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Econômica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 55-78, junho 2008 As intensas e conflituosas relações econômicas e financeiras entre a Grã-Bretanha e a Argentina: do final do século XIX até a Primeira Guerra Mundial * Maria Heloisa Lenz ** Resumo – A economia argentina experimentou um extraordinário crescimento econômico no final dos anos 1870, a chamada Belle Époque, quando a carac- terística mais marcante foi a sua integração externa, mais precisamente com a Grã-Bretanha. O relacionamento entre Grã-Bretanha e Argentina durante a sua história foi complexo, variando da amizade ao conflito. O presente trabalho tem como objetivo examinar a ligação especial que caracterizou as relações anglo- argentinas no período de intenso crescimento argentino, iniciado nos anos 1880. A primeira parte abordará o início destas relações, caracterizadas pelas relações comerciais, tratados e também pela falta de imigração inglesa. A segunda tratará especificamente dessas relações a partir dos anos 1880, quando a ênfase se dará nos investimentos, nas empresas e na presença de cidadãos ingleses em várias esferas da sociedade argentina. Palavras-chaves – Argentina; relações anglo-argentinas; tratados; investimentos externos. JEL – N 16, N 26 1. Introdução A economia argentina experimentou um extraordinário crescimento econômico no final dos anos setenta do século XIX, a chamada Belle Époque, quando a característica mais marcante foi a sua integração externa, * Trabalho apresentado no VI Congresso Brasileiro de História Econômica e Sétima Conferência Internacional de História de Empresas, da ABPHE, realizado em Con- servatória, RJ, setembro de 2005. ** Professora do Curso de Pós-Graduação em Economia e do Departamento de Economia da UFRGS; e-mail: [email protected].

Maria Heloisa Lenz

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    econmica, Rio de janeiro, v. 10, n. 1, p. 55-78, junho 2008

    As intensas e conflituosas relaes econmicas e financeiras entre a Gr-Bretanha e a Argentina: do final do sculo XiX at a Primeira Guerra mundial*

    maria heloisa Lenz**

    Resumo A economia argentina experimentou um extraordinrio crescimento econmico no final dos anos 1870, a chamada Belle poque, quando a carac-terstica mais marcante foi a sua integrao externa, mais precisamente com a Gr-Bretanha. O relacionamento entre Gr-Bretanha e Argentina durante a sua histria foi complexo, variando da amizade ao conflito. O presente trabalho tem como objetivo examinar a ligao especial que caracterizou as relaes anglo-argentinas no perodo de intenso crescimento argentino, iniciado nos anos 1880. A primeira parte abordar o incio destas relaes, caracterizadas pelas relaes comerciais, tratados e tambm pela falta de imigrao inglesa. A segunda tratar especificamente dessas relaes a partir dos anos 1880, quando a nfase se dar nos investimentos, nas empresas e na presena de cidados ingleses em vrias esferas da sociedade argentina.

    Palavras-chaves Argentina; relaes anglo-argentinas; tratados; investimentos externos.

    JEL N 16, N 26

    1. introduo

    A economia argentina experimentou um extraordinrio crescimento econmico no final dos anos setenta do sculo XIX, a chamada Belle poque, quando a caracterstica mais marcante foi a sua integrao externa,

    * Trabalho apresentado no VI Congresso Brasileiro de Histria Econmica e Stima Conferncia Internacional de Histria de Empresas, da ABPHE, realizado em Con-servatria, RJ, setembro de 2005.

    ** Professora do Curso de Ps-Graduao em Economia e do Departamento de Economia da UFRGS; e-mail: [email protected].

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    mais precisamente com a Gr-Bretanha. Essas relaes envolveram desde a celebrao de tratados entre os dois pases at a abertura externa via exportaes e o afluxo de capital com grande preponderncia inglesa.

    Na verdade, o relacionamento entre a Gr-Bretanha e a Argentina durante toda a histria sempre foi complexo e com diversas nuanas, va-riando de vnculos a fases de conflitos. Envolveu desde relaes econmicas e polticas, marcadas pela exportao de produtos necessrios dentro da diviso internacional do trabalho, pelos investimentos ingleses na Argen-tina, com o pequeno fluxo de imigrantes britnicos para a Argentina, at a viso que ingleses e argentinos tinham um a respeito do outro. Em um importante trabalho sobre as intensas relaes entre a Gr-Bretanha e a Argentina, os autores Hennessy e King (1992) deram o significativo ttulo: The Land that England Lost.1 O ttulo bastante ilustrativo e d uma idia da dimenso da relao existente entre os dois pases no final do sculo XIX e incio do XX, uma relao que se tornou to intensa que, no ima-ginrio da poca, a Argentina realmente fazia parte do Imprio Britnico ou pelo menos era considerada uma parte perdida ou no-adquirida.

    Dividido em duas partes, o presente trabalho tem como objetivo examinar a ligao especial que caracterizou as relaes anglo-argentinas no perodo de intenso crescimento ocorrido entre o final do sculo XIX e incio do sculo XX. A primeira parte abordar o incio do relaciona-mento entre os dois pases, caracterizado por fortes relaes comerciais, tratados e escassa imigrao inglesa. Essas relaes foram to marcantes que delinearam o perodo seguinte, que ser objeto da segunda parte, onde se tratar especificamente dessas relaes a partir dos anos oitenta do sculo XIX, quando se inicia o intenso crescimento da economia ar-gentina, com nfase nos investimentos e na presena de empresas e de cidados ingleses em todas as esferas da sociedade argentina.

    2. o incio das relaes anglo-argentinas: comrcio, tratados e a reduzida imigrao inglesa.

    Estudando a influncia britnica na Argentina no perodo que vai do sculo XIX at a Grande Depresso, Ferns (1992) afirmou que este pas podia ser classificado, da mesma forma que a Austrlia, o Canad e

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    os Estados Unidos, como uma fronteira de negcios: uma fonte de ma-tria-prima e alimentos, um mercado para capital e bens de consumo, e uma rea de oportunidades de investimento. O autor, todavia, ressalta que um olhar mais atento revelaria diferenas significativas. A mais im-portante foi que a Argentina, contrariamente Austrlia, ao Canad e aos Estados Unidos, nunca recebeu imigrantes britnicos em uma escala capaz de modificar seriamente a cultura poltica e as caractersticas latinas e mediterrneas da comunidade. A falta de um considervel volume de imigrao para assentamento permanente tornou a Argentina um pas diferente dos demais pases da Comunidade Britnica, no que diz respeito s suas relaes de poder com a poltica da Inglaterra.

    A Inglaterra optou, assim, por manter uma forte relao econmica com a Argentina, baseada em um grande volume de investimentos, mas no de cidados britnicos dispostos a se estabelecer no pas sul-ame-ricano. Conforme ressalta Ferns (1979, p. 331), a histria das relaes econmicas anglo-argentinas do perodo de desenvolvimento refere-se a inverses de capital, e no imigrao. Por sua vez, Jones (1992, p.63) fez o seguinte questionamento sobre este relacionamento:

    Looking back over the whole of Argentine history the British may plausibly be cast either as progressive partners in the development of Argentine or as the creators of insuperable obstacles constraining eco-nomic life and public policy: engine or brake.2

    Os ingleses aparecem pela primeira vez na histria argentina no sculo XVIII como rebeldes, atacando o monoplio comercial espanhol, estabelecendo relaes com as Amricas por meio do contrabando de bens manufaturados. Por um breve perodo, no incio do sculo XVIII, a British South Sea Company tinha o direito legal de fornecer escravos para a Amrica Espanhola. O contrato tambm permitia Companhia comercializar em vrios portos, Buenos Aires entre eles, para armazenar outros bens alm de escravos e empreender viagens pelo interior com o objetivo de comercializar outros produtos. Mas o abuso britnico des-tes privilgios foi to descarado e completo que a imagem nacional de

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    malfeitor, estabelecido por Drake e sua gerao, foi pouco prejudicada (BATCHELOR apud JONES, 1992, p. 65).

    As relaes entre ingleses e argentinos comearam efetivamente em 1806 e 1807 e terminaram com o tratado assinado por lorde Palmerston e Rosas em 1849. O estabelecimento de uma diplomacia de bom enten-dimento e cordialidade recebeu uma expresso simblica em uma sauda-o britnica bandeira argentina, como reconhecimento da soberania argentina sobre o Rio da Prata. A partir de ento, o poder poltico foi eliminado como fator decisivo nas relaes anglo-argentinas, e as rela-es entre a Gr-Bretanha e a Argentina passaram a ser primordialmente econmicas: seus principais protagonistas, ao menos do lado britnico, eram empresrios e engenheiros (FERNS, 1960).

    Para Hennessy (1992), este incio de relaes foi, na verdade, humi-lhante para os ingleses, marcado pela derrota militar a eles infligida em 1806 e 1807, primeiro com a expedio de Sir Home Popham, e, nos anos seguintes, pela expedio punitiva do General Whitelocke. As bandeiras britnicas dos regimentos capturados, penduradas nas igrejas, ficaram como memorial da desventura do General Whitelocke (submetido a corte marcial e demitido do servio) por ter favorecido a vitria crioula.

    O chamado Imprio Informal da presena britnica na Argentina era um assunto de negociantes e financistas. As grandes decises eram ditadas pelo simples funcionamento do mercado. Para Hennessy (1992), a Argen-tina era, na maioria dos casos, um mercado muito competitivo, aonde os negociantes ingleses chegaram sem os benefcios do suporte de um imprio e tiveram de enfrentar sozinhos os ventos frios da competio. J em 1810, com o controle dos mares, os britnicos estavam frente do comrcio e mostravam-se capazes de enfrentar as novas oportunidades e atividades.

    Atravs da riqueza proveniente das criaes de gado, a Regio do Prata emergiu no final do sc. XIX contra a correnteza do Imprio Es-panhol: (...) seu couro cru satisfazendo a demanda feroz por couro dos exrcitos europeus e suas carcaas providenciando a carne salgada para a comida bsica do Brasil e plantao escrava de Cuba. Riqueza e poder embasaram a influncia do gado (HENNESSY, 1992 p.15). A criao do gado foi, portanto, uma resposta inevitvel para a demanda de mercado e a escassez do trabalho.3 Em 1844 o ingls Richard Newton comeou a

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    usar cerca de arame em suas terras, prefigurando a introduo do arame farpado em 1870, que tornou o gado domesticado. Segundo Hennessy (1992), o cercamento dos pampas foi to revolucionrio nas suas conse-qncias sociais quanto as enclosures haviam sido no sculo XVI na In-glaterra, sinalizando o fim da explorao de rea aberta e transformando o campo gacho de extenso aberta em um espao arrendvel. O mesmo autor lembra que, quando a Sociedade Rural argentina foi fundada, em 1866, contavam-se, entre seus integrantes, muitos cidados britnicos.

    Nos anos seguintes, a influncia britnica seria exercida sem os be-nefcios da coero militar, com exceo da falta de sucesso do bloqueio dos anos 1840, mostrando-se como uma sociedade nouveau riche, com os negcios conduzidos sem os refinamentos do protocolo aristocrtico (HENNESSY, 1992).

    Na Argentina, pois, a insero nacional no sistema imperial britnico no foi, malgrado as simplificaes do passado, o resultado automtico do surgi-mento da Inglaterra como potncia hegemnica. Pelo contrrio, segundo Zapiopla (1975, p. 11), cost muchos aos de sangre y fuego a los intereses imperialistas y a sus aliados locales que a Argentina estuviera en condiciones de convertirse en granero del imperio y a la vez en sua fuerte deudora.4

    Em 1870 novas companhias foram criadas para configurar a par-ceria em desenvolvimento, na verdade uma continuao da parceria de concesses para corporaes inglesas. Para os britnicos, o equilbrio algumas vezes instvel de um casamento entre os grandes proprietrios e os residentes britnicos indicava uma tranqila e progressiva integrao da elite mercantil inglesa no governo argentino nessa poca.

    Um interessante exemplo dessas relaes dado por Jones (1992, p. 71):

    The original Argentine concessions, out of which grew the Great the Great Southern Railway Company or the London and River Plate Bank, were given to men like George Drabble and Edward Lum: known and trusted by those in power; owners, like themselves, of great estancias.5

    Os investimentos ingleses6 chamaram a ateno pelas suas grandes somas e pela escassez das contribuies individuais. Os indivduos que

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    tinham fundos na Inglaterra necessitavam tomar apenas uma deciso: transferi-los ou no, e essa deciso era tomada em funo da idia de uma abstrao chamada Argentina, conhecida como aquela parte do mundo onde se obtinham bons rendimentos sobre o capital. Os investidores ingleses no sabiam a diferena entre a Argentina, o Mxico e o Brasil, e a distino entre a Provncia de Buenos Aires e a Repblica Argentina tambm era demasiadamente sutil. Na verdade o nome de uma firma bancria como Baring Brothers ou Murieta & Company significava mais para os investidores do que os nomes Argentina ou Buenos Aires.

    Um dos principais aspectos das relaes entre Argentina e Gr-Bre-tanha foi a assinatura dos Ttratados Anglo-argentinos de 1825 e 1849, cujas negociaes refletiam as diferentes vises que cada nao possua a respeito do papel do Estado na conduo da poltica de investimentos. Os negociadores ingleses tinham uma viso liberal do relacionamento entre governo e empresas: ao primeiro caberia fixar apenas o aparato de leis, e, aos proprietrios e trabalhadores, deixar para o mercado a deter-minao do crescimento econmico. Na Argentina, o papel do governo era completamente diferente. Os governos federal e provincial no s recomendavam aos empreendimentos privados a busca de emprstimos nos mercados internacionais de capitais com o objetivo de financiar es-tradas de ferro, portos, como tambm asseguravam os seus lucros. Assim, havia uma assimetria nas relaes financeiras anglo-argentinas na esfera das relaes do comrcio e dos direitos de propriedade. Conforme Ferns (1992), enquanto o governo argentino teve um papel positivo em indu-zir investimentos, o britnico no atuou com a mesma intensidade em relao aos investimentos dos capitais britnicos na Argentina.

    Essa poltica de no-interveno do governo ingls estendeu-se por todo o perodo de sua grande influncia sobre a economia argentina. Quando os investidores ingleses se encontraram em dificuldades em funo dos emprstimos governamentais argentinos como no caso do emprstimo Baring para financiar a Guerra do Paraguai7 e novamente durante a moratria que levou crise do Baring dos anos 1890 , houve muitos apelos para uma interveno do governo da Inglaterra. Este, porm, sempre se recusou a fazer mais do que chamar a ateno das

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    autoridades argentinas para o problema, mantendo-se fiel a uma polti-ca iniciada em 1848. Naquela ocasio, mais especificamente em janeiro de 1848, Lorde Palmerston endereou uma circular aos representantes de Sua Majestade em Estados estrangeiros sinalizando a absteno do governo na questo dos dbitos estrangeiros dos investimentos ingleses. Segundo uma parte dessa Circular de 1848:

    For the British Government has considered that the losses of imprudent men who have placed mistaken confidence in the good faith of foreign Governments would prove a salutary warning to others, and would prevent any other loan from being raised in Great Britain except by Governments of known good faith and of ascertainned solvency (PLATT apud FERNS, 1992, p. 54).8

    Outra faceta importante das relaes anglo-argentinas foi o fato de que, mesmo com a extrema interao econmica e poltica entre os dois pases, no tenha ocorrido um fluxo imigratrio significativo de ingleses para a Argentina. Embora Juan Alberdi, o criador da frase Gobernar es poblar, estivesse ansioso para atrair fazendeiros da Europa, descrevendo o ingls como o mais perfeito dos homens, poucos britnicos se inte-ressaram por adotar a explorao agrcola. Foram os espanhis, suos, alemes, franceses, italianos que aceitaram o desafio (JEFFERSON, apud HENNESSY, 1992, p. 14).

    Assim, do total do contingente de imigrantes ultramarinos que che-garam Argentina entre 1857 e 1910, a maior parcela era de italianos, seguidos pelos espanhis. A participao italiana tendeu a diminuir no transcurso dos anos, ao mesmo tempo que a imigrao proveniente da Europa oriental teve suas taxas aumentadas, conforme Tabela 1. Vrios elementos concorrem para explicar por que o grande contingente de imi-grantes para a Argentina era de maioria italiana. As facilidades de adaptao ao clima e ao idioma podem ser consideradas entre essas causas; alm disso, uma vez iniciado o processo migratrio, o encontro de um grande nmero de compatriotas no pas atenuava as dificuldades da chegada.

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    Tabela 1. Estrutura da imigrao bruta ultramarina segundo nacionalidades* (1857-1910) percentagem

    1857-80 1881-1900 1901-10

    Italianos 63,1 61,7 45,1

    Espanhis 16,0 19,5 37,0

    Franceses 9,6 8,0 1,9

    Alemes 1,2 1,5 1,1

    Polacos 0,0 0,0 0,0

    Russos 0,2 1,5 4,8

    Outros 9,9 7,8 10,1

    Total em milhares de pessoas 440,5 1 489 0 1 764 7

    (*): includos somente passageiros de segunda e terceira classe.Fonte: Daz alejandro (1970).

    Segundo Vzquez-Presedo (1971) a Argentina oferecia poucos atrativos ao imigrante ingls, pois ele tinha de competir no s com a populao nativa, como tambm com a imigrao italiana e espanhola, cujo aumento tendia a rebaixar os salrios. Os principais obstculos para uma imigrao inglesa de larga escala eram o clima, o idioma, os costumes e a religio, o sistema de posse de terra, as invases dos ndios e o confisco injusto da propriedade, tanto por parte de tropas rebeldes como pelas mos dos prprios governantes.

    Ento, quais ingleses foram para a Argentina e por que eles foram, quando havia um Imprio Britnico clamando pela presena de bons amigos e parentes?. Eis a indagao feita por Hennessy (1992) com relao chegada dos ingleses Argentina.

    Nos anos iniciais, era comum encontrar cidados britnicos traba-lhando em lojas, hotis e mesmo exercendo a medicina e a arquitetura em Buenos Aires. Mas esse cenrio se tornou diferente quando os espanhis e italianos passaram a figurar nele em maioria.

    Alm disso, quando as provncias ribeirinhas e os pampas abriram para assentamento nos anos 1860, tambm os Estados Unidos, Canad, Austrlia e Nova Zelndia abriram para o assentamento britnico, oferecen-do atrativos adicionais como o preo da terra, a cultura e lngua similar e a liberdade religiosa, assim como vrios graus de representao poltica.

    Outros fatores, alm da inaptido e falta de interesse pela produo de gado, desestimularam uma forte imigrao inglesa. Um deles foi o relatrio do cnsul ingls para o Governo Britnico em 1872, advertindo

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    fortemente seus compatriotas sobre os riscos da vinda para a Argentina. Por sua leitura, dessa vez no eram os ndios, mas sim os gauchos malos, os viles, que teriam matado quatorze fazendeiros, inclusive ingleses, em uma rebelio dos nativos argentinos. A sua publicao teve novamente o efeito de interromper os fluxos estrangeiros para os pampas (SLATTA apud HENNESSY, 1992). O pensamento ingls da poca idealizava que a vida na Argentina era cheia de aventuras e repleta de oportunidades para quem desejava acumular bastante capital e depois gozar a vida na Inglaterra. Ao menos neste aspecto eles dividiram com os espanhis a mentalidade de hacer la Amrica. Mas tinham mais interesse em investir em estradas de ferro e em outros negcios rentveis do que engrossar a fora de trabalho argentina em formao (HENNESSY, 1992).

    O Cnsul no via grandes perspectivas de crescimento para a comuni-dade britnica. Ele expressava uma opinio ambgua sobre os argentinos:

    Los habitantes de la ciudad han cedido en alguna medida, y especialmente en la capital, a la civilizacin en progreso introducida por el elemente extranjero de la poblacin, y son educados, refinados e inteli-gentes, pero por lo general perezosos, corruptibles y muy envidiosos de lo extranjero, especialmente de las innovaciones y las empresas inglesas. (Parliamentary Papers, 1872 apud FERNS, 1979, p. 369-370).9

    A Argentina tinha de competir com fluxos migratrios e isso explica a liberalidade de suas leis imigratrias. Um exemplo desta poltica de atrao dos emigrantes fica evidente na notvel mensagem dirigida ao Congresso do presidente Avellaneda, de 1876:

    La migracin de hombres y los movimentos de capital obedecen ciertas leys, frecuentemente con similares re-sultados. El inmigrante pide proteccin a su pas de ado-cin y huye de exacciones, violencia y anarquia. Pases rebeldes y desordenados no son tierras de inmigracin. El inmigrante pretende adquirir su tierra y nosotros, proprietarios de inmensos territorios, no hemos sido lo suficientemente sabios como para ofrecrselos; debe-

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    mos abolir todo obstculo que impida la inmigracin (VZQUES-PRESEDO, 1971, p. 110).

    Na verdade, os imigrantes ingleses foram suplantados pelos contin-gentes do sul da Europa quando o crescimento imigratrio se tornou uma questo de capital e no de pessoas, com um subseqente estreitamento e especializao de funes. Em 1870, os ingleses vinham, em sua maioria, para trabalhar em empresas de proprietrios britnicos, como bancos, casas de exportao e importao, companhias de navegao ou de terra, ou, ainda, para trabalhar em uma das sete empresas inglesas de estradas de ferro ou em alguma das muitas empresas britnicas de utilidades. O capital tendia a ser investido na compra de terras muitos ingleses vie-ram como mercadores e se tornaram grandes proprietrios de terra10, em empresas de utilidades pblicas, quando no era repatriado. Assim, the open spaces of the pampas also offered possibilities of acting out the fantasies of English country gentlement, hunting ostriches instead of foxes, the drink-sodden types who so disgusted the hero in Hudsons The Purple Land11 (HENNESSY, 1992, p.21).

    3. as relaes da inglaterra com a argentina a partir dos anos 1880: investimentos, a presena de empresas e de cidados britnicos na sociedade argentina

    No incio dos anos 1880, quando realmente comeou a importante onda de investimentos na Argentina, tambm teve incio uma era mais intensa nas relaes deste pas com a Inglaterra.

    Como foi visto, a conexo anglo-argentina havia sido criada como parte do imprio de livre-comrcio britnico do sculo XIX. Essa de-pendncia, de acordo com MacDonald (1992), estava alicerada num mundo dividido em especializaes de trabalho, no qual a Argentina providenciava carne e gros para a metrpole industrial britnica, en-quanto os britnicos proviam os argentinos com bens industriais e capital necessrios para desenvolver os pampas.12

    A nova etapa inaugurada em 188013 refere-se, principalmente, ao investimento estrangeiro, em especial ao britnico, com caractersticas

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    diferentes do perodo anterior. Esse investimento j no dependia mais do desenvolvimento do comrcio, ainda que o tenha influenciado no mdio prazo. Tratava-se agora de financiar a formao de um capital social fixo para o pas, especialmente em servios de transportes.

    Pela falta de instituies financeiras capazes de captar os fundos necessrios, novamente coube ao Estado argentino criar o ambiente pro-pcio para a chegada dos novos investimentos. Os fundos eram buscados na Europa, sobretudo na Inglaterra, e foram utilizados primeiramente para a compra direta de bens de produo junto s naes estrangeiras, como o equipamento de estradas de ferro. O restante era transferido para a Argentina com o objetivo de financiar o aumento dos gastos na formao de capital, como os que se acumulavam com as atividades de construo do sistema ferrovirio.

    Para Ford (1975), existem razes tanto de ordem interna como externa para o fato de a Argentina ter-se tornado um plo atraente e seguro para os investidores estrangeiros, o que explica a grande onda de investimentos ocorrida no incio dos anos 1880. Entre as razes internas, o autor destaca o fato de o campo ter-se tornado um lugar seguro para cultivos permanentes depois das Campanhas de Roca; alm disso, vigorava ento um poderoso governo federal que havia empreendido reformas monetrias internas e adotado o padro-ouro. Entre as razes externas, Ford salienta as inovaes no sistema de transporte martimo, que re-duziram abruptamente os fretes nos fins dos anos 1870, favorecendo as exportaes argentinas alm da queda da taxa de juros na Europa.

    Segundo Ferns (1965), do total de inverses do capital britnico na Argentina em 1880, que chegava a 23,06 milhes de libras, 56,2% corres-pondiam a emprstimos do governo e 28,6% a empreendimentos ligados construo das estradas de ferro.14 Isso explicaria por que os fundos originados nesse perodo foram destinados para a extenso de ferrovias com fins promocionais da atividade estatal, em propores semelhantes aos investimentos estrangeiros diretos.

    A importncia do capital britnico na Argentina tambm pode ser vizua-lizada na Tabela 2, que apresenta as novas emisses de capital realizadas por Londres no exterior, cotejadas com as especficas promovidas na Argentina.

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    Seu exame mostra uma concentrao de investimentos ingleses na Argentina no perodo 1886-1889, com um pico de participao de 23,4% em 1888.

    Tabela 2 Novas emisses de capital em Londres, para inverses no exterior e na Argentina -1885-1891 (milhes de libras esterlinas)

    (1)Para inverses no exterior (2) Para a Argentina

    1885 48,4 1,81886 47,7 11,21887 60,9 11,31888 95,5 23,41889 99,2 12,81890 91,1 4,91891 46,6

    Fonte: Ford (1975 p.124).

    O elevado montante dos investimentos argentinos dessa fase deu-se primeiramente na forma de investimentos privados, em segundo lugar como aplicaes de recursos nas obras do Ferrocarril Oeste, e finalmente como emprstimos pblicos. At 1885 houve inclusive, um certo equilbrio entre os investimentos privados nas estradas de ferro e nos emprstimos pblicos, mas, aps esse ano, os investimentos privados tomaram a dianteira, alcanando o seu valor mximo em 1888 com 156. 000 milhes de pesos ouro (RAPOPORT, 1988).

    A segunda face destas novas relaes, iniciadas nos ano 1880, foi marcada pela importncia que assumiram as empresas inglesas e pela participao dos cidados britnicos em vrias esferas de grande influ-ncia da vida argentina. Segundo Vsquez-Presedo (1971, p. 116), o nmero de residentes britnicos era em torno de 20.000 habitantes e de menos de 30.000 em 1914, incluindo, entre esses totais, profissionais, comerciantes e trabalhadores.

    O boom da economia agrcola enriqueceu os proprietrios argentinos que abraaram a conexo anglo-argentina como a chave do progresso econmico. A oligarquia estancieira que controlava os nveis da poltica e poder econmico, com interesses no comrcio de carne, no tinha por que questionar a influncia inglesa e a conseqente diviso de trabalho mundial da poca. Os britnicos aceitaram a sua posio, segundo Rock (apud MacDONALD, 1992, p. 81), com um sistema altamente extensivo de ligaes diretas semi-institucionalizadas com a elite. Eles tinham importan-tes aliados no Gabinete e no nvel do Congresso e uma voz influente (.....)

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    em muitos dos rgos lderes da imprensa. O lobby britnico disputava com a associao dos pecuaristas a posio de ser o mais poderoso no pas.

    Os britnicos estavam confortveis com essa culta aristocracia dedica-da ao livre-comrcio, cujos clubes e interesses em terra constituam uma cpia da elite eduardiana que dirigia o Imprio Britnico. No surpreende que, nessas circunstncias, eles acreditassem que haviam criado a Argen-tina e esperassem que os argentinos lhes fossem devidamente agradeci-dos. De fato, a conexo era uma aliana de convenincia que funcionou sem problemas enquanto os britnicos detinham o poder industrial e a Argentina no questionava a diviso internacional do trabalho. E isso requeria, para MacDonald (1992), a dominncia da classe dos pecuaristas e a identificao do interesse nacional com a exportao de carne.

    A influncia dos ingleses podia ser sentida em todos os aspectos da vida argentina: na economia e na poltica, na lngua, na atividade social, nos hbitos e na arquitetura. A predominncia britnica na vida econmica do pas foi to intensa que se tornou comum descrever a Argentina como parte britnica do imprio informal, na verdade como sexto domnio.

    Contudo, alm do capital, as sociedades annimas britnicas que inves-tiram na Argentina tambm necessitavam de homens que as administrassem e as construssem. O pas necessitava de duas classes de conhecimento e capacidade: primeiro, o conhecimento tcnico e comercial indispens-vel para construir e fazer funcionar, por exemplo, as estradas de ferro; e segundo, o conhecimento da comunidade argentina, de sua poltica, de suas necessidades, de seus recursos e de seu povo. Durante a fase do desen-volvimento do fim do sculo XIX, os membros da comunidade britnica, especialmente os que viviam na Argentina, eram, segundo Ferns (1969), os nicos capacitados no que se refere a este conhecimento requerido.

    Exemplos de cidados ingleses como grandes empreendedores na Argentina so inmeros: Edward Lumb, que obteve a concesso original para construir o Ferrocarril Gran Sur de Buenos Aires, era uma figura proeminente, com cerca de trinta anos de experincia nos crculos co-merciais de Buenos Aires; Thomas Amstrong, um dos principais diretores do Ferrocarril Central Argentino, tinha uma larga experincia em bancos comerciais argentinos; Frank Parish, durante muitos anos presidente do Gran Sur de Buenos Aires, era filho de Sir Woodbine Parish, e seus filhos

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    se tornaram membros da diretoria de uma grande variedade de empre-sas argentinas; Thomas Fair, diretor das estradas de ferro, companhia de terras, bancos e servios pblicos, era um comerciante do Rio da Prata cujo pai se havia estabelecido em Buenos Aires em 1810, ano da revoluo argentina; G.W. Drabble, o presidente do Banco de Londres y Ro de la Plata, foi membro da direo de vrias companhias ferrovirias e um pio-neiro no negcio da carne congelada. Como lembra Ferns (1979, p. 335), Drabble havia chegado a Buenos Aires em 1848, para trabalhar na filial da empresa de sua famlia em Manchester, que era exportadora de artigos de algodo. Na dcada de 1850 j havia agregado uma estncia ao seu negcio de algodo e investido uma pequena soma no Ferrocarril Central Argentino. Ele tambm chegou a ser presidente do Banco de Londres e dessa posio estendeu sua influncia a algumas das principais empresas do pas. Nessas empresas, teve participao em decises administrativas, na reconverso de companhias de estradas de ferro de baixo rendimento em empresas produtivas e na promoo de fuses de companhias.

    No entanto, passada a euforia do incio da dcada de 1880, as relaes entre argentinos e ingleses comearam a sofrer frices. J em meados da dcada, os acionistas britnicos das estradas de ferro comearam a exigir maiores dividendos. A resposta a essas exigncias teve por conseqncia o aumento da presso das autoridades pblicas argentinas, tanto federais como das provncias, para que os pagamentos efetuados garantissem os lucros. Segundo Ferns (1980), ainda que o governo britnico no tenha intervindo nesses acontecimentos, seu representante em Buenos Aires, George Jenner, advertiu claramente que os proprietrios britnicos das estradas de ferro teriam problemas srios caso isso no acontecesse.

    Quando a afluncia de capital comeou a diminuir em 1885, a admi-nistrao do general Roca decidiu tomar algumas medidas para restaurar a confiana necessria para induzir os investidores a comprar ttulos argentinos, aes ferrovirias e documentos similares. Carlos Pellegrini, ministro argentino, foi enviado Europa para negociar diretamente com um Comit de banqueiros que representava o Banco de Paris e dos Pases Baixos, com o Comptoir dEscompte de Paris, o A. y B. Cahen dAnvers, a Sociedade Geral do Comrcio e Indstria e com os banqueiros Baring Brothers e Morgan. Nem o governo britnico nem o Banco da Inglaterra tiveram ingerncia no acordo firmado por Pellegrini para hipotecar as

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    rendas aduaneiras argentinas, comprometendo-se assim a no pedir mais emprstimos sem o consentimento desses bancos.

    Em 1888, contudo, todo o processo de inverso e desenvolvimento estava fora do controle, e particularmente fora do controle do governo argentino. Nos 18 meses que seguiram ao informe de Jenner, uma srie de acontecimentos fiscais e econmicos, denominada na literatura de Crise Baring,15 produziu importantes mudanas nesse cenrio.

    A estrada de ferro que desempenhou um papel pequeno na maioria dos pases da Amrica Latina , foi, na Argentina, um smbolo notvel, diretamente ligado influncia inglesa. Mas tambm, como nos Estados Unidos, na Argentina a construo de ferrovias foi uma realidade ambi-valente. Em ambos os pases as estradas de ferro foram a mais importante fora de modernizao, facilitando o transporte rpido de gado e de gros para os portos do Atlntico, integrando zonas de colonizao recente eco-nomia recente e promovendo esquemas de assentamentos. Na Argentina, o monoplio das estradas de ferro fixava o preo dos fretes, controlava a elevao do preo dos gros, representava o poder dos bancos e das corpo-raes e, por aumentar o valor das terras, levou a uma febre especulativa e corrupo poltica. A fragmentao da sociedade rural removeu a base social sobre a qual se construiria um movimento de protesto, mesmo sem sucesso. Dessa forma, as questes referentes s estradas de ferro no po-diam ser resolvidas com polticas domsticas, mas somente com excees menores, pois eram os proprietrios estrangeiros que tomavam decises polticas nos escritrios europeus. Assim, a dominao britnica das estradas de ferro tornou-se um smbolo visvel da dominao estrangeira e teve de suportar o nacionalismo radical nos anos 1930 e 1940.

    Os no-britnicos, principalmente os alemes, invejavam a forma como os britnicos cuidavam de seu prprio, mas pequeno grupo. De todas as comunidades estrangeiras, a alem foi a mais prxima em relao aos bri-tnicos, pois, alm de ser maior em tamanho, somando 140.000 habitantes no perodo entre guerras, tal como a britnica, exerceu influncia em todas as esferas da sociedade argentina (NEWTON apud HENNESSY, 1992). Em-bora a influncia econmica alem nunca desafiasse a inglesa como no Brasil, onde a presena alem foi muito mais forte sua ao no pas foi sem dvida considervel: em 1910, os alemes eram os terceiros em tamanho de investimento, conforme Tabela 3. s vsperas da Primeira Guerra Mundial

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    o nmero de alemes proprietrios j tinha superado o dos britnicos, as exportaes de ferro e ao para a Argentina excediam as da Gr-Bretanha e os alemes controlavam 60% de gros exportados. Enquanto os britnicos controlavam as companhias de gs, os alemes dominavam a oferta de ele-tricidade sobre a Compana Alemana Transatlntica de Eletrecidad (CATE), o maior sistema unificado do mundo. (HENNESSY, 1992, p. 22).

    Tabela 3. Inverso Externa por Atividade Econmica e por Pases de Origem 1910 e 1917 (em milhes de dlares)

    1910 1917

    $US % $US %Distribuio por Atividade EconmicaEmprstimos e ttulos externos 664,1 30,5 631,0 20,4Estradas de ferro 772,2 35,5 1 140,1 36,9

    Bancos 36,0 1,7 49,8 1,6

    Portos 21,2 1,0 21,3 0,7

    Rodovias 87,9 4,0 105,1 3,4

    Frigorficos 8,1 0,4 39,3 1,3

    Companhia de gs, eletricidade, gua etc, obras de salubridade 55,7 2,6 75,2 2,4

    Companhia de terras e hipotecas 154,4 7,1 76,5 2,5

    Hipotecas e Propriedades 144,0 6,6 480,0 15,5

    Companhias diversas 40,4 1,8 23,1 0,8

    Comrcio e crditos 192,0 8,8 446,6 14,5

    TOTAL 2 175,6 100,0 3 088,0 100,0DISTRIBUIO POR PASGr-Bretanha 1 424,0 65,4 1 882,0 58,2Frana 396,0 18,2 448,0 13,9

    Alemanha 193,0 8,9 265,0 8,2

    Estados Unidos 19,0 0,9 82,0 2,5

    Outros Pases 144,0 6,6 556,0 17,2

    TOTAL 2 176,0 100,0 3 233,0 100,0

    Fonte: Rapoport (1988, p.180).

    Apesar disso, a Gr-Bretanha continuou a ser a maior fornecedora de bens para a Argentina. Sua participao no mercado argentino manteve-se por volta de 30% entre 1880 e 1913. A Primeira Guerra Mundial foi um ponto de inflexo da influncia britnica, no tanto pela ameaa da substituio das importaes, mas principalmente pelo desafio comercial e financeiro posto pelos Estados Unidos.

    Outro autor que considera a Primeira Guerra Mundial como ponto de inflexo Taylor (1992). Ao discutir o fim da Belle poque argentina,

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    ele afirma que este declnio comeou em 1914, em virtude da ruptura dos crditos internacionais, seguindo o colapso do mercado internacional de capital e a retrao britnica.

    Alm disso, depois da Primeira Guerra Mundial, a Gr-Bretanha foi suplantada pelos Estados Unidos e, no final de 1920, a sua participao no mercado argentino j estava abaixo de 20%, ao passo que a dos Estados Unidos chegava as 25%. Assim, no foi s a mudana social e poltica do milnio ou o desafio de concorrentes de outros pases europeus que sinalizaram o declnio da influncia britnica na Argentina, mas tambm o crescente poder e eficincia dos norte-americanos. Os Estados Unidos demoraram bastante tempo para avanar em direo quele pas, mas pelos anos 1920 o desafio no podia ser ignorado.

    Poucos argentinos, de qualquer nvel que fossem, questionavam a dominncia dos britnicos at a grande quebra financeira de 1890, a Crise Baring. Mas foi s em 1930 que a crtica hegemonia inglesa ganhou suporte de massa entre um pblico crescentemente insatisfeito ante a ineficincia dos monoplios representados por um sistema de transporte deteriorado. A Primeira Guerra Mundial j tinha enfraquecido em grande parte a penetrao britnica, mas foi finalmente com as nacionalizaes peronistas das estradas de ferro a espinha dorsal de toda a nossa po-sio... se elas forem, ns todos iremos, nas profticas palavras de um embaixador ingls , que o declnio britnico, implcito mesmo antes 1914, no pde ser mais escondido (HENNESSY, 1992).

    As relaes anglo-argentina no sculo XX, segundo MacDonald (1992), tiveram dois momentos distintos: em 1925 quando foi comemo-rado o centenrio do tratado de amizade, comrcio e navegao com a Inglaterra, realado pela visita do Prncipe de Gales, e em maro de 1948, numa festa diferente, quando 21 salvas de canho marcaram a nacionali-zao das estradas de ferro de propriedade inglesa pelo Presidente Pern como uma afirmao da independncia nacional. As desapropriaes indicavam que essa conexo j estava quase morta, e que a Gr-Bretanha havia-se tornado smbolo da dominao de economia estrangeira de que a Argentina estava determinada a escapar.

    As relaes entre a Argentina e a Gr-Bretanha, assim, foram com-plexas desde o seu incio, passando da oposio parceria mais prxi-

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    ma, principalmente na esfera financeira. Apesar de a Argentina no ter recebido contingentes significativos de imigrantes ingleses, importantes homens de negcios britnicos tiveram grande influncia na vida econ-mica do pas, atravs da transferncia de conhecimento e de tecnologia para muitas reas, principalmente na construo das estradas de ferro. No final do sculo XIX, a influncia inglesa na Argentina alcanou o seu ponto mximo, atingindo os mais diversos setores do pas. A quebra financeira de 1890, a chamada Crise Baring, e as mudanas ocasionadas pela Primeira Guerra, principalmente pelo surgimento dos Estados Uni-dos no cenrio mundial, j sinalizaram o incio do enfraquecimento das relaes anglo-argentinas, embora estas ainda tivessem um flego para seguir at a Segunda Guerra Mundial, marcando sua persistncia com a assinatura do Tratado Roca-Runciman16 em maio de 1933. Mas o protesto do governo norte-americano j mostrava claramente que o processo de troca de papis entre a Gr-bretanha e os Estados Unidos na parceria com a Argentina estava em pleno andamento.

    4. concluses

    As relaes entre a Argentina e a Gr-Bretanha sempre foram inten-sas, passando de conflituosas no tempo colonial, quando ingleses atuavam como piratas e opositores ordem constituda, para amistosas no perodo posterior independncia, quando os britnicos se tornaram parceiros mais prximos dos argentinos em investimentos de capital, sobretudo a partir da dcada de 1870. Essa parceria todavia ficou circunscrita esfera financeira, pois a Argentina no foi considerada uma opo para a emigrao. Mas, ao mesmo tempo, importantes homens de negcios ingleses, trazendo no s tecnologia como tambm conhecimentos tcni-cos e comerciais, tiveram grande influncia na vida econmica argentina, principalmente nos investimentos em estradas de ferro.

    No final do sculo XIX, a Argentina vivenciou o perodo de grande crescimento econmico, a Belle poque, caracterizada por uma forte ligao externa de produtos, de mo-de-obra e, principalmente, de capi-tais. Estes investimentos eram preponderantemente de origem britnica e destinados construo de estradas de ferro, razo pela qual a ferrovia

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    econmica, Rio de janeiro, v. 10, n. 1, p. 55-78, junho 2008

    foi o smbolo mais importante e mais visvel da influncia inglesa nesse pas. Na dcada de 1880, essa influncia alcanou seu nvel mximo, a ponto de a Argentina ter sido muitas vezes considerada uma sexta parte do imprio britnico. A penetrao inglesa na vida argentina foi to pro-funda que atingiu setores como a lngua, os hbitos e a arquitetura. Mas essa conexo comeou a enfraquecer-se durante a quebra financeira de 1890, a Crise Baring, e ganhou impulso no incio do sculo XX.

    Os efeitos da Primeira Guerra Mundial, assim como a crise que aba-lou o sistema capitalista em 1929, afetaram profundamente os pases da Amrica Latina, influenciando suas opes de crescimento. No contexto da poltica internacional, o fim da Primeira Guerra, em 1918, assinalou o declnio da Gr-Bretanha como principal potncia hegemnica no sistema ocidental e marcou, concomitantemente, a ascenso dos Estados Unidos para esta posio. Os Estados Unidos saram fortalecidos da Pri-meira Guerra, passando da posio de potncia regional para potncia mundial. Uma decorrncia natural dessa nova posio foi o aumento de sua influncia nos pases da Amrica Latina e, conseqentemente, na Ar-gentina, comeando um movimento que se denominou de expanso da influncia do dlar na rea tradicional da libra. Esse momento marcou o incio do enfraquecimento das relaes anglo-argentinas.

    Na dcada de 1920, quando as condies externas se modificaram pondo fim entrada de imigrantes e capitais estrangeiros no pas, a eco-nomia argentina j estava mostrando sinais de saturao com relao sua capacidade de absorver recursos externos e vinha tendo muita dificul-dade de encontrar novos caminhos para substituir a economia primria exportadora. Ainda assim, ao contrrio da maioria dos demais pases da Amrica Latina, a Argentina, naquela ocasio, comeou a formular um modelo alternativo com o objetivo de atender ao mercado interno. Esse novo modelo teve de conciliar uma srie de obstculos e inconvenientes, entre eles a rigidez de infra-estrutura criada anteriormente, a deformao operada em relao localizao espacial e, muito especialmente, os in-teresses nem sempre favorveis de uma poderosa oligarquia proprietria de terra. O florescimento do peronismo e a nacionalizao das estradas de ferro de propriedade de investidores ingleses so faces da nova con-figurao que as relaes anglo-argentinas passaram a assumir.

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    Notas1 Traduo do original: A terra que a Inglaterra perdeu. Segundo Hennessy (1992), o

    ttulo foi retirado da obra de W. H. Hudsons The Purple Land That England Lost de 1885. Embora o mesmo se referisse ao Uruguai, era mais aplicvel para a Argentina, que, em 1806, uma manchete do Times anunciava como uma parte do Imprio Britnico.

    2 Traduo do original: Revendo toda a histria argentina: A Gr-Bretanha pode plau-sivelmente ser apresentada, tanto como um parceiro progressista no desenvolvimento argentino quanto como o criador de insuperveis obstculos de constrangimento da vida econmica e da poltica pblica: motor ou freio.

    3 Com a inveno do frigorfico em 1876, a carne argentina poderia ser produzida para o paladar ingls; logo, a carne de procedncia argentina passou a consistir em 2/3 da carne importada pela Inglaterra e se tornou um dos principais produtos exportveis dentro da poltica de comida barata desenvolvida pelo governo ingls at 1960. Ver Hennessy (1992 p.15).

    4 Traduo do original: [...] custou muitos anos de sangue e fogo aos interesses imperia-listas e aos de seus aliados locais que a Argentina estivesse em condies de converter-se no granero do imprio e, por sua vez, na sua forte devedora.

    5 Traduo do original: As primeiras concesses argentinas, das quais surgiram a Great Southern Railway Company ou o London and River Plate Bank, foram dadas para homens como George Drabble e Edward Lumb, ambos de confiana e conhecidos pelos poderosos, e, como eles mesmos, proprietrios de grandes estncias.

    6 A primeira corrente importante de investimentos estrangeiros que comeou com a subida de Bartolom Mitre presidncia, em 1862, e durou at a crise de 1874/75 foi constituda por capital quase que exclusivamente britnico. O Estado desempenhou um papel relevante na atrao desses investimentos, j que a maioria desses (56,2% em 1875) representava emprstimos governamentais. Esse dado responsabiliza o governo argentino pela entrada de capital e pelos juros dos emprstimos contrados (FERNS, 1965). De modo geral, as inverses no visavam lucros expressivos, mas sim a expanso das exportaes britnicas e a venda de seus servios.

    7 O emprstimo do Baring, contratado em 1865 para financiar a guerra contra o Para-guai, teve suas negociaes prolongadas, o que fez com que os fundos s entrassem no pas em 1868. A Tesouraria argentina registrou a entrada de 2.9M$F nesse ano e 1.7M$F no seguinte. O financiamento inicial da guerra se fez por meio de crdito do Banco de la Provincia, sendo que em 1865 ele recebeu a entrada de 3.5M$F. Na verdade, o primeiro emprstimo externo conhecido foi o negociado em 1824 entre a provncia de Buenos Aires e a Casa Baring, no valor de um milho de libras esterlinas. De acordo com Ferns (1979), esse foi o maior emprstimo feito na poca, com os clientes da firma Baring representando os maiores interesses estrangeiros no pas.

    8 Traduo do original: O governo britnico considera que as perdas de homens impruden-tes que atriburam uma confiana exagerada boa-f de um governo estrangeiro dariam um aviso salutar para outros, e preveniria qualquer outro emprstimo de ser levantado na Gr-Bretanha, exceto por governos de conhecida boa-f e de solvncia averiguada.

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    9 Traduo do original: Os habitantes da cidade tm cedido em alguma medida, e especialmente na capital, civilizao em progresso introduzida pelo elemento estran-geiro da populao, e so educados, refinados e inteligentes, mas em geral indolentes, corruptveis e muito invejosos dos estrangeiros, especialmente das inovaes e das empresas inglesas.

    10 De acordo com Miguez (1985, p. 30), segundo dados de 1869, nomes de famlias in-glesas como Drabble, Bell, Fair, Gibson e Fox surgem entre os proprietrios mais ricos da Provncia de Buenos Aires; a estes devem-se somar ainda os nomes dos imigrantes irlandeses mais prsperos, como Casey, Duggan, Amstrong, Lynch e Coghland.

    11 Traduo do original: Os espaos abertos do pampa tambm ofereceram a possibili-dade de atuar sobre as fantasias dos English country gentlemen, caando avestruzes ao invs de raposas, o tipo drink-sodden que tanto desgostou o heri em The Purple Land, de Hudson.

    12 Segundo Abreu (2000), a Frana era o mercado mais importante para a Argentina nos anos 1880, absorvendo mais de 30% das exportaes. Somente na virada do sculo, particularmente depois de 1907, que este status foi assumido pela Gr-Bretanha, a ponto de, no final da dcada de 1920, 35% e 40% das exportaes argentinas serem direcionadas para a Inglaterra.

    13 Di Tella e Zylmelman (1976) tambm afirmam que o incio da formao do capital na Argentina ocorreu efetivamente por volta em 1880, a partir do governo de Jurez Celman, que contraiu emprstimos e promoveu investimentos em estradas de ferro sem ter em conta nenhum plano orgnico nem mesmo um plano de capacidade de pagamento por parte da Nao.

    14 De acordo com Laclau (1975, p. 35), o aumento espetacular das estradas de ferro fez com que o perodo fosse chamado de infierno ferrovirio, sendo que 3/4 de sua rede se ligam regio pampeira. Ao difundir-se a produo agrcola no litoral pampiano, nas ltimas dcadas do sculo XIX, e ao produzir-se, por conseguinte, o ingresso dos imigrantes na vida rural, as relaes salariais generalizaram-se, apagando os resduos pr-capitalistas que ainda podiam resistir. Se a isto se somar a Conquista do Deserto, que eliminou a possibilidade de continuao da existncia de uma populao no-integrada ao sistema, deve-se admitir que no incio do sculo XX imperava no campo argentino um modo de produo claramente capitalista.

    15 A crise Baring ou a bubble de 1890 foi uma crise de carter especulativo que trouxe profundas conseqncias para a economia argentina. Ela comeou em novembro da-quele ano, quando Londres no permitiu o adiamento do pagamento da dvida nem a continuidade da transferncia trimestral de fundos para a Argentina. O banco Baring detinha ttulos do governo argentino por um valor nominal de aproximadamente 25 milhes de dlares. Houve uma crise de confiana na capacidade de pagamento do governo argentino, que s foi solucionada, posteriormente, via acordos externos. Em razo dos principais ttulos serem de companhias de estradas de ferro, uma das prin-cipais conseqncias da crise para as companhias foi que muitas das novas concesses foram canceladas. Para maiores detalhes, ver Lenz (2006).

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    16 Como se sabe, este Tratado dava preferncia das exportaes de carne para a Inglaterra. interessante trazer tona as palavras ditas por Roca em Londres na ocasio: La geo-grafia poltica no siempre logra em nuestros tiempos imponer sus limites territoriales a la actividad de la economia de las naciones. As ha podido decir um publicista de celosa personalidad que la Argentina, por su interdependencia recproca, es desde el punto de vista econmico una parte integrante del Imperio Britnico (Cneo, 1965, p. 25).

    The intensive and conflictive economic and financial relationships between Great Britain and argentina: from the end of nineteenth century until The First World War

    Abstract In the late 19th century Argentina went through a phase of high economic growth, the so- called Belle poque, in which its most striking feature was integration with England. Throughout history the relationship between Argentina and Britain has been very complex going from one of friendship to conflict. This paper aims to analyses the relationship that characterized the An-glo-Argentinean connection at the eighties in the XIXth century, the high rate of economic growth period in Argentina. The first one describes the features of the initial relationship between the two countries: commercial relationship, treaties and the shortage of British people to migrate to Argentina. The second one shall deal with specific relationships from the 1880s and it will focus on the presence of British enterprises and citizens in the Argentinean.

    Key-words Argentina; anglo-argentinian relations; treaties; foreign investment.

    JEL N 16, N 26

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    Recebido para publicao em agosto de 2007 Aprovado para publicao em maro de 2008