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Novembro 2013 Número 119 Ano X Tiragem 3.000 exemplares www. jornalmartimpescador.com.br TIME DO CAMARÃO Mestre Orlando, o Xodó (segundo à direita) e a tripulação do camaroeiro Jambo se preparam para partir em mais uma viagem. Págs. 4 e 5 No Yacht Club Ilhabela as crianças aprendem a praticar o pesque e solte. Pág. 6 Pescadores artesanais discutem Plano de Manejo das Apas Marinhas. Pág. 2 Em Ilhabela, os pescadores Daniel e Patrícia ensinam os filhos a pescar desde pequenos. Pág. 8 A poeta Regina Alonso lança o livro Haicai no Bentô em Santos. Pág. 7

Martim 119

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Novembro 2013Número 119

Ano X

Tiragem 3.000exemplares

www. jornalmartimpescador.com.br

Time do cAmArãomestre orlando, o Xodó (segundo à direita) e a tripulação do camaroeiro Jambo se preparam para partir em mais uma viagem. Págs. 4 e 5

No Yacht club ilhabela as crianças aprendem a praticar o pesque e solte. Pág. 6Pescadores artesanais discutem Plano de manejo das Apas marinhas. Pág. 2

em ilhabela, os pescadores daniel e Patrícia ensinam os filhos a pescar desde pequenos. Pág. 8

A poeta regina Alonsolança o livro Haicai no

Bentô em Santos. Pág. 7

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Novembro 20132

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral: Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

APAS mAriNHASTrês áreas de proteção ambiental (APAS) marinhas

foram criadas em outubro de 2008 a partir de decretos as-sinados pelo governador José Serra (PSDB). O objetivo é disciplinar o uso de recursos ambientais, ordenar a pesca, o turismo recreativo e as atividades de pesquisa. Cada uma das três unidades de conservação tem seu próprio conselho

gestor, composto por 12 representantes do governo e 12 da sociedade civil. Desde sua criação em março, as reuniões têm sido mensais para debater temas relacionados a or-denamento pesqueiro, programas de educação ambiental, pesquisa, proteção e fiscalização. Além dos conselhos foram criadas Câmaras Temáticas nas áreas de Pesca, Planeja-

mento & Pesquisa, e Educação & Comunicação.As APAS pertencem ao grupo de Unidades de Uso Susten-

tável do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Além das três APAS Marinhas também foi criado o Mosaico das Ilhas e Áreas Protegidas que reúne as três novas unidades de conservação e outras já existentes.

defesosCaranguejo-uçá (Ucides cordatus) 01/10 a 30/11 (machos e fêmeas) 01/12 a 31/12 (fêmeas)

Caranguejo guaiamum (Cardisoma guanhumi) 01/10 a 31/03Mexilhão (Perna perna) 01/09 a 31/12

Sardinha (Sardinella brasiliensis)-15/06 a 31/07/12 - 01/11/12 a 15/02/13Piracema na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (IN 25 do Ibama) de 1/11/2012 a 28/02/2013

Proteção à reprodução natural dos peixes, nas áreas de abrangência das bacias hidrográficas do Sudeste (IN 195) de 1/11/12 a 28/02/13

moratóriasCherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015

Mero (Epinephelus itajara) 16/10/2012 a 16/10/2015

Troca da carteira de pescador artesanal:-A partir da data de seu aniversário você tem 30 (trinta) dias para solicitar

a troca de sua carteira de pescador (RGP-Registro Geral de Pesca).-Procure a Colônia de Pescadores mais próxima, ou o escritório

do Ministério de Pesca Aquicultura-MPA para mais informações.-Se perder o prazo, deve comparecer ao escritório do MPA para fazer o registro.

Se até 60 (sessenta dias) após a data de seu aniversário a solicitação de troca de carteira não tiver sido feita, sua licença ficará suspensa por 2 (dois) anos.

Mais informações no escritório do MPA em Santos: (13) 3261.3278/ ou em São Paulo: (011) 3541-1380 ou 3541-1383.

Artesanais discutem plano de manejo

pescado será sentida na próxima safra. Houve também queixas sobre a proibição da pesca de arrasto motorizado até 800 metros da linha de praia ou do costão rochoso na APAMLC, feita com Decreto nº 58.996, de 25 de março de 2013, que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor da Baixada Santista. Na região de Peruíbe o problema é mais sentido, pois confronta com a proibição de pesca no entorno de mil metros da Ilha Tupiniquins, deixando uma estreita área de atuação. Ao final foram eleitos dois suplentes, os pescadores Paulo Magassy e Paulo Sérgio Graça, para complemen-tar a lista de 18 representantes da pesca artesanal para as próximas reuniões. Em novembro ainda acontecem mais duas oficinas de diagnóstico. Dia 19, com o segmento 3, representado por órgãos públicos,instituições de ensino e pesquisa, ONGs ambientalistas, entre outros. Dia 21 acontece oficina com o segmento 2, com representantes da pesca industrial e amadora, aquicultura, entre outros. Estão programadas mais quatro reuniões, duas de zoneamento e duas de gestão. Ao final, o resultado será levado para votação no Conselho gestor da APAMLC. Além dos 20 representantes da categoria podem participar outros in-teressados, pois as reuniões das oficinas e do conselho gestor são abertas.

O Parque Estadual Marinho Laje de Santos, criado através do Decreto 37.537 de 27 de setembro de 1993, promoverá o 2° Concurso Fotográfico com o tema “20 anos de criação do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos – 1993 – 2013”, A iniciativa faz parte das comemorações e tem a finalidade de estimular a produção fotográfica e incentivar as artes, convocando fotógrafos – profissionais, amadores e iniciantes. O concurso se divide em três categorias: foto subaquática – macro, foto subaquática - grande angular, foto em superfície. A premiação será composta de: uma medalha, um exemplar do Livro “Laje de Santos, Laje dos Sonhos” e um exemplar do documentário em DVD “Laje de Santos, Laje dos Sonhos”. O interessado em participar do 2º Concurso Fotográfico do Parque Estadual Marinho Laje de Santos deverá enviar nome, e-mail e telefone para o e-mail do PEMLS ([email protected]) até o dia 27 de janeiro de 2014, solicitando ficha de inscrição do Concurso. Mais informações em http://fflorestal.sp.gov.br/2013/10/31/2-concurso-fotografico-20-anos-de-criacao-do-parque-estadual-marinho-laje-de-santos-1993-2013/

Como fica a pesca com o Decreto nº 58.996, de 25 de março de 2013, que dispõe sobre o

Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor da Baixada Santista. ZONAS MARINHASZ2M: até aproximadamente 7 km da costa (média de distância da isóbata de 15 metros) - permitido embarcações de até 12 metros;Z3M: a partir da Z2M – embarcações acima de 12 metros (embarcações menores podem atuardesde que obedecendo a autonomia de navegação das mesmas);Z2ME e Z3ME: até 800 metros da costa - proibido arrasto motorizado.

Concurso fotográficosobre a Laje de Santos

Cerca de 60 pescadores artesanais e demais pessoas ligadas a essa atividade estiveram presentes durante as discus-sões da segunda rodada das oficinas de diagnóstico participativo da Apa Marinha Litoral Centro. A reunião aconteceu dia 18 de novembro no auditório do Hotel Atlântico em Santos, para dar base ao Plano de Manejo da área. Foram discuti-dos os principais problemas enfrentados pela categoria na área da APAMLC que vai de Peruíbe a Bertioga (com exceção da Baía de Santos), e também as poten-cialidades para o bom desenvolvimento da atividade da pesca artesanal na área. No início da reunião, o pescador Paulo Magassy fez um pronunciamento a respeito de vários problemas que afe-tam a pesca, enfatizando os impactos ambientais causados pela dragagem. A seguir os participantes se dividiram em três oficinas de diagnóstico: pesca de arrasto, emalhe e diversificada costeira. Alguns dos problemas levantados nas oficinas incluíam: interferência de bar-cos de turismo, poluição dos emissários submarinos, conflito com a pesca in-dustrial e amadora, dragagem, pesquisa, prospecção de petróleo, poluição no manguezal, lixo e esgoto proveniente da urbanização, poluição no cais. Dentre as potencialidades a serem desenvolvidas foram citados a presença do manguezal, presença de comércio local e de turistas

que absorvem a produção do pescado, aquicultura, criação de centro de re-ferência para capacitação, formação e desenvolvimento de projetos de pesca, criação de centro de beneficiamento de pescado e fábrica de gelo, formação de monitores ambientais locais. Ao final das oficinas segmentadas, todos voltaram a se reunir para considerações finais. Nesse momento alguns pescadores ainda expressaram outros problemas. Os profissionais de arrasto de camarão disseram que este foi o pior ano para a categoria e se mostraram preocupados com os efeitos negativos do incêndio nos armazéns do Terminal Açucareiro Copersucar, no Porto de Santos, que causou grande mortandade de pescado. Como o camarão morto não flutua, dizem que será difícil avaliar a extensão da perda, e como o camarão-branco de-sova no estuário nesta época a falta deste

Pescadores artesanais discutem Plano de Manejo

Pescadores de Bertioga, Marildo e Oscar, exibem painel com resultado das discussões

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Incêndio no Terminal Açucareiro da Copersucar causa mortandade de toneladas de peixes

o gosto amargo do açúcar

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Uma série de profissionais, totalizando 12 pessoas, foram homenageados no último dia 12 de novembro pelos 30 anos da reinstalação da Comarca de Cananeia. Entre eles, o advogado Roberto Pugliese, o primeiro a protoco-lar processo no local, o juiz de Direito Jesus de Nazareth Lofrano, atual desembargador aposentado, Drª Fernanda Franco Bueno Cáceres, magistrada atual, e os advogados Dr. Boanerges Prado Vianna e Dr. Antonio Severino dos Santos. A solenidade foi realizada no restaurante Samba-qui, no centro de Cananeia, às 20h, e reconheceu o mérito daqueles que trouxeram de volta à cidade uma das mais antigas comarcas do estado de São Paulo.

Instalada em 1892, a Comarca de Cananeia foi extinta em 27 de agosto de 1969, quando foi incorporada à Comarca de Jacupiranga. Como a insatisfação foi geral, lideranças locais a procurarem soluções para sua volta, realizando um trabalho incessante envolvendo representantes de diversas áreas, cor-rentes e interesses. Enfim, o Tribunal de Justiça de São Paulo, à época presidido pelo desembargador Acácio Rebouças, incluiu em discussão na Assembleia Legislativa a proposta da reinstalação da Comarca em seu local de origem, o que acabou ocorrendo em 12 de novembro de 1983.

Líderes das comunidades de pesca prejudicadas com o acidente procu-raram o Ministério Público do Meio Ambiente de Santos para tentar obter ressarcimento dos prejuízos trazidos pela mortandade de peixes. Dia 14 de novembro, o promotor da justiça Dr. Daury de Paula Júnior, recebeu na Diretoria da Regional do Ministério Público do Meio Ambiente comitiva composta pelo presidente da Federa-ção de Pescadores, Tsuneo Okida, pre-sidente da Colônia Z-3 de Vicente de Carvalho, Edson dos Santos Cláudio, pescador Rubens de Morais da Z-3 e o pesquisador científico do Instituto de Pesca de Santos, Alberto Amorim. Segundo relato do pescador, o cenário de mortandade atingiu a área entre Monte Cabrão, o terminal da Petrobras na Alemoa e a boca da barra de Santos. Também existe preocupação com o reflexo do acidente em três outras espécies presentes no estuário que são os camarões-brancos, os caranguejos e os mariscos bico-de-ouro. O primeiro está em período de desova, assim a próxima safra poderá ter sido afetada.

Os caranguejos e mariscos podem ter morrido, mas permanecido em seu hábitat natural, não sendo possível visualizá-los e contabilizar a quan-tidade que morreu. Segundo o pa-recer técnico da Secretaria do Meio Ambiente do Guarujá, em razão do acidente o oxigênio dissolvido em águas estuarinas chegou a zero o que certamente causou a mortandade do pescado por asfixia. Serão agen-dadas reuniões com a Copersucar, CETESB, Ibama, Instituto de Pesca, Secretaria do Meio Ambiente de Santos e de Guarujá, para avaliar a extensão do acidente e discutir como os pescadores poderão ser ressarcidos do prejuízo.

Lideres se reúnem com Ministério da PescaNo dia 24 de outubro, Edson

dos Santos Claudio também esteve reunido com o deputado Sebastião Santos (PRB), membro da Frente Parlamentar de Pesca e Aquicultura e o superintendente do Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA, Marcos

Alves Pereira para discutir o pro-blema. “Na próxima semana vou apresentar o problema à comissão e à frente parlamentar e formaremos um grupo de estudos para apurar os danos ao ecossistema local”, assegu-rou o deputado. O superintendente do MPA prometeu levar informações e as dificuldades da região para o ministro Marcelo Crivella, para a tomada de uma posição emergen-cial. No entanto, até o momento o presidente da Z-3 não foi comuni-cado de nenhuma ação posterior do Ministério da Pesca ou da Frente Parlamentar relativa ao caso.

Profissionais do Direito são homenageados em cananeia

Homenageados em noite de comemoração

O incêndio ocorrido no Terminal Açucareiro da Copersucar (TAC) dia 18 de outubro foi considerado o pior da história do Porto de Santos. Seis armazéns, usados como principais instalações de exportação de açúcar foram destruídos atingindo 180 mil toneladas do produto que é inflamável. Além disso, havia nos galpões ao menos dois tanques de óleo hidráulico, que também foram atingidos. O açúcar derretido que caiu no estuário consumiu o oxigênio da água matando toneladas de peixes por asfixia. Foram observados peixes mortos desde o cais santista, chegando a Guarujá e Monte Cabrão. Segundo o pescador Jair Amo-rim, associado da Colônia Z-3 de Vicente de Carvalho, em 40 anos de pesca nunca viu uma mortandade tão grande. Ele contou que chegou a navegar mais de 18 quilômetros e encontrou no mar muitos peixes mortos, entre eles mais de 50 meros, espécie ameaçada de extinção.

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Novembro 20134

Coluna

OuvIDORIA EMBRAPORt: 0800 362-7276

[email protected] www.terminalembraport.com.br

embraport promove ação especial para caminhoneiros

Entre os dias 4 e 8 de no-vembro, a Embraport promoveu a campanha Motorista Legal, ação voltada aos caminhoneiros que acessam o terminal. Mais de 300 deles participaram das atividades, que incluíam servi-ços de saúde e bem-estar, além de reforçar as boas práticas de segurança que devem ser seguidas na empresa.

“Com essa iniciativa, des-tacamos a importância de uma conduta responsável dentro do terminal, além de proporcionar aos caminhoneiros momentos de cuidados com a saúde”, ex-plica Luis Turbides, diretor de Operações da Embraport.

Durante toda a semana, os motoristas que chegaram para descarregar ou retirar cargas assistiram a uma palestra sobre a importância da segurança dentro da Embraport, com re-gras que devem ser praticadas. Em seguida, eles puderam fazer testes de colesterol, glicemia, visão, checar a pressão arterial e cortar o cabelo gratuitamente.

Ao final, todos participa-ram de um quiz sobre segurança, concorrendo a prêmios ofereci-dos em parceria com a DPaschoal (alinhamento, balanceamento e check-up suspensão) e recebe-ram ainda um folheto com dicas de segurança.

A iniciativa “motorista Legal” ofereceu serviços de saúde e bem-estar aos motoristas

Mestre de barco camaroneiro conta sua experiência de

40 anos na pesca

Mestre Orlando, uma vida no mar

Marione Maria da Silva é a proprietária do Jambo

Claudemir Salles dos Santos, o

Satanás, ajuda a tirar lixo que se

enrosca na hélice

Valério da Silva Filho faz a comida com sabor catarinense

Francisco das Chagas Vieira

Pinto é o contra-mestre

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Novembro 2013 55

O rlando Laurenço, o Xodó, 58 anos, sorri ao lembrar que passou tão mal em sua primeira viagem ao mar que até pensou em nunca mais embarcar. Ao chegar a Santos em janeiro de 1973 sua experiência de trabalho era na olaria em Camboriu, Santa Catarina, sua terra natal. Vida dura carregando telhas e argila desde os 13 anos de idade. Depois da primeira viagem de duas semanas em um

barco de pesca de camarão-sete-barbas, quis voltar para a terra natal, mas, sem dinheiro, acabou embarcando de novo. “Foi para minha sorte”, conclui Orlando, pois naquele momento iniciava sua longa carreira na pesca. Nessa longa jornada, um companheiro de trabalho, Vavá, lhe deu apelido de Xodó, pois Orlando vivia a cantar a música composta por Luiz Gonzaga. Em sua segunda viagem, na embarcação Multi I, também de camarão-sete-barbas, da Companhia Multipesca, de Bertioga, teve mais sorte. Já como contra-mestre e gelador, acostumou-se ao balanço do mar e ao cheiro de óleo diesel, e não enjoou mais. “Como contra-mestre eu remendava as redes, emendava cabos de aço e fazia as coisas do dia a dia, e como gelador cuidava do pescado no porão”, lembra-se. Depois foi trabalhar no Icaraí I em final de 73 até outubro de 74, e com o dono da companhia, Alberto José da Silva, já falecido, aprendeu quase tudo que sabe hoje. “Seu Alberto foi a minha formação na pesca, muita disciplina, aprendi quase tudo com ele, chegada e saída do barco tinha que ter pontualidade”, conta. Viajou para Itajai para trabalhar numa traineira de sardinha, mas em julho de 75 estava de volta a Santos. Embarcou no Icaraí II, da empresa de Alberto José da Silva, hoje dirigida pelas filhas Marione Maria e Marlene. Hoje é mestre do Jambo, barco de pesca de camarão-rosa da mesma companhia. Seus companheiros são Antonio da Silva, motorista (responsável pelo motor), Valério da Silva Filho, cozinheiro, Francisco das Chagas Vieira Pinto, contra-mestre e Natanael Pereira da Silva, gelador. Xodó e o cozinheiro são catarinenses, e os outros maranhenses. No cais, às vezes contam com a ajuda de Claudemir Salles dos Santos, o Satanás, mergulhador de fôlego, que tira todo tipo de lixo que às vezes se prende à hélice, como redes, cabos de aço e até pedaços de pano de sofás. “Só venho quando sou chamado”, explica Satanás, que ganhou o apelido ainda criança “porque bagunçava muito”.

Na última viagem o barco ficou 44 dias no mar, e após cerca de uma semana para descarregar o camarão, abastecer e se preparar, saíram para o mar dia 12 novembro. “Agora voltamos só na véspera do Natal”, explica Xodó, época boa para vender o pescado. O barco é frigorífico e mantém o pescado a -20 graus centígrados, o que garante a sua qualidade. O local de pesca varia na região sul sudeste até o Rio Grande do Sul. Largam rede às 6 h da tarde e recolhem às 10h da noite. O barco pode trazer de 2 a 6 toneladas por viagem, no final do ano geralmente vem menos. Comem muito peixe fresco que vem na rede com o camarão na viagem. “Difícil comer camarão”, conta Xodó. “É como trabalhar na fábrica de bala, enjoa”. Gosta mesmo da comida feita pelo cozinheiro Valério, natural de Joinville. Como bom catarinense o feijão pode vir com diferentes legumes e verduras, como repolho, chuchu, abóbora, e ainda lingüiça, toucinho e carne seca. Gosta do bom peixe à moda catarinense com colorau. A esposa, dona Hega, nascida em Camboriu, também cozinha à moda catarinense e é especialista no preparo de frutos do mar. Casados desde 1979, tiveram duas fi-lhas, Camila , 32 anos e Suelen, 26. Lembra-se da dificuldade de comunicação dos tempos de namoro, quando dona Hega ainda morava em Camboriu e ele em Santos. Como pouca gente tinha telefone, o jeito mais fácil que os pescadores tinham para se comunicar era através do programa de Eduardo Maccheri, Pesca é Notícia, na Radio Clube de Santos. Os pescadores enviavam as mensagens e o Eduardo lia no programa, avisando quando o barco ia chegar, ou quando o pescador iria depositar dinheiro para a família que estava longe, entre outras coisas.

Xodó está aposentado há 14 anos, mas jura que não larga dessa vida. “Me dou bem no mar, aqui é saúde”. “Não tem lugar mais seguro que o mar, aqui vivo tranquilo”, acrescenta. Apesar de ter enfrentado grandes tempestades em toda sua vida no mar, é lá que se sente seguro. “O barco é firme e grande”, conta referindo-se à embarcação de 22 metros de comprimento e 6,15 metros de lar-gura. “Estou aqui porque gosto”, conclui o pescador que construiu seu segundo lar nas ondas do mar.

Mestre Orlando, uma vida no mar

Orlando Laurenço é o mestre do camaroneiro Jambo

Natanael Pereira da Silva cuida do pescado no porão

Antonio da Silva cuida do motor

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Novembro 20136

Pesque e solte em ilhabela

Um torneio infantil de pesque e solte agitou o fim de semana no Yacht Club Ilhabela-YCI dia 16 de novembro. Cerca de 50 crianças, de 2 a 12 anos de idade participaram. No mesmo dia, o campeo-nato de adultos tinha continuidade com a primeira etapa do Torneio de Pesca Oceâ-nica Marque e Solte do YCI 2013-2014. As lanchas navegam mais de 70 milhas (cerca de 130 km) em busca dos grandes peixes de oceano. Os mais imponentes são os peixes-de-bico, marlim-azul, que chega a mais de 800 quilos, o marlim-branco 100 e o sailfish 50 quilos. A tem-porada de pesca oceânica teve início dia 9 de novembro com o 1º Torneio de Marlim Azul Marque e Solte do YCI 2013. A equipe da lancha Strike, do comandante Andres Morales, com o pescador Alex Malafaia liberando um marlim-azul, e a Twins do comandante Rodolfo Ergas, que também liberou um marlim-azul, ficaram em primeiro lugar, num empate técnico. Em terceiro veio a Maracangalha de Gustavo Oliva. Pescadores esportivos fazem parceria com o Projeto Marlim, e devolvem os peixes-de-bico ao mar com uma pequena marca numerada (tag em inglês) para estudos de migração e crescimento. O projeto é coordenado pelo professor Alberto Amorim,do Instituto de Pesca de Santos, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP e pelo professor Eduardo Pimenta, da Universidade Veiga de Almeida-RJ, com apoio da fundação norte-americana de pesquisa TBF-The Billfish Foundation. Segundo o profes-sor Amorim, uma marca colocada em um marlim-branco, no torneio do YCI, pelo pescador Luisinho de Morais em 1992 foi reencontrada em 1997 em frente ao Cabo de Santa Marta, SC por um barco atuneiro de São Paulo. Taguear ou marcar um peixe é colo-car uma pequena marca numerada no animal antes da liberação, e preencher uma ficha com os dados do peixe, es-pécie, peso estimado, local da captura, entre outros. Se recapturado, a partir das informações da ficha registrada em computador, é possível estabelecer o quanto cresceu no período e sua rota de migração “Como os peixes-de-bico são devolvidos ao mar, a validação se dá por filmagem da captura e um bônus será adicionado por cada peixe taguea-do”, explica Laurent Blaha, diretor de Pesca do YCI. A XXVI Temporada de Pesca Oceânica Marque e Solte do YCI tem o patrocínio principal da SEDNA Sport Fishing Boats, Pesca Pinheiros, Transbrasa, Santa Constância, Scala, Mazzaferro (Linhas Tournament IGFA Class), Toledo, Person Hélices Náuti-cas, Marina Igararecê, Art Vip Brasil, além do apoio da Prefeitura Municipal de Ilhabela, ANEPE, IGFA, Ministério da Pesca e Agricultura, Instituto de Pesca e Antena 1.

Equipe da Lancha Twins mostra o vídeo da liberação do peixe

Equipe da lancha Maracangalha

Equipe da StrikeO comodoro do YCI, Marco Fanucchi,durante a premiação do torneio infantil

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Novembro 2013 7

comercialização de pescado em feiras livres (ii)

Haicai no Bentô, celebrando a alimentação

As feiras surgiram há mui-tos anos com a finalidade dos comerciantes venderem à população mercadorias como frutas, legumes, ervas, entre outros. Esse comércio aconte-cia nas ruas e as mercadorias eram acomodadas em barracas, e em algumas feiras eram co-mercializados diferentes tipos de peixes. No Brasil existe um baixo consumo de pescado, motivado por razões culturais e socioeconômicas e falta de qualidade nos produtos de feiras livres e entrepostos. A feira livre desempenha um papel social e econômico para

pequenos produtores e pes-cadores.

Existe uma crença popular que o pescado vendido em fei-ras livres é muito fresco, e isto poderia ser verdade se algumas normas fossem respeitadas pelo feirante, em relação à conservação, armazenamento e exposição deste produto para o consumo. O pescado é um alimento rico em nutrientes, porém altamente perecível e para ser comercializado fresco é importante que o feirante trate este alimento com muito cuidado. A higiene, o arma-zenamento e a exposição são

itens que devem ser levados em consideração. Para o pes-cado ser mantido fresco por um tempo maior, deve estar protegido por gelo distribuído por cima e por baixo de seu corpo, e a temperatura não pode ser superior a 5 graus Celsius. Pode ainda o feirante dispor de um balcão de aço inox para proteger o pescado do sol, do vento, insetos e po-eira, e do próprio consumidor, que tem o péssimo hábito de manusear e cheirar o peixe, ato que também pode contaminar o alimento.

A higiene diz respeito ao

asseio do vendedor, a limpeza da barraca, das facas e demais utensílios indispensáveis à ro-tina, pois quando estas normas são desrespeitadas, o ambiente torna-se favorável ao cresci-mento bacteriano que deteriora o pescado, dando odor forte de putrefação ou então o pescado pode se contaminar por outras bactérias como Salmonella, Staphilococcus, Listeria, que desencadeiam no consumidor problemas intestinais graves. É imprescindível que nas bar-racas tenha água potável, para lavagem das mãos e do próprio pescado.

Sendo o pescado uma al-ternativa de alimento comple-to, de fácil digestão, com alto teor de proteínas, gorduras insaturadas, Ômega 3, vitami-nas e minerais se faz necessário evitar perda proteica, princi-palmente com o aumento de escassez de proteínas animal no mundo. Assim, no sentido de proteger o consumidor do pescado de má qualidade, ações da Vigilância Sanitária são importantes para coibir esta comercialização indesejada e por outro lado, orientar e cons-cientizar a população quanto à qualidade do produto.

Quem foi ao lançamento de Haicai no Bentô, novo livro da poeta santista Regina Alon-so, teve um raro privilégio. A artista plástica Rosa Elias embalava os livros um a um em delicado furoshiki, à moda tradicional dos japoneses carregarem sua marmita. O furoshiki em tecido branco, estampado pela artista com uma ilustração do livro, trou-xe a forte simbologia presente no título. A palavra bentô, comida que se prepara em casa para ser comida fora, nos remete à dedicação da mulher

japonesa que a faz com pri-mor. Usando a delicada forma de haicais, poemas japoneses em três linhas, Regina mostra a importância dos que se en-tregam no campo, ao cultivo e na cozinha, ao preparo dos alimentos com amor, isto é, com todos os sentidos desper-tos para saciar a fome física e espiritual do homem. A autora explica que o haicai é um poe-ma em louvor a natureza, três versos de uma objetividade quase fotográfica. “No Brasil é comovente descobrir nosso bentô no cotidiano do boia-fria.

Alimentação de poucas cores e valor nutritivo contrastando com o bentô dos funcionários japoneses e de metrópoles eu-ropeias e americanas, inclusive brasileiras”, explica. O livro de poemas de Regina Alonso com ilustrações coloridas de Christina Amorim foi lançado dia 29 de outubro no Espaço Sociocultural Rolidei no Teatro Municipal de Santos. O livro pode ser adquirido através do telefone: (13) 3261.4481-email:[email protected] Preço: R$35,00 (envio pelo correio).

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo

Christina Amorim, Rosa Elias e Regina Alonso

Rosa Elias embalou os livros

no furoshiki

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Novembro 20138

A caçada começa com um grande salto, seguida do som do corpo do tubarão-branco caindo de volta na água. A presa é uma foca, excelente nadadora, que tenta fugir do ataque fazendo acrobacias no ar. No embate, muitas vezes a foca, mesmo ferida, consegue fugir. A descrição é do biólogo Tiago Rodrigues, que viajou a Simonstown, na África do Sul para conhecer e fotogra-far a magnífica espécie e seu comportamento na água. “É impressionante a agilidade que eles têm na água, mesmo com o grande porte e peso”, afirma Tiago, referindo-se ao animal que pode chegar a mais de 5 metros e 2 toneladas. O biólogo é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura e Pesca, Instituto de Pesca, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do ESP. Para captar as imagens dos tubarões em seu hábitat, enfrentou 10 horas de voo até Joanesburgo, mais duas horas até a Cidade do Cabo e uma viagem de uma hora de carro até Simonstown, onde estão as operadoras que levam os turistas para avis-tagem desta bela espécie. Há três barcos em False Bay que saem diariamente para a Ilha

Quando Daniel de Jesus Almeida sai cedo para pescar, vai em boa companhia. Além da esposa Patrícia, os filhos os acompanham na chatinha de quatro metros à propul-são de motor. Cauã, 10 anos, Guilherme, 12, e Miguel, 3, já vão pegando gosto pela arte que está na família há muitas gerações. “As crianças saem para pescar desde que nascem”, afirma Patrícia. O pai de Patrí-cia, Benedito Tenório, também é pescador, usando a rede-de-emalhe para pegar peixes como carapau, sororoca, piranjica e

xarelete, entre outros. Benedito saiu ainda menino da Ilha de Vitória, no arquipélago de Ilha-bela, para a ilha principal. Além da tradição na pesca, o pai de Daniel, Antonio Sacramento de Almeida, mantém a casa de farinha na praia de Furnas, produzindo a tradicional fari-nha de mandioca artesanal. O produto está sempre presente na mesa dos pescadores, desde o café da manhã até nos pratos mais elaborados como o peixe azul-marinho. Esse, Patrícia prepara de modo tradicional, com a banana nanica verde e o

peixe apenas cozidos na água, com o tempero típico caiçara, alfavaca e coentrão. Usa garou-pa, tainha, anchova, pirangica, vermelho. O vermelho, que vem com frequência na rede, fica bom tanto assado na brasa como no peixe azul-marinho. Patrícia explica que o azul-ma-rinho é chamado por muitos de pirão de banana, pois a base do pirão é a banana amassada no prato, acrescentando a farinha de mandioca por cima e depois o caldo quente do peixe. Patrí-cia aprecia o jeito tradicional de preparar o peixe e de pescar

Em Ilhabela, Daniel e Patrícia ensinam cedo os filhos a arte de pescar

Família que pesca unida

como faziam seus pais, e assim ajuda a manter viva a tradição caiçara de Ilhabela.

Daniel explica que o vermelho fica bom assado ou no azul-marinho

Daniel, Patrícia e o caçula Miguel

Na África do Sul, o tubarão-branco pode ser observado em seu hábitat natural

o grande branco africano

das Focas para essa atividade, com o pico da temporada entre os meses de junho e julho. “Entram duas pessoas por vez na jaula para o mergulho de observação, fazendo um revezamento, porque a água que é muito fria”, explica. O

barco leva no máximo 12 pes-soas. Muitas não mergulham e preferem apenas observar os tubarões do barco. A Ilha das Focas (Seal Island), em False Bay, fica a cerca de 35 minutos de barco de Simonstown. “O local é conhecido mundial-

mente pelos tubarões brancos que vão para lá no inverno caçar as focas”, explica Tiago. Ele acrescenta que a Ilha das Focas é o primeiro lugar onde os tubarões-brancos foram observados saltando para fora da água. Durante a estadia de

uma semana na África do Sul, Tiago que também aprecia fotografar a natureza, acom-panhou o diretor de cinema inglês, Ricardo Lacombe, nas viagens para a realização de um documentário sobre os tubarões-brancos. A previsão

é que o filme esteja pronto em 2014 (www.ricardolacombe.co.uk). “O documentário busca tirar um pouco da ima-gem negativa desses animais, mostrando a beleza desses incríveis predadores e tam-bém a realidade das pessoas que trabalham e vivem desse tipo de ecoturismo”, afirma Tiago.

A espécie é rara no Bra-sil, com poucos registros de ocorrência. Uma delas foi a captura em 1992 de um exemplar de 5,30m compri-mento e 2,5 toneladas por um barco de pesca comercial em Cananeia, no litoral sul de São Paulo. Hoje está taxider-mizado no museu da cidade. Embora pelo tamanho e peso pudesse ter sido considerado o maior exemplar capturado no mundo, não entrou para os registros, pois não havia uma balança grande o suficiente para pesá-lo. Assim teve que ser pesado em partes, o que invalidou o registro pelas au-toridades internacionais.

Mas, para os amantes dos animais marinhos, o bom mesmo é vê-los em seus saltos acrobáticos, ainda que a viagem à África do Sul seja tão longa.

O biólogo Tiago Rodrigues documentou a viagem à África

Tiago

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Tiago

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