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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER
COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS
COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES
RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS
RIO DE JANEIRO
2011
1
MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER
COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS
COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES
RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação e Pesquisa da
Escola de Enfermagem Anna Nery /
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
Título de Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profa Drª Neide Aparecida Titonelli Alvim
RIO DE JANEIRO
2011
m
2
Xavier, Maria da Luz Ferreira.
Compartilhando saberes e práticas de acompanhantes de idosos com os da
enfermeira sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas /
Maria da Luz Ferreira Xavier - 2011.
156 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rio de Janeiro, 2011
Orientadora: Neide Aparecida Titonelli Alvim
1. Enfermagem. 2. Educação em saúde. 3. Cuidados pré-operatórios. I.
Alvim, Neide Aparecida Titonelli. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Escola de Enfermagem Anna Nery. Programa de Pós-graduação em
Enfermagem. III. Título.
CDD 610.73
m
3
MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER
COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS
COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES
RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação e Pesquisa da
Escola de Enfermagem Anna Nery /
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
Título de Mestre em Enfermagem.
Aprovada em 02 de dezembro de 2011 por:
_________________________________________
Profª Drª Neide Aparecida Titonelli Alvim
Presidente (UFRJ)
_________________________________________
Profª Drª Fátima Helena do Espírito Santo
1a examinadora (UFF)
___________________________________________
Profª Drª Maria Luíza de Oliveira Teixeira
2a examinadora (UFRJ)
___________________________________________
Profª Drª Márcia Tereza Luz Lisboa
Suplente (UFRJ)
___________________________________________
Profª Drª Maria Célia de Freitas
Suplente (UECE)
4
DEDICATÓRIA
Este estudo é dedicado:
Aos meus filhos, pela cumplicidade durante
toda a caminhada.
Aos meus netos, como inspiração para suas
futuras jornadas acadêmicas.
A minha mana preferida, aos meus irmãos e à
minha mãe, pela compreensão diante das
minhas ausências no decorrer do curso.
Aos colegas, enfermeiros assistenciais, como
incentivo para que se insiram no campo da
pesquisa.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, ao maravilhoso Deus, por ter me concedido a graça
desta conquista.
À minha dedicada orientadora Neide Aparecida Titonelli Alvim, pela paciência e
generosidade diante das imensas dificuldades que encontrei. As minhas indisfarçáveis
timidez e insegurança durante o desenvolvimento do estudo, face à inexperiência no
campo da pesquisa, foram superadas por seu estímulo e apoio. A sua preciosa ajuda, em
todas as etapas, suavizou a transposição dos obstáculos que se apresentaram.
Transpareceu, ao final do processo, a minha aprendizagem e o meu crescimento pessoal e
profissional. Ampliei a minha visão a respeito do „cuidar‟ em enfermagem. Foi um
grande sonho realizado. Obrigada para sempre!
À minha amiga-mestra Luiza, que me fez acreditar na possibilidade de realizar
uma pesquisa após tantos anos dedicados exclusivamente à prática assistencial. A sua
cumplicidade desde os primeiros passos foi imprescindível à viabilização deste estudo.
Mais uma vez, muito obrigada!
Aos meus filhos Mitchela, Wagner, Max e Mick, pelo companheirismo e
colaboração principalmente com a tecnologia.
Às professoras componentes da Banca Examinadora, pela disponibilidade e
inestimáveis contribuições: Fátima Helena do Espírito Santo, Maria Luíza de Oliveira
Teixeira, Márcia Tereza Luz Lisboa e Maria Célia de Freitas. .
À Sônia Brazil, pela compreensão e flexibilidade com os meus horários de trabalho,
adequando-os as minhas atividades acadêmicas.
Aos professores do programa de Pós-graduação e Pesquisa da Escola de
Enfermagem Anna Nery, pela acolhida e troca de experiências e conhecimentos.
Aos professores Manoel Domingos (Chefe do Serviço de Cirurgia Geral), Homero
Soares Fogaça (Diretor Substituto da Divisão Médica) e Oswaldo Saback (Chefe do
Serviço de Urologia), do HUCFF/UFRJ, pela contribuição em uma das etapas do estudo.
6
À enfermeira Célia do centro cirúrgico, pela solidariedade e ajuda em várias fases
do processo.
À equipe da secretaria da Pós-graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery,
especialmente à Sônia Xavier e ao Jorge Anselmo, pela excelência no atendimento.
À Suzane, Eliana, Paulo Henrique e Bira, pela preciosa colaboração durante a
produção de dados.
À Divisão de Enfermagem do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
(HUCFF)/UFRJ, pelo apoio à realização deste estudo.
Aos colegas de turma, mestrandos e doutorandos, pelo compartilhamento de
ideias, dificuldades e conquistas.
Às Equipes de Enfermagem dos setores 9B e 10D do HUCFF/UFRJ, pela
receptividade durante a produção de dados.
Aos colegas de trabalho, que de diversas formas me ajudaram e me incentivaram
durante toda a trajetória.
Aos idosos e seus acompanhantes, sem os quais este estudo não teria sentido.
Aos amigos queridos, que ao meu lado, ou a quilômetros de distância, acolheram-
me nos momentos de desânimo, incentivaram-me e torceram por mim. Esse apoio foi
fundamental para o enfretamento dos obstáculos.
7
O Que É, O Que É
E a vida?
E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida?
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é, o que é, meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo
Há quem fale que é um divino mistério profundo
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor
Você diz que é luta e prazer
Ela diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é e o verbo é sofrer
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu boto a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser
Sempre desejada, por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte
E a pergunta roda e a cabeça agita
Fico com a pureza da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita
Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isto não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita
(Gonzaguinha)
8
RESUMO
XAVIER, Maria da Luz Ferreira. Compartilhando Saberes e Práticas de Acompanhantes
de Idosos com os da Enfermeira sobre a Prevenção de Complicações Respiratórias Pós-
Cirúrgicas. Orientadora: Neide Aparecida Titonelli Alvim. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ,
2011. Dissertação de Mestrado em Enfermagem.
O objeto deste estudo centra-se nos saberes e práticas de acompanhantes sobre a
prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso. Os objetivos são: descrever
saberes e práticas de acompanhantes voltados à prevenção de complicações respiratórias pós-
cirúrgicas no idoso; construir um plano de cuidados voltado à prevenção de complicações
respiratórias pós-cirúrgicas no idoso, a partir da integração de saberes e práticas de
acompanhantes com os da enfermeira-pesquisadora no contexto da visita pré-operatória;
avaliar a efetividade do plano de cuidados, implementado no pós-operatório. O estudo
qualitativo foi norteado pelos conceitos da teoria problematizadora de Paulo Freire, com
aplicação do método da pesquisa convergente-assistencial. Os sujeitos foram 14
acompanhantes de clientes idosos na clínica cirúrgica de um hospital universitário do
município do Rio de Janeiro. O estudo seguiu o preconizado na Resolução 196/96 do CNS,
tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUCFF/UFRJ sob o nº. 186/10.
Utilizou-se para a produção dos dados formulário de identificação das acompanhantes e dos
clientes idosos, entrevista semiestruturada e um roteiro de observação participante. As fases
de desenvolvimento da pesquisa com os sujeitos constaram de entrevista individual,
construção de um plano de cuidados compartilhado, implementação por cada acompanhante
do plano de cuidados ao cliente idoso em pós-operatório, observação participante e, na última
etapa, avaliação das acompanhantes e pesquisadora sobre todo o processo. Os dados foram
analisados e interpretados a partir da triangulação dos achados, à luz da análise de conteúdo
temática. A construção do cuidado compartilhado foi viabilizada pela educação em saúde,
através do diálogo problematizador estabelecido com as acompanhantes de clientes idosos
sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas. Os resultados revelaram que
as acompanhantes acumulam saberes advindos de diferentes fontes que podem ser
considerados válidos e importantes, acerca de cuidados básicos no pós-operatório, capazes de
prevenirem problemas respiratórios. Através da metodologia participativa e problematizadora,
construiu-se um plano de cuidados compartilhado a ser realizado com o idoso, resultante da
integração de saberes e práticas dos acompanhantes com os da enfermeira-pesquisadora na
visita pré-operatória. O cuidado compartilhado proporcionou às acompanhantes reunir
condições de desenvolver relativa autonomia no cuidado ao idoso no espaço hospitalar.
9
Resultaram em novas ou revisitadas práticas, culminando em um cuidado congruente às reais
necessidades dos clientes e seus acompanhantes, tornando-os parceiros no processo de cuidar.
Todo o processo foi conduzido com base na visão nova-paradigmática, cuja postura
epistemológica se pauta no entendimento da complexidade humana. Pensar o ser humano em
sua complexidade é resgatá-lo como sujeito, de ações e interações, com consciência e
autonomia. Tais princípios norteiam o pensamento freiriano, sustentado na valorização das
relações humanas e no entendimento de que as pessoas têm capacidade para o
desenvolvimento da crítica e reflexão sobre os objetos que lhes são dados a pensar. Também
se aplicam à PCA, na medida em que se valorizam os saberes e práticas dos sujeitos da
pesquisa no emprego de uma metodologia de intervenção, integradora e participativa.
PALAVRAS-CHAVE: ENFERMAGEM. EDUCAÇÃO EM SAÚDE. CUIDADOS PRÉ-
OPERATÓRIOS.
10
ABSTRACT
XAVIER, Maria da Luz Ferreira. Sharing Knowledge and Practices of Companions of
Aged with the one of the Nurse about the Prevention of Postoperative Respiratory
Complications. Advisor: Neide Aparecida Titonelli Alvim. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ,
2011. Dissertation of Mater Degree in Nursing.
The study object centralizes in the knowledge and practices of the companions about
the prevention of respiratory complications in the aged. The objectives are: Describe
knowledge and practices of companions directed to the prevention of the postoperative
respiratory complications in the aged; construct a care plan directed to the prevention of
postoperative respiratory complications in the aged, from the integration of knowledge and
practices of companions with the one of the nurse-researcher in the context of the
preoperative visit; Evaluate the effective condition of the care plan implemented in the
postoperative. The qualitative study was guided by the concepts of the Critical Theory of
Paulo Freire, with use of the method of the convergent-assistance research. The subjects
were14 companions of aged clients in the surgical clinic of a university hospital of the Rio de
Janeiro County. The study followed the recommended in the 196/96 Resolution of the NHC,
having been approved by the Research Ethics Committee of the HUCFF/UFRJ under the N.
186/10. Formulary of the companions the aged clients´ identification, semi-structured
interview and an itinerary of participant observation were used for the data production. The
phases of the research development with the subjects consisted of individual interview;
construction of a shared care plan, implementation by each companion of the care plan to the
aged client in postoperative; participant observation and in the last stage, evaluation of the
companions and researcher about all the process. The data were analyzed and interpreted
from the findings triangulation, in light of the thematic content analysis. The construction of
the shared care became possible by the education on health, through the critical dialogue
established with the companions of aged clients about the prevention of post surgical
respiratory complications. The results revealed that the companions accumulate knowledge
resulted from different sources that could be considered valid and important, about the basic
care in the postoperative capable of prevent respiratory problems. Through the participative
and critical methodology, a shared care plan to be realized with the aged, resultant form the
integration of companions´ knowledge and practices with the one of the nurse-researcher in
the preoperative visit was constructed. The care shared provided to the companions gathering
conditions of develop any autonomy in the care to the aged in the hospital space. They
11
resulted in new or revisited practices, culminating in a congruent care to the effective needs of
the clients and theirs companions, becoming partners in the care process. All the process was
conduced based on the new-paradigmatic view, which epistemological attitude is based in the
understanding of the human complexity. To think about the human being in its complexity is
to rescue it as subject, of actions and interactions, with conscience and autonomy. Such
principles guide the freiriano thinking, sustained in the human relations valorization and in the
understanding that the persons is capable to the critical and reflection development about the
objects that are given for them to think; and also apply to the PCA insofar as the knowledge
and practices of the research subjects are valorized in the employment of a methodology of
intervention, integrating and participative.
KEYWORDS: NURSING. EDUCATION IN HEALTH. PREOPERATIVE CARE.
12
RESUMEN
XAVIER, Maria da Luz Ferreira. Compartiendo Conocimientos y Prácticas de
Acompañantes de Ancianos con los de la Enfermera sobre la Prevención de
Complicaciones Respiratorias Pos-quirúrgicas. Orientadora: Neide Aparecida Titonelli
Alvim. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ, 2011. Disertación de Master Grado en Enfermería.
El objeto de estudio se centra en los conocimientos y prácticas de acompañantes sobre
la prevención de complicaciones respiratorias pos-quirúrgicas en el anciano. Los objetivos
son: Describir conocimientos y prácticas de acompañantes dirigidos a la prevención de
complicaciones respiratorias pos- quirúrgicas en el anciano; construir un plano de cuidados
dirigido a la prevención de complicaciones respiratorias pos-quirúrgicas en el anciano, a
partir de la integración de conocimientos y prácticas de acompañantes con los de la
enfermera-investigadora en el contexto de la visita pre-operatoria; evaluar la efectividad del
plano de cuidados implementado en el pos-operatorio. El estudio cualitativo fue norteado por
los conceptos de la Teoría “Problematizadora” de Paulo Freire, con aplicación del método de
la pesquisa convergente-asistencial. Los sujetos fueron 14 acompañantes de clientes ancianos
en clínica quirúrgica de un hospital universitario del municipio del Rio de Janeiro. El estudio
siguió el preconizado en la Resolución 196/96 del CNS, teniendo sido aprobado por el Comité
de Ética en Pesquisa del HUCFF/UFRJ bajo el n. 186/10. Se utilizo para la producción de
los datos formulario de identificación de las acompañantes y de los clientes ancianos,
entrevista seme-estructurada y un itinerario de observación participante. Las fases de
desarrollo de la pesquisa con los sujetos constaron de entrevista individual; construcción de
un plano de cuidados compartido; implementación por cada acompañante del plano de
cuidados al cliente anciano en pos-operatorio; observación participante; y, en la última etapa,
evaluación de las acompañantes y investigadora sobre todo el proceso. Los datos fueron
analizados y interpretados a partir de la triangulación de los hallados, a la luce del análisis de
contenido temática. La construcción del cuidado compartido fue viabilizada por la educación
en salud, a través del diálogo “problematizador” establecido con las acompañantes de clientes
ancianos sobre la prevención de complicaciones respiratorias pos quirúrgicas. Los resultados
revelaron que las acompañantes acumulan saber advenido de diferentes fuentes y que pueden
ser considerados válidos e importantes, acerca de cuidados básicos en el pos-operatorio,
capaces de prevenir problemas respiratorios. A través de la metodología participativa y
problematizadora, se construyó un plano de cuidados compartido a ser realizado con el
anciano, resultante de la integración de conocimientos y prácticas de los acompañantes con
13
los de la enfermera-investigadora en la visita pre-operatoria. El cuidado compartido
proporcionó a las acompañantes reunir condiciones de desarrollar relativa autonomía en el
cuidado al anciano en el espacio hospitalario. Resultaron en nuevas o nuevamente visitadas
prácticas, culminando en un cuidado congruente a las reales necesidades de los clientes y sus
acompañantes, tornándolos compañeros en el proceso de cuidar. Todo el proceso fue
conducido con base en la visión nueva-paradigmática, cuya postura epistemológica se pauta
en el entendimiento de la complejidad humana. Pensar el ser humano en su complejidad es
rescatarlo como sujeto, de acciones e interacciones, con consciencia y autonomía. Tales
principios guían el pensamiento freiriano, sustentado en la valorización de las relaciones
humanas y en el entendimiento de que las personas tienen capacidad para el desarrollo de la
crítica y reflexión sobre los objetos que les son presentados a pensar; y también se aplican a la
PCA, en la medida en que se valorizan los conocimientos y prácticas de los sujetos de la
pesquisa en el empleo de una metodología de intervención, integradora y participativa.
PALABRAS CLAVES: ENFERMERÍA. EDUCACIÓN EN SALUD. CUIDADOS
PREOPERATORIOS.
14
LISTA DE QUADROS
Pág.
Quadro nº 1: Síntese das etapas de produção de dados da pesquisa .................................. 50
Quadro nº 2: Plano de cuidados construído com acompanhantes de idosos na VPO ......... 105
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição das acompanhantes por vínculo com o idoso e das acompanhantes
e idosos por sexo, idade, situação conjugal e número de filhos ......................... 56
Tabela 2: Distribuição das acompanhantes e idosos por escolaridade, situação ocupacional
e ocupação atual ................................................................................................... 57
Tabela 3: Distribuição das acompanhantes e idosos por renda familiar, número de pessoas
por domicílio, número de pessoas que contribuem com a renda familiar e religião 58
Tabela 4: Condições gerais dos idosos ................................................................................. 59
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Pulmão jovem ........................................................................................................ 71
Figura 2: Pulmão idoso ......................................................................................................... 71
Figura 3: Imagem do interior do pulmão + diafragma ......................................................... 96
Figura 4: Bola de soprar/bexiga com adaptador ................................................................... 98
15
SUMÁRIO
Pág.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1. Aproximação com a temática ...................................................................................... 17
2. A problemática e a construção do objeto de estudo .................................................. 20
3. Questões Norteadoras .................................................................................................. 28
4. Objetivos ....................................................................................................................... 28
5. Relevância e justificativa do estudo ............................................................................ 28
CAPÍTULO I - BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS DO ESTUDO
1.1. A pedagogia freiriana aplicada à enfermagem ...................................................... 35
CAPÍTULO II - A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO
2.1. Tipo de estudo e abordagem metodológica ............................................................ 40
2.2. Trajetória da pesquisa convergente-assistencial ................................................... 41
2.3. Aspectos éticos .......................................................................................................... 52
2.4. Dificuldades para realização do estudo .................................................................. 53
CAPÍTULO III - ASPECTOS SOCIAIS E DE SAÚDE RELACIONADOS AOS
ACOMPANHANTES E IDOSOS E SUA INFLUÊNCIA NO CUIDADO
3.1. Caracterização dos acompanhantes, sujeitos do estudo e dos clientes idosos
em pré-operatório .......................................................................................................... 55
CAPÍTULO IV - SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS
SOBRE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS NO IDOSO
4.1. Principais causas de complicações respiratórias no pós-operatório do cliente
idoso problematizadas no diálogo com os acompanhantes .......................................... 70
4.2. Fontes de informação e de aprendizagem acerca dos cuidados fundamentais
evidenciados pelos acompanhantes de idosos sobre a prevenção de complicações
respiratórias pós-cirúrgicas ........................................................................................... 80
CAPÍTULO V - CONSTRUINDO O PLANO DE CUIDADOS NO DIÁLOGO
COM ACOMPANHANTES COM VISTAS À PREVENÇÃO DE COMPLICA-
ÇÕES RESPIRATÓRIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE IDOSOS ......................... 87
16
CAPÍTULO VI - IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTI-
LHADO E SUA EFETIVIDADE .................................................................................. 107
CAPÍTULO VII - AVALIAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTILHADO
7.1. Avaliação dos acompanhantes sobre o plano de cuidados compartilhado e sua
implementação ................................................................................................................. 117
7. 2. Avaliação da enfermeira-pesquisadora sobre a experiência implementada: os
desafios da assistência que se apresentam à equipe de enfermagem no hospital ....... 122
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 127
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... . 133
APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO ACOMPANHANTE 145
APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO IDOSO .................... 146
APÊNDICE C - ROTEIRO PARA CONDUZIR O DIÁLOGO/REFLEXÃO ......... 147
APÊNDICE D - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO ........................................................ 148
APÊNDICE E - ROTEIRO PARA CONDUZIR A DISCUSSÃO/AVALIAÇÃO ... 149
APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...... 150
APÊNDICE G - ENCAMINHAMENTO AO CEP/HUCFF ......................................... 152
APÊNDICE H - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE UROLOGIA/HUCFF ........... 153
APÊNDICE I - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE CIRURGIA GERAL/HUCFF 154
ANEXO A - AUTORIZAÇÃO DA DIVISÃO DE ENFERMAGEM/HUCF.............. 155
ANEXO B - PARECER DO CEP/HUCFF ..................................................................... 156
17
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1. Aproximação com a temática
Minha trajetória profissional como enfermeira assistencial nos setores de clínica
médica e centro cirúrgico teve início em 1981 em um hospital universitário na cidade de João
Pessoa/Paraíba e continuou a partir de 1985 na cidade do Rio de Janeiro, também no âmbito
de um hospital universitário.
Desses 29 anos de atividade profissional, 20 anos foram atuando em enfermarias de
clínica médica e 08 anos em centro cirúrgico, exercendo a função de enfermeira líder1. Nesse
intervalo, verifiquei que tais setores são espaços em que se fazem necessárias atividades
educativas voltadas não só aos clientes, mas também aos seus acompanhantes2,
“principalmente quando se trata de clientes que, por questões inerentes ao declínio de sua
autonomia, próprias à idade ou às enfermidades, dependem de outrem para seu cuidado”
(TEIXEIRA, 2008, p.25), como no caso de clientes idosos3 clínicos ou cirúrgicos.
No setor de clínica médica, os clientes, em sua maioria, apresentavam diferentes
doenças, principalmente: cardíacas, endócrinas, neurológicas, respiratórias e gastrointestinais.
Nesse setor, devido às características próprias dessas patologias, havia muitos clientes
acamados, totalmente ou parcialmente dependentes. Dentre os cuidados de enfermagem a eles
prestados, priorizava-se a mobilização ativa e passiva no leito e fora dele, como meio de
prevenção às úlceras por pressão (UP), trombose venosa profunda (TVP) e complicações
respiratórias.
Muitos clientes permaneciam com acompanhante em tempo integral ou parcial. Esses
se ocupavam basicamente em atender as necessidades dos clientes como alimentação,
hidratação e higiene, além de auxiliar a equipe de enfermagem, alertando sobre o término de
infusões venosas e/ou medicamentos, queixas dos clientes, dentre outras próprias do cotidiano
da enfermagem hospitalar.
1 Liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem com entusiasmo visando atingir aos objetivos
identificados para o bem comum (HUNTER, 2004, p.25). Enfermeiro(a) líder é a terminologia utilizada pela Divisão de Enfermagem (DEN) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), para
designar o enfermeiro(a) que não exerce cargo de chefia. 2 O acompanhante pode ser pessoa com vínculo sanguíneo ou não que permanece junto ao cliente na
hospitalização exercendo a função de cuidador (remunerado ou não), ou ainda, sem esta função específica,
estando somente para lhe fazer companhia (TEIXEIRA, op.cit, p.22). 3 Pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (MS, 2003).
18
Muitos acompanhantes, no entanto, mostravam-se atentos aos cuidados prestados pela
equipe de enfermagem, para reproduzi-los, quando necessário. Outros, preocupados com a
reprodução correta desses cuidados, buscavam informações junto à equipe de enfermagem,
que geralmente respondia considerando os conhecimentos técnicos e científicos, distante da
vivência dos acompanhantes. Assim, a prática educativa da equipe de enfermagem junto a
esses clientes se mostrava, na maioria das vezes, incipiente às necessidades apresentadas
pelos acompanhantes.
Portanto, enquanto enfermeira do setor de clínica médica de hospitais de grande porte4,
cuidei de clientes em diferentes etapas do ciclo vital, acometidos, quase sempre, por doenças
crônicas não transmissíveis (DCNTs) de difícil controle. Essas doenças levavam os clientes a
internações frequentes e longas, interferindo na qualidade de vida e causando sofrimento e
transtorno aos mesmos e seus familiares. Penso que, muitas vezes, as frequentes re-
internações deviam-se, em parte, a não observância dos cuidados necessários ao controle e
prevenção das doenças. A título ilustrativo, destaco a situação de clientes acometidos por
doenças pulmonares crônicas que não deixavam de fumar e outros por diabetes mellitus que
não faziam dieta.
Tornava-se evidente, no meu entender, a importância e a necessidade de ações
educativas no contexto hospitalar, que favorecessem a esses clientes uma maior
conscientização, não só com a própria saúde (cuidar de si), mas também com a saúde dos
familiares, como no caso de fumantes, uma vez que as pessoas que convivem com fumantes
também estão expostas às doenças provocadas pelo fumo.
Na visão de Waldow (2001, p.285):
O cuidado humano é aquele que prioriza o eu/self em relação a si próprio como ser
existencial, a sua condição de ser relacional que faz parte de um contexto maior.
Seres humanos cuidam (ou deveriam cuidar) de si, dos outros e do cosmos,
preservando a natureza. É um existir pleno de responsabilidade e não apenas um estar no mundo.
Nessa linha de pensamento, acreditava ser outro ponto importante estender as ações
educativas aos acompanhantes desses clientes, com o propósito de envolvê-los no processo de
cuidados necessários à promoção e manutenção da saúde dos mesmos. Por isso, penso ser
difícil para um fumante deixar de fumar, convivendo com outros fumantes, ou uma pessoa
diabética fazer dieta, estando próxima a uma geladeira repleta de guloseimas.
Afinal, para que haja a tomada de consciência, é preciso situar os sujeitos no processo
4 Hospitais com capacidade instalada de 151 a 500 leitos (MS, 1985).
19
do cuidado como ativos participantes, o que só se faz possível quando todos os envolvidos nas
ações têm igual direito de expressão e acesso a informações sobre como se cuidar.
Em relação à atuação da equipe de enfermagem, verificava que eram priorizadas as
ações no campo das intervenções técnico-curativas, deixando em segundo plano as ações de
cunho educativo. Isso se dava, por vezes (ou assim justificado), devido ao grande volume de
trabalho, reduzindo o tempo destinado ao diálogo, momento que, no meu entendimento,
conduz a uma relação de confiança e respeito mútuo contribuindo para uma assistência de
enfermagem mais humanizada.
Segundo Christóforo e Carvalho (2009), observa-se na prática rotineira dos
profissionais da enfermagem envolvidos em seus afazeres, que a reflexão sobre a sua atuação
profissional é poucas vezes exercitada.
Destaco que, mesmo diante dos limites que se apresentavam à prática profissional,
sempre procurei dialogar com os clientes e, especialmente, em se tratando de idosos, também
com seus acompanhantes, muitas vezes, a pedido do próprio cliente, que alegava dificuldades
para apreender as orientações.
Entretanto, o diálogo era conduzido de forma verticalizada, que mais se aproximava de
um monólogo, pois, na maioria das vezes, transmitia informações técnico-científicas
acumuladas no decorrer de minha vida profissional e acadêmica. À época, desconhecia a
importância de trocar e entrelaçar na teia do cuidado os conhecimentos profissionais com os
saberes adquiridos pelos clientes e seus acompanhantes, principalmente ao longo da
convivência com a doença, a fim de construir, conjuntamente, ações para um cuidado
individualizado e dentro da realidade sócio-econômico-cultural de cada cliente. Por diversas
vezes, ouvi, desses e/ou de seus acompanhantes, a inviabilidade de continuar o tratamento, a
dieta ou outros cuidados necessários à manutenção da saúde, fora do ambiente hospitalar,
devido ao baixo poder aquisitivo.
Diante desses fatos, constato que as ações de educação em saúde, embora presentes no
meu cotidiano de cuidar, eram realizadas de forma unidirecional, prescritiva, caracterizadas
pelo modelo tradicional de educação, de natureza depositária, constituindo-se em ações
voltadas “para” o cliente e não “com” o cliente, inviabilizando o intercâmbio entre os saberes
acadêmico e popular e desmotivando os clientes a expressarem suas reais necessidades.
Silva e Nakata (2005) afirmam que quando a assistência de enfermagem é
automatizada, é normal o cliente considerar que está aborrecendo os profissionais de saúde e
para não incomodá-los, muitas vezes, cala-se.
20
Nessa vertente, impunham-se as práticas do saber científico do profissional de saúde,
resultando em um cuidado dominante, em que o cliente e/ou seu acompanhante, principais
interessados nos resultados dessas ações, não eram chamados a opinar e a discutir sobre essas.
Nesse sentido, Valla (2000, p.15) comenta que se a referência para o saber advir
apenas do profissional, dificulta o acesso ao saber do outro.“Os saberes da população são
elaborados sobre a experiência concreta, a partir das suas vivências, que são vividas de uma
forma distinta daquela vivida pelo profissional.”
Ainda que minhas ações nem sempre estivessem pautadas em uma abordagem
pedagógica de natureza problematizadora, a qual critica a forma autoritária e pouco produtiva
da comunicação concebida “por extensão” (FREIRE, 2001), cujos preceitos ferem a
verdadeira dialogicidade, preocupava-me em abordar ações de cunho educativo junto aos
clientes e/ou seus acompanhantes, tanto durante a internação, quanto por ocasião da alta
hospitalar. Isso porque, sempre acreditei na força do conhecimento como meio eficaz de
sensibilização para valorização da saúde e da qualidade de vida.
A partir do ano de 2000, passei a atuar no centro cirúrgico. Nos anos de 2002-2003,
lecionei nos cursos de técnico e auxiliar de enfermagem do Projeto de Profissionalização dos
Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE).
Nessa oportunidade, aproximei-me da Pedagogia Libertadora/Problematizadora de
Paulo Freire e me identifiquei com sua proposta inovadora de educação. Ela traz no seu
arcabouço teórico a perspectiva crítico-reflexiva, a valorização das diferentes formas de
pensar, dos saberes e práticas, oriundos da cultura popular, e do respeito ao contexto no qual
as pessoas estão inseridas. Propõe a coconstrução do conhecimento e a desconstrução do mito
do professor que detém todo o saber. Trabalha com a figura do professor mediador,
orientador, facilitador na construção de novos saberes.
Essa pedagogia levou-me a refletir criticamente sobre a minha prática e a forma como
desenvolvia as ações educativas junto à clientela e seus acompanhantes. Plantou em mim a
semente da inquietude, da curiosidade e, desde então, o desejo de propor ações voltadas à
educação em saúde que pudessem aplicar a pedagogia freiriana.
2. A Problemática e a construção do objeto do estudo
Ao passar a desenvolver minhas atividades profissionais no centro cirúrgico (CC),
deparei-me com uma realidade de cuidado distinta daquelas até então vivenciadas na clínica
médica. Isso porque, enquanto nessa clínica os clientes passam, algumas vezes, por longas
21
internações, no CC, eles permanecem apenas por algumas horas, o que tende a restringir seu
tempo de contato com a equipe de enfermagem.
O pouco tempo de convivência com o cliente no CC, embora não seja o determinante,
pode também interferir na construção da relação entre ele e a enfermeira (SILVA; ALVIM,
2010, p.428). Ademais, muitos clientes chegam ao CC sonolentos ou adormecidos, com
dificuldade ou sem condições de se comunicarem devido ao efeito da medicação pré-
anestésica, administrada na enfermaria, antes do encaminhamento ao CC.
Os clientes adentram ao CC através da sala de recepção pré-operatória (RPO), onde
permanecem até serem conduzidos à sala de operação (SO). Na RPO, “são prestados os
cuidados ao cliente pela equipe de enfermagem que avalia suas necessidades física, emocional
e de segurança (...)” (SILVA, 2009, p. 40). A entrada do cliente na RPO, por ser um local
desconhecido para ele, pode lhe provocar grande impacto e fazer com que se sinta vulnerável,
sendo fundamental o apoio efetivo da equipe de enfermagem nesse momento (BIANCHI;
TURRINI, 2007).
Para aqueles clientes que chegam acordados ao CC, é difícil o tempo de espera para a
cirurgia. Sabe-se que o enfrentamento de um ato cirúrgico gera medo e insegurança. Segundo
Souza, Souza e Fenili (2005), o cliente cirúrgico apresenta um nível de estresse no período
pré-operatório, independente do grau de complexidade da cirurgia. Para Escudeiro (1988 p.
6), “toda intervenção cirúrgica representa uma ameaça à integridade da pessoa, portanto,
produz certo grau de ansiedade”.
Tanto o ambiente físico quanto o das relações interpessoais no CC por suas
características peculiares podem contribuir para exacerbar estes sentimentos. Cito dentre essas
características as vestimentas dos profissionais, próprias desse ambiente (túnica, touca e
máscara), que dificultam a relação face a face e podem colaborar para o distanciamento entre
cliente e enfermeira (SILVA, 2009), além de contibuir para tornar o ambiente um tanto frio e
impessoal.
É fato que o ambiente físico influencia na promoção de bem-estar e conforto em
qualquer contexto. No CC, fatores como o excesso de ruídos a que os clientes são submetidos
- o toque de telefones fixo e celulares, o barulho do sistema de refrigeração, as conversas
aleatórias entre os profissionais, podem contribuir para aumentar a angústia e o estresse da
espera pelo ato cirúrgico. Nightingale (1989, p. 55) afirma que “Ruído desnecessário, de fato,
é a mais cruel falta de cuidado que pode ser imposta a um doente ou mesmo a uma pessoa
sadia.”
22
Antes de serem encaminhados ao CC, os clientes recebem cuidados de enfermagem
preconizados para o período pré-operatório. Os cuidados de enfermagem mais comuns nessa
fase são: tricotomia, banho, colocação de roupa cirúrgica, preparo gastrointestinal, jejum,
retirada de jóias, prótese dentária e outras próteses, roupa íntima e esmalte (CHRISTÓFORO;
CARVALHO, 2009). Observo que na relação desses cuidados são priorizadas as fases pré e
transoperatórias em detrimento daquelas inerentes ao período pós-operatório, incluindo os
relacionados às possíveis complicações nesse período.
Estudo realizado pelas autoras acima mencionadas revela que sentimentos como
constrangimento e indiferença foram manifestados pelos clientes durante a realização dos
cuidados pré-operatórios, o que implica na necessidade de avaliação da efetividade desses
cuidados. Destacam que alguns cuidados como colocação da roupa cirúrgica (camisola),
retirada da roupa íntima e da prótese dentária, podem causar desconforto aos clientes.
A remoção da prótese dentária faz com que muitos deles permaneçam com o lençol
sobre a boca, enquanto estão na RPO, dificultando a comunicação, inclusive durante a
admissão feita pelo enfermeiro. A retirada de aliança de casamento é, também, motivo de
estresse para alguns clientes, geralmente idosos. Eles alegam nunca a terem retirado e, com
isso, parecem sentirem o matrimônio invadido e ameaçado. Assim, o estresse para o cliente
cirúrgico poderá ser causado de acordo com a sua percepção.
Além da rotina pré-operatória que pode potencializar os sentimentos de estresse, medo
e insegurança comuns a essa fase, os riscos5 que envolvem todo procedimento cirúrgico é
outro fator importante nesse contexto. É comum os clientes perguntarem enquanto estão na
RPO: “é verdade que ocorrem muitos erros no centro cirúrgico e podemos ser trocados e
fazermos a cirurgia errada?”; “durante a anestesia a pessoa fica como morta?”; “a anestesia na
coluna pode deixar aleijado”?
Por outro lado, existem ainda, situações de conflito externas ao ambiente cirúrgico,
como as preocupações de natureza financeira e social. O repouso de dias ou até meses, que
em geral requer um procedimento cirúrgico, pode afastar o cliente de suas atividades sociais e
laborais. Esse afastamento laboral é mais crítico quando se trata de trabalho autônomo, por
não haver possibilidade de licença trabalhista remunerada.
Assim, concordo com Cavalcante; Pagliuca e Almeida (2000, p.59) quando destacam
que um procedimento cirúrgico não é um acontecimento banal na vida de uma pessoa. Faz-se
5 Risco cirúrgico é toda possibilidade de perigo ou dano que ocorre com um paciente, candidato à cirurgia em
decorrência de diferentes fatores que possam afetá-lo no pré, no trans e/ou no pós-operatório. (NIGRO, 1984
apud SILVA; RODRIGUES; CESARETTI, 1997 p.70)
23
necessário um preparo prévio desse indivíduo e de seus familiares, que muitas vezes precisam
afastar-se de sua vida normal por algum tempo. “Além disso, essas pessoas necessitam
mobilizar recursos físicos, emocionais e até financeiros para enfrentar esse momento”.
Por isso, situações de longa dependência decorrentes de cirurgias, geralmente,
repercutem de forma expressiva no cotidiano das pessoas. Elas precisam se munir de fé e
esperança na recuperação, para que não se desesperem e resultem em estado de depressão.
Para alguém que pratica a dança, por exemplo, permanecer durante meses dependente de
muletas, devido ao tratamento cirúrgico de uma fratura no tornozelo, vivendo da incerteza, se
poderá ou não voltar a dançar, sente grande sensação de impotência e insegurança, que só vai
diminuindo com os progressos na recuperação.
Por tantas adversidades enfrentadas pelos clientes, penso ser importante o
desenvolvimento de ações educativas que contemplem todas as fases do período operatório,
em destaque para a visita pré-operatória6 (VPO), momento em que o enfermeiro poderá
conhecer e dirimir eventuais dúvidas, proporcionando ao cliente a possibilidade de diálogo
para expor seus medos e outros sentimentos derivados do processo cirúrgico como um todo.
Além disso, poderá oportunizar a discussão sobre os aspectos inerentes aos cuidados
requeridos nas diferentes fases desse processo, para os quais tanto a participação do cliente,
quanto do acompanhante é essencial. Ademais, o enfermeiro poderá captar problemas e atuar
como elo entre este e a equipe cirúrgica, com o objetivo de proporcionar uma assistência
transoperatória adequada e individualizada (ESCUDEIRO, 1988).
Para diminuir o distanciamento e minimizar o impacto ao cliente frente à cirurgia e ao
CC, na instituição na qual estou inserida, cenário para o desenvolvimento desta pesquisa, a
VPO é realizada no dia anterior ou no último dia útil antes do procedimento cirúrgico. Por
questões operacionais, não é realizada a VPO aos clientes que internam no dia da cirurgia. Ela
é desenvolvida pelo enfermeiro do CC através de entrevista estruturada, utilizando um
instrumento do tipo check list7, elaborado pelos enfermeiros do referido setor, conjuntamente
com a Divisão de Enfermagem (DEN).
Através desse instrumento, são coletadas informações sobre: nível de
consciência/orientação, condições emocionais em relação ao ato cirúrgico, uso de
próteses/cateteres, existência de patologias agudas e/ou crônicas, ou que exijam medidas de
precaução/segurança e alergias, tabagismo, alcoolismo, transfusão de sangue, uso de
6A visita pré-operatória (VPO) consiste na primeira etapa da sistematização da assistência de enfermagem
perioperatória (GRITTEN; MÉIR; GAIEVICZ, 2006, p.245). 7 Lista de conferência (WHITLAM; DAVIES; HARLAND, 1997)
24
medicamentos, cirurgias anteriores, eliminações fisiológicas, observações relevantes não
contempladas pelo roteiro, assinatura do Termo de Responsabilidade8, dentre outras.
Neste estudo, vale ressaltar que meu interesse em compartilhar saberes e práticas com
os acompanhantes de idosos no âmbito da VPO, cujo resultado convirja pesquisa e cuidado,
está focado especialmente na prevenção ou minimização das complicações pós-operatórias.
Esse interesse se justifica pela notória carência e fragilidade das ações educativas voltadas
para o cliente cirúrgico, principalmente em se tratando do cliente idoso e seus acompanhantes.
Isso porque as pessoas idosas são as mais propensas às complicações pós-operatórias,
principalmente as complicações respiratórias, responsáveis por aproximadamente 40% dos
óbitos nessa clientela, relacionados aos possíveis comprometimentos pulmonares oriundos
dos procedimentos cirúrgicos e da anestesia (FERNANDES; RUIZ NETO, 2002).
Zago (1997), ao analisar estudos sobre a atividade educativa do enfermeiro cirúrgico,
comenta que os enfermeiros perceberam que as complicações pós-operatórias poderiam ser
minimizadas ou evitadas pelo processo educativo do cliente, durante o período
perioperatório.9
Essas complicações são definidas como uma segunda doença, inesperada, que ocorre
até trinta dias após o procedimento cirúrgico, ou a exacerbação de uma mesma doença pré-
existente em decorrência da cirurgia. Embora haja possibilidade de outras complicações, as do
trato respiratório são as mais frequentes e contribuem assim para a morbidade e mortalidade
perioperatória (JOIA NETO; THOMPSON; CARDOSO, 2005; RODRIGUES; ÉVORA;
VICENTE, 2008).
Apesar de no momento da VPO serem dadas orientações sobre os cuidados
relacionados à rotina pré e pós-operatória, observo que não fazem parte desses cuidados
orientações voltadas à prevenção ou minimização de complicações pós-operatórias, em
especial, as do tipo respiratório, considerando principalmente sua importância para a pessoa
idosa.
Sabe-se que o envelhecimento é acompanhado de alterações no sistema respiratório,
que constituem fator de risco para complicações respiratórias no pós-operatório, assertiva
confirmada por diversos estudos realizados (GAZARIAN, 2006; SAKAI et al, 2007;
8 O Termo de Responsabilidade é um documento que contém informações sobre os riscos que permeiam a cirurgia. Compete ao médico que atende ao cliente, prestar as informações e esclarecimentos sobre o referido
termo, que é obrigatório para as cirurgias programadas. O mesmo deve ser assinado pelo cliente ou seu
representante legal. 9 Termo que incorpora as três fases do período operatório: pré-operatória (antes), trans-operatória (durante) e
pós-operatória (depois) (POMPEO, 2007 p.16).
25
CARBO; SMETANA, 2008; RODRIGUES; ÉVORA; VICENTE, 2008; SILVA et al,
2009). Isso porque, com o avançar da idade, ocorre significante diminuição da reserva
funcional do sistema respiratório e um grande número de pacientes idosos está sendo
submetido a intervenções cada vez mais complexas (FERNANDES; RUIZ NETO, 2002).
Segundo Smeltzer e Bare, (2009), as alterações que ocorrem no sistema respiratório,
relacionadas à idade, afetam a capacidade e função pulmonares como: calcificação das
cartilagens costais e redução da mobilidade das costelas, diminuição da eficiência dos
músculos respiratórios, aumento da rigidez pulmonar e diminuição da área alveolar, dentre
outras. A capacidade vital do pulmão diminui, afetando a troca gasosa e a capacidade de
difusão10
. A diminuição da eficiência da tosse, a menor atividade ciliar e o aumento do espaço
morto pulmonar11
tornam a pessoa idosa mais vulnerável às infecções respiratórias.
Considerando as complicações respiratórias em clientes idosos no pós-operatório,
alguns autores sugerem que o local da cirurgia (próximo ao diafragma ou parede torácica),
doenças pulmonares pré-existentes e a idade são as principais causas de morbimortalidade
pós-operatória. Uma explicação para as alterações relacionadas à localização da cirurgia, “é a
diminuição da excursão respiratória devido à dor ou curativo compressivo”, ressaltam
Fernandes e Ruiz Neto (2002, p.462).
Nesse sentido, Stracieri (2008, p. 465) destaca que a dor no pós-operatório “dificulta a
mobilização ativa, restringe o esforço para a tosse produtiva, leva à hipoventilação e
compromete o estado geral do paciente”. Ainda, pode prejudicar a realização de inspirações
profundas, afirmam Renault e outros (2009).
A imobilidade no pós-operatório é outro fator considerado importante quando se trata
de complicações respiratórias, uma vez que provoca distúrbios na mecânica pulmonar,
podendo ocasionar doenças graves, tais como atelectasia e pneumonia hipostática. “A posição
deitada gera um acúmulo de líquido na base dos pulmões, que serve de cultura para a
proliferação de bactérias”, sustentam Cazeiro e Peres (2010, p.154).
A tecnologia avançada, o aumento da longevidade humana e o desenvolvimento
técnico-científico, contribuem para que um maior número de idosos busque tratamento
cirúrgico (LENARDT et al, 2010).
Os progressos nas técnicas de avaliação, de anestesia e as habilidades de monitorização
nos procedimentos cirúrgicos, permitem que o cliente idoso tolere bem uma cirurgia eletiva.
10 Processo pelo qual o oxigênio e o dióxido de carbono são permutados na interface ar-sangue (SMELTZER;
BARE, op. cit.). 11 Região entre a traquéia e os bronquíolos terminais, que não apresenta a função respiratória, mas somente a
função de condução de gases (FEREZ, s. d.).
26
Porém, ele tem menos reserva fisiológica12
do que o paciente jovem, para reagir a um trauma
cirúrgico. Entre os critérios para ótimos resultados após uma cirurgia em um cliente idoso,
encontram-se o histórico e tratamento pré-operatório criterioso e cuidados pós-operatórios
meticulosos e competentes (SMELTZER; BARE, 2009).
Desse modo, o aparelho respiratório do idoso exige especial atenção, desde o período
pré-operatório até o pós-operatório tardio com o objetivo de diminuir as complicações
associadas a esse sistema, motivo pelo qual constituir-se como foco de alguns estudos
(FERNANDES; RUIZ NETO, 2002). Dentre as mais frequentes estão: a atelectasia, a
pneumonia, a tromboembolia pulmonar e a falência respiratória (RODRIGUES; ÉVORA;
VICENTE, 2008, p.469).
Conforme ressaltam Lenardt e outros (2010), além de aumentarem a morbidade e a
mortalidade no pós-operatório, as complicações são, também, responsáveis pelo aumento no
custo do tratamento, no tempo de hospitalização e ainda tornam-se injúrias ao paciente idoso.
Faz-se necessário, portanto, o investimento em ações educativas/cuidativas no período
pré-operatório, a fim de prevenir ou minimizar as complicações respiratórias pós-cirúrgicas
que muitas vezes levam os idosos a grande sofrimento, como ventilação mecânica, longa
permanência em unidade de terapia intensiva (UTI) ou até mesmo à morte. Porém, muitas
vezes os clientes idosos alegam dificuldades para apreender as orientações e por isso preferem
que seus acompanhantes conversem com o enfermeiro durante a VPO. Os acompanhantes,
que em sua maioria são familiares e/ou têm envolvimento afetivo com o cliente, sentem o
peso dessa responsabilidade. Essa, muitas vezes, é imposta, estejam os acompanhantes
preparados ou não para tal missão.
Como destaca Pacheco (2004, p. 50), “Cuidar é um ato de amor, sem, contudo, cair
numa visão romântica ou ingênua de que o cuidador é responsável por tudo, que pode resolver
tudo e que esta missão é unicamente sua. Cuidar tem que ser um ato compartilhado”.
Assim, compete à equipe de enfermagem apoiar esses acompanhantes a fim de diminuir
as dificuldades por eles enfrentadas, compartilhando ações de cuidado. Ocorre que a
condução da entrevista realizada pela enfermeira no contexto da VPO se dá frequentemente
por meio de perguntas padronizadas, o que resulta, muitas vezes, em respostas nessa mesma
linha diretiva. Dessa feita, restringe, embora não impeça, uma abordagem dialógica que penso
permear as ações do cuidado de cunho relacional, cliente-enfermeira.
12 Capacidade de um órgão de retornar ao normal após um distúrbio em seu equilíbrio (SMELTZER; BARE,
op.cit.).
27
Nesse sentido, torna-se necessário e importante o diálogo com clientes cirúrgicos e
seus acompanhantes a fim de tranquilizá-los e prepará-los para o enfretamento do ato
cirúrgico e os cuidados que giram em torno do mesmo, partindo dos saberes e práticas que
eles trazem do seu cotidiano de vida comum. No entanto, habitualmente na assistência de
enfermagem, o acompanhante é pouco contemplado por nossas ações e quando estas são
realizadas, em geral ocorrem de forma prescritiva, verticalizada, autoritária, enfatizando
esclarecimentos sobre as rotinas administrativas e sobre a situação do cliente hospitalizado
(PRATA, 2006).
Assim sendo, tal postura precisa ser repensada, como aponta Coelho (2004), quando
afirma que considerar a família como coparticipante do processo de cuidar é fundamental,
pois, diante da necessidade de uma internação hospitalar, o profissional assume a
responsabilidade na promoção e manutenção da saúde do cliente, por um curto período,
quando comparado ao tempo em que a família assume o cuidado junto ao familiar até a sua
total recuperação.
Vários estudos reforçam a importância da presença do acompanhante do idoso, não só
pela companhia em si, mas também pela necessidade de que ele obtenha informações que
possam melhor orientá-lo no desempenho do papel de cuidador leigo (TEIXEIRA, 2008, p.
26-27). “A atividade de cuidar, realizada com a equipe de enfermagem no hospital, torna-o
um cliente e um parceiro da enfermagem” (PENA; DIOGO, 2005, p.664).
Concordo com Teixeira e Ferreira (2009b), quando destacam que a presença do
acompanhante do cliente idoso hospitalizado, assegurada pela Lei nº 8842 de 4 de janeiro de
1994, faz com que a enfermagem tenha de fato dois clientes: o próprio idoso e o
acompanhante. Assim sendo, a permanência do acompanhante do idoso hospitalizado merece
ser aproveitada, a fim de propiciar sua participação ativa no cuidado ao cliente.
No espaço educativo problematizador, pela crítica e reflexão das situações que se
apresentarem mediante a troca dos saberes e práticas dos acompanhantes com os do
enfermeiro, é possível construir um cuidado compartilhado, pelo qual o conhecimento se dá a
partir da experiência do sujeito em um processo de significação.
Nesta linha de pensamento, Teixeira e Ferreira (2009a, p. 758) ressaltam que ao
entendermos que o cuidado pode ser compartilhado, temos aí, inevitavelmente, um processo
dialógico permeando tal construção no encontro dos saberes – do senso comum e reificado –
que, por sua vez, envolve o encontro de culturas de conhecimento e prática. “Assim, este
conceito de cuidado abrange uma dimensão educativa que implica em mobilização de saberes
28
e afetos, importantes para uma prática solidária e ética para que possa ser verdadeiramente
compartilhada.”
Cabe, portanto, à enfermeira utilizar o período de hospitalização do idoso para
desenvolver ações educativas, de natureza dialógica, que permitam esse encontro de saberes,
no caso deste estudo, especialmente ações voltadas à prevenção de complicações respiratórias
pós-cirúrgicas. Por isso, a opção por desenvolver uma dissertação de mestrado que possa
convergir uma proposta de pesquisa e cuidado destinada a acessar saberes e práticas de
acompanhantes sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no
idoso, sendo esse o objeto do presente estudo.
2. Questões Norteadoras
Para elucidar o objeto deste estudo, foram delineadas as seguintes questões:
- Que saberes e práticas de acompanhantes podem subsidiar um plano de educação em
saúde no contexto da visita pré-operatória, voltado à prevenção de complicações respiratórias
pós-cirúrgicas de idosos?
- De que forma a integração de saberes e práticas de acompanhantes se fará presente
em um plano de cuidados voltado à prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas?
4. Objetivos
1- Descrever saberes e práticas de acompanhantes voltados à prevenção de complicações
respiratórias pós- cirúrgicas no idoso.
2 - Construir um plano de cuidados voltado à prevenção de complicações respiratórias pós-
cirúrgicas no idoso, a partir da integração de saberes e práticas de acompanhantes com os da
enfermeira-pesquisadora, no contexto da visita pré-operatória.
3 - Avaliar a efetividade do plano de cuidados implementado no pós-operatório.
5. Relevância e justificativa do estudo
Este estudo encontra-se ancorado na necessidade de reflexão e ação educativa do
enfermeiro junto ao acompanhante do idoso em situação cirúrgica, direcionadas para uma
visão crítico-reflexiva, permitindo ao acompanhante tornar-se sujeito ativo participante do
cuidado. Ao lidar com a situação de doença/cirurgia do cliente, dependente de seus cuidados,
vários questionamentos emergem do acompanhante e muitos desses revelam a necessidade de
apoio e orientação por parte da equipe de enfermagem.
29
Integrar o acompanhante efetivamente ao processo de cuidado hospitalar poderá
contribuir com o cuidado domiciliar, uma vez que a atual política hospitalar visa à diminuição
do tempo de internação. Assim, os acompanhantes estão assumindo precocemente o cuidado
ao idoso em pós-operatório.
Desse modo, é preciso enfatizar a importância fundamental da equipe de enfermagem
ampliar a sua visão, estendendo a sua ação para além do cliente, alcançando também, o
familiar, em seu planejamento e processo de cuidar, para que ele seja incluído e participe
efetivamente desse processo (...) (PENA; DIOGO, 2005).
Em se tratando do acompanhante de cliente idoso que irá se submeter a um
procedimento cirúrgico, a participação no cuidado ao cliente faz-se especialmente importante
uma vez que: “O período pré, trans e pós- operatório do paciente idoso é um tempo que requer
cuidados especiais, considerando a fragilidade imposta pela doença, envelhecimento e ainda
pela própria situação cirúrgica que provoca estresse físico e psicológico” (LENARDT et al,
2007, p.738-739).
Entendo que as ações básicas de cuidados direcionadas ao pós-operatório de clientes
cirúrgicos idosos podem contribuir com uma melhor recuperação desses, diminuindo ou
afastando os riscos de complicações respiratórias. Assim sendo, penso ser viável a construção
de ações educativas/cuidativas, conjuntamente com os acompanhantes, no contexto da VPO,
numa perspectiva de aliança de saberes, acessando os conhecimentos prévios dos
acompanhantes, conferindo-lhes a possibilidade de exercer autonomia no cuidado ao idoso no
período pós-operatório.
A relevância da VPO se faz presente por oportunizar contato prévio do cliente com a
enfermeira do CC. Em se tratando de idosos, essa necessidade torna-se ainda maior pela
probabilidade desses serem mais vulneráveis emocional e fisicamente, devido às
características próprias do processo de envelhecimento. Desse modo, a atenção deverá voltar-
se não só para eles, mas também, para seus acompanhantes.
No âmbito da VPO, o cliente é entrevistado conjuntamente com o acompanhante, caso
esse esteja presente. Ambos têm oportunidade de expor seus anseios em relação aos cuidados
perioperatórios e às possibilidades de complicações pós-operatórias, manifestar e tirar dúvidas
sobre a cirurgia e a equipe cirúrgica que a realizará, sobre a rotina do setor de internação
cirúrgica e do CC.
Outro aspecto que considero importante na VPO é o fato de ser realizada na unidade
de internação cirúrgica. Momento em que o enfermeiro não usa as vestimentas próprias do
30
centro cirúrgico, facilitando a comunicação face a face e, por sua vez, a efetividade da relação
entre profissional e cliente. Tal aspecto merece destaque quando propomos um cuidado
congruente pautado na veracidade das interações humanas.
Nesse sentido, Squassante (2007) destaca a importância de estudos que ampliem os
debates sobre o contexto hospitalar e as diferentes relações entre os atores sociais que
convivem nesse espaço, a fim de colaborar com propostas que favoreçam a comunicação
entre os sujeitos que aí interagem, no caso deste estudo, entre a equipe de enfermagem do CC
e o acompanhante do cliente idoso.
No caso da prevenção ou minimização das complicações respiratórias no pós-
operatório, acredito ser possível a inclusão do acompanhante no processo de cuidar,
considerando sua vivência anterior, o que viabiliza a educação problematizadora. “Valorizar o
cliente como sujeito da ação implica no conhecimento e no respeito sobre os seus modos de
viver e de se cuidar. Entendê-lo como protagonista requer trabalhar o grau de autonomia nas
suas decisões e escolhas” (MARTINS, 2010, p.26).
A abordagem dialógica proposta por Freire (2007) poderá envolver ativamente os
acompanhantes de idosos no contexto cirúrgico na construção do cuidado e, assim, tornar
menos sofrida a experiência cirúrgica, tanto para esses quanto para os clientes. Além disso, a
proposta de ações educativas poderá ser uma estratégia importante na redução de riscos de
complicações respiratórias no pós-operatório.
Na busca ativa à literatura disponível sobre ações educativas voltadas ao cliente idoso
e seu acompanhante no contexto hospitalar, constatei que a educação em saúde é um tema
bastante estudado, não só pela enfermagem, como também por outros profissionais. Essa
busca foi realizada nas bases de dados LILACS, BDENF, MEDLINE, IBECS,WHOLIS e
MEDCARIB através da BIREME, na SciELO-BR e no BANCO DE TESES DA CAPES, no
período de 1990 a 2010.
Foram utilizados os descritores (Decs) preconizados nas referidas bases, a partir das
palavras-chaves: educação em saúde, enfermagem, cuidados pré-operatório, complicações
pós-operatórias, idoso e acompanhante de paciente. Foi realizado o cruzamento entre eles
utilizando os operadores booleanos and/or e o refinamento para direcionar a busca à
enfermagem e ao assunto da pesquisa. O recurso “artigos relacionados” oferecido pelas bases
de dados LILACS e BDENF também foi utilizado. No Banco de Teses da CAPES, como não
há descritor preconizado e nem opção para refinamento, os resultados foram obtidos
digitando-se as palavras-chaves, uma por vez, dentro da única caixa existente.
31
Pelos resultados obtidos, constatei uma recorrência do assunto em vários contextos do
cuidado. No âmbito da educação em saúde voltada para pacientes hospitalizados, os estudos
encontrados são direcionados com maior frequência aos portadores de doenças crônicas não
transmissíveis e à família da criança hospitalizada, inclusive na produção stricto-sensu.
Nesse contexto, os trabalhos encontrados versam sobre: ações educativas em favor de
adultos portadores de doenças crônicas e de seus familiares acompanhantes; educação em
saúde voltada para a família/criança hospitalizada; conhecimento de puérperas sobre o
cuidado com o recém-nascido; estratégias de ensino aprendizagem direcionadas a várias
clientelas; dificuldades e estratégias de informação para cuidadores de idosos hospitalizados;
relação do analfabetismo com maiores agravos à saúde; avaliação de ação educativa junto a
clientes tabagistas internados; representações sociais de familiares de pacientes, alunos de
enfermagem e enfermeiros; conscientização como fundamento de educação em saúde;
educação continuada e passagem de plantão.
Os estudos classificados no assunto „educação em saúde‟, direcionados ao idoso
hospitalizado e seu acompanhante, abordam: ação sócio-educativa para o autocuidado da
pessoa adulta e idosa; ações educativas junto aos acompanhantes de idosos na perspectiva
problematizadora preconizada por Freire (2009); percepção do cliente sobre acompanhante de
adulto em UTI; interação e relação de poder entre a equipe de enfermagem e os
acompanhantes de adultos e idosos; estratégias de educação em saúde aos cuidadores leigos
(cartilha, manual); direitos dos idosos e familiares envolvendo a assistência de enfermagem.
Os estudos relacionados à VPO de enfermagem junto ao idoso versam, em sua
maioria, sobre diagnósticos de enfermagem no período pré-operatório. Os demais abordam:
percepções dos enfermeiros sobre a VPO; comunicação e orientação no pré-operatório; ação
educativa pré-operatória a pacientes laringectomizados; percepção do enfermeiro/cliente
sobre assistência perioperatória; cancelamento de cirurgia e sistematização da assistência de
enfermagem direcionada a grupos específicos de clientes.
Em relação ao assunto complicações pós-operatórias em idosos, foram selecionados
dois estudos. Ambos são dissertações de mestrado. Uma defendida na Universidade Federal
do Paraná e a outra na Universidade de São Paulo. A primeira se propôs a revelar os cuidados
gerontológicos de enfermagem ao idoso, diante das complicações cirúrgicas imediatas e
tardias, a segunda objetivou identificar fatores de risco de maior incidência nos períodos pré e
intraoperatórios e as complicações mais frequentes no período de recuperação pós-anestésica,
no cliente cirúrgico idoso.
32
No que tange à proposta deste estudo, que consiste em construir/implementar ações de
educação em saúde voltadas à prevenção de complicações respiratórias junto ao
acompanhante do cliente cirúrgico idoso, utilizando o momento da VPO de enfermagem,
nenhum estudo semelhante foi encontrado. Essa lacuna torna a proposta deste estudo,
sobremaneira relevante.
Considera-se a ação educativa exercida pelo enfermeiro junto ao acompanhante do
idoso, no contexto sinalizado fundamental para a recuperação da saúde do mesmo, como,
também, para o seu retorno ao convívio familiar e social. Em se tratando do cliente cirúrgico
idoso, o cuidado assumido pela família no domicílio se faz sobremaneira importante, uma vez
que o ideal é que, após a cirurgia, o cliente permaneça internado o mínimo de tempo possível,
minimizando, assim, os custos e os riscos de infecção hospitalar. Por isso, penso que este
estudo poderá contribuir com um melhor preparo desse cuidador, que assume precocemente a
responsabilidade de cuidar desse idoso recém-operado e assim beneficiar a ambos os clientes,
proporcionando uma recuperação mais tranquila e eficiente.
Poderá, também, indicar caminhos para a elaboração de uma estratégia educacional
para a formação do enfermeiro, de modo que a reflexão acerca da importância da orientação
para o cuidado ao cliente hospitalizado venha a influenciar em sua prática.
Na visão de Avelar e Silva (2005), o atual modelo de ensino no qual predomina a
compartimentalização e o cunho tecnicista, privilegia a deposição do saber, desfavorecendo a
agregação da dimensão ético-política ao processo de ensino e pouco contribui para a
formação do profissional crítico, criativo, reflexivo e competente.
Esta pesquisa se insere no Núcleo de Pesquisa de Fundamentos do Cuidado de
Enfermagem (NUCLEARTE), do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de
Enfermagem Anna Nery (EEAN). Considero este estudo relevante para a enfermagem
fundamental, pois se trata de proposta que enfoca procedimentos interativos próprios da
enfermagem, com a fundamentação centrada na integração de saberes populares e
profissionais. O cuidado trabalhado a partir dos saberes e práticas dos acompanhantes poderá
trazer novas elucidações e uma postura mais adequada, com possibilidade de maior adesão
dos mesmos no processo do cuidado, repercutindo diretamente na saúde do idoso que eles
acompanham.
Sendo assim, a pesquisa poderá contribuir com a ampliação do conhecimento da
enfermagem fundamental e, como consequência, para o fortalecimento da linha de pesquisa
33
que vem sendo desenvolvida pelo Nuclearte, qual seja: “Cuidados Fundamentais e
Tecnologias de Enfermagem”.
O próximo capítulo abordará as bases teórico-conceituais da pesquisa.
34
Capítulo I
Bases teórico-conceituais do estudo
35
CAPÍTULO I
BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS DO ESTUDO
1.1. A pedagogia freiriana aplicada à enfermagem
As bases teórico-conceituais adotadas neste estudo estão pautadas na pedagogia
problematizadora de Paulo Freire, teórico da Educação, professor, reconhecido
internacionalmente, por sua concepção de educação como prática da liberdade. O autor trata,
especialmente, da educação de adultos e seus trabalhos são marcados por uma reflexão
político-pedagógica.
Segundo o próprio Freire (1980) a pedagogia problematizadora fundamenta-se sobre a
criatividade e estimula uma ação e uma reflexão verdadeiras sobre a realidade, respondendo
assim à vocação dos homens que só são seres autênticos quando se comprometem na procura
e na transformação criadoras.
A pedagogia freiriana é de caráter autenticamente reflexivo, implica em um constante
ato de desvelamento da realidade. Apoia-se na valorização da experiência, na observação da
realidade e no diálogo entre os sujeitos envolvidos no processo educativo. Assim, enquanto a
pedagogia tradicional pretende manter a imersão, a freiriana, pelo contrário, busca a emersão
da consciência dos educandos, de que resulte sua inserção crítica na realidade (FREIRE,
2009, grifo do autor).
O processo ensino-aprendizagem, na abordagem da educação problematizadora, é
participativo, permeado pela ação-reflexão. Implica em não dar respostas prontas aos
educandos. Propõe a construção conjunta do conhecimento, com participação ativa de todos
os sujeitos envolvidos no processo educativo. Cabe ao educador o papel de facilitador desse
processo, orientando a discussão de caráter dialógico e problematizador, para propiciar aos
educandos os meios para a construção do novo conhecimento.
Assim, a concepção de problematização na perspectiva freiriana vai de encontro ao
modelo tradicional de educação denominada pelo autor de educação “bancária”, em que o
conhecimento é “depositado” nos educandos, numa relação verticalizada, acrítica e opressora
entre educador-educando. Pela problematização, os educandos são estimulados a refletirem
sobre o contexto no qual estão inseridos, a participarem ativamente do próprio processo de
ensino-aprendizagem, a desenvolverem o senso crítico e a buscarem a superação das
dificuldades na transformação da própria realidade.
36
Freire (2009, p. 80) considera que a problematização é desafiadora, e, quanto mais
problematizados e desafiados, mais os educandos desenvolvem a criticidade e se tornam
engajados no mundo:
Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo,
tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a
responder ao desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-
lo. Mas, precisamente, porque captam o desafio como um problema em suas
conexões com outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a
compreensão resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isso, cada vez
mais desalienada.
A grande preocupação de Paulo Freire está na educação para a decisão, para a
responsabilidade social e política. Sua pedagogia tem como idéia animadora “a educação
como prática da liberdade” e como método a “conscientização”. Weffort (2007, p.14) ao
tecer algumas considerações sobre a visão pedagógica e o método de ensino de Freire destaca
que “todo aprendizado deve encontrar-se intimamente associado à tomada de consciência da
situação real vivida pelo educando”.
Na abordagem da pedagogia problematizadora, essa tomada de consciência está
diretamente ligada à práxis, ou seja, à ação-reflexão. É no jogo dialético das relações homem-
mundo “que ocorre a tomada de consciência, por parte do homem, de sua ligação umbilical
com o mundo. É na ação, na práxis, no trabalho, que o homem toma consciência de si, do
mundo e dos outros” (OLIVEIRA; CARVALHO, 2007, p. 220).
O processo ensino-aprendizagem, desenvolvido pelo método da problematização, a
partir do diálogo crítico e horizontal, considerando os saberes e práticas dos educandos,
possibilita caminhar com eles na transitividade da consciência ingênua do conhecimento
(senso comum) para a consciência crítica, isto é, o conhecimento refletido, articulando-se a
consciência com a práxis.
De acordo com Freire (2010, p. 28), “O homem deve ser o sujeito de sua própria
educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém”. “Como tampouco
ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo
mundo”, afirma o autor (2009, p. 79).
Nessa forma de conceber a educação, como sujeito cognoscente, imerso no mundo e
com o mundo, o educando deixa de ser passivo frente ao objeto cognoscível e participa
ativamente do processo educativo, estabelecendo uma inter-relação educador/educando, em
que ambos se educam. “O objeto cognoscível deixa de ser propriedade do educador bancário,
para ser a incidência da reflexão sua e dos educandos” (p.80).
37
A prática dialógica permite o compartilhamento de saberes e práticas entre os sujeitos
envolvidos no processo educativo. Nele se considera o saber do educando, valorizando sua
cultura, suas crenças e seu contexto social, político e econômico. Para Freire (2000, p. 48), “a
curiosidade ingênua, de que resulta indiscutivelmente um saber, mesmo que metodicamente
desrigoroso, é a que caracteriza o senso comum. O saber de pura experiência feito”. Esses
saberes são socialmente construídos na prática comunitária e devem ser respeitados.
Os conceitos transportados da proposta educativa freiriana, como problematização,
prática dialógica, conscientização e saber da experiência feita, para o campo da educação em
saúde, enriquecem de forma significativa a prática educativa da enfermagem. Pela sua
magnitude, essa deve ser entendida como uma importante vertente à prevenção e na prática
deve estar preocupada com a melhoria das condições de vida e de saúde das populações
(OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).
Assim, a aplicação de tais conceitos contribui com a construção de um cuidado
compartilhado, pautado na problematização das situações advindas da realidade concreta dos
sujeitos, no caso em estudo, acompanhantes de clientes cirúrgicos idosos no pré e pós-
operatório.
Para o profissional de enfermagem que deseja atrelar as suas ações de cuidar-educar às
ideiasas freirianas, faz-se necessário desenvolver a humildade e a capacidade da escuta
sensível, sem a qual o processo dialógico torna-se inviável. Isso quer dizer que:
(...) não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo como se fôssemos os
portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é
escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e
criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise se falar
a ele (FREIRE, 2001, p. 127).
Seguindo esses princípios, a pedagogia problematizadora subsidiou os encontros entre
mim, pesquisadora, e os acompanhantes de clientes cirúrgicos idosos, buscando acessar
através do diálogo, da reflexão crítica e do compartilhamento de ideias, seus saberes e práticas
sobre a prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório, visando à construção de
um cuidado diferenciado, a partir de um elo entre esses saberes e práticas.
O diálogo é a essência da educação no pensamento freiriano, pois é através de seu
exercício que os sujeitos se comunicam, mediatizados por uma relação horizontal, que se
nutre de amor, humildade, esperança, fé e confiança. Para Alvim e Ferreira (2007), a teoria
freiriana inserida no cotidiano da prática educativa (cuidativa) da enfermagem possibilita,
pela crítica e reflexão, transformar ou reconstruir saberes populares advindos do senso
38
comum, ao mesmo tempo em que também permite aos enfermeiros se apropriarem do
conhecimento que vem deste universo.
Desse modo, no estudo em tela, pretendeu-se dar voz aos acompanhantes de clientes
cirúrgicos idosos, no âmbito da visita pré-operatória, por entender que:
A enfermeira, em sua prática assistencial mediatizada pelas idéias freirianas, pode se
considerar, junto com seu cliente, também uma aprendiz, no momento em que ela
visualiza o cuidado também como atividade de Educação em Saúde, não se
percebendo dona do cuidado, e não tendo uma atitude verticalizada no ato holístico
de cuidar (MIRANDA e BARROSO, 2004).
De acordo com Lopes, Anjos e Pinheiro (2009, p. 274), os usuários dos serviços de
saúde devem participar ativamente das ações de promoção e de educação em saúde, pois
reúnem condições para decidir sobre questões relacionadas ao seu bem-estar, “subsidiadas
pelas próprias experiências e pelas práticas educativas”.
Afinal, segundo a orientação teórica freiriana, a educação é compreendida como ato
coletivo, logo, não se caracteriza como ato impositivo, mas de troca entre pessoas que dela
participa. No modelo educativo inovador proposto por Freire, entende-se que o “cuidar e o
educar ocorrem na interação pessoa a pessoa, logo, ambos estão envolvidos na relação”
(COELHO, 2004, p. 30).
Nesse sentido, ao acessar os saberes e práticas de acompanhantes de clientes cirúrgicos
idosos, sobre a prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório, numa perspectiva
educativa de natureza compartilhada, considerou-se, sobremaneira, o contexto sócio-cultural
do cliente, “levando-se em conta as diferenças entre a cultura dos envolvidos no cuidado: a
profissional, advinda do saber técnico-científico; e a pessoal, cunhado ao saber leigo dos
clientes” (MARTINS, 2010).
Concordo com Miranda e Barroso (2007) que a educação só tem sentido se entendida
como intervenção na realidade e cuja interpretação dos problemas provoque uma atitude
capaz de produzir ação. Essa assertiva vem ao encontro da metodologia que foi utilizada nesta
pesquisa, a PCA, que será apresentada no capítulo a seguir, uma vez que esta se relaciona
estreitamente com a situação social, a fim de ocasionar mudança e introduzir inovações no
contexto a ser desenvolvida a pesquisa e o cuidado.
O próximo capítulo tratará da trajetória metodológica do estudo.
39
Capítulo II
A trajetória metodológica do estudo
40
CAPÍTULO II
A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO
2.1. Tipo de estudo e abordagem metodológica
A abordagem escolhida foi a qualitativa, devido ao fato de considerá-la a mais
apropriada para investigar o problema, uma vez que os resultados obtidos com essa
abordagem “respondem às questões centradas na experiência social e dão significado à vida
humana” (MCEWEN, 2009, p. 42). É, portanto, adequada à discussão de problemas que
surgem no dia-a-dia da prática de enfermagem.
Segundo Chizzotti (2003, p. 221), o termo qualitativo “implica na partilha densa com
pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os
significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível”.
A partir da imersão na realidade dos sujeitos, é possível perceber os dados subjetivos e
compreendê-los sob a ótica dos participantes, de modo que seus “aspectos dinâmicos,
holísticos e individuais” possam ser descritos em sua totalidade (POLIT; BECK; HUNGER,
2004, p. 30).
Foi utilizada a pesquisa de campo através do método de Pesquisa Convergente-
Assistencial (PCA), que de acordo com Trentini e Paim (2004, p. 28):
É aquela que mantém, durante todo o seu processo, uma estreita relação com a
situação social, com a intencionalidade de encontrar soluções para problemas,
realizar mudança e introduzir inovações na situação social; portanto este tipo de
pesquisa está comprometido com a melhoria direta do contexto social pesquisado. A
pesquisa convergente-assistencial inclui uma variedade de métodos e técnicas pelo
fato de que, além de obter informações, o pesquisador envolve os sujeitos
pesquisados ativamente no processo.
A ideia dessa abordagem metodológica surgiu da inquietação de algumas enfermeiras
ao constatar o distanciamento existente entre os processos de investigação e os da prática
assistencial (PAIM et al, 2008, p. 381). A característica principal da PCA consiste na
propriedade de articulação da pesquisa com a prática assistencial. Ela une o saber-pensar ao
saber-fazer, ou seja, o profissional, pensa, fazendo, e faz, pensando (TRENTINI;
BELTRAME, 2006, p.159).
Esse posicionamento das autoras me fez refletir sobre o fato de que, mesmo diante de
longa trajetória como enfermeira assistencial, atuando em um hospital universitário de grande
porte, mantive-me distante do campo da pesquisa. Penso, no entanto, que a PCA, ao unir os
41
processos de investigação à prática assistencial, tende a diminuir esse distanciamento, quando
oportuniza aos profissionais que atuam na assistência, a se lançarem também no universo
investigativo.
A PCA é sustentada pelos seguintes pressupostos:
O contexto da prática assistencial suscita inovação, alternativas de solução para
minimizar ou solucionar problemas, realização de mudanças e/ou introdução de
inovações no contexto da prática em que ocorre a investigação.
O contexto da prática assistencial é potencialmente um campo fértil de questões
abertas a estudos de pesquisa.
A relação entre pesquisa e assistência enriquece o trabalho vivo no campo da
assistência e da investigação científica.
A PCA implica no compromisso de beneficiar o contexto assistencial durante o
processo investigativo, ao mesmo tempo em que se beneficia com o acesso às
informações que advém desse contexto.
O profissional de saúde é um pesquisador de questões com as quais lida no cotidiano, o que lhe possibilita uma atitude crítica apropriada à crescente dimensão
intelectual no trabalho que realiza (TRENTINI; PAIM, 2004)
Essa modalidade de pesquisa se configura como um instrumento tipificado na imersão
do pesquisador na prática assistencial beneficiando o sujeito da pesquisa em tempo real, o que
a torna aliada ao processo de humanização da assistência à saúde.
A PCA se desenvolve seguindo critérios de: essencialidade - os processos de prática
assistencial e pesquisa caminham juntos; conectividade - o compromisso entre o pesquisador
e a equipe assistencial na reconstrução do nexo “pensar e fazer”; interfacialidade - a produção
de mudanças tanto na prática assistencial quanto na pesquisa, uma alimentando a outra;
imersibilidade - a inserção do pesquisador em ações da assistência, visando à construção de
mudanças compartilhadas e apropriadas a novos conhecimentos (PAIM et al, 2008).
2.2. Trajetória da pesquisa convergente-assistencial
Trentini e Paim (2004) recomendam que o processo de investigação siga algumas fases
para evitar que o foco da pesquisa seja desviado ao longo de sua trajetória. Essas fases,
segundo as autoras, são: concepção, instrumentação, perscrutação, análise e interpretação.
2.2.1. Fase de Concepção
É a primeira etapa do projeto de pesquisa. Corresponde à fase de elaboração do projeto
que inclui desde a escolha da área de interesse do estudo, definição do tema, revisão
bibliográfica sobre o assunto, identificação da situação problema, elaboração da(s)
questão(ões) norteadoras, objeto e objetivos até a definição do referencial teórico que guiará
42
os passos da investigação. Vale ressaltar que na PCA o tema deve emergir das necessidades
da prática profissional (TRENTINI; BELTRAME, 2006).
A escolha do tema em tela ocorreu a partir de minha atuação profissional no âmbito da
visita pré-operatória e no centro cirúrgico, junto ao cliente em situações cirúrgicas, em
especial, o idoso e seu acompanhante. Além disso, minha experiência com o PROFAE e a
aproximação com as leituras de Paulo Freire que subsidiaram a proposta educativa
desenvolvida neste programa, motivaram a elaboração da presente dissertação, utilizando-o
como referencial.
2.2.2. Fase de instrumentação
É nessa fase que são delineados os procedimentos metodológicos que indicarão o
caminho a percorrer durante o processo de investigação. Esses procedimentos incluem: a
escolha do espaço da pesquisa, a escolha dos participantes e das técnicas para a obtenção e
análise das informações.
a) O espaço da pesquisa
A pesquisa foi realizada nos setores 9B e 10D do Hospital Universitário Clementino
Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF/UFRJ). Esses setores são
unidades de internação cirúrgica, onde se internam os clientes de ambos os sexos, que irão se
submeter à cirurgia, dentro das especialidades denominadas cirurgia geral e urologia, como
herniorrafia, colecistectomia, ressecção transuretral (RTU) de próstata e nefrectomia, entre
outras. Os Serviços de Cirurgia Geral e Urologia são vinculados ao Departamento de Cirurgia.
Os dados foram produzidos na clínica cirúrgica em razão de ser o local de entrada do
cliente que será submetido à cirurgia e para onde ele deverá retornar após o ato cirúrgico, caso
não haja indicação de encaminhamento ao CTI, seja por intercorrências da cirurgia, seja por
rotina do setor, na dependência do tipo da intervenção e/ou situação clínica do cliente
previamente detectada.
Optei por esse cenário, por fazer parte do corpo social dessa instituição desde 1985,
onde atuei nos setores de clínica médica e centro cirúrgico, tendo a oportunidade de realizar a
visita pré-operatória de enfermagem nas enfermarias de clínica cirúrgica, de onde emergiu o
objeto desta investigação. Além disso, em atendimento aos preceitos da PCA que inclui a
possibilidade de propor mudanças no campo assistencial. Portanto, em sendo parte desse
contexto, como enfermeira, pretendo com o desenvolvimento desta pesquisa contribuir
43
efetivamente com novas ações de cuidar no campo educativo-cuidativo, que contemplem
tanto o cenário assistencial quanto os clientes aí incluídos- os acompanhantes.
O HUCCF é referência no tratamento de diversas patologias de alta complexidade.
Realizando procedimentos inéditos e estudos pioneiros em parceria com entidades nacionais e
internacionais, é hoje um centro de excelência em ensino, pesquisa e extensão. Localizado em
um prédio de 110.000 m² na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, com 328 leitos em todas as
especialidades médicas e 21 salas de cirurgias, o HUCFF conta com um efetivo de mais de
3000 profissionais, entre professores, enfermeiros, médicos e administrativos, funcionando há
mais de três décadas como um importante laboratório para a formação de especialistas,
através de sua residência médica, uma das mais disputadas do país. É vinculado ao Ministério
da Educação e ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre os objetivos dessa instituição destacam-se: atuar como hospital de nível
terciário, inserido no sistema de referência e contrarreferência do SUS e do Sistema
Suplementar; servir de campo de treinamento para o ensino de graduação das profissões de
saúde no que se refere à assistência de média e alta complexidade; propiciar a realização de
cursos de pós-graduação e de especialização das unidades docentes, enfatizando os programas
de Residência Médica e Residência Multiprofissional, atividades educacionais de
responsabilidade do HUCFF e propiciar um ambiente de estímulo à pesquisa, dando ênfase à
integração nos diversos setores de ciências da saúde.
O Serviço de Cirurgia Geral está direcionado para quatro grandes áreas cirúrgicas:
esôfago e estômago, pâncreas e vias biliares, fígado, baço e hipertensão porta, cirurgia
endócrina e cirurgia bariátrica. Em todas essas áreas, são realizados procedimentos por
vídeocirurgia13
. Desenvolve, também, programas de transplantes de fígado, rim e pâncreas.
Essa especialidade possui no total 19 leitos, sendo 9 masculinos, 9 femininos e 1 leito que se
alterna entre masculino/feminino14
, realizando de janeiro a outubro/2010 784 cirurgias, entre
procedimentos eletivos e de emergência. Dentre as cirurgias mais realizadas nesse período,
estão herniorrafia inguinal e umbilical, colecistectomia, laparotomia exploradora e
tireoidectomia.
O Serviço de Urologia atua principalmente nas áreas cirúrgicas direcionadas para:
próstata, bexiga e rim. Realiza procedimentos vídeolaparoscópicos e desenvolve o programa
de transplante renal. Essa especialidade possui 8 leitos, sendo 6 masculinos e 2 femininos e
13 Informações obtidas na página eletrônica do HUCFF/UFRJ. Disponível em: < http://www.hucff.ufrj.br>.
Acesso em: 02 out. 2010. 14 Em virtude do número total de leitos ser ímpar, no quarto que possui apenas um leito, faz-se alternância de
gênero na programação de cirurgias. Informação obtida junto à Secretaria da Cirurgia Geral do HUCFF.
44
realizou de janeiro a outubro/2010 311 cirurgias, entre procedimentos eletivos e de
emergência. Dentre as cirurgias mais realizadas durante esse período encontram-se: RTU de
próstata e bexiga, nefrectomia e prostatectomia radical.
O setor 9B, um dos espaços onde o estudo foi desenvolvido, possui três enfermarias,
cada qual com seis leitos, dois quartos com um leito cada um, sendo um quarto para
isolamento e uma enfermaria com sete leitos, totalizando vinte e sete leitos. O setor 10D,
outro local onde a pesquisa aconteceu, possui quatro enfermarias, cada qual com seis leitos e
dois quartos com um leito cada um, somando vinte e seis leitos.
Em todas as enfermarias, a unidade do paciente é composta pelo leito, mesa de
cabeceira, mesa para alimentação, criado-mudo e uma cadeira. Cabe ressaltar que a cadeira é
para uso do paciente. Nas enfermarias onde o acompanhante está presente, a mesma cadeira é
usada por esse e pelo paciente, sendo que a prioridade de uso é do paciente. O número de
cadeiras reclináveis e acolchoadas é pequeno, sendo apenas duas, no momento.
A equipe de enfermagem é composta por 02 enfermeiras, dessas, 01 é a chefe do setor
e 01 é líder de equipe, mais 03 auxiliares/técnicos de enfermagem. Esses números
correspondem ao período diurno, em um plantão de 12 horas. A gerente de setor é diarista, ou
seja, está presente de segunda à sexta-feira no período das 7 às 16 horas. As enfermeiras
líderes de equipe são plantonistas. Nessas categorias há funcionários concursados e
temporários. Esse aspecto é importante relatar, pois isso influencia na distribuição dos
plantões. Os concursados têm uma escala mensal distribuída em plantões de 12 horas de
trabalho com 60 horas de descanso e folga. Os temporários seguem uma escala de 12 horas de
trabalho com 36 horas de descanso e folga.
No tocante à cultura organizacional do cuidado, o atendimento ao cliente se dá na
modalidade do cuidado integral, ou seja, o auxiliar/técnico de enfermagem escalado a
desenvolver suas atividades em uma enfermaria é responsável pelo cliente em sua totalidade.
Nessa modalidade, esse profissional se responsabiliza pelos cuidados de conforto, higiene,
alimentação e administração de medicamentos.
No que diz respeito à atuação das enfermeiras, essa se dá da seguinte forma: setenta
por cento das atividades das enfermeiras líderes de equipe se caracterizam por atividades
assistenciais e os demais trinta por cento por atividades administrativas. Já para a enfermeira
chefe de setor, essa relação é inversa, ou seja, setenta por cento das atividades são
administrativas e trinta por cento assistenciais (SERVIÇO DE DESENVOLVIMENTO,
HUCFF, 2001).
45
b) A escolha dos participantes
Os participantes do estudo foram os acompanhantes (consanguíneos ou não) de
clientes idosos internados para se submeterem à cirurgia de Colecistectomia Convencional e
Laparoscópica, Herniorrafia Inguinal e Umbilical, Ressecção Transuretral de Próstata e
cirurgia de RTU de bexiga.
Os critérios de inclusão dos participantes da pesquisa foram: aceitarem participar da
pesquisa mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE);
serem o mesmo acompanhante de cliente idoso nos períodos pré e pós-operatório, respeitadas
as seguintes especificidades desse cliente: internado antes ou no mesmo dia previsto para a
cirurgia, submetido à anestesia geral, raquianestesia ou anestesia peridural e que não tiveram
como protocolo ser encaminhado ao Centro de Tratamento Intensivo (CTI) no pós-operatório.
Foram excluídos do estudo os acompanhantes que se recusaram a participar da
pesquisa ou de assinar o TCLE, que não fossem os mesmos nos períodos pré e pós-operatório
e que tiveram previsão de cirurgia sob anestesia local.
c) As técnicas para a produção de dados
Foram utilizadas as seguintes técnicas: entrevista semiestruturada e observação
participante.
→ Entrevista semiestruturada
O roteiro de entrevista constou de dados sobre identificação e perfil sociocultural do
acompanhante e cliente idoso (APÊNDICE A e APÊNDICE B). Além de questionário que os
identificou, outros relativos à condução do diálogo que permitiu problematizar as situações
inerentes ao foco da pesquisa (APÊNDICE C).
→ Observação participante
De acordo com Trentini e Paim (2004, p. 80), são momentos em que o pesquisador
não só registra as atividades desenvolvidas e descreve o comportamento dos sujeitos, como
também ele se insere no desenvolvimento das atividades, engajando-se naquela situação. Essa
técnica, portanto, “constitui a parte fundamental na pesquisa de campo” (APÊNDICE D).
A observação participante foi realizada por mim junto a todas as acompanhantes, no
período pós-operatório imediato15
do CI, na fase de implementação do plano de cuidados
compartilhado, proposta pelo estudo. Com cinco sujeitos, a observação foi estendida ao pós- 15 Período que corresponde às primeiras 24h após a cirurgia (MS, 2003)
46
operatório mediato16
, uma vez que os CI não receberam alta hospitalar no dia seguinte à
cirurgia, como ocorreu com os demais.
2.2.3. Fase de perscrutação
É o momento em que são traçadas as estratégias que viabilizarão a obtenção de
informações para o desenvolvimento da pesquisa. Estratégias essas, que nascem da
criatividade, experiência e conhecimento do pesquisador em relação ao assunto, numa
abordagem que inclui respeito à compatibilidade de recursos e adequação aos próprios
métodos. Tais estratégias, no entanto, podem não ser cumpridas conforme definidas no
projeto, sendo redefinidas de acordo com as necessidades do processo de produção de dados,
desde que tenham “intencionalidade, limites e possibilidades criteriosamente explicitados e
controlados” (TRENTINI; PAIM 2004, p. 85).
→ Etapas para a Produção de Dados
Minha experiência com a clientela da instituição, cenário do estudo, e, principalmente,
em se tratando de acompanhantes de idosos, levou-me a pensar que os dados para a pesquisa
seriam produzidos junto a pessoas de baixo poder aquisitivo e com pouca escolaridade, o que
se confirmou pela caracterização dos sujeitos, salvo raras exceções. Assim, considerei a
possibilidade das acompanhantes se sentirem inibidas diante da profissional de nível sócio-
cultural diferente, podendo tal aspecto criar obstáculos à comunicação, prejudicando a
efetividade do diálogo.
Dessa forma, em respeito aos educandos (acompanhantes de idosos) e para não
caracterizar relação opressor-oprimido, desenvolvi algumas estratégias, para que tanto as
acompanhantes quanto os clientes idosos se sentissem o mais à vontade possível na relação
estabelecida comigo. Inicialmente, tomei alguns cuidados relativos à minha apresentação
pessoal: optei pelo uso de roupas simples, sapatos sem salto, unhas discretamente pintadas,
sem maquiagem, e, principalmente, escuta sensível e um largo sorriso.
Preparei o ambiente para a realização das entrevistas. Disponibilizei poltrona para
acomodação mais confortável das acompanhantes e cadeira para mim. Sentamos frente a
frente, ao lado do leito do cliente idoso, para não afastar os acompanhantes dos familiares
acompanhados e gerar ou aumentar a ansiedade que, via de regra, permeia o ato cirúrgico.
Mantive, durante as entrevistas, o rosto ao mesmo nível do rosto das acompanhantes, na
16 Período que corresponde de 24h até sete dias depois da cirurgia (MS, 2003)
47
intenção de reafirmar a minha postura de horizontalidade na relação através da atitude
corporal.
As entrevistas fluíram num clima de cumplicidade entre pesquisadora-sujeito,
permeada por momentos de descontração e risos, o que, a meu ver, demonstra que as
acompanhantes estavam à vontade e integradas ao processo educativo como sujeitos ativos e
participantes, conforme preconizado por Freire.
As acompanhantes trouxeram para a discussão assuntos diversos que as preocupavam,
pertencentes ou não ao contexto perioperatório. Falaram espontaneamente sobre detalhes da
vida pessoal e se interessaram em me conhecer melhor. Assim, presumo que foi estabelecida
uma relação de confiança entre pesquisadora e sujeitos da pesquisa, a partir do diálogo
imbuído de amor, humildade e respeito aos educandos-acompanhantes, viabilizando o
processo de educação em saúde.
Em conformidade com a proposta metodológica da PCA, a pesquisa foi desenvolvida
em cinco etapas subsequentes e inter-relacionadas, realizadas no período de março a julho de
2011, nos turnos manhã, tarde e noite, em todos os dias da semana, de acordo com a demanda
de sujeitos e disponibilidade da pesquisadora.
A primeira etapa ocorreu após o primeiro contato com os sujeitos com vistas à
divulgação e convite para a participação no estudo. Com aqueles incluídos na pesquisa que
aceitaram participar do estudo, foi realizada entrevista individualmente, na enfermaria onde o
idoso encontrava-se internado. Os sujeitos responderam a questionário com dados sobre
identificação e perfil sociocultural (APÊNDICE A e APÊNDICE B).
A decisão de incluir os dados dos idosos nessa caracterização, além de seus
acompanhantes se deu pela necessidade de ter acesso a algumas informações que poderiam
facilitar o processo de educação em saúde e a construção-implementação do plano de
cuidados. Esta etapa durou em média 24 minutos.
Para Freire (1994), faz-se necessário a imersão na realidade dos sujeitos, a fim de
melhor compreender seus saberes e suas práticas. O autor também indica que seja feito um
levantamento do universo vocabular dos grupos com os quais trocamos experiências.
Uma vez que a metodologia da PCA não se restringe à aplicação em grupos, podendo
ser desenvolvida de forma individual junto aos sujeitos, optei por essa forma de abordagem,
por entender que a formação de grupos demandaria mais tempo e afastaria o acompanhante do
cliente idoso. Isso poderia causar preocupação a ambos os clientes e interferir na qualidade da
participação dos sujeitos na discussão.
48
A seguir, na segunda etapa, logo após o preenchimento do questionário, foi realizada
discussão com os sujeitos para levantamento de conhecimentos e experiências prévias a fim
de permitir a definição de prioridades e de situações-problema a serem abordadas
individualmente. Para isso, foi utilizado um roteiro de entrevista com questões-chaves para
orientar a discussão (APÊNDICE C). É importante destacar que foi feito um aquecimento
sobre o tema antes do início da entrevista, a fim de promover uma estimulação dos sujeitos
acerca do que seria discutido.
Nesse aquecimento, as acompanhantes falaram sobre experiências prévias com elas
próprias ou com familiares acerca de internações, acompanhamentos hospitalares,
procedimentos cirúrgicos e de anestesia. As experiências relatadas foram utilizadas durante a
problematização, sendo feitas associações do que foi vivenciado com a problemática
discutida.
A discussão havida nessa segunda etapa foi desenvolvida com base no
compartilhamento dos saberes e práticas dos sujeitos e da pesquisadora, através do processo
de problematização. Para efeito de facilitação da discussão, foram utilizadas fotos sobre a
temática (Figuras 1, 2 e 3) e uma bola de soprar (bexiga) acoplada a uma seringa de 20 ml,
para simular os movimentos de expansão/retração pulmonar (Figura 4), que auxiliaram no
processo de educar-cuidar. Ressalta-se que a utilização desses materiais não teve um
propósito prescritivo, mas de contribuir com a discussão que teve um caráter problematizador.
Na sequência, a terceira etapa ocorreu como fruto do processo de discussão,
considerando os saberes acadêmicos da pesquisadora e aqueles próprios dos acompanhantes.
Essa etapa consistiu na elaboração de um plano de cuidados compartilhado a ser desenvolvido
pelo sujeito no pós-operatório imediato do idoso, visando à prevenção ou minimização de
complicações respiratórias pós-cirúrgicas. “Acreditamos que a construção compartilhada do
conhecimento é uma estratégia através da qual podemos alcançar a promoção da saúde”
(RIOS et al, 2007, p. 505). A segunda e terceira etapas juntas, realizadas com cada sujeito,
duraram em média 32 minutos.
Participaram da primeira, segunda e terceira etapas de produção de dados dezoito (18)
acompanhantes, sendo que quatro (04) clientes idosos tiveram as cirurgias suspensas: dois
(02) por motivos relacionados ao próprio cliente e dois (02) por problemas relacionados ao
centro cirúrgico. Essas quatro (04) acompanhantes foram excluídas do estudo. Desse modo,
foram consideradas como sujeitos do estudo, as quatorze (14) acompanhantes que
participaram de todas as etapas.
49
A quarta etapa, fase de implementação do plano de cuidados no pós-operatório
imediato, aconteceu de duas formas distintas: no dia seguinte ao procedimento, quando o CI
internou na véspera da cirurgia (7- 50%) ou, no mesmo dia, quando o CI internou no dia em
que a cirurgia estava programada (7 - 50%). Nessa etapa, foi observado pela pesquisadora o
conjunto de atividades e procedimentos que foram realizados pelo acompanhante junto ao
idoso. Foi, também, foco de atenção da pesquisadora a forma de agir do acompanhante, de se
relacionar com o idoso e de conduzir o cuidado (dificuldades, dúvidas e facilidades nesse
processo), bem como, observar o grau de autonomia do acompanhante no cuidado
(APÊNDICE D).
A observação foi realizada em diversos turnos, pela manhã, à tarde e à noite, em função
dos horários em que as cirurgias eram realizadas. Todas as 14 acompanhantes foram
observadas no pós-operatório imediato do cliente idoso. Dessas, 05 também foram observadas
no pós-operatório mediato, em virtude do cliente idoso ter recebido alta mais tardiamente. As
observações tiveram em média 3h de duração, totalizando 42h.
Vale destacar a importância da colaboração da equipe de enfermagem que atua no
cenário da pesquisa nessa fase de desenvolvimento do estudo, contribuindo com a observação
do cuidado implementado pelo acompanhante, discutindo e dialogando com a pesquisadora
sobre os caminhos pertinentes à construção e efetividade desse cuidado, bem como sua
continuidade no ambiente domiciliar. Também foi valiosa a participação da enfermeira do CC
que realizava a VPO, auxiliando na captação de sujeitos.
Para finalizar, a quinta etapa foi desenvolvida no dia seguinte à realização da cirurgia,
após a implementação do plano de cuidados no pós-operatório imediato pelas acompanhantes.
Essa etapa, também desenvolvida no pós-operatório imediato, foi destinada à avaliação das
atividades, em que os sujeitos foram convidados a tecer considerações sobre todo o processo.
A discussão com vistas à referida avaliação foi conduzida a partir de roteiro de
entrevista semiestruturada (APÊNDICE E), de modo que a conversação fosse estimulada.
Essa etapa teve o objetivo de avaliar o método educativo crítico-reflexivo e trazer o feedback
das atividades desenvolvidas junto aos sujeitos. As entrevistas duraram em média 10 minutos.
Para o registro das entrevistas, tanto na segunda quanto na quinta etapas, foi utilizado
gravador de voz eletrônica. Para o registro da observação participante, foi utilizado diário de
campo com apoio de um roteiro de observação, sendo feita a descrição detalhada do que
ocorreu no cenário, ou seja, descrição do comportamento dos sujeitos, dos eventos, das
50
atividades e de uma parte reflexiva que incluiu as observações pessoais do pesquisador que
foram realizadas durante a fase de produção dos dados (APÊNDICE D).
Durante a etapa de produção de dados, contei com o auxílio de uma bolsista de
Iniciação Científica da EEAN/UFRJ, vinculada ao grupo de pesquisa o qual integro17
, que
colaborou na transcrição e digitação das entrevistas.
Segue a síntese das etapas de produção de dados da pesquisa (Quadro nº 1).
Quadro nº 1: Síntese das etapas de produção de dados da pesquisa
ETAPAS
FINALIDADE
ESTRATÉGIA
1ª Etapa
Convite para a participação na pesquisa
Entrevista de caracterização A e CI
2ª Etapa
Levantamento de conhecimentos prévios
dos sujeitos
Entrevista dialogada
3ª Etapa
Construção do plano de cuidados
Uso de instrumentos facilitadores
do processo educativo
4ª Etapa
Implementação do plano de cuidados
Observação participante
5ª Etapa
Avaliação/ feedback de todo o processo
Entrevista dialogada
2.2.4. Fase de Análise
Penúltima fase da pesquisa. Os métodos de análise para a PCA são diversificados. No
entanto, em qualquer tipo de pesquisa qualitativa, a análise das informações consta de quatro
processos genéricos: apreensão, síntese, teorização e recontextualização, que ocorrem de
maneira mais ou menos sequencial (MORSE; FIELD, 1995)
Os depoimentos foram transcritos na íntegra e mantidos os discursos originais dos
sujeitos, com signos ortográficos que sinalizam as pausas, os silêncios, as entonações, entre
outras características do discurso verbal. Foram registradas, também, as emoções próprias aos
discursos espontâneos como risos, choros, entre outras. Todo esse cuidado teve como
propósito a constituição do “corpus” qualitativo da pesquisa.
17 Grupo de Pesquisa denominado “Intermediação de Saberes e Práticas no Cuidado à Saúde” vinculado ao
NUCLEARTE/DEF/EEAN/UFRJ, cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq, liderado pela Profª
Drª Neide Aparecida Titonelli Alvim.
51
Para análise do material discursivo, foi aplicada a técnica de análise de conteúdo
temática, segundo Bardin (2010), sendo a fase de categorização realizada por análise temática,
adotando-se o procedimento por “milha”. Nessa técnica, as categorias não são determinadas a
priori, emergindo das falas dos sujeitos.
Primeiramente, foi feita a leitura flutuante de todo o material na busca do delineamento
empírico da pesquisa. O segundo procedimento foi da pré-análise, com vistas à captação dos
grandes temas de maior significância, presente nas falas dos sujeitos. Após essa fase, ocorreu
a classificação temática, com vistas à seleção dos temas de maior incidência e, ainda, foi
buscada a confluência dos mesmos nos discursos dos sujeitos, ou seja, foram selecionados
aqueles que tiveram maior frequência de aparição no conjunto das falas da maioria dos
sujeitos da pesquisa.
Por último, os temas formaram as categorias temáticas e os conteúdos das mensagens
foram analisados de acordo com o contexto no qual essas foram produzidas, à luz dos
conceitos teóricos que serviram de alicerce conceitual para a pesquisa. Desses processos,
emergiram quatro capítulos de análise com suas respectivas categorias, a saber:
Capítulo IV – Saberes e práticas de acompanhantes de idosos sobre complicações
respiratórias pós- cirúrgicas no idoso
4.1. Principais causas de complicações respiratórias no pós-operatório do cliente idoso
problematizadas no diálogo com os acompanhantes
4.2. Fontes de informação e de aprendizagem acerca dos cuidados fundamentais
evidenciados pelos acompanhantes de idosos sobre a prevenção de complicações
respiratórias pós-cirúrgicas
Capítulo V- Construindo o plano de cuidados no diálogo com acompanhantes com vistas à
prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório de idosos
Capítulo VI – Implementação do plano de cuidados compartilhado e sua efetividade
Capítulo VII- Avaliação do plano de cuidados compartilhado
7.1. Avaliação dos acompanhantes sobre o plano de cuidados compartilhado e sua
implementação
7.2. Avaliação da enfermeira-pesquisadora sobre a experiência implementada: os desafios da
assistência que se apresentam à equipe de enfermagem no hospital
2.2.5. Fase de interpretação
Última fase da PCA. Compreende três processos fundamentais correspondentes à
lógica da análise de seus achados, discriminados como síntese, teorização e transferência. O
52
processo de síntese é a parte da análise que examina de forma subjetiva as associações e
variações das informações. Na fase da teorização, o pesquisador desenvolve um esquema
teórico, a partir das relações reconhecidas durante o processo de síntese e no processo de
transferência dos resultados consistindo na possibilidade de concessão de significados a
determinados achados ou descoberta e a procura pela contextualização em situações similares,
sem que tenha o poder de generalização, socializando, portanto, os resultados singulares.
Na PCA, como em qualquer trabalho acadêmico, é necessário que haja rigor científico,
que se traduz pela fidelidade aos princípios da pesquisa em tela. Para conferir credibilidade ao
estudo, foram pré-estabelecidos alguns critérios a serem seguidos como: transparência,
fidelidade, representatividade dos dados, relato detalhado do processo de obtenção das
informações e do processo de análise, clareza na trajetória da construção do fenômeno,
descrição detalhada de todos os momentos da pesquisa, não mostrar verdades acabadas,
associação entre teoria e prática e as mudanças ocorridas na prática assistencial durante o
processo de pesquisa, entre outros.
2.3. Aspectos éticos
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do HUCFF/UFRJ,
sob o no 186/10 (ANEXO B). As precauções éticas implicadas na pesquisa com seres
humanos foram garantidas em atendimento ao disposto na Resolução nº 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde/Ministério da Saúde.
A fim de garantir a autonomia dos sujeitos, os mesmos assinaram um TCLE, após
terem sido devidamente esclarecidos quanto aos aspectos éticos relacionados aos objetivos e
rumos da pesquisa, bem como às formas de produção de dados e inserção no estudo, que
também constaram no termo escrito (APÊNDICE F).
Assim, os sujeitos foram informados sobre a voluntariedade de sua participação,
garantia de anonimato, possibilidade de desistência em qualquer momento da pesquisa, riscos
e benefícios. Em nenhum momento foi divulgado os nomes dos participantes da pesquisa,
conforme acordado no TCLE. A identificação foi feita por código alfa-numérico. Assim, os
acompanhantes foram identificados pela letra A. Após cada letra inserida no texto, foram
agregados números arábicos sequenciais, de acordo com a ordem dos participantes na fase de
produção dos dados. O cliente idoso foi identificado com as letras „CI‟.
Foi frisado que a participação era voluntária e que em qualquer instante o sujeito
poderia retirar seu consentimento sem prejuízos a ele e ao idoso que acompanhava. Também
foi esclarecido que o indivíduo não teria custos ou compensações financeiras ou de outra
53
natureza, nem haveria riscos de natureza física, mental ou moral. Após a assinatura do TCLE
os sujeitos receberam uma cópia do mesmo. Os dados da pesquisa serão arquivados pela
pesquisadora por cinco anos.
Vale salientar, ainda, que embora os sujeitos tenham se constituído de acompanhantes
de idosos em situações cirúrgicas, a presença desses idosos não foi ignorada pela enfermeira-
pesquisadora. Portanto, sempre quando requerida ou necessária sua participação, eles eram
inseridos no diálogo e no cuidado. O mesmo se deu em relação à equipe de enfermagem,
emergindo aí, a convergência da pesquisa com a assistência.
2.4. Dificuldades para realização do estudo
A instituição hospitalar, cenário da pesquisa, durante o desenvolvimento do estudo
apresentou problemas estruturais em uma de suas alas, sendo necessário seu fechamento para
implosão da parte afetada. Isso refletiu no trabalho do CEP que levou noventa dias para
liberar o projeto.
As dificuldades encontradas durante a produção de dados se deram por conta da
necessidade de que o acompanhante fosse o mesmo no pré e pós-operatório do idoso, para que
todas as fases da PCA fossem contempladas. Ao reabrir após a implosão, o primeiro obstáculo
foi a redução drástica do número de cirurgias. O segundo obstáculo foi o recorrente
fechamento do CC durante algumas semanas, no período da produção de dados. Além disso,
no retorno das atividades do CC, houve suspensões de cirurgias, por motivos ligados aos
clientes, ou por problemas referentes ao setor. Afora tais aspectos mencionados, por
problemas operacionais do CC, alguns idosos foram internados sem acompanhante em tempo
integral.
Tudo isso fez com que houvesse um atraso no início da produção de dados, bem como,
de seu encerramento, pois, independente dos obstáculos anunciados, era preciso assegurar
uma participação quantiqualitativa dos sujeitos de modo a dar confiabilidade aos dados da
pesquisa produzidos, inclusive no referente aos aspectos éticos da pesquisa.
Isso porque, apesar da ansiedade vivida na busca incessante por sujeitos que
sustentassem os objetivos da pesquisa, meu compromisso institucional e meu lugar social de
enfermeira desse hospital prevaleceram, todas às vezes em que observei a falta de condições
estruturais, bem como a angústia dos clientes e seus acompanhantes, face às situações
apresentadas pela instituição, já relatadas. Nesses momentos, era preciso interromper a
produção de dados até que a sua viabilidade fosse restabelecida.
O próximo capítulo tratará da caracterização dos sujeitos do estudo
54
Capítulo III
Aspectos sociais e de saúde relacionados
aos acompanhantes e idosos e sua
influência no cuidado
55
CAPÍTULO III
ASPECTOS SOCIAIS E DE SAÚDE RELACIONADOS AOS ACOMPANHANTES E
IDOSOS E SUA INFLUÊNCIA NO CUIDADO
Em razão da importância do conhecimento prévio da realidade dos sujeitos com os
quais interagimos, apresento os dados obtidos com o preenchimento do instrumento de
identificação visando à caracterização dos acompanhantes, sujeitos deste estudo e dos idosos
(APÊNDICE A e APÊNDICE B).
Na perspectiva do cuidado compartilhado, torna-se imprescindível também acessarmos
algumas condições sociais e de saúde dos clientes idosos, uma vez que existem influências
desses universos que fundamentam o cuidado estabelecido, revelando a realidade de cada
indivíduo.
Para promover maior dinamicidade na apresentação e discussão dos dados que deram
origem a este capítulo, a caracterização dos 14 acompanhantes e 14 clientes idosos em
situações cirúrgicas foi analisada em conjunto, distribuída em quatro tabelas, a partir das
seguintes variáveis:
Vínculo com o idoso, sexo, idade, situação conjugal e número de filhos (Tabela 1)
Escolaridade, situação ocupacional e ocupação atual (Tabela 2)
Renda familiar, número de pessoas por domicílio, número de pessoas que
contribuem com a renda familiar e religião (Tabela 3)
Condições gerais dos idosos: consciência, locomoção, autonomia no cuidar de si,
história de doença pulmonar e história de tabagismo (Tabela 4)
3.1. Caracterização dos acompanhantes, sujeitos do estudo e dos clientes idosos em pré-
operatório.
As tabelas serão apresentadas simultaneamente e na sequência será feita a discussão
dos resultados que emergiram dos dados.
56
Tabela 1: Distribuição das acompanhantes por vínculo com o idoso e das
acompanhantes e idosos por sexo, idade, situação conjugal e número de filhos.
VARIÁVEIS
ACOMPA-NHANTE
IDOSO
N % N %
VÍNCULO
COM O
IDOSO
FILHA 5 35,71 - -
IRMÃ 3 21,42 - -
NETA 1 7,14 - -
ESPOSA 4 28,57 - -
EX-ESPOSA 1 7,14 - -
SEXO
MASCULINO - - 8 57
FEMININO 14 100 6 43
IDADE
20-30 ANOS 1 7,14 - -
41-50 ANOS 4 28,57 - -
51-59 ANOS 3 21,42 - -
60-70 ANOS 3 21,42 7 50
71-80 ANOS 3 21,42 2 14,28
81-90 ANOS - - 5 35,71
CASADOS 7 50 7 50
SOLTEIROS 2 14,28 1 7,14
SITUAÇÃO VIÚVOS 2 14,28 5 35,71
CONJUGAL
SEPARADOS 2 14,28 1 7,14
DIVORCIADOS 1 7,14 - -
NÚMERO DE
FILHOS
NENHUM 2 14,28 - -
1 FILHO 1 7,14 2 14,28
2 FILHOS 6 42,85 4 28,57
3 FILHOS 3 21,42 3 21,42
4 FILHOS OU MAIS 2 14,28 5 35,71
57
Tabela 2: Distribuição das acompanhantes e idosos por escolaridade, situação
ocupacional e ocupação atual.
VARIÁVEIS
ACOMPA-NHANTE
IDOSO
N % N %
ESCOLARI-
DADE
ANALFABETOS - - 1 7,14
ALFABETIZADOS 1 7,14 2 14,28
ANTIGO ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO 5 35,71 3 21,42
ANTIGO ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO 3 21,42 4 28,57
ANTIGO ENSINO MÉDIO COMPLETO 4 28,57 3 21,42
ENSINO SUPERIOR COMPLETO 1 7,14 1 7,14
SITUAÇÃO
OCUPACIO-
NAL
EMPREGADO 3 21,42 1 7,14
DESEMPREGADO 2 14,28 1 7,14
APOSENTADO 5 35,71 9 64,28
AUTÔNOMO 1 7,14 - -
NUNCA TRABALHOU (FORA) 3 21,42 3 21,42
OCUPAÇÃO
ATUAL
ASSISTENTE SOCIAL 1 7,14 - -
EMPREGADA DOMÉSTICA 1 7,14 - -
DONA DE CASA 3 21,42 2 14,28
CUIDADORA DE IDOSOS 2 14,28 - -
TÉCNICO EM CONTABILIDADE - - 1 7,14
AUXÍLIO DOENÇA - - 1 7,14
APOSENTADO 5 35,71 9 64,28
PENSIONISTA - - 1 7,14
DESEMPREGADO 2 14,28 - -
58
Tabela 3: Distribuição das acompanhantes e idosos por renda familiar, número
de pessoas por domicílio, número de pessoas que contribuem com a renda
familiar e religião.
VARIÁVEIS
ACOMPA-NHANTE
IDOSO
N % N %
RENDA
FAMILIAR
< 1 SALÁRIO MÍNIMO 1 7,14 - -
1 SALÁRIO MÍNIMO 1 7,14 3 21,42
1 A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS 4 28,57 4 28,57
4 A 6 SALÁRIOS MÍNIMOS 5 35,71 4 28,57
7 A 9 SALÁRIOS MÍNIMOS 1 7,14 1 7,14
> 9 SALÁRIOS MÍNIMOS 1 7,14 1 7,14
VARIÁVEL 1 7,14 1 7,14
N0 DE PESSOAS POR DOMICÍLIO
1 A 3 PESSOAS 10 71,42 12 85,71
4 A 6 PESSOAS 4 28,57 2 14,28
N0 DE PESSOAS QUE
CONTRIBUEM C/RENDA
FAMILIAR
1 PESSOA 5 35,71 6 42,85
2 PESSOAS 4 28,57 5 35,71
3 PESSOAS 5 35,71 3 21,42
RELIGIÃO
CATÓLICA 5 35,71 6 42,85
EVANGÉLICA 6 42,85 4 28,57
ESPÍRITA 2 14,28 - -
TESTEMUNHA DE JEOVÁ - - 1 7,14
NÃO POSSUI 1 7,14 3 21,42
59
Tabela 4: Condições gerais dos idosos
VARIÁVEIS
IDOSO
N %
CONSCIÊNCIA
ALERTA 13 92,86
CONFUSO 1 7,14
LOCOMOÇÃO
AMBULANTE 14 100
AUTONOMIA NO
CUIDAR DE SI
INDEPENDENTE 13 92,86
PARCIALMENTE DEPENDENTE 1 7,14
HISTÓRIA DE DOENÇA
PULMONAR
SIM 5 35,71
NÃO 9 64,28
HISTÓRIA DE
TABAGISMO
SIM 1 7,14
NÃO 9 64,28
JÁ FOI 4 28,57
Considerando os dados da Tabela 1, temos que em relação ao vínculo existente entre a
acompanhante e o idoso em pré-operatório, identifica-se prevalência das filhas (5) com
35,71% e esposas (4) com 21,42%, do total de sujeitos. Os demais vínculos são: irmã (3)15%,
neta e ex-esposa representando (1) 7,14% cada uma. Nenhuma prestava serviço remunerado,
constituindo, portanto, a rede de apoio informal, que se nutre da solidariedade entre as
gerações.
Os dados confirmam os resultados de estudos que versam sobre o processo de tornar-se
cuidador. O que esses estudos revelam é que, embora a designação do cuidador seja informal
e decorrente de uma dinâmica específica, o processo parece considerar quatro fatores:
“parentesco, com frequência maior para os cônjuges, antecedendo sempre a presença de
algum filho; o gênero, com predominância para a mulher; a proximidade física, considerando
60
quem vive com a pessoa que requer os cuidados e a proximidade afetiva, destacando a relação
conjugal e a relação entre pais e filhos” (CATTANI; GIRARDON-PERLINI, 2004).
Todas as acompanhantes informaram que seriam responsáveis diretas pelo cuidado ao
idoso no domicílio (cuidador principal) e apenas duas afirmaram ter alguém para revezar
nessa atividade. Esse resultado é importante, pois o processo dialógico construído com os
sujeitos no espaço hospitalar poderá torná-lo um multiplicador do conhecimento (re)
construído sobre os cuidados para prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgica, ao
retornar para o domicílio.
Quanto ao sexo, (14) 100% dos sujeitos eram do sexo feminino, o que demonstra que a
sociedade confere, através de sua cultura, o papel de cuidar à mulher, seja na condição de
esposa, filha, irmã ou neta do idoso. Destaca-se que não houve por parte da pesquisadora
qualquer tipo de escolha intencional relativa ao sexo dos participantes. Esses foram inseridos
no estudo de acordo com a aceitação dos mesmos e sua demanda espontânea.
Pesquisas nacionais e internacionais apontam que os cuidadores são, em uma
hierarquia, as esposas, a filha mais velha ou a nora mais velha, e a filha solteira ou viúva.
Assim, “a mulher evidencia-se como a „grande cuidadora‟, a quem foi atribuído esse papel
cultural e socialmente, ao cuidar dos filhos, do marido, dos doentes e dos velhos” (DIOGO;
CEOLIM; CINTRA, 2005, p. 98). A esse respeito, a experiência de cuidar de familiares
sugere para a mulher uma “carreira de cuidado” (SOMMERHALDER, 2001).
Entre os idosos predominou o sexo masculino (8) com 57% do total; (6) 43% eram do
sexo feminino. O fato da maioria dos idosos ser de homens, provavelmente justifica-se pelos
tipos de cirurgias selecionados para a pesquisa, como RTU, exclusiva do sexo masculino e
cirurgia para correção de hérnia, mais frequente em homens. Dos 14 clientes idosos
copartícipes do estudo, seis foram submetidos à cirurgia para correção de hérnia inguinal,
desses, quatro eram homens e três realizaram RTU de próstata, concentrando nesses dois tipos
de cirurgia, (9) 64,26% do total de idosos
Em se tratando do desenvolvimento de hérnia inguinal, Leme e Turatti (2010) afirmam
que diferentemente do que se pensava, essa doença é considerada multifatorial. A idade
(avançada), os hábitos de vida e o sexo masculino são fatores de risco para o desenvolvimento
de hérnias. As hérnias inguinais nos tabagistas podem reaparecer com mais frequência, em
virtude da maior incidência de deiscências de incisões nesses clientes.
61
Como anteriormente descrito, dos seis CI submetidos à cirurgia para correção de hérnia
inguinal, quatro eram homens, em conformidade com a assertiva dos autores quanto aos
fatores que predispõem à doença.
Por outro lado, Hangui e outros (2004) destacam que a colecistectomia nas mulheres
prevalece na faixa etária abaixo dos 60 anos e segundo Rêgo e outros (2003), na população
idosa, há uma aproximação da incidência entre os sexos. Das quatro cirurgias de
colecistectomia nos idosos do estudo, três foram em mulheres e uma em homem.
Quanto à idade das acompanhantes, variou de 23 a 73 anos. Ressalta-se que do total de
quatorze (14) sujeitos, seis (06) tinham idade entre 62 e 73 anos, ou seja, eram idosas
cuidando de outros idosos. “Pessoas que vivenciam o envelhecimento, ou que já se encontram
em plena velhice, assumem a tarefa de cuidar, embora apresentem alguma alteração na
capacidade funcional e até mesmo na sua saúde” (DIOGO; CEOLIM; CINTRA, 2005, p. 99).
Essa constatação vem ao encontro do estudo realizado por Rodrigues; Watanabe; Derntl
(2006) em que foi verificado que os cuidadores idosos têm de uma a quatro doenças crônicas,
por vezes, associadas a alguma incapacidade funcional. Nesse estudo, as doenças referidas
pelas acompanhantes idosas e registradas nas „observações‟ do instrumento de identificação
foram: hipertensão arterial (2), enfisema pulmonar, angina, rinite alérgica e obstrução nos
cornetos nasais (1), artrose (2), diabetes mellitus e depressão (1).
Em relação aos idosos, prevaleceu a faixa etária de 60-70 anos (7), 50%, seguida pela
faixa de 81-90 anos com (5) 35,71% e (2) 14,28% tinham idade entre 71-80 anos.
Sobre a população „muito idosa‟, ou seja, de oitenta anos ou mais, Camarano (2003, p.
37) destaca que: “Quanto mais idosa é a população, maior é o seu ritmo de crescimento. Isto
leva a um envelhecimento do segmento idoso e à sua maior „feminização‟, pois, também,
quanto mais idoso é o contingente, maior é a proporção de mulheres”.
Em se tratando da situação conjugal, houve concentração de acompanhantes casadas
(7) 50%, as solteiras, viúvas e separadas representaram (02) 14,28% cada e (01)7,14% eram
divorciadas. Entre as casadas, 03 (três) eram profissionalmente ativas e tinham de 1-2 filhos.
Acumulavam, portanto, as funções de esposa, mãe, profissional e cuidadora, o que exige
conciliar uma jornada dupla, tripla e, às vezes, até quádrupla de trabalho.
Segundo Mafra (2011), os cuidadores podem se sentirem sobrecarregados e injustiçados
ao acumularem diversas funções. Nesse estudo, nenhuma acompanhante demonstrou
preocupação com a possível sobrecarga de responsabilidades a que poderia estar sendo
submetida.
62
Vale lembrar que a realização de uma cirurgia, em princípio, torna o idoso dependente
por um curto período, diferentemente de doenças crônicas incapacitantes, em que a
dependência geralmente se estende por longo tempo, demandando mais tempo e dedicação
por parte do cuidador (es), podendo tornar árdua a tarefa de cuidar.
Nesse sentido, Karsch (2003) afirma que a frequência das doenças crônicas e a
esperança de vida atual dos brasileiros são as principais causas do aumento das taxas de
idosos portadores de incapacidades. No Brasil, a velhice sem independência e autonomia
ainda é desconhecida pela opinião pública, por permanecer nos domicílios ou nas instituições
asilares. Assim sendo, torna-se invisível e, consequentemente, impede qualquer atitude
política de proteção social. Estudos mostram que cerca de 40% dos idosos com 65 anos ou
mais de idade necessitam de algum tipo de auxílio para realizar pelo menos uma de suas
tarefas do cotidiano, acrescenta o autor.
Por outro lado, Mayor, Ribeiro e Paúl (2009, p.624), chamam a atenção para outra face
do cuidar: a experiência exitosa de ser acompanhante, cuja análise tem sido negligenciada
pela literatura gerontológica. Para os autores, “cuidar de outra pessoa pode ser experiência de
grande sobrecarga, mas pode ser também associada a aspectos positivos, dela procedendo
vários tipos de satisfação”. Tal aspecto foi destacado no relato de A4, que se sentia útil ao
prestar cuidados ao idoso. “Eu gosto (risos). Ele sabe [se referindo ao idoso] (risos). Gosto de
ser útil”. (A4-esposa).
Dentre os idosos, assim como nas acompanhantes, destacaram-se os casados com (7)
50% do total. Os viúvos representaram (5) 36%; desses, quatro eram mulheres, o que vem ao
encontro da “feminização da velhice”, ou seja, em decorrência da menor mortalidade
feminina, as mulheres predominam na população idosa. Entretanto, o envelhecimento
populacional, principalmente, o feminino, causa uma grande preocupação, por se considerar
esse contingente como dependente e vulnerável tanto do ponto de vista econômico, quanto de
debilidades físicas, o que pode ocasionar perda de autonomia e incapacidade para lidar com as
tarefas diárias (CAMARANO, 2003).
Nesse sentido, Parahyba (2006, p.2) destaca outro aspecto: o fato das mulheres
sobreviverem aos homens não significa que elas sejam mais saudáveis. “A mortalidade
constitui somente um reflexo da deterioração extrema da saúde, que não dá conta das
profundas variações que se registram no estado de bem-estar daqueles que sobrevivem.”
Ressalta-se que, em consequência à „feminização da velhice‟, a viuvez é o estado
conjugal que prevalece entre as mulheres idosas. Isso se deve, de um lado, à maior
63
longevidade feminina e, por outro, a normas sociais e culturais predominantes em nossa
sociedade que fazem com que os homens se casem com mulheres mais jovens do que eles.
Ademais, os viúvos idosos se casam novamente em maior número que as viúvas
(CAMARANO, 2003)
Destaca-se que, a viuvez é um evento que tem sido considerado, em geral, sinônimo
de solidão e isolamento social. No entanto, estudos mostram que há também aspectos
positivos em decorrência da morte do cônjuge: “(...) para alguns a viuvez é acompanhada pela
sensação de liberdade, como se o fato de não ter seu companheiro ao lado estivesse associado
a uma carta de alforria para um escravo” (TÔRRES, 2006, p. 92).
Motta (2002, p.274), numa de suas pesquisas com mulheres viúvas, concluiu que
embora ainda existam muitos obstáculos individuais e sociais, uma parcela expressiva das
viúvas idosas, inclusive das muito velhas, é de viúvas alegres. “Alegres, não apenas ou
diretamente por terem-se livrado de um marido decepcionante, e sim, da dominação que
historicamente recaiu sobre as mulheres casadas – alegres principalmente agora, em um
tempo social onde a liberdade de gênero é possível.”
No que tange ao número de filhos, (6) 42,85% das acompanhantes possuíam 2 filhos,
seguida daquelas que declararam 3 filhos (3) 21,42%, 4 filhos ou mais (2) 14,28% e apenas 1
filho (1) 7,14%. Dentre as que relataram ter 3, 4 ou mais filhos, só uma tem menos de 60
anos. As acompanhantes solteiras (2) 14,28% declararam não possuir filhos.
Quanto aos clientes idosos, (5) 35,71% informaram ter 4 ou mais filhos, (4) 28,57% 2
filhos, (3) 21,42% 3 filhos e (2) 14,28% 1 filho.
As taxas de fecundidade brasileiras começaram a declinar em meados da década de
1960, com a introdução dos métodos anticonceptivos orais no Brasil e continuaram caindo ao
longo dos anos, basicamente como resultado das mudanças na sociedade brasileira e na
própria família. Os níveis mais baixos nas taxas de fecundidade pertencem ao Rio de Janeiro,
seguido por São Paulo e Distrito Federal. A taxa mais elevada se encontra no Acre (IBGE,
2010)
A queda nas taxas de fecundidade provoca a diminuição do crescimento populacional e
uma mudança na estrutura etária da população, com enormes implicações sobre as políticas
públicas, asseguram Rios-Neto, Martine e Alves (2009, p. 74). “A mudança na estrutura etária
irá impor uma grande pressão sobre o sistema público de seguridade social,” esclarecem
Fígoli e Queiroz (2008, p.9).
64
Conforme os dados da Tabela 2, observa-se que, no que diz respeito à escolaridade das
acompanhantes, (1) 7,14% são alfabetizadas; (5) 35,71% possuem o antigo ensino
fundamental incompleto e (3) 21,42% o antigo ensino fundamental completo; (4) 28,57% o
ensino médio completo e (1)7,14% o ensino superior completo.
Quanto à escolaridade dos idosos, (1) 7,14% são analfabetos e (2) 14,28% são
alfabetizados; (3) 21,42% possuem o antigo ensino fundamental incompleto e (4) 28,57%
concluíram o antigo ensino fundamental; (3) 21,42% tem o antigo ensino médio completo e
(1) 7,14% possuem ensino superior completo. Note-se que a baixa escolaridade predominou
tanto entre as acompanhantes quanto entre os idosos.
Sobre a situação ocupacional, sobressaíram as acompanhantes aposentadas (5) 35,71%,
uma vez que (6) 42,85% eram idosas e apenas 1 não recebia o benefício por ser casada e
nunca ter trabalhado fora; (3) 21,42% estavam empregadas; (3) 21,42% nunca trabalharam
fora; (2) 14,28% estavam desempregadas e (1) 7,14% trabalhavam de forma autônoma.
Entre os idosos, assim como nas acompanhantes, em decorrência da idade, a maioria
(9) 64,28% já se encontrava aposentada. Como o homem só adquire o direito ao benefício da
aposentadoria por idade após os 65 anos, havia (1) 7,14% CI desempregado, assim como (1)
7,14% profissionalmente ativo. Dos que nunca trabalharam, (3) 21,42% são mulheres. A
maioria das idosas brasileiras de hoje não teve trabalho remunerado durante a sua vida ativa
(CAMARANO, 2003).
Quanto à ocupação atual, embora haja diversidade de profissões entre as
acompanhantes, observa-se maior número de aposentadas (5) 35,71%, pelo fato de serem
idosas, como descrito anteriormente.
Diante do crescente envelhecimento populacional, chamo a atenção para a ocupação
„cuidadora de idosos‟, que indica estar em ascensão entre as mulheres, sendo neste estudo
maior (2) 14, 8% do que o de empregada doméstica (1) 7,14%, cuja demanda tem crescido no
mundo todo (Organização Internacional do Trabalho, 2009).
Vale lembrar que enquanto sujeitos do estudo, as duas acompanhantes que se
declararam „cuidadora de idosos‟, não estavam exercendo atividade laboral remunerada, pois
eram filha e irmã das idosas hospitalizadas.
Referindo-se aos idosos, a maioria, (9) 64,28%, percebia o benefício governamental da
aposentadoria; (2) 14,28% eram donas de casa; (1) 7,14% exerciam a profissão de técnico em
contabilidade; (1) 7,14% eram pensionistas e (1) 7,14% percebiam auxílio-doença.
65
Esses achados vêm ao encontro da afirmação de Fígoli e Queiroz (2008) de que,
atualmente, a maior parte do consumo dos idosos é custeada pelos programas públicos de
previdência social. Tais programas são relevantes na “redução dos níveis de pobreza dos
grupos etários mais avançados. O Brasil é um dos poucos países do mundo que combinam um
rápido envelhecimento populacional com grande sistema público de previdência.”
De acordo com os dados da Tabela 3, constata-se que quanto à renda familiar das
acompanhantes destacaram-se as faixas de 4 a 6 salários mínimos (SM) com (5) 35,71% e de
03 a 6 SM com (4) 28,57% do total de sujeitos. As demais faixas: < 1 SM, 1 SM, 7 a 9 SM, >
9 SM e variável compreenderam (1) 7,14% cada uma.
No que tange à renda familiar dos idosos, houve equivalência entre as faixas de 1 a 3
SM e de 4 a 6 SM ambas com (4) 28,57% cada. Destaco que os (3) 21, 42% que pertenciam à
faixa de 1 SM, declararam ser o único rendimento da família de 1 a 3 pessoas residentes no
domicílio. Apenas (2) 14,28% declararam renda a partir de 7 SM.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) revelaram que
22,9% das famílias brasileiras vivem com renda familiar de até meio salário mínimo e, desse
total, 48,5% encontram-se na Região Nordeste. No conjunto de famílias que alegaram ter
muita dificuldade, 64,2% viviam com até 3 SM de renda mensal.
Ao se considerar o baixo nível de escolaridade apresentado tanto pelas acompanhantes
quanto pelos idosos e a baixa renda declarada por ambos, vale mencionar a relação existente
entre escolaridade x salários, destacada por Seabra (2002, p. 53-54): “a escolaridade tem
influência positiva sobre o salário e através da interveniência de empregabilidade tende a
ampliar essa influência.”
Outra questão a ser ressaltada, a partir dos dados da tabela 2, é o acesso ao ensino
superior em nosso país. Apenas (1) 7,14% de acompanhantes/idosos tinham curso superior.
Pinto (2004, p.727) realizou estudo sobre a temática e destacou que: a taxa de
escolarização bruta na educação superior do Brasil é uma das menores da América Latina e o
grau de privatização um dos maiores do mundo. Esse processo desencadeou uma expressiva
elitização do perfil dos alunos, principalmente nos cursos mais disputados e nas instituições
particulares, onde é mínima a presença de afrodescendentes e de pobres. O Brasil precisa
urgentemente “ampliar o acesso à educação superior e democratizar o perfil dos alunos, em
especial nos cursos mais concorridos”, através da expansão do setor público, dado que o nível
de privatização no ensino superior já é elevado, concluiu o autor.
66
Em se tratando do número de moradores por domicílio, predominou a faixa de 01 a 03
pessoas, tanto entre as acompanhantes com (10) 71,42% dos casos quanto entre os idosos com
(12) 85,71%. A faixa de 04 a 06 pessoas representou (4) 28,57% e (2) 14,28% das residências,
respectivamente.
A média de moradores por domicílio caiu, influenciada pelo declínio da taxa de
fecundidade e redução do tamanho das famílias. Em 2000, havia 77 municípios com média
inferior a 3 moradores por domicílio no país, sendo que esse número subiu para 250
municípios em 2007. No outro extremo, os 250 municípios cuja média era de mais de 4,5
moradores por domicílio caiu para 181 (IBGE, 2007).
À exceção de uma acompanhante que reside com os pais, todas possuíam casa própria,
de alvenaria e com luz elétrica, assim como os idosos.
Em relação à composição da renda familiar, não houve diferença significativa entre as
faixas: (5) 35,71% das acompanhantes declararam 1e 3 pessoas e (4) 28,57% 2 pessoas. Das
cinco mulheres em que a renda familiar era composta por apenas uma pessoa, duas eram
idosas.
No que diz respeito aos idosos, prevaleceu os que responderam 1 pessoa (6) 42,85%,
sobre os que responderam 2 pessoas (5) 35,71% e 3 pessoas (3) 21,42%. De acordo com os
resultados apresentados, percebe-se que “em muitos casos, o beneficio social constitui-se na
única fonte de renda das famílias que, como já se viu, não são famílias compostas apenas por
idosos” (CAMARANO, 2003, p. 57).
No que concerne à religião informada pelas acompanhantes, (6) 43,85% se declararam
evangélica, (5) 36,71% católica, (2) 14,28% professaram o espiritismo e (1) 7,14%
declararam não possuir religião. Das seis acompanhantes evangélicas, quatro tinham menos
de 60 anos, o que leva a crer que a tradição da igreja católica venha perdendo força ao longo
dos anos.
Diferentemente, entre os idosos a religião mais professada foi à católica com (6)
42,85%. A religião evangélica veio a seguir com (4) 28,57% de adeptos e (1) 7,14%
declararam ser testemunha de Jeová. Os (3) 21,42% que alegaram não ter religião são do sexo
masculino.
O brasileiro é marcadamente religioso e isso se “reflete em sua vida cotidiana, na
capacidade de expressão de múltiplas formas de fé religiosa, de modo que suas condutas e
67
crenças religiosas constituam parte fundamental do ethos18
da cultura brasileira”
(ANDRADE, 2009, p. 108).
Valla (1998) alerta para a necessidade de se dar mais importância à vida religiosa das
classes populares para se entender suas formas de pensar e enfrentar os seus problemas.
Nesse sentido, Vasconcelos (2009, p.330) afirma que “A religião popular é um saber e
uma linguagem de elaboração e expressão da dinâmica subjetiva, parte da cultura popular, em
que a população se baseia para buscar o sentido de sua vida.” Unifica os grupos sociais, ajuda
a renovar as energias para enfrentar as ameaças e a luta pela sobrevivência e pela alegria,
resistindo culturalmente à forma de vida que a elite lhes quer impor.
A importância da religiosidade na educação popular também é destacada pelo autor
acima mencionado (2008, p.316) quando diz que “Nas práticas de Educação Popular
conduzidas numa linguagem religiosa, dimensões inconscientes participam explicitamente de
forma central dos diálogos que se estabelecem, através das metáforas das histórias míticas e
dos símbolos da liturgia.”
No campo da saúde, “em decorrência da expansão do modelo biopsicossocial, religião
e espiritualidade têm sido reconhecidas por sua relevância, constituindo o foco de interesse de
pesquisas internacionais e nacionais” (GOBATTO; ARAUJO, 2010, p. 53).
A relação entre religiosidade/espiritualidade e qualidade de vida tem despertado a
atenção dos pesquisadores. A associação entre vida religiosa e espiritualidade com as
condições de saúde da população e o processo de recuperação de doenças é apontada em
vários estudos. Aspectos culturais influenciam o modo como as pessoas vivenciam a
espiritualidade (...) estudos conduzidos com diferentes segmentos reconheceram maior
necessidade e/ou utilização de religião e espiritualidade por mulheres (p. 56), o que depreende
que a prática religiosa é culturalmente mais difundida entre as mulheres.
Considerando a Tabela 4, destaca-se que dos 14 idosos participantes do estudo, apenas
um (1), 7,14%, apresentava demência senil. Os demais (13), 92, 86%, estavam alerta, o que
faciltou a implementação do plano de cuidados compartilhado pelos acompanhantes. Apesar
de algumas limitações causadas pela presença de doenças articulares crônicas, 100% dos
clientes idosos deambulavam. No tocante ao cuidar de si, (13) 92,86% eram independentes e
apenas (1) 7,14% era parcialmente dependente, o que limita sua capacidade autônoma de
cuidar de si.
18 Sistema de valores. (WHITLAM; DAVIES; HARLAND, 1997)
68
Com relação à história de doença pulmonar, os clientes idosos que apresentavam
doença pulmonar representaram (5) 35,71%, sendo que 4 possuíam DPOC e 1 tinha silicose.
(9) 64,28% não tinham história de doença pulmonar.
Como vimos, as doenças pulmonares pré-existentes são importantes fatores de risco
para o desenvolvimento de complicações respiratórias no pós-operatório. Clientes com DPOC
são especialmente vulneráveis, pelo fato de apresentarem tendência a aumento e acúmulo de
secreções brônquicas. Além disso, outras patologias foram relatadas por eles, a saber: HAS
(9), angina (2), epilepsia, hipotiroidismo, hepatite C, alcoolismo, pênfigo bolhoso, DM
(2) e hérnia de disco lombar. Alguns tinham até cinco patologias, o que pode carrear alguma
incapacidade funcional e maior predisposição às complicações pós-operatórias.
Quanto à história de tabagismo, predominaram os idosos não tabagistas: (9) 64,28%.
Os ex-tabagistas somaram (4) 28,57% e apenas (1) 7,14% eram fumantes. Embora o
tabagismo comprometa a resistência pulmonar e predisponha o fumante às complicações
respiratórias no pós-operatório, independente da idade, nos idosos esse hábito torna-se ainda
mais pernicioso devido às fragilidades próprias desse grupo etário.
Esses resultados mostraram a relevância da prevenção de complicações pós-cirúrgicas
em idosos e da inclusão de seus acompanhante nesse processo, através de ações educativas de
enfermagem. Destaco que os idosos que participaram deste estudo, até o momento em que
receberam alta hospitalar, não apresentaram quaisquer complicações.
Na sequência, o quarto capítulo abordará os saberes e práticas de acompanhantes de
idosos sobre complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso.
69
Capítulo IV
Saberes e práticas de acompanhantes de
idosos sobre complicações respiratórias
pós-cirúrgicas no idoso
70
CAPÍTULO IV
SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS SOBRE
COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS NO IDOSO
4.1. Principais causas de complicações respiratórias no pós-operatório do cliente idoso
problematizadas no diálogo com os acompanhantes
O diálogo com as acompanhantes a fim de acessar seus saberes e práticas sobre
complicações respiratórias pós-cirúrgicas em idosos foi desenvolvido a partir de questões
geradoras de debate. Para Freire, o diálogo é condição básica para o conhecimento. O ato de
conhecer, segundo ele, "dá-se num processo social e o diálogo é, justamente, uma mediação
deste processo" (MIRANDA; BARROSO,
2004, p. 634).
As questões geradoras de debate, em um espaço problematizador, propiciam o diálogo
e das situações existenciais concretas dos sujeitos emergem os temas codificados, que são
descodificados no aprofundamento da discussão (FREIRE, 2007).
Neste estudo, as questões enunciadas por mim, como geradoras de debate, conduziram
à discussão de quatro principais causas que podem levar a estas complicações: fisiológicas;
restrição na mobilização no leito; fatores de risco pré-existentes e fatores relacionados à
localização da cirurgia.
Fisiológicas: aspectos relacionados ao processo de envelhecimento
Os pacientes idosos apresentam altos riscos de complicações operatórias. Essas
complicações aumentam as taxas de morbidade e mortalidade no pós-operatório, o custo do
tratamento e o tempo de hospitalização (Lenardt et al, 2010).
Ruivo e outros (2009, p. 629) afirmam que “o sistema respiratório sofre alterações
inerentes ao envelhecimento e o conhecimento dessas modificações contribui com a detecção
e prevenção de disfunções respiratórias em idosos”. Esses autores salientam que há dados
indicativos de que esse sistema orgânico seja o que envelhece mais rapidamente devido à
maior exposição a poluentes ambientais no decorrer dos anos.
A exposição à poluição atmosférica promove alterações na coloração dos pulmões ao
longo dos anos. De acordo com Bethlem (1995), os pulmões passam da cor rosada, ao nascer,
71
à coloração negra, com o avançar da idade. As mudanças de tonalidade ocorrem devido à
inalação e deposição de grânulos de partículas de carbono19
no tecido pulmonar.
As fotos ilustrativas das alterações pulmonares utilizadas na produção de dados da
pesquisa (Figuras 1 e 2) junto a acompanhantes facilitaram a discussão sobre as mudanças que
ocorrem no pulmão do idoso em decorrência do processo de envelhecimento, relativas à cor e
tamanho desse órgão. Discutir sobre tais mudanças com os sujeitos, levaram-nos a refletir
sobre a importância da prevenção de complicações respiratórias, como se observa nos
diálogos empreendidos entre mim, pesquisadora, com A7, A9 e A14 sobre a alteração da cor
desse órgão em função da idade. Ressalto que estas imagens dos pulmões foram criadas pela
autora do presente estudo, a partir de informações provenientes da literatura e de adaptações
de imagens captadas da internet.
Figura 1- Pulmão jovem Figura 2 - Pulmão idoso
Fonte: Criação da pesquisadora
A seguir, são apresentados conteúdos das falas obtidos durante a apresentação das
figuras aos sujeitos. As acompanhantes demonstraram surpresa em relação à diferença da cor
entre os pulmões do jovem e do idoso e depreenderam que tais mudanças afetam a vitalidade
pulmonar:
Já tá baqueadinho [referindo-se ao pulmão do idoso]. (A7)
Aqui [foto] nós temos fotos de um pulmão jovem e um pulmão idoso. Com
relação à cor, tem alguma diferença? (Pesquisadora)
19 Substância encontrada na atmosfera, principalmente sob a forma de monóxido de carbono (CO) e dióxido de
carbono (CO2), originárias tanto de fontes naturais (erupções vulcânicas, decomposição de animais e vegetais,
incêndios naturais em florestas, por exemplo), como antropogênicas (atividades industriais e combustão de
combustíveis fósseis, como álcool, gasolina e diesel, dentre outras) (ALMEIDA, 1999).
72
É (silêncio). Tem, né (risos). Totalmente, o vermelho e o cinza. O vermelho
tá com toda potência (risos), o cinza já tá bem... bem cansadinho, né. (A9).
Nossa! Fica assim! (A14)
Qual a cor [do pulmão] do jovem? (Pesquisadora).
Ah, tá bem mais... vivo, né (risos) (A14) Mais vivo, mais rosadinho, né (risos)? (Pesquisadora)
Mais rosadinho. (A14)
Ao tempo em que as acompanhantes constatavam a mudança de tonalidade dos
pulmões idosos, eram conduzidas à reflexão sobre a importância da qualidade do ar que
respiramos, fator que tem influência direta nesse processo. Emergiu de suas falas o seu
conhecimento prévio sobre a poluição ambiental e sua relação com a diminuição da vitalidade
pulmonar em decorrência do processo de envelhecimento. Vejamos o diálogo com A7 e A9.
O que a gente respira hoje em dia, principalmente em cidade grande? (Pesquisadora)
Sujeira, poluição, sujeirada. (A7)
Ele [o pulmão] não dá conta de eliminar tudo isso (...). Então, ao longo do
tempo, ele vai ficando escurinho, por causa dessas impurezas. (Pesquisadora)
Qual é a qualidade do ar que a gente respira hoje em dia? (Pesquisadora) Ihhh, tudo poluído. Não tem nada saudável. (A9)
É muita poluição, né, de carro, de fumaça de cigarro, porque mesmo
quando a gente não fuma o que acontece? (Pesquisadora) Nós fumamos mais do que o próprio fumante. (A9)
Os pulmões também sofrem mudanças com relação ao tamanho no decorrer dos anos,
podendo reduzir em até 11% (BANDEIRA; PIMENTA; SOUZA, 2006), aumentando o
esforço para respirar.
Indagados se há diferença de tamanho do pulmão do jovem para o do idoso,
observando as fotos que lhes foram apresentadas, os sujeitos, ao reconhecerem a diminuição
que ocorre no tamanho do pulmão do idoso, estabeleceram relação com outras mudanças
advindas do processo de envelhecimento, como se pode observar em algumas falas:
Em relação ao tamanho, tem diferença? (Pesquisadora)
Tem. (A3) O do idoso é maior ou ...? (Pesquisadora)
Menor. Vai diminuindo? (A3)
Isso é biológico, é natural do próprio envelhecimento, por isso a gente tem
que tá atento, tem que ter cuidado, pra não ter problemas (Pesquisadora)
73
Tem. O do idoso [foto do pulmão] tá bem menor. (A9)
É, ele também se recolhe um pouquinho com a idade, ele diminui um pouquinho de tamanho. (Pesquisadora)
Até o idoso diminui. Diminui, vai encolhendo. (A9)
No processo natural do envelhecimento, ele [pulmão] vai diminuindo, vai
diminuindo e vai perdendo vitalidade, por isso é tão importante a gente
investir nessas ações depois da cirurgia, porque a própria anestesia também
já contém drogas que afetam esse funcionamento do pulmão. (Pesquisadora)
Ele diminui. (A10)
É, ele também vai diminuindo um pouquinho de tamanho. Tudo isso é natural, é biológico, mas é uma coisa que associado à anestesia, associado
à cirurgia, deixa a pessoa mais predisposta, deixa o idoso mais...
(Pesquisadora) Porque reprime, né, vai reprimindo tudo,vai fechando. (A10)
Ressalta-se que as reflexões de A9 e A10 foram além das características pulmonares,
pois destacaram alterações gerontológicas relativas a outros sistemas orgânicos: Até o idoso
diminui. (...) vai encolhendo (A9); vai reprimindo tudo vai fechando. (A10).
A linguagem popular observada nas falas das acompanhantes traduz a leitura particular
que cada indivíduo faz do mundo, a partir de seu contexto sociocultural. Portanto, deve ser
considerada e respeitada no processo de educação em saúde popular, dialógico e democrático.
Trazer essas características do pulmão para o diálogo com os acompanhantes de forma
codificada através das fotos que ilustravam variações de cor e tamanho relacionadas à idade
cronológica, possibilitou, pelo aprofundamento do diálogo, em um processo de
descodificação, a reflexão sobre as fragilidades fisiológicas do sistema respiratório
decorrentes do processo de envelhecimento, por conseguinte, à construção de um novo saber
sobre a vulnerabilidade do idoso às complicações desse sistema no pós-operatório,
valorizando, assim, as ações de prevenção problematizadas. Conforme destaca Freire (2007),
a mensagem vem codificada por ferramentas que se constituem como elemento facilitador no
processo de educação.
Reforçando os aspectos que envolvem as fragilidades pulmonares no idoso após
cirurgias, Silva e outros (2009, p.114-115) chamam a atenção para a prevalência das
complicações respiratórias no período pós-operatório que, segundo os autores, é a mesma das
complicações cardíacas. “Em algumas situações tendo, inclusive, maior capacidade de prever
mortalidade em longo prazo após a cirurgia, especialmente nos pacientes idosos.”
74
Restrição na mobilização do idoso no leito
A restrição na mobilização do idoso no leito depois da cirurgia predispõe ao
desenvolvimento de doenças como pneumonia e atelectasia, importantes causas de
morbimortalidade no pós-operatório de clientes idosos, como já descrito. Ademais, outras
complicações respiratórias, distúrbios circulatórios, úlceras por pressão, dor e desconforto
também podem resultar da imobilidade (SMELTZER; BARE, 2009).
Esse tema foi desenvolvido a partir da questão: “o que pode acontecer com o pulmão
se depois da cirurgia o idoso ficar muito tempo deitado sem se movimentar na cama?”
As falas de A2, A4, A10, A11 e A13 denotam que os sujeitos têm noção de que a
imobilidade favorece o desenvolvimento de complicações respiratórias pós-operatórias, como
descrito a seguir:
Pode causar uma pneumonia, né? (A2)
Bem, vai sufocá-lo, né, porque... Fica pressionado, né? Então... Acho que
ele fica com dificuldade para respirar. Ele não fica livre pra respirar, né? É... pressão. (A4).
Pressão? Pressionando o quê? (Pesquisadora)
O pulmão. (A4).
Eu acho que ele pode ter uma pneumonia. Num sei, minha opinião. Dela
ficar sem a movimentação, sem, sem tá andando assim, respirando bem...
(A10)
É, pode dar um... é, é, pneumonia, pode. (A11)
Você acha que se virar de lado o que é que acontece? (Pesquisadora) Pára de comprimir o pulmão. A respiração facilita, eu acho que é isso, né.
(A13)
Através das respostas obtidas, percebe-se que os acompanhantes refletiram sobre a
questão que lhes foi colocada à discussão e debate. A4, A10 e A13 associaram,
respectivamente, a pressão do leito no tórax e a imobilidade ao desenvolvimento de
pneumonia, mostrando a lógica em que se dá a construção do conhecimento do senso comum.
No entanto, “esta relação direta por associação de semelhanças e diferenças nem
sempre se aplica às enfermidades/situações problema. Daí a importância de se criar espaços
de diálogos entre os profissionais e seus clientes/acompanhantes para oportunizar o
compartilhamento de saberes” (TEIXEIRA, 2008, p.122).
Outros sujeitos, contudo, no diálogo empreendido com a pesquisadora, ressaltaram não
possuir nenhum tipo de saber prévio sobre o assunto:
75
Eu não sei, é... A única orientação que eu já recebi, é que convém conversar
pra manter ela acordada, mas exatamente em relação ao pulmão, eu não recebi nenhuma orientação e eu desconheço mesmo. (A5)
Não, não sei o que poderia acontecer, não. (A6)
Vale mencionar que A5, única acompanhante com ensino superior completo, e A6, a
mais jovem participante do estudo, que cursou o antigo ensino médio completo, apresentavam
nível de escolaridade acima da média da maioria dos sujeitos que declararam o antigo ensino
fundamental incompleto. Ressalta-se que tal aspecto, neste estudo, não se configurou como
diferencial em relação aos saberes e práticas trazidos pelos sujeitos com menor nível de
instrução. Isso demonstra que se a escolaridade é importante na aquisição de conhecimentos, a
experiência concreta vivida pelos sujeitos também o é.
Portanto, o conhecimento elaborado pelo senso comum está vinculado a essas
experiências, ao contexto desses sujeitos, ao mundo em que vivem, ou seja, “da prática como
referencial para a realidade e formação do conhecimento do senso comum sobre os objetos
que lhes são dados a pensar” (TEIXEIRA, 2008, p.119).
Assim, o investimento em ações de educação em saúde junto a acompanhantes deve
considerar o „saber da experiência feito‟, não para aí se manter, de forma acrítica, quando
prejudicial à saúde, mas como ponto de partida para construção de novos saberes. A fala de
A11 ilustra o conceito freiriano, ao relatar que o seu conhecimento foi adquirido a partir de
situações vivenciadas:
Eu aprendi assim... cuidando dessa, dessa idosa [referindo-se à experiência prévia, como acompanhante remunerada], fui aprendendo assim mesmo,
cuidando. (A11)
No entanto, há de se reafirmar que partir do saber dos educandos não é apenas
restringir-se ao seu conhecimento, mas ir além, por tratar-se de um saber dinâmico que deve
prosseguir, como explica o próprio Freire (2011, p. 97-98, grifo do autor):
[...] partir do saber que os educandos tenham não significa ficar girando em torno deste saber. Partir significa pôr-se a caminho, ir-se, deslocar-se de um ponto a outro
e não ficar, permanecer. Jamais disse como às vezes sugerem ou dizem que eu disse
que deveríamos girar embevecidos, em torno do saber dos educandos, como
mariposas em volta da luz. Partir do “saber de experiência feito” para superá-lo não
é ficar nele.
Por isso, na construção do plano de cuidados compartilhado, os saberes sobre
prevenção de complicações respiratórias em idosos relatados pelos sujeitos foram discutidos e
76
reorganizados a fim de ampliar a visão trazida por eles, fortalecendo, assim, o cuidado
prestado ao idoso em pós-operatório.
Fatores de risco pré-existentes
É consenso na literatura médica que o tabagismo é um importante fator de risco para
complicações respiratórias pós-cirúrgicas. Sabe-se que o fumo provoca reação inflamatória
nos pulmões que facilita a penetração de agentes infecciosos. O fumo está entre as principais
causas de complicações pós-anestésicas, como explica Fernandes e Ruiz Neto (2002, p. 462):
“Nos tabagistas, a árvore respiratória se apresenta hiper-reativa podendo precipitar bronco-
espasmo, acúmulo de secreções e atelectasia regional”.
O aparelho respiratório, por receber diretamente a carga tabágica, é um local frequente
de doenças (...), sustenta Alencar Filho (2006).
O tabagismo pode desencadear complicações pulmonares pós-operatórias, mesmo
naqueles sem doença pulmonar, afirmam Saad e Zambon (2001) e eles recomendam a
cessação do consumo tabágico no mínimo oito semanas antes da cirurgia, a fim de reduzir as
complicações.
Tendo isso em conta, o processo de educação em saúde deve problematizar os
malefícios causados pelo hábito de fumar, levando à reflexão do consumidor e o conduzindo a
uma nova ação com base na tomada de consciência de que esse hábito é um significante fator
de risco para complicações pulmonares pós-operatórias.
A reflexão sobre o a assunto se deu a partir da indagação: “o que fazer antes da cirurgia
para evitar complicações respiratórias depois da cirurgia?” O diálogo com A3, A9 e A12
sinaliza que os sujeitos têm noção dos malefícios desse hábito e da importância de sua
suspensão antes da cirurgia, como demonstram as respostas obtidas:
Se a pessoa for fumante e for se submeter a uma cirurgia, o que seria bom a
pessoa fazer, ideal pra pessoa fazer, antes da cirurgia? (Pesquisadora) Ah, fumante é... é mau sabe. Pelo menos parar de fumar um pouco né. (A3)
Se a pessoa for fumante? (Pesquisadora)
Ah, tem que dá um tempo né. (A9)
(...) antes da cirurgia a senhora acha que seria importante parar de fumar?
(Pesquisadora) Claro já há muito tempo (risos). Isso aí é importantíssimo, eu tenho
experiência disso. Essa semana mesmo eu tive uma experiência de um irmão
de igreja que o pulmão, ele num é da igreja, a senhora dele que é da igreja,
faleceu porque era fumante, faleceu. (A12)
77
O espaço problematizador é instigante e provocador da reflexão. Observa-se que
mesmo não sendo uma experiência vivida por A14, ao ser questionada sobre a possibilidade
de o pulmão tornar-se mais frágil pelo uso do cigarro, ela imediatamente relacionou o uso do
cigarro ao tempo desse uso e concluiu com uma reflexão crítica destacando que nada adianta
parar de fumar na semana da cirurgia. Ou seja, sua fala sugere seu entendimento de que, ainda
que o sujeito pare de fumar próximo à cirurgia, os efeitos do fumo vão permanecer no seu
organismo, especialmente, no pulmão:
Se a pessoa fumar, que não é o caso dela [idosa], a senhora acha que faz
diferença, a pessoa parar de fumar antes da cirurgia? (Pesquisadora)
Como sendo leiga, eu acho que tem que parar, né. (A14) O pulmão pode ficar mais frágil por conta do cigarro? Mais propenso a ter
complicação? (Pesquisadora)
Se ele for fumante há muitos anos, creio que sim. (A14) Seria importante parar de fumar antes da cirurgia? (Pesquisadora)
Eu acho que... bem, antes, né, se ele parar na semana da cirurgia, eu acho
que não vai resolver nada, né (risos) (A14)
Esse é um exemplo que ilustra a intenção do processo educativo problematizador: o
de, pelo diálogo, alcançar a reflexão e a crítica e, por conseguinte, provocar mudança de
atitude. Assim, “o próprio sujeito começa a construir um juízo crítico e a ter condições de
discernir acerca dos possíveis malefícios e benefícios trazidos pelo hábito de fumar a sua
saúde” (ALVIM; FERREIRA, 2007, p. 317).
Outro fator de risco para complicações respiratórias no pós-operatório são as doenças
pulmonares pré-existentes, uma vez que, nessa fase ocorre “demanda aumentada de oxigênio,
o que pode precipitar a insuficiência respiratória em pacientes com reserva pulmonar limitada
por disfunção pré-existente, decorrente de doença pulmonar [...]” (RODRIGUES; ÉVORA;
VICENTE, 2008, p. 470).
Pacientes com DPOC, por exemplo, constituem “grupo de especial vulnerabilidade
devido ao fato de frequentemente apresentarem aumento de volume da secreção brônquica,
diminuição da atividade ciliar do epitélio e tendência a acúmulo de secreções” (STRACIERI,
2008, p. 466)
Fatores de risco relacionados à localização da cirurgia
O local da cirurgia é um dos fatores que podem contribuir para desencadear
complicações respiratórias no pós-operatório. Para Ramos e outros (2007), algumas cirurgias,
especialmente as intervenções no andar superior do abdome, interferem na mecânica
78
pulmonar e tendem a desenvolver alterações ventilatórias, determinada principalmente pela
disfunção diafragmática, provocada pelo estímulo cirúrgico.
Como descrito, diversos autores associam os distúrbios pulmonares provenientes de
cirurgias próximas ao diafragma à presença de dor, curativo compressivo e receio pós-
operatório, que dificultam a realização de exercícios respiratórios, prejudicam a mobilização
ativa, levam à hipoventilação e comprometem o estado geral do paciente.
Pelo exposto, tornou-se importante incluir na discussão com os sujeitos a
problematização sobre esses fatores. Emergiu da discussão, que os sujeitos têm ideia da
possibilidade de hipoventilação resultante da presença de dor e medo de respirar, advindos do
local da incisão cirúrgica, exemplificado pelos relatos de A2, A5, A6 e A13.
No caso do seu irmão, por exemplo, que a cirurgia dele é em cima [parte alta
do abdome], quando você vai respirar, dói, porque você vai expandir aquilo que cortou.... (Pesquisadora)
Não, e o pior de tudo é o medo que a gente fica [se colocando no lugar do
idoso] porque ainda vai ficar um pouco anestesiado. Então, além da anestesia a gente fica com aquele medo de se mover e estourar algum
ponto... Sei lá, acontece algo que a gente não quer que aconteça. (A2)
Geralmente quando o paciente vem de uma cirurgia, principalmente no
abdome, na parte alta, que ele vai respirar, dói, então, o que ele faz? (Pesquisadora)
Ele restringe a respiração, a respiração. (A5)
E isso pode trazer algumas complicações. (Pesquisadora)
É sim. (A5)
Se você for respirar e sentir dor, o que você vai tentar fazer?
(Pesquisadora) Respirar menos (Risos). (A6)
O que é que ela [CI] vai fazer se ela for respirar e ela sentir dor?
(Pesquisadora) Acho que a pessoa vai se contrair. Acho que ela vai respirar pequeno,
porque se contrai e se fecha. (A13)
Na intenção de favorecer a reflexão sobre a possibilidade de hipoventilação
relacionada à localização da cirurgia, demonstrei os movimentos torácicos no meu próprio
corpo e, também, no corpo do acompanhante. No diálogo, foram destacadas algumas causas e
efeitos do processo anestésico/cirúrgico sobre a mecânica respiratória:
Quando a pessoa faz cirurgia na barriga, principalmente aqui na parte alta, quando a pessoa vai respirar, será que vai, que pode sentir dor?
(Pesquisadora)
Acho que vai. (A12)
79
Pode sentir dor né. Porque quando a pessoa respira... [inspiro, mostrando
movimento da caixa torácica e abdome] (Pesquisadora) Puxa, mexe com tudo aqui né. A barriga mexe com tudo. (A12)
Mexe com a barriga, mexe com o peito né? (Pesquisadora)
Com o peito, mexe com tudo. (A12)
Então se a pessoa sentir dor, quando ela respira, a senhora acha que ela vai respirar mais ou que ela vai respirar menos? (Pesquisadora)
Ele vai respirar menos. Ele fica até com medo. (A12)
Exatamente. Então aí que a gente precisa dar uma forcinha, pra que a pessoa não fique respirando curtinho e o pulmão não acabe sofrendo.
Porque às vezes é difícil respirar depois da cirurgia, por causa da dor que a
pessoa sente. (Pesquisadora) É, pode sentir muita dor. (A12)
Então se a gente for respirar e sentir dor, o que é que a gente vai fazer com
essa respiração, vai respirar maior [faço inspiração profunda], ou vai respirar menor? Porque se for respirar maior, eu vou encher meu peito de
ar e eu vou mexer com a cirurgia... (Pesquisadora)
Vai sentir dor né? (risos) (A3) Eu vou sentir dor. Qual é a tendência da pessoa fazer quando ela vai
respirar, que ela sente dor, o que ela faz com essa respiração?
(Pesquisadora) Começa a se prender [faz demonstração] medo de respirar, começa a ter
medo. (A3)
A anestesia e o trauma da cirurgia principalmente quando é na parte alta do abdome influencia no trabalho do pulmão. Então, a gente precisa ficar
atenta depois da cirurgia para que as complicações não aconteçam. As
drogas anestésicas contribuem para que no pós-operatório se tenha uma respiração mais leve, mais.... (Pesquisadora)
Mais lenta? (A5)
Mais superficial. Então, anestesia associada à cirurgia, associada a ficar
deitada, isso pode vir a ter algumas complicações, como pneumonia. (Pesquisadora)
Como há o corte, mexe por dentro, quando a pessoa volta [da cirurgia] pode sentir dor ao respirar. Por que dói? [Pedi ao idoso que participava
atentamente do diálogo:] “Respira pra mim, fundo, prá ver o que acontece
com seu tórax [ele atendeu a solicitação]. Subiu?”. (Pesquisadora) Os dois [sujeito e idoso] responderam: Um hum, subiu. (A6 e CI6)
Sobe. Aí movimenta aquilo que foi cortado [local da cirurgia] e dói.
(Pesquisadora)
Quando você faz uma cirurgia, como no caso da sua mãe, que você corta
aqui na parte de cima, que vai manipular essa parte do abdome, quando
você vai respirar [fazendo respiração para mostrar], você mexe. O que você acha que ela pode sentir, quando ela respirar e mexer aqui com o local onde
foi operado? (Pesquisadora)
Eu acho que ela pode sentir um vazio... tá, porque dói, foi mexida, então a gente sente um vazio dentro da gente. Mas num é, é porque realmente mexeu
mesmo com os órgãos dentro, a impressão é que tá vazio, que tá um vazio
aqui dentro, entendeu, eu acho que seja isso. (A10)
Será que ela pode sentir dor, quando ela mexer, que ela movimentar o local da cirurgia [fazendo inspiração para ajudar a refletir]. (Pesquisadora)
80
Eu acho que ela pode sentir dor. Que mexeu, então acho que, no que mexe,
eu acho que pode sentir dor. (A10)
Os sujeitos foram estimulados à reflexão e consequente tomada de consciência sobre a
importância da respiração para a saúde do idoso em pós-operatório. Assim, eles atribuíram
valor aos exercícios de respiração profunda (ERP), preconizados para promover a expansão
pulmonar e melhorar o padrão respiratório.
Pelo exposto, alguns saberes e práticas de acompanhantes de idosos sobre o tema em
tela foram desvelados. A partir do acesso a esses saberes e práticas, as diferentes fontes de
aprendizagem desses sujeitos foram conhecidas e serão abordadas a seguir.
4.2. Fontes de informação e de aprendizagem acerca dos cuidados fundamentais
evidenciados pelos acompanhantes de idosos sobre a prevenção de complicações
respiratórias pós-cirúrgicas
Os saberes e práticas sobre as complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso e os
modos de preveni-las, revelados no processo de problematização, são oriundos de diferentes
fontes de informação e aprendizagem.
Neste século, as sociedades se confrontam com transformações aceleradas,
desencadeadas, principalmente, pela globalização e pelo desenvolvimento técnico-científico
da informação e da comunicação. Essas transformações vão surgindo como marca
incontestável da nossa civilização, consolidando a dimensão política, social, cultural e
educativa, imputando à informação o centro do processo civilizacional.
Assmann (2000, p. 7) afirma que “A espécie humana alcançou hoje uma fase evolutiva
inédita na qual os aspectos, cognitivo e relacional, da convivialidade humana se
metamorfoseiam com rapidez nunca antes experimentada”. As fontes de informação e de
aprendizagem, portanto, são bem diversificadas e “a construção do conhecimento não mais
produto unilateral de seres humanos isolados” (MARTINS, 2010 p. 113).
Nesta pesquisa, diante da expressão de saberes e práticas dos sujeitos do estudo sobre
o assunto ora abordado, que emergiram a partir do processo dialógico entre minha pessoa e os
acompanhantes no contexto da VPO, foi possível conhecer as fontes acessadas por esses
sujeitos na conformação desses saberes e estabelecer as relações de sentido para o seu uso no
cuidado ao idoso em pós-operatório.
As respostas dadas pela maioria dos acompanhantes trouxeram diversas situações que
denotam o „saber da experiência feito‟, como uma importante fonte de aprendizagem,
exemplificado nas falas descritas a seguir:
81
Onde você aprendeu isso? (Pesquisadora)
Na experiência da vida (risos). (A2)
Com a vivência né, com o dia -a- dia né. (A3)
O mundo ensina né, a ter sabedoria né. (A9)
Ao se considerar que as experiências vivenciadas no cotidiano dos indivíduos se
configuram como uma forma de aprendizagem, depreende-se que “os acompanhantes não se
configuram como quadros em branco, onde os profissionais podem imprimir seus saberes e
prescrições. Ao contrário, eles trazem para o ambiente hospitalar suas próprias concepções
sobre saúde, doença, tratamento e cura” como sinalizado por Teixeira (2008, p. 116). Em se
tratando de acompanhantes idosos essa assertiva torna-se mais pertinente, devido à bagagem
de saberes construída ao longo dos anos.
Deste modo, para a enfermeira é importante reconhecer e valorizar a influência dos
fatores culturais no cuidado. Conforme assinalam Alvim e Ferreira (2007, p. 316):
Entendemos que a mudança de perspectiva no pensar e fazer da enfermeira no
campo da educação popular em saúde agrega seu papel educativo ao resgate da
pessoa como cidadã, participativa e consciente de sua condição de vida. Isto implica
em proposta de ação voltada ao diálogo e a intermediação de práticas e saberes que
dele resulta.
Assim sendo, considerar os valores culturais no contexto assistencial pressupõe-se
ofertar um cuidado congruente com a realidade de cada cliente, principalmente quando esses
clientes são os idosos e seus acompanhantes, pois, como apontam Gonçalves e Schier (2005 p.
278) “o paciente idoso e seu familiar acompanhante possuem jeitos próprios de perceber e
compreender o momento da hospitalização, da doença, enfim das suas próprias vidas.”
O reconhecimento e compreensão pelo profissional das diferenças culturais e de saberes
e práticas que lhes são comuns no âmbito do cuidado são aspectos importantes, uma vez que
estes são elaborados sobre a experiência concreta de quem a vive, distinta daquela vivida pelo
profissional (VALLA, 2000).
Rios e outros (2007, p. 505) compartilham deste pensamento ao afirmarem que os
profissionais e a população vivem as experiências de formas diferentes. “São sujeitos distintos
que têm um objeto em comum, porém o interpretam cada um adaptando-o à sua realidade e
contexto histórico, social e político.” Os profissionais oferecem o seu saber porque
82
consideram que o da população é insuficiente e inferior, quando, na verdade, é apenas
diferente e por vezes insuficiente, afirmam os autores.
Ocorre que a inserção do acompanhante no cuidado dentro do espaço hospitalar, na
maioria das vezes, dá-se segundo a “lógica do modelo biomédico, na qual os saberes e
práticas de cuidado, advindos do senso comum, não são valorizados no contexto geral da
assistência, inviabilizando a participação com autonomia dos acompanhantes, já que esta
exige tomada de consciência da situação” (TEIXEIRA; FERREIRA, 2009a, p.751).
Em minha experiência profissional e, também, neste estudo, constatei que muitos
acompanhantes se mostram atentos aos cuidados prestados pela equipe de enfermagem para
reproduzi-los, quando necessários. Alguns, preocupados com a „reprodução‟ desses cuidados,
buscavam informações junto à equipe de enfermagem. Comumente, eles concebem o cuidado
realizado por profissionais, seja no âmbito hospitalar ou domiciliar, como sendo o mais
apropriado e indiscutível, por advir do saber acadêmico.
Assim, a observação dos cuidados prestados por profissionais no contexto hospitalar
representou um meio de aprendizagem dos sujeitos, como demonstrado nas falas de A2, A3 e
A13.
É que onde eu ando, principalmente em hospital... (...) Eu sou uma pessoa
muito observadora. (A2)
Esses acompanhamentos no hospital, né, as enfermeiras fazem, os
fisioterapeutas faziam, né, e aconselhar, né, a gente fazer. (A3)
(...) De escutar as pessoas falarem, médico... de tá dentro do hospital com as
pessoas, vira um pouquinho, vira pro outro lado. De observar. (A13)
A observação dos cuidados prestados por profissionais no contexto domiciliar,
também se constituiu em uma forma de aprendizagem conforme relato dos sujeitos. A11 que
prestou cuidados remunerados em domicílio, a uma cliente idosa, portadora do Mal de
Alzheimer e que recebia visita médica em casa, informa que seu conhecimento foi construído
na prática do cuidado, amparado nas orientações de uma profissional de saúde no âmbito
domiciliar. Vejamos a sua fala:
(...) Eu sei, que quando eu cuidava dessa idosinha [em domicílio], a
doutora, né, sempre me explicou isso, tinha que sentá-la, né, botá-la bem sentada e bem devagarzinho. (A11)
No entanto, o que se vê com frequência é que nem sempre o que é observado ou
orientado por um profissional passa por um processo consciente de aprendizagem, mas sim
83
por uma absorção do conhecimento de forma acrítica, sem problematizá-lo na realidade
concreta do aprendiz. Como descrito por Martins (2010), geralmente, o que o cliente observa
é transferido automaticamente para o seu contexto, sem a devida crítica de sua pertinência ou
não, por entender que o saber proveniente da prática profissional deve ser sinônimo de
verdade e deve ser reproduzido sem questionamento.
Ao observar determinados cuidados realizados pelos profissionais no hospital e tentar
reproduzi-los em domicílio, tal conduta pode derivar alguns contratempos face às diferenças
próprias de cada ambiente ou, mesmo, de procedimentos e materiais que são peculiares do
hospital, nem sempre possíveis ou disponibilizados fora dele. Nessa direção, a autora citada
(p.114), referindo-se aos cuidados relativos à manutenção da ostomia de eliminação, objeto de
sua investigação, complementa que:
Existe a correlação do procedimento que é realizado no hospital como sendo de
melhor condição ou escolha para o cliente, não existindo, contudo, a flexibilidade
para novas aprendizagens ou opções de cuidado. Mesmo trazendo para a discussão
dialógica, outras possibilidades procedimentais, o cliente quase sempre correlaciona
com o que é feito no hospital, onde são usados determinados tipos de produtos,
entendidos por ele como sendo o de melhor qualidade para a execução de seu
cuidado.
Outras fontes de informação e aprendizagem enfatizadas pelas acompanhantes,
independente do nível de escolaridade e poder aquisitivo, foram os meios de comunicação,
principalmente os jornais e a televisão. Os programas de televisão voltados para as questões
de saúde são muito populares entre os sujeitos e vários tiveram seus nomes citados por eles,
como meio de aquisição de conhecimentos.
A internet não foi citada por nenhum dos sujeitos, mesmo os mais jovens, o que leva a
crer que esse importante meio de comunicação no mundo atual, ainda não está
suficientemente popularizado ou acessível a todas as classes sociais ou, ao menos, não de
forma semelhante ao interesse demonstrado pelos sujeitos à informação veiculada através da
imprensa falada e escrita, presente em diversas falas descritas seguir:
É, eu leio jornal, gosto de ver muita reportagem em televisão. Sempre pego
o jornal, dou uma lidazinha, gosto de ficar navegando na TV, procurando
reportagens pra aprender. Gosto muito de ouvir e ler reportagens sobre
isso, sobre esses problemas. ( A2)
Eu leio muito jornal (risos). Eu gosto de ler jornal, ele [CI] fica dizendo:
Você lê jornal de uma ponta à outra né. Eu gosto. Assisto muito TV, leio muito, leio livros. (A4)
A gente, às vezes, tem... escuta. Eu vejo muita televisão. (A7)
84
Ah, de escutar, de ver em televisão. (A13).
A utilização, pelas acompanhantes, da mídia e da observação dos cuidados prestados
por profissionais, como meios de informação e aprendizagem, vem ao encontro da afirmação
de Vasconcelos (2004, p.70):
Atualmente há duas grandes interfaces de relação educativa entre os serviços
de saúde e a população: os grandes meios de comunicação de massa e convivência cotidiana dos profissionais com a população nos serviços de
saúde. A segunda interface, na medida em que permite um contato muito
próximo entre os vários atores envolvidos no processo educativo, permite
um rico aprendizado dos caminhos de uma educação em saúde que respeite a autonomia e valorize a criatividade dos educandos.
Entretanto, embora se reconheça a importância dos meios de comunicação como fontes
de informação e aprendizagem, há de se refletir criticamente não somente sobre as
metodologias utilizadas pelos diferentes tipos de mídia para informar a população, mas,
também, acerca da forma pela qual essa reproduz o que lhe é informado, nem sempre com a
devida atenção ou tomada de consciência sobre seus efeitos.
Nesse sentido, Dias e outros (2009, p.161), ao analisarem a influência dos meios de
comunicação na promoção da saúde, consideram que “(...) nem tudo que é veiculado é
praticado e utilizado de maneira benéfica pelos usuários da mídia, assim como nem todas as
informações devem ser assimiladas pelo público sem um exercício crítico e reflexivo a
priori.”
Postura semelhante é adotada por Freire (2000), que ao aplicar a pedagogia
problematizadora voltada à educação, coloca a tecnologia, principalmente o vídeo, a televisão
e a informática, a serviço do educando, mas não aceita a sua utilização de forma acrítica e
destaca que nunca foi ingênuo apreciador da tecnologia, não a diviniza, de um lado, nem a
diaboliza, de outro.
Ainda nesta direção, Vieira (2010, p. 41) observa que, via de regra, o conteúdo
oferecido pela mídia é frágil e superficial, “por isso, propor uma pedagogia crítica é duvidar da
informação e buscar fontes virtuais consistentes com uma base técnica e científica e para isto
faz-se necessária a avaliação das formas como serão tratados, analisados e trabalhados esses
conteúdos.”
85
Desse modo, não se pode negar a relevância dessas reconhecidas fontes de informação
popular, como ficou claro nas falas de diversos acompanhantes, mas a qualidade das
informações veiculadas através da mídia deve ser vista com cautela.
Pelo exposto, as fontes de informação e aprendizagem reveladas pelas acompanhantes,
neste estudo, são provenientes de situações vivenciadas tanto consigo mesmas quanto por
familiares ou vizinhos, da observação dos cuidados prestados por profissionais no contexto
hospitalar e domiciliar, de experiências prévias como cuidadores remunerados de idosos e da
mídia falada e escrita.
Na busca por uma inter-relação sujeito-pesquisadora, a partir do diálogo e da
problematização, emergiram vivências e experiências desses sujeitos sobre o tema em apreço.
Nesse processo, foi possível a fusão de saberes, técnicos e populares, a caminho da construção
do plano compartilhado, no intuito de ofertar o cuidado ao idoso em pós-operatório que
pudesse, ao tempo em que promover-lhe bem-estar e conforto, prevenir ou minimizar
possíveis problemas respiratórios.
No próximo capítulo trataremos da construção do plano de cuidados compartilhado com
acompanhantes visando à prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório de
clientes idosos.
86
Capítulo V
Construindo o plano de cuidados no
diálogo com acompanhantes com vistas à
prevenção de complicações respiratórias
no pós-operatório de idosos
87
CAPÍTULO V
CONSTRUINDO O PLANO DE CUIDADOS NO DIÁLOGO COM
ACOMPANHANTES COM VISTAS À PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES
RESPIRATÓRIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE IDOSOS
O fato de ter valorizado a bagagem de saberes e as experiências prévias, trazidas pelos
acompanhantes para o espaço de educação dialógica, viabilizou a construção do plano de
cuidados “com” os clientes e não “para” os clientes, numa perspectiva de aliança de saberes,
conferindo-lhes a possibilidade de exercer autonomia no cuidado ao idoso no período pós-
operatório.
Neste estudo, o plano de cuidados construído junto a acompanhantes se deu em bases
semelhantes àquelas presentes na tese de doutorado de Teixeira (2008 p.147), ao afirmar que
a elaboração desse plano “é a expressão escrita que permite operacionalizar os cuidados, é o
produto que materializou o cuidado compartilhado, pois sua elaboração se iniciou com o
diálogo/reflexão que permitiu que os saberes do sistema profissional e do sistema popular
fossem compartilhados”.
A exemplo da proposta e dos resultados da tese da autora citada, na pesquisa ora
apresentada, a entrevista dialogada e problematizada durante a visita pré-operatória,
viabilizou a elaboração de um plano de cuidados voltado para a prevenção de complicações
respiratórias pós-cirúrgicas em idosos. Esse plano foi construído, considerando saberes e
práticas de meu lugar social, como enfermeira, e aqueles trazidos pelos acompanhantes, além
dos resultantes da reflexão realizada durante a entrevista.
Concordo com Teixeira e Ferreira (2009b, p. 412), quando dizem que “é preciso
superar a dimensão prescritiva do cuidado e caminhar no sentido de reconhecer que na relação
entre a enfermeira e o acompanhante, ambos os sujeitos devem ter espaço e voz no processo,
com respeito às diferenças de valores e de expectativas”.
Conforme salientam Alvim e Ferreira (2007, p. 319) “O exercício da prática de
educação popular em saúde pressupõe abertura, disponibilidade para ouvir o outro,
horizontalidade na relação interpessoal e na ação educativa em si, pois, o ato participativo é
humanizante”. Desse modo, a partir da questão “o que fazer antes e depois da cirurgia para
evitar que o idoso venha a ter problemas no pulmão?”, foi revelada uma série de cuidados
fundamentais à prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas.
88
Como vimos, dentre as complicações respiratórias mais frequentes no pós-operatório
estão a atelectasia, a pneumonia, a tromboembolia pulmonar e a falência respiratória
(RODRIGUES; ÉVORA; VICENTE, 2008, p.469). Para intervir nesse quadro, alguns
cuidados ao idoso são importantes de serem implementados no período pós-operatório:
incentivo à mobilização no leito; uso liberal da posição sentada; deambulação precoce;
estímulo à realização de exercícios respiratório (ERP) e incentivo à tosse; e hidratação
adequada (SILVA; RODRIGUES; CESARETTI, 1997; FERNANDES; RUIZ NETO, 2002;
SMELTZER; BARE, 2009).
Faz-se necessário mencionar que a esses cuidados outro foi acrescido, advindo do saber
técnico-científico da pesquisadora, por sua relevância para evitar complicações respiratórias: a
prevenção de broncoaspiração.
Essa afirmativa está pautada em Souza e outros (2007, p. 148), quando explicam que
“os reflexos de proteção laríngeos estão comprometidos no paciente idoso, predispondo a
complicações como pneumonia por broncoaspiração” no pós-operatório e em Nettina (2007)
que considera a aspiração uma complicação séria, responsável por um alto índice de
mortalidade. Para a autora, o paciente cirúrgico idoso está constantemente em grande risco de
aspiração.
Tais cuidados foram problematizados durante a produção de dados da pesquisa junto a
acompanhantes a partir de seus saberes e/ou experiências prévias e integraram o plano de
cuidados com vistas a sua implementação no pós-operatório do cliente idoso.
Concordo com os argumentos de Teixeira, (2008, p. 177) de que no contexto
profissional, o cuidado prestado ao cliente precisa ser sistematizado, ou seja, planejar as ações
através do processo de enfermagem. “O planejamento consiste na determinação de um plano,
elaborado pelo enfermeiro para assistir o cliente, com vistas ao alcance de objetivos/metas
traçados. Essa fase de planejamento engloba a elaboração do plano de ações que será
executado.”
Assim, apresento a seguir os cuidados que integraram o plano compartilhado com as
acompanhantes, considerando os seus saberes e práticas revelados no processo dialógico.
Mobilização no leito: mudar de decúbito e sentar
As mudanças de decúbito e a posição sentada, obtida pela elevação da cabeceira do
leito, são importantes ferramentas para a prevenção de complicações respiratórias, uma vez
que contribuem para otimizar a função pulmonar. Ambas podem estimular a tosse e a
89
expectoração e, assim, aumentar a ventilação dos pulmões. É um cuidado que pode ser
realizado logo após o procedimento cirúrgico, pois, de acordo com Smeltzer e Bare (2009), o
cliente poderá ser colocado em posição lateral no pós-operatório, mesmo antes de recuperar a
consciência.
Cabe lembrar que os benefícios da movimentação não se limitam à prevenção ou
minimização de complicações respiratórias. Estendem-se, também, à prevenção de outras
sérias complicações, como TVP e UP, uma vez que “as mudanças de posição estimulam a
circulação e aliviam áreas de pressão” (NETTINA, 2007, p. 89). Assim sendo, a mobilização
no leito é um cuidado fundamental a ser realizado junto ao idoso em pós-operatório.
Na discussão sobre como prevenir complicações respiratórias no pós-operatório,
quando questionados: “o que fazer para evitar que o idoso venha a ter problemas no pulmão
depois da cirurgia?”, foi revelado que a mobilização é um cuidado bastante difundido no
senso comum. Os sujeitos ressaltaram a importância das mudanças de decúbito para preservar
a mecânica pulmonar do idoso no período pós-operatório, como mostram os recortes de
diálogo com A2, A3, A4, A7, A10, A12 e A13.
Eu acredito que a gente tem que pedir pra ele [o idoso] se movimentar e se
ele não puder se movimentar sozinho, a gente ajuda. (A2)
Fazer movimentar, né. O idoso se movimentar, se mexer, se virar, virar, não
ficar na mesma posição só. (A3)
É, eu viraria ele prá que ele tivesse mais condições de respirar ou levantar
um pouco, né, respirar... encher o pulmão de ar prá ele ficar mais à
vontade. (A4)
(...) Eu sei que é assim, que fica muito tempo assim deitada, vira um bucado
de lado pra... dá posição pro pulmão até funcionar um bocado. Depois
vira... direito, vira outra vez pra esquerda, faz aquele movimento e fica. (A7)
Acho que tá sempre virando, né, virar de lado. (A10)
Ele tem que virar prum lado pro outro né. Falando com ele tem que virar,
vamos virar, senão você apanha outra coisa e ficar pior, tem que
movimentar o corpo, num ficar parado, num pode ficar parado, tem que
movimentar, porque geralmente é assim né a gente tem que ficar sempre se movimentando, porque senão a dor acomoda, a dor pára ali e fica ali
paralisada. E a pessoa se mexendo, tendo... se exercitando mais, acho que...
é melhor. (A12)
(...) falar pra ele sentar um pouco, pra ele virar prum lado, pra ele virar pro
outro. Porque isso até quando ele ficou com a sonda [vesical]... eu falei isso com ele, porque ele chegava, tava dando ferida até nas costas. (A13)
90
Ao sinalizarem as mudanças de decúbito, como prevenção para complicações
respiratórias, os sujeitos foram indagados: “o que acontece com o pulmão se a pessoa se virar
na cama?” Eles mostraram que têm ideia do modo como a mobilização atua sobre a dinâmica
pulmonar, ou seja, que a lateralidade corporal favorece a expansão e desloca os fluidos
pulmonares, resultando em melhores condições respiratórias:
(...) Se a gente virar, se movimentar, eu acredito que dentro da gente, ele
[pulmão] deve sentir também a posição que a gente tá virando. (...) porque se a gente vai ficar só... numa posição só, a gente sabe lá o que está
acontecendo lá dentro, então, a gente tem que se virar, se ajeitando prá... se
tem, se ficou algo, se tem algo, ir se movimentando também, né. (A2)
(...) eu virava mais porque, pra num... dizia que era pro pulmão funcionar
melhor, pra não criar água, num sei um lance assim, não sei se é. (A7)
Não juntar catarro. (Pesquisadora) É isso aí. (A7)
Pára de comprimir o pulmão. (A13) E facilita o funcionamento do pulmão? (Pesquisadora)
A respiração, facilita, eu acho que é isso né. (A13)
A5 e A6 que não trouxeram esse saber de suas experiências anteriores, a partir do
diálogo com a pesquisadora demonstraram interesse na discussão sobre a importância da
mobilização para a prevenção de complicações respiratórias:
Acho bom, acho bom, pra facilitar, né. Da outra vez [cirurgia realizada anteriormente na idosa] ficou. (A5)
Procurar fazê-la caminhar, alguma coisa assim? Ir ao banheiro, levantar. (...) Virar... de lado? Deve ajudar, né. (A6)
As mudanças de decúbito devem ser realizadas no mínimo a cada 2h, conforme
recomendado por Smeltzer e Bare (2009). A importância da frequência de tais cuidados
esteve presente nas falas de alguns acompanhantes:
Acho que tá sempre virando, né, virar de lado. (A10)
Tem que virar várias vezes ao dia, né. Como eu... já cuidei e... fazia isso
[referindo-se à sua experiência prévia como cuidadora remunerada]. (A11)
Na impossibilidade de mudar de posição, A7 citou como alternativa para promover a
mobilização, desencostar o cliente do leito a fim de aliviar a pressão pulmonar, estratégia
utilizada por ela em experiências prévias de cuidado conforme descreveu:
91
Se [o idoso] não puder virar, segura um bucadinho as costas dele, pra ele
não fazer muita força, então, deixa a gente segurar um bucado as costas... (A7)
Ao propor a mobilização passiva20
, como opção à impossibilidade de mobilização
ativa21
, a acompanhante idosa, de baixa escolaridade e que já cuidou de vários familiares no
contexto hospitalar e domiciliar, segundo seu relato, ratificou o valor do saber popular
socialmente construído a partir de suas experiências prévias. Reconhece-se aí, a capacidade e
a criatividade das pessoas leigas para desenvolverem maneiras próprias de cuidar. Essas
maneiras são resultantes de saberes provenientes de diferentes fontes. Ou seja, não é um saber
restrito ou genuinamente popular, mas retrata um conjunto de saberes que vão sendo tecidos
na rede de relações e interações com outros saberes, populares e científicos.
A fala de A7 demonstra que o estudo atendeu aos princípios apontados por Trentini e
Paim (1999) para uma pesquisa convergente-assistencial. O diálogo levou a acompanhante à
reflexão sobre as alternativas de solução para problemas encontrados na prática. Dessa forma,
o diálogo produziu dados para a pesquisa e convergiu para a prática assistencial.
No entanto, embora a mobilização tenha sido reconhecida como um cuidado
importante pelas acompanhantes, os curativos, talas ou drenos, costumam intimidar o cliente a
mudar de posição, levando-os à restrição de movimentos (SMELTZER; BARE, 2009).
Acrescento, pela minha experiência cuidando de pessoas em situações cirúrgicas, que a
presença de hidratação venosa também pode inibir as mudanças de decúbito, fato que foi
trabalhado com o acompanhante e o próprio cliente idoso durante a entrevista dialogada, para
ajudá-los a superar o medo de perder o acesso venoso durante a mobilização. Outro ponto que
releva a convergência da pesquisa com a assistência e as mudanças impressas à minha prática,
como enfermeira.
Sentar o cliente idoso no leito, auxiliado pela elevação da cabeceira da cama, foi outro
cuidado reconhecido como importante que emergiu do diálogo com os acompanhantes. As
falas de A3 e A8 exemplificam a noção que os sujeitos trouxeram sobre a prevenção de
broncoaspiração:
A senhora sabe o que deve fazer se ele sentir vontade de vomitar? Ou se ele vomitar? (Pesquisadora)
Tem que elevar a cabeça, né? (A8)
Elevar a cabeça, ou virar de lado, pra quê? (Pesquisadora)
20 Exercício executado, no caso deste estudo, pelo acompanhante sem a participação do cliente idoso
(SMELTZER; BARE, op. cit.). 21 Exercício realizado pelo cliente idoso, sem ajuda ( Id.).
92
Pra ... não, não sufocar. (A8)
É perigoso também beber água deitado, né, porque a água pode voltar pro pulmão (Pesquisadora)
É, isso aí eu também falava pra mamãe também, não podia dar água a ela
deitada (A8)
Se a pessoa tiver vomitando, tiver de cabeceira baixa, pode acontecer
alguma coisa, algum acidente? (Pesquisadora)
Ah, pode sim, com certeza. Pode sufocar, pode... voltar e ir até pro pulmão (A3)
O universo vocabular próprio de A3 e A8 evidencia práticas habituais de cuidado que
revelam seus conhecimentos sobre a prevenção de broncoaspiração, uma séria complicação
pós-operatória, principalmente em idosos, como foi descrito.
Assim, sentar o cliente idoso no leito, além dos benefícios ao sistema respiratório,
permite ao mesmo se alimentar com conforto e segurança enquanto restrito ao leito,
minimizando o risco de engasgo e aspiração de alimentos. Para tanto, de acordo com Smeltzer
e Bare (2009), alguns cuidados precisam ser tomados: o paciente tem de estar consciente; a
cabeceira do leito deve ser elevada lentamente; se o paciente se queixar de tonteira, abaixar a
cabeceira vagarosamente e só elevar novamente 1 ou 2 h depois, se a tonteira desaparecer.
Tais cuidados foram propostos aos sujeitos, a fim de prevenir intercorrências durante a
mobilização do cliente idoso em pós-operatório imediato.
Sentar fora do leito e deambular
Estimular o cliente idoso a sentar fora do leito e a deambular depois da cirurgia,
também exige que alguns cuidados sejam observados. O processo é progressivo e algumas
etapas são seguidas, em prol da segurança tanto do idoso quanto de seu acompanhante, no
caso deste estudo. O primeiro passo é sentar o idoso no leito, até que qualquer vestígio de
tonteira tenha desaparecido; a seguir ajudá-lo a ficar de pé ao lado da cama e só começar a
andar após acostumar com a posição vertical (p. 349).
A deambulação precoce é uma das melhores medidas preventivas para as
complicações respiratórias, sobretudo, em pessoas idosas. Estimular o cliente a andar,
aumenta o metabolismo e a ventilação dos pulmões, podendo melhorar todas as funções
orgânicas. Se possível, é recomendável sair do leito no primeiro ou no segundo dia pós-
operatório, muitas vezes, no mesmo dia (p. 355).
Além de reduzir a incidência das complicações respiratórias, a deambulação precoce
diminui a possibilidade de distensão abdominal por estimular a peristalse; reduz a ocorrência
93
de TVP ao prevenir a estase do sangue e aumentar a velocidade da circulação nas
extremidades; acelera a cicatrização e minimiza a dor das feridas abdominais; e contribui para
que a frequência do pulso e a temperatura retornem rápido ao normal. Consequentemente, a
permanência no hospital é menor e menos dispendiosa (SMELTZER; BARE, 2009).
Assim, incentivar o cliente a andar prematuramente após a cirurgia é um cuidado
essencial para a prevenção de complicações. No entanto, há de se ter cuidado para não
exceder a tolerância do paciente. Em se tratando de cliente idoso, essa observação se faz
sobremaneira importante, a fim de prevenir quedas e suas complicações como fraturas e danos
à cirurgia. “As quedas entre pessoas idosas constituem importante problema de saúde pública
devido à sua alta incidência, às complicações para a saúde e aos altos custos assistenciais”
(CARVALHO; COUTINHO, 2002, p.448).
Portanto, é fundamental assegurar a integridade física do idoso, questão problematizada
com as acompanhantes no decorrer das entrevistas dialogadas. A preocupação com a
segurança do cliente idoso em pós-operatório teve lugar na construção do plano,
especialmente, por ser comum encontrar a figura do acompanhante idoso, ou seja, idoso
cuidando de idoso, realidade essa também presente neste estudo. Assim, o risco de uma queda
poderia causar trauma a ambos, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico.
A importância da deambulação para a prevenção de complicações respiratórias emergiu
das falas dos sujeitos. Em razão do exposto, a discussão sobre a deambulação incluiu as
medidas de segurança pertinente, como descrito a seguir:
Caminhar, sentar... Sem cansar muito. (A5)
Sem cansar muito. Vê se não tá tonta [CI]. Pode levantar a cabeceira
primeiro, experimentar, sentar na borda da cama, vê se não tá tonta... E tem a equipe de enfermagem que você pode chamar, pra qualquer coisa que a
senhora precisar. (Pesquisadora)
De noite mesmo ele levanta, não? (A7)
Dependendo da hora que ele chegue [do CC] até daria pra ele levantar à
noite, mas a gente precisa ter cuidado com questão de tonteira, tá? Sentar na cama não tem problema, mas para levantar a gente tem que ter um pouco
mais de cuidado. (Pesquisadora)
Ah, eu, eu aconselharia a andar. Andar, respirar, né, o ar livre, é, é, ter mais é... ventilação né (...). Andar respirando, devagarinho. (A10)
Exatamente, porque você pode fazer uma tonteira, por isso que a gente não
vai levantar num primeiro momento né. Vai sentar primeiro na cama... (Pesquisadora)
Até uma pessoa normal, quando você, você levanta muito rápido, fica meia
tonta. (A10)
Você sabe por que quando você levanta assim muito rápido você fica meio tonta? (Pesquisadora)
94
Dá um problema na, pressão né, queda de pressão. (A10)
É e você pode até cair. Por isso que a gente não pode levantar muito rápido, você pode fazer uma tonteira e até cair. (Pesquisadora)
A pressão é muito rápido né. Principalmente devido à idade também. (A10)
É, com a idade as coisas ficam mais delicadas, a gente sabe disso.
(Pesquisadora)
A2 reconheceu, por experiência própria, a necessidade de cuidados visando à segurança
do cliente idoso ao incentivá-lo a deixar o leito, como descrito a seguir:
E com relação a sentar e andar, o que é que você acha? (Pesquisadora)
A sentar... eu vou falar porque eu já tive a experiência, né (...) eu acho
importante pra você... porque se você for ficar só deitado, vai esquecer dos seus movimentos do dia-a-dia e você vai sentir falta. Então é melhor você
sentar, dá um tempinho e depois dá uns passozinhos. (A2)
Dá esse tempinho, por quê? (Pesquisadora)
Porque, às vezes, você está com um pouco de tonteira... Porque você tá só deitada, aí, quando você levanta você sente um pouco tonta. Então, você tem
que ficar sentada um tempo, uns 15 a 20 minutos. (A2)
Então, antes de levantar, deve primeiro sentar na cama? (Pesquisadora) Eu acho bom porque a gente vai... No casa, a nossa cabeça vai
memorizando o que a gente vai querer fazer. (A2)
A preocupação com a segurança do cliente idoso em pós-operatório, já referida, fez
com que no plano de cuidados compartilhado não fosse incentivada a deambulação nas
primeiras horas do pós-operatório. Essa medida foi problematizada levando em consideração
fatores como o retorno à enfermaria no final da tarde e a permanência do idoso em jejum até o
dia seguinte, o que aumenta o risco de tontura e queda, inclusive, podendo afetar também o
acompanhante idoso.
Assim, integraram o plano nas primeiras horas, após a cirurgia os cuidados a serem
realizados com os idosos no leito, como respiração profunda, mudanças de decúbito e sentar
com auxílio da elevação da cabeceira da cama.
Vale ressaltar que foi considerada a possibilidade do cliente idoso levantar
precocemente para utilizar o vaso sanitário, dada a dificuldade que algumas pessoas
apresentam em urinar/evacuar deitadas e não se julgar pertinente submetê-lo a um cateterismo
vesical, pois, além de ser um procedimento invasivo, há risco de infecção. Quase sempre os
pacientes não são capazes de urinar enquanto estão deitados no leito, mas, quando é possível
sentar ou levantar, eles urinam sem dificuldade (SMELTZER; BARE, 2009).
Dessa forma, antes de auxiliar o idoso na ida ao banheiro, foi negociado com os
acompanhantes no pós-operatório tentar primeiro fazer com que o idoso utilizasse o patinho
95
em pé e, a idosa, a comadre (com auxílio da cadeira higiênica) ambos próximos ao leito,
solicitando ajuda à equipe de enfermagem, se necessário. Em caso de não surtir efeito,
conduzi-los ao banheiro, como no caso da cliente idosa acompanhada por A3:
Até levantou e foi pro banheiro, né? (risos). A primeira vez que ela foi ao
banheiro, a menina [profissional de enfermagem] já estava aqui, já não
precisei chamar, ela ajudou, ajudou, né. Eu também fui ajudando e ela
ajudou. Mas, na madrugada não, na madrugada eu levantei com ela sozinha e fomos. (A3)
Exercícios respiratórios: ERP e o estímulo à tosse
Os ERP integram os cuidados preconizados para restaurar a mecânica pulmonar no
pós-operatório e interferir no desenvolvimento de complicações respiratórias. Tais exercícios
apresentam vantagens em relação a outros cuidados, pois eles podem ser realizados tão logo o
cliente esteja consciente, em caso de anestesia geral e atua diretamente sobre o pulmão. A
técnica é de fácil realização na qual não se utilizam recursos mecânicos.
Os ERP devem ser executados através de inspiração nasal lenta e uniforme, seguida de
expiração oral relaxada, para promover a expiração mais completa e o esvaziamento dos
pulmões por inteiro. As mãos devem ser colocadas sobre o abdome para aumentar a
percepção do diafragma e sua função na respiração. A literatura sugere que esses exercícios
sejam realizados a intervalos de uma ou duas horas, mas não há consenso sobre a frequência
ideal ou se o aumento da frequência acrescenta benefícios ao tratamento (RENAULT et al,
2009).
De acordo com Smeltzer e Bare (2009, p.319), uma das metas do cuidado de
enfermagem no pré-operatório é “ensinar [na orientação teórica deste estudo, discutir] ao
paciente como promover a ventilação pulmonar e a oxigenação sanguínea após a anestesia
geral”, por meio de ERP. Portanto, fez-se necessário incluir na discussão com os sujeitos, o
procedimento para a execução desses exercícios.
Diante da importância do músculo diafragma para a respiração e principalmente para a
realização de ERP, foi apresentada aos sujeitos uma foto de um pulmão exibindo a árvore
brônquica e o diafragma apoiando a sua base (Figura 3). Assim, na entrevista dialogada,
foram abordadas noções de anatomia e fisiologia, tendo a participação ativa e atenta das
acompanhantes:
96
Figura 3 - Imagem do interior do pulmão + diafragma
Fonte: BARROS, 2005.
Isso é o músculo diafragma [Figura 3]. Já ouviu falar? (Pesquisadora)
Já. (A3) É o músculo mais importante da respiração. Então, quando a gente precisa
fazer uma respiração profunda, um exercício respiratório [faço
demonstração e A3 me acompanha], é nele que a gente tem que atuar.
(Pesquisadora) Risos. (A3)
Isso aqui, é esse músculo que a gente tem aqui [mostro localização do diafragma] e ele é super importante para a respiração. Por isso pra respirar
bem, pra respirar profundo, grande, a gente tem que usar essa musculatura.
(Pesquisadora)
O tórax, chama o tórax? (A7) Esse aqui é o diafragma. O tórax é essa parte aqui de cima. (Pesquisadora)
Ah, tá. Respiração profunda, ele pode fazer na hora que chega? (A7)
Na hora que ele chegar, não tem problema, enchendo bem o pulmão, puxando o ar devagar pelo nariz, sem pressa, não é pra ter estresse.
(Pesquisadora)
É mesmo deitado, né? (A7) Deitado, é deitado mesmo. (Pesquisadora)
O diafragma é esse músculo, ele separa aqui, o tórax do abdome. Então a
gente pra respirar precisa dessa musculatura. Isso aqui [Figura 3] é essa musculatura que a gente tem aqui [mostrando a localização do diafragma],
que é o músculo diafragma e que ajuda a gente a respirar. (Pesquisadora)
Um hum... interessante [segue olhando com atenção outras fotos do aparelho respiratório disponibilizadas]. (A8)
Tá escrito aqui, não sei se dar pra senhora enxergar? (Pesquisadora) Dá, dá, diafragma é. (A12)
Esse músculo, é esse que a gente tem aqui [mostro localização do
diafragma], é o músculo mais importante da respiração. (Pesquisadora)
É. (A12)
Após discussão sobre os fatores que prejudicam a mecânica pulmonar no pós-
operatório, as alterações em decorrência do envelhecimento que fragilizam os pulmões dos
97
idosos e demonstrado a importância do diafragma para a respiração, foram propostos ERP ou
respiração diafragmática como medida para otimizar a função pulmonar do idoso depois da
cirurgia. Foi destacado também que os ERP ajudam o paciente a relaxar (SMELTZER;
BARE, 2009).
Como relatado, o debate com os sujeitos sobre os riscos de distúrbios ventilatórios,
decorrentes de alguns fatores anestésico/cirúrgico e suas consequências sobre a saúde do
idoso, imputou valor às ações de cuidado voltadas para a prevenção de tais complicações.
Assim, a proposição de incentivo à realização de ERP ao idoso em pós-operatório obteve total
adesão tanto por parte das acompanhantes quanto dos clientes idosos.
Os ERP foram executados pelo idoso em pós-operatório imediato, sob incentivo e
supervisão das acompanhantes, como coadjuvante para a prevenção ou minimização das
complicações respiratórias. Foi, ao lado da mobilização no leito, o cuidado mais realizado
pelos acompanhantes ao idoso.
A exemplo da discussão sobre causas e efeitos do processo anestésico/cirúrgico sob a
mecânica respiratória, para facilitar o entendimento e a tomada de consciência acerca da
importância de incentivar e/ou ajudar o idoso na realização dos ERP no pós-operatório,
demonstrei no meu corpo e no corpo do acompanhante sobre como realizar a respiração
profunda:
Vamos fazer a respiração profunda? Então a gente tem que usar essa
musculatura aqui né, do abdome. Coloque as mãos aqui em cima do diafragma, vai encher o pulmão devagarzinho, bem devagarzinho mesmo,
puxando o ar pelo nariz até lá embaixo, até ver se vai acontecer alguma
coisa com a mão, vamos lá, concentração. Puxando bem devagarzinho pelo
nariz, com a boca fechada [acompanhante inspira], agora solte devagarzinho pela boca [acompanhante expira] (risos). (Pesquisadora)
(...) encha bem o pulmão puxando o ar devagar pelo nariz e soltando pela boca, fazendo biquinho. Eu vou fazer junto com a senhora. Então,
enchendo...esvaziando [inspiramos e expiramos juntas]. (Pesquisadora)
Parece que é tipo uma acomodação, né. Aí, a gente tenta buscar da barriga,
eu não consigo. Eu até já... tentei, mas eu não sei. (A2)
Você consegue. Você coloca a sua mão na barriga, aí você vai inspirando
devagarzinho pelo nariz. Lentamente, não pode ter pressa, lentamente... Aí
você vai sentir que a sua barriga vai subir, a gente põe a mão aqui embaixo [posiciono a mão de A2 sobre o diafragma], a gente vê que a barriga vai
subir. Depois você solta devagarzinho pela boca. (Pesquisadora)
98
Foi utilizada, também, uma bola de soprar22
, que em algumas regiões do país é
conhecida como bexiga (adaptada para ser acoplada a uma seringa de 20 ml), para simular a
dinâmica pulmonar e levar noções sobre atelectasia e hipoventilação. Simultaneamente aos
movimentos de inspiração/expiração, era insuflada e esvaziada a bexiga, correlacionando à
expansão/retração pulmonar.
Assim, a mecânica pulmonar, ao ser codificada pela bola de soprar e descodificada no
aprofundamento do diálogo, auxiliou as acompanhantes na tomada de consciência sobre o
assunto em discussão.
Figura 4 - Bola se soprar/bexiga com adaptador
Fonte: Criação da pesquisadora
A seguir, os recortes de diálogo com A5 e A7 que exemplificam esse ponto:
(...) encher todo o pulmão de ar. (...) e esvaziar bem, porque da mesma
forma que a gente enche bem, tem que esvaziar bem pra que todos os
espaços do pulmão [fazendo demonstração com a bola de soprar] sejam
preenchidos e esvaziados e o ar seja renovado. Entra e sai ... entra e sai... [o ar]. Então inspira profundamente... e solta devagarzinho pela boca... faça
biquinho pela boca. Ó, [pesquisadora expira junto com a idosa para
demonstração, sob a observação de A5]. Isso inclusive é um excelente exercício de relaxamento. (Pesquisadora)
Legal, legal. (A5)
O movimento do pulmão é esse, né, [inspiro e expiro mostrando a expansão e
retração pulmonar, o movimento de subida e descida do tórax], sobe e desce.
(...) Então, o que a gente tem que fazer com ele [pulmão] é assim. [demonstração com a bola de soprar], encher.... (Pesquisadora)
E esvaziar. (A7)
Esvaziar. Encher bem, esvaziar bem, pra que esse ar seja sempre renovado, pra que não vá ficando ar em lugar nenhum, sem ser renovado, um ar
viciado. (Pesquisadora)
Delícia (risos) [A7 inspirando/expirando]. (A7)
22 A título informativo: O artigo “O caminho do ar: O sistema respiratório em estudo” (DIAS; FERNANDES;
OLIVEIRA, 2010) ), orienta a construção de um “pulmão educativo”, que só foi descoberto pela pesquisadora
posteriormente à produção dos dados.
99
No movimento reflexivo, proporcionado pelo diálogo problematizador, A7 destaca:
Por isso que sopra muita bola. A minha irmã soprava bola, eu ia com ela pra soprar aquelas bolas. (A7).
No senso comum, o saber se constrói por associação. A acompanhante teve a
capacidade de associar a experiência vivenciada no âmbito hospitalar, ao acompanhar o
familiar em pós-operatório de cirurgia cardíaca à situação atual. Ela reconheceu, a partir do
diálogo e da representação dos movimentos de expansão e retração pulmonar, através da bola
de soprar, os exercícios respiratórios praticados pela irmã e sua finalidade.
Esse exemplo ilustra a transitividade da consciência, na medida em que a consciência
ingênua de A7 sobre o fenômeno, após o exercício de reflexão estimulado pelo diálogo
problematizador, transformou-se em consciência crítica. E, certamente, o saber novo ou
reconstruído, derivado desse processo será utilizado no cuidado concreto ao idoso
acompanhado em pós-operatório.
O movimento das orientações dialogadas levou A11 a refletir criticamente sobre outras
situações de cuidado das quais participou:
A senhorinha que teve... três infartos lá no meu trabalho pago [como
cuidadora de uma idosa no domicílio], a fisioterapeuta dela, agora você tá falando isso, eu tou me lembrando, ela faz esse tipo de exercício nela.
Porque ela tem também, que ela tem muita água no... pulmão, de vez em
quando dá. Ela tem porque ela já teve três infartos, então o médico falou que ela tem muita facilidade. Aí ela faz esse tipo de exercício. Ela faz... A
fisioterapeuta diz que é pro pulmão dela. Prá poder... abrir, respirar
melhor. (A11)
A4, através de gestos e linguagem metafórica, trouxe inclusive, noções sobre
prevenção de atelectasia:
Acho que porque ele vai entrar ar, né... vai ficar mais cheinho, né, não vai
ficar...[bate as palmas das mãos uma na outra], como diz a minha filha...“os
velcros” [se referindo aos alvéolos] não vão ficar colados, não (risos). (A4)
O diálogo qualificou a associação que as acompanhantes fizeram sobre os fatores que
favorecem o desenvolvimento de complicações respiratórias e os cuidados para evitá-las ou
minimizá-las. Durante o processo de discussão, as reflexões, a partir das experiências
concretas de cuidado, vieram à tona, ratificando a forma como é construído o conhecimento
do senso comum. Por meio dessa estratégia, eles puderam compreender melhor a situação-
100
problema e foram capazes de construir um novo conhecimento, que certamente será mais
efetivo e refletirá no cuidado ao idoso em pós-operatório.
Vale lembrar que as pessoas portadoras de doença pulmonar, especialmente de DPOC,
devem realizar os exercícios de respiração profunda com cautela, pois podem desencadear
crise de dispneia. É oportuno destacar que aos três portadores de doença pulmonar que havia
nesse estudo, foi dada especial atenção no momento da realização desses exercícios
(respirações ainda mais lentas e rítmicas que os demais clientes), não tendo sido constatada
nenhuma intolerância aos mesmos tanto no pré quanto no pós-operatório.
As acompanhantes, bem como, os idosos, foram orientados para, diante de qualquer
desconforto respiratório durante os ERP, cessá-los. E, para compensar, fazer uso liberal da
mobilização, ingestão hídrica e estimular a tosse se tolerada, uma vez que esses idosos, devido
às patologias pulmonares, eram mais susceptíveis às complicações respiratórias no pós-
operatório.
Para auxiliar na superação da dor, caso essa se fizesse presente e prejudicasse a
realização de ERP, foi sugerido aos sujeitos recorrer à equipe de enfermagem e solicitar a
administração de analgésico prescrito, o que não se fez necessário.
Assim como os ERP, o estímulo à tosse é outro exercício respiratório importante a ser
realizado pelo idoso no pós-operatório, visto que a tosse é considerada a principal defesa do
organismo contra o acúmulo de secreções nos pulmões, “atuando na limpeza das vias aéreas
inferiores, de onde propulsiona secreções e outros materiais estranhos acumulados”, como
assegura Palombini et al (2001, p. 55). Logo, “a tosse é essencial para o deslocamento e a
expectoração da secreção pulmonar acumulada, garantindo a proteção do sistema respiratório,
sua higiene e equilíbrio, diminuindo assim o risco de atelectasias e infecções” (TONELLA;
ARAÚJO; SILVA, 2006, p. 634).
Pelo exposto, depreende-se que o incentivo à tosse pode tornar-se um aliado na
prevenção de complicações respiratórias. No entanto, tossir é um procedimento de grande
esforço que gera dor e medo de causar agravos ao procedimento cirúrgico, como ratificado
pelas falas dos sujeitos quando interpelados: “o que acontece quando a pessoa tosse depois de
uma cirurgia?”:
Sente dor né. (A4)
A gente fica com medo de tossir e arrebentar ponto e quando é - Ah! Eu vou
tossir e vai ofender a cirurgia. (A5)
101
(...) a gente fala que vai tossir pode...sacudir muito o corpo por causa da
cirurgia, prejudicar aonde operou, porque se tomou ponto, então não sei.
(A13)
Para interferir nesse quadro, é recomendo a administração de analgésicos e a contenção
do local da cirurgia (se houver incisão torácica ou abdominal), que ajudam o cliente a vencer
a dor e o medo de que o esforço para tossir abra a ferida operatória. Ressalta-se que o
estímulo à tosse é contra-indicado em alguns tipos de cirurgias, como oftálmicas e
intracranianas (SMELTZER; BARE, 2009).
O movimento de discussão sobre o estímulo à tosse foi conduzido a partir de situações
vivenciadas no cotidiano, para promover a reflexão dos acompanhantes quanto à efetividade
da tosse como mecanismo de limpeza e defesa das vias aéreas contra o acúmulo de secreções.
Pelas respostas obtidas à pergunta: “o que acontece quando a pessoa está com catarro e
tosse?”, percebe-se que os sujeitos reconheceram a importância desse exercício respiratório
para a restauração da saúde pulmonar:
Se tiver com catarro, elimina catarro. (A6)
Expectora né. (A8)
A gente bota pra fora. (A11)
Você solta a secreção. (A13)
Elimina catarro. Então a tosse serve para ir limpando o pulmão, a tosse faz a higiene do pulmão. A tosse é a defesa do organismo, a não ser quando é uma
tosse alérgica, que você fica tossindo o tempo inteiro, aí não é benéfico, mas
quando está com catarro, a tosse é a defesa do pulmão, pra eliminar o catarro. (Pesquisadora)
Prosseguindo com o diálogo, focou-se a percepção dos sujeitos sobre a viabilidade do
ato de tossir depois de uma cirurgia, em virtude dos aspectos indesejáveis que podem permear
a realização deste cuidado, como descrito. Pelas respostas, ficou claro que na visão dos
acompanhantes, a tosse não deveria ser estimulada no pós-operatório, pelo contrário, era algo
a ser evitado:
Será que a gente pode tossir depois de uma cirurgia? (Pesquisadora)
É bom evitar. (A9)
Não, ih, eu tenho pavor. (A12)
102
Não, eu não sei. (A13)
Acho que não. (A14)
Não pode tossir? (Pesquisadora)
Não. (A14)
Assim sendo, foi lançado mão do conhecimento técnico-científico para mobilizar o
saber popular em direção à desconstrução e reconstrução de um novo saber, certamente mais
consistente. Ao ser reforçado a importância da tosse para a higiene dos pulmões, ser discutido
a possibilidade de execução de tal medida depois da cirurgia e apresentado o modo de
contenção e proteção da incisão cirúrgica (abdominal no caso deste estudo) ao tossir, houve
mudança no modo como esse cuidado era considerado pelos sujeitos no contexto em questão.
Algumas acompanhantes, como também idosos que ficavam atentos à discussão,
revelaram suas experiências prévias de desconforto pós-operatório por ficarem “prendendo” a
tosse, na presença de “pigarro” na garganta, como nos fragmentos de diálogo com A14, CI5 e
A10.
Fica naquele desespero, não pode que vai estourar tudo. Eu me segurava
com medo de tossir e estourar os pontos. E quanto mais você prender, você
não puder, aí que, aí que quando você começar a tossir o negócio fica
brabo. (A14)
(...) porque às vezes incomoda a garganta. Fica numa agonia querendo
tossir. Já me aconteceu isso. Olha foi difícil. (CI5)
Às vezes né, fica aquela, aquele, catarro.... (Pesquisadora)
Aquele pigarro, que às vezes custa pra sair. (A10)
O procedimento para conter a incisão cirúrgica foi demonstrado pela pesquisadora com
participação ativa dos acompanhantes:
Então o que é que a gente faz: a gente coloca a mão, um travesseiro ou
lençol no lugar da cirurgia, comprime ali e aí você pode tossir [fazendo
demonstração e sendo acompanhada por A11]. Porque aí você protege a
cirurgia. (Pesquisadora)
A11, ao experimentar e prever a eficiência da técnica de contenção, para evitar
distúrbios à cirurgia derivados do estímulo à tosse, remeteu ao cuidar de si benefícios futuros
resultante desse seu novo saber:
103
Até a gente também que tiver operado, a gente pode fazer isso. (A11)
Com certeza, com certeza. (Pesquisadora)
Ingestão hídrica
A ingestão hídrica, outro cuidado recomendado para auxiliar na prevenção das
complicações respiratórias no pós-operatório, foi problematizada durante a entrevista
dialogada junto aos sujeitos. O propósito do estímulo à ingestão de água ou líquidos em geral,
depois da cirurgia, é fluidificar as secreções brônquicas facilitando a sua remoção ou
impedindo o seu acúmulo, contribuindo, assim, para prevenir o desenvolvimento de infecções.
Nesse sentido, Martins e Gutiérrez (2008, p. 146) afirmam que “a viscosidade da
secreção influencia sua maior ou menor facilidade de eliminação e a fluidez do muco depende
do estado de hidratação, pois a água é o seu principal componente.”
A influência da ingestão hídrica sobre a fluidificação das secreções pulmonares é um
conhecimento incorporado pelo senso comum, conforme fluiu das falas dos sujeitos, ao
responderem sobre a importância de tomar água depois da cirurgia, para evitar o acúmulo de
secreção nos pulmões.
Água é sempre muito importante. Mas no caso dela [cliente idosa] eu acho
que ela ficou no soro os primeiros... mas depois foi só. Depois bebeu muita
água, muita, muita, muita água [se referindo à cirurgia prévia] (A5)
O que a água faz no catarro, a senhora sabe?
Ajuda a expectorar? (A12)
É, ajuda a expectorar, porque afina o catarro, não é? O catarro é. (A12)
É necessário, né. (A8) É importante, importante. (A10)
Por que é importante tomar água? (Pesquisadora)
Pra poder eliminar... a secreção do pulmão, né. (A10) Fica mais fácil eliminar? (Pesquisadora)
Fica mais fácil. (A10)
Tomar bastante líquido pra ajudar a eliminar a secreção do pulmão. (A13)
A11 usou o saber da experiência feita para refletir sobre o assunto:
É muito importante, o líquido é... Isso, isso também eu aprendi quando eu
cuidava dessa idosa. A doutora sempre me, me pedia pra mim dá bastante
líquido... Eu acho que é pra limpar né, pra soltar o catarro (A11)
104
Além das vantagens da ingestão hídrica para o trato respiratório no pós-operatório, a
hidratação também é importante para estimular a diurese, uma vez que os rins são os
principais responsáveis pela excreção das drogas anestésicas e seus metabólitos23
(SMELTZER; BARE, 2009). A13 destaca em sua fala noção sobre esse aspecto, na forma
como é entendido no contexto popular:
Eu sei que a água é boa pra qualquer coisa. É boa pra pele, é boa pra limpar os rins, é boa pro organismo em geral. (A13)
Assim, os benefícios da oferta de água e líquidos em geral ao idoso em pós-operatório
foram discutidos com os acompanhantes a fim de ser incluída no plano de cuidados
compartilhado. Importante lembrar que nenhum idoso era portador de patologia que
restringisse a ingestão hídrica. Desse modo, a hidratação no pós-operatório desses clientes
fez-se, também, relevante no diálogo com os acompanhantes.
Como vimos, os acompanhantes trouxeram do senso comum saberes e práticas de
cuidado leigos congruentes com aqueles de natureza profissional sobre a prevenção de
complicações respiratórias. Cabe à pesquisadora, conforme aponta Teixeira (2008, p.123), “a
responsabilidade de ordenar os conhecimentos para que eles compreendam o sentido e a
utilização desses, possibilitando a formação de uma consciência crítica”.
Os cuidados mencionados pelos acompanhantes se caracterizam como fundamentais
baseados na mobilização, exercícios respiratórios e ingestão hídrica. Vale destacar que alguns
acompanhantes só conseguiram visualizar tais cuidados como importantes à prevenção de
complicações respiratórias durante o processo de reflexão.
Dessa forma, depreende-se que o modelo de educação defendido por Freire amplia as
perspectivas da inter-relação educador/educando, representados neste estudo pela enfermeira -
pesquisadora/acompanhantes de idosos. A abordagem problematizadora, aplicada ao processo
de educação em saúde, possibilitou aos sujeitos a tomada de consciência sobre fragilidades do
sistema respiratório de idosos frente a procedimentos cirúrgicos e a importância de investir
em ações para interferir em possíveis complicações.
O plano de cuidados construído com os acompanhantes na VPO teve como ponto de
partida o conhecimento oriundo do senso comum, que no desenrolar da discussão foi
organizado e complementado, quando necessário, pelo saber profissional, resultando no
instrumento descrito a seguir (Quadro n° 2):
23 Produto intermediário resultante da transformação de uma substância química no organismo quando de um
processo metabólico (Manuila, Manuila, Nicoulin, 1997, p.472).
105
Quadro no 2: Plano de cuidados construído com acompanhantes de idosos na VPO
RESPIRAÇÃO PROFUNDA (encher bem o pulmão, puxando o ar devagar pelo nariz e
soltando suavemente pela boca). Repetir de 5 a 10 vezes, pelo menos a cada 2h.
VIRAR-SE NA CAMA de um lado para o outro. Não ficar muito tempo deitado de costas
BEBER BASTANTE ÁGUA só depois que começar a se alimentar.
SENTAR na cama e fora dela.
CAMINHAR para o chuveiro ou pela enfermaria.
TOSSIR, segurando com as mãos, travesseiro ou lençol o local da cirurgia para não sentir dor
e não ter problemas na operação.
Em caso de VÔMITO, colocar o cliente idoso sentado, de lado ou com a cabeceira elevada,
para não engasgar e levar vômito para o pulmão.
O próximo capítulo abordará a implementação do plano de cuidados compartilhado e
sua efetividade. .
106
Capítulo VI
Implementação do plano de cuidados
compartilhado e sua efetividade
107
CAPÍTULO VI
IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTILHADO E SUA
EFETIVIDADE
O encontro entre diferentes saberes através do diálogo resultou na aquisição de um
novo saber, produto dessa interação, e refletiu no cuidado prestado pelas acompanhantes ao
idoso em processo cirúrgico.
Para Soares (2000), os profissionais, tanto no campo da educação quanto na saúde,
deveriam ter como objetivo a construção compartilhada e em cumplicidade, do crescimento e
autonomia do outro, parceiros na relação: aluno, paciente, colega ou subalterno e, assim,
desenvolver o seu próprio crescimento e autonomia. Talvez a maior contribuição a esse
processo seja compartilhar e desmistificar o saber/poder especializado, o respeito e a
valorização do saber do outro.
A construção do plano de cuidados através do diálogo problematizador proporcionou,
às acompanhantes, a oportunidade de refletir criticamente e intervir em sua realidade,
participando do cuidado ao idoso. O cuidado realizado com a equipe de enfermagem do
hospital, faz do acompanhante um cliente e um parceiro da enfermagem (PENA; DIOGO,
2005).
A implementação do plano de cuidados compartilhado no pós-operatório imediato do
cliente idoso, visando à prevenção de complicações respiratórias, foi observada na enfermaria,
conforme descrito na metodologia. Como vimos, os cuidados discutidos e problematizados
que integraram o plano de cuidados, considerando o universo vocabular dos sujeitos, foram:
respiração profunda, virar-se na cama, sentar na cama e fora dela, caminhar, tossir e cuidados
para prevenção de aspiração de vômitos.
Durante a entrevista dialogada com as acompanhantes na VPO, os idosos
permaneceram atentos e em alguns momentos participaram ativamente do diálogo. Os
cuidados propostos foram considerados simples pelos sujeitos e tiveram uma completa adesão
entre os acompanhantes e clientes idosos como exemplificado pela fala de A7:
Amanhã tem que fazer isso tudo em você viu? [se referindo aos cuidados
planejados]. Respiração, quando você chegar da operação, vou fazer com
você. Não pode se preocupar não, que eu vou fazer. Amanhã quando ele
chegar, ele descansa um pouquinho, depois ele faz. (A7).
108
Ao serem dialogados na VPO os cuidados preventivos ao surgimento das
complicações respiratórias com os acompanhantes, imediatamente eles passavam a realizar
com os idosos os exercícios de respiração profunda, como forma de estimulá-los a
desenvolvê-los após a cirurgia.
Assim, logo que retornavam da cirurgia, os clientes idosos começavam a praticar os
exercícios respiratórios, incentivados pelos acompanhantes como descrito por A2, A7 e A13:
Hoje mesmo ele... A hora que eu pedi pra ele respirar [se referindo ao
exercício de respiração profunda], ele respirou... E logo foi aliviando a ânsia! [de vômito]. (A2)
(...) respira. Aí ele pegou [acompanhante inspira e expira mostrando o que o CI7 fez]. (A7)
Respire um pouquinho, como a [citou meu nome] falou, bota a mão na
barriga [se referindo à técnica para realização de ERP]. (A13)
Ou até se antecipando aos sujeitos, ainda na sala de recuperação pós-anestésica (RPA),
conforme as falas de A4 e A5:
(...) De respirar. Ele mesmo [idoso] já fez sem ninguém falar nada (A4)
(...) Logo que ela saiu da cirurgia, ainda na RPA, ela [idosa] falou: Já estou
fazendo a respiração correta. (A5)
Essa atitude de ambos os clientes, demonstra que houve a conscientização sobre a
possibilidade de complicações respiratórias no pós-operatório e a importância de intervir para
inibi-las. Esse resultado dificilmente seria alcançado, se a abordagem aos sujeitos e clientes
idosos tivesse se dado de forma prescritiva, autoritária. A tomada de consciência é
consequência do diálogo, do questionamento, da reflexão e não da imposição.
Quanto à mobilização, foi relatado pelos sujeitos e constatado durante a observação
participante, que mudar de decúbito e sentar no leito nas primeiras horas depois da cirurgia
foram cuidados amplamente realizados, de forma cuidadosa, progressiva, respeitando as
limitações e peculiaridades de cada pessoa, conforme recomendado pela literatura. A
implementação de tais cuidados pelos sujeitos é exemplificado pelos recortes de diálogo a
seguir:
É, ele virou de um lado pro outro. (A1)
109
Ele é tão esperto que passou na frente (risos). Ele então já se incumbiu de se
movimentar (...) (A4)
(...) ela senta, ela já arrumou um jeitinho de colocar aqui [o coletor de urina
na poltrona], ela já tem orientação que a sonda não pode ficar mais alta que
o corpo prá não voltar urina; então, ela tem se movimentado até bem, seguido, né. (A5)
(...) pra virar as costas... Eu o ajudei a virar um bucadinho. Mas isso é... só o ajudei a virar, mas não, ele... assim... de eu ficar com ele segurando as
costas não, ele sozinho ficou, não precisei nem... _Agora você descansou as
costas, vira pra cá, pra descansar o pulmão também. Vira, faz como a enfermeira falou (...) (A7)
Ele tá virando, tá, tá, ele tá virando. (...) vira, ele, ele mesmo vira muito na,
na, na... cama, tem virado, sentado, quer dizer, essa parte aí, eu tou tranqüila, graças a Deus. (A8)
Virou, virou, virou um pouquinho pra lá, um pouquinho pra cá. (A9)
Ele virou pro lado, ele sentou, desencostou um pouco, é porque ele ainda
num tá andando mesmo né, que o médico num liberou, mas... ele desencostou as costas um pouco, virou dum lado... Quero que ele vire lá pro
lado esquerdo, é porque ele, é tem o costume de dormir só prum lado, já
dele normal. Então, ele acha mais difícil virar pro outro lado. (A13)
Verificou-se, também, através da observação participante, a eficiência da mobilização
como meio de promoção de conforto e minimização da dor no pós-operatório de clientes
idosos, tanto em relação ao procedimento cirúrgico em si quanto para aliviar dores na coluna,
decorrentes de problemas como hérnia de disco, por exemplo. Diante disso, aumenta a
importância da mobilização do cliente idoso em pós-operatório, dado que “os problemas de
coluna estão entre os mais referidos pelos idosos” (PEDRAZZI; RODRIGUES; SCHIAVETO
2007, p. 409).
Mesmo sendo a mobilização no leito uma das medidas mais ressaltadas entre os
acompanhantes como meio de prevenção de complicações respiratórias, no contexto do
cuidado pós-operatório imediato, alguns acompanhantes mostraram receio de intervir no
cuidado ao idoso. Isso ocorre devido a alguns mitos que permeiam o ato cirúrgico, como no
caso de A14, quando, na discussão sobre a importância da mobilização no pós-operatório
imediato, interrogou em um tom de surpresa:
Mas logo de imediato! Ela operada! Não sei. (A14)
Assim, fez-se necessário a desconstrução e reconstrução do saber junto ao sujeito, de
modo a potencializar esse cuidado no espaço hospitalar. Tal fato aponta que na proposta de
110
educação desenvolvida por Freire é possível uma comunicação efetiva entre
educador/educando, promovendo a construção de um novo conhecimento mais elaborado.
A deambulação foi outro cuidado cuja relevância foi reconhecida pelos
acompanhantes para a prevenção de complicações respiratórias pós-operatórias, além de
estimular o peristaltismo intestinal e a circulação, como revelado por eles durante as
entrevistas. CI3 e CI9 deambularam no mesmo dia em que foi realizada a cirurgia, à noite,
visto que não conseguiram utilizar a comadre/patinho, respectivamente:
Até levantou e foi pro banheiro, né?(risos). Não conseguiu urinar na
comadre. A primeira vez que ela foi ao banheiro, a menina [profissional de
enfermagem] já estava aqui, já não precisei chamar, ela ajudou, ajudou, né.
Eu também fui ajudando e ela ajudou. Mas, na madrugada não, na madrugada eu levantei com ela sozinha e fomos. (A3)
(...) levantou pra urinar, que ele num tava conseguindo aqui na cama. Aí, bem mais tarde, a enfermeira veio, aí falou: _ Ah não, vamos lá no
banheiro. Senão teria que colocar a sonda, né. Aí, ela foi me ajudou até ali,
a levar o soro, mas foi tranquilo. Aí, agora de manhã também, quase amanhecendo ele foi de novo [ao vaso sanitário, sem ajuda profissional], foi
tranqüilo. (A9)
Os demais clientes idosos só andaram e sentaram na poltrona a partir do dia seguinte à
cirurgia, inclusive por medida de segurança. As falas de A2, A5, A8 e A10 revelam que os
acompanhantes se empenharam em pôr em prática o plano de cuidados com eles construído:
Eu tive bastante cuidado, sempre observando se ela tava bem, sempre
próximo a ela né, pra saber se tava precisando de alguma coisa, não
deixando muito deitada, tive um cuidado normal, foi tudo com sucesso.
(A10)
Ele pediu pra ir o banheiro, ele foi. Não foi nada, já foi uma caminhadinha
que ele fez também, né. (A2)
(...) ela já tomou banho sozinha, foi ao banheiro, ela levanta, ela senta. (...)
então ela tem se movimentado até bem, seguido né [o plano de cuidados].
(A5)
Ele tá caminhando bem (...). (A8)
O estímulo à tosse foi o único cuidado que integrou o plano e não foi estimulado pelos
acompanhantes, tendo sido realizado por apenas um idoso portador de DPOC que apresentava
expectoração. Portanto, tossiu em decorrência da doença e não por ter sido incentivado a fazê-
111
lo. Esse cuidado foi proposto e inserido no plano de cuidados, com restrições, dado ao esforço
desprendido no ato de tossir, como descrito no capítulo anterior.
Com relação à ingestão hídrica, a maioria dos idosos iniciou nas primeiras horas após a
cirurgia, assim que a alimentação foi liberada. Os que permaneceram em jejum até o dia
seguinte iniciaram paralelamente à primeira alimentação. Desse modo, a ingestão de líquidos
no pós-operatório imediato foi incentivada pelos sujeitos junto aos idosos:
(...) depois da... da operação, ele tomou [água] durante à noite. Ele tomou
um bucadinho até pra engolir aquele catarrinho... E agora de manhã, ele tomou remédio seis horas com um bucadinho que ela [profissional de
enfermagem] mandou dá também e ele num pediu muita água não. Agora
ele tomou um mate, o chá. (A7)
Água, é tá tomando sim, tá tomando sim. Já tomou duas garrafas e pouco.
(A8)
(...) tomou bastante água. (A9)
Como descrito nos relatos dos sujeitos, os ERP, mobilização, deambulação e ingestão
hídrica foram cuidados realizados pelos idosos no período pós-operatório imediato. O fato de
serem cuidados reconhecidos pelos acompanhantes, em razão de experiências prévias de
cuidar, seja no contexto hospitalar ou domiciliar, certamente facilitou a adesão, aliado ao
diálogo entre mim e eles na VPO, de modo a desenvolver tais cuidados com a efetividade e
segurança necessárias junto aos idosos.
Durante a observação participante, constatei, também, que algumas acompanhantes
tiveram autonomia para realizar os cuidados, só chamando a equipe de enfermagem para
aqueles cuidados de responsabilidade restrita dessa equipe, como a troca da hidratação
venosa, conforme ilustrado pelos recortes de diálogo com A3, A7 e A11.
(...) na madrugada eu levantei com ela sozinha e fomos. (A3)
Não, não, não chamei ninguém. A única coisa que eu chamei foi que ele
[idoso] queria ... ficou aflito pra tirar o soro. (A7)
Não. Pra minha mãe eu só chamei, não, só pra poder trocar o soro, só isso.
Mas não precisa não, porque eu tou aqui, né, eu tou acompanhando ela.
(A11)
Freire (2001, p. 66) considera que o conhecimento construído através do diálogo e da
reflexão proporciona autonomia nas decisões. Como defende o autor: “o respeito à autonomia
112
e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos nos conceder
uns aos outros”.
Nesse sentido, Soejima (2008, p. 126) afirma que a “autonomia do sujeito permite um
novo olhar não apenas para a formação pessoal de cada ser humano, mas, configura-se na
colaboração entre os seres humanos para a construção de um mundo mais justo, pacífico e
democrático.”
Contudo, na direção oposta à comunicação e autonomia dos sujeitos, houve relatos que
demonstraram limite de diálogo entre o acompanhante e o profissional de enfermagem, como
o de A1.
Ontem não podia mexer nele. Só virar ele um pouquinho de lado. Ele ainda virou um pouquinho de lado, mas a moça [se referindo a profissional de
enfermagem] falou que era só para ele só ficar de barriga pra cima, virar
um pouquinho de lado devagarzinho e virar do outro. Só isso que ela deixou fazer. Aí quando liberar é que eu ia fazer isso [os cuidados planejados]. (A1)
Percebi no movimento do corpo e na fala de A1, durante a observação participante,
insatisfação na sua relação com a profissional. Certamente, essa usou da pedagogia da
transmissão e não do diálogo, para orientar o que deveria e como deveria ser feito,
restringindo o espaço para a troca de experiências. Esse exemplo denota postura de detentor
do saber, portanto, de poder, no meio hospitalar, por vezes, adotada pelo profissional, em ditar
as normas que devem ser entendidas como certas e rigorosamente cumpridas.
Pelo exposto, concordo com Teixeira (2008 p. 193), ao sinalizar que o cuidado
compartilhado é viável desde que os envolvidos no processo de cuidar - “profissional, cliente
e acompanhante - tomem consciência que são sujeitos coletivos, ativos e produtores de
conhecimento. Para tanto, há de se cultivar a dialogicidade e a crítica diante das vivências e
experiências diárias.”
Squassante e Alvim (2009) contribuem com essas reflexões, ao destacarem que é
preciso um trabalho recíproco e de participação visando à total recuperação do cliente. A
educação em saúde, segundo as autoras, pode contribuir como forma positiva de exercício do
poder, pois, tanto favorece o desenvolvimento do potencial do familiar no cuidado ao seu ente
internado quanto coopera com o trabalho da equipe junto ao cliente e com o desenvolvimento
de relações interpessoais mais amenas.
A efetividade do plano de cuidados implementado foi constatada pela observação
participante e pelos relatos dos sujeitos. Eles estimularam os idosos à realização de ERP,
mobilização no leito, deambulação, ingestão hídrica e prevenção para broncoaspiração. Tais
113
cuidados são considerados fundamentais para a prevenção de complicações respiratórias
pós-cirúrgicas em idosos. As falas de A2, A3, A7, A9, A10 e A13 ilustram a adesão das
acompanhantes ao plano de cuidados:
(...) hoje mesmo ele... a hora que eu pedi pra ele respirar, ele respirou... [se
referindo aos ERP] e logo foi aliviando a ânsia [de vômito]. (A2)
Ela fez direitinho, eu fiquei cobrando, né, perguntando se tinha feito. Aí eu perguntei, já fez? Ela: _Já fiz, já fiz [se referindo aos cuidados planejados].
(A3)
Então, a senhora vem aqui amanhã? Já fiz algumas coisas com ele, já fiz. Já
botei mesmo pra quebrar com ele, botei pra quebrar... Amanhã, deixa
comigo, eu sou acesa mesmo eu boto... (risos), eu boto pra quebrar, deixa comigo moleque, deixa comigo (risos). (A7)
Virou, virou, virou um pouquinho pra lá, um pouquinho pra cá “(...)
levantou pra urinar, que ele num tava conseguindo aqui na cama.(A9)
(...) os cuidados aqui a serem feitos, é realmente foram feitos sim, não com
tanta freqüência, mas foram feitos. (A10)
(...) ele virou pro lado, ele sentou, desencostou um pouco, quero que ele vire
lá pro lado esquerdo, é porque ele, é tem o costume de dormir só prum lado,
já dele normal. (A13)
Como descrito ao longo do capítulo, as ações planejadas conjuntamente com as
acompanhantes no pré-operatório do cliente idoso, a partir do compartilhamento dos saberes
profissional x popular, base da construção do plano de cuidados, foram desenvolvidas pelos
sujeitos junto ao idoso em pós-operatório imediato, em prol da prevenção e/ou minimização
das complicações respiratórias, conforme recomendado pela literatura.
Os cuidados, tais como, respiração profunda, mobilização no leito (virar-se e sentar) e
ingestão hídrica, foram incentivados pelas acompanhantes tão logo o cliente idoso retornava
do centro cirúrgico e acordava. Tais cuidados foram realizados por todos os clientes no
mesmo dia em que operaram, salvo a ingestão hídrica, que por estar atrelada à liberação da
dieta, para alguns idosos, só aconteceu no dia seguinte à cirurgia.
Os clientes que retornavam à enfermaria após as dezessete horas, geralmente não
tinham a dieta liberada naquele dia, uma vez que o serviço de nutrição não atua no referido
turno. Assim, os clientes idosos permaneciam em jejum, o que foi considerado por mim como
um risco a mais, associado ao procedimento cirúrgico e as fragilidades próprias dessa
clientela, para ocorrência de acidentes provenientes de tontura, muito comum no período pós-
operatório.
114
Nesse sentido, a deambulação foi realizada no dia seguinte à cirurgia, dentro do
período pós-operatório imediato, uma vez que as cirurgias foram realizadas no turno da tarde,
inclusive alguns clientes só retornaram à noite do centro cirúrgico.
Ressalto que os autores consultados que abordam a deambulação precoce como meio
eficaz de prevenção de complicações respiratórias e outras complicações pós-operatórias não
a relacionam com o fator tempo. Na orientação dialogada, refleti com os acompanhantes a
relativização necessária sobre a afirmação “quanto mais cedo andar melhor”, desde que
respeitado a segurança e o tempo de recuperação de cada pessoa.
Outro fator levado em consideração foi o fato de várias acompanhantes serem idosas e,
como tal, portarem também as fragilidades do processo de envelhecimento. Assim, fez-se
necessário atentar também para a segurança dessas acompanhantes, alertando-as inclusive
sobre algumas condições do ambiente, que aumentavam o risco para quedas.
Dessa forma, a implementação do plano de cuidados aconteceu lenta e
progressivamente, respeitando as peculiaridades dos indivíduos (SMELTZER; BARE,
2009). Foi permeada pelo olhar atentivo da enfermeira-pesquisadora, a fim de não expor os
sujeitos e seus idosos a riscos em decorrência do processo de produção de dados, essencial
ao desenvolvimento do estudo, ratificando, assim, o compromisso ético assumido.
Durante a observação participante, não constatei dificuldades na prestação dos
cuidados, aspecto que será melhor abordado no próximo capítulo, quando será feita a
avaliação do processo do cuidado. Ao contrário, algumas ainda ajudavam a outros clientes
internados, mostrando certa desenvoltura no espaço hospitalar, solicitando a equipe de
enfermagem apenas para procedimentos a ela restritos.
Certamente o fato do plano de cuidados ter sido construído conjuntamente com os
acompanhantes, através do diálogo problematizador, valorizando seus saberes e práticas,
teve influência na efetividade de sua implementação. Ao ser oportunizada a reflexão sobre
os saberes do senso comum trazidos por elas, um novo saber foi construído, a partir de
associações com experiências prévias de cuidar ou estimulado por situações do cotidiano
sugeridas por mim.
Por fim, considero que o processo de educação em saúde problematizador no espaço
hospitalar viabilizou a inclusão do acompanhante como cliente ativo e partícipe no cuidado
ao idoso em pós-operatório. Essa parceria possibilitou um cuidado mais individualizado,
humanizado e congruente com as necessidades dessa clientela de características tão
singulares.
115
Assim, este capítulo tratou da implementação e efetividade do plano de cuidados
compartilhado, que foi desenvolvido pelos sujeitos junto aos idosos. O próximo capítulo
será destinado à avaliação deste plano.
116
Capítulo VII
Avaliação do plano de cuidados
compartilhado
117
CAPÍTULO VII
AVALIAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTILHADO
7.1. Avaliação dos acompanhantes sobre o plano de cuidados compartilhado e sua
implementação
Para atender aos pressupostos da pedagogia freiriana e a proposta metodológica da
Pesquisa Convergente-Assistencial que permearam todo o processo da pesquisa, na última
fase da produção de dados, os acompanhantes copartícipes desse processo fizeram as
considerações e a avaliação sobre a experiência do cuidado compartilhado (APÊNDICE E).
Um dos pressupostos da pedagogia freiriana, de acordo com Nascimento (2007, p. 4),
sustenta que “educar para a liberdade significa partilhar o saber e promover uma „vontade‟
coletiva em direção à democracia”, neste estudo representada pela coparticipação do
acompanhante no processo de cuidado ao idoso.
Nessa perspectiva, os acompanhantes tiveram a oportunidade de avaliar a experiência
do plano compartilhado, refletir criticamente sobre o processo de cuidado no contexto pós-
operatório, as facilidades e dificuldades, a relação com a equipe de enfermagem, as
contribuições ao cuidado no domicílio e sobre a metodologia utilizada, imputando valor ao
cuidado prestado:
Se todos fizessem esse trabalho, seria maravilhoso, muito bom mesmo. (A14)
Prá nós foi muito bom. Foi bom mesmo. Uma ação educativa mesmo
(risos). Muito bom. (A5)
Na avaliação de diversos acompanhantes, o plano foi considerado como um meio de
aprendizagem, exemplificado pelas faz de A4, A9 e A14. A educação dialógica realizada com
os sujeitos permitiu que eles se conscientizassem de que o conhecimento é um processo
inacabado.
É, nunca é tarde pra se aprender algo mais né. (A4)
Tem que... tem que tá sempre aprendendo, né, vivendo e aprendendo, né.
Porque a gente não sabe do amanhã, né. (A9)
Porque aprendi coisas que eu não sabia que existia, né. (A14)
118
Esta acompanhante, em sua fala, destacou o plano como fonte de aprendizado para ela
e de recuperação para o idoso.
(...) com a tua pesquisa eu aprendi coisas que eu não sabia antes, como,
apesar de trabalhar na área da saúde, mas é diferente no cuidado direto ao paciente, o meu tipo de assistência é outro. (...) Pra mim foi bastante
interessante, que é uma oportunidade de colaborar com o processo de
tratamento dela, né. Então, na medida em que você pode cuidar, tá junto, você fortalece eu acho, o paciente, do ponto de vista emocional e você
contribui com o tratamento, na medida em que, de alguma forma, você pode
ajudar nesse momento, né, é isso. (A5)
A4, A12, A7, A8 e A9 se referiram ao plano de cuidados como um instrumento que
ajudou não só no cuidado ao idoso no hospital, mas também como um recurso a ser utilizado,
posteriormente, no contexto domiciliar.
Ajuda na questão que, de repente, há um paciente que precisa, né, daquela...
daquele exercício e você já tem uma noção de como ajudar. Ah, pode, de
repente a gente pegar um parente, qualquer coisa, nessa situação e a gente
já sabe como agir, né. (A4).
Ajudou muito. Eu vou levar pra casa aquilo ali [o plano de cuidados]. É
muito bom. É muito útil. (A12)
Olha, eu gostei. Eu gostei porque, às vezes, quando eu for pra casa, eu já sei
como é que faz. Se ele, ele não teve esses problemas, mas, às vezes, alguém, eu tive uma vizinha que teve esse problema com o marido. Como o meu...
vizinho dela é enfermeiro, já tinha ensinado ela a fazer essa situação, é
enfermeira também. (A7)
Com certeza, com certeza. Porque...dá uma ...uma retaguarda assim de, de,
de como auxiliar ele..né, nessa área de respiração né, na, toda a...não só
usar aqui, como usar em casa também né. (A8)
Muito, muito. Eu também tenho a mãe dele né, a gente mora com ela. E ela
foi atropelada e foi uma luta, ele ficou na cama, rachou o osso da bacia,
ficou quase dois meses na cama. Uma luta, uma luta. Então a gente tem né. (A9)
A14 que destacou estar sempre cuidando de alguém, considerou que o plano
compartilhado foi muito útil no cuidado ao idoso e poderá ser implementado por ela
futuramente, sinalizando que poderá ser uma multiplicadora desse conhecimento:
Muito, muito! [útil - ênfase na voz]. Principalmente eu que tenho minha mãe que é uma senhora de 86 anos, ainda vai passar por uma cirurgia, com
certeza é muito válido. Isso é bom até guardar pra gente mesmo né. Eu que
119
sou medonha de ficar sempre com alguém (risos). Vou guardar esse papel
[plano de cuidados]. (A14)
A9 e A11 que trabalhavam como cuidadoras remeteram os benefícios do aprendizado
à prática profissional:
Me ajudou. É pra mim ter mais experiência, pra mim me ajudou muito.
(A11)
(...) não só cuidar dele [idoso], mas... cuidar de alguém que precise, de
outras pessoas que precisem, né, assim como eu cuido também lá da minha
princesinha, né (risos), chamo ela de minha princesa [se referindo a idosa que cuida]. (A9-esposa)
Ancorado na pedagogia freiriana, cuja essência é o diálogo e o respeito ao saber do
outro, este estudo trouxe como proposta a fusão entre os saberes, popular e científico, na
construção de um plano de cuidados com vistas à prevenção de complicações respiratórias
pós-cirúrgicas no idoso. Este plano foi elaborado em conjunto com os acompanhantes no
âmbito da VPO, numa perspectiva dialógica, em conformidade com os princípios de educação
dialógica, segundo Freire. Portanto, deu voz a esses sujeitos por entender que “o educador já
não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando
que, ao ser educado, também educa” (FREIRE, 2009, p.79).
Os sujeitos foram unânimes em afirmar a riqueza da experiência, exemplificada pelas
falas a seguir:
Ah! Eu adoro conversar e trocar idéia, pra gente aprender, né, só aprende,
só assim que a gente aprende, né, as coisas. Depois praticando, né. Que a
gente vai aprendendo, né? Toma mais conhecimento. Tudo nessa vida para
aprender é válido, pra mim, né? Eu gosto de aprender as coisas. (A1)
E cada dia vai aprendendo mais né. É com a aprendizagem que a gente vai
né, sempre é...como se diz vai aprendendo e vai seguindo em frente né?. (A9)
A experiência do cuidado é uma relação recíproca. Requer que os implicados no
processo de cuidar invistam numa relação de coparticipação. Ocorre que cada ser humano
vivencia o cuidado de modo particular, “segundo seus próprios referenciais, e imprimem, neste
espaço, maneiras singulares de expressão de subjetividades.”, conforme destacam Barcelos e
Alvim (2006, p. 26).
Na experiência da elaboração de um plano de cuidados com a participação ativa dos
acompanhantes de idosos no contexto da VPO, procurei sustentar a relação com esses sujeitos
120
de forma respeitosa, valorizando elementos como simplicidade, empatia e escuta atentiva.
Tais elementos contribuíram com a relação de confiança, diminuindo o distanciamento
profissional-cliente e favorecendo o processo de cuidar ao idoso:
(...) gostei muito de sua atenção. Foi bacana. Eu tenho vontade até de
participar [do cuidado ao idoso]. Com a sua educação, eu tenho vontade de
participar, que é muito importante, né. A pessoa antipática, quer participar?
Num sei se é antipática com a gente, mas passa antipatia, tem gente que passa antipatia, né. E a pessoa simpática... Antipatia é uma coisa...
Simpática, a pessoa que passa simpatia é outra, né. Tem gente que é séria,
quer só que a gente participe, você não sente aquela vontade. Participar de quê? (A7)
Isso é bom, né, quando a gente tá assim... no hospital e ser bem atendido, né, com simpatia, desde a, as copeiras, né, até os médicos. E a pessoa
trabalhando assim com carinho, com amor, as coisas desenvolvem muito
rápido, né. (A9)
A7 e A9 destacaram expressões humanas que qualificam o cuidado, como a simpatia,
a demonstração de carinho e amor no ato de cuidar.
No que concerne ao cuidado humano, há uma inter-relação entre a enfermeira, que
cuida e o cliente, que participa desse cuidado, como sustentam Alvim e Ferreira (2008, p.
294):
Nesta concepção de cuidado relacional e recíproco em que enfermeira e cliente
afetam e são afetados mutuamente, estão presentes os sentimentos, as emoções,
crenças, valores e saberes de ambos os sujeitos. Nesse encontro de subjetividades, aprendem e trocam um com o outro considerando o cliente e a enfermeira situados
histórico-socialmente no resgate da dignidade do cliente na sua condição de sujeito
do cuidado de enfermagem.
Mas nem sempre as relações estabelecidas entre equipe de enfermagem e clientes são
favoráveis. A8 demonstrou insatisfação no referente ao trabalho da equipe de enfermagem
como: “Bem deficiente mesmo. Confuso, muito confuso”, o que causou transtorno no cuidado
ao CI8. E complementou:
Eu, pessoalmente é... tenho um carinho né, fiz a minha parte. Agora em
questão de compatibilidade com a... com a equipe de enfermagem, cada dia
um chegava a dá uma... uma posição. Tinha dia que umas quase que me
exigiam ajudá-las, outras num “queria” que eu ajudasse. Questão de horário de medicamento, no... é um dá um horário, outro dá outro. Mas fala
assim - É, você, eu podia dá o remédio que eu trago de casa - Outros falam
assim - não você tem que aguardar, eu falar com você - Cada equipe tem uma ... uma posição (A8)
121
Em contraponto ao relatado por A8, na reflexão feita pelos acompanhantes sobre as
facilidades que permearam o processo dialógico do cuidado, o bom atendimento da equipe de
enfermagem foi destacado por A5 e A13.
Eu acho que as facilidades é.... Tem alguns fatores. Eu especial, tanto pelo
fato de ser funcionária, que abre as portas prá você ter uma certa
autonomia na instituição. É ... a equipe, né, é... nós demos sorte de pegar uma equipe, principalmente a equipe de enfermagem, a equipe assim
totalmente aberta, bastante colaborativa. É .... me deixou à vontade. (A5)
(...) a facilidade foi o atendimento, esse pra mim foi o maior, a maior
facilidade. (A13)
As experiências relacionais são demarcadas por uma multiplicidade de situações, nem
sempre construtivas. As falas de A8, A5 e A13, anteriormente descritas, indicam que há uma
inconstância nas relações estabelecidas entre a equipe de enfermagem e o acompanhante.
A esse respeito, Squassante e Alvim (2009) afirmam que as experiências conflitantes de
relacionamento, momento em que as relações de poder se destacam, alternam-se com outras,
cuja postura sensível e solidária assumida pela equipe de enfermagem, diante dos problemas
vivenciados por familiares e clientes, revelam-se relações de cuidado.
A5, que destacou a experiência positiva com a equipe de enfermagem durante a
produção de dados da pesquisa em acordo com os preceitos da PCA, ressente-se da ausência
na instituição de trabalhos como o desenvolvido neste estudo:
(...) fazer um trabalho mais individualizado com as famílias, eu acho que
isso te... seria muito importante, colaboraria mais com o processo de tratamento. Outras iniciativas nesse sentido, né. (A5).
Seu relato reivindicador denota as mudanças que foram empreendidas durante a
PCA, mas, que necessitam ter sua continuidade garantida na prática assistencial.
Os cuidados planejados foram considerados simples e de fácil execução pelos
acompanhantes, à exceção do estímulo à tosse, único cuidado não mencionado por eles, ao
relatarem suas experiências prévias sobre a prevenção de complicações respiratórias em
idosos depois da cirurgia.
Desse modo, ao serem questionados se houve dificuldades na execução do plano de
cuidados eles responderam:
Não, nenhuma. Foi tudo ótimo, maravilhosamente bem. (A2)
122
Nenhuma (risos). Depois de uma aula daquela de ontem então (risos) aí que
ficou bom o negócio. (A14)
Não, tudo tranquilo. (A9)
Da fala de A7, emergiu segurança no processo de cuidar, advinda de suas experiências
prévias, reafirmando a importância do „saber da experiência feita‟, em consonância com o
conceito freiriano:
Não, nenhuma [dificuldade]. Eu tou acostumada a cuidar. (A7)
7.2. Avaliação da enfermeira-pesquisadora sobre a experiência implementada: os
desafios da assistência que se apresentam à equipe de enfermagem no hospital
Para proporcionar um cuidado congruente com as especificidades próprias da clientela
idosa, faz-se necessária a inclusão do acompanhante no cuidar. Para tanto, é oportuno criar
um espaço de diálogo que facilite a negociação de saberes e práticas de cuidados entre esse e
a enfermeira, considerando os fatores culturais que podem influenciar neste processo.
Conforme afirmam Lenardt e outros (2010, p. 423), “é preciso reconhecer que o idoso
requer cuidados individualizados, personalizados e planejados pela enfermeira, em função de
suas características particulares”.
A dinâmica do cuidado compartilhado torna-se, por assim dizer, um grande desafio
para a enfermeira, um exercício de desprendimento e, mesmo, de ousadia. Isso, se
considerarmos a hegemonia do modelo de saúde vigente, especialmente, no hospital, cujas
ações, aí incluídas as de natureza educativa, são orientadas de modo a manter a verticalização
do saber na relação do cuidado.
Reconheço, por experiência própria, a dificuldade para o profissional acostumado a
“depositar” nos clientes seus saberes técnico-científicos (considerados por aquele como
“verdade absoluta”, como ordens a serem cumpridas), de admitir que esses saberes podem ser
relativizados face aos saberes dos clientes, construídos na sua realidade concreta. Ou seja, de
pensar em uma perspectiva em que as orientações para o cuidado sejam dialogadas ao invés
de prescritivas. Afinal, “Toda prescrição é a imposição da opção de uma consciência a outra.
Daí o sentido alienador das prescrições [...]” (FREIRE, 2009, p.36-37).
A14 deixa transparecer em sua fala a carência de ações educativas no espaço
hospitalar e relaciona a perda do pai à falta de diálogo entre a equipe de saúde e ela:
123
Pena, pena que quando o meu pai ficou internado lá, [em outro hospital e
faleceu] eu não sabia disso [tristeza na voz e no olhar]. Nunca veio ninguém conversar... Nunca vi em hospital nenhum. (A14)
Se, por um lado, a valorização do saber comum nas ações de saúde pode ser
interpretada por alguns profissionais como um desprestígio do conhecimento científico,
especialmente, no âmbito hospitalar, onde esse saber impera, por outro, as transformações do
mundo atual apelam para uma nova ordem no pensar e fazer no campo da saúde.
Ao apresentarem suas reflexões sobre o assunto, Marcon e Elsen (1999, p. 23)
sinalizam que partilhar responsabilidades é um caminho difícil para o profissional acostumado
a tomar todas as decisões relativas ao processo saúde-doença, entretanto, não há como fugir
das mudanças impostas pela sociedade uma vez que:
(...) os espaços para os profissionais que se acreditam “donos da verdade” estão se
tornando cada vez mais reduzidos, pois como mudaram as estruturas e os papéis
familiares, também mudaram as exigências por parte daqueles que procuram os
serviços de saúde. Para enfrentar os novos desafios impostos pela chamada
sociedade moderna, que é tecnologizada, mas que também busca ser ecológica
exige-se dos profissionais uma diversificação de enfoques teóricos e práticos em todas as áreas do conhecimento humano.
Da mesma forma que foi dada ao acompanhante a oportunidade de avaliar o processo
do cuidado compartilhado, fazem-se oportunas algumas observações críticas da enfermeira-
pesquisadora sobre todo o processo de pesquisa conduzido pela aplicação da metodologia
convergente-assistencial.
A educação em saúde foi utilizada como estratégia de cuidado, através do intercâmbio
de saberes, popular e científico, culminando em um plano de cuidados com resultados efetivos
no pós-operatório de clientes idosos.
A pedagogia freiriana articulada com a metodologia da PCA viabilizou a construção
do processo dialógico junto ao acompanhante, no que se refere aos aspectos culturais
integrantes do processo de educar em saúde. Ambas propiciaram a participação ativa dos
acompanhantes de idosos durante todas as etapas da produção de dados, viabilizando
aproximar a enfermeira-pesquisadora da realidade concreta dos sujeitos.
Dada sua estreita relação com a prática assistencial, a PCA tem o compromisso de
promover mudanças ou minimizar problemas no contexto pesquisado em tempo real.
Neste estudo, a mudança se deu por conta da possibilidade de construção de parceria
estabelecida entre mim, enfermeira-pesquisadora, com o acompanhante do idoso na VPO,
124
conferindo-lhes alguma autonomia no espaço hospitalar, pois o plano de cuidados
compartilhado foi por eles implementado no pós-operatório.
As inter-relações com as equipes de enfermagem que atuam nos setores 9B e 10D,
onde os dados foram produzidos, foi exemplar. Não foi encontrada nenhuma dificuldade de
acesso ao ambiente, informações ou rotinas desses setores. Penso que o fato de ser enfermeira
da instituição e conhecer vários profissionais que atuam nesses setores, facilitaram a imersão
no campo.
A participação dos profissionais, tanto do cenário da produção de dados quanto do CC,
foram relevantes nesta fase de desenvolvimento do estudo. Aspecto recorrente é o fato de que,
ao se falar em VPO, remete-se a responsabilidade aos enfermeiros do CC, uma vez que são os
profissionais desse setor que a realizam. Assim, ao se cogitar mudanças nesse contexto,
entende - se que as iniciativas devam partir dos enfermeiros do CC, por estarem diretamente
envolvidos nesse processo.
No entanto, a partir das observações e reflexões feitas durante a pesquisa, penso que,
para implantar mudanças efetivas na realização da VPO, será necessária uma integração
centro cirúrgico x clínica cirúrgica, principalmente se essas mudanças passarem pela forma
como o cliente é entrevistado. Sobre esse aspecto, uma estratégia de sensibilização junto ao
serviço já foi iniciada por mim e estou em pleno processo de discussão com algumas
enfermeiras sobre alternativas que efetivamente sejam viáveis, face às dificuldades
encontradas.
É fato que uma abordagem dialógica, oferecendo ao cliente a oportunidade de falar de
suas necessidades, implica em disponibilidade de tempo e um contingente maior de
profissionais. Mas há de se encontrarem caminhos possíveis, para o que ora se apresenta
como situação-problema. Ocorreu-me que poderia, inclusive, ser feita parceria com a EEAN,
de forma que os acadêmicos de enfermagem participassem desse processo de mudança.
Outra coisa que me chamou a atenção, durante a pesquisa, foi com relação ao fato de
os clientes que se internam no mesmo dia em que vão operar, não serem contemplados pela
VPO. Essa só é oferecida aos clientes previamente internados. Assim, esses clientes são
encaminhados ao centro cirúrgico, sem nenhum contato prévio com a enfermagem do referido
setor. Apesar de já ter conhecimento prévio desse fato, só me dei conta de o quanto essa rotina
é prejudicial aos clientes que se internam no dia da cirurgia durante a pesquisa, quando foi
possível acompanhar a situação de perto e me afetar com ela.
125
Constatei que vários fatores podem contribuir para tornar a internação desses clientes
estressante. Eles são orientados a chegarem ao Serviço de Admissão e Alta (SAA) às 7h da
manhã. Às vezes, o leito ainda está ocupado e eles esperam por sua liberação no referido
setor, o que pode levar horas. Outras vezes, não tem roupa para forrar o leito, eles ficam
aguardando sentados em cadeiras comuns, pois as poltronas são raras nas enfermarias. Em se
tratando de clientes idosos, a situação é ainda mais desconfortável. Faz-se necessário pensar
em estratégias que viabilizem a VPO de enfermagem também a esses clientes.
Ressalto que a visita pré-anestésica aos clientes que se internam no dia da cirurgia,
depende da rotina do CC. Assim, se não houver anestesista disponível para se deslocar do
referido setor até a enfermaria, essa visita também não acontece. Desse modo, o cliente é
encaminhado ao CC sem nenhum contato prévio com a equipe cirúrgica, depois de ficar até
meses esperando o chamado para realizar a cirurgia. Isso resulta muitas vezes na suspensão da
intervenção quando o cliente já se encontra na RPA, causando transtornos tanto ao próprio
cliente quanto aos seus familiares.
Como se pode verificar, muitas são as dificuldades a serem superadas na relação
enfermeira-acompanhante, em busca da construção do cuidado compartilhado. Essas
dificuldades vão desde a sensibilização do profissional para imprimir mudanças em sua
prática e as relações estabelecidas com outros profissionais, à precariedade da infraestrutura
oferecida pelas instituições, nesse caso, as hospitalares. Esses obstáculos, além de refletirem
diretamente na qualidade dos serviços prestados à clientela, cansam, estressam, desestimulam
e podem inviabilizar ações que demandem mais tempo da enfermeira. Squassante (2007, p.
56) contribui com tais reflexões quando comenta que:
É notório e compreensível como os profissionais de enfermagem se sentem
estressados e se mostram apressados e conturbados diante de inúmeras tarefas a
serem cumpridas, com tempo determinado em um espaço definido. Há uma
exposição contínua do profissional, pois suas atividades, que visam o conforto e bem estar do cliente e seu familiar estão diretamente relacionadas a outros aspectos e
parcerias profissionais, sem os quais o trabalho fica comprometido.
Há de se considerar que “educar para a liberdade”, numa perspectiva dialógica como a
proposta por Freire (2007), demanda tempo e disponibilidade do profissional. No entanto,
devemos trabalhar os obstáculos que se apresentam à enfermeira a caminho de propostas
diferenciadas de cuidar, pois comungo do pensamento que a inserção do acompanhante no
cuidado a partir do compartilhamento de saberes e práticas atua como potencializador do
cuidado ao idoso hospitalizado.
126
Pelos resultados apresentados ao longo dos quatro últimos capítulos, constata-se a
pertinência da realização de ações de educação em saúde no espaço hospitalar. Os saberes e
práticas de cuidado, relatado pelos sujeitos visando à prevenção de complicações respiratórias
no pós-operatório de clientes idosos, foram compatíveis com o saber profissional. A
construção compartilhada do plano de cuidados e a sua implementação pelas acompanhantes
se deu a contento.
Destaca-se que os benefícios atribuídos por elas à experiência decorrente da educação
dialógica extrapolaram os limites hospitalares e vislumbraram outros espaços do cuidado.
Essa perspectiva configura-se como possibilidade de multiplicação pelos sujeitos, do
conhecimento novo ou reconstruído. Em razão do exposto, ressalta-se a importância de
considerar a presença do acompanhante oportuna ao desenvolvimento de uma parceria entre
esse e a equipe de enfermagem, em prol do cliente acompanhado, em que pese a flexibilização
da atitude profissional, com vistas à dialogicidade e real comunicação.
Na sequência, serão apresentadas as considerações finais do estudo.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo se configurou como uma pesquisa de campo em que foi utilizada a
modalidade de Pesquisa Convergente Assistencial, cuja principal característica é sua
articulação intencional com a prática assistencial, embora cada uma mantenha sua identidade
própria. Assim sendo, a relação do saber pensar com o saber fazer em enfermagem é o
principal elemento norteador dessa metodologia (TRENTINI; PAIM, 1999).
O objeto de estudo centrou-se nos saberes e práticas de acompanhantes sobre a
prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso com vistas à, através do
acesso a esses saberes e práticas construir e implementar um plano de cuidados compartilhado
no pós-operatório.
A educação em saúde, pautada no diálogo, foi utilizada como estratégia para a
construção do plano de cuidados compartilhado e sua implementação. Essa estratégia
mostrou-se viável à participação do acompanhante no processo de cuidar do idoso,
considerando seus saberes e práticas oriundos de suas vivências e experiências prévias.
Em atenção aos princípios da pedagogia educativa freiriana, utilizados neste estudo, a
temática foi desenvolvida através da problematização. Pelo diálogo, foi possível refletir sobre
a realidade e, em um movimento de construção e reconstrução de saberes e práticas, conduzir
a construção do plano de cuidados e sua implementação.
Todo o processo foi conduzido com base na visão nova-paradigmática, cuja postura
epistemológica se pauta no entendimento da complexidade humana. Como ser complexo, o
homem é simultaneamente biológico, social, cultural e psicológico e, como tal, não deve ser
visto ou estudado isoladamente, de forma reducionista, sob pena de perder a sua
complexidade. Assim, pensar o ser humano em sua complexidade é resgatá-lo como sujeito,
com consciência e autonomia; é pensá-lo como um ser dialético e dialógico, de ações e
interações; é reconhecer o inacabamento e a incompletude de todo o conhecimento que dele
deriva (MORIN, 1996; 2006; 2008).
Tais princípios norteiam o pensamento freiriano, sustentado na valorização das
relações humanas e no entendimento de que as pessoas têm capacidade para o
desenvolvimento da crítica e reflexão sobre os objetos que lhes são dados a pensar e também
se aplicam à PCA, na medida em que se valorizam os saberes e práticas dos sujeitos da
pesquisa no emprego de uma metodologia de intervenção, integradora e participativa.
Dadas as relações de poder estabelecidas entre profissionais de saúde e
acompanhantes, considerei a possibilidade de haver tensão ou inibição por parte dos sujeitos,
128
durante as entrevistas e no desenrolar do processo, o que poderia dificultar a comunicação e o
diálogo efetivo. Nesse sentido, com o intuito de estabelecer a empatia necessária ao processo
educativo dirimindo quaisquer obstáculos entre mim e os sujeitos inerentes à timidez,
características pessoais ou traços culturais, tomei alguns cuidados relacionados à postura e
apresentação pessoal, além do preparo do ambiente físico em que os dados para o estudo
seriam produzidos (conforme descritos na metodologia).
A atenção a tais aspectos resultou na criação de um espaço de intercâmbio de saberes e
práticas, focado na horizontalidade das relações, em contraposição a verticalização que
geralmente se institui entre profissional e acompanhante no ambiente hospitalar e fez com que
as acompanhantes superassem a condição de meras expectadoras do cuidado aos clientes
idosos no cenário pesquisado.
Os cuidados para a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso
são considerados básicos e, portanto, condizentes com os cuidados fundamentais de
enfermagem. As acompanhantes consideraram os cuidados planejados em conjunto com a
enfermeira-pesquisadora simples e de fácil execução, conforme descrito por elas e constatado
por mim, durante a observação participante. Penso que a construção do plano de cuidados
conjuntamente com os sujeitos, através do diálogo problematizador, partindo de suas
experiências prévias de cuidar, facilitou a implementação do plano.
Com efeito, os resultados mostraram que os saberes e práticas advindos do senso
comum se apresentam de forma fragmentada e, muitas vezes, não são reconhecidos pelos
sujeitos como um saber passível de ser aplicado ao cliente idoso, visando à prevenção de
complicações respiratórias no pós-operatório. Foi nesse ínterim que o saber socialmente
construído e de pura experiência feito, mostrou a sua importância, centrado na perspectiva
inovadora de se fazer educação, destacado por Freire (2001).
A valorização e o intercâmbio dos saberes popular e profissional tornaram-se viáveis,
pelo exercício dialógico, facilitador da crítica e da reflexão e através das quais foi
desencadeado um processo de desvelamento da realidade, na perspectiva freiriana, e
reconstrução do conhecimento a ser aplicado no cuidado ao idoso hospitalizado. Assim, pela
dialogicidade, a experiência da vida prática foi articulada aos conhecimentos científicos.
Vale lembrar que já existe um forte movimento apontando mudanças na direção de
uma prática profissional pautada no compartilhamento de ações no cuidado, em
reconhecimento ao saber do outro, inclusive sustentado em políticas públicas, como a Política
Nacional de Humanização, do Sistema Único de Saúde (2003). Um dos preceitos
129
fundamentais dessa política é justamente a valorização dos usuários, trabalhadores e gestores,
todos considerados sujeitos do processo de produção em saúde e com a devida atenção à
autonomia e o protagonismo dos usuários dos serviços de saúde.
Neste estudo, a construção do plano de cuidados compartilhado entre enfermeira e
acompanhantes através do diálogo/reflexão proporcionou às acompanhantes reunir condições
de desenvolver certa autonomia no cuidado ao idoso em pós-operatório, aguçando o
pensamento crítico sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas.
Tornaram-se, assim, também responsáveis pelo cuidado ao idoso, participando e
reconhecendo a dinâmica própria do hospital (TEIXEIRA, 2008).
Ao propor o cuidado compartilhado com o acompanhante, faz-se necessário pensar em
um modelo de atendimento não mais apenas centrado no cliente, mas entendendo o
acompanhante também como cliente da equipe de enfermagem. Em se tratando de idosos e
seus acompanhantes, muitas vezes, também idosos, há de se considerar as peculiaridades e
vulnerabilidades de ambos nessa fase da vida.
O modo como os resultados deste estudo se apresentaram, à luz dos conceitos teóricos
propostos por Paulo Freire, confirma a viabilidade do cuidado compartilhado no espaço
hospitalar. Para tanto, é necessário que tanto os profissionais quanto clientes e acompanhantes
se conscientizem de que são sujeitos coletivos, produtores de conhecimento no processo de
cuidar. As relações devem ser norteadas pela dialogicidade, crítica e reflexão, frente às
experiências e os desafios cotidianos próprios desse contexto.
A metodologia utilizada para desenvolver este estudo, a Pesquisa Convergente-
Assistencial, permitiu, em uma abordagem inovadora, a articulação com a prática assistencial
em saúde, desenvolvida em caráter de simultaneidade. Destaco que, enquanto enfermeira
assistencial, essa característica da PCA se constituiu em importante atrativo para realização da
pesquisa.
Dada a sua convergência com a prática assistencial, na PCA, o problema de pesquisa
deve ser destacado das situações vivenciadas pelo pesquisador em sua prática. Tendo isso em
conta, a partir da percepção das necessidades de mudanças na condução da VPO, foi
construída a proposta de ações educativas no contexto pré-operatório, norteada por conceitos
da pedagogia freiriana. Dada a minha inserção no contexto em que o estudo aconteceu, foi
facilitado o atendimento ao critério de imersibilidade da PCA.
Na aplicação da PCA, concomitantemente à produção de dados, dá-se a assistência e
vice-versa. Embora cada atividade preserve suas características próprias, uma não inviabiliza
130
a outra. Assim, o ato de assistir/cuidar permeou todo o período de produção de dados para a
pesquisa, sem que uma atividade impedisse a outra. Portanto, nesse modelo de investigação,
em sendo o pesquisador também provedor de cuidado, o ato de assistir/cuidar esteve presente
ao longo de todo o processo (TRENTINI; PAIM, 1999).
Nesta pesquisa, o assistir/cuidar contemplou tanto as acompanhantes quanto os
clientes idosos, através das ações de educação em saúde e cuidados com o ambiente em que a
pesquisa aconteceu. Dessa forma, o critério de essencialidade da PCA foi configurado.
Assim, pois, enquanto pesquisava, prestava assistência de forma integradora e participativa,
trabalhando na relação sujeito-sujeito, valorizando e intercambiando diferentes saberes e
práticas no cuidar de si e do outro, esclarecendo dúvidas, exercitando escuta atentiva às
reivindicações das acompanhantes, participantes de todo o processo.
Além disso, atuei na mediação com vários outros setores do hospital: auxiliei na
abertura de prontuário no ambulatório; em consulta na urologia; nos contatos com o serviço
de nutrição e serviço social; na otimização da alta hospitalar; na disponibilização de recursos
materiais, dentre tantas outras formas de assistir esses acompanhantes.
Em que pese à construção do plano de cuidados compartilhado, com vistas a facilitar o
diálogo e o intercâmbio de saberes, foram utilizados recursos ilustrativos sobre a temática
discutida, como fotografias e desenhos do aparelho pulmonar, além de uma bola de soprar,
que auxiliava na demonstração da mecânica pulmonar e simulações acerca da função
respiratória e das possíveis complicações pulmonares pós-operatórias e meios de preveni-las.
Vale destacar que o uso desse material e o método empregado na sua utilização,
pautado no diálogo e na problematização, de forma compatível com o universo vocabular dos
sujeitos, configuraram-se em tecnologia importante de cuidar e contribuíram com os sujeitos
para organizar o pensamento e desenvolver a reflexão crítica.
Com relação aos enfermeiros do centro cirúrgico, compartilhamos a percepção de
necessidades de mudanças na VPO. Esse movimento caracterizou a conectividade
preconizada pela PCA. No entanto, a enfermeira responsável por imprimir tais mudanças no
centro cirúrgico, embora sensibilizada e comprometida com os movimentos provocados pela
pesquisa, tem enfrentado problemas relacionados à estrutura física desse setor, resultando,
inclusive, em seu fechamento temporário, o que tem causado frequentes transtornos ao
atendimento à clientela. Assim, o compromisso para propormos mudanças na VPO precisou
ser adiado.
131
A produção de mudanças tanto na prática assistencial quanto na pesquisa, uma
alimentando a outra, que caracteriza a interfacialidade, deu-se por conta da mudança de
abordagem na realização da VPO, inserindo as acompanhantes de idosos como sujeitos
participativos na construção do cuidado aos idosos acompanhados. Elas saíram da condição
de meras expectadoras para protagonistas do cuidado.
A pesquisa também provocou mudanças em meu “saber pensar”. Despertou reflexões
sobre o processo da VPO como um todo. Tomei consciência de importantes aspectos
relacionados à VPO e seu contexto, passíveis de reflexão, como: por questões de
operacionalidade, os clientes que se internam no dia da cirurgia não são contemplados com a
VPO de enfermagem, que implicações isso tem para os clientes?
Nesse movimento pesquisar/cuidar/refletir, percebi, ainda, que o instrumento ora
utilizado para realização da VPO na instituição cenário da pesquisa atende a algumas
necessidades da equipe de enfermagem, pois traz informações sobre as condições clínicas dos
clientes e aspectos relacionados à rotina pré-operatória. No entanto, faz-se necessário abrir
espaço ao diálogo, a fim de encorajar e estimular os acompanhantes a falarem “sobre o que
eles gostariam de saber”.
A VPO é de responsabilidade dos enfermeiros do centro cirúrgico. Desse modo, o
envolvimento dos enfermeiros dos setores de clínica cirúrgica onde os dados foram
produzidos ainda é restrito nesse processo. Contudo, toda a equipe de enfermagem, ao ver o
movimento da pesquisa e seus propósitos, manifestou inteiro apoio no sentido de viabilizar o
que se fizesse necessário ao seu desenvolvimento. Resta-me, contudo, o desafio de trazê-los
como parceiros e partícipes ativos das mudanças necessárias e requeridas, segundo os
resultados da pesquisa.
Outro aspecto a ser considerado é com relação a dar continuidade ao processo da
VPO, acompanhando os clientes no pós-operatório, ou seja, realizar também a visita pós-
operatória. Assim, o ciclo de cuidados em torno do processo cirúrgico se completaria como
emergiu durante diálogo entre a pesquisadora e enfermeiros do CC. Entretanto, isso significa
maior demanda de recursos humanos e alterar a dinâmica do cuidado de tal setor, o que pode
mexer com a zona de conforto de alguns profissionais resistentes a mudanças, que quase
sempre optam pelo que está instituído, tendo dificuldade em abrir espaço para práticas
inovadoras.
Concordo que são muitos os desafios a serem superados a caminho dessa nova forma
de se fazer educação em saúde, principalmente no espaço hospitalar, onde impera o saber
132
profissional, de natureza prescritiva. Isso perpassa, no meu entender, não só por mudanças
filosóficas e epistemológicas dos profissionais envolvidos nesse processo, mas também, por
questões práticas, de operacionalidade, pois essa proposta demanda mais tempo e dedicação
por parte da enfermeira. E, considerando as dificuldades que as instituições de saúde
apresentam em relação ao quantitativo reduzido de recursos humanos, esse desafio torna-se
ainda maior.
Assim, se não nos é possível mudar a macroestrutura, vez que essa se relaciona a
outros fatores para além de nossas possibilidades de nela intervir, façamos o que está sob
nosso controle ou alcance. Afinal, nem sempre as mudanças necessárias na prática assistencial
estão a serviço ou na dependência da estrutura maior, mas conformadas às mudanças de
atitude no campo próprio do cuidado, como as ilustradas nos resultados apresentados nesta
pesquisa com aplicação da PCA.
No entanto, vale ter em consideração que, para aderir a propostas educativas como a
desenvolvida neste estudo e imprimir mudanças à prática assistencial, o enfermeiro precisa
estar consciente das necessidades dessas mudanças, engajado e disposto a superar os
obstáculos que se fizerem presentes. Para Freire (2000), mudar é difícil mas é possível.
Como exemplo, destaco que durante a produção de dados desta pesquisa, em alguns
momentos, encontrei dificuldade em me desvencilhar dos termos técnicos inadequados ao
contexto da educação popular em saúde. Em contrapartida, em outros momentos senti
dificuldade de compreender o universo vocabular dos sujeitos. Isso provavelmente se deu
devido à impregnação do modelo biomédico vigente presente em minha prática profissional
ao longo de muitos anos. Assim, quando se pensa em transformar a prática é preciso se pensar
em mudança de comportamento e de atitude frente aos obstáculos que se apresentam.
Concordo com Trentini & Paim (1999) que o contexto da prática assistencial é um
campo fértil a ser explorado por pesquisadores, pois dele emergem questões inerentes ao dia-
a-dia do cuidar/assistir que vitalizam e aproximam o campo da prática assistencial e o da
investigação científica. No contexto de minha prática profissional, ainda identifico um
distanciamento entre esses dois polos. Portanto, há de se ampliar pesquisas que congreguem
ambos os interesses.
Do mesmo modo, esta pesquisa ratifica que é possível desenvolver ações de educação
em saúde no contexto hospitalar. Entretanto, é preciso divulgar e replicar esta experiência, vez
que as ações dessa natureza têm privilegiado os espaços fora do ambiente hospitalar, situados
no campo da Saúde Coletiva.
133
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145
APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO ACOMPANHANTE
(1ª ETAPA)
Entrevista nº: ________ Data da entrevista:_____/_____/_______
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Identificação:_____________________________ Sexo: ( ) F ( ) M Idade: ________
Bairro em que reside:______________________________________
Naturalidade:____________________ Nacionalidade:________________
2. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS:
2.1-Situação conjugal: ( )casado(a) ou vive maritalmente ( )solteiro (a) ( )separado(a) ( )viúvo(a)
2.2-Escolaridade: ( )analfabeto(a) ( )albafetizado(a) ( )antigo ensino fundamental completo
( ) antigo ensino fundamental incompleto ( )antigo ensino médio completo ( )antigo ensino médio incompleto
( ) ensino superior completo ( )ensino superior incompleto ( )outro. Qual?____________
2.3-Profissão:___________________________Atua na profissão atualmente ( )sim ( )não. Em caso negativo,
em quê atua?__________________________
2.4- Situação ocupacional: ( )empregado(a) ( )desempregado(a) ( )aposentado(a) ( )nunca trabalhou
( ) autônomo(a) ( )estudante
2.5- Número de filhos: ( )nenhum ( )1 filho ( )2 filhos ( )3 filhos ( )4 filhos ou mais.
2.6-Recebe algum tipo de benefício governamental? ( )sim ( )não. Em caso positivo, qual?
( ) bolsa família ( )auxílio desemprego ( )aposentadoria ( )pensão( ) outro. Qual?_________________
2.7- Quantas pessoas contribuem com a renda familiar total? ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ou mais.
2.8- Renda familiar total: ( )apenas auxílio ( )< 1 salário mínimo ( )1 salário mínimo
( ) de 1 a 3 salários ( )de 3 a seis salários ( )de 6 a nove salários ( )mais que nove salários ( )variável
2.9- Habitação: ( )própria ( )alugada ( )favor ( )posse ( )outra.
2.10- Tipo de construção: ( )alvenaria ( )outro: ______________ n0 de cômodos:_____
2.11- Pessoas residentes no domicílio: ( )1 a 3 ( )4 a 6 ( )7 a 9 ( )10 a 12 ( ) > 12
2.12- Luz elétrica: ( ) sim ( ) não
2.13- Religião: ( )Católica ( )Evangélica ( )Espírita ( )Outras ( )Não possui
3. VÍNCULO COM O IDOSO:
( ) Consanguíneo Qual:................................( ) Não consanguíneo. Remunerado: ( ) Sim ( ) Não.
Em caso positivo: Qual é a escala de trabalho? _____________________________________________
Tem alguém para revesar? ( ) Sim ( ) Não. Quem? _______________________________________
Quais as atividades que você desempenha enquanto acompanhante?_____________________________
Reside com o idoso? : ( ) Sim ( ) Não.
Experiências anteriores como acompanhante de idosos hospitalizados: ( ) Sim ( ) Não.
Número de vezes: _________________
É responsável pelo cuidado do idoso no domicílio? ( ) Sim ( ) Não
Em caso negativo, quem é o responsável? ________________________________________________
OBSERVAÇÕES DA PESQUISADORA:
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
146
APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO IDOSO
(1ª ETAPA)
Entrevista nº: ________ Data da entrevista:___/___/______
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Identificação:__________________ Sexo: ( ) F ( ) M Idade: _____
Data da internação: ___/___/______ Setor: _______________ Bairro em que reside:____________________
Naturalidade:____________________ Nacionalidade:________________
Diagnóstico principal: _______________________________________________
Co-morbidades: _____________________________________________________ Cirurgia proposta: _________________________________________________Data____/_____/_________
2. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS:
2.1-Situação conjugal: ( )casado(a) ou vive maritalmente ( )solteiro (a) ( ) separado(a) ( ) viúvo(a)
2.2-Escolaridade: ( )analfabeto(a) ( )albafetizado(a) ( ) antigo ensino fundamental completo ( ) antigo ensino fundamental incompleto ( )antigo ensino médio completo ( ) antigo ensino médio incompleto
( )ensino superior completo ( )ensino superior incompleto ( ) outro. Qual?____________
2.3-Profissão:_________________________Atua na profissão atualmente ( )sim ( )não. Em caso negativo, em
quê?__________________________ 2.4- Situação ocupacional: ( )empregado(a) ( )desempregado(a) ( )aposentado(a) ( )nunca trabalhou
( )autônomo(a) ( ) estudante
2.5- Número de filhos: ( )nenhum ( )1 filho ( )2 filhos ( )3 filhos ( )4 filhos ou mais. 2.6-Recebe algum tipo de benefício governamental? ( )sim ( )não. Em caso positivo, qual?
( ) bolsa família ( )auxílio desemprego ( )aposentadoria ( )pensão( ) outro. Qual?_________________
2.7- Quantas pessoas contribuem com a renda familiar total? ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ou mais. 2.8- Renda familiar total: ( )apenas auxílio ( )< 1 salário mínimo ( )1 salário mínimo
( ) de 1 a 3 salários ( )de 3 a seis salários ( )de 6 a nove salários ( )mais que nove salários ( )variável
2.9- Habitação:( )própria ( )alugada ( )favor ( )posse ( )outra.
2.10- Tipo de construção: ( )alvenaria ( )outro: ______________n0 de cômodos:_____
2.11- Pessoas residentes no domicílio: ( )1 a 3 ( )4 a 6 ( )7 a 9 ( )10 a 12 ( ) > 12
2.12- Luz elétrica: ( ) sim ( ) não
2.13- Religião: ( )Católica ( )Evangélica ( )Espírita ( )Outras ( )Não possui
3. CONDIÇÕES GERAIS DO IDOSO:
a) Consciência: ( ) alerta ( ) apático ( ) confuso b) Locomoção: ( ) ambulante ( ) com auxílio ( ) cadeira de rodas ( ) acamado
c) Autonomia no cuidar de si: ( )independente ( ) parcialmente dependente ( )totalmente dependente
d) História de doença pulmonar ( ) Sim ( ) Não. Qual: __________________ e) Tabagista? ( ) Sim ( ) Não ( ) Já foi.
OBSERVAÇÕES DA PESQUISADORA:
__________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________
147
APÊNDICE C - ROTEIRO PARA CONDUZIR O DIÁLOGO/REFLEXÃO
(2ª ETAPA)
Dados de identificação:
Data: ________/_________/______________
Horário: Início: ______________ Término:______________
Perguntas chaves:
Você sabe o que pode acontecer com o pulmão, se depois da cirurgia o idoso ficar muito
tempo deitado, sem se movimentar na cama? Fale-me sobre isso.
O que você faria antes e depois da cirurgia para evitar que o idoso venha a ter problemas no
pulmão depois da cirurgia? Fale-me sobre isso.
Onde você aprendeu?
Com quem?
Por que você acha que isso faz efeito?
Observações da Pesquisadora
148
APÊNDICE D - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
(4ª ETAPA)
1. Dados de identificação:
Nº da observação: ____________________________
Data: ______/_____/_______
Horário: Início: ______________ Término:____________
2. Registros sobre a implementação do plano de cuidados, no pós-operatório
(dificuldades, dúvidas, facilidades, etc).
Que cuidados o acompanhante realizou?
O idoso deambulou, sentou, tossiu, se mobilizou, bebeu água?
E quando?
O acompanhante está tendo autonomia para realizar os cuidados ou está chamando
a equipe de enfermagem?
Observações da Pesquisadora
149
APÊNDICE E – ROTEIRO PARA CONDUZIR A DISCUSSÃO/AVALIAÇÃO
(5ª ETAPA)
1. Dados de identificação:
Data: ______/_____/_______
Horário: Início: ______________ Término:__________
Avaliação da inserção no cuidado
Perguntas chaves:
Como foi participar do cuidado prestado ao idoso após uma cirurgia?
Quais foram as suas facilidades em cuidar do idoso no hospital?
E as dificuldades?
O plano elaborado ajudou ou não? Como?
Como você percebe a equipe de enfermagem nesse processo de sua participação no
cuidado com o idoso?
Você tem alguma sugestão ou comentário a fazer?
150
APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
“AÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM VOLTADAS À PREVENÇÃO DE
COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS NO IDOSO”
Você foi escolhido (a) e está sendo convidado (a) para participar de uma pesquisa sobre o que os
acompanhantes de clientes cirúrgicos idosos sabem e o que fazem para evitar ou diminuir os
problemas respiratórios que podem acontecer após a cirurgia. Isto é importante para que as
enfermeiras possam orientar melhor os acompanhantes e cuidar melhor dos idosos evitando ou
diminuindo o aparecimento de complicações respiratórias após a cirurgia. Esta pesquisa também
ajudará as enfermeiras os acompanhantes dos idosos a se conhecerem melhor e a tirarem as suas
dúvidas sobre o cuidado com o pulmão após a cirurgia. A pesquisa terá duração de 2 anos e faz
parte de um estudo de Mestrado que está sendo realizado na Escola de Enfermagem Anna Nery,
que é da mesma universidade deste hospital. A pesquisa será realizada de duas formas: primeiro,
no dia anterior à realização da cirurgia, o acompanhante e a pesquisadora conversarão
individualmente, na própria enfermaria onde o cliente está internado. Durante a conversa, a
pesquisadora fará perguntas para que o acompanhante fale sobre o cuidado com o pulmão após a
cirurgia, para evitar ou diminuir os problemas respiratórios; depois, após a realização da cirurgia,
os acompanhantes serão observados na enfermaria quando estiverem com os idosos. A conversa
individual será gravada em gravador de voz eletrônico e a observação dos acompanhantes na
enfermaria será escrita em um caderno que ficará com a pesquisadora. Ninguém do hospital lerá o
que está escrito no caderno ou ouvirá as gravações. As gravações serão apagadas após 5 (cinco)
anos do término da pesquisa. Os nomes dos idosos e dos acompanhantes não aparecerão na
pesquisa. As pessoas que participarem receberão outro nome, bem diferente do seu próprio. Tudo
o que for gravado e escrito só será utilizado nesta pesquisa. Quando terminar, a pesquisa será
apresentada em reuniões científicas e também poderá ser publicada em livros ou revistas
científicas. A sua participação não é obrigatória, ou seja, você só participará desta pesquisa se
quiser. Se você aceitar, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer pergunta
ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo na sua
relação com o pesquisador ou com a Instituição. Você não terá nenhum gasto e também não
receberá qualquer pagamento em dinheiro ou de outra natureza por ter participado da pesquisa.
Não haverá risco de qualquer natureza seja ele: físico, mental ou moral para você e o idoso que
você acompanha. A sua participação é muito importante e trará benefícios para a formação dos
profissionais e para a assistência de Enfermagem.Você receberá uma cópia deste termo onde
consta o telefone e e-mail da pesquisadora, podendo tirar suas dúvidas sobre o estudo e sua
participação, agora ou a qualquer momento.Pesquisadora/Mestranda: Maria da Luz Ferreira
Xavier Telefone: (21) 26130702 ou (21) 9300-4976 e-mail: [email protected] Telefone de
contato do Comitê de Ética em Pesquisa HUCFF / UFRJ - (21) 2562-2480 e-mail:
[email protected] Acredito ter sido bem informado a respeito das informações que li e/ ou foram
lidas para mim sobre o estudo citado. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,
de que maneira participarei, que meu o nome e do idoso que eu acompanho não aparecerá, e que a
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO
151
qualquer momento posso tirar dúvidas. Ficou claro também que não terei despesas e nem receberei
benefícios pessoais com a minha participação. Concordo voluntariamente (de livre e espontânea
vontade) em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento,
antes ou durante o mesmo, sem prejuízos a mim e a assistência ao idoso que acompanho, durante
minha permanência na Instituição (HUCFF).
___________________________________________
Nome do acompanhante:
____________________________________________ Data: _____/______/______
Assinatura do acompanhante:
Maria da Luz Ferreira Xavier
___________________________
Nome da Mestranda/Pesquisadora
_________________________________
Assinatura da Mestranda/Pesquisadora Data: _____/______/______
152
APÊNDICE G – ENCAMINHAMENTO AO CEP DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
CLEMENTINO FRAGA FILHO
153
APÊNDICE H - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE UROLOGIA/HUCFF
154
APÊNDICE I - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE CIRURGIA GERAL/HUCFF
155
ANEXO A – AUTORIZAÇÃO DA DIVISÃO DE ENFERMAGEM/HUCFF
156
ANEXO B - PARECER DO CEP/HUCFF
157