacobsen A hora e a vez de Leila Pinheiro Cantora começa o ano com lançamento duplo: CD ‘Pra Iluminar’ e selo próprio, Tacacá Music Phoenix Finardi Reportagem Local O ano de 2009 nasceu claro para Leila Pi- nheiro. E foi ela mesma quem quis assim. Seu novo CD ‘‘Pra iluminar’’ marca também o lança- mento de seu selo musical, Tacacá Music. O disco tem 17 faixas, to- das dedicadas ao trabalho do paulista Eduardo Gudin, compositor que comemora 40 anos de carreira e mais de 300 músicas. A voz de Leila nas canções de Gudin é uma parceria antiga e bem-sucedida, que come- çou há 24 anos no Festival dos Festivais, da TV Globo. O samba ‘‘Verde’’, de Gu- din, foi terceiro colocado e projetou Leila nacionalmen- te. ‘‘Desde então Leila vem gravando minhas músicas e eu sinto que na sua voz elas estão onde têm de es- tar. Muitas vezes, quando percebo, estou compondo pensando em seu canto’’, confessa Gudin. Nesta entrevista exclusi- va para a FOLHA, Leila fala da expectativa com o CD e o selo, dos projetos para novos trabalhos e também da artista que adora os fãs mas detesta tietagem; da mulher curiosa que se inte- ressa por tudo e vasculha a internet e ainda da intérpre- te que ‘‘se acaba de chorar e não troca uma música triste por cinco alegres’’. O O C CD D P Pr r a a I I l l u um mi i n na ar r f f o oi i g gr ra av va ad do o a ao o v vi iv vo o d du ur ra an nt te e u um m s sh ho ow w n no o T Te ea at t r r o o d da a F Fe ec ca ap p, , e em m S Sã ão o P Pa au ul l o o, , e em m 2 20 00 07 7. . P Po or r q qu ue e s só ó a ag go or ra a v vo oc cê ê e es st tá á l la an nç ça an nd do o e es ss se e t tr ra ab ba al lh ho o? ? Para falar a verdade, eu nem pensei que ele fosse virar CD, mas quando ouvi o material, tinha tanta quali- dade, vi que não podia dei- xar isso se perder. A grava- ção foi transformada em CD no começo de 2008, mas houve uma série de dificul- dades com a EMI e decidi que era melhor aguardar. Além disso, o ano passado era a passagem da Bossa Nova e isso tomou grande parte dos meus shows. Não achei que era a hora certa. O O s se el lo o, , T Ta ac ca ac cá á, , é é o o n no om me e d de e u um ma a c co om mi id da a? ? É isso, uma sopa quente com caldo de mandioca, um prato típico do Pará. Eu sou filha do Tacacá, cresci comendo isso. Esse nome foi uma forma de homena- gear e divulgar a minha ter- ra. Além disso, a palavra é indígena e muito sonora. C Co o m mo o e es st t á á s se en nd do o a a e ex xp pe e - - r ri i ê ên nc ci i a a d de e a ad dm mi i n ni i s st tr ra ar r u um m s se e - - l l o o d d i i a a n n t t e e d d e e u u m ma a c c r r i i s s e e e e c c o o - - n nô ôm mi ic ca a? ? É uma loucura. Eu não po- dia prever essa crise, mas to- da hora há a dificuldade da hora, não é? Estou apostando todas as minhas fichas nisso, mas minha vida não é venda de discos, eu sobrevivo e pa- go as minhas contas fazendo shows. Portanto, estou lançan- do esse selo do tamanho que eu sou. Q Qu ua ai is s s sã ão o o os s p pr ró óx xi im mo os s p pr ro o- - j je et to os s p pa ar ra a o o s se el lo o? ? Eu imagino um mar de lan- çamentos, mas estou procu- rando parcerias. Se eu tiver um parceiro é mais fácil, eu vou muito mais forte, posso me dividir entre shows e não me descapitalizo. Estou tam- bém de olho na internet, é uma fonte maravilhosa, bem usada, é superlegal para o artista. Ninguém pode virar as costas para isso e olha que eu ainda nem exploro como gostaria. C Co o m mo o f f o oi i g gr r a av va ar r V Ve er r d de e2 24 4 a an no os s d de ep po oi is s? ? O O q qu ue e e es ss sa a m mú ús si i c ca a s si i g gn ni i f f i i c ca a p pa ar r a a v v o oc cê ê h ho oj je e? ? É outro ‘‘Verde’’, mais ma- duro (risadas). Ainda que es- sa seja uma canção muito gasta dentro de mim - eu já regravei tantas versões e ar- ranjos dessa música - ela se renovou. E o público recebeu de uma maneira especial, muito comovente. É como se eu me reencontrasse com o compositor. A música sobre- viveu esses anos todos, e a nossa relação também. V Vo oc cê ê j já á g gr ra av vo ou u a al lg gu un ns s d do os s m ma ai io or re es s c co om mp po os si it to or re es s b br ra as si i - - l le ei ir ro os s. . Q Qu ue em m v vo oc cê ê a ai in nd da a n nã ão o c ca an nt to ou u e e g go os st ta ar ri ia a d de e g gr ra av va ar r? ? Milton Nascimento. Estou mergulhada na obra dele e vai chegar a hora. Eu não en- tendo como ainda não gravei nada dele. Estou com a obra completa do Milton aqui em casa, ouvindo de manhã, de tarde e de noite. Estou me acabando de chorar. As can- ções dele são assim, têm uma tristeza tão profunda... Esse é o ponto da canção, fazer as pessoas refletirem, ouvirem uma vez e voltarem para ouvir de novo... Minhas músicas não são para fazer as pessoas dançar. Eu não troco uma música triste por cinco alegres. V Vo o c cê ê j j á á d di i s s s s e e q qu ue e n nã ão o g go os st ta a d de e g gr ra av va aç çõ õe es s a ao o v vi iv vo o e e t t a am mb bé ém m n nã ão o é é d de e s se e e ex xp po or r , , p pa ar r e ec ce e q qu ue e v v o oc cê ê n nã ão o c cu ur r t t e e m mu ui i t t o o e es s s s e e n ne eg gó óc c i i o o d de e f f ã ã- - c cl lu ub be e. .. .. . Meus fãs são meus ami- gos. Não gosto de tietagem, não alimento o eu fora do palco. Não consigo nem ali- mentar esse negócio de fã- clube - eles acabam se irri- tando comigo. Não dou trela para revistas de fofocas, não gosto disso. Quero que me vejam como uma pessoa normal, não como um ídolo. Eu gosto do público, não me escondo, mas privilegio a mi- nha música, minha arte. É is- so que eu quero deixar para o mundo. O disco é uma homenagem aos 40 anos de carreira de Eduardo Gudin, compositor de ‘Verde’, música que projetou Leila nacionalmente Washington Possato/Divulgação ‘Eu gosto do público, não me escondo, mas privilegio a minha música, minha arte’ Arquivo Folha Divulgação

Marco Jacobsen LeilaPinheiro - p.download.uol.com.brp.download.uol.com.br/leilapinheiro/FolhaLondrina_050409.pdf · Como um detetive, investigava o quintal para perseguir ... É isso,

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6 FOLHA DE LONDRINA, domingo, 5 de abril de 2009

CÉLIA MUSILLI

[email protected]

O adeus ao‘detetive’

Sherlock era um cão astutocomo o personagem que

lhe deu o nome

Existem amigos com quem dialogamos a vida inteira,mas sem palavras, vírgulas ou interrogações. Alguns des-ses amigos nos abanam o rabo de maneira alegre e qua-se indecente, pulam em nosso peito com duas patas, nosfazem incômodas serenatas de latidos. Quando um des-ses amigos vai embora é como se parte da nossa vida mi-grasse para um território desconhecido e o quintal ga-nhasse o contorno de um vazio.

Perdi um amigo assim essa semana. Sherlock era umcachorro ‘‘de grife’’ que viveu sem frescuras, um ‘‘aireda-le terrier’’ com nome de detetive. Nós éramos a sua famí-lia desde que chegou há doze anos para fazer companhiaa meus filhos que tinham acabado de nascer, tornando-se um bicho de estimação.

Sherlock viveu como um cachorro humilde, sem tratosespeciais nem coleiras de falso brilhante. Criado no quin-tal, sempre teve ração, água fresquinha, sol e sombra pa-ra descansar. Por ter a mesma idade dos meus filhos gê-meos, não recebeu regalias, a prioridade sempre foi dosmeninos, mas teve uma vida relativamente alegre, apesardos olhos tristes que enxergo em todos os cães. Paramim, eles sofrem da melancolia de terem perdido o elocom sua vida selvagem. Acho que sentem falta da liber-dade substituída à revelia por casinhas, passeios comguias, banhos e tosas, trocando as matas pela civiliza-ção. Acredito que às vezes uivam de saudades, como seansiassem pela memória do que foram.

Aqui em casa Sherlock fez muita estripulia e, de vez emquando, eu desabafava: ‘‘Este cachorro é o cão’’. Entresuas artes estava o ‘‘assalto’’ à comida dos gatos, dispu-tando a ração em lata e a tigela de leite com a gula dequem chegava a uma lanchonete.

A disputa na cozinha às vezes cedia espaço a uma inti-midade prazerosa. Num canto, cão e gato acompanha-vam nossas refeições, intrigados com o fio de mussarelaesticado da pizza à boca como a corda de um varal, sóque muito mais saboroso. Nessas horas tornavam-secúmplices, esperando um pedaço de marguerita com oqual os brindávamos, esquecendo as recomendações de‘‘não dar massa aos animais para evitar que seus peloscaiam’’. Com um pelo a mais ou a menos, Sherlock foi umbom gourmet que comeu pão e pizza, sempre atento aoque estava nos pratos.

Como um detetive, investigava o quintal para perseguiras sombras das roupas nos varais quando ainda era umfilhote. Perdi vestidos estraçalhados pelo meu cão quetambém se divertia quando cismava com um camundon-go na lavandeira, derrubando pregadores e caixas de sa-bão, bacias e jornais velhos para dar conta de sua caça-da implacável. Seu triunfo consistia em acuar os peque-nos inimigos para que os pegássemos. Nessas horas,ainda que nunca tenha usado lupas ou fumado cachim-bo, Sherlock era astuto como o personagem inglês quelhe deu o nome e dele guardo lembranças que renderiamnovelas de suspense ou humor.

Despedi-me do meu amigo na última quarta-feira. Nãoqueria mais ver um detetive imobilizado pela doença, umguerreiro a quem o tempo roubou o movimento das pa-tas. O orgulho de um cão é ficar em pé, latir para a lua,praticar ‘‘assaltos’’ em busca de boa comida, caçar ca-mundongos, implicar com a sombra das nossas meias evestidos, lutar com inimigos reais ou imaginários. Antesque a dor lhe roubasse as forças, deixei que fosse embo-ra e o quintal ficou vazio, perdi para sempre os seus lati-dos. Mas sua história vive nos espaços que dedicamosaos melhores amigos, mesmo quando eles não podemmais responder, pulando em nosso peito com a euforia tí-pica e sem palavras de quem trava um diálogo pelo cora-ção. Ele deixa como herança uma bola velha, uma vasi-lha, uma coleira roída e todas as alegrias que um cão de-vota ao dono.

Marco JacobsenA hora e a vez deLeila PinheiroCantoracomeça oano comlançamentoduplo: CD‘Pra Iluminar’e selo próprio,Tacacá Music

Phoenix FinardiReportagem Local

Oano de 2009 nasceuclaro para Leila Pi-nheiro. E foi ela

mesma quem quis assim.Seu novo CD ‘‘Pra iluminar’’marca também o lança-mento de seu selo musical,Tacacá Music.

O disco tem 17 faixas, to-das dedicadas ao trabalhodo paulista Eduardo Gudin,compositor que comemora40 anos de carreira e maisde 300 músicas. A voz deLeila nas canções de Gudiné uma parceria antiga ebem-sucedida, que come-çou há 24 anos no Festivaldos Festivais, da TV Globo.O samba ‘‘Verde’’, de Gu-din, foi terceiro colocado eprojetou Leila nacionalmen-te. ‘‘Desde então Leila vemgravando minhas músicase eu sinto que na sua vozelas estão onde têm de es-tar. Muitas vezes, quandopercebo, estou compondojá pensando em seucanto’’, confessa Gudin.

Nesta entrevista exclusi-va para a FOLHA, Leila falada expectativa com o CD eo selo, dos projetos paranovos trabalhos e tambémda artista que adora os fãsmas detesta tietagem; damulher curiosa que se inte-ressa por tudo e vasculha ainternet e ainda da intérpre-te que ‘‘se acaba de chorare não troca uma músicatriste por cinco alegres’’.

OO CCDD ‘‘‘‘PPrraa IIlluummiinnaarr’’’’ ffooiiggrraavvaaddoo aaoo vviivvoo dduurraannttee uummsshhooww nnoo TTeeaattrroo ddaa FFeeccaapp,,eemm SSããoo PPaauulloo,, eemm 22000077..PPoorr qquuee ssóó aaggoorraa vvooccêê eessttáállaannççaannddoo eessssee ttrraabbaallhhoo??

Para falar a verdade, eunem pensei que ele fossevirar CD, mas quando ouvi omaterial, tinha tanta quali-dade, vi que não podia dei-xar isso se perder. A grava-ção foi transformada em CDno começo de 2008, mashouve uma série de dificul-dades com a EMI e decidique era melhor aguardar.Além disso, o ano passadoera a passagem da BossaNova e isso tomou grandeparte dos meus shows. Nãoachei que era a hora certa.

OO sseelloo,, TTaaccaaccáá,, éé oo nnoommeeddee uummaa ccoommiiddaa??

É isso, uma sopa quentecom caldo de mandioca,um prato típico do Pará. Eusou filha do Tacacá, crescicomendo isso. Esse nomefoi uma forma de homena-gear e divulgar a minha ter-ra. Além disso, a palavra éindígena e muito sonora.

CCoommoo eessttáá sseennddoo aa eexxppee--rriiêênncciiaa ddee aaddmmiinniissttrraarr uumm ssee--lloo ddiiaannttee ddee uummaa ccrriissee eeccoo--nnôômmiiccaa??

É uma loucura. Eu não po-dia prever essa crise, mas to-da hora há a dificuldade dahora, não é? Estou apostandotodas as minhas fichas nisso,mas minha vida não é vendade discos, eu sobrevivo e pa-go as minhas contas fazendoshows. Portanto, estou lançan-do esse selo do tamanho queeu sou.

QQuuaaiiss ssããoo ooss pprróóxxiimmooss pprroo--jjeettooss ppaarraa oo sseelloo??

Eu imagino um mar de lan-çamentos, mas estou procu-rando parcerias. Se eu tiverum parceiro é mais fácil, euvou muito mais forte, possome dividir entre shows e nãome descapitalizo. Estou tam-bém de olho na internet, é umafonte maravilhosa, bem usada,é superlegal para o artista.Ninguém pode virar as costaspara isso e olha que eu aindanem exploro como gostaria.

CCoommoo ffooii ggrraavvaarr ‘‘‘‘VVeerrddee’’’’2244 aannooss ddeeppooiiss?? OO qquuee eessssaammúússiiccaa ssiiggnniiffiiccaa ppaarraa vvooccêêhhoojjee??

É outro ‘‘Verde’’, mais ma-duro (risadas). Ainda que es-sa seja uma canção muitogasta dentro de mim - eu járegravei tantas versões e ar-ranjos dessa música - ela serenovou. E o público recebeude uma maneira especial,muito comovente. É como seeu me reencontrasse com ocompositor. A música sobre-viveu esses anos todos, e anossa relação também.

VVooccêê jjáá ggrraavvoouu aallgguunnss ddoossmmaaiioorreess ccoommppoossiittoorreess bbrraassii--lleeiirrooss.. QQuueemm vvooccêê aaiinnddaa nnããooccaannttoouu ee ggoossttaarriiaa ddee ggrraavvaarr??

Milton Nascimento. Estoumergulhada na obra dele evai chegar a hora. Eu não en-tendo como ainda não graveinada dele. Estou com a obracompleta do Milton aqui emcasa, ouvindo de manhã, detarde e de noite. Estou meacabando de chorar. As can-ções dele são assim, têmuma tristeza tão profunda...Esse é o ponto da canção,fazer as pessoas refletirem,ouvirem uma vez e voltarempara ouvir de novo... Minhasmúsicas não são para fazeras pessoas dançar. Eu nãotroco uma música triste porcinco alegres.

VVooccêê jjáá ddiissssee qquuee nnããooggoossttaa ddee ggrraavvaaççõõeess aaoo vviivvoo eettaammbbéémm nnããoo éé ddee ssee eexxppoorr,,ppaarreeccee qquuee vvooccêê nnããoo ccuurrtteemmuuiittoo eessssee nneeggóócciioo ddee ffãã--cclluubbee......

Meus fãs são meus ami-gos. Não gosto de tietagem,não alimento o eu fora dopalco. Não consigo nem ali-mentar esse negócio de fã-clube - eles acabam se irri-tando comigo. Não dou trelapara revistas de fofocas, nãogosto disso. Quero que mevejam como uma pessoanormal, não como um ídolo.Eu gosto do público, não meescondo, mas privilegio a mi-nha música, minha arte. É is-so que eu quero deixar parao mundo.

O disco é uma homenagem aos 40 anos de carreira de Eduardo Gudin,compositor de ‘Verde’, música que projetou Leila nacionalmente

Washington Possato/Divulgação

‘Eu gosto do público, não me escondo, masprivilegio a minha música, minha arte’

Arquivo Folha

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