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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS RIO DE JANEIRO 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER

COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS

COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES

RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS

RIO DE JANEIRO

2011

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MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER

COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS

COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES

RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação e Pesquisa da

Escola de Enfermagem Anna Nery /

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

Título de Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profa Drª Neide Aparecida Titonelli Alvim

RIO DE JANEIRO

2011

m

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Xavier, Maria da Luz Ferreira.

Compartilhando saberes e práticas de acompanhantes de idosos com os da

enfermeira sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas /

Maria da Luz Ferreira Xavier - 2011.

156 f.

Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rio de Janeiro, 2011

Orientadora: Neide Aparecida Titonelli Alvim

1. Enfermagem. 2. Educação em saúde. 3. Cuidados pré-operatórios. I.

Alvim, Neide Aparecida Titonelli. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Escola de Enfermagem Anna Nery. Programa de Pós-graduação em

Enfermagem. III. Título.

CDD 610.73

m

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3

MARIA DA LUZ FERREIRA XAVIER

COMPARTILHANDO SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS

COM OS DA ENFERMEIRA SOBRE A PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES

RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação e Pesquisa da

Escola de Enfermagem Anna Nery /

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

Título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em 02 de dezembro de 2011 por:

_________________________________________

Profª Drª Neide Aparecida Titonelli Alvim

Presidente (UFRJ)

_________________________________________

Profª Drª Fátima Helena do Espírito Santo

1a examinadora (UFF)

___________________________________________

Profª Drª Maria Luíza de Oliveira Teixeira

2a examinadora (UFRJ)

___________________________________________

Profª Drª Márcia Tereza Luz Lisboa

Suplente (UFRJ)

___________________________________________

Profª Drª Maria Célia de Freitas

Suplente (UECE)

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DEDICATÓRIA

Este estudo é dedicado:

Aos meus filhos, pela cumplicidade durante

toda a caminhada.

Aos meus netos, como inspiração para suas

futuras jornadas acadêmicas.

A minha mana preferida, aos meus irmãos e à

minha mãe, pela compreensão diante das

minhas ausências no decorrer do curso.

Aos colegas, enfermeiros assistenciais, como

incentivo para que se insiram no campo da

pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, ao maravilhoso Deus, por ter me concedido a graça

desta conquista.

À minha dedicada orientadora Neide Aparecida Titonelli Alvim, pela paciência e

generosidade diante das imensas dificuldades que encontrei. As minhas indisfarçáveis

timidez e insegurança durante o desenvolvimento do estudo, face à inexperiência no

campo da pesquisa, foram superadas por seu estímulo e apoio. A sua preciosa ajuda, em

todas as etapas, suavizou a transposição dos obstáculos que se apresentaram.

Transpareceu, ao final do processo, a minha aprendizagem e o meu crescimento pessoal e

profissional. Ampliei a minha visão a respeito do „cuidar‟ em enfermagem. Foi um

grande sonho realizado. Obrigada para sempre!

À minha amiga-mestra Luiza, que me fez acreditar na possibilidade de realizar

uma pesquisa após tantos anos dedicados exclusivamente à prática assistencial. A sua

cumplicidade desde os primeiros passos foi imprescindível à viabilização deste estudo.

Mais uma vez, muito obrigada!

Aos meus filhos Mitchela, Wagner, Max e Mick, pelo companheirismo e

colaboração principalmente com a tecnologia.

Às professoras componentes da Banca Examinadora, pela disponibilidade e

inestimáveis contribuições: Fátima Helena do Espírito Santo, Maria Luíza de Oliveira

Teixeira, Márcia Tereza Luz Lisboa e Maria Célia de Freitas. .

À Sônia Brazil, pela compreensão e flexibilidade com os meus horários de trabalho,

adequando-os as minhas atividades acadêmicas.

Aos professores do programa de Pós-graduação e Pesquisa da Escola de

Enfermagem Anna Nery, pela acolhida e troca de experiências e conhecimentos.

Aos professores Manoel Domingos (Chefe do Serviço de Cirurgia Geral), Homero

Soares Fogaça (Diretor Substituto da Divisão Médica) e Oswaldo Saback (Chefe do

Serviço de Urologia), do HUCFF/UFRJ, pela contribuição em uma das etapas do estudo.

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À enfermeira Célia do centro cirúrgico, pela solidariedade e ajuda em várias fases

do processo.

À equipe da secretaria da Pós-graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery,

especialmente à Sônia Xavier e ao Jorge Anselmo, pela excelência no atendimento.

À Suzane, Eliana, Paulo Henrique e Bira, pela preciosa colaboração durante a

produção de dados.

À Divisão de Enfermagem do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

(HUCFF)/UFRJ, pelo apoio à realização deste estudo.

Aos colegas de turma, mestrandos e doutorandos, pelo compartilhamento de

ideias, dificuldades e conquistas.

Às Equipes de Enfermagem dos setores 9B e 10D do HUCFF/UFRJ, pela

receptividade durante a produção de dados.

Aos colegas de trabalho, que de diversas formas me ajudaram e me incentivaram

durante toda a trajetória.

Aos idosos e seus acompanhantes, sem os quais este estudo não teria sentido.

Aos amigos queridos, que ao meu lado, ou a quilômetros de distância, acolheram-

me nos momentos de desânimo, incentivaram-me e torceram por mim. Esse apoio foi

fundamental para o enfretamento dos obstáculos.

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O Que É, O Que É

E a vida?

E a vida o que é, diga lá, meu irmão?

Ela é a batida de um coração?

Ela é uma doce ilusão?

Mas e a vida?

Ela é maravilha ou é sofrimento?

Ela é alegria ou lamento?

O que é, o que é, meu irmão?

Há quem fale que a vida da gente

É um nada no mundo

É uma gota, é um tempo

Que nem dá um segundo

Há quem fale que é um divino mistério profundo

É o sopro do criador numa atitude repleta de amor

Você diz que é luta e prazer

Ela diz que a vida é viver

Ela diz que melhor é morrer

Pois amada não é e o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça

E na moça eu boto a força da fé

Somos nós que fazemos a vida

Como der ou puder ou quiser

Sempre desejada, por mais que esteja errada

Ninguém quer a morte, só saúde e sorte

E a pergunta roda e a cabeça agita

Fico com a pureza da resposta das crianças

É a vida, é bonita e é bonita

Viver e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar e cantar e cantar

A beleza de ser um eterno aprendiz

Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será

Mas isto não impede que eu repita

É bonita, é bonita e é bonita

(Gonzaguinha)

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RESUMO

XAVIER, Maria da Luz Ferreira. Compartilhando Saberes e Práticas de Acompanhantes

de Idosos com os da Enfermeira sobre a Prevenção de Complicações Respiratórias Pós-

Cirúrgicas. Orientadora: Neide Aparecida Titonelli Alvim. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ,

2011. Dissertação de Mestrado em Enfermagem.

O objeto deste estudo centra-se nos saberes e práticas de acompanhantes sobre a

prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso. Os objetivos são: descrever

saberes e práticas de acompanhantes voltados à prevenção de complicações respiratórias pós-

cirúrgicas no idoso; construir um plano de cuidados voltado à prevenção de complicações

respiratórias pós-cirúrgicas no idoso, a partir da integração de saberes e práticas de

acompanhantes com os da enfermeira-pesquisadora no contexto da visita pré-operatória;

avaliar a efetividade do plano de cuidados, implementado no pós-operatório. O estudo

qualitativo foi norteado pelos conceitos da teoria problematizadora de Paulo Freire, com

aplicação do método da pesquisa convergente-assistencial. Os sujeitos foram 14

acompanhantes de clientes idosos na clínica cirúrgica de um hospital universitário do

município do Rio de Janeiro. O estudo seguiu o preconizado na Resolução 196/96 do CNS,

tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUCFF/UFRJ sob o nº. 186/10.

Utilizou-se para a produção dos dados formulário de identificação das acompanhantes e dos

clientes idosos, entrevista semiestruturada e um roteiro de observação participante. As fases

de desenvolvimento da pesquisa com os sujeitos constaram de entrevista individual,

construção de um plano de cuidados compartilhado, implementação por cada acompanhante

do plano de cuidados ao cliente idoso em pós-operatório, observação participante e, na última

etapa, avaliação das acompanhantes e pesquisadora sobre todo o processo. Os dados foram

analisados e interpretados a partir da triangulação dos achados, à luz da análise de conteúdo

temática. A construção do cuidado compartilhado foi viabilizada pela educação em saúde,

através do diálogo problematizador estabelecido com as acompanhantes de clientes idosos

sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas. Os resultados revelaram que

as acompanhantes acumulam saberes advindos de diferentes fontes que podem ser

considerados válidos e importantes, acerca de cuidados básicos no pós-operatório, capazes de

prevenirem problemas respiratórios. Através da metodologia participativa e problematizadora,

construiu-se um plano de cuidados compartilhado a ser realizado com o idoso, resultante da

integração de saberes e práticas dos acompanhantes com os da enfermeira-pesquisadora na

visita pré-operatória. O cuidado compartilhado proporcionou às acompanhantes reunir

condições de desenvolver relativa autonomia no cuidado ao idoso no espaço hospitalar.

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Resultaram em novas ou revisitadas práticas, culminando em um cuidado congruente às reais

necessidades dos clientes e seus acompanhantes, tornando-os parceiros no processo de cuidar.

Todo o processo foi conduzido com base na visão nova-paradigmática, cuja postura

epistemológica se pauta no entendimento da complexidade humana. Pensar o ser humano em

sua complexidade é resgatá-lo como sujeito, de ações e interações, com consciência e

autonomia. Tais princípios norteiam o pensamento freiriano, sustentado na valorização das

relações humanas e no entendimento de que as pessoas têm capacidade para o

desenvolvimento da crítica e reflexão sobre os objetos que lhes são dados a pensar. Também

se aplicam à PCA, na medida em que se valorizam os saberes e práticas dos sujeitos da

pesquisa no emprego de uma metodologia de intervenção, integradora e participativa.

PALAVRAS-CHAVE: ENFERMAGEM. EDUCAÇÃO EM SAÚDE. CUIDADOS PRÉ-

OPERATÓRIOS.

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ABSTRACT

XAVIER, Maria da Luz Ferreira. Sharing Knowledge and Practices of Companions of

Aged with the one of the Nurse about the Prevention of Postoperative Respiratory

Complications. Advisor: Neide Aparecida Titonelli Alvim. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ,

2011. Dissertation of Mater Degree in Nursing.

The study object centralizes in the knowledge and practices of the companions about

the prevention of respiratory complications in the aged. The objectives are: Describe

knowledge and practices of companions directed to the prevention of the postoperative

respiratory complications in the aged; construct a care plan directed to the prevention of

postoperative respiratory complications in the aged, from the integration of knowledge and

practices of companions with the one of the nurse-researcher in the context of the

preoperative visit; Evaluate the effective condition of the care plan implemented in the

postoperative. The qualitative study was guided by the concepts of the Critical Theory of

Paulo Freire, with use of the method of the convergent-assistance research. The subjects

were14 companions of aged clients in the surgical clinic of a university hospital of the Rio de

Janeiro County. The study followed the recommended in the 196/96 Resolution of the NHC,

having been approved by the Research Ethics Committee of the HUCFF/UFRJ under the N.

186/10. Formulary of the companions the aged clients´ identification, semi-structured

interview and an itinerary of participant observation were used for the data production. The

phases of the research development with the subjects consisted of individual interview;

construction of a shared care plan, implementation by each companion of the care plan to the

aged client in postoperative; participant observation and in the last stage, evaluation of the

companions and researcher about all the process. The data were analyzed and interpreted

from the findings triangulation, in light of the thematic content analysis. The construction of

the shared care became possible by the education on health, through the critical dialogue

established with the companions of aged clients about the prevention of post surgical

respiratory complications. The results revealed that the companions accumulate knowledge

resulted from different sources that could be considered valid and important, about the basic

care in the postoperative capable of prevent respiratory problems. Through the participative

and critical methodology, a shared care plan to be realized with the aged, resultant form the

integration of companions´ knowledge and practices with the one of the nurse-researcher in

the preoperative visit was constructed. The care shared provided to the companions gathering

conditions of develop any autonomy in the care to the aged in the hospital space. They

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resulted in new or revisited practices, culminating in a congruent care to the effective needs of

the clients and theirs companions, becoming partners in the care process. All the process was

conduced based on the new-paradigmatic view, which epistemological attitude is based in the

understanding of the human complexity. To think about the human being in its complexity is

to rescue it as subject, of actions and interactions, with conscience and autonomy. Such

principles guide the freiriano thinking, sustained in the human relations valorization and in the

understanding that the persons is capable to the critical and reflection development about the

objects that are given for them to think; and also apply to the PCA insofar as the knowledge

and practices of the research subjects are valorized in the employment of a methodology of

intervention, integrating and participative.

KEYWORDS: NURSING. EDUCATION IN HEALTH. PREOPERATIVE CARE.

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RESUMEN

XAVIER, Maria da Luz Ferreira. Compartiendo Conocimientos y Prácticas de

Acompañantes de Ancianos con los de la Enfermera sobre la Prevención de

Complicaciones Respiratorias Pos-quirúrgicas. Orientadora: Neide Aparecida Titonelli

Alvim. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ, 2011. Disertación de Master Grado en Enfermería.

El objeto de estudio se centra en los conocimientos y prácticas de acompañantes sobre

la prevención de complicaciones respiratorias pos-quirúrgicas en el anciano. Los objetivos

son: Describir conocimientos y prácticas de acompañantes dirigidos a la prevención de

complicaciones respiratorias pos- quirúrgicas en el anciano; construir un plano de cuidados

dirigido a la prevención de complicaciones respiratorias pos-quirúrgicas en el anciano, a

partir de la integración de conocimientos y prácticas de acompañantes con los de la

enfermera-investigadora en el contexto de la visita pre-operatoria; evaluar la efectividad del

plano de cuidados implementado en el pos-operatorio. El estudio cualitativo fue norteado por

los conceptos de la Teoría “Problematizadora” de Paulo Freire, con aplicación del método de

la pesquisa convergente-asistencial. Los sujetos fueron 14 acompañantes de clientes ancianos

en clínica quirúrgica de un hospital universitario del municipio del Rio de Janeiro. El estudio

siguió el preconizado en la Resolución 196/96 del CNS, teniendo sido aprobado por el Comité

de Ética en Pesquisa del HUCFF/UFRJ bajo el n. 186/10. Se utilizo para la producción de

los datos formulario de identificación de las acompañantes y de los clientes ancianos,

entrevista seme-estructurada y un itinerario de observación participante. Las fases de

desarrollo de la pesquisa con los sujetos constaron de entrevista individual; construcción de

un plano de cuidados compartido; implementación por cada acompañante del plano de

cuidados al cliente anciano en pos-operatorio; observación participante; y, en la última etapa,

evaluación de las acompañantes y investigadora sobre todo el proceso. Los datos fueron

analizados y interpretados a partir de la triangulación de los hallados, a la luce del análisis de

contenido temática. La construcción del cuidado compartido fue viabilizada por la educación

en salud, a través del diálogo “problematizador” establecido con las acompañantes de clientes

ancianos sobre la prevención de complicaciones respiratorias pos quirúrgicas. Los resultados

revelaron que las acompañantes acumulan saber advenido de diferentes fuentes y que pueden

ser considerados válidos e importantes, acerca de cuidados básicos en el pos-operatorio,

capaces de prevenir problemas respiratorios. A través de la metodología participativa y

problematizadora, se construyó un plano de cuidados compartido a ser realizado con el

anciano, resultante de la integración de conocimientos y prácticas de los acompañantes con

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los de la enfermera-investigadora en la visita pre-operatoria. El cuidado compartido

proporcionó a las acompañantes reunir condiciones de desarrollar relativa autonomía en el

cuidado al anciano en el espacio hospitalario. Resultaron en nuevas o nuevamente visitadas

prácticas, culminando en un cuidado congruente a las reales necesidades de los clientes y sus

acompañantes, tornándolos compañeros en el proceso de cuidar. Todo el proceso fue

conducido con base en la visión nueva-paradigmática, cuya postura epistemológica se pauta

en el entendimiento de la complejidad humana. Pensar el ser humano en su complejidad es

rescatarlo como sujeto, de acciones e interacciones, con consciencia y autonomía. Tales

principios guían el pensamiento freiriano, sustentado en la valorización de las relaciones

humanas y en el entendimiento de que las personas tienen capacidad para el desarrollo de la

crítica y reflexión sobre los objetos que les son presentados a pensar; y también se aplican a la

PCA, en la medida en que se valorizan los conocimientos y prácticas de los sujetos de la

pesquisa en el empleo de una metodología de intervención, integradora y participativa.

PALABRAS CLAVES: ENFERMERÍA. EDUCACIÓN EN SALUD. CUIDADOS

PREOPERATORIOS.

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LISTA DE QUADROS

Pág.

Quadro nº 1: Síntese das etapas de produção de dados da pesquisa .................................. 50

Quadro nº 2: Plano de cuidados construído com acompanhantes de idosos na VPO ......... 105

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição das acompanhantes por vínculo com o idoso e das acompanhantes

e idosos por sexo, idade, situação conjugal e número de filhos ......................... 56

Tabela 2: Distribuição das acompanhantes e idosos por escolaridade, situação ocupacional

e ocupação atual ................................................................................................... 57

Tabela 3: Distribuição das acompanhantes e idosos por renda familiar, número de pessoas

por domicílio, número de pessoas que contribuem com a renda familiar e religião 58

Tabela 4: Condições gerais dos idosos ................................................................................. 59

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Pulmão jovem ........................................................................................................ 71

Figura 2: Pulmão idoso ......................................................................................................... 71

Figura 3: Imagem do interior do pulmão + diafragma ......................................................... 96

Figura 4: Bola de soprar/bexiga com adaptador ................................................................... 98

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15

SUMÁRIO

Pág.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1. Aproximação com a temática ...................................................................................... 17

2. A problemática e a construção do objeto de estudo .................................................. 20

3. Questões Norteadoras .................................................................................................. 28

4. Objetivos ....................................................................................................................... 28

5. Relevância e justificativa do estudo ............................................................................ 28

CAPÍTULO I - BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS DO ESTUDO

1.1. A pedagogia freiriana aplicada à enfermagem ...................................................... 35

CAPÍTULO II - A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO

2.1. Tipo de estudo e abordagem metodológica ............................................................ 40

2.2. Trajetória da pesquisa convergente-assistencial ................................................... 41

2.3. Aspectos éticos .......................................................................................................... 52

2.4. Dificuldades para realização do estudo .................................................................. 53

CAPÍTULO III - ASPECTOS SOCIAIS E DE SAÚDE RELACIONADOS AOS

ACOMPANHANTES E IDOSOS E SUA INFLUÊNCIA NO CUIDADO

3.1. Caracterização dos acompanhantes, sujeitos do estudo e dos clientes idosos

em pré-operatório .......................................................................................................... 55

CAPÍTULO IV - SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS

SOBRE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS NO IDOSO

4.1. Principais causas de complicações respiratórias no pós-operatório do cliente

idoso problematizadas no diálogo com os acompanhantes .......................................... 70

4.2. Fontes de informação e de aprendizagem acerca dos cuidados fundamentais

evidenciados pelos acompanhantes de idosos sobre a prevenção de complicações

respiratórias pós-cirúrgicas ........................................................................................... 80

CAPÍTULO V - CONSTRUINDO O PLANO DE CUIDADOS NO DIÁLOGO

COM ACOMPANHANTES COM VISTAS À PREVENÇÃO DE COMPLICA-

ÇÕES RESPIRATÓRIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE IDOSOS ......................... 87

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16

CAPÍTULO VI - IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTI-

LHADO E SUA EFETIVIDADE .................................................................................. 107

CAPÍTULO VII - AVALIAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTILHADO

7.1. Avaliação dos acompanhantes sobre o plano de cuidados compartilhado e sua

implementação ................................................................................................................. 117

7. 2. Avaliação da enfermeira-pesquisadora sobre a experiência implementada: os

desafios da assistência que se apresentam à equipe de enfermagem no hospital ....... 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 127

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... . 133

APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO ACOMPANHANTE 145

APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO IDOSO .................... 146

APÊNDICE C - ROTEIRO PARA CONDUZIR O DIÁLOGO/REFLEXÃO ......... 147

APÊNDICE D - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO ........................................................ 148

APÊNDICE E - ROTEIRO PARA CONDUZIR A DISCUSSÃO/AVALIAÇÃO ... 149

APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...... 150

APÊNDICE G - ENCAMINHAMENTO AO CEP/HUCFF ......................................... 152

APÊNDICE H - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE UROLOGIA/HUCFF ........... 153

APÊNDICE I - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE CIRURGIA GERAL/HUCFF 154

ANEXO A - AUTORIZAÇÃO DA DIVISÃO DE ENFERMAGEM/HUCF.............. 155

ANEXO B - PARECER DO CEP/HUCFF ..................................................................... 156

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1. Aproximação com a temática

Minha trajetória profissional como enfermeira assistencial nos setores de clínica

médica e centro cirúrgico teve início em 1981 em um hospital universitário na cidade de João

Pessoa/Paraíba e continuou a partir de 1985 na cidade do Rio de Janeiro, também no âmbito

de um hospital universitário.

Desses 29 anos de atividade profissional, 20 anos foram atuando em enfermarias de

clínica médica e 08 anos em centro cirúrgico, exercendo a função de enfermeira líder1. Nesse

intervalo, verifiquei que tais setores são espaços em que se fazem necessárias atividades

educativas voltadas não só aos clientes, mas também aos seus acompanhantes2,

“principalmente quando se trata de clientes que, por questões inerentes ao declínio de sua

autonomia, próprias à idade ou às enfermidades, dependem de outrem para seu cuidado”

(TEIXEIRA, 2008, p.25), como no caso de clientes idosos3 clínicos ou cirúrgicos.

No setor de clínica médica, os clientes, em sua maioria, apresentavam diferentes

doenças, principalmente: cardíacas, endócrinas, neurológicas, respiratórias e gastrointestinais.

Nesse setor, devido às características próprias dessas patologias, havia muitos clientes

acamados, totalmente ou parcialmente dependentes. Dentre os cuidados de enfermagem a eles

prestados, priorizava-se a mobilização ativa e passiva no leito e fora dele, como meio de

prevenção às úlceras por pressão (UP), trombose venosa profunda (TVP) e complicações

respiratórias.

Muitos clientes permaneciam com acompanhante em tempo integral ou parcial. Esses

se ocupavam basicamente em atender as necessidades dos clientes como alimentação,

hidratação e higiene, além de auxiliar a equipe de enfermagem, alertando sobre o término de

infusões venosas e/ou medicamentos, queixas dos clientes, dentre outras próprias do cotidiano

da enfermagem hospitalar.

1 Liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem com entusiasmo visando atingir aos objetivos

identificados para o bem comum (HUNTER, 2004, p.25). Enfermeiro(a) líder é a terminologia utilizada pela Divisão de Enfermagem (DEN) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), para

designar o enfermeiro(a) que não exerce cargo de chefia. 2 O acompanhante pode ser pessoa com vínculo sanguíneo ou não que permanece junto ao cliente na

hospitalização exercendo a função de cuidador (remunerado ou não), ou ainda, sem esta função específica,

estando somente para lhe fazer companhia (TEIXEIRA, op.cit, p.22). 3 Pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (MS, 2003).

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Muitos acompanhantes, no entanto, mostravam-se atentos aos cuidados prestados pela

equipe de enfermagem, para reproduzi-los, quando necessário. Outros, preocupados com a

reprodução correta desses cuidados, buscavam informações junto à equipe de enfermagem,

que geralmente respondia considerando os conhecimentos técnicos e científicos, distante da

vivência dos acompanhantes. Assim, a prática educativa da equipe de enfermagem junto a

esses clientes se mostrava, na maioria das vezes, incipiente às necessidades apresentadas

pelos acompanhantes.

Portanto, enquanto enfermeira do setor de clínica médica de hospitais de grande porte4,

cuidei de clientes em diferentes etapas do ciclo vital, acometidos, quase sempre, por doenças

crônicas não transmissíveis (DCNTs) de difícil controle. Essas doenças levavam os clientes a

internações frequentes e longas, interferindo na qualidade de vida e causando sofrimento e

transtorno aos mesmos e seus familiares. Penso que, muitas vezes, as frequentes re-

internações deviam-se, em parte, a não observância dos cuidados necessários ao controle e

prevenção das doenças. A título ilustrativo, destaco a situação de clientes acometidos por

doenças pulmonares crônicas que não deixavam de fumar e outros por diabetes mellitus que

não faziam dieta.

Tornava-se evidente, no meu entender, a importância e a necessidade de ações

educativas no contexto hospitalar, que favorecessem a esses clientes uma maior

conscientização, não só com a própria saúde (cuidar de si), mas também com a saúde dos

familiares, como no caso de fumantes, uma vez que as pessoas que convivem com fumantes

também estão expostas às doenças provocadas pelo fumo.

Na visão de Waldow (2001, p.285):

O cuidado humano é aquele que prioriza o eu/self em relação a si próprio como ser

existencial, a sua condição de ser relacional que faz parte de um contexto maior.

Seres humanos cuidam (ou deveriam cuidar) de si, dos outros e do cosmos,

preservando a natureza. É um existir pleno de responsabilidade e não apenas um estar no mundo.

Nessa linha de pensamento, acreditava ser outro ponto importante estender as ações

educativas aos acompanhantes desses clientes, com o propósito de envolvê-los no processo de

cuidados necessários à promoção e manutenção da saúde dos mesmos. Por isso, penso ser

difícil para um fumante deixar de fumar, convivendo com outros fumantes, ou uma pessoa

diabética fazer dieta, estando próxima a uma geladeira repleta de guloseimas.

Afinal, para que haja a tomada de consciência, é preciso situar os sujeitos no processo

4 Hospitais com capacidade instalada de 151 a 500 leitos (MS, 1985).

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do cuidado como ativos participantes, o que só se faz possível quando todos os envolvidos nas

ações têm igual direito de expressão e acesso a informações sobre como se cuidar.

Em relação à atuação da equipe de enfermagem, verificava que eram priorizadas as

ações no campo das intervenções técnico-curativas, deixando em segundo plano as ações de

cunho educativo. Isso se dava, por vezes (ou assim justificado), devido ao grande volume de

trabalho, reduzindo o tempo destinado ao diálogo, momento que, no meu entendimento,

conduz a uma relação de confiança e respeito mútuo contribuindo para uma assistência de

enfermagem mais humanizada.

Segundo Christóforo e Carvalho (2009), observa-se na prática rotineira dos

profissionais da enfermagem envolvidos em seus afazeres, que a reflexão sobre a sua atuação

profissional é poucas vezes exercitada.

Destaco que, mesmo diante dos limites que se apresentavam à prática profissional,

sempre procurei dialogar com os clientes e, especialmente, em se tratando de idosos, também

com seus acompanhantes, muitas vezes, a pedido do próprio cliente, que alegava dificuldades

para apreender as orientações.

Entretanto, o diálogo era conduzido de forma verticalizada, que mais se aproximava de

um monólogo, pois, na maioria das vezes, transmitia informações técnico-científicas

acumuladas no decorrer de minha vida profissional e acadêmica. À época, desconhecia a

importância de trocar e entrelaçar na teia do cuidado os conhecimentos profissionais com os

saberes adquiridos pelos clientes e seus acompanhantes, principalmente ao longo da

convivência com a doença, a fim de construir, conjuntamente, ações para um cuidado

individualizado e dentro da realidade sócio-econômico-cultural de cada cliente. Por diversas

vezes, ouvi, desses e/ou de seus acompanhantes, a inviabilidade de continuar o tratamento, a

dieta ou outros cuidados necessários à manutenção da saúde, fora do ambiente hospitalar,

devido ao baixo poder aquisitivo.

Diante desses fatos, constato que as ações de educação em saúde, embora presentes no

meu cotidiano de cuidar, eram realizadas de forma unidirecional, prescritiva, caracterizadas

pelo modelo tradicional de educação, de natureza depositária, constituindo-se em ações

voltadas “para” o cliente e não “com” o cliente, inviabilizando o intercâmbio entre os saberes

acadêmico e popular e desmotivando os clientes a expressarem suas reais necessidades.

Silva e Nakata (2005) afirmam que quando a assistência de enfermagem é

automatizada, é normal o cliente considerar que está aborrecendo os profissionais de saúde e

para não incomodá-los, muitas vezes, cala-se.

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Nessa vertente, impunham-se as práticas do saber científico do profissional de saúde,

resultando em um cuidado dominante, em que o cliente e/ou seu acompanhante, principais

interessados nos resultados dessas ações, não eram chamados a opinar e a discutir sobre essas.

Nesse sentido, Valla (2000, p.15) comenta que se a referência para o saber advir

apenas do profissional, dificulta o acesso ao saber do outro.“Os saberes da população são

elaborados sobre a experiência concreta, a partir das suas vivências, que são vividas de uma

forma distinta daquela vivida pelo profissional.”

Ainda que minhas ações nem sempre estivessem pautadas em uma abordagem

pedagógica de natureza problematizadora, a qual critica a forma autoritária e pouco produtiva

da comunicação concebida “por extensão” (FREIRE, 2001), cujos preceitos ferem a

verdadeira dialogicidade, preocupava-me em abordar ações de cunho educativo junto aos

clientes e/ou seus acompanhantes, tanto durante a internação, quanto por ocasião da alta

hospitalar. Isso porque, sempre acreditei na força do conhecimento como meio eficaz de

sensibilização para valorização da saúde e da qualidade de vida.

A partir do ano de 2000, passei a atuar no centro cirúrgico. Nos anos de 2002-2003,

lecionei nos cursos de técnico e auxiliar de enfermagem do Projeto de Profissionalização dos

Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE).

Nessa oportunidade, aproximei-me da Pedagogia Libertadora/Problematizadora de

Paulo Freire e me identifiquei com sua proposta inovadora de educação. Ela traz no seu

arcabouço teórico a perspectiva crítico-reflexiva, a valorização das diferentes formas de

pensar, dos saberes e práticas, oriundos da cultura popular, e do respeito ao contexto no qual

as pessoas estão inseridas. Propõe a coconstrução do conhecimento e a desconstrução do mito

do professor que detém todo o saber. Trabalha com a figura do professor mediador,

orientador, facilitador na construção de novos saberes.

Essa pedagogia levou-me a refletir criticamente sobre a minha prática e a forma como

desenvolvia as ações educativas junto à clientela e seus acompanhantes. Plantou em mim a

semente da inquietude, da curiosidade e, desde então, o desejo de propor ações voltadas à

educação em saúde que pudessem aplicar a pedagogia freiriana.

2. A Problemática e a construção do objeto do estudo

Ao passar a desenvolver minhas atividades profissionais no centro cirúrgico (CC),

deparei-me com uma realidade de cuidado distinta daquelas até então vivenciadas na clínica

médica. Isso porque, enquanto nessa clínica os clientes passam, algumas vezes, por longas

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internações, no CC, eles permanecem apenas por algumas horas, o que tende a restringir seu

tempo de contato com a equipe de enfermagem.

O pouco tempo de convivência com o cliente no CC, embora não seja o determinante,

pode também interferir na construção da relação entre ele e a enfermeira (SILVA; ALVIM,

2010, p.428). Ademais, muitos clientes chegam ao CC sonolentos ou adormecidos, com

dificuldade ou sem condições de se comunicarem devido ao efeito da medicação pré-

anestésica, administrada na enfermaria, antes do encaminhamento ao CC.

Os clientes adentram ao CC através da sala de recepção pré-operatória (RPO), onde

permanecem até serem conduzidos à sala de operação (SO). Na RPO, “são prestados os

cuidados ao cliente pela equipe de enfermagem que avalia suas necessidades física, emocional

e de segurança (...)” (SILVA, 2009, p. 40). A entrada do cliente na RPO, por ser um local

desconhecido para ele, pode lhe provocar grande impacto e fazer com que se sinta vulnerável,

sendo fundamental o apoio efetivo da equipe de enfermagem nesse momento (BIANCHI;

TURRINI, 2007).

Para aqueles clientes que chegam acordados ao CC, é difícil o tempo de espera para a

cirurgia. Sabe-se que o enfrentamento de um ato cirúrgico gera medo e insegurança. Segundo

Souza, Souza e Fenili (2005), o cliente cirúrgico apresenta um nível de estresse no período

pré-operatório, independente do grau de complexidade da cirurgia. Para Escudeiro (1988 p.

6), “toda intervenção cirúrgica representa uma ameaça à integridade da pessoa, portanto,

produz certo grau de ansiedade”.

Tanto o ambiente físico quanto o das relações interpessoais no CC por suas

características peculiares podem contribuir para exacerbar estes sentimentos. Cito dentre essas

características as vestimentas dos profissionais, próprias desse ambiente (túnica, touca e

máscara), que dificultam a relação face a face e podem colaborar para o distanciamento entre

cliente e enfermeira (SILVA, 2009), além de contibuir para tornar o ambiente um tanto frio e

impessoal.

É fato que o ambiente físico influencia na promoção de bem-estar e conforto em

qualquer contexto. No CC, fatores como o excesso de ruídos a que os clientes são submetidos

- o toque de telefones fixo e celulares, o barulho do sistema de refrigeração, as conversas

aleatórias entre os profissionais, podem contribuir para aumentar a angústia e o estresse da

espera pelo ato cirúrgico. Nightingale (1989, p. 55) afirma que “Ruído desnecessário, de fato,

é a mais cruel falta de cuidado que pode ser imposta a um doente ou mesmo a uma pessoa

sadia.”

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Antes de serem encaminhados ao CC, os clientes recebem cuidados de enfermagem

preconizados para o período pré-operatório. Os cuidados de enfermagem mais comuns nessa

fase são: tricotomia, banho, colocação de roupa cirúrgica, preparo gastrointestinal, jejum,

retirada de jóias, prótese dentária e outras próteses, roupa íntima e esmalte (CHRISTÓFORO;

CARVALHO, 2009). Observo que na relação desses cuidados são priorizadas as fases pré e

transoperatórias em detrimento daquelas inerentes ao período pós-operatório, incluindo os

relacionados às possíveis complicações nesse período.

Estudo realizado pelas autoras acima mencionadas revela que sentimentos como

constrangimento e indiferença foram manifestados pelos clientes durante a realização dos

cuidados pré-operatórios, o que implica na necessidade de avaliação da efetividade desses

cuidados. Destacam que alguns cuidados como colocação da roupa cirúrgica (camisola),

retirada da roupa íntima e da prótese dentária, podem causar desconforto aos clientes.

A remoção da prótese dentária faz com que muitos deles permaneçam com o lençol

sobre a boca, enquanto estão na RPO, dificultando a comunicação, inclusive durante a

admissão feita pelo enfermeiro. A retirada de aliança de casamento é, também, motivo de

estresse para alguns clientes, geralmente idosos. Eles alegam nunca a terem retirado e, com

isso, parecem sentirem o matrimônio invadido e ameaçado. Assim, o estresse para o cliente

cirúrgico poderá ser causado de acordo com a sua percepção.

Além da rotina pré-operatória que pode potencializar os sentimentos de estresse, medo

e insegurança comuns a essa fase, os riscos5 que envolvem todo procedimento cirúrgico é

outro fator importante nesse contexto. É comum os clientes perguntarem enquanto estão na

RPO: “é verdade que ocorrem muitos erros no centro cirúrgico e podemos ser trocados e

fazermos a cirurgia errada?”; “durante a anestesia a pessoa fica como morta?”; “a anestesia na

coluna pode deixar aleijado”?

Por outro lado, existem ainda, situações de conflito externas ao ambiente cirúrgico,

como as preocupações de natureza financeira e social. O repouso de dias ou até meses, que

em geral requer um procedimento cirúrgico, pode afastar o cliente de suas atividades sociais e

laborais. Esse afastamento laboral é mais crítico quando se trata de trabalho autônomo, por

não haver possibilidade de licença trabalhista remunerada.

Assim, concordo com Cavalcante; Pagliuca e Almeida (2000, p.59) quando destacam

que um procedimento cirúrgico não é um acontecimento banal na vida de uma pessoa. Faz-se

5 Risco cirúrgico é toda possibilidade de perigo ou dano que ocorre com um paciente, candidato à cirurgia em

decorrência de diferentes fatores que possam afetá-lo no pré, no trans e/ou no pós-operatório. (NIGRO, 1984

apud SILVA; RODRIGUES; CESARETTI, 1997 p.70)

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necessário um preparo prévio desse indivíduo e de seus familiares, que muitas vezes precisam

afastar-se de sua vida normal por algum tempo. “Além disso, essas pessoas necessitam

mobilizar recursos físicos, emocionais e até financeiros para enfrentar esse momento”.

Por isso, situações de longa dependência decorrentes de cirurgias, geralmente,

repercutem de forma expressiva no cotidiano das pessoas. Elas precisam se munir de fé e

esperança na recuperação, para que não se desesperem e resultem em estado de depressão.

Para alguém que pratica a dança, por exemplo, permanecer durante meses dependente de

muletas, devido ao tratamento cirúrgico de uma fratura no tornozelo, vivendo da incerteza, se

poderá ou não voltar a dançar, sente grande sensação de impotência e insegurança, que só vai

diminuindo com os progressos na recuperação.

Por tantas adversidades enfrentadas pelos clientes, penso ser importante o

desenvolvimento de ações educativas que contemplem todas as fases do período operatório,

em destaque para a visita pré-operatória6 (VPO), momento em que o enfermeiro poderá

conhecer e dirimir eventuais dúvidas, proporcionando ao cliente a possibilidade de diálogo

para expor seus medos e outros sentimentos derivados do processo cirúrgico como um todo.

Além disso, poderá oportunizar a discussão sobre os aspectos inerentes aos cuidados

requeridos nas diferentes fases desse processo, para os quais tanto a participação do cliente,

quanto do acompanhante é essencial. Ademais, o enfermeiro poderá captar problemas e atuar

como elo entre este e a equipe cirúrgica, com o objetivo de proporcionar uma assistência

transoperatória adequada e individualizada (ESCUDEIRO, 1988).

Para diminuir o distanciamento e minimizar o impacto ao cliente frente à cirurgia e ao

CC, na instituição na qual estou inserida, cenário para o desenvolvimento desta pesquisa, a

VPO é realizada no dia anterior ou no último dia útil antes do procedimento cirúrgico. Por

questões operacionais, não é realizada a VPO aos clientes que internam no dia da cirurgia. Ela

é desenvolvida pelo enfermeiro do CC através de entrevista estruturada, utilizando um

instrumento do tipo check list7, elaborado pelos enfermeiros do referido setor, conjuntamente

com a Divisão de Enfermagem (DEN).

Através desse instrumento, são coletadas informações sobre: nível de

consciência/orientação, condições emocionais em relação ao ato cirúrgico, uso de

próteses/cateteres, existência de patologias agudas e/ou crônicas, ou que exijam medidas de

precaução/segurança e alergias, tabagismo, alcoolismo, transfusão de sangue, uso de

6A visita pré-operatória (VPO) consiste na primeira etapa da sistematização da assistência de enfermagem

perioperatória (GRITTEN; MÉIR; GAIEVICZ, 2006, p.245). 7 Lista de conferência (WHITLAM; DAVIES; HARLAND, 1997)

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medicamentos, cirurgias anteriores, eliminações fisiológicas, observações relevantes não

contempladas pelo roteiro, assinatura do Termo de Responsabilidade8, dentre outras.

Neste estudo, vale ressaltar que meu interesse em compartilhar saberes e práticas com

os acompanhantes de idosos no âmbito da VPO, cujo resultado convirja pesquisa e cuidado,

está focado especialmente na prevenção ou minimização das complicações pós-operatórias.

Esse interesse se justifica pela notória carência e fragilidade das ações educativas voltadas

para o cliente cirúrgico, principalmente em se tratando do cliente idoso e seus acompanhantes.

Isso porque as pessoas idosas são as mais propensas às complicações pós-operatórias,

principalmente as complicações respiratórias, responsáveis por aproximadamente 40% dos

óbitos nessa clientela, relacionados aos possíveis comprometimentos pulmonares oriundos

dos procedimentos cirúrgicos e da anestesia (FERNANDES; RUIZ NETO, 2002).

Zago (1997), ao analisar estudos sobre a atividade educativa do enfermeiro cirúrgico,

comenta que os enfermeiros perceberam que as complicações pós-operatórias poderiam ser

minimizadas ou evitadas pelo processo educativo do cliente, durante o período

perioperatório.9

Essas complicações são definidas como uma segunda doença, inesperada, que ocorre

até trinta dias após o procedimento cirúrgico, ou a exacerbação de uma mesma doença pré-

existente em decorrência da cirurgia. Embora haja possibilidade de outras complicações, as do

trato respiratório são as mais frequentes e contribuem assim para a morbidade e mortalidade

perioperatória (JOIA NETO; THOMPSON; CARDOSO, 2005; RODRIGUES; ÉVORA;

VICENTE, 2008).

Apesar de no momento da VPO serem dadas orientações sobre os cuidados

relacionados à rotina pré e pós-operatória, observo que não fazem parte desses cuidados

orientações voltadas à prevenção ou minimização de complicações pós-operatórias, em

especial, as do tipo respiratório, considerando principalmente sua importância para a pessoa

idosa.

Sabe-se que o envelhecimento é acompanhado de alterações no sistema respiratório,

que constituem fator de risco para complicações respiratórias no pós-operatório, assertiva

confirmada por diversos estudos realizados (GAZARIAN, 2006; SAKAI et al, 2007;

8 O Termo de Responsabilidade é um documento que contém informações sobre os riscos que permeiam a cirurgia. Compete ao médico que atende ao cliente, prestar as informações e esclarecimentos sobre o referido

termo, que é obrigatório para as cirurgias programadas. O mesmo deve ser assinado pelo cliente ou seu

representante legal. 9 Termo que incorpora as três fases do período operatório: pré-operatória (antes), trans-operatória (durante) e

pós-operatória (depois) (POMPEO, 2007 p.16).

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CARBO; SMETANA, 2008; RODRIGUES; ÉVORA; VICENTE, 2008; SILVA et al,

2009). Isso porque, com o avançar da idade, ocorre significante diminuição da reserva

funcional do sistema respiratório e um grande número de pacientes idosos está sendo

submetido a intervenções cada vez mais complexas (FERNANDES; RUIZ NETO, 2002).

Segundo Smeltzer e Bare, (2009), as alterações que ocorrem no sistema respiratório,

relacionadas à idade, afetam a capacidade e função pulmonares como: calcificação das

cartilagens costais e redução da mobilidade das costelas, diminuição da eficiência dos

músculos respiratórios, aumento da rigidez pulmonar e diminuição da área alveolar, dentre

outras. A capacidade vital do pulmão diminui, afetando a troca gasosa e a capacidade de

difusão10

. A diminuição da eficiência da tosse, a menor atividade ciliar e o aumento do espaço

morto pulmonar11

tornam a pessoa idosa mais vulnerável às infecções respiratórias.

Considerando as complicações respiratórias em clientes idosos no pós-operatório,

alguns autores sugerem que o local da cirurgia (próximo ao diafragma ou parede torácica),

doenças pulmonares pré-existentes e a idade são as principais causas de morbimortalidade

pós-operatória. Uma explicação para as alterações relacionadas à localização da cirurgia, “é a

diminuição da excursão respiratória devido à dor ou curativo compressivo”, ressaltam

Fernandes e Ruiz Neto (2002, p.462).

Nesse sentido, Stracieri (2008, p. 465) destaca que a dor no pós-operatório “dificulta a

mobilização ativa, restringe o esforço para a tosse produtiva, leva à hipoventilação e

compromete o estado geral do paciente”. Ainda, pode prejudicar a realização de inspirações

profundas, afirmam Renault e outros (2009).

A imobilidade no pós-operatório é outro fator considerado importante quando se trata

de complicações respiratórias, uma vez que provoca distúrbios na mecânica pulmonar,

podendo ocasionar doenças graves, tais como atelectasia e pneumonia hipostática. “A posição

deitada gera um acúmulo de líquido na base dos pulmões, que serve de cultura para a

proliferação de bactérias”, sustentam Cazeiro e Peres (2010, p.154).

A tecnologia avançada, o aumento da longevidade humana e o desenvolvimento

técnico-científico, contribuem para que um maior número de idosos busque tratamento

cirúrgico (LENARDT et al, 2010).

Os progressos nas técnicas de avaliação, de anestesia e as habilidades de monitorização

nos procedimentos cirúrgicos, permitem que o cliente idoso tolere bem uma cirurgia eletiva.

10 Processo pelo qual o oxigênio e o dióxido de carbono são permutados na interface ar-sangue (SMELTZER;

BARE, op. cit.). 11 Região entre a traquéia e os bronquíolos terminais, que não apresenta a função respiratória, mas somente a

função de condução de gases (FEREZ, s. d.).

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Porém, ele tem menos reserva fisiológica12

do que o paciente jovem, para reagir a um trauma

cirúrgico. Entre os critérios para ótimos resultados após uma cirurgia em um cliente idoso,

encontram-se o histórico e tratamento pré-operatório criterioso e cuidados pós-operatórios

meticulosos e competentes (SMELTZER; BARE, 2009).

Desse modo, o aparelho respiratório do idoso exige especial atenção, desde o período

pré-operatório até o pós-operatório tardio com o objetivo de diminuir as complicações

associadas a esse sistema, motivo pelo qual constituir-se como foco de alguns estudos

(FERNANDES; RUIZ NETO, 2002). Dentre as mais frequentes estão: a atelectasia, a

pneumonia, a tromboembolia pulmonar e a falência respiratória (RODRIGUES; ÉVORA;

VICENTE, 2008, p.469).

Conforme ressaltam Lenardt e outros (2010), além de aumentarem a morbidade e a

mortalidade no pós-operatório, as complicações são, também, responsáveis pelo aumento no

custo do tratamento, no tempo de hospitalização e ainda tornam-se injúrias ao paciente idoso.

Faz-se necessário, portanto, o investimento em ações educativas/cuidativas no período

pré-operatório, a fim de prevenir ou minimizar as complicações respiratórias pós-cirúrgicas

que muitas vezes levam os idosos a grande sofrimento, como ventilação mecânica, longa

permanência em unidade de terapia intensiva (UTI) ou até mesmo à morte. Porém, muitas

vezes os clientes idosos alegam dificuldades para apreender as orientações e por isso preferem

que seus acompanhantes conversem com o enfermeiro durante a VPO. Os acompanhantes,

que em sua maioria são familiares e/ou têm envolvimento afetivo com o cliente, sentem o

peso dessa responsabilidade. Essa, muitas vezes, é imposta, estejam os acompanhantes

preparados ou não para tal missão.

Como destaca Pacheco (2004, p. 50), “Cuidar é um ato de amor, sem, contudo, cair

numa visão romântica ou ingênua de que o cuidador é responsável por tudo, que pode resolver

tudo e que esta missão é unicamente sua. Cuidar tem que ser um ato compartilhado”.

Assim, compete à equipe de enfermagem apoiar esses acompanhantes a fim de diminuir

as dificuldades por eles enfrentadas, compartilhando ações de cuidado. Ocorre que a

condução da entrevista realizada pela enfermeira no contexto da VPO se dá frequentemente

por meio de perguntas padronizadas, o que resulta, muitas vezes, em respostas nessa mesma

linha diretiva. Dessa feita, restringe, embora não impeça, uma abordagem dialógica que penso

permear as ações do cuidado de cunho relacional, cliente-enfermeira.

12 Capacidade de um órgão de retornar ao normal após um distúrbio em seu equilíbrio (SMELTZER; BARE,

op.cit.).

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Nesse sentido, torna-se necessário e importante o diálogo com clientes cirúrgicos e

seus acompanhantes a fim de tranquilizá-los e prepará-los para o enfretamento do ato

cirúrgico e os cuidados que giram em torno do mesmo, partindo dos saberes e práticas que

eles trazem do seu cotidiano de vida comum. No entanto, habitualmente na assistência de

enfermagem, o acompanhante é pouco contemplado por nossas ações e quando estas são

realizadas, em geral ocorrem de forma prescritiva, verticalizada, autoritária, enfatizando

esclarecimentos sobre as rotinas administrativas e sobre a situação do cliente hospitalizado

(PRATA, 2006).

Assim sendo, tal postura precisa ser repensada, como aponta Coelho (2004), quando

afirma que considerar a família como coparticipante do processo de cuidar é fundamental,

pois, diante da necessidade de uma internação hospitalar, o profissional assume a

responsabilidade na promoção e manutenção da saúde do cliente, por um curto período,

quando comparado ao tempo em que a família assume o cuidado junto ao familiar até a sua

total recuperação.

Vários estudos reforçam a importância da presença do acompanhante do idoso, não só

pela companhia em si, mas também pela necessidade de que ele obtenha informações que

possam melhor orientá-lo no desempenho do papel de cuidador leigo (TEIXEIRA, 2008, p.

26-27). “A atividade de cuidar, realizada com a equipe de enfermagem no hospital, torna-o

um cliente e um parceiro da enfermagem” (PENA; DIOGO, 2005, p.664).

Concordo com Teixeira e Ferreira (2009b), quando destacam que a presença do

acompanhante do cliente idoso hospitalizado, assegurada pela Lei nº 8842 de 4 de janeiro de

1994, faz com que a enfermagem tenha de fato dois clientes: o próprio idoso e o

acompanhante. Assim sendo, a permanência do acompanhante do idoso hospitalizado merece

ser aproveitada, a fim de propiciar sua participação ativa no cuidado ao cliente.

No espaço educativo problematizador, pela crítica e reflexão das situações que se

apresentarem mediante a troca dos saberes e práticas dos acompanhantes com os do

enfermeiro, é possível construir um cuidado compartilhado, pelo qual o conhecimento se dá a

partir da experiência do sujeito em um processo de significação.

Nesta linha de pensamento, Teixeira e Ferreira (2009a, p. 758) ressaltam que ao

entendermos que o cuidado pode ser compartilhado, temos aí, inevitavelmente, um processo

dialógico permeando tal construção no encontro dos saberes – do senso comum e reificado –

que, por sua vez, envolve o encontro de culturas de conhecimento e prática. “Assim, este

conceito de cuidado abrange uma dimensão educativa que implica em mobilização de saberes

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e afetos, importantes para uma prática solidária e ética para que possa ser verdadeiramente

compartilhada.”

Cabe, portanto, à enfermeira utilizar o período de hospitalização do idoso para

desenvolver ações educativas, de natureza dialógica, que permitam esse encontro de saberes,

no caso deste estudo, especialmente ações voltadas à prevenção de complicações respiratórias

pós-cirúrgicas. Por isso, a opção por desenvolver uma dissertação de mestrado que possa

convergir uma proposta de pesquisa e cuidado destinada a acessar saberes e práticas de

acompanhantes sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no

idoso, sendo esse o objeto do presente estudo.

2. Questões Norteadoras

Para elucidar o objeto deste estudo, foram delineadas as seguintes questões:

- Que saberes e práticas de acompanhantes podem subsidiar um plano de educação em

saúde no contexto da visita pré-operatória, voltado à prevenção de complicações respiratórias

pós-cirúrgicas de idosos?

- De que forma a integração de saberes e práticas de acompanhantes se fará presente

em um plano de cuidados voltado à prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas?

4. Objetivos

1- Descrever saberes e práticas de acompanhantes voltados à prevenção de complicações

respiratórias pós- cirúrgicas no idoso.

2 - Construir um plano de cuidados voltado à prevenção de complicações respiratórias pós-

cirúrgicas no idoso, a partir da integração de saberes e práticas de acompanhantes com os da

enfermeira-pesquisadora, no contexto da visita pré-operatória.

3 - Avaliar a efetividade do plano de cuidados implementado no pós-operatório.

5. Relevância e justificativa do estudo

Este estudo encontra-se ancorado na necessidade de reflexão e ação educativa do

enfermeiro junto ao acompanhante do idoso em situação cirúrgica, direcionadas para uma

visão crítico-reflexiva, permitindo ao acompanhante tornar-se sujeito ativo participante do

cuidado. Ao lidar com a situação de doença/cirurgia do cliente, dependente de seus cuidados,

vários questionamentos emergem do acompanhante e muitos desses revelam a necessidade de

apoio e orientação por parte da equipe de enfermagem.

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Integrar o acompanhante efetivamente ao processo de cuidado hospitalar poderá

contribuir com o cuidado domiciliar, uma vez que a atual política hospitalar visa à diminuição

do tempo de internação. Assim, os acompanhantes estão assumindo precocemente o cuidado

ao idoso em pós-operatório.

Desse modo, é preciso enfatizar a importância fundamental da equipe de enfermagem

ampliar a sua visão, estendendo a sua ação para além do cliente, alcançando também, o

familiar, em seu planejamento e processo de cuidar, para que ele seja incluído e participe

efetivamente desse processo (...) (PENA; DIOGO, 2005).

Em se tratando do acompanhante de cliente idoso que irá se submeter a um

procedimento cirúrgico, a participação no cuidado ao cliente faz-se especialmente importante

uma vez que: “O período pré, trans e pós- operatório do paciente idoso é um tempo que requer

cuidados especiais, considerando a fragilidade imposta pela doença, envelhecimento e ainda

pela própria situação cirúrgica que provoca estresse físico e psicológico” (LENARDT et al,

2007, p.738-739).

Entendo que as ações básicas de cuidados direcionadas ao pós-operatório de clientes

cirúrgicos idosos podem contribuir com uma melhor recuperação desses, diminuindo ou

afastando os riscos de complicações respiratórias. Assim sendo, penso ser viável a construção

de ações educativas/cuidativas, conjuntamente com os acompanhantes, no contexto da VPO,

numa perspectiva de aliança de saberes, acessando os conhecimentos prévios dos

acompanhantes, conferindo-lhes a possibilidade de exercer autonomia no cuidado ao idoso no

período pós-operatório.

A relevância da VPO se faz presente por oportunizar contato prévio do cliente com a

enfermeira do CC. Em se tratando de idosos, essa necessidade torna-se ainda maior pela

probabilidade desses serem mais vulneráveis emocional e fisicamente, devido às

características próprias do processo de envelhecimento. Desse modo, a atenção deverá voltar-

se não só para eles, mas também, para seus acompanhantes.

No âmbito da VPO, o cliente é entrevistado conjuntamente com o acompanhante, caso

esse esteja presente. Ambos têm oportunidade de expor seus anseios em relação aos cuidados

perioperatórios e às possibilidades de complicações pós-operatórias, manifestar e tirar dúvidas

sobre a cirurgia e a equipe cirúrgica que a realizará, sobre a rotina do setor de internação

cirúrgica e do CC.

Outro aspecto que considero importante na VPO é o fato de ser realizada na unidade

de internação cirúrgica. Momento em que o enfermeiro não usa as vestimentas próprias do

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centro cirúrgico, facilitando a comunicação face a face e, por sua vez, a efetividade da relação

entre profissional e cliente. Tal aspecto merece destaque quando propomos um cuidado

congruente pautado na veracidade das interações humanas.

Nesse sentido, Squassante (2007) destaca a importância de estudos que ampliem os

debates sobre o contexto hospitalar e as diferentes relações entre os atores sociais que

convivem nesse espaço, a fim de colaborar com propostas que favoreçam a comunicação

entre os sujeitos que aí interagem, no caso deste estudo, entre a equipe de enfermagem do CC

e o acompanhante do cliente idoso.

No caso da prevenção ou minimização das complicações respiratórias no pós-

operatório, acredito ser possível a inclusão do acompanhante no processo de cuidar,

considerando sua vivência anterior, o que viabiliza a educação problematizadora. “Valorizar o

cliente como sujeito da ação implica no conhecimento e no respeito sobre os seus modos de

viver e de se cuidar. Entendê-lo como protagonista requer trabalhar o grau de autonomia nas

suas decisões e escolhas” (MARTINS, 2010, p.26).

A abordagem dialógica proposta por Freire (2007) poderá envolver ativamente os

acompanhantes de idosos no contexto cirúrgico na construção do cuidado e, assim, tornar

menos sofrida a experiência cirúrgica, tanto para esses quanto para os clientes. Além disso, a

proposta de ações educativas poderá ser uma estratégia importante na redução de riscos de

complicações respiratórias no pós-operatório.

Na busca ativa à literatura disponível sobre ações educativas voltadas ao cliente idoso

e seu acompanhante no contexto hospitalar, constatei que a educação em saúde é um tema

bastante estudado, não só pela enfermagem, como também por outros profissionais. Essa

busca foi realizada nas bases de dados LILACS, BDENF, MEDLINE, IBECS,WHOLIS e

MEDCARIB através da BIREME, na SciELO-BR e no BANCO DE TESES DA CAPES, no

período de 1990 a 2010.

Foram utilizados os descritores (Decs) preconizados nas referidas bases, a partir das

palavras-chaves: educação em saúde, enfermagem, cuidados pré-operatório, complicações

pós-operatórias, idoso e acompanhante de paciente. Foi realizado o cruzamento entre eles

utilizando os operadores booleanos and/or e o refinamento para direcionar a busca à

enfermagem e ao assunto da pesquisa. O recurso “artigos relacionados” oferecido pelas bases

de dados LILACS e BDENF também foi utilizado. No Banco de Teses da CAPES, como não

há descritor preconizado e nem opção para refinamento, os resultados foram obtidos

digitando-se as palavras-chaves, uma por vez, dentro da única caixa existente.

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Pelos resultados obtidos, constatei uma recorrência do assunto em vários contextos do

cuidado. No âmbito da educação em saúde voltada para pacientes hospitalizados, os estudos

encontrados são direcionados com maior frequência aos portadores de doenças crônicas não

transmissíveis e à família da criança hospitalizada, inclusive na produção stricto-sensu.

Nesse contexto, os trabalhos encontrados versam sobre: ações educativas em favor de

adultos portadores de doenças crônicas e de seus familiares acompanhantes; educação em

saúde voltada para a família/criança hospitalizada; conhecimento de puérperas sobre o

cuidado com o recém-nascido; estratégias de ensino aprendizagem direcionadas a várias

clientelas; dificuldades e estratégias de informação para cuidadores de idosos hospitalizados;

relação do analfabetismo com maiores agravos à saúde; avaliação de ação educativa junto a

clientes tabagistas internados; representações sociais de familiares de pacientes, alunos de

enfermagem e enfermeiros; conscientização como fundamento de educação em saúde;

educação continuada e passagem de plantão.

Os estudos classificados no assunto „educação em saúde‟, direcionados ao idoso

hospitalizado e seu acompanhante, abordam: ação sócio-educativa para o autocuidado da

pessoa adulta e idosa; ações educativas junto aos acompanhantes de idosos na perspectiva

problematizadora preconizada por Freire (2009); percepção do cliente sobre acompanhante de

adulto em UTI; interação e relação de poder entre a equipe de enfermagem e os

acompanhantes de adultos e idosos; estratégias de educação em saúde aos cuidadores leigos

(cartilha, manual); direitos dos idosos e familiares envolvendo a assistência de enfermagem.

Os estudos relacionados à VPO de enfermagem junto ao idoso versam, em sua

maioria, sobre diagnósticos de enfermagem no período pré-operatório. Os demais abordam:

percepções dos enfermeiros sobre a VPO; comunicação e orientação no pré-operatório; ação

educativa pré-operatória a pacientes laringectomizados; percepção do enfermeiro/cliente

sobre assistência perioperatória; cancelamento de cirurgia e sistematização da assistência de

enfermagem direcionada a grupos específicos de clientes.

Em relação ao assunto complicações pós-operatórias em idosos, foram selecionados

dois estudos. Ambos são dissertações de mestrado. Uma defendida na Universidade Federal

do Paraná e a outra na Universidade de São Paulo. A primeira se propôs a revelar os cuidados

gerontológicos de enfermagem ao idoso, diante das complicações cirúrgicas imediatas e

tardias, a segunda objetivou identificar fatores de risco de maior incidência nos períodos pré e

intraoperatórios e as complicações mais frequentes no período de recuperação pós-anestésica,

no cliente cirúrgico idoso.

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No que tange à proposta deste estudo, que consiste em construir/implementar ações de

educação em saúde voltadas à prevenção de complicações respiratórias junto ao

acompanhante do cliente cirúrgico idoso, utilizando o momento da VPO de enfermagem,

nenhum estudo semelhante foi encontrado. Essa lacuna torna a proposta deste estudo,

sobremaneira relevante.

Considera-se a ação educativa exercida pelo enfermeiro junto ao acompanhante do

idoso, no contexto sinalizado fundamental para a recuperação da saúde do mesmo, como,

também, para o seu retorno ao convívio familiar e social. Em se tratando do cliente cirúrgico

idoso, o cuidado assumido pela família no domicílio se faz sobremaneira importante, uma vez

que o ideal é que, após a cirurgia, o cliente permaneça internado o mínimo de tempo possível,

minimizando, assim, os custos e os riscos de infecção hospitalar. Por isso, penso que este

estudo poderá contribuir com um melhor preparo desse cuidador, que assume precocemente a

responsabilidade de cuidar desse idoso recém-operado e assim beneficiar a ambos os clientes,

proporcionando uma recuperação mais tranquila e eficiente.

Poderá, também, indicar caminhos para a elaboração de uma estratégia educacional

para a formação do enfermeiro, de modo que a reflexão acerca da importância da orientação

para o cuidado ao cliente hospitalizado venha a influenciar em sua prática.

Na visão de Avelar e Silva (2005), o atual modelo de ensino no qual predomina a

compartimentalização e o cunho tecnicista, privilegia a deposição do saber, desfavorecendo a

agregação da dimensão ético-política ao processo de ensino e pouco contribui para a

formação do profissional crítico, criativo, reflexivo e competente.

Esta pesquisa se insere no Núcleo de Pesquisa de Fundamentos do Cuidado de

Enfermagem (NUCLEARTE), do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de

Enfermagem Anna Nery (EEAN). Considero este estudo relevante para a enfermagem

fundamental, pois se trata de proposta que enfoca procedimentos interativos próprios da

enfermagem, com a fundamentação centrada na integração de saberes populares e

profissionais. O cuidado trabalhado a partir dos saberes e práticas dos acompanhantes poderá

trazer novas elucidações e uma postura mais adequada, com possibilidade de maior adesão

dos mesmos no processo do cuidado, repercutindo diretamente na saúde do idoso que eles

acompanham.

Sendo assim, a pesquisa poderá contribuir com a ampliação do conhecimento da

enfermagem fundamental e, como consequência, para o fortalecimento da linha de pesquisa

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que vem sendo desenvolvida pelo Nuclearte, qual seja: “Cuidados Fundamentais e

Tecnologias de Enfermagem”.

O próximo capítulo abordará as bases teórico-conceituais da pesquisa.

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Capítulo I

Bases teórico-conceituais do estudo

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CAPÍTULO I

BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS DO ESTUDO

1.1. A pedagogia freiriana aplicada à enfermagem

As bases teórico-conceituais adotadas neste estudo estão pautadas na pedagogia

problematizadora de Paulo Freire, teórico da Educação, professor, reconhecido

internacionalmente, por sua concepção de educação como prática da liberdade. O autor trata,

especialmente, da educação de adultos e seus trabalhos são marcados por uma reflexão

político-pedagógica.

Segundo o próprio Freire (1980) a pedagogia problematizadora fundamenta-se sobre a

criatividade e estimula uma ação e uma reflexão verdadeiras sobre a realidade, respondendo

assim à vocação dos homens que só são seres autênticos quando se comprometem na procura

e na transformação criadoras.

A pedagogia freiriana é de caráter autenticamente reflexivo, implica em um constante

ato de desvelamento da realidade. Apoia-se na valorização da experiência, na observação da

realidade e no diálogo entre os sujeitos envolvidos no processo educativo. Assim, enquanto a

pedagogia tradicional pretende manter a imersão, a freiriana, pelo contrário, busca a emersão

da consciência dos educandos, de que resulte sua inserção crítica na realidade (FREIRE,

2009, grifo do autor).

O processo ensino-aprendizagem, na abordagem da educação problematizadora, é

participativo, permeado pela ação-reflexão. Implica em não dar respostas prontas aos

educandos. Propõe a construção conjunta do conhecimento, com participação ativa de todos

os sujeitos envolvidos no processo educativo. Cabe ao educador o papel de facilitador desse

processo, orientando a discussão de caráter dialógico e problematizador, para propiciar aos

educandos os meios para a construção do novo conhecimento.

Assim, a concepção de problematização na perspectiva freiriana vai de encontro ao

modelo tradicional de educação denominada pelo autor de educação “bancária”, em que o

conhecimento é “depositado” nos educandos, numa relação verticalizada, acrítica e opressora

entre educador-educando. Pela problematização, os educandos são estimulados a refletirem

sobre o contexto no qual estão inseridos, a participarem ativamente do próprio processo de

ensino-aprendizagem, a desenvolverem o senso crítico e a buscarem a superação das

dificuldades na transformação da própria realidade.

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Freire (2009, p. 80) considera que a problematização é desafiadora, e, quanto mais

problematizados e desafiados, mais os educandos desenvolvem a criticidade e se tornam

engajados no mundo:

Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo,

tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a

responder ao desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-

lo. Mas, precisamente, porque captam o desafio como um problema em suas

conexões com outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a

compreensão resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isso, cada vez

mais desalienada.

A grande preocupação de Paulo Freire está na educação para a decisão, para a

responsabilidade social e política. Sua pedagogia tem como idéia animadora “a educação

como prática da liberdade” e como método a “conscientização”. Weffort (2007, p.14) ao

tecer algumas considerações sobre a visão pedagógica e o método de ensino de Freire destaca

que “todo aprendizado deve encontrar-se intimamente associado à tomada de consciência da

situação real vivida pelo educando”.

Na abordagem da pedagogia problematizadora, essa tomada de consciência está

diretamente ligada à práxis, ou seja, à ação-reflexão. É no jogo dialético das relações homem-

mundo “que ocorre a tomada de consciência, por parte do homem, de sua ligação umbilical

com o mundo. É na ação, na práxis, no trabalho, que o homem toma consciência de si, do

mundo e dos outros” (OLIVEIRA; CARVALHO, 2007, p. 220).

O processo ensino-aprendizagem, desenvolvido pelo método da problematização, a

partir do diálogo crítico e horizontal, considerando os saberes e práticas dos educandos,

possibilita caminhar com eles na transitividade da consciência ingênua do conhecimento

(senso comum) para a consciência crítica, isto é, o conhecimento refletido, articulando-se a

consciência com a práxis.

De acordo com Freire (2010, p. 28), “O homem deve ser o sujeito de sua própria

educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém”. “Como tampouco

ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo

mundo”, afirma o autor (2009, p. 79).

Nessa forma de conceber a educação, como sujeito cognoscente, imerso no mundo e

com o mundo, o educando deixa de ser passivo frente ao objeto cognoscível e participa

ativamente do processo educativo, estabelecendo uma inter-relação educador/educando, em

que ambos se educam. “O objeto cognoscível deixa de ser propriedade do educador bancário,

para ser a incidência da reflexão sua e dos educandos” (p.80).

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A prática dialógica permite o compartilhamento de saberes e práticas entre os sujeitos

envolvidos no processo educativo. Nele se considera o saber do educando, valorizando sua

cultura, suas crenças e seu contexto social, político e econômico. Para Freire (2000, p. 48), “a

curiosidade ingênua, de que resulta indiscutivelmente um saber, mesmo que metodicamente

desrigoroso, é a que caracteriza o senso comum. O saber de pura experiência feito”. Esses

saberes são socialmente construídos na prática comunitária e devem ser respeitados.

Os conceitos transportados da proposta educativa freiriana, como problematização,

prática dialógica, conscientização e saber da experiência feita, para o campo da educação em

saúde, enriquecem de forma significativa a prática educativa da enfermagem. Pela sua

magnitude, essa deve ser entendida como uma importante vertente à prevenção e na prática

deve estar preocupada com a melhoria das condições de vida e de saúde das populações

(OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).

Assim, a aplicação de tais conceitos contribui com a construção de um cuidado

compartilhado, pautado na problematização das situações advindas da realidade concreta dos

sujeitos, no caso em estudo, acompanhantes de clientes cirúrgicos idosos no pré e pós-

operatório.

Para o profissional de enfermagem que deseja atrelar as suas ações de cuidar-educar às

ideiasas freirianas, faz-se necessário desenvolver a humildade e a capacidade da escuta

sensível, sem a qual o processo dialógico torna-se inviável. Isso quer dizer que:

(...) não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo como se fôssemos os

portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é

escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e

criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise se falar

a ele (FREIRE, 2001, p. 127).

Seguindo esses princípios, a pedagogia problematizadora subsidiou os encontros entre

mim, pesquisadora, e os acompanhantes de clientes cirúrgicos idosos, buscando acessar

através do diálogo, da reflexão crítica e do compartilhamento de ideias, seus saberes e práticas

sobre a prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório, visando à construção de

um cuidado diferenciado, a partir de um elo entre esses saberes e práticas.

O diálogo é a essência da educação no pensamento freiriano, pois é através de seu

exercício que os sujeitos se comunicam, mediatizados por uma relação horizontal, que se

nutre de amor, humildade, esperança, fé e confiança. Para Alvim e Ferreira (2007), a teoria

freiriana inserida no cotidiano da prática educativa (cuidativa) da enfermagem possibilita,

pela crítica e reflexão, transformar ou reconstruir saberes populares advindos do senso

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comum, ao mesmo tempo em que também permite aos enfermeiros se apropriarem do

conhecimento que vem deste universo.

Desse modo, no estudo em tela, pretendeu-se dar voz aos acompanhantes de clientes

cirúrgicos idosos, no âmbito da visita pré-operatória, por entender que:

A enfermeira, em sua prática assistencial mediatizada pelas idéias freirianas, pode se

considerar, junto com seu cliente, também uma aprendiz, no momento em que ela

visualiza o cuidado também como atividade de Educação em Saúde, não se

percebendo dona do cuidado, e não tendo uma atitude verticalizada no ato holístico

de cuidar (MIRANDA e BARROSO, 2004).

De acordo com Lopes, Anjos e Pinheiro (2009, p. 274), os usuários dos serviços de

saúde devem participar ativamente das ações de promoção e de educação em saúde, pois

reúnem condições para decidir sobre questões relacionadas ao seu bem-estar, “subsidiadas

pelas próprias experiências e pelas práticas educativas”.

Afinal, segundo a orientação teórica freiriana, a educação é compreendida como ato

coletivo, logo, não se caracteriza como ato impositivo, mas de troca entre pessoas que dela

participa. No modelo educativo inovador proposto por Freire, entende-se que o “cuidar e o

educar ocorrem na interação pessoa a pessoa, logo, ambos estão envolvidos na relação”

(COELHO, 2004, p. 30).

Nesse sentido, ao acessar os saberes e práticas de acompanhantes de clientes cirúrgicos

idosos, sobre a prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório, numa perspectiva

educativa de natureza compartilhada, considerou-se, sobremaneira, o contexto sócio-cultural

do cliente, “levando-se em conta as diferenças entre a cultura dos envolvidos no cuidado: a

profissional, advinda do saber técnico-científico; e a pessoal, cunhado ao saber leigo dos

clientes” (MARTINS, 2010).

Concordo com Miranda e Barroso (2007) que a educação só tem sentido se entendida

como intervenção na realidade e cuja interpretação dos problemas provoque uma atitude

capaz de produzir ação. Essa assertiva vem ao encontro da metodologia que foi utilizada nesta

pesquisa, a PCA, que será apresentada no capítulo a seguir, uma vez que esta se relaciona

estreitamente com a situação social, a fim de ocasionar mudança e introduzir inovações no

contexto a ser desenvolvida a pesquisa e o cuidado.

O próximo capítulo tratará da trajetória metodológica do estudo.

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Capítulo II

A trajetória metodológica do estudo

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CAPÍTULO II

A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO

2.1. Tipo de estudo e abordagem metodológica

A abordagem escolhida foi a qualitativa, devido ao fato de considerá-la a mais

apropriada para investigar o problema, uma vez que os resultados obtidos com essa

abordagem “respondem às questões centradas na experiência social e dão significado à vida

humana” (MCEWEN, 2009, p. 42). É, portanto, adequada à discussão de problemas que

surgem no dia-a-dia da prática de enfermagem.

Segundo Chizzotti (2003, p. 221), o termo qualitativo “implica na partilha densa com

pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os

significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível”.

A partir da imersão na realidade dos sujeitos, é possível perceber os dados subjetivos e

compreendê-los sob a ótica dos participantes, de modo que seus “aspectos dinâmicos,

holísticos e individuais” possam ser descritos em sua totalidade (POLIT; BECK; HUNGER,

2004, p. 30).

Foi utilizada a pesquisa de campo através do método de Pesquisa Convergente-

Assistencial (PCA), que de acordo com Trentini e Paim (2004, p. 28):

É aquela que mantém, durante todo o seu processo, uma estreita relação com a

situação social, com a intencionalidade de encontrar soluções para problemas,

realizar mudança e introduzir inovações na situação social; portanto este tipo de

pesquisa está comprometido com a melhoria direta do contexto social pesquisado. A

pesquisa convergente-assistencial inclui uma variedade de métodos e técnicas pelo

fato de que, além de obter informações, o pesquisador envolve os sujeitos

pesquisados ativamente no processo.

A ideia dessa abordagem metodológica surgiu da inquietação de algumas enfermeiras

ao constatar o distanciamento existente entre os processos de investigação e os da prática

assistencial (PAIM et al, 2008, p. 381). A característica principal da PCA consiste na

propriedade de articulação da pesquisa com a prática assistencial. Ela une o saber-pensar ao

saber-fazer, ou seja, o profissional, pensa, fazendo, e faz, pensando (TRENTINI;

BELTRAME, 2006, p.159).

Esse posicionamento das autoras me fez refletir sobre o fato de que, mesmo diante de

longa trajetória como enfermeira assistencial, atuando em um hospital universitário de grande

porte, mantive-me distante do campo da pesquisa. Penso, no entanto, que a PCA, ao unir os

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processos de investigação à prática assistencial, tende a diminuir esse distanciamento, quando

oportuniza aos profissionais que atuam na assistência, a se lançarem também no universo

investigativo.

A PCA é sustentada pelos seguintes pressupostos:

O contexto da prática assistencial suscita inovação, alternativas de solução para

minimizar ou solucionar problemas, realização de mudanças e/ou introdução de

inovações no contexto da prática em que ocorre a investigação.

O contexto da prática assistencial é potencialmente um campo fértil de questões

abertas a estudos de pesquisa.

A relação entre pesquisa e assistência enriquece o trabalho vivo no campo da

assistência e da investigação científica.

A PCA implica no compromisso de beneficiar o contexto assistencial durante o

processo investigativo, ao mesmo tempo em que se beneficia com o acesso às

informações que advém desse contexto.

O profissional de saúde é um pesquisador de questões com as quais lida no cotidiano, o que lhe possibilita uma atitude crítica apropriada à crescente dimensão

intelectual no trabalho que realiza (TRENTINI; PAIM, 2004)

Essa modalidade de pesquisa se configura como um instrumento tipificado na imersão

do pesquisador na prática assistencial beneficiando o sujeito da pesquisa em tempo real, o que

a torna aliada ao processo de humanização da assistência à saúde.

A PCA se desenvolve seguindo critérios de: essencialidade - os processos de prática

assistencial e pesquisa caminham juntos; conectividade - o compromisso entre o pesquisador

e a equipe assistencial na reconstrução do nexo “pensar e fazer”; interfacialidade - a produção

de mudanças tanto na prática assistencial quanto na pesquisa, uma alimentando a outra;

imersibilidade - a inserção do pesquisador em ações da assistência, visando à construção de

mudanças compartilhadas e apropriadas a novos conhecimentos (PAIM et al, 2008).

2.2. Trajetória da pesquisa convergente-assistencial

Trentini e Paim (2004) recomendam que o processo de investigação siga algumas fases

para evitar que o foco da pesquisa seja desviado ao longo de sua trajetória. Essas fases,

segundo as autoras, são: concepção, instrumentação, perscrutação, análise e interpretação.

2.2.1. Fase de Concepção

É a primeira etapa do projeto de pesquisa. Corresponde à fase de elaboração do projeto

que inclui desde a escolha da área de interesse do estudo, definição do tema, revisão

bibliográfica sobre o assunto, identificação da situação problema, elaboração da(s)

questão(ões) norteadoras, objeto e objetivos até a definição do referencial teórico que guiará

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os passos da investigação. Vale ressaltar que na PCA o tema deve emergir das necessidades

da prática profissional (TRENTINI; BELTRAME, 2006).

A escolha do tema em tela ocorreu a partir de minha atuação profissional no âmbito da

visita pré-operatória e no centro cirúrgico, junto ao cliente em situações cirúrgicas, em

especial, o idoso e seu acompanhante. Além disso, minha experiência com o PROFAE e a

aproximação com as leituras de Paulo Freire que subsidiaram a proposta educativa

desenvolvida neste programa, motivaram a elaboração da presente dissertação, utilizando-o

como referencial.

2.2.2. Fase de instrumentação

É nessa fase que são delineados os procedimentos metodológicos que indicarão o

caminho a percorrer durante o processo de investigação. Esses procedimentos incluem: a

escolha do espaço da pesquisa, a escolha dos participantes e das técnicas para a obtenção e

análise das informações.

a) O espaço da pesquisa

A pesquisa foi realizada nos setores 9B e 10D do Hospital Universitário Clementino

Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF/UFRJ). Esses setores são

unidades de internação cirúrgica, onde se internam os clientes de ambos os sexos, que irão se

submeter à cirurgia, dentro das especialidades denominadas cirurgia geral e urologia, como

herniorrafia, colecistectomia, ressecção transuretral (RTU) de próstata e nefrectomia, entre

outras. Os Serviços de Cirurgia Geral e Urologia são vinculados ao Departamento de Cirurgia.

Os dados foram produzidos na clínica cirúrgica em razão de ser o local de entrada do

cliente que será submetido à cirurgia e para onde ele deverá retornar após o ato cirúrgico, caso

não haja indicação de encaminhamento ao CTI, seja por intercorrências da cirurgia, seja por

rotina do setor, na dependência do tipo da intervenção e/ou situação clínica do cliente

previamente detectada.

Optei por esse cenário, por fazer parte do corpo social dessa instituição desde 1985,

onde atuei nos setores de clínica médica e centro cirúrgico, tendo a oportunidade de realizar a

visita pré-operatória de enfermagem nas enfermarias de clínica cirúrgica, de onde emergiu o

objeto desta investigação. Além disso, em atendimento aos preceitos da PCA que inclui a

possibilidade de propor mudanças no campo assistencial. Portanto, em sendo parte desse

contexto, como enfermeira, pretendo com o desenvolvimento desta pesquisa contribuir

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efetivamente com novas ações de cuidar no campo educativo-cuidativo, que contemplem

tanto o cenário assistencial quanto os clientes aí incluídos- os acompanhantes.

O HUCCF é referência no tratamento de diversas patologias de alta complexidade.

Realizando procedimentos inéditos e estudos pioneiros em parceria com entidades nacionais e

internacionais, é hoje um centro de excelência em ensino, pesquisa e extensão. Localizado em

um prédio de 110.000 m² na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, com 328 leitos em todas as

especialidades médicas e 21 salas de cirurgias, o HUCFF conta com um efetivo de mais de

3000 profissionais, entre professores, enfermeiros, médicos e administrativos, funcionando há

mais de três décadas como um importante laboratório para a formação de especialistas,

através de sua residência médica, uma das mais disputadas do país. É vinculado ao Ministério

da Educação e ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Entre os objetivos dessa instituição destacam-se: atuar como hospital de nível

terciário, inserido no sistema de referência e contrarreferência do SUS e do Sistema

Suplementar; servir de campo de treinamento para o ensino de graduação das profissões de

saúde no que se refere à assistência de média e alta complexidade; propiciar a realização de

cursos de pós-graduação e de especialização das unidades docentes, enfatizando os programas

de Residência Médica e Residência Multiprofissional, atividades educacionais de

responsabilidade do HUCFF e propiciar um ambiente de estímulo à pesquisa, dando ênfase à

integração nos diversos setores de ciências da saúde.

O Serviço de Cirurgia Geral está direcionado para quatro grandes áreas cirúrgicas:

esôfago e estômago, pâncreas e vias biliares, fígado, baço e hipertensão porta, cirurgia

endócrina e cirurgia bariátrica. Em todas essas áreas, são realizados procedimentos por

vídeocirurgia13

. Desenvolve, também, programas de transplantes de fígado, rim e pâncreas.

Essa especialidade possui no total 19 leitos, sendo 9 masculinos, 9 femininos e 1 leito que se

alterna entre masculino/feminino14

, realizando de janeiro a outubro/2010 784 cirurgias, entre

procedimentos eletivos e de emergência. Dentre as cirurgias mais realizadas nesse período,

estão herniorrafia inguinal e umbilical, colecistectomia, laparotomia exploradora e

tireoidectomia.

O Serviço de Urologia atua principalmente nas áreas cirúrgicas direcionadas para:

próstata, bexiga e rim. Realiza procedimentos vídeolaparoscópicos e desenvolve o programa

de transplante renal. Essa especialidade possui 8 leitos, sendo 6 masculinos e 2 femininos e

13 Informações obtidas na página eletrônica do HUCFF/UFRJ. Disponível em: < http://www.hucff.ufrj.br>.

Acesso em: 02 out. 2010. 14 Em virtude do número total de leitos ser ímpar, no quarto que possui apenas um leito, faz-se alternância de

gênero na programação de cirurgias. Informação obtida junto à Secretaria da Cirurgia Geral do HUCFF.

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realizou de janeiro a outubro/2010 311 cirurgias, entre procedimentos eletivos e de

emergência. Dentre as cirurgias mais realizadas durante esse período encontram-se: RTU de

próstata e bexiga, nefrectomia e prostatectomia radical.

O setor 9B, um dos espaços onde o estudo foi desenvolvido, possui três enfermarias,

cada qual com seis leitos, dois quartos com um leito cada um, sendo um quarto para

isolamento e uma enfermaria com sete leitos, totalizando vinte e sete leitos. O setor 10D,

outro local onde a pesquisa aconteceu, possui quatro enfermarias, cada qual com seis leitos e

dois quartos com um leito cada um, somando vinte e seis leitos.

Em todas as enfermarias, a unidade do paciente é composta pelo leito, mesa de

cabeceira, mesa para alimentação, criado-mudo e uma cadeira. Cabe ressaltar que a cadeira é

para uso do paciente. Nas enfermarias onde o acompanhante está presente, a mesma cadeira é

usada por esse e pelo paciente, sendo que a prioridade de uso é do paciente. O número de

cadeiras reclináveis e acolchoadas é pequeno, sendo apenas duas, no momento.

A equipe de enfermagem é composta por 02 enfermeiras, dessas, 01 é a chefe do setor

e 01 é líder de equipe, mais 03 auxiliares/técnicos de enfermagem. Esses números

correspondem ao período diurno, em um plantão de 12 horas. A gerente de setor é diarista, ou

seja, está presente de segunda à sexta-feira no período das 7 às 16 horas. As enfermeiras

líderes de equipe são plantonistas. Nessas categorias há funcionários concursados e

temporários. Esse aspecto é importante relatar, pois isso influencia na distribuição dos

plantões. Os concursados têm uma escala mensal distribuída em plantões de 12 horas de

trabalho com 60 horas de descanso e folga. Os temporários seguem uma escala de 12 horas de

trabalho com 36 horas de descanso e folga.

No tocante à cultura organizacional do cuidado, o atendimento ao cliente se dá na

modalidade do cuidado integral, ou seja, o auxiliar/técnico de enfermagem escalado a

desenvolver suas atividades em uma enfermaria é responsável pelo cliente em sua totalidade.

Nessa modalidade, esse profissional se responsabiliza pelos cuidados de conforto, higiene,

alimentação e administração de medicamentos.

No que diz respeito à atuação das enfermeiras, essa se dá da seguinte forma: setenta

por cento das atividades das enfermeiras líderes de equipe se caracterizam por atividades

assistenciais e os demais trinta por cento por atividades administrativas. Já para a enfermeira

chefe de setor, essa relação é inversa, ou seja, setenta por cento das atividades são

administrativas e trinta por cento assistenciais (SERVIÇO DE DESENVOLVIMENTO,

HUCFF, 2001).

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b) A escolha dos participantes

Os participantes do estudo foram os acompanhantes (consanguíneos ou não) de

clientes idosos internados para se submeterem à cirurgia de Colecistectomia Convencional e

Laparoscópica, Herniorrafia Inguinal e Umbilical, Ressecção Transuretral de Próstata e

cirurgia de RTU de bexiga.

Os critérios de inclusão dos participantes da pesquisa foram: aceitarem participar da

pesquisa mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE);

serem o mesmo acompanhante de cliente idoso nos períodos pré e pós-operatório, respeitadas

as seguintes especificidades desse cliente: internado antes ou no mesmo dia previsto para a

cirurgia, submetido à anestesia geral, raquianestesia ou anestesia peridural e que não tiveram

como protocolo ser encaminhado ao Centro de Tratamento Intensivo (CTI) no pós-operatório.

Foram excluídos do estudo os acompanhantes que se recusaram a participar da

pesquisa ou de assinar o TCLE, que não fossem os mesmos nos períodos pré e pós-operatório

e que tiveram previsão de cirurgia sob anestesia local.

c) As técnicas para a produção de dados

Foram utilizadas as seguintes técnicas: entrevista semiestruturada e observação

participante.

→ Entrevista semiestruturada

O roteiro de entrevista constou de dados sobre identificação e perfil sociocultural do

acompanhante e cliente idoso (APÊNDICE A e APÊNDICE B). Além de questionário que os

identificou, outros relativos à condução do diálogo que permitiu problematizar as situações

inerentes ao foco da pesquisa (APÊNDICE C).

→ Observação participante

De acordo com Trentini e Paim (2004, p. 80), são momentos em que o pesquisador

não só registra as atividades desenvolvidas e descreve o comportamento dos sujeitos, como

também ele se insere no desenvolvimento das atividades, engajando-se naquela situação. Essa

técnica, portanto, “constitui a parte fundamental na pesquisa de campo” (APÊNDICE D).

A observação participante foi realizada por mim junto a todas as acompanhantes, no

período pós-operatório imediato15

do CI, na fase de implementação do plano de cuidados

compartilhado, proposta pelo estudo. Com cinco sujeitos, a observação foi estendida ao pós- 15 Período que corresponde às primeiras 24h após a cirurgia (MS, 2003)

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operatório mediato16

, uma vez que os CI não receberam alta hospitalar no dia seguinte à

cirurgia, como ocorreu com os demais.

2.2.3. Fase de perscrutação

É o momento em que são traçadas as estratégias que viabilizarão a obtenção de

informações para o desenvolvimento da pesquisa. Estratégias essas, que nascem da

criatividade, experiência e conhecimento do pesquisador em relação ao assunto, numa

abordagem que inclui respeito à compatibilidade de recursos e adequação aos próprios

métodos. Tais estratégias, no entanto, podem não ser cumpridas conforme definidas no

projeto, sendo redefinidas de acordo com as necessidades do processo de produção de dados,

desde que tenham “intencionalidade, limites e possibilidades criteriosamente explicitados e

controlados” (TRENTINI; PAIM 2004, p. 85).

→ Etapas para a Produção de Dados

Minha experiência com a clientela da instituição, cenário do estudo, e, principalmente,

em se tratando de acompanhantes de idosos, levou-me a pensar que os dados para a pesquisa

seriam produzidos junto a pessoas de baixo poder aquisitivo e com pouca escolaridade, o que

se confirmou pela caracterização dos sujeitos, salvo raras exceções. Assim, considerei a

possibilidade das acompanhantes se sentirem inibidas diante da profissional de nível sócio-

cultural diferente, podendo tal aspecto criar obstáculos à comunicação, prejudicando a

efetividade do diálogo.

Dessa forma, em respeito aos educandos (acompanhantes de idosos) e para não

caracterizar relação opressor-oprimido, desenvolvi algumas estratégias, para que tanto as

acompanhantes quanto os clientes idosos se sentissem o mais à vontade possível na relação

estabelecida comigo. Inicialmente, tomei alguns cuidados relativos à minha apresentação

pessoal: optei pelo uso de roupas simples, sapatos sem salto, unhas discretamente pintadas,

sem maquiagem, e, principalmente, escuta sensível e um largo sorriso.

Preparei o ambiente para a realização das entrevistas. Disponibilizei poltrona para

acomodação mais confortável das acompanhantes e cadeira para mim. Sentamos frente a

frente, ao lado do leito do cliente idoso, para não afastar os acompanhantes dos familiares

acompanhados e gerar ou aumentar a ansiedade que, via de regra, permeia o ato cirúrgico.

Mantive, durante as entrevistas, o rosto ao mesmo nível do rosto das acompanhantes, na

16 Período que corresponde de 24h até sete dias depois da cirurgia (MS, 2003)

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intenção de reafirmar a minha postura de horizontalidade na relação através da atitude

corporal.

As entrevistas fluíram num clima de cumplicidade entre pesquisadora-sujeito,

permeada por momentos de descontração e risos, o que, a meu ver, demonstra que as

acompanhantes estavam à vontade e integradas ao processo educativo como sujeitos ativos e

participantes, conforme preconizado por Freire.

As acompanhantes trouxeram para a discussão assuntos diversos que as preocupavam,

pertencentes ou não ao contexto perioperatório. Falaram espontaneamente sobre detalhes da

vida pessoal e se interessaram em me conhecer melhor. Assim, presumo que foi estabelecida

uma relação de confiança entre pesquisadora e sujeitos da pesquisa, a partir do diálogo

imbuído de amor, humildade e respeito aos educandos-acompanhantes, viabilizando o

processo de educação em saúde.

Em conformidade com a proposta metodológica da PCA, a pesquisa foi desenvolvida

em cinco etapas subsequentes e inter-relacionadas, realizadas no período de março a julho de

2011, nos turnos manhã, tarde e noite, em todos os dias da semana, de acordo com a demanda

de sujeitos e disponibilidade da pesquisadora.

A primeira etapa ocorreu após o primeiro contato com os sujeitos com vistas à

divulgação e convite para a participação no estudo. Com aqueles incluídos na pesquisa que

aceitaram participar do estudo, foi realizada entrevista individualmente, na enfermaria onde o

idoso encontrava-se internado. Os sujeitos responderam a questionário com dados sobre

identificação e perfil sociocultural (APÊNDICE A e APÊNDICE B).

A decisão de incluir os dados dos idosos nessa caracterização, além de seus

acompanhantes se deu pela necessidade de ter acesso a algumas informações que poderiam

facilitar o processo de educação em saúde e a construção-implementação do plano de

cuidados. Esta etapa durou em média 24 minutos.

Para Freire (1994), faz-se necessário a imersão na realidade dos sujeitos, a fim de

melhor compreender seus saberes e suas práticas. O autor também indica que seja feito um

levantamento do universo vocabular dos grupos com os quais trocamos experiências.

Uma vez que a metodologia da PCA não se restringe à aplicação em grupos, podendo

ser desenvolvida de forma individual junto aos sujeitos, optei por essa forma de abordagem,

por entender que a formação de grupos demandaria mais tempo e afastaria o acompanhante do

cliente idoso. Isso poderia causar preocupação a ambos os clientes e interferir na qualidade da

participação dos sujeitos na discussão.

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A seguir, na segunda etapa, logo após o preenchimento do questionário, foi realizada

discussão com os sujeitos para levantamento de conhecimentos e experiências prévias a fim

de permitir a definição de prioridades e de situações-problema a serem abordadas

individualmente. Para isso, foi utilizado um roteiro de entrevista com questões-chaves para

orientar a discussão (APÊNDICE C). É importante destacar que foi feito um aquecimento

sobre o tema antes do início da entrevista, a fim de promover uma estimulação dos sujeitos

acerca do que seria discutido.

Nesse aquecimento, as acompanhantes falaram sobre experiências prévias com elas

próprias ou com familiares acerca de internações, acompanhamentos hospitalares,

procedimentos cirúrgicos e de anestesia. As experiências relatadas foram utilizadas durante a

problematização, sendo feitas associações do que foi vivenciado com a problemática

discutida.

A discussão havida nessa segunda etapa foi desenvolvida com base no

compartilhamento dos saberes e práticas dos sujeitos e da pesquisadora, através do processo

de problematização. Para efeito de facilitação da discussão, foram utilizadas fotos sobre a

temática (Figuras 1, 2 e 3) e uma bola de soprar (bexiga) acoplada a uma seringa de 20 ml,

para simular os movimentos de expansão/retração pulmonar (Figura 4), que auxiliaram no

processo de educar-cuidar. Ressalta-se que a utilização desses materiais não teve um

propósito prescritivo, mas de contribuir com a discussão que teve um caráter problematizador.

Na sequência, a terceira etapa ocorreu como fruto do processo de discussão,

considerando os saberes acadêmicos da pesquisadora e aqueles próprios dos acompanhantes.

Essa etapa consistiu na elaboração de um plano de cuidados compartilhado a ser desenvolvido

pelo sujeito no pós-operatório imediato do idoso, visando à prevenção ou minimização de

complicações respiratórias pós-cirúrgicas. “Acreditamos que a construção compartilhada do

conhecimento é uma estratégia através da qual podemos alcançar a promoção da saúde”

(RIOS et al, 2007, p. 505). A segunda e terceira etapas juntas, realizadas com cada sujeito,

duraram em média 32 minutos.

Participaram da primeira, segunda e terceira etapas de produção de dados dezoito (18)

acompanhantes, sendo que quatro (04) clientes idosos tiveram as cirurgias suspensas: dois

(02) por motivos relacionados ao próprio cliente e dois (02) por problemas relacionados ao

centro cirúrgico. Essas quatro (04) acompanhantes foram excluídas do estudo. Desse modo,

foram consideradas como sujeitos do estudo, as quatorze (14) acompanhantes que

participaram de todas as etapas.

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A quarta etapa, fase de implementação do plano de cuidados no pós-operatório

imediato, aconteceu de duas formas distintas: no dia seguinte ao procedimento, quando o CI

internou na véspera da cirurgia (7- 50%) ou, no mesmo dia, quando o CI internou no dia em

que a cirurgia estava programada (7 - 50%). Nessa etapa, foi observado pela pesquisadora o

conjunto de atividades e procedimentos que foram realizados pelo acompanhante junto ao

idoso. Foi, também, foco de atenção da pesquisadora a forma de agir do acompanhante, de se

relacionar com o idoso e de conduzir o cuidado (dificuldades, dúvidas e facilidades nesse

processo), bem como, observar o grau de autonomia do acompanhante no cuidado

(APÊNDICE D).

A observação foi realizada em diversos turnos, pela manhã, à tarde e à noite, em função

dos horários em que as cirurgias eram realizadas. Todas as 14 acompanhantes foram

observadas no pós-operatório imediato do cliente idoso. Dessas, 05 também foram observadas

no pós-operatório mediato, em virtude do cliente idoso ter recebido alta mais tardiamente. As

observações tiveram em média 3h de duração, totalizando 42h.

Vale destacar a importância da colaboração da equipe de enfermagem que atua no

cenário da pesquisa nessa fase de desenvolvimento do estudo, contribuindo com a observação

do cuidado implementado pelo acompanhante, discutindo e dialogando com a pesquisadora

sobre os caminhos pertinentes à construção e efetividade desse cuidado, bem como sua

continuidade no ambiente domiciliar. Também foi valiosa a participação da enfermeira do CC

que realizava a VPO, auxiliando na captação de sujeitos.

Para finalizar, a quinta etapa foi desenvolvida no dia seguinte à realização da cirurgia,

após a implementação do plano de cuidados no pós-operatório imediato pelas acompanhantes.

Essa etapa, também desenvolvida no pós-operatório imediato, foi destinada à avaliação das

atividades, em que os sujeitos foram convidados a tecer considerações sobre todo o processo.

A discussão com vistas à referida avaliação foi conduzida a partir de roteiro de

entrevista semiestruturada (APÊNDICE E), de modo que a conversação fosse estimulada.

Essa etapa teve o objetivo de avaliar o método educativo crítico-reflexivo e trazer o feedback

das atividades desenvolvidas junto aos sujeitos. As entrevistas duraram em média 10 minutos.

Para o registro das entrevistas, tanto na segunda quanto na quinta etapas, foi utilizado

gravador de voz eletrônica. Para o registro da observação participante, foi utilizado diário de

campo com apoio de um roteiro de observação, sendo feita a descrição detalhada do que

ocorreu no cenário, ou seja, descrição do comportamento dos sujeitos, dos eventos, das

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atividades e de uma parte reflexiva que incluiu as observações pessoais do pesquisador que

foram realizadas durante a fase de produção dos dados (APÊNDICE D).

Durante a etapa de produção de dados, contei com o auxílio de uma bolsista de

Iniciação Científica da EEAN/UFRJ, vinculada ao grupo de pesquisa o qual integro17

, que

colaborou na transcrição e digitação das entrevistas.

Segue a síntese das etapas de produção de dados da pesquisa (Quadro nº 1).

Quadro nº 1: Síntese das etapas de produção de dados da pesquisa

ETAPAS

FINALIDADE

ESTRATÉGIA

1ª Etapa

Convite para a participação na pesquisa

Entrevista de caracterização A e CI

2ª Etapa

Levantamento de conhecimentos prévios

dos sujeitos

Entrevista dialogada

3ª Etapa

Construção do plano de cuidados

Uso de instrumentos facilitadores

do processo educativo

4ª Etapa

Implementação do plano de cuidados

Observação participante

5ª Etapa

Avaliação/ feedback de todo o processo

Entrevista dialogada

2.2.4. Fase de Análise

Penúltima fase da pesquisa. Os métodos de análise para a PCA são diversificados. No

entanto, em qualquer tipo de pesquisa qualitativa, a análise das informações consta de quatro

processos genéricos: apreensão, síntese, teorização e recontextualização, que ocorrem de

maneira mais ou menos sequencial (MORSE; FIELD, 1995)

Os depoimentos foram transcritos na íntegra e mantidos os discursos originais dos

sujeitos, com signos ortográficos que sinalizam as pausas, os silêncios, as entonações, entre

outras características do discurso verbal. Foram registradas, também, as emoções próprias aos

discursos espontâneos como risos, choros, entre outras. Todo esse cuidado teve como

propósito a constituição do “corpus” qualitativo da pesquisa.

17 Grupo de Pesquisa denominado “Intermediação de Saberes e Práticas no Cuidado à Saúde” vinculado ao

NUCLEARTE/DEF/EEAN/UFRJ, cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq, liderado pela Profª

Drª Neide Aparecida Titonelli Alvim.

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Para análise do material discursivo, foi aplicada a técnica de análise de conteúdo

temática, segundo Bardin (2010), sendo a fase de categorização realizada por análise temática,

adotando-se o procedimento por “milha”. Nessa técnica, as categorias não são determinadas a

priori, emergindo das falas dos sujeitos.

Primeiramente, foi feita a leitura flutuante de todo o material na busca do delineamento

empírico da pesquisa. O segundo procedimento foi da pré-análise, com vistas à captação dos

grandes temas de maior significância, presente nas falas dos sujeitos. Após essa fase, ocorreu

a classificação temática, com vistas à seleção dos temas de maior incidência e, ainda, foi

buscada a confluência dos mesmos nos discursos dos sujeitos, ou seja, foram selecionados

aqueles que tiveram maior frequência de aparição no conjunto das falas da maioria dos

sujeitos da pesquisa.

Por último, os temas formaram as categorias temáticas e os conteúdos das mensagens

foram analisados de acordo com o contexto no qual essas foram produzidas, à luz dos

conceitos teóricos que serviram de alicerce conceitual para a pesquisa. Desses processos,

emergiram quatro capítulos de análise com suas respectivas categorias, a saber:

Capítulo IV – Saberes e práticas de acompanhantes de idosos sobre complicações

respiratórias pós- cirúrgicas no idoso

4.1. Principais causas de complicações respiratórias no pós-operatório do cliente idoso

problematizadas no diálogo com os acompanhantes

4.2. Fontes de informação e de aprendizagem acerca dos cuidados fundamentais

evidenciados pelos acompanhantes de idosos sobre a prevenção de complicações

respiratórias pós-cirúrgicas

Capítulo V- Construindo o plano de cuidados no diálogo com acompanhantes com vistas à

prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório de idosos

Capítulo VI – Implementação do plano de cuidados compartilhado e sua efetividade

Capítulo VII- Avaliação do plano de cuidados compartilhado

7.1. Avaliação dos acompanhantes sobre o plano de cuidados compartilhado e sua

implementação

7.2. Avaliação da enfermeira-pesquisadora sobre a experiência implementada: os desafios da

assistência que se apresentam à equipe de enfermagem no hospital

2.2.5. Fase de interpretação

Última fase da PCA. Compreende três processos fundamentais correspondentes à

lógica da análise de seus achados, discriminados como síntese, teorização e transferência. O

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processo de síntese é a parte da análise que examina de forma subjetiva as associações e

variações das informações. Na fase da teorização, o pesquisador desenvolve um esquema

teórico, a partir das relações reconhecidas durante o processo de síntese e no processo de

transferência dos resultados consistindo na possibilidade de concessão de significados a

determinados achados ou descoberta e a procura pela contextualização em situações similares,

sem que tenha o poder de generalização, socializando, portanto, os resultados singulares.

Na PCA, como em qualquer trabalho acadêmico, é necessário que haja rigor científico,

que se traduz pela fidelidade aos princípios da pesquisa em tela. Para conferir credibilidade ao

estudo, foram pré-estabelecidos alguns critérios a serem seguidos como: transparência,

fidelidade, representatividade dos dados, relato detalhado do processo de obtenção das

informações e do processo de análise, clareza na trajetória da construção do fenômeno,

descrição detalhada de todos os momentos da pesquisa, não mostrar verdades acabadas,

associação entre teoria e prática e as mudanças ocorridas na prática assistencial durante o

processo de pesquisa, entre outros.

2.3. Aspectos éticos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do HUCFF/UFRJ,

sob o no 186/10 (ANEXO B). As precauções éticas implicadas na pesquisa com seres

humanos foram garantidas em atendimento ao disposto na Resolução nº 196/96, do Conselho

Nacional de Saúde/Ministério da Saúde.

A fim de garantir a autonomia dos sujeitos, os mesmos assinaram um TCLE, após

terem sido devidamente esclarecidos quanto aos aspectos éticos relacionados aos objetivos e

rumos da pesquisa, bem como às formas de produção de dados e inserção no estudo, que

também constaram no termo escrito (APÊNDICE F).

Assim, os sujeitos foram informados sobre a voluntariedade de sua participação,

garantia de anonimato, possibilidade de desistência em qualquer momento da pesquisa, riscos

e benefícios. Em nenhum momento foi divulgado os nomes dos participantes da pesquisa,

conforme acordado no TCLE. A identificação foi feita por código alfa-numérico. Assim, os

acompanhantes foram identificados pela letra A. Após cada letra inserida no texto, foram

agregados números arábicos sequenciais, de acordo com a ordem dos participantes na fase de

produção dos dados. O cliente idoso foi identificado com as letras „CI‟.

Foi frisado que a participação era voluntária e que em qualquer instante o sujeito

poderia retirar seu consentimento sem prejuízos a ele e ao idoso que acompanhava. Também

foi esclarecido que o indivíduo não teria custos ou compensações financeiras ou de outra

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natureza, nem haveria riscos de natureza física, mental ou moral. Após a assinatura do TCLE

os sujeitos receberam uma cópia do mesmo. Os dados da pesquisa serão arquivados pela

pesquisadora por cinco anos.

Vale salientar, ainda, que embora os sujeitos tenham se constituído de acompanhantes

de idosos em situações cirúrgicas, a presença desses idosos não foi ignorada pela enfermeira-

pesquisadora. Portanto, sempre quando requerida ou necessária sua participação, eles eram

inseridos no diálogo e no cuidado. O mesmo se deu em relação à equipe de enfermagem,

emergindo aí, a convergência da pesquisa com a assistência.

2.4. Dificuldades para realização do estudo

A instituição hospitalar, cenário da pesquisa, durante o desenvolvimento do estudo

apresentou problemas estruturais em uma de suas alas, sendo necessário seu fechamento para

implosão da parte afetada. Isso refletiu no trabalho do CEP que levou noventa dias para

liberar o projeto.

As dificuldades encontradas durante a produção de dados se deram por conta da

necessidade de que o acompanhante fosse o mesmo no pré e pós-operatório do idoso, para que

todas as fases da PCA fossem contempladas. Ao reabrir após a implosão, o primeiro obstáculo

foi a redução drástica do número de cirurgias. O segundo obstáculo foi o recorrente

fechamento do CC durante algumas semanas, no período da produção de dados. Além disso,

no retorno das atividades do CC, houve suspensões de cirurgias, por motivos ligados aos

clientes, ou por problemas referentes ao setor. Afora tais aspectos mencionados, por

problemas operacionais do CC, alguns idosos foram internados sem acompanhante em tempo

integral.

Tudo isso fez com que houvesse um atraso no início da produção de dados, bem como,

de seu encerramento, pois, independente dos obstáculos anunciados, era preciso assegurar

uma participação quantiqualitativa dos sujeitos de modo a dar confiabilidade aos dados da

pesquisa produzidos, inclusive no referente aos aspectos éticos da pesquisa.

Isso porque, apesar da ansiedade vivida na busca incessante por sujeitos que

sustentassem os objetivos da pesquisa, meu compromisso institucional e meu lugar social de

enfermeira desse hospital prevaleceram, todas às vezes em que observei a falta de condições

estruturais, bem como a angústia dos clientes e seus acompanhantes, face às situações

apresentadas pela instituição, já relatadas. Nesses momentos, era preciso interromper a

produção de dados até que a sua viabilidade fosse restabelecida.

O próximo capítulo tratará da caracterização dos sujeitos do estudo

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Capítulo III

Aspectos sociais e de saúde relacionados

aos acompanhantes e idosos e sua

influência no cuidado

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55

CAPÍTULO III

ASPECTOS SOCIAIS E DE SAÚDE RELACIONADOS AOS ACOMPANHANTES E

IDOSOS E SUA INFLUÊNCIA NO CUIDADO

Em razão da importância do conhecimento prévio da realidade dos sujeitos com os

quais interagimos, apresento os dados obtidos com o preenchimento do instrumento de

identificação visando à caracterização dos acompanhantes, sujeitos deste estudo e dos idosos

(APÊNDICE A e APÊNDICE B).

Na perspectiva do cuidado compartilhado, torna-se imprescindível também acessarmos

algumas condições sociais e de saúde dos clientes idosos, uma vez que existem influências

desses universos que fundamentam o cuidado estabelecido, revelando a realidade de cada

indivíduo.

Para promover maior dinamicidade na apresentação e discussão dos dados que deram

origem a este capítulo, a caracterização dos 14 acompanhantes e 14 clientes idosos em

situações cirúrgicas foi analisada em conjunto, distribuída em quatro tabelas, a partir das

seguintes variáveis:

Vínculo com o idoso, sexo, idade, situação conjugal e número de filhos (Tabela 1)

Escolaridade, situação ocupacional e ocupação atual (Tabela 2)

Renda familiar, número de pessoas por domicílio, número de pessoas que

contribuem com a renda familiar e religião (Tabela 3)

Condições gerais dos idosos: consciência, locomoção, autonomia no cuidar de si,

história de doença pulmonar e história de tabagismo (Tabela 4)

3.1. Caracterização dos acompanhantes, sujeitos do estudo e dos clientes idosos em pré-

operatório.

As tabelas serão apresentadas simultaneamente e na sequência será feita a discussão

dos resultados que emergiram dos dados.

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Tabela 1: Distribuição das acompanhantes por vínculo com o idoso e das

acompanhantes e idosos por sexo, idade, situação conjugal e número de filhos.

VARIÁVEIS

ACOMPA-NHANTE

IDOSO

N % N %

VÍNCULO

COM O

IDOSO

FILHA 5 35,71 - -

IRMÃ 3 21,42 - -

NETA 1 7,14 - -

ESPOSA 4 28,57 - -

EX-ESPOSA 1 7,14 - -

SEXO

MASCULINO - - 8 57

FEMININO 14 100 6 43

IDADE

20-30 ANOS 1 7,14 - -

41-50 ANOS 4 28,57 - -

51-59 ANOS 3 21,42 - -

60-70 ANOS 3 21,42 7 50

71-80 ANOS 3 21,42 2 14,28

81-90 ANOS - - 5 35,71

CASADOS 7 50 7 50

SOLTEIROS 2 14,28 1 7,14

SITUAÇÃO VIÚVOS 2 14,28 5 35,71

CONJUGAL

SEPARADOS 2 14,28 1 7,14

DIVORCIADOS 1 7,14 - -

NÚMERO DE

FILHOS

NENHUM 2 14,28 - -

1 FILHO 1 7,14 2 14,28

2 FILHOS 6 42,85 4 28,57

3 FILHOS 3 21,42 3 21,42

4 FILHOS OU MAIS 2 14,28 5 35,71

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Tabela 2: Distribuição das acompanhantes e idosos por escolaridade, situação

ocupacional e ocupação atual.

VARIÁVEIS

ACOMPA-NHANTE

IDOSO

N % N %

ESCOLARI-

DADE

ANALFABETOS - - 1 7,14

ALFABETIZADOS 1 7,14 2 14,28

ANTIGO ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO 5 35,71 3 21,42

ANTIGO ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO 3 21,42 4 28,57

ANTIGO ENSINO MÉDIO COMPLETO 4 28,57 3 21,42

ENSINO SUPERIOR COMPLETO 1 7,14 1 7,14

SITUAÇÃO

OCUPACIO-

NAL

EMPREGADO 3 21,42 1 7,14

DESEMPREGADO 2 14,28 1 7,14

APOSENTADO 5 35,71 9 64,28

AUTÔNOMO 1 7,14 - -

NUNCA TRABALHOU (FORA) 3 21,42 3 21,42

OCUPAÇÃO

ATUAL

ASSISTENTE SOCIAL 1 7,14 - -

EMPREGADA DOMÉSTICA 1 7,14 - -

DONA DE CASA 3 21,42 2 14,28

CUIDADORA DE IDOSOS 2 14,28 - -

TÉCNICO EM CONTABILIDADE - - 1 7,14

AUXÍLIO DOENÇA - - 1 7,14

APOSENTADO 5 35,71 9 64,28

PENSIONISTA - - 1 7,14

DESEMPREGADO 2 14,28 - -

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Tabela 3: Distribuição das acompanhantes e idosos por renda familiar, número

de pessoas por domicílio, número de pessoas que contribuem com a renda

familiar e religião.

VARIÁVEIS

ACOMPA-NHANTE

IDOSO

N % N %

RENDA

FAMILIAR

< 1 SALÁRIO MÍNIMO 1 7,14 - -

1 SALÁRIO MÍNIMO 1 7,14 3 21,42

1 A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS 4 28,57 4 28,57

4 A 6 SALÁRIOS MÍNIMOS 5 35,71 4 28,57

7 A 9 SALÁRIOS MÍNIMOS 1 7,14 1 7,14

> 9 SALÁRIOS MÍNIMOS 1 7,14 1 7,14

VARIÁVEL 1 7,14 1 7,14

N0 DE PESSOAS POR DOMICÍLIO

1 A 3 PESSOAS 10 71,42 12 85,71

4 A 6 PESSOAS 4 28,57 2 14,28

N0 DE PESSOAS QUE

CONTRIBUEM C/RENDA

FAMILIAR

1 PESSOA 5 35,71 6 42,85

2 PESSOAS 4 28,57 5 35,71

3 PESSOAS 5 35,71 3 21,42

RELIGIÃO

CATÓLICA 5 35,71 6 42,85

EVANGÉLICA 6 42,85 4 28,57

ESPÍRITA 2 14,28 - -

TESTEMUNHA DE JEOVÁ - - 1 7,14

NÃO POSSUI 1 7,14 3 21,42

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Tabela 4: Condições gerais dos idosos

VARIÁVEIS

IDOSO

N %

CONSCIÊNCIA

ALERTA 13 92,86

CONFUSO 1 7,14

LOCOMOÇÃO

AMBULANTE 14 100

AUTONOMIA NO

CUIDAR DE SI

INDEPENDENTE 13 92,86

PARCIALMENTE DEPENDENTE 1 7,14

HISTÓRIA DE DOENÇA

PULMONAR

SIM 5 35,71

NÃO 9 64,28

HISTÓRIA DE

TABAGISMO

SIM 1 7,14

NÃO 9 64,28

JÁ FOI 4 28,57

Considerando os dados da Tabela 1, temos que em relação ao vínculo existente entre a

acompanhante e o idoso em pré-operatório, identifica-se prevalência das filhas (5) com

35,71% e esposas (4) com 21,42%, do total de sujeitos. Os demais vínculos são: irmã (3)15%,

neta e ex-esposa representando (1) 7,14% cada uma. Nenhuma prestava serviço remunerado,

constituindo, portanto, a rede de apoio informal, que se nutre da solidariedade entre as

gerações.

Os dados confirmam os resultados de estudos que versam sobre o processo de tornar-se

cuidador. O que esses estudos revelam é que, embora a designação do cuidador seja informal

e decorrente de uma dinâmica específica, o processo parece considerar quatro fatores:

“parentesco, com frequência maior para os cônjuges, antecedendo sempre a presença de

algum filho; o gênero, com predominância para a mulher; a proximidade física, considerando

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quem vive com a pessoa que requer os cuidados e a proximidade afetiva, destacando a relação

conjugal e a relação entre pais e filhos” (CATTANI; GIRARDON-PERLINI, 2004).

Todas as acompanhantes informaram que seriam responsáveis diretas pelo cuidado ao

idoso no domicílio (cuidador principal) e apenas duas afirmaram ter alguém para revezar

nessa atividade. Esse resultado é importante, pois o processo dialógico construído com os

sujeitos no espaço hospitalar poderá torná-lo um multiplicador do conhecimento (re)

construído sobre os cuidados para prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgica, ao

retornar para o domicílio.

Quanto ao sexo, (14) 100% dos sujeitos eram do sexo feminino, o que demonstra que a

sociedade confere, através de sua cultura, o papel de cuidar à mulher, seja na condição de

esposa, filha, irmã ou neta do idoso. Destaca-se que não houve por parte da pesquisadora

qualquer tipo de escolha intencional relativa ao sexo dos participantes. Esses foram inseridos

no estudo de acordo com a aceitação dos mesmos e sua demanda espontânea.

Pesquisas nacionais e internacionais apontam que os cuidadores são, em uma

hierarquia, as esposas, a filha mais velha ou a nora mais velha, e a filha solteira ou viúva.

Assim, “a mulher evidencia-se como a „grande cuidadora‟, a quem foi atribuído esse papel

cultural e socialmente, ao cuidar dos filhos, do marido, dos doentes e dos velhos” (DIOGO;

CEOLIM; CINTRA, 2005, p. 98). A esse respeito, a experiência de cuidar de familiares

sugere para a mulher uma “carreira de cuidado” (SOMMERHALDER, 2001).

Entre os idosos predominou o sexo masculino (8) com 57% do total; (6) 43% eram do

sexo feminino. O fato da maioria dos idosos ser de homens, provavelmente justifica-se pelos

tipos de cirurgias selecionados para a pesquisa, como RTU, exclusiva do sexo masculino e

cirurgia para correção de hérnia, mais frequente em homens. Dos 14 clientes idosos

copartícipes do estudo, seis foram submetidos à cirurgia para correção de hérnia inguinal,

desses, quatro eram homens e três realizaram RTU de próstata, concentrando nesses dois tipos

de cirurgia, (9) 64,26% do total de idosos

Em se tratando do desenvolvimento de hérnia inguinal, Leme e Turatti (2010) afirmam

que diferentemente do que se pensava, essa doença é considerada multifatorial. A idade

(avançada), os hábitos de vida e o sexo masculino são fatores de risco para o desenvolvimento

de hérnias. As hérnias inguinais nos tabagistas podem reaparecer com mais frequência, em

virtude da maior incidência de deiscências de incisões nesses clientes.

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61

Como anteriormente descrito, dos seis CI submetidos à cirurgia para correção de hérnia

inguinal, quatro eram homens, em conformidade com a assertiva dos autores quanto aos

fatores que predispõem à doença.

Por outro lado, Hangui e outros (2004) destacam que a colecistectomia nas mulheres

prevalece na faixa etária abaixo dos 60 anos e segundo Rêgo e outros (2003), na população

idosa, há uma aproximação da incidência entre os sexos. Das quatro cirurgias de

colecistectomia nos idosos do estudo, três foram em mulheres e uma em homem.

Quanto à idade das acompanhantes, variou de 23 a 73 anos. Ressalta-se que do total de

quatorze (14) sujeitos, seis (06) tinham idade entre 62 e 73 anos, ou seja, eram idosas

cuidando de outros idosos. “Pessoas que vivenciam o envelhecimento, ou que já se encontram

em plena velhice, assumem a tarefa de cuidar, embora apresentem alguma alteração na

capacidade funcional e até mesmo na sua saúde” (DIOGO; CEOLIM; CINTRA, 2005, p. 99).

Essa constatação vem ao encontro do estudo realizado por Rodrigues; Watanabe; Derntl

(2006) em que foi verificado que os cuidadores idosos têm de uma a quatro doenças crônicas,

por vezes, associadas a alguma incapacidade funcional. Nesse estudo, as doenças referidas

pelas acompanhantes idosas e registradas nas „observações‟ do instrumento de identificação

foram: hipertensão arterial (2), enfisema pulmonar, angina, rinite alérgica e obstrução nos

cornetos nasais (1), artrose (2), diabetes mellitus e depressão (1).

Em relação aos idosos, prevaleceu a faixa etária de 60-70 anos (7), 50%, seguida pela

faixa de 81-90 anos com (5) 35,71% e (2) 14,28% tinham idade entre 71-80 anos.

Sobre a população „muito idosa‟, ou seja, de oitenta anos ou mais, Camarano (2003, p.

37) destaca que: “Quanto mais idosa é a população, maior é o seu ritmo de crescimento. Isto

leva a um envelhecimento do segmento idoso e à sua maior „feminização‟, pois, também,

quanto mais idoso é o contingente, maior é a proporção de mulheres”.

Em se tratando da situação conjugal, houve concentração de acompanhantes casadas

(7) 50%, as solteiras, viúvas e separadas representaram (02) 14,28% cada e (01)7,14% eram

divorciadas. Entre as casadas, 03 (três) eram profissionalmente ativas e tinham de 1-2 filhos.

Acumulavam, portanto, as funções de esposa, mãe, profissional e cuidadora, o que exige

conciliar uma jornada dupla, tripla e, às vezes, até quádrupla de trabalho.

Segundo Mafra (2011), os cuidadores podem se sentirem sobrecarregados e injustiçados

ao acumularem diversas funções. Nesse estudo, nenhuma acompanhante demonstrou

preocupação com a possível sobrecarga de responsabilidades a que poderia estar sendo

submetida.

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Vale lembrar que a realização de uma cirurgia, em princípio, torna o idoso dependente

por um curto período, diferentemente de doenças crônicas incapacitantes, em que a

dependência geralmente se estende por longo tempo, demandando mais tempo e dedicação

por parte do cuidador (es), podendo tornar árdua a tarefa de cuidar.

Nesse sentido, Karsch (2003) afirma que a frequência das doenças crônicas e a

esperança de vida atual dos brasileiros são as principais causas do aumento das taxas de

idosos portadores de incapacidades. No Brasil, a velhice sem independência e autonomia

ainda é desconhecida pela opinião pública, por permanecer nos domicílios ou nas instituições

asilares. Assim sendo, torna-se invisível e, consequentemente, impede qualquer atitude

política de proteção social. Estudos mostram que cerca de 40% dos idosos com 65 anos ou

mais de idade necessitam de algum tipo de auxílio para realizar pelo menos uma de suas

tarefas do cotidiano, acrescenta o autor.

Por outro lado, Mayor, Ribeiro e Paúl (2009, p.624), chamam a atenção para outra face

do cuidar: a experiência exitosa de ser acompanhante, cuja análise tem sido negligenciada

pela literatura gerontológica. Para os autores, “cuidar de outra pessoa pode ser experiência de

grande sobrecarga, mas pode ser também associada a aspectos positivos, dela procedendo

vários tipos de satisfação”. Tal aspecto foi destacado no relato de A4, que se sentia útil ao

prestar cuidados ao idoso. “Eu gosto (risos). Ele sabe [se referindo ao idoso] (risos). Gosto de

ser útil”. (A4-esposa).

Dentre os idosos, assim como nas acompanhantes, destacaram-se os casados com (7)

50% do total. Os viúvos representaram (5) 36%; desses, quatro eram mulheres, o que vem ao

encontro da “feminização da velhice”, ou seja, em decorrência da menor mortalidade

feminina, as mulheres predominam na população idosa. Entretanto, o envelhecimento

populacional, principalmente, o feminino, causa uma grande preocupação, por se considerar

esse contingente como dependente e vulnerável tanto do ponto de vista econômico, quanto de

debilidades físicas, o que pode ocasionar perda de autonomia e incapacidade para lidar com as

tarefas diárias (CAMARANO, 2003).

Nesse sentido, Parahyba (2006, p.2) destaca outro aspecto: o fato das mulheres

sobreviverem aos homens não significa que elas sejam mais saudáveis. “A mortalidade

constitui somente um reflexo da deterioração extrema da saúde, que não dá conta das

profundas variações que se registram no estado de bem-estar daqueles que sobrevivem.”

Ressalta-se que, em consequência à „feminização da velhice‟, a viuvez é o estado

conjugal que prevalece entre as mulheres idosas. Isso se deve, de um lado, à maior

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longevidade feminina e, por outro, a normas sociais e culturais predominantes em nossa

sociedade que fazem com que os homens se casem com mulheres mais jovens do que eles.

Ademais, os viúvos idosos se casam novamente em maior número que as viúvas

(CAMARANO, 2003)

Destaca-se que, a viuvez é um evento que tem sido considerado, em geral, sinônimo

de solidão e isolamento social. No entanto, estudos mostram que há também aspectos

positivos em decorrência da morte do cônjuge: “(...) para alguns a viuvez é acompanhada pela

sensação de liberdade, como se o fato de não ter seu companheiro ao lado estivesse associado

a uma carta de alforria para um escravo” (TÔRRES, 2006, p. 92).

Motta (2002, p.274), numa de suas pesquisas com mulheres viúvas, concluiu que

embora ainda existam muitos obstáculos individuais e sociais, uma parcela expressiva das

viúvas idosas, inclusive das muito velhas, é de viúvas alegres. “Alegres, não apenas ou

diretamente por terem-se livrado de um marido decepcionante, e sim, da dominação que

historicamente recaiu sobre as mulheres casadas – alegres principalmente agora, em um

tempo social onde a liberdade de gênero é possível.”

No que tange ao número de filhos, (6) 42,85% das acompanhantes possuíam 2 filhos,

seguida daquelas que declararam 3 filhos (3) 21,42%, 4 filhos ou mais (2) 14,28% e apenas 1

filho (1) 7,14%. Dentre as que relataram ter 3, 4 ou mais filhos, só uma tem menos de 60

anos. As acompanhantes solteiras (2) 14,28% declararam não possuir filhos.

Quanto aos clientes idosos, (5) 35,71% informaram ter 4 ou mais filhos, (4) 28,57% 2

filhos, (3) 21,42% 3 filhos e (2) 14,28% 1 filho.

As taxas de fecundidade brasileiras começaram a declinar em meados da década de

1960, com a introdução dos métodos anticonceptivos orais no Brasil e continuaram caindo ao

longo dos anos, basicamente como resultado das mudanças na sociedade brasileira e na

própria família. Os níveis mais baixos nas taxas de fecundidade pertencem ao Rio de Janeiro,

seguido por São Paulo e Distrito Federal. A taxa mais elevada se encontra no Acre (IBGE,

2010)

A queda nas taxas de fecundidade provoca a diminuição do crescimento populacional e

uma mudança na estrutura etária da população, com enormes implicações sobre as políticas

públicas, asseguram Rios-Neto, Martine e Alves (2009, p. 74). “A mudança na estrutura etária

irá impor uma grande pressão sobre o sistema público de seguridade social,” esclarecem

Fígoli e Queiroz (2008, p.9).

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Conforme os dados da Tabela 2, observa-se que, no que diz respeito à escolaridade das

acompanhantes, (1) 7,14% são alfabetizadas; (5) 35,71% possuem o antigo ensino

fundamental incompleto e (3) 21,42% o antigo ensino fundamental completo; (4) 28,57% o

ensino médio completo e (1)7,14% o ensino superior completo.

Quanto à escolaridade dos idosos, (1) 7,14% são analfabetos e (2) 14,28% são

alfabetizados; (3) 21,42% possuem o antigo ensino fundamental incompleto e (4) 28,57%

concluíram o antigo ensino fundamental; (3) 21,42% tem o antigo ensino médio completo e

(1) 7,14% possuem ensino superior completo. Note-se que a baixa escolaridade predominou

tanto entre as acompanhantes quanto entre os idosos.

Sobre a situação ocupacional, sobressaíram as acompanhantes aposentadas (5) 35,71%,

uma vez que (6) 42,85% eram idosas e apenas 1 não recebia o benefício por ser casada e

nunca ter trabalhado fora; (3) 21,42% estavam empregadas; (3) 21,42% nunca trabalharam

fora; (2) 14,28% estavam desempregadas e (1) 7,14% trabalhavam de forma autônoma.

Entre os idosos, assim como nas acompanhantes, em decorrência da idade, a maioria

(9) 64,28% já se encontrava aposentada. Como o homem só adquire o direito ao benefício da

aposentadoria por idade após os 65 anos, havia (1) 7,14% CI desempregado, assim como (1)

7,14% profissionalmente ativo. Dos que nunca trabalharam, (3) 21,42% são mulheres. A

maioria das idosas brasileiras de hoje não teve trabalho remunerado durante a sua vida ativa

(CAMARANO, 2003).

Quanto à ocupação atual, embora haja diversidade de profissões entre as

acompanhantes, observa-se maior número de aposentadas (5) 35,71%, pelo fato de serem

idosas, como descrito anteriormente.

Diante do crescente envelhecimento populacional, chamo a atenção para a ocupação

„cuidadora de idosos‟, que indica estar em ascensão entre as mulheres, sendo neste estudo

maior (2) 14, 8% do que o de empregada doméstica (1) 7,14%, cuja demanda tem crescido no

mundo todo (Organização Internacional do Trabalho, 2009).

Vale lembrar que enquanto sujeitos do estudo, as duas acompanhantes que se

declararam „cuidadora de idosos‟, não estavam exercendo atividade laboral remunerada, pois

eram filha e irmã das idosas hospitalizadas.

Referindo-se aos idosos, a maioria, (9) 64,28%, percebia o benefício governamental da

aposentadoria; (2) 14,28% eram donas de casa; (1) 7,14% exerciam a profissão de técnico em

contabilidade; (1) 7,14% eram pensionistas e (1) 7,14% percebiam auxílio-doença.

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Esses achados vêm ao encontro da afirmação de Fígoli e Queiroz (2008) de que,

atualmente, a maior parte do consumo dos idosos é custeada pelos programas públicos de

previdência social. Tais programas são relevantes na “redução dos níveis de pobreza dos

grupos etários mais avançados. O Brasil é um dos poucos países do mundo que combinam um

rápido envelhecimento populacional com grande sistema público de previdência.”

De acordo com os dados da Tabela 3, constata-se que quanto à renda familiar das

acompanhantes destacaram-se as faixas de 4 a 6 salários mínimos (SM) com (5) 35,71% e de

03 a 6 SM com (4) 28,57% do total de sujeitos. As demais faixas: < 1 SM, 1 SM, 7 a 9 SM, >

9 SM e variável compreenderam (1) 7,14% cada uma.

No que tange à renda familiar dos idosos, houve equivalência entre as faixas de 1 a 3

SM e de 4 a 6 SM ambas com (4) 28,57% cada. Destaco que os (3) 21, 42% que pertenciam à

faixa de 1 SM, declararam ser o único rendimento da família de 1 a 3 pessoas residentes no

domicílio. Apenas (2) 14,28% declararam renda a partir de 7 SM.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) revelaram que

22,9% das famílias brasileiras vivem com renda familiar de até meio salário mínimo e, desse

total, 48,5% encontram-se na Região Nordeste. No conjunto de famílias que alegaram ter

muita dificuldade, 64,2% viviam com até 3 SM de renda mensal.

Ao se considerar o baixo nível de escolaridade apresentado tanto pelas acompanhantes

quanto pelos idosos e a baixa renda declarada por ambos, vale mencionar a relação existente

entre escolaridade x salários, destacada por Seabra (2002, p. 53-54): “a escolaridade tem

influência positiva sobre o salário e através da interveniência de empregabilidade tende a

ampliar essa influência.”

Outra questão a ser ressaltada, a partir dos dados da tabela 2, é o acesso ao ensino

superior em nosso país. Apenas (1) 7,14% de acompanhantes/idosos tinham curso superior.

Pinto (2004, p.727) realizou estudo sobre a temática e destacou que: a taxa de

escolarização bruta na educação superior do Brasil é uma das menores da América Latina e o

grau de privatização um dos maiores do mundo. Esse processo desencadeou uma expressiva

elitização do perfil dos alunos, principalmente nos cursos mais disputados e nas instituições

particulares, onde é mínima a presença de afrodescendentes e de pobres. O Brasil precisa

urgentemente “ampliar o acesso à educação superior e democratizar o perfil dos alunos, em

especial nos cursos mais concorridos”, através da expansão do setor público, dado que o nível

de privatização no ensino superior já é elevado, concluiu o autor.

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Em se tratando do número de moradores por domicílio, predominou a faixa de 01 a 03

pessoas, tanto entre as acompanhantes com (10) 71,42% dos casos quanto entre os idosos com

(12) 85,71%. A faixa de 04 a 06 pessoas representou (4) 28,57% e (2) 14,28% das residências,

respectivamente.

A média de moradores por domicílio caiu, influenciada pelo declínio da taxa de

fecundidade e redução do tamanho das famílias. Em 2000, havia 77 municípios com média

inferior a 3 moradores por domicílio no país, sendo que esse número subiu para 250

municípios em 2007. No outro extremo, os 250 municípios cuja média era de mais de 4,5

moradores por domicílio caiu para 181 (IBGE, 2007).

À exceção de uma acompanhante que reside com os pais, todas possuíam casa própria,

de alvenaria e com luz elétrica, assim como os idosos.

Em relação à composição da renda familiar, não houve diferença significativa entre as

faixas: (5) 35,71% das acompanhantes declararam 1e 3 pessoas e (4) 28,57% 2 pessoas. Das

cinco mulheres em que a renda familiar era composta por apenas uma pessoa, duas eram

idosas.

No que diz respeito aos idosos, prevaleceu os que responderam 1 pessoa (6) 42,85%,

sobre os que responderam 2 pessoas (5) 35,71% e 3 pessoas (3) 21,42%. De acordo com os

resultados apresentados, percebe-se que “em muitos casos, o beneficio social constitui-se na

única fonte de renda das famílias que, como já se viu, não são famílias compostas apenas por

idosos” (CAMARANO, 2003, p. 57).

No que concerne à religião informada pelas acompanhantes, (6) 43,85% se declararam

evangélica, (5) 36,71% católica, (2) 14,28% professaram o espiritismo e (1) 7,14%

declararam não possuir religião. Das seis acompanhantes evangélicas, quatro tinham menos

de 60 anos, o que leva a crer que a tradição da igreja católica venha perdendo força ao longo

dos anos.

Diferentemente, entre os idosos a religião mais professada foi à católica com (6)

42,85%. A religião evangélica veio a seguir com (4) 28,57% de adeptos e (1) 7,14%

declararam ser testemunha de Jeová. Os (3) 21,42% que alegaram não ter religião são do sexo

masculino.

O brasileiro é marcadamente religioso e isso se “reflete em sua vida cotidiana, na

capacidade de expressão de múltiplas formas de fé religiosa, de modo que suas condutas e

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crenças religiosas constituam parte fundamental do ethos18

da cultura brasileira”

(ANDRADE, 2009, p. 108).

Valla (1998) alerta para a necessidade de se dar mais importância à vida religiosa das

classes populares para se entender suas formas de pensar e enfrentar os seus problemas.

Nesse sentido, Vasconcelos (2009, p.330) afirma que “A religião popular é um saber e

uma linguagem de elaboração e expressão da dinâmica subjetiva, parte da cultura popular, em

que a população se baseia para buscar o sentido de sua vida.” Unifica os grupos sociais, ajuda

a renovar as energias para enfrentar as ameaças e a luta pela sobrevivência e pela alegria,

resistindo culturalmente à forma de vida que a elite lhes quer impor.

A importância da religiosidade na educação popular também é destacada pelo autor

acima mencionado (2008, p.316) quando diz que “Nas práticas de Educação Popular

conduzidas numa linguagem religiosa, dimensões inconscientes participam explicitamente de

forma central dos diálogos que se estabelecem, através das metáforas das histórias míticas e

dos símbolos da liturgia.”

No campo da saúde, “em decorrência da expansão do modelo biopsicossocial, religião

e espiritualidade têm sido reconhecidas por sua relevância, constituindo o foco de interesse de

pesquisas internacionais e nacionais” (GOBATTO; ARAUJO, 2010, p. 53).

A relação entre religiosidade/espiritualidade e qualidade de vida tem despertado a

atenção dos pesquisadores. A associação entre vida religiosa e espiritualidade com as

condições de saúde da população e o processo de recuperação de doenças é apontada em

vários estudos. Aspectos culturais influenciam o modo como as pessoas vivenciam a

espiritualidade (...) estudos conduzidos com diferentes segmentos reconheceram maior

necessidade e/ou utilização de religião e espiritualidade por mulheres (p. 56), o que depreende

que a prática religiosa é culturalmente mais difundida entre as mulheres.

Considerando a Tabela 4, destaca-se que dos 14 idosos participantes do estudo, apenas

um (1), 7,14%, apresentava demência senil. Os demais (13), 92, 86%, estavam alerta, o que

faciltou a implementação do plano de cuidados compartilhado pelos acompanhantes. Apesar

de algumas limitações causadas pela presença de doenças articulares crônicas, 100% dos

clientes idosos deambulavam. No tocante ao cuidar de si, (13) 92,86% eram independentes e

apenas (1) 7,14% era parcialmente dependente, o que limita sua capacidade autônoma de

cuidar de si.

18 Sistema de valores. (WHITLAM; DAVIES; HARLAND, 1997)

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Com relação à história de doença pulmonar, os clientes idosos que apresentavam

doença pulmonar representaram (5) 35,71%, sendo que 4 possuíam DPOC e 1 tinha silicose.

(9) 64,28% não tinham história de doença pulmonar.

Como vimos, as doenças pulmonares pré-existentes são importantes fatores de risco

para o desenvolvimento de complicações respiratórias no pós-operatório. Clientes com DPOC

são especialmente vulneráveis, pelo fato de apresentarem tendência a aumento e acúmulo de

secreções brônquicas. Além disso, outras patologias foram relatadas por eles, a saber: HAS

(9), angina (2), epilepsia, hipotiroidismo, hepatite C, alcoolismo, pênfigo bolhoso, DM

(2) e hérnia de disco lombar. Alguns tinham até cinco patologias, o que pode carrear alguma

incapacidade funcional e maior predisposição às complicações pós-operatórias.

Quanto à história de tabagismo, predominaram os idosos não tabagistas: (9) 64,28%.

Os ex-tabagistas somaram (4) 28,57% e apenas (1) 7,14% eram fumantes. Embora o

tabagismo comprometa a resistência pulmonar e predisponha o fumante às complicações

respiratórias no pós-operatório, independente da idade, nos idosos esse hábito torna-se ainda

mais pernicioso devido às fragilidades próprias desse grupo etário.

Esses resultados mostraram a relevância da prevenção de complicações pós-cirúrgicas

em idosos e da inclusão de seus acompanhante nesse processo, através de ações educativas de

enfermagem. Destaco que os idosos que participaram deste estudo, até o momento em que

receberam alta hospitalar, não apresentaram quaisquer complicações.

Na sequência, o quarto capítulo abordará os saberes e práticas de acompanhantes de

idosos sobre complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso.

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Capítulo IV

Saberes e práticas de acompanhantes de

idosos sobre complicações respiratórias

pós-cirúrgicas no idoso

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CAPÍTULO IV

SABERES E PRÁTICAS DE ACOMPANHANTES DE IDOSOS SOBRE

COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS NO IDOSO

4.1. Principais causas de complicações respiratórias no pós-operatório do cliente idoso

problematizadas no diálogo com os acompanhantes

O diálogo com as acompanhantes a fim de acessar seus saberes e práticas sobre

complicações respiratórias pós-cirúrgicas em idosos foi desenvolvido a partir de questões

geradoras de debate. Para Freire, o diálogo é condição básica para o conhecimento. O ato de

conhecer, segundo ele, "dá-se num processo social e o diálogo é, justamente, uma mediação

deste processo" (MIRANDA; BARROSO,

2004, p. 634).

As questões geradoras de debate, em um espaço problematizador, propiciam o diálogo

e das situações existenciais concretas dos sujeitos emergem os temas codificados, que são

descodificados no aprofundamento da discussão (FREIRE, 2007).

Neste estudo, as questões enunciadas por mim, como geradoras de debate, conduziram

à discussão de quatro principais causas que podem levar a estas complicações: fisiológicas;

restrição na mobilização no leito; fatores de risco pré-existentes e fatores relacionados à

localização da cirurgia.

Fisiológicas: aspectos relacionados ao processo de envelhecimento

Os pacientes idosos apresentam altos riscos de complicações operatórias. Essas

complicações aumentam as taxas de morbidade e mortalidade no pós-operatório, o custo do

tratamento e o tempo de hospitalização (Lenardt et al, 2010).

Ruivo e outros (2009, p. 629) afirmam que “o sistema respiratório sofre alterações

inerentes ao envelhecimento e o conhecimento dessas modificações contribui com a detecção

e prevenção de disfunções respiratórias em idosos”. Esses autores salientam que há dados

indicativos de que esse sistema orgânico seja o que envelhece mais rapidamente devido à

maior exposição a poluentes ambientais no decorrer dos anos.

A exposição à poluição atmosférica promove alterações na coloração dos pulmões ao

longo dos anos. De acordo com Bethlem (1995), os pulmões passam da cor rosada, ao nascer,

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à coloração negra, com o avançar da idade. As mudanças de tonalidade ocorrem devido à

inalação e deposição de grânulos de partículas de carbono19

no tecido pulmonar.

As fotos ilustrativas das alterações pulmonares utilizadas na produção de dados da

pesquisa (Figuras 1 e 2) junto a acompanhantes facilitaram a discussão sobre as mudanças que

ocorrem no pulmão do idoso em decorrência do processo de envelhecimento, relativas à cor e

tamanho desse órgão. Discutir sobre tais mudanças com os sujeitos, levaram-nos a refletir

sobre a importância da prevenção de complicações respiratórias, como se observa nos

diálogos empreendidos entre mim, pesquisadora, com A7, A9 e A14 sobre a alteração da cor

desse órgão em função da idade. Ressalto que estas imagens dos pulmões foram criadas pela

autora do presente estudo, a partir de informações provenientes da literatura e de adaptações

de imagens captadas da internet.

Figura 1- Pulmão jovem Figura 2 - Pulmão idoso

Fonte: Criação da pesquisadora

A seguir, são apresentados conteúdos das falas obtidos durante a apresentação das

figuras aos sujeitos. As acompanhantes demonstraram surpresa em relação à diferença da cor

entre os pulmões do jovem e do idoso e depreenderam que tais mudanças afetam a vitalidade

pulmonar:

Já tá baqueadinho [referindo-se ao pulmão do idoso]. (A7)

Aqui [foto] nós temos fotos de um pulmão jovem e um pulmão idoso. Com

relação à cor, tem alguma diferença? (Pesquisadora)

19 Substância encontrada na atmosfera, principalmente sob a forma de monóxido de carbono (CO) e dióxido de

carbono (CO2), originárias tanto de fontes naturais (erupções vulcânicas, decomposição de animais e vegetais,

incêndios naturais em florestas, por exemplo), como antropogênicas (atividades industriais e combustão de

combustíveis fósseis, como álcool, gasolina e diesel, dentre outras) (ALMEIDA, 1999).

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É (silêncio). Tem, né (risos). Totalmente, o vermelho e o cinza. O vermelho

tá com toda potência (risos), o cinza já tá bem... bem cansadinho, né. (A9).

Nossa! Fica assim! (A14)

Qual a cor [do pulmão] do jovem? (Pesquisadora).

Ah, tá bem mais... vivo, né (risos) (A14) Mais vivo, mais rosadinho, né (risos)? (Pesquisadora)

Mais rosadinho. (A14)

Ao tempo em que as acompanhantes constatavam a mudança de tonalidade dos

pulmões idosos, eram conduzidas à reflexão sobre a importância da qualidade do ar que

respiramos, fator que tem influência direta nesse processo. Emergiu de suas falas o seu

conhecimento prévio sobre a poluição ambiental e sua relação com a diminuição da vitalidade

pulmonar em decorrência do processo de envelhecimento. Vejamos o diálogo com A7 e A9.

O que a gente respira hoje em dia, principalmente em cidade grande? (Pesquisadora)

Sujeira, poluição, sujeirada. (A7)

Ele [o pulmão] não dá conta de eliminar tudo isso (...). Então, ao longo do

tempo, ele vai ficando escurinho, por causa dessas impurezas. (Pesquisadora)

Qual é a qualidade do ar que a gente respira hoje em dia? (Pesquisadora) Ihhh, tudo poluído. Não tem nada saudável. (A9)

É muita poluição, né, de carro, de fumaça de cigarro, porque mesmo

quando a gente não fuma o que acontece? (Pesquisadora) Nós fumamos mais do que o próprio fumante. (A9)

Os pulmões também sofrem mudanças com relação ao tamanho no decorrer dos anos,

podendo reduzir em até 11% (BANDEIRA; PIMENTA; SOUZA, 2006), aumentando o

esforço para respirar.

Indagados se há diferença de tamanho do pulmão do jovem para o do idoso,

observando as fotos que lhes foram apresentadas, os sujeitos, ao reconhecerem a diminuição

que ocorre no tamanho do pulmão do idoso, estabeleceram relação com outras mudanças

advindas do processo de envelhecimento, como se pode observar em algumas falas:

Em relação ao tamanho, tem diferença? (Pesquisadora)

Tem. (A3) O do idoso é maior ou ...? (Pesquisadora)

Menor. Vai diminuindo? (A3)

Isso é biológico, é natural do próprio envelhecimento, por isso a gente tem

que tá atento, tem que ter cuidado, pra não ter problemas (Pesquisadora)

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Tem. O do idoso [foto do pulmão] tá bem menor. (A9)

É, ele também se recolhe um pouquinho com a idade, ele diminui um pouquinho de tamanho. (Pesquisadora)

Até o idoso diminui. Diminui, vai encolhendo. (A9)

No processo natural do envelhecimento, ele [pulmão] vai diminuindo, vai

diminuindo e vai perdendo vitalidade, por isso é tão importante a gente

investir nessas ações depois da cirurgia, porque a própria anestesia também

já contém drogas que afetam esse funcionamento do pulmão. (Pesquisadora)

Ele diminui. (A10)

É, ele também vai diminuindo um pouquinho de tamanho. Tudo isso é natural, é biológico, mas é uma coisa que associado à anestesia, associado

à cirurgia, deixa a pessoa mais predisposta, deixa o idoso mais...

(Pesquisadora) Porque reprime, né, vai reprimindo tudo,vai fechando. (A10)

Ressalta-se que as reflexões de A9 e A10 foram além das características pulmonares,

pois destacaram alterações gerontológicas relativas a outros sistemas orgânicos: Até o idoso

diminui. (...) vai encolhendo (A9); vai reprimindo tudo vai fechando. (A10).

A linguagem popular observada nas falas das acompanhantes traduz a leitura particular

que cada indivíduo faz do mundo, a partir de seu contexto sociocultural. Portanto, deve ser

considerada e respeitada no processo de educação em saúde popular, dialógico e democrático.

Trazer essas características do pulmão para o diálogo com os acompanhantes de forma

codificada através das fotos que ilustravam variações de cor e tamanho relacionadas à idade

cronológica, possibilitou, pelo aprofundamento do diálogo, em um processo de

descodificação, a reflexão sobre as fragilidades fisiológicas do sistema respiratório

decorrentes do processo de envelhecimento, por conseguinte, à construção de um novo saber

sobre a vulnerabilidade do idoso às complicações desse sistema no pós-operatório,

valorizando, assim, as ações de prevenção problematizadas. Conforme destaca Freire (2007),

a mensagem vem codificada por ferramentas que se constituem como elemento facilitador no

processo de educação.

Reforçando os aspectos que envolvem as fragilidades pulmonares no idoso após

cirurgias, Silva e outros (2009, p.114-115) chamam a atenção para a prevalência das

complicações respiratórias no período pós-operatório que, segundo os autores, é a mesma das

complicações cardíacas. “Em algumas situações tendo, inclusive, maior capacidade de prever

mortalidade em longo prazo após a cirurgia, especialmente nos pacientes idosos.”

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Restrição na mobilização do idoso no leito

A restrição na mobilização do idoso no leito depois da cirurgia predispõe ao

desenvolvimento de doenças como pneumonia e atelectasia, importantes causas de

morbimortalidade no pós-operatório de clientes idosos, como já descrito. Ademais, outras

complicações respiratórias, distúrbios circulatórios, úlceras por pressão, dor e desconforto

também podem resultar da imobilidade (SMELTZER; BARE, 2009).

Esse tema foi desenvolvido a partir da questão: “o que pode acontecer com o pulmão

se depois da cirurgia o idoso ficar muito tempo deitado sem se movimentar na cama?”

As falas de A2, A4, A10, A11 e A13 denotam que os sujeitos têm noção de que a

imobilidade favorece o desenvolvimento de complicações respiratórias pós-operatórias, como

descrito a seguir:

Pode causar uma pneumonia, né? (A2)

Bem, vai sufocá-lo, né, porque... Fica pressionado, né? Então... Acho que

ele fica com dificuldade para respirar. Ele não fica livre pra respirar, né? É... pressão. (A4).

Pressão? Pressionando o quê? (Pesquisadora)

O pulmão. (A4).

Eu acho que ele pode ter uma pneumonia. Num sei, minha opinião. Dela

ficar sem a movimentação, sem, sem tá andando assim, respirando bem...

(A10)

É, pode dar um... é, é, pneumonia, pode. (A11)

Você acha que se virar de lado o que é que acontece? (Pesquisadora) Pára de comprimir o pulmão. A respiração facilita, eu acho que é isso, né.

(A13)

Através das respostas obtidas, percebe-se que os acompanhantes refletiram sobre a

questão que lhes foi colocada à discussão e debate. A4, A10 e A13 associaram,

respectivamente, a pressão do leito no tórax e a imobilidade ao desenvolvimento de

pneumonia, mostrando a lógica em que se dá a construção do conhecimento do senso comum.

No entanto, “esta relação direta por associação de semelhanças e diferenças nem

sempre se aplica às enfermidades/situações problema. Daí a importância de se criar espaços

de diálogos entre os profissionais e seus clientes/acompanhantes para oportunizar o

compartilhamento de saberes” (TEIXEIRA, 2008, p.122).

Outros sujeitos, contudo, no diálogo empreendido com a pesquisadora, ressaltaram não

possuir nenhum tipo de saber prévio sobre o assunto:

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Eu não sei, é... A única orientação que eu já recebi, é que convém conversar

pra manter ela acordada, mas exatamente em relação ao pulmão, eu não recebi nenhuma orientação e eu desconheço mesmo. (A5)

Não, não sei o que poderia acontecer, não. (A6)

Vale mencionar que A5, única acompanhante com ensino superior completo, e A6, a

mais jovem participante do estudo, que cursou o antigo ensino médio completo, apresentavam

nível de escolaridade acima da média da maioria dos sujeitos que declararam o antigo ensino

fundamental incompleto. Ressalta-se que tal aspecto, neste estudo, não se configurou como

diferencial em relação aos saberes e práticas trazidos pelos sujeitos com menor nível de

instrução. Isso demonstra que se a escolaridade é importante na aquisição de conhecimentos, a

experiência concreta vivida pelos sujeitos também o é.

Portanto, o conhecimento elaborado pelo senso comum está vinculado a essas

experiências, ao contexto desses sujeitos, ao mundo em que vivem, ou seja, “da prática como

referencial para a realidade e formação do conhecimento do senso comum sobre os objetos

que lhes são dados a pensar” (TEIXEIRA, 2008, p.119).

Assim, o investimento em ações de educação em saúde junto a acompanhantes deve

considerar o „saber da experiência feito‟, não para aí se manter, de forma acrítica, quando

prejudicial à saúde, mas como ponto de partida para construção de novos saberes. A fala de

A11 ilustra o conceito freiriano, ao relatar que o seu conhecimento foi adquirido a partir de

situações vivenciadas:

Eu aprendi assim... cuidando dessa, dessa idosa [referindo-se à experiência prévia, como acompanhante remunerada], fui aprendendo assim mesmo,

cuidando. (A11)

No entanto, há de se reafirmar que partir do saber dos educandos não é apenas

restringir-se ao seu conhecimento, mas ir além, por tratar-se de um saber dinâmico que deve

prosseguir, como explica o próprio Freire (2011, p. 97-98, grifo do autor):

[...] partir do saber que os educandos tenham não significa ficar girando em torno deste saber. Partir significa pôr-se a caminho, ir-se, deslocar-se de um ponto a outro

e não ficar, permanecer. Jamais disse como às vezes sugerem ou dizem que eu disse

que deveríamos girar embevecidos, em torno do saber dos educandos, como

mariposas em volta da luz. Partir do “saber de experiência feito” para superá-lo não

é ficar nele.

Por isso, na construção do plano de cuidados compartilhado, os saberes sobre

prevenção de complicações respiratórias em idosos relatados pelos sujeitos foram discutidos e

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reorganizados a fim de ampliar a visão trazida por eles, fortalecendo, assim, o cuidado

prestado ao idoso em pós-operatório.

Fatores de risco pré-existentes

É consenso na literatura médica que o tabagismo é um importante fator de risco para

complicações respiratórias pós-cirúrgicas. Sabe-se que o fumo provoca reação inflamatória

nos pulmões que facilita a penetração de agentes infecciosos. O fumo está entre as principais

causas de complicações pós-anestésicas, como explica Fernandes e Ruiz Neto (2002, p. 462):

“Nos tabagistas, a árvore respiratória se apresenta hiper-reativa podendo precipitar bronco-

espasmo, acúmulo de secreções e atelectasia regional”.

O aparelho respiratório, por receber diretamente a carga tabágica, é um local frequente

de doenças (...), sustenta Alencar Filho (2006).

O tabagismo pode desencadear complicações pulmonares pós-operatórias, mesmo

naqueles sem doença pulmonar, afirmam Saad e Zambon (2001) e eles recomendam a

cessação do consumo tabágico no mínimo oito semanas antes da cirurgia, a fim de reduzir as

complicações.

Tendo isso em conta, o processo de educação em saúde deve problematizar os

malefícios causados pelo hábito de fumar, levando à reflexão do consumidor e o conduzindo a

uma nova ação com base na tomada de consciência de que esse hábito é um significante fator

de risco para complicações pulmonares pós-operatórias.

A reflexão sobre o a assunto se deu a partir da indagação: “o que fazer antes da cirurgia

para evitar complicações respiratórias depois da cirurgia?” O diálogo com A3, A9 e A12

sinaliza que os sujeitos têm noção dos malefícios desse hábito e da importância de sua

suspensão antes da cirurgia, como demonstram as respostas obtidas:

Se a pessoa for fumante e for se submeter a uma cirurgia, o que seria bom a

pessoa fazer, ideal pra pessoa fazer, antes da cirurgia? (Pesquisadora) Ah, fumante é... é mau sabe. Pelo menos parar de fumar um pouco né. (A3)

Se a pessoa for fumante? (Pesquisadora)

Ah, tem que dá um tempo né. (A9)

(...) antes da cirurgia a senhora acha que seria importante parar de fumar?

(Pesquisadora) Claro já há muito tempo (risos). Isso aí é importantíssimo, eu tenho

experiência disso. Essa semana mesmo eu tive uma experiência de um irmão

de igreja que o pulmão, ele num é da igreja, a senhora dele que é da igreja,

faleceu porque era fumante, faleceu. (A12)

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O espaço problematizador é instigante e provocador da reflexão. Observa-se que

mesmo não sendo uma experiência vivida por A14, ao ser questionada sobre a possibilidade

de o pulmão tornar-se mais frágil pelo uso do cigarro, ela imediatamente relacionou o uso do

cigarro ao tempo desse uso e concluiu com uma reflexão crítica destacando que nada adianta

parar de fumar na semana da cirurgia. Ou seja, sua fala sugere seu entendimento de que, ainda

que o sujeito pare de fumar próximo à cirurgia, os efeitos do fumo vão permanecer no seu

organismo, especialmente, no pulmão:

Se a pessoa fumar, que não é o caso dela [idosa], a senhora acha que faz

diferença, a pessoa parar de fumar antes da cirurgia? (Pesquisadora)

Como sendo leiga, eu acho que tem que parar, né. (A14) O pulmão pode ficar mais frágil por conta do cigarro? Mais propenso a ter

complicação? (Pesquisadora)

Se ele for fumante há muitos anos, creio que sim. (A14) Seria importante parar de fumar antes da cirurgia? (Pesquisadora)

Eu acho que... bem, antes, né, se ele parar na semana da cirurgia, eu acho

que não vai resolver nada, né (risos) (A14)

Esse é um exemplo que ilustra a intenção do processo educativo problematizador: o

de, pelo diálogo, alcançar a reflexão e a crítica e, por conseguinte, provocar mudança de

atitude. Assim, “o próprio sujeito começa a construir um juízo crítico e a ter condições de

discernir acerca dos possíveis malefícios e benefícios trazidos pelo hábito de fumar a sua

saúde” (ALVIM; FERREIRA, 2007, p. 317).

Outro fator de risco para complicações respiratórias no pós-operatório são as doenças

pulmonares pré-existentes, uma vez que, nessa fase ocorre “demanda aumentada de oxigênio,

o que pode precipitar a insuficiência respiratória em pacientes com reserva pulmonar limitada

por disfunção pré-existente, decorrente de doença pulmonar [...]” (RODRIGUES; ÉVORA;

VICENTE, 2008, p. 470).

Pacientes com DPOC, por exemplo, constituem “grupo de especial vulnerabilidade

devido ao fato de frequentemente apresentarem aumento de volume da secreção brônquica,

diminuição da atividade ciliar do epitélio e tendência a acúmulo de secreções” (STRACIERI,

2008, p. 466)

Fatores de risco relacionados à localização da cirurgia

O local da cirurgia é um dos fatores que podem contribuir para desencadear

complicações respiratórias no pós-operatório. Para Ramos e outros (2007), algumas cirurgias,

especialmente as intervenções no andar superior do abdome, interferem na mecânica

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pulmonar e tendem a desenvolver alterações ventilatórias, determinada principalmente pela

disfunção diafragmática, provocada pelo estímulo cirúrgico.

Como descrito, diversos autores associam os distúrbios pulmonares provenientes de

cirurgias próximas ao diafragma à presença de dor, curativo compressivo e receio pós-

operatório, que dificultam a realização de exercícios respiratórios, prejudicam a mobilização

ativa, levam à hipoventilação e comprometem o estado geral do paciente.

Pelo exposto, tornou-se importante incluir na discussão com os sujeitos a

problematização sobre esses fatores. Emergiu da discussão, que os sujeitos têm ideia da

possibilidade de hipoventilação resultante da presença de dor e medo de respirar, advindos do

local da incisão cirúrgica, exemplificado pelos relatos de A2, A5, A6 e A13.

No caso do seu irmão, por exemplo, que a cirurgia dele é em cima [parte alta

do abdome], quando você vai respirar, dói, porque você vai expandir aquilo que cortou.... (Pesquisadora)

Não, e o pior de tudo é o medo que a gente fica [se colocando no lugar do

idoso] porque ainda vai ficar um pouco anestesiado. Então, além da anestesia a gente fica com aquele medo de se mover e estourar algum

ponto... Sei lá, acontece algo que a gente não quer que aconteça. (A2)

Geralmente quando o paciente vem de uma cirurgia, principalmente no

abdome, na parte alta, que ele vai respirar, dói, então, o que ele faz? (Pesquisadora)

Ele restringe a respiração, a respiração. (A5)

E isso pode trazer algumas complicações. (Pesquisadora)

É sim. (A5)

Se você for respirar e sentir dor, o que você vai tentar fazer?

(Pesquisadora) Respirar menos (Risos). (A6)

O que é que ela [CI] vai fazer se ela for respirar e ela sentir dor?

(Pesquisadora) Acho que a pessoa vai se contrair. Acho que ela vai respirar pequeno,

porque se contrai e se fecha. (A13)

Na intenção de favorecer a reflexão sobre a possibilidade de hipoventilação

relacionada à localização da cirurgia, demonstrei os movimentos torácicos no meu próprio

corpo e, também, no corpo do acompanhante. No diálogo, foram destacadas algumas causas e

efeitos do processo anestésico/cirúrgico sobre a mecânica respiratória:

Quando a pessoa faz cirurgia na barriga, principalmente aqui na parte alta, quando a pessoa vai respirar, será que vai, que pode sentir dor?

(Pesquisadora)

Acho que vai. (A12)

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Pode sentir dor né. Porque quando a pessoa respira... [inspiro, mostrando

movimento da caixa torácica e abdome] (Pesquisadora) Puxa, mexe com tudo aqui né. A barriga mexe com tudo. (A12)

Mexe com a barriga, mexe com o peito né? (Pesquisadora)

Com o peito, mexe com tudo. (A12)

Então se a pessoa sentir dor, quando ela respira, a senhora acha que ela vai respirar mais ou que ela vai respirar menos? (Pesquisadora)

Ele vai respirar menos. Ele fica até com medo. (A12)

Exatamente. Então aí que a gente precisa dar uma forcinha, pra que a pessoa não fique respirando curtinho e o pulmão não acabe sofrendo.

Porque às vezes é difícil respirar depois da cirurgia, por causa da dor que a

pessoa sente. (Pesquisadora) É, pode sentir muita dor. (A12)

Então se a gente for respirar e sentir dor, o que é que a gente vai fazer com

essa respiração, vai respirar maior [faço inspiração profunda], ou vai respirar menor? Porque se for respirar maior, eu vou encher meu peito de

ar e eu vou mexer com a cirurgia... (Pesquisadora)

Vai sentir dor né? (risos) (A3) Eu vou sentir dor. Qual é a tendência da pessoa fazer quando ela vai

respirar, que ela sente dor, o que ela faz com essa respiração?

(Pesquisadora) Começa a se prender [faz demonstração] medo de respirar, começa a ter

medo. (A3)

A anestesia e o trauma da cirurgia principalmente quando é na parte alta do abdome influencia no trabalho do pulmão. Então, a gente precisa ficar

atenta depois da cirurgia para que as complicações não aconteçam. As

drogas anestésicas contribuem para que no pós-operatório se tenha uma respiração mais leve, mais.... (Pesquisadora)

Mais lenta? (A5)

Mais superficial. Então, anestesia associada à cirurgia, associada a ficar

deitada, isso pode vir a ter algumas complicações, como pneumonia. (Pesquisadora)

Como há o corte, mexe por dentro, quando a pessoa volta [da cirurgia] pode sentir dor ao respirar. Por que dói? [Pedi ao idoso que participava

atentamente do diálogo:] “Respira pra mim, fundo, prá ver o que acontece

com seu tórax [ele atendeu a solicitação]. Subiu?”. (Pesquisadora) Os dois [sujeito e idoso] responderam: Um hum, subiu. (A6 e CI6)

Sobe. Aí movimenta aquilo que foi cortado [local da cirurgia] e dói.

(Pesquisadora)

Quando você faz uma cirurgia, como no caso da sua mãe, que você corta

aqui na parte de cima, que vai manipular essa parte do abdome, quando

você vai respirar [fazendo respiração para mostrar], você mexe. O que você acha que ela pode sentir, quando ela respirar e mexer aqui com o local onde

foi operado? (Pesquisadora)

Eu acho que ela pode sentir um vazio... tá, porque dói, foi mexida, então a gente sente um vazio dentro da gente. Mas num é, é porque realmente mexeu

mesmo com os órgãos dentro, a impressão é que tá vazio, que tá um vazio

aqui dentro, entendeu, eu acho que seja isso. (A10)

Será que ela pode sentir dor, quando ela mexer, que ela movimentar o local da cirurgia [fazendo inspiração para ajudar a refletir]. (Pesquisadora)

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Eu acho que ela pode sentir dor. Que mexeu, então acho que, no que mexe,

eu acho que pode sentir dor. (A10)

Os sujeitos foram estimulados à reflexão e consequente tomada de consciência sobre a

importância da respiração para a saúde do idoso em pós-operatório. Assim, eles atribuíram

valor aos exercícios de respiração profunda (ERP), preconizados para promover a expansão

pulmonar e melhorar o padrão respiratório.

Pelo exposto, alguns saberes e práticas de acompanhantes de idosos sobre o tema em

tela foram desvelados. A partir do acesso a esses saberes e práticas, as diferentes fontes de

aprendizagem desses sujeitos foram conhecidas e serão abordadas a seguir.

4.2. Fontes de informação e de aprendizagem acerca dos cuidados fundamentais

evidenciados pelos acompanhantes de idosos sobre a prevenção de complicações

respiratórias pós-cirúrgicas

Os saberes e práticas sobre as complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso e os

modos de preveni-las, revelados no processo de problematização, são oriundos de diferentes

fontes de informação e aprendizagem.

Neste século, as sociedades se confrontam com transformações aceleradas,

desencadeadas, principalmente, pela globalização e pelo desenvolvimento técnico-científico

da informação e da comunicação. Essas transformações vão surgindo como marca

incontestável da nossa civilização, consolidando a dimensão política, social, cultural e

educativa, imputando à informação o centro do processo civilizacional.

Assmann (2000, p. 7) afirma que “A espécie humana alcançou hoje uma fase evolutiva

inédita na qual os aspectos, cognitivo e relacional, da convivialidade humana se

metamorfoseiam com rapidez nunca antes experimentada”. As fontes de informação e de

aprendizagem, portanto, são bem diversificadas e “a construção do conhecimento não mais

produto unilateral de seres humanos isolados” (MARTINS, 2010 p. 113).

Nesta pesquisa, diante da expressão de saberes e práticas dos sujeitos do estudo sobre

o assunto ora abordado, que emergiram a partir do processo dialógico entre minha pessoa e os

acompanhantes no contexto da VPO, foi possível conhecer as fontes acessadas por esses

sujeitos na conformação desses saberes e estabelecer as relações de sentido para o seu uso no

cuidado ao idoso em pós-operatório.

As respostas dadas pela maioria dos acompanhantes trouxeram diversas situações que

denotam o „saber da experiência feito‟, como uma importante fonte de aprendizagem,

exemplificado nas falas descritas a seguir:

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Onde você aprendeu isso? (Pesquisadora)

Na experiência da vida (risos). (A2)

Com a vivência né, com o dia -a- dia né. (A3)

O mundo ensina né, a ter sabedoria né. (A9)

Ao se considerar que as experiências vivenciadas no cotidiano dos indivíduos se

configuram como uma forma de aprendizagem, depreende-se que “os acompanhantes não se

configuram como quadros em branco, onde os profissionais podem imprimir seus saberes e

prescrições. Ao contrário, eles trazem para o ambiente hospitalar suas próprias concepções

sobre saúde, doença, tratamento e cura” como sinalizado por Teixeira (2008, p. 116). Em se

tratando de acompanhantes idosos essa assertiva torna-se mais pertinente, devido à bagagem

de saberes construída ao longo dos anos.

Deste modo, para a enfermeira é importante reconhecer e valorizar a influência dos

fatores culturais no cuidado. Conforme assinalam Alvim e Ferreira (2007, p. 316):

Entendemos que a mudança de perspectiva no pensar e fazer da enfermeira no

campo da educação popular em saúde agrega seu papel educativo ao resgate da

pessoa como cidadã, participativa e consciente de sua condição de vida. Isto implica

em proposta de ação voltada ao diálogo e a intermediação de práticas e saberes que

dele resulta.

Assim sendo, considerar os valores culturais no contexto assistencial pressupõe-se

ofertar um cuidado congruente com a realidade de cada cliente, principalmente quando esses

clientes são os idosos e seus acompanhantes, pois, como apontam Gonçalves e Schier (2005 p.

278) “o paciente idoso e seu familiar acompanhante possuem jeitos próprios de perceber e

compreender o momento da hospitalização, da doença, enfim das suas próprias vidas.”

O reconhecimento e compreensão pelo profissional das diferenças culturais e de saberes

e práticas que lhes são comuns no âmbito do cuidado são aspectos importantes, uma vez que

estes são elaborados sobre a experiência concreta de quem a vive, distinta daquela vivida pelo

profissional (VALLA, 2000).

Rios e outros (2007, p. 505) compartilham deste pensamento ao afirmarem que os

profissionais e a população vivem as experiências de formas diferentes. “São sujeitos distintos

que têm um objeto em comum, porém o interpretam cada um adaptando-o à sua realidade e

contexto histórico, social e político.” Os profissionais oferecem o seu saber porque

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consideram que o da população é insuficiente e inferior, quando, na verdade, é apenas

diferente e por vezes insuficiente, afirmam os autores.

Ocorre que a inserção do acompanhante no cuidado dentro do espaço hospitalar, na

maioria das vezes, dá-se segundo a “lógica do modelo biomédico, na qual os saberes e

práticas de cuidado, advindos do senso comum, não são valorizados no contexto geral da

assistência, inviabilizando a participação com autonomia dos acompanhantes, já que esta

exige tomada de consciência da situação” (TEIXEIRA; FERREIRA, 2009a, p.751).

Em minha experiência profissional e, também, neste estudo, constatei que muitos

acompanhantes se mostram atentos aos cuidados prestados pela equipe de enfermagem para

reproduzi-los, quando necessários. Alguns, preocupados com a „reprodução‟ desses cuidados,

buscavam informações junto à equipe de enfermagem. Comumente, eles concebem o cuidado

realizado por profissionais, seja no âmbito hospitalar ou domiciliar, como sendo o mais

apropriado e indiscutível, por advir do saber acadêmico.

Assim, a observação dos cuidados prestados por profissionais no contexto hospitalar

representou um meio de aprendizagem dos sujeitos, como demonstrado nas falas de A2, A3 e

A13.

É que onde eu ando, principalmente em hospital... (...) Eu sou uma pessoa

muito observadora. (A2)

Esses acompanhamentos no hospital, né, as enfermeiras fazem, os

fisioterapeutas faziam, né, e aconselhar, né, a gente fazer. (A3)

(...) De escutar as pessoas falarem, médico... de tá dentro do hospital com as

pessoas, vira um pouquinho, vira pro outro lado. De observar. (A13)

A observação dos cuidados prestados por profissionais no contexto domiciliar,

também se constituiu em uma forma de aprendizagem conforme relato dos sujeitos. A11 que

prestou cuidados remunerados em domicílio, a uma cliente idosa, portadora do Mal de

Alzheimer e que recebia visita médica em casa, informa que seu conhecimento foi construído

na prática do cuidado, amparado nas orientações de uma profissional de saúde no âmbito

domiciliar. Vejamos a sua fala:

(...) Eu sei, que quando eu cuidava dessa idosinha [em domicílio], a

doutora, né, sempre me explicou isso, tinha que sentá-la, né, botá-la bem sentada e bem devagarzinho. (A11)

No entanto, o que se vê com frequência é que nem sempre o que é observado ou

orientado por um profissional passa por um processo consciente de aprendizagem, mas sim

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por uma absorção do conhecimento de forma acrítica, sem problematizá-lo na realidade

concreta do aprendiz. Como descrito por Martins (2010), geralmente, o que o cliente observa

é transferido automaticamente para o seu contexto, sem a devida crítica de sua pertinência ou

não, por entender que o saber proveniente da prática profissional deve ser sinônimo de

verdade e deve ser reproduzido sem questionamento.

Ao observar determinados cuidados realizados pelos profissionais no hospital e tentar

reproduzi-los em domicílio, tal conduta pode derivar alguns contratempos face às diferenças

próprias de cada ambiente ou, mesmo, de procedimentos e materiais que são peculiares do

hospital, nem sempre possíveis ou disponibilizados fora dele. Nessa direção, a autora citada

(p.114), referindo-se aos cuidados relativos à manutenção da ostomia de eliminação, objeto de

sua investigação, complementa que:

Existe a correlação do procedimento que é realizado no hospital como sendo de

melhor condição ou escolha para o cliente, não existindo, contudo, a flexibilidade

para novas aprendizagens ou opções de cuidado. Mesmo trazendo para a discussão

dialógica, outras possibilidades procedimentais, o cliente quase sempre correlaciona

com o que é feito no hospital, onde são usados determinados tipos de produtos,

entendidos por ele como sendo o de melhor qualidade para a execução de seu

cuidado.

Outras fontes de informação e aprendizagem enfatizadas pelas acompanhantes,

independente do nível de escolaridade e poder aquisitivo, foram os meios de comunicação,

principalmente os jornais e a televisão. Os programas de televisão voltados para as questões

de saúde são muito populares entre os sujeitos e vários tiveram seus nomes citados por eles,

como meio de aquisição de conhecimentos.

A internet não foi citada por nenhum dos sujeitos, mesmo os mais jovens, o que leva a

crer que esse importante meio de comunicação no mundo atual, ainda não está

suficientemente popularizado ou acessível a todas as classes sociais ou, ao menos, não de

forma semelhante ao interesse demonstrado pelos sujeitos à informação veiculada através da

imprensa falada e escrita, presente em diversas falas descritas seguir:

É, eu leio jornal, gosto de ver muita reportagem em televisão. Sempre pego

o jornal, dou uma lidazinha, gosto de ficar navegando na TV, procurando

reportagens pra aprender. Gosto muito de ouvir e ler reportagens sobre

isso, sobre esses problemas. ( A2)

Eu leio muito jornal (risos). Eu gosto de ler jornal, ele [CI] fica dizendo:

Você lê jornal de uma ponta à outra né. Eu gosto. Assisto muito TV, leio muito, leio livros. (A4)

A gente, às vezes, tem... escuta. Eu vejo muita televisão. (A7)

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Ah, de escutar, de ver em televisão. (A13).

A utilização, pelas acompanhantes, da mídia e da observação dos cuidados prestados

por profissionais, como meios de informação e aprendizagem, vem ao encontro da afirmação

de Vasconcelos (2004, p.70):

Atualmente há duas grandes interfaces de relação educativa entre os serviços

de saúde e a população: os grandes meios de comunicação de massa e convivência cotidiana dos profissionais com a população nos serviços de

saúde. A segunda interface, na medida em que permite um contato muito

próximo entre os vários atores envolvidos no processo educativo, permite

um rico aprendizado dos caminhos de uma educação em saúde que respeite a autonomia e valorize a criatividade dos educandos.

Entretanto, embora se reconheça a importância dos meios de comunicação como fontes

de informação e aprendizagem, há de se refletir criticamente não somente sobre as

metodologias utilizadas pelos diferentes tipos de mídia para informar a população, mas,

também, acerca da forma pela qual essa reproduz o que lhe é informado, nem sempre com a

devida atenção ou tomada de consciência sobre seus efeitos.

Nesse sentido, Dias e outros (2009, p.161), ao analisarem a influência dos meios de

comunicação na promoção da saúde, consideram que “(...) nem tudo que é veiculado é

praticado e utilizado de maneira benéfica pelos usuários da mídia, assim como nem todas as

informações devem ser assimiladas pelo público sem um exercício crítico e reflexivo a

priori.”

Postura semelhante é adotada por Freire (2000), que ao aplicar a pedagogia

problematizadora voltada à educação, coloca a tecnologia, principalmente o vídeo, a televisão

e a informática, a serviço do educando, mas não aceita a sua utilização de forma acrítica e

destaca que nunca foi ingênuo apreciador da tecnologia, não a diviniza, de um lado, nem a

diaboliza, de outro.

Ainda nesta direção, Vieira (2010, p. 41) observa que, via de regra, o conteúdo

oferecido pela mídia é frágil e superficial, “por isso, propor uma pedagogia crítica é duvidar da

informação e buscar fontes virtuais consistentes com uma base técnica e científica e para isto

faz-se necessária a avaliação das formas como serão tratados, analisados e trabalhados esses

conteúdos.”

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Desse modo, não se pode negar a relevância dessas reconhecidas fontes de informação

popular, como ficou claro nas falas de diversos acompanhantes, mas a qualidade das

informações veiculadas através da mídia deve ser vista com cautela.

Pelo exposto, as fontes de informação e aprendizagem reveladas pelas acompanhantes,

neste estudo, são provenientes de situações vivenciadas tanto consigo mesmas quanto por

familiares ou vizinhos, da observação dos cuidados prestados por profissionais no contexto

hospitalar e domiciliar, de experiências prévias como cuidadores remunerados de idosos e da

mídia falada e escrita.

Na busca por uma inter-relação sujeito-pesquisadora, a partir do diálogo e da

problematização, emergiram vivências e experiências desses sujeitos sobre o tema em apreço.

Nesse processo, foi possível a fusão de saberes, técnicos e populares, a caminho da construção

do plano compartilhado, no intuito de ofertar o cuidado ao idoso em pós-operatório que

pudesse, ao tempo em que promover-lhe bem-estar e conforto, prevenir ou minimizar

possíveis problemas respiratórios.

No próximo capítulo trataremos da construção do plano de cuidados compartilhado com

acompanhantes visando à prevenção de complicações respiratórias no pós-operatório de

clientes idosos.

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Capítulo V

Construindo o plano de cuidados no

diálogo com acompanhantes com vistas à

prevenção de complicações respiratórias

no pós-operatório de idosos

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CAPÍTULO V

CONSTRUINDO O PLANO DE CUIDADOS NO DIÁLOGO COM

ACOMPANHANTES COM VISTAS À PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES

RESPIRATÓRIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE IDOSOS

O fato de ter valorizado a bagagem de saberes e as experiências prévias, trazidas pelos

acompanhantes para o espaço de educação dialógica, viabilizou a construção do plano de

cuidados “com” os clientes e não “para” os clientes, numa perspectiva de aliança de saberes,

conferindo-lhes a possibilidade de exercer autonomia no cuidado ao idoso no período pós-

operatório.

Neste estudo, o plano de cuidados construído junto a acompanhantes se deu em bases

semelhantes àquelas presentes na tese de doutorado de Teixeira (2008 p.147), ao afirmar que

a elaboração desse plano “é a expressão escrita que permite operacionalizar os cuidados, é o

produto que materializou o cuidado compartilhado, pois sua elaboração se iniciou com o

diálogo/reflexão que permitiu que os saberes do sistema profissional e do sistema popular

fossem compartilhados”.

A exemplo da proposta e dos resultados da tese da autora citada, na pesquisa ora

apresentada, a entrevista dialogada e problematizada durante a visita pré-operatória,

viabilizou a elaboração de um plano de cuidados voltado para a prevenção de complicações

respiratórias pós-cirúrgicas em idosos. Esse plano foi construído, considerando saberes e

práticas de meu lugar social, como enfermeira, e aqueles trazidos pelos acompanhantes, além

dos resultantes da reflexão realizada durante a entrevista.

Concordo com Teixeira e Ferreira (2009b, p. 412), quando dizem que “é preciso

superar a dimensão prescritiva do cuidado e caminhar no sentido de reconhecer que na relação

entre a enfermeira e o acompanhante, ambos os sujeitos devem ter espaço e voz no processo,

com respeito às diferenças de valores e de expectativas”.

Conforme salientam Alvim e Ferreira (2007, p. 319) “O exercício da prática de

educação popular em saúde pressupõe abertura, disponibilidade para ouvir o outro,

horizontalidade na relação interpessoal e na ação educativa em si, pois, o ato participativo é

humanizante”. Desse modo, a partir da questão “o que fazer antes e depois da cirurgia para

evitar que o idoso venha a ter problemas no pulmão?”, foi revelada uma série de cuidados

fundamentais à prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas.

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Como vimos, dentre as complicações respiratórias mais frequentes no pós-operatório

estão a atelectasia, a pneumonia, a tromboembolia pulmonar e a falência respiratória

(RODRIGUES; ÉVORA; VICENTE, 2008, p.469). Para intervir nesse quadro, alguns

cuidados ao idoso são importantes de serem implementados no período pós-operatório:

incentivo à mobilização no leito; uso liberal da posição sentada; deambulação precoce;

estímulo à realização de exercícios respiratório (ERP) e incentivo à tosse; e hidratação

adequada (SILVA; RODRIGUES; CESARETTI, 1997; FERNANDES; RUIZ NETO, 2002;

SMELTZER; BARE, 2009).

Faz-se necessário mencionar que a esses cuidados outro foi acrescido, advindo do saber

técnico-científico da pesquisadora, por sua relevância para evitar complicações respiratórias: a

prevenção de broncoaspiração.

Essa afirmativa está pautada em Souza e outros (2007, p. 148), quando explicam que

“os reflexos de proteção laríngeos estão comprometidos no paciente idoso, predispondo a

complicações como pneumonia por broncoaspiração” no pós-operatório e em Nettina (2007)

que considera a aspiração uma complicação séria, responsável por um alto índice de

mortalidade. Para a autora, o paciente cirúrgico idoso está constantemente em grande risco de

aspiração.

Tais cuidados foram problematizados durante a produção de dados da pesquisa junto a

acompanhantes a partir de seus saberes e/ou experiências prévias e integraram o plano de

cuidados com vistas a sua implementação no pós-operatório do cliente idoso.

Concordo com os argumentos de Teixeira, (2008, p. 177) de que no contexto

profissional, o cuidado prestado ao cliente precisa ser sistematizado, ou seja, planejar as ações

através do processo de enfermagem. “O planejamento consiste na determinação de um plano,

elaborado pelo enfermeiro para assistir o cliente, com vistas ao alcance de objetivos/metas

traçados. Essa fase de planejamento engloba a elaboração do plano de ações que será

executado.”

Assim, apresento a seguir os cuidados que integraram o plano compartilhado com as

acompanhantes, considerando os seus saberes e práticas revelados no processo dialógico.

Mobilização no leito: mudar de decúbito e sentar

As mudanças de decúbito e a posição sentada, obtida pela elevação da cabeceira do

leito, são importantes ferramentas para a prevenção de complicações respiratórias, uma vez

que contribuem para otimizar a função pulmonar. Ambas podem estimular a tosse e a

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expectoração e, assim, aumentar a ventilação dos pulmões. É um cuidado que pode ser

realizado logo após o procedimento cirúrgico, pois, de acordo com Smeltzer e Bare (2009), o

cliente poderá ser colocado em posição lateral no pós-operatório, mesmo antes de recuperar a

consciência.

Cabe lembrar que os benefícios da movimentação não se limitam à prevenção ou

minimização de complicações respiratórias. Estendem-se, também, à prevenção de outras

sérias complicações, como TVP e UP, uma vez que “as mudanças de posição estimulam a

circulação e aliviam áreas de pressão” (NETTINA, 2007, p. 89). Assim sendo, a mobilização

no leito é um cuidado fundamental a ser realizado junto ao idoso em pós-operatório.

Na discussão sobre como prevenir complicações respiratórias no pós-operatório,

quando questionados: “o que fazer para evitar que o idoso venha a ter problemas no pulmão

depois da cirurgia?”, foi revelado que a mobilização é um cuidado bastante difundido no

senso comum. Os sujeitos ressaltaram a importância das mudanças de decúbito para preservar

a mecânica pulmonar do idoso no período pós-operatório, como mostram os recortes de

diálogo com A2, A3, A4, A7, A10, A12 e A13.

Eu acredito que a gente tem que pedir pra ele [o idoso] se movimentar e se

ele não puder se movimentar sozinho, a gente ajuda. (A2)

Fazer movimentar, né. O idoso se movimentar, se mexer, se virar, virar, não

ficar na mesma posição só. (A3)

É, eu viraria ele prá que ele tivesse mais condições de respirar ou levantar

um pouco, né, respirar... encher o pulmão de ar prá ele ficar mais à

vontade. (A4)

(...) Eu sei que é assim, que fica muito tempo assim deitada, vira um bucado

de lado pra... dá posição pro pulmão até funcionar um bocado. Depois

vira... direito, vira outra vez pra esquerda, faz aquele movimento e fica. (A7)

Acho que tá sempre virando, né, virar de lado. (A10)

Ele tem que virar prum lado pro outro né. Falando com ele tem que virar,

vamos virar, senão você apanha outra coisa e ficar pior, tem que

movimentar o corpo, num ficar parado, num pode ficar parado, tem que

movimentar, porque geralmente é assim né a gente tem que ficar sempre se movimentando, porque senão a dor acomoda, a dor pára ali e fica ali

paralisada. E a pessoa se mexendo, tendo... se exercitando mais, acho que...

é melhor. (A12)

(...) falar pra ele sentar um pouco, pra ele virar prum lado, pra ele virar pro

outro. Porque isso até quando ele ficou com a sonda [vesical]... eu falei isso com ele, porque ele chegava, tava dando ferida até nas costas. (A13)

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Ao sinalizarem as mudanças de decúbito, como prevenção para complicações

respiratórias, os sujeitos foram indagados: “o que acontece com o pulmão se a pessoa se virar

na cama?” Eles mostraram que têm ideia do modo como a mobilização atua sobre a dinâmica

pulmonar, ou seja, que a lateralidade corporal favorece a expansão e desloca os fluidos

pulmonares, resultando em melhores condições respiratórias:

(...) Se a gente virar, se movimentar, eu acredito que dentro da gente, ele

[pulmão] deve sentir também a posição que a gente tá virando. (...) porque se a gente vai ficar só... numa posição só, a gente sabe lá o que está

acontecendo lá dentro, então, a gente tem que se virar, se ajeitando prá... se

tem, se ficou algo, se tem algo, ir se movimentando também, né. (A2)

(...) eu virava mais porque, pra num... dizia que era pro pulmão funcionar

melhor, pra não criar água, num sei um lance assim, não sei se é. (A7)

Não juntar catarro. (Pesquisadora) É isso aí. (A7)

Pára de comprimir o pulmão. (A13) E facilita o funcionamento do pulmão? (Pesquisadora)

A respiração, facilita, eu acho que é isso né. (A13)

A5 e A6 que não trouxeram esse saber de suas experiências anteriores, a partir do

diálogo com a pesquisadora demonstraram interesse na discussão sobre a importância da

mobilização para a prevenção de complicações respiratórias:

Acho bom, acho bom, pra facilitar, né. Da outra vez [cirurgia realizada anteriormente na idosa] ficou. (A5)

Procurar fazê-la caminhar, alguma coisa assim? Ir ao banheiro, levantar. (...) Virar... de lado? Deve ajudar, né. (A6)

As mudanças de decúbito devem ser realizadas no mínimo a cada 2h, conforme

recomendado por Smeltzer e Bare (2009). A importância da frequência de tais cuidados

esteve presente nas falas de alguns acompanhantes:

Acho que tá sempre virando, né, virar de lado. (A10)

Tem que virar várias vezes ao dia, né. Como eu... já cuidei e... fazia isso

[referindo-se à sua experiência prévia como cuidadora remunerada]. (A11)

Na impossibilidade de mudar de posição, A7 citou como alternativa para promover a

mobilização, desencostar o cliente do leito a fim de aliviar a pressão pulmonar, estratégia

utilizada por ela em experiências prévias de cuidado conforme descreveu:

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Se [o idoso] não puder virar, segura um bucadinho as costas dele, pra ele

não fazer muita força, então, deixa a gente segurar um bucado as costas... (A7)

Ao propor a mobilização passiva20

, como opção à impossibilidade de mobilização

ativa21

, a acompanhante idosa, de baixa escolaridade e que já cuidou de vários familiares no

contexto hospitalar e domiciliar, segundo seu relato, ratificou o valor do saber popular

socialmente construído a partir de suas experiências prévias. Reconhece-se aí, a capacidade e

a criatividade das pessoas leigas para desenvolverem maneiras próprias de cuidar. Essas

maneiras são resultantes de saberes provenientes de diferentes fontes. Ou seja, não é um saber

restrito ou genuinamente popular, mas retrata um conjunto de saberes que vão sendo tecidos

na rede de relações e interações com outros saberes, populares e científicos.

A fala de A7 demonstra que o estudo atendeu aos princípios apontados por Trentini e

Paim (1999) para uma pesquisa convergente-assistencial. O diálogo levou a acompanhante à

reflexão sobre as alternativas de solução para problemas encontrados na prática. Dessa forma,

o diálogo produziu dados para a pesquisa e convergiu para a prática assistencial.

No entanto, embora a mobilização tenha sido reconhecida como um cuidado

importante pelas acompanhantes, os curativos, talas ou drenos, costumam intimidar o cliente a

mudar de posição, levando-os à restrição de movimentos (SMELTZER; BARE, 2009).

Acrescento, pela minha experiência cuidando de pessoas em situações cirúrgicas, que a

presença de hidratação venosa também pode inibir as mudanças de decúbito, fato que foi

trabalhado com o acompanhante e o próprio cliente idoso durante a entrevista dialogada, para

ajudá-los a superar o medo de perder o acesso venoso durante a mobilização. Outro ponto que

releva a convergência da pesquisa com a assistência e as mudanças impressas à minha prática,

como enfermeira.

Sentar o cliente idoso no leito, auxiliado pela elevação da cabeceira da cama, foi outro

cuidado reconhecido como importante que emergiu do diálogo com os acompanhantes. As

falas de A3 e A8 exemplificam a noção que os sujeitos trouxeram sobre a prevenção de

broncoaspiração:

A senhora sabe o que deve fazer se ele sentir vontade de vomitar? Ou se ele vomitar? (Pesquisadora)

Tem que elevar a cabeça, né? (A8)

Elevar a cabeça, ou virar de lado, pra quê? (Pesquisadora)

20 Exercício executado, no caso deste estudo, pelo acompanhante sem a participação do cliente idoso

(SMELTZER; BARE, op. cit.). 21 Exercício realizado pelo cliente idoso, sem ajuda ( Id.).

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Pra ... não, não sufocar. (A8)

É perigoso também beber água deitado, né, porque a água pode voltar pro pulmão (Pesquisadora)

É, isso aí eu também falava pra mamãe também, não podia dar água a ela

deitada (A8)

Se a pessoa tiver vomitando, tiver de cabeceira baixa, pode acontecer

alguma coisa, algum acidente? (Pesquisadora)

Ah, pode sim, com certeza. Pode sufocar, pode... voltar e ir até pro pulmão (A3)

O universo vocabular próprio de A3 e A8 evidencia práticas habituais de cuidado que

revelam seus conhecimentos sobre a prevenção de broncoaspiração, uma séria complicação

pós-operatória, principalmente em idosos, como foi descrito.

Assim, sentar o cliente idoso no leito, além dos benefícios ao sistema respiratório,

permite ao mesmo se alimentar com conforto e segurança enquanto restrito ao leito,

minimizando o risco de engasgo e aspiração de alimentos. Para tanto, de acordo com Smeltzer

e Bare (2009), alguns cuidados precisam ser tomados: o paciente tem de estar consciente; a

cabeceira do leito deve ser elevada lentamente; se o paciente se queixar de tonteira, abaixar a

cabeceira vagarosamente e só elevar novamente 1 ou 2 h depois, se a tonteira desaparecer.

Tais cuidados foram propostos aos sujeitos, a fim de prevenir intercorrências durante a

mobilização do cliente idoso em pós-operatório imediato.

Sentar fora do leito e deambular

Estimular o cliente idoso a sentar fora do leito e a deambular depois da cirurgia,

também exige que alguns cuidados sejam observados. O processo é progressivo e algumas

etapas são seguidas, em prol da segurança tanto do idoso quanto de seu acompanhante, no

caso deste estudo. O primeiro passo é sentar o idoso no leito, até que qualquer vestígio de

tonteira tenha desaparecido; a seguir ajudá-lo a ficar de pé ao lado da cama e só começar a

andar após acostumar com a posição vertical (p. 349).

A deambulação precoce é uma das melhores medidas preventivas para as

complicações respiratórias, sobretudo, em pessoas idosas. Estimular o cliente a andar,

aumenta o metabolismo e a ventilação dos pulmões, podendo melhorar todas as funções

orgânicas. Se possível, é recomendável sair do leito no primeiro ou no segundo dia pós-

operatório, muitas vezes, no mesmo dia (p. 355).

Além de reduzir a incidência das complicações respiratórias, a deambulação precoce

diminui a possibilidade de distensão abdominal por estimular a peristalse; reduz a ocorrência

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de TVP ao prevenir a estase do sangue e aumentar a velocidade da circulação nas

extremidades; acelera a cicatrização e minimiza a dor das feridas abdominais; e contribui para

que a frequência do pulso e a temperatura retornem rápido ao normal. Consequentemente, a

permanência no hospital é menor e menos dispendiosa (SMELTZER; BARE, 2009).

Assim, incentivar o cliente a andar prematuramente após a cirurgia é um cuidado

essencial para a prevenção de complicações. No entanto, há de se ter cuidado para não

exceder a tolerância do paciente. Em se tratando de cliente idoso, essa observação se faz

sobremaneira importante, a fim de prevenir quedas e suas complicações como fraturas e danos

à cirurgia. “As quedas entre pessoas idosas constituem importante problema de saúde pública

devido à sua alta incidência, às complicações para a saúde e aos altos custos assistenciais”

(CARVALHO; COUTINHO, 2002, p.448).

Portanto, é fundamental assegurar a integridade física do idoso, questão problematizada

com as acompanhantes no decorrer das entrevistas dialogadas. A preocupação com a

segurança do cliente idoso em pós-operatório teve lugar na construção do plano,

especialmente, por ser comum encontrar a figura do acompanhante idoso, ou seja, idoso

cuidando de idoso, realidade essa também presente neste estudo. Assim, o risco de uma queda

poderia causar trauma a ambos, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico.

A importância da deambulação para a prevenção de complicações respiratórias emergiu

das falas dos sujeitos. Em razão do exposto, a discussão sobre a deambulação incluiu as

medidas de segurança pertinente, como descrito a seguir:

Caminhar, sentar... Sem cansar muito. (A5)

Sem cansar muito. Vê se não tá tonta [CI]. Pode levantar a cabeceira

primeiro, experimentar, sentar na borda da cama, vê se não tá tonta... E tem a equipe de enfermagem que você pode chamar, pra qualquer coisa que a

senhora precisar. (Pesquisadora)

De noite mesmo ele levanta, não? (A7)

Dependendo da hora que ele chegue [do CC] até daria pra ele levantar à

noite, mas a gente precisa ter cuidado com questão de tonteira, tá? Sentar na cama não tem problema, mas para levantar a gente tem que ter um pouco

mais de cuidado. (Pesquisadora)

Ah, eu, eu aconselharia a andar. Andar, respirar, né, o ar livre, é, é, ter mais é... ventilação né (...). Andar respirando, devagarinho. (A10)

Exatamente, porque você pode fazer uma tonteira, por isso que a gente não

vai levantar num primeiro momento né. Vai sentar primeiro na cama... (Pesquisadora)

Até uma pessoa normal, quando você, você levanta muito rápido, fica meia

tonta. (A10)

Você sabe por que quando você levanta assim muito rápido você fica meio tonta? (Pesquisadora)

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Dá um problema na, pressão né, queda de pressão. (A10)

É e você pode até cair. Por isso que a gente não pode levantar muito rápido, você pode fazer uma tonteira e até cair. (Pesquisadora)

A pressão é muito rápido né. Principalmente devido à idade também. (A10)

É, com a idade as coisas ficam mais delicadas, a gente sabe disso.

(Pesquisadora)

A2 reconheceu, por experiência própria, a necessidade de cuidados visando à segurança

do cliente idoso ao incentivá-lo a deixar o leito, como descrito a seguir:

E com relação a sentar e andar, o que é que você acha? (Pesquisadora)

A sentar... eu vou falar porque eu já tive a experiência, né (...) eu acho

importante pra você... porque se você for ficar só deitado, vai esquecer dos seus movimentos do dia-a-dia e você vai sentir falta. Então é melhor você

sentar, dá um tempinho e depois dá uns passozinhos. (A2)

Dá esse tempinho, por quê? (Pesquisadora)

Porque, às vezes, você está com um pouco de tonteira... Porque você tá só deitada, aí, quando você levanta você sente um pouco tonta. Então, você tem

que ficar sentada um tempo, uns 15 a 20 minutos. (A2)

Então, antes de levantar, deve primeiro sentar na cama? (Pesquisadora) Eu acho bom porque a gente vai... No casa, a nossa cabeça vai

memorizando o que a gente vai querer fazer. (A2)

A preocupação com a segurança do cliente idoso em pós-operatório, já referida, fez

com que no plano de cuidados compartilhado não fosse incentivada a deambulação nas

primeiras horas do pós-operatório. Essa medida foi problematizada levando em consideração

fatores como o retorno à enfermaria no final da tarde e a permanência do idoso em jejum até o

dia seguinte, o que aumenta o risco de tontura e queda, inclusive, podendo afetar também o

acompanhante idoso.

Assim, integraram o plano nas primeiras horas, após a cirurgia os cuidados a serem

realizados com os idosos no leito, como respiração profunda, mudanças de decúbito e sentar

com auxílio da elevação da cabeceira da cama.

Vale ressaltar que foi considerada a possibilidade do cliente idoso levantar

precocemente para utilizar o vaso sanitário, dada a dificuldade que algumas pessoas

apresentam em urinar/evacuar deitadas e não se julgar pertinente submetê-lo a um cateterismo

vesical, pois, além de ser um procedimento invasivo, há risco de infecção. Quase sempre os

pacientes não são capazes de urinar enquanto estão deitados no leito, mas, quando é possível

sentar ou levantar, eles urinam sem dificuldade (SMELTZER; BARE, 2009).

Dessa forma, antes de auxiliar o idoso na ida ao banheiro, foi negociado com os

acompanhantes no pós-operatório tentar primeiro fazer com que o idoso utilizasse o patinho

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em pé e, a idosa, a comadre (com auxílio da cadeira higiênica) ambos próximos ao leito,

solicitando ajuda à equipe de enfermagem, se necessário. Em caso de não surtir efeito,

conduzi-los ao banheiro, como no caso da cliente idosa acompanhada por A3:

Até levantou e foi pro banheiro, né? (risos). A primeira vez que ela foi ao

banheiro, a menina [profissional de enfermagem] já estava aqui, já não

precisei chamar, ela ajudou, ajudou, né. Eu também fui ajudando e ela

ajudou. Mas, na madrugada não, na madrugada eu levantei com ela sozinha e fomos. (A3)

Exercícios respiratórios: ERP e o estímulo à tosse

Os ERP integram os cuidados preconizados para restaurar a mecânica pulmonar no

pós-operatório e interferir no desenvolvimento de complicações respiratórias. Tais exercícios

apresentam vantagens em relação a outros cuidados, pois eles podem ser realizados tão logo o

cliente esteja consciente, em caso de anestesia geral e atua diretamente sobre o pulmão. A

técnica é de fácil realização na qual não se utilizam recursos mecânicos.

Os ERP devem ser executados através de inspiração nasal lenta e uniforme, seguida de

expiração oral relaxada, para promover a expiração mais completa e o esvaziamento dos

pulmões por inteiro. As mãos devem ser colocadas sobre o abdome para aumentar a

percepção do diafragma e sua função na respiração. A literatura sugere que esses exercícios

sejam realizados a intervalos de uma ou duas horas, mas não há consenso sobre a frequência

ideal ou se o aumento da frequência acrescenta benefícios ao tratamento (RENAULT et al,

2009).

De acordo com Smeltzer e Bare (2009, p.319), uma das metas do cuidado de

enfermagem no pré-operatório é “ensinar [na orientação teórica deste estudo, discutir] ao

paciente como promover a ventilação pulmonar e a oxigenação sanguínea após a anestesia

geral”, por meio de ERP. Portanto, fez-se necessário incluir na discussão com os sujeitos, o

procedimento para a execução desses exercícios.

Diante da importância do músculo diafragma para a respiração e principalmente para a

realização de ERP, foi apresentada aos sujeitos uma foto de um pulmão exibindo a árvore

brônquica e o diafragma apoiando a sua base (Figura 3). Assim, na entrevista dialogada,

foram abordadas noções de anatomia e fisiologia, tendo a participação ativa e atenta das

acompanhantes:

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Figura 3 - Imagem do interior do pulmão + diafragma

Fonte: BARROS, 2005.

Isso é o músculo diafragma [Figura 3]. Já ouviu falar? (Pesquisadora)

Já. (A3) É o músculo mais importante da respiração. Então, quando a gente precisa

fazer uma respiração profunda, um exercício respiratório [faço

demonstração e A3 me acompanha], é nele que a gente tem que atuar.

(Pesquisadora) Risos. (A3)

Isso aqui, é esse músculo que a gente tem aqui [mostro localização do diafragma] e ele é super importante para a respiração. Por isso pra respirar

bem, pra respirar profundo, grande, a gente tem que usar essa musculatura.

(Pesquisadora)

O tórax, chama o tórax? (A7) Esse aqui é o diafragma. O tórax é essa parte aqui de cima. (Pesquisadora)

Ah, tá. Respiração profunda, ele pode fazer na hora que chega? (A7)

Na hora que ele chegar, não tem problema, enchendo bem o pulmão, puxando o ar devagar pelo nariz, sem pressa, não é pra ter estresse.

(Pesquisadora)

É mesmo deitado, né? (A7) Deitado, é deitado mesmo. (Pesquisadora)

O diafragma é esse músculo, ele separa aqui, o tórax do abdome. Então a

gente pra respirar precisa dessa musculatura. Isso aqui [Figura 3] é essa musculatura que a gente tem aqui [mostrando a localização do diafragma],

que é o músculo diafragma e que ajuda a gente a respirar. (Pesquisadora)

Um hum... interessante [segue olhando com atenção outras fotos do aparelho respiratório disponibilizadas]. (A8)

Tá escrito aqui, não sei se dar pra senhora enxergar? (Pesquisadora) Dá, dá, diafragma é. (A12)

Esse músculo, é esse que a gente tem aqui [mostro localização do

diafragma], é o músculo mais importante da respiração. (Pesquisadora)

É. (A12)

Após discussão sobre os fatores que prejudicam a mecânica pulmonar no pós-

operatório, as alterações em decorrência do envelhecimento que fragilizam os pulmões dos

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idosos e demonstrado a importância do diafragma para a respiração, foram propostos ERP ou

respiração diafragmática como medida para otimizar a função pulmonar do idoso depois da

cirurgia. Foi destacado também que os ERP ajudam o paciente a relaxar (SMELTZER;

BARE, 2009).

Como relatado, o debate com os sujeitos sobre os riscos de distúrbios ventilatórios,

decorrentes de alguns fatores anestésico/cirúrgico e suas consequências sobre a saúde do

idoso, imputou valor às ações de cuidado voltadas para a prevenção de tais complicações.

Assim, a proposição de incentivo à realização de ERP ao idoso em pós-operatório obteve total

adesão tanto por parte das acompanhantes quanto dos clientes idosos.

Os ERP foram executados pelo idoso em pós-operatório imediato, sob incentivo e

supervisão das acompanhantes, como coadjuvante para a prevenção ou minimização das

complicações respiratórias. Foi, ao lado da mobilização no leito, o cuidado mais realizado

pelos acompanhantes ao idoso.

A exemplo da discussão sobre causas e efeitos do processo anestésico/cirúrgico sob a

mecânica respiratória, para facilitar o entendimento e a tomada de consciência acerca da

importância de incentivar e/ou ajudar o idoso na realização dos ERP no pós-operatório,

demonstrei no meu corpo e no corpo do acompanhante sobre como realizar a respiração

profunda:

Vamos fazer a respiração profunda? Então a gente tem que usar essa

musculatura aqui né, do abdome. Coloque as mãos aqui em cima do diafragma, vai encher o pulmão devagarzinho, bem devagarzinho mesmo,

puxando o ar pelo nariz até lá embaixo, até ver se vai acontecer alguma

coisa com a mão, vamos lá, concentração. Puxando bem devagarzinho pelo

nariz, com a boca fechada [acompanhante inspira], agora solte devagarzinho pela boca [acompanhante expira] (risos). (Pesquisadora)

(...) encha bem o pulmão puxando o ar devagar pelo nariz e soltando pela boca, fazendo biquinho. Eu vou fazer junto com a senhora. Então,

enchendo...esvaziando [inspiramos e expiramos juntas]. (Pesquisadora)

Parece que é tipo uma acomodação, né. Aí, a gente tenta buscar da barriga,

eu não consigo. Eu até já... tentei, mas eu não sei. (A2)

Você consegue. Você coloca a sua mão na barriga, aí você vai inspirando

devagarzinho pelo nariz. Lentamente, não pode ter pressa, lentamente... Aí

você vai sentir que a sua barriga vai subir, a gente põe a mão aqui embaixo [posiciono a mão de A2 sobre o diafragma], a gente vê que a barriga vai

subir. Depois você solta devagarzinho pela boca. (Pesquisadora)

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Foi utilizada, também, uma bola de soprar22

, que em algumas regiões do país é

conhecida como bexiga (adaptada para ser acoplada a uma seringa de 20 ml), para simular a

dinâmica pulmonar e levar noções sobre atelectasia e hipoventilação. Simultaneamente aos

movimentos de inspiração/expiração, era insuflada e esvaziada a bexiga, correlacionando à

expansão/retração pulmonar.

Assim, a mecânica pulmonar, ao ser codificada pela bola de soprar e descodificada no

aprofundamento do diálogo, auxiliou as acompanhantes na tomada de consciência sobre o

assunto em discussão.

Figura 4 - Bola se soprar/bexiga com adaptador

Fonte: Criação da pesquisadora

A seguir, os recortes de diálogo com A5 e A7 que exemplificam esse ponto:

(...) encher todo o pulmão de ar. (...) e esvaziar bem, porque da mesma

forma que a gente enche bem, tem que esvaziar bem pra que todos os

espaços do pulmão [fazendo demonstração com a bola de soprar] sejam

preenchidos e esvaziados e o ar seja renovado. Entra e sai ... entra e sai... [o ar]. Então inspira profundamente... e solta devagarzinho pela boca... faça

biquinho pela boca. Ó, [pesquisadora expira junto com a idosa para

demonstração, sob a observação de A5]. Isso inclusive é um excelente exercício de relaxamento. (Pesquisadora)

Legal, legal. (A5)

O movimento do pulmão é esse, né, [inspiro e expiro mostrando a expansão e

retração pulmonar, o movimento de subida e descida do tórax], sobe e desce.

(...) Então, o que a gente tem que fazer com ele [pulmão] é assim. [demonstração com a bola de soprar], encher.... (Pesquisadora)

E esvaziar. (A7)

Esvaziar. Encher bem, esvaziar bem, pra que esse ar seja sempre renovado, pra que não vá ficando ar em lugar nenhum, sem ser renovado, um ar

viciado. (Pesquisadora)

Delícia (risos) [A7 inspirando/expirando]. (A7)

22 A título informativo: O artigo “O caminho do ar: O sistema respiratório em estudo” (DIAS; FERNANDES;

OLIVEIRA, 2010) ), orienta a construção de um “pulmão educativo”, que só foi descoberto pela pesquisadora

posteriormente à produção dos dados.

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No movimento reflexivo, proporcionado pelo diálogo problematizador, A7 destaca:

Por isso que sopra muita bola. A minha irmã soprava bola, eu ia com ela pra soprar aquelas bolas. (A7).

No senso comum, o saber se constrói por associação. A acompanhante teve a

capacidade de associar a experiência vivenciada no âmbito hospitalar, ao acompanhar o

familiar em pós-operatório de cirurgia cardíaca à situação atual. Ela reconheceu, a partir do

diálogo e da representação dos movimentos de expansão e retração pulmonar, através da bola

de soprar, os exercícios respiratórios praticados pela irmã e sua finalidade.

Esse exemplo ilustra a transitividade da consciência, na medida em que a consciência

ingênua de A7 sobre o fenômeno, após o exercício de reflexão estimulado pelo diálogo

problematizador, transformou-se em consciência crítica. E, certamente, o saber novo ou

reconstruído, derivado desse processo será utilizado no cuidado concreto ao idoso

acompanhado em pós-operatório.

O movimento das orientações dialogadas levou A11 a refletir criticamente sobre outras

situações de cuidado das quais participou:

A senhorinha que teve... três infartos lá no meu trabalho pago [como

cuidadora de uma idosa no domicílio], a fisioterapeuta dela, agora você tá falando isso, eu tou me lembrando, ela faz esse tipo de exercício nela.

Porque ela tem também, que ela tem muita água no... pulmão, de vez em

quando dá. Ela tem porque ela já teve três infartos, então o médico falou que ela tem muita facilidade. Aí ela faz esse tipo de exercício. Ela faz... A

fisioterapeuta diz que é pro pulmão dela. Prá poder... abrir, respirar

melhor. (A11)

A4, através de gestos e linguagem metafórica, trouxe inclusive, noções sobre

prevenção de atelectasia:

Acho que porque ele vai entrar ar, né... vai ficar mais cheinho, né, não vai

ficar...[bate as palmas das mãos uma na outra], como diz a minha filha...“os

velcros” [se referindo aos alvéolos] não vão ficar colados, não (risos). (A4)

O diálogo qualificou a associação que as acompanhantes fizeram sobre os fatores que

favorecem o desenvolvimento de complicações respiratórias e os cuidados para evitá-las ou

minimizá-las. Durante o processo de discussão, as reflexões, a partir das experiências

concretas de cuidado, vieram à tona, ratificando a forma como é construído o conhecimento

do senso comum. Por meio dessa estratégia, eles puderam compreender melhor a situação-

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problema e foram capazes de construir um novo conhecimento, que certamente será mais

efetivo e refletirá no cuidado ao idoso em pós-operatório.

Vale lembrar que as pessoas portadoras de doença pulmonar, especialmente de DPOC,

devem realizar os exercícios de respiração profunda com cautela, pois podem desencadear

crise de dispneia. É oportuno destacar que aos três portadores de doença pulmonar que havia

nesse estudo, foi dada especial atenção no momento da realização desses exercícios

(respirações ainda mais lentas e rítmicas que os demais clientes), não tendo sido constatada

nenhuma intolerância aos mesmos tanto no pré quanto no pós-operatório.

As acompanhantes, bem como, os idosos, foram orientados para, diante de qualquer

desconforto respiratório durante os ERP, cessá-los. E, para compensar, fazer uso liberal da

mobilização, ingestão hídrica e estimular a tosse se tolerada, uma vez que esses idosos, devido

às patologias pulmonares, eram mais susceptíveis às complicações respiratórias no pós-

operatório.

Para auxiliar na superação da dor, caso essa se fizesse presente e prejudicasse a

realização de ERP, foi sugerido aos sujeitos recorrer à equipe de enfermagem e solicitar a

administração de analgésico prescrito, o que não se fez necessário.

Assim como os ERP, o estímulo à tosse é outro exercício respiratório importante a ser

realizado pelo idoso no pós-operatório, visto que a tosse é considerada a principal defesa do

organismo contra o acúmulo de secreções nos pulmões, “atuando na limpeza das vias aéreas

inferiores, de onde propulsiona secreções e outros materiais estranhos acumulados”, como

assegura Palombini et al (2001, p. 55). Logo, “a tosse é essencial para o deslocamento e a

expectoração da secreção pulmonar acumulada, garantindo a proteção do sistema respiratório,

sua higiene e equilíbrio, diminuindo assim o risco de atelectasias e infecções” (TONELLA;

ARAÚJO; SILVA, 2006, p. 634).

Pelo exposto, depreende-se que o incentivo à tosse pode tornar-se um aliado na

prevenção de complicações respiratórias. No entanto, tossir é um procedimento de grande

esforço que gera dor e medo de causar agravos ao procedimento cirúrgico, como ratificado

pelas falas dos sujeitos quando interpelados: “o que acontece quando a pessoa tosse depois de

uma cirurgia?”:

Sente dor né. (A4)

A gente fica com medo de tossir e arrebentar ponto e quando é - Ah! Eu vou

tossir e vai ofender a cirurgia. (A5)

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(...) a gente fala que vai tossir pode...sacudir muito o corpo por causa da

cirurgia, prejudicar aonde operou, porque se tomou ponto, então não sei.

(A13)

Para interferir nesse quadro, é recomendo a administração de analgésicos e a contenção

do local da cirurgia (se houver incisão torácica ou abdominal), que ajudam o cliente a vencer

a dor e o medo de que o esforço para tossir abra a ferida operatória. Ressalta-se que o

estímulo à tosse é contra-indicado em alguns tipos de cirurgias, como oftálmicas e

intracranianas (SMELTZER; BARE, 2009).

O movimento de discussão sobre o estímulo à tosse foi conduzido a partir de situações

vivenciadas no cotidiano, para promover a reflexão dos acompanhantes quanto à efetividade

da tosse como mecanismo de limpeza e defesa das vias aéreas contra o acúmulo de secreções.

Pelas respostas obtidas à pergunta: “o que acontece quando a pessoa está com catarro e

tosse?”, percebe-se que os sujeitos reconheceram a importância desse exercício respiratório

para a restauração da saúde pulmonar:

Se tiver com catarro, elimina catarro. (A6)

Expectora né. (A8)

A gente bota pra fora. (A11)

Você solta a secreção. (A13)

Elimina catarro. Então a tosse serve para ir limpando o pulmão, a tosse faz a higiene do pulmão. A tosse é a defesa do organismo, a não ser quando é uma

tosse alérgica, que você fica tossindo o tempo inteiro, aí não é benéfico, mas

quando está com catarro, a tosse é a defesa do pulmão, pra eliminar o catarro. (Pesquisadora)

Prosseguindo com o diálogo, focou-se a percepção dos sujeitos sobre a viabilidade do

ato de tossir depois de uma cirurgia, em virtude dos aspectos indesejáveis que podem permear

a realização deste cuidado, como descrito. Pelas respostas, ficou claro que na visão dos

acompanhantes, a tosse não deveria ser estimulada no pós-operatório, pelo contrário, era algo

a ser evitado:

Será que a gente pode tossir depois de uma cirurgia? (Pesquisadora)

É bom evitar. (A9)

Não, ih, eu tenho pavor. (A12)

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Não, eu não sei. (A13)

Acho que não. (A14)

Não pode tossir? (Pesquisadora)

Não. (A14)

Assim sendo, foi lançado mão do conhecimento técnico-científico para mobilizar o

saber popular em direção à desconstrução e reconstrução de um novo saber, certamente mais

consistente. Ao ser reforçado a importância da tosse para a higiene dos pulmões, ser discutido

a possibilidade de execução de tal medida depois da cirurgia e apresentado o modo de

contenção e proteção da incisão cirúrgica (abdominal no caso deste estudo) ao tossir, houve

mudança no modo como esse cuidado era considerado pelos sujeitos no contexto em questão.

Algumas acompanhantes, como também idosos que ficavam atentos à discussão,

revelaram suas experiências prévias de desconforto pós-operatório por ficarem “prendendo” a

tosse, na presença de “pigarro” na garganta, como nos fragmentos de diálogo com A14, CI5 e

A10.

Fica naquele desespero, não pode que vai estourar tudo. Eu me segurava

com medo de tossir e estourar os pontos. E quanto mais você prender, você

não puder, aí que, aí que quando você começar a tossir o negócio fica

brabo. (A14)

(...) porque às vezes incomoda a garganta. Fica numa agonia querendo

tossir. Já me aconteceu isso. Olha foi difícil. (CI5)

Às vezes né, fica aquela, aquele, catarro.... (Pesquisadora)

Aquele pigarro, que às vezes custa pra sair. (A10)

O procedimento para conter a incisão cirúrgica foi demonstrado pela pesquisadora com

participação ativa dos acompanhantes:

Então o que é que a gente faz: a gente coloca a mão, um travesseiro ou

lençol no lugar da cirurgia, comprime ali e aí você pode tossir [fazendo

demonstração e sendo acompanhada por A11]. Porque aí você protege a

cirurgia. (Pesquisadora)

A11, ao experimentar e prever a eficiência da técnica de contenção, para evitar

distúrbios à cirurgia derivados do estímulo à tosse, remeteu ao cuidar de si benefícios futuros

resultante desse seu novo saber:

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Até a gente também que tiver operado, a gente pode fazer isso. (A11)

Com certeza, com certeza. (Pesquisadora)

Ingestão hídrica

A ingestão hídrica, outro cuidado recomendado para auxiliar na prevenção das

complicações respiratórias no pós-operatório, foi problematizada durante a entrevista

dialogada junto aos sujeitos. O propósito do estímulo à ingestão de água ou líquidos em geral,

depois da cirurgia, é fluidificar as secreções brônquicas facilitando a sua remoção ou

impedindo o seu acúmulo, contribuindo, assim, para prevenir o desenvolvimento de infecções.

Nesse sentido, Martins e Gutiérrez (2008, p. 146) afirmam que “a viscosidade da

secreção influencia sua maior ou menor facilidade de eliminação e a fluidez do muco depende

do estado de hidratação, pois a água é o seu principal componente.”

A influência da ingestão hídrica sobre a fluidificação das secreções pulmonares é um

conhecimento incorporado pelo senso comum, conforme fluiu das falas dos sujeitos, ao

responderem sobre a importância de tomar água depois da cirurgia, para evitar o acúmulo de

secreção nos pulmões.

Água é sempre muito importante. Mas no caso dela [cliente idosa] eu acho

que ela ficou no soro os primeiros... mas depois foi só. Depois bebeu muita

água, muita, muita, muita água [se referindo à cirurgia prévia] (A5)

O que a água faz no catarro, a senhora sabe?

Ajuda a expectorar? (A12)

É, ajuda a expectorar, porque afina o catarro, não é? O catarro é. (A12)

É necessário, né. (A8) É importante, importante. (A10)

Por que é importante tomar água? (Pesquisadora)

Pra poder eliminar... a secreção do pulmão, né. (A10) Fica mais fácil eliminar? (Pesquisadora)

Fica mais fácil. (A10)

Tomar bastante líquido pra ajudar a eliminar a secreção do pulmão. (A13)

A11 usou o saber da experiência feita para refletir sobre o assunto:

É muito importante, o líquido é... Isso, isso também eu aprendi quando eu

cuidava dessa idosa. A doutora sempre me, me pedia pra mim dá bastante

líquido... Eu acho que é pra limpar né, pra soltar o catarro (A11)

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Além das vantagens da ingestão hídrica para o trato respiratório no pós-operatório, a

hidratação também é importante para estimular a diurese, uma vez que os rins são os

principais responsáveis pela excreção das drogas anestésicas e seus metabólitos23

(SMELTZER; BARE, 2009). A13 destaca em sua fala noção sobre esse aspecto, na forma

como é entendido no contexto popular:

Eu sei que a água é boa pra qualquer coisa. É boa pra pele, é boa pra limpar os rins, é boa pro organismo em geral. (A13)

Assim, os benefícios da oferta de água e líquidos em geral ao idoso em pós-operatório

foram discutidos com os acompanhantes a fim de ser incluída no plano de cuidados

compartilhado. Importante lembrar que nenhum idoso era portador de patologia que

restringisse a ingestão hídrica. Desse modo, a hidratação no pós-operatório desses clientes

fez-se, também, relevante no diálogo com os acompanhantes.

Como vimos, os acompanhantes trouxeram do senso comum saberes e práticas de

cuidado leigos congruentes com aqueles de natureza profissional sobre a prevenção de

complicações respiratórias. Cabe à pesquisadora, conforme aponta Teixeira (2008, p.123), “a

responsabilidade de ordenar os conhecimentos para que eles compreendam o sentido e a

utilização desses, possibilitando a formação de uma consciência crítica”.

Os cuidados mencionados pelos acompanhantes se caracterizam como fundamentais

baseados na mobilização, exercícios respiratórios e ingestão hídrica. Vale destacar que alguns

acompanhantes só conseguiram visualizar tais cuidados como importantes à prevenção de

complicações respiratórias durante o processo de reflexão.

Dessa forma, depreende-se que o modelo de educação defendido por Freire amplia as

perspectivas da inter-relação educador/educando, representados neste estudo pela enfermeira -

pesquisadora/acompanhantes de idosos. A abordagem problematizadora, aplicada ao processo

de educação em saúde, possibilitou aos sujeitos a tomada de consciência sobre fragilidades do

sistema respiratório de idosos frente a procedimentos cirúrgicos e a importância de investir

em ações para interferir em possíveis complicações.

O plano de cuidados construído com os acompanhantes na VPO teve como ponto de

partida o conhecimento oriundo do senso comum, que no desenrolar da discussão foi

organizado e complementado, quando necessário, pelo saber profissional, resultando no

instrumento descrito a seguir (Quadro n° 2):

23 Produto intermediário resultante da transformação de uma substância química no organismo quando de um

processo metabólico (Manuila, Manuila, Nicoulin, 1997, p.472).

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Quadro no 2: Plano de cuidados construído com acompanhantes de idosos na VPO

RESPIRAÇÃO PROFUNDA (encher bem o pulmão, puxando o ar devagar pelo nariz e

soltando suavemente pela boca). Repetir de 5 a 10 vezes, pelo menos a cada 2h.

VIRAR-SE NA CAMA de um lado para o outro. Não ficar muito tempo deitado de costas

BEBER BASTANTE ÁGUA só depois que começar a se alimentar.

SENTAR na cama e fora dela.

CAMINHAR para o chuveiro ou pela enfermaria.

TOSSIR, segurando com as mãos, travesseiro ou lençol o local da cirurgia para não sentir dor

e não ter problemas na operação.

Em caso de VÔMITO, colocar o cliente idoso sentado, de lado ou com a cabeceira elevada,

para não engasgar e levar vômito para o pulmão.

O próximo capítulo abordará a implementação do plano de cuidados compartilhado e

sua efetividade. .

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Capítulo VI

Implementação do plano de cuidados

compartilhado e sua efetividade

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CAPÍTULO VI

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTILHADO E SUA

EFETIVIDADE

O encontro entre diferentes saberes através do diálogo resultou na aquisição de um

novo saber, produto dessa interação, e refletiu no cuidado prestado pelas acompanhantes ao

idoso em processo cirúrgico.

Para Soares (2000), os profissionais, tanto no campo da educação quanto na saúde,

deveriam ter como objetivo a construção compartilhada e em cumplicidade, do crescimento e

autonomia do outro, parceiros na relação: aluno, paciente, colega ou subalterno e, assim,

desenvolver o seu próprio crescimento e autonomia. Talvez a maior contribuição a esse

processo seja compartilhar e desmistificar o saber/poder especializado, o respeito e a

valorização do saber do outro.

A construção do plano de cuidados através do diálogo problematizador proporcionou,

às acompanhantes, a oportunidade de refletir criticamente e intervir em sua realidade,

participando do cuidado ao idoso. O cuidado realizado com a equipe de enfermagem do

hospital, faz do acompanhante um cliente e um parceiro da enfermagem (PENA; DIOGO,

2005).

A implementação do plano de cuidados compartilhado no pós-operatório imediato do

cliente idoso, visando à prevenção de complicações respiratórias, foi observada na enfermaria,

conforme descrito na metodologia. Como vimos, os cuidados discutidos e problematizados

que integraram o plano de cuidados, considerando o universo vocabular dos sujeitos, foram:

respiração profunda, virar-se na cama, sentar na cama e fora dela, caminhar, tossir e cuidados

para prevenção de aspiração de vômitos.

Durante a entrevista dialogada com as acompanhantes na VPO, os idosos

permaneceram atentos e em alguns momentos participaram ativamente do diálogo. Os

cuidados propostos foram considerados simples pelos sujeitos e tiveram uma completa adesão

entre os acompanhantes e clientes idosos como exemplificado pela fala de A7:

Amanhã tem que fazer isso tudo em você viu? [se referindo aos cuidados

planejados]. Respiração, quando você chegar da operação, vou fazer com

você. Não pode se preocupar não, que eu vou fazer. Amanhã quando ele

chegar, ele descansa um pouquinho, depois ele faz. (A7).

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Ao serem dialogados na VPO os cuidados preventivos ao surgimento das

complicações respiratórias com os acompanhantes, imediatamente eles passavam a realizar

com os idosos os exercícios de respiração profunda, como forma de estimulá-los a

desenvolvê-los após a cirurgia.

Assim, logo que retornavam da cirurgia, os clientes idosos começavam a praticar os

exercícios respiratórios, incentivados pelos acompanhantes como descrito por A2, A7 e A13:

Hoje mesmo ele... A hora que eu pedi pra ele respirar [se referindo ao

exercício de respiração profunda], ele respirou... E logo foi aliviando a ânsia! [de vômito]. (A2)

(...) respira. Aí ele pegou [acompanhante inspira e expira mostrando o que o CI7 fez]. (A7)

Respire um pouquinho, como a [citou meu nome] falou, bota a mão na

barriga [se referindo à técnica para realização de ERP]. (A13)

Ou até se antecipando aos sujeitos, ainda na sala de recuperação pós-anestésica (RPA),

conforme as falas de A4 e A5:

(...) De respirar. Ele mesmo [idoso] já fez sem ninguém falar nada (A4)

(...) Logo que ela saiu da cirurgia, ainda na RPA, ela [idosa] falou: Já estou

fazendo a respiração correta. (A5)

Essa atitude de ambos os clientes, demonstra que houve a conscientização sobre a

possibilidade de complicações respiratórias no pós-operatório e a importância de intervir para

inibi-las. Esse resultado dificilmente seria alcançado, se a abordagem aos sujeitos e clientes

idosos tivesse se dado de forma prescritiva, autoritária. A tomada de consciência é

consequência do diálogo, do questionamento, da reflexão e não da imposição.

Quanto à mobilização, foi relatado pelos sujeitos e constatado durante a observação

participante, que mudar de decúbito e sentar no leito nas primeiras horas depois da cirurgia

foram cuidados amplamente realizados, de forma cuidadosa, progressiva, respeitando as

limitações e peculiaridades de cada pessoa, conforme recomendado pela literatura. A

implementação de tais cuidados pelos sujeitos é exemplificado pelos recortes de diálogo a

seguir:

É, ele virou de um lado pro outro. (A1)

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Ele é tão esperto que passou na frente (risos). Ele então já se incumbiu de se

movimentar (...) (A4)

(...) ela senta, ela já arrumou um jeitinho de colocar aqui [o coletor de urina

na poltrona], ela já tem orientação que a sonda não pode ficar mais alta que

o corpo prá não voltar urina; então, ela tem se movimentado até bem, seguido, né. (A5)

(...) pra virar as costas... Eu o ajudei a virar um bucadinho. Mas isso é... só o ajudei a virar, mas não, ele... assim... de eu ficar com ele segurando as

costas não, ele sozinho ficou, não precisei nem... _Agora você descansou as

costas, vira pra cá, pra descansar o pulmão também. Vira, faz como a enfermeira falou (...) (A7)

Ele tá virando, tá, tá, ele tá virando. (...) vira, ele, ele mesmo vira muito na,

na, na... cama, tem virado, sentado, quer dizer, essa parte aí, eu tou tranqüila, graças a Deus. (A8)

Virou, virou, virou um pouquinho pra lá, um pouquinho pra cá. (A9)

Ele virou pro lado, ele sentou, desencostou um pouco, é porque ele ainda

num tá andando mesmo né, que o médico num liberou, mas... ele desencostou as costas um pouco, virou dum lado... Quero que ele vire lá pro

lado esquerdo, é porque ele, é tem o costume de dormir só prum lado, já

dele normal. Então, ele acha mais difícil virar pro outro lado. (A13)

Verificou-se, também, através da observação participante, a eficiência da mobilização

como meio de promoção de conforto e minimização da dor no pós-operatório de clientes

idosos, tanto em relação ao procedimento cirúrgico em si quanto para aliviar dores na coluna,

decorrentes de problemas como hérnia de disco, por exemplo. Diante disso, aumenta a

importância da mobilização do cliente idoso em pós-operatório, dado que “os problemas de

coluna estão entre os mais referidos pelos idosos” (PEDRAZZI; RODRIGUES; SCHIAVETO

2007, p. 409).

Mesmo sendo a mobilização no leito uma das medidas mais ressaltadas entre os

acompanhantes como meio de prevenção de complicações respiratórias, no contexto do

cuidado pós-operatório imediato, alguns acompanhantes mostraram receio de intervir no

cuidado ao idoso. Isso ocorre devido a alguns mitos que permeiam o ato cirúrgico, como no

caso de A14, quando, na discussão sobre a importância da mobilização no pós-operatório

imediato, interrogou em um tom de surpresa:

Mas logo de imediato! Ela operada! Não sei. (A14)

Assim, fez-se necessário a desconstrução e reconstrução do saber junto ao sujeito, de

modo a potencializar esse cuidado no espaço hospitalar. Tal fato aponta que na proposta de

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educação desenvolvida por Freire é possível uma comunicação efetiva entre

educador/educando, promovendo a construção de um novo conhecimento mais elaborado.

A deambulação foi outro cuidado cuja relevância foi reconhecida pelos

acompanhantes para a prevenção de complicações respiratórias pós-operatórias, além de

estimular o peristaltismo intestinal e a circulação, como revelado por eles durante as

entrevistas. CI3 e CI9 deambularam no mesmo dia em que foi realizada a cirurgia, à noite,

visto que não conseguiram utilizar a comadre/patinho, respectivamente:

Até levantou e foi pro banheiro, né?(risos). Não conseguiu urinar na

comadre. A primeira vez que ela foi ao banheiro, a menina [profissional de

enfermagem] já estava aqui, já não precisei chamar, ela ajudou, ajudou, né.

Eu também fui ajudando e ela ajudou. Mas, na madrugada não, na madrugada eu levantei com ela sozinha e fomos. (A3)

(...) levantou pra urinar, que ele num tava conseguindo aqui na cama. Aí, bem mais tarde, a enfermeira veio, aí falou: _ Ah não, vamos lá no

banheiro. Senão teria que colocar a sonda, né. Aí, ela foi me ajudou até ali,

a levar o soro, mas foi tranquilo. Aí, agora de manhã também, quase amanhecendo ele foi de novo [ao vaso sanitário, sem ajuda profissional], foi

tranqüilo. (A9)

Os demais clientes idosos só andaram e sentaram na poltrona a partir do dia seguinte à

cirurgia, inclusive por medida de segurança. As falas de A2, A5, A8 e A10 revelam que os

acompanhantes se empenharam em pôr em prática o plano de cuidados com eles construído:

Eu tive bastante cuidado, sempre observando se ela tava bem, sempre

próximo a ela né, pra saber se tava precisando de alguma coisa, não

deixando muito deitada, tive um cuidado normal, foi tudo com sucesso.

(A10)

Ele pediu pra ir o banheiro, ele foi. Não foi nada, já foi uma caminhadinha

que ele fez também, né. (A2)

(...) ela já tomou banho sozinha, foi ao banheiro, ela levanta, ela senta. (...)

então ela tem se movimentado até bem, seguido né [o plano de cuidados].

(A5)

Ele tá caminhando bem (...). (A8)

O estímulo à tosse foi o único cuidado que integrou o plano e não foi estimulado pelos

acompanhantes, tendo sido realizado por apenas um idoso portador de DPOC que apresentava

expectoração. Portanto, tossiu em decorrência da doença e não por ter sido incentivado a fazê-

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lo. Esse cuidado foi proposto e inserido no plano de cuidados, com restrições, dado ao esforço

desprendido no ato de tossir, como descrito no capítulo anterior.

Com relação à ingestão hídrica, a maioria dos idosos iniciou nas primeiras horas após a

cirurgia, assim que a alimentação foi liberada. Os que permaneceram em jejum até o dia

seguinte iniciaram paralelamente à primeira alimentação. Desse modo, a ingestão de líquidos

no pós-operatório imediato foi incentivada pelos sujeitos junto aos idosos:

(...) depois da... da operação, ele tomou [água] durante à noite. Ele tomou

um bucadinho até pra engolir aquele catarrinho... E agora de manhã, ele tomou remédio seis horas com um bucadinho que ela [profissional de

enfermagem] mandou dá também e ele num pediu muita água não. Agora

ele tomou um mate, o chá. (A7)

Água, é tá tomando sim, tá tomando sim. Já tomou duas garrafas e pouco.

(A8)

(...) tomou bastante água. (A9)

Como descrito nos relatos dos sujeitos, os ERP, mobilização, deambulação e ingestão

hídrica foram cuidados realizados pelos idosos no período pós-operatório imediato. O fato de

serem cuidados reconhecidos pelos acompanhantes, em razão de experiências prévias de

cuidar, seja no contexto hospitalar ou domiciliar, certamente facilitou a adesão, aliado ao

diálogo entre mim e eles na VPO, de modo a desenvolver tais cuidados com a efetividade e

segurança necessárias junto aos idosos.

Durante a observação participante, constatei, também, que algumas acompanhantes

tiveram autonomia para realizar os cuidados, só chamando a equipe de enfermagem para

aqueles cuidados de responsabilidade restrita dessa equipe, como a troca da hidratação

venosa, conforme ilustrado pelos recortes de diálogo com A3, A7 e A11.

(...) na madrugada eu levantei com ela sozinha e fomos. (A3)

Não, não, não chamei ninguém. A única coisa que eu chamei foi que ele

[idoso] queria ... ficou aflito pra tirar o soro. (A7)

Não. Pra minha mãe eu só chamei, não, só pra poder trocar o soro, só isso.

Mas não precisa não, porque eu tou aqui, né, eu tou acompanhando ela.

(A11)

Freire (2001, p. 66) considera que o conhecimento construído através do diálogo e da

reflexão proporciona autonomia nas decisões. Como defende o autor: “o respeito à autonomia

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e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos nos conceder

uns aos outros”.

Nesse sentido, Soejima (2008, p. 126) afirma que a “autonomia do sujeito permite um

novo olhar não apenas para a formação pessoal de cada ser humano, mas, configura-se na

colaboração entre os seres humanos para a construção de um mundo mais justo, pacífico e

democrático.”

Contudo, na direção oposta à comunicação e autonomia dos sujeitos, houve relatos que

demonstraram limite de diálogo entre o acompanhante e o profissional de enfermagem, como

o de A1.

Ontem não podia mexer nele. Só virar ele um pouquinho de lado. Ele ainda virou um pouquinho de lado, mas a moça [se referindo a profissional de

enfermagem] falou que era só para ele só ficar de barriga pra cima, virar

um pouquinho de lado devagarzinho e virar do outro. Só isso que ela deixou fazer. Aí quando liberar é que eu ia fazer isso [os cuidados planejados]. (A1)

Percebi no movimento do corpo e na fala de A1, durante a observação participante,

insatisfação na sua relação com a profissional. Certamente, essa usou da pedagogia da

transmissão e não do diálogo, para orientar o que deveria e como deveria ser feito,

restringindo o espaço para a troca de experiências. Esse exemplo denota postura de detentor

do saber, portanto, de poder, no meio hospitalar, por vezes, adotada pelo profissional, em ditar

as normas que devem ser entendidas como certas e rigorosamente cumpridas.

Pelo exposto, concordo com Teixeira (2008 p. 193), ao sinalizar que o cuidado

compartilhado é viável desde que os envolvidos no processo de cuidar - “profissional, cliente

e acompanhante - tomem consciência que são sujeitos coletivos, ativos e produtores de

conhecimento. Para tanto, há de se cultivar a dialogicidade e a crítica diante das vivências e

experiências diárias.”

Squassante e Alvim (2009) contribuem com essas reflexões, ao destacarem que é

preciso um trabalho recíproco e de participação visando à total recuperação do cliente. A

educação em saúde, segundo as autoras, pode contribuir como forma positiva de exercício do

poder, pois, tanto favorece o desenvolvimento do potencial do familiar no cuidado ao seu ente

internado quanto coopera com o trabalho da equipe junto ao cliente e com o desenvolvimento

de relações interpessoais mais amenas.

A efetividade do plano de cuidados implementado foi constatada pela observação

participante e pelos relatos dos sujeitos. Eles estimularam os idosos à realização de ERP,

mobilização no leito, deambulação, ingestão hídrica e prevenção para broncoaspiração. Tais

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cuidados são considerados fundamentais para a prevenção de complicações respiratórias

pós-cirúrgicas em idosos. As falas de A2, A3, A7, A9, A10 e A13 ilustram a adesão das

acompanhantes ao plano de cuidados:

(...) hoje mesmo ele... a hora que eu pedi pra ele respirar, ele respirou... [se

referindo aos ERP] e logo foi aliviando a ânsia [de vômito]. (A2)

Ela fez direitinho, eu fiquei cobrando, né, perguntando se tinha feito. Aí eu perguntei, já fez? Ela: _Já fiz, já fiz [se referindo aos cuidados planejados].

(A3)

Então, a senhora vem aqui amanhã? Já fiz algumas coisas com ele, já fiz. Já

botei mesmo pra quebrar com ele, botei pra quebrar... Amanhã, deixa

comigo, eu sou acesa mesmo eu boto... (risos), eu boto pra quebrar, deixa comigo moleque, deixa comigo (risos). (A7)

Virou, virou, virou um pouquinho pra lá, um pouquinho pra cá “(...)

levantou pra urinar, que ele num tava conseguindo aqui na cama.(A9)

(...) os cuidados aqui a serem feitos, é realmente foram feitos sim, não com

tanta freqüência, mas foram feitos. (A10)

(...) ele virou pro lado, ele sentou, desencostou um pouco, quero que ele vire

lá pro lado esquerdo, é porque ele, é tem o costume de dormir só prum lado,

já dele normal. (A13)

Como descrito ao longo do capítulo, as ações planejadas conjuntamente com as

acompanhantes no pré-operatório do cliente idoso, a partir do compartilhamento dos saberes

profissional x popular, base da construção do plano de cuidados, foram desenvolvidas pelos

sujeitos junto ao idoso em pós-operatório imediato, em prol da prevenção e/ou minimização

das complicações respiratórias, conforme recomendado pela literatura.

Os cuidados, tais como, respiração profunda, mobilização no leito (virar-se e sentar) e

ingestão hídrica, foram incentivados pelas acompanhantes tão logo o cliente idoso retornava

do centro cirúrgico e acordava. Tais cuidados foram realizados por todos os clientes no

mesmo dia em que operaram, salvo a ingestão hídrica, que por estar atrelada à liberação da

dieta, para alguns idosos, só aconteceu no dia seguinte à cirurgia.

Os clientes que retornavam à enfermaria após as dezessete horas, geralmente não

tinham a dieta liberada naquele dia, uma vez que o serviço de nutrição não atua no referido

turno. Assim, os clientes idosos permaneciam em jejum, o que foi considerado por mim como

um risco a mais, associado ao procedimento cirúrgico e as fragilidades próprias dessa

clientela, para ocorrência de acidentes provenientes de tontura, muito comum no período pós-

operatório.

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Nesse sentido, a deambulação foi realizada no dia seguinte à cirurgia, dentro do

período pós-operatório imediato, uma vez que as cirurgias foram realizadas no turno da tarde,

inclusive alguns clientes só retornaram à noite do centro cirúrgico.

Ressalto que os autores consultados que abordam a deambulação precoce como meio

eficaz de prevenção de complicações respiratórias e outras complicações pós-operatórias não

a relacionam com o fator tempo. Na orientação dialogada, refleti com os acompanhantes a

relativização necessária sobre a afirmação “quanto mais cedo andar melhor”, desde que

respeitado a segurança e o tempo de recuperação de cada pessoa.

Outro fator levado em consideração foi o fato de várias acompanhantes serem idosas e,

como tal, portarem também as fragilidades do processo de envelhecimento. Assim, fez-se

necessário atentar também para a segurança dessas acompanhantes, alertando-as inclusive

sobre algumas condições do ambiente, que aumentavam o risco para quedas.

Dessa forma, a implementação do plano de cuidados aconteceu lenta e

progressivamente, respeitando as peculiaridades dos indivíduos (SMELTZER; BARE,

2009). Foi permeada pelo olhar atentivo da enfermeira-pesquisadora, a fim de não expor os

sujeitos e seus idosos a riscos em decorrência do processo de produção de dados, essencial

ao desenvolvimento do estudo, ratificando, assim, o compromisso ético assumido.

Durante a observação participante, não constatei dificuldades na prestação dos

cuidados, aspecto que será melhor abordado no próximo capítulo, quando será feita a

avaliação do processo do cuidado. Ao contrário, algumas ainda ajudavam a outros clientes

internados, mostrando certa desenvoltura no espaço hospitalar, solicitando a equipe de

enfermagem apenas para procedimentos a ela restritos.

Certamente o fato do plano de cuidados ter sido construído conjuntamente com os

acompanhantes, através do diálogo problematizador, valorizando seus saberes e práticas,

teve influência na efetividade de sua implementação. Ao ser oportunizada a reflexão sobre

os saberes do senso comum trazidos por elas, um novo saber foi construído, a partir de

associações com experiências prévias de cuidar ou estimulado por situações do cotidiano

sugeridas por mim.

Por fim, considero que o processo de educação em saúde problematizador no espaço

hospitalar viabilizou a inclusão do acompanhante como cliente ativo e partícipe no cuidado

ao idoso em pós-operatório. Essa parceria possibilitou um cuidado mais individualizado,

humanizado e congruente com as necessidades dessa clientela de características tão

singulares.

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Assim, este capítulo tratou da implementação e efetividade do plano de cuidados

compartilhado, que foi desenvolvido pelos sujeitos junto aos idosos. O próximo capítulo

será destinado à avaliação deste plano.

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Capítulo VII

Avaliação do plano de cuidados

compartilhado

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CAPÍTULO VII

AVALIAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS COMPARTILHADO

7.1. Avaliação dos acompanhantes sobre o plano de cuidados compartilhado e sua

implementação

Para atender aos pressupostos da pedagogia freiriana e a proposta metodológica da

Pesquisa Convergente-Assistencial que permearam todo o processo da pesquisa, na última

fase da produção de dados, os acompanhantes copartícipes desse processo fizeram as

considerações e a avaliação sobre a experiência do cuidado compartilhado (APÊNDICE E).

Um dos pressupostos da pedagogia freiriana, de acordo com Nascimento (2007, p. 4),

sustenta que “educar para a liberdade significa partilhar o saber e promover uma „vontade‟

coletiva em direção à democracia”, neste estudo representada pela coparticipação do

acompanhante no processo de cuidado ao idoso.

Nessa perspectiva, os acompanhantes tiveram a oportunidade de avaliar a experiência

do plano compartilhado, refletir criticamente sobre o processo de cuidado no contexto pós-

operatório, as facilidades e dificuldades, a relação com a equipe de enfermagem, as

contribuições ao cuidado no domicílio e sobre a metodologia utilizada, imputando valor ao

cuidado prestado:

Se todos fizessem esse trabalho, seria maravilhoso, muito bom mesmo. (A14)

Prá nós foi muito bom. Foi bom mesmo. Uma ação educativa mesmo

(risos). Muito bom. (A5)

Na avaliação de diversos acompanhantes, o plano foi considerado como um meio de

aprendizagem, exemplificado pelas faz de A4, A9 e A14. A educação dialógica realizada com

os sujeitos permitiu que eles se conscientizassem de que o conhecimento é um processo

inacabado.

É, nunca é tarde pra se aprender algo mais né. (A4)

Tem que... tem que tá sempre aprendendo, né, vivendo e aprendendo, né.

Porque a gente não sabe do amanhã, né. (A9)

Porque aprendi coisas que eu não sabia que existia, né. (A14)

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Esta acompanhante, em sua fala, destacou o plano como fonte de aprendizado para ela

e de recuperação para o idoso.

(...) com a tua pesquisa eu aprendi coisas que eu não sabia antes, como,

apesar de trabalhar na área da saúde, mas é diferente no cuidado direto ao paciente, o meu tipo de assistência é outro. (...) Pra mim foi bastante

interessante, que é uma oportunidade de colaborar com o processo de

tratamento dela, né. Então, na medida em que você pode cuidar, tá junto, você fortalece eu acho, o paciente, do ponto de vista emocional e você

contribui com o tratamento, na medida em que, de alguma forma, você pode

ajudar nesse momento, né, é isso. (A5)

A4, A12, A7, A8 e A9 se referiram ao plano de cuidados como um instrumento que

ajudou não só no cuidado ao idoso no hospital, mas também como um recurso a ser utilizado,

posteriormente, no contexto domiciliar.

Ajuda na questão que, de repente, há um paciente que precisa, né, daquela...

daquele exercício e você já tem uma noção de como ajudar. Ah, pode, de

repente a gente pegar um parente, qualquer coisa, nessa situação e a gente

já sabe como agir, né. (A4).

Ajudou muito. Eu vou levar pra casa aquilo ali [o plano de cuidados]. É

muito bom. É muito útil. (A12)

Olha, eu gostei. Eu gostei porque, às vezes, quando eu for pra casa, eu já sei

como é que faz. Se ele, ele não teve esses problemas, mas, às vezes, alguém, eu tive uma vizinha que teve esse problema com o marido. Como o meu...

vizinho dela é enfermeiro, já tinha ensinado ela a fazer essa situação, é

enfermeira também. (A7)

Com certeza, com certeza. Porque...dá uma ...uma retaguarda assim de, de,

de como auxiliar ele..né, nessa área de respiração né, na, toda a...não só

usar aqui, como usar em casa também né. (A8)

Muito, muito. Eu também tenho a mãe dele né, a gente mora com ela. E ela

foi atropelada e foi uma luta, ele ficou na cama, rachou o osso da bacia,

ficou quase dois meses na cama. Uma luta, uma luta. Então a gente tem né. (A9)

A14 que destacou estar sempre cuidando de alguém, considerou que o plano

compartilhado foi muito útil no cuidado ao idoso e poderá ser implementado por ela

futuramente, sinalizando que poderá ser uma multiplicadora desse conhecimento:

Muito, muito! [útil - ênfase na voz]. Principalmente eu que tenho minha mãe que é uma senhora de 86 anos, ainda vai passar por uma cirurgia, com

certeza é muito válido. Isso é bom até guardar pra gente mesmo né. Eu que

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sou medonha de ficar sempre com alguém (risos). Vou guardar esse papel

[plano de cuidados]. (A14)

A9 e A11 que trabalhavam como cuidadoras remeteram os benefícios do aprendizado

à prática profissional:

Me ajudou. É pra mim ter mais experiência, pra mim me ajudou muito.

(A11)

(...) não só cuidar dele [idoso], mas... cuidar de alguém que precise, de

outras pessoas que precisem, né, assim como eu cuido também lá da minha

princesinha, né (risos), chamo ela de minha princesa [se referindo a idosa que cuida]. (A9-esposa)

Ancorado na pedagogia freiriana, cuja essência é o diálogo e o respeito ao saber do

outro, este estudo trouxe como proposta a fusão entre os saberes, popular e científico, na

construção de um plano de cuidados com vistas à prevenção de complicações respiratórias

pós-cirúrgicas no idoso. Este plano foi elaborado em conjunto com os acompanhantes no

âmbito da VPO, numa perspectiva dialógica, em conformidade com os princípios de educação

dialógica, segundo Freire. Portanto, deu voz a esses sujeitos por entender que “o educador já

não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando

que, ao ser educado, também educa” (FREIRE, 2009, p.79).

Os sujeitos foram unânimes em afirmar a riqueza da experiência, exemplificada pelas

falas a seguir:

Ah! Eu adoro conversar e trocar idéia, pra gente aprender, né, só aprende,

só assim que a gente aprende, né, as coisas. Depois praticando, né. Que a

gente vai aprendendo, né? Toma mais conhecimento. Tudo nessa vida para

aprender é válido, pra mim, né? Eu gosto de aprender as coisas. (A1)

E cada dia vai aprendendo mais né. É com a aprendizagem que a gente vai

né, sempre é...como se diz vai aprendendo e vai seguindo em frente né?. (A9)

A experiência do cuidado é uma relação recíproca. Requer que os implicados no

processo de cuidar invistam numa relação de coparticipação. Ocorre que cada ser humano

vivencia o cuidado de modo particular, “segundo seus próprios referenciais, e imprimem, neste

espaço, maneiras singulares de expressão de subjetividades.”, conforme destacam Barcelos e

Alvim (2006, p. 26).

Na experiência da elaboração de um plano de cuidados com a participação ativa dos

acompanhantes de idosos no contexto da VPO, procurei sustentar a relação com esses sujeitos

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de forma respeitosa, valorizando elementos como simplicidade, empatia e escuta atentiva.

Tais elementos contribuíram com a relação de confiança, diminuindo o distanciamento

profissional-cliente e favorecendo o processo de cuidar ao idoso:

(...) gostei muito de sua atenção. Foi bacana. Eu tenho vontade até de

participar [do cuidado ao idoso]. Com a sua educação, eu tenho vontade de

participar, que é muito importante, né. A pessoa antipática, quer participar?

Num sei se é antipática com a gente, mas passa antipatia, tem gente que passa antipatia, né. E a pessoa simpática... Antipatia é uma coisa...

Simpática, a pessoa que passa simpatia é outra, né. Tem gente que é séria,

quer só que a gente participe, você não sente aquela vontade. Participar de quê? (A7)

Isso é bom, né, quando a gente tá assim... no hospital e ser bem atendido, né, com simpatia, desde a, as copeiras, né, até os médicos. E a pessoa

trabalhando assim com carinho, com amor, as coisas desenvolvem muito

rápido, né. (A9)

A7 e A9 destacaram expressões humanas que qualificam o cuidado, como a simpatia,

a demonstração de carinho e amor no ato de cuidar.

No que concerne ao cuidado humano, há uma inter-relação entre a enfermeira, que

cuida e o cliente, que participa desse cuidado, como sustentam Alvim e Ferreira (2008, p.

294):

Nesta concepção de cuidado relacional e recíproco em que enfermeira e cliente

afetam e são afetados mutuamente, estão presentes os sentimentos, as emoções,

crenças, valores e saberes de ambos os sujeitos. Nesse encontro de subjetividades, aprendem e trocam um com o outro considerando o cliente e a enfermeira situados

histórico-socialmente no resgate da dignidade do cliente na sua condição de sujeito

do cuidado de enfermagem.

Mas nem sempre as relações estabelecidas entre equipe de enfermagem e clientes são

favoráveis. A8 demonstrou insatisfação no referente ao trabalho da equipe de enfermagem

como: “Bem deficiente mesmo. Confuso, muito confuso”, o que causou transtorno no cuidado

ao CI8. E complementou:

Eu, pessoalmente é... tenho um carinho né, fiz a minha parte. Agora em

questão de compatibilidade com a... com a equipe de enfermagem, cada dia

um chegava a dá uma... uma posição. Tinha dia que umas quase que me

exigiam ajudá-las, outras num “queria” que eu ajudasse. Questão de horário de medicamento, no... é um dá um horário, outro dá outro. Mas fala

assim - É, você, eu podia dá o remédio que eu trago de casa - Outros falam

assim - não você tem que aguardar, eu falar com você - Cada equipe tem uma ... uma posição (A8)

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Em contraponto ao relatado por A8, na reflexão feita pelos acompanhantes sobre as

facilidades que permearam o processo dialógico do cuidado, o bom atendimento da equipe de

enfermagem foi destacado por A5 e A13.

Eu acho que as facilidades é.... Tem alguns fatores. Eu especial, tanto pelo

fato de ser funcionária, que abre as portas prá você ter uma certa

autonomia na instituição. É ... a equipe, né, é... nós demos sorte de pegar uma equipe, principalmente a equipe de enfermagem, a equipe assim

totalmente aberta, bastante colaborativa. É .... me deixou à vontade. (A5)

(...) a facilidade foi o atendimento, esse pra mim foi o maior, a maior

facilidade. (A13)

As experiências relacionais são demarcadas por uma multiplicidade de situações, nem

sempre construtivas. As falas de A8, A5 e A13, anteriormente descritas, indicam que há uma

inconstância nas relações estabelecidas entre a equipe de enfermagem e o acompanhante.

A esse respeito, Squassante e Alvim (2009) afirmam que as experiências conflitantes de

relacionamento, momento em que as relações de poder se destacam, alternam-se com outras,

cuja postura sensível e solidária assumida pela equipe de enfermagem, diante dos problemas

vivenciados por familiares e clientes, revelam-se relações de cuidado.

A5, que destacou a experiência positiva com a equipe de enfermagem durante a

produção de dados da pesquisa em acordo com os preceitos da PCA, ressente-se da ausência

na instituição de trabalhos como o desenvolvido neste estudo:

(...) fazer um trabalho mais individualizado com as famílias, eu acho que

isso te... seria muito importante, colaboraria mais com o processo de tratamento. Outras iniciativas nesse sentido, né. (A5).

Seu relato reivindicador denota as mudanças que foram empreendidas durante a

PCA, mas, que necessitam ter sua continuidade garantida na prática assistencial.

Os cuidados planejados foram considerados simples e de fácil execução pelos

acompanhantes, à exceção do estímulo à tosse, único cuidado não mencionado por eles, ao

relatarem suas experiências prévias sobre a prevenção de complicações respiratórias em

idosos depois da cirurgia.

Desse modo, ao serem questionados se houve dificuldades na execução do plano de

cuidados eles responderam:

Não, nenhuma. Foi tudo ótimo, maravilhosamente bem. (A2)

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Nenhuma (risos). Depois de uma aula daquela de ontem então (risos) aí que

ficou bom o negócio. (A14)

Não, tudo tranquilo. (A9)

Da fala de A7, emergiu segurança no processo de cuidar, advinda de suas experiências

prévias, reafirmando a importância do „saber da experiência feita‟, em consonância com o

conceito freiriano:

Não, nenhuma [dificuldade]. Eu tou acostumada a cuidar. (A7)

7.2. Avaliação da enfermeira-pesquisadora sobre a experiência implementada: os

desafios da assistência que se apresentam à equipe de enfermagem no hospital

Para proporcionar um cuidado congruente com as especificidades próprias da clientela

idosa, faz-se necessária a inclusão do acompanhante no cuidar. Para tanto, é oportuno criar

um espaço de diálogo que facilite a negociação de saberes e práticas de cuidados entre esse e

a enfermeira, considerando os fatores culturais que podem influenciar neste processo.

Conforme afirmam Lenardt e outros (2010, p. 423), “é preciso reconhecer que o idoso

requer cuidados individualizados, personalizados e planejados pela enfermeira, em função de

suas características particulares”.

A dinâmica do cuidado compartilhado torna-se, por assim dizer, um grande desafio

para a enfermeira, um exercício de desprendimento e, mesmo, de ousadia. Isso, se

considerarmos a hegemonia do modelo de saúde vigente, especialmente, no hospital, cujas

ações, aí incluídas as de natureza educativa, são orientadas de modo a manter a verticalização

do saber na relação do cuidado.

Reconheço, por experiência própria, a dificuldade para o profissional acostumado a

“depositar” nos clientes seus saberes técnico-científicos (considerados por aquele como

“verdade absoluta”, como ordens a serem cumpridas), de admitir que esses saberes podem ser

relativizados face aos saberes dos clientes, construídos na sua realidade concreta. Ou seja, de

pensar em uma perspectiva em que as orientações para o cuidado sejam dialogadas ao invés

de prescritivas. Afinal, “Toda prescrição é a imposição da opção de uma consciência a outra.

Daí o sentido alienador das prescrições [...]” (FREIRE, 2009, p.36-37).

A14 deixa transparecer em sua fala a carência de ações educativas no espaço

hospitalar e relaciona a perda do pai à falta de diálogo entre a equipe de saúde e ela:

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Pena, pena que quando o meu pai ficou internado lá, [em outro hospital e

faleceu] eu não sabia disso [tristeza na voz e no olhar]. Nunca veio ninguém conversar... Nunca vi em hospital nenhum. (A14)

Se, por um lado, a valorização do saber comum nas ações de saúde pode ser

interpretada por alguns profissionais como um desprestígio do conhecimento científico,

especialmente, no âmbito hospitalar, onde esse saber impera, por outro, as transformações do

mundo atual apelam para uma nova ordem no pensar e fazer no campo da saúde.

Ao apresentarem suas reflexões sobre o assunto, Marcon e Elsen (1999, p. 23)

sinalizam que partilhar responsabilidades é um caminho difícil para o profissional acostumado

a tomar todas as decisões relativas ao processo saúde-doença, entretanto, não há como fugir

das mudanças impostas pela sociedade uma vez que:

(...) os espaços para os profissionais que se acreditam “donos da verdade” estão se

tornando cada vez mais reduzidos, pois como mudaram as estruturas e os papéis

familiares, também mudaram as exigências por parte daqueles que procuram os

serviços de saúde. Para enfrentar os novos desafios impostos pela chamada

sociedade moderna, que é tecnologizada, mas que também busca ser ecológica

exige-se dos profissionais uma diversificação de enfoques teóricos e práticos em todas as áreas do conhecimento humano.

Da mesma forma que foi dada ao acompanhante a oportunidade de avaliar o processo

do cuidado compartilhado, fazem-se oportunas algumas observações críticas da enfermeira-

pesquisadora sobre todo o processo de pesquisa conduzido pela aplicação da metodologia

convergente-assistencial.

A educação em saúde foi utilizada como estratégia de cuidado, através do intercâmbio

de saberes, popular e científico, culminando em um plano de cuidados com resultados efetivos

no pós-operatório de clientes idosos.

A pedagogia freiriana articulada com a metodologia da PCA viabilizou a construção

do processo dialógico junto ao acompanhante, no que se refere aos aspectos culturais

integrantes do processo de educar em saúde. Ambas propiciaram a participação ativa dos

acompanhantes de idosos durante todas as etapas da produção de dados, viabilizando

aproximar a enfermeira-pesquisadora da realidade concreta dos sujeitos.

Dada sua estreita relação com a prática assistencial, a PCA tem o compromisso de

promover mudanças ou minimizar problemas no contexto pesquisado em tempo real.

Neste estudo, a mudança se deu por conta da possibilidade de construção de parceria

estabelecida entre mim, enfermeira-pesquisadora, com o acompanhante do idoso na VPO,

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conferindo-lhes alguma autonomia no espaço hospitalar, pois o plano de cuidados

compartilhado foi por eles implementado no pós-operatório.

As inter-relações com as equipes de enfermagem que atuam nos setores 9B e 10D,

onde os dados foram produzidos, foi exemplar. Não foi encontrada nenhuma dificuldade de

acesso ao ambiente, informações ou rotinas desses setores. Penso que o fato de ser enfermeira

da instituição e conhecer vários profissionais que atuam nesses setores, facilitaram a imersão

no campo.

A participação dos profissionais, tanto do cenário da produção de dados quanto do CC,

foram relevantes nesta fase de desenvolvimento do estudo. Aspecto recorrente é o fato de que,

ao se falar em VPO, remete-se a responsabilidade aos enfermeiros do CC, uma vez que são os

profissionais desse setor que a realizam. Assim, ao se cogitar mudanças nesse contexto,

entende - se que as iniciativas devam partir dos enfermeiros do CC, por estarem diretamente

envolvidos nesse processo.

No entanto, a partir das observações e reflexões feitas durante a pesquisa, penso que,

para implantar mudanças efetivas na realização da VPO, será necessária uma integração

centro cirúrgico x clínica cirúrgica, principalmente se essas mudanças passarem pela forma

como o cliente é entrevistado. Sobre esse aspecto, uma estratégia de sensibilização junto ao

serviço já foi iniciada por mim e estou em pleno processo de discussão com algumas

enfermeiras sobre alternativas que efetivamente sejam viáveis, face às dificuldades

encontradas.

É fato que uma abordagem dialógica, oferecendo ao cliente a oportunidade de falar de

suas necessidades, implica em disponibilidade de tempo e um contingente maior de

profissionais. Mas há de se encontrarem caminhos possíveis, para o que ora se apresenta

como situação-problema. Ocorreu-me que poderia, inclusive, ser feita parceria com a EEAN,

de forma que os acadêmicos de enfermagem participassem desse processo de mudança.

Outra coisa que me chamou a atenção, durante a pesquisa, foi com relação ao fato de

os clientes que se internam no mesmo dia em que vão operar, não serem contemplados pela

VPO. Essa só é oferecida aos clientes previamente internados. Assim, esses clientes são

encaminhados ao centro cirúrgico, sem nenhum contato prévio com a enfermagem do referido

setor. Apesar de já ter conhecimento prévio desse fato, só me dei conta de o quanto essa rotina

é prejudicial aos clientes que se internam no dia da cirurgia durante a pesquisa, quando foi

possível acompanhar a situação de perto e me afetar com ela.

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Constatei que vários fatores podem contribuir para tornar a internação desses clientes

estressante. Eles são orientados a chegarem ao Serviço de Admissão e Alta (SAA) às 7h da

manhã. Às vezes, o leito ainda está ocupado e eles esperam por sua liberação no referido

setor, o que pode levar horas. Outras vezes, não tem roupa para forrar o leito, eles ficam

aguardando sentados em cadeiras comuns, pois as poltronas são raras nas enfermarias. Em se

tratando de clientes idosos, a situação é ainda mais desconfortável. Faz-se necessário pensar

em estratégias que viabilizem a VPO de enfermagem também a esses clientes.

Ressalto que a visita pré-anestésica aos clientes que se internam no dia da cirurgia,

depende da rotina do CC. Assim, se não houver anestesista disponível para se deslocar do

referido setor até a enfermaria, essa visita também não acontece. Desse modo, o cliente é

encaminhado ao CC sem nenhum contato prévio com a equipe cirúrgica, depois de ficar até

meses esperando o chamado para realizar a cirurgia. Isso resulta muitas vezes na suspensão da

intervenção quando o cliente já se encontra na RPA, causando transtornos tanto ao próprio

cliente quanto aos seus familiares.

Como se pode verificar, muitas são as dificuldades a serem superadas na relação

enfermeira-acompanhante, em busca da construção do cuidado compartilhado. Essas

dificuldades vão desde a sensibilização do profissional para imprimir mudanças em sua

prática e as relações estabelecidas com outros profissionais, à precariedade da infraestrutura

oferecida pelas instituições, nesse caso, as hospitalares. Esses obstáculos, além de refletirem

diretamente na qualidade dos serviços prestados à clientela, cansam, estressam, desestimulam

e podem inviabilizar ações que demandem mais tempo da enfermeira. Squassante (2007, p.

56) contribui com tais reflexões quando comenta que:

É notório e compreensível como os profissionais de enfermagem se sentem

estressados e se mostram apressados e conturbados diante de inúmeras tarefas a

serem cumpridas, com tempo determinado em um espaço definido. Há uma

exposição contínua do profissional, pois suas atividades, que visam o conforto e bem estar do cliente e seu familiar estão diretamente relacionadas a outros aspectos e

parcerias profissionais, sem os quais o trabalho fica comprometido.

Há de se considerar que “educar para a liberdade”, numa perspectiva dialógica como a

proposta por Freire (2007), demanda tempo e disponibilidade do profissional. No entanto,

devemos trabalhar os obstáculos que se apresentam à enfermeira a caminho de propostas

diferenciadas de cuidar, pois comungo do pensamento que a inserção do acompanhante no

cuidado a partir do compartilhamento de saberes e práticas atua como potencializador do

cuidado ao idoso hospitalizado.

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Pelos resultados apresentados ao longo dos quatro últimos capítulos, constata-se a

pertinência da realização de ações de educação em saúde no espaço hospitalar. Os saberes e

práticas de cuidado, relatado pelos sujeitos visando à prevenção de complicações respiratórias

no pós-operatório de clientes idosos, foram compatíveis com o saber profissional. A

construção compartilhada do plano de cuidados e a sua implementação pelas acompanhantes

se deu a contento.

Destaca-se que os benefícios atribuídos por elas à experiência decorrente da educação

dialógica extrapolaram os limites hospitalares e vislumbraram outros espaços do cuidado.

Essa perspectiva configura-se como possibilidade de multiplicação pelos sujeitos, do

conhecimento novo ou reconstruído. Em razão do exposto, ressalta-se a importância de

considerar a presença do acompanhante oportuna ao desenvolvimento de uma parceria entre

esse e a equipe de enfermagem, em prol do cliente acompanhado, em que pese a flexibilização

da atitude profissional, com vistas à dialogicidade e real comunicação.

Na sequência, serão apresentadas as considerações finais do estudo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo se configurou como uma pesquisa de campo em que foi utilizada a

modalidade de Pesquisa Convergente Assistencial, cuja principal característica é sua

articulação intencional com a prática assistencial, embora cada uma mantenha sua identidade

própria. Assim sendo, a relação do saber pensar com o saber fazer em enfermagem é o

principal elemento norteador dessa metodologia (TRENTINI; PAIM, 1999).

O objeto de estudo centrou-se nos saberes e práticas de acompanhantes sobre a

prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso com vistas à, através do

acesso a esses saberes e práticas construir e implementar um plano de cuidados compartilhado

no pós-operatório.

A educação em saúde, pautada no diálogo, foi utilizada como estratégia para a

construção do plano de cuidados compartilhado e sua implementação. Essa estratégia

mostrou-se viável à participação do acompanhante no processo de cuidar do idoso,

considerando seus saberes e práticas oriundos de suas vivências e experiências prévias.

Em atenção aos princípios da pedagogia educativa freiriana, utilizados neste estudo, a

temática foi desenvolvida através da problematização. Pelo diálogo, foi possível refletir sobre

a realidade e, em um movimento de construção e reconstrução de saberes e práticas, conduzir

a construção do plano de cuidados e sua implementação.

Todo o processo foi conduzido com base na visão nova-paradigmática, cuja postura

epistemológica se pauta no entendimento da complexidade humana. Como ser complexo, o

homem é simultaneamente biológico, social, cultural e psicológico e, como tal, não deve ser

visto ou estudado isoladamente, de forma reducionista, sob pena de perder a sua

complexidade. Assim, pensar o ser humano em sua complexidade é resgatá-lo como sujeito,

com consciência e autonomia; é pensá-lo como um ser dialético e dialógico, de ações e

interações; é reconhecer o inacabamento e a incompletude de todo o conhecimento que dele

deriva (MORIN, 1996; 2006; 2008).

Tais princípios norteiam o pensamento freiriano, sustentado na valorização das

relações humanas e no entendimento de que as pessoas têm capacidade para o

desenvolvimento da crítica e reflexão sobre os objetos que lhes são dados a pensar e também

se aplicam à PCA, na medida em que se valorizam os saberes e práticas dos sujeitos da

pesquisa no emprego de uma metodologia de intervenção, integradora e participativa.

Dadas as relações de poder estabelecidas entre profissionais de saúde e

acompanhantes, considerei a possibilidade de haver tensão ou inibição por parte dos sujeitos,

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durante as entrevistas e no desenrolar do processo, o que poderia dificultar a comunicação e o

diálogo efetivo. Nesse sentido, com o intuito de estabelecer a empatia necessária ao processo

educativo dirimindo quaisquer obstáculos entre mim e os sujeitos inerentes à timidez,

características pessoais ou traços culturais, tomei alguns cuidados relacionados à postura e

apresentação pessoal, além do preparo do ambiente físico em que os dados para o estudo

seriam produzidos (conforme descritos na metodologia).

A atenção a tais aspectos resultou na criação de um espaço de intercâmbio de saberes e

práticas, focado na horizontalidade das relações, em contraposição a verticalização que

geralmente se institui entre profissional e acompanhante no ambiente hospitalar e fez com que

as acompanhantes superassem a condição de meras expectadoras do cuidado aos clientes

idosos no cenário pesquisado.

Os cuidados para a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas no idoso

são considerados básicos e, portanto, condizentes com os cuidados fundamentais de

enfermagem. As acompanhantes consideraram os cuidados planejados em conjunto com a

enfermeira-pesquisadora simples e de fácil execução, conforme descrito por elas e constatado

por mim, durante a observação participante. Penso que a construção do plano de cuidados

conjuntamente com os sujeitos, através do diálogo problematizador, partindo de suas

experiências prévias de cuidar, facilitou a implementação do plano.

Com efeito, os resultados mostraram que os saberes e práticas advindos do senso

comum se apresentam de forma fragmentada e, muitas vezes, não são reconhecidos pelos

sujeitos como um saber passível de ser aplicado ao cliente idoso, visando à prevenção de

complicações respiratórias no pós-operatório. Foi nesse ínterim que o saber socialmente

construído e de pura experiência feito, mostrou a sua importância, centrado na perspectiva

inovadora de se fazer educação, destacado por Freire (2001).

A valorização e o intercâmbio dos saberes popular e profissional tornaram-se viáveis,

pelo exercício dialógico, facilitador da crítica e da reflexão e através das quais foi

desencadeado um processo de desvelamento da realidade, na perspectiva freiriana, e

reconstrução do conhecimento a ser aplicado no cuidado ao idoso hospitalizado. Assim, pela

dialogicidade, a experiência da vida prática foi articulada aos conhecimentos científicos.

Vale lembrar que já existe um forte movimento apontando mudanças na direção de

uma prática profissional pautada no compartilhamento de ações no cuidado, em

reconhecimento ao saber do outro, inclusive sustentado em políticas públicas, como a Política

Nacional de Humanização, do Sistema Único de Saúde (2003). Um dos preceitos

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fundamentais dessa política é justamente a valorização dos usuários, trabalhadores e gestores,

todos considerados sujeitos do processo de produção em saúde e com a devida atenção à

autonomia e o protagonismo dos usuários dos serviços de saúde.

Neste estudo, a construção do plano de cuidados compartilhado entre enfermeira e

acompanhantes através do diálogo/reflexão proporcionou às acompanhantes reunir condições

de desenvolver certa autonomia no cuidado ao idoso em pós-operatório, aguçando o

pensamento crítico sobre a prevenção de complicações respiratórias pós-cirúrgicas.

Tornaram-se, assim, também responsáveis pelo cuidado ao idoso, participando e

reconhecendo a dinâmica própria do hospital (TEIXEIRA, 2008).

Ao propor o cuidado compartilhado com o acompanhante, faz-se necessário pensar em

um modelo de atendimento não mais apenas centrado no cliente, mas entendendo o

acompanhante também como cliente da equipe de enfermagem. Em se tratando de idosos e

seus acompanhantes, muitas vezes, também idosos, há de se considerar as peculiaridades e

vulnerabilidades de ambos nessa fase da vida.

O modo como os resultados deste estudo se apresentaram, à luz dos conceitos teóricos

propostos por Paulo Freire, confirma a viabilidade do cuidado compartilhado no espaço

hospitalar. Para tanto, é necessário que tanto os profissionais quanto clientes e acompanhantes

se conscientizem de que são sujeitos coletivos, produtores de conhecimento no processo de

cuidar. As relações devem ser norteadas pela dialogicidade, crítica e reflexão, frente às

experiências e os desafios cotidianos próprios desse contexto.

A metodologia utilizada para desenvolver este estudo, a Pesquisa Convergente-

Assistencial, permitiu, em uma abordagem inovadora, a articulação com a prática assistencial

em saúde, desenvolvida em caráter de simultaneidade. Destaco que, enquanto enfermeira

assistencial, essa característica da PCA se constituiu em importante atrativo para realização da

pesquisa.

Dada a sua convergência com a prática assistencial, na PCA, o problema de pesquisa

deve ser destacado das situações vivenciadas pelo pesquisador em sua prática. Tendo isso em

conta, a partir da percepção das necessidades de mudanças na condução da VPO, foi

construída a proposta de ações educativas no contexto pré-operatório, norteada por conceitos

da pedagogia freiriana. Dada a minha inserção no contexto em que o estudo aconteceu, foi

facilitado o atendimento ao critério de imersibilidade da PCA.

Na aplicação da PCA, concomitantemente à produção de dados, dá-se a assistência e

vice-versa. Embora cada atividade preserve suas características próprias, uma não inviabiliza

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a outra. Assim, o ato de assistir/cuidar permeou todo o período de produção de dados para a

pesquisa, sem que uma atividade impedisse a outra. Portanto, nesse modelo de investigação,

em sendo o pesquisador também provedor de cuidado, o ato de assistir/cuidar esteve presente

ao longo de todo o processo (TRENTINI; PAIM, 1999).

Nesta pesquisa, o assistir/cuidar contemplou tanto as acompanhantes quanto os

clientes idosos, através das ações de educação em saúde e cuidados com o ambiente em que a

pesquisa aconteceu. Dessa forma, o critério de essencialidade da PCA foi configurado.

Assim, pois, enquanto pesquisava, prestava assistência de forma integradora e participativa,

trabalhando na relação sujeito-sujeito, valorizando e intercambiando diferentes saberes e

práticas no cuidar de si e do outro, esclarecendo dúvidas, exercitando escuta atentiva às

reivindicações das acompanhantes, participantes de todo o processo.

Além disso, atuei na mediação com vários outros setores do hospital: auxiliei na

abertura de prontuário no ambulatório; em consulta na urologia; nos contatos com o serviço

de nutrição e serviço social; na otimização da alta hospitalar; na disponibilização de recursos

materiais, dentre tantas outras formas de assistir esses acompanhantes.

Em que pese à construção do plano de cuidados compartilhado, com vistas a facilitar o

diálogo e o intercâmbio de saberes, foram utilizados recursos ilustrativos sobre a temática

discutida, como fotografias e desenhos do aparelho pulmonar, além de uma bola de soprar,

que auxiliava na demonstração da mecânica pulmonar e simulações acerca da função

respiratória e das possíveis complicações pulmonares pós-operatórias e meios de preveni-las.

Vale destacar que o uso desse material e o método empregado na sua utilização,

pautado no diálogo e na problematização, de forma compatível com o universo vocabular dos

sujeitos, configuraram-se em tecnologia importante de cuidar e contribuíram com os sujeitos

para organizar o pensamento e desenvolver a reflexão crítica.

Com relação aos enfermeiros do centro cirúrgico, compartilhamos a percepção de

necessidades de mudanças na VPO. Esse movimento caracterizou a conectividade

preconizada pela PCA. No entanto, a enfermeira responsável por imprimir tais mudanças no

centro cirúrgico, embora sensibilizada e comprometida com os movimentos provocados pela

pesquisa, tem enfrentado problemas relacionados à estrutura física desse setor, resultando,

inclusive, em seu fechamento temporário, o que tem causado frequentes transtornos ao

atendimento à clientela. Assim, o compromisso para propormos mudanças na VPO precisou

ser adiado.

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A produção de mudanças tanto na prática assistencial quanto na pesquisa, uma

alimentando a outra, que caracteriza a interfacialidade, deu-se por conta da mudança de

abordagem na realização da VPO, inserindo as acompanhantes de idosos como sujeitos

participativos na construção do cuidado aos idosos acompanhados. Elas saíram da condição

de meras expectadoras para protagonistas do cuidado.

A pesquisa também provocou mudanças em meu “saber pensar”. Despertou reflexões

sobre o processo da VPO como um todo. Tomei consciência de importantes aspectos

relacionados à VPO e seu contexto, passíveis de reflexão, como: por questões de

operacionalidade, os clientes que se internam no dia da cirurgia não são contemplados com a

VPO de enfermagem, que implicações isso tem para os clientes?

Nesse movimento pesquisar/cuidar/refletir, percebi, ainda, que o instrumento ora

utilizado para realização da VPO na instituição cenário da pesquisa atende a algumas

necessidades da equipe de enfermagem, pois traz informações sobre as condições clínicas dos

clientes e aspectos relacionados à rotina pré-operatória. No entanto, faz-se necessário abrir

espaço ao diálogo, a fim de encorajar e estimular os acompanhantes a falarem “sobre o que

eles gostariam de saber”.

A VPO é de responsabilidade dos enfermeiros do centro cirúrgico. Desse modo, o

envolvimento dos enfermeiros dos setores de clínica cirúrgica onde os dados foram

produzidos ainda é restrito nesse processo. Contudo, toda a equipe de enfermagem, ao ver o

movimento da pesquisa e seus propósitos, manifestou inteiro apoio no sentido de viabilizar o

que se fizesse necessário ao seu desenvolvimento. Resta-me, contudo, o desafio de trazê-los

como parceiros e partícipes ativos das mudanças necessárias e requeridas, segundo os

resultados da pesquisa.

Outro aspecto a ser considerado é com relação a dar continuidade ao processo da

VPO, acompanhando os clientes no pós-operatório, ou seja, realizar também a visita pós-

operatória. Assim, o ciclo de cuidados em torno do processo cirúrgico se completaria como

emergiu durante diálogo entre a pesquisadora e enfermeiros do CC. Entretanto, isso significa

maior demanda de recursos humanos e alterar a dinâmica do cuidado de tal setor, o que pode

mexer com a zona de conforto de alguns profissionais resistentes a mudanças, que quase

sempre optam pelo que está instituído, tendo dificuldade em abrir espaço para práticas

inovadoras.

Concordo que são muitos os desafios a serem superados a caminho dessa nova forma

de se fazer educação em saúde, principalmente no espaço hospitalar, onde impera o saber

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profissional, de natureza prescritiva. Isso perpassa, no meu entender, não só por mudanças

filosóficas e epistemológicas dos profissionais envolvidos nesse processo, mas também, por

questões práticas, de operacionalidade, pois essa proposta demanda mais tempo e dedicação

por parte da enfermeira. E, considerando as dificuldades que as instituições de saúde

apresentam em relação ao quantitativo reduzido de recursos humanos, esse desafio torna-se

ainda maior.

Assim, se não nos é possível mudar a macroestrutura, vez que essa se relaciona a

outros fatores para além de nossas possibilidades de nela intervir, façamos o que está sob

nosso controle ou alcance. Afinal, nem sempre as mudanças necessárias na prática assistencial

estão a serviço ou na dependência da estrutura maior, mas conformadas às mudanças de

atitude no campo próprio do cuidado, como as ilustradas nos resultados apresentados nesta

pesquisa com aplicação da PCA.

No entanto, vale ter em consideração que, para aderir a propostas educativas como a

desenvolvida neste estudo e imprimir mudanças à prática assistencial, o enfermeiro precisa

estar consciente das necessidades dessas mudanças, engajado e disposto a superar os

obstáculos que se fizerem presentes. Para Freire (2000), mudar é difícil mas é possível.

Como exemplo, destaco que durante a produção de dados desta pesquisa, em alguns

momentos, encontrei dificuldade em me desvencilhar dos termos técnicos inadequados ao

contexto da educação popular em saúde. Em contrapartida, em outros momentos senti

dificuldade de compreender o universo vocabular dos sujeitos. Isso provavelmente se deu

devido à impregnação do modelo biomédico vigente presente em minha prática profissional

ao longo de muitos anos. Assim, quando se pensa em transformar a prática é preciso se pensar

em mudança de comportamento e de atitude frente aos obstáculos que se apresentam.

Concordo com Trentini & Paim (1999) que o contexto da prática assistencial é um

campo fértil a ser explorado por pesquisadores, pois dele emergem questões inerentes ao dia-

a-dia do cuidar/assistir que vitalizam e aproximam o campo da prática assistencial e o da

investigação científica. No contexto de minha prática profissional, ainda identifico um

distanciamento entre esses dois polos. Portanto, há de se ampliar pesquisas que congreguem

ambos os interesses.

Do mesmo modo, esta pesquisa ratifica que é possível desenvolver ações de educação

em saúde no contexto hospitalar. Entretanto, é preciso divulgar e replicar esta experiência, vez

que as ações dessa natureza têm privilegiado os espaços fora do ambiente hospitalar, situados

no campo da Saúde Coletiva.

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145

APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO ACOMPANHANTE

(1ª ETAPA)

Entrevista nº: ________ Data da entrevista:_____/_____/_______

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Identificação:_____________________________ Sexo: ( ) F ( ) M Idade: ________

Bairro em que reside:______________________________________

Naturalidade:____________________ Nacionalidade:________________

2. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS:

2.1-Situação conjugal: ( )casado(a) ou vive maritalmente ( )solteiro (a) ( )separado(a) ( )viúvo(a)

2.2-Escolaridade: ( )analfabeto(a) ( )albafetizado(a) ( )antigo ensino fundamental completo

( ) antigo ensino fundamental incompleto ( )antigo ensino médio completo ( )antigo ensino médio incompleto

( ) ensino superior completo ( )ensino superior incompleto ( )outro. Qual?____________

2.3-Profissão:___________________________Atua na profissão atualmente ( )sim ( )não. Em caso negativo,

em quê atua?__________________________

2.4- Situação ocupacional: ( )empregado(a) ( )desempregado(a) ( )aposentado(a) ( )nunca trabalhou

( ) autônomo(a) ( )estudante

2.5- Número de filhos: ( )nenhum ( )1 filho ( )2 filhos ( )3 filhos ( )4 filhos ou mais.

2.6-Recebe algum tipo de benefício governamental? ( )sim ( )não. Em caso positivo, qual?

( ) bolsa família ( )auxílio desemprego ( )aposentadoria ( )pensão( ) outro. Qual?_________________

2.7- Quantas pessoas contribuem com a renda familiar total? ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ou mais.

2.8- Renda familiar total: ( )apenas auxílio ( )< 1 salário mínimo ( )1 salário mínimo

( ) de 1 a 3 salários ( )de 3 a seis salários ( )de 6 a nove salários ( )mais que nove salários ( )variável

2.9- Habitação: ( )própria ( )alugada ( )favor ( )posse ( )outra.

2.10- Tipo de construção: ( )alvenaria ( )outro: ______________ n0 de cômodos:_____

2.11- Pessoas residentes no domicílio: ( )1 a 3 ( )4 a 6 ( )7 a 9 ( )10 a 12 ( ) > 12

2.12- Luz elétrica: ( ) sim ( ) não

2.13- Religião: ( )Católica ( )Evangélica ( )Espírita ( )Outras ( )Não possui

3. VÍNCULO COM O IDOSO:

( ) Consanguíneo Qual:................................( ) Não consanguíneo. Remunerado: ( ) Sim ( ) Não.

Em caso positivo: Qual é a escala de trabalho? _____________________________________________

Tem alguém para revesar? ( ) Sim ( ) Não. Quem? _______________________________________

Quais as atividades que você desempenha enquanto acompanhante?_____________________________

Reside com o idoso? : ( ) Sim ( ) Não.

Experiências anteriores como acompanhante de idosos hospitalizados: ( ) Sim ( ) Não.

Número de vezes: _________________

É responsável pelo cuidado do idoso no domicílio? ( ) Sim ( ) Não

Em caso negativo, quem é o responsável? ________________________________________________

OBSERVAÇÕES DA PESQUISADORA:

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

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146

APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO IDOSO

(1ª ETAPA)

Entrevista nº: ________ Data da entrevista:___/___/______

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Identificação:__________________ Sexo: ( ) F ( ) M Idade: _____

Data da internação: ___/___/______ Setor: _______________ Bairro em que reside:____________________

Naturalidade:____________________ Nacionalidade:________________

Diagnóstico principal: _______________________________________________

Co-morbidades: _____________________________________________________ Cirurgia proposta: _________________________________________________Data____/_____/_________

2. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS:

2.1-Situação conjugal: ( )casado(a) ou vive maritalmente ( )solteiro (a) ( ) separado(a) ( ) viúvo(a)

2.2-Escolaridade: ( )analfabeto(a) ( )albafetizado(a) ( ) antigo ensino fundamental completo ( ) antigo ensino fundamental incompleto ( )antigo ensino médio completo ( ) antigo ensino médio incompleto

( )ensino superior completo ( )ensino superior incompleto ( ) outro. Qual?____________

2.3-Profissão:_________________________Atua na profissão atualmente ( )sim ( )não. Em caso negativo, em

quê?__________________________ 2.4- Situação ocupacional: ( )empregado(a) ( )desempregado(a) ( )aposentado(a) ( )nunca trabalhou

( )autônomo(a) ( ) estudante

2.5- Número de filhos: ( )nenhum ( )1 filho ( )2 filhos ( )3 filhos ( )4 filhos ou mais. 2.6-Recebe algum tipo de benefício governamental? ( )sim ( )não. Em caso positivo, qual?

( ) bolsa família ( )auxílio desemprego ( )aposentadoria ( )pensão( ) outro. Qual?_________________

2.7- Quantas pessoas contribuem com a renda familiar total? ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ou mais. 2.8- Renda familiar total: ( )apenas auxílio ( )< 1 salário mínimo ( )1 salário mínimo

( ) de 1 a 3 salários ( )de 3 a seis salários ( )de 6 a nove salários ( )mais que nove salários ( )variável

2.9- Habitação:( )própria ( )alugada ( )favor ( )posse ( )outra.

2.10- Tipo de construção: ( )alvenaria ( )outro: ______________n0 de cômodos:_____

2.11- Pessoas residentes no domicílio: ( )1 a 3 ( )4 a 6 ( )7 a 9 ( )10 a 12 ( ) > 12

2.12- Luz elétrica: ( ) sim ( ) não

2.13- Religião: ( )Católica ( )Evangélica ( )Espírita ( )Outras ( )Não possui

3. CONDIÇÕES GERAIS DO IDOSO:

a) Consciência: ( ) alerta ( ) apático ( ) confuso b) Locomoção: ( ) ambulante ( ) com auxílio ( ) cadeira de rodas ( ) acamado

c) Autonomia no cuidar de si: ( )independente ( ) parcialmente dependente ( )totalmente dependente

d) História de doença pulmonar ( ) Sim ( ) Não. Qual: __________________ e) Tabagista? ( ) Sim ( ) Não ( ) Já foi.

OBSERVAÇÕES DA PESQUISADORA:

__________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________

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147

APÊNDICE C - ROTEIRO PARA CONDUZIR O DIÁLOGO/REFLEXÃO

(2ª ETAPA)

Dados de identificação:

Data: ________/_________/______________

Horário: Início: ______________ Término:______________

Perguntas chaves:

Você sabe o que pode acontecer com o pulmão, se depois da cirurgia o idoso ficar muito

tempo deitado, sem se movimentar na cama? Fale-me sobre isso.

O que você faria antes e depois da cirurgia para evitar que o idoso venha a ter problemas no

pulmão depois da cirurgia? Fale-me sobre isso.

Onde você aprendeu?

Com quem?

Por que você acha que isso faz efeito?

Observações da Pesquisadora

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148

APÊNDICE D - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

(4ª ETAPA)

1. Dados de identificação:

Nº da observação: ____________________________

Data: ______/_____/_______

Horário: Início: ______________ Término:____________

2. Registros sobre a implementação do plano de cuidados, no pós-operatório

(dificuldades, dúvidas, facilidades, etc).

Que cuidados o acompanhante realizou?

O idoso deambulou, sentou, tossiu, se mobilizou, bebeu água?

E quando?

O acompanhante está tendo autonomia para realizar os cuidados ou está chamando

a equipe de enfermagem?

Observações da Pesquisadora

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149

APÊNDICE E – ROTEIRO PARA CONDUZIR A DISCUSSÃO/AVALIAÇÃO

(5ª ETAPA)

1. Dados de identificação:

Data: ______/_____/_______

Horário: Início: ______________ Término:__________

Avaliação da inserção no cuidado

Perguntas chaves:

Como foi participar do cuidado prestado ao idoso após uma cirurgia?

Quais foram as suas facilidades em cuidar do idoso no hospital?

E as dificuldades?

O plano elaborado ajudou ou não? Como?

Como você percebe a equipe de enfermagem nesse processo de sua participação no

cuidado com o idoso?

Você tem alguma sugestão ou comentário a fazer?

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APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

“AÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM VOLTADAS À PREVENÇÃO DE

COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS PÓS-CIRÚRGICAS NO IDOSO”

Você foi escolhido (a) e está sendo convidado (a) para participar de uma pesquisa sobre o que os

acompanhantes de clientes cirúrgicos idosos sabem e o que fazem para evitar ou diminuir os

problemas respiratórios que podem acontecer após a cirurgia. Isto é importante para que as

enfermeiras possam orientar melhor os acompanhantes e cuidar melhor dos idosos evitando ou

diminuindo o aparecimento de complicações respiratórias após a cirurgia. Esta pesquisa também

ajudará as enfermeiras os acompanhantes dos idosos a se conhecerem melhor e a tirarem as suas

dúvidas sobre o cuidado com o pulmão após a cirurgia. A pesquisa terá duração de 2 anos e faz

parte de um estudo de Mestrado que está sendo realizado na Escola de Enfermagem Anna Nery,

que é da mesma universidade deste hospital. A pesquisa será realizada de duas formas: primeiro,

no dia anterior à realização da cirurgia, o acompanhante e a pesquisadora conversarão

individualmente, na própria enfermaria onde o cliente está internado. Durante a conversa, a

pesquisadora fará perguntas para que o acompanhante fale sobre o cuidado com o pulmão após a

cirurgia, para evitar ou diminuir os problemas respiratórios; depois, após a realização da cirurgia,

os acompanhantes serão observados na enfermaria quando estiverem com os idosos. A conversa

individual será gravada em gravador de voz eletrônico e a observação dos acompanhantes na

enfermaria será escrita em um caderno que ficará com a pesquisadora. Ninguém do hospital lerá o

que está escrito no caderno ou ouvirá as gravações. As gravações serão apagadas após 5 (cinco)

anos do término da pesquisa. Os nomes dos idosos e dos acompanhantes não aparecerão na

pesquisa. As pessoas que participarem receberão outro nome, bem diferente do seu próprio. Tudo

o que for gravado e escrito só será utilizado nesta pesquisa. Quando terminar, a pesquisa será

apresentada em reuniões científicas e também poderá ser publicada em livros ou revistas

científicas. A sua participação não é obrigatória, ou seja, você só participará desta pesquisa se

quiser. Se você aceitar, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer pergunta

ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo na sua

relação com o pesquisador ou com a Instituição. Você não terá nenhum gasto e também não

receberá qualquer pagamento em dinheiro ou de outra natureza por ter participado da pesquisa.

Não haverá risco de qualquer natureza seja ele: físico, mental ou moral para você e o idoso que

você acompanha. A sua participação é muito importante e trará benefícios para a formação dos

profissionais e para a assistência de Enfermagem.Você receberá uma cópia deste termo onde

consta o telefone e e-mail da pesquisadora, podendo tirar suas dúvidas sobre o estudo e sua

participação, agora ou a qualquer momento.Pesquisadora/Mestranda: Maria da Luz Ferreira

Xavier Telefone: (21) 26130702 ou (21) 9300-4976 e-mail: [email protected] Telefone de

contato do Comitê de Ética em Pesquisa HUCFF / UFRJ - (21) 2562-2480 e-mail:

[email protected] Acredito ter sido bem informado a respeito das informações que li e/ ou foram

lidas para mim sobre o estudo citado. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,

de que maneira participarei, que meu o nome e do idoso que eu acompanho não aparecerá, e que a

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO

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qualquer momento posso tirar dúvidas. Ficou claro também que não terei despesas e nem receberei

benefícios pessoais com a minha participação. Concordo voluntariamente (de livre e espontânea

vontade) em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento,

antes ou durante o mesmo, sem prejuízos a mim e a assistência ao idoso que acompanho, durante

minha permanência na Instituição (HUCFF).

___________________________________________

Nome do acompanhante:

____________________________________________ Data: _____/______/______

Assinatura do acompanhante:

Maria da Luz Ferreira Xavier

___________________________

Nome da Mestranda/Pesquisadora

_________________________________

Assinatura da Mestranda/Pesquisadora Data: _____/______/______

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APÊNDICE G – ENCAMINHAMENTO AO CEP DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

CLEMENTINO FRAGA FILHO

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APÊNDICE H - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE UROLOGIA/HUCFF

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APÊNDICE I - AUTORIZAÇÃO DO SERVIÇO DE CIRURGIA GERAL/HUCFF

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ANEXO A – AUTORIZAÇÃO DA DIVISÃO DE ENFERMAGEM/HUCFF

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ANEXO B - PARECER DO CEP/HUCFF

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