32

Marmita #001 Jun/2016

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Olá! Você tem em mãos a primeira edição da zine Marmita e é com muito prazer que lhe apresento essa nova peça do ambiente urbano! Sim, digo ambiente urbano porque a Marmita foi pensada para integrar a correria da cidade grande. O leitor encontrará nas páginas a seguir uma série de contos e pensamentos que transitam entre o literal, o lúdico e o surreal, condensadas nesse pequeno formato para que você esteja apto a carrega-lo para qualquer lugar bem como lê-lo nos ambientes mais hostis, como por exemplo, um ônibus ou trem lotado! Sendo assim, nada mais justo do que tratar nesse volume inicial o assunto das lotações e demais transportes públicos, que representam um papel importante no nosso cotidiano e que geram incontáveis histórias!

Citation preview

Page 1: Marmita #001 Jun/2016
Page 2: Marmita #001 Jun/2016

2

MARMITA’S PLAYLIST DEVORE

bom apetite!

Page 3: Marmita #001 Jun/2016

MARMITA’S PLAYLIST DEVORE

bom apetite!

Page 4: Marmita #001 Jun/2016

Olá! Você tem em mãos a primeira edição da zine Marmita e é com muito prazer que lhe apresento essa nova peça do ambiente urbano! Sim, digo ambiente urbano porque a Marmita foi pensada para integrar a correria da cidade grande. O leitor encontrará nas páginas a seguir uma série de contos e pensamentos que transitam entre o literal, o lúdico e o surreal, condensadas nesse pequeno formato para que você esteja apto a carrega-lo para qualquer lugar bem como lê-lo nos ambientes mais hostis, como por exemplo, um ônibus ou trem lotado! Sendo assim, nada mais justo do que tratar nesse volume inicial o assunto das lotações e demais transportes públicos, que representam um papel importante no nosso cotidiano e que geram incontáveis histórias!

O grande segredo para a variedade de sabores desta Marmita está no fato de que ela é preparada por seis pessoas: Danilo, Douglas, Victor, Kimberly, Marcela e Nicolle, cada qual adicionando seu toque pessoal na receita. E com essa mistura de diferentes experiências construímos uma zine muito mais envolvente em seu conteúdo para que você se identifique ao menos com algumas das histórias aqui presentes!

QUENTINHA COM MUITA MISTURA

MARMitaMARMita

1ª Edição • No Capricho • Junho 2016

QUEM PREPARA A MARMITA?

614

16

sumário10

18

8

20 232826

29

CAFÉ VICTOR ROSA No ponto! Pra você começar o dia!

PEQUENASFELICI- DADES

EU SABIAQUE ERA ELA

O PASSA-GEIRO DE AMARELO DOUGLAS DIMAS

MANADA

DESERTOR

MAIS RÁPIDO

RELANCE

GUER-REIRO

SE MOVA

OLHAR VICTOR ROSA

NICOLLE FAVACHO

DANILO GEBER

DOUGLAS DIMAS

D. GEBER & N. FAVACHO

DOUGLAS DIMAS

D. GEBER & N. FAVACHO

DANILO GEBER

MARCELA MOURA

Page 5: Marmita #001 Jun/2016

5

Olá! Você tem em mãos a primeira edição da zine Marmita e é com muito prazer que lhe apresento essa nova peça do ambiente urbano! Sim, digo ambiente urbano porque a Marmita foi pensada para integrar a correria da cidade grande. O leitor encontrará nas páginas a seguir uma série de contos e pensamentos que transitam entre o literal, o lúdico e o surreal, condensadas nesse pequeno formato para que você esteja apto a carrega-lo para qualquer lugar bem como lê-lo nos ambientes mais hostis, como por exemplo, um ônibus ou trem lotado! Sendo assim, nada mais justo do que tratar nesse volume inicial o assunto das lotações e demais transportes públicos, que representam um papel importante no nosso cotidiano e que geram incontáveis histórias!

O grande segredo para a variedade de sabores desta Marmita está no fato de que ela é preparada por seis pessoas: Danilo, Douglas, Victor, Kimberly, Marcela e Nicolle, cada qual adicionando seu toque pessoal na receita. E com essa mistura de diferentes experiências construímos uma zine muito mais envolvente em seu conteúdo para que você se identifique ao menos com algumas das histórias aqui presentes!

QUENTINHA COM MUITA MISTURA

MARMitaMARMita

1ª Edição • No Capricho • Junho 2016

QUEM PREPARA A MARMITA?

614

16

sumário10

18

8

20 232826

29

CAFÉ VICTOR ROSA No ponto! Pra você começar o dia!

PEQUENASFELICI- DADES

EU SABIAQUE ERA ELA

O PASSA-GEIRO DE AMARELO DOUGLAS DIMAS

MANADA

DESERTOR

MAIS RÁPIDO

RELANCE

GUER-REIRO

SE MOVA

OLHAR VICTOR ROSA

NICOLLE FAVACHO

DANILO GEBER

DOUGLAS DIMAS

D. GEBER & N. FAVACHO

DOUGLAS DIMAS

D. GEBER & N. FAVACHO

DANILO GEBER

MARCELA MOURA

Page 6: Marmita #001 Jun/2016

66

Page 7: Marmita #001 Jun/2016

Os doUtores encontraram certa quantidade de sangue no café que corre em minhas veias

Os doUtores encontraram certa quantidade de sangue no café que corre em minhas veias

7

Page 8: Marmita #001 Jun/2016

8

MAIS RÁPIDOTudo o que ela quer é que eu chegue em meu limite;A sanidade nao pode se extinguir;O suor há de evaporar sobre meu corpo quente;Fervendo da pressao do trabalho;Fervendo com a pressao do stress;Expele de ti isso tudo;A velocidade é um monstro;Cresce se alimentando da energia do meu movimento;Mais rápido, ela diz;Mais rápido, ela implora;Mais rápido;MAIS RÁPIDO!

Tudo o que ela quer é que eu chegue em meu limite;A sanidade nao pode se extinguir;O suor há de evaporar sobre meu corpo quente;Fervendo da pressao do trabalho;Fervendo com a pressao do stress;Expele de ti isso tudo;A velocidade é um monstro;Cresce se alimentando da energia do meu movimento;Mais rápido, ela diz;Mais rápido, ela implora;Mais rápido;MAIS RÁPIDO!

8

Page 9: Marmita #001 Jun/2016

9

MAIS RÁPIDO

9

Page 10: Marmita #001 Jun/2016

10

MANADA

MANADA

Page 11: Marmita #001 Jun/2016

11

MANADA

MANADA

Page 12: Marmita #001 Jun/2016

12

Abre os olhos... Já é hora.Se banha, se arruma, se apressa... Agora!Corre pra fila do rebanhomameluco, cafuzo... maluco, confuso.Se espreme no meio do sono, do stress, do abuso.Poe o mantra pra tocar no ouvido e faz uma reza.Se coloca no seu espaço de direito, comprado com suor da testa e do peito.Observa a impaciência da manada quando a carroça se move mais l e n ta Como quem acha que o tempo se move em funçao do salário que aumenta.

Olha a chuva que tá pra cair mais tarde, sorrateira, sem alarde.Desejo que fosse uma chuva de amor, que é pra pegar de surpresa essa gente manchada de dor.12

Page 13: Marmita #001 Jun/2016

13

Abre os olhos... Já é hora.Se banha, se arruma, se apressa... Agora!Corre pra fila do rebanhomameluco, cafuzo... maluco, confuso.Se espreme no meio do sono, do stress, do abuso.Poe o mantra pra tocar no ouvido e faz uma reza.Se coloca no seu espaço de direito, comprado com suor da testa e do peito.Observa a impaciência da manada quando a carroça se move mais l e n ta Como quem acha que o tempo se move em funçao do salário que aumenta.

Olha a chuva que tá pra cair mais tarde, sorrateira, sem alarde.Desejo que fosse uma chuva de amor, que é pra pegar de surpresa essa gente manchada de dor. 13

Page 14: Marmita #001 Jun/2016

14

arol

har

olha

rol

har

Ele não consegue respirar.

Aguardando o metrô chegar ao seu destino, entre diversos desconhecidos ele procura algum resquício de ar, quanto mais tenta respirar mais se sente sufocado. Preso, em uma prisão sem grades. O vagão não está lotado, a mesma quantidade de pessoas de sempre do fim do expediente. Estaria ele paranoico?

Todos os dias são assim, mesmo se mudar seu caminho este sentimento pesado não irá passar. Mas ele precisa enfrentar isso algum dia, ignorar os olhares que o perseguem, o medem, o julgam e outros poucos olhares que são somente olhares curiosos.

Já tentou uma vez fazer seu caminho de cabeça baixa, sem olhar para o alto e se desencontrar com a realidade. Já tentou, mas o sufoco é pior, como alguém que estivesse gritando no fundo escuro do oceano e não fosse ouvido.

A música é sua melhor amiga, ajuda para que sussurros não sejam ouvidos. Para que viva em seu próprio mundo de fantasia onde ele pode respirar livremente.

Cada dia um repertório, das mais diversas intensidades. Mesmo com a música tentando lhe iludir, os olhares continuam ali, cercando a si todo dia enquanto aguarda o seu destino.

Quem dera, pensava ele,

só houvessem os olhares curiosos.

14

Page 15: Marmita #001 Jun/2016

15

arol

har

olha

rol

har

Ele não consegue respirar.

Aguardando o metrô chegar ao seu destino, entre diversos desconhecidos ele procura algum resquício de ar, quanto mais tenta respirar mais se sente sufocado. Preso, em uma prisão sem grades. O vagão não está lotado, a mesma quantidade de pessoas de sempre do fim do expediente. Estaria ele paranoico?

Todos os dias são assim, mesmo se mudar seu caminho este sentimento pesado não irá passar. Mas ele precisa enfrentar isso algum dia, ignorar os olhares que o perseguem, o medem, o julgam e outros poucos olhares que são somente olhares curiosos.

Já tentou uma vez fazer seu caminho de cabeça baixa, sem olhar para o alto e se desencontrar com a realidade. Já tentou, mas o sufoco é pior, como alguém que estivesse gritando no fundo escuro do oceano e não fosse ouvido.

A música é sua melhor amiga, ajuda para que sussurros não sejam ouvidos. Para que viva em seu próprio mundo de fantasia onde ele pode respirar livremente.

Cada dia um repertório, das mais diversas intensidades. Mesmo com a música tentando lhe iludir, os olhares continuam ali, cercando a si todo dia enquanto aguarda o seu destino.

Quem dera, pensava ele,

só houvessem os olhares curiosos.

15

Page 16: Marmita #001 Jun/2016

16

SENTOU!Ao lado da janela,Aquela em que a luz so sol(insuportavelmente quente)não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.mas ainda tem tempo de sobra.Dia feito de pequenas felicidades.

PEQUENAS FELICIDADESPEQUENAS FELICIDADES

SENTOU!Ao lado da janelaAquela em que a luz do sol(insuportavelmente quente)não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.Dia feito de pequenas felicidades.

SENTOU!Ao lado da janelaAquela em que a luz do sol(insuportavelmente quente)não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.Dia feifeif to de pequenas felicidadefelicidadef s.

pequenas felicidadespequenas felicidades

16

Page 17: Marmita #001 Jun/2016

17

SENTOU!Ao lado da janela,Aquela em que a luz so sol(insuportavelmente quente)não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.mas ainda tem tempo de sobra.Dia feito de pequenas felicidades.

PEQUENAS FELICIDADESPEQUENAS FELICIDADES

SENTOU!Ao lado da janelaAquela em que a luz do sol(insuportavelmente quente)não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.Dia feito de pequenas felicidades.

SENTOU!Ao lado da janelaAquela em que a luz do sol(insuportavelmente quente)não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.Dia feifeif to de pequenas felicidadefelicidadef s.

pequenas felicidadespequenas felicidades

SENTOU!Ao lado da janela, Aquela em que a luz do sol,(insuportavelmente quente),não está batendo.Dez paradas até o destino,mas ainda tem tempo de sobra.Dia feito de pequenas felicidades.

17

Page 18: Marmita #001 Jun/2016

18

RELANCERELANCE Junho. Quarta-feira. 22h da noite. Ela voltava pra casa depois de um longo dia de trabalho e hora extra. Não conseguiu um lugar para sentar. Foi em pé, encostada na parede do trem. Em seus fones tocavam uma música qualquer, escolhida pelo aleatório da playlist do seu celular. O ar condicionado estava mais frio do que de costume. Dessa vez seu livro ficou intocado em sua mochila bem ao lado de sua marmita vazia. Nada parecia interessante o suficiente para prender a sua atenção naquela noite. Próxima estação. Um homem entra gesticulando e falando consigo mesmo. Em seguida, na porta seguinte, um rapaz esbelto cantando alto a música que está em sua cabeça. A loucura da cidade toma conta das pessoas de maneiras diversas e cada vez mais absurdas. Enquanto esses pensamentos tomavam conta de sua mente, um músico adentrou com seu violão e começou com um arpejo suave que ficava cada vez mais intenso com o passar do tempo. Ela observou a situação com indiferença. Só queria que essas portas fechassem logo para que nenhum outro personagem estranho dessa cidade entrasse no vagão. O sinal toca. As portas estão quase fechando.

18

Page 19: Marmita #001 Jun/2016

19

RELANCERELANCE Subitamente um vulto passa pelas portas semicerradas. Seu rápido movimento deixou para trás seu perfume suave. A pessoa para ofegante no meio do vagão e o trem começa a andar. É uma garota. Não muito alta, nem muito baixa. Cabelo aparado na nuca, franja acima das sobrancelhas expressivas, piercing no septo, tatuagem de flores no braço e um olhar que penetrou a nossa protagonista de uma maneira que jamais acontecera antes. O tempo parou no momento em que elas se olharam. Os ruídos minguaram e parecia que até mesmo o louco que discutia consigo mesmo parou em reverência àquele flerte mágico, momento esse que acontece a cada quatro luas cheias e atinge apenas duas pessoas de cada vez. These Foolish Things começou a tocar. O aleatório nunca fora tão certeiro. Próxima estação. Ela teve que ir… mas aqueles olhos de cigana a seguiram até que as portas voltassem a se fechar. É engraçado quantas histórias podem acabar em apenas alguns segundos. Essa estava apenas começando.

19

Page 20: Marmita #001 Jun/2016

20

ficou de pésempre olhando

em minha direçao

ao fundo do vagao

O Passageiro

de amarelode amarelo

Começou no metrô. O rapaz estranho entrou logo depois de mim quando as portas já estavam se fechando. Ficou de pé ao fundo do vagão sempre olhando em minha direção. Alto, o rosto pálido era quase uma máscara de gesso, segurava um livro que nunca folheava, mas o que mais chamava atenção eram suas roupas, trapos de um amarelo muito intenso. E eu era a única que parecia nota-lo.

Mas estávamos na estação Liberdade, no mesmo vagão tinha mais uns dois ou três garotos fantasiados e era assim que o pessoal se divertia por ali, a diversidade é uma coisa boa, e era uma das qualidades que me fazia amar São Paulo. Mas então vieram as baldeações, linha vermelha do metrô, linha rubi da CPTM e em cada uma dessas paradas, bem atrás de mim, lá estava o passageiro de amarelo e sempre entrava no mesmo vagão que eu.

Claro, tentei despistá-lo, desci algumas estações antes do meu ponto final, esperei alguns minutos e peguei outro trem, só para reencontrar com “meu perseguidor” uma estação á frente, rosto imutável, livro em mãos, aguardando o novo embarque. Aquilo não era coincidência eu estava sendo seguida, eu devia falar com alguém. Aonde se escondem esses seguranças quando precisamos deles? Eu realmente devia falar com alguém, qualquer um. Não o fiz!

20

Page 21: Marmita #001 Jun/2016

21

ficou de pésempre olhando

em minha direçao

ao fundo do vagao

O Passageiro

de amarelode amarelo

Começou no metrô. O rapaz estranho entrou logo depois de mim quando as portas já estavam se fechando. Ficou de pé ao fundo do vagão sempre olhando em minha direção. Alto, o rosto pálido era quase uma máscara de gesso, segurava um livro que nunca folheava, mas o que mais chamava atenção eram suas roupas, trapos de um amarelo muito intenso. E eu era a única que parecia nota-lo.

Mas estávamos na estação Liberdade, no mesmo vagão tinha mais uns dois ou três garotos fantasiados e era assim que o pessoal se divertia por ali, a diversidade é uma coisa boa, e era uma das qualidades que me fazia amar São Paulo. Mas então vieram as baldeações, linha vermelha do metrô, linha rubi da CPTM e em cada uma dessas paradas, bem atrás de mim, lá estava o passageiro de amarelo e sempre entrava no mesmo vagão que eu.

Claro, tentei despistá-lo, desci algumas estações antes do meu ponto final, esperei alguns minutos e peguei outro trem, só para reencontrar com “meu perseguidor” uma estação á frente, rosto imutável, livro em mãos, aguardando o novo embarque. Aquilo não era coincidência eu estava sendo seguida, eu devia falar com alguém. Aonde se escondem esses seguranças quando precisamos deles? Eu realmente devia falar com alguém, qualquer um. Não o fiz!

21

Page 22: Marmita #001 Jun/2016

22

22

O ser não fazia nada além de me olhar, seguia com os olhos e até torcia o pescoço se necessário fosse, primeiro se manteve a distância, mas a cada troca de condução se aproximava um pouco mais. Ao sair do trem, corri o mais rápido que pude para o ponto de ônibus e alcancei um que já estava para partir. Nem olhei para onde ia, só queria me ver longe dali, daquele indivíduo. O ônibus estava lotado, mas não achei ruim dessa vez, com esforço passei pela catraca e me posicionei entre um grupo de pessoas que provavelmente voltavam do trabalho para casa e se acotovelavam em busca de maior espaço. Minutos depois, o ônibus freia abre as portas e a maioria dos passageiros desce. À medida que o ônibus se esvazia sinto um olhar me perscrutando. Ele estava logo a minha frente e eu não o vi, com todo o seu tamanho e roupas espalhafatosas ele conseguiu esconder sua presença, mas eu já estava farta, ia enlouquecer se não fizesse nada, enchi os pulmões de ar e fui tirar satisfações.

ele estavae eu nao o vi

logo a minha frente

Mil ofensas morreram em minha garganta quando o Estranho, seguindo o fluxo desceu do ônibus também. Uma eternidade parecia haver se passado e então o ônibus retomou a jornada. Voltei a mim e sentei em um dos bancos que haviam liberado e só então percebi em minhas mãos o livro que em outra ocasião estivera com o passageiro de amarelo.

22

Page 23: Marmita #001 Jun/2016

23

O ser não fazia nada além de me olhar, seguia com os olhos e até torcia o pescoço se necessário fosse, primeiro se manteve a distância, mas a cada troca de condução se aproximava um pouco mais. Ao sair do trem, corri o mais rápido que pude para o ponto de ônibus e alcancei um que já estava para partir. Nem olhei para onde ia, só queria me ver longe dali, daquele indivíduo. O ônibus estava lotado, mas não achei ruim dessa vez, com esforço passei pela catraca e me posicionei entre um grupo de pessoas que provavelmente voltavam do trabalho para casa e se acotovelavam em busca de maior espaço. Minutos depois, o ônibus freia abre as portas e a maioria dos passageiros desce. À medida que o ônibus se esvazia sinto um olhar me perscrutando. Ele estava logo a minha frente e eu não o vi, com todo o seu tamanho e roupas espalhafatosas ele conseguiu esconder sua presença, mas eu já estava farta, ia enlouquecer se não fizesse nada, enchi os pulmões de ar e fui tirar satisfações.

ele estavae eu nao o vi

logo a minha frente

Mil ofensas morreram em minha garganta quando o Estranho, seguindo o fluxo desceu do ônibus também. Uma eternidade parecia haver se passado e então o ônibus retomou a jornada. Voltei a mim e sentei em um dos bancos que haviam liberado e só então percebi em minhas mãos o livro que em outra ocasião estivera com o passageiro de amarelo.

GUER-

RE IRO23

Page 24: Marmita #001 Jun/2016

Enquanto os ônibus seguem rapidamente através do corredor expresso que cortam as principais vias da cidade a única coisa que te importa é o mundo de letras que segura em suas mãos. O vento sopra conforme os veículos passam e o sinal luminoso alerta que o próximo a caminho é o seu. Levanta a mão em sinal para que o motorista pare, as portas se abrem e você se vê entrando em uma caverna estreita.

Ainda com espaço suficiente para passar, você usa de caminhos sinuosos, molhados e por vezes com cheiros insuportáveis para ir cada vez mais ao fundo. De repente um tremor abala e eis que surgem pessoas lhe empurrando. Mas logo a caverna volta.

Uma clareira em meio as rochas, o caminho se abre, um alivio repentino para o sufoco que lhe deixava claustrofóbico é notado, porém, dura apenas alguns segundos, logo as paredes se fecham novamente.

A luz que incide no ponto exato ilumina a armadura e o ajuda a avançar mais facilmente por essa jornada. Em certos momentos, parado entre as rochas ouve vozes, conversas de pessoas que muitas vezes não significam nada para você e outras que premeditam um novo foco radiante no breu.

Outro tremor, mas dessa vez um senhor cai no chão, uma pilha de rochas a ajuda a se levantar. A saída esta próxima, o sol bate e as rochas caindo nos levam para fora, o molhado vira suor e as rochas pessoas...

...cheguei ao meu destino.

A VIAGEM CONTINUA DENTRO DA ESCURIDAO DA CAVERNA.

24

Page 25: Marmita #001 Jun/2016

25

25

25

Page 26: Marmita #001 Jun/2016

26

“‘O jantar estava ótimo’, ela dizia.

A chuva caia há alguns minutos. A cidade inteira já estava molhada, mas quem liga para isso quando se tem uma companhia que emana calor de si?

As luzes na cidade iluminavam o caminho de volta pra casa e apesar do vento gelado que nos cercava nesse fim de noite nada disso importava.

O braço dela quente junto ao meu. Nossos sobretudos nos defendiam da chuva e do vento. Tudo o que importava mesmo era o calor que vinha dela.

Seus olhos tão grandes de encontro ao meu. Castanhos. Seu cabelo preto e sua pele morena... Tudo nela era lindo demais! E sua voz... Ah! A sua voz! Era como se estivéssemos conversando através de música, uma linda melodia.

Um jazz tocava ao fundo em um bar próximo a nós. O piano e o saxofone em uma sincronia incrível guiavam nosso caminho.

Seus lábios me hipnotizavam e o jeito que seus olhos sorriam quando ela sorria, timidamente, de uma maneira que me cativava, me elevaram a tal ponto que eu não percebi o tempo passar.

Poderia ficar ali por horas.

Chegamos a casa dela. Teria que deixá-la ali, mas eu não quero. Não quero perder aquele calor. Não quero perder aquela mulher.

Despedida. Ficamos cara a cara, sinto a respiração quente dela perto do meu rosto. O jazz acelera atrás de nós, a música ganha corpo e chega em seu clímax, como se soubessem o que ia acontecer.

Era molhado, mas ao contrário da chuva gelada que caía sobre nós, era quente. Seu sabor, seu cheiro, seu toque... Meus sentidos se aguçaram. Não sentia mais nada além dela. O mundo ficou vazio e tudo o que sobrara fora o som abafado do jazz e da chuva,

enquanto dentro de mim e em meio aquele beijo... Todos os sentidos explodindo!

É ela, eu sabia que era.

Sim! COM CERTEZA é ela.”

Bati minha cara no banco da frente.

O ônibus para bruscamente e eu acordo do meu devaneio. A chuva bate forte contra a janela e o frio invade o veículo, mesmo com todas as janelas fechadas.

Mas volto meus olhos para a janela novamente, e ela ainda está lá.Decido descer naquele ponto e oferecer meu guarda-chuva a ela.

Uma banda de jazz tocava em frente ao Conjunto Nacional.

Seus olhos encontram os meus. Castanhos. Ofereço o guarda-chuva e a companhia, e ela sorri da mesma maneira que em meu devaneio, colocando uma mecha de cabelo úmido atrás da orelha.

Eu conseguia sentir o calor que emanava dela.

Era ela. Eu sabia que era ela.

eu sabiaque era elaeu sabiaque era ela

26

Page 27: Marmita #001 Jun/2016

27

“‘O jantar estava ótimo’, ela dizia.

A chuva caia há alguns minutos. A cidade inteira já estava molhada, mas quem liga para isso quando se tem uma companhia que emana calor de si?

As luzes na cidade iluminavam o caminho de volta pra casa e apesar do vento gelado que nos cercava nesse fim de noite nada disso importava.

O braço dela quente junto ao meu. Nossos sobretudos nos defendiam da chuva e do vento. Tudo o que importava mesmo era o calor que vinha dela.

Seus olhos tão grandes de encontro ao meu. Castanhos. Seu cabelo preto e sua pele morena... Tudo nela era lindo demais! E sua voz... Ah! A sua voz! Era como se estivéssemos conversando através de música, uma linda melodia.

Um jazz tocava ao fundo em um bar próximo a nós. O piano e o saxofone em uma sincronia incrível guiavam nosso caminho.

Seus lábios me hipnotizavam e o jeito que seus olhos sorriam quando ela sorria, timidamente, de uma maneira que me cativava, me elevaram a tal ponto que eu não percebi o tempo passar.

Poderia ficar ali por horas.

Chegamos a casa dela. Teria que deixá-la ali, mas eu não quero. Não quero perder aquele calor. Não quero perder aquela mulher.

Despedida. Ficamos cara a cara, sinto a respiração quente dela perto do meu rosto. O jazz acelera atrás de nós, a música ganha corpo e chega em seu clímax, como se soubessem o que ia acontecer.

Era molhado, mas ao contrário da chuva gelada que caía sobre nós, era quente. Seu sabor, seu cheiro, seu toque... Meus sentidos se aguçaram. Não sentia mais nada além dela. O mundo ficou vazio e tudo o que sobrara fora o som abafado do jazz e da chuva,

enquanto dentro de mim e em meio aquele beijo... Todos os sentidos explodindo!

É ela, eu sabia que era.

Sim! COM CERTEZA é ela.”

Bati minha cara no banco da frente.

O ônibus para bruscamente e eu acordo do meu devaneio. A chuva bate forte contra a janela e o frio invade o veículo, mesmo com todas as janelas fechadas.

Mas volto meus olhos para a janela novamente, e ela ainda está lá.Decido descer naquele ponto e oferecer meu guarda-chuva a ela.

Uma banda de jazz tocava em frente ao Conjunto Nacional.

Seus olhos encontram os meus. Castanhos. Ofereço o guarda-chuva e a companhia, e ela sorri da mesma maneira que em meu devaneio, colocando uma mecha de cabelo úmido atrás da orelha.

Eu conseguia sentir o calor que emanava dela.

Era ela. Eu sabia que era ela.

eu sabiaque era elaeu sabiaque era ela

27

Page 28: Marmita #001 Jun/2016

28

Hoje decidi fugir,Desistir da batalha.O inimigo insiste em nossa contenda,Profere coisas obscenas,Tenta me arrastar de volta a arena.Mas já estou longe!

desertor

Hoje decidi fugir,Desistir da batalha.O inimigo insiste em nossa contenda,Profere coisas obscenas,Tenta me arrastar de volta a arena.Mas já estou longe!

desertor

28

F L U IA CIDADE SE MOVESE MOVASE MOVA

MENOS VOCÊMENOS VOCÊAS LUZES SE MOVEM . TUDO SE MOVEMESMO ASSIM A CIDADE SE MOVEMAIS NINGUÉM NAS RUASO ÚLTIMO TREM SE MOVES I L Ê N C I ONO SUBTERRÂNEO . SEGUE TEU CAMINHOL I G E I R OAS RUAS CORTAM A CIDADECOMO UM RIO CORTA FLORESTAS

Page 29: Marmita #001 Jun/2016

29

F L U IA CIDADE SE MOVESE MOVASE MOVA

MENOS VOCÊMENOS VOCÊAS LUZES SE MOVEM . TUDO SE MOVEMESMO ASSIM A CIDADE SE MOVEMAIS NINGUÉM NAS RUASO ÚLTIMO TREM SE MOVES I L Ê N C I ONO SUBTERRÂNEO . SEGUE TEU CAMINHOL I G E I R OAS RUAS CORTAM A CIDADECOMO UM RIO CORTA FLORESTAS

Page 30: Marmita #001 Jun/2016

BUUUURP!Projeto gráfico por Danilo Geber, Douglas Dimas,

João Victor Rosa, Kimberly Oliveira, Marcela Moura e Nicolle Favacho, utilizando as fontes tipográficas Effra (corpo de texto) e Benito (títulos). Impresso sobre papel

reciclato 120g/m2 , em São Paulo na Alpha Graphics Marmita - Mistura & Cultura, 2016.

MARMITA’S PLAYLIST DEVORE

bom apetite!

Page 31: Marmita #001 Jun/2016

31

BUUUURP!MARMITA’S PLAYLIST DEVORE

bom apetite!NOSSA MARMITINHA NO ISSU

Page 32: Marmita #001 Jun/2016

32