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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 2549
MARIO ALIGHIERO MANACORDA E A DIFUSÃO DOS PRINCÍPIOS DAS PEDAGOGIAS MARXIANA E MARXISTA NAS DISSERTAÇÕES E TESES
PRODUZIDAS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS DAS REGIÕES NORDESTE E SUDESTE (2009-2012)1
Heulalia Charalo Rafante2
Introdução
Esse estudo avaliou a presença das obras do educador e historiador Mario Alighiero
Manacorda (1914-2013) na elaboração de teses e dissertações defendidas nos Programas de
Pós-Graduação das universidades das regiões Nordeste e Sudeste no Brasil, no período de
2009 a 2012.
Mário Alighiero Manacorda nasceu em 1914, em Roma, na Itália, e vivenciou o período
fascista naquele país. Graduado em Letras e em Pedagogia pela Universidade de Pisa,
dedicou-se ao magistério, lecionando história da pedagogia em diferentes universidades
italianas (Cagliari, Viterbo, Florença e Roma) (NOSELLA, 2013). Desde os estudos de
graduação, cultivava a leitura dos clássicos, especialmente, do marxismo, publicando, em
1950, a coleção “Clássicos do Marxismo” e, na década de 1960, escreveu Il Marxismo e
l’Educazione: Marx, Engels, Lenin, trazendo uma análise hermenêutica e filológica das obras
marxianas e marxistas. Essa elaboração foi publicada na década de 1980, sob o título Marx e
a Pedagogia Moderna.
Nos anos de 1970, Manacorda escreveu O princípio educativo em Gramsci, obra
publicada no Brasil em 1991, pouco depois da visita do autor ao país, em 1987, quando
proferiu a palestra Humanismo de Marx e Industrialismo de Gramsci, no evento em
comemoração dos dez anos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Ufscar, entre
outras universidades brasileiras. Ainda na década de 1980, publicou, na Itália, o livro A
História da Educação: da Antiguidade aos dias atuais, analisando a educação, desde o
Antigo Egito até o século XX, tomando como fio condutor (il filo rosso) dessa abordagem o
1 Agradeço à colaboração de Sergio Cristóvão Selingardi, mestre em Educação e professor da Rede Municipal de Educação de Mariana, e dos alunos de Iniciação Científica do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará, Giusévilly de Souza Mello e Igor Gouveia Maria.
2 Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Professora Adjunto III no Departamento de Fundamentos de Educação da Universidade Federal do Ceará, Campus Benfica - Fortaleza. E-Mail: [email protected].
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trabalho como princípio educativo e o conceito de desenvolvimento omnilateral. A primeira
edição italiana é de 1983, sendo publicada no Brasil, em 1989. Atualmente está na 14ª edição
(RAFANTE, 2015).
No início do século XXI, em 2006, o Grupo de Grupo de Estudos e Pesquisas História,
Sociedade e Educação no Brasil - Histedbr promoveu o seu VII Seminário Nacional, em
comemoração aos 20 anos de sua existência e, mais uma vez, Manacorda foi convidado a vir
ao Brasil, mas sua participação ocorreu por webconferência, quando concedeu uma
entrevista, na qual tratou de diferentes temas relacionados à educação, publicada sob o título
Reflexões sobre história e educação: o século XX e as perspectivas para o futuro.
As obras aqui apresentadas foram elaboradas por Manacordca a partir de uma leitura
rigorosa dos princípios marxianos e marxistas da educação, com base na filologia e na
hermenêutica, constituindo-se em fundamentação teórica importante para a análise da
realidade educacional brasileira.
Manacorda faleceu em 2013, portanto, sua trajetória perpassou os acontecimentos do
século XX e suas elaborações tiveram grande foco na educação, analisada à luz do
materialismo histórico dialético, com rigor e aprofundamento do homem de um século, o que
levou o professor e pesquisador Paolo Nosella (2013, p. 16) a colocá-lo na condição de “[...]
um dos maiores intelectuais marxistas italianos do século XX [...]”. Suas obras chegam ao
Brasil juntamente com sua primeira e única visita ao país, em 1987, e, desde então, têm
contribuído para fundamentar a pesquisa e a atuação de pesquisadores e docentes em todo o
país.
Depois de 30 anos desse percurso, o intuito dessa pesquisa foi o de verificar a difusão,
em nossa realidade, das obras aqui destacadas. Esse mapeamento visou ampliar o
conhecimento a respeito das contribuições de Manacorda para as pesquisas na área
educacional e, dessa forma, divulgar seus os referenciais teóricos para outros pesquisadores,
que podem adotá-los para a análise da educação brasileira, trazendo uma perspectiva crítica
diante dessa realidade, visando a sua transformação.
Para verificar a presença dessas obras na produção acadêmica no país, foram utilizados
os dados dos Cadernos de Indicadores da CAPES, que trazem informações dos Programas de
Pós-Graduação, apresentando todos os trabalhos defendidos por instituição/ano. Foram
selecionados os trabalhos inseridos nas linhas de pesquisa Fundamentos da Educação. Em
seguida, buscou-se identificar a presença dos livros nas referências. Com esta incursão,
procurou-se quantificar a presença do autor nestas elaborações, para, em seguida, apresentar
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como as referidas obras foram inseridas na elaboração de teses e dissertações dos Programas
de Pós-Graduação em Educação, das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil (2009-2012).
Apontamentos sobre as obras de Mario Alighiero Manacorda
Nessa parte do texto, sem a pretensão de esgotar as análises contidas nas elaborações
de Manacorda, apresenta-se alguns aspectos das obras aqui analisadas, destacando os
principais pontos relacionados à educação em cada uma delas.
O livro História da Educação: da Antiguidade aos dias de hoje aborda a história da
educação a partir de um olhar materialista da história e seus processos moldados com a base
da produção do sistema capitalista. A linha histórica apresenta uma sucessão de momentos
em que o modo de produção indica o caminho a ser seguido no campo da educação, traz a
ideia de um processo que encobre outro por sua modernidade e, principalmente, pela
necessidade da classe burguesa, que detêm os meios de produção, e tem o domínio sobre a
mão de obra, o proletariado. Manacorda busca em Marx os pressupostos necessários para a
análise histórica dessa relação dialética da luta de classes, que é condição sine qua non para a
transformação do modo de produção capitalista.
No livro Marx e a pedagogia moderna, Manacorda (2007) aborda o que ele chama
de pedagogia marxiana, ou seja, que é inerente ao pensamento de Karl Marx, em um contexto
de investigação sobre a natureza e os fins do homem. Partindo da pesquisa filosófica,
Manacorda (2007, p. 22) apresenta as formas de crescimento do homem na perspectiva
marxiana:
O homem não nasce homem: isto o sabem hoje tanto a fisiologia quanto a psicologia. Grande parte do que transforma o homem em homem forma-se durante sua vida, ou melhor, durante o seu longo treinamento por torna-se ele mesmo, em que se acumulam sensações, experiências e noções [...] (MANACORDA, 2007, p.22).
Situando esses princípios na sociedade capitalista, o autor destaca que, para Marx, a
divisão do trabalho operada nessa sociedade enfraquece a capacidade de desenvolvimento
humano e fragiliza o indivíduo enquanto sujeito histórico. Nesse contexto, o trabalho “é a
essência subjetiva da propriedade privada e está frente ao trabalhador como propriedade
alheia” (MANACORDA, 2007, p. 58), o que evidencia o caráter negativo do trabalho nessa
sociedade, que explora o trabalhador, constituindo a sua alienação, pela expropriado dos
bens que ele mesmo produz, dos conhecimentos necessários para essa produção e, ainda,
pela falsa consciência de sua condição de existência.
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Destacando o caráter positivo atribuído por Marx ao trabalho – visto como uma
atividade vital ao homem, o que o move o homem e, consequentemente, as suas relações, o
transforma em um ser social e o leva a seu estado omnilateral – Manacorda analisa os
escritos marxianos, assim como os textos de Engels e Lênin, destacando a relação entre
educação e trabalho, evidenciando a centralidade da instrução no processo de superação da
exploração do proletariado, devendo ocorrer em sua totalidade, não como um privilégio da
classe dominante e nem como perpetuação de mão de obra das classes operárias.
Todos deveriam ter acesso ao mesmo sistema educativo, que envolveria a educação e o
trabalho, não distinguindo classe, nem reafirmando a propriedade privada, e, sim, como
desenvolvimento omnilateral de todos os membros da sociedade, levando ao fim da
exploração e à destruição das classes sociais, permitindo aos jovens acompanhar o sistema
total de produção. É nesse contexto que Manacorda distingue a educação politécnica da
educação tecnológica. A primeira, prepararia o homem para o trabalho na sociedade
capitalista, numa formação especializada e fragmentada, levando-o à adaptação ao sistema e
à consequente perpetuação da exploração e da alienação, enquanto que a segunda, buscaria
romper a separação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, levando o homem a
dominar todas as etapas da produção, tomando consciência da sua condição de classe e
adquirindo as condições necessárias para superar essa condição (MANACORDA, 2007).
O livro O Princípio Educativo em Gramsci, constituído de três partes, foi publicado no
Brasil em 2008 e, conforme o título já sinaliza, apresenta a análise do pensamento de
Antonio Gramsci, numa perspectiva histórica, trazendo o processo de desenvolvimento e
amadurecimento do pensamento gramsciano, especialmente, em relação à educação.
O percurso traçado por Manacorda no livro inicia-se com as leituras dos Escritos da
Juventude, produção em que Gramsci demostra sua trajetória de formação e os primeiros
indícios de que seu pensamento anti-positivista ajudará a amadurecer suas ideias e a sua
visão de educação, apontando a necessidade de articulação entre o humanista-tradicional e o
técnico profissional (MANACORDA, 2008). A partir desses princípios, Gramsci desenvolve,
ao longo dos anos de 1920, uma teoria mais elaborada sobre os processos de educação,
trazendo a proposta da Escola Unitária com vistas a permitir a formação de um homem
“completo” e onilateral. Nesse percurso, Manacorda apresenta as experiências pessoais de
Gramsci, da educação infantil à universidade, seu interesse por questões sociais e políticas,
de seu contato com o comunismo, seu retorno à Itália, após um período na antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e a luta para a fundação de um partido comunista,
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que fosse contra o regime fascista da época e seus pensamentos sobre a relação do homem
com a natureza, de esforço (ler-se trabalho) que ele desprende para fazê-la sua.
As Cartas do Cárcere constituem a segunda parte do livro, que analisa os escritos de
Gramsci, enquanto esteve preso na Itália, no período de 1927 a 1936, em consequência da
perseguição política do regime fascista. Manacorda (2008) evidencia a preocupação de
Gramsci com a formação de seus dois filhos e demais familiares, apontando a importância do
uso da língua, do dialeto, da gramática e de instrumentos pedagógicos da cultura moderna.
Ele irá discorrer sobre a escola e a educação de maneira mais enfática, dando-lhes uma
atenção metódica e importante, questionando, principalmente, a pedagogia da Escola Nova,
que vinha se consolidando no contexto europeu.
A escola, enquanto instituição educativa, aparece como local importante na formação
do homem como intelectual orgânico a uma classe social, que pode atuar para perpetuar a
exploração, a alienação e, portanto, para a manutenção da ordem e do modelo econômico, ou,
ao contrário, agir para a sua superação.
Por fim, a terceira parte analisa os Cadernos do Cárcere, que são os mais extensos
escritos de Gramsci e são essenciais para o entendimento da gênese do seu pensamento.
Manacorda (2008) apresenta a proposta pedagógica gramsciana e os mecanismo que devem
ser utilizados para que ela seja efetivada, partindo do indivíduo, ser que transforma e é
transformado pelo trabalho. Há o aprofundamento da crítica à teoria pedagógica da Escola
nova, que, para Gramsci, fragmenta e especializa a educação, fragmentando, assim, o sujeito
em formação e, em consequência, amplia, profundamente, as desigualdades sociais.
Em contraposição, Gramsci delineia, de forma clara e objetiva, a proposta da Escola
Unitária, que deveria ficar a cargo do Estado, ser única para todos e ser oferecida desde a
primeira infância até o final da juventude, o que corresponderia ao nosso atual ensino médio.
Num primeiro momento, o processo pedagógico deveria pautar-se por aspectos dogmáticos,
visando transmitir os conhecimentos e os métodos necessários para a constituição da
autonomia dos sujeitos, que, na segunda fase, teriam condições de uma formação mais
independente. Somente após esses dois momentos de formação é que os sujeitos poderiam
escolher o percurso formativo entre as profissões liberais e aquelas que envolviam atividades
mais técnicas, mas sem perder de vista a unidade entre trabalho manual e trabalho
intelectual, alcançando a omnilateralidade, que ele esperava alcançar com a implementação
dessa teoria pedagógica, no processo de superação da sociedade capitalista.
Na entrevista cedida por Manacorda ao Professor Pablo Nosella, por ocasião do VII
Seminário Nacional do HISTEDBR, e publicada no livro Navegando pela História da
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
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Educação Brasileira sob o título Reflexões sobre História e Educação: o Século XX e as
perspectivas para o Futuro, foram feitas perguntas a respeito dos principais acontecimentos
históricos do século XX, sobre as perspectivas educacionais, com destaques para os fatos que
simbolizaram mudanças nos processos educativos e sociais nesse período.
Sobre os principais acontecimentos históricos do século XX, Manacorda citou as
guerras, os conflitos nos países recém-saídos do regime colonialistas, o espírito de revanche
dos derrotados em outros confrontos e o surgimento do socialismo. Conclui que se tratou de
um século marcado pelas contradições, sendo que a principal delas se deu entre a tradição
liberal (e sua ala direita nacionalista) e o socialismo, que surgia como uma forte oposição a
esse horizonte vivido no período (MANACORDA, 2009).
Ao tratar do fim do socialismo real, Manacorda destaca que a principal lição tirada
desse século é que não se deve fazer revoluções à luz do que se fez no século XX, pois
custaram a vida de milhões de pessoas, e defende que deve-se fazer a revolução todos os dias,
partindo de um movimento amplo do povo, de forma que a ruptura armada torna-se
secundária (MANACORDA, 2009). Explicita que se deve buscar construir a hegemonia, na
concepção gramsciana, especialmente, depois do surgimento do paradigma pós-moderno,
que, segundo seu entendimento, utiliza as técnicas mais avançadas, porém, não com o intuito
de fazer progredir a humanidade, e, sim, para produzir a existência humana de forma a gerar
desigualdades mais alarmantes.
Dando sequência à entrevista, Nosella solicita à Manacorda que comente sobre o seu
trabalho mais utilizado entre os acadêmicos brasileiros, História da Educação: da
antiguidade aos dias de hoje, e ele confessou que escreveria de outra maneira, introduzindo
mais fundamentações e/ou substituindo suas palavras. E, no âmbito das palavras, ao ser
questionado sobre a educação ideal, reafirma a ideia de educação “tecnológica”, para se
contrapor à ideia de “politecnia”. Citando o texto Instruções para os Delegados do Conselho
Geral Provisório, destaca que Marx enfatiza três aspectos no processo educativo: educação
mental, educação física e educação tecnológica e, nas palavras de Manacorda, “não
politécnica”, “pluriprofissional” (MANACORDA, 2009, p. 25), que tinha sido criticada por
Marx antes da elaboração do Manifesto do Partido Comunista:
[...] porque destinada em todo caso a preparar o trabalhador para diferentes funções e para a variação causada pelas inovações tecnológicas em prol da fábrica capitalista, não se interessando pelo desenvolvimento do rapaz como homem contemporâneo à própria época, como diria Gramsci (MANACORDA, 2009, p. 24).
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Nessa entrevista, Manacorda esclarece uma questão conceitual importante na
discussão da relação entre trabalho e educação, chamando a atenção para a necessidade de se
distinguir a perspectiva burguesa, politécnica, da perspectiva socialista, tecnológica.
Finalizadas as resenhas dos livros de Manacorda, passa-se a apresentar os resultados
obtidos por meio da pesquisa realizada nos Cadernos de Indicadores da CAPES, com a
análise quantitativa das dissertações e teses da área de Fundamentos da Educação, que
utilizaram as obras do marxista italiano para a delimitação e análise dos respectivos objetos
de pesquisa.
A presença das obras de Mario Alighiero Manacorda nas pesquisas desenvolvidas nos Programas de Pós-Graduação em Educação das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil (2009-2012)
Primeiramente, apresenta-se os resultados da presença das obras de Manacorda nas
teses e dissertações, por ano e por região, procedendo à análise da dimensão dessa presença
em relação à área de Fundamentos da Educação e à totalidade de trabalhos defendidos no
período (2009 a 2012). Na sequência, identifica-se as obras citadas, construindo uma
classificação entre elas, desde a mais até a menos utilizada.
É importante ressaltar que, da totalidade da amostra em cada ano, havia teses e
dissertações que não estavam disponíveis para consulta on line, não sendo possível analisá-
las. Nos quatro anos que compõem o recorte dessa pesquisa, foram defendidas 1874 teses e
dissertações no Nordeste, sendo que 505 estão na área de fundamentos da educação, tendo
sido analisadas 387 delas; no Sudeste, os trabalhos defendidos no período somam 1461,
sendo 340 na área específica e 296 analisados. Portanto, para verificar a porcentagem de
trabalhos que utilizavam as obras de Manacorda em relação à quantidade de trabalhos da
área de fundamentos da educação foram considerados os trabalhos analisados, descontando-
se aquele número de texto indisponíveis.
Nas universidades federais do Nordeste, em 2009, na totalidade de dissertações e teses
(457), 28,44% foram defendidas na área de Fundamentos da Educação – 130 trabalhos, dos
quais, 94 foram analisados. Destes, 8,51% citaram Manacorda (8). Já nas universidades
federais do Sudeste, com totalidade de dissertações e teses (362), 21,8% foram defendidas na
área de Fundamentos da Educação – 79 trabalhos, dos quais 70 foram analisados. Sendo que
15,7% utilizaram Manacorda na construção das teses e dissertações (11).
Nas universidades federais do Nordeste, em 2010, na totalidade de dissertações e teses
(450), 22,66% foram defendidas na área de Fundamentos da Educação – 102 trabalhos, dos
quais 79 foram analisados. Destes, 5,06% citaram Manacorda (4). Nas universidades federais
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do Sudeste, totalizando (348) teses e dissertações, 19,54% foram defendidas na área de
Fundamentos da Educação – 68 trabalhos, dos quais 62 foram analisados e 12,9% utilizaram
Manacorda (8).
Nas universidades federais do Nordeste, em 2011, na totalidade de dissertações e teses
(500), 27,2% foram defendidas na área de Fundamentos da Educação – 136 trabalhos, dos
quais 105 foram analisados. Destes, 11,42% citaram Manacorda (12). Nas universidades
federais do Sudeste, de um total de trabalhos defendidos esse ano (382), 24,6% foram
defendidas na área de Fundamentos da Educação – 94 trabalhos, dos quais 80 foram
analisados, sendo que, destes, 13,75% citaram os livros de Manacorda (11).
Nas universidades federais do Nordeste, em 2012, na totalidade de dissertações e teses
(467), 29,33% foram defendidas na área de Fundamentos da Educação, – 137 trabalhos, dos
quais 109 foram analisados. Destes, 8,25% citaram Manacorda (9). Nas universidades do
Sudeste, de um total de trabalhos defendidos esse ano (369), 26,82% foram defendidos na
área de fundamentos da educação – 99 trabalhos, dos quais 84 foram analisados. Sendo que,
destes, 10,7% citaram Manacorda em seus trabalhos (9).
No total geral das duas regiões, tem-se 1874 trabalhos no Nordeste e 1461 no Sudeste,
no período de 2009 a 2012. No que se relaciona à linha de pesquisa Fundamentos da
Educação, tem-se 505 e 340, tendo sido analisados 387 e 296 trabalhos respectivamente,
totalizando 683 trabalhos, sendo que 10,54%, 72 trabalhos utilizaram Manacorda.
Consideramos a presença dos livros entre as dissertações e teses defendidas na área de
Fundamentos da Educação nas duas regiões, podemos identificar que a presença deste autor
foi maior no Sudeste, com 39 trabalhos, sendo que o Nordeste teve 33 pesquisas que
utilizaram alguma de suas obras no mesmo período.
Além da análise direta dos dados, faz-se necessário destacar que o volume da produção
nordestina é maior: 1874 no total e 505 na área de fundamentos da educação, tendo sido
analisados 387 deles; no Sudeste, os trabalhos defendidos no período somam 1461, sendo
340 na área específica e 296 analisados. Na região Nordeste, 33 trabalhos representam 8,52%
de todos aqueles defendidos na área de fundamentos e 1,76% no total da produção (1874); já
na região Sudeste, 39 trabalhos representam 13,17% das pesquisas na área de fundamentos
da educação e 2,66% do total geral. Portanto, considerando-se a proporção em relação à
quantidade total de dissertações e teses desenvolvidas e a área específica, a presença das
obras de Manacorda é maior na região Sudeste, com destaque para a Universidade Federal de
São Carlos, com 16 e a Universidade Federal de Uberlândia, com 09. Os outros trabalhos que
citaram Manacorda estão na Universidade Federal de Minas Gerais (05), na Universidade a
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Federal Fluminense (08), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (03), Universidade
Federal do Espírito Santo (01). No Nordeste, a maior presença se deu na Universidade
Federal do Ceará, com 13 trabalhos utilizando as obras aqui em análise, seguida da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (05), da Universidade Federal da Bahia (04),
da Universidade Federal de Pernambuco (04), da Universidade Federal do Maranhão (03),
da Universidade Federal de Alagoas (03) e da Universidade Federal da Paraíba (01).
Considerando a totalidade dos trabalhos produzidos na área de Fundamentos da
Educação, constata-se que, nas universidades federais, a presença do autor aparece
pulverizada, mas está presente em pelo menos um trabalho de tese ou dissertação na maioria
das instituições, com poucas exceções, sendo que, em outras universidades, como a UFSCar,
a UFU e a UFC, esta presença é mais significativa e constante, levando à inferência de que,
nessas universidades, há professores representantes do paradigma marxista, que contribuem
para a sua disseminação por meio da formação de novos pesquisadores da área educacional.
Entre as obras do autor aqui destacadas, o livro História da Educação: da antiguidade
aos dias de hoje é o mais citado nas dissertações e teses, seguido do livro Marx e a Pedagogia
Moderna e O princípio educativo em Gramsci. O texto publicado a partir da sua palestra em
1987, Humanismo em Marx e Industrialismo em Gramsci, e a entrevista publicada sob o
título Reflexões sobre história e educação: o século XX e as perspectivas para o futuro, não
foram citados nas produções analisadas no período. Há trabalhos que utilizaram mais de um
dos livros aqui analisados e optou-se em apresentar a presença das obras, portanto, a
somatória final será superior à quantidade de dissertações e teses que citaram o autor.
Conforme a Tabela 1, o livro História da Educação foi citado em 46 trabalhos, sendo 19
no Nordeste e 27 no Sudeste; o livro Marx e a Pedagogia Moderna está presente em 28
trabalhos, 14 em cada região; por fim, o livro O princípio educativo em Gramsci3 aparece em
13 trabalhos do nordeste e 05 do sudeste, num total de 18 pesquisas.
3 Visando tornar o texto mais didático para a leitura, a partir dessa passagem, não se repetirão os títulos das obras, que serão substituídos pela seguinte denominação: História da Educação: da antiguidade aos dias de hoje – primeiro livro; Marx e a Pedagogia Moderna – segundo livro; O princípio educativo em Gramsci – terceiro livro, conforme aparecem numerados na tabela 1.
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TABELA 1 PRESENÇA DAS OBRAS DE MARIO ALIGUIERO MANACORDA NAS DISERTAÇÕES E
TESES DAS REGIÕES NORDESTE E SUDESTE DO BRASIL
OBRA NORDESTE SUDESTE TOTAL
1) História da Educação: da antiguidade aos dias de hoje
19 27 46
2) Marx e a Pedagogia Moderna 14 14 28
3) O princípio educativo em Gramsci
13 05 18
Fonte: dados coletados pelo(s) autor(es), março. 2017.
Para dimensionar essa difusão do pensamento de Manacorda, salienta-se que todos os
trabalhos somam 72 dissertações e teses, 33 no Nordeste e 39 no Sudeste. O primeiro livro
está presente em 63,8% do total de trabalhos que citaram o autor (72), e, por região,
corresponde a 57,5% dos trabalhos do Nordeste e 69,23% do sudeste; o segundo livro está
presente em 38,8% do total de trabalhos que citam o autor (72), e por região, corresponde a
42,4% dos trabalhos do Nordeste e 35,8% do sudeste; o terceiro livro está presente em 25%
do total de trabalhos que citam o autor (72), e por região, corresponde a 39,3% dos trabalhos
do Nordeste e 6,94% do sudeste.
Não obstante ter havido maior número de trabalhos com citação do Manacorda na
região Sudeste, pelos dados apresentados na Tabela 1, é possível inferir que a maior
disseminação se dá em torno do primeiro livro, sendo menor em relação ao segundo e ao
terceiro naquela região. No Nordeste, a variação da presença dos três livros é menor, levando
à conclusão que a disseminação das obras do autor se aproxima da equivalência entre elas,
com pequena variação do primeiro livro. Por outro lado, há os textos que não foram citados
(O humanismo em Marx e o industrialismo em Gramsci; Reflexões sobre história e
educação). Portanto, é importante salientar que disseminação do pensamento do autor ainda
se pauta pelo primeiro livro, fazendo-se necessária a ampliação da divulgação das suas obras
no Brasil, para que a complexidade das suas análises a respeito da educação, a partir do
materialismo histórico dialético, possam avançar em direção às discussões relacionadas às
propostas educativas, especialmente, de Karl Marx e Antonio Gramsci, especialmente, num
contexto de contrarreforma do Estado, com significativas perdas dos direitos sociais, entre
eles, a própria educação.
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As contribuições de Mario Alighiero Manacorda para as pesquisas em Educação no Brasil
Após o mapeamento de todos os trabalhos que citaram Manacorda nas referências,
identificando quais obras foram utilizadas, quantificando por ano e região, passou-se à
análise das dissertações e teses para verificar como os pesquisadores brasileiros se
apropriaram dos livros de Manacorda em seus estudos. Esta etapa do trabalho está em
andamento, mas é possível trazer alguns apontamentos sobre a relação entre as categorias
conceituais/empíricas de Manacorda e sua inserção na pesquisa brasileira. Portanto, trata-se
das primeiras inferências sobre essa apropriação, restritas aos seus aspectos metodológicos,
não avançando para a análise epistemológica da leitura que se faz das obras do autor, nem
estabelecendo um comparativo das diferentes formas de utilização desses referenciais nas
duas regiões em análise (Nordeste e Sudeste).
A primeira questão a se destacar é que, daqueles 72 trabalhos que indicaram alguma
obra de Manacorda nas referências, dez deles não continham menção aos respectivos escritos
ao longo do texto. Esses trabalhos foram defendidos na UFBA (02), UFC (02), UFPE (01),
UFRN (01), Ufscar (02) e UFF (01). Optou-se por manter os dados quantitativos, pois o
critério de seleção foi ter citado o autor nas referências, porém, destaca-se essa inconsistência
nesses trabalhos, apesar de não ter sido feito um estudo para identificar os motivos dessa
ausência nas elaborações.
Em relação ao primeiro livro, é possível inferir que, em geral, os pesquisadores
utilizaram o percurso da História da Educação apresentado por Manacorda para analisar o
respectivo objeto de estudo a partir do contexto histórico geral no qual a educação se insere,
analisando os aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais, nos diferentes períodos
(Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea), compreendendo,
assim, a historicidade do objeto, sem perder de vista a sua singularidade e suas
particularidades diante dos fenômenos educacionais, o que possibilita ao estudioso ampliar
suas possibilidades de análise.
Visando apresentar mais elementos sobre essa perspectiva histórica na análise dos
processos educativos, destaca-se alguns exemplos, retirados das dissertações e teses, que
evidenciam esse olhar histórico para a delimitação e análise dos diferentes objetos e objetivos
de estudos: 1) a partir do livro, o (a) autor (a) buscou identificar o período histórico em que a
relação entre trabalho e educação se manifestou de forma mais direta, para problematizar
essa relação na atualidade; 2) para verificar o método de ensino oferecido para as classes
populares no século XIX, visando problematizar a educação oferecida para a população negra
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brasileira no referido século, identificando a crítica apontada por Manacorda ao método
mútuo, por ter sido utilizado pelo Estado como meio rápido, eficiente e econômico de
escolarização; 3) analisou a constituição da cultura corporal, das sociedades antigas até a
sociedade capitalista, com o intuito de fundamentar a análise da formação de professores de
educação física na contemporaneidade; 4) compreender a valorização, pela escola, a partir do
século XIX, da ginástica, da educação física, em detrimento do ensino da civilidade, ou seja,
da chamada educação cortesã (música, letras, etc.), para analisar o método da educação física
adotado nas escolas das décadas de 1930 e 1940; 5) estudar o funcionamento das escolas
ativas no século XIX, que, geralmente, se organizavam como internatos estabelecidos no
campo, pois acreditava-se que esses internatos do campo ofereciam melhores condições para
o desenvolvimento da experiência individual da criança, com o propósito de fundamentar a
análise do programa Escola Ativa adotado como política pública para a educação do campo
no final dos anos de 1990 e início dos anos 2000.
No que se refere ao segundo e terceiro livros, são muito utilizados nas pesquisas cujo
objeto de estudo são os cursos para formação de jovens e adultos, o ensino profissional e as
propostas de educação integral. Nessas pesquisas, a partir da perspectiva marxiana e
marxista da relação entre educação e trabalho, pautada na necessidade da formação do
homem completo, omnilateral, restabelecendo a unidade entre trabalho manual e trabalho
intelectual, necessária para a superação das condições de existência no contexto da
sociedade capitalista, que levam à exploração e à alienação, perpetuando as desigualdades da
sociedade de classes, os (as) autores (as) evidenciam o caráter fragmentário das políticas
públicas e das propostas pedagógicas liberais e neoliberais, que estão atendendo as
demandas do capital em detrimento do desenvolvimento humano. Em contraposição à essa
realidade, os (as) autores (as) destacam a Escola Unitária com organização escolar possível
para superar essa educação especializada.
Para evidenciar essas perspectivas de análise, destacamos alguns trabalhos que
materializam essa apropriação dos escritos de Manacorda: 1) como o objetivo de analisar a
concepção de conhecimento no construtivismo e seu alcance na formação do homem
completo, omnilateral, o (a) autor (a) analisa o conceito de trabalho na sociedade capitalista,
visto como um meio de vida e não como auto construção humana e, nesse cenário, o
construtivismo se constitui como o método para preparar o homem para a divisão social do
trabalho capitalista, um ser unilateral e incompleto; 2) para verificar se a integração
curricular, que envolve trabalho, ciência e cultura, e é essencial para o desenvolvimento
humano omnilateral, se concretiza no ensino técnico de uma instituição brasileira, o (a) autor
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(a) toma como parâmetro o conceito de trabalho como princípio educativo em Marx e em
Gramsci, para quem o trabalho não se destina à preparação para o emprego, mas para o
desenvolvimento omnilateral, que garante a formação humana em todos os aspectos
relacionados à vida em sociedade. E o trabalho enquanto princípio educativo se realiza na
chamada Escola Unitária que, na concepção gramsciana, trata-se de uma escola que une o
trabalho intelectual e manual, tendo por objetivo a formação humana; 3) para evidenciar as
contribuições do ensino de filosofia no ensino técnico profissionalizante, o (a) autor (a) se
vale do segundo e terceiro livros para trazer a crítica marxiana ao trabalho alienado, isto é, à
concepção de trabalho como miséria, como desumanização e não como atividade produtiva,
auto-realizadora. Nesse sentido, destaca a abordagem da formação omnilateral do homem, a
partir da reunificação entre ciência e trabalho, além de apresentar a proposta gramsciana de
Escola Unitária, como elemento essencial para a autonomia intelectual e moral de
professores e alunos e a análise da importância da disciplina de Filosofia para a compreensão
e crítica da educação, no que se relaciona aos seus fundamentos pedagógicos,
epistemológicos e éticos e às suas implicações históricas, sociais, políticas e culturais; 4) ao se
deparar com a educação pelo e para o trabalho numa instituição para atendimento
educacional de crianças excepcionais na década de 1940, o segundo livro de Manacorda foi
fundamental para construir a síntese do significado daquela formação para as crianças
daquele contexto. A partir da perspectiva de Marx e Gramsci da relação entre educação e
trabalho, foi possível fazer uma análise crítica daquele processo, indicando os limites para a
formação, que se evidenciava fragmentada e unilateral; 5) na análise do projeto de escola
integral para o campo em um assentamento, o (a) autor se fundamenta no segundo livro de
Manacorda para evidencia a importância do trabalho como princípio educativo para o
desenvolvimento omnilateral do ser humano e rejeitar a ideia de uma escola diferenciada
para cada grupo social, defendendo a proposta gramsciana de uma escola única que
proporciona a todos os grupos sociais o acesso a todo o conhecimento produzido pela
sociedade.
Manacorda, fiel ao método do materialismo histórico dialético, buscou, em suas
elaborações, indicar as contradições da sociedade capitalista e apontar caminhos para a sua
superação. Analisar a educação a partir dos seus referenciais constitui-se em instrumento
importante para pensar alternativas para a escola contemporânea, tão distante da formação
omnilateral, contida nas reflexões do marxista italiano, à luz do pensamento de Marx e
Gramsci.
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Considerações Finais
As obras de Manacorda foram elaboradas a partir do rigor científico, por meio da
análise filológica e hermenêutica dos escritos de Marx e Gramsci, principalmente,
constituindo-se em referências importantes para os pesquisadores que buscam adotar o
método do materialismo histórico dialético nas suas pesquisas, atividades docentes e, também,
como visão/ação de/no mundo.
A chegada dessas obras no Brasil se dá a partir da década de 1980, com a vinda do
autor ao país, ministrando palestras em diferentes regiões. De lá para cá, se passaram 30
anos e suas obras permanecem presentes na realidade educacional brasileira, especialmente,
na área de fundamentos da educação. Entretanto, não é constante essa presença nas
elaborações de teses e dissertações, cuja incidência maior ocorre em determinadas
universidades federais, são elas: no Nordeste, a Universidade Federal do Ceará; no Sudeste, a
Universidade Federal de São Carlos e a Universidade Federal de Uberlândia, sendo que, nas
demais instituições, das duas regiões, essa presença é esparsa. Sendo que a difusão maior
incide sobre o primeiro livro (História da Educação: da antiguidade aos dias de hoje), o que
evidencia a necessidade de maior emprenho na disseminação dos outros escritos do autor.
A partir da análise de como os autores dos trabalhos de mestrado e doutorado
utilizaram os referenciais de Manacorda, conclui-se que seu arcabouço conceitual, construído
a partir da leitura rigorosa dos escritos de Marx e Gramsci, possibilita aos pesquisadores uma
perspectiva de análise histórica dos objetos de estudo, levando a relacionar o particular e o
geral, além de permitir uma análise crítica da sociedade capitalista, elucidando conceitos
chaves, como o de Escola Unitária, para a superação das contradições educacionais dessa
sociedade.
Num momento de crise do capitalismo, quando as contradições se apresentam mais
severas e a luta de classes se intensifica, os referenciais marxistas, sistematizados por
Manacorda, tornam-se necessários para um posicionamento crítico, fundamentando as ações
direcionadas para a superação dessas contradições.
Na continuidade desses estudos, pretende-se problematizar, de forma mais
aprofundada, as contribuições das obras de Manacorda para a pesquisa na área da Educação
no Brasil, com o intuito de justificar a ampliação da divulgação de seus escritos na nossa
realidade.
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Referências
MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação: da antiguidade aos dias atuais. Tradução de Gaetano Lo Monaco. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989. MANACORDA, Mario Alighiero. Humanismo de Marx e industrialismo de Gramsci. Curitiba: UFPR. Palestra proferida em 11/87. Mimeografado. MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia moderna. Tradução Newton Ramos de Oliveira. Campinas: Editora Alínea, 2007. MANACORDA, Mario Alighiero. O princípio educativo em Gramsci. Campinas: Editora Alínea, 2008. MANACORDA, Mario Alighiero. Reflexões sobre a história e educação: o século XX e as perspectivas para o futuro. In: LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval. Navegando pela história da educação brasileira: 20 anos de HISTEDBR. Campinas: Autores Associados, HISTEDBR, 2009. MARX, Karl. Instruções para os Delegados do Conselho Geral Provisório. As Diferentes Questões. Agosto de 1866. Texto eletrônico disponível em: [http://www.marxists.org/portugues/marx/1866/08/instrucoes.htm]. TRINDADE, Gestine Cassia; NOSELLA, Paolo; RAFANTE, Heulalia Charalo; GOMES, Marco Antonio Oliveira. O livro 'História da Educação: da antiguidade aos dias atuais', de Mario Alighiero Manacorda: difusão e influência no campo da História da Educação no Brasil. In: VIII Congresso Brasileiro de História da Educação, 2015, Maringá. VIII Congresso Brasileiro de História da Educação: matrizes interpretativas e internacionalização, 2015.