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Poema completo na Pág. 23 Departamento Cultural do Clube Naval - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº62 - Dezembro 2013. Departamento Cultural do Clube Naval - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº62 - Dezembro 2013. Círculo Literário Círculo Literário O nosso menino Nasceu em Belém. Nasceu tão-somente Para querer bem. Canto de Natal Canto de Natal Feliz Natal e Ano Novo Feliz Natal e Ano Novo

Mare Nostrum 62 - clubenaval.org.br · Nas minhas veias de água ácida, relembro o Rio Tumarã. Vivo a falar numa linguagem de belos Rios no Silêncio, nas noites, entre olhares

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Poema completo na Pág. 23

Departamento Cultural do Clube Naval - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº62 - Dezembro 2013.Departamento Cultural do Clube Naval - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº62 - Dezembro 2013.

Círculo LiterárioCírculo Literário

O nosso meninoNasceu em Belém.Nasceu tão-somentePara querer bem.

Canto de NatalCanto de Natal

Feliz Natal

e

Ano Novo

Feliz Natal

e

Ano Novo

Presidente

Diretor Cultural

Assessor do Diretor Cultural

Vice-Almirante (Ref-FN) Paulo Frederico SorianoDobbin

CF(Ref-IM) Osmar Boavista da Cunha Junior

CMG(RM1-T) Adão Chagas de Rezende

Departamento Cultural

site:www.clubenaval.org.br

Tel.: 2112-2418Tel/Fax.: (21) 2262-1873

Av. Rio Branco, 180 - Centro RJ

Idealizador

Conselho Editorial

Ilustrações

Jornalista Responsável

Endereço Eletrônico

CMG(Ref) Agnaldo Xavier Furtado

CMG(Ref) Egberto Raymundo da Silva FilhoCF(RM1) Gilberto Rodrigues Machado

CMG(Ref.) Paulo Roberto Gotaç

CMG(Ref.) Júlio Sérgio Vidal Pessôa(In memoriam)

Prof. Antonio de Oliveira Pereira RJ13609JP

Atenção:

Nossa Capa

A responsabilidade pelo conteúdo dasmatérias é exclusiva dos autores, quedeclaram, por escrito, ao final delas, a cessãode seus DireitosAutorais.

As colaborações enviadas serão publicadasapós aprovação do Conselho Editorial e nãoserão devolvidas.

Homenagem a Manuel Bandeira

Sócios Fundadores

Coordenador Interino

CMG(Ref) Colbert Demaria Boiteux

CMG(RM1) Agnaldo Xavier FurtadoCMG(Ref) Carlos A. de A. Pereira da Silva

CF(RM1) Gilberto Rodrigues Machado

[email protected]

CAlte (Ref) Domingos P. Castelo Branco Ferreira

CMG (Ref-IM) Nelio Ronchini Lima

CMG (Ref-IM) Vinício Ruiz

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Diretor Cultural

CF(Ref-IM) Osmar Boavista da Cunha Junior

Novo ano. Novos entusiasmos.A alegria de criar, manter, fazer bemfeito é renovada pela simbologia domomento.

Foi-se Mandela, deixando olegado de seu milagre. O milagre deconstruir sobre a diferença e sobre aopressão.

Serviu-se do refinado Ubuntu, aelegante filosofia humanista quesustentou a edificação de uma novanação através da grandeza dasolidariedade.

Esse também é o caminho donosso Círculo Literário. Saudamos comentusiasmo a chegada do ComandanteGilberto Machado, companheiro dereconhecido talento e capacidade, notimão de nossa nave. Registramos aoComandante Silva Filho, a quem elesucede, a nossa gratidão e respeito pelodedicado trabalho de muitos anos.Fazemos votos de muita felicidade.

Quanto a nós, amigos, saudemo-nos com alegria o privilégio da nossacomunidade. Temos o firme propósitode enriquecê-la com o carinho da nossapart icipação, grat i f icados pelorequintado prazer dessa convivência.

Novo ano. Novos entusiasmos.

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Mês de dezembro.Então já é Natal outra vez?!A agitação toma conta das ruas e lojas dos shoppings e as pessoas não

tem mais tempo para nada. Só para o consumo desenfreado.Foi decretada a época das compras, dos presentes, das comidas

sofisticadas, dos encontros de turmas de colégio, de trabalho, de esportes,almoços e jantares festivos, troca de "amigo oculto", reiterações de amizades eamores.

Asaudação de ordem é Feliz Natal!A casa a ser enfeitada, a árvore com suas luzes coloridas e, por fim, a

família reunida à mesa.Nas ruas, vitrines e TV, a mídia usa e abusa da imagem do Papai Noel.Dá até pena ver como o bom velhinho trabalha vendendo produtos, sua

réplica subindo e descendo escadas, andando de moto, tocando saxofone,rebolando no bambolê, dormindo e roncando, sorrindo e dançando.

Decididamente os homens, como sempre apressados e equivocados,confundem o convidado principal.

O Natal não é do Papai Noel.O Natal é de Jesus!

ou

Lucia Romeu

Carnaval ?

Natal

Há cada vez menos referência ao nascimento de Jesus, ao presépio comseu lugar de destaque na casa, ao recolhimento e às orações em família, àpreparação da alma, enfim, para acolher todas as graças provenientes dessadata infinitamente bela.

Seja você, portanto, um out-door vivo do verdadeiro sentimentoreligioso do Natal: espalhe, com alegria, a boa nova do dia 25 de dezembro, onascimento de Jesus para nossa salvação, Maria e José reunidos na manjedouraem adoração, os anjos com seus cânticos de Glória, os reis magos com seuspresentes, a estrela com sua luz.

Conte a todos que puder, o emocionante significado desta festa de Paz!Fale disso com ardor e com amor!Certamente você vai contagiar muitos à sua volta!Quem sabe até mesmo aqueles grupos que saem pelas ruas, tocando

samba , com gorros de Papai Noel, no bloco do pseudo Natal.À você, que ouve os sinos tocareme as vozes todas cantarem,cabe a decisão e a escolha da atitude a tomarna festa que está pra chegar.Cuidado!!! Não vá confundira euforia escandalosa do Carnavalcom a alegria silenciosa do Natal!

jingle-bell

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Parada de Natal

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Viver, amar, sonhar.Curtir paixões ardentes.Apagar velhas desilusõesSem medo de renascerdas próprias cinzas.Enfim, o eterno apaixonado...Amar, mesmo com melodramas,Sonhos eróticos de adolescente.Isso também é bom!Mudo antigos hábitos. Mexo no visual.Surge o garotão!Ainda resta uma dúvida:

EtaVidinha Boa...

CMG (Ref) Ney Marino

Ferreira Barbosa

Pinto ou não pinto os cabelos?!Agora, ela decide...

Saudade sentimento da almaEssência fluida do espíritoSaudade produto do amorDo amor puro que ficouDoce viagem ao passadoDe tudo de bom que marcouSaudade da infância inocenteDo vigor da mocidadeSaudade do tempo dos sonhosSaudade das paixões passageirasSaudade dos amores passadosSaudade dos entes queridosSaudade das horas alegresSaudade dos tempos felizesSaudade de tudo que amamosSaudade dos amigos diletosSaudade dos que já partiramSaudade de todos que amamosSaudade da vida vivida

Em tons verdes era formada,Toda a faixa litorânea,Desta terra Santa CruzIndo da mata à cercania,Onde a beleza seduz.Quando a Nau Capitânia,Lá dos confins avistou,Pensou-se ser o paraíso,Nas faces fez-se o sorriso,Em águas calmas aportou.

Aquela gente pintadaDe azul, vermelho e amarelo,Por entre o verde escuro,São ligações ou o elo,Por tanto tempo obscuro,Viventes de um paralelo,Indagavam os visitantes,Por suas cores e beleza,Seres intrínsecos à natureza,Pessoas cordiais e amantes.

Atraídos por presentes,Vindos de terras além-mar,Por mãos de homens maldosos,Deixaram-se enganar.Eram felizes e ditosos,Meiguice sobre o olhar,Mas perderam a liberdade,As suas vidas fagueiras,Impuseram-lhes bandeiras,Roubaram-lhes a ingenuidade.

Tiraram-lhe o ouro e a prata,Também pedras preciosas,Sumiram com o pau-brasil,Muitas madeiras famosas,Espécies de aves raras,Presenteavam as senhoras,Fidalgas ou da nobreza,Que destas se orgulhavam,Aos parentes mostravam,Suas raríssimas belezas.

E assim nasce o Brasil,Nosso povo, a nossa gente,Sob o domínio e o jugo,Mas conservou-se a semente,Um povo ordeiro e feliz,Bom caráter a Deus temente,Hoje exporta a alegria;Brasileiros carismáticos,Calorosos e bem simpáticos,Também exportam harmonia.

ESCRAVOS DA TERRA, BRASILAntonio Feitosa dos Santos

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CF(Rm1) Gilberto R. Machado

A lua cheia um tapete de luz deitaEsteira brilhante que flutua no mar...Nossos sonhos de amor ela vem inspirarAo ritmo bem suave da brisa que espreita

E espera pelo encanto do momento nascer,Renascer, que não cansa de se repetir,Quando teu olhar de paixão me incandescerAo encontro do meu, num instante... Refletir

A chama da identidade de um sentimentoVerdadeiro, não tão simples de traduzirPor palavras, nestes tempos de esquecimento,

Do fazer às pressas e do mero "curtir"E a vida deixar passar no alheamento!Que pena, a poesia não quiseram sentir...

Meu lamento

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SOU TEUÉS MINHASOMOS NÓSDUPLICAMOS NÓSSOMOS PAISSOMOS AVÓSCRIAMOS, EDUCAMOS, AMAMOSCRESCERAM, CASARAM, TIVERAM FILHOSDEIXARAM-NOSVÊM NOS VISITAR DE VEZ EM QUANDOCASA CHEIA, ALMOÇO, JANTAR, ALEGRIA.VÃO EMBORA, NOSTALGIA.SOMOS FELIZESCRIAMOS RAÍZESREGAMOS TODOS OS MINUTOS,NASCERAM OS FRUTOS.PERPETUAMOS NOSSOS NOMESELES SE ORGULHAM DE NÓSFICAMOS SÓSAINDA SOMOS NÓSAINDA SOU TEUTU ÉS MINHAELES SÃO NOSSOS, LEVAM-NOS NÓS.ATÉ O FIM DOS SÓIS.

ContinuidadeBETO CUNHA(RJ, 23/10/2013 - 21:00)

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O Mundo, tão cheio de esperanças e iniquidades, me enganou.Eu, tão crédulo em mim mesmo, me iludi.Pior ainda foram as estrelas: como me enganaram. Nelas tantas vezes

busquei a inspiração, sem perceber que já tinham entrado em colapso - não maisexistiam.

Apenas suas fragmentadas luzes, perdidas nos espaços ou engolidas porburacos negros, enriqueciam as tímidas estrofes de uma poesia.

Elas jamais teriam percebido os meus vibrantes acenos e minhasinspirações teriam sido meras suposições românticas.

Resta-me compreender este determinismo e suplicar ao tempo quehumanize mais o mundo, que me fortaleça com novas esperanças, que me iluminecom as luzes cintilantes de estrelas vivas.

Prometo até uma ode ao tempo, não ao seu conceito relativo, mas sim nasublime beleza do instante em que Deus concede a sua bênção.

Perdoem-me se atropelo as palavras com emoção, comprometendo asabedoria e a prudência.

Confesso que, às vezes, procuro idéias e perco as palavras mas, não raro,acabo perdendo as duas.

Na verdade somos partículas fantasmas de um mundo dinâmico que, acada instante, se transforma e surpreende.

Recolho-me, afinal, à humildade e recordo Camões:“Põe-me onde se use toda a feridade.E entre leões e tigres, e vereiSe neles achar posso piedadeQue entre peitos humanos não achei”.

Fui iludidoCoronel Aluizio Garcia

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Ali estava absorta em pensamentos...Num banco de jardimBorboletas voavam, colorido especial...Quero asas! Também quero!...Mundo imenso, quero te abraçar...Beleza dos sons...Vento, risos, gritos, sussurros, cantarolar...Perfume de florRosas formosas...Amor perfeito...Amor de antigamente...- Pega em minha mão, me conduz...Flor de fantasia, beleza simples...Almas belas; beleza tão puraE a vida seguindo, e o tempo passando...E eu ali observando...Pessoas lindas, crianças a brincar...Num banco de jardimAh... Grande sonho de minh'almaSei que escondes de mim tantas surpresas...Mostre-se... Pois quero vivê-las...Vivê-las com fervor todos os dias de minhaexistênciaE lembrar que fiquei horas, horas, horas...Num banco de jardim!!!

Num banco de jardimArleni Batista

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No mais fértil jardim do meu sonharUma flor bem mimosa ali nasceuE Deus fez esse sonho transformarNo mais rico presente que me deu!

Taissa é pura, meiga, veio darPela alegria que me concebeuMais luz para os meus passos alcançarToda felicidade no apogeu.

Tornou-se uma rainha, cinderela,Verdadeira pintura em aquarela,A boneca real mais pretendida.

Taissa, a mais formosa das florzinhasÉ Tatá, a segunda das netinhas.Nova estrela no céu da minha vida!

A Primavera chegouA estação que seduzFlorindo os coraçõesCheios de raios de luz.Os revérberos da PrimaveraÉ um jardim floridoÉ como a flor que abre para vidaPois só quem ame por ter vivido.O colorido das floresNesta estação, só seduz.Trazendo um colorido à vidaCheio de raios de luz.A Primavera traz Felicidade,Para todos os corações.Um jardim florido de rosasAbrindo as pétalas das ilusões!E os sonhos se renovamQuando chega a PrimaveraTraz os pássaros cantandoInício de uma nova Era.

Sibéria Sperle Abilio Kac

Taissa

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CMG (Ref) Agnaldo Xavier Furtado

TERRA DE YURI COM IGAPÓS E IGARAPÉS

Nas minhas veias de água ácida, relembro o Rio Tumarã.Vivo a falar numa linguagem de belos Rios no Silêncio,nas noites, entre olhares de árvores e arvoredos mil,lá o Rio Negro, da Amazônia com seus Igapós no Panelão.

Passeando de dia, vi os Macacos deslumbrados, magistral!Passeando com Yuri, no igarapé, ele chama seu Jacarezinho,lá vem ele todo silencioso, majestoso, na orla de sua onda.Olhando por cima da água, numa redobrada atenção aproximou,e num relampejar de astúcia, num sobressalto a carne engoliu.

Na procura pelas margens, olhamos, eu e Yuri, canta Pica-Pau!Mosquitos não existem, insetos jamais, Oh! Boa água tão ácida,entre as ravinas molhadas caminhamos entre arbustos encharcados.De dia ou de noite, esta beleza de lugar é próximo ao Eco Parque.Almejamos quatro dias de felicidade, de lembranças inesquecíveis.Nós, eu, Lucinha, guia Yuri, o índio, mostrando o local abençoado,que existe nas águas negras tão perto de Manaus, este local genial.

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E lá te foste, meu caro Maninho,Que Deus te guarde com todo o carinho,E que os céus te acolham plenamente.

E lá se foi o grande amigo... e agoraQue assim, sem mais nem menos, foste embora,

Nos deixará uma lembrança eternamente.

Ah, meu querido, nem calculas quantoVamos chorar por ti, mas por enquanto...

Depois serão lembranças de alegria

Do pai que foste, amado e imprescindível,Do avozão, marido inesquecível,

De quem nos lembraremos todo o dia.

E nos almoços lá estará com certezaA tua aura sentada a nossa mesa.

Maninho*Agostinho Fortes

* Homenagem ao inesquecível amigoCMG Hermenegildo Pereira da Silva Filho,da Turma DEDO

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Será...?Será...?CMG(FN-RM1) Ubiratan B. R. dos Santos

Será que estamos fadados ao retorno à Pátria Celestial,sem a compreensão e o amorde alguns dos nossos entes queridos, amigos eoutros companheiros de jornada terrena?

Isto então significaria termos deixado de cumprir uma das múltiplas tarefasque nos foram confiadas por D’ús (Deus),mesmo convictos de que habitamos um planeta de expiações e provações...?

Como se comportará então nosso processo evolutivo,diante de um desafio passível de não ser vencido...?

Ainda há tempo suficientepara revertermos o quadro ora emoldurado...?

Além da , o (Deus),com quem mais poderemos contar,para fazer face a esse mister...?

Reflitamos, portanto, irmãos e irmãs,acerca dessas difíceis e complexas questões,de uma tese não tão simplória,como alguns possam prejulgar...

Todavia, necessariamente orientados pelos ditamesda FÉ, da ESPERANÇA, da CARIDADE, da PAZ e do AMOR...

Porquanto, nas coisas desta vida, somos e seremos sempre

ETERNOS APRENDIZES...

Força Infinita Infinito

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Naquela época, muitos homensiam para o trabalho de terno egravata. Guarda-chuva era

presente estimado, só amigos davam. Canetase relógios, jóias guardadas por gerações.Algumas poucas famílias possuíamcarrilhões, precisão e fina marcenaria. Ajanela para o mundo era o rádio. Havia umaemissora, a Rádio Relógio Federal queanunciava a hora certa a cada minuto. Paramuitos, a solução para o acerto dos relógios.Sorte dos moradores daquela rua. Lá morava oSr. Ildefonso.

Baixinho, 70 anos presumíveis, idadeavançada para aqueles tempos semtomografia e ressonância. Corria que eraviúvo. Morava na melhor casa da rua, emboraantiga, herdada do pai. Com Cremilda, filhasolteirona que raramente aparecia.

Saía de casa todo dia, sábados edomingos incluídos, religiosamente às sete damanhã. Percorria placidamente o trajeto decasa à rua principal, onde embarcava numbonde. Sempre de terno preto, cabelostotalmente brancos, não muito fartos,cuidadosamente penteados. Gravataimpecavelmente laçada, escura, parecendosempre a mesma. Camisa branca e umapequena valise nas mãos semelhante à que osmédicos daquele tempo levavam quandoeram chamados às casas de clientes. Ninguémna vizinhança sabia aonde ia, nem o que fazia.

O trajeto a pé até o bonde duravaquinze minutos - andava-se muito mais quehoje. Ao passar pelas residências, marcava otempo.

- Apresse-se, menino. Ildefonso estápassando. Já são sete e quatro, vai chegaratrasado à escola.

-Acorda José! Já são sete e sete.Aquele velhinho acaba de passar.

Numa época em que as coisasdemoravam a mudar, dava a impressãoque Ildefonso sempre fizera parte dapaisagem, sempre caminhou pela rua e aspessoas nunca souberam o que fazia nem oque continha a misteriosa valise.

Mas a flecha do tempo éimplacável.

Um dia, não passou. Algumascrianças chegaram atrasadas à escola.Trabalhadores tomaram café às pressas.Três dias sem vê-lo. Curiosidade.Cremilda informou. Gripe. Já estavamelhorando.

Uma semana sem Ildefonso.Após dez dias, o falecimento.

Segundo Cremilda, a gripe evoluíra parapneumonia, não resistiu.

Foi no velório que a vizinhançasoube o que fazia e o que continha a valise.Era barbeiro, atendia em domicílio.Fregueses antigos, ilustres, políticos,militares graduados, professores.Avalise?Instrumentos do ofício.

IldefonsoCMG (Ref.) Paulo Roberto Gotaç

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Aconvivência nem sempre, ou melhor, quase nunca é pacífica.Às vezes, a menina que sou quer se manifestar além do que a parcela em

mim a ela destinada permite. Isso causa certa distonia, certo desacerto. É preciso,então, que a minha porção quase (eu disse quase) cinquentenária interfira paraevitar o descompasso.

Explico (se é que isso pode ser explicado): sou uma menina de dezesseteanos no corpo de uma mulher de cinquenta (quase, insisto). Embora esta relação,como mencionei, seja um tanto quanto conflituosa - e isso, aliás, é muitocompreensível, já que há uma disparidade de interesses, pensamentos, aspirações,mentalidade e tudo mais - existe uma sintonia fina que tempera a relação fazendocom que idades e disparidades complementem-se criando nova realidade.

Sim, a coexistência de duas porções mulher numa mesma alma femininaacaba por fazer com que elas se complementem, dando origem a uma terceiramulher ainda em construção, mas que não carrega o peso de meio século nascostas sozinha. Divide-o em duas porções, pois nutre a alegria e a esperança dajuventude e a maturidade e experiência da mulher que, há muito, deixou abalzaquiana para trás.

"Esta porção mulher que até então se resguardava é a melhor porção quetrago em mim agora", porque carrega em si a leveza da menina de dezessete quesou e a vivência e todas as mazelas inerentes à porção quase cinquentona.

A porção cinquenta já cumpriu o circuito pelo qual a de dezessete,inevitavelmente, terá de passar, colhendo as perfumadas flores e deparando-secom todas as pedras e pedregulhos inerentes ao percurso.

Esta terceira mulher em fase de construção, muito longe ainda dosacabamentos, é o produto não final, é claro, da fusão destas duas porções que secontrabalançam, sem nunca deixarem de coexistir.

Conflitos sempre existirão. Muitas vezes, a menina de dezessete quer sevestir de forma alegre e despojada mas, ao se olhar no espelho, depara-se com amulher de meio século para censurar e dizer, com todas as letras, o quanto estouridícula. A menina tenta barganhar, desce bem a saia para achar um contra ponto,

Porção MulherÁurea Stella

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mas a mulher madura é radical: "vestido, só um pouquinho acima do joelho. Nomeio da coxa, não rola!". E por aí vai. Nada contra quem usa e gosta. Sempreconceitos, por favor. Esta é uma questão pessoal.

Se no meio de uma festa tocar "eu sou uma fera de pele macia, cuidadogaroto eu sou perigosa", a menina fica frenética e ultrapassa todos os limites napista de dança. Isso, é claro, arrastando a porção cinqüenta consigo.

Depois ela quer comer todos os docinhos, mas a quase cinquentona erefreia permitindo apenas um brigadeiro.

Eu disse que a convivência não era nada pacífica. Elas discutem muito.Cada uma tem que ceder um pouquinho. Na praia, não tem discussão: é maiô eponto.

Se deixar, a menina sobe no salto agulha, abusa da transparência e dodecote e deixa a cinquentona mancando por uma semana. Já a porção maduraquer descer do salto, celebrar os ganhos, sem fingir que não houve perdas.

Quem sou eu? Eu mesma me pergunto. Eu diria que sou a menina dedezessete lutando ativamente para que a mulher de quase cinquenta se transformenessa terceira pessoa (do) singular: Ela.

Ela, cheia de distonias e desacertos. Ela, que continuará se construindo ereconstruindo. Ela, cheia de dúvidas e incertezas. Ela, que sempre cultivará aalegria e o bom humor. Ela, que acredita na vida. Ela, que alimenta o bomsenso. Ela, que jamais, seja em que tempo for, deixará de ser menina.

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Comte Nilberto Silva da Cruz

O dia em que eu deixar VocêVou ser barco sem rumoNa correnteza do oceano,Vou ser estrela cadenteNum céu de noite escura,Vou ser lampião de gásNuma rua qualquer.O dia em que eu deixar VocêVou ser pássaro que não sabe cantarE nunca voou,Vou ser andarilhoSem ter para onde ir,Vou ser vida vaziaSem sentido de existir.

Sem Você

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A partir de agora é oficial: souum ancião. Não posso negar que aconstatação me é um pouco dolorosa.Embora com alguns achaques quecomeçam a aparecer e dos doiscomprimidos que tomo pela manhã, nãosinto a idade. Além de tudo tenho oônus e não o bônus da velhice. Ontemfui a uma prestadora de serviço detelevisão a cabo. Como a fila estivesseenorme, meio acanhado, tirei a ficha deatendimento para idosos. Enquantoaguardava ser chamado, uma mulherque parecia estar esperando há muitotempo, começou a espinafrar os sujeitosque não tem vergonha de se aproveitarda boa fé dos outros, no que foi apoiadapor um gordinho. Aquilo era comigo,

mas fiz ouvidos de mercador. Amulher continuou, agora criticando acorrupção generalizada do governo,sempre incentivada pelo gordinho.Acabei desistindo de ser atendido,com medo de ser acusado derecebedor de mensalão.

Voltando à vaca fria, já que nãoposso reverter a passagem do tempo,ser um velho ranzinza posso impedir.Por isso resolvi: vou rir muito. Alémde tudo, a idade tem certas vantagens.Por exemplo:... bem, daqui a dezminutos me lembrarei de uma.

Pelo menos agora podereiolhar, com a discrição que me éhabitual, as moças na praia, já que souum velhinho inofensivo. No entantoquero enfatizar que estou sessentão,mas com tudo em cima: os peitos emcima da barriga; a barriga em cimados joelhos; os joelhos...

Sex...CC(CD-R1) Paulo Afonso Paiva

Os humanos são individualistas! Têm metas de vida a serem alcançadas.Deixam de lado o "nós" para pensar exclusivamente no "eu". Na dificuldade emprosseguir sozinhos, algumas vezes, são forçados desistir. Unidos uns aos outrostodos poderiam concluir seus objetivos? Os problemas seriam mais facilmenteresolvidos? Encontrar pessoas que, neste mundo individual, acreditem emobjetivos em prol do bem-estar comum faz-se cada vez mais difícil. Esse estiloestá presente na vida dos Sul-Africanos, em sua nova filosofia de vida, tambémexistente em vários países da África, vinda das línguas dos povos Bantos; naÁfrica do Sul, nas línguas Zulu e Xhosa. Este tradicional conceito africano,chama-se Ubuntu, palavra que, traduzida para o nosso idioma define-se como:humanidade para os outros.

Ubuntu representa a crença no compartilhamento conectando toda ahumanidade: "Sou o que sou pelo que nós somos". Seu ideal define o indivíduo eseus relacionamentos, enfatizando sua importância como um conceito religioso:"Zulu umuntu ngumuntu ngabantu" (uma pessoa é uma pessoa através de outraspessoas). Aparentemente não há esta conotação religiosa na sociedade ocidental.O contexto social africano sugere que o indivíduo se caracteriza pela suahumanidade com seus semelhantes através da veneração aos seus ancestrais.Assim, aqueles que compartilham o princípio do Ubuntu continuarão em uniãocom os vivos após a morte.

foi uma ser humano capaz de exercer essa filosofia commaestria junto a o seu povo. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Ex-Presidente daÁfrica do Sul, Revolucionário político, Nelson Mandela lutou incessantementecontra o Apartheid dedicando 67 anos de sua vida como advogado dos direitos

Nelson Mandela

Mandela e Ubuntu:

Uma filosofia

para o mundo.

Raphael Carvalho dos Santos

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humanos. Foi prisioneiro de um regime de segregação racial até ser eleito oprimeiro presidente negro da África do Sul. Tinha motivos para ser o mais tiranodos tiranos, cruel e racista mas, por incrível que possa parecer, não foi. Levandoconsigo a bíblia do unbuntu, estudou-a minuciosamente e praticou com perfeiçãoo ideal que revolucionou o modo de vida da população de seu país. Entres asbandeiras levantadas em sua liderança no Movimento contra o regime político de1933, Mandela praticou a idéia de que não existe raça inferior. Todos são iguaissob os olhares de todos. Devemos ter princípios básicos de cidadania como formade inclusão na sociedade. Mandela afirmava: "Uma boa cabeça e um bom coraçãosão sempre uma combinação formidável. Ao adicionar a isso uma línguaalfabetizada ou uma caneta, então você tem algo realmente especial". Seguindoeste caminho ele mudou completamente o pensamento Sul Africano, tornando-seum dos mais influentes lideres da humanidade.

Sua morte foi inevitável mas, quando um homem cumpre seu deverperante seu país, ele descansa em paz. Seu legado aqui na terra chega ao fim mas acontribuição de Nelson Mandela consolida em nossas vidas a confirmação de queas ações do coletivo causa muito mais impacto do que as ações de um só ser. Aprática do Umbuntu nos faz não somente seres melhores, mas seres iguais.

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Leia um Coração

Leia o que diz um coraçãoEntre dentro dos seus contosE sonhe com seus encontrosNão se negue a ele

Viva dentro deleVá e não se despeçaE se envolva nesta peçaViverá como nunca viveuSentirá que nunca sofreuPensará que nunca percebeuO quanto você perdeuQue só viveu com omissãoE deixou passarO que leu num coração...

Nossas escolhas dizem muito sobre nós mesmosTudo depende do´ângulo que se vê: certo ou errado?Quanto à moral cristã, luz demais também cegaBaseadas em quê mesmo são criadas as regras?Eis o Martelo de Nietzsche a pregar sua filosofiaMas quão longe seu Super Homem chegaria?Vivendo em um pobre mundo dionisíacoDe desejos cumpridos, sonhos paradisíacosEis como se mata um jovem imortalE quem diria, a emoção aliada ao seu algozDe niilismo nunca estamos sósUm grito contido preso ao limbo vitalSequer nasce, é mortoAborto natural?Que vida de mistériosSobrenatural?É a lei, é a físicaE é amoral.

Mara Lúcia V. Joaquim Miranda

Zaratrusta - Lucílio

*

*Terceiro Lugar em Poesia,no Paiol Literário 2012.

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Manuel Bandeira,vestindo o Fardãoda AcademiaBrasileirade Letras

Manuel Bandeira

Canto de NatalO nosso meninoNasceu em Belém.Nasceu tão-somentePara querer bem.

Nasceu sobre as palhasO nosso menino.Mas a mãe sabiaQue ele era divino.

Vem para sofrerA morte na cruz,O nosso menino.Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceitaO humano destino:Louvemos a glóriaDe Jesus menino.

Acesse o Mare Nostrum pelo site: www.clubenaval.org.br

Mensagem da SereiaMensagem da Sereia

Aos poetas e escritores, que sempre nos tem honrado enviando suasmatérias para publicação, pedimos a sua valiosa atenção para o seguinte: Arevista Mare Nostrum, a depender da disposição dos seus colaboradores emajudar, mediante a formação de uma "equipe", de atuante presença nos diasdestinados ao círculo literário, poderá reunir condições de continuar a sereditada. Somente diante dessa iniciativa se poderá cumprir a sua finalidade,como expressão que é do talento literário dos sócios do nosso clube. E, bemassim, manterá vivos os ideais de um dos nossos mais ilustres fundadores, oinesquecível CMG (IM-REF) NELIO RONCHINI LIMA. E, vale a penacitar, a propósito, trecho de sua alocução, por motivo do início das atividadesdo Círculo Literário do Clube Naval, em 30 de julho de 1998:

E, em outra passagem, era categórico:

.Para tanto e de modo a que essa aspiração de ver publicado o que se

concebeu literariamente, seja real, se faz necessário o comparecimento àsnossas reuniões semanais, às quartas-feiras, a partir das 14:30H, à sede socialdo Clube Naval. Mas que seja uma participação efetiva e ativa, de maneira apermitir o adequado funcionamento do nosso círculo literário.

Por fim, cabe uma reflexão que devemos fazer a respeito da assertivaque diz: “um círculo literário pode prescindir de seu veículo de comunicação(no caso, a revista Mare Nostrum), mas esse veículo JAMAIS poderáprescindir de um círculo literário".

CF(RM1) Gilberto R. Machado

"Era precisouma renovação, mais do que isso: uma revolução! um novo alento, um raio deesperança em favor dos nossos valores literários abrindo a nossa cultura aomundo naval, e mais ainda a um maior universo, ao Rio de Janeiro, ao Brasil,e porque não ao mundo?" "Quantos denós teremos que compensar a nossa velhice com as chamas da persistência. Éárduo o caminho, e seja o nosso lema: PER ARDUA PROGREDIOR"

COORDENADOR INTERINO

IMPORTANTE!