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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MARIANA RIBEIRO VERAS SUSTENTABILIDADE E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO: ANÁLISE DE OBRAS São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MARIANA RIBEIRO VERAS

SUSTENTABILIDADE E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO: ANÁLISE DE OBRAS

São Paulo

2013

Page 2: Mariana Ribeiro Veras.pdf

V476s Veras, Mariana Ribeiro

Sustentabilidade e habitação de interesse social na cidade de São Paulo: análise de obras / Mariana Ribeiro Veras – 2013.

127 f. : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.

Bibliografia: f. 123-127.

1. Sustentabilidade. 2. Habitação de interesse social. 3. Urbanização de favelas. 4. Selo Casa Azul. I. Título.

CDD 728.1098161

Page 3: Mariana Ribeiro Veras.pdf

MARIANA RIBEIRO VERAS

SUSTENTABILIDADE E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO: ANÁLISE DE OBRAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Augusta Justi Pisani

Apoio: CAPES e CNPq

Aprovada em 29/01/2014

São Paulo

2013

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BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Maria Augusta Justi Pisani – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª. Drª. Célia Regina Moretti Meirelles Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª. Drª. Cibele Haddad Taralli Universidade de São Paulo

Page 5: Mariana Ribeiro Veras.pdf

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por cada momento que vivenciei através desta

pesquisa e também por todo aprendizado adquirido.

Agradeço, em especial, aos meus pais, Clarindo e Rosália, por terem me incentivado

e proporcionado esta oportunidade de cursar uma pós-graduação de excelente

qualidade. Não posso deixar de agradecer as minhas irmãs e entes queridos que

estiveram sempre ao meu lado me dando apoio e carinho nessa trajetória.

Agradeço ao meu namorado João Batista por ter sido verdadeiro companheiro

nesses dois anos em que estivemos morando longe e por total apoio e auxilio

durante minha pesquisa.

Agradeço, carinhosamente, a minha querida orientadora Maria Augusta Justi Pisani

por todo esforço e dedicação que teve perante minha trajetória no mestrado, sendo

de essencial importância para meu aperfeiçoamento profissional e pessoal.

Agradeço às professoras convidadas Célia Regina Moretti Meirelles e Cibele

Haddad Taralli pela contribuição indispensável para enriquecimento do trabalho final.

Agradeço também aos colegas que caminharam juntamente a mim nestes dois anos

de estudo, trabalho e dedicação para plena conclusão desta fase.

Agradeço a CAPES pelo incentivo ao desenvolvimento desta pesquisa e por ter

acreditado no potencial do meu projeto.

Page 6: Mariana Ribeiro Veras.pdf

I

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Conjunto habitacional Mata Virgem ____________________________ 12

Figura 2 - Conjunto habitacional Santo Amaro V ___________________________ 13

Figura 3 - Localização das subprefeituras dos conjuntos habitacionais. _________ 14

Figura 4 - Conjunto habitacional Jacinta Andrade __________________________ 22

Figura 5 - Conjunto habitacional Rubens Lara _____________________________ 23

Figura 6 - Condomínios "E" e "G" em Paraisópolis. _________________________ 24

Figura 7 - Amilton Degani, gerente de contratos da Ductor, Maria Teresa Diniz, coordenadora do Programa Paraisópolis e Edson Elito, arquiteto mentor do projeto, recebendo certificado Selo Azul. _______________________________________ 25

Figura 8 - Localização do conjunto habitacional Mata Virgem. ________________ 46

Figura 9 - Implantação das edificações que compõe o residencial Mata Virgem ___ 48

Figura 10 - Blocos modulados e diferenciados _____________________________ 49

Figura 11 - Parte da planta baixa de um pavimento térreo ___________________ 50

Figura 12 - Elevação referenciando o nível da rua e a quantidade de pavimentos nas torres ____________________________________________________________ 50

Figura 13 - Painéis artísticos que caracterizam cada edificação _______________ 51

Figura 14 - Estado de degradação das ruas do entorno imediato antes da obra concluída _________________________________________________________ 52

Figura 15 - Imagem via satélite do terreno em 2004. ________________________ 52

Figura 16 - Detalhe da cobertura que é solta da edificação ___________________ 54

Figura 17 - Destaque para espaço entre a cobertura e a edificação que permite passagem de ar a fim de amenizar a temperatura através da promoção de trocas térmicas. __________________________________________________________ 54

Figura 18 - Distancia pequena entre duas edificações _______________________ 55

Figura 19 - Iluminação natural em área comum – escada ____________________ 56

Figura 20 - Banheiros no centro da planta impossibilitando a iluminação natural. __ 57

Figura 21 - Depósitos de lixo de um dos condomínios do conjunto habitacional ___ 58

Figura 22 - Distribuição da iluminância interna em pseudo cores no pavimento térreo. _________________________________________________________________ 59

Figura 23 - Distribuição da iluminância interna em pseudo cores no pavimento tipo. _________________________________________________________________ 60

Figura 24 - Distribuição da iluminância ponto a ponto no apartamento do pavimento tipo. _____________________________________________________________ 61

Figura 25 - Uso de botijão de gás configura medição individualizada. ___________ 63

Page 7: Mariana Ribeiro Veras.pdf

II

Figura 26 - Dispositivo sensor de presença para acendimento de lâmpada. ______ 64

Figura 27 - Chuveiro com aquecimento elétrico. Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013 _________________________________________________________________ 64

Figura 28 - Edifícios com alvenaria estrutural em blocos de concreto. __________ 66

Figura 29 - Planta baixa com cotas de dimensões não moduladas. ____________ 67

Figura 30 - Cobertura feita em estrutura e telha metálicas. ___________________ 68

Figura 31 - Pavimentação em bloco pré-fabricado de concreto intertravado. _____ 68

Figura 32 - Alvenaria estrutural feita em bloco de concreto. __________________ 69

Figura 33 - Formas e Escoras em madeira. _______________________________ 69

Figura 34 - Escoras metálicas _________________________________________ 70

Figura 35 - Revestimento cerâmico. _____________________________________ 71

Figura 36 - Medidores individualizados de água. ___________________________ 73

Figura 37 - Bacia sanitária com caixa de descarga acoplada. _________________ 74

Figura 38 - Torneira com arejador articulado. _____________________________ 74

Figura 39 - Piso intertravado e áreas permeáveis. __________________________ 75

Figura 40 - Áreas que permitem infiltração da água: piso intertravado e áreas permeáveis _______________________________________________________ 76

Figura 41 - Moradores recebendo manual de bom uso do condomínio. _________ 77

Figura 42 - Implantação - apartamentos acessíveis. ________________________ 80

Figura 43 - Planta baixa apartamento adaptado. ___________________________ 81

Figura 44 - Banheiro do apartamento adaptado. ___________________________ 82

Figura 45 - Bacia sanitária do banheiro adaptado. __________________________ 82

Figura 46 - Porta e basculante em atrito. _________________________________ 83

Figura 47 - Planta com duas torres condomínio 1 destacando acessibilidade no projeto. ___________________________________________________________ 84

Figura 48 - Rampa de acesso sem piso tátil de alerta. Piso tátil de alerta nas escadas. __________________________________________________________ 84

Figura 49 - Inexistência de rampas de acesso e de sinalização com piso tátil. ____ 85

Figura 50 - Localização do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V ___ 86

Figura 51 - Curvas de nível expondo relevo acentuado. _____________________ 87

Figura 52 - Traçado das ruas formado em vista da ocupação desordenada da região. _________________________________________________________________ 88

Figura 53 - Croqui inicial de idealização do projeto. _________________________ 89

Figura 54 - Distribuição dos blocos de apartamento. ________________________ 90

Figura 55 - Resultado final do residencial Parque Novo Santo Amaro V, onde blocos agrupados formam interface entre a rua e o parque linear. ___________________ 90

Page 8: Mariana Ribeiro Veras.pdf

III

Figura 56 - Modelo 1 de tipologia. ______________________________________ 91

Figura 57 - Modelo 2 de tipologia. ______________________________________ 91

Figura 58 - Modelo 3 de tipologia. ______________________________________ 92

Figura 59 - Vista esquemática do conjunto de blocos que se adequam ao relevo. _ 92

Figura 60 - Comparação entre condições apresentadas pelas vias antes e depois da urbanização. _______________________________________________________ 93

Figura 61 - Paisagem urbana antes das obras. ____________________________ 93

Figura 62 - Contraste na paisagem urbana. _______________________________ 94

Figura 63 - Equipamentos destinados ao lazer. ____________________________ 95

Figura 64 - Imagem do terreno em 2007. _________________________________ 95

Figura 65 - Implantação dos blocos no terreno. ____________________________ 97

Figura 66 - Iluminação do banheiro insuficiente. Deposição de lixo feita em caçambas, não há preocupação com coleta seletiva ou higiene._______________ 97

Figura 67 - Iluminação natural de áreas comuns. __________________________ 98

Figura 68 - Distribuição da iluminância em pseudo cores no bloco T2B. _________ 99

Figura 69 - Distribuição da iluminancia em malha de pontos. ________________ 100

Figura 70 - Botijão de distribuição de gás individualizada. ___________________ 102

Figura 71 - Chuveiro com aquecimento elétrico e iluminação de áreas comuns sem dispositivos economizadores._________________________________________ 102

Figura 72 - Edificações construídas em alvenaria estrutural com blocos de concreto. ________________________________________________________________ 104

Figura 73 - Uso de estrutura metálica. __________________________________ 104

Figura 74 - Passarela que faz a ligação entre blocos de apartamento. _________ 105

Figura 75 - Pavimentação em bloco de concreto intertravado. _______________ 106

Figura 76 - Formas e escoras em madeira. ______________________________ 106

Figura 77 - Canteiro de obras. ________________________________________ 107

Figura 78 - Medição individualizada de água. ____________________________ 109

Figura 79 - Bacia sanitária com caixa acoplada de descarga. ________________ 110

Figura 80 - Torneiras comuns, sem dispositivos economizadores. ____________ 111

Figura 81 - Torneira da cozinha com arejador articulado ____________________ 111

Figura 82 - Piso intertravado e áreas permeáveis. _________________________ 112

Figura 83 - Soluções que permitem o escoamento de águas pluviais. _________ 113

Figura 84 - Folheto informativo de infraestrutura local. _____________________ 115

Figura 85 - Implantação - apartamentos adaptados. _______________________ 117

Figura 86 - Pista de skate sem guarda corpo ou grade de proteção. ___________ 118

Page 9: Mariana Ribeiro Veras.pdf

IV

Figura 87 - Piso metálico antiderrapante. ________________________________ 119

Figura 88 - Planta baixa apartamento adaptado. __________________________ 120

Page 10: Mariana Ribeiro Veras.pdf

V

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Déficit habitacional no Brasil ___________________________________ 4

Tabela 2 - Categoria 1: QUALIDADE URBANA ____________________________ 53

Tabela 3 - Categoria 2: PROJETO E CONFORTO _________________________ 62

Tabela 4 - Categoria 3: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ________________________ 65

Tabela 5 - Categoria 4: CONSERVAÇÃO DE RECURSOS ___________________ 71

Tabela 6 - Categoria 5: GESTÃO DA ÁGUA ______________________________ 76

Tabela 7 - Categoria 6: PRÁTICAS SOCIAIS _____________________________ 78

Tabela 8 - Categoria 1: QUALIDADE URBANA ____________________________ 96

Tabela 9 - Categoria 2: PROJETO E CONFORTO ________________________ 100

Tabela 10 - Categoria 3: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ______________________ 103

Tabela 11 - Categoria 4: CONSERVAÇÃO DE RECURSOS _________________ 108

Tabela 12 - Categoria 5: GESTÃO DA ÁGUA ____________________________ 113

Tabela 13 - Categoria 6: PRÁTICAS SOCIAIS ___________________________ 116

Page 11: Mariana Ribeiro Veras.pdf

VI

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar habitações de interesse social vinculadas ao

Programa de Urbanização de Favelas promovido pela prefeitura de São Paulo.

Nesse contexto, dois conjuntos habitacionais foram selecionados: o Residencial

Mata Virgem e o Residencial Parque Santo Amaro V.

A abordagem metodológica teve como base parâmetros propostos pelo Manual

Selo Casa Azul, da Caixa Econômica Federal, que tem por finalidade incentivar a

adesão a práticas sustentáveis no âmbito da construção habitacional, promovendo a

certificação de empreendimentos. A avaliação abrange questões que envolvem:

qualidade urbana; projeto e conforto; eficiência energética; conservação de recursos

materiais; gestão da água; práticas sociais e acessibilidade.

Os resultados desta pesquisa apontam propostas que expõem arquitetura de

qualidade e consistentes melhorias no entorno das obras analisadas, no entanto,

segundo a abordagem sustentável, tais empreendimentos apresentaram rendimento

aquém dos parâmetros expostos.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Habitação de Interesse Social. Urbanização de

Favelas. Selo Casa Azul.

Page 12: Mariana Ribeiro Veras.pdf

VII

ABSTRACT

This work aims to analyze the social interests’ habitations linked to the Urbanizations

Slums Programs promoted by São Paulo city hall. Because of this project, two

housing complexes were chosen, such as “Mata Virgem” residential and “Parque

Santo Amaro V” residential.

The methodological approach used parameters established by the “Selo Casa Azul

da Caixa Econômica Federal”, which it has the purpose to stimulate the sustainable

practices in the housing construction scope, promoting the enterprise certification.

This evaluation covers questions like: urban quality, project and comfort; energy

efficiency; the conservation of material resources; water management; social

practices and accessibility.

The results of this research show suggestions that expose quality architecture and

improvements at the analyzed work, however according to the sustainable approach

those enterprises express better incomes than the exposed before.

Key words: Sustainability; Social interests’ habitations; Urbanizations Slums; Selo Casa Azul;

Page 13: Mariana Ribeiro Veras.pdf

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

1.1 Justificativa ............................................................................................................ 6

1.2 Objetivos ............................................................................................................... 9

1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 9

1.2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 9

1.3 Procedimentos Metodológicos .............................................................................. 9

2 ARQUITETURA E SUSTENTABILIDADE ............................................................. 15

2.1 A sustentabilidade na habitação de interesse social no Brasil ............................ 18

2.1.1 Urbanização de favelas na cidade de São Paulo ............................................. 27

2.1.2 Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal .................................................. 33

3 ESTUDOS DE CASO NA CIDADE DE SÃO PAULO ............................................ 45

3.1 Conjunto habitacional Mata Virgem ..................................................................... 45

3.1.1 O Projeto .......................................................................................................... 47

3.1.2 Análise a partir do Selo Casa Azul ................................................................... 51

3.1.2.1 Qualidade urbana .......................................................................................... 51

3.1.2.2 Projeto e Conforto ......................................................................................... 53

3.1.2.3 Eficiência Energética ..................................................................................... 63

3.1.2.4 Conservação de recursos materiais .............................................................. 65

3.1.2.5 Gestão da água ............................................................................................. 72

3.1.2.6 Práticas sociais ............................................................................................. 77

3.1.2.7 Acessibilidade ............................................................................................... 79

3.1.3 Conclusões Parciais ......................................................................................... 85

3.2 Conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V .......................................... 86

3.2.1 O Projeto .......................................................................................................... 89

Page 14: Mariana Ribeiro Veras.pdf

3.2.2 Análise a partir do Selo Casa Azul ................................................................... 92

3.2.2.1 Qualidade urbana .......................................................................................... 93

3.2.2.2 Projeto e Conforto ......................................................................................... 96

3.2.2.3 Eficiência Energética ................................................................................... 101

3.2.2.4 Conservação de recursos materiais ............................................................ 103

3.2.2.5 Gestão de água ........................................................................................... 109

3.2.2.6 Práticas sociais ........................................................................................... 114

3.2.2.7 Acessibilidade ............................................................................................. 116

3.2.3 Considerações Parciais .................................................................................. 120

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 121

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 123

Page 15: Mariana Ribeiro Veras.pdf

1

1 INTRODUÇÃO

Interesses financeiros, políticos e econômicos levaram diversas gerações a uma

exploração desordenada do meio ambiente, porém também proporcionaram

avanços para a humanidade.

A inovação e a adaptação têm permitido a humanidade não apenas sobreviver, mas alcançar novos patamares. A inovação levou ao desenvolvimento de novas ferramentas, a industrialização, a informatização e a incontáveis avanços científicos, com consequências positivas e negativas

1 (THE GLOBAL..., 2012, p. 4,

tradução nossa).

Atualmente, o planeta manifesta diversos sinais em decorrência de anos de deszelo

por parte do homem. De acordo com pesquisas realizadas pelo Intergovernmental

Panel on Climate Change (IPCC) 2012, os impactos das ações do homem sobre o

meio ambiente estão em níveis tão elevados que há urgência de mudanças de

hábitos, consumos e produções; além disso, foi constatado que o consumo de

energia elétrica teve um aumento de 50% entre os anos de 1980 a 2010. Segundo

declaração da World Meteorological Organization (WMO) de 2012, os últimos 11

anos (2001-2011) estão entre os mais quentes recordes já registrados em todo

planeta. Estas pesquisas apontam que as ações antrópicas têm contribuído na

aceleração do processo de aquecimento global que se manifesta cada vez mais

irreversível.

O desenvolvimento sustentável é definido pela ONU (1987, s/p) como: “Implica em

satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

gerações futuras de atender as suas próprias necessidades”. Este conceito, apesar

de ser muito referenciado, ainda é o mais abrangente.

1 Innovation and adaptation have permitted humanity to not only survive but to reach new heights.

Innovation led to the development of new tools, industrialization, computerization and untold scientific advancements, with both positive and negative consequences.

Page 16: Mariana Ribeiro Veras.pdf

2

O desenvolvimento sustentável é um modelo pautado em princípios e diretrizes que

consideram aspectos ambientais, econômicos, políticos e socioculturais, e vem

ganhando espaço em diversos campos das atividades humanas.

De acordo com Edwards (2008), a indústria da construção civil pode ser considerada

uma das atividades menos sustentáveis do planeta, especialmente por ser

responsável pelo consumo de aproximadamente 50% dos recursos naturais

mundiais. Diante destes fatos, as edificações e a urbanização que se materializam

pela área da construção civil necessitam adequar-se as diretrizes do

desenvolvimento sustentável.

Toda construção deve ter como ponto de partida um “projeto”, e para que o

resultado final seja um empreendimento sustentável é necessário que desde a

concepção este seja embasado em princípios sustentáveis. Dessa forma, segundo

Edwards (2008, p. 3) o projeto sustentável “envolve a criação de espaços saudáveis,

viáveis economicamente e sensíveis às necessidades sociais. Significa respeitar os

sistemas naturais e aprender por meio dos processos ecológicos”.

Na década de 70, a crise energética foi de singular importância para que algumas

questões ambientais ganhassem discussão com maior amplitude. A partir deste

marco, algumas mudanças no âmbito da arquitetura foram aplicadas promovendo

construções que faziam uso da energia solar e se adequavam as características

climáticas de cada região. (CORBELLA E YANNAS, 2003).

Este foi um passo importante dado em direção a “Arquitetura Sustentável2”, que

atualmente mostra-se aplicada em diversas tipologias de construção. A edificação

sustentável promove benefícios que se estendem além de sua contribuição para

redução dos impactos ambientais, uma vez que se apresenta como responsável

pelo estabelecimento de novos princípios básicos de projeto.

Neste horizonte tornou-se necessário adequar a arquitetura e seus sistemas construtivos ao desejado desenvolvimento sustentável. Para

2 A expressão em uso no presente trabalho abrange critérios de análise e classificação que tem como

princípio base associar conceitos sobre sustentabilidade que permeiem dimensões ambientais, sociais, econômicas e espaciais agregadas ao emprego de técnicas construtivas e inovações tecnológicas promovendo harmonia entre o ambiente pré-existente e a arquitetura a ser instalada.

Page 17: Mariana Ribeiro Veras.pdf

3

isso desenvolveram-se soluções para todos os âmbitos do projeto que priorizam a máxima utilização dos recursos naturais com o mínimo impacto ambiental (CORRÊA, 2008, p. 17).

O desenvolvimento de novas técnicas – como o aproveitamento de águas pluviais,

reutilização de águas cinzentas e utilização de inércia térmica - favoreceu a

adequação das construções às ideias que regem a arquitetura sustentável,

possibilitando a execução assim de edificações que integram conforto ambiental,

eficiência energética, economia e preservação do meio ambiente.

O Brasil, segundo Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) possui aproximadamente 6% de seus habitantes vivendo em

assentamentos precários, quantitativo quase equivalente à população da cidade de

São Paulo. Esse tem apresentado iniciativas do poder Executivo na construção de

edificações de cunho habitacional em busca de oferecer locais mais apropriados e

seguros para esta parcela da população, entretanto a arquitetura sustentável no

Brasil ainda aparece de maneira tímida no cenário das habitações de interesse

social.

Pela falta de alternativas habitacionais para a população de menor renda, a cidade ilegal assume proporções sempre crescentes. [...] A totalidade das grandes cidades brasileiras (com mais de quinhentos mil habitantes) apresenta favelas, assim como cerca de 80% das cidades com população entre cem e quinhentos mil habitantes (DENALDI, 2003, p. 2).

O déficit habitacional no Brasil (ver tabela 1) é consequência do crescimento

econômico que nunca apresentou distribuição de renda adequada, além disso, o

processo de desindustrialização ocorrido nas últimas décadas gerou o aumento dos

índices de desemprego contribuindo também para agravar o crescimento de

assentamentos precários urbanos (SAMORA, 2009).

No Brasil, a intensa urbanização pós-moderna das últimas cinco décadas imprimiu uma súbita concentração de indústrias, serviços e trabalhadores, que somado à mecanização do campo e da cidade transformou, não só o déficit habitacional, como a escassez de emprego, nos grandes problemas sociais da urbanidade (SILVA e ROMERO, 2011, s/p).

Page 18: Mariana Ribeiro Veras.pdf

4

Tabela 1 - Déficit habitacional no Brasil

ANO DÉFICIT HABITACIONAL

1993 6.247.303

1996 6.449.151

1999 6.669.226

2002 7.256.566

2004 7.890.362

2007 6.272.645

2008 5.546.310

Fonte: a partir de dados coletados da Fundação João Pinheiros (2009 e 2011)

No município de São Paulo, o crescimento da população entre 1950 e 1980 mostra

um aumento considerável, onde um contingente de pouco mais de 2 milhões de

habitantes alcançou a estatística de quase 8,5 milhões (SÃO PAULO, 2012). Esse

crescimento populacional ocorrido em apenas 30 anos contribuiu para a formação

desordenada de assentamentos precários nesta região.

Na cidade de São Paulo, alguns programas foram implantados com o objetivo de

criar melhores espaços para essa classe menos favorecida. Segundo Bruna e Pisani

(2010, p. 59),

As populações pobres ficam expostas em graus mais intensos aos perigos e desastres naturais, pois se situam em geral em áreas impróprias para o assentamento humano, tornando-se indefesas frente às forças da natureza, como tufões, enchentes e deslizamentos.

O “Programa de Urbanização de Favelas” da Prefeitura de São Paulo criado em

2005 tem como foco

[...] a urbanização e a regularização fundiária de áreas degradadas, ocupadas desordenadamente e sem infraestrutura. O objetivo é

Page 19: Mariana Ribeiro Veras.pdf

5

transformar favelas e loteamentos irregulares em bairros, garantindo a seus moradores o acesso à cidade formal, com ruas asfaltadas, saneamento básico, iluminação e serviços públicos. O programa também inclui o reassentamento de famílias – em caso de áreas de risco – e a recuperação e preservação de áreas de proteção dos reservatórios Guarapiranga e Billings, além de melhorias habitacionais (SÂO PAULO, 2012, s/p).

Em livro publicado em 2000, Bonduki já apresentava um posicionamento a cerca da

coerência em urbanizar loteamentos e ocupações irregulares, em vista da real

dimensão territorial ocupada por uma massa vultosa de habitantes da cidade de São

Paulo.

A política municipal de habitação parte do pressuposto de que a cidade real – que abriga a grande maioria da população de São Paulo em assentamentos não legais – é irreversível e que uma intervenção maciça na área de habitação de interesse social requer a consolidação desses assentamentos, melhorando suas condições de urbanização e de moradia (BONDUKI, 2000, p. 105).

Tal reflexão vem de encontro com as proposta vigentes no Programa de

Urbanização de Favelas, que apresenta soluções pertinentes diante da realidade

presente nesse município. A solução exposta por esse programa, na verdade, busca

minimizar tardiamente os efeitos da ausência de uma política eficiente de controle de

ocupações desordenadas.

Além disso, as políticas habitacionais devem visar à construção de conjuntos

habitacionais com boa qualidade e a custos baixos, respeitando o meio físico. Neste

cenário, o manual “Selo Casa Azul” da Caixa Econômica Federal aparece como

incentivador de boas práticas sustentáveis na construção civil voltada para o âmbito

da habitação. Alguns empreendimentos já receberam a certificação concedida

através deste selo pelo bom desempenho perante os critérios de avaliação

presentes no mesmo. Dentre os conjuntos habitacionais, estão: Complexo Chapéu

Mangueira, localizado no Rio de Janeiro e projetado pelo escritório Archi Traço

Arquitetura Ltda, recebeu certificação categoria ouro; e os condomínios “E” e “G”

que fazem parte do projeto de urbanização de favelas em Paraisópolis, localizados

na cidade de São Paulo e projetados pelo arquiteto Edson Elito, receberam

certificação categoria ouro.

Page 20: Mariana Ribeiro Veras.pdf

6

Diante desse quadro exposto, esta pesquisa tem por objetivo analisar a

sustentabilidade dos projetos e obras de habitação de interesse social (HIS)

selecionados na cidade de São Paulo a partir do roteiro de critérios presente no

manual “Selo Casa Azul” da CAIXA. Vale ressaltar que os conjuntos escolhidos para

análise não foram projetados com essa premissa.

1.1 Justificativa

Desde a revolução industrial onde as agressões ao ambiente tornaram-se mais

frequentes e visíveis, é perceptível a necessidade de revitalização e renovação do

pensamento do homem perante a natureza.

Segundo John (2010), a sustentabilidade está presente não apenas nas

construções, nas tecnologias e inovações, ou como muitos acreditam na

preservação da Amazônia; esta também se mostra através dos hábitos do dia a dia

do homem, das decisões e da maneira como ele trata o meio ambiente em que vive.

Algumas práticas sustentáveis se relacionam a reciclagem do lixo, a eficiência

energética de equipamentos, diminuição de consumos, gestão da água, ao uso de

materiais sustentáveis na construção civil e em seu reaproveitamento, e em diversas

outras atividades.

O termo sustentabilidade que teve sua origem e definição ligadas aos pensadores e

economistas Ignacy Sachs e Karl William aproximadamente nos anos 70, passou a

ser associado às questões ambientais ainda nesta mesma década (AMODEO,

2008). Porém, apenas no final do século XX e início do século XXI esta prática

ganhou âmbito no meio internacional, tornando-se assunto de interesse mundial em

congressos e debates de veemência política.

Neste cenário do novo século, a sustentabilidade deixou de ser um tema

apresentado sempre no campo teórico e ganhou espaço no meio prático e aplicado.

As técnicas que empregam sustentabilidade passaram a ser utilizadas e

contiguamente renovadas, sempre buscando ideias que atendam a demanda

mundial da busca por soluções tecnicamente eficientes e ambientalmente corretas.

Page 21: Mariana Ribeiro Veras.pdf

7

O mercado exige produtos e materiais comprometidos com o meio ambiente, enfatizando preocupação com baixo impacto e interesse em contribuir para a solução do problema ambiental, o que se tornaria vantagem competitiva e forma de conquistar um consumidor cada vez mais informado, exigente e consciente das necessidades do planeta (SANTOS e ABASCAL, 2012, s/p).

A sustentabilidade mostra-se como uma proposta viável para enfrentar alguns dos

desafios que o próprio homem gerou, devido à má conservação do meio ambiente, e

ao mesmo tempo esta possui um caráter social, que pode permitir uma busca por

melhorias sociais e financeiras para quem reside em habitações de interesse social.

Sobre essa questão, John (2010, p. 11) afirma que

O desafio é, na verdade, a busca de um equilíbrio entre proteção ambiental, justiça social e viabilidade econômica. Ampliar o conceito de desenvolvimento sustentável é buscar em cada atividade formas de diminuir o impacto ambiental e aumentar a justiça social dentro do orçamento disponível.

As habitações de interesse social demandam investimento não apenas no processo

de planejamento e construção, mas também no pós-ocupação. Uma parcela das

famílias instaladas nessas edificações não possui renda suficiente para gastos com

energia, água e outras necessidades básicas, o que torna o emprego de algumas

técnicas sustentáveis uma alternativa para minimizar além dos impactos ambientais,

despesas dessas famílias com uso e manutenção.

Sobre as tecnologias sustentáveis, Edwards (2008) relata que estas se apresentam

em um patamar de desenvolvimento avançado, porém ainda não são empregadas

na arquitetura de forma condizente com este avanço. Para Wines (2008), as

tecnologias sustentáveis ainda são vistas como assessórios instalados nas

edificações e não parte elementar do projeto arquitetônico.

As práticas sustentáveis aplicadas às edificações não foram descartadas, trata-se

das técnicas passivas através das quais se faz uso da ventilação e iluminação

naturais para promover ambientes mais confortáveis e ao mesmo tempo gerar

redução no consumo de energia elétrica pela diminuição do uso de aparelhos de

resfriamento e iluminação artificial. Estas se apresentam como estratégias

Page 22: Mariana Ribeiro Veras.pdf

8

bioclimáticas recorrentes quando se deseja melhorar a qualidade do espaço

construído proporcionando ambientes mais salubres (CUNHA, 2010).

Fretin (2009) denomina os edifícios que empregam princípios termodinâmicos

tirando partido da própria construção em benefício do equilíbrio térmico como

“edificações solares passivos”. Fretin ressalta que estes

[...] buscam manter, em seu interior, índices de conforto ambiental adequados às expectativas e às atividades ali exercidas e altos níveis de eficiência energética. Isto é, visam à economia máxima de outras formas de energia empregadas na manutenção e uso do edifício, tanto para iluminação, resfriamento e iluminação artificial dos ambientes (FRETIN, 2009, p. 38).

Na tentativa de incentivar a adesão das técnicas e tecnologias sustentáveis aos

projetos arquitetônicos, algumas certificações e manuais foram criados com

especificidades brasileiras, tais como: o Alta Qualidade Ambiental (Aqua), o

Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) e o Selo Casa Azul

da CAIXA. Dentre estes, o Selo Casa Azul destaca-se nesta pesquisa por

apresentar proposta voltada para o âmbito habitacional, incentivando especialmente

a aplicação da sustentabilidade aos projetos de HIS.

O guia Selo Casa Azul CAIXA foi criado com o propósito de reconhecer e valorizar

os empreendimentos que adotam soluções e práticas sustentáveis de projeto e

construção. Esta certificação é composta por um roteiro formado por 53 critérios de

avaliação que abrangem as seguintes áreas: qualidade urbana; projeto e conforto;

eficiência energética; conservação de recursos materiais; gestão da água e práticas

sociais. Tais categorias serão explicitadas nos procedimentos metodológicos e no

capítulo 2, onde será feita uma abordagem mais minuciosa sobre esse selo.

Dessa forma, a análise do emprego de técnicas sustentáveis em habitação social,

possui relevância social e ambiental, pois através dos resultados diante das

realidades expostas nos conjuntos habitacionais a serem estudados, será possível

verificar a postura projetual dos arquitetos, dos financiadores e dos gestores de tais

empreendimentos diante das realidades climáticas e das diversas manifestações da

natureza gerada pelas ações antrópicas.

Page 23: Mariana Ribeiro Veras.pdf

9

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar o emprego de critérios sustentáveis em habitação de interesse social

vinculados ao Programa de Urbanização de Favelas do município de São Paulo.

1.2.2 Objetivos Específicos

Analisar os conjuntos habitacionais selecionados a partir dos critérios de

avaliação propostos pelo manual Selo Casa Azul da Caixa Econômica

Federal;

Realizar estudos de caso dos conjuntos habitacionais desenvolvidos no

programa de urbanização de favela na cidade de São Paulo: Mata Virgem e

Parque Novo Santo Amaro V;

Estabelecer quadro com os resultados das análises finais dos conjuntos

habitacionais avaliados individualmente;

Selecionar as questões sustentáveis que se apresentaram mais recorrentes

entre os conjuntos habitacionais e as que se destacam por diferenciação das

demais;

1.3 Procedimentos Metodológicos

O método empregado para o desenvolvimento deste trabalho seguirá as seguintes

etapas:

1 – Coleta de dados secundários e análise crítica de material consultado,

buscando conteúdo histórico e definições, além de desenvolver pesquisas sobre

temas relacionados. Os dados deverão ser retirados de livros nacionais e

internacionais, periódicos, artigos científicos que poderão ser encontrados em

bibliotecas ou na internet, além de teses, dissertações e do fundamental material

Page 24: Mariana Ribeiro Veras.pdf

10

para desenvolvimento desta pesquisa, o Selo Casa Azul da Caixa (Boas práticas

para habitação mais sustentável, 2010);

2 – Estudos de caso de conjuntos habitacionais na cidade de São Paulo,

tendo como base para análise o Manual Selo Casa Azul da Caixa Econômica

Federal nos seguintes aspectos:

Qualidade urbana: qualidade do entorno – infraestrutura e impactos;

melhorias no entorno; recuperação de áreas degradadas e reabilitação

de imóveis;

Projeto e Conforto: paisagismo; flexibilidade de projeto; relação com a

vizinhança; solução alternativa de transporte; local para coleta seletiva;

equipamentos de lazer, social e desportivos; desempenho térmico –

vedações e orientação ao sol e ventos; iluminação natural de áreas

comuns; ventilação e iluminação natural de banheiros e adequação às

condições físicas do terreno;

Eficiência Energética: lâmpadas de baixo consumo; dispositivos

economizadores; sistema de aquecimento solar e a gás; medição

individualizada de gás; elevadores eficientes; eletrodomésticos

eficientes e fontes alternativas de energia;

Conservação de Recursos Materiais: coordenação modular; qualidade

de materiais e componentes; componentes industrializados ou pré-

fabricados; formas e escoras reutilizáveis; gestão de resíduos de

construção e demolição (RCD); concreto com dosagem otimizada;

cimento de alto-forno (CPIII) e pozolânico (CPIV); pavimentação com

RCD; facilidade de manutenção da fachada e madeira plantada ou

certificada;

Gestão da Água: medição individualizada; dispositivos economizadores

– sistemas de descarga, arejadores e registro regulador de vazão;

aproveitamento de águas pluviais; retenção de águas; infiltração de

águas pluviais e áreas permeáveis;

Práticas Sociais: educação para gestão de RCD; educação ambiental

dos empregadores; desenvolvimento pessoal dos empregados;

capacitação profissional dos empregados; inclusão de trabalhadores

Page 25: Mariana Ribeiro Veras.pdf

11

locais; participação da comunidade na elaboração do projeto;

orientação aos moradores; educação ambiental dos moradores;

capacitação para gestão do empreendimento; ações para mitigação de

riscos sociais e ações para a geração de emprego e renda;

Os resultados obtidos a partir dessa análise serão expostos mediante uso de tabela

que segue o modelo abaixo:

Tabela Modelo

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

1.1 Qualidade do Entorno - Infraestrutura

Sim X

1.2 Qualidade do Entorno - Impactos

Sim X

Na qual os critérios serão avaliados seguindo a seguinte padronização:

SIM quando o conjunto habitacional em análise atender aos requisitos

referentes a cada critério exposto;

NÃO mediante o não cumprimento de < 50% das características em

destaque referente ao item em análise;

PARCIALMENTE diante do cumprimento de 50% a 99% das

características apresentadas na avaliação do critério observado;

NÃO SE APLICA perante um critério de análise que não se adeque ao tipo

de edificação em questão ou a não obtenção de informações suficientes,

impossibilitando uma avaliação coerente;

3 – Para o desenvolvimento da análise de alguns critérios do Selo Casa Azul

será necessário um melhor aprofundamento fazendo uso de alguns recursos

auxiliares:

Programa AutoCAD 2012 para redesenhar plantas e cortes dos

edifícios para a avaliação da iluminação natural por simulações

Page 26: Mariana Ribeiro Veras.pdf

12

computacionais, empregando o software Relux Professional versão

2013.1.1.2;

Trena manual e eletrônica com mira a laser, para confirmação de

dados coletados “in loco”;

4 – Obtenção de dados primários a partir de pesquisa de campo nos

conjuntos habitacionais exposto abaixo:

Conjunto Habitacional Mata Virgem, localizado na Estrada da Água

Santa, próximo à divisa entre as cidades de Diadema e São Paulo -

subprefeitura Cidade Ademar. Projeto do arquiteto José Luiz Tabith

Junior (Figura 1).

Conjunto Habitacional Santo Amaro V, localizado na Zona Sul do

município de São Paulo, na região da bacia de Guarapiranga –

subprefeitura M’Boi Mirim. Projeto do arquiteto Héctor Vigliecca (Figura

2).

Figura 1 - Conjunto habitacional Mata Virgem Fonte: acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior, 2012

Page 27: Mariana Ribeiro Veras.pdf

13

Figura 2 - Conjunto habitacional Santo Amaro V Fonte: site do arquiteto Héctor Vigliecca, 2013

No processo de seleção dos conjuntos habitacionais a serem estudados,

inicialmente determinou-se como ponto de partida o Programa de Urbanização de

Favelas da prefeitura de São Paulo, restringindo-se o recorte espacial desta

pesquisa à cidade em questão. A partir disso, realizou-se um levantamento para

avaliar as HIS que datassem entre 2008 e 2012. Posteriormente, optou-se pela

seleção de conjuntos habitacionais que ficassem localizados em subprefeituras

distintas (Figura 3), que possuíssem realidade de projeto e obra diferentes e

oferecessem um campo de estudo ainda não desenvolvido por outros

pesquisadores.

Page 28: Mariana Ribeiro Veras.pdf

14

Figura 3 - Localização das subprefeituras dos conjuntos habitacionais.

Fonte: acervo da autora, 2013.

5 – Entrevista com os arquitetos projetistas das edificações e os da Prefeitura

de São Paulo que acompanharam o desenvolvimento do projeto e execução destes

conjuntos;

6 – Discussão dos resultados das análises das obras individualmente e

desenvolvimento de quadro comparativo sobre os dados coletados e de destaque;

Page 29: Mariana Ribeiro Veras.pdf

15

2 ARQUITETURA E SUSTENTABILIDADE

O termo “desenvolvimento” nos remete a economia e a prosperidade, porém este

caminho de crescimento que deixa impactos negativos para as gerações futuras

tornou-se um problema de amplitude mundial, visto que a questão ambiental se

sobressalta diante das ambições políticas e econômicas.

O “desenvolvimento sustentável” passou a ser um ideal almejado, mas que se

mostra como resultado de um conjunto de escolhas e atitudes. Este expõe a

necessidade de que todos os âmbitos da vivência humana passem a confluir em

direção ao emprego da sustentabilidade.

Em meio a tal cenário, estudiosos buscam alternativas que possam possibilitar um

continuo desenvolvimento sem gerar maiores transtornos a natureza, porém

segundo Pisani (2008, p. 29) “atingir um desenvolvimento sustentável, apesar de ser

fundamental para o planeta no século XXI, é um objetivo difícil de ser alcançado,

pois o desenvolvimento sempre terá impactos no meio ambiente”.

Dentre tantas atividades desempenhadas pelo homem, Edwards (2008) ressalta que

a indústria da construção civil apresenta-se como um dos maiores consumidores dos

recursos naturais, expondo-se como uma das atividades antrópicas menos

sustentáveis do planeta.

Os profissionais envolvidos com o setor da construção civil estão direta e

indiretamente ligados às transformações sofridas pelo meio ambiente, visto que toda

obra seja ela de âmbito urbano ou arquitetônico necessita de produtos cuja matéria-

prima tem origem na natureza, gerando a exploração e extração de recursos, além

da emissão de poluentes e resíduos gerados nas indústrias de produção dos

matérias utilizados nesta atividade.

Amodeo (2008, p. 51) ressalta que “está na própria natureza da profissão do

arquiteto e do urbanista a transformação do meio ambiente em que vive”. Porém, a

visão de modificação do espaço desses profissionais necessita permanecer em

constante atualização, buscando adaptar-se a nova forma de pensar, projetar e

construir a partir de noções de sustentabilidade. Pisani (2008, s/p) defende que “a

Page 30: Mariana Ribeiro Veras.pdf

16

produção arquitetônica e urbanística tem a obrigação de ser menos impactante e

buscar soluções que minimizem ou até eliminem o esgotamento sistemático e

predatório de recursos naturais”.

Para que esta prática seja possível, é necessário entender todo contexto em que o

termo sustentabilidade está inserido, buscando auxílio em outras áreas que

possuam alguma relação com o termo em questão, como, por exemplo, a economia

e a ecologia. E então tentar aplicar todo conhecimento adquirido às construções

partindo de sua concepção e projeto em busca de um resultado conceituado e

embasado neste tema em questão.

Sustentabilidade em arquitetura é a atitude de todos os agentes envolvidos no sistema de produção arquitetônica, em especial do profissional arquiteto, focada na busca de soluções para conservação de recursos e com menores impactos ambientais decorrentes da intervenção em todas as fases de produção, [...] da extensão da vida útil ao descarte final da edificação (AMODEO, 2008, p. 54).

Um assunto que possui relevância é a questão da redução do consumo de materiais

utilizados nas atividades da construção civil, atitude que não significa

necessariamente desacelerar o ritmo de construção, porém é necessário que haja

investimento em novas técnicas que visem utilizar menor quantidade de material,

assim como também produtos que consumam menos matéria-prima em sua

fabricação.

Nesse contexto, a construção civil avança inicialmente no caminho da reutilização e

reciclagem de resíduos, aparentemente meio mais propício a novas pesquisas e

novas ideias na área.

Torna-se necessário entender que a noção de sustentabilidade é evolutiva, ou seja,

vai sendo moldada de acordo com as relações tecnológicas e científicas de cada

década, assim como a partir do surgimento de novas demandas e necessidades

humanas e ambientais. Silva e Romero (2011, s/p) acreditam que o desenvolvimento

sustentável está “em constante ajuste e adequação às necessidades humanas,

resultante de experimentos, vivências, pesquisas e interações dos fenômenos

socioculturais, econômicos, ambientais, tecnológicos”.

Page 31: Mariana Ribeiro Veras.pdf

17

A partir desta contextualização, talvez a expressão mais adequada para definir o que

este tópico propõe é uma “arquitetura sustentável”, passando por todas as

premissas que envolvam o desenvolvimento, a economia, a ecologia e outras áreas

que se relacionam com esta questão ambiental. Porém, tendo como foco expor a

realidade das políticas públicas habitacionais e sua relação com o termo

sustentabilidade e suas áreas de abrangência.

Page 32: Mariana Ribeiro Veras.pdf

18

2.1 A sustentabilidade na habitação de interesse social no Brasil

A construção civil no Brasil, atualmente, é responsável pelo consumo de 40% dos

recursos extraídos, além de gerar cerca de 60% dos resíduos sólidos urbanos. Ou

seja, ela é uma das responsáveis pela necessidade da sustentabilidade ser aplicada

nas edificações, visto que além desses fatores, a construção civil ainda é

responsável pelo uso em larga escala da madeira nativa, fator determinante para

extração, que muitas vezes culminam no desmatamento de grandes áreas (TAJIRI,

2011).

Dentro da construção civil, destacam-se as edificações habitacionais, que vêm

sendo construídas em larga escala principalmente em cidades que exibem um

cenário de crescimento econômico e físico. As habitações apresentam-se como um

dos maiores movimentadores da construção civil, merecendo destaque as

habitações de interesse social financiadas pelo poder público.

No campo da arquitetura e do urbanismo tornou-se fundamental a aplicação de

premissas básicas de sustentabilidade, como a escolha adequada de materiais e

análise de ventilação e iluminação naturais, desde a fase projetual. A ideia da

“habitação sustentável”, segundo Tajiri (2011, p. 30),

[...] pode ser considerada sustentável quando a adequação ambiental, a viabilidade econômica e a justiça social são incorporadas em todas as etapas do seu ciclo de vida, ou seja, desde a fase de concepção, construção, uso e manutenção; até, possivelmente, em um processo de demolição.

A edificação sustentável deve apresentar como pontos básicos cinco itens

indispensáveis: eficiência energética, uso racional de água, materiais de construção

sustentáveis, conforto ambiental e acessibilidade. (GREEN BUILDING, 2012)

O uso da iluminação natural, o aproveitamento de águas pluviais, o emprego de

placas solares e outras ideias, acarretam em uma economia financeira considerável

para os usuários destes sistemas. Entretanto, no Brasil ainda é possível observar

certa resistência quanto à instalação de vários sistemas sustentáveis, em sua

maioria devido ao alto valor inicial de investimento.

Page 33: Mariana Ribeiro Veras.pdf

19

A iniciativa pública habitacional brasileira volta-se para a agilidade e conclusão na

construção de conjuntos habitacionais, visando explorar politicamente estes feitos

convertendo-os em mídia e possivelmente votos eleitorais, deixando a desejar, em

diversos casos, na qualidade da construção e na eficiência no pós-ocupação destes

empreendimentos, podendo-se destacar a ausência de equipamentos sustentáveis

que auxiliariam na vivencia e redução de gastos.

Esta realidade brasileira, também é consequência de uma demanda por habitação

regida pelo déficit habitacional, que ocasionou a execução em larga escala de

“moradias” em tempo hábil, porém contendo projetos que não apresentam

preocupação com conforto ambiental ou qualidade da construção, como já

mencionado.

No caso brasileiro, rapidamente a habitação popular foi diagnosticada como um problema quantitativo e, pouco a pouco, o debate da qualidade habitacional foi esquecido. Vimos florescer nas cidades os extensos conjuntos habitacionais, com suas moradias minúsculas e tipologias repetidas à exaustão, muitas vezes entregues aos moradores inacabados e sem infraestrutura urbana condizente com a demanda instalada (SAMORA, 2009, p. 31).

Lisboa e Amado (2012, s/p) são bem enfáticos ao afirmar que “este foi o formato

historicamente escolhido pelas ‘autoridades’, que considerava no ‘habitar’ apenas a

atividade de moradia, e acabava criando ‘dormitórios’ e ‘não cidades’”.

Historicamente, a primeira iniciativa brasileira em desenvolver políticas habitacionais

deu-se em agosto de 1964, com a edição da lei nº 4.380/64 (CAIXA, 2011). Esta lei

[...] institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito Imobiliário, as Letras Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras providências (UNIÂO NACIONAL..., 2013, s/p).

Após a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH) em 1986, a problemática da

habitação durante alguns anos esteve sem recursos direcionados para esta questão,

contando apenas com iniciativas dos governos estaduais e locais dos municípios.

Porém, mesmo com tais iniciativas, sem poder contar com os recursos federais as

COHABs estaduais (Companhia de Habitação) – segundo Minas Gerais (20--, s/p)

Page 34: Mariana Ribeiro Veras.pdf

20

criadas para “combater o déficit habitacional e urbanizar vilas e favelas. [...]

responder ao desafio do êxodo rural e da migração populacional para os grandes

centros urbanos” - entraram em colapso, e muitas tiveram suas atividades

canceladas e extintas.

A partir de 2003, no governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, as políticas

públicas habitacionais de âmbito federal voltaram a apresentar sinais de

consolidação, desta vez, baseadas em princípios de planejamento, participação

populacional e integração de políticas urbanas. Nesta época, Cardoso, Aragão e

Araújo (2011, p. 01) relatam que “foi criado o Sistema Nacional de Habitação de

Interesse Social- SNHIS, que buscava criar fluxo de recursos para habitação e

estruturar os mecanismos de gestão para a implantação de uma política habitacional

sólida para o país”.

Em 2007, no segundo mandato do presidente Lula, o Fundo Nacional de Habitação

de Interesse Social (FNHIS) criado anteriormente neste mesmo governo libera verba

para investimentos habitacionais, ao passo que lança o Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC).

Pensado como um plano estratégico de resgate do planejamento e de retomada dos investimentos em setores estruturantes do país, o PAC contribuiu de maneira decisiva para o aumento da oferta de empregos e na geração de renda, e elevou o investimento público e privado em obras fundamentais (BRASIL, 2012?, s/p).

Em meio à crise financeira internacional, outro programa habitacional foi criado em

2009, trata-se do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), que marca as

parcerias público/privada no cenário da habitação. O PMCMV operado pela Caixa

Econômica Federal

[...] promove a construção de novas unidades habitacionais voltadas às camadas da população com menor renda, concedendo expressivos subsídios, principalmente para a faixa de 0 a 3 salários mínimos. Imóveis antes inacessíveis a esta faixa de renda familiar podem ser adquiridos com subsídios que representam até 88% do valor do imóvel (CAIXA, 2011, p. 10).

Page 35: Mariana Ribeiro Veras.pdf

21

Iniciativas do poder público, como a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e

Urbano (CDHU), Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV), foram criadas com foco na redução do déficit

habitacional através de investimentos feitos na construção de novas moradias. A

implantação destes programas beneficia o processo de estruturação urbana,

aumenta a dinâmica no setor imobiliário, proporciona a construção de novas

moradias, porém acaba promovendo a contigua “periferização” habitacional nos

grandes centros urbanos devido à localização destinada a este tipo de construção.

Diante do cenário habitacional atual no Brasil, é possível expor duas realidades que

se contrastam pelo projeto e execução. O primeiro trata-se do conjunto habitacional

Jacinta Andrade, localizado na cidade de Teresina no estado do Piauí, merecendo

destaque por ser o maior empreendimento do PAC no setor de moradia constatado

em 2012; o segundo empreendimento é o Conjunto habitacional Rubens Lara

localizado na cidade de Cubatão no estado de São Paulo e desenvolvido pela

Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Ambos são de

iniciativa pública, porém apresentam diferenças especialmente na maneira de

pensar o projeto e na eficiência do pós-ocupação.

O Conjunto habitacional Jacinta Andrade (Figura 4) segundo Pisani et al (2013)

analisado a partir da certificação Selo Casa Azul, não apresenta bons resultados

perante esta avaliação. Este residencial, mesmo merecendo destaque por ser o

maior empreendimento do PAC, foi desenvolvido fora das premissas de

sustentabilidade, desconsiderando até mesmo o potencial energético da região

devido a forte radiação solar durante a maior parte do ano. Este fato foi detectado

quando da avaliação da iluminação natural nos ambientes desenvolvida fazendo uso

do mesmo software aplicado neste trabalho: Relux Professional.

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22

Figura 4 - Conjunto habitacional Jacinta Andrade

Fonte: ADH, 2012.

Uma análise desenvolvida por um grupo de pesquisadoras sobre o Conjunto

habitacional Rubens Lara (Figura 5), a partir do manual Selo Casa Azul, mostra a

viabilidade da aplicação de técnicas sustentáveis em uma habitação de interesse

social. Nele pode-se observar o emprego de critérios presentes no guia Selo Casa

Azul, como: “pisos permeáveis, técnicas construtivas racionalizadas, mão de obra

local e materiais de construção empregando resíduos reciclados, aberturas com pé

direito maiores para favorecer o conforto” (PISANI ET AL, 2012, p. 8). Além disso, tal

conjunto merece ser ressaltado, pois foi considerado um exemplo de habitação

sustentável pelo Programa Iniciativa de Habitação Social Sustentável (SUSHI),

pertencente ao Programa ONU para o meio ambiente, podendo ser um modelo a

inspirar e influenciar outros projetos.

Page 37: Mariana Ribeiro Veras.pdf

23

Figura 5 - Conjunto habitacional Rubens Lara Fonte: SCHAHIN, (201?)

Segundo Pisani et al (2012, p. 8), “embora o conjunto Rubens Lara não tenha sido

certificado por nenhum “selo verde” e sua execução não considerou alguns

requisitos de projeto sustentável que poderia contemplar, ele é o referencial

arquitetônico e urbanístico” de maior relevância no Brasil diante dos estudos feitos

pelo grupo de pesquisadoras já mencionado.

Observando-se o cenário habitacional na cidade de São Paulo, em foco na

pesquisa, o projeto de urbanização da favela Paraisópolis merece ser destacado,

pois, além de premiado com o 2º lugar no Global Holcim Awards 2012, também

recebeu certificado categoria tipo ouro do Selo Casa Azul concedido pela Caixa

Econômica Federal. Tal projeto, desenvolvido pelo escritório do arquiteto Edson

Elito, recebeu a premiação por apresentar dois condomínios, “E” e “G” (figura 6),

formados por 171 unidades habitacionais que cumpriram 39 dentre os 53 critérios de

avaliação propostos pelo selo.

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24

Figura 6 - Condomínios "E" e "G" em Paraisópolis.

Fonte: SÃO PAULO, 2013.

O diferencial deste projeto, segundo Celi Mantovani, o superintendente regional da

CAIXA, foi a adequação às praticas sociais propostas, além de alterações como

instalação de lâmpadas econômicas e vasos sanitários adequados. O arquiteto

Edson Elito (figura 7), em entrevista ao portal da prefeitura de São Paulo ressaltou a

importância e viabilidade da execução de moradias que integram arquitetura de

qualidade e diferenciada a baixos custos com princípios de sustentabilidade.

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25

Figura 7 - Amilton Degani, gerente de contratos da Ductor, Maria Teresa Diniz, coordenadora do Programa Paraisópolis e Edson Elito, arquiteto mentor do projeto, recebendo certificado Selo Azul.

Fonte: Gonçalves, 2012.

Muitas são as opções sustentáveis que podem ser empregadas em uma construção,

porém poucas são realmente colocadas em prática, ou na maioria das vezes

simplesmente desconsideradas como constatado a partir do caso ocorrido na cidade

de Teresina. Através da análise e da adequação do projeto arquitetônico aos

condicionantes presentes em cada região, como o clima, a vegetação, os usos e as

ocupações, a sustentabilidade pode ser tratada como parte integrante do projeto.

Edwards (2008, p. 162) afirma que “a verdadeira sustentabilidade envolve todos os

elementos de uma edificação” e deve ser aplicada desde os primeiros croquis.

Segawa (2005, s/p) relata que talvez alguns arquitetos ainda não tenham se dado

conta da necessidade do desenvolvimento de projetos com preceitos sustentáveis;

frente a isso ele ressalta que

Page 40: Mariana Ribeiro Veras.pdf

26

[...] existem arquitetos que fazem arquitetura com sensibilidade, com sustentabilidade, preocupados com os problemas do século 21, em poupar energia [...]. No Brasil em geral faz-se arquitetura do desperdício [...]. Existem arquitetos engajados em movimentos ambientalistas, mas em cujos projetos não os incorpora com muito rigor.

Para Segawa (2005), as novas demandas voltadas para o âmbito da

sustentabilidade devem ser inseridas nas edificações ainda em fase do processo de

projeto, evitando assim mais desperdícios com futuras adequações.

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27

2.1.1 Urbanização de favelas na cidade de São Paulo

Para melhor compreender o programa de urbanização de favelas, é imprescindível

entender como estes aglomerados populacionais surgiram no cenário brasileiro.

Segundo Villaça (1998), em meados do século XIX com o processo de urbanização

vigente em algumas cidades brasileiras, famílias migraram das fazendas rurais em

direção a centros urbanos em formação. Assim como a elite rural, os trabalhadores

também se direcionaram para as cidades, marcados pela segregação urbana,

fixaram-se nas periferias dessas cidades, dando início assim as ocupações e

aglomerações irregulares.

Cardoso (2007, p. 220) destaca que “esses assentamentos tinham como principais

características a ocupação do solo sem parcelamento regular prévio, a precariedade

física das moradias, a ausência de infraestrutura e a irregularidade da propriedade

do solo”.

Silva e Romero (2011) relatam como a população brasileira e em especial os

aglomerados urbanos apresentaram um crescimento absoluto nos últimos 50 anos.

Se em 1945, a população urbana representava 25% da população total de 45 milhões, em 2000 a proporção de urbanização atingiu 82%, sob um total de 169 milhões. Na última década, enquanto a população total aumentou 20%, o número de habitantes nas cidades cresceu 40%, especialmente nas nove áreas metropolitanas habitadas por um terço da população brasileira (SILVA e ROMERO, 2011, s/p).

O crescente populacional no meio urbano que se deu em pouco tempo, contribuiu

para a ocorrência de um colapso habitacional nas grandes metrópoles do Brasil. Isto

propiciou a formação de aglomerados urbanos de maneira desordenada e

clandestina. Além disso, Denaldi (2003, p. 4) ainda afirma que

O Estado assistiu ao espantoso crescimento da ‘cidade oculta’ sem intervir com uma política habitacional que atendesse a população excluída. Fez-se presente no espaço da acumulação, mas se ausentou do espaço da miséria. O crescimento das favelas é, portanto, resultado também da ausência e conivência do Estado.

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28

Na cidade de São Paulo, o aumento da população entre os anos de 1920 e 1960 foi

vultoso, saltando de modestos 500 mil habitantes para 4 milhões (REIS FILHO,

1994). Entretanto, apesar do rápido crescimento populacional, diferentemente de

outras capitais brasileiras que no final do século XIX já apresentavam favelas

compondo a fotografia urbana, em São Paulo a formação de favelas deu-se

posteriormente.

Os primeiros assentamentos precários de São Paulo, que se tornaram componente

da paisagem urbana da cidade, surgiram na década de 40 devido à parte da

população não possuir recursos para obter moradia através do mercado formal,

optando por se instalar em locais cujo valor do terreno era baixo e não apresentava

interesse comercial. De acordo com Samora (2009, p. 56), a periferia da cidade de

São Paulo se consolidou “como local de moradias dos mais pobres”, embora a área

central do município também tenha abrigado pequena parte dessas ocupações.

Para o poder público, as favelas tornam-se alvo de atenção especialmente quando

situadas em áreas impróprias perante os interesses econômicos que giram em torno

dos terrenos, ou seja, quando há valorização imobiliária dos mesmos. Entre os anos

de 1947 e 1968, ocorreu um movimento de expulsão de populares dos cortiços da

região central - Sé, Liberdade, Bela Vista, Santa Efigênia, Brás e Consolação – de

São Paulo, direcionando esta camada da população para a periferia da cidade.

Processo este que contribuiu para a extensão territorial desta metrópole (VILLAÇA,

1998).

Bonduki (2000, p. 23) ressalta que “num quadro de escassez de oferta habitacional

para baixa renda, o crescimento das ocupações de terra e da “favelização” e

abertura generalizada de loteamentos irregulares ou clandestinos” emergiam. Surgia

“à margem da legislação [...] uma cidade real, habitada precária e em caráter

predatório por contingentes significativos da população”.

Sobre a segregação urbana, Ferreira (2005, p. 7) ressalva que

[...] as dinâmicas de urbanização da cidade explicitavam [...] processos de valorização fundiária e imobiliária que iriam constituir uma matriz de exclusão que perdura até hoje, sobrevivendo e fortalecendo-se em cada nova fase do nosso desenvolvimento. [...] o acesso à cidade urbanizada só foi possível, em suma, para aqueles

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29

que pudessem pagar por ela, ou que tivessem um razoável poder de influência dentro da máquina política.

Entre as décadas de 1940 e 1970, a casa autoconstruída em loteamentos situados

na periferia de São Paulo foi o destino de grande parte dos trabalhadores paulistas

da época (FRANÇA, 2012). O poder político fazia “vista grossa” ao surgimento cada

vez mais constante desses loteamentos, visto que dessa forma mantinha-se isento

da necessidade de oferecer infraestrutura para esta parcela da população

(SAMORA, 2009).

Em meados de 1960, o poder público através das COHAB’s passou a construir

habitações destinadas a pessoas de baixa renda, contribuindo para o aumento da

“periferia urbana” de São Paulo (SAMORA, 2009).

Nesse período, grande parte do território periférico de São Paulo já se encontrava

ocupado, porém em sua grande maioria sem contar com qualquer tipo de

infraestrutura. Ferreira (2005, p. 13-14) relata que

[...] o processo de concentração populacional [...] não foi acompanhado por uma ação do Estado que garantisse condições mínimas de infraestrutura urbana e de qualidade de vida, pois isso resultaria, em última instância, na elevação do custo de reprodução da classe trabalhadora, o que não interessava às classes dominantes.

Esse processo de “periferização” da cidade de São Paulo constatada entre os anos

de 1960 a 1980, segundo Denaldi (2003) agrava-se na década de 1990, quando

ocorreu um aumento considerável da população favelada em consequência ao

aumento do índice de desemprego gerado por instabilidade econômica no país.

Mesmo diante de frustradas tentativas políticas e legislativas em “barrar” a

proliferação das favelas, como a Lei Lehmann, de 1979, que discorria sobre o

parcelamento do solo gerando exigências burocráticas aos loteamentos irregulares,

estas foram se consolidando ao longo de todo século XX como principal destino da

população de baixa renda. Denaldi (2003, p. 5) constata que “as favelas, com ou

sem intervenção, consolidaram-se como espaço permanente de moradias e o tipo

de intervenção mais praticado passou a ser a urbanização, tendo como principal

protagonista o município”.

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30

A partir da década de 1980, a urbanização dos assentamentos precários passou a

ser discutida entre as pautas das políticas de habitação de São Paulo. No final desta

década, o Governo do Estado em aliança com a Prefeitura de São Paulo tomam

empréstimo do Banco Mundial, desenvolvendo assim um programa cuja ideia central

era o saneamento ambiental da bacia hidrográfica do Guarapiranga (SÂO PAULO,

2008).

Este tipo de iniciativa fez-se necessária diante da ocupação inapropriada e

desordenada do solo, constatada por construções, por exemplo, nas margens da

represa Billings, assim como em áreas de encostas propícias a ocorrência de

erosões e deslocamentos de terra.

A população excluída é levada a ocupar as áreas desprezadas pelo mercado imobiliário, onde a construção é vedada, como áreas lindeiras a rios e córregos [...]. A ocupação dessas áreas, além de colocar em risco a integridade física dos moradores, causa danos ambientais e compromete a qualidade de vida na cidade como um todo (DENALDI, 2003, p. 02).

Os programas de urbanização de favelas, segundo Samora (2009) surgiram com

“caráter emergencial”, e tinham a pretensão inicial de melhorias das condições

precárias nessas ocupações para, num futuro próximo fazer a remoção desses

assentamentos urbanos. Porem, logo “ficou patente para o poder público que tais

intervenções, num cenário de incremento do déficit habitacional em todo o país,

induziam à consolidação destes assentamentos, que se expandiram e se

adensaram” (SAMORA, 2009, p. 28).

Os programas políticos de urbanização de favela passaram a desempenhar

fundamental papel nesses assentamentos irregulares, proporcionando a estas

regiões bem mais do que infraestrutura básica.

Oferecer habitação para esses programas significa oferecer os complementos urbanos que possibilitam a vida das pessoas, ou seja, escolas, posto de saúde, transporte público, área verde, ou seja, tudo aquilo que forma uma cidade, com seus pontos de venda e de serviços locais seu espaço público bem constituído (BRUNA e PISANI, 2012, p. 02).

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31

Segundo dados coletados pela Secretaria de habitação e desenvolvimento urbano

da cidade de São Paulo, atualmente o município possui cerca de 1570 favelas em

seu território. Diante deste numero tão grande de ocupações irregulares, os

problemas sociais e habitacionais ganham proporções volumétricas, devido à

ausência de infraestrutura básica nessas ocupações e o déficit habitacional desta

cidade.

809.419 mil famílias vivem em situação inadequada em São Paulo. Porém a maioria depende apenas de obras de infraestrutura e do processo de regularização fundiária para se integrar à cidade formal. O déficit habitacional real para famílias que saem de áreas de risco que estão em urbanização, hoje, é de 130 mil unidades habitacionais (SÂO PAULO, 2010, s/p).

Em 2005, a Prefeitura de São Paulo lançou o Programa de Urbanização de Favelas,

visando melhoria e a instalação de infraestrutura básica nos assentamentos

precários que não apresentassem necessidade de remoção, além disso,

proporcionar novas habitações para as famílias desalojadas. O programa, ainda em

vigor, representa o maior suporte de regularização urbanística e fundiária do Brasil e

já promoveu melhorias em várias favelas da cidade, como: Paraisópolis, Heliópolis,

Jardim São Francisco, Cantinho do Céu, Jaguaré e outras.

O Programa de Urbanização de Favelas apresentava

[...] como foco a urbanização e a regularização fundiária de áreas degradadas, ocupadas desordenadamente e sem infraestrutura. O objetivo é transformar favelas e loteamentos irregulares em bairros, garantindo a seus moradores o acesso à cidade formal, com ruas asfaltadas, saneamento básico, iluminação e serviços públicos (SÂO PAULO, 20--, s/p).

A partir da ideia de urbanização, são desenvolvidos projetos para áreas específicas

que tem como base teórica “promover a qualificação urbana e habitacional de

núcleos de favelas ou assentamentos precários [...] com provisão de soluções

habitacionais na própria área de intervenção”; ou seja, além de melhorias urbanas, a

construção de conjuntos habitacionais também se apresenta como prioridade a fim

de minimizar o déficit habitacional e proporcionar moradias adequadas a essa

parcela da população.

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32

De acordo com o Plano Municipal de Habitação de São Paulo (2010), “a moradia

digna é entendida [...] como vetor de inclusão sócio territorial, que garante a

construção da cidadania a todos os moradores”.

Entre os anos de 2005 a 2012, dados informam que este programa da Secretaria

Municipal de Habitação (Sehab) de São Paulo beneficiou 40 mil famílias em todo

município, e objetivava atender aproximadamente mais 134 mil família. Este foi

contemplado em 2012 com o prêmio Scroll of Honour, da UM-Habitat.

Criado em 1989, o Scroll of Honor destina-se a reconhecer iniciativas exemplares na área de habitação em todo o mundo. Podem postular ao prêmio instituições governamentais, organizações da sociedade civil, empresas privadas, universidades, fundações públicas ou privadas, agências multilaterais, veículos de imprensa e até personalidades do setor (SÂO PAULO, 2012c, s/p).

Desde sua criação e implantação, o programa de urbanização de favelas passou por

modificações e foi sendo aperfeiçoado algumas vezes, acompanhando as mudanças

de estruturação do governo municipal e em determinadas situações sofrendo

interferências e atrasos devido a este processo de renovação do poder público.

Após eleições municipais em 2012 e subsequente mudança na gestão da cidade de

São Paulo, foi decretado pelo novo prefeito Fernando Haddad que as obras e

projetos em desenvolvimento do Programa de Urbanização de Favelas seriam

mantidas e concluídas, não havendo pronunciamento concreto sobre o fim

especulado deste programa.

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33

2.1.2 Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal

Com as questões ambientais em pauta, e constantes discussões sobre a

sustentabilidade no meio urbano e na edificação, algumas certificações foram

desenvolvidas em torno deste tema, visando oferecer material base para análise e

qualificação de empreendimentos que possuam projetos embasados na

sustentabilidade. Dentre os selos já criados, será abordado neste trabalho o Selo

Casa Azul, que

é o primeiro sistema de classificação da sustentabilidade de projetos ofertado no Brasil, desenvolvido para a realidade da construção habitacional brasileira. Este não é um aspecto menor, pois soluções adequadas à realidade local são as que otimizam o uso de recursos naturais e os benefícios sociais (SELO CASA AZUL, 2010, p. 6).

O Selo Casa Azul trata-se de um manual de boas práticas que visa incentivas novas

condutas no âmbito da construção habitacional no Brasil, estimulando o emprego

racional de recursos naturais, a partir de critérios que observam as dimensões da

sustentabilidade: ambiental, social e econômica.

O selo é uma ferramenta de categorização socioambiental de projetos de empreendimentos habitacionais, valorizando as propostas que seguem recursos mais eficientes aplicados durante o ciclo de vida: do projeto ao pós-uso, não só do edifício como também de todo o entorno (BRUNA E PISANI, 2012, p. 7).

Este selo pode ser aplicado às propostas de projetos habitacionais submetidas à

CAIXA para receber financiamento ou nos programas de repasse; podendo

candidatar-se ao Selo: as construtoras, empresas públicas habitacionais, o Poder

Público, associações, cooperativas e entidades que representam movimentos

sociais.

Segundo Selo Casa Azul (2010, p. 22) “para obter o Selo, o proponente deverá

manifestar o interesse de adesão ao Selo Casa Azul CAIXA e apresentar os

projetos, a documentação e informações técnicas completas referentes aos critérios

a serem atendidos pelo projeto”.

O manual em questão foi publicado em 2010 e teve a colaboração, para

desenvolvimento dos capítulos que o compõe, de um corpo de pesquisadores da

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Universidade de São Paulo (USP). Além disso, vale ressaltar que esta se trata da

primeira certificação totalmente brasileira voltada para as edificações de cunho

habitacional, levando em consideração a realidade climática, política, econômica e

social desse país.

Como já mencionado anteriormente, alguns conjuntos habitacionais, como o

Complexo Chapéu Mangueira no Rio de Janeiro e o Residencial Bonelli em Joinville,

já receberam essa certificação concedida pela Caixa Econômica Federal,

impulsionando o desenvolvimento de edificações que tenham como premissas de

projeto a conceituação e ideal de sustentabilidade aplicados. Esta iniciativa tem por

finalidade promover a adequação da construção harmonicamente ao meio físico que

a permeia, estimulando também a propagação de práticas sociais veementes ao

empreendimento.

Para facilitar a análise dos empreendimentos, o manual apresenta 53 critérios, que

compõem a lista de exigências, divididos em seis categorias que abordam diversos

aspectos.

Qualidade Urbana

Os princípios que regem esta categoria de análise referem-se, em especial, a trama

urbana, ao uso e ocupação do solo e aos impactos socioambientais. Nesta categoria

serão avaliados os seguintes aspectos:

1. Qualidade do entorno – infraestrutura (critério obrigatório)

Rede de abastecimento de água potável;

Pavimentação;

Energia elétrica;

Iluminação pública;

Esgotamento sanitário com tratamento no próprio empreendimento

ou em ETE da região;

Drenagem;

Uma linha de transporte público regular, com pelo menos uma

parada acessível por rota de pedestres de, no máximo, um

quilômetro de extensão;

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Dois pontos de comércio e serviços básicos acessíveis por rota de

pedestres de, no máximo, um quilômetro de extensão;

Uma escola pública de ensino fundamental;

Um equipamento de saúde (posto de saúde ou hospital) a, no

máximo, 2,5 quilómetros de distância;

Um equipamento de lazer acessível por rota de pedestres de, no

máximo, 2,5 quilômetros de extensão.

2. Qualidade do entorno – impactos (critério obrigatório)

Inexistência no entorno, considerando-se raio de 2,5 quilômetros:

Fontes de ruídos excessivos e constantes, como rodovias,

aeroportos, alguns tipos de indústrias etc;

Odores e poluição excessivos e constantes, advindos de estações

de tratamento de esgoto (ETE), lixões e alguns tipos de indústrias,

dentre outros;

3. Melhorias no entorno

Incentivar ações para melhorias estéticas, funcionais, paisagísticas e

de acessibilidade no entorno do empreendimento.

4. Recuperação de áreas degradadas

Incentivar a recuperação de áreas social e/ou ambientalmente

degradadas.

5. Reabilitação de imóveis

Incentivar a reabilitação de edificações e a ocupação de vazios

urbanos.

Projeto e Conforto

Nesta categoria serão avaliados aspectos que envolvem o planejamento e a

concepção do projeto da obra, considerando-se em especial as características

climáticas, como a iluminação e ventilação naturais, e físicas do local.

[...] o processo de concepção em arquitetura depende fundamentalmente da opção por parâmetros que nortearão o projeto. Um desses parâmetros pode ser a luz natural. Para alguns arquitetos ela é apenas um elemento circunstancial e condicionante luminotécnico do conforto ambiental. Para outros é material construtivo similar ao concreto e ao tijolo. Todos, de uma forma ou de outra, a consideram no processo de projeto; mas nem todos

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36

conseguem priorizá-la como condicionante geradora de elementos formais e espaciais [...] (BARNABÉ, 2007, s/p).

Esta categoria também tem como foco avaliar a questão do conforto ambiental –

prática que segundo Dejean (2012) emergiu na esfera das residências por volta de

1670, em Paris – que é de vital importância para o ideal de vivencia do espaço

habitado.

Os critérios a serem avaliados são:

1. Paisagismo (critério obrigatório)

Existência de arborização, cobertura vegetal e/ou demais elementos

paisagísticos que propiciem adequada interferência às partes da

edificação onde se deseja melhorar o desempenho térmico.

2. Flexibilidade de projeto

Existência de projeto de arquitetura com alternativa de modificação

e/ou ampliação.

3. Relação com a vizinhança

Existência de medidas que propiciem à vizinhança condições

adequadas de insolação, luminosidade, ventilação e vistas

panorâmicas.

4. Solução alternativa de transporte

Existência de bicicletários, ciclovias ou de transporte coletivo privativo

do condomínio.

5. Local para coleta seletiva (critério obrigatório)

Existência de local adequado em projeto para coleta, seleção e

armazenamento de material reciclável.

6. Equipamentos de lazer, sociais e desportivos (critério obrigatório)

Existência de equipamentos ou espaços como bosques, ciclovias,

quadra esportiva, dentre outros.

7. Desempenho térmico – vedações (critério obrigatório)

Proporcionar ao usuário melhores condições de conforto térmico,

conforme as diretrizes gerais para projeto correspondentes à zona

bioclimática do local do empreendimento, controlando-se a ventilação e

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37

a radiação solar que ingressa pelas aberturas ou que é absorvida pelas

vedações externas da edificação.

8. Desempenho térmico – orientação ao sol e ventos (critério obrigatório)

Atendimento às condições arquitetônicas gerais, quanto à estratégia de

projeto, de acordo com a zona bioclimática onde se localiza o

empreendimento.

9. Iluminação natural de áreas comuns

Existência de abertura voltada para o exterior da edificação com área

mínima de 12,5% da área de piso do ambiente.

10. Ventilação e Iluminação natural de banheiros

Existência de janela voltada para o exterior da edificação com área

mínima de 12,5% da área do ambiente (área correspondente à

iluminação e ventilação).

11. Adequação às condições físicas do terreno

Verificar o grau de movimentação de terra para a implantação do

empreendimento. Será considerada a implantação que souber tirar

proveito das declividades e elementos naturais do terreno, como

rochas, corpos hídricos, vegetação com a minimização de cortes,

aterros e contenções.

Eficiência Energética

Segundo Lamberts e Triana (2007), a eficiência energética pode ser considerada um

dos principais critérios para o desenvolvimento de um projeto que tenha como foco a

sustentabilidade.

Na busca por ações que reduzam o consumo de energia nos empreendimentos,

esta categoria aborda medidas que auxiliam na conservação e otimização do uso

desta energia, através dos seguintes aspectos:

1. Lâmpadas de baixo consumo – áreas privativas (critério obrigatório)

Existência de lâmpadas de baixo consumo e potência adequada em

todos os ambientes da unidade habitacional.

2. Dispositivos economizadores – áreas comuns (critério obrigatório)

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Existência de sensores de presença, minuterias ou lâmpadas eficientes

em áreas comuns dos condomínios.

3. Sistemas de aquecimento solar

Existência de sistema de aquecimento solar de água com coletores

selo Ence/Procel Nível A ou B.

4. Sistemas de aquecimento a gás

Existência de aquecedores de água de passagem a gás com selo

Ence/Conpet ou classificados na categoria Nível A no PBE do

Conpet/Inmetro.

5. Medição individualizada – Gás (critério obrigatório)

Existência de medidores individuais, certificados pelo Inmetro.

6. Elevadores eficientes

Existência de sistema com controle inteligente de tráfego para

elevadores com uma mesma finalidade e em um mesmo hall, ou outro

sistema de melhor eficiência.

7. Eletrodomésticos eficientes

Existência de eletrodomésticos (geladeira, aparelho de ar condicionado

etc.) com selo Procel.

8. Fontes alternativas de energia

Existência de sistema de geração e conservação de energia através de

fontes alternativas com eficiência comprovada pelo proponente/

fabricante, tais como painéis fotovoltaicos e gerador eólico, dentre

outros, com previsão de suprir 25% da energia consumida no local.

Conservação de Recursos Materiais

O fluxo de materiais – matéria-prima e resíduos – está presente em todo ciclo de

vida de uma edificação. No entanto, é necessário precaver-se a cerca de que tipo

material esta sendo utilizado na construção do empreendimento.

Não existe material ou prática construtiva ambientalmente perfeitos, porém o

impacto gerado pelos resíduos tornam-se um problema ambiental de relevância.

Práticas de construção sustentável devem ter como objetivo desmaterializar – reduzir o consumo de materiais por metro quadrado

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39

útil de construção seja melhorando projetos, selecionando métodos construtivos que garantam o desempenho adequado com a utilização de menor quantidade de materiais, seja reduzindo perdas e evitando a necessidade de reposição de produtos de baixa qualidade (JOHN, 2010, p. 132).

Nesta categoria serão avaliados os seguintes aspectos:

1. Coordenação modular

Adoção de dimensões padronizadas como múltiplos e submúltiplos do

módulo básico internacional (1M = 10cm) e de tolerâncias dimensionais

compatíveis.

2. Qualidade de materiais e componentes (critério obrigatório)

Comprovação da não utilização de produtos feitos por empresas

classificadas como “não qualificadas” ou “não conformes” nas listas

divulgadas pelo Ministério das Cidades, Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade no Hábitat (PBQP-H).

3. Componentes industrializados ou pré-fabricados

Adoção de sistema construtivo de componentes industrializados

montados em canteiro, projetados de acordo com as normas ou com

aprovação técnica no âmbito do Sinat, demonstrando conformidade

com a norma de desempenho NBR 15575 (ABNT, 2008).

4. Fôrmas e escoras reutilizáveis (critério obrigatório)

Reduzir o emprego de madeira em aplicações de baixa durabilidade,

que constituem desperdício, e incentivar o uso de materiais

reutilizáveis.

5. Gestão de resíduos de construção e demolição (critério obrigatório)

Existência de um “Projeto de Gerenciamento de Resíduos da

Construção Civil – PGRCC” para a obra.

6. Concreto com dosagem otimizada

Memorial descritivo especificando a utilização de concreto produzido

com controle de umidade e dosagem em massa, de acordo com a (ou

produzido em central), com Ic < 11 kg.m-3.MPa-1.

7. Cimento de alto-forno (CPIII) e Pozolânico (CP IV)

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Especificação do uso de cimentos CP III ou CP IV para a produção de

concreto estrutural e não estrutural.

8. Pavimentação com RCD

Projeto de pavimento especificando o uso de agregados produzidos

pela reciclagem de resíduos de construção e demolição.

9. Facilidade de manutenção da fachada

Especificação de sistema de revestimento de fachada com vida útil

esperada superior a 15 anos, como placas cerâmicas, rochas naturais,

revestimentos de argamassa, orgânica ou inorgânica, pigmentada,

pinturas inorgânicas (à base de cimento) ou texturas acrílicas de

espessura média > 1mm.

10. Madeira plantada ou certificada

Compromisso de uso de madeira plantada de espécies exóticas ou

madeira certificada.

Gestão da Água

A gestão da água é fundamental para tornar o uso deste insumo mais sustentável, e

esta gestão em edificações deve contemplar em especial o racionamento da água

potável e a gestão de águas pluviais.

Relacionados a este tema de gestão de água serão avaliados os seguintes

aspectos:

1. Medição individualizada – Água (critério obrigatório)

Existência de sistema de medição individualizada.

2. Dispositivos economizadores – Sistema de descarga obrigatório

Existência, em todos os banheiros e lavabos, de bacia sanitária dotada

de sistema de descarga com volume nominal de seis litros e com duplo

acionamento.

3. Dispositivos economizadores – Arejadores

Existência de torneiras com arejadores nos lavatórios e nas pias de

cozinha das unidades habitacionais e áreas comuns de

empreendimento.

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41

4. Dispositivos economizadores – Registro regulador de vazão

Existência de registro regulador de vazão em pontos de utilização do

empreendimento, tais como chuveiro, torneiras de lavatório e de pia.

5. Aproveitamento de águas pluviais

Existência de sistemas de aproveitamento de águas pluviais

independente do sistema de abastecimento de água potável para

coleta, armazenamento, tratamento e distribuição de água não potável

com plano de gestão.

6. Retenção de águas pluviais

Existência de reservatório de retenção de águas pluviais, com

escoamento para o sistema de drenagem urbana nos

empreendimentos com área de terreno impermeabilizada superior a

500m².

7. Infiltração de águas pluviais

Existência de reservatório de retenção de águas pluviais com sistema

para infiltração natural da água em empreendimento com área de

terreno impermeabilizada superior a 500m².

8. Áreas permeáveis (critério obrigatório)

Existência de áreas permeáveis em, pelo menos, 10% acima do

exigido pela legislação local.

Práticas Sociais

A categoria em questão busca a sustentabilidade no empreendimento através de

meios que envolvem as pessoas ligadas à concepção e produção da obra, como as

construtoras, os trabalhadores, os moradores e vizinhos do empreendimento.

Os critérios discernidos para as “práticas sociais” relacionam-se com a

responsabilidade socioambiental direcionada a todos os envolvidos ao

empreendimento.

Os critérios de avaliação propostos para esta categoria encontram-se especificados

abaixo.

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1. Educação para gestão de RCD (critério obrigatório)

Existência de plano educativo sobre a gestão de resíduos de

construção e demolição (RCD). Realizar atividades educativas e de

mobilização para os trabalhadores envolvidos no empreendimento.

2. Educação ambiental dos empregados (critério obrigatório)

Existência de plano de atividades educativas com informações e

orientações, para os trabalhadores, sobre a utilização de itens de

sustentabilidade do empreendimento, sobre aspectos ambientais.

3. Desenvolvimento pessoal dos empregados

Proporcionar atividades educativas aos trabalhadores, visando à

melhoria das suas condições de vida.

4. Capacitação profissional dos empregados

Prover os trabalhadores de capacitação profissional, visando à

melhoria de seu desempenho e das suas condições socioeconômicas.

5. Inclusão de trabalhadores locais

Promover a ampliação da capacidade econômica dos moradores da

área de intervenção e seu entorno ou de futuros moradores do

empreendimento por meio da contratação dessa população.

6. Participação da comunidade na elaboração do projeto

Promover a participação e o envolvimento da população alvo na

implementação do empreendimento e na consolidação deste como

sustentável, desde a sua concepção como forma de estimular a

permanência dos moradores no imóvel e a valorização da benfeitoria.

7. Orientação aos moradores (critério obrigatório)

Prestar informações e orientar os moradores quanto ao uso e à

manutenção adequada do imóvel, havendo ao menos uma atividade

informativa sobre os aspectos de sustentabilidade previstos no

empreendimento.

8. Educação ambiental dos moradores

Prestar informações e orientar os moradores sobre as questões

ambientais e os demais eixos que compõem a sustentabilidade.

9. Capacitação para gestão do empreendimento

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Fomentar a organização dos moradores e capacitá-los para a gestão

do empreendimento.

10. Ações de mitigação de riscos sociais

Propiciar a inclusão social de população em situação de

vulnerabilidade social, além de desenvolver ações socioeducativas

para os demais moradores da área e do entorno, com vista a reduzir o

impacto do empreendimento em duas adjacências, e favorecer a

resolução de possíveis conflitos gerados pela construção e inserção de

novos habitantes na comunidade já instalada.

11. Ações para a geração de emprego e renda

Promover o desenvolvimento socioeconômico dos moradores.

A CAIXA pode conceder o Selo em três níveis de premiação, a partir da adesão dos

critérios obrigatórios e critérios de livre escolha mencionados anteriormente.

Selo Bronze: para obtenção é necessário que o empreendimento atenda aos 19

critérios obrigatórios de análise.

Selo Prata: a adesão a este selo se faz a partir da adoção dos 19 critérios

obrigatórios somando mais 6 critérios de livre escolha, resultando em um total de 25

critérios atendidos.

Selo Ouro: trata-se da maior patente a ser aderida por um empreendimento, sendo

necessário adotar os 19 critérios obrigatórios além de aderir a mais 12 critérios de

livre escolha, somando um total de 31 critérios.

Se após a concessão do Selo por adesão aos critérios mencionados o

empreendimento deixar de atender qualquer item constatado, o proprietário recebe

uma notificação e a partir desta terá prazo determinado para voltar a ficar de acordo

com o selo recebido. Se, mesmo diante da notificação e do prazo estabelecido o

empreendimento não apresentar o solicitado, além de perder o selo, ainda será

necessário o pagamento de multa à CAIXA referente a 10% do valor investido no

imóvel.

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O primeiro empreendimento a receber o Selo foi o Residencial Bonelli, localizado em

Joinville/SC. Este foi premiado com o nível ouro ao atender a 32 critérios do Selo.

Além deste empreendimento, outros já receberam este selo:

Condomínios E e G do Complexo Paraisópolis, em São Paulo/SP, obra do

PAC de urbanização de favelas recebeu selo Ouro.

Edifício Ville Barcelona, em Betim/MG, obra do programa Minha Casa Minha

Vida, foi contemplado com o nível Prata.

Complexo Chapéu Mangueira e Babilônia, no Rio de Janeiro, recebeu selo

Ouro.

Segundo Bruna e Pisani (2012, p. 7),

Entre os pontos positivos desse Selo destaca-se a questão dele ser adaptado à realidade brasileira e de ter sido desenvolvido por grupos multidisciplinares, de pesquisadores e especialistas, das áreas acadêmicas e profissionais. Entre as críticas mais aguçadas está o fato dele ainda ser um pouco genérico quanto às formas de avaliar cada quesito.

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45

3 ESTUDOS DE CASO NA CIDADE DE SÃO PAULO

A partir do roteiro do manual Selo Casa Azul, as análises das obras foram realizadas

abordando cada tema de abrangência separadamente. Além disso, realizou-se uma

contextualização espacial e histórica do local em que cada conjunto habitacional

está localizado.

O primeiro conjunto exposto a seguir, trata-se de um projeto recente, com obras

concluídas no primeiro semestre de 2013, e que ainda não apresenta publicação a

cerca deste tema. O empreendimento em questão, projetado pelo escritório do

arquiteto José Luiz Tabith Junior, destaca-se no cenário habitacional paulista por

apresentar estética arquitetônica contrastante com a paisagem presente em seu

entorno, além de gerar questionamentos perante seu projeto e execução.

O segundo e último conjunto habitacional analisado apresenta uma maior

visibilidade perante a mídia e estudos acadêmicos. Este, projetado por Hector

Vigliecca, apresenta algumas publicações em revistas nacionais e internacionais;

porém, neste trabalho, buscou-se focar em uma análise a partir de parâmetros ainda

não discutidos, tendo o Selo Casa Azul guia.

Ao final da analise de cada conjunto, foram expostas as conclusões parciais obtidas,

levando em consideração as realidades projetuais e suas adequações ao ambiente

em que se insere.

3.1 Conjunto habitacional Mata Virgem

Projetado pelo escritório do arquiteto José Luiz Tabith Junior, o conjunto habitacional

Mata Virgem fica localizado na subprefeitura de Cidade Ademar, cruzamento da

Estrada da Água Santa com a Avenida Afonso Monteiro da Cruz, que delimita a

divisa entre as cidades de São Paulo e Diadema, como mostra a Figura 8.

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Este residencial foi desenvolvido a partir de uma parceria entre a Prefeitura de São

Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) e o Estado, por meio

da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo

(CDHU). O projeto faz parte da segunda etapa do Programa de Mananciais da

prefeitura de São Paulo que tem como finalidade “recuperar e conservar a qualidade

das águas dos reservatórios Guarapiranga e Billings, melhorar as condições de vida

dos moradores, e garantir a inclusão social da população e a sustentabilidade das

intervenções urbanísticas realizadas por este programa” (SÃO PAULO, 2012a).

Figura 8 - Localização do conjunto habitacional Mata Virgem.

Fonte: GOOGLE MAPS, 2011.

Este conjunto habitacional tem capacidade para abrigar 9% das 4.500 famílias

previstas para serem assistidas por esta etapa do programa, retiradas de ocupações

irregulares na região do Cantinho do Céu e que se encontrava em risco iminente de

ocorrência de acidente devido a deslizamentos de terra ou assoreamento na

represa.

Page 61: Mariana Ribeiro Veras.pdf

47

O projeto foi encomendado ao arquiteto em 2008, porém só teve suas obras

iniciadas em 2010, realizadas através de um consorcio entre as construtoras

Schahin Engenharia e a Carioca Christiani Nielsen Engenharia. A prefeitura chegou

a divulgar que a construção do empreendimento seria finalizada ainda em 2010,

porém isto não se concretizou vindo a ser concluída e entregue aos futuros

moradores em outubro de 2012.

Subprefeitura Cidade Ademar

A região onde se localiza o conjunto habitacional Mata Virgem começou a ser

povoado na década de 1960, surgindo inicialmente como “bairro dormitório”. Esta

definição de “dormitório” se deu quando muitos migrantes deslocaram-se para São

Paulo em busca de uma vida melhor e oportunidade de trabalho devido à explosão

industrial ocorrida nesta década, com isso, a região hoje denominada Cidade

Ademar foi loteada e vendida a esta parcela da população que por ali de fixou.

Esta região em 1996 fazia parte da subprefeitura de Santo Amaro, compondo a

periferia desta região. Somente em 1997, por decreto do antigo prefeito Paulo Maluf,

foi criada a subprefeitura de Cidade Ademar.

Atualmente, a região que segundo São Paulo (2013) possui aproximadamente 411

mil habitantes é caracterizada por ocupações e favelas, e ainda sofre com a

carência de investimentos destinados a saúde, educação, transporte e infraestrutura.

3.1.1 O Projeto

O ponto de partida para o desenvolvimento do projeto foi a preocupação em

preservar o meio ambiente, buscando promover o mínimo de intervenção no espaço

físico pré-existente. O arquiteto José Tabith Junior desenvolveu toda estrutura do

conjunto habitacional levando em consideração o relevo presente e a vegetação já

existente no terreno destinado.

O projeto concluído apresenta-se formado por 6 blocos, como pode ser visto na

figura 8. Essas torres formam 3 condomínios independentes no mesmo terreno, e

oferecem um total de 407 apartamentos. As torres possuem no máximo 4

Page 62: Mariana Ribeiro Veras.pdf

48

pavimentos acima do nível da rua, para que assim não houvesse a necessidade de

instalação de elevadores.

Figura 9 - Implantação das edificações que compõe o residencial Mata Virgem Fonte: Acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012)

Os blocos de apartamento são divididos em módulos que podem ser retirados ou

acrescentados de acordo com a disposição no terreno, permitindo assim uma maior

facilidade de execução da obra. Os únicos módulos que apresentam diferença são

os que ficam situados nas extremidades das edificações e os pavimentos térreos

que possuem apartamentos adaptados destinados a pessoas com necessidades

especiais e alguns ambientes de uso comum (figuras 9 e 10).

Page 63: Mariana Ribeiro Veras.pdf

49

Figura 10 - Blocos modulados e diferenciados

Fonte: Acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012)

Em cada edificação, foi projetado no piso térreo um apartamento destinado a

pessoas com necessidades especiais, seguindo a porcentagem exigida pela

legislação. Além disso, neste mesmo pavimento, cada bloco também apresenta

algumas áreas de uso comum e voltadas para o lazer como, sala de jogos, salão de

festa e lazer infantil.

Os apartamentos possuem uma única tipologia (figuras 10 e 11), que segundo o

arquiteto fora planejada para ser uma planta flexível que possibilitaria a existência de

2 ou 3 dormitórios. Porém por determinação da Prefeitura fixou-se que todos os

apartamentos seriam compostos por 3 dormitórios, 1 banheiro, sala, cozinha e área

de serviço, distribuídos em uma área de 42,95 m². A estrutura é feita com blocos de

concreto sem a utilização de pilares, ou seja, em alvenaria estrutural3.

3 Informações obtidas em entrevista realizada com o arquiteto José Tabith Junior no dia 12 de

novembro de 2012 em seu escritório localizado no bairro Higienópolis, na cidade de São Paulo.

Page 64: Mariana Ribeiro Veras.pdf

50

Figura 11 - Parte da planta baixa de um pavimento térreo Fonte: Acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012)

Figura 12 - Elevação referenciando o nível da rua e a quantidade de pavimentos nas torres

Fonte: Acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012)

O arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012) revelou algumas influencias que teve ao

desenvolver este projeto, relatando que buscou destacar a cobertura na edificação

projetando-a como se estivesse solta da construção, e que optou por uma postura

arquitetônica influenciada pelo estilo moderno europeu.

Para compor com a arquitetura projetada e buscar uma identidade dos moradores

com o local em que viveriam, o arquiteto também desenvolveu painéis artísticos que

foram pintados em cada bloco de apartamento, optando por identificar cada

condomínio com uma cor predominante nestes painéis. (figura 13).

Page 65: Mariana Ribeiro Veras.pdf

51

Figura 13 - Painéis artísticos que caracterizam cada edificação

Fonte: acervo da autora. 04 abril 2013

3.1.2 Análise a partir do Selo Casa Azul

A análise desenvolvida teve como roteiro base o manual de boas práticas Selo Casa

Azul da Caixa Econômica Federal (2010), propiciando uma avaliação da obra em 6

aspectos que abrangem 53 critérios de análise. A partir roteiro abordado no manual

Selo Casa Azul, a avaliação da obra foi realizada separando cada tema de

abrangência.

3.1.2.1 Qualidade urbana

Neste quesito, verificou-se que o entorno imediato do conjunto habitacional foi

favorecido, visto que, anteriormente à obra, não possuía uma boa qualidade urbana,

quase nenhuma infraestrutura e vias em péssimo estado de conservação (figura 14).

Page 66: Mariana Ribeiro Veras.pdf

52

Figura 14 - Estado de degradação das ruas do entorno imediato antes da obra concluída

Fonte: GOOGLE MAPS, 2012.

O terreno onde foram construídos os condomínios que compõe o conjunto

habitacional, em 2004 era composto pela vegetação que ainda hoje se faz presente,

4 edificações de apartamento em estado de degradação e 2 torres de

armazenamento de água (figura 15), além disso o terreno por certo tempo foi

utilizado pela vizinhança como depósito de lixo a céu aberto. Para a construção

deste empreendimento, as 4 torres antigas foram demolidas, e o terreno foi limpo e

preparado para hoje abrigar as 6 torres novas.

Figura 15 - Imagem via satélite do terreno em 2004. Fonte: GOOGLE MAPS, 2004.

O entorno imediato ainda não apresenta toda infraestrutura básica necessária,

porém de acordo com informações cedidas pela prefeitura de São Paulo, existe a

proposta para ampliação das linhas de transporte público, abertura de escola

próximo e a construção de um parque linear para favorecer os habitantes da região

e auxiliar na preservação do local.

Page 67: Mariana Ribeiro Veras.pdf

53

Dentre aos critérios que abrangem este aspecto de análise, o fator primordial é a

recuperação das áreas degradas e preservação ambiental no local de origem dos

moradores já relatado anteriormente, e do próprio terreno que havia se tornado

depósito de lixo da vizinhança.

Tabela 2 - Categoria 1: QUALIDADE URBANA

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

1.1 Qualidade do Entorno - Infraestrutura

Sim X

1.2 Qualidade do Entorno - Impactos

Sim X

1.3 Melhorias no Entorno

X

1.4 Recuperação de Áreas Degradadas

X

1.5 Reabilitação de Imóveis

X

3.1.2.2 Projeto e Conforto

O projeto apresenta boa solução de distribuição dos espaços, contando com

algumas áreas comuns geralmente voltadas para o lazer como quadra e salas de

jogos. Devido a tais áreas comuns há uma relação entre a vizinhança interna do

conjunto, porém este se encontra cercado e acaba por se isolar da vizinhança fora

dos muros, não havendo grande interação.

Como relatado no início desta análise, o projeto proposto pelo arquiteto tinha

possibilidade de flexibilidade na planta, porém foi estipulado pela Prefeitura que

Page 68: Mariana Ribeiro Veras.pdf

54

todos os apartamentos apresentassem ambientes fixos, sem prever modificação da

planta. O arquiteto também se preocupou com o desempenho térmico das

vedações, optando assim por uma cobertura, que apesar de ter sido feita em telha

metálica, apresenta bom desempenho proporcionando conforto térmico devido à

passagem de ar entre a laje e a cobertura (figuras 16 e 17).

Figura 16 - Detalhe da cobertura que é solta da edificação

Fonte: Acervo do arquiteto José Tabith Junior (2012)

Figura 17 - Destaque para espaço entre a cobertura e a edificação que permite passagem de ar a fim

de amenizar a temperatura através da promoção de trocas térmicas. Fonte: acervo da autora. 04 abril 2013

Page 69: Mariana Ribeiro Veras.pdf

55

Ao analisar o empreendimento a partir da implantação das edificações e de

constatação após visita ao local, foi possível verificar que algumas torres

apresentam distância entre si de 7 metros (figura 18), distância esta permitida pela

legislação, mas que interfere no microclima e conforto ambiental nos apartamentos

presentes nestas torres. A altura das edificações e esta proximidade entre as

mesmas acabam por dificultar a iluminação natural, a ventilação natural e chegada

de massa térmica necessárias para promover além do conforto, a higienização do ar

no interior dos apartamentos, tornando os ambientes propícios ao aparecimento de

patologias.

Figura 18 - Distancia pequena entre duas edificações

Fonte: acervo da autora. 04 abril 2013

Um item essencial é a utilização da iluminação natural, que nesta construção foi bem

aproveitada nas áreas comuns do conjunto (figura 19), porém espaços como alguns

banheiros de apartamentos não usufruem deste recurso natural devido à solução de

projeto optada pelo arquiteto, dispondo as áreas molhadas no centro da planta. (ver

figura 20).

Page 70: Mariana Ribeiro Veras.pdf

56

Figura 19 - Iluminação natural em área comum – escada

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Page 71: Mariana Ribeiro Veras.pdf

57

Figura 20 - Banheiros no centro da planta impossibilitando a iluminação natural.

Fonte: acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012)

As edificações foram implantadas respeitando a topografia do terreno e compondo

com a mata já existente, foi desenvolvido um paisagismo que prevê diversos

canteiros de áreas verdes.

Nesta categoria de análise, um aspecto que merece destaque é a coleta de lixo

seletiva, visto que cada condomínio possui local próprio destinado ao lixo composto

por 3 ambientes intencionalmente construídos para promover a coleta seletiva

(figura 21), porém esta não é uma prática observada neste conjunto habitacional. A

falta de orientação por parte da prefeitura levou os moradores a armazenarem todo

tipo de lixo no mesmo ambiente.

Além disso, devido uma questão político-territorial não é realizada a coleta do lixo

por parte da prefeitura de São Paulo no segundo condomínio pertencente ao

conjunto habitacional; os ambientes para armazenamento do lixo deste condomínio

Page 72: Mariana Ribeiro Veras.pdf

58

encontram-se voltados para a Avenida Afonso Monteiro da Cruz que delimita o

território de São Paulo divisa com Diadema, dessa forma, nenhuma das prefeituras

se considera responsável por esta coleta de lixo, impondo assim a necessidade dos

moradores desta parte do residencial deslocar seus resíduos sólidos para o ponto de

coleta mais próximo.

Figura 21 - Depósitos de lixo de um dos condomínios do conjunto habitacional

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Para obter resultados precisos com relação à iluminação natural dos ambientes do

empreendimento, foi realizado um estudo através de maquete eletrônica no software

Relux Professional.

Para a avaliação a partir deste software, foi adotado o seguinte padrão de

configuração:

Plantas modeladas com as aberturas reais de janelas, empregando o vidro

com transmissão luminosa de 80%, fator “vidro limpo” e a planta posicionada

em relação ao norte;

Na gestão do cálculo da luz natural aplicou-se para o dia 21 de março

(equinócio), as 10h00, com céu encoberto de acordo com modelo

Commission Internationale de l'Éclairage (CIE) , a precisão aplicada foi de

Page 73: Mariana Ribeiro Veras.pdf

59

componente indireta elevada e malha empregada com dimensão de 30 x 30

centímetros;

Pavimento térreo (padrão)

Figura 22 - Distribuição da iluminância interna em pseudo cores no pavimento térreo.

A figura 22 representada em pseudo cores apresenta a distribuição da iluminação

natural que penetra através das aberturas reais presente na edificação. Nesta figura

é possível observar que boa parte dos ambientes neste pavimento apresentam

iluminação natural geral com valores de iluminância variando entre 100 e 200 lux. O

mesmo é possível ser observado no pavimento tipo (figura 23), que apresenta

grande extensão de espaços com a mesma faixa média de iluminância.

As áreas de circulação, como escadas e corredores, também apresentam

iluminação natural eficiente tanto no andar térreo quanto no pavimento tipo.

Page 74: Mariana Ribeiro Veras.pdf

60

Figura 23 - Distribuição da iluminância interna em pseudo cores no pavimento tipo.

Page 75: Mariana Ribeiro Veras.pdf

61

Figura 24 - Distribuição da iluminância ponto a ponto no apartamento do pavimento tipo.

A análise no apartamento selecionado (figura 24), mostra que a iluminação nos

cômodos atende as especificações da NBR 5413:1992, com exceção de alguns

espaços pontuais. Porém, quando analisado os detalhes do apartamento, este

apresenta deficiências de iluminação.

Dentre os quartos, apenas um atende as exigências da norma, os demais

apresentam iluminância abaixo do mínimo recomendado de 200 lux, por exemplo,

próximo à cama. Este mesmo problema se repete na cozinha, em que nas áreas de

trabalho representadas pela pia e pelo fogão constata-se índices abaixo do mínimo

necessário de 200lux.

O banheiro também não atende a norma de iluminação de interiores, apresentando

resultados insatisfatórios. Este cômodo apresenta resultados menos favoráveis

ainda nos apartamentos que se encontram no centro das plantas em análise (figuras

Page 76: Mariana Ribeiro Veras.pdf

62

22 e 23), pois estes ambientes não possuem janelas voltadas para o exterior da

edificação, necessitando da iluminação artificial para desenvolver qualquer tipo de

uso.

Assim como a iluminação é deficiente em alguns ambientes, a ventilação também se

mostra insuficiente na cozinha e no banheiro. Além disso, nos quartos a abertura

total da janela fornece um espaço com área apenas de 0,72m², não correspondendo

ao exigido pela norma que determina que a área da janela deve corresponder a pelo

menos 1/6 da área do cômodo.

A análise geral desta categoria pode ser observada na tabela abaixo.

Tabela 3 - Categoria 2: PROJETO E CONFORTO

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

2.1 Paisagismo

Sim X

2.2 Flexibilidade de Projeto

X

2.3 Relação com a Vizinhança

X

2.4 Solução Alternativa de Transporte

X

2.5 Local para Coleta Seletiva

Sim X

2.6 Equipamentos de Lazer, Sociais e

Desportivos Sim X

2.7 Desempenho Térmico - Vedações

Sim X

2.8 Desempenho Térmico - Orientação ao

Sol e Ventos Sim X

Page 77: Mariana Ribeiro Veras.pdf

63

2.9 Iluminação Natural de Áreas Comuns

X

2.10 Ventilação e Iluminação Natural de

Banheiros

X

2.11 Adequação às Condições Físicas do

Terreno

X

3.1.2.3 Eficiência Energética

Neste tema de análise o conjunto habitacional obedeceu 2 critérios de avaliação:

medição individualizada de gás, pois o abastecimento de gás nos apartamentos é

feito através de botijão individual (figura 25); e o uso de dispositivos economizadores

nas áreas comuns do empreendimento (figura 26), medida que auxilia no

racionamento da energia.

Figura 25 - Uso de botijão de gás configura medição individualizada.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Page 78: Mariana Ribeiro Veras.pdf

64

Figura 26 - Dispositivo sensor de presença para acendimento de lâmpada.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

O emprego de sistemas de aquecimento solar tornou-se usual em cidades como

São Paulo, cujas variações climáticas expressam baixas durante o ano; entretanto,

este tipo de técnica não foi aplicada neste empreendimento. Como pode ser

observado na figura 27, o chuveiro dos apartamentos apresenta aquecimento por

energia elétrica.

Figura 27 - Chuveiro com aquecimento elétrico. Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Page 79: Mariana Ribeiro Veras.pdf

65

Tabela 4 - Categoria 3: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

3.1 Lâmpadas de Baixo Consumo - Áreas

Privativas

obrigatório p/ HIS - até 3 s.m.

X

3.2 Dispositivos Economizadores -

Áreas Comuns

Sim X

3.3 Sistema de Aquecimento Solar

X

3.4 Sistemas de Aquecimento à Gás

X

3.5 Medição Individualizada – Gás

Sim X

3.6 Elevadores Eficientes

X

3.7 Eletrodomésticos Eficientes

X

3.8 Fontes Alternativas de Energia

X

3.1.2.4 Conservação de recursos materiais

O sistema construtivo adotado neste empreendimento foi a alvenaria estrutural com

blocos de concreto (figura 28). Junto à empresa fornecedora deste material,

solicitou-se que no processo de fabricação fosse aplicado pigmentação colorida nos

Page 80: Mariana Ribeiro Veras.pdf

66

blocos estruturais de concreto, fator que segundo Schahin Notícias (2013, s/p)

facilitou “a identificação visual das diversas resistências do material”.

Figura 28 - Edifícios com alvenaria estrutural em blocos de concreto.

Fonte: GOOGLE MAPS, 2011.

Para melhor compreensão da análise desta categoria, são apresentados a seguir

cada critério utilizado na avaliação do empreendimento:

Coordenação Modular

Como pode ser constatado na figura 29 e diante do já exposto, o projeto aderiu a

modulação através do uso da padronização da alvenaria estrutural e modular (ver

item 2.1.2). Além disso, o arquiteto fez uso da modulação por bloco de apartamento,

permitindo assim uma execução mais rápida da obra.

Page 81: Mariana Ribeiro Veras.pdf

67

Figura 29 - Planta baixa com cotas de dimensões não moduladas.

Fonte: acervo do arquiteto José Luiz Tabith Junior (2012)

Qualidade de Materiais e Componentes

As duas construtoras envolvidas na execução da obra apresentam certificação pela

norma ISO 9001 (gestão de qualidade). Além disso, nas especificações do projeto

os materiais envolvidos, como blocos de concreto, cimento, areia e outros, foram

escolhidos seguindo controle de qualidade.

Componentes Industrializados ou Pré-fabricados

Para execução da cobertura foram utilizados telhas e estruturas metálicas, que

teoricamente poderiam agilizar o processo de execução, porém de acordo com

Schahin Noticias (2013) a montagem da estrutura metálica necessitou de mão de

obra especializada, pois se tratava de um mecanismo quase artesanal que

despendeu maior tempo (figura 30).

Page 82: Mariana Ribeiro Veras.pdf

68

Figura 30 - Cobertura feita em estrutura e telha metálicas.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

A pavimentação no interior do condomínio foi realizada com blocos pré-fabricados

de concreto intertravados (figura 31). Este piso possui alta durabilidade e não

impermeabiliza totalmente o solo, permitindo assim a drenagem e evitando acúmulo

de água.

Figura 31 - Pavimentação em bloco pré-fabricado de concreto intertravado.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

O uso de blocos de concreto na execução da alvenaria estrutural também se

configura como elementos pré-fabricados, que proporciona um ritmo de construção

maior e reduz os resíduos gerados na obra (ver figura 32).

Page 83: Mariana Ribeiro Veras.pdf

69

Figura 32 - Alvenaria estrutural feita em bloco de concreto.

Fonte: GOOGLE MAPS, 2011

Formas e Escoras Reutilizáveis

Foram utilizadas formas em madeira e escoras em madeira e metálicas como pode ser visto nas figuras 33 e 34.

Figura 33 - Formas e Escoras em madeira.

Fonte: GOOGLE MAPS, 2011

Page 84: Mariana Ribeiro Veras.pdf

70

Figura 34 - Escoras metálicas Fonte: GOOGLE MAPS, 2011

Gestão de Resíduos de Construção e Demolição

Houve planejamento e proposta para gestão de resíduos da obra, porém não foram

localizados registros que confirmem o cumprimento desta proposta.

Facilidade de Manutenção da Fachada

O revestimento externo das edificações foi feito em “monocapa” que é a argamassa

aplicada na cor final, otimizando o tempo de execução. As esquadrias metálicas

receberam pintura na cor branca, promovendo maior durabilidade das mesmas.

Além disso, as paredes internas não estruturais foram feitas em gesso

acartadonado, e as áreas molhadas foram revestidas de cerâmica que facilita a

limpeza e manutenção dos ambientes internos (figura 35).

Page 85: Mariana Ribeiro Veras.pdf

71

Figura 35 - Revestimento cerâmico. Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Canteiro de Obras

As construtoras relatam que no canteiro de obras foi realizada a captação da água

da chuva para diversos usos, como, por exemplo, na limpeza do local e de

equipamentos.

Para reduzir o consumo energético e facilitar o transporte de materiais dentro do

canteiro de obras foram adotados equipamento destinado à movimentação de

cargas, as mini gruas.

De forma geral, o canteiro apresentou-se organizado, em especial com relação aos

resíduos sólidos das sobras da construção.

Tabela 5 - Categoria 4: CONSERVAÇÃO DE RECURSOS

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

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72

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

4.1 Coordenação Modular

X

4.2 Qualidade de Materiais e

Componentes

Sim X

4.3 Componentes Industrializados ou Pré-

fabricados

X

4.4 Formas e Escoras Reutilizáveis

Sim X

4.5 Gestão de Resíduos de Construção e Demolição (RCD)

Sim X

4.6 Concreto com Dosagem Otimizada

X

4.7 Cimento de Alto-Forno (CPIII) e

Pozolânico (CP IV)

X

4.8 Pavimentação com RCD

X

4.9 Facilidade de Manutenção da Fachada

X

4.10 Madeira Plantada ou Certificada

X

3.1.2.5 Gestão da água

No tema gestão de águas, dos 8 critérios de análise, apenas 4 foram atendidos pela

obra concluída. Um dos critérios adotados foi à medição individualizada do

Page 87: Mariana Ribeiro Veras.pdf

73

abastecimento de água (figura 36) que proporciona valores nas faturas mais justos,

equivalendo ao que se foi consumido.

Figura 36 - Medidores individualizados de água.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Em todos os banheiros do conjunto habitacional optou-se pela instalação de bacias

sanitárias com caixa acoplada para descarga, promovendo a redução do consumo

de água nestes equipamentos sanitários (figura 37).

Page 88: Mariana Ribeiro Veras.pdf

74

Figura 37 - Bacia sanitária com caixa de descarga acoplada.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Com relação a dispositivos arejadores de água, é possível encontrá-los nas torneiras

das cozinhas dos apartamentos (figura 38), porém nos banheiros esta não foi a

opção definida.

Figura 38 - Torneira com arejador articulado.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Page 89: Mariana Ribeiro Veras.pdf

75

Com relação a drenagem de águas pluviais, não há mecanismo ou estratégia que

promova a retenção da água para aproveitamento. A solução para evitar o acúmulo

de água foi o uso de piso de blocos de concreto intertravado (figura 39 e 40) que

permite a infiltração da água no solo. Algumas áreas permeáveis com cobertura

vegetal foram distribuídas em todo empreendimento efetuado duas funções:

drenagem e paisagismo.

Figura 39 - Piso intertravado e áreas permeáveis.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

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76

Figura 40 - Áreas que permitem infiltração da água: piso intertravado e áreas permeáveis. Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Tabela 6 - Categoria 5: GESTÃO DA ÁGUA

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

5.1 Medição Individualizada - Água

Sim X

5.2 Dispositivos Economizadores - Sistema de

Descarga obrigatório

X

5.3 Dispositivos Economizadores - Arejadores

X

5.4 Dispositivos Economizadores - Registro

Regulador de Vazão

X

5.5 Aproveitamento de Águas Pluviais

X

5.6 Retenção de Águas X

Page 91: Mariana Ribeiro Veras.pdf

77

Pluviais

5.7 Infiltração de Águas Pluviais

X

5.8 Áreas Permeáveis

Sim X

3.1.2.6 Práticas sociais

A gestão desses condomínios não se trata de tarefa simples, especialmente porque

seus moradores não tinham preparo específico. Dessa forma ofereceu-se curso de

preparação para os síndicos dos condomínios, a fim de facilitar a administração e a

divisão de tarefas entre os responsáveis. Além disso, foram distribuídos manuais de

orientação para o bom uso do novo conjunto habitacional (figura 41).

Figura 41 - Moradores recebendo manual de bom uso do condomínio.

Fonte: João Luiz / Secom, 2012.

As construtoras responsáveis pela obra, Schahin e Carioca, procuraram fazer a

inclusão de trabalhadores locais na obra, além de capacitar profissionalmente os

empregados e fornecer informações sobre gestão de RCD.

Page 92: Mariana Ribeiro Veras.pdf

78

O acompanhamento social após a entrega das moradias torna-se essencial para

mitigação de conflitos sociais internos, e auxiliar para que haja uma convivência

harmônica entre os novos moradores.

Tabela 7 - Categoria 6: PRÁTICAS SOCIAIS

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

6.1 Educação para a Gestão de RCD

Sim X

6.2 Educação Ambiental dos Empregados

Sim X

6.3 Desenvolvimento Pessoal dos Empregados

X

6.4 Capacitação Profissional dos Empregados

X

6.5 Inclusão de trabalhadores locais

X

6.6 Participação da Comunidade na Elaboração do Projeto

X

6.7 Orientação aos Moradores

Sim X

6.8 Educação Ambiental dos Moradores

X

6.9 Capacitação para Gestão do Empreendimento

X

6.10 Ações para Mitigação de Riscos Sociais

X

6.11 Ações para a Geração de X

Page 93: Mariana Ribeiro Veras.pdf

79

Emprego e Renda

3.1.2.7 Acessibilidade

O artigo 63 da Lei Estadual Paulista 12.907/2008 define que “serão destinados a

pessoas com deficiência ou famílias que as possuam em seu seio, 7% (sete por

cento) de todos os imóveis populares comercializados pelo Estado, como

apartamentos, casas e lotes urbanizados”. Este decreto assegura habitações

adaptadas para acesso, uso e circulações de pessoas com necessidades especiais

inclusive em cadeira de rodas.

O Conjunto Mata Virgem possui 407 apartamentos, dentre estes 22 unidades (figura

42) são classificadas como acessíveis representando 5,4% do total de

apartamentos. Este percentual representa uma pequena parcela dos 7% de

unidades desenvolvidas pelo Estado que devem ser classificadas como acessíveis e

destinadas a este público específico.

Page 94: Mariana Ribeiro Veras.pdf

80

Figura 42 - Implantação - apartamentos acessíveis.

Fonte: acervo arquiteto José Luiz Tabith Junior modificada pela autora.

Para desenvolvimento da análise de acessibilidade foi escolhida apenas uma

edificação (ver figura 42), visto que todas seguem o mesmo padrão.

Abordando aspectos retratados nos apartamentos adaptados, é possível observar

que a abertura das portas essenciais apresenta dimensão mínima de 0,80 metros de

largura e 2,10 metros de altura, além de exporem rotação para o exterior dos

ambientes (figura 43).

O banheiro apresenta um projeto em desacordo com a NBR 9050/2004 da ABNT,

pois a área de transferência para o chuveiro não permitiria a mobilidade de uma

pessoa em cadeira de rodas, além disso, a pesar do projeto propor equipamentos

como barra de apoio constatou-se no local que nem todas as exigências foram

executadas na obra (figura 44). Cabe mencionar ainda que o modelo de bacia

sanitária presente no banheiro está em total desacordo com a norma (figura 45)

Page 95: Mariana Ribeiro Veras.pdf

81

Figura 43 - Planta baixa apartamento adaptado.

Fonte: acervo arquiteto José Luiz Tabith Junior, 2012

Dentre os ambientes presentes na figura 43, observa-se que a área de giro de 360º

exigida em norma para rotação da cadeira de rodas não se faz possível na

lavanderia e no banheiro. Para assegurar o cumprimento desta norma, é necessário

rever a distribuição dos móveis no apartamento.

Page 96: Mariana Ribeiro Veras.pdf

82

Figura 44 - Banheiro do apartamento adaptado. Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Figura 45 - Bacia sanitária do banheiro adaptado. Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Page 97: Mariana Ribeiro Veras.pdf

83

A figura 46 retrata um problema presenta em todos os apartamentos acessível: a

porta de entrada ao ser aberta entra em atrito com o basculante presente na

pequena área de serviço, fato que já proporcionou avarias em ambas as esquadrias.

Figura 46 - Porta e basculante em atrito.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Analisando as áreas comuns e de circulação dos condomínios, observa-se um

projeto que prevê alguns aparatos necessários para o bom uso do empreendimento

por pessoas com deficiência, como rampas e piso tátil (figura 47 e 48). Porém, em

visita ao Conjunto Mata Virgem constatou-se que o proposto em projeto não foi

plenamente executado, havendo diversos espaços inacessíveis, por exemplo, a um

cadeirante (figura 49).

Page 98: Mariana Ribeiro Veras.pdf

84

Figura 47 - Planta com duas torres condomínio 1 destacando acessibilidade no projeto. Fonte: a partir de acervo arquiteto José Luiz Tabith Junior modificado pela autora, 2013.

Figura 48 - Rampa de acesso sem piso tátil de alerta. Piso tátil de alerta nas escadas.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Page 99: Mariana Ribeiro Veras.pdf

85

Figura 49 - Inexistência de rampas de acesso e de sinalização com piso tátil.

Fonte: acervo pessoal. 04 abril 2013

Em relação ao piso utilizado no empreendimento em toda área externa às torres é

possível constatar através das figuras 48 e 49, como já relatado anteriormente, o

uso de bloco pré-moldado de concreto intertravado. Este se apresenta adequado à

NBR 9050 (2004, p. 39) que obrigatoriamente exige que “os pisos devem ter

superfície regular, firme, estável e antiderrapante sob qualquer condição, que não

provoque trepidação em dispositivos com rodas”, permitindo assim boa mobilidade.

3.1.3 Conclusões Parciais

Perante a análise realizada a partir de dados coletados sobre o Conjunto

Habitacional Mata Virgem, observa-se muitos pontos positivos com a instalação

desse empreendimento no local. Dentre eles pode-se citar a grande melhoria no

entorno imediato, a instalação de infraestrutura básica, geração de emprego aos

moradores locais e parcerias entre Prefeitura e Estado.

Page 100: Mariana Ribeiro Veras.pdf

86

Porém, esta análise sobre o olhar da sustentabilidade não apresentou resultado

satisfatório, visto que alguns critérios importantes não foram empregados, como por

exemplo o aproveitamento de águas pluviais e sistemas de aquecimento de água

por energia solar ou a gás.

O Conjunto Mata Virgem se submetido a avaliação Selo Casa Azul da CAIXA não

receberia certificação, porém a obra apresenta uma intensão de projeto que se

diferencia do entorno e também dos projetos recorrentes de conjuntos habitacionais

de interesse social.

3.2 Conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V

Localizado na subprefeitura de M’Boi Mirim, cidade de São Paulo, o conjunto

habitacional Parque Novo Santo Amaro V pertencente a urbanização da favela

Parque Santo Amaro V, foi projetado pelo escritório do arquiteto uruguaio Héctor

Vigliecca. Este residencial encontra-se na região dos mananciais da represa

Guarapiranga, assim como o conjunto habitacional Mata Virgem, fazendo parte

também do Programa de Mananciais mencionado anteriormente (figura 50).

Figura 50 - Localização do conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V Fonte: SÃO PAULO, 2010.

Page 101: Mariana Ribeiro Veras.pdf

87

O desenvolvimento deste conjunto habitacional foi parte fundamental dos programas

de urbanização realizados nesta região, que teve como foco a retirada de famílias

que estavam alojadas em áreas de risco iminente, associados à acidentes por

deslizamento de terra devido ao relevo acentuado na região (figura 51). Após

término das obras, o residencial apresentava aptidão para abrigar 216 famílias,

quantidade superior ao número de removidos inicialmente, permitindo assim a oferta

de moradias dignas para famílias advindas de outras localidades e que também

foram removidas de áreas de risco pelo Programa Mananciais.

Figura 51 - Curvas de nível expondo relevo acentuado. Fonte: SÃO PAULO, 2010.

O complexo residencial encomendado pela prefeitura de São Paulo ao arquiteto

Héctor Vigliecca foi projetado em 2009 e teve obras iniciadas em 2010. A construção

do conjunto realizada pelo consórcio entre as construtoras JNS e HAGAPLAN foi

concluída em 2012, apresentando uma demanda espacial de 13.500 m².

Subprefeitura M’Boi Mirim

A ocupação da região em questão se iniciou por volta de 1607 às margens do rio

Pinheiros nas proximidades da aldeia indígena M’Boi Mirim, local onde se

Page 102: Mariana Ribeiro Veras.pdf

88

encontrava a primeira mina de ferro da América do Sul. Porém, por mais de 200

anos após o período de exploração do ferro esta região permaneceu apenas como

local de passagem (SÃO PAULO, 2013).

Em 1829, ao longo da segunda ocupação da região, M’Boi Mirim foi elevada a

categoria de município. No início da década de 20 foi realizada a obra de

represamento do afluente do rio Pinheiros, o rio Guarapiranga, dando origem à

chamada Riviera Paulista, devido à beleza exposta as margens da represa.

Por volta de 1950, o processo de ocupação foi intensificado na região devido ao

grande fluxo de migrantes advindos de outras regiões do país em busca de emprego

no auge da etapa de industrialização ascendente na cidade de São Paulo. Nesta

época, houve uma intensa ocupação desordenada na região que provocou a quase

extinção da vegetação nativa, dando origem ao traçado de ruas irregulares que

atualmente compõe a região onde se localiza o conjunto Parque Novo Santo Amaro

V (figura 52).

Figura 52 - Traçado das ruas formado em vista da ocupação desordenada da região. Fonte: GOOGLE EARTH, 2013.

Devido à construção de moradias em áreas inadequadas, após levantamento

realizado por equipe especializada da prefeitura municipal constatou-se que “64%

Page 103: Mariana Ribeiro Veras.pdf

89

dos domicílios possuem uma vulnerabilidade social média, enquanto os outros 36%,

muito alta” (SÃO PAULO, 2010).

3.2.1 O Projeto

O desenvolvimento do projeto deu-se a partir do córrego pré-existente no local,

diante do qual se idealizou a construção de um parque linear que agregasse: as

edificações habitacionais, playground, pista de skate, anfiteatro aberto, campo de

futebol, associação de vizinhos e uma escola estadual já existente no local. A ideia

arquitetônica e urbanística buscou a concepção de um espaço destinado não

apenas aos futuros condôminos, aplicando-se um projeto que agrupou a função de

moradia ao desenvolvimento de uma área de uso comum entre moradores e

vizinhança do entorno próximo (figura 53).

Seguindo o curso do córrego que passou por obras de canalização, os blocos de

apartamentos formam uma “interface entre a rua oficial do entorno e o parque na

área interna” (SÃO PAULO, 2010).

Figura 53 - Croqui inicial de idealização do projeto. Fonte: SÃO PAULO, 2010.

O residencial foi planejado e construído a partir de conjuntos de blocos (figura 54)

com acessos independentes que se agrupam e compõem o residencial formando um

Page 104: Mariana Ribeiro Veras.pdf

90

complexo interligado por passarelas, acessos verticais e pelo parque linear de uso

comunitário. As unidades de um pavimento ou duplex viabilizam o acesso apenas

por escadas ou rampas, tornando desnecessária a instalação de elevadores ou

plataformas elevatórias (figura 55).

Figura 54 - Distribuição dos blocos de apartamento. Fonte: SÃO PAULO, 2010.

Figura 55 - Resultado final do residencial Parque Novo Santo Amaro V, onde blocos agrupados formam interface entre a rua e o parque linear.

Fonte: Revista AU, 2012.

Page 105: Mariana Ribeiro Veras.pdf

91

Os apartamentos apresentam três tipologias de planta (figuras 56, 57 e 58), sendo

estas de um pavimento com 50m² ou duplex de 64m². Ambos os modelos

apresentam planta inflexível compostas por 2 dormitórios, 1 banheiro, sala, cozinha

e área de serviço. A estrutura do conjunto é em alvenaria estrutural com blocos de

concreto.

Figura 56 - Modelo 1 de tipologia.

Fonte: SÃO PAULO, 2010.

Figura 57 - Modelo 2 de tipologia.

Fonte: SÃO PAULO, 2010.

Page 106: Mariana Ribeiro Veras.pdf

92

Figura 58 - Modelo 3 de tipologia.

Fonte: SÃO PAULO, 2010.

Observando-se a vista esquemática (figura 59) é possível perceber a interligação

entre os blocos de apartamento, assim como seus acessos. Além disso, a proposta

do arquiteto buscou adequar o projeto à topografia do terreno, promovendo o

mínimo de interferência no relevo.

Figura 59 - Vista esquemática do conjunto de blocos que se adequam ao relevo. Fonte: SÃO PAULO, 2010.

3.2.2 Análise a partir do Selo Casa Azul

O desenvolvimento da análise amparada pelo manual Selo Casa Azul permitiu uma

avaliação abrangente sobre diversos aspectos do conjunto habitacional, diante dos

53 critérios proposto pelo selo.

Page 107: Mariana Ribeiro Veras.pdf

93

3.2.2.1 Qualidade urbana

Na análise referente a este aspecto foi possível a constatação de que a qualidade

urbana no entorno do conjunto habitacional passou por algumas alterações e

melhorias estéticas e funcionais, visto que vias de acesso que passaram por reforma

apresentavam-se em estagio degradação considerável e a própria paisagem urbana

foi modificada com a retirada de antigas construções e implantação de novos

moradias, como observado nas figuras 60, 61 e 62.

Figura 60 - Comparação entre condições apresentadas pelas vias antes e depois da urbanização. Fonte: GOOGLE MAPS, 2011.

Figura 61 - Paisagem urbana antes das obras. Fonte: VIGLIECCA, 2012.

Page 108: Mariana Ribeiro Veras.pdf

94

Figura 62 - Contraste na paisagem urbana.

Fonte: HAGAPLAN, 2012.

Neste item de avaliação, é possível destacar a oferta de infraestrutura básica, como

escola, posto de saúde, pavimentação, linhas de transporte público, fornecimento de

energia elétrica e saneamento, nas imediações do residencial, e no próprio

residencial foram projetados espaços destinados ao lazer como campo de futebol,

pista de skate e playground (figura 63). Além disso, promoveu-se a recuperação de

área degradada pela ocupação desordenada, permitindo a construção de espaço

apropriado para moradia e intervenção em área de preservação ambiental, como já

mencionado (figura 64).

Page 109: Mariana Ribeiro Veras.pdf

95

Figura 63 - Equipamentos destinados ao lazer. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Figura 64 - Imagem do terreno em 2007. Fonte: GOOGLE MAPS, 2007.

Page 110: Mariana Ribeiro Veras.pdf

96

Tabela 8 - Categoria 1: QUALIDADE URBANA

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

1.1 Qualidade do Entorno - Infraestrutura

Sim X

1.2 Qualidade do Entorno - Impactos

Sim X

1.3 Melhorias no Entorno

X

1.4 Recuperação de Áreas Degradadas

X

1.5 Reabilitação de Imóveis

X

3.2.2.2 Projeto e Conforto

O projeto apresenta proposta de inclusão e interação entre os moradores e a

vizinhança através do parque linear que constitui uma área de livre circulação. Além

disso, as construções novas e antigas apresentam relação harmônica tanto estética

quanto de interferência física entre as mesmas.

Diante da realidade projetual, constatou-se que a arquitetura não apresenta

flexibilidade como ampliação ou modificação do projeto, visto que tal critério trata-se

de uma determinação solicitada pela Prefeitura direcionada para todas as unidades

de moradia.

Na figura 65, observa-se a implantação dos blocos dispostos no eixo norte-sul,

favorecendo a incidência de radiação solar direta durante grande parte do dia nas

fachadas leste e oeste, o que gera aquecimento indesejável.

Page 111: Mariana Ribeiro Veras.pdf

97

Figura 65 - Implantação dos blocos no terreno. Fonte: SÃO PAULO, 2010, s/p.

O conjunto habitacional não apresentou cumprimento de aspectos como coleta

seletiva e iluminação natural de banheiros (figura 66). No entanto, as áreas de uso

comum usufruem de alto potencial de iluminação natural e de ventilação cruzada

(figura 67). O residencial ainda conta com equipamentos de lazer, áreas arborizadas

e adequação do projeto as condições topográficas do terreno.

Figura 66 - Iluminação do banheiro insuficiente. Deposição de lixo feita em caçambas, não há preocupação com coleta seletiva ou higiene. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Page 112: Mariana Ribeiro Veras.pdf

98

Figura 67 - Iluminação natural de áreas comuns.

Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Em vista da obtenção de resultados coerentes com relação à iluminação natural nos

apartamentos do conjunto habitacional, utilizou-se o software Relux professional

para análise. Tendo como configuração padrão:

Plantas modeladas com as aberturas reais de janelas, empregando o vidro

com transmissão luminosa de 80%, fator “vidro limpo” e a planta posicionada

em relação ao norte;

Na gestão do cálculo da luz natural aplicou-se para o dia 21 de março

(equinócio), as 10h00, com céu encoberto de acordo com modelo

Commission Internationale de l'Éclairage (CIE) , a precisão aplicada foi de

componente indireta elevada e malha empregada com dimensão de 30 x 30

centímetros;

A partir dos resultados observados na figura 68, constata-se que alguns ambientes

não recebem iluminação adequada, necessitando da luz artificial para

complementação de iluminância.

Page 113: Mariana Ribeiro Veras.pdf

99

Pavimento tipo modelo T2B

Figura 68 - Distribuição da iluminância em pseudo cores no bloco T2B.

A figura 69 representa abordagem mais específica do bloco de apartamento, em que

se obteve resultados numéricos referente ao potencial de iluminação promovido

pelas aberturas laterais. Nesta representação, cômodos como banheiro e sala

aparecem com iluminância abaixo do índice especificado pela NBR 5413/1993 que

define em 200 lux a mínima para esses ambientes.

Page 114: Mariana Ribeiro Veras.pdf

100

Figura 69 - Distribuição da iluminância em malha de pontos.

Dessa forma, o resultado obtido comprova que as aberturas não promovem a

iluminação adequada aos ambientes, além de haver cômodos que não possuem

abertura voltada para o exterior da edificação, fator que restringe a iluminância e a

ventilação dos espaços.

Tabela 9 - Categoria 2: PROJETO E CONFORTO

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

2.1 Paisagismo

Sim X

2.2 Flexibilidade de Projeto

X

2.3 Relação com a Vizinhança

X

2.4 Solução Alternativa X

Page 115: Mariana Ribeiro Veras.pdf

101

de Transporte

2.5 Local para Coleta Seletiva

Sim X

2.6 Equipamentos de Lazer, Sociais e

Desportivos Sim X

2.7 Desempenho Térmico - Vedações

Sim X

2.8 Desempenho Térmico - Orientação ao

Sol e Ventos

Sim X

2.9 Iluminação Natural de Áreas Comuns

X

2.10 Ventilação e Iluminação Natural de

Banheiros

X

2.11 Adequação às Condições Físicas do

Terreno

X

3.2.2.3 Eficiência Energética

Dentre as seis categorias de análise, o conjunto habitacional apresentou pior

desempenho neste item de avaliação, cumprindo apenas um critério diante do total

proposto. O único quesito atendido na avaliação da obra trata-se da medição

individualizada de gás, visto que o abastecimento nos apartamentos é realizado

através de botijão individualizado (figura 70).

Page 116: Mariana Ribeiro Veras.pdf

102

Figura 70 - Botijão de distribuição de gás individualizada. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Em visita ao residencial, foi possível registrar que: o sistema de aquecimento de

água nos banheiros é realizado através da energia elétrica e nas áreas comuns nãos

foram instalados dispositivos economizadores (figura 71).

Figura 71 - Chuveiro com aquecimento elétrico e iluminação de áreas comuns sem dispositivos economizadores.

Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Page 117: Mariana Ribeiro Veras.pdf

103

Tabela 10 - Categoria 3: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

3.1 Lâmpadas de Baixo Consumo - Áreas

Privativas

obrigatório p/ HIS - até 3 s.m.

X

3.2 Dispositivos Economizadores -

Áreas Comuns

Sim X

3.3 Sistema de Aquecimento Solar

X

3.4 Sistemas de Aquecimento à Gás

X

3.5 Medição Individualizada – Gás

Sim X

3.6 Elevadores Eficientes

X

3.7 Eletrodomésticos Eficientes

X

3.8 Fontes Alternativas de Energia

X

3.2.2.4 Conservação de recursos materiais

A alvenaria estrutural com blocos de concreto caracteriza o sistema construtivo

empregado neste empreendimento, como pode ser observado na figura 72.

Juntamente ao bloco estrutural foram empregadas estruturas metálicas compondo a

caixa de escadas (figura 73).

Page 118: Mariana Ribeiro Veras.pdf

104

Figura 72 - Edificações construídas em alvenaria estrutural com blocos de concreto.

Fonte: GOOGLE MAPS, 2011.

Figura 73 - Uso de estrutura metálica.

Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

A coordenação modular foi garantida pela adoção de blocos de concreto

empregados na alvenaria estrutural. A partir desta modulação, outros elementos

como as aberturas, seguem a mesma padronização.

Page 119: Mariana Ribeiro Veras.pdf

105

Em vista de uma melhor avaliação desta categoria, os critérios subsequentes estão

apresentados em tópicos.

Qualidade de Materiais e Componentes

As construtoras responsáveis pela execução da obra possuem certificado ISO

9001:2008 referente à gestão de qualidade e planejamento. Este certificado

associado às especificações permite agregar credibilidade ao tipo de material e na

qualidade dos componentes empregados na obra.

Componente Industrializados ou Pré-fabricados

O uso de componentes pré-moldados e industrializados se deu para execução das

áreas de circulação vertical e passarelas que interligam os blocos de apartamentos

(figura 74). Além disso, a pavimentação do parque linear foi realizada fazendo uso

de blocos pré-fabricados de concreto intertravados (figura 75), que possuem alta

durabilidade e são permeáveis, permitindo a infiltração de parte da água diminuindo

a probabilidade de acúmulo da mesma. A alvenaria estrutural em bloco de concreto

também evidencia o emprego de peças pré-moldadas.

Figura 74 - Passarela que faz a ligação entre blocos de apartamento. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Page 120: Mariana Ribeiro Veras.pdf

106

Figura 75 - Pavimentação em bloco de concreto intertravado. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Formas e Escoras Reutilizáveis Na execução da obra foram utilizadas formas e escoras em madeira maciça, como

observado na figura 76.

Figura 76 - Formas e escoras em madeira. Fonte: GOOGLE MAPS, 2011.

Page 121: Mariana Ribeiro Veras.pdf

107

Gestão de Resíduos de Construção e Demolição

De acordo com especificação feita pelas construtoras, esta é uma prática comum em

todas as obras de suas autorias.

Ressaltado em Hagaplan (2013, s/p): “As práticas de consumo sustentável, da

reciclagem e da reutilização de materiais fazem parte do cotidiano da HAGAPLAN e

de seus colaboradores, sempre em busca da redução da geração de resíduos – um

dos pilares da sustentabilidade”.

Facilidade de Manutenção da Fachada

O revestimento externo aplicado em todo conjunto habitacional foi tinta texturizada,

que apresenta durabilidade e resistência as intempéries, além da facilidade de

manutenção.

O canteiro de obras

Compactuando com os ideais de sustentabilidade, as construtoras ressaltam que em

obras executadas procuram reduzir o consumo de materiais, promovem a coleta

seletiva e fazem uso de água pluvial em atividades como limpeza de equipamentos.

Como pode ser observado na figura 77, o canteiro de obras apresentou-se

organizado e setorizado.

Figura 77 - Canteiro de obras. Fonte: GOOGLE MAPS, 2011.

Page 122: Mariana Ribeiro Veras.pdf

108

Tabela 11 - Categoria 4: CONSERVAÇÃO DE RECURSOS

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

4.1 Coordenação Modular

X

4.2 Qualidade de Materiais e

Componentes

Sim X

4.3 Componentes Industrializados ou Pré-

fabricados

X

4.4 Formas e Escoras Reutilizáveis

Sim X

4.5 Gestão de Resíduos de Construção e Demolição (RCD)

Sim X

4.6 Concreto com Dosagem Otimizada

X

4.7 Cimento de Alto-Forno (CPIII) e

Pozolânico (CP IV)

X

4.8 Pavimentação com RCD

X

4.9 Facilidade de Manutenção da Fachada

X

4.10 Madeira Plantada ou Certificada

X

Page 123: Mariana Ribeiro Veras.pdf

109

3.2.2.5 Gestão de água

Neste tema em análise o conjunto habitacional também presentou desempenho

desfavorável, pois diante dos 8 tópicos em avaliação apenas 3 foram plenamente

atendidos pelo empreendimento.

A medição individualizada de água (figura 78) tornou-se prática comum entre os

projetos desenvolvidos pelo programa de urbanização de favelas, visto que através

da conta direcionada e equivalente ao consumo particular de cada apartamento o

valor a ser pago torna-se mais justo e acaba por promover a redução do uso deste

recurso natural.

Figura 78 - Medição individualizada de água. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Page 124: Mariana Ribeiro Veras.pdf

110

A escolha pela especificação e instalação de bacias sanitárias com caixa de

descarga acoplada garantiu o cumprimento do segundo critério de análise referente

a gestão de água, pois este tipo de sistema promove a redução do consumo de

água despendido a cada uso (figura 79).

Figura 79 - Bacia sanitária com caixa acoplada de descarga. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Na avaliação do uso de dispositivos economizadores em torneiras foi possível

constatar o cumprimento parcial deste critério, pois nos banheiro e em áreas de

serviço não se fez uso desses artifícios (figura 80). Todavia, nas pias de cozinhas o

uso de arejadores acoplados ou articulados permite a redução da vazão de água

(figura 81).

Page 125: Mariana Ribeiro Veras.pdf

111

Figura 80 - Torneiras comuns, sem dispositivos economizadores. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Figura 81 - Torneira da cozinha com arejador articulado

Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Page 126: Mariana Ribeiro Veras.pdf

112

Em relação a mecanismos de drenagem de águas pluviais, o residencial não

apresenta nenhum sistema retenção de água para posterior uso. Sobre esta

questão, o uso de blocos de concreto intertravado e existência de áreas verdes

permitem a infiltração de água no solo evitando o acúmulo da mesma sob a

superfície (figura 82).

Figura 82 - Piso intertravado e áreas permeáveis. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Além disso, juntamente ao procedimento de canalização do córrego, processo

mencionado anteriormente, foram instaladas grelhas (figura 83) para escoamento de

água em pontos estratégicos, garantindo assim a eficiência entre os sistemas de

drenagem de águas pluviais.

Page 127: Mariana Ribeiro Veras.pdf

113

Figura 83 - Soluções que permitem o escoamento de águas pluviais.

Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Tabela 12 - Categoria 5: GESTÃO DA ÁGUA

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

5.1 Medição Individualizada - Água

Sim X

5.2 Dispositivos Economizadores - Sistema de

Descarga obrigatório

X

5.3 Dispositivos Economizadores - Arejadores

X

5.4 Dispositivos Economizadores - Registro

Regulador de Vazão

X

5.5 Aproveitamento de Águas Pluviais

X

Page 128: Mariana Ribeiro Veras.pdf

114

5.6 Retenção de Águas Pluviais

X

5.7 Infiltração de Águas Pluviais

X

5.8 Áreas Permeáveis

Sim X

3.2.2.6 Práticas sociais

A inclusão de trabalhadores locais na obra de construção do conjunto habitacional

apresenta-se como um fator comumente empregado pelas construtoras

responsáveis por este tipo de obra. A partir da inclusão de mão de obra local, estes

trabalhadores passam por treinamento direcionado a práticas educativas de gestão

de resíduos de construção e demolição (RCD), assim como informações voltadas

para educação ambiental e capacitação profissional visando melhorias no

desempenho profissional (HAGAPLAN, 2013).

Em vista da gestão e gerenciamento do conjunto habitacional, atividades educativas

são ofertadas aos moradores. Além disso, houve a distribuição de cartilhas

informativas sobre infraestrutura presente no entorno que podem suprir as

necessidades dos novos moradores do conjunto habitacional (figura 84).

Page 129: Mariana Ribeiro Veras.pdf

115

Figura 84 - Folheto informativo de infraestrutura local. Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Contribuindo para mitigação de riscos sociais e oferecendo orientação voltada à boa

relação de convivência entre os novos moradores, a prefeitura de São Paulo

direciona um assistente social para acompanhamento semanal após a entrega das

unidades habitacionais.

Tabela 13 - Categoria 6: PRÁTICAS SOCIAIS

Critérios

Obrigatoriedade

Existência no Projeto

Sim Não

Parcialmente

Não se aplica

6.1 Educação para a Gestão de RCD

Sim X

Page 130: Mariana Ribeiro Veras.pdf

116

6.2 Educação Ambiental dos Empregados

Sim X

6.3 Desenvolvimento Pessoal dos Empregados

X

6.4 Capacitação Profissional dos Empregados

X

6.5 Inclusão de trabalhadores locais

X

6.6 Participação da Comunidade na Elaboração do Projeto

X

6.7 Orientação aos Moradores

Sim X

6.8 Educação Ambiental dos Moradores

X

6.9 Capacitação para Gestão do Empreendimento

X

6.10 Ações para Mitigação de Riscos Sociais

X

6.11 Ações para a Geração de Emprego e Renda

X

3.2.2.7 Acessibilidade

Abordando as questões que regem a acessibilidade e norteiam a adequação de HIS

as condições propostas pela legislação, vale ressaltar o Decreto Federal 5296/2004

que determina as seguintes obrigatoriedades:

definição de projetos e adoção de tipologias construtivas livres de barreiras

arquitetônicas e urbanísticas;

Page 131: Mariana Ribeiro Veras.pdf

117

no caso de edificação multifamiliar, execução das unidades habitacionais

acessíveis no piso térreo e acessíveis ou adaptáveis quando nos demais

pisos;

execução das partes de uso comum, quando se tratar de edificação

multifamiliar, conforme as normas técnicas de acessibilidade da ABNT;

Tais parâmetros visam assegurar a adequação de áreas de uso comum e mobiliário

urbano possibilitando a utilização por qualquer pessoa, garantindo a autonomia e

segurança do usuário. O Decreto tem por finalidade garantir vias públicas e áreas de

uso comum em espaços residenciais acessíveis, além de assegurar que parte das

habitações de interesse social deve apresentar adaptação adequada às pessoas

com deficiência ou mobilidade reduzida.

O Residencial Parque Novo Santo Amaro V possui 17 unidades (figura 85)

classificadas como acessíveis diante de um total de 216 apartamentos. Tal

proporção atende devidamente ao percentual necessário exigido pela Lei Estadual

paulista 12.907/2008 que defini a destinação de 7% do total de unidades

habitacionais à pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

Figura 85 - Implantação - apartamentos adaptados. Fonte: SÃO PAULO modificada pela autora, 2013

Page 132: Mariana Ribeiro Veras.pdf

118

Na análise da acessibilidade das áreas comuns do residencial Parque Novo Santo

Amaro V, não se obteve resultados satisfatórios. O projeto não foi adequado para

livre circulação de pessoas com deficiência em todos os ambientes. Diante desta

constatação, vale ressaltar não há sinalização tátil no piso, com destaque para

escadas e rampas, e a pista de skate não conta com guarda corpo (figura 86). No

entanto, na figura 87 é possível notar o uso de piso metálico antiderrapante nas

escadas.

Figura 86 - Pista de skate sem guarda corpo ou grade de proteção.

Fonte: VIGLIECCA, 2012.

Page 133: Mariana Ribeiro Veras.pdf

119

Figura 87 - Piso metálico antiderrapante.

Fonte: acervo pessoal, 10 dezembro 2013.

Em relação ao piso empregado na área que determina o parque linear foi utilizado

blocos pré-moldados de concreto, apresentando adequação a NBR 9050 (2004) já

mencionada.

Com relação a avaliação dos apartamentos adaptados, não foi possível ter acesso

ao interior dos mesmos, tornando inviável a realização de uma abordagem

consistente, para averiguação da semelhança entre o projeto idealizado e o

construído.

A partir da planta baixa (figura 88), é possível observar que em projeto o conjunto

habitacional não se adequa as características em vigor na NBR 9050/2004 da

ABNT. Merece destaque alguns quesitos que fogem a norma, como a abertura de

portas obrigatoriamente pivotantes para o exterior do cômodo, corredores com

dimensões limitadas e banheiro inadequado.

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120

Figura 88 - Planta baixa apartamento adaptado.

Fonte: SÃO PAULO, 2010.

3.2.3 Considerações Parciais

Os resultados obtidos a partir da avaliação dos dados coletados sobre o Conjunto

Habitacional Parque Novo Santo Amaro V permitem a constatação o projeto desde

residencial não tinha como premissa a sustentabilidade. Porém, trata-se de uma

obra premiada que apresenta boas soluções arquitetônicas e urbanísticas.

A partir do manual Selo Casa Azul este empreendimento não receberia certificação,

apesar de ter apresentado bom desempenho diante dos critérios expostos em

algumas categorias, como a de “qualidade urbana”.

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121

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa discorreu sobre dois exemplares da arquitetura de habitação de

interesse social na cidade de São Paulo, segundo a ótica da sustentabilidade. Tendo

como base o instrumental contido no Manual de Boas Práticas “Selo Casa Azul da

CAIXA”, acrescidos de questões vinculadas à acessibilidade, foram analisados dois

conjuntos habitacionais pertencentes ao Programa de Urbanização de Favelas da

prefeitura de São Paulo: o Conjunto Mata Virgem, projetado pelo arquiteto José Luiz

Tabith Junior; e o Conjunto Parque Novo Santo Amaro V, do arquiteto Héctor

Vigliecca. O Programa de Urbanização de Favelas é uma iniciativa que proporciona

habitação de interesse social com mais qualidade, porém, a descontinuidade da

ação dos técnicos, arquitetos, engenheiros e assistentes sociais, na gestão desta

cidade intervêm no prosseguimento do planejamento habitacional e urbano.

A discussão dos resultados obtidos a partir das análises permite a observação de

que o conjunto habitacional Mata Virgem apresenta solução de implantação que se

adequa à topografia íngreme. Além disso, os impactos gerados no entorno imediato

são notórios, beneficiando, além dos moradores do residencial, também a

vizinhança, com melhorias de vias e equipamentos urbanos. O projeto, que também

conta com a futura execução de um parque linear, terá por prioridade a interação

popular através de espaços planejados para uso coletivo.

A proposta na urbanização da favela Parque Santo Amaro aparece nesta pesquisa,

em paralelo ao conjunto Mata Virgem, com solução que tem como ponto de partida o

desenvolvimento de um espaço público de uso comum entre moradores do

residencial e do entorno. Tal projeto abriga blocos de edificações que, assim como o

primeiro, tomam partido do relevo em detrimento da própria estética arquitetônica e

urbanística.

Através das avaliações desenvolvidas, constatou-se que apesar de ambos os

conjuntos habitacionais serem produtos de arquitetos experientes, esses não

agregaram a sustentabilidade como fator fundamental de projeto, evidenciando que

a sustentabilidade é um tema muito discutido na arquitetura e no urbanismo, porém,

na prática, ainda não se encontram muitas aplicações.

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122

Durante a pesquisa, surge um questionamento: por que critérios básicos de

sustentabilidade como aproveitamento de águas pluviais e utilização de painéis para

aquecimento solar da água não são adotados com maior frequência em

empreendimentos como conjuntos habitacionais? Diante deste aspecto, Lawson

(2011) relata algo muito importante no processo de desenvolvimento de um projeto,

afirmando que todo arquiteto, quando projeta, encontra como sua primeira limitação

o escopo, ou programa de necessidades, definido pelo cliente, para

desenvolvimento de tal projeto. Diante disso, o arquiteto depara-se com limitações

impostas pelo contratante, muitas vezes vinculadas a questões econômicas e até

mesmo pessoais.

O Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal é um sistema de classificação da

sustentabilidade de projetos de habitação totalmente desenvolvidos por

pesquisadores brasileiros, levando em consideração a realidade climática, política,

econômica e social local. Essas características o tornam uma ferramenta eficiente,

tendo um papel importante na constatação da qualidade do projeto. Apesar dessas

vantagens, por se tratar de uma certificação recente, ainda apresenta algumas

questões a serem aprimoradas, como por exemplo, a acessibilidade no edifício e em

seu entorno.

Este trabalho, juntamente com as pesquisas desenvolvidas pelo grupo Arquitetura e

Construção da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, através da aplicação de metodologia semelhante, compõe uma análise

crítica sobre os conjuntos de habitação social contemporâneos na cidade de São

Paulo. Os resultados dessas pesquisas alimentam o repertório pré-existente e

incentivam o desenvolvimento de novos estudos, além de aparecerem como

parâmetro para a fundamentação de novas discussões sobre um tema cada vez

mais recorrente: a sustentabilidade na habitação de interesse social (HIS).

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123

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