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A gricultura tem futuro Armando Sevinate Pinto, ex-ministro da Agricultura e actual consultor do Presidente da República, defende que a agricultura portuguesa não está tão mal como muitos criticam, mais, pode ter um futuro promissor N º 105 Mensal Maio 2011 2.20 (IVA incluído) M arconi Perillo Governador de Goiás A níbal Costa Presidente da CM de Ferreira do A lentejo Pedro Bento Gerente da ANC PA A LE N TEJ O QUER S ER SO LUÇÃ O PA R A O DE S E N V OLV IM E N T O DO PAÍS

Marconi Perillo

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Goiás se renova e Moderniza

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Maio 2011 | PAÍS €CONÓMICO › 1

A gricultura tem futuroArmando Sevinate Pinto, ex-ministro da Agricultura e actual consultor do Presidente da República, defende que a agricultura portuguesa não está tão mal como muitos criticam, mais, pode ter um futuro promissor

N º 105 › Mensal › Maio 2011 › 2.20 (IVA incluído)

Marconi PerilloGovernador de Goiás

A níbal CostaPresidente da CM de Ferreira do A lentejo

Pedro BentoGerente da ANC PA

A LE N TEJ O QUER S ER SO LUÇÃ O PA R A O DE S E N V OLV IM E N T O DO PAÍS

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› LU SO F ONIA Brasil

Estado de Goiás é um dos mais importantes celeiros do Brasil, mas quer ser mais do que apenas isso

Goiás se renova e moderniza

constituindo um ponto de cruzamento de rotas, negócios e de gentes. É um dos

principais estados produtores de grãos, carnes e de medicamentos genéricos do Brasil. A

sua capital, Goiânia, dista apenas 200 quilómetros de Brasília, a capital federal do país,

e pretende aproveitar e maximizar as potencialidades e vantagens decorrentes dessa

posição geoestratégica central no país. Desenvolver o agronegócio, agregando cada

vez mais valor aos produtos produzidos no estado, modernizando as infraestruturas

cenário brasileiro e sul-americano. E gostaria de incrementar o seu relacionamento com

Portugal, como expressou o Governador Marconi Perillo em entrevista exclusiva à País

€conómico .

O estado de Goiás possui cerca de seis milhões de habitantes dis-tribuídos ao longo dos seus 246

municípios. Ocupa uma posição central no território brasileiro, e a sua capital (Goiânia) dista apenas 200 quilómetros de Brasília, a capital federal do país. Goiás é considerado por muitos como um dos mais importantes celeiros do Brasil. A composição da economia do estado está baseada na produção agrícola, na pecuá-ria, no comércio e nas indústrias de mine-ração, alimentícia, de confecções, imobili-ária, metalurgia e madeireira.No sector da agropecuária, o estado possui a 8ª maior participação do total do VA (va-lor adicional) nacional, com 5,6%, sendo destaque na produção agrícola de algodão (3º colocado), cana-de-açúcar, milho, soja e produção de grãos (4º colocado). Goiás continua a ser o maior produtor nacional de sorgo.No campo da pecuária, este estado do Centro-Oeste ocupa também posições cimeiras em vários rankings produtivos do país, como é o caso do 4º lugar em re-

banho e abate de bovino, também no 4º lugar na produção de leite, no 5º lugar no rebanho e abate de suínos ou ainda no 6º lugar em rebanho avícola.Por outro lado, ainda no campo produtivo, mas no setor industrial, o estado de Goiás ocupa a décima posição com maior parti-cipação no total VA nacional, com 2,4% na indústria em geral, sendo o 11º na in-dústria extrativa mineral (0,8% de partici -pação), 9º na indústria de transformação (2,1% de participação) e 8º na construção civil (3,2% de participação). É de subli -nhar, que segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, Goiás é o 8º no consumo de cimento, e conforme a ÚNICA – União de Agroindústria Cana -vieira de São Paulo, o estado é o 6º maior produtor de açúcar e o 4º maior produtor de álcool.Ainda enquanto área territorial produtiva de fatores capazes de contribuírem para o desenvolvimento do seu espaço geográfi-co e dos fatores produtivos, é de destacar que Goiás possui a 8ª maior participação no setor de produção e distribuição de ele-

tricidade e gás, água, saneamento básico e limpeza urbana, com uma percentagem nacional de 4,2%. Já em matéria de produ-ção de energia, o estado ocupa a 5ª posi-ção a nível nacional, apenas ultrapassado pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia.

Exportações e importações a aumentaremÉ importante notar igualmente a evolu-ção dos principais dados da evolução da balança comercial do estado. Os dados respeitantes a 2009 mostraram que Goiás importou mais do que expor-tou, ocupando o 11º lugar no capítulo das exportações, tendo subido duas posições face ao sucedido no período compreendi-do entre 2000 e 2009, e ocupa o 10% no capítulo das importações, tendo também subido quatro posições no ranking brasi-leiro.No entanto, conforme entrevista exclusiva que se publica nesta edição com o Gover-nador de Goiás, Marconi Perillo, o estado de Goiás pretende chegar mais longe,

T E X T O › JORGE A LEGRIA | F OT OGR A F IA › RUI ROCHA REIS

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agregando ainda mais valor aos produtos agrícolas que saem do seu rico e abun-dante solo, ao minério extraído no seu território, mas também na expansão das infraestruturas internas ou que cruzam este estado central no território brasileiro, apostando igualmente na modernização tecnológica e na qualificação dos seus ci-dadãos, permitindo-lhes serem mais efi-cientes e competitivos e gerando maior renda para as famílias e para as empresas.É de realçar, porque visitámos o agro-pólo localizado na cidade de Anápolis (a 40 quilómetros de Goiânia e a 160 de Brasília), o fantástico desenvolvimento da indústria farmacêutica existente no local,

o que possibilitou ao estado de Goiás já ser presentemente o maior produtor de medicamentos genéricos do Brasil, mas a ambição é mesmo a de chegar no espaço de dez anos à posição de maior produtor de medicamentos (de todas as espécies) de país.Aliás, quando no presente se fala muito de internacionalização e investimento no exterior das empresas portuguesas, seria interessante que muitas deles, sobretudo as ligas ao agronegócio e à indústria far-macêutica olhassem com atenção para o estado de Goiás (e para Anápolis, no caso das farmacêuticas), enquanto espaço com potencial, com oportunidades e com capa-

cidades competitivas para a sua interna-cionalização.O próprio Governador Marconi Perillo su-blinha o desejo de incrementar as relações com Portugal, sugerindo o início pelo se-tor cultural, mas certamente que também estava no seu espírito o estabelecimento de pontes económicas, empresariais e co-merciais entre os dois lados do Atlântico, que possam ser mutuamente vantajosas, pois Portugal é uma porta de entrada na Europa para produtos e empresas goianas, enquanto Goiás é uma excelente porta (pelo sua posição central) para todo o ter-ritório brasileiro e mesmo do continente sul-americano. ‹

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Marconi Perillo, Governador de Goiás, o estado que é considerado o celeiro do Brasil, está aberto a desenvolver relações com Portugal

Goiás é o centro do agronegócio brasileiro

O estado de Goiás é justamente considerado um dos celeiros do Brasil, pois ocupa as

primeiras posições do ranking do país em várias produções, tanto no campo dos cereais,

como na vertente da produção de gado. Marconi Perillo é o Governador do Estado de

Goiás, tendo assumido o cargo no passado dia 1 de Janeiro do corrente ano. Mas já é a

do executivo de Goiás, o Governador quer acelerar o desenvolvimento econômico e

social do estado e dos seus concidadãos, melhorando infraestruturas, modernizando as

tecnologias e fomentando as exportações, sobretudo do emergente setor farmacêutico,

sublinhando Marconi Perillo, que «Goiás se prepara para ser no espaço de dez anos o

maior produtor de medicamentos do Brasil».

O Estado de Goiás é considerado um dos

mais importantes celeiros do Brasil. Qual

é o nível e a importância que o agrone -

gócio possui hoje neste estado central

do território brasileiro?

Passada a economia do ouro, ainda no Brasil Colonial, Goiás desenvolveu sua vocação para a produção agropecuária. Muita terra, água e insolação – e uma po-sição estratégica - contribuíram para que nos tornássemos este celeiro a que se re-ferem. Modernamente o produtor goiano também foi adotando novas tecnologias, crescendo em produtividade, e o gover-no aproveitou-se de possibilidades fis-cais para criar incentivos. Na soma mais recente destes fatores, entre 1998 e 2005 o Produto Interno Bruto (PIB) goiano triplicou-se de 17,4 bilhões de Reais para cerca de 46 bilhões de Reais. No período a produção de grãos e a área agrícola irriga-da dobraram e o rebanho bovino cresceu 13 por cento.Goiás foi responsável em 2006, segundo censo consolidado pelo Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística (IBGE), por 10 por cento da produção nacional de grãos.

O que corresponde a 13,3 milhões tone-ladas de soja, arroz, milho e outros grãos. Nosso rebanho bovino, pela base estatísti-ca de 2006 do IBGE, era de 17,2 milhões de cabeças. Em crescimento, assim como o plantel e a produção de carnes derivadas de aves e suínos.Este forte crescimento permitiu também que expandíssemos muito nossa balança comercial. Em 2000 exportamos 444 mi-lhões de Dólares, preço FOB. Dez anos depois chegávamos a mais de 4 bilhões de Dólares exportados, também na co-tação Free On Board. Nossos principais produtos são a carne, principalmente de bovinos, seus derivados, e a soja em grão e seus derivados.Ainda no setor do agronegócio, quais as

áreas produtivas que registram maior

potencial de desenvolvimento e de ca -

pacidade de exportação?

Toda a cadeia da soja, desde os grãos até o óleo de soja e as lecitinas.Na pecuária também contamos com um rebanho certificado e de qualidade, com fazendas já registradas para a produção do chamado boi verde, alimentado à base

de capim, sem aditivos, e rastreado desde o nascimento ao abate.As carnes bovina, de aves e suínas de Goi-ás estão presentes nas prateleiras dos me-lhores supermercados do mundo. O couro industrializado a partir de Goiás serve de matéria-prima para calçados e bolsas dos mais simples aos mais sofisticados.

Conclusão da ferrovia N orte- S ulAs infraestruturas existentes no estado

capacitam-no efetivamente para apro -

veitar todo o potencial agrícola e indus -

trial do estado? Estão previstas novas

infraestruturas em Goiás? Quais as prin -

cipais e perspetivas de concretização?

Muito foi feito nas últimas décadas, mas há ainda o que fazer para suprir novas demandas com infraestrutura adequada, sobretudo de transportes e energia. In-vestimentos em parceria com a iniciativa privada nestes setores são muito bem-vindos. A conclusão da Ferrovia Norte-Sul será de extrema importância para melho-rar o escoamento da produção do estado em direção aos portos da região Norte

E N TREV IS T A › JORGE A LEGRIA | F OT OGR A F IA › AR QUIVO

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e Sul do país, e de lá para o restante do mundo.Já temos o chamado Porto Seco, em Aná-polis, que funciona como aduana nas ex-portações e desembaraço alfandegário de produtos importados. Ao lado dele esta-mos investindo, junto com a iniciativa pri -vada, na Plataforma Multimodal de Goiás, numa área de entroncamento de grandes rodovias que cortam o país, e que também será assistida pelo transporte ferroviário e aéreo de cargas.

Vamos ser o maior fabricante de medicamentos genéricos do Brasil Na cidade de Anápolis, para além de um

agro-pólo onde estão instaladas muitas

indústrias de processamento de produ -

tos agrícolas do cerrado, estão também

várias indústrias de outros segmentos

de atividade, como é o caso de empresas

farmacêuticas. Para além do agronegó -

cio, que outras áreas industriais consti -

tuem apostas estratégicas do estado de

Goiás?

Goiás tem 47 empresas do setor de me-dicamentos instaladas em seu território, 11 delas no Distrito Agroindustrial de Anápolis. Estas cresceram muito a partir da liberação da produção de remédios ge-néricos, sem marca industrial, identifica-dos por seus princípios ativos. Goiás já é o maior produtor de genéricos no Brasil, e a partir de um laboratório goiano em as-sociação com uma grande empresa norte-americana deve aumentar sua produção, no que será o maior laboratório de medi-camentos de toda a América do Sul. Com isto também, nos próximos dez anos deve-mos nos tornar os maiores fabricantes de medicamentos do Brasil.Goiás é grande produtor de químicos, alimentos processados e roupas. Graças à logística e a localização estratégica tam-bém nos tornamos pólo de atração para grandes montadoras de veículos e suas fábricas e serviços satélites.Consta de nosso projeto de governo in-vestir na implantação de empresas de software no Estado (pólo digital), alem da criação e reestruturação de novos pólos

industriais como o do município de Apa-recida de Goiânia dentre outros.O estado de Goiás é também bastante

rico em recursos minerais. Esses recur -

sos são transformados com valor agre -

gado no estado?

Temos importante produção de cobre, com exportação de mais de 519 milhões de dólares em 2010; ouro, com 191 mi-lhões de dólares no mesmo ano; ferroni-óbio, que participou com 151 milhões de dólares em exportações. Há outros mine-rais que participaram em nossas expor-tações, como amianto, pedras preciosas e semi-preciosas. Quanto à verticalização da produção mineral, podemos dizer que estamos indo bem em relação ao fosfato e calcário, insumos para fertilizantes e adubos que já exportamos beneficiado, que contribuiu com cerca de 14 milhões de dólares na balança comercial de 2010, mas que é também fundamental para abastecer o mercado interno e tornar mais competitiva a produção agrícola local.É possível a Goiânia aproveitar as van -

tagens da realização da Copa do Mundo

de 2014 no Brasil?

Tentamos muito ser uma das 12 sedes de jogos da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Temos boas praças esporti-vas, times de futebol que disputam os principais campeonatos nacionais, uma estrutura razoável de turismo, que já abriga eventos nacionais e internacionais na área de negócios e eventos da saúde, em que Goiânia, a capital de Goiás, já se tornou uma referência importante. Ape-sar dos esforços fomos preteridos, mas ainda não desistimos. Se houver alguma desistência entre as sedes escolhidas, tere-mos nova chance e vamos lutar por ela. Também estamos trabalhando para abri-garmos treinamentos de seleções interna-cionais em nossas praças esportivas. Na principal delas, o Estádio Serra Dourada, com capacidade para 75 mil pessoas, já de-terminei uma ampla reforma para receber com todo o brilho um amistoso entre a Se-leção Brasileira e a Seleção da Holanda, no dia 4 de junho, que será um dia especial para todos nós goianos.

I nvestimento é bem-vindoComo analisa e como encara as possibi -

lidades de acolher investimento estran -

geiro para contribuir para o desenvolvi -

mento econômico e social do estado de

Goiás?

Temos pelo menos três grandes linhas que queremos enfatizar em nosso governo. A primeira delas é a de crescimento econô-mico com desenvolvimento, distribuição de renda e justiça social. Para aplicá-la pre-cisamos de muita seriedade em segurança pública e saúde, e sobretudo em educação, para qualificar mão de obra. A segunda

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linha mestra é a de conciliar desenvolvi-mento com qualidade ambiental e tam-bém com desenvolvimento tecnológico, Tecnologia da Informação. E ainda temos uma linha em que o Estado se comprome-te à máxima eficiência de gestão pública, com aprimoramento do serviço que pres-ta e que chamamos de qualificação dos gastos, aproveitando com qualidade cada recurso destinado à prestação dos serviços ao cidadão. Implantadas estas três linhas conjuntamente, estamos certos de que os investimentos públicos darão retorno muito maior e o estado será cada vez mais

atrativo para investimentos tanto no setor primário de produção quanto no secundá-rio e terciário. Estamos prontos para um desenvolvi-mento harmônico, equilibrado e auto-sustentado.Qual é a posição do Senhor Governador

sobre as possibilidades de aumentar a

relação econômica e comercial entre o

estado de Goiás e Portugal e com as em -

presas portuguesas?

Temos todo interesse em estabelecer um canal direto de Portugal e Goiás, com par-cerias e o máximo intercâmbio comercial.

Temos o que vender, mas também sabe-mos que Portugal tem seus produtos qua-lificados para exportar. Nesta parceria, talvez possamos começar pela troca de experiências culturais, em que temos muitas raízes comuns. Uma espécie de Semana Cultural Goiás-Portugal poderia nos levar a conhecermos uns dos outros grupos que cultivam tra-dições antigas e manifestações artísticas modernas, que expressam nosso atual es-tágio da elaboração cultural. Fica a sugestão como um primeiro ato concreto. ‹