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aria de Lourdes Oliveira da Silva, uma jovem mulher de 37 anos, é agricultora residente no Assenta- M mento Boa Vista, município de Qui- xadá. O assentamento possui 1.300ha e abriga uma população constituída de 28 famílias assen- tadas e mais 10 agregadas, que representa um total de cerca de 190 pessoas. Lourdes é uma mulher “nordestinense” como tantas outras, que experimentou muitas dificuldades, medos e inse- gurança, conheceu secas, viveu dias sombrios, mas também aproveitou oportunidades, adquiriu novos conhecimentos e por isso acreditou nas potencialidades do semiárido brasileiro. Mais que isso, ela apostou na agroecologia como um modo de vida. Seus olhos brilham de emoção ao falar que com a agroecologia sua “vida mudou em todos os sentidos”. Lourdes revela que O começo antes “era uma pessoa tímida, nervosa e cheia de medos”. Não participava da organização comuni- Tudo começou a mudar em 2008 quando foi tária e se dedicava exclusivamente aos trabalhos convidada pelo CETRA (Centro de Estudos do domésticos. No seu quintal havia umas poucas Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador) para plantas para uso medicinal e no período inverno- participar de um Encontro de Avaliação e Plane- so, a família faz pequeno plantio de milho e feijão, jamento Institucional. Mesmo com receio, decidiu cultura de subsistência. viajar para Itapipoca e foi lá que se deu o grande “A partir de incentivo do pessoal do CETRA encontro do seu ser mulher com a agroecologia. aceitei o desafio de participar de um encontro em Na ocasião, foi realizado intercâmbio de experiên- Itapipoca”. E declara ainda: “Antes de participar cias entre agricultores/as. Lourdes visitou a dos cursos não tinha plantas no quintal. Eu não 1 experiência do quintal produtivo de Fátima , a tinha ânimo para nada. Era uma pessoa muito Fafá e se encantou. O que mais lhe impressionou pessimista e pensava que nada dava certo. Com foi a diversidade de plantas no quintal. Dali logo os cursos em agroecologia eu aprendi não só um tirou uma lição de vida: “Assim, o alimento da jeito novo de ser agricultora, mas um jeito novo de mesa nunca se acaba, quando um falta, tem o ver a vida”. outro pra substituir, e assim vai o ano todo”. Trouxe na bagagem sementes, mudas, espe- PARTILHANDO EXPERIÊNCIAS EXPERIÊNCIAS Praticando Agroecologia, Semeando Alegria Praticando Agroecologia, Semeando Alegria Boletim Informativo da Rede de Assessoria Técnica e Extensão Rural do Nordeste (Rede Ater/NE) | Edição Nº 002 - 2011 DA AGROECOLOGIA NASCE UMA NOVA MULHER Experiência de Maria de Lourdes Oliveira da Silva 1 - Maria de Fátima, residente na comunidade Jenipapo, município de Itapipoca, em cujo quintal produtivo agroecológico, produz uma variedade de plantas que garante a segurança alimentar da família e o que sobra é comercializado na feira Agroecológica e Solidaria de Itapipoca.

Maria de Lourdes

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Sistematização de experiência

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Page 1: Maria de Lourdes

aria de Lourdes Oliveira da Silva, uma jovem mulher de 37 anos, é agricultora residente no Assenta-Mmento Boa Vista, município de Qui-

xadá. O assentamento possui 1.300ha e abriga uma população constituída de 28 famílias assen-tadas e mais 10 agregadas, que representa um total de cerca de 190 pessoas. Lourdes é uma mulher “nordestinense” como tantas outras, que experimentou muitas dificuldades, medos e inse-gurança, conheceu secas, viveu dias sombrios, mas também aproveitou oportunidades, adquiriu novos conhecimentos e por isso acreditou nas potencialidades do semiárido brasileiro.

Mais que isso, ela apostou na agroecologia como um modo de vida. Seus olhos brilham de emoção ao falar que com a agroecologia sua “vida mudou em todos os sentidos”. Lourdes revela que

O começoantes “era uma pessoa tímida, nervosa e cheia de medos”. Não participava da organização comuni-

Tudo começou a mudar em 2008 quando foi tária e se dedicava exclusivamente aos trabalhos convidada pelo CETRA (Centro de Estudos do domésticos. No seu quintal havia umas poucas Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador) para plantas para uso medicinal e no período inverno-participar de um Encontro de Avaliação e Plane-so, a família faz pequeno plantio de milho e feijão, jamento Institucional. Mesmo com receio, decidiu cultura de subsistência. viajar para Itapipoca e foi lá que se deu o grande “A partir de incentivo do pessoal do CETRA encontro do seu ser mulher com a agroecologia. aceitei o desafio de participar de um encontro em Na ocasião, foi realizado intercâmbio de experiên-Itapipoca”. E declara ainda: “Antes de participar cias entre agricultores/as. Lourdes visitou a dos cursos não tinha plantas no quintal. Eu não

1experiência do quintal produtivo de Fátima , a tinha ânimo para nada. Era uma pessoa muito Fafá e se encantou. O que mais lhe impressionou pessimista e pensava que nada dava certo. Com foi a diversidade de plantas no quintal. Dali logo os cursos em agroecologia eu aprendi não só um tirou uma lição de vida: “Assim, o alimento da jeito novo de ser agricultora, mas um jeito novo de mesa nunca se acaba, quando um falta, tem o ver a vida”. outro pra substituir, e assim vai o ano todo”.

Trouxe na bagagem sementes, mudas, espe-

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EXPERIÊNCIASEXPERIÊNCIASPraticando Agroecologia, Semeando AlegriaPraticando Agroecologia, Semeando Alegria

Boletim Informativo da Rede de Assessoria Técnica e Extensão Rural do Nordeste (Rede Ater/NE) | Edição Nº 002 - 2011

DA AGROECOLOGIA NASCE UMA

NOVA MULHERExperiência de Maria de Lourdes Oliveira da Silva

1 - Maria de Fátima, residente na comunidade Jenipapo, município de Itapipoca, em cujo quintal produtivo agroecológico, produz uma variedade de plantas que garante a segurança alimentar da família e o que sobra é comercializado na feira Agroecológica e Solidaria de Itapipoca.

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EXPERIÊNCIASEXPERIÊNCIAS

rança e a força de vontade para mudar de atitude, o perfil e a produção do seu quintal. Hoje tem outro olhar sobre seu quintal e expressa sua satisfação afirmando: “No quintal há tranqüilida-de, há paz. Às vezes, quando estou estressada, entro no quintal e fico em paz.” Mais uma vez, a

Lourdes também fabrica doces de diferentes sabores - banana, goiaba e mamão com coco, que comercializa nas feiras, através de encomendas que atende e ainda na comunidade. Ela salienta que o primeiro objetivo do quintal é melhorar a alimentação de sua família, ou seja, garantir a segurança alimentar, e o que sobra ela vende para pessoas do próprio assentamento ou em feiras, o que contribui para o aumento da receita familiar e o atendimento de outras necessidades da família. Ela faz parte de um grupo produtivo formado por cinco mulheres da comunidade, que implantaram uma horta-pomar, fazem o trato cultural e produ-zem frutas e hortaliças diversas.

Para Lourdes o processo agroecológico trans-formou sua vida em todos os sentidos. A divisão do trabalho doméstico é compartilhada por toda família, o que lhe oferece mais liberdade para par-ticipar de outros espaços. Seu engajamento na associação, na luta por melhoria na qualidade de vida no assentamento, a fez perder o medo, a ver-gonha de falar, de se manifestar em público. Se empoderou de informações e de coragem e agora representa o assentamento em eventos, em espa-ços públicos como INCRA, Sindicato, entre outros. Seus depoimentos são claros quanto a sua autoestima, seu crescimento pessoal, como ela afirma: “hoje sou uma pessoa mais feliz, autôno-ma, me sinto importante e capaz.”

mulher procura no quintal, refúgio para suas angustias, ansiedades ou dúvidas, embora nunca declare o que é de fato a angustia que tira sua paz.

Hoje, dois anos depois, no quintal de Lourdes se encontram mais de vinte variedades de cultura agrícola entre fruteiras, hortaliças e ervas medici-nais, tais como: goiaba, acerola, caju, limão, laran-ja, tamarindo, urucum, macaxeira, maracujá, ata, banana, coco, amora, abacaxi, abacate, pitanga, azeitona, plantas ornamentais e no canteiro, se encontram cebolinha, coentro e ervas medicinais.

Algumas plantas estão em fase de crescimen-to, porque havia dificuldade para irrigar. Ainda há espaço para as criações de cabras leiteiras que produzem leite suficiente para ser vendido in natu-ra para a CONAB, destinado á merenda escolar e para sua produção caseira de queijos temperados, de excelente qualidade, que comercializa na comu-nidade entre visitantes e na feira em Quixadá.

EXPED I ENTE

Algumas plantas estão em fase de crescimento

RedeATER/Nordeste - AS-PTA, APAEB, ASCOOB,ASSOCENE, CAATINGA, CENTRO SABIÁ, CETRA,DIACONIA, ESPLAR, MOC, PATAC, REPARTE E SASOP

Realização: Patrocínio: Apoio:

O boletim Partilhando Experiências é uma publicação do Caatinga com o apoio da Rede ATER NE, e patrocínio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). TTexto: Margarida Pinheiro. Colaboração: Neila Santos e Florença Gonçalves - Revisão: Elka Macedo - Fotos: Arquivo CETRA- Diagramação: Mário Pires – Tiragem: 1000 – Gráfica: Provisual – e-mail: [email protected] – Endereço: Avenida Engenheiro Camacho, 475, bairro Renascença - Ouricuri /PE . www.caatinga.org.br

Para Lourdes o processo agroecológico transformou sua vida em todos os sentidos