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20-08-2016 ALBANO SILVA PEREIRA, DIRETOR DO CENTRO DE ARTES VISUAIS (COIMBRA) `SEI QUE O WORLD PRESS PHOTO ATRAI PÚBLICO. MAS PARA MIM NAO VALE TUDO' José Cabrita Saraiva [email protected] Foi o mentor do maior festival de fo- tografia em Portugal e nos anos 80 e 90 levou a Coimbra os grandes mes- tres, como Lartigue, Araki ou August Sander. Hoje, a instituição que dirige está próxima do «colapso», sobrevi- vendo graças ao apoio da Câmara e a empréstimos de particulares. Até por- que este ano ainda não recebeu finan- ciamento do Ministério da Cultura. F, otógrafo, artista, via- jante, curador, cole- cionador, Albano Sil- va Pereira começou no cinema - ainda hoje a sua grande pai- xão -, como assistente de Manoel de Oliveira e de António-Pedro Vasconcelos. Nas décadas de 80 e 90 tornou-se uma figura tutelar da fotografia em Portugal, organi- zando os Encontros de Fotografia em Coimbra, onde mostrou as obras de mestres como o seu ami- go Robert Frank, um dos maiores fotógrafos vivos, ou Malick Sidi- bé, vencedor do Prémio Hassel- blad e do Leão de Ouro em Veneza. Em 2003, os Encontros ganha- ram um espaço definitivo e insta- laram-se no Pátio da Inquisição, em Coimbra. «A primeira coisa que fiz foi convidar o Rui Cha- fes a 'exorcizar' a prisão com arte contemporânea», recorda Albano Silva Pereira. Como sobrevive uma instituição que em agosto ainda não recebeu qual- quer dinheiro do ministério da Cul- tura? Como? Com dívidas a fornecedo- res, comigo a emprestar dinheiro do meu bolso, com pedidos de em- préstimos a amigos. E, também é verdade, com o pequeno dinheiro que recebemos da Câmara Muni- cipal. Mas ainda anteontem em- prestei 2500 euros do crédito que o banco me dá. Atenção, eu não sou milionário, sou um homem de trabalho. Quantos salários tem em atraso? Dois, três, por aí. Também sou ar- tista e passei a fazer exposições para meter aqui dinheiro. Só um louco como eu para fazer isto. Fico chocado é que, depois do de- serto, depois de nos levarem a car- ne e os ossos, vem um Governo em que depositamos as maiores esperanças e afmal... Mas o Governo anterior não corta- va por sadismo... Não os defenda, que eu conheço- -os pessoalmente. Na cultura, em particular, de que eu posso falar com propriedade, foram de uma completa inabilidade. Mas tam- bém estou surpreendido com este Governo. Já falou com o novo ministro? Convidei João Soares a visitar o Centro de Artes Visuais [CAV] e em fevereiro ele transmitiu-me que o protocolo seria revisto e melhorado. Aliás encarregou um assessor da sua confiança para estudar a revisão do protocolo para 2016/17/18 comigo. Depois aconteceu o que toda gente sabe e fiz uma exposição escrita da si- tuação dramática da instituição e um pedido de audiência ao novo ministro, que conheci em 95, mas para minha surpresa e desilusão até agora não obtive resposta nem sequer fui recebi- do por qualquer dos gabinetes. A única resposta que tive foi via email de que o processo tinha sido encaminhado. Que protocolo é esse de que falou? O protocolo devia ser concebido e proposto no ano anterior, mas des- de 2011 que é assinado em ju- lho/agosto para vigorar até ao fim do ano. Começámos com um pro- tocolo de 500 mil euros anuais, proposto pelo então ministro da Cultura, Augusto Santos Silva - 300 mil do Ministério da Cultura e 200 mil da Câmara. Passados três anos, a Câmara corta de 200 para 60 mil e não paga durante dois anos. E há cinco anos o ministé: rio da Cultura reduz para 250 mil e a seguir para 100 mil. Eu perce- bo que há um tempo para sonhar, um tempo para cometer exageros, um tempo para olhar aos limites, há um tempo para tudo. Até para condescender. Mas não vou ser mais condescendente. Ou enten- dem que esta instituição é impor- tante para a cidade e para o país, e tem potencial para desenvolver, ou entendem que não é - e acabou.

MAS PARA MIM NAO VALE TUDO' - Universidade de Coimbra · NAO VALE TUDO' José Cabrita Saraiva [email protected] Foi o mentor do maior festival de fo-tografia em Portugal e nos

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  • 20-08-2016

    ALBANO SILVA PEREIRA, DIRETOR DO CENTRO DE ARTES VISUAIS (COIMBRA)

    `SEI QUE O WORLD PRESS PHOTO ATRAI PÚBLICO.

    MAS PARA MIM NAO VALE TUDO' José Cabrita Saraiva [email protected]

    Foi o mentor do maior festival de fo-tografia em Portugal e nos anos 80 e 90 levou a Coimbra os grandes mes-tres, como Lartigue, Araki ou August Sander. Hoje, a instituição que dirige está próxima do «colapso», sobrevi-vendo graças ao apoio da Câmara e a empréstimos de particulares. Até por-que este ano ainda não recebeu finan-ciamento do Ministério da Cultura.

    F, otógrafo, artista, via-

    jante, curador, cole-cionador, Albano Sil-va Pereira começou no cinema - ainda hoje a sua grande pai-

    xão -, como assistente de Manoel de Oliveira e de António-Pedro Vasconcelos. Nas décadas de 80 e 90 tornou-se uma figura tutelar da fotografia em Portugal, organi-zando os Encontros de Fotografia

    em Coimbra, onde mostrou as obras de mestres como o seu ami-go Robert Frank, um dos maiores fotógrafos vivos, ou Malick Sidi-bé, vencedor do Prémio Hassel-blad e do Leão de Ouro em Veneza.

    Em 2003, os Encontros ganha-ram um espaço definitivo e insta-laram-se no Pátio da Inquisição, em Coimbra. «A primeira coisa que fiz foi convidar o Rui Cha-fes a 'exorcizar' a prisão com

    arte contemporânea», recorda Albano Silva Pereira.

    Como sobrevive uma instituição que em agosto ainda não recebeu qual-quer dinheiro do ministério da Cul-tura? Como? Com dívidas a fornecedo-res, comigo a emprestar dinheiro do meu bolso, com pedidos de em-préstimos a amigos. E, também é verdade, com o pequeno dinheiro que recebemos da Câmara Muni-cipal. Mas ainda anteontem em-prestei 2500 euros do crédito que o banco me dá. Atenção, eu não sou milionário, sou um homem de trabalho.

    Quantos salários tem em atraso? Dois, três, por aí. Também sou ar-tista e passei a fazer exposições para meter aqui dinheiro. Só um louco como eu para fazer isto. Fico chocado é que, depois do de-serto, depois de nos levarem a car-ne e os ossos, vem um Governo em que depositamos as maiores esperanças e afmal...

    Mas o Governo anterior não corta-va por sadismo... Não os defenda, que eu conheço--os pessoalmente. Na cultura, em particular, de que eu posso falar com propriedade, foram de uma completa inabilidade. Mas tam-bém estou surpreendido com este Governo.

    Já falou com o novo ministro? Convidei João Soares a visitar o Centro de Artes Visuais [CAV] e em fevereiro ele transmitiu-me que o protocolo seria revisto e melhorado. Aliás encarregou um assessor da sua confiança para estudar a revisão do protocolo para 2016/17/18 comigo. Depois aconteceu o que toda gente sabe e fiz uma exposição escrita da si-tuação dramática da instituição e um pedido de audiência ao novo ministro, que conheci em 95, mas para minha surpresa e desilusão até agora não obtive resposta nem sequer fui recebi-do por qualquer dos gabinetes. A única resposta que tive foi via

    email de que o processo tinha sido encaminhado.

    Que protocolo é esse de que falou? O protocolo devia ser concebido e proposto no ano anterior, mas des-de 2011 que é assinado em ju-lho/agosto para vigorar até ao fim do ano. Começámos com um pro-tocolo de 500 mil euros anuais, proposto pelo então ministro da Cultura, Augusto Santos Silva -300 mil do Ministério da Cultura e 200 mil da Câmara. Passados três anos, a Câmara corta de 200 para 60 mil e não paga durante dois anos. E há cinco anos o ministé: rio da Cultura reduz para 250 mil e a seguir para 100 mil. Eu perce-bo que há um tempo para sonhar, um tempo para cometer exageros, um tempo para olhar aos limites, há um tempo para tudo. Até para condescender. Mas não vou ser mais condescendente. Ou enten-dem que esta instituição é impor-tante para a cidade e para o país, e tem potencial para desenvolver, ou entendem que não é - e acabou.

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    nem que tenha de me pôr debai-xo do comboio para a salvar.

    tro, junto do BCP, junto do BES, por aí adiante. Essa é -a história dos Encontros de Fotografia.

    Se acharem que é importante, que condições reivindica? Este ano tem de ser pago o que está cabimentado. Porque foi na base da confiança que eu trabalhei. E o protocolo tem de ser corrigido com bom senso. E não me continuem a pedir que faça com 100 mil o mes-mo que fazia com 500 mil. Isso não é sério, é verdadeiramente ultra-jante. E eu não admito isso a um governo que se diz amigo da cul-tura e até criou um ministério. Deste Governo exijo mais do que dos governos anteriores.

    Leu a entrevista do ministro ao Pú-blico? Li. O sr ministro disse nessa en-trevista ao Público que quer ouvir o meio, estar com o meio, desbu-rocratizar a regulamentação do apoio às artes. O que está a acon-tecer aqui é o contrário. Mas hou-ve outra coisa que me surpreen-deu. Então eu estou quase a rou-bar, gungi:. a dar um tiro na cabeça pela minha honra, tenho uma ação judicial por parte da Prose-

    gur, outra ação judicial por causa da empresa de limpeZa - porque sou o gerente da instituição - e leio na entrevista que o Estado já deu 200 mil euros para a exposi-ção dos Mirós a Serralves?! Como é que você ficava? Somos pequeni-nos mas temos dignidade.

    A situação neste momento é dra-mática a que ponto? Quando os apoios passaram de 500 mil para 100 mil também me disse que era dramática, e no entanto o CAV tem sobrevivido. 'No entanto'? 'No entanto', o que se passa é que, quando se olha para os documentos, é isto. Está aqui: a dívida a fornecedores vai em 57 mil. E a minha dívida está em 104 mil. A minha honra e a so-brevivência da instituição estão acima de tudo, por isso estou des-de dezembro para ir a Nova Ior-que vender mais duas peças mi-nhas para pagar dívidas e manter o oxigénio. Tenho peças na minha coleção dadas por grandes amigos meus, um deles famosíssimo...

    O Robert Frank? Não digo nomes, mas custou-me imenso ter de vender peças para sobreviver. Mas sou o pai da criança e como pai da criança

    66 Estou quase a

    roubar e leio na entrevista ao sr.

    ministro que o Estado deu 200

    mil euros a Serralves para

    expor os Mirós?! Como é que

    você ficava ?

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    Quando ameaça fechar a porta, está mesmo disposto a avançar? Não é urna ameaça, é a realidade. Não tenho meios, não tenho con-dições. Já estávamos no limiar da sobrevivência. Se á indefinição se mantiver, é a tragédia, o colapso.

    Mas acaba como? Acaba. A mais-valia dos Encon-tros de Fotografia, que era o festi-val, acabou em 2002. Liquidaram--no. E agora estão a acabar com o CAV. Não melhoram as condições, não as corrigem, e ainda por cima chega a agosto e ainda não paga-ram? Se o Ministério não pagar o que está cabimentado e não fizer um protocolo a dois, três anos, ponto final. Não estou para isto. Já cá tenho 104 mil euros metidos.

    E espera reavê-los? Há urna coisa que eu sei: os En-contros de Fotografia têm um pa-trimónio riquíssimo, cerca de duas mil fotografias. Portanto eu, a minha equipa e os fornecedores estamos garantidos: Se querem, é assim.

    E tem autonomia para tomar essa decisão? Tenho de perguntar se tenho legi-timidade a quem? Ao Ministério, que nunca me deu um tostão para comprar uma fotografia? À Câ-mara, que dá 60 mil euros, mais 20 mil, por um equipamento da-quela dimensão? Em Serralves, o Estado contribui para as verbas de aquisição. Aqui nunca tivemos verbas de aquisição.

    Como juntaram esse património? Por amizade e cumplicidade. Fo-ram ofertas dos fotógrafos. Vou--lhe dizer uma coisa que você vai bater com a cabeça no teto. Em 85 os Encontros de Fotografia custa-vam mil, dois mil contos, e rece-biam 50 contos da Câmara e à vol-ta de 400, 500 contos do Ministério da Cultura. Até 96, sabe como é que fazíamos? Era o meu pai que assinava as livranças, sem saber o valor dos empréstimos, no Ban-co Pinto & Sotto Mayor Entre ja-neiro e setembro/ outubro, os En-contros eram financiados através de empréstimos bancários, e era o meu pai o fiador. Felizmente con-segui pagá-los a todos com as re-ceitas e os apoios que vinham no fim do ano. A seguir à morte do meu pai fui eu, que já tinha las-

    Quais foram as exposições mais marcantes desse período? Os Encontros de Fotografia foram a primeira instituição a mostrar uma das obras mais extraordiná-rias da fotografia americana, o Ralph Eugene Meatyard. O Arald, que é hoje um monstro japonês, fez para aí a terceira exposição no mundo em Coimbra. O Robert Frank não expunha em lado ne-nhum e mandou-me 33 fotografias numa caixa de correio normal. Hoje cada uma chega a valer 600 mil dólares. O meu objetivo era mostrar grandes obras de mestres da fotografia contemporânea que nunca tinham vindo a Portugal: Manuel Alvarez Bravo, August Sander, Duane Michaels, Ralph Gibson, Lartigue, e por aí adian-te. Por outro lado, investigar o que era a fotografia portuguesa no sé-culo XIX. Por fim, e essa era uma das minhas prioridades, produzir e mostrar fotógrafos portugueses. A primeira exposição do Nozoli-no, a primeira produção do Daniel Blaufuks, fomos nós que produzi-mos. Você fala com os fotógrafos portugueses, com quem quer que seja, e todos descendem daqui.

    Como começou esse percurso? Eu já era exposto como fotógrafo nos Encontros. Tinha deixado de sek assistente do Manoel de Olivei-ra e queria criar uma nova carrei-ra. Trouxe os conhecimentos e o conceito de produção do cinema, que ainda é a minha grande paixão.

    E como conseguia trazer cá nomes como Álvarez Bravo ou Ralph Gib-son? Com ambição. Em certa medida introduzi na Europa, nos anos 90, a fotografia americana. Era o pe-ríodo em que os franceses só mos-travam franceses. A fotografia americana estava arredada dos grandes festivais. Houve de facto uma frescura que eu trouxe' à fo-tografia, no que respeita a festi-vais, nomeadamente com o diálo-go como Terceiro Mundo e com a América.

    Mas como contactava os artistas? Escrevia-lhes cartas. A maior par-te dos grandes fotógrafos mun-diais foi através de cartas e telefo-ne que os convenci. E quando você conhece algumas figuras tutela-res mundiais já tem, por assim >

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    > dizer, a lista telefónica. Conheci o [Robert] Frank através do Duane Michals. E o Frank abre todas as portas. Depois é uma questão de dinheiro: ou tem ou não tem.

    Quando surge a oportunidade de os Encontros se sediarem aqui no Pá-tio da Inquisição?

    O que lhe vou dizer é quase ane-dótico. Em 2000 investiram à vol-ta de cinco milhões de euros na instalação de uma instituição com 30 anos, os Encontros de Fo-tografia. É criado o CAV por uni protocolo feito por Manuel Maria Carrilho com a Câmara Munici-pal e a Comissão de Coordenação da Região Centro. Foi inaugura-do por Durão Barroso, em 2002 ou 2003, e quando entrei no edificio... estava vazio! Fazem-se equipa-mentos e não se pensa nas equi-pas e nos custos de programação. Pensa-se no dinheiro que vem da Europa e a seguir ou fecham ou ficam vazios ou servem para ou-tras coisas. Isto é como eu dizer: 'Você tem aqui um avião à sua dis-posição. É seu durante dez anos'. E você entra para o avião e ele tem gasolina para descolar, mas não tem cadeiras.

    E o que fez? O edifício estava vazio e eu não ti-nha um tostão. Sabe donde veio aquilo tudo que cá está dentro? Fui ao BPN pedir um empréstimo de 200 mil, avalizado por mim.

    Que garantia deu? Tenho património da honra da fa-mília. Sem isso como é que as pes-soas trabalhavam cá dentro? No chão? Sem computadores? Como é que fazia exposições? E depois, em 2013, quando o crédito acabou, sabe o que fiz? Pedi encarecida-mente ao meu amigo Ricardo Sal-gado. Estava desde 2011 com o co-ração nas mãos, e o BES empres-tou-me 25 mil euros.

    Salgado é seu amigo? Foi meu amigo e amigo do CAV. Nunca tive grandes patrocínios do BES, mas tive sempre o BES ao meu lado. É verdade que penso que o CAV e os Encontros também foram muito importantes nesta re-lação do BES com a fotografia.

    Disse-me que há um tempo para so-nhar. Que sonhos tinha para o CAV? Em certa medida esses sonhos fo-ram realizados. Fizemos exposi-ções que nunca vieram a Portu-gal: Gabriel Orozco, um artista top-10 mundial, só possível pelo

    prestígio que os Encontros de Fo-tografia têm junto do mercado e das instituições. Fizemos Michaél Borremans, Lorca DiCorsia, fize-mos a grande exposição do Ma-lick Sidibé, no ano em que rece-beu o Leão de Ouro em Veneza, fi-

    66 História,

    prestígio e património não

    nos faltam. O que falta é dinheiro. E

    respeito - o que é triste

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    zemos uma produção inédita do Julião Sarmento, uma do Jorge Molder, unia encomenda ao Pau-lo Nozolino, fizemos extraordiná-rias exposições e edições. Ainda há duas exposições que sempre quis fazer, mas com estes meios não vou lá. A Diane Arbus e o Hel-mut Newton.

    Isso leva-nos a outra questão.

    Quando o CAV recebia 500 mil euros vivia 'à grande'?

    Não. Com os 500 mil a instituição tinha os meios suficientes para fa-zer uma programação apelativa, Particularmente internacional. Um dos vetores importantes dos Encontros de Fbtografia é esse: ser um patamar de diálogo entre a fo-tografia portuguesa e a interna-cional. Foi isso exatamente que fi-zemos. Nós tivemos uma porta aberta com a Whitechapel de Lon-dres. Com instituições holande-sas. Trabalhámos com a Funda-

    ção Hasselblad, com artistas da mais alta qualidade.

    Como se consegue Isso? Através de co-produções. Para en-trar nestes circuitos tem de ter história e de cumprir com os con-tratos. História e património não nos faltam. O que falta é dinhei-ro. E respeito, o que é triste.

    E hoje o que consegue fazer, ape-sar das dificuldades?

    Fazemos quatro, cinco exposições por ano. Agora temos o António Júlio Duarte, que só foi possível porque a maioria das peças já es-tavam produzidas. Mesmo assim temos sempre de pintar as pare-des, de mudar làmpadas e fazer molduras. A fatura das molduras e da impressão das fotografias da exposição que está aqui, parte fui eu que a paguei. Estamos a afo-gar-nos, por isso é que receber a 27 de julho um pedido de esclare-

    cimento com um questionário completamente desapropriado não é, como compreenderá, mui-to agradável.

    Que questionário é esse? É um questionário sobre estraté-gias expositivas e curatoriais, re-ceitas, projetos comunicacionais, uma coisa sem qualquer sentido prático.

    As preocupações reveladas por es-sas perguntas são legítimas? O CAV tem perdido visitantes? É preciso fazer alguma coisa? Qualquer instituição ganha e per-de visitantes. Se eu fizer uma festa de Natal ou de verão patrocinada pela Sagres ou pela Super Bock, au-mento o número de visitantes. Mas essas habilidades eu não tenho, • nem tenho dinheiro para as fazer. Desde 2611 que a única luta que o CAV tem é pela sobrevivência, é por chegar à tona da água. Passamos

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    Escultura de Cabrita Reis ao abandono Foi a representação oficial de Por-tugal na 50.8 Bienal de Veneza, em 2003. Encontra-se desde 2004 no Pátio da Inquisição e desde então á única intervenção que recebeu foi soldarem as portas, que ba-tiam ao vento. Exposta aos ele-mentos e a degradar-se, «não é propriamente uma imagem gratificante», diz Albano Silva Pereira.

    Por que se encontra a escultura neste estado? Porque foi instalada provisoria-mente. Estava previsto ficar três, quatro meses.

    E depois era suposto ir para onde? Isso é um problema da Câmara. Instalem-na no Convento de São Francisco, instalem-na onde qui-serem. Eu não tenho nada a ver com isso. Primeiro, o pátio não tem dimensão para esta escultu-ra. Segundo, é uma escultura de interior, não foi feita para estar ao vento e à chuva. Quando foi exposta em Veneza estava num armazém. Tem trinta e tal ou 40 portas, que são móbiles e com o vento acabam por cair. A ilumi-nação está despedaçada, o execu-tivo anterior soldou as portadas - imagine.

    A quem pertence a escultura? À Câmara, à cidade. Eu não posso

    chegar ali e dinamitar aquilo. Mas não é só essa. Tenho o maior parque de esculturas do Rui Cha-fes no Jardim das Sereias. Estão numa lástima.

    Mas essas são de exterior, porque estão assim? Por negligência. Por um lado tem os vândalos e por outro tem a Câ-mara a falar de cultura só quan-do lhe convém.

    E já falou com Cabrita Reis? Já lhe falei várias vezes.

    E o que acha ele? Acha que isto é um crime. Even-tualmente quer uma indemniza-ção... Não sei.

    Se a escultura é de interior porque não a guarda? Porque não tenho reserva, não te-nho armazém. Estamos à espera

    de um armazém desde que o CAV nasceu. Temos um armazém fora daqui que alugamos e pelo qual pagamos uma renda. Esse é um dos grandes problemas de logísti-ca desta instituição. Outro dos problemas é que o ar condiciona-do não funciona convenientemen-te desde a inauguração. Ouça, isto está a bater no osso.

    Quais são as consequências dessa falha no ar condicionado? Ao longo do ano tem uma oscila-ção brutal de humidade e de tem-peratura, porque o ar condiciona-do não mantém o equilíbrio. As pessoas têm de ter radiadores todo o inverno aos pés para trabalhar. Neste momento estão cá dentro 27 graus, quando as obras deviam es-tar a 20-22. Isto é papel, as fotogra-fias encarquilham. Estamos a fa-lar de um equipamento que repre-sentou seguramente era 20/30% do custo da obra, que está no coração da segurança e da conservação desta coleção. Até hoje não conse-gui resolver este problema gravís-simo, tal como não consegui resol-ver o problema da escultura do Ca-brita Reis-parece um enigma. Por fun, ao fun de doze anos fizeram o elevador, montaram um monta--cargas, e não funciona. Tem aqui o retrato fiel das contrariedades que o diretor de uma instituição tem de produzir cultura.

    cinco, seis, sete, oito meses sem di-nheiro. Não vale a pena estarmos a criar questionários porque o nos-so lema é sobreviver. Não temos condições para programar, para or-ganizar, para promover, não temos condições de nada. Essa pergunta é, por isso, completamente abusiva. Eu diria surrealista. Ainda para mais, é uma descortesia, uma falta de respeito, as perguntas que foram feitas pela Secretaria de Estado se-rem enviadas para terceiros. Tenho 66 anos, apesar de tudo tenho uma medalha de mérito cultural, tenho uma história. Não admito que al-guém me venha perguntar qual é o conceito expositivo e qual é o con-ceito curatorial, e muito menos per-guntar sobre o critério do calendá-rio das exposições.

    O ditado diz que perguntar não ofendem O que ofende é a atitude. Se eu devo 57 mil euros a fornecedores

    acha que era sensato fazer campa-nhas? Isso é para os espertos. Os espertos não fazem aquilo que é es-sencial, que são as exposições com a qualidade desta que cá temos. Em vez de investirem nos artistas, fazem comunicação. Desculpenias isso ofende-me, agride-me. Você diz 'perguntar não ofende'. A mim ofende. Ao fim de 30 anos o Minis-tério da Cultura devia ter conhe-cimento das condições em que pro-duzimos cultura.

    Existe uma relação direta entre o dinheiro gasto e o número de visi-tantes? Há uma relação. Mas para ter pú-blico primeiro que tudo o lugar tem de ter uma tradição cultural muito forte. Coimbra tem tradi-ção, mas o público para a arte con-temporânea é reduzido.

    E os estudantes da universidade? São cerca de 20 mil.

    O estudante universitário, mesmo gratuitamente, não vai às exposi-ções. As motivações do estudante universitário são beber shots e fa-zer a festa. Não é só em Coimbra, em Lisboa é a mesma coisa.

    E não há maneiras de divulgar e atrair os visitantes? Andámos dez, doze anos para ter alguma informação sinalética no exterior do CAV. Dez anos! Este es-paço primeiro foi Inquisição, de-pois foi Casa dos Pobres. Foi um espaço sempre muito fechado à ci-dade, precisa de uma campanha promocional.

    E tem ideia de quanto custa essa campanha? Custa aquilo que nós não temos. Eu estou disponível para dialogar, para tentarmos encontrar uma maneira de rentabil irar este equi-pamento e esta instituição. Para isso estou disponível. Não é para

    trazer os atores da telenovela ou fazerem fantochadas aqui dentro e desvirtuar toda a filosofia de uma instituição. Se eu trouxer a World Press, uma exposição de sangue e de lágrimas, sei que vou atrair público.

    E por que não fazer isso? Não acho que seja essa a função do CAV. -

    Mas não tem qualidade? Não, não tem. E sobretudo não tem ética. É preciso respeitar a fi-losofia do diretor. Na arte, antes da estética defendo a ética. E para mim não vale tudo menos tirar olhos. Há princípios. Infelizmen-te Coimbra perdeu o protagonis-mo político há muitos anos. E hoje o turismo não vem para ver as pedras só. Os turistas não fi-cam. Vão ver a Biblioteca Joani-na, vão à igreja ao lado e vão-se embora.

    E ao CAV? Ao CAV não vêm. Não está dentro dos circuitos turísticos. Quando criei os Encontros de Fotografia conhecia relativamente bem a ci-dade e sabia que todos os grandes museus da universidade estavam fechados. O convento de Celas, a Igreja de Montemor, o castelo, abria tudo isso com exposições, porque já sabia o que se passava no Sul de França. Os Encontros de Fotografia eram um projeto modelar, porque faziam uma di-vulgação criteriosa da fotografia contemporânea, com reflexão, ainda por cima davam a conhecer as igrejas, os museus da universi-dade, o património.

    Há 30 anos que os Encontros de Fo-tografia e o CAV são a sua vida. Se fechasse as portas, faria o quê? Sou artista, tenho tantas possibi-lidades... Inclusivamente a de dar um tiro na cabeça.

  • 20-08-2016

    Várias personalidades das artes manifestaram solidariedade ao diretor do CAV c'S

    Artistas e agentes culturais preocupados manifestam solidariedade Depoimentos

    «Os Encontros de Fotografia, or-ganizados em Coimbra entre 1980 e 2000, foram o mais importante acontecimento cultural portu-guês da era pós-25 de Abril de 1974.

    O Centro de Artes Visuais su-cedeu aos Encontros de Fotogra-fia em 2003, ano da-inauguração da galeria e áreas adjacentes no Pátio da Inquisição, convertendo em equipamento o que antes era evento, uma transformação pio-neira tanto em Portugal quanto além-fronteiras. Esta entidade não só preservou as qualidades que distinguiram os Encontros de Fotografia, como as aprofundou.

    Urge dotar o Centro de Artes Vi-suais da capacidade de se refun-dar e, posteriormente, retomar o caminho pelo que se notabilizou há cerca de uma década. Tal im-

    . plica a realização de um contra-to-programa de médio prazo, atra-vés do qual o Estado e a câmara de Coimbra financiam devida-mente, e com regularidade, a sua atividade».

    Miguel Amado, Curador Principal, Middlesbrough

    Instituto of Modern Art, Inglaterra

    «Ao longo de algumas décadas já, Albano da Silva Pereira e as ini-ciativas e a instituição que dina-miza em Coimbra, ou seja, os En-contros de Fotografia e o C.A.V. (Centro de Artes Visuais) têm pro-tagonizado uma rara e persisten-te atividade na programação de exposições individuais e coletivas que ofereceram condições de pro-dução e de apresentação a artis-tas portugueses e estrangeiros como jamais acontecera fora das programações culturais quase sempre centralizadas em Portu-gal nas cidades de Lisboa e do Por-to.

    Nunca percebi como nunca foi possível construir uma relação funcional entre Estado, autarquia e as realidades que Albano da Sil-va Pereira sempre soube cons-truir com uma extraordinária cumplicidade dos artistas que programou.

    Seria tempo de construir um contrato claro entre as várias ins-

    tâncias envolvidas e a envolver que permitisse que a coragem que sempre caracterizou todos os projetos até agora dinamizados não fosse atraiçoada pela infeliz-mente tradicional incapacidade de resposta, interlocução e com-preensão por parte do Estado e da Autarquia, que nunca até ao mo-mento souberam aproveitar um dos raros exemplos de programa-ção artística e cultural que tão di-ficilmente tem conseguido sobre-viver, protegido unicamente pela tenacidade individual do seu fun-dador e mentor.»

    João Fernandes, subdiretor do Museu Reina Sofía, em Madrid

    «Vivemos tempos em que mesmo as melhores cidades têm de lutar intensamente para garantir a sua urbanidade. Sem os Encontros e sem o CAV Coimbra seria menos cidade e a fotografia seria menos democrática.

    É do campo do inimaginável não respeitar e não valorizar tudo isto. Mais impensável ainda é ata-cá-lo sem norte nem critério».

    José Reis, professor catedráti-co da Faculdade de Economia da

    Universidade de Coimbra

    «Os Encontros de Fotografia mar-caram as pessoas que passaram por Coimbra. Marcaram-me mui-to a mim, que me tornei fotógrafo, no olhar, na paixão, na poesia, no profissionalismo, na dedicação, no mistério, na humildade e algo mágico que, não consigo explicai; aprendi naqueles anos segue-me até hoje. Podia continuara descre-ver e falar sobre a importância que os Encontros de Fotografia têm na cultura portuguesa mas só quero dizer: 'obrigado Albano e vamos continuar juntos a traba-lhar para que a fotografia em Por- • tugal continue a crescer' - o CAV e os Encontros são a única insti-tuição capaz disso».

    André Copada, -o

    «O Centro de Artes Visuais de Coimbra (CAV) teve a sua origem remota na atividade da "Secção Fotográfica" da Associação Aca-démica de Coimbra, já activa na década de 70, altura em que come-cei a aí expor. Foi esta 1° estrutu-

    ra (ou aventura) que viria a orga-nizar os Encontros de Fotografia de Coimbra e que posteriormen-te daria lugar a uma estrutura ex-positiva mais estável e, natural-mente, com outras possibilidades de reconhecimento e de inter-câmbio nacional e internacional, o CAV.

    Independentemente das trans-formações positivas que foi so-frendo, sempre ali houve uma vi-sível preocupação de construir uma plataforma de intercâmbio de produções artísticas, que o con-verteu numa referência interna-cional. Acresce sempre ter trata-do a fotografia como uma coisa ar-tística com outras e entre outras, o que muito contribuiu para evi- tar tiques corporativos.

    O CAV (e os seus antecessores)

    permitiram-me mostrar o meu trabalho muito para lá da sua pla-teia mais imediata. Por outro lado foi-me muito importante pelas obras e pessoas que me permitiu conhecer.

    Ao longo deste tempo uma pes-soa foi o 'daimon' desta institui-ção: o Albano da Silva Pereira. Sem o seu sonho e a sua ambição, estaríamos agora, ainda a relem-brai; muito provavelmente, mais uma estrutura já desaparecida, feita de boas intenções e de pro-vincianismo».

    Jorge Moldei., artista e antigo diretor do Centro de Arte Moder-

    na da F. C. Gulbenkian

    «Os Encontros de Fotografia de Coimbra são uma parte funda-mental da história recente da arte

    em Portugal, porquanto foram a ocasião única de mostrar o traba-lho de fotógrafos e de artistas es-pecialmente dedicados à fotogra-fia de primeira qualidade a nível mundial. Durante muitos anos,. os Encontros foram o momento espe-rado para ver obras que raramen-te teriam possibilidade de serem mostradas em Portugal. Fazem sem dúvida parte da nossa cultura contemporânea e representam um esforço gigantesco no seu criador, Albano Silva Pereira, para man-ter uma linha de absoluto rigor e ambição a todo o momento. O tra-balho do CAV representa a mesma ambição e exigência na realização de exposições das mais diversas áreas, sempre coma ousadia e o ri-gor que pautam as escolhas do seu director. A sua existência é um

  • 20-08-2016

    Secretaria de Estado da Cultura responde: «Audiência está agendada» Contactada pelo SOL, a Secretaria de Estado da Cultura res-pondeu às objeções do diretor do Centro de Artes Visuais através da seguinte declaração: «"O Gabinete do Ministro da Cultura confirma um pedido de audiência por parte do Centro de Artes Visuais de Coimbra, pedido este que está a seguir o normal procedimento interno. Todos os pedidos endereçados ao Senhor Ministro e ao Senhor Secretário de Estado são respondidos, como naturalmente aconteceu desde logo com o pedido de audiência que nos foi endereça-do pelo Centro de Artes Visuais. Podemos acrescentar que o Gabinete do Ministro da Cultura e o Centro de Artes Visuais têm estado em contacto, no sen-tido de recolher a informação necessária à concretização de uma reunião com o Senhor Secretário de Estado. No passa-do dia 12 a documentação foi enviada aos nossos serviços, estando agora reunidas as condições para realizar a audiên-cia, que já está agendada».

    dado adquirido para toda a comu-nidade artística em Portugal e a ocasião para continuar a visitar exposições numa programação que nunca baixa a fasquia da qua-lidade. O CAV é uma instituição incontornável num pais onde se luta pela descentralização da cul-tura e onde é urgente trazer pro-jectos sérios e exigentes a comuni-dades fora dos grandes centros ha-bituais».

    Rui Chatas, escultor, premio Pessoa 2015

    «Os Encontros de Fotografia de Coimbra foram extremamente importantes para a formação dos fotógrafos da minha geração. Uma oportunidade única de co-nhecer o trabalho de artistas como Robert Frank, Araki ou Duane Michais.

    Colaborei com os EF em várias exposições. Foram desafios esti-mulantes, uma possibilidade de desenvolver e experimentar. Foi para os EF que pela primeira vez fotografei em cor, que pude impri-mir em grandes formatos. Os EFC/CAV são um lugar único na produção e divulgação das lingua-gens visuais contemporâneas em Portugal».

    António Júlio Duarte, fotógrafo

    «A história do Centro de Artes Vi-suais é um dos casos felizes do pa-norama das instituições dedica; das às artes visuais em Portugal, devido ao empenho e à visão do seu grande mentor, o Albano da Silva Pereira. Depois desse pro-

    jecto extraordinário que foram os Encontros de Fotografia, conse-guiram constituir um equipa-mento notável, o CAV, com uma programação de qualidade e geri-da por uma equipa competente e ambiciosa. É lamentável e incom-preensível o nível de desinvesti-mento a que o CAV tem sido sujei-to nos últimos anos».

    Sérgio Mak,

    curador de fotografia

    «As potencialidades de Coimbra para qualificar o país têm sido imensas ao longo do tempo. E, quase sem exceção, Coimbra e o país têm desbaratado essas tantas possibilidades. O que os poderes municipais e nacionais têm feito aos Encontros de Fotografia é mais um capitulo acabrunhante desse irresponsável desperdício de excelência.

    Os Encontros de Fotografia pu-seram Coimbra nos melhores ma-pas da beleza e da inteligência. Graças à teimosia culta de Albano da Silva Pereira e da equipa por ele coordenada, houve anos em que gente de todo o mundo viu em Portugal, e em Coimbra em espe-cial, uma referência do nosso pa-trimónio comum.

    Não se pode aceitar que um país como o nosso destrate um ponto de afirmação assim. Urge resgatar os Encontros de Fotogra-fia. Essa tem que ser uma priori-dade para um país culto e que sa-ne cuidar do melhor que tem».

    José Manuel Pureza, deputado do BE

  • 20-08-2016

    Estado de escultura de Cabrita Reis 'é um crime' A obra que representou Portugal na 50.8 Bienal de Veneza encontra-se abandonada à sua sorte há 12 anos. Embora se trate de uma peça de interior, a escultura de Ca-

    brita Reis está no pátio do Centro de Ar-tes (CAV), em Coimbra, desde 2004. 0 di-retor do CAV diz que já falou com o artista e que este «acha que isto é um crime». Em

    entrevista, Albano Silva Pereira queixa-se tambémda falta de financiamento e revela que o CAV tem sobrevivido graças a emprés-timos seus e de amigos seus. Z Pie. 30