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1 UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A QUESTÃO DA FAIXA DE FRONTEIRA DE MATO GROSSO DO SUL DE 2007 A 2017 CAMPO GRANDE MS 2020

MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

MARI GISLAINE MOREIRA

DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A QUESTÃO DA FAIXA DE

FRONTEIRA DE MATO GROSSO DO SUL DE 2007 A 2017

CAMPO GRANDE – MS

2020

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Mari Gislaine Moreira

DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A QUESTÃO DA FAIXA DE

FRONTEIRA DE MATO GROSSO DO SUL DA 2007 A 2017

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Mestre em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Prof. Dr. Daniel Massen Frainer

CAMPO GRANDE – MS

2020

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade Anhanguera Uniderp

Bibliotecária: Juliana Batista Ounap – CRB 1/3147

Moreira, Mari Gislaine.

Desenvolvimento regional e a questão da faixa de fronteira de Mato

Grosso do Sul de 2007 a 2017 / Mari Gislaine Moreira. -- Campo

Grande, MS, 2020.

45 p.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Anhanguera Uniderp, 2020.

Orientação: Prof. Dr. Daniel Massen Frainer

1. Desenvolvimento, ambiente e sustentabilidade. 2. Gestão e

planejamento de políticas públicas ambientais. 3. Planejamento e políticas

públicas ambientais. I. Frainer, Daniel Massen. II. Título.

CDD 21 ed. 338.9

M838d

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BIOGRAFIA DO DISCENTE

Mari Gislaine Moreira, nascida na cidade de Dourados, Estado de Mato

Grosso do Sul em fevereiro de 1988.

Em 2010, ingressou na Universidade Federal da Grande Dourados, onde

iniciou a graduação em Matemática, interrompida em de 2011.

Em maio de 2015, ingressou no Centro Universitário Internacional

(UNITER), Graduação em Gestão de Serviços Jurídicos e Notoriais, onde

concluiu o mesmo em maio de 2018.

Em Agosto de 2018, ingressou no Programa de Pós-graduação em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional, nível de Mestrado, na área de

conhecimento Ciências Ambientais, pela Universidade Anhanguera-Uniderp,

Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Durante este período, participou das seguintes atividades práticas de ensino:

1.º Ciclo de Palestra Construção de um Pacto Social para o Futuro de Campo

Grande - MS; 71.º Reunião Anual da SBPC Sociedade Brasileira para o

Progresso da Ciência; 22.º Encontro de Atividades Científicas; 10.º Seminário

de “Iniciação Científica”.

Teve três publicações: uma em Congresso da SBPC e dois artigos em revistas

qualificadas:

EDUARDO, A. S.; RODRIGUES, W. O. P.; FRAINER, D. M.; MOREIRA, M. G.

Matriz de Insumo-Produto na Geração de Emprego pelo Ecoturismo no

Município de Campo Grande - MS: Aspectos Conceituais do Estudo. In: II

Encontro Internacional de Gestão, Desenvolvimento e Inovação, 2018,

Naviraí - MS. Gestão, Desenvolvimento e Inovação. Naviraí - MS: UFMS, 2018.

v. 2. p. 1-22.

RODRIGUES, W. O. P.; SOUZA, C. C.; FRAINER, D. M.; EDUARDO, A. S. ;

MOREIRA, M. G. . Associations between agriculture and regional socio-

economic development in Brazil. INTERNATIONAL JOURNAL OF

DEVELOPMENT RESEARCH, v. 9, p. 26104-26111, 2019.

ASSUNCAO, A. V. P. ; FRAINER, D. M. ; SILVA, D. C. ; ARGUELLO, L. R. ;

SANTOS, A. F. ; NASCIMENTO, V. A. ; SOUZA, I. D. ; SANTOS, P. P. ;

MARCOLA, R. M. S. ; OLIVEIRA, F. C. V. ; SANTOS, R. F. ; MOREIRA, M. G. .

Indicators of green and social accounting in the sustanability policy in the state

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of Mato Grosso do Sul , Brazil. INTERNATIONAL JOURNAL OF

DEVELOPMENT RESEARCH, v. 9, p. 26153, 2019.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer a instituição (Universidade Anhanguera-Uniderp) e ao órgão

de fomento (CAPES), da seguinte forma:

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) - Código de

Financiamento 001 e, da Universidade Anhanguera-Uniderp, através do

pagamento de bolsa de estudo.

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SUMÁRIO

1. Resumo Geral ................................................................................................ 9

2. General Summary ........................................................................................ 10

3. Introdução Geral ........................................................................................... 11

4. Revisão de Literatura ................................................................................... 13

5. Referências Bibliográficas ............................................................................ 24

6. Artigo

Artigo I .............................................................................................................. 27

Resumo ............................................................................................................ 27

Abstract ............................................................................................................ 27

Introdução ........................................................................................................ 28

Material e Métodos ........................................................................................... 29

Resultados e Discussão ................................................................................... 33

Conclusão ........................................................................................................ 43

Referências Bibliográficas ................................................................................ 44

7. Conclusão Geral ........................................................................................... 45

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ........................................................................................................... 15

Figura 2 ........................................................................................................... 17

Figura 3 ........................................................................................................... 20

Figura 4 ........................................................................................................... 21

Figura 5 ........................................................................................................... 24

Artigo

Figura 1 ........................................................................................................... 30

Figura 2 ........................................................................................................... 35

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1. Resumo Geral

Devido as mudanças na legislação e na política pública voltada a

redução das desigualdades regionais como forma de uma estratégia de

desenvolvimento de longo prazo, a região da faixa de fronteira brasileira é

entendida dentro da Política Nacional de Desenvolvimento Regional, instituída

por meio do Decreto nº6047 de 22/02/2007 como uma área prioritária para o

Governo Federal. Nesse contexto, o Estado de Mato Grosso do Sul

estabeleceu especial atenção desenvolvendo uma série de ações no sentido

de orientar políticas públicas para essa região. O objetivo desta dissertação

seria de analisar os resultados para emprego e PIB comparado o desempenho

pela utilização de indicadores de análise regional estimados a partir dessas

variáveis. Dessa forma, o desenvolvimento sustentável dos municípios de Mato

Grosso do Sul que compreendem a região da faixa de fronteira

comparativamente ao restante do Estado pela abordagem adotada para as

análises e resultados. Metodologicamente, o desempenho sob o aspecto

econômico foi avaliado utilizando o PIB como variável principal comparando

com os resultados de geração de emprego formal, avaliando, dessa forma, os

aspectos sociais das mudanças ocorridas, separando o estado nos municípios

que compõe a faixa de fronteira comparativamente com os municípios não

faixa. Assim, os resultados mostraram que o desempenho da fronteira e dos

municípios não fronteira foram muito semelhantes de 2007 a 2017 apontando

para pequenas alterações na estrutura com o surgimento da

agroindustrialização e maior participação dos serviços. Os indicadores

utilizados mostraram ainda que mesmo com diversas versões de Políticas para

Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira não foi possível fazer

essas regiões crescerem acima da média que do Estado permanecendo em

situação de vulnerabilidade nos aspectos econômicos como sociais. Essa

pesquisa foi desenvolvida seguindo a linha de Sociedade, Ambiente e

Desenvolvimento Regional Sustentável.

Palavras-chave: Desenvolvimento, ambiente e sustentabilidade; Gestão e

planejamento de políticas públicas ambientais; Planejamento e políticas

públicas ambientais.

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2. General Summary

Regional Development and the Matter of the Border Line of Mato Grosso

do Sul in 2007 and 2017.

Due to changes in legislation and public policy aimed at reducing regional

inequalities as a form of a long-term development strategy, the Brazilian border

region is understood within the National Policy for Regional Development,

instituted through Decree nº 6047 of 02/22/2007 as a priority area for the

Federal Government. In this context, the State of Mato Grosso do Sul

established special attention by developing a series of actions to guide public

policies for this region. The objective of this dissertation would be to analyze the

results for employment and GDP compared to the performance by using

regional analysis indicators estimated from these variables. Thus, the

sustainable development of the municipalities of Mato Grosso do Sul that

comprise the border region compared to the rest of the State would be the

approach adopted for the analysis and results. Methodologically, the

performance under the economic aspect was evaluated using the GDP as the

main variable comparing with the results of generation of formal employment,

evaluating, in this way, the social aspects of the changes that occurred,

separating the state in the municipalities that compose the border strip

comparatively with non-strip counties. Thus, the results showed that the

performance of the border and non-border municipalities were very similar from

2007 to 2017, pointing to small changes in the structure with the emergence of

agro-industrialization and greater participation of services. The indicators used

also showed that even with different versions of Policies for Development and

Integration of the Boundary Band, it was not possible to make these regions

grow above the average of the State, remaining in a situation of vulnerability in

economic and social aspects. This research was developed following the line of

Society, Environment and Sustainable Regional Development.

Keywords: Development, Environment and Sustainability; Management and

Planning of Public Environmental Policies; Planning and Public Environmental

Policies.

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3. Introdução Geral

A questão da fronteira em Mato Grosso do Sul tem crescido sua atenção

nos últimos anos, principalmente pelos planos de integração como a Rota

Bioceânica. A importância de políticas públicas voltadas à faixa de fronteira

apresenta-se como um importante passo no que tange aos benefícios de

transacionar com os países fronteiriços do que com o interior do restante do

país.

Essas regiões de fronteira mostraram ser vulneráveis a questão do

desenvolvimento regional criando espaços sub-regionais dentro dos Estados.

Dessa forma, torna-se crucial construir políticas levando em consideração a

situação que se encontram esses municípios e quais as peculiaridades

econômicas, sociais e ambientais para a redução das desigualdades em

relação a outras regiões não limítrofes.

Para tanto, a estratégia de combate às desigualdades deve ser pelo

fortalecimento e viabilização de novas oportunidade na região, utilizando-se

das vocações locais em relação as demais regiões, mas principalmente, pelo

desenvolvimento dessas potencialidades como forma de crescer

diferenciadamente das regiões mais interioranas do país.

Em Mato Grosso do Sul, através da Política Nacional de

Desenvolvimento Regional (PNDP) constitui-se em um marco para incluir uma

visão de futuro com o Plano de Desenvolvimento Regional de Mato Grosso do

Sul (PDR 2030) onde os arranjos institucionais podem favorecer da integração

fronteiriça com responsabilidade social e ambiental.

Por hipótese nesta dissertação supõe que há diferenças significativas no

Estado de Mato Grosso do Sul em termos de desenvolvimento regional nos

municípios dependendo se eles são fronteiriços ou não. Essas diferenças,

poderia ser encontrada em termos econômicos e sociais, refletindo situações

de vulnerabilidade, seja por conta de manejo inadequado de recursos naturais,

seja pela baixa dinamização econômica, que poderia levar a uma exploração

mais intensiva de recursos naturais.

Por hipótese ainda, supõe-se que a pobreza levaria a uma maior

degradação ambiental devido a uma maior exploração dos recursos naturais

como forma de obtenção de riqueza por parte da população, ligada a atividades

extrativas, sejam minerais ou mesmo ligadas a agropecuária.

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Para Poleto (2010) a degradação ambiental relaciona-se com a

agropecuária com a remoção da cobertura vegetal, com possíveis processos

de degradação do solo, além de redução de recursos hídricos e biodiversidade.

Além disso, tanto as queimadas como processos de desmatamento são

práticas na agropecuária que impactam diretamente com a produtividade

desses solos, ocasionando perda de fertilidade e aumento do escoamento

superficial de água, gerando processos erosivos e de escorregamento de

sedimentos nos rios e córregos.

Esses argumentos corroboram com algumas ocorrências recentes, tanto

na Amazônia como no Pantanal, como as queimadas promovidas em grandes

propriedades rurais como forma de controle ou mesmo renovação de

pastagens nas áreas rurais.

Além disso, um exame detalhado por Duraiappah (1998) mostra a

relação pobreza-degradação ambiental e suas possíveis causalidades que

podem coexistir: (a) pobreza exógena (causada por fatores não ambientais)

causa degradação ambiental; (b) o poder, a riqueza e a ganância ocasionam a

degradação ambiental; (c) falhas institucionais e de mercado são causas

primárias de degradação ambiental; e (d) a degradação ambiental causa

pobreza, sendo que esta última possibilidade implica a presença de uma das

relações anteriores, ou de uma combinação entre elas. A retroalimentação

também é plausível: o ambiente degradado causa pobreza que, por sua vez,

resulta em maiores danos ambientais.

Diante dessas questões levantas pelos autores e buscando encontrar

evidências sobre o desenvolvimento regional da faixa de fronteira de Mato

Grosso do Sul, o objetivo desta dissertação seria de uma análise comparativa

de desenvolvimento regional mostrando as diferenças entre as regiões de

fronteira das bordas Central, Paraguai e Bolívia com relação ao restante do

Estado em termos de geração de emprego (social) e produto interno bruto

(econômico).

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4. Revisão de Literatura

A faixa de fronteira do Brasil com os países vizinhos foi estabelecida em

150 km de largura (Lei nº. 6.634, de 2/05/1979), paralela à linha divisória

terrestre do território nacional. A largura da faixa foi sendo modificada desde o

século XIX por sucessivas Constituições Federais (1934; 1937; 1946) até a

atual, que ratificou sua largura em 150 km (BRASIL, 2020).

A abertura dos mercados mundiais e a consequente globalização tem

suscitado um aumento das desigualdades sociais e regionais em função da

maior vulnerabilidade a que estas economias estão expostas. Em resposta a

essas ameaças provocadas pela globalização e na busca de fortalecer as

regiões de fronteira configura-se nos países da América do Sul estratégias para

o combate às desigualdades para o fortalecimento desses espaços sub-

regionais, buscando a dinamização econômica, o fortalecimento de

infraestrutura social e produtiva (SEMAGRO, 2018).

O Governo Federal estabelece áreas de planejamento a partir da

proposta de reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de

Fronteira (PDFF) abordando em arcos (Central, Sul e Norte), e espaços sub-

regionais. Mato Grosso do Sul insere-se no Arco Central, juntamente com os

estados de Rondônia e Mato Grosso. Para a criação das sub-regiões desses

arcos, considera-se a base produtiva e a identidade cultural. A unidade do Arco

deriva do caráter de transição entre a Amazônia e Centro-Sul do país e de sua

posição central no subcontinente (SEMAGRO, 2018).

Com a reestruturação do PDFF em 2007 promovida pelo Ministério da

Integração Nacional, têm-se políticas públicas voltadas para o desenvolvimento

dessa área, em parceria com estados e municípios. Se por um lado, o

Programa conta com o desafio de transformar concepções, valores e enfrentar

problemáticas oriundas de uma trajetória negativa, por outro, enfrenta o desafio

de dimensionar estratégias e formas de atuação relevantes para a promoção

do desenvolvimento social e econômico na Faixa de Fronteira (BRASIL, 2017).

Dentre os objetivos do Programa, a priorização da integração e

desenvolvimento por meio da redução das desigualdades sociais, econômicas

e ambientais, da faixa de fronteira visando utilizar as suas potencialidades

locais com o relacionamento e articulação com países vizinhos. Em vista disto,

iniciativas que considerarem essas singularidades da região, em defesa de

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estratégias de desenvolvimento local, tais como a estruturação de arranjos

produtivos locais, sublinhando atenção para a infraestrutura social, econômica

e ambiental, a base institucional, além da organização e coesão das

sociedades locais (BRASIL, 2017).

O enfoque dado para o arco central, onde Mato Grosso do Sul está

inserido, possibilita sublinhar peculiaridades no que tange ao aspecto físico e

social, o que consequentemente delineia uma forma de ocupação e produção

levando em considerações as vocações dos municípios componentes dessa

região. Este arco também compreende no Brasil duas principais hidrovias sul-

americanas: a Bacia Amazônica e a Bacia do Paraná-Paraguai, e esta última

abrange o Estado de Mato Grosso do Sul.

Corroborando mais recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA) lançou resultados da pesquisa “Fronteiras do Brasil” para

avaliação das políticas públicas adotadas para o enfrentamento dos problemas

da região. Para Pêgo e Moura (2018) afirmam que as fronteiras brasileiras pela

sua extensão, diversidade e complexidade dentro do país, tem a necessidade

de ampliar e aprofundar a avaliação de políticas públicas de forma que reflitam

sua realidade local, regional, nacional e internacional.

Essa constatação de que há realidades diferentes entre regiões

fronteiriças e não fronteira, mostra a complexidade da análise que perpassa por

momentos de caracterização, análises e avaliação de políticas públicas. Para

Moreira (2018) a integração regional deve-se levar em mente os múltiplos

espaços onde os atores são diferenciados, sobretudo os Estados, e possuem

condições econômicas, políticas e sociais também diferenciadas, tendo a

análise ser realizada levando em consideração os problemas e propor

iniciativas para melhorar essas condições.

Dessa forma, verifica-se que a autora reconhece a dificuldade de

estabelecer uma política única para solucionar problemas diversos que mudam

dependendo da região de análise. Isso enfatiza ainda que deve-se,

primeiramente, realizar um diagnóstico dos problemas regionais e levando em

consideração essas dificuldades, pontuar políticas públicas específicas para

cada região, dependendo dessa condição atual.

Para Pinto et al. (2018) a divisão do recorte da fronteira brasileira em

três arcos (Norte, Central e Sul) foi desenvolvida a partir da percepção de que

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os critérios socioeconômicos foram levados em consideração percebendo as

diferenças entre cada um dos arcos de fronteira para se fazer uma análise

sobre sua realidade. Cada um deles possui aspectos sociais, culturais,

econômicos e ambientais que refletem não apenas as realidades da

macrorregião brasileira onde estão inseridos, mas também aspectos referentes

aos países com os quais fazem fronteira (Figura 1).

Figura 1. Subdivisão dos arcos de fronteira do Brasil. Fonte: Grupo Retis.

O arco central onde Mato Grosso do Sul está posicionado no centro da

América do Sul encontrando duas bacias hidrográficas: a Amazônica e a do

Paraná-Paraguai. Para Pinto et al. (2018) essa região tem características de

abrigar quatro modelos de sistema produtivo: (i) grandes e pequenos

produtores rurais coexistem com baixa diversificação da produção,

respectivamente; (ii) o sistema pantaneiro com propriedades de gado de corte,

pastagens; (iii) colonos sulistas destacadamente do Rio Grande do Sul, onde

prepondera a produção de soja; (iv) um modelo industrial-comercial que há

certo beneficiamento dos produtos do campo.

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Pode-se dizer que o arco central possui sistemas produtivos atrelados à

produção agrícola e criação de gado e um modelo industrial-comercial

relacionado à agroindústria que compreende redes de secagem e

armazenamento de soja, bem como de frigoríficos de pesca e carne bovina.

Dessa forma, destacam-se as especificidades da sub-região XI, XII, XIII e XIV

do arco central, segundo o PDFF.

Segundo Semagro (2018) uma característica importante do PDFF,

coerente com sua diretriz de desenvolvimento regional, refere-se à abordagem

da Faixa de Fronteira em arcos e espaços sub-regionais, permitindo otimizar e

catalisar o aproveitamento de peculiaridades da organização social, das

características produtivas locais: sociais, econômicas, políticas e culturais.

Dessa forma a Faixa de Fronteira foi dividida em três grandes arcos – Norte,

Central e Sul.

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Figura 2. Arcos e Sub-regiões da Faixa de Fronteira. Fonte: Brasil (2019).

O Estado de Mato Grosso do Sul está compreendido dentro de quatro

Sub-Regiões: XI, XII, XIII e XIV. A primeira, Sub-Região XI, possui nove

municípios dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, (deste último

Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Ladário, Miranda e Porto Murtinho) é

historicamente marcada pelo grande contingente de grupos indígenas, cujo

território foi reduzido, dada a apropriação de terras pelos estancieiros e

extratores da erva-mate.

Com diferenças no perfil de uso do solo e intensidade de interações

transfronteiriças, o Pantanal Norte e o Pantanal Sul, configuram uma

“paisagem símbolo”, desenhada pelo turismo ecológico. Destaca-se ainda a

pecuária, o 2º maior rebanho bovino da Faixa de Fronteira, produção leiteira e

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18

produção mineral, das quais constituem a base produtiva. A fruticultura

encontra-se em fase de consolidação, entre outras de caráter temporário:

produção de mandioca, arroz e cana-de-açúcar.

A Sub-Região XII caracteriza-se pela baixa porcentagem de produção

extrativa de madeira e indústria de transformação. Além do baixo grau de

empreendedorismo agrícola, inexistência de praça atacadista, baixo nível

técnico-tecnológico, de média a alta densidade social. A agroindústria da soja e

da mandioca procedente do Paraguai, o turismo como fonte geradora de

empregos (urbanos), constitui a base produtiva.

Possui pequenas indústrias de cerâmica e uma unidade de tecelagem.

Seu problema maior é o baixo grau de especialização e alta dependência das

sub-regiões vizinhas. Há necessidade de especialização da atividade turística

da sub-região, de infraestrutura aeroportuária (ausente) e clareza quanto ao

tipo de clientela que se quer atingir, fatores estes que prejudicam o

desenvolvimento. O Parque Nacional da Serra da Bodoquena possui potencial

turístico pouco utilizado e reservas mineralógicas a serem exploradas. Esta

sub-região é composta pelos municípios de Bela Vista, Bodoquena, Bonito,

Caracol, Guia Lopes da Laguna, Jardim e Nioaque, todos de MS.

As Sub-regiões XIII e XIV são conhecidas pelos problemas quanto ao

narcotráfico e a contrabandos diversos, possui potencialidades em termos de

atividades agropecuárias (criação de gado de corte e leiteiro, cultivo de soja,

mandioca). Sublinham-se algumas atividades atreladas à agricultura, pecuária

e ao agronegócio. Compreende extensa rede de armazenamento e secagem

da soja e a expansão do cultivo da mandioca para a produção do amido. A

presença do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, relativamente próximo

ao polo turístico fomentado pelo Governo Estadual, sugere a possibilidade de

um “corredor turístico” na área.

Nas Sub-regiões de Dourados e Cone Sul-Mato-Grossense aparecem

grandes fazendas de criação e engorda de gado bovino, no entanto existe

pouco interesse dos grandes criadores em estimular a cadeia produtiva da

bovinocultura de corte, verticalizando-a. Em função das características

anteriormente descritas, observa-se, preliminarmente, a potencialidade de

desenvolvimento dos seguintes Arranjos Produtivos Locais: Agroindústrias;

Apicultura; Bovinocultura; Construção civil; Cultivo de soja; Cultivo de café e

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arroz; Desdobramentos de madeira; Erva-mate; Fruticultura; Indústria de

amido; Indústria metal-mecânica; Indústria têxtil; Indústrias de confecção;

Madeira/movelaria; Mandioca; Pecuária leiteira e bovina; Pesca/piscicultura;

Turismo e Turismo ecológico.

Nesta nova conformação política em que o regional funciona como

estratégia de desenvolvimento local, potencializando sua inserção competitiva

global, o PDIF/MS em conformidade com as diretrizes nacionais (PDFF),

defende o fortalecimento dos processos de mudança a partir do estímulo à

formação de redes de atores locais (SEMAGRO, 2018).

Para Frainer (2019) a política pública para a região de fronteira deve

estar organizada de forma a superar as desigualdades entre os municípios

fronteiriços e os demais municípios do estado no que se refere a aspectos

econômico e sociais aproveitando um modelo voltado para o interior e não para

o exterior, explorando a articulação com os países limítrofes como Paraguai e

Bolívia. Neste contexto, Mato Grosso do Sul seria o meio e não a ponta para a

articulação da faixa de fronteira estando no meio entre o Brasil, Paraguai e

Bolívia, facilitando não somente as transações entre os países, mas também

explorando complementariedade produtivas existentes entre estes três países.

O Programa PROFRONT que foi elaborado pela SEMAGRO seguiu

nessa direção, de articular com os atores locais de forma a desenvolver um

modelo de produção voltado para dentro explorando as complementariedades

e vocações de cada país com o Mato Grosso do Sul, buscando desenvolver

produção e comércio que fosse explorando essas oportunidades em prol do

desenvolvimento regional (FRAINER, 2019).

Diante de toda essa preocupação com os municípios de fronteira, o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou pesquisa em 2018

sobre as condições dos municípios com área total ou parcialmente localizado

na Faixa de Fronteira, que é a faixa interna de 150km de largura, paralela à

linha divisória terrestre do território nacional (Figura 3).

Page 21: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

20

Figura 3. Municípios que compõe a Faixa de Fronteira do Brasil. Fonte: IBGE

(2020).

Esse produto do IBGE (2020) apoia estudos para o desenvolvimento de

novas políticas públicas específicas sobre os eixos do desenvolvimento

econômico, segurança, defesa, infraestrutura, sociais, uso do solo, ambientais

e de integração regional sustentável em consequência das aglomerações

urbanas e rurais na Faixa de Fronteira.

Trata-se de um arranjo espacial que representa os Municípios

compreendidos na Faixa de Fronteira do Brasil, com área total de

1.415.012,679 km² e equivalente a 16,6 % da área do país. Com isso, o estudo

abrange 588 municípios em 11 estados (IBGE, 2020).

Esse estudo considera que 45 municípios de Mato Grosso do Sul seriam

considerados como Faixa de Fronteira abrangendo 54,95% da área total do

Estado, embora a área interna da Faixa de Fronteira chegue a 40,05% do total

do Estado. Isso deve-se ao fato que alguns municípios têm sua área cortada

pela linha da faixa de fronteira e ficariam parte dentro, parte fora da faixa.

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21

O Programa Estadual de Desenvolvimento na Faixa de Fronteira

(PROFRONT), fundamentado para o Desenvolvimento Regional Fronteiriço,

contextualiza a situação atual da fronteira do MS, propondo diretrizes para

governança visando desenvolvimento econômico, socioambiental, segurança,

saúde, educação, infraestrutura e logística, e aduanas integradas.

A faixa de fronteira segundo Semagro (2020) foi delimitada abrangendo,

em Mato Grosso do Sul, cerca de 44 municípios podendo ser divididos em três

categorias: Borda de Fronteira Brasil / Paraguai, Borda Fronteira Central e

Borda Fronteira Brasil / Bolívia (Figura 4).

Figura 4. Mapa com a classificação das Bordas de Fronteira do Brasil. Fonte:

Semagro (2018).

A diferença da divisão do IBGE (2020) onde são considerados 45

municípios em relação ao PDIF da Semagro (2018) que considera 44 seria por

Page 23: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

22

não considerar Nova Alvorada do Sul como faixa. Dessa forma, torna-se

imperativo analisar o desenvolvimento padrão regional de desenvolvimento de

Mato Grosso do Sul pela utilização de indicadores de análise regional.

Em termos conceituais, a região e regionalização não deve ser vista

apenas como uma ferramenta analítica, mas também um processo efetivo de

conjugar os múltiplos interesses econômicos e políticos produzindo

identificações socioculturais que desenham esses espaços. Esse foi o caminho

encontrado por Machado (2005) onde definiu a regionalização bem como

região ou sub-regiões como zonas contínuas e contíguas no sentido de atender

sobretudo objetivos de planejamento (Quadro 1).

Quadro 1 – Conceitos – Região e Regionalização

Alternativa 1 Alternativa da Proposta

Região Espaço dotado de

coerência interna

Espaço de coesão

funcional

Regionalização Dinâmica descendente Ação negociada de criar

recortes regionais

Fonte: Adaptado de Machado (2005).

O enfoque adotado nessa dissertação seria de uma concepção mais

linear pela própria noção de limite ou divisória internacional, para uma

concepção de área ou região de fronteira.

Machado (2005) aponta para o isolamento das cidades de fronteira

decorrente da ausência de redes de transporte e comunicação considerados

como “fim de linha”, tendo um peso econômico e político diminuído por conta

deste isolamento. Dados do IPEA (2016) apontam ainda para uma

característica dos municípios de fronteira obterem os piores resultados em

índices de renda e educação nos Estados do país. Entretanto, esse mesmo

estudo aponta para a dificuldade de analisar esses dados municipalmente

devido a maior parte das informações serem censitárias, dificultando a análise

para períodos contínuos como ano a ano ou períodos intercensitários.

Os dados de IPEA (2016) mostraram que para a fronteira Paraguai, as

cidades gêmeas de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, as taxas de

analfabetismo são de 9,54% e 13,47%, respectivamente, mostrando conforme

Page 24: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

23

esse estudo, que as políticas públicas de redução de analfabetismo foram

insuficientes para serem reduzidas comparativamente com as brasileiras que

são de 6,8% projetando ser erradicado até 2024.

A falta de continuidade nas políticas públicas para a fronteira pode ser

observada na revogação, em 2016, do decreto que instituiu o PEF e a sua

substituição pelo Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (PPIF). O novo

programa, no geral, possui as mesmas diretrizes do anterior, entretanto

constam mais detalhes no que diz respeito à participação da União nas ações

por meio da criação do Comitê Executivo do PPIF, composto, entre outros, por

um representante do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. As

competências do comitê também estão especificadas no decreto, além da

previsão de reuniões periódicas. Observa-se ainda que o novo programa

propõe uma integração com o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), o que

demonstra a intenção do Estado em aumentar sua presença na faixa de

fronteira (BRASIL, Decreto nº 8.903, 2016).

Para Kleinschmitt (2016) os programas do governo federal voltados para

a fronteira corroboram com o entendimento de que o Estado, embora tenham

ignorado as condições de vida na fronteira, fazendo com que esse espaço se

converta em um espaço de exclusão. Ao não pensar a fronteira de forma

integrada o Estado compromete todo um contexto social e econômico.

Para Kruger et al. (2017) aponta que do ponto de vista político-

administrativo é fundamental para analisar e discutir a organização e o

desempenho das ações públicas efetuadas na Faixa de Fronteira Brasileira

como forma de enfrentamento das vulnerabilidades locais além da promoção

do desenvolvimento sustentável.

Para os autores, a região circundada pela linha verde denota o Arco

Central, composto por Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, foram

analisados por eles pelo Índice de Desenvolvimento Municipal (IFDM)

desenvolvido da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) onde

apontou para reduções percentuais nos indicadores que compõe o grupo de

Economia, Renda e Saúde superior à média nacional (Figura 5).

Page 25: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

24

Figura 5. Mapa com a variação no IFDM de 2011 a 2014. Fonte: Elaborado a

partir de Kruger et al. (2017).

Mesmo com um bom desempenho das exportações de carne e soja não

foram suficientes para proporcionar um desenvolvimento equitativo da região

conforme os autores.

5. Referências Bibliográfica

BRASIL. Fronteira: consolidação dos planos de desenvolvimento e

integração das faixas de fronteira. Brasília: Ministério da Integração

Nacional, 2017. 324p.

BRASIL. Decreto Nº 6.634, 02 de maio de 1979. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6634.htm#:~:text=Disp%C3%B5e%2

0sobre%20a%20Faixa%20de,Art.>. Acesso em: 29 set. 2020.

BRASIL. Decreto Nº 6.047, 22 de fevereiro de 2007. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4793.htm>. Acesso em: 10

mar. 2018.

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25

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da Faixa de Fronteira – PDFF. Disponível em:

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2179, 1998.

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO DE JANEIRO (FIRJAN). Índice

Firjan de Desenvolvimento Municipal: Ano Base 2005. 2016. Disponível em:

<http://www.firjan.org.br/ifdm> . Acesso em: 30.09.2020.

org.br/ifdm>. Acesso em: 01 jan. 2015.

FRAINER, D. M. A faixa de fronteira: infraestrutura e projetos integrados de

desenvolvimento sustentável. In: PÊGO, B.; MOURA, R. Fronteiras do Brasil:

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https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/estrutura-

territorial/24073-municipios-da-faixa-de-fronteira.html?edicao=24076&t

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avaliação do arco Norte. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2016.

KLEINSCHMITT, S. C. O que as políticas de controle para as fronteiras

brasileiras e o projeto maquila do Paraguai têm em comum? Século XXI:

Revista de Relações Internacionais/ESPM, Porto Alegre, v. 7, n. 2, p.111-

130, 2016.

KRUGER, C.; DANTAS, M.K.; CASTRO, J.M.; PASSADOR, C.S.; CALDANA,

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MACHADO, L. O. Estado, territorialidade, redes. Cidades gêmeas na zona de

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PÊGO, B.; MOURA, R. Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política

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PINTO, C.V.S.; OLIVEIRA, S.; MARGUTI, B.O. Um estudo sobre as situações de

vulnerabilidade social nos arcos de fronteira do Brasil. In: PÊGO, B.; MOURA, R.

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SEMAGRO, Plano de Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira

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fronteira-do-ms/>. Acesso em: 7 mar. 2018.

Page 28: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

27

6. Artigo I

O crescimento do emprego e do PIB das bordas de fronteira e de Mato

Grosso do Sul de 2007 a 2017

Resumo

O uso de indicadores para avaliação de desempenho tem sido

empregado nas mais diversas áreas do conhecimento. Mais recentemente,

indicadores são utilizados para avalição e acompanhamento de políticas

públicas com objetivo de ser mais assertiva na definição de ações para

redução das desigualdades. Dentro deste contexto, o estudo das disparidades

entre os municípios da faixa de fronteira comparativamente com os de regiões

não fronteira, se torna imperativo para a avaliação e diagnóstico da situação,

ao longo do tempo, dessas diferenças. O objetivo deste artigo foi de aplicar

medidas de análise regional de forma mostrar a estrutura de emprego e PIB de

2007 a 2017 comparativamente. Essa metodologia de análise regional utilizou-

se de indicadores consagrados de localização e definição de padrões de

crescimento permitindo analisar as mudanças nesses municípios. Os

resultados obtidos mostram que a situação dos municípios das bordas do

Paraguai e da Bolívia permanecem com taxas de crescimento de emprego e

PIB muito próximas da média Estadual, mesmo com a implementação de

ações para redução das desigualdades entre as regiões da fronteira e o

restante do Estado de Mato Grosso do Sul.

Palavras-chave: Desenvolvimento, ambiente e sustentabilidade, Gestão e

planejamento de políticas públicas ambientais, Planejamento e políticas

públicas ambientais, Mato Grosso do Sul.

Growth in employment and GDP at the border and in Mato Grosso do Sul

from 2007 to 2017

Abstract

The use of indicators for performance evaluation has been used in the most

diverse areas of knowledge. More recently, indicators are used to evaluate and

monitor public policies in order to be more assertive in defining actions to

reduce inequalities. Within this context, the study of disparities between

municipalities in the border strip compared to those in non-border regions,

Page 29: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

28

becomes imperative for the assessment and diagnosis of the situation, over

time, of these differences. The purpose of this article was to apply regional

analysis measures in order to show the employment and GDP structure from

2007 to 2017 comparatively. This regional analysis methodology used

established indicators of location and definition of growth patterns, allowing the

analysis of changes in these municipalities. The results obtained show that the

situation of the municipalities on the borders of Paraguay and Bolivia remains

with employment and GDP growth rates very close to the State average even

with the implementation of actions to reduce inequalities between the border

regions and the rest of the State of Mato Grosso do Sul.

Keywords: Development, environment and sustainability, Management and

planning of public environmental policies, Planning and public environmental

policies, Mato Grosso do Sul.

Introdução

A utilização de indicadores para avaliação de políticas públicas é uma

forma de analisar os resultados e de propor melhorias a ajuste as ações

tomadas pelo poder público para desenvolver ações mitigadoras em prol do

desenvolvimento regional. Diante disso, busca-se com este artigo desenvolver

uma comparação regional e temporal, pela utilização de medidas de análise

regional, estabelecendo os padrões de crescimento recente das regiões

prioritárias definidas na Constituição Federal (2017) e os Programas para

Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira (BRASIL, 2017).

Para isso, diversos estudos como o desenvolvido por Pêgo e Moura

(2018) permitiram um diagnóstico apontando as dificuldades e as diferenças

que tornam as fronteiras do Brasil regiões deprimidas e carentes de política

públicas mitigadoras de suas desigualdades, permitindo que o poder público

conheça e estabeleça ações em prol do desenvolvimento regional ou mesmo

da integração dessas regiões com o interior do país e com os países limítrofes.

Utilizando o recorte dado pelo IBGE (2020) considerando 45 municípios

compondo a faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul e as bordas definidas

pela PDFF, onde o Estado teria três sub-regiões de fronteira (Borda Paraguai,

Bolívia e Central) analisou-se o desenvolvimento regional pelo desempenho

Page 30: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

29

recente em termos de resultados de emprego e PIB em relação aos principais

setores.

Nesse contexto, este artigo busca desenvolver uma análise sobre o

crescimento comparativo das regiões de fronteira do Estado de Mato Grosso

do Sul em relação a regiões do estado não fronteira.

Para isso foram empregadas medidas de análise regional, como uma

forma de estabelecer padrões de crescimento de emprego e PIB de 2007 a

2017, demonstrando a sua evolução bem como o desempenho comparado das

regiões da faixa de fronteira com relação ao restante do Estado.

Na seção seguinte que segue, será apresentada a metodologia

detalhando os indicadores utilizados e as possibilidades de análise em cada

um deles. Na seção de resultados foram discutidas as principais evidências

encontradas em relação ao estado bem como as conclusões.

Material e Métodos

O artigo foi desenvolvido utilizando uma amostra de municípios de Mato

Grosso do Sul que compõe a região da faixa de fronteira, agrupando-os em

regiões de abrangência nas Bordas Paraguai, Bolívia e Central. Essas sub-

regiões dentro do Estado seguem o critério adotado pelo PDFF. Com o objetivo

de analisar o crescimento do emprego e do PIB das sub-regiões da faixa de

fronteira comparativamente ao restante do Estado, foram empregadas técnicas

de análise regional com o emprego de dados relativos a emprego e PIB.

A base de dados utilizada das informações por fontes secundárias

obtidos junto ao IBGE (2019) sobre o PIB dos municípios, corrigidas a preços

de 2017 além de informações da Relação Anual Informações Sociais (RAIS)

fornecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2020) para os

dados relativos a emprego.

Para realizada discussões sobre políticas de tratamento da faixa de

fronteira bem como suas consequências sobre a geração de vulnerabilidades

pelo emprego de medidas de localização de atividades econômicas e seus

impactos sociais (emprego) definindo o padrão de crescimento dos últimos dez

anos em que Mato Grosso do Sul, bem como para a economia (PIB).

A passagem de uma economia agropecuária para agroindustrializada e

o crescimento além de realizar inferências sobre possíveis mudanças na

Page 31: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

30

estrutura ao longo do tempo. Os indicadores propostos devem explicar as

diferenças e mostrando a eficiência ou não das políticas públicas para a região

da fronteira se houve sucesso em integrar social e economicamente as bordas

ao restante do Estado.

Com isso, as estimativas das medidas de análise regional propiciam

analisar as regiões em mostrando as diferenças em termos de estrutura dos

setores produtivos que compõe uma e outra região. Para o cálculo das

medidas de localização e especialização foi desenvolvida uma matriz que

relaciona a distribuição setor-região de uma variável-base pode ser PIB ou

emprego formal.

Para definir o emprego formal (E) analogamente as estimativas dos

mesmos indicadores para o PIB seria apenas pela substituição das

informações e sua participação no setor-região considerado pelo agrupamento

dos municípios em sub-regiões de fronteira e não fronteira. As colunas

mostram a distribuição do emprego formal entre as regiões, e as linhas

mostram a distribuição do emprego formal por setores de atividade do IBGE, de

cada uma das regiões (Figura 1).

Regiões j

Setores i

Eij

j

ijE

i

ijE i j

ijE

Figura 1. Matriz de Informações. Fonte: Haddad (1989).

onde:

Eij = o nível de emprego formal do setor j na região i.

= o somatório do emprego formal do setor i em todas as regiões j;

= o somatório do emprego formal das regiões j em todos os setores i;

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31

= o somatório do emprego em todos os setores i de todas as regiões j.

Dentre as medidas de localização Haddad (1989) utiliza o quociente

locacional (QL) para comparar a participação percentual de uma região em um

setor particular com a participação percentual da mesma região no total do

emprego da economia de referência. Formalmente, como os dados utilizados

são a respeito de emprego formal dados pela equação (1):

Quando QLij > 1, a região j está mais especializada no setor i do que o

conjunto de todas as outras em análise. Supõe-se que o setor atender à

demanda local e ainda gera um excedente para exportação para outras regiões

do país ou do exterior.

Quando QLij < 1, a região j está menos especializada no setor i do que o

conjunto de todas as regiões em análise.

Neste ponto, visando tornar mais seletiva a pesquisa, será utilizada a

classificação dada por Isard et al. (1998) que utiliza o QL para o número de

estabelecimentos da mesma classe na região, dimensão do QL e participação

da microrregião no total do emprego da respectiva classe de indústria na região

de referência.

Além disso, pode-se utilizar o coeficiente de localização (CL) para

relacionar a distribuição percentual da variável de análise num dado setor entre

as regiões com a distribuição percentual da variável de análise no Estado. Os

valores que são obtidos situam-se entre 0 e 1. Se o valor do CL for igual a 0, o

setor i estará distribuído regionalmente, da mesma forma que o conjunto de

todos os setores. Se o seu valor se aproximar de 1, ele demonstrará que o

setor i apresenta um padrão de concentração regional mais intenso do que o

conjunto de todos os setores. Formalmente, o CLi pode ser encontrado

conforme a equação (2):

Page 33: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

32

Pelos padrões de concentração das atividades econômicas pode-se

traçar um parâmetro da tendência à concentração espacial de determinadas

atividades em relação às demais que compõe a estrutura produtiva da região.

Para uma verificação das mudanças ocorridas no período de análise de

2007 a 2017 será utilizado o coeficiente de redistribuição que relaciona a

distribuição percentual de emprego de um mesmo setor em dois ou mais

períodos de tempo, com o objetivo de examinar se há algum padrão de

concentração ou dispersão espacial ao longo do tempo (HADDAD, 1989). O

coeficiente de redistribuição (CRedi) pode ser definido como segue na equação

(3):

CRedi é o coeficiente de redistribuição do setor i entre os períodos 0 e 1.

O valor obtido no coeficiente oscila entre 0 e 1, sendo interpretado o valor

próximo de zero sem mudanças significativas no padrão espacial de

localização do setor. Se o valor for próximo de 1, houve uma mudança no

padrão espacial de localização do setor.

Para medir a respeito do processo de diversificação ou especialização

da estrutura produtiva regional em relação à estrutura produtiva do Estado, em

termos relativos, utilizar-se-á o coeficiente de especialização (CE). Para atingir

o objetivo terceiro, o coeficiente que compara a estrutura produtiva da região j,

com a estrutura produtiva do Estado seria o coeficiente de especialização.

Seu valor varia de 0 a 1, sendo CEj igual a zero, a microrregião tem uma

composição setorial idêntica as demais e do Estado. Se o valor do CEj for igual

a 1, a região j, está com elevado grau de especialização em atividades ligadas

a um determinado setor, ou está com uma estrutura totalmente diversa da

estrutura do Estado. O coeficiente de especialização é definido pela equação

(4):

De forma a verificar se houve uma mudança ao longo do tempo na

estrutura produtiva do Estado, utilizar-se-á o coeficiente de reestruturação (Crj)

que relaciona a estrutura produtiva local em dois momentos do tempo. Com

Page 34: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

33

este indicador é possível verificar a mudança no sentido de uma maior

especialização produtiva. O cálculo do coeficiente de reestruturação é dado

pela equação (5):

Quando o valor do Crj for igual a zero, não terá havido modificações na

composição setorial. Se, por outro lado, o coeficiente for igual a 1, terá

ocorrido uma reestruturação profunda na composição setorial.

Resultados e Discussão

Nesta seção foram apresentados dos resultados obtidos e análises com

relação aos resultados encontrados. A análise foi primeiramente realizada com

o emprego formal e posteriormente em relação ao PIB.

O aumento da participação do emprego foi mais harmônica entre as

regiões de forma geral obtendo taxas de crescimento muito próximas do Mato

Grosso do Sul (MS). Em termos de representatividade no emprego, a região

não fronteira (Restante) representa cerca de 66% do emprego total do MS em

2017, pouca variação em relação a 2007 quando representava 67,66%

(Quadro1).

Quadro 1. Total de Emprego (em milhares) de 2007 a 2017

Ano Restante Paraguai Bolívia Central MS

2007 319 26 30 97 472

2008 337 28 30 102 497

2009 350 27 32 114 524

2010 381 29 33 118 561

2011 403 30 35 130 598

2012 412 31 37 137 617

2013 431 31 40 133 636

2014 434 33 41 146 654

2015 427 32 42 145 646

2016 419 31 40 144 634

2017 420 32 42 145 639

Fonte: Elaborado a partir dos dados RAIS.

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34

Entretanto, mesmo com o emprego concentrado no restante do MS,

deve-se fazer uma ressalva importante de que a partir de 2007, com a

reformação do PDFF e implementação de ações nas políticas públicas para o

desenvolvimento e integração da faixa de fronteira. As taxas de crescimento

superiores à média do estado foram verificadas na Borda Central que chegou a

crescer 50% o emprego. Entretanto, na Borda Paraguai foi a que apresentou

menor taxa de crescimento do emprego, cerca de 22%.

Com relação ao PIB, os valores para as regiões apontam para uma

participação uma menor concentração na região não fronteira (Restante) em

relação ao emprego, participando com 61,95% em 2017 (Quadro 2).

Quadro 2. Total de PIB (em milhões a preços de 2017) de 2007 a 2017

Ano Restante Paraguai Bolívia Central MS

2007 43.295,85 4.696,52 6.051,64 17.659,76 71.703,76

2008 47.526,64 5.685,81 6.991,33 19.936,12 80.139,90

2009 47.314,16 4.934,12 6.434,92 17.820,84 76.504,05

2010 53.013,22 5.384,26 6.617,18 19.471,44 84.486,11

2011 57.160,18 5.616,55 7.328,14 21.911,02 92.015,89

2012 56.093,41 5.616,14 7.312,07 22.777,70 91.799,32

2013 59.756,48 5.860,82 7.967,42 22.955,66 96.540,38

2014 65.261,30 6.545,86 8.462,36 24.936,68 105.206,20

2015 61.370,38 5.582,83 8.118,74 24.513,53 99.585,49

2016 64.048,61 5.295,70 8.836,24 26.201,34 104.381,88

2017 59.705,20 5.003,20 7.897,96 23.765,84 96.372,20

Fonte: Elaborado a partir dos dados RAIS.

Os dados apontam, entretanto, que o crescimento menor do PIB em

relação ao emprego, embora as regiões que mais se destacaram em termos de

emprego são as mesmas que se destacaram em termos de PIB, tanto os

destaques na região da Borda Paraguaia e Central (Figura 2).

Page 36: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

35

Figura 2. Índice de crescimento de emprego e PIB das regiões de 2007 a

2017. Fonte: Elaborado a partir dos dados da pesquisa.

Os valores apontam para um crescimento maior de emprego, cerca de

50% de 2007 a 2017, enquanto o PIB cresceu 34,6% no mesmo período na

região Central. Já para a região da Borda Paraguaia o emprego cresceu 22,4%

enquanto o PIB cresceu apenas 6,5%.

Embora as trajetórias de emprego e PIB sejam as mesmas, verifica-se

que há uma tendência maior de abertura de vagas a taxas maiores do que as

de crescimento. Isso pode indicar movimentos internos dentre os setores da

economia, com a perda de participação de setores menos dinâmicos nas

contratações para entrada de setores mais intensivos em mão de obra.

Pela aplicação do quociente de localização, através da equação 1,

permite mostrar os resultados sobre a concentração de certa atividade

econômica em uma determinada região, tomando como referência a

distribuição desta atividade. Dessa forma, o indicador apontou para uma

concentração das atividades de Agropecuária em todas as sub-regiões da

fronteira, sendo mais intensiva na borda Bolívia (Quadro 3).

122,4

150,0

106,5

148,4

134,6

90

100

110

120

130

140

150

160

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Emprego - Paraguai Emprego - Central

PIB - Paraguai PIB - Central

Page 37: MARI GISLAINE MOREIRA DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A …

36

Quadro 3. Quociente de localização (QL) do emprego em Mato Grosso do Sul

pelas bordas da faixa de fronteira e total do Estado de 2007 e 2017

Regiões Agropecuária Indústria APU Serviços

2007

Restante 0,7924 0,9310 1,0530 1,0594

Paraguai 1,2768 0,8826 0,9933 0,9767

Bolívia 1,7491 0,8571 1,2163 0,7160

Central 1,3808 1,3027 0,7610 0,8973

2017

Restante 0,8049 0,9845 1,0519 1,0267

Paraguai 1,6072 0,7407 1,2187 0,8727

Bolívia 1,9157 0,8214 1,2611 0,7562

Central 1,1637 1,1536 0,7262 1,0216

Fonte: Elaborado a partir da base de dados.

Por uma análise ao longo do tempo, houve uma concentração maior das

atividades da Agropecuária na borda Bolívia de 2007 a 2017, quando o QL

passou de 1,7491 para 1,9157. O mesmo ocorreu para a borda Paraguaia

passando de 2007 a 2017 o QL da Agropecuária de 1,2768 para 1,6072.

Utilizando a desagregação sugerida por Schaffer (2020) foi possível

apontar pelo QL os setores exportadores são os que apresentam valor acima

de 1, ou seja, a atividade produz para a região e para outras regiões. Neste

caso, com um QL de 1,7491 para a borda Bolívia significa que para atender a

economia da sub-região na Agropecuária seriam necessários 3.661 empregos.

Os demais 2.743 empregos seriam dedicados a exportação de mercadorias

desse setor. Essa mesma analogia pode ser feita em 2017, onde com um QL

de 1,9157 seriam 8.764 empregos na Agropecuária, sendo 4.575 dedicados a

atividade local da sub-região e os demais 4.189 dedicados a atividade

exportadora do setor.

Com relação a concentração das atividades em termos de PIB, os

valores foram estimados pela equação 1, mostrando que os resultados foram

semelhantes ao verificados em relação ao emprego. Há uma concentração das

atividades relacionadas a Agropecuária com relação a borda Bolívia, mas

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também em relação a Administração Pública, sendo o maior valor verificado em

2017 para essa atividade na borda Paraguaia (Quadro 4).

Quadro 4. Quociente de localização do PIB em Mato Grosso do Sul pelas

bordas da faixa de fronteira e total do Estado de 2007 e 2017

Regiões Agropecuária Indústria APU Serviços

2007

Restante 0,7459 1,2014 0,9195 1,0587

Paraguai 0,8608 0,6860 1,3661 0,9907

Bolívia 1,6767 0,5340 1,3878 0,7342

Central 1,4103 0,7640 0,9591 0,9548

2017

Restante 0,8372 1,1933 0,9032 1,0114

Paraguai 0,7668 0,6317 1,5950 1,0177

Bolívia 1,5876 0,5433 1,3901 0,8098

Central 1,2598 0,7500 0,9823 1,0316

Fonte: Elaborado a partir da base de dados.

Os valores obtidos pelo QL na Agropecuária apontam para a borda

Bolívia uma redução da concentração de 2007 a 2017. O valor obtido para

2007, utilizando a desagregação sugerida por Shaffer (2020), o valor de QL de

1,6767, apontando para uma produção do PIB para a sub-região de 1,5 bilhões

para a Agropecuária, cerca de 892 milhões produzidos seria para atender a

sub-região e o restante, 604 milhões seriam gerados pela exportação de

mercadorias.

Nessa mesma análise, os valores para 2017 mostram que houve uma

redução do QL para 1,5876, ou seja, a destinação para exportações caiu em

relação ao período anterior ficando mais produto para atender a sub-região do

que em 2007. Da mesma forma, a análise mostra que dos 2 bilhões

produzidos, cerca de 740 milhões foram destinadas as exportações e 1,26

bilhões para atender a sub-região.

Destaca-se também que o setor de Administração Pública tem uma

presença mais efetiva nas bordas Paraguai e Bolívia no período analisado,

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havendo um aumento de participação na borda Paraguaia passando o QL de

1,3661 em 2007 para 1,5950 em 2017.

De forma geral, a concentração das atividades no emprego mostrou

resultados semelhantes em relação ao PIB, embora a estabilidade em termos

de posições com relação ao PIB seja que em relação ao emprego.

Para tentar verificar de forma adicional se a diversificação das atividades

aumentou ou não, o coeficiente de localização tem sido empregado para definir

se as sub-regiões tiveram especialização ou diversificação maior das suas

atividades produtivas. Diferente do quociente locacional, os valores do

coeficiente locacional apresentam valores de 0 a 1, sendo quanto mais próximo

de zero mais igual ao conjunto, ou seja, mais próximo da estrutura do Estado.

Já quanto mais próximo do valor igual a um, mais concentrada em uma

atividade (especializado e pouco diversificado) a região. Para obter as

estimativas foi aplicada a equação 2 novamente sobre o emprego e sobre o

PIB (Quadro 5).

Quadro 5. Coeficiente de localização do emprego e do PIB em Mato Grosso do

Sul pelas bordas da faixa de fronteira e total do Estado de 2007 e 2017

Setores Emprego PIB

2007 2017 2007 2017

Agropecuária 0,1405 0,1281 0,1611 0,1129

Indústria 0,0621 0,0349 0,1203 0,1192

APU 0,0494 0,0623 0,0583 0,0641

Serviços 0,0402 0,0225 0,0351 0,0158

Fonte: Elaborado a partir da base de dados.

Pelo coeficiente de localização mostra uma maior concentração do

emprego em atividades da agropecuária, o que demonstra uma especialização

do Estado nessa atividade nas regiões, embora tenha havido um processo de

redução dessa especialização de 2007 para 2017.

Já tem termos de PIB, as atividades que mais se especializaram foram

duas: a agropecuária e a indústria, embora novamente, como no emprego,

houve redução na especialização da agropecuária de 2007 a 2017.

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Embora os valores para emprego e PIB tenham apresentado resultados

semelhantes, a queda na concentração em atividades ligadas a agropecuária,

como principal gerador de PIB em algumas sub-regiões, teve queda maior em

termos de concentração ficando em segundo lugar entre as atividades de

especialização das sub-regiões, enquanto a indústria assume a posição de

maior setor concentrador em termos de PIB a partir de 2017.

Para obter para cada região a diferença intertemporal das diferenças

obtidas no período t0 (2007) para o período t1 (2017) de forma a sumarizar

positiva ou negativamente o aumento de concentração, pode-se utilizar o

coeficiente de redistribuição das atividades.

Para Isard et al. (1998) o coeficiente de redistribuição permite que os

valores ao longo do tempo possam ser mensurados levando em consideração

não apenas a análise dentro de um mesmo ano, como também tem termos de

mudanças ao longo do período. Ao invés de ser calculado um para cada ano, o

indicador permite que as diferenças entre os dois períodos sejam

consideradas, medindo, assim se houve uma mudança no padrão espacial de

localização do setor.

Para mensurar o coeficiente de redistribuição do setor foi utilizada a

equação 3, onde os valores tanto para emprego como para PIB foram

estimados utilizando como referência para ano zero 2007 e ano um 2017

(Quadro 6).

Quadro 6. Coeficiente de redistribuição do emprego e do PIB em Mato Grosso

do Sul pelas bordas da faixa de fronteira e total do Estado de 2007 e 2017

Setores Emprego PIB

2017/2007 2017/2007

Agropecuária 0,0265 0,0710

Indústria 0,0169 0,0185

APU 0,0219 0,0119

Serviços 0,0531 0,0202

Total 0,0254 0,0196

Fonte: Elaborado a partir da base de dados.

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Pelo coeficiente de redistribuição, as mudanças mais significativas foram

encontradas em relação ao emprego nos serviços, com o maior valor, enquanto

que em relação ao PIB as mudanças mais significativas foram na agropecuária.

Em geral, as mudanças foram maiores no emprego do que no PIB, o que

pode apontar uma estabilidade maior em termos de PIB dos setores do que

uma mudança na composição do emprego nos setores. Os valores para

Serviços e Administração Pública parecer ter ocorrido uma maior dispersão

espacial das atividades uma vez que os valores ficaram menores tanto para

emprego como para PIB. De outra forma, parece que tanto os Serviços como a

Administração Pública aumentaram sua diversificação dentro das sub-regiões

ficando mais próxima da estrutura estadual.

Para medir as mudanças em termos de regiões, os coeficientes de

especialização fornecem uma medida dessas alterações, mostrando a

diversificação ou especialização da região em relação as atividades

econômicas.

Pela utilização da equação 4, foi possível medir essa especialização em

determinadas atividades ou mesmo se as regiões tem um grau maior ou menor

de especialização em alguma atividade (Quadro 7).

Quadro 7. Coeficiente de especialização do emprego e do PIB em Mato

Grosso do Sul pelas bordas da faixa de fronteira e total do Estado de 2007 e

2017

Regiões Emprego PIB

2007 2017 2007 2017

Restante 0,0390 0,0241 0,0599 0,0474

Paraguai 0,0343 0,1117 0,0795 0,1223

Bolívia 0,1485 0,1540 0,1970 0,1788

Central 0,1054 0,0573 0,0684 0,0586

Fonte: Elaborado a partir da base de dados.

De acordo com Lima et al. (2009) os resultados iguais a zero indicam

composição setorial idêntica da sub-região em relação ao Estado, e valores

próximos a um demonstram elevado grau de especialização ligado a um

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determinado setor, ou a sub-região apresenta uma estrutura de emprego ou

PIB completamente diferente da estrutura de emprego e PIB do Estado.

Verifica-se que a borda Bolívia foi que apresentou maior grau de

especialização, tanto para emprego como para PIB, apontando para uma

vocação em determinado setor tanto em 2007 como 2017.

Já em termos de mudança para menos especializada com relação ao

restante do estado foi a sub-região Central e Restante do Estado, possuindo

uma estrutura mais próxima da Estadual. Houve ainda mudança na região da

borda Paraguai, tendo aumento na especialização tanto em termos de emprego

como de PIB de 2007 para 2017.

Essas evidências já tinham sido apontadas preliminarmente pelo

quociente de localização que mostrou uma especialização das regiões das

bordas Paraguai e Bolívia no setor de agropecuária.

De forma a verificar se houve uma mudança na estrutura produtiva do

Estado ao longo do tempo, o coeficiente de reestruturação permite medir as

modificações na composição setorial das regiões em relação a estrutura do

Estado. Pela equação 5, foi possível verificar essas mudanças (Quadro 8).

Quadro 8. Coeficiente de reestruturação do emprego e do PIB em Mato

Grosso do Sul pelas bordas da faixa de fronteira e total do Estado de 2007 e

2017

Regiões Emprego PIB

2017/2007 2017/2007

Restante 0,0619 0,0869

Paraguai 0,0314 0,0374

Bolívia 0,0685 0,0328

Central 0,1224 0,0388

Total 0,0680 0,0640

Fonte: Elaborado a partir da base de dados.

Pode-se verificar onde houve maior estabilidade estrutural na região

Paraguaia tanto em relação ao emprego como no PIB. Já a região Central

apresentou uma reestruturação em 2007 alta em termos de emprego, mas em

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termos de PIB os resultados mantiveram a estabilidade próximo dos resultados

das demais regiões.

Conclusões

O objetivo deste artigo foi analisar o desenvolvimento regional pela

comparação de desempenho entre as sub-regiões do Estado como forma de

mostrar quais as sub-regiões que mais cresceram em termos de emprego e

PIB, reestruturando ou não suas estruturas produtivas no período entre 2007 a

2017.

Através dos resultados, percebe-se que as sub-regiões que mais

sofreram mudanças em suas estruturas produtivas foram a borda Central, com

as maiores taxas de crescimento de emprego (50%) e PIB (34,6%). Em termos

de QL, essa mudança está na especialização da borda Central em um centro

de Serviços.

No que se refere ao coeficiente de localização há uma concentração

maior das atividades agropecuárias embora de 2007 a 2017 tenha havido uma

redução dessa concentração. Somente em termos de PIB foi verificada uma

concentração maior das atividades industriais certamente por conta de as

novas tecnologias empregadas nas indústrias serem poupadoras de emprego

não resultando em mudanças significativas em termos dessa variável.

Em termos de reestruturação percebe-se que há uma certa estabilidade

estrutural na borda Paraguaia tanto para emprego como para PIB. Já a

reestruturação mais significante foi verificada para a borda Central em termos

de empregos, provavelmente fruto dessa especialização apontada pelo QL nos

Serviços.

Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, a CAPES, por viabilizar os estudos e

proporcionar essa visão ampliada da realidade do Estado.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Daniel Massen Frainer, que com toda a sua

sabedoria pode me orientar de forma que conseguisse o desenvolvimento

deste trabalho.

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Aos professores e professoras do Programa de Mestrado em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional, pela excelência no ensino, e por

contribuírem para o meu desenvolvimento, tanto intelectual quanto pessoal.

Aos amigos e amigas de curso, pela convivência e aprendizado em

grupo.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) - Código de

Financiamento 001 e, da Universidade Anhanguera-Uniderp, pelo pagamento

de bolsa de estudo.

Referências Bibliográficas

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http://pdet.mte.gov.br/>. Acesso em: 10 jun. 2020.

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em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso

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Nacional, 2017. 324p.

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https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/estrutura-

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LIMA, J.F.; EBERHARDT, P.H.C.; GENTILINI, D.C.; HECK, A.L. Mudanças

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paranaense no início do século XXI. Revista Brasileira de Gestão Urbana,

Curitiba, v.1, n.2, p.137-150, jul/dez., 2009.

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<https://researchrepository.wvu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1006&context=rri-

web-book>. Acessado em: 02.10.2020.

7. Conclusão Geral

A questão do desenvolvimento regional e integração da faixa de fronteira

ainda carece de políticas públicas voltadas para atenuar as disparidades entre as

regiões mesmo dentro de um Estado. A aplicação de modelos de análise

regional, mostra uma concentração maior em atividades agropecuárias,

principalmente nas bordas da fronteira, apontando para uma baixa diversificação

e manutenção da estrutura nos últimas dez anos.

Esses achados apontam para, mesmo com a introdução de políticas

públicas para a faixa de fronteira, estas não foram capazes de alterar

significativamente a estrutura baseada em um setor, tornando essas regiões

pouco dinâmicas na geração de emprego e PIB. Isso mostra que como região

prioritária de desenvolvimento, manteve taxas de crescimento semelhante a das

regiões não fronteiras dentro da média do Estado.

A única região de fronteira que teve uma reestruturação mais significativa

foi a borda Central, apresentando tendência a centralizar certos serviços e com

uma capacidade maior de diversificação de sua estrutura produtiva,

principalmente favorecida pela intensificação da agroindústria.

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Os indicadores criados fornecem um diagnóstico das mudanças ocorridas,

mas algumas limitações como desagregação por produtos das atividades não

permitem verificar quais foram os subsetores novos que surgiram nem mesmo os

municípios devido a abertura que o PIB municipal. Mesmo utilizando dados de

emprego haveria essa possibilidade, mas não em termos de PIB. Outras

limitações dos métodos empregados esta não permite que sejam incluídos dados

iguais a zero devendo, assim, serem agregados mesmo para realizar uma

comparabilidade entre crescimento do PIB e do Emprego.

Em termos de avaliação de políticas públicas, o que foi verificado é que a

concentração em atividades como agropecuária, principalmente na borda

Paraguaia e Bolívia, gerou taxas menores tanto de crescimento do emprego

como do PIB. Por outro lado, a diversificação em outros setores, principalmente

de serviços, resultou em taxas maiores de crescimento acima da média do

Estado melhorando mais do que proporcionalmente o emprego na Borda Central.