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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MASCULINIDADES EM (RE) VISTA: A CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA E O CONSUMO Jorge Luiz da Silva Alves 1 Resumo: Este artigo é parte de uma pesquisa apresentada como trabalho de conclusão de curso para a obtenção das habilitações em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal de Goiás Regional Catalão e tem como objetivo fomentar de maneira diferente o debate sobre as masculinidades e suas interações internas, tendo como fonte a revista GQ Brasil publicação especializada em moda e estilo de vida. Neste sentido, procuramos olhar de maneira diferente a dinâmica interna das masculinidades, fazendo uma análise sobre as construções e desconstruções das mesmas. Partindo dos pressupostos dos Estudos de Gênero e dos estudos que englobam as masculinidades, procuramos perceber de maneira mais profunda, o processo de construção do modelo de masculinidade hegemônica, enxergando o mesmo como um processo “dialético”. Para tanto discutimos uma suposta crise masculina ou crise no padrão hegemônico de masculinidade, crise esta que teria gerado um “Novo Homem” uma nova possibilidade de vivenciar a masculinidade “hegemônica” na contemporaneidade. Em meio ao neoconservadorismo que avança cada vez mais sobre as culturas, as discussões em torno dos papeis sociais, sexuais dentre outros, nunca foram tão importantes para a compreensão das construções culturais acerca dos papeis femininos e masculinos nas sociedades. Com isto, nos propomos a perceber como a metrossexualidade atua no espectro da dinâmica interna das masculinidades, se constituindo como um modelo possível de hegemonia. Palavras chave: Gênero, Masculinidades, Metrossexualidade, Consumo e Hegemonia. Introdução Acompanhando a perspectiva de compreender a História e a produção do conhecimento histórico, o interesse em trabalhar com a revista GQ Brasil (abreviação de Gentlemen´s Quarterly), surgiu na medida em que foi possível pensar a moda como um vasto campo de possibilidades e acontecimentos que influenciam o cotidiano de seus/suas admiradores/as. Para ser mais específico, me propus a compreender como as masculinidades estão representadas nesse meio de comunicação, considerado um dos mais sofisticados e bem-sucedidos em seu segmento, qual seja, o de moda e estilo de vida produzido para o público masculino. (SOUZA, 2013, p.36). Considerando que os valores, comportamentos, modismos, dentre vários outros conceitos levados ao cotidiano de milhares de leitores que na maioria das vezes, incorporam tais revistas como guias em seus comportamentos cotidianos, veremos que este meio de comunicação, representa um enorme campo de pesquisa para a História. Com suas especificidades, a imprensa deve ter sua importância reconhecida, enquanto fonte para a pesquisa histórica, conforme Capelato: “Conhecer a história através da imprensa pressupõe um trabalho com método rigoroso, tratamento adequado de fonte e reflexão teórica. Sem esses ingredientes corre-se o risco de repetir para o leitor, aliás sem o charme do jornal (ou revista), a história que ele conta” (CAPELATO, 1988, p. 23). Assim, é partindo da perspectiva da construção das “masculinidades” e de “homem” como 1 Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal de Goiás Regional Catalão. Atualmente é professor contratado do Estado de Goiás e atua no CPMG de Catalão (GO) Brasil.

MASCULINIDADES EM (RE) VISTA: A CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA E ...€¦ · surgiu na medida em que foi possível pensar a moda como um vasto campo de possibilidades e acontecimentos

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MASCULINIDADES EM (RE) VISTA: A CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA E O

CONSUMO

Jorge Luiz da Silva Alves1

Resumo: Este artigo é parte de uma pesquisa apresentada como trabalho de conclusão de curso para a obtenção das

habilitações em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão e tem

como objetivo fomentar de maneira diferente o debate sobre as masculinidades e suas interações internas, tendo como

fonte a revista GQ Brasil publicação especializada em moda e estilo de vida. Neste sentido, procuramos olhar de

maneira diferente a dinâmica interna das masculinidades, fazendo uma análise sobre as construções e desconstruções

das mesmas. Partindo dos pressupostos dos Estudos de Gênero e dos estudos que englobam as masculinidades,

procuramos perceber de maneira mais profunda, o processo de construção do modelo de masculinidade hegemônica,

enxergando o mesmo como um processo “dialético”. Para tanto discutimos uma suposta crise masculina ou crise no

padrão hegemônico de masculinidade, crise esta que teria gerado um “Novo Homem” uma nova possibilidade de

vivenciar a masculinidade “hegemônica” na contemporaneidade. Em meio ao neoconservadorismo que avança cada vez

mais sobre as culturas, as discussões em torno dos papeis sociais, sexuais dentre outros, nunca foram tão importantes

para a compreensão das construções culturais acerca dos papeis femininos e masculinos nas sociedades. Com isto, nos

propomos a perceber como a metrossexualidade atua no espectro da dinâmica interna das masculinidades, se

constituindo como um modelo possível de hegemonia.

Palavras chave: Gênero, Masculinidades, Metrossexualidade, Consumo e Hegemonia.

Introdução

Acompanhando a perspectiva de compreender a História e a produção do conhecimento

histórico, o interesse em trabalhar com a revista GQ Brasil (abreviação de Gentlemen´s Quarterly),

surgiu na medida em que foi possível pensar a moda como um vasto campo de possibilidades e

acontecimentos que influenciam o cotidiano de seus/suas admiradores/as. Para ser mais específico,

me propus a compreender como as masculinidades estão representadas nesse meio de comunicação,

considerado um dos mais sofisticados e bem-sucedidos em seu segmento, qual seja, o de moda e

estilo de vida produzido para o público masculino. (SOUZA, 2013, p.36).

Considerando que os valores, comportamentos, modismos, dentre vários outros conceitos

levados ao cotidiano de milhares de leitores que na maioria das vezes, incorporam tais revistas

como guias em seus comportamentos cotidianos, veremos que este meio de comunicação,

representa um enorme campo de pesquisa para a História. Com suas especificidades, a imprensa

deve ter sua importância reconhecida, enquanto fonte para a pesquisa histórica, conforme Capelato:

“Conhecer a história através da imprensa pressupõe um trabalho com método rigoroso, tratamento

adequado de fonte e reflexão teórica. Sem esses ingredientes corre-se o risco de repetir para o

leitor, aliás sem o charme do jornal (ou revista), a história que ele conta” (CAPELATO, 1988, p.

23). Assim, é partindo da perspectiva da construção das “masculinidades” e de “homem” como

1 Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão. Atualmente é professor

contratado do Estado de Goiás e atua no CPMG de Catalão (GO) – Brasil.

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categorias sociais variáveis, que me proponho a discutir e analisar a construção da hegemonia

através do consumo na revista GQ Brasil, entre o período de 2013 a 2015. “Focar a masculinidade

como objeto de reflexão teórica no campo historiográfico nacional, ainda significa uma

perspectiva inovadora” (BOTTON, 2007, p. 109). Para tanto, consideramos que nos últimos anos, a

publicidade veicula um novo modelo de masculinidade, o do metrossexual, quebrando o padrão de

uma masculinidade hegemônica construída dentro do patriarcado.

No campo teórico, utilizamos ainda dos aportes dos estudos de gênero, que pensam as

masculinidades como construções sociais, e não como uma versão única, fixa, essencial e completa.

Tal recurso foi necessário, uma vez que os estudos sobre as masculinidades são bastante recentes no

meio acadêmico, surgindo na esteira das discussões realizadas pela epistemologia feminista sobre o

conceito de gênero. Assim, esta pesquisa buscou pensar uma dada construção de “homem” que seria

disseminada no imaginário social da moda e da publicidade direcionados a determinados segmentos

sociais considerados privilegiados (classes A e B), por meio de imagens, discursos e conceitos

expressos por essa revista. Para pensar a pluralidade de masculinidades vivenciadas por diferentes

homens, primeiro teremos que dialogar com os estudos de gênero, para em seguida refletir sobreas

categorias de análise circulantes no meio acadêmico de masculinidades, masculino e homem.

Partimos do pressuposto que a categoria masculinidades refere-se às práticas sociais constituídas a

partir de construções sociais e culturais, enquanto “homem” é uma categoria social que designa o

sujeito histórico que vivencia essas construções. Enquanto campo estudos interdisciplinar, os

estudos de gênero procuram compreender as relações e construções de gênero vigentes em nossa

sociedade. Foi no interior do movimento feminista, que surgiu a categoria “gênero”. De acordo com

Pedro (2008): “quando falamos em gênero, estamos nos referindo a uma categoria de análise, da

mesma forma como quando falamos de classe, raça/etnia, geração. ” (p.179).

Assim, o uso da categoria gênero, possui uma história que é tributária dos movimentos

sociais de mulheres, feministas, gays e lésbicas.

Na utilização mais recente, o termo “gênero” parece ter feito sua aparição inicial

entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o caráter fundamentalista

social das distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição do

determinismo biológico implícito no uso de termos como “sexo” ou “diferença

sexual”. O termo “gênero” enfatizava igualmente o aspecto relacional das

definições normativas da feminilidade. Aquelas que estavam preocupadas pelo fato

de que a produção de estudos sobre mulheres se centrava nas mulheres de maneira

demasiado estreita e separada utilizaram o termo “gênero” para introduzir uma

noção relacional em nosso vocabulário analítico. Segundo esta visão, as mulheres e

os homens eram definidos em termos recíprocos e não se poderia compreender

qualquer um dos sexos por meio de um estudo inteiramente separado. Assim,

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Natalie Davis afirmava, em 1975: “Penso que deveríamos nos interessar pela

história tanto dos homens como das mulheres, e que não deveríamos tratar somente

do sexo sujeitado, assim como um historiador de classe não pode fixar seu olhar

apenas sobre os camponeses. Nosso objetivo é compreender a importância dos

sexos, isto é, dos grupos de gênero no passado histórico. Nosso objetivo é descobrir

o leque de papéis e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e períodos, é

encontrar qual era o seu sentido e como eles funcionavam para manter a ordem

social ou para muda-la”. (SCOTT, 1995, p. 72).

1. A imagem de si no universo do consumo.

A primeira edição da GQ Brasil foi lançada em abril de 2011 com a topmodel brasileira

Alessandra Ambrósio estampando a primeira capa. Com uma trajetória de sucesso, a revista vem

mostrando que veio para ficar e que no que diz respeito a público masculino a mesma é expert. Com

menos de cinco anos de existência no mercado editorial brasileiro, a GQ se consolidou entre as

maiores revistas em publicidade do país e já é a maior e mais importante referência em estilo de

vida no que diz respeito ao universo masculino brasileiro. Apresentando uma qualidade excelente

no sentido editorial e gráfico, a GQ conquistou e vem conquistando cada vez mais prestígio junto ao

mercado leitor e de anunciantes o que vem conferindo ainda mais destaque em vários veículos de

imprensa.

Sendo assim, a GQ Brasil é cada vez mais engajada com sua missão de levar ao público

masculino brasileiro o melhor dos aspectos relacionados ao mesmo:

A missão de GQ Brasil é ser o guia essencial de estilo, cultura e lifestyle do

homem brasileiro sofisticado, oferecendo a ele, em diversas plataformas, o melhor

do universo masculino: um conteúdo eclético e inteligente com reportagens

investigativas, entrevistas reveladoras com pessoas que fazem a diferença na

sociedade brasileira e internacional, e as últimas novidades nas áreas de tecnologia,

saúde e cuidados masculinos (Grooming), esportes e fitness, música, moda e estilo,

viagem, gastronomia, bebidas, carros e motos, consumo, entretenimento, mulher e

política. Mensamente, na revista e no tablet, e diariamente, no site e em aplicativos

para smart phones, GQ Brasil conectará os seus leitores extremamente qualificados

socio e culturalmente a novas tendências, anunciantes e produtos prime.

(EDITORAGLOBO.COM, 2016).

Na edição de fevereiro de 2014, a estrutura editorial da revista se organizava de maneira

diferente de edições anteriores. A publicação agora possui uma organização que é feita em torno de

seis seções que são: Essencial, Motor, Manual, Diálogos, Neste Mês e Corpo uma nova seção da

revista que surge para substituir as seções Detalhes e Ação.

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Assuntos como música, arte, cinema, livros, designs, humor, política, ensaios sensuais com

uma ‘musa’ eleita para cada edição da revista, assim como o ‘homem do mês’, podem ser

encontrados na seção Essencial.

Novidades relacionadas ao setor automotivo são apresentadas na seção Motor, que possui

como slogan “Sobre máquinas fantásticas do céu, da terra e do mar”. Nesta seção são apresentados

veículos de última geração que possuem preços nada acessíveis para a maioria da população

brasileira. Através da apresentação destas verdadeiras joias em fotos que instigam ainda mais o

imaginário de seu público leitor, esta seção serve como um verdadeiro desfile do que supostamente

há de melhor no mercado automotivo.

Na seção Manual, são apresentadas as últimas novidades da moda masculina no “Guia

prático de estilo para homens impecáveis”. Através desta seção o leitor de GQ Brasil obtém

informações sobre moda e estilo, além de ficar por dentro das tendências que dizem respeito ao

guarda-roupa masculino.

Na seção Diálogos são apresentadas crônicas e artigos curtos sobre os mais variados

assuntos entre eles estão sexo, meio ambiente, esportes, política entre outros assuntos abordados

pelos colunistas e especialistas convidados para compor esta seção.

Na seção Neste Mês, são trazidas reportagens especiais sobre os mais variados temas e as

principais entrevistas da edição. Nesta seção encontramos diversos ensaios de moda, assuntos como

negócios, tecnologia entre outros temas abordados de maneira única em cada edição.

Por último, temos a seção Corpo, que não fazia parte da publicação no ano de seu

lançamento em 2011. Esta seção surgiu como forma de unificar as seções Detalhes e Ação que

traziam assuntos ligados ao cuidado com o corpo, cabelos, pele e também tudo sobre nutrição,

esportes radicais e tudo do mundo fitness. Sendo assim na seção Corpo são abordados os mesmos

assuntos trazidos antes pelas as outras duas seções.

Partindo desta estrutura editorial que compõe a revista em suas edições, nos propomos a

entender qual o discurso e qual homem é projetado dentro da GQ Brasil. No entanto devido ao

número de revistas analisadas, decidimos nos ater apenas a três seções da revista, sendo elas:

Essencial, Manual e Corpo. Esta escolha se deu pelo fato de que em uma análise prévia das

publicações, nos incitou saber com uma maior profundidade o que a revista coloca como

“Essencial” para o homem que a lê, o que deve ser seguido dentro do Manual e por último qual

Corpo é construído pela publicação. Juntas, elas compõem um verdadeiro arranjo de valores e

comportamentos do “Novo Homem”.

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As seções Manual e Corpo juntas compõem um arranjo prescritivo de como o ethos do Novo

Homem (acima descrito) deve ser expresso através de uma hexis corporal. A expressão de um “si”

através do corpo não é um processo novo e nem se restringe à figura do metrossexual ou de outras

masculinidades; trata-se de um resultado histórico de um processo de estetização do mundo que tem

como epicentro a valorização das superfícies na sociedade de consumo. Em uma sociedade que se

tornou cada vez mais definida pelo anonimato (e menos pelos laços comunitários tradicionais), a

aparência externa se torna a prerrogativa para uma “definição pessoal” na esfera pública, um

condicionante fundamental que possibilita habilidade em fazer julgamentos rápidos baseados na

imediaticidade visual. O “estilo” se torna a forma de manifestação subjetiva (da personalidade) e é

amplamente mediada pelos padrões e bens de consumo; a pessoa é aquilo que ela aparenta ser

através do que usa, veste, se alimenta e faz. E O valor das coisas e das pessoas é cada vez menos

definido através das qualidades materiais, o conteúdo propriamente dito é cada vez mais associado

ao apelo estético, a embalagem. (MARTINEZ, 2009).

1.2 O Manual dos manuais

Quando a GQ Brasil foi lançada em 2011, a seção Manual era pautada como um “Guia

Prático de Estilo para Homens Impecáveis” que se propunha levar ao público leitor da revista as

últimas novidades do universo de moda masculino. Como apresentado anteriormente, a GQ norte-

americana surge como um suplemento de moda de uma revista masculina, assim como a GQ Brasil

Style. A partir disso, a publicação passou a ser ligada a moda masculina em todos os lugares que

possuía publicações.

Pensando por este ângulo, e tendo uma preocupação em manter um certo nível em relação a

moda na edição brasileira, que pode ser percebida pela contratação do primeiro editor do Manual, o

stylist e jornalista Sylvain Justum. Possuindo em seu curriculum trabalhos em títulos como Vogue,

Homem Vogue, Estado de São Paulo além de seu badalado blog de moda masculina o Hypercool,

Sylvain Justum se mostrou mais do que qualificado para ocupar o cargo. No entanto a estadia de

Sylvain como editor desta seção durou até 2011 quando Antônio Branco assumiu o cargo.

No Guia Prático encontravam-se algumas colunas que variavam mensalmente, começando

pela capa do Manual, que na maioria das vezes apresentava temas que seriam a pauta principal da

seção. Apresentando mini editoriais com modelos utilizando peças de marcas e grifes conceituadas,

(representadas através de fotos que apresentavam seus valores, na maioria das vezes estratosféricos)

o Manual servia de deleite para leitores que buscavam por luxo.

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Colunas esporádicas que marcavam presença na maioria das edições preenchiam o Manual,

sempre procurando levar as últimas tendências da moda masculina a seu público. A coluna

“Guarda-roupa” apresentava diversos itens relacionados informações sobre a moda, como as cores

que iriam dominar a estação, produções que poderiam ser montadas a partir de uma peça curinga

em voga nos dos guarda roupas masculinos. Outra coluna que fazia parte de várias edições do

Manual, muito recorrentes no Guia Prático, era a “Lista de Pedidos”. Nela, grandes nomes do

mundo executivo, da música, do design, da moda e de outras áreas, representantes de um “homem

brasileiro sofisticado” escolhem objetos que consideram essenciais em seus cotidianos, ou que tem

o desejo de possuir.

A editora de moda da revista Vogue, Bárbara Migliori, possuía uma coluna dentro do

Manual chamada “Para Ela”, apresentava mensalmente, tendências e itens que interessassem às

mulheres. Na coluna “Futuro do Presente”, a editora de moda Helena Montanarini apresentava as

principais tendências da moda masculina através de um texto bem redigido, que poderia soar muito

bem aos interessados em moda.

Entretanto, algumas alterações na estrutura da revista afetaram a seção Manual. O Guia

Prático para Homens Impecáveis foi retirado da seção, as colunas Para Ela e Futuro do Presente

também foram extintas juntamente com a Lista de Pedidos. Estas mudanças começaram em 2013 e

se fortaleceram com o retorno do stylist Sylvain Justum ao posto de editor da seção. Agora com um

viés editorial mais voltado a moda masculina em si, o Manual aborda somente editoriais de moda

masculina, levando informações de desfiles de moda e da moda rua ao seu público leitor, através de

editorias que contam com relógios, sapatos, bolsas, roupas e vários outros elementos do guarda-

roupa de um homem verdadeiramente sofisticado.

Um tema recorrente nas edições analisadas, mas que pode ser situado na própria dinâmica da

moda, o resgate de décadas passadas se faz presente no guarda-roupa masculino deste novo homem.

Seja através de um óculos espelhado com armação inspirada nos anos 80, ou de uma suposta

releitura da icônica calça da Levi´s 501 (criada em 1873), a nostalgia de tendências também se faz

presente no cotidiano masculino no que tange a moda. Tendo como objetivo mostrar que o homem

que lê GQ Brasil é alguém que conhece moda as tendências de cada estação, a edição de fevereiro

de 2013 traz como único tema dentro do Manual, uma lista de 10 itens que não poderiam faltar no

guarda-roupa de um homem preparado para o verão daquele ano: Blazers de algodão

desestruturados, gravatas de seda, jaqueta jeans, camiseta listrada, costume sem forro, polos, cinto

de algodão, tênis clássicos, calçados tipo bucks e calças chino.A edição de novembro de 2014

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trouxe como pauta do Manual a releitura de uma peça quase unanime no guarda-roupa masculino: o

blazer. Apresentando uma nova cartela de cores para a escolha da peça, a seção abordou o blazer

como uma “peça curinga”, capaz de transformar qualquer produção desde uma proposta casual onde

entra como substituto de peças mais esportivas como jaquetas, até propostas mais formais. Já em

julho de 2014, a proposta de casaco era uma peacoat, peça usada originalmente pelos marinheiros,

mas que usada de “maneira correta”, poderia se tornar versátil, transitando desde ocasiões mais

casuais até as mais formais.

Pensando na mescla entre momentos formais e informais do cotidiano masculino, a edição

de abril de 2015 trouxe na forma de painéis, tendências que misturavam-se aos clássicos com

sugestões para o trabalho e diferentes momentos do lazer (sair à noite, pedalar e curtir o fim de

semana). Enfocando principalmente os momentos de lazer, a edição de setembro de 2015, abordou

os finais de semana e os dias de folga. Mantendo uma linearidade entre estas duas edições, a seção

Manual deixou claro que um autêntico Gentleman não se descuida da elegância nem mesmo nessas

horas. O conceito de loungewear elevaria tricôs e moletons luxuosos à categoria de peças icônicas e

para usar, inclusive, fora de casa.

Percebemos que há uma grande preocupação da revista com os momentos de lazer de seu

público. Para isso, o Manual explica como vivenciar estes momentos sem se descuidar e sem perder

o estilo. No entanto, se de um lado, o Manual aborda o lazer do público leitor de forma suave e

agradável, ele também demonstra que para este Novo Homem, o mundo do trabalho, também deve

ser permeado pelos conceitos de elegância, do glamour e o estilo, essenciais para seu sucesso

profissional.

Assim, na edição de fevereiro de 2015, com a frase “Hora de voltar ao trabalho, de energias

e espírito revigorados. E de roupa nova também, por que não? ”, o Manual trouxe um editorial com

sapatos sociais e mocassins, falando da diferença entre lugares em que se pode usar cada um deles.

Também abordou os relógios, trazendo o modelo com um reversor “A maioria dos ponteiros

usados em relógios gira sobre o marcador. Mas isto também pode ser diferente. Em alguns

exemplares os ponteiros se movem sobre um segmento circular e saltam ao chegar ao final,

voltando a posição inicial. Este complicador se chama revisor”, aceito por alguns e muito criticado

por outros. Também utilizados para se referir ao mundo do trabalho, os relógios apareceram na

edição de julho de 2014, onde foi feita uma seleção de relógios para quem trabalha em escritórios; o

modelo com pulseira de couro foi o mais indicado.

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Ainda nesta perspectiva, na edição de março de 2015 o Manual trouxe um editorial sobre

dicas de moda para quem está iniciando uma nova carreira ou prestes a ser promovido seja

trabalhando tanto em áreas formais quanto nas mais descontraídas. Abordando a vestimenta como o

melhor cartão de visitas de um profissional, o Manual diz que as aptidões são muito importantes,

mas que uma boa roupa pode ajudar.

Mostrando que o homem também vivencia dilemas relacionados à escolha de peças a cada

estação, a edição de janeiro de 2013 enfocou o impasse nas produções masculinas entre a escolha de

camisa e ou camisetas. Estas poderiam ser coordenadas juntas e/ou separadas em determinadas

produções para aproveitar o melhor de cada momento e lugar.

Neste sentido, a edição de fevereiro de 2014 abordando as calças e bermudas chino, também

fazia menção a uma dificuldade masculina no que se refere a moda e a ousadia exigidas de cada

sujeito. Nesta edição o foco era “um passo de cada vez” para aqueles que não dão conta de

mudanças de maiores proporções. Sendo assim o Manual propõe que os homens comecem a utilizar

os modelos chino de maneira diferente, partindo de uma mudança de padronagem e utilizando

modelos que prezam o minimalismo, para depois ir se adaptando a outras mudanças como a cor por

exemplo.

Ainda no que se refere a ousadia masculina na hora de se vestir, a edição de março de 2015

abordou uma releitura do estilo dândi, se referindo a releitura do estilo como Novo Dândi2, o

Manual mostrou que o estilo com referências nos dândis tinha suas bases no contraste de cores do

blazer, colete, camisa e gravata o que seria segundo a seção “ousadia nível A.A” e então o Manual

pergunta “Tem coragem?”, questionando seu público se eles teriam coragem de aderir ao estilo do

Novo Dândi, arriscando-se entre os contrastes de cores.

Também no sentido de apostas ousadas para o vestuário masculino, a edição de outubro de

2015 trouxe visuais mais monocromáticos propondo ouso de meias de cores vivas e sapatos

marrons como uma alternativa elegantíssima aos tradicionais e sisudos modelos pretos; no entanto o

Manual afirma que a aposta é “Para homens seguros”.

Após ler, observar e analisar todas estas 11 edições da publicação GQ Brasil com enfoque

sobre a seção Manual, percebemos que os vários editoriais citados acima, se alinham em diversos

pontos aos temas como editoriais de relógios, de sapatos e roupas, abordados no Manual nestas

publicações. Portanto, entender o homem contemporâneo e a masculinidade gestada pela revista

2 “O dândi inglês e seu análogo francês, o “incroyable”, entraram em evidência nos anos 1790. Ele era um cavalheiro

que aplicava a máxima da discrição como o princípio supremo da elegância masculina. Era essa discrição que o

distinguia do janota do século XVIII – o tolo vestido com exagero”. (STEVENSON, 2012, p.24).

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através de suas publicações, e mais estritamente na seção Manual é importante para percebermos

como a moda possibilita arquitetar identidades através das escolhas do vestuário feitas pelos

indivíduos.

De modo geral, a seção Manual apresenta uma multiplicidade no sentido de diversidade de

símbolos, estilos de vida, valores e identidades que estão univocamente ligados a um arranjo

específico de masculinidades. Neste sentido, acreditamos que a revista se dirija a um homem

contemporâneo, se detendo em aspectos específicos das identidades masculinas hegemônicas. Ao

abordar uma pluralidade de estilos dentro do Manual, a revista se dirige a vários homens que

supostamente vivenciam de maneiras distintas a masculinidade e expressam isto através do

vestuário também.

Supondo a metrossexualidade como uma construção idealizada dentro e para o consumo, é

possível afirmar que a revista GQ Brasil idealiza e reproduz a mesma nos exatos mesmos termos em

que foi concebida: através de forte relação com o consumo e com a estética produzida através dos

corpos. Neste sentido os metrossexuais podem se sentirem representados de alguma forma dentro da

publicação.

Dentro disso, também a categoria denominada de power-seekers3 se sentiria representada

pela revista, principalmente dentro do Manual, uma vez que a seção aborda vários aspectos

relacionando o vestuário ao mundo do trabalho, seja em grandes editoriais seja com pequenas peças

que fariam a diferença em uma produção executiva. Como vimos nas informações anteriores, o

Manual também aborda certos paradigmas na moda masculina que precisam ser quebrados, mas aos

poucos sem perder a clareza do estilo que cada um possui.

Sendo assim, creditamos que a seção Manual também aborda de maneira pretensiosamente

sofisticada e descontraída as especificidades de estilos variados, proporcionando ao seu leitor a

escolha de estilos variados, abordando tendências, peças, estilos e formas variadas de adaptar o

universo das passarelas para o dia-a-dia do seu leitor que necessariamente não precisa acompanhar

desfiles, pois o necessário se encontra no Manual. Acompanhando todas as temporadas de moda

importantes no mundo como Londres, Paris, Milão, New York e até o salão Pitti Uomo em

Florença, o Manual fornece sempre as principais tendências que vão dominar os guarda-roupas

masculinos “mais atualizados” na moda. Além de fornecer informações de moda provenientes das

passarelas, a seção também aborda os aspectos do street style que é nada mais nada menos do um

3 “Os power-seekers por sua vez, são homens que ambicionam o poder e usam a vaidade para conquistar posições

almejadas, em especial no mercado de trabalho. Suas relações e práticas de consumo estão ligadas ao universo

profissional, pois estão sempre em busca do sucesso.” (SOUZA, 2013, p.27).

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estilo que se instala com maior força durante as temporadas de moda e possuem mais influência até

do que as tendências abordadas nos desfiles.

Dentro disso, o Manual também traz informações sobre os grandes nomes deste universo da

alta cultura de moda: Ermenegildo Zegna, Salvatore Ferragamo, Ralph Lauren, Armani entre

outros, dão nome as peças apresentadas na maioria dos editoriais.

Isto nos leva a acreditar que por mais que múltiplos homens possam se identificar com os

estilos, roupas, sapatos, acessórios entre outras coisas dentro da seção, de modo mais amplo ela é

direcionada a uma categoria especifica de homens privilegiados que podem vivenciar a experiência

de consumo dos valores gestados pelo Manual. Pois mesmo acreditando que o homem

contemporâneo possa ser unificado na figura de um homem em si, a revista veicula um material que

pode servir de identificação para mais de um homem, no entanto todas estas vivências necessitam

de um poder aquisitivo alto para consumir o estilo de vida com o qual elas se identificam além claro

de estarem alinhados com o projeto heteronormativo. Logo, a seção Manual não é uma ilha de um

homem só, mas também não é para todos.

Considerações finais

Partindo dos estudos de gênero que possuem um papel primordial no que tange o

entendimento dos papeis socioculturais de homens e mulheres em suas performances no cotidiano,

nos fiamos na construção cultural das masculinidades, não perdendo jamais a noção de que as

masculinidades, além de múltiplas, são construções que emanam informações necessárias para

entender os processos de opressão constituídos por meio do machismo, homofobia entre outras

ferramentas usadas na demarcação das relações de poder constituídas entre homens e mulheres e

homens e homens.

Percebendo que a revista não veicula a imagem de um modelo de homem apenas mas sim

múltiplas masculinidades que possuem um alinhamento com o modelo hegemônico, pois o público

que consome a revista é composto pelos aspectos que fomentam a hegemonia. Sabendo disto,

percebemos que para além de um guia para homens finos e elegantes, a revista serve como uma

espécie de arena imaginária onde são apresentadas e contempladas múltiplos modelos de

masculinidade hegemônica o que nos levou a abordá-las enquanto masculinidades concorrentes que

são passiveis de se tornarem o padrão hegemônico em si.

Referências

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

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MASCULINITIES IN THE (RE) VIEW: THE CONSTRUCTION OF HEGEMONY AND

CONSUMPTION

This article is part of a research presented as a course conclusion work for the attainment of

qualifications at Degree and Bachelor's degree in History from the Federal University of Goiás –

Regional Catalão and has as objective to promote a different way the debate on masculinities and

their interactions and internal, having as a source the magazine GQ Brazil publication specialized in

fashion and lifestyle. In this sense, we try to look at it in a different way the internal dynamics of

masculinities, making an analysis about the construction and deconstruction of the same. Starting

from the assumptions of Gender Studies and of studies that encompass masculinities, we seek to

realize in a deeper way, the process of the construction of the model of masculinity hegemonic,

seeing the same as a process of “dialectical”. For both we discuss a supposed crisis in male or crisis

in the standard hegemonic masculinity, a crisis that would have generated a “New Man” a new

possibility of experiencing masculinity “hegemonic” in the contemporary world. In the middle of

the neoconservadorismo that advances each time more about the cultures, the discussions around

the social roles, sexual among others, never were so important to the understanding of cultural

constructions about the roles of female and male societies. With this, we propose to understand how

the metrossexualidade acts in the spectrum of the internal dynamics of masculinities, being as a

possible model of hegemony.

Keywords: Gender, Masculinities, Metrossexualidade, Consumption and Hegemony.