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1 Maria madalena - a santidade prostituída - VITOR MANUEL ADRIÃO Sintra, 2.03.2005 Se há “calcanhar de Aquiles” no corpus teológico da Igreja Católica, ele só poderá chamar- se Maria Madalena. É a personagem mais controversa do santoral cristão e o que foi e originou é algo, repito o que venho dizendo há tantos anos, capaz de abalar e derruir essa mesma Igreja pelos seus alicerces. Por isso a temem, e temem-na por ser a própria expressão hagiográfica e iconográfica da Linhagem Sagrada do Santo Graal, ademais e também representação canónica da Hierofantisa e laica do espírito livre da Mulher, ou seja, tudo junto numa só coisa, do “Eterno Feminino” junto ao Homem como expressão directa, pentecostal ou iluminada do Espírito Santo, que é Sabedoria, Amor e Iluminação. Esses predicados contêm-se em Maria Madalena, a Santa feita Prostituta pela própria Igreja de Roma, contrária à do Amor ou Livre, que teve a sua maior expressão em Portugal e a quem o Real Convento de Mafra albergou os seus maiores pensadores e místicos do tempo, Casa de Deus, Domus Dei levantado à imagem e semelhança do antigo Templo de Salomão mas aqui destinado à Parúsia Universal, ao tempo do Advento de uma nova Idade que se quer V Império do Espírito Santo, unindo a “Velha Lusitânia” à “Nova Lusitânia”, no dizer de Pedro de Mariz, ou seja o Brasil. Servindo de pretexto um certo “Código de Da Vinci”, sucesso literário com cerca de 20 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, romance que desaprecio por ser decalcado de outras obras mais sérias e criteriosas que o autor não cita, mas que aprecio por obrigar a Igreja a repensar Maria Madalena, como esposa do próprio Jesus e Apóstola dos Apóstolos (esta tradição é corrente no meio sinagogal de Jerusalém, e por isso o autor não fez senão “descobrir a pólvora”, antes, a “galinha dos ovos de ouro”, que, mesmo assim e sem saber, favorece a Tradição Iniciática e o Portugal Hermético, direi assim), dizia, servindo esse livro de pretexto acabo de presenciar na televisão um concilium inquisitorium reunido em mesa censória de dignatários da Igreja romana discutindo essa obra à porta fechada na... Biblioteca do Real Convento de Mafra. Chama-se

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Maria madalena

- a santidade prostituída -

VITOR MANUEL ADRIÃO Sintra, 2.03.2005 Se há “calcanhar de Aquiles” no corpus teológico da Igreja Católica, ele só poderá chamar-se Maria Madalena. É a personagem mais controversa do santoral cristão e o que foi e originou é algo, repito o que venho dizendo há tantos anos, capaz de abalar e derruir essa mesma Igreja pelos seus alicerces. Por isso a temem, e temem-na por ser a própria expressão hagiográfica e iconográfica da Linhagem Sagrada do Santo Graal, ademais e também representação canónica da Hierofantisa e laica do espírito livre da Mulher, ou seja, tudo junto numa só coisa, do “Eterno Feminino” junto ao Homem como expressão directa, pentecostal ou iluminada do Espírito Santo, que é Sabedoria, Amor e Iluminação. Esses predicados contêm-se em Maria Madalena, a Santa feita Prostituta pela própria Igreja de Roma, contrária à do Amor ou Livre, que teve a sua maior expressão em Portugal e a quem o Real Convento de Mafra albergou os seus maiores pensadores e místicos do tempo, Casa de Deus, Domus Dei levantado à imagem e semelhança do antigo Templo de Salomão mas aqui destinado à Parúsia Universal, ao tempo do Advento de uma nova Idade que se quer V Império do Espírito Santo, unindo a “Velha Lusitânia” à “Nova Lusitânia”, no dizer de Pedro de Mariz, ou seja o Brasil.

Servindo de pretexto um certo “Código de Da Vinci”, sucesso literário com cerca de 20 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, romance que desaprecio por ser decalcado de outras obras mais sérias e criteriosas que o autor não cita, mas que aprecio por obrigar a Igreja a repensar Maria Madalena, como esposa do próprio Jesus e Apóstola dos Apóstolos (esta tradição é corrente no meio sinagogal de Jerusalém, e por isso o autor não fez senão “descobrir a pólvora”, antes, a “galinha dos ovos de ouro”, que, mesmo assim e sem saber, favorece a Tradição Iniciática e o Portugal Hermético, direi assim), dizia, servindo esse livro de pretexto acabo de presenciar na televisão um concilium inquisitorium reunido em mesa censória de dignatários da Igreja romana discutindo essa obra à porta fechada na... Biblioteca do Real Convento de Mafra. Chama-se

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a isto “atacar o Mal na fonte”; chama-se a isto “descaramento não disfarçado”, mas também medo. Sim, o velho medo que Maria Madalena inculca na consciência de Roma, a “babilónia do Ocidente” ameaçada de morte pela “Senhora cheia de Graça”.

Não comentarei os queixumes desses pobres vigários apontando a sua Igreja como eterna perseguida, e que os “maiores malfeitores foram sempre os Magos, como já as próprias escrituras se queixam”. Mas, se vamos por aí, então replicarei que foram os Magos Reis, isto é, Adeptos da Magia Real, os primeiros a adorar e proteger o Menino-Deus!.. Mas logo os ilustres vigários, em alta berraria, mal disfarçando o “amargo de boca” e nada disfarçando o descontrole emocional, reiteraram “perdoar aos ofensores”, porque, aumentando mais ainda a berraria, a “Igreja é toda Amor”... Pois, pois, quão amorosa foi a Santa Inquisição e os seus actos caritativos de mandar milhares de desgraçados para os “anjinhos” através da tortura e da fogueira. Tampouco comentarei os actuais “autos-de-fé” de recambiar para o “Índex” proibitivo quantos livros lhes pareça ameaçar a sua catequese. Poderia citar vários exemplos recentes, não só com esse livro mas também com outros, não esquecendo filmes, pinturas e músicas. Mas não o farei, ainda que, mesmo assim, esse concilium inquisitorium se tenha reunido sobre o “sol dourado” no solo literário da maior Biblioteca do Mundo de livros proibidos, declaradamente ocultistas, dos primeiros séculos do Pensamento Greco-Romano ao Iluminismo Europeu do século XVIII. Muitas dessas obras descrevem a saga de Santa Maria Madalena ao Ocidente, e vários dos altares laterais do Templo igualmente o fazem. Por isso chamei não anacronismo mas intenção não disfarçada de “atacar o Mal no seu reduto ou fonte”, nesta Casa não por poucos eclesiásticos considerada “igreja de sarracenos”, isto é, de hereges, sim, por ser Domus Dei ou IGREJA DOS FIÉIS DE AMOR plantada à beira da Montanha Sagrada de SINTRA... onde tudo começou e onde tudo haverá de desfechar, para Maior Glória do Género Humano.

Resta-me esperar para ver o efeito do que, em termos ocultistas, se chama “choque de retorno”, pois que esses senhores ao plantaram-se sobre o Sol do Esclarecimento tomando atitude absolutamente contrária – medievalista e reaccionária pensando que ainda estão há trinta anos atrás quando a Igreja romana dominava tudo e todos por ser só ela a única e exclusiva detentora da verdade a que ninguém mais tinha direito, só sobrando o direito a quem se revoltasse contra esse estado de coisas o ser recambiado para alguma prisão pidesca por ordem do Clero junto do Estado Novo –, encadearam-se psicomentalmente ao “Cone da Lua” atraindo o contrário ou sombra funesta de MAFRA que é RAFAK, aquela para a IGREJA DO AMOR, esta para a IGREJA DA MORTE, que tanto vale por Grande Loja Negra.

Flagrante fotográfico da igreja de S. Domingos de Lisboa, propriedade da antiga “Santa” Inquisição. Aí se vê o lado psíquico ou astral do espaço ardendo em chamas infer- nais, justificando a Lei do “quem com fogo mata no fogo eterno haverá de padecer”. – Arquivo C.T.P.

Não haja dúvida que a mentalidade eclesiástica mantém-se igual a si mesma através dos séculos, medieval e não progressista, hoje mais do que nunca temerosa quanto ao seu futuro com

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um Papa prestes a expirar e as Profecias de S. Malaquias à beira de desfecharem no referente ao último Papa com que findará o ciclo do Vicariato romano. Esse Papa será Hispânico, quiçá Português como um outro que outrora já se sentou no sólio pontifício, João XXI, saído para aí de... MAFRA.

Fora o povo inculto de fé cega, não esclarecida mas ainda assim ingenuamente sincero, perfazendo o número maior do séquito da Igreja que, como Estado soberano, o Vaticano, necessariamen- te defende os seus próprios interesses temporais, mantendo catequese afim em todas as partes do mundo onde esteja, todos sabem que a feitura dos evangelhos canónicos são muito posteriores ao período da vida de Jesus, por via dos discípulos de S. Paulo, desde logo coevos da maioria dos evangelhos ditos gnósticos, depois heréticos e apócrifos.

Com efeito, os títulos dos evangelhos não provêm dos evangelistas porque, antigamente, não se costumava exornar as obras históricas com o nome do autor; remontam, todavia, aos tempos dos Padres Apostólicos, tanto assim que já os conhecia o autor do Fragmento Muratoriano (2.º século), bem como Santo Irineu ( 202) e Clemente de Alexandria ( 217). Os três primeiros evangelhos, ainda que literariamente autónomos e independentes, por apresentarem concordância no conteúdo e exposição, foram recebidos no cânone do Novo Testamento, juntamente com um quarto evangelho, o de S. João, posterior. No intuito de pôr em relevo essa concordância, traçou-se um paralelo sistemático entre os três primeiros textos evangélicos, dando em resultado uma interessante sinopse. Daí vieram a chamar-se esses escritos: “evangelhos sinópticos”, e os seus autores: “os sinópticos”.

Os evangelhos gnósticos faziam parte da mesma corrente de tradição que os sinópticos, estes, mesmo assim, só aceites oficialmente no século IV, quando do Concílio de Niceia que afirma decisivamente a Igreja como uma “religião de Estado” com sede definitiva em Roma, ou seja, quando Silvestre e Constantino firmaram a fusão entre o Papa e César, e a corrente Gnóstica passou a ser marginalizada pelo novo cânone, quando não perseguida de maneira implacável. Este foi um contra-senso total, visto a corrente Gnóstica, que quer dizer Sabedoria Perfeita, tanto valendo por Teosofia, ser a postulada por Jesus Cristo que a ensinou aos Apóstolos, e que a havia recebido dos Essénios, que eram comunidades religiosas autónomas do poder estatal de Jerusalém que viviam nas margens do Mar Morto e cuja fundação se atribui a Zadock, 1.º Grão-Sacerdote do Templo de Salomão, junto dos quais Jesus aprendera as primeiras letras sacras. Por seu turno, a corrente Essénia deu os primeiros eruditos cristãos que, depois e por influência grega aliada à Mística judaica, seriam chamados Gnósticos ou Perfeitos, como os consignam vários Padres Apostólicos nas suas cartas epistolares às diversas igrejas locais (Santo Irineu, São Clemente de Alexandria, São Timóteo e ainda Jâmblico e outros).

Havia, portanto, um conhecimento público ou popular e uma sabedoria reservada ou restrita de entender e promulgar o Cristianismo. Isso mesmo é explícito e claro nos evangelhos sinópticos: “E quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze apóstolos o interrogaram acerca do sentido desta parábola. Ele disse-lhes: A vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas, para os que estão de fora, todas estas coisas se dizem por parábolas”. E mais adiante: “Assim, lhes anunciava a palavra por muitas parábolas semelhantes, conforme os que eram capazes de o ouvir. Ele não lhes falava senão por parábolas, mas quando estava em particular, explicava tudo aos seus discípulos” (Marc. IV, 10, 11, 33, 34; Mat. XIV, 11, 34, 36; Luc. VIII, 10). E mesmo com os discípulos mostra a reserva que, como se verá adiante, não tinha com Maria Madalena: “Muitas coisas tinha ainda que vos dizer, mas estão muito acima do vosso alcance” (Jo. XVI, 12).

Orígenes viria a servir-se dessas palavras para fazer alusão ao ensinamento secreto mantido pela Igreja, ou seja a Gnose. S. Clemente de Alexandria declara que a Gnose “comunicada e revelada pelo Filho de Deus é a Sabedoria... Ora a Gnose é um depósito que chegou a alguns homens por transmissão: ela tinha sido comunicada oralmente pelos Apóstolos” (Stromata I, VI, cap. VII). E adianta: “O homem familiarizado com todos os géneros de Sabedoria será o Gnóstico por excelência” (Stromata I, VI, cap. XIII), rematando: “O Apóstolo, distinguindo a fé ordinária da Perfeição gnóstica, chama à primeira a fundação e, às vezes, o leite” (Stromata I, XII, cap. IV).

Consequentemente, como os quatro evangelhos sinópticos fazem parte de inúmeros outros re- metidos à heresia, verifica-se haver neles inúmeros “hiatos” episódicos que só encontram comutação nos textos de vários postos à margem. Trata-se de algo assim como um “puzzle” completo a quem retiraram várias peças com o resultado de ficarem decididamente incoerentes.

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Mesmo assim, a Igreja faz celebração do que não vem em parte alguma dos “evangelhos canónicos” mas exclusivamente nos “evangelhos apócrifos”, mais precisamente no Protoevangelho de Santiago, texto adaptado e resumido no escrito do século IX, o Livro da Natividade de Maria: a Assunção da Virgem Maria.

Com efeito, se são numerosos os textos apócrifos que ressaltam a personalidade de Maria como mãe do menino Jesus – e com um grau de protagonismo muito maior que nos evangelhos canónicos – são ainda mais numerosos os que incidem nesse acontecimento que o Novo Testamento nem sequer menciona. Ou seja o Trânsito da Virgem, a sua morte e a sua proclamada Assunção à Glória em carne mortal, para que o seu corpo não tivesse que sofrer a decomposição dos demais humanos. Isto vale pelo Mistério da Transubstanciação da Carne em Espírito, a desintegração molecular pura e simples como efeito da anti-matéria sobre a matéria, algo assim como um “Sol Negro” engolir um “Sol Branco” e respectivo Sistema.

Detenhamo-nos um instante sobre a palavra Assunção, que parece definir de modo ortodoxo o que nos outros escritos aparece mencionado como Adormecimento ou Trânsito da Virgem e que se diferencia essencialmente da Ascensão com que se define a subida do Filho aos Céus. Quando é mencionada nos primeiros tempos, muito especialmente nas cópias que se conservaram desses apócrifos assuncionistas, a palavra aparece escrita uma vezes como Adsuntio Sanctae Mariae (Codex Silensis Secundus), e outras vezes como Assumptio Sanctae Mariae. Curiosamente, em latim não existe nenhuma destas acepções com o sentido que a ortodoxia lhes quis dar. Adsuntio não é mais que um arcaísmo de Assumptio e esta palavra tem significados distintos, a maior parte deles cultos e próprios da expressão filosófica e, sobretudo, da lógica, como antecedente de um silogismo. Em linguagem processual, expressa a acção de apropriar-se de algo ou de usurpar uma função, ou seja, algo assim como um equivalente jurídico do termo assumir (ou, excepcionalmente, assunção, tal como hoje muito raramente se emprega). Unicamente os autores eclesiásticos, tendo à dianteira deles S. Jerónimo, foram quem associaram esse termo ao sentido que hoje se lhe dá na Igreja, como próprio da subida ao Céu da Virgem Maria.

Essa usurpação indesmentível dos textos apócrifos e consequente fantasia do Mistério da Transubstanciação, de maneira a melhor encantar as massas populares, eternas apreciadoras do fantástico sobrenatural explicável pelo dogma catequisante que, afinal, nada explica, e não nos esqueça- mos que só no século V, no Concílio de Maçom, Maria foi reconhecida “Mãe de Deus” e a Mulher, por consequência, então ganhou o direito “a ter alma”, dizia, essa usurpação e deturpação do Mistério acabou, segundo entendo, por retirar a assunção ou direcção da Ala Feminina da Cristandade a Maria, Consorte de Cristo Deus, Mater Dei desde logo Theotokos ou Christotókos – o “Verbo Testemunho de Cristo” – função que assume com a Descida do Espírito Santo como Fogo, acto do Pentecostes. Ele que antes descera sobre o Pantocrator mergulhado na baptismal Água. Fogo e Água, ambos Baptismos cujo encontro ou fusão ir-se-á fazer pela Consorte de Cristo Homem: Maria Madalena, “porta-voz” de Maria a Mãe, consequentemente bem merecendo o título de Odighitria, “Aquela que indica o Caminho” às “mulheres de Jerusalém”, início do Marialis Cultus.

Objectar-se-á: como Maria Madalena poderia ser personagem tão distinta se não passava de uma prostituta que se arrependeu diante do Salvador, ungindo os seus pés com bálsamo e secando-os com os cabelos, portanto, uma mulher ordinária, vulgar? Ainda hoje se diz, na vox populi, “chorar como uma Madalena arrependida”...

Objectarei: em nenhuma parte dos evangelhos está escrito que Maria Madalena fosse prostituta. S. Gregório Magno e a Igreja Latina, que a celebra a 22 de Julho, é que a identificaram com a pecadora anónima de S. Lucas (VII, 36-50) e com Maria de Betânia, irmã de Marta e de Lázaro. Um capítulo antes de falar de Madalena ou Magdala (cidade da Galileia), Lucas alude a uma mulher que ungiu a Jesus. No evangelho de Marcos há uma unção parecida por parte de uma mulher cujo nome não se indica. Nem Lucas nem Marcos identificam explicitamente esta mulher com Madalena. Porém Lucas diz que se tratava de uma “mulher caída”, de uma “pecadora”. Comentadores posteriores supuseram que fosse Madalena, dado que, segundo parece, dela tendo saído “sete demónios” (no texto grego: “sete génios, sete forças”, algo assim como os sete atributos da Energia Criadora latente no Homem a que os hindus chamam Kundalini), deveria ser uma pecadora. Baseando-se nisso, a mulher que unge a Jesus e a Madalena foram consideradas a mesma pessoa. Na realidade, é possível que a fossem. Se a Madalena tinha a ver com um culto pagão, marginal ao dos Fariseus e Saduceus da capital Jerusalém, onde estava o grande Templo,

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possivelmente Essénio, já na época ostracizado, certamente por isso haveriam de convertê-la numa “pecadora” aos olhos não só de Lucas, mas também dos autores posteriores.

A verdade é que as crenças Essénias andavam próximas das Fenícias no tocante à Astrolatria e, ao tempo de Jesus, os Cananeus davam o nome da deusa fenícia Astarte às prostitutas e às hereges, estas as mulheres contestadoras do ministério oficial exercido pelos Levitas junto do povo. Recebiam o dito epíteto ou um outro por quem também se conhece Astarte, Astoreth, feminino de ASTAROTH, o “deus da perdição”, na realidade, o DEUS DA INTELIGÊNCIA, das “diáblicas interjecções mentais” que obriga à PUREZA e à INTELIGÊNCIA, ou seja, à posse efectiva da GNOSE.

Se a Madalena era uma “pecadora”, está muito claro que também era algo mais que a “prostituta vulgar” da tradição popular. Salta à vista que era uma mulher de bens. Diz Lucas, por exemplo, que entre as suas amizades se contava a esposa de um alto dignatário da corte de Herodes e que ambas as mulheres, juntas com várias outras, utilizavam os seus recursos económicos para apoiar Jesus e os seus discípulos. Também a mulher que ungiu a Jesus era uma mulher de posses. No evangelho de Marcos insiste-se que o unguento aromático que se utilizou no ritual era muito caro.

Madalena, por vezes a “mulher anónima”, é quem acompanha Jesus na Morte e quem testemunha a sua Ressurreição. Na função de Ungir com ricos e raros óleos ao Salvador, de todos a única com autoridade para isso, e sendo esse um Rito de Passagem, então ela faz papel psicopompo o que testemunha a sua presença na Morte e Ressurreição. É, pois, a Odighitria, função que prossegue após a Ascensão de Cristo aos Céus, instruindo os Apóstolos nos mistérios da Doutrina que o Senhor confiara só a ela e a João. Ademais, a unção era a prerrogativa tradicional dos reis: a do “Messias legítimo”, ou seja, do “Ungido”, palavra esta que traduzida do grego, dá exactamente CRISTO. Disto se depreende que Jesus se converteu num Messias autêntico em virtude da sua unção. E a mulher que o consagra em tão augusto papel impossivelmente poderá ser insignificante.

Em todo o caso, está claro que a Madalena, até ao final do ministério de Jesus, se transformou numa figura de grande importância. Nos três evangelhos sinópticos o seu nome encabeça constantemente as listas de mulheres que seguiram a Jesus, do mesmo modo que Simão Pedro encabeça as listas de discípulos masculinos. Isto tem a ver com as duas Alas da primitiva Cristandade, que assim se dispunham:

MARIA – CRISTO Maria Madalena – João Evangelista São Pedro – São Paulo Linha Feminina – Clausural (Esotérica, Velada) Linha Masculina – Claustral (Exotérica, Pública)

( “Sede vós Perfeitos como Perfeito é o Pai que está nos Céus ” – Mat. 5, 48) Se fosse hoje, a essas Alas se chamaria das FILHAS DE ALLAMIRAH e dos FILHOS DE AKBEL, segundo a estrutura interna da ORDEM DO SANTO GRAAL, que se interiorizou ou ocultou e ficou a de Roma, com a queda espiritual desta.

Esse binómio explica também o “antagonismo de Pedro em relação a Madalena”, se alguma vez o houve, e igualmente o facto de Madalena ser confundida com João, o “discípulo amado”.

Denota-se ao longo dos evangelhos sinópticos que Jesus instrui e ama Madalena como se sua esposa fosse, porque “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será retirada” (Luc. 10, 38-42). O mesmo encontra-se na Pistis Sophia, a “bíblia” gnóstica, mas de maneira mais frisante: “Sucedeu, quando Jesus acabou de falar aos seus discípulos, que Maria Madalena se adiantou e beijando-lhe os pés disse: `Meu Senhor, tem paciência comigo e não te aborreças se te interrogo. Mostra-nos a tua misericórdia, meu Senhor, e revela-nos todas as coisas que te perguntamos´.” (Livro II, cap. 98). “Quando Maria (Madalena) disse isto, Salomé aproximou-se de Maria e abraçou- -a de novo, dizendo-lhe: `O Salvador tem a faculdade de fazer-me entender, como faz contigo´. E aconteceu que, quando o Salvador escutou as palavras de Maria, lhe chamou Imensamente Bendita.” (Livro II, cap. 132).

Tudo quanto expus até aqui e o mais que se seguirá, desmente cabalmente os doutos vigários do concilium inquisitorium na noite soturna de Mafra, quanto a afirmarem que os

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“hereges” acaso discor- darão dos factos apresentados pela Igreja mas sem nunca contestarem as palavras dos evangelhos. Ora, em abono da Verdade, declaro que o “herege” escritor destas linhas contesta tanto os factos como as palavras. Estas deturpadas do seu sentido original em centenas de traduções e interpretações que se têm feito da Bíblia, começadas com a transposição do Aramaico ao Grego e daqui, por S. Jerónimo, à Vulgata Latina.

Além da citação última de Lucas, há vários outros indícios claros apontando Myriam Ben Magdala como esposa do homem Jesus, Jeoshua Ben Pandira, levando em conta que as Bodas de Caná poderão ter sido as suas, e o versículo 61 do evangelho de S. Tomé: “Disse Maria: Quem és tu, ó Homem? Como saído de Um só? Tu que usavas a minha cama e comias à minha mesa?” ou então as palavras flagrantes do evangelho de S. Filipe, 63:31: “E a companheira do Salvador é Maria Madalena. Cristo a amava mais que a todos os discípulos e beijavam-se na boca constantemente. O resto dos discípulos se ofendiam com isso e manifestavam desaprovação. Diziam-lhe: `Porque a amas mais que a nós outros?´ O Senhor replicava-lhes dizendo: `Porque não vos amo a vós como a ela´?” Também na Imitação de Cristo, de Tomás de Kêmpis (1379- 1471), há algo parecendo indicar o autor conhecedor deste mistério ocultado pela própria Igreja, quando diz no Livro Segundo, VIII – A amizade familiar com Jesus: “Não vês como se levantou logo Madalena do lugar em que chorava, quando Marta lhe disse: `O Mestre está aqui e chama- -te´?” Dentre outras no périplo de Marselha de que falarei adiante, há ainda uma pintura Quinhentista na igreja de Roncelin, dentro da capela do Santo Graal, na Escócia, na qual se vê Jesus em resplendor cercado dos Apóstolos, à mesa da Ceia, depondo a mão esquerda no seio de Maria Madalena, como se dissesse: “Esta é a minha esposa a quem muito amo”.

Maria Madalena, na interpretação mística, revela-se a ALMA. Nesta é que se processa toda a evolução, pois o Espírito é alimentado por aquela e o Corpo suporta aquela. Sendo ALMA, participa da natureza espiritual (ESPOSA) e da natureza material (PROSTITUTA). A Igreja preferiu esta última vertente, mesmo sabendo-a falsa.

Tornou Madalena símbolo ideal da mulher perdida que se reacha no arrependimento e salvação na Igreja. Com isso celibatou o sacerdócio, a partir dos finais do século XIII (em boa parte devido à campanha celibatária de Tomás de Aquino, talvez para castrar os insaciáveis apetites sexuais dos ministros da sua Igreja, do pároco ao bispo), argumentando com a pior e mais literal interpretação o espírito ortodoxo judaico referente à mulher, promanado nas epístolas de S. Paulo, e assim esta reduzida à condição de servidora da Igreja mas sem condição varonil de atingir o ministério da Igreja. Por este motivo irracional fora do contexto do Cristianismo original, é que os nossos santos padres da mesa censória mafrense saltaram do livro maldito para o maldito preservativo!...

A tudo isso se prende a Linhagem Secreta de Jesus-Madalena e de sua filha Sara Magdala, a “Negra”, antes, a “Morena”, como fui o primeiro a revelar e aqui repito, que na Idade Média seria correlacionada à mítica Melusina de um nobiliárquico conto encantado, a qual também se chamou Lusina, geradora sobrenatural da Linhagem Lusignan, esta que parece ter andado de relações com os Saxe Coburgo-Gotha, se der fé à tradição Franco-Germânica dos Chevaliers au Cignes – “Cavaleiros do Cisne” – cantados e prosados nos Lais medievais, como herança da tradição Céltica do Norte (veja-se o Nascimento de Conchobar, canção de gesta alusiva ao lendário rei do Ulster, e o conto irlandês Os Filhos de Finn, a relação deste com uma fada que queria tomar o seu reino), que depressa chegou a Inglaterra tomando forma no temário Cavaleiresco da Távola Redonda e da fada Morgana, irmã encantada do druida Merlim, temário esse já cristianizado (nele o Celticismo Merlínico se funde no Cristianismo Arturiano) e onde a fada poderá ser a expressão romanceada da bíblica Madalena.

A Távola Redonda e Melusina É assim que encontramos na família de Parsifal, romance do ciclo Arturiano já inserto na temática da Demanda do Santo Graal, a Madalena como a Repanse de Schoye, a “Cheia de

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Graça”, inserta numa Linhagem Mítica cuja tradição torna-a Real e Sagrada por via dos Reis Merovíngios com um dos quais, São Maurício, se terá casado Santa Sara, melhor dito, uma descendente desta, e que está na origem dos Lorena e Borgonha, Casas estas a que pertenciam D. Mafalda e Afonso Henriques. Portanto, a Linhagem Sagrada do Santo Graal ou Sangue Real (cuja Taça é símbolo sempre perdido ou ocultado de Deus Espírito Santo), testemunhada nos símbolos e metáforas medievais desses romances de Demanda, vem do Médio Oriente ao Centro da Europa e desta ao Sul da Europa, até Sintra, encravada entre Cascais e Mafra com Lisboa ao Sul. Em Sintra, torna-se herdeiro e arquitecto desta tradição supra-sagrada, o Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, idealizador do espaço monumental da Quinta da Regaleira que é um livro de Gnose ou Esoterismo Cristão, cujos manuais de interpretação poderão encontrar-se na Divina Comédia, de Dante, e em Os Lusíadas, de Camões. Eis dois declarados FIÉIS DE AMOR.

FAMÍLIA (MÍTICA) DE PARSIFAL

Titurel

| Frimutel

| Anfortas Trevrizent Herzeloyde Repanse de Schoye Schoysiane (esp. Gahmuret) (esp. Feirefiz) (esp. Kyot de Katelangen) 1.ª esp. Belacane

Parsifal o Esperado | (esp. Condwiramurs) Feirefiz | Prestes João Kardeiz Lohengrin

A Lenda de Dourada, de Jacobo Vorágine, obra medieval reunindo todas as tradições

bíblicas e evangélicas anteriores chegadas à Europa, fala exactamente da diáspora da Linhagem Sagrada aqui, e se tudo isso não passa de mera lenda, então, por exemplo, a Igreja terá de reformular a sua posição oficial relativa ao conto da chegada de Santiago Maior numa barca às costa da Galiza, vinda da Palestina, atracando em Padrón, a escassos 60 km de Compostela.

Ainda segundo a mesma Lenda Dourada, quando aconteceram as primeiras perseguições aos cristãos na Palestina, José de Arimateia, que havia recolhido o Sangue de Cristo na tarde da Sexta-Feira Santa (assim consignado dia do Santo Graal), decidiu fugir juntamente com Lázaro, Máximo, Sidónio, Marta, Sara a “Negra”, Maria Madalena e as santas mulheres, Maria Jacobé e Maria Salomé. Pode situar-se essa viagem em torno do ano 40 d. C., pois parece certo que Lázaro se encontrava em Marselha no ano 44 de nossa era.

Todas as versões se unem quanto à chegada no delta de Rhône, na Provença, onde iria nascer a pequena cidade que acolheria os discípulos, sob as denominações sucessivas de Notre Dame de la Barque, Notre Dame de la Mer e depois, por fim, Saintes Maries de la Mer.

Maria Jacobé de Cléofas, Maria Salomé e Sara fixaram-se aí. Essa última, por seus feitos e prodí- gios, alcança notoriedade superior às outras: acolhe em si os “Judeus errantes” da Europa, esses mesmos Ciganos que, desde então, vêm prestar-lhe homenagem todos os anos, por meio de uma peregrinação no mês de Maio, que é o de Maria, aquando eles escolhem entre si uma rainha. O ritual cigano, apesar de poucos deles entenderem hoje o seu verdadeiro significado, ainda assim não deixa de ser bastante significativo: na aurora, um grupo importante se dirige para a cripta obscura onde está a imagem de Santa Sara. À frente encontra-se uma mulher idosa, a decana do grupo, que é acompanhada por um “velho”, uma “jovem bonita” e uma “criança”. A “mulher velha” tira água do poço que está na cripta, enche o recipiente que aperta conta o coração, iniciando assim a marcha precessional. São vários os significados herméticos desse ritual, mas um só me salta agora à vista: o casal de velhos, com ela detendo a frasqueira como indicadora do GRAAL, acaso representará JESUS e MADALENA, a jovem a própria SARA sua filha, e o menino a jovem DINASTIA que teve início aí... indo propagar-se por toda a Provença e Marselha, trespassando os

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Pirinéus chegando à Galiza e daí descendo ao Sul, a Portugal, sempre com os KARA-MARAS ou Ciganos por perto, como verificamos em Sintra, em cujo Chão das MAIAS, que era fossa imensa, essa etnia deserdada ou perdida de sua Pátria original se fixou, durante largo tempo. Hoje é o Largo de S. Pedro, lugar da feira mensal, com St.ª Eufêmia e a Sr.ª do Ó logo acima, isto é, Mãe Soberana e Filha fruto da “heresia”.

Santa Sara

Na igreja de Saintes Maries de la Mer, com a aprovação do Papa, foram ordenadas escavações pelo Rei René de Provença, em 1448, indo permitir a descoberta de placas de mármore onde se podia ler: “Hic jacet Maria Salomé et Hic jacet Maria Jacobé”. Embaixo encontravam-se as relíquias das santas mulheres e, muito perto dali, os da Santa Sara, que o Cavaleiro de Arlatan recolheu, antes que a Assembleia Real de 2 de Dezembro de 1448 (compreendendo o rei, a rainha, o legado do Papa, cardeal de Albano, assim como numerosos bispos, abades e cavaleiros) contestasse pelo processo verbal a autenticidade das relíquias de Maria Jacobé e Maria Salomé, que foram em seguida depositadas na capela superior.

Por Maria Salomé se chega a João Evangelista e Tiago Maior, por ser considerada mãe de ambos, e assim também se chega à Gnose cristã na Europa e ao sacro mito de Santiago de Compostela, como Coroa de Luz – KETHER – do Portugal Jacobeo, o seu primeiro Orago antes de São Jorge, ambos simbólicos de Iniciação activa ou móvel, o que explica o sentido de Peregrinação.

Quanto a José de Arimateia acaso se terá tornado S. Trófimo na Gália, o qual tem grande importância na História da Provença. A cidade de Arles e a sua magnífica catedral prestam homenagem à sua memória.

Já Lázaro se terá transferido a Chipre, onde teria passado trinta anos como seu primeiro bispo, sendo enterrado aí. Após terem descoberto as suas relíquias no século IX, foram transportadas para Constantinopla. Mais tarde os Francos as fariam chegar a Marselha, hipótese que parece inteiramente confirmada pelo facto de ter sido instituída uma importante peregrinação cipriota para a basílica de São Lázaro.

Maria Madalena, Sidónio e Máximo irão para Aix, que o último honrará com a dignidade episco- pal, enquanto Marta irá evangelizar o baixo vale do Rhône, onde travará combate com a Tarasca, o terrí- vel dragão que ela acorrentará, conforme a lenda acentua, e que dará o seu nome à cidade de Tarascon. Eis o sinal Georgiano da tomada de posse da Tradição “Herética”, Ancestral, por via da Ala Feminina da Cristandade a ela assumindo. Esse facto assinala-se na fundação aí dum mosteiro para mulheres, por Santa Marta. O seu túmulo acha-se numa igreja da cidade, datando do século XIII, consagrado por Jubert, arcebispo de Arles, e por Rostaing, arcebispo de Avignon.

Segundo a Lenda Dourada, Maria Madalena sentirá o seu destino atraí-la para uma solidão maior. Despedindo-se de Máximo, ela tomará o caminho cenobítico. Consigo levará “o Relicário tão querido, cheio de terra embebida do Sangue Divino que piedosamente recolhera ao pé

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da Cruz”. Sal ou Lágrimas de Maria e Sangue ou Seiva de Cristo, enchendo o Santo Graal. Ela vai ungir a Dinastia que perpetuará a sua Linhagem a partir do Sul da França. O seu recolhimento significará o segredo e o secreto, e para os assegurar nada melhor que a Cripta Secreta ou Ferrata onde antes a Tarasca vivera. Tudo isto é simbolismo mais que evidente de uma Linhagem transitando entre a Face da Terra e o seu Interior, por meio de uma ORDEM de que Maria Madalena se assume Grã-Mestrina: a do SANTO GRAAL.

Com efeito, ainda segundo a Lenda, a alguns quilómetros dali ela viu-se diante de uma imensa massa rochosa de 120 metros a pique. Nos dois terços dessa massa, justamente acima de uma magnífica floresta de coníferas, encontra-se o lugar de eleição divina que, pacientemente, a espera. É uma cavidade natural: a Gruta Santa, ou na toponímia original, Saint Baume. A Lenda conta que a Tarasca vivia ali anteriormente e que os Anjos (os Santos Jinas) tiveram de expulsá-la a fim que deixasse livre o lugar. Então o dragão fugiu para Tarascon, onde Santa Marta o abateu.

Na impressionante gruta de Saint Baume, Maria Madalena viverá trinta anos. A lenda piedosa in- forma que estando desprovida de mantimentos e sem água, Maria retirou-se em oração logo que chegou a esse lugar ctónico. Então apareceu uma fonte jorrando água abundante abaixo da entrada da gruta. É sinal hermético do Elixir da Vida Eterna, da Fonte da Eterna Juventude como propriedade miraculosa do próprio GRAAL, iconográfico do ESPÍRITO SANTO que, no final de contas, expressa o ETERNO FEMININO, e é com a Mulher que se inicia uma Linhagem, seja ela qual for, muito mais a do GRAAL ou MELKI-TSEDEK, que na Família (Mítica) de PARSIFAL é o PRESTES JOÃO, caríssimo à Tradição Lusa, esta que se desenvolve transcontinentalmente por via do Mar ou Maris, em viagens repletas de significados outros que as tornam verdadeira Alquimia Navegante ou Mareante, que é Arte de Espírito Santo. Mas a “fonte miraculosa” de Saint Baume – de função idêntica à que está no fundo da Torre subterrânea da Regaleira de Sintra – é igualmente indício de começo apostolar dando a Água da Vida aos que dela se fazem merecedores e assim se tornam Imortais. Santa Catarina de Sena informa que “Maria Madalena recebia diariamente abundantes orvalhos da Graça, que as Escrituras denominam as Doçuras celestes, e fortificavam o seu espírito e o seu corpo”.

Frequentemente ela subia, com a ajuda dos socorros angélicos, até ao cume da montanha, para ali entregar-se à oração em determinadas horas canónicas. Essa região está situada muito perto da pequena capela de Saint Pilon; uma rocha marcada ainda com o sinal dos seus joelhos, para o povo é prova indesmentível disso.

A história “oficial” considera que o seu corpo foi colocado no túmulo de “Sidónio, em Saint Maximin, e que reciprocamente o corpo deste ocupou o túmulo de alabastro da penitência” (possivelmente os monges pensavam que assim as relíquias da Santa escapariam às pilhagens dos bárbaros). Esse túmulo será reencontrado no século XIII, graças ao Conde da Provença, Charles d´Anjou, sobrinho de São Luís, Rei de França, em cuja época se começa a falar e a demandar o PRESTES JOÃO.

Fala-se de que uma Bula autêntica do Papa Pascoal II, datada de 28 de Março de 1102, autorizava o arcebispo Pierre III a levar o paládio a uma vintena de festas do ano, em particular às festas de Santa Madalena e de São Máximo. Acaso poderá ver-se nisto o reconhecimento papal da autenticidade das relíquias da Santa? Se assim for, então será óbvio a Igreja saber deste “grande segredo” que, afinal, foi criado por ela própria, e para o manter assassinou milhares e milhares de pessoas. Estou lembrando os Cátaros e Albigenses e a frase piedosa do Papa Leão X na ocasião do assassinato implacável de homens, mulheres e crianças pretendidos cátaros e não-cátaros que com aqueles se misturavam: “Matai-os a todos. Deus escolherá os seus...”

Porém, a lenda retoma os seus direitos e, dizem, sete dias após a sua morte, em sonho ela visita Santa Marta, conforme havia prometido antes de sua separação ocorrida trinta anos antes...

Na iconografia cristã, Maria Madalena frequentemente foi representada acompanhada de um precioso Vaso (em provençal, Grazale, donde Graal e Greal, inspirando o Sang de Cape que deu em transposição livre Sang Greal, ou seja, Sangue Real). Alguns exegetas pretenderam e pretendem que se trata do Vaso contendo o bálsamo que serviu para ungir os pés do Cristo, porém não poucos sustentam que se trata de um Cálice, como aquele que veio a figurar na Bandeira da Galiza, no qual a Santa Mulher teria conservado o Sangue de Cristo. Seja como for, Maria Madalena encarna o mais belo exemplo de uma Alma que se purifica até à Perfeição, irradiando a Luz Divina – a SHEKINAH – que, à maneira de um “Vaso”, ela acolheu plenamente.

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Ante tudo, também a Igreja acaba acolhendo a Apóstola dos Apóstolos, a Investidora do Cristo Rei pelo Rito da Unção, que é de Pessah ou “Passagem”. Assim, para a celebração de sua memória, ainda assim muitíssimo deturpada, encontra-se o seguinte no Missal Romano: 22 de Julho – S. Maria Madalena. Dúplice – Paramentos brancos. A igreja celebra hoje a conversão da pecadora e depois grande santa, hoje venerada em toda a cristandade. O arrependimento sincero dos nossos pecados há-de atrair a misericórdia de Deus como Santa Maria Madalena. Missa: - Intróito da Missa Me expectaverunt (47). Prefácio comum. Glória sem credo. O facto de não haver credo na Missa de Santa Madalena acaso não será sinal de, mesmo aceitando-a, ela estar à margem dos cânones da Igreja e logo à margem do que hoje crê ou pretende crer a Igreja?

Curioso que 22 de Julho é mês tocado por dois signos, um de Água e outro de Fogo, ou seja Caranguejo e Leão, um expressando a Unção balsâmica e outro a Unção ígnea ou pentecostal. Ambos encontrados em Maria Madalena, a Iniciadora, a Vénus-Urânia como Stella Matutina como a ela e a Sara as pretendem os Ciganos, ambas incarnação de Kali a “Virgem Negra”, qual Ísis ou Deusa-Mãe Primordial – donde o valor do dia do mês que taroticamente é o Arcano 22, “A Vitória” – cujo Culto concorreu em pleno para o Porto-Graal, ou seja o Portugal Central, a Estremadura, cuja Mama fecunda é SINTRA, afinal, Kala-Sishita.

Por isso, num momento em que Maria Madalena era quase ignorada pela Igreja, no período do Iluminismo esclarecido europeu, no entanto observa-se a devoção ela no Convento dos Capuchos da Serra de Sintra, à entrada do mesmo como se Guardiã fosse dos Mistérios que o Lugar e a Serra encerram. Eis a presença Franciscana fortemente ligada a Madalena, o qual prossegue em Mafra e em Lisboa, em meio a uma Europa católica-romana e protestante de silêncio comprometedor ao seu culto.

Igualmente não são poucas as santas mulheres muito ou pouco conhecidas, como se fossem frutos ideológicos da Linha de Madalena que a Igreja Católica Lusitana assume, não raro malquista pela de Roma, geradas na Terra Lusa, boa parte no seio de uma Monarquia Divina por Sagrada por Cristo em Ourique. Mais uma vez, é a Mulher quem mantém a Linhagem. Passo a enumerar algumas:

Acácia da Paixão. Franciscana natural de Alenquer, falecida em 1578. Adeodata ou Deodata. Santa portuguesa, natural de Santarém. Adosinda. Filha de St.ª Aldara ou Ilduara e de D. Guterres Arias, conde de Águeda e governador do Porto, e irmã de S. Rosendo. Viveu no século X, no Condado Portucalense. Águeda. Virgem e mártir, natural de Lisboa. Alda, Aldonsa ou Dulce. Santa portuguesa natural de Alenquer. Aldara ou Ilduara. Mãe de S. Rosendo e St.ª Adosinda. Viveu no séc. X, no Condado Portucalense. Alsanda ou Assanda. Santa portuguesa natural de Braga. Ama. Santa portuguesa natural de Setúbal. Ardinga. Santa portuguesa natural de Lamego. Bataça ou Vataça. Princesa bizantina aia da Rainha Santa Isabel. Jaze na Sé Velha de Coimbra.

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Beatriz da Silva. Irmã de João de Meneses (Beato Amadeu), terá nascido em Campo Maior em 1424. Acompanhou, como dama de honor, a princesa D. Isabel, que casou com D. João II de Castela. Fundou a Ordem da Conceição de Maria, seguindo a Regra da Ordem de Cister, após a Virgem Maria lhe ter aparecido durante uma experiência mística. Morreu em 1490, após vida exemplar. Comba (20 de Julho). Santa de origem portuguesa. Virgem e mártir, em Coimbra. Foi sepultada na igreja de Santa Cruz. Comba e Anonimata. Santas alentejanas, que sofreram perseguições no tempo do imperador Diocleciano. Eram irmãs de S. Jordão, que era bispo. Foram martirizadas em Tourega. Dumia. Santa portuguesa natural de Coimbra. Elvira de Lisboa (25 de Janeiro). Os restos mortais desta virgem foram achados em Lisboa em 1587, juntamente com os de outros santos. Nada de positivo se sabe sobre ela. Godinha. Portuguesa, abadessa do Convento de Vieira, e tia de Santa Senhorinha. Iria de Santarém (20 de Outubro). Religiosa portuguesa, nascida em Tomar no século VII. É padroeira de Tomar e de Santarém. Isabel de Portugal (4 de Julho). A Rainha que se fez franciscana Santa (1271-1336). É padroeira de Coimbra, Saragoça e Portugal.

Joana, Princesa de Portugal (12 de Maio). Filha de D. Afonso V e da rainha D. Isabel. Faleceu em 1490, com 38 anos, no seu Convento, em Aveiro.

Mafalda, Princesa (2 de Maio). Princesa portuguesa filha de D. Sancho I de Portugal e de D. Dulce de Aragão. A sua memória litúrgica, assim como a das suas irmãs Teresa e Sancha, celebra-se desde 1692 a 20 de Junho. Olaia ou Eulália. Santa peninsular nascida em Braga. Placência. Santa peninsular, mártir em Coimbra. Quitéria de Coimbra (22 de Maio). Sancha, Infanta (13 de março). Filha de D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão. Senhorinha (22 de Abril). Nasceu em Vieira do Minho no ano 924. Chamar-se-ia Domitília ou Genoveva, mas ficou conhecida pelo diminutivo carinhoso que o pai lhe pôs quando enviuvou, pois passou a chamar-lhe “a sua Senhorinha”. Morreu em 982 e foi sepultada no Convento de S. Jorge de Basto, para onde se transferira. Teresa, Infanta de Portugal (17 de Junho). Filha de D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão. Teresa de Vila Nova de Ourém. Santa portuguesa casada com S. Zambujal. Para terminar, passarei de imediato a palavra ao preclaro Juan Atienza (vd. Bibliografia) que entendo ser o melhor hagiógrafo de Maria Madalena, e muito do que escreve fica claro pelas palavras que atrás deixei.

– Há um longo caminho a percorrer entre as costas palestinas e as praias de Marselha; quase tanto como de uma a outra das Marias que – aparte Nossa Senhora – vão aparecendo esporadicamente nas páginas dos evangelhos. Nunca houve nenhum documento que pudesse provar, sem dar lugar a dúvidas, quantas Marias houve e que caminhos teve que transitar essa personagem aparentemente múltipla e oblíqua, porém é certo que, analisada desde a perspectiva das manipulações que sofreu para que se cumprissem as verdades emanadas de uma Igreja fundamentalmente empenhada em urdir as suas próprias certezas, esta Maria Madalena que aparece sob os aspectos mais distintos nos relatos evangélicos será já para sempre um mistério impenetrável, um segredo sem solução, uma suspeita que, quanto mais se trate de esclarecer, com mais véus haverá de se cobrir. Como uma espécie de contraponto histórico à Salomé que se descobriu para obter o seu desejo de ver morto o Batista, a Madalena se vela e se re-vela para ocultar, talvez, que Jesus não se totalizou em si mesmo e em sua mensagem, mas que deixou atrás dele uma dinastia que poderia reclamar o seu património, acumulado ao longo de dois mil anos de silêncio.

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Santa Maria Madalena

Haverá de fazer constar como, aparte os estudos mais recentes em torno da verdadeira função de Maria Madalena no contexto evangélico, há toda uma tradição paralela – que a Igreja tem silenciado, mas não desmentido – que a essa Madalena presumida – e só presumida – pecadora com a Maria irmã de Marta e Lázaro. E é igualmente desta tradição donde parte a lenda de uma também presumida viagem sua desde a Palestina às terras do Golfo de Leon, em que supostamente os acompanharia também aquele José de Arimateia que recolheu o Cálice da Cena com o Sangue Real do Crucificado e o trouxe ao Ocidente, originando com esse acto o mito graálico cristão, que comoveu como nenhum outro a espiritualidade esotérica da Idade Média europeia.

A esta Maria de Magdala ou de Betânia a encontramos nos evangelhos lançando-se aos pés de Jesus para lavá-los, perfumá-los e secá-los com os seus próprios cabelos; a vemos seguindo-o em suas viagens, alojando-se em sua casa, presenciando a sua morte, velando junto ao sepulcro e descobrindo, a primeira dentre todos, a desaparição do seu corpo. Maria é também a primeira a ver o Mestre novamente, depois da sua Ressurreição. Certamente nenhum apóstolo nem nenhum discípulo, nem sequer a sua própria mãe, teve ante si tantas oportunidades de encontrar-se com Ele, de permanecer à sua beira, de conviver em cada instante fundamental da sua missão. Se esta for a realidade, ninguém com mais autoridade que esta personagem poderia converter-se em porta-voz da Mensagem Crística. Aqui pode residir o silêncio da Igreja, as suas reticências na hora de definir a sua personalidade, incluso o seu empenho em degradá-la ao papel de pecadora arrependida que, ao longo da História, haveria de converter-se em patrona de cortesãs e prostitutas.

Algo por demais significativo: o que a Igreja oculta tão zelosamente, o que se tem tratado de escamotear à obediente freguesia, o que poderia ser posto como subentendido, com ares de induvidável verosimilhança, todo o grande enredo fabricado sobre os textos evangélicos manifestamente manipulados, pode chegar a aclará-lo uma aparente lenda a que a autoridade romana jamais concedeu crédito, apesar de tampouco puder evitar que o povo a aceitasse como certa e que incluso membros do colectivo eclesiástico fora de toda a suspeita, como Jacobo de Vorágine, a incluíssem em suas recompilações da história dos santos cristãos.

A viagem ao Ocidente da família de Lázaro e José de Arimateia, seja certa ou não, dá razão e sentido aos silêncios mantidos pela postura ortodoxa romana e, por detrás da sua aparência de fábula piedosa, esconde toda uma série de chaves – simbólicas – que podem ser esclarecedoras. A que dentre elas que resulta mais significativa é a da coincidência entre o Cálice que transporta supostamente José de Arimateia – o Santo Graal – e a própria pessoa de Maria Madalena, a qual, se foi esposa de Jesus, haveria herdado Dele o Sangue Real da sua ascendência Davídica. Neste sentido, a viagem milagrosa sobre uma barca sem timão, conduzida pelas forças celestiais, seria como a peregrinação da própria essência do Cristianismo original, a exportação ao Ocidente de

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uma ideia transcendente – e até, eventualmente, de uma realidade transcendente e palpável – que haveria de unir-se à tradição atlântica para engendrar o ideário graálico, possivelmente a mensagem simbólica mais profunda dos que se criaram a partir da comunhão espiritual entre a tradição ocidental arcaica e a síntese transcendente aportada pela mensagem cristã original.

Vários acontecimentos significativos rodeiam a história mítica de Maria Madalena em sua singradura ocidental. Em primeiro lugar, é aqui onde se materializa a sua suposta penitência, o seu retiro para a solidão do deserto, porém não por arrependimento ante a vida dissoluta que lhe engajou a Igreja, mas sim por estar mais perto de Deus. Jacobo de Vorágine, citando um texto de que ouvira falar, porém que atribui, duvidosamente, a Josefo ou a Hegesipo, conta que Maria Madalena “fosse já pela intensidade do seu amor a Cristo, fosse já pela tristeza e vazio que a ausência do Salvador produzia em sua alma, não queria ver ninguém, e que quando chegou à terra de Aix se refugiou num deserto em que, escondida e isolada do mundo, viveu trinta anos, ao longo dos quais sete vezes a cada dia um anjo subia-a ao céu para que assistisse à celebração das Horas canónicas que em Glória se cantavam”.

Neste lugar e nesta situação, tanto em vida como depois do seu trânsito, a Madalena não é em absoluto invocada como tem sido a pecadora arrependida que a Igreja se tem empenhado em mostrar-nos, e sim, significativamente, como veladora ante o céu para proporcionar partos felizes e para conceder a fertilidade às mulheres estéreis. Mal desembarcou, intercede – sempre segundo a lenda – pela fecundidade da esposa do governador de Marselha, em cuja terra penetrou. Depois de morta, Gerardo, duque de Borgonha, pede relíquias da santa porque “carecia de descendência e ansiava vivamente que a sua esposa lhe desse um filho”. Noutra ocasião, salvou uma parturiente que se estava afogando e a qual lhe prometeu consagrar o seu filho num mosteiro se chegasse a puder pari-lo.

Sem dúvida tratam-se apenas de meras suspeitas, impossíveis de esclarecer porque a manipulação dos textos ou a sua própria obscuridade têm tornado impossível qualquer raciocínio válido. Contudo, é significativo que o movimento graálico converta indirectamente estes temas em chave simbólica, e que os textos mais obscuros desta aventura espiritual nos dêem chaves tais como chamar a Parsifal o Filho da Viúva, ou fazer constante alusão sobre a Família guardadora da Relíquia.

ATRIBUTOS ICONOGRÁFICOS DE MARIA MADALENA

CABELO – Deixou-o crescer Maria Madalena. A largura do cabelo, tal como a barba, é sinal de identificação com o Meio Cósmico, negação a transformar de fora o contexto natural em que se vive e se cria em consciência. Simbolicamente, o cabelo crescido (por exemplo, Sansão) confere força, enquanto o seu corte debilita a quem sofre a amputação. Os anacoretas que se envolviam no seu próprio cabelo como a única vestimenta, procuravam uma identificação com o Meio Cósmico e com a Consciência Universal; a sua condição era uma maneira de alcançar, mediante aquela prática, o estado de Consciência transcendente que perseguiam.

CRÂNIO – Sustém-no entre as mãos Maria Madalena. Tem significado duplo, ainda que o Cristianismo lhe tenha dado unicamente o de recordação da morte. O crânio é o contentor do cérebro e está situado no cima do ser humano. É, por isso, o lugar sagrado do nosso corpo por excelência e signo da descoberta daquilo que se mantém secreto: o Saber Supremo. OBRAS CONSULTADAS - Bíblia Sagrada, traduzida em Português segundo a Vulgata Latina pelo padre António Pereira de Figueiredo. Da edição aprovada em 1842 pela Rainha D. Maria II com a consulta do Patriarca Arcebispo Eleito de Lisboa. Depósito das Escrituras Sagradas, R. das Janelas Verdes, 32, Lisboa, 1911.

- Novo Testamento. Tradução do texto original grego, com as variantes da Vulgata e amplamente anotada por Huberto Rohden. Quarta edição. União Cultural Editora Ltda. São Paulo, Brasil. S/d mas que presumo cerca de 1950.

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- Missal Romano, com o próprio de todas as dioceses de Portugal. Composto e impresso na Casa Nun´Álvares, Gouveia, Guarda, 23-II-1955.

- Imitação de Cristo, por Tomás de Kêmpis. Editorial Verbo, Lisboa.

- Las enseñanzas secretas de Jesus, por Pierre Crepón, Tobías Churton, André Wautier e Jean Doresse. Colección Año Cero, Editorial Edaf S.A., Madrid, 1988.

- O Cristianismo Esotérico, por Annie Besant. Editora Pensamento, S. Paulo, Brasil.

- História e Profecia dos Papas, por Jean-Charles de Fontbrune. Publicações Europa-América, Mem-Martins, 1988.

- Dicionário de Santos, por Jorge Campos Tavares. 2.ª edição. Lello & Irmão – Editores, Porto.

- La Leyenda Dorada, 2 vols., por Santiago de la Vorágine. Alianza Editorial, Madrid, 1982.

- Santoral Diabólico, por Juan G. Atienza. Ediciones Martínez Roca, S.A., Barcelona, 1988.

- Nuestra Señora de Lucifer, por Juan G. Atienza. Ediciones Martínez Roca, S.A., Barcelona, 1991.

- Os Caminhos do Graal, por Patrick Rivière. Edição Ibrasa, S. Paulo, 1987.

- El Enigma Sagrado, por Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincoln. Ediciones Martínez Roca, S.A., Barcelona, 1985. Há uma edição em português deste livro, com o título A Linhagem Sagrada.

- Jesus, a Verdade e a Vida (Uma busca histórica pelos caminhos apócrifos, budistas, islâmicos e sânscritos), por Prof. Fida Hassnain. Madras Editora Ltda, S. Paulo, 1999.

- El Islam y el Grial, por Pierre Ponsoye. Ediciones de la Tradicion Unanime, Palma de Mallorca, 1984.

- Mélusine et le Chevalier au Cygne, por Claude Lecouteux. Editions Imago, Paris, 1997.

- O Eterno Feminino no Aro de Mafra, monografia coordenada por Manuel J. Gandra. Edição da Câmara Municipal de Mafra, Setembro 1994.

- Dogma e Ritual da Igreja e da Maçonaria, capítulo Prolepse Epitomática Sintriana (Regaleira de Sintra, uma Comenda Lusignan), por Vitor Manuel Adrião. Edições Dinapress, Lisboa, Setembro de 2002. http://lusophia.portugalis.com