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Marxismo segundo Ludwig von Mises Parte I ( www.endireitar.org )

Marxismo Segundo Ludwig Von Mises

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O Marxismo segundo Ludwig Von Mises

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Marxismo segundo Ludwig von MisesParte I

( www.endireitar.org )

Ludwig von Mises é um dos mais notáveis filósofos e economistas do nosso tempo. Inspirado no início de suacarreira pelo trabalho de seus professores - os grandes economistas austríacos Carl Menger e Böhm-Bawerk- Mises, por meio de uma série de pesquisas universitárias, analisou sistematicamente cada problemaeconômico importante, criticou erros inveterados e substituiu velhos sofismas por idéias sólidas e sadias.

Este é o primeiro capítulo intitulado "Mind, Materialism, and the Fate of Man" do livro "MarxismUnmasked: From Delusion to Destruction" ( http://www.fee.org/library/books/MarxismUnmasked.asp ),publicado pela Foundation for Economic Education. Faz parte de uma série de nove discursos formais deLudwig Von Mises, (1881-1973), pronunciados entre 23 de junho e 3 de julho de 1952, na Biblioteca Públicade São Francisco, São Francisco, Califórnia, num seminário patrocinado pela revista The Freeman.

Mente, Materialismo, e o destino do Homem( Tradução: Wellington Moraes )

AS PRIMEIRAS CINCO CONFERÊNCIAS NESTA SÉRIE tratarão sobre filosofia, não sobre economia.A filosofia é importante porque todos nós, tenhamos ou não consciência desse fato, possuímos umafilosofia definida, e suas idéias filosóficas orientam suas ações.

A filosofia de hoje é a de Karl Marx [1818-1883]. Ele é a personalidade mais poderosa da nossaépoca. Karl Marx e as idéias de Karl Marx -- idéias que ele não inventou, desenvolveu, ou melhorou,mas que ele combinou num sistema -- são amplamente aceitas hoje, mesmo por muitos queenfaticamente se declaram anticomunistas e antimarxistas. Sem saber, muitas pessoas sãofilosoficamente Marxistas, embora utilizem nomes diferentes para suas idéias filosóficas.

Marxistas hoje falam de Marxismo-leninismo-estalinismo. Volumes são escritos hoje na Rússiasobre as contribuições de [Vladimir Ilyich] Lênin [1870-1924] e [Josef] Stalin [1879-1953]. No entanto,o sistema permanece o que era nos tempos de Karl Marx; o Marxismo está de fato petrificado. Lênincontribuiu somente com injúrias muito fortes contra seus adversários; Stalin não contribuiu nada. Assim,é duvidoso chamar quaisquer destas contribuições de "nova", quando nós percebemos que acontribuição mais importante de Marx para sua filosofia foi publicada em 1859. (1)

Leva muito tempo para idéias conquistarem o mundo. Quando o Marx morreu em 1883, o nomedele era em geral desconhecido. Alguns jornais relataram em um par de linhas que Karl Marx, autor devários livros, tinha morrido. Eugen von Böhm-Bawerk [1851-1914] publicou (2) uma crítica sobre asidéias econômicas de Marx em 1896, mas foi somente 20 anos depois que as pessoas começaram aconsiderar Marx um filósofo.

As idéias de Marx e de sua filosofia realmente dominam nossa época. A interpretação dos eventosatuais e a interpretação da história em livros populares, bem como nos escritos filosóficos, novelas,peças de teatro, e assim sucessivamente, são geralmente Marxistas. No centro está a filosofia Marxistada história. Desta filosofia é tomado emprestado o termo "dialético", que é aplicado a todas suas idéias.Mas isso não é tão importante como é compreender o que materialismo marxista significa.

Materialismo tem dois sentidos diferentes. O primeiro refere-se exclusivamente aos problemaséticos. Um homem material só está interessado em coisas materiais -- comida, bebida, abrigo -- não emarte, cultura, e assim sucessivamente. Nesse sentido a maioria dos homens é materialista. O segundosentido do materialismo refere-se a um grupo especial de soluções sugeridas para um problema básicoda filosofia -- a relação entre a mente humana ou espírito de um lado, e o corpo humano e suas funçõesfisiológicas do outro lado. Diversas respostas foram oferecidas a este problema -- entre elas asrespostas religiosas. Nós sabemos muito bem que existe uma conexão entre corpo e mente; a medicinaprovou que determinados danos ao cérebro provocam algumas mudanças no funcionamento da mentehumana. Porém, os materialistas deste segundo grupo explicam todas as manifestações da mentehumana como produtos do corpo.

Entre estes materialistas filosóficos, existem duas correntes de pensamento:

A. Uma escola que considera o homem como uma máquina. Este grupo diz que estes problemassão muito simples -- a “máquina” humana funciona exatamente como qualquer outra máquina. UmFrancês, Julien de La Mettrie [1709–1751], escreveu o livro que contém esta idéia, Man, the Machine; ehoje muitas pessoas ainda querem explicar todas as operações da mente humana, direta ouindiretamente, como se fossem operações mecânicas. Por exemplo, veja a Enciclopédia de CiênciasSociais. (Encyclopedia of the Social Sciences) Um dos colaboradores, professor na New School for SocialResearch, diz que a criança recém-nascida é como um carro Ford, pronto para funcionar. Talvez! Masuma máquina, um Ford recém-fabricado, não funciona por si só. Uma máquina não realiza nada, não faznada sozinha -- sempre são os homens ou um certo número de homens que realizam algo através damáquina. Alguém precisa ativar a máquina. Se a atividade do homem cessar, a atividade da máquinatambém cessa. Nós temos que perguntar para este professor da New School for Social Research, “Quemativa a máquina?”. A resposta destruiria a doutrina materialista da máquina.

Às vezes as pessoas falam sobre "alimentar" a máquina, como se estivesse viva. Mas,evidentemente, não está. Em seguida, às vezes as pessoas também afirmam que a máquina sofreu um"colapso nervoso". Mas como um objeto sem nervos pode sofrer um colapso nervoso? Está teoria“maquinista” foi repetida várias vezes, mas não é muito realista. Nós não temos que lidar com istoporque nenhum homem sério realmente acredita nisto.

B. A teoria fisiológica proposta pela segunda classe dos materialistas é mais importante. Estateoria foi formulada originalmente por Ludwig Feuerbach [1804-1872] e Karl Vogt [1817-1895] nosprimeiros dias de Karl Marx. Esta idéia dizia que os pensamentos e as idéias são "simplesmente"secreções do cérebro. (Nenhum filósofo materialista nunca deixou de usar a palavra "simplesmente".Que significa, “eu sei, mas eu não posso explicar”). Hoje os cientistas sabem que determinadascondições patológicas causam certas secreções, e que essas secreções causam determinadas atividadesno cérebro. Mas estas secreções são quimicamente as mesmas para todas as pessoas na mesmasituação e condição. Contudo, idéias e pensamentos não são as mesmas para todas as pessoas namesma situação e condição; elas são diferentes.

Primeiro, idéias e pensamentos não são tangíveis. E segundo, os mesmos fatores externos nãoproduzem a mesma reação em todo mundo. Uma maçã caiu uma vez de uma árvore e bateu num certojovem [Isaac Newton]. Isto pode ter acontecido a muitos outros jovens antes, mas este acontecimentoparticular desafiou este jovem particularmente e ele desenvolveu algumas idéias disto.

Mas as pessoas nem sempre têm os mesmos pensamentos quando elas presenciam os mesmosfatos. Por exemplo, na escola alguns aprendem; outros não. Há diferenças nos homens.

Bertrand Russell [1872-1970] perguntou, “Qual é a diferença entre os homens e as pedras?” Eledisse que não havia nenhuma diferença, a não ser que os homens reagem a mais estímulos que aspedras. Mas na verdade há uma diferença. Pedras reagem de acordo com um padrão definido que nóspodemos conhecer; podemos prever o que acontecerá a uma pedra se ela for tratada de umadeterminada forma. Mas nem todos os homens reagem da mesma forma quando são tratados dedeterminada maneira; nós não podemos estabelecer tais categorias de ações para homens. Assim,embora muitas pessoas pensem que materialismo fisiológico é uma solução, na verdade conduz a umbeco sem saída. Se realmente fosse a solução para este problema, isso significaria que, em qualquercaso, nós poderíamos saber como todos reagiriam. Não podemos sequer imaginar quais seriam asconseqüências se todo mundo soubesse o que todos os outros iriam fazer.

Karl Marx não era um materialista no primeiro sentido -- o sentido “maquinista”. Mas a idéiafisiológica era muito popular na sua época. Não é fácil saber exatamente o que influenciou Marx porqueele odiava algumas pessoas e de outras tinha inveja. Karl Marx odiava Vogt, o representante domaterialismo fisiológico. Assim que materialistas como Vogt começaram a falar de política, Karl Marxdisse que eles tinham idéias ruins; isso significava que Marx não gostava delas.

Marx desenvolveu o que ele pensava ser um novo sistema. De acordo com sua interpretaçãomaterialista da história, as “forças produtivas materiais" (esta é uma tradução exata do Alemão) são asbases de tudo. Cada etapa das forças produtivas materiais corresponde a uma fase definida de relações

de produção. As forças produtivas materiais determinam as relações de produção, isto é, o tipo depossessão e propriedade que existem no mundo. E as relações de produção determinam asuperestrutura. Na terminologia de Marx, capitalismo ou feudalismo são relações de produção. Cada umdestes foi necessariamente produzido por uma fase particular das forças produtivas materiais. Em 1859,Karl Marx disse que uma nova fase das forças produtivas materiais produziria o socialismo.

Mas o que são estas forças produtivas materiais? Da mesma forma que Marx nunca disse o queera uma "classe", ele nunca disse exatamente o que são as "forças produtivas materiais”. Após analisarsuas obras nós descobrimos que as forças produtivas materiais são as ferramentas e as máquinas. Numde seus livros [Misère de la philosophie — A miséria da Filosofia], escrito em Francês em 1847, Marxafirma que “a fábrica manual produz o feudalismo – a fábrica a vapor produz o capitalismo.” (3) Ele nãodisse isto neste livro, mas em outras obras ele escreveu que surgiriam outras máquinas que iriamproduzir o socialismo.

Marx tentou arduamente evitar a interpretação geográfica do progresso, porque isso já haviacaído em descrédito. O que ele disse foi que as "ferramentas" eram a base de progresso. Marx e[Friedrich] Engels [1820-1895] acreditavam que novas máquinas seriam desenvolvidas e que elasconduziriam ao socialismo. Eles alegravam-se com as novas máquinas, pensando que isso significavaque o socialismo estava próximo. No livro Francês de 1847, ele criticou aqueles que davam importânciaà divisão do trabalho; ele afirmou que as ferramentas eram importantes.

Nós não devemos esquecer que ferramentas não caem do céu. Elas são produto de idéias. Paraexplicar as idéias, Marx disse que as ferramentas, as máquinas -- as forças produtivas materiais -- serefletem nos cérebros dos homens e assim as idéias surgem. Mas as ferramentas e as máquinas são,elas mesmas, o produto das idéias. Além disso, antes de existir máquinas, deve existir a divisão dotrabalho. E antes de existir a divisão do trabalho, idéias definidas precisam ser desenvolvidas. A origemdestas idéias não pode ser explicada por algo que só é possível numa sociedade, que é, ela mesma,produto de idéias.

O termo "materiais" fascinou as pessoas. Para explicar mudanças em idéias, mudanças empensamentos, mudanças em todas essas coisas que são os produtos de idéias, Marx os reduziu amudanças em idéias tecnológicas. Nisto ele não era original. Por exemplo, Hermann Ludwig Ferdinandvon Helmholtz [1821–1894] e Leopold von Ranke [1795-1886] interpretaram a história como a históriada tecnologia.

É tarefa da história explicar por que determinadas invenções não foram postas em prática porpessoas que tiveram todo o conhecimento físico requerido para sua construção. Por que, por exemplo,os antigos gregos, que tiveram o conhecimento técnico, não desenvolveram estradas de ferro?

Assim que uma doutrina se torna popular, ela é simplificada de tal forma que permita acompreensão das massas. Marx dizia que tudo depende das condições econômicas. Como declarou emseu livro Francês [A miséria da Filosofia] de 1847, ele entende que a história das fábricas e ferramentasdesenvolveram-se independentemente. Segundo Marx, todo o movimento da história humana aparececomo conseqüência natural do desenvolvimento das forças produtivas materiais, as ferramentas. Com odesenvolvimento das ferramentas, a estrutura da sociedade muda e, conseqüentemente, tudo o maismuda também. Por tudo o mais, ele quis dizer a superestrutura. Autores Marxistas, escrevendo depoisde Marx, explicaram tudo na superestrutura como resultado de mudanças definitivas nas relações daprodução. E eles explicaram tudo nas relações de produção como resultado das mudanças nasferramentas e máquinas. Isto foi uma vulgarização, uma simplificação, da teoria marxista. Marx e Engelsnão foram completamente responsáveis por isso. Eles criaram muitas tolices, mas eles não sãoresponsáveis por toda a tolice de hoje.

Qual é a influência desta teoria marxista sobre as idéias? O filósofo René Descartes [1596-1650],que viveu no início do século XVII, acreditava que o homem tinha uma mente e que o homem pensa,mas que os animais eram simplesmente máquinas. Marx afirmou, naturalmente, que Descartes viveunuma época em que a "Manufakturperioden", as ferramentas e máquinas, eram tais que ele foi forçadoa explicar sua teoria afirmando que os animais eram máquinas. Albrecht von Hailer [1708-1777], um

Suíço, afirmou a mesma coisa no século XVIII (ele não gostava da igualdade perante a lei dos governosliberais). Entre estes dois homens, viveu La Mettrie, que também explicou homem como uma máquina.Portanto, o conceito de Marx, de que as idéias eram um produto das ferramentas e máquinas de umadeterminada época, é facilmente refutado.

John Locke [1632-1704], o conhecido filósofo do empirismo, declarou que tudo na mente dohomem provém da experiência dos sentidos. Marx afirmou que John Locke era um porta-voz da doutrinaclassista da burguesia. Isto conduz a duas deduções diferentes das obras de Karl Marx: (a) Ainterpretação que ele deu a respeito de Descartes é que ele vivia numa época em que as máquinasforam introduzidas e, portanto, Descartes explicou o animal como uma máquina; e (b) A interpretaçãoque ele deu a respeito da inspiração de John Locke -- que ela veio do fato de que ele era umrepresentante dos interesses classistas dos burgueses. Aqui estão duas explicações incompatíveis para aorigem das idéias. A primeira destas duas explicações, no sentido de que as idéias são baseadas emforças produtivas materiais, as ferramentas e máquinas, é inconciliável com a segunda, a saber, que osinteresses de classe determinam as idéias.

Segundo Marx, todos são forçados -- pelas forças produtivas materiais -- a pensar de tal maneiraque o resultado mostre seus interesses de classe. Você pensa da forma que seus "interesses" forçamvocê pensar; você pensa de acordo com seus “interesses” de classe. Seus “interesses” são algoindependente da sua mente e suas idéias. Seus “interesses” existem no mundo além de das suas idéias.Conseqüentemente, a produção de suas idéias não é nenhuma verdade. Antes da aparição de Karl Marx,a noção de verdade não tinha qualquer significado para todo o período histórico. O que o pensamentodas pessoas produziu no passado sempre foi "ideologia", não verdade.

“Les idéologues” na França foram bem advertidos por Napoleão [1769–1821], que disse que tudoficaria bem na França exceto para os “idéologues”. Em 1812, Napoleão foi derrotado. Ele deixou oexército na Rússia, retornou só, incógnito, e apareceu em de dezembro de 1812 em Paris. Ele jogou aculpa dos males que aconteceram ao seu país sobre os maus "idéologues", que influenciaram o país.

Marx usou ideologia num sentido diferente. Segundo Marx, ideologia era um pensamentodoutrinário produzido por membros de uma classe. Estas doutrinas necessariamente não eram verdades,mas somente as expressões dos interesses classistas. Naturalmente, um dia haverá uma sociedade semclasses. Uma classe -- a classe proletária -- prepara o caminho para a sociedade sem classes. A verdadede hoje é a idéia dos proletários. Os proletários abolirão todas as classes e então virá a Idade Dourada,a sociedade sem classes.

Marx chamava Joseph Dietzgen [1828–1888] de proletário, mas Marx o teria chamado depequeno-burguês se soubesse mais sobre ele. Oficialmente Marx aprovou todas as idéias de Dietzgen,mas em sua correspondência privada com Ferdinand Lassalle [1825-1864] ele expressou algumadiscordância. Não existe lógica universal. Cada classe possui sua própria lógica. Mas, evidentemente, alógica do proletariado é a verdadeira lógica do futuro. (Estas pessoas ficaram ofendidas quando osracistas assumiram as mesmas idéias, alegando que as diferentes raças possuem diferentes lógicas, masa lógica dos Arianos é a verdadeira lógica) [ Nota endireitar.org: sobre esse mesmo assunto ver o artigoPolilogismo: Karl Marx e os Nazistas - http://www.endireitar.org/content/view/84/75/ ].

A sociologia do conhecimento de Karl Mannheim [1893–1947] se desenvolveu das idéias deHitler. Todo o mundo pensa em ideologias -- i.e., falsas doutrinas. Mas há uma classe de homens quedesfruta de um privilégio especial -- Marx os denominou "intelectuais não-engajados". Estes"intelectuais não-engajados" possuem o privilégio de descobrir verdades que não são ideologias.

A influência dessa idéia de “interesses” é enorme. Em primeiro lugar, é importante lembrar queesta doutrina não afirma que os homens agem e pensam de acordo com o que eles consideram ser seuspróprios interesses. Em segundo lugar, recorde que ela considera os “interesses” como independentesdos pensamentos e idéias dos homens. Estes interesses independentes obrigam os homens a pensar eagir de uma forma definida. Como um exemplo da influência que esta idéia possui sobre nossopensamento hoje, eu poderia mencionar um Senador Americano -- não é um Democrata -- que afirmouque as pessoas votam de acordo com seus “interesses”; ele não disse de acordo com o que eles pensam

ser seus interesses. Esta é a idéia de Marx -- assumindo que "interesses" são algo definido e além dasidéias de uma pessoa. Esta idéia de doutrina de classe foi primeiramente desenvolvida por Karl Marx noManifesto Comunista.

Nem Engels, nem Marx eram do proletariado. Engels era muito rico. Ele caçava raposas em umcasaco vermelho -- este era o passatempo dos ricos. Teve uma namorada que ele consideravademasiado abaixo dele para pensar em se casar. Ela morreu, e a irmã dela se tornou sua sucessora.Casou-se finalmente com a irmã, mas somente quando ela estava morrendo -- somente dois dias antesde sua morte.

Karl Marx nunca ganhou muito dinheiro por si mesmo. Ele recebeu algum dinheiro comocolaborador regular do jornal The New York Tribune. Mas ele foi sustentado quase completamente porseu amigo Engels. Marx não era um proletário; ele era o filho de um próspero advogado. Sua esposa, aSra. Karl Marx [Jenny von Westphalen, 1814–1881], era a filha de um alto Junker prussiano. E ocunhado de Marx era o chefe da polícia prussiana.

Assim, estes dois homens, Marx e Engels, que reivindicaram que a mente proletária era diferenteda mente da burguesia, estavam numa posição embaraçosa. Então eles incluíram uma passagem noManifesto Comunista para explicar: “Quando o tempo chegar, alguns membros da burguesia se unirãoàs classes emergentes”. Porém, se alguns homens conseguem se livrar da lei de interesses de classe,então a lei não é mais uma lei geral.

A idéia de Marx era que as forças produtivas materiais conduzem os homens de uma fase paraoutra, até eles alcançarem o socialismo, que é o fim e o ápice de tudo. Marx disse que o socialismo nãopode ser planejado com antecedência; a história cuidará dele. Na visão de Marx, esses que afirmamcomo o socialismo funcionará são apenas “utópicos”.

O Socialismo já estava intelectualmente derrotado no tempo que Marx escreveu. Marx contestavaseus críticos afirmando que aqueles que estavam em oposição eram somente “burgueses”. Ele afirmouque não era necessário derrotar os argumentos dos seus oponentes, mas somente desmascarar suaorigem burguesa. E como sua doutrina não passava de ideologia burguesa, não era necessário lidar comisto. Isto deveria significar que nenhum burguês pudesse escrever alguma coisa a favor do socialismo.Assim, todos escritores estavam ansiosos para provar que eles eram proletários. Também seriaoportuno mencionar neste momento que o precursor do socialismo francês, Saint-Simon (4), eradescendente de uma famosa família de duques e condes.

Simplesmente não é verdade que as invenções se desenvolvem porque as pessoas procuramfinalidades práticas e não por verdades.

Quando Marx publicou suas obras, o pensamento alemão era dominado por George WilhelmFriedrich Hegel [1770-1831], professor na Universidade de Berlim. Hegel tinha desenvolvido a teoria daevolução filosófica da história. Em alguns aspectos suas idéias eram diferentes, até mesmo opostas, dasidéias de Marx. Hegel foi o homem que destruiu o pensamento Alemão e a filosofia Alemã por mais deum século, pelo menos. Ele encontrou uma advertência em Immanuel Kant [1724-1804], que havia ditoque a filosofia da história só poderia ser escrita por um homem que tivesse a coragem de fingir que vê omundo com os olhos de Deus. Hegel acreditou que ele tinha os "olhos de Deus”, que ele conhecia o fimde história, que ele conhecia os planos de Deus. Ele disse que o Geist (Mente ou Espírito) se desenvolvee se manifesta no curso da evolução histórica. Então, o curso da história é inevitavelmente o progressodo menos satisfatório para condições mais satisfatórias.

Em 1825, Hegel disse que havíamos alcançado um estado de coisas maravilhosas. Ele considerouo reino da Prússia de Friedrich Wilhelm III [1770-1840] e a Igreja da União Prussiana (Prussian UnionChurch) como a perfeição do governo secular e espiritual. Marx afirmou, como Hegel, que havia históriano passado, mas que não haverá mais nenhuma história quando nós alcançarmos um estado que ésatisfatório. Assim, Marx adotou o sistema Hegeliano, embora usasse forças produtivas materiais em vezde Geist. As forças produtivas materiais passam por várias fases. A fase presente é muito ruim, mas há

uma coisa em seu favor -- ela é a fase preliminar necessária para o aparecimento do estado perfeito dosocialismo. E o socialismo está próximo.

Hegel foi chamado de filósofo do absolutismo prussiano. Ele morreu em 1831. Sua escola depensamento se dividiu entre esquerda e direita. (A esquerda não gostava do governo prussiano e daIgreja da União Prussiana). Esta distinção entre a esquerda e a direita existiu desde então. NoParlamento Francês, aqueles que não gostavam do governo do rei estavam sentados no lado esquerdodo plenário da assembléia. Hoje ninguém quer sentar à direita.

Originalmente, isto é, antes de Karl Marx, o termo "direita" referia-se aos partidários do governorepresentativo e liberdades civis, como o oposto da "esquerda" que favorecia ao absolutismo real e aausência de direitos civis. O aparecimento das idéias socialistas alterou o significado destes termos.Alguns da "esquerda" foram sinceros ao expressar suas opiniões. Por exemplo, Platão [427-347 AC] erahonesto ao declarar que um filósofo deveria governar. E Augusto Comte [1798–1857] dizia que aliberdade foi necessária no passado, uma vez que tornou possível para ele publicar seus livros, masagora que os livros foram publicados não há qualquer necessidade de liberdade. E da mesma formaEtienne Cabet [1788-1856] falava de três categorias de livros -- os maus livros, que deveriam serqueimados; os livros intermediários, que deveriam ser corrigidos; e os "bons" livros restantes. Portanto,houve uma grande confusão quanto às liberdades civis que seriam concedidas aos cidadãos no estadosocialista. Isto aconteceu porque as idéias marxistas não progrediram em países que possuíamliberdades civis, mas em países onde as pessoas não possuíam tais liberdades.

Nikolai Bukharin [1888–1938], um autor comunista que viveu em um país comunista, escreveuum panfleto em 1917 (5), no qual ele disse: nós pedimos as liberdades de imprensa, de pensamento eliberdades civis no passado porque nós estávamos na oposição e necessitávamos destas liberdades paraconquistar. Agora que nós conquistamos, não existe qualquer necessidade de tais liberdades civis.[Bukharin foi julgado e condenado à morte nos expurgos dos processos Moscou em março de 1938] Se osr. Bukharin fosse um comunista Americano, ele provavelmente ainda estaria vivo e livre para escrevermais panfletos sobre o porquê da liberdade não ser mais necessária.

Estas peculiaridades da filosofia marxista só podem ser explicadas pelo fato que Marx, emboravivesse na Grã-bretanha, não estava tratando das condições da Grã-bretanha, onde, ele acreditava, asliberdades civis já não eram necessárias, mas com as condições da Alemanha, França, Itália, e assimpor diante, locais onde as liberdades civis ainda eram necessárias. Desta forma nós vemos que adistinção entre direita e esquerda, que tiveram significado na época da Revolução Francesa, já não temqualquer significado.

Notas:

[1] A Contribution to the Critique of Political Economy (Moscow: Progress Publishers, 1859).

[2] “The Unresolved Contradiction in the Economic Marxian System” in Shorter Classics of Eugen vonBöhm-Bawerk (South Holland, Ill.: Libertarian Press, 1962 [1896; Eng.Trans. 1898]), pp. 201–302.

[3] “Le moulin à bras vous donnera la société avec le souzerain; le moulin à vapeur, la société avec lecapitaliste industriel.” Karl Marx, Misère de la philosophie (Paris and Brussels, 1847), p. 100.—Ed.

[4] Claude Henri de Rouvroy, Comte de Saint-Simon [1760–1825]—Ed.

[5] “The Russian Revolution and Its Significance,” The Class Struggle, Vol. I, No. 1, May–June, 1917.—Ed.

Marxismo segundo Ludwig von MisesParte II

Conflitos de Classe e Socialismo Revolucionário

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Ludwig von Mises é um dos mais notáveis filósofos e economistas do nosso tempo. Inspirado no início desua carreira pelo trabalho de seus professores - os grandes economistas austríacos Carl Menger e Böhm-Bawerk - Mises, por meio de uma série de pesquisas universitárias, analisou sistematicamente cadaproblema econômico importante, criticou erros inveterados e substituiu velhos sofismas por idéiassólidas e sadias.

Este é o segundo capítulo intitulado "Class Conflict and Revolutionary Socialism" do livro "MarxismUnmasked: From Delusion to Destruction" ( http://www.fee.org/library/books/MarxismUnmasked.asp ),publicado pela Foundation for Economic Education. Faz parte de uma série de nove discursos formais deLudwig Von Mises, (1881-1973), pronunciados entre 23 de junho e 3 de julho de 1952, na BibliotecaPública de São Francisco, São Francisco, Califórnia, num seminário patrocinado pela revista TheFreeman.

Conflitos de Classe e Socialismo Revolucionário

MARX ASSUMIU que os "interesses" eram independentes das idéias e pensamentos humanos. Eleafirmou que o socialismo era o sistema ideal para o proletariado. Disse também que os interesses declasse determinam o pensamento dos indivíduos e que esta condição provoca conflitos irreconciliáveisentre as várias classes. Marx então voltou ao ponto inicial – isto é, o socialismo é o estado ideal.

Os conceitos de "classe" e "conflito de classe” eram fundamentais no Manifesto Comunista (1848).Mas Marx não disse o que era uma "classe". Marx morreu em 1883, 35 anos depois da publicação doManifesto Comunista. Nesses 35 anos ele publicou muitos volumes, mas em nenhum deles ele disse oque ele queria dizer pelo termo "classe". Após a morte de Marx, Friedrich Engels publicou o manuscritoinacabado do terceiro volume de O Capital (Das Kapital). Engels disse que este manuscrito, no qual Marxtinha parado de trabalhar muitos anos antes de morrer, foi encontrado na escrivaninha de Marx depoisde sua morte. Num capítulo de três páginas naquele volume, Marx nos conta o que não era uma"classe". Mas você pode procurar por todas suas obras para compreender o que era uma "classe",jamais irá encontrar. Na realidade, "classes" não existem na natureza. É o nosso pensamento – nossasclassificações em categorias – que constrói classes em nossas mentes. A questão não é se as classessociais existem no sentido de Karl Marx; a questão é se nós podemos utilizar o conceito de classessociais na forma como Karl Marx o entendia. Nós não podemos.

Marx não viu que o problema do "interesse" de um indivíduo, ou de uma classe, não pode serresolvido simplesmente fazendo referência ao fato que existe tal interesse e que os homens têm de agirde acordo com os seus interesses. Duas questões devem ser colocadas: (1) Para que objetivos estes"interesses" conduzem as pessoas? (2) Quais métodos elas querem aplicar para atingir estes objetivos?

A Primeira Internacional foi um pequeno grupo de pessoas, um comitê de alguns homens emLondres, amigos e inimigos de Karl Marx. Alguém sugeriu que eles cooperassem com o movimentotrabalhista-sindicalista britânico. Em 1865, Karl Marx leu na reunião do Comitê Internacional umdocumento, Valor, Preço, e Lucro (Value, Price, and Profit), uma de suas poucas obras originalmenteescritas em inglês. Neste documento, ele destacou que os métodos do movimento sindical eram muitoruins e deveriam ser modificados. Parafraseando: "Os sindicatos querem melhorar o destino dostrabalhadores no âmbito do sistema capitalista - isto é inútil e desesperado. No âmbito do sistemacapitalista não há nenhuma possibilidade de melhorar o estado dos trabalhadores. O melhor que osindicato poderia alcançar deste modo seria algum sucesso de curto prazo. Os sindicatos devemabandonar esta política 'conservadora’; eles devem adotar a política revolucionária. Eles têm que lutarpela abolição da sociedade salarial e devem trabalhar para a vinda do socialismo". Marx não tevecoragem para publicar este documento enquanto estava vivo; só foi publicado depois de sua morte por

uma de suas filhas. Ele não quis fazer oposição aos sindicatos; ele ainda tinha esperanças que elesabandonariam suas teorias.

Aqui está um conflito evidente de opiniões entre os proletários, relativo a que meios utilizar. Ossindicatos proletários e Marx discordaram sobre o que era o "interesse" dos proletários. Marx afirmouque o "interesse" de uma classe era óbvio – não poderia haver nenhuma dúvida quanto a isto – todosconheciam este “interesse”. Então aqui surge um homem que não pertence a esta classe proletária, umescritor e advogado que informa aos sindicatos que eles estavam errados. “Esta é uma política ruim”,ele afirmou. “Vocês precisam mudar radicalmente sua política". Aqui toda a idéia de classe é destruída, aidéia de que um indivíduo, às vezes, pode errar, mas que uma classe como um todo nunca pode errar.

Críticas às doutrinas marxistas sempre foram superficiais. Eles não mostraram como Marx se

contradisse e como ele não conseguiu explicar as suas idéias. A crítica de Böhm-Bawerk1

era boa, masele não cobriu o sistema inteiro. Os críticos de Marx nem mesmo descobriram as contradições maispatentes de Karl Marx.

Marx acreditou na "lei férrea dos salários". Ele aceitou isso como a base fundamental da sua doutrinaeconômica. Ele não gostou do termo Alemão para esta lei, a "lei de bronze" dos salários, sobre o qualFerdinand Lassalle [1825-1864] tinha publicado um panfleto. Karl Marx e Ferdinand Lassalle não eramamigos; eles eram concorrentes, competidores muito sérios. Marx disse que a única contribuição deLassalle foi o próprio termo, a "lei de bronze" dos salários. E que, no mais, o termo, foi emprestado,

emprestado do dicionário e de Goethe2.

A "lei férrea dos salários" ainda sobrevive em muitos livros didáticos, na mente dos políticos e,conseqüentemente, em muitas das nossas leis. De acordo com a "lei férrea dos salários", a taxa salarialé determinada pela quantidade de alimentos e outras necessidades requeridas para a preservação ereprodução da vida, para sustentar os filhos dos trabalhadores até que eles próprios possam trabalharnas fábricas. Se as taxas salariais ficarem acima disto, o número de trabalhadores aumentaria e oaumento do número de trabalhadores derrubaria as taxas salariais novamente. Os salários não podemcair abaixo deste ponto porque haveria uma escassez de trabalho. Esta lei considera que o trabalhador éalgum tipo de micróbio ou roedor sem livre escolha ou livre arbítrio.

Se você pensa que é absolutamente impossível, sob o sistema capitalista, para os salários divergiremdesta taxa, como você ainda pode falar, como fez Marx, sobre o empobrecimento progressivo dostrabalhadores como sendo inevitável? Existe uma contradição insolúvel entre a idéia marxista da leiférrea das taxas salariais, segundo a qual os salários permanecerão num ponto em que eles sãosuficientes para sustentar os descendentes dos trabalhadores até que eles possam se tornartrabalhadores, e sua filosofia da história, que sustenta que os trabalhadores serão empobrecidos cadavez mais até serem conduzidos à insurreição aberta, provocando assim o socialismo. Evidentemente,ambas as doutrinas são insustentáveis. Mesmo 50 anos atrás, os principais escritores socialistas foramobrigados a recorrer a outros esquemas elaborados na tentativa de sustentar suas teorias. O que ésurpreendente é que, durante o século desde as obras de Marx, ninguém mostrou esta contradição. Eesta contradição não é a única em Marx.

O que realmente destruiu Marx foi sua idéia do progressivo empobrecimento dos trabalhadores.Marx não viu que a característica mais importante do capitalismo era a produção em grande escala paraas necessidades das massas; o principal objetivo dos capitalistas é produzir para as grandes massas.Nem Marx viu que sob o capitalismo o cliente sempre tem razão. Na sua condição de assalariado, otrabalhador não pode determinar o que será feito. Mas na condição de cliente, ele é realmente o chefe efala para o chefe dele, o empresário, o que fazer. O chefe dele deve obedecer às ordens dos

trabalhadores como membros do público consumidor. A Srta. Webb3 era a filha de um próspero homem

de negócios. Como outros socialistas, pensou que o pai dela era um autocrata que dava ordens paratodo mundo. Ela não viu que ele estava sujeito à soberania das ordens dos clientes no mercado. A“grande” Srta. Webb não era mais inteligente que o menino mensageiro mais bobo, que só vê que ochefe dele dá ordens.

Marx não tinha nenhuma dúvida sobre quais objetivos os homens visavam. Ele também não tevequaisquer dúvidas sobre a melhor maneira de atingir estes objetivos. Como é que um homem que leutanto e interrompe sua leitura apenas para escrever, não percebe as discrepâncias em suas idéias?

Para responder a esta pergunta, temos que voltar para o pensamento do seu tempo. Aquele foi otempo da Origem das Espécies [1859] de Charles Darwin. Era a moda intelectual daquela épocaenxergar os homens apenas do ponto de vista da sua filiação na classe zoológica dos mamíferos, queagiam com base nos instintos. Marx não levou em conta a evolução da humanidade para um o nívelsuperior ao dos homens muito primitivos. Ele considerou o trabalho não especializado como tipo normalde trabalho e o trabalho especializado como a exceção. Num dos seus livros, ele escreveu que oprogresso tecnológico na melhoria das máquinas provoca o desaparecimento dos especialistas porque amáquina pode ser operada por qualquer pessoa; não há necessidade de nenhuma habilidade especialpara operar uma máquina. Portanto, o tipo normal de homem no futuro será o não especialista.

No que diz respeito a muitas de suas idéias, Marx pertenceu a eras muito antigas, especialmente naconstrução de sua filosofia da história. Marx substituiu a evolução Hegeliana do Geist pela evolução dosfatores materiais de produção. Ele não percebeu que os fatores materiais de produção, i.e., asferramentas e máquinas, são, de fato, produtos da mente humana. Ele afirmou que estas ferramentas emáquinas, as forças produtivas materiais, inevitavelmente provocariam a vinda do socialismo. Sua teoriafoi denominada "materialismo dialético" (dialectical materialism), abreviada pelos socialistas para"diamat" (diamet em inglês).

[Num aparte, o Dr. Mises contou sobre uma visita a uma escola no México, uma "escuela socialista”,uma "escola socialista”. Mises perguntou para o reitor da escola o que "escola socialista” significava. Oreitor explicou que a legislação mexicana exigia das escolas o ensino da doutrina Darwinista da evoluçãoe do materialismo dialético. Em seguida, ele fez um comentário sobre a provisão na lei que fazia estaexigência e sobre próprio sistema escolar: “Há uma grande diferença entre a letra da lei e a prática.Noventa por cento dos professores em nossas escolas são mulheres e a maioria delas são Católicaspraticantes.”]

Marx argumentou da tese à negação da tese para a negação da negação. A propriedade privada dosmeios de produção por cada trabalhador individual foi o início, a tese. Este era o estado de coisas numasociedade em que cada trabalhador ou era um agricultor independente ou um artesão que possuía asferramentas com as quais ele estava trabalhando. Negação da tese – propriedade sob o capitalismo –quando as ferramentas já não são propriedades dos trabalhadores, mas dos capitalistas. A negação danegação foi a propriedade dos meios de produção pela sociedade inteira. Raciocinando desta forma,Marx afirmou que tinha descoberto a lei da evolução histórica. E é por isso que ele chamou isto de"socialismo científico”.

Marx rotulou todos os socialistas do passado de "socialistas utópicos” porque eles tentaram mostrarpor que socialismo era melhor. Eles queriam persuadir seus concidadãos porque tinham a esperança deque as pessoas adotariam o sistema social socialista se estivessem convencidos de que era melhor. Eleseram "utópicos”, Marx afirmou, porque eles tentaram descrever o futuro paraíso terrestre. Entre osprecursores de Marx, a quem ele considerou "utópicos”, estavam Saint-Simon, um aristocrata Francês;

Robert Owen [1757-1858], um fabricante britânico; e Charles Fourier [1772-1837], um Francês que era,

sem dúvida, um lunático. (Fourier era chamado de "tolo do Palais-Royal4". Ele costumava fazer

declarações como “Na era do socialismo, o oceano já não será salgado, mas limonada”). Marxconsiderou estes três como grandes precursores. Mas, ele afirmou, eles não perceberam que o queestavam dizendo era somente “utópico". Eles esperavam a vinda do socialismo por uma mudança nasopiniões das pessoas. Mas para Marx, a vinda do socialismo era inevitável; viria com a inevitabilidade danatureza.

Por um lado, Karl Marx escreveu da inevitabilidade do socialismo. Mas por outro lado, ele organizouum movimento socialista, um partido socialista, declarou várias vezes que o seu socialismo erarevolucionário, e que a subversão violenta do governo era necessária para o aparecimento dosocialismo.

Marx adotou suas metáforas do campo da ginecologia. O partido socialista é como a obstetrícia, disseMarx; ele torna a vinda do socialismo possível. Quando questionados: “se vocês consideram todoprocesso inevitável, por que vocês não favorecem a evolução em vez da revolução”, os marxistasrespondem, “Não existem evoluções na vida. O nascimento não é em si uma revolução?".

Segundo Marx, a meta do partido socialista não era influenciar, mas só ajudar o inevitável. Mas aobstetrícia influencia e muda condições. A obstetrícia realmente tem trazido progresso neste ramo damedicina, e até mesmo salvou vidas. E por salvar vidas, poderia ser dito que a obstetrícia mudou de fatoo curso da história.

O termo "científico" adquiriu prestígio no decurso do século XIX. O livro Anti-Dühring (1878) deEngels se tornou um dos livros mais bem-sucedidos entre as obras filosóficas marxistas. Um capítulodeste livro foi reimpresso como um panfleto com o título "O Desenvolvimento do Socialismo da Utopia àCiência", e teve sucesso enorme. Karl Radek [1885-1939], um comunista soviético, mais tarde escreveuum panfleto chamado "O Desenvolvimento do Socialismo, da Ciência à Ação".

A teoria da ideologia de Marx foi preparada para desacreditar as obras da burguesia. [Tomás]Masaryk [1850-1937], da Tchecoslováquia, nasceu de pessoas pobres, agricultores e trabalhadores, eele escreveu sobre Marxismo. No entanto, os marxistas o chamam de burguês. Como ele poderia serconsiderado "burguês" se Marx e Engels denominavam a si próprios de "proletários"?

Se os proletários devem pensar de acordo com os "interesses" da sua classe, o que significa então aexistência de discordâncias e dissensões entre eles? A confusão torna a situação muito difícil de explicar.Quando há dissensão entre proletários, eles chamam o opositor de "traidor social”. Depois de Marx eEngels, o mais eminente homem dos comunistas foi um Alemão, Karl Kautsky [1854-1938]. Em 1917,quando Lênin tentou revolucionar o mundo inteiro, Karl Kautsky opôs-se à idéia. E por causa destadiscordância, o ex-todo-poderoso homem do partido se tornou, de repente, um "traidor social". Ele foichamado disto e de muitos outros nomes.

Esta idéia é como a dos racistas5. Os racistas Alemães declararam que um grupo definido de idéias

políticas eram Alemãs e que todos os verdadeiros Alemães devem necessariamente pensar de acordocom este grupo particular de idéias. Esta era a idéia Nazista. Segundo os Nazistas, a melhor situação eraestar num estado de guerra. Mas alguns Alemães – Kant, Goethe, e Beethoven, por exemplo – tiveramdiferentes idéias “não-Alemãs". Se nem todos Alemães pensam de uma determinada maneira, quem éque vai decidir quais idéias são Alemãs e quais não são? A resposta só pode ser que uma "voz interior” éo melhor padrão, o critério definitivo. Esta postura necessariamente conduz a conflitos que devemresultar em guerra civil, ou até mesmo guerra internacional.

Havia dois grupos Russos, ambos consideravam-se proletários – os Bolcheviques e os Mencheviques.O único método para “resolver" as discordâncias entre eles era usar a força e a liquidação. OsBolcheviques venceram. Em seguida, nas fileiras dos comunistas Bolcheviques surgiram outras

diferenças de opinião – entre Trotsky6 e Stalin – e a única maneira de resolver seus conflitos foi um

expurgo. Trotsky foi forçado ao exílio, mudou-se para o México, e foi assassinado lá em 1940. Stalin nãooriginou nada; ele voltou para o Marx revolucionário de 1859 – não para o Marx intervencionista de1848.

Infelizmente, expurgos não acontecem somente porque os homens são imperfeitos. Expurgos são asconseqüências necessárias das bases filosóficas do socialismo marxista. Se você não puder discutiropiniões com diferenças filosóficas da mesma maneira que você discute outros problemas, você tem queachar uma outra solução – através da violência e do poder. Isto não se refere somente às divergênciasrelativas a políticas, problemas econômicos, sociologia, lei, e assim por diante. Refere-se também aosproblemas das ciências naturais. Os Webbs, senhor e senhora Passfield, ficaram chocados ao saber queas revistas e jornais Russos tratavam até mesmo dos problemas das ciências naturais partindo do pontode vista da filosofia Marxista-leninista-estalinista. Por exemplo, se houver uma diferença de opinião emrelação à ciência ou genética, isto deve ser decidido pelo "líder". Esta é a conseqüência inevitavelmentenecessária do fato que, de acordo com doutrina Marxista, você não considera a possibilidade dedissensão entre pessoas honestas; ou você pensa como eu, ou você é um traidor e deve ser liquidado.

O Manifesto Comunista apareceu em 1848. Naquele documento, Marx pregou a revolução; eleacreditou que a revolução estava próxima. Ele acreditava que o socialismo seria então provocado poruma série de medidas intervencionistas e listou dez medidas intervencionistas – entre elas o imposto derenda progressivo, a abolição dos direitos de herança, reforma agrícola, etc. Estas medidas eraminsustentáveis, ele disse, mas necessárias para a vinda do socialismo.

Assim, Karl Marx e Engels acreditaram em 1848, que o socialismo poderia ser atingido pelointervencionismo. Em 1859, onze anos após o Manifesto Comunista, Marx e Engels abandonaram adefesa das intervenções; eles já não esperavam que o socialismo surgisse através de mudançaslegislativas. Eles queriam provocar o socialismo por uma rápida mudança radical. Deste ponto de vista,os seguidores de Marx e Engels consideraram as medidas posteriores – o New Deal, o Fair Deal, etc... –como políticas “pequeno-burguesas”. Na década de 1840, Engels havia dito que as leis trabalhistasbritânicas eram sinais do progresso e um sinal do colapso do capitalismo. Mais tarde, eles chamaramtais medidas ou políticas intervencionistas (Sozialpolitik) de muito ruins.

Em 1888 – 40 anos depois da publicação do Manifesto Comunista – uma tradução foi feita por umescritor inglês. Engels acrescentou alguns comentários a esta tradução. Referindo-se às dez medidasintervencionistas preconizadas no Manifesto, ele afirmou que estas medidas não eram apenasinsustentáveis, como reivindicou o Manifesto, mas precisamente por serem insustentáveis é que elesnecessariamente pressionariam cada vez mais em direção a ainda mais medidas deste tipo, até quefinalmente estas medidas mais avançadas conduzissem ao socialismo.7

Notas:

1 - [“The Unresolved Contradiction in the Economic Marxian System” in Shorter Classics of Eugen von Böhm-Bawerk, (South Holland, Ill.: Libertarian Press, 1962 [1896; Eng.Trans. 1898]), pp. 201–302. — Ed.]

2 - [Marx também criticou Lassalle por usar o termo "Arbeiterstand" (estado de trabalho); Marx disse que Lassalleestava confuso, mas nunca explicou porque Lassalle estava confuso. - Ed.]

3 - [Beatrice Webb (1858–1943), mulher de Sidney Webb (1859–1947), mais tarde senhor e senhora Passfield,British Fabians. — Ed.]

4 - N. do T. - Fourier esperou pontualmente, durante dez longos anos, ao meio-dia, nos jardins do Palais-Royal, obenemérito que lhe financiaria a construção de Harmonia (Fourier descreveu detalhadamente, em Le NouveauMonde Industriel et Sociétaire (1829), as ações que o benemérito deveria realizar: Fourier, 1973, pp.554-561).

5 - Conferir o artigo “Polilogismo: Karl Marx e os Nazistas” em http://www.endireitar.org/content/view/84/75/ paramais detalhes; é uma tradução de um trecho do livro Omnipotent Government de Ludwig von Mises.

6 - [Leon Trotsky (1879–1940)]

7 - N. do T. – Em março 1850, dois anos após o Manifesto, Marx e Engels publicaram a Mensagem do ComitêCentral à Liga dos Comunistas, um documento que era, segundo o próprio Marx, "no fundo, nada mais que umplano de guerra contra a democracia".

Este documento “continha as proposições fundamentais do programa e táticas Marxistas".

O historiador inglês Robert Payne (Marx, Londres, 1968, p.239) afirma que "embora pouco conhecido e raramenteestudada”, a Mensagem de março é "um dos documentos mais importantes e seminais do século XIX", ela "agiucomo uma bomba com um fusível atrasado, explodindo só no século XX".

Na Mensagem já encontramos a orientação expressa para “levar ao extremo as propostas dos democratas” esuperar as propostas em cada demanda para a reforma social, propondo uma demanda mais extrema - “ditar taiscircunstâncias” aos democratas que seu papel “leve desde o princípio o germe de sua queda”. (cf. Karl Marx andCritical Examination of his Works - part 2; Leslie R. Page; Sentinel Publishing; 2000 ehttp://www.marxists.org/portugues/marx/1850/03/ccaliga.htm ).

Tradução: Wellington Moraes

Marxismo segundo Ludwig von Mises

Parte III

Individualismo e a Revolução Industrial

( www.endireitar.org )

Ludwig von Mises é um dos mais notáveis filósofos e economistas do nosso tempo. Inspirado no início de suacarreira pelo trabalho de seus professores - os grandes economistas austríacos Carl Menger e Böhm-Bawerk -Mises, por meio de uma série de pesquisas universitárias, analisou sistematicamente cada problemaeconômico importante, criticou erros inveterados e substituiu velhos sofismas por idéias sólidas e sadias.

Este é o terceiro capítulo intitulado "Individualism and the Industrial Revolution" do livro "MarxismUnmasked: From Delusion to Destruction" ( http://www.fee.org/library/books/MarxismUnmasked.asp ),publicado pela Foundation for Economic Education. Faz parte de uma série de nove discursos formais deLudwig Von Mises, (1881-1973), pronunciados entre 23 de junho e 3 de julho de 1952, na Biblioteca Públicade São Francisco, São Francisco, Califórnia, num seminário patrocinado pela revista The Freeman.

Individualismo e a Revolução Industrial

LIBERAIS ACENTUARAM A IMPORTÂNCIA DO INDIVÍDUO. Os liberais do século XIX jáconsideravam o desenvolvimento do indivíduo a coisa mais importante. "Indivíduo eindividualismo" era o slogan progressista e liberal. Reacionários já haviam atacado esta atitude noinício do século XIX.

Os racionalistas e liberais do século XVIII ressaltaram que era necessário criar boas leis. Hábitosantigos que não podiam ser justificados pela racionalidade deveriam ser abandonados. A únicajustificação para uma lei era se ela era ou não responsável pela promoção do bem-estar socialpúblico. Em muitos países os liberais e racionalistas pediram constituições escritas, a codificaçõesde leis, e por novas leis que permitiriam o desenvolvimento das faculdades de cada indivíduo.

Uma reação a esta idéia se desenvolveu, especialmente na Alemanha onde o jurista e historiadorFriedrich Karl von Savigny [1779–1861] era influente. Savigny declarou que leis não podem serescritas por homens; leis são desenvolvidas de algum modo místico pela alma de toda a unidade.Não é o indivíduo que pensa -- é a nação ou uma entidade social que utiliza o indivíduo somentepara a expressão de seus próprios pensamentos. Esta idéia foi muito enfatizada por Marx e osmarxistas. A este respeito os marxistas não eram os seguidores de Hegel, cuja idéia principal daevolução histórica era uma evolução para a liberdade do indivíduo.

Do ponto de vista de Marx e Engels, o indivíduo era uma coisa desprezível aos olhos da nação.Marx e Engels negaram que o indivíduo desempenhasse um papel na evolução histórica. Segundoeles, a história desenvolve-se a sua própria maneira. As forças produtivas materiais seguem do seupróprio modo, desenvolvendo-se independentemente das vontades dos indivíduos. E os eventoshistóricos vêm com a inevitabilidade de uma lei de natureza. As forças produtivas materiaistrabalham como um diretor numa ópera; elas devem ter um substituto disponível no caso de umproblema, como o diretor de ópera deve ter um substituto se o cantor adoecer. De acordo comesta idéia, Napoleão e Dante, por exemplo, eram sem importância -- se eles não tivessemaparecido para tomar seus próprios lugares especiais na história, outras pessoas teriam aparecidono palco para ocupar seus lugares.

Para entender certas palavras, você tem que entender o idioma Alemão. A partir do século XVII,um considerável esforço foi gasto na luta contra o uso de palavras latinas e na eliminação delas doidioma Alemão. Em muitos casos permaneceu uma palavra estrangeira, embora também houvesseuma expressão Alemã com o mesmo significado. As duas palavras começaram como sinônimos,mas no curso de história, elas adquiriram significados diferentes. Por exemplo, a palavraUmwälzung, a tradução Alemã literal da palavra latina revolução. Na palavra latina não havia

nenhum sentido de lutar. Assim, na Alemanha evoluíram dois significados para a palavra"revolução" -- um significado para violência, e o outro significando uma revolução gradual como a"Revolução Industrial”. No entanto, Marx usa a palavra Alemã Revolução não somente pararevoluções violentas, como as Revoluções Francesa ou Russa, mas também para a gradualRevolução Industrial.

Aliás, o termo Revolução Industrial foi introduzido por Arnold Toynbee [1852-1883]. Os marxistasdizem que "o que antecipa a derrota do capitalismo não é nenhuma revolução -- veja a RevoluçãoIndustrial".

Marx atribuiu um significado especial à escravatura, servidão, e outros sistemas de escravidão. Eranecessário, disse ele, que os trabalhadores fossem livres para que o explorador os explorasse. Estaidéia veio da interpretação que ele deu à situação do senhor feudal que tinha que cuidar dos seustrabalhadores, mesmo quando eles não estivessem trabalhando. Marx interpretou as mudançasliberais como se elas estivessem liberando o explorador da responsabilidade pela vida dostrabalhadores. Marx não viu que o movimento liberal visava à abolição das desigualdades perante alei, como entre o servo e senhor.

Karl Marx acreditava que acumulação de capitais era um obstáculo. Aos seus olhos, a únicaexplicação para a acumulação de riqueza era que alguém tinha roubado um outro alguém. ParaKarl Marx toda a Revolução Industrial consistiu simplesmente na exploração dos trabalhadorespelos capitalistas. Segundo ele, a situação dos trabalhadores ficou pior com a chegada docapitalismo. A diferença entre a situação dos trabalhadores e a dos escravos e servos era apenasque o capitalista não tinha nenhuma obrigação de cuidar dos trabalhadores que já não eramexploráveis, enquanto o senhor foi obrigado a cuidar dos escravos e servos. Esta é outra dascontradições insolúveis do sistema marxista. No entanto, é aceita hoje por muitos economistassem a compreensão do que esta contradição consiste.

De acordo com Marx, o capitalismo é uma etapa necessária e inevitável na história da humanidadeque conduz os homens das condições primitivas para o milênio do socialismo. Se o capitalismo éum passo necessário e inevitável no caminho para o socialismo, então não se pode reivindicarconstantemente, do ponto de vista de Marx, que o que o capitalista faz é eticamente e moralmentemau. Então, por que Marx ataca os capitalistas?

Marx diz que parte da produção é apropriada pelos capitalistas e retida dos trabalhadores. SegundoMarx, isto é muito ruim. A conseqüência é que os trabalhadores não estão mais em condições deconsumir toda a produção. Uma parte do que eles produziram, portanto, fica sem consumo; existeum “subconsumo”. Por esta razão, porque há subconsumo, depressões econômicas acontecemregularmente. Esta é a teoria do subconsumo marxista das depressões. Porém Marx contradiz estateoria noutros locais.

Os escritores marxistas não explicam por que a produção ocorre do mais simples para métodosmais complexos.

Marx também não fez menção do seguinte fato: Por volta de 1700, a população da Grã-Bretanhaera aproximadamente 5,5 milhões; em meados de 1700, a população era de 6,5 milhões depessoas, cerca de 500,000 delas eram simplesmente indigentes. O sistema econômico tinhaproduzido um “excesso” população. O problema de excesso populacional apareceu mais cedo naGrã-Bretanha do que na Europa continental. Isto aconteceu, em primeiro lugar, porque a Grã-Bretanha era uma ilha e assim não estava sujeita a invasão por exércitos estrangeiros, queajudaram reduzir as populações na Europa. As guerras na Grã-Bretanha eram guerras civis, queeram ruins, mas elas pararam. E então desapareceu esta saída para o excesso populacional, de

modo que o número excedente de pessoas cresceu. Na Europa, a situação era diferente por umarazão, a oportunidade de trabalhar na agricultura era mais favorável do que na Inglaterra.

O antigo sistema econômico da Inglaterra não pôde fazer face ao excedente populacional. Aspessoas em excesso eram, na maior parte, pessoas muito más -- mendigos, assaltantes, ladrões eprostitutas. Eles eram sustentados por várias instituições, as leis dos pobres [1], e a caridade dascomunidades. Alguns foram forçados para o serviço estrangeiro no exército e na marinha. Tambémhavia pessoas supérfluas na agricultura. O sistema existente de grêmios e outros monopólios nasindústrias de manufatura tornou a expansão de indústria impossível. Nessas épocas pré-capitalistas, houve uma nítida divisão entre as classes da sociedade que podiam dispor de sapatosnovos e roupas novas e aquelas que não podiam. As indústrias de manufatura produziam em geralpara as classes altas. Aqueles que não podiam dispor de roupas novas usavam roupas usadas.Houve então um grande comércio de roupas de segunda mão -- um comércio que desapareceuquase completamente quando a indústria moderna começou produzir também para as classes maisbaixas. Se o capitalismo não tivesse fornecido os meios de sustento para estas pessoas em“excesso”, elas teriam morrido de fome. A varíola respondeu por muitas mortes em tempos pré-capitalistas; agora já foi praticamente eliminada. Os aperfeiçoamentos na medicina também sãoprodutos do capitalismo.

O que Marx chamou de a grande catástrofe da Revolução Industrial não foi nenhuma catástrofe nofinal das contas; ela provocou uma tremenda melhoria nas condições das pessoas. Caso contrário,muitos que sobreviveram não teriam sobrevivido. Não é verdade, como disse Marx, que os avançosda tecnologia só estão disponíveis aos exploradores e que as massas estão vivendo num estadomuito pior que na véspera da Revolução Industrial. Tudo o que os marxistas dizem sobreexploração está absolutamente errado! Mentiras! Na realidade, o capitalismo tornou possível asobrevivência de muitas pessoas que, do contrário, não teriam sobrevivido. E hoje muitas pessoas,ou a maioria das pessoas, vivem num padrão muito mais alto de vida que os seus antepassadosviveram 100 ou 200 anos atrás.

Durante o século XVIII surgiram vários eminentes autores -- o mais conhecido foi Adam Smith[1723-1790] -- que defenderam a liberdade de comércio. E eles argumentaram contra monopólio,contra os grêmios, e contra privilégios dados pelo rei e o Parlamento. Secundariamente, algunsindivíduos engenhosos, quase sem qualquer poupança e capital, começaram a organizar os pobresfamintos para produção, não em fábricas, mas fora das fábricas, e não somente para as classesaltas. Estes novos produtores organizados começaram a fazer bens simples precisamente para asgrandes massas. Esta foi a grande mudança que ocorreu; esta era a Revolução Industrial. E estaRevolução Industrial tornou mais comida e outros bens disponíveis de forma que a populaçãoaumentou. Ninguém viu menos o que realmente estava acontecendo que Karl Marx. Na véspera daSegunda Guerra Mundial, a população tinha aumentado tanto que havia 60 milhões de ingleses.

Você não pode comparar os Estados Unidos com a Inglaterra. Os Estados Unidos surgiu quasecomo um país do capitalismo moderno. Mas nós podemos dizer que, em geral, entre oito pessoasque moram hoje nos países da civilização Ocidental, sete só estão vivos por causa da RevoluçãoIndustrial. Você tem certeza que você é um dos oito que teriam sobrevivido até mesmo naausência da Revolução Industrial? Se você não está seguro, pare e considere as conseqüências daRevolução Industrial.

A interpretação dada por Marx à Revolução Industrial também se aplica à interpretação da"superestrutura". Marx afirmou que as "forças produtivas materiais", as ferramentas e máquinas,produzem as "relações de produção", a estrutura social, direitos de propriedade, etc., que, por suavez, produzem a "superestrutura", a filosofia, arte, e a religião. A "superestrutura", disse Marx,depende da condição de classe dos indivíduos, i.e., se ele é poeta, pintor, e assim por diante. Marx

interpretou tudo o que aconteceu na vida espiritual da nação deste ponto de vista. ArthurSchopenhauer [1788-1860] foi chamado de filósofo dos donos de ações ordinárias e hipotecas.Friedrich Nietzsche [1844-1900] foi chamado de filósofo do grande negócio. Para cada mudança naideologia, para cada mudança na música, arte, romance, jogo, os marxistas tinham umainterpretação imediata. Cada livro novo foi explicado pela "superestrutura" daquele dia particular. Acada livro foi atribuído um adjetivo -- "burguês" ou "proletário". A burguesia foi considerada umamassa reacionária homogênea.

Não pense que é possível um homem praticar durante toda sua vida certa ideologia sem acreditarnela. O uso do termo "capitalismo maduro" mostra plenamente como pessoas, que não pensam emsi mesmas como marxistas de nenhuma forma, foram influenciadas por Marx. O Sr. e a Sra.Hammond, na realidade quase todos os historiadores, aceitaram a interpretação marxista daRevolução Industrial [2]. A única exceção é Ashton. [3]

Karl Marx, na segunda parte da sua carreira, não era um intervencionista; ele estava a favor delaissez-faire. Porque ele esperava que o colapso do capitalismo e a substituição pelo socialismoviriam da completa maturidade do capitalismo, ele era a favor de deixar capitalismo sedesenvolver. Nesse sentido ele foi, em seus escritos e em seus livros, um defensor da liberdadeeconômica.

Marx acreditou que as medidas intervencionistas eram desfavoráveis porque elas atrasavam avinda do socialismo. Os sindicatos recomendavam intervenções e, por isso, Marx se opunha a eles.Sindicatos não produzem nada de qualquer maneira e na verdade teria sido impossível elevar astaxas salariais se os produtores não tivessem produzido mais.

Marx reivindicou que as intervenções feriam os interesses dos trabalhadores. Os socialistasalemães votaram contra as reformas sociais de [Otto von] Bismarck instituídas aproximadamenteem 1881 (Marx morreu em 1883). E neste país os comunistas estavam contra o New Deal. Claroque a razão real para a oposição deles ao governo no poder era muito diferente. Nenhum partidode oposição quer atribuir muito poder a outro partido. Ao elaborar programas socialistas, todomundo assume tacitamente que ele próprio será o planejador ou o ditador, ou que o planejador ouditador será totalmente dependente intelectualmente dele e que o planejador ou ditador será o seufaz-tudo. Ninguém quer ser um simples membro num esquema planejado por outro alguém.

Estas idéias de planejamento remontam ao tratado de Platão sobre a forma da comunidade. Platãoera muito franco. Ele planejou um sistema governado exclusivamente por filósofos. Ele quiseliminar todas as decisões e direitos individuais. Ninguém deveria ir a qualquer lugar, descansar,dormir, comer, beber, lavar, a menos que lhe dissessem que fizesse assim. Platão quis reduzir aspessoas ao estado de peões no seu plano. O que é necessário é um ditador, que nomeia umfilósofo como um tipo de primeiro-ministro ou presidente do conselho central de gestão deprodução. O programa coerente de todos estes socialistas -- Platão e Hitler, por exemplo --também planejava a produção dos futuros socialistas, a procriação e educação dos futurosmembros da sociedade.

Durante os 2300 anos desde Platão, foi registrada muito pouca oposição às idéias dele. Nemmesmo por Kant. A influência psicológica a favor do socialismo deve ser levada em conta nadiscussão das idéias marxistas. Isto não se limita aos que se dizem marxistas.

Os marxistas negam que exista tal coisa como a busca do conhecimento pelo conhecimento. Maseles não são consistentes neste caso também, porque eles dizem que um dos propósitos do estadosocialista é eliminar essa busca pelo conhecimento. É uma ofensa para as pessoas, dizem eles,estudar coisas que são inúteis.

Agora eu quero discutir o significado da distorção ideológica das verdades. A consciência de classenão é desenvolvida no princípio, mas deve vir inevitavelmente. Marx desenvolveu sua doutrina deideologia porque ele percebeu que não pôde responder às críticas levantadas contra o socialismo. Aresposta dele era, “O que você diz não é verdade. É só ideologia. O que um homem pensa, demodo que nós não temos uma sociedade sem classes, é necessariamente uma ideologia de classe -- quer dizer, está baseado em uma falsa consciência”. [4] Sem qualquer explicação adicional, Marxassumiu que tal ideologia era útil à classe e para os membros da classe que a desenvolveu. Taisidéias tinham a meta de assegurar os objetivos de sua classe.

Marx e Engels apareceram e desenvolveram as idéias de classe do proletariado. Então, a partir deagora a doutrina da burguesia é absolutamente inútil. Talvez alguém possa dizer que a burguesiaprecisou desta explicação para solucionar o problema de má consciência. Mas por que elesdeveriam ter uma má consciência se sua existência é necessária? E é necessária, de acordo comdoutrina marxista, porque sem a burguesia, o capitalismo não pode desenvolver. E até quecapitalismo esteja "maduro”, não pode haver socialismo.

Segundo Marx, a economia burguesa, às vezes chamada de "apologética da produção burguesa”,auxiliou a burguesia. Os marxistas poderiam ter dito que, o significado que a burguesia deu a estapéssima teoria burguesa justifica, em sua visão, bem como na visão dos explorados, o modo deprodução capitalista, tornando assim possível a existência do sistema. Mas esta teria sido umaexplicação bem não-marxista. Antes de qualquer coisa, de acordo com a doutrina marxista, não énecessário uma justificação para o sistema de produção burguês; a burguesia explora porque seunegócio é explorar, assim como explorar é o negócio dos micróbios. A burguesia não precisa denenhuma justificação. A sua consciência de classe mostra para eles que eles têm que fazer isto;explorar é da natureza do capitalista.

Um amigo russo de Marx lhe escreveu dizendo que a tarefa dos socialistas deve ser ajudar aburguesia explorar melhor e Marx respondeu que aquilo não era necessário. Marx então escreveuuma nota curta dizendo que a Rússia poderia alcançar o socialismo sem passar pela fasecapitalista. Na manhã seguinte ele deve ter percebido que, se ele admitisse que um país pudessesaltar uma das fases inevitáveis, isto destruiria toda a sua teoria. Assim ele não enviou a nota.Engels, que não era tão brilhante, descobriu este pedaço de papel na escrivaninha de Karl Marx,copiou a nota com sua própria mão, e enviou a cópia para Vera Zasulich [1849-1919], que erafamosa na Rússia porque ela tinha tentado assassinar o Comissário de Polícia em São Petersburgoe foi absolvida pelo júri -- ela teve um bom conselho de defesa. Esta mulher publicou a nota deMarx, e se tornou um dos grandes quadros do Partido Bolchevique.

O sistema capitalista é um sistema no qual a promoção está precisamente de acordo com o mérito.Se as pessoas não forem bem sucedidas, há ressentimento em suas consciências. Relutam emadmitir que elas não progridem por causa da sua falta de inteligência. Elas lançam sua falta deprogresso sobre a sociedade. Muitos culpam sociedade e se voltam para o socialismo. Estatendência é especialmente forte nas classes de intelectuais. Porque os profissionais tratam uns aosoutros como iguais, os profissionais menos capazes se consideram "superiores" aos nãoprofissionais e sentem que eles merecem mais reconhecimento do que eles recebem. A invejapossui um papel importante. Existe uma predisposição filosófica entre pessoas para a insatisfaçãocom o estado existente de coisas. Há descontentamento, também, com as condições políticas. Sevocê estiver insatisfeito, você pergunta que outro tipo de estado pode ser considerado.

Marx tinha "anti-talento” -- i.e., uma falta de talento. Ele foi influenciado por Hegel e Feuerbach,especialmente pela crítica ao Cristianismo de Feuerbach. Marx admitiu que a doutrina deexploração foi retirada de um folheto anônimo publicado na década de 1820. Suas doutrinaseconômicas eram distorções tomadas de [David] Ricardo [1772-1823]. [5]

Marx era economicamente ignorante; ele não percebeu que pode haver dúvidas relativas aosmelhores meios de produção a ser aplicado. A grande pergunta é, como nós devemos usar osescassos fatores disponíveis de produção. Marx assumiu que o que tem que ser feito é óbvio. Elenão percebeu que o futuro é sempre incerto, que é o trabalho de todo homem de negócios proverpara o futuro desconhecido. No sistema capitalista, os trabalhadores e tecnólogos obedecem aoempresário. Sob o socialismo, eles obedecerão ao funcionário socialista. Marx não levou em contao fato que há uma diferença entre dizer o que tem que ser feito e fazer o que alguém disse quedeve ser feito. O estado socialista é necessariamente um estado policial.

O desaparecimento gradual do estado de Marx foi apenas a tentativa de evitar responder àpergunta sobre o que aconteceria sob o socialismo. Sob o socialismo, os condenados saberão queeles estão sendo castigados para o benefício de toda sociedade.

O terceiro volume do Das Kapital foi preenchido com longas citações das audiências dos ComitêsParlamentares Britânicos sobre o dinheiro e os bancos, e elas não fazem nenhum sentido [6]. Porexemplo, "O sistema monetário é essencialmente o católico, o sistema de crédito essencialmenteprotestante... Mas o sistema de crédito não se emancipa da base do sistema monetário mais que oProtestantismo se emancipa dos fundamentos do Catolicismo". [7] Totalmente absurdo!

Notas:

[1] - [Legislação inglesa relacionada a assistência pública para os pobres, datando da era deElizabeth e emendada em 1834 para instituir um socorro uniforme nacionalmente supervisionado --Ed.]

[2] - [J. L. and Barbara Hammond, autores da triologia The Village Labourer (1911), The TownLabourer (1917), e The Skilled Labourer (1919) — Ed.]

[3] - [T.S. Ashton, The Industrial Revolution 1760-1830 (London: Oxford University Press, 1998[1948, 1961]) — Ed.]

[4] - Conferir o artigo “Polilogismo: Karl Marx e os Nazistas” emhttp://www.endireitar.org/content/view/84/75/ para mais detalhes; é uma tradução de um trechodo livro Omnipotent Government de Ludwig von Mises.

[5] - [On the Principles of Political Economy and Taxation (London: John Murray, 1821 [1817]).]

[6] - [Capital: A Critique of Political Economy, III (Chicago: Charles H. Kerr, Chicago, 1909), pp.17, 530–677ff.]

[7] - [Ibid., p. 696.]

Tradução: Wellington Moraes

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Ludwig von Mises é um dos mais notáveis filósofos e economistas do nosso tempo. Inspiradono início de sua carreira pelo trabalho de seus professores - os grandes economistasaustríacos Carl Menger e Böhm-Bawerk - Mises, por meio de uma série de pesquisasuniversitárias, analisou sistematicamente cada problema econômico importante, criticou errosinveterados e substituiu velhos sofismas por idéias sólidas e sadias.

Este é o quarto capítulo intitulado "Nationalism, Socialism, and Violent Revolution" do livro "Marxism Unmasked: From Delusion to estruction", publicado pela Foundation for Economic Education. Faz parte de uma série de nove discursosformais de Ludwig Von Mises, (1881-1973), pronunciados entre 23 de junho e 3 de julho de1952, na Biblioteca Pública de São Francisco, São Francisco, Califórnia, num semináriopatrocinado pela revista The Freeman.

Ver também: Parte I , Parte II e Parte III

QUARTA PARTE

Nacionalismo, Socialismo e Revolução Violenta

A doutrina marxista não nega a possibilidade da verdade absoluta, mas sustenta que a verdadeabsoluta só pode ser atingida numa sociedade sem classes. Ou numa sociedade de classeproletária.

A principal obra (1) de Lênin, ou pelo menos seu livro mais volumoso (agora disponível nas Obras Reunidas de Lênin [Collected Works of Lenin]), induziu algumas pessoas a chamá-lo de filósofo. A maioria das críticas de Lênin sobre asidéias dos seus adversários consiste em chamar-lhes de "burguês". A filosofia de Lênin ésomente uma reafirmação das idéias filosóficas de Marx; até certa medida não chega nemmesmo ao nível de outros escritores marxistas russos.

A teoria ou filosofia marxista não tiveram nenhum desenvolvimento em países onde existiampartidos comunistas. As pessoas a quem nós chamamos de marxistas consideram-se apenas

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intérpretes de Marx; eles nunca tentaram mudar qualquer coisa em Marx. No entanto, existemcontradições em Marx. Portanto, é possível citar passagens de seus escritos a partir de todosos pontos de vista. A influência de Marx sobre todos os autores e escritores que viveram desdesua morte foi considerável, embora não seja normalmente admitido que estes autores foraminfluenciados por Marx.

Leia também:

- Marxismo segundo Ludwig von Mises - I - Marxismo segundo Ludwig von Mises - II - Marxismo segundo Ludwig Von Mises - III - SOCIALISMO VS. ECONOMIA DE MERCADO - Polilogismo: Karl Marx e os Nazistas

Embora os marxistas se considerem os intérpretes exclusivos de Marx, um marxista, umescritor, acrescentou algo e teve uma forte influência, não só no pequeno grupo de seusseguidores, mas também em outros autores. Georges Sorel [1847-1922] -- não deve serconfundido com Albert Sorel [1842-1906] -- um importante historiador, desenvolveu umafilosofia diferente em muitos aspectos da filosofia marxiana. E influenciou a ação política e opensamento filosófico. Sorel foi um tímido intelectual burguês, um engenheiro.  Ele seaposentou para discutir estas coisas com seus amigos numa livraria cujo dono era CharlesPéguy [1873-1914], um socialista revolucionário. No decurso dos anos, Péguy mudou suasopiniões e no final de sua vida ele foi um autor católico muito fervoroso. Péguy tinha sériosconflitos com sua família. Ele foi notável por sua interação com Sorel. Péguy era um homem deação; ele morreu em 1914 entre as primeiras semanas da guerra.

Sorel pertenceu psicologicamente ao grupo de pessoas que sonham com ação, mas nuncaagem; ele não lutou. Como escritor, entretanto, Sorel era muito agressivo. Ele elogiou acrueldade e lamentou o fato dela estar desaparecendo cada vez mais de nossa vida. Em um deseus livros, Reflexões sobre a violência (Reflections on Violence), ele considerou ser umamanifestação de decadência o fato de os partidos marxistas, autoproclamados revolucionários,terem se degenerado em partidos parlamentares. Onde está a revolução se você está noParlamento? Ele também não gostava dos sindicatos. Ele achava que os sindicatos deveriamabandonar a busca desesperada de taxas salariais mais elevadas e deveriam adotar, em vezdeste padrão conservador, o processo revolucionário.

Sorel viu claramente a contradição no sistema de Marx que falou da revolução, por um lado, e,depois, disse: "A vinda de socialismo é inevitável, e você não pode acelerar sua vinda, porqueo socialismo não pode vir antes das forças produtivas materiais alcançarem tudo o que é

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possível dentro do quadro da velha sociedade". Sorel viu que esta idéia da inevitabilidade eracontraditória com a idéia de revolução. É sobre esta contradição que todos os socialistas sequestionaram -- Kautsky, por exemplo. Sorel adotou completamente a idéia de revolução.

Sorel pediu dos sindicatos uma nova tática de ação direta - ataque, destruição, sabotagem. Eleconsiderou estas políticas agressivas como preliminares para o grande dia quando ossindicatos declarariam uma “greve geral”. Esse será o dia em que os sindicatos vão declarar"Agora não trabalharemos mais. Nós queremos destruir a vida da nação completamente”.Greve geral é só um sinônimo para a revolução viva. A idéia de ação direta é chamada“sindicalismo”.

Sindicalismo pode significar o controle da indústria pelos trabalhadores. Socialistas queremdizer por este termo o controle pelo estado e operação por conta das pessoas. Sorel pretendiaatingir isto com a revolução. Ele não questionou a idéia que história conduz ao socialismo. Háum tipo de instinto que empurra os homens para socialismo, mas Sorel aceitou isto comosuperstição, um desejo interno que não pode ser analisado. Por esta razão sua filosofia temsido comparada com a de Henri Bergson élan vital (mitos, contos de fadas, fábulas, lendas).Porém, na doutrina de Sorel, “mito” significa algo — uma declaração que não pode ser criticadaatravés da razão.

1. O socialismo é um fim. 2. A greve geral é o grande meio.

A maioria dos escritos de Sorel datam de 1890 a 1910. Eles tiveram uma enorme influência nomundo, não apenas sobre os revolucionários socialistas, mas também nos monarquistas,partidários da restauração da House of Orange, a “Action française”, e em outros países a “Action nationale”. Mas todas estes partidos se tornaram gradualmente um pouco mais "civilizados" do que Sorelpensou que eles deveriam ser.

Foi a idéia do sindicalismo francês que influenciou o movimento mais importante do século XX.Lênin, Mussolini e Hitler foram todos influenciados por Sorel, pela idéia de ação, pela idéia nãofalar, mas matar. A influência de Sorel sobre Mussolini e Lênin nunca foi questionada. Emrelação a sua influência sobre o nazismo, veja o livro de Alfred Rosenberg (2) intitulado TheMyth of the 20th Century [O Mito do Século XX]. A idéia fundamental do racismo foi emprestada dos franceses. O único homem que realmente

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contribuiu algo para as idéias marxistas foi Sorel, junto com um grupo de sindicalistas -- umgrupo comparativamente pequeno composto exclusivamente de intelectuais e até mesmo dericos ociosos, como os "penthouse Bolshevists"de Nova Iorque [Bolcheviques que se reuniam em apartamentos de luxo]. Eles repetiram maisuma vez que só os trabalhadores possuem bastante garra e suficiente consciência de classe, afim de analisar e destruir o sistema burguês.

O centro da atividade marxiana deslocou da Alemanha para a França. A maior parte das obrasmarxistas está em francês. O trabalho de Sorel foi feito na França. Fora da Rússia, há maismarxistas na França que em qualquer outro país [N. do T. : Mises nunca esteve no Brasil];porém, há mais discussão sobre comunismo na França do que na Rússia. A École Normale Supérieureem Paris foi um importante centro de ensinamentos marxistas. Lucien Herr [1864-1926], obibliotecário, teve muita influência. Ele foi o pai de marxismo francês. Como os ex-alunos da École Normale Supérieurese tornaram mais e mais importantes, a escola espalhou o marxismo por toda a França.

De um modo geral, a mesma condição prevaleceu na maioria dos países europeus. Quando asuniversidades pareciam lentas para aceitar marxismo, escolas especiais eram encarregadas deeducar as novas gerações na ortodoxia socialista. Este foi o objetivo da London School ofEconomics , umainstituição [socialista] Fabiana fundada por Sidney James Webbs. Mas não pode evitar a“invasão“ por pessoas com outras idéias. Por exemplo, [Friedrich A.] Hayek [1899–1992]ensinou durante alguns anos na London School of Economics. Esta era a situação de todos os países; países europeus tinham universidades estatais. Aspessoas geralmente ignoram o fato de que marxistas, não professores pró-mercado, foramdesignados pelo Czar nas universidades imperiais na Rússia. Estes professores foramchamados marxistas legais, ou melhor marxistas "leais”. Quando os bolcheviques chegaram aopoder na Rússia, não foi necessário demitir os professores.

Marx não viu nenhuma diferença entre as várias partes do mundo. Uma das suas doutrinas eraque o capitalismo é uma fase no desenvolvimento do socialismo. A este respeito, existemalgumas nações que estão mais atrasadas do que outras. Mas o capitalismo estava destruindoas barreiras comerciais e de migração que uma vez impediram a unificação do mundo. Porconseguinte, as diferenças na evolução dos diferentes países no que diz respeito à suamaturidade em direção ao socialismo irá desaparecer.

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No Manifesto Comunista em 1848, Marx declarou que o capitalismo estava destruindo todas aspeculiaridades nacionais e estava unificando em um sistema econômico todos os países domundo. O baixo preço dos produtos foi o meio utilizado pelo capitalismo para destruir onacionalismo. Mas em 1848, as pessoas comuns não sabiam nada da Ásia ou África. Marxestava menos informado do que os empresários Ingleses que sabiam alguma coisa sobre asrelações comerciais com a China e a Índia. A única atenção que Marx deu para este problemafoi a sua nota, mais tarde publicado por Vera Zasulich, no sentido de que pode ser possívelpara um país pular a etapa capitalista e avançar diretamente ao socialismo. Marx não vianenhuma distinção entre as várias nações. O Capitalismo, o feudalismo, provocam oprogressivo empobrecimento em todos lugares. Em todos lugares haverá economias maduras.E, quando a idade madura do capitalismo vier, o mundo todo alcançará o socialismo.

Marx não tinha a habilidade de aprender pela observação de acontecimentos políticos e daliteratura política publicada em torno dele. Para ele praticamente nada mais existiu exceto oslivros dos economistas clássicos, que ele encontrou na biblioteca do Museu Britânico, e asaudições das Comissões Parlamentares Britânicas. Ele nem sequer viu o que estavaacontecendo no seu próprio bairro. Ele não percebeu que muitas pessoas estavam lutando,não pelos interesses do proletariado, mas pelos princípios da nacionalidade.

Marx ignorou completamente o princípio da nacionalidade. O princípio da nacionalidade diziaque cada grupo lingüístico forma um estado independente e que todos os membros de umgrupo dessa natureza devem ser reconhecidos e unificados. Este foi o princípio que provocouos conflitos europeus, conduzindo à destruição completa do sistema europeu e criou o caosatual na Europa. O princípio da nacionalidade não leva em conta que existem grandesterritórios em que populações lingüísticas estão misturadas. Conseqüentemente, ocorreramlutas entre os diferentes grupos lingüísticos que finalmente levou à situação que temos hoje naEuropa. Eu menciono isto porque este é um princípio de governo que era desconhecido atéagora.

De acordo com este princípio não existe nenhuma nação tal como a Índia. É possível que esteprincípio da nacionalidade divida a Índia em muitos estados independentes que lutam umcontra o outro. O Parlamento Indiano usa o idioma Inglês. Os membros dos vários estados nãopodem se comunicar em outra língua, exceto na língua oficial do governo, um idioma que elespraticamente expeliram do país. Mas essa situação não irá durar eternamente.

Em 1848, quando os Eslavos da Europa se encontraram para um Congresso Pan-eslavista emMoscou eles tiveram que falar entre si em Alemão. Mas isto não impediu uma evoluçãoposterior de uma forma diferente.

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Karl Marx e Engels não gostavam do movimento nacionalista e nunca tomaram conhecimentodele. Ele não se encaixava em seus planos ou programas. Se, por causa das observaçõeshostis que Marx e Engels fizeram a vários grupos lingüísticos da Áustria-Hungria e dos Bálcãs,alguns autores, especialmente autores franceses, pensam que Marx foi o precursor donacional-socialismo - nazismo - eles estão errados. Marx disse que ele desejava criar umgoverno mundial. Esta também era a idéia de Lênin.

Em 1848 Marx assumiu que o socialismo estava próximo. Levando em conta essa teoria, nãohavia qualquer razão para a constituição de um estado separado lingüisticamente. Um estadodesse tipo só poderia ser temporário. Marx simplesmente presumiu que a era dasnacionalidades havia chegado ao fim, e que nós estávamos na véspera de uma era em quenão existiriam mais diferenças entre os vários tipos, classes, nações, grupos linguísticos, etc.Marx negou absolutamente qualquer diferença entre os homens. Os homens serão todos domesmo tipo. Nunca houve qualquer resposta, em Marx, sobre o idioma que as pessoas no seuestado mundial usariam, ou de que nacionalidade o ditador seria.

Marx ficou furioso quando alguém disse que havia diferenças entre homens na mesma nação,na mesma cidade, na mesma filial de negócio, da mesma maneira todos os marxistas ficaramfuriosos quando alguém lhes falou que havia diferenças entre os Ingleses e os Esquimós. Deacordo com Marx, a única diferença era devido à instrução. Se um idiota e Dante recebessem amesma educação, não haveria nenhuma diferença entre eles. Esta idéia influenciou osseguidores de Marx, e ainda é um dos princípios de base da instrução Americana. Por que todoo mundo não é igualmente inteligente? Muitos marxistas assumem que na futura comunidadesocialista as pessoas comuns serão iguais, em talentos, dons, inteligência, realizaçõesartísticas, aos maiores homens do passado, como Trotsky, Aristóteles, Marx, e Goethe, apesarde ainda existirem pessoas mais talentosas.

Nunca ocorreu a Marx que, na melhor das hipóteses, à educação só pode transferir para oaluno o que o professor já sabe. No caso de Marx, não teria sido bastante para ele ter sidoeducado em uma escola por perfeitos professores Hegelianos porque tudo o que ele teriaproduzido teria sido novamente apenas Hegelianismo. Ao educar as pessoas no conhecimentoda geração anterior aos automóveis, não teria sido possível produzir automóveis. Educaçãonunca pode provocar progresso como tal. O fato de que algumas pessoas, graças às suasposições, herança, à educação, e assim por diante, tem o dom de ir um passo mais longe doque gerações anteriores, não pode ser explicado simplesmente pela educação.

Da mesma forma, é impossível explicar as grandes coisas e os grandes atos de algunshomens simplesmente fazendo referência à sua filiação nacional. O problema é, por que estas

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pessoas eram diferentes de seus irmãos e irmãs? Marx simplesmente assumiu, sem qualquerrazão, que agora estamos vivendo na era da globalização e que todos os traços nacionais irãodesaparecer. Da mesma forma que ele assumiu que a especialização iria desaparecer, poismáquinas podem ser operadas por trabalhadores não qualificados, ele assumiu que não maisexistiriam quaisquer diferenças entre as diversas partes do mundo e entre as várias nações.Todo tipo de conflito entre as nações foi interpretado como conseqüência das maquinações daburguesia. Por que os Franceses e os Alemães lutam? Por que eles lutaram em 1870? Porqueas classes governantes da Prússia e as classes governantes de França quiseram lutar. Masisto nada tinha a ver com os interesses das nações.

No que diz respeito à sua atitude para com a guerra, Marx foi, naturalmente, influenciado pelaidéia dos liberais laissez-faire de Manchester. Ao utilizar o termo "liberalismo de Manchester"sempre como um insulto, temos a tendência a esquecer o essencial da famosa declaração doCongresso de Manchester onde o termo foi originado. Foi dito que no mundo do livre comérciojá não haverá qualquer razão para as nações lutarem entre si. Se existe liberdade de comércioe cada nação pode desfrutar dos produtos de todas as outras nações, a mais importante causada guerra desaparece. Os príncipes estão interessados em aumentar o tamanho territorial desuas províncias para adquirir maior renda e poder, mas as nações, como tais, não estãointeressadas, porque não faz qualquer diferença em condições de livre comércio. E, naausência de barreiras de imigração não importa para o cidadão se o seu país é grande oupequeno. Por isso, de acordo com os liberais de Manchester, a guerra vai desaparecer sob oregime democrático popular. O povo não vai, então, ser a favor da guerra porque eles não têmnada a ganhar -- eles apenas têm de pagar e morrer na guerra.

Foi esta idéia que estava na mente do Presidente [Woodrow] Wilson [1856-1924] quando elefoi para a guerra contra a Alemanha. O que Presidente Wilson não viu era que tudo isso sobrea inutilidade da guerra só é verdade apenas num mundo onde há livre comércio entre asnações. Isso não é verdade num mundo intervencionista.

O Sr. Norman Angel [1872-1967] ainda argumenta neste mesmo sentido. O que os Alemãesganharam em 1870? Isto era quase verdade naquela época, porque relativamente havia livrecomércio. Mas hoje a situação é diferente. As próprias políticas da Itália tornaram istoimpossível para os Italianos, no mundo do intervencionismo, obter as matérias-primas quenecessitavam. Não é verdade no mundo intervencionista de hoje que o indivíduo não ganhaqualquer coisa da guerra.

A Liga das Nações é um dos grandes fracassos na história mundial, e houve muitas falhas nahistória do mundo. Durante os 20 anos da Liga os obstáculos comerciais foram cada vez maisintensificados. As tarifas se tornaram irrelevantes como barreiras comerciais porque embargosforam estabelecidos.

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Os liberais afirmaram que a guerra já não era mais vantajosa economicamente porque aspessoas não iriam ganhar nada com ela, portanto, uma nação democrática não será maisansiosa por guerras. Marx assumiu que isto era verdade mesmo no mundo intervencionista queestava se desenvolvendo diante de seus próprios olhos. Este foi um dos erros fundamentais domarxismo. Marx não era um pacifista. Ele não disse guerra era má. Ele somente disse --porque assim o disseram os liberais -- que a guerra entre as nações não tinha importância ousignificado algum.

Ele disse que a guerra – i.e., revolução, pela qual ele quis dizer guerra civil – era necessária.Friedrich Engels também não foi um pacifista; ele estudava ciência militar todos os dias, a fimde preparar-se para a posição que ele próprio tinha se atribuído, como comandante-em-chefede todas as nações, como comandante-em-chefe dos proletários de todos os países unidos.Lembre-se que ele participou da caça à raposa num casaco vermelho, que era, disse ele aMarx, o melhor exercício para um futuro general.

Devido a esta idéia de revolução - a guerra civil, não guerra internacional - a InternacionalMarxista começou a discutir a paz. Em 1864 Marx fundou a Primeira Internacional em Londres.Um grupo de pessoas que pouco tinha a ver com o povo e as massas se reuniram. Havia umsecretário para cada país. O secretário para a Itália foi Friedrich Engels e muitos outros paísesforam representados por pessoas que apenas conheciam os países que estavamrepresentando como turistas. Disputas entre os membros desorganizaram toda a Internacional.Finalmente ela foi transferida para os Estados Unidos e, em seguida, fechou em 1876.

A Segunda Internacional foi criada em Paris em 1869. Mas esta Segunda Internacional nãosabia com o que lidar. Os sindicatos tinham surgido e se opuseram ao livre comércio e à livremigração. Sob essas condições, como você pode encontrar assuntos a serem discutidos emum congresso internacional? Então eles decidiram discutir a paz e a guerra, mas apenas anível nacional. Eles disseram que eram todos proletários e acordaram que nunca iriam lutar asguerras da burguesia. Entre os alemães estavam Engels e Karl Kautsky. Alguns "maus"franceses no grupo perguntaram, "O que você quer dizer quando afirma que não podemosdefender o nosso próprio país? Nós não gostamos do Hohenzollerns”. Os franceses naquelaépoca fizeram um acordo com os russos e os alemães não gostaram disso. Ao passar dosanos ocorreram alguns desses congressos internacionais e cada vez os jornais afirmavam queo congresso havia anunciado o fim da guerra. Mas estes "bons companheiros" não discutiamas verdadeiras causas de atrito, a barreiras contra a migração, etc. A eclosão da PrimeiraGuerra Mundial rompeu o Congresso Internacional.

O que Marx planejou foi uma revolução. Mas o que realmente aconteceu foi que ele criou umaorganização burocrática nos países europeus que eram, em geral, inocentes, porque nãotinham poder para executar suas teorias. Então lá no Leste se desenvolveu uma organização

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comunista que infelizmente tem o poder para executar as pessoas e ameaçar o mundo inteiro.E tudo isto começou na sala de leitura do Museu Britânico de Londres por um homem, que nãofoi a este respeito um homem de ação, mas que tinha a capacidade de provocar açõesviolentas. Foram tímidos personagens burgueses, Karl Marx e Georges Sorel, que criaram todoessa destruição. A maior parte das idéias violentas dos nossos tempos têm vindo de homensque não teriam sido capazes de resistir a qualquer agressão.

Wilson aceitou a doutrina dos Liberais de Manchester, a saber que, considerando-se aimportância da guerra, democracias não gostam de lutar guerras; Mas Wilson não viu que issoera verdade apenas num mundo de livre comércio. Ele não viu que isto já era bastantediferente na época em que ele vivia, que foi uma era de intervencionismo. Ele não percebeuque uma enorme mudança nas políticas econômicas tinha privado esta teoria dos Liberais deManchester de sua praticabilidade. Barreiras comerciais eram comparativamente inofensivasem 1914. Mas elas pioraram muito durante os anos da Liga de Nações. Enquanto oscomerciantes estavam se reunindo com a Liga em Genebra e falando sobre a redução dasbarreiras comerciais, as pessoas nos seus países estavam tratando de aumentá-las. Em 1933,houve uma reunião em Londres para levar a cooperação entre as nações. E precisamenteneste momento o país mais rico, os Estados Unidos, anulou a coisa inteira com regulamentosmonetários e financeiros. Depois disto o aparato inteiro era absolutamente inútil.

A teoria da vantagem comparativa de Ricardo afirma que é vantajoso para uma nação ter ocomércio livre mesmo se todas as nações restantes se agarrem a suas barreiras comerciais.Se os Estados Unidos adotasse hoje sozinho o comércio livre, haveria algumas mudanças.Mas se todos os outros países se agarrarem ao protecionismo com barreiras de importação,não seria possível para os Estados Unidos comprar mercadorias provenientes de outrospaíses.

Não há isolacionismos somente neste país; há também isolacionismos em outros países.

As importações devem ser pagas por exportações e as exportações não possuem nenhumoutro propósito que pagar por importações.

Assim, o estabelecimento do livre comércio pela mais rica e poderosa nação não iria alterar asituação para os italianos, por exemplo, se fossem mantidas suas barreiras comerciais. Nãofaria qualquer diferença para os outros países também. O livre comércio é vantajoso paraqualquer país, mesmo se todos os outros países não fazem, mas o problema é remover asbarreiras dos outros países.

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O termo "socialismo", quando ele era novo na segunda parte dos anos 1830, significavaexatamente a mesma coisa que "comunismo" - ou seja, a nacionalização dos meios deprodução. “Comunismo” era no princípio o termo mais popular. Lentamente o termo“comunismo” caiu no esquecimento e o termo “socialismo” entrou em uso quase queexclusivamente.

Partidos socialistas e partidos social-democratas foram formados e o dogma fundamental delesera o Manifesto Comunista. Em 1918, Lênin precisava de um novo termo para distinguir o seugrupo de socialistas daqueles grupos que qualificou de "traidores sociais". Então, ele deu aotermo "comunismo" um novo significado; ele o usou para referir, não a meta final de socialismoe do comunismo, mas apenas os meios táticos para os atingir. Até Stalin, comunista significavasimplesmente um método melhor - o método revolucionário – contra o pacífico, socialista,contra o método dos "socialistas traidores". No final da década de 1920, sem grande sucesso,Stalin, na Terceira Internacional, tentou dar um significado diferente ao termo "comunismo".Contudo, a Rússia continua a ser denominada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS). Em uma carta, Karl Marx distinguiu entre duas fases do socialismo — a mais baixafase preliminar e a fase mais elevada. Mas Marx não dava nomes diferentes para estas duasetapas. Na fase mais elevada, disse ele, haverá uma tal abundância de tudo que será possívelestabelecer o princípio "para cada um, de acordo com suas necessidades". Stalin fez umadistinção porque os críticos estrangeiros notaram diferenças nos padrões de vida de váriosmembros dos Sovietes Russos. No final da década de 1920 ele declarou que o estágio maisbaixo era o "socialismo” e a fase mais avançada era o "Comunismo". A diferença era que noestágio socialista haveria desigualdade nas rações dos vários membros dos sovietes russos; aigualdade será atingida apenas mais tarde, no estágio comunista.

Avançar para a Quinta Parte >> Marxismo segundo Ludwig von Mises - V

Notas:

[1] [V.I. Lenin, Materialism and Empirio-criticism: Critical Comments on a ReactionaryPhilosophy (Moscow: Zveno Publishers, 1909).—Ed.]

[2] [Rosenberg [1893–1946] foi um ideólogo Nazista condenado a morte por crimes de Guerraem Nuremberg em 1 de Outubro de1946. Ele foi executado em  16 de Outubro de1946.—Ed.]

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Tradução: Wellington Moraes.

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Marxismo segundo Ludwig von Mises - V PDF Imprimir E-mail Escrito por Ludwig von Mises Seg, 12 de Janeiro de 2009 10:16 Ludwig von Mises é um dos mais notáveis filósofos e economistas do nosso tempo. Inspirado no início de sua carreira pelo trabalho de seus professores - os grandes economistas austríacos Carl Menger e Böhm-Bawerk - Mises, por meio de uma série de pesquisas universitárias, analisou sistematicamente cada problema econômico importante, criticou erros inveterados e substituiu velhos sofismas por idéias sólidas e sadias. Este é o quinto capítulo originalmente intitulado "Marxism and the Manipulation of Man" do livro "Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction", publicado pela Foundation for Economic Education. Faz parte de uma série de nove discursos formais de Ludwig Von Mises, (1881-1973), pronunciados entre 23 de junho e 3 de julho de 1952, na Biblioteca Pública de São Francisco, São Francisco, Califórnia, num seminário patrocinado pela revista The Freeman. Ver também: Parte I, Parte II , Parte III e Parte IV Quinta parte Marxismo e a Manipulação do Homem É um fato surpreendente que uma filosofia como o Marxismo, que ataca todo o sistema social, tenha permanecido durante muitas décadas mais ou menos inatacada e incontestada. Durante seu tempo de vida Karl Marx não era muito conhecido e suas obras permaneceram praticamente desconhecidas para a maior parte dos seus contemporâneos. Os grandes socialistas de sua época eram outros homens — por exemplo, Ferdinand Lassalle. As agitações públicas de Lassalle duraram somente um ano porque ele morreu num duelo resultante de um assunto particular, mas ele foi considerado um grande homem em sua época. Marx, por outro lado, era mais ou menos desconhecido. As pessoas nem aprovaram e nem criticaram seus ensinamentos. Ele morreu em 1883. Após sua morte apareceu a primeira parte da crítica de Böhm-Bawerk às doutrinas econômicas de Karl Marx (1). Mais tarde, na década de 1890, quando o último volume de O Capital foi publicado, apareceu a segunda parte desta crítica que destruiu completamente as doutrinas econômicas de Marx. (2) Os marxistas mais ortodoxos tentaram reavivar e reformular suas doutrinas. Mas praticamente não havia nenhuma crítica sensata às doutrinas filosóficas de Karl Marx. As doutrinas filosóficas de Marx se tornaram populares quando as pessoas familiarizaram-se com alguns de seus termos, slogans, etc., embora elas os tenham usado de um modo diferente da forma como foram utilizados no sistema de Karl Marx. Esta simplificação acontece com muitas doutrinas. Por exemplo, o darwinismo se tornou conhecido como a teoria baseada na idéia de que o homem é neto de um macaco. O que resta de Nietzsche não é muito mais do que o seu termo "super-homem", que mais tarde adquiriu popularidade nos Estados Unidos, sem qualquer conexão com Nietzsche. Relativamente a Marx, as pessoas conhecem seus termos, mas utilizam de forma vaga. Mas em geral, as idéias marxistas têm pouca ou nenhuma oposição.

Uma das razões por que a doutrina de Marx foi tão diluída na mente da opinião pública, foi a maneira que Engels tentou explicar a teoria marxiana. Veja a declaração dele no sepultamento de Marx: "Marx descobriu a lei do desenvolvimento da história humana: o fato tão simples, mas oculto até ele sob a malícia ideológica, de que o homem necessita em primeiro lugar comer, beber, ter um teto e vestir-se antes de poder fazer política, ciência, arte, religião, etc.”. (3) Ninguém jamais negou isto. Mas agora, se alguém diz algo contra a doutrina marxista, então eles podem perguntar: "Como você pode ser tão estúpido para negar que uma pessoa primeiro deve comer antes de torna-se um filósofo?" Novamente, há a teoria das forças produtivas materiais. Mas nenhuma explicação é oferecida para a sua formação. O Materialismo dialético afirma que as forças produtivas materiais vêm ao mundo — não se sabe como elas vêm, nem de onde vêm — e são essas forças produtivas materiais que criam todo o resto, ou seja, a superestrutura. Às vezes as pessoas acreditam que houve um forte conflito entre as diferentes igrejas e o marxismo. Elas consideram o marxismo e o socialismo incompatíveis com os ensinamentos de todas as igrejas cristãs e seitas. As primeiras seitas comunistas e as primeiras comunidades monásticas eram baseadas numa peculiar interpretação da Bíblia em geral, e do livro de Atos especialmente. Nós não sabemos muito sobre essas primeiras seitas comunistas, mas elas existiram na Idade Média e também nos primeiros anos da Reforma. Todas essas seitas estavam em conflito com as doutrinas estabelecidas de suas igrejas ou denominações. Portanto, seria absolutamente errado tornar a Igreja Cristã responsável por eles. Digo isto para mostrar que, pelo menos na mente de alguns grupos – grupos em grande parte considerados heréticos pela Igreja –, não existe qualquer conflito absoluto entre o socialismo e os ensinamentos da Igreja. As tendências anticristãs dos precursores socialistas de Karl Marx, do próprio Karl Marx, e mais tarde dos seus seguidores, os marxistas, antes de tudo devem ser compreendidas dentro de todo o quadro que mais tarde deu origem ao socialismo moderno. Os estados, os governos, os partidos conservadores, não foram sempre opostos ao socialismo. Pelo contrário, o pessoal do governo tem uma tendência ou um viés em favor da expansão do poder governamental; alguém poderia mesmo dizer que existe uma "doença profissional" por parte do pessoal do governo para estar a favor de mais e mais atividades governamentais. Foi precisamente este fato, esta propensão dos governos a adotarem o socialismo — e muitos governos realmente adotaram o socialismo — que pôs o marxismo em conflito com os vários governos. Tenho dito que a pior coisa que pode acontecer a um socialista é ter o seu país governado por socialistas que não são seus amigos. Este foi o caso no que diz respeito a Karl Marx e o governo Prussiano. O governo Prussiano não era contra o socialismo. Ferdinand Lassalle atacou os partidos liberais da Prússia, que estavam naquela época num grande combate constitucional contra os reis Hohenzollern, liderados por Bismarck. A maioria na Prússia naquela época era contra o governo; o governo não poderia obter uma maioria no Parlamento Prussiano. O governo prussiano não estava muito forte naquele momento. O Rei e o primeiro-ministro governavam o país sem consentimento, sem a cooperação do Parlamento. Este era o caso no início dos anos 1860. Como uma ilustração da debilidade do governo Prussiano, Bismarck, em suas memórias, relatou uma conversa que ele teve com o Rei. Bismarck disse que iria derrotar o Parlamento e os liberais. O Rei respondeu: "Sim, eu sei como isso vai acabar.

Aqui na praça em frente ao palácio. Primeiro eles vão executá-lo e, em seguida, eles vão me executar". A Rainha Vitória [1819-1901], cuja filha mais velha [Vitória, 1840-1901] tinha se casado o príncipe real da Prússia, não estava muito contente com esta situação; ela estava convencida de que os Hohenzollerns seriam derrotados. Neste momento crítico, Ferdinand Lassalle, que esteva à frente de um movimento operário que era, até então, ainda muito modesto, muito pequeno, veio ajudar o governo Hohenzollern. Lassalle teve reuniões com Bismarck e eles "planejaram" o socialismo. Eles introduziram um auxílio estatal, a produção cooperativa, a nacionalização e o sufrágio universal. Mais tarde Bismarck realmente embarcou num programa de legislação social. O maior rival dos marxistas foi o governo prussiano, e eles lutaram com todos os movimentos possíveis. Agora você precisa compreender que a Igreja Prussiana na Prússia, a Igreja Protestante, era simplesmente um departamento do governo, administrado por um membro do gabinete, o ministro da Educação e dos Assuntos da Cultura. Um dos vereadores dos níveis mais baixos da administração tratou dos problemas da igreja. A igreja neste sentido era uma igreja estatal; era uma igreja estatal até mesmo em sua origem. Até 1817, havia luteranos e calvinistas na Prússia. Os Hohenzollerns não gostavam desta situação. Os luteranos estavam em maioria no antigo território prussiano, mas nos territórios recém-adquiridos, havia dois grupos. Apesar do fato de que a maioria do povo prussiano era luterano, o eleitorado do estado de Brandeburgo tinha mudado de luteranos para calvinistas. Os Hohenzollerns eram calvinistas, mas eles eram os chefes da Igreja Luterana no seu país. Depois, em 1817, sob Frederico Guilherme III da Prússia, as duas igrejas foram fundidas para formar a Igreja da União Prussiana. A Igreja era subordinada ao governo do país. A partir do século XVII na Rússia, a igreja era simplesmente um departamento do governo. A igreja não era independente. A dependência da Igreja do poder secular foi uma das características da Igreja Oriental em Constantinopla. O chefe do Império Oriental foi, de fato, o Patriarca Superior. Esse mesmo sistema foi em certa medida levado para a Rússia, mas lá a Igreja era apenas uma parte do governo. Portanto, se você atacou a igreja, você também atacou o governo. O terceiro país em que o problema estava muito crítico foi a Itália, onde a unificação nacionalista implicava a abolição do governo secular do Papa. Até a segunda parte do século XIX a parte central da Itália era governada pelo Papa independente. Em 1860, o rei da Sardenha conquistou esses estados. O Papa manteve apenas Roma, sob a proteção de um destacamento do Exército Francês até 1860, quando os franceses tiveram que se retirar para lutar com a Prússia. Portanto, houve uma contenda muito violenta entre a Igreja Católica e do estado laico Italiano. A luta da Igreja contra as idéias marxistas relativas à religião é algo diferente da sua luta contra o programa socialista. Hoje [1952] é ainda mais complicado pelo fato de que a Igreja Russa, a Igreja Ortodoxa Oriental, entrou, ao que parece, em algum acordo com os bolcheviques. A luta no Oriente é, em grande medida, uma luta entre a Igreja Oriental e a Igreja Ocidental: a continuação da luta que se originou a mais de mil anos atrás entre as duas igrejas. Por isso, os conflitos nestes países, entre a Rússia e as fronteiras ocidentais da cortina de ferro, são muito complicados. Não é apenas uma luta contra métodos de totalitarismo econômico pela liberdade econômica; também é uma luta de várias nacionalidades, de diferentes grupos

lingüísticos. Consideremos, por exemplo, as tentativas do atual governo russo tornar as diferentes nacionalidades bálticas em russas -- uma continuação de algo que havia sido iniciado pelos Czares -- e as lutas na Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, etc., contra as tentativas da Igreja Russa para trazê-los de volta, como eles costumam dizer, ao credo Oriental. Para compreender todas estas lutas é preciso ter uma familiaridade especial com estas nacionalidades e com as histórias religiosas destas partes do mundo. Nos séculos XVI e XVII, houve mudanças que ampliaram a dimensão do território em que a supremacia do Papa era reconhecida. Portanto, existia uma Igreja Russa, a Igreja Ortodoxa, e uma Igreja Católica Ucraniana ou Russa, que reconheceram a supremacia do Papa. Todas estas coisas juntas constituíram as grandes lutas religiosas do Oriente. No entanto, é preciso não confundir os eventos que aconteciam nestas lutas nacionalistas e religiosas com a luta contra o comunismo. Por exemplo, os políticos que lutam contra os Russos hoje não estão, ou pelo menos na maioria dos casos, lutando em favor de um sistema econômico livre. Eles são marxistas, socialistas. Eles provavelmente gostariam de ter um Estado policial totalitário, mas eles não querem que esse estado seja governado pelos Russos. Deste ponto de vista, não se pode dizer que existe uma real oposição aos ensinamentos sociais e aos programas sociais do marxismo. Por outro lado, é importante perceber que não existe sempre e necessariamente uma ligação entre o anti-marxismo, uma filosofia ideológica, e a liberdade econômica. Um dos notáveis contemporâneos de Karl Marx na Alemanha foi um filósofo, Albert Friedrich Lange [1828-1875]. Ele escreveu um famoso livro, A História do Marxismo, considerado por muitos anos, não só na Alemanha, mas também em países de língua inglesa, uma das melhores introduções à filosofia. Lange era socialista; ele escreveu outro livro sobre socialismo. Em seu livro ele não criticou Marx, mas o materialismo. O materialismo marxista é um materialismo muito imperfeito. Ele descreve todas as alterações anteriores em apenas algo que já é, por si só, produto da mente humana. [Nota do Tradutor: Sobre o assunto ver o Capítulo I - Mente, Materialismo e o Destino do Homem ] É importante salientar o fato de que as críticas ao marxismo eram muitas vezes incorretas. Quero apenas apontar um exemplo típico. É a propensão popular dos anti-marxistas considerarem o materialismo dialético e o marxismo como algo pertencente ao mesmo grupo de idéias da psicanálise freudiana. Eu não sou psicólogo, mas tenho que mostrar como as pessoas se confundem ao acreditar que o materialismo, em geral, e o materialismo marxista, em particular, têm alguma ligação com a psicanálise freudiana. Antes de Sigmund Freud [1856-1939] e Josef Breuer [1842-1925], que estrearam todo este modo de pensar, começarem a desenvolver as suas doutrinas a suposição de que as deficiências mentais eram causadas por alterações patológicas no corpo humano era geralmente incontestada entre todos os médicos. Se um homem tinha algo que fosse chamado de uma doença mental ou nervosa, eles buscariam por fatores corporais que o deixaram neste estado. Do ponto de vista do médico, que lida com o corpo humano, esta é a única interpretação possível. Porém, às vezes eles estavam absolutamente corretos quando eles diziam: “Nós não sabemos a causa.” O único método era procurar uma causa física. Poderia citar muitos exemplos. Quero citar apenas um. Isto aconteceu em 1889, poucos anos antes do primeiro livro de Freud e Breuer ser publicado. Um homem

famoso cometeu suicídio na França. Por razões políticas e por causa de sua religião, foi levantada a questão se ele era ou não mentalmente equilibrado. Sua família queria provar que era uma doença mental. A fim de provar sua doença mental para a Igreja, eles tinham que descobrir alguma causa física. Houve uma autópsia por eminentes médicos, e o relatório foi publicado. "Nós descobrimos determinadas coisas no cérebro", eles disseram, "há algo que não é regular." Naquele tempo, as pessoas pensavam que se um homem não se comportasse como as outras pessoas e não tivesse qualquer sinal de anormalidade física no seu corpo, ele estava fingindo. Às vezes isso é lamentável, porque só podemos saber se uma pessoa está ou não fingindo depois que ela está morta. A este respeito, a psicanálise foi responsável por uma grande mudança. O caso do Príncipe Rudolf da Áustria [1858-1889], que cometeu suicídio em Mayerling, levantou questões semelhantes. (4) O primeiro caso famoso foi o de uma mulher que estava paralítica. Nada ainda poderia ser descoberto em seu corpo para explicar a sua situação. O caso foi descrito por um homem que seguiu o conselho de um poeta latino: espere nove anos com o seu manuscrito antes de publicá-lo. Breuer teve a idéia de que a origem desta deficiência corporal não era física, mas que isso estava na mente. Essa foi uma mudança radical no campo das ciências naturais; uma coisa dessas nunca havia acontecido antes -- uma descoberta de que fatores mentais, idéias, superstições, fábulas, idéias erradas, o que um homem pensa, o que ele acredita, pode provocar mudanças no corpo. Isto era algo que todas as ciências naturais tinham negado e contestado antes. Freud era um homem muito consciente e prudente. Ele não disse, "Eu desacreditei totalmente as velhas doutrinas." Ele disse: "Talvez um dia, depois de muito tempo, os médicos que estudam patologias irão descobrir que as idéias são o produto de algum fator corpóreo físico externo. Então a psicanálise deixará de ser necessária ou útil. Mas, por enquanto, você tem que admitir pelo menos que existe um valor temporário na descoberta de Breuer e na minha e que, do ponto de vista da ciência dos dias de hoje, não há nada que confirma a tese materialista de que todas as idéias ou cada pensamento é o produto de algum fator externo, assim como a urina é um produto do corpo.” Psicanálise é o oposto do materialismo; é a única contribuição para o problema do materialismo versus idealismo que veio de uma investigação empírica do corpo humano. Temos de lidar com as formas de abuso que algumas pessoas fizeram da psicanálise. Eu não defendo os psicanalistas que tentam explicar tudo a partir do ponto de vista de determinadas impulsos, entre os quais o impulso sexual é considerado o mais importante. Existia um livro de um francês tratando sobre Baudelaire [Charles Baudelaire, 1821-1867]. Baudelaire gostava de gastar dinheiro, mas ele não ganhou dinheiro porque os editores não compraram seus poemas enquanto ele viveu. Mas sua mãe tinha dinheiro; ela tinha casado por dinheiro, seu marido morreu e deixou tudo para ela. Baudelaire escreveu para sua mãe um monte de cartas. Este escritore encontrou todo tipo de explicações subconscientes para suas cartas. Não defendo essa tentativa. Mas suas cartas não precisam de mais explicações do que: Baudelaire queria dinheiro. Freud disse que ele não sabia nada sobre socialismo. Neste aspecto ele foi muito diferente de Einstein [1879-1955], que disse: "Eu não sei nada sobre economia, mas o socialismo é muito bom."

Se observarmos como o marxismo se tornou a principal filosofia de nossa época, nós temos que mencionar o Positivismo e a escola de Auguste Comte. Comte era um socialista semelhante a Karl Marx. Em sua juventude, Auguste Comte tinha sido o secretário de Saint-Simon. Saint-Simon era um totalitário que queria dominar todo o mundo através de um conselho mundial e, obviamente, ele acreditou que ele seria o presidente deste conselho mundial. Segundo a idéia de Comte sobre a história do mundo, era necessário buscar pela verdade no passado. “Mas agora, eu, agosto Comte, descobri a verdade. Portanto, já não há qualquer necessidade de liberdade de pensamento ou liberdade de imprensa. Eu gostaria de governar e de organizar todo o país.” É muito interessante seguir a origem de alguns termos que são hoje tão familiares que nós presumimos que ele deve ter sido assim na língua desde os tempos imemoriais. Em francês, as palavras "organizar" e "organizador" não eram conhecidas antes do final do século XVIII ou do início do século XIX. No que se refere a este termo, "organizar", observou Balzac [5], "Este é um novo termo da moda Napoleônica. Isto significa que você sozinho é o ditador e você lida com o indivíduo como o construtor trabalha com pedras.” Outro novo termo, "engenharia social", lida com a estrutura social. O engenheiro social trabalha com a estrutura social ou com o seu próximo como o mestre construtor lida com seus tijolos. Raciocinando desta forma, os bolcheviques eliminaram aqueles indivíduos que eram inúteis. No conceito de "engenharia social" você tem a idéia de planejamento, a idéia do socialismo. Hoje temos muitos nomes para o socialismo. Se uma coisa é popular, então o idioma tem muitas expressões para ele. Estes planejadores dizem em defesa de suas idéias que você deve planejar as coisas; você não pode deixar as coisas agirem "automaticamente". Às vezes, "automaticamente" é uma metáfora usada no sentido de significar as coisas que acontecem no mercado. Se o fornecimento de um produto diminui, eles dizem que os preços sobem "automaticamente." Mas isso não significa que isso seja feito sem a consciência humana, sem algumas pessoas ofertando e oferecendo. Os preços sobem, precisamente porque as pessoas estão ansiosas para adquirir essas coisas. Nada acontece no sistema econômico "automaticamente." Tudo acontece porque algumas pessoas comportam-se de uma forma definida. Também os planejadores dizem: "Como você pode ser tão estúpido para defender a falta de planejamento?" Mas ninguém defende a ausência de plano. A questão não é "Planejar, ou não planejar." A questão é "Plano de quem? O plano de apenas um ditador? Ou o plano de muitas pessoas?” Todos planejam. Planejamos ir ao trabalho, ir para casa, ler um livro; planejamos mil outras coisas. Um "grande" plano elimina os planos de todo os outros; então somente um plano pode ser supremo. Se o "grande" plano e os planos dos indivíduos entram em conflito, qual plano deve ser supremo? Quem decide? A polícia decide! E eles decidem em favor da "grande" plano. Nos início do socialismo, alguns críticos culpavam os socialistas por sua ignorância da natureza humana. Um homem que tem de executar o plano de alguém deixaria de ser

um homem do tipo que chamamos humano. Esta objeção foi respondida pelos socialistas que disseram: "Se a natureza humana é contra o socialismo, então a natureza humana terá de ser mudada." Karl Kautsky afirmou isto muitos anos atrás, mas ele não deu quaisquer detalhes. Os detalhes foram fornecidos pelo Behaviorismo e por [Ivan] Pavlov [1849-1936], o psicólogo mencionado em qualquer livro por marxistas. A explicação foi oferecida pelo reflexo condicionado de Pavlov. Pavlov foi um czarista, ele fez seus experimentos, nos dias do Czar. Em vez de direitos humanos, o cachorro de Pavlov tinha direitos caninos. Este é o futuro da educação. A filosofia behaviorista pretende lidar com seres humanos como se não existissem idéias ou falhas nos homens. O Behaviorismo considera cada ação humana como uma reação a um estímulo. Tudo na natureza física e fisiológica responde a alguns reflexos. Eles dizem, "O homem pertence ao mesmo domínio dos animais. Porque ele deve ser diferente? Há certos e determinados reflexos e certos instintos que guiam os homens para certos fins. Certos estímulos provocam certas reações.” O que os Behavioristas e os Marxistas não enxergaram foi que você não pode sequer desacreditar esta teoria dos estímulos sem entrar no sentido que o indivíduo atribui a esses estímulos. A dona de casa, quando calcula o preço de um objeto que ela está considerando comprar, reage de maneira diferente a US $5 do que a US $6. Você não pode determinar o estímulo sem entrar no significado. E o significado em si é uma idéia. A abordagem Behaviorista diz: "Nós vamos condicionar a outras pessoas.” Mas quem são o "nós"? E quem são as "outras pessoas?” "Hoje", dizem eles, "as pessoas estão condicionadas para o capitalismo por muitas coisas, pela história, pelas boas pessoas, por más pessoas, pela igreja, etc., etc." Esta filosofia não nos dá qualquer resposta diferente da resposta que nós já vimos. A idéia geral desta filosofia é que temos de aceitar o que Karl Marx disse-nos, porque ele tinha o grande dom, ele foi certificado pela Providência, pelas forças produtivas materiais, com a descoberta da lei da evolução histórica. Ele sabe o fim para o qual a história conduz a humanidade. Isto conduz finalmente ao ponto onde nós temos que aceitar a idéia de que o partido, o grupo, a facção exclusiva que derrotou os outros pela força das armas é o governante certo, [temos que aceitar] que ele é chamado pelas forças produtivas materiais para “condicionar” todas as outras pessoas. A coisa fantástica é que a escola que desenvolve esta filosofia [nos EUA] se chama “liberal” e denomina seu sistema “democracia popular,” “democracia real,” e assim por diante. Também é fantástico que o vice-presidente dos Estados Unidos [Henry Wallace, 1888–1965] um dia declarou, “Nós nos Estados Unidos temos apenas uma democracia dos direitos civis — mas na Rússia há democracia econômica.” Houve um autor socialista, altamente valorizado pelos bolcheviques no início, que afirmou que o homem mais poderoso do mundo é o homem sobre o qual as maiores mentiras são contadas e acreditadas. (Algo parecido foi dito por Adolf Hitler.) Aqui está o poder desta filosofia. Os russos têm o poder para dizer, "Nós somos uma democracia e nosso povo está feliz e desfruta de uma vida plena em nosso sistema”. E as outras nações parecem ser incapazes de encontrar a resposta certa para esta idéia. Se tivessem encontrado a resposta certa, essa filosofia não seria tão popular.

Há pessoas que vivem aqui nos Estados Unidos, no padrão de vida americano, que acham que são infelizes porque não vivem na Rússia Soviética, onde, dizem, existe uma sociedade sem classes e tudo é melhor do que é aqui. Mas parece que não é muito divertido viver na Rússia, não só do ponto de vista material, mas do ponto de vista da liberdade individual. Se você perguntar, "Como é possível as pessoas dizerem que tudo é maravilhoso em um país, Rússia, em que provavelmente tudo não é muito maravilhoso", então temos de responder, "Porque as nossas últimas três gerações foram incapazes de provar a falsidade, as contradições e os fracassos desta filosofia do materialismo dialético". A maior filosofia no mundo hoje é o materialismo dialético -- a idéia de que é inevitável que nós estamos sendo levados para o socialismo. Os livros que foram escritos até agora não tiveram sucesso em se opor a esta tese. Vocês têm que escrever livros novos. Vocês têm que pensar nestes problemas. São as idéias que distinguem os homens dos animais. Esta é a qualidade humana do homem. Mas de acordo com as idéias dos socialistas a oportunidade de ter idéias deve ser reservada somente para o Politburo; todas as outras pessoas só devem executar aquilo que o Politburo lhes diz para fazer. É impossível derrotar uma filosofia se você não luta no campo filosófico. Uma das grandes deficiências do pensamento americano – e a América é o país mais importante do mundo porque é aqui, não em Moscou, que este problema será solucionado – a grande deficiência, é que as pessoas pensam que todas estas filosofias e tudo o que está escrito nos livros é de menor importância, que não contam. Assim, eles subestimam a importância e o poder das idéias. Mas não há nada mais importante no mundo do que idéias. Idéias e nada mais determinam o desfecho desta grande luta. É um grande erro acreditar que o resultado da batalha será determinado por outras coisas que não sejam idéias. Marxistas russos, como todos os outros marxistas, tiveram a idéia de que eles queriam nacionalizar agricultura. Quer dizer, os teóricos queriam — o trabalhador individual não quis nacionalizar as fazendas; eles queriam tomar as grandes fazendas, dividi-las, e distribuir a terra entre os pequenos agricultores. Isto foi chamado de “reforma agrária”. Os revolucionários sociais pretendiam entregar as fazendas para os camponeses pobres. Em 1917, Lênin cunhou um novo slogan, "Você faz a revolução com o slogan do dia." Portanto, eles aceitaram algo que era contra o marxismo. Depois eles começaram a nacionalização das terras agrícolas. Então eles adaptaram esta idéia nos novos países que assumiram; disseram a todos homens que eles iriam receber a sua própria fazenda. Começaram este programa na China. Na China eles tomaram as grandes fazendas e aboliram os direitos dos bancos de crédito hipotecário e senhorios. Também liberaram os inquilinos de efetuar qualquer pagamento aos proprietários. Portanto, não foi a filosofia que tornou os camponeses chineses comunistas, mas a promessa de uma vida melhor, as pessoas pensaram que iriam melhorar suas condições se eles pudessem obter alguns terrenos agrícolas até então sob propriedade das pessoas abastadas. Mas esta não é a solução para o problema Chinês. Os defensores deste programa foram chamados de reformadores agrícolas; eles não eram marxistas. A idéia de distribuição de terra é totalmente não-marxista.

Nota do tradutor: Segundo O Livro Negro do Comunismo, a Reforma Agrária chinesa extinguiu de 2 a 5 milhões de vidas, sem contar aqueles que nunca voltaram entre os 4 a 6 milhões enviados aos campos de concentração. Em 1959, Mao propôs o “grande salto para a frente”, que consistiu em reagrupar os chineses em comunas populares, sob pretexto de um acelerado progresso. Resultado: a fome mais mortífera da História da humanidade. Ceifou 43 milhões de vidas. * * * * [Comentários adicionais por Mises durante o período de perguntas e respostas] Maiorias também não são divinas. "A voz do povo é a voz de Deus" é um velho ditado Alemão, mas não é verdade. A base da idéia que fala sobre agradar a maioria é que, a longo prazo, a maioria não irá tolerar ser governada por uma minoria; se a maioria não estiver satisfeita, haverá uma revolução violenta para mudar o governo. O sistema de governo representativo, não é radical; ele é precisamente uma forma possível de realizar uma mudança de governo sem violência; muitos pensam que, com a aprovação do povo, eles podem mudar o governo na próxima eleição. A regra da maioria não é um bom sistema, mas é um sistema que assegura condições pacíficas dentro do país. Jornais, revistas, livros, etc., são os formadores de opinião. O grande avanço da era moderna é que ela levou ao governo representativo. O grande pioneiro desta idéia foi o filósofo britânico David Hume [1711-1776] (6), que assinalou que, a longo prazo o governo não é, como as pessoas acreditavam, baseado no poder militar, mas na opinião, na opinião da maioria . É preciso convencer a maioria. Não é porque a maioria tem sempre razão. Pelo contrário, eu diria que a maioria está muito freqüentemente errada. Mas se você não quiser recorrer a uma derrubada violenta do governo, e isso é impossível, se você é a minoria, porque se você for a minoria eles vão derrubar você, você tem apenas um método: falar com as pessoas, escrever e falar novamente. NOTAS: 1 [Eugen von Böhm-Bawerk,“The Exploitation Theory” in Capital and Interest,Vol.1, History and Critique of Interest Theories (South Holland, Ill: Libertarian Press, 1959 [1884]), pp. 241–321—Ed.] 2 [Eugen von Böhm-Bawerk, “The Unresolved Contradiction in the Economic Marxian System” in Shorter Classics of Eugen von Böhm-Bawerk, (South Holland, Ill.: Libertarian Press,1962 [1896;Eng.Trans.1898]),pp.201–302—Ed.] 3 [Friedrich Engels, “Speech at the Grave of Karl Marx,” Highgate Cemetery, London. March 17, 1883 (a version of this eulogy was published in the newspaper La Justice, March 20, 1883)—Ed.] 4 [Carl Menger, founder of the Austrian School of Economics served as one of Rudolf’s tutors. See Erich W. Streissler and Monika Streissler, eds., Carl Menger’s Lectures to Crown Prince Rudolf of Austria (Brookfield, Vt.: Edward Elgar, 1994).—Ed.] 5 [Honoré de Balzac (1799–1850)]

6 [David Hume, “Of the First Principles of Government,” Chapter 4,in Eugene F.Miller, ed., Essays, Moral, Political, and Literary, (Indianapolis: Liberty Fund, 1987)—Ed.] Tradução: Wellington Moraes