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julho de 2012 00 julho de 2012 00 No começo, eram nove. Fica- ram famosos como oito. Mas agora, 30 anos após seu nasci- mento, os Titãs são quatro. Não é pouca coisa no eternamente jovem mundo do rock, principalmente se for levado em conta que o grupo segue produzindo material novo e lotando shows. Por essas e outras, os titânicos Paulo Miklos, Sérgio Britto, Bran- co Mello e Tony Bellotto estão comemorando a data redonda em grande estilo com a reedição, e consequentes apresenta- ções, de Cabeça Dinossauro (1986), o terceiro e mais célebre de todos os trabalhos dos paulistanos. “Começamos a turnê do Cabeça Dinossauro no primeiro semestre deste ano e, no segundo, faremos seis shows com os ex-Titãs Arnaldo Antunes e Charles Gavin. O Nando Reis não tem disponibilidade de datas. Para 2013, estamos preparando um disco de inéditas, rápido e pesado, mas com uma certa bra- silidade. Um cruzamento entre Cabeça e Õ Blésq Blom. Vamos ver no que vai dar”, explica Britto. Para comemorar 30 anos de estrada, os quatro cavaleiros do Titãs lançam uma versão luxuosa do clássico Cabeça Dinossauro, fazem um balanço de seu passado e se preparam para o futuro O pulso ainda pulsa Texto DAFNE SAMPAIO Fotos KIKO FERRITE CAPA s

Matéria de Capa Titãs

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Page 1: Matéria de Capa Titãs

julho de 201200 julho de 2012 00

No começo, eram nove. Fica-

ram famosos como oito. Mas agora, 30 anos após seu nasci-

mento, os Titãs são quatro. Não é pouca coisa no eternamente

jovem mundo do rock, principalmente se for levado em conta

que o grupo segue produzindo material novo e lotando shows.

Por essas e outras, os titânicos Paulo Miklos, Sérgio Britto, Bran-

co Mello e Tony Bellotto estão comemorando a data redonda

em grande estilo com a reedição, e consequentes apresenta-

ções, de Cabeça Dinossauro (1986), o terceiro e mais célebre de

todos os trabalhos dos paulistanos.

“Começamos a turnê do Cabeça Dinossauro no primeiro

semestre deste ano e, no segundo, faremos seis shows com os

ex-Titãs Arnaldo Antunes e Charles Gavin. O Nando Reis não

tem disponibilidade de datas. Para 2013, estamos preparando

um disco de inéditas, rápido e pesado, mas com uma certa bra-

silidade. Um cruzamento entre Cabeça e Õ Blésq Blom. Vamos

ver no que vai dar”, explica Britto.

Para comemorar 30 anos de estrada,

os quatro cavaleiros do Titãs lançam

uma versão luxuosa do clássico

Cabeça Dinossauro, fazem um balanço de

seu passado e se preparam para o futuro

O pulso ainda pulsa

Texto DAFNE SAMPAIO Fotos KIKO FERRITE

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Page 2: Matéria de Capa Titãs

julho de 2012

CAPA

00

Passado, presente e futuro vivem se encontrando na trajetória do gru-

po, mas a oportunidade de reviver e compartilhar a glória criativa e cheia de

energia do então octeto tem sido uma fonte de surpresas. É que agora os no-

vos e velhos fãs podem ouvir o disco original remasterizado e, pela primeira

vez, a demo tape com as versões cruas de clássicos como “Família”, “Homem

Primata”, “Igreja” e “Polícia”, além da inédita “Vai pra Rua” (“Porrada” entrou

em seu lugar no disco). “Nessa demo, que gravamos em dois dias, o que cha-

mou atenção foi a sonoridade crua, com arranjos diretos e contundentes

que já havíamos concebido antes da gravação e que foram potencializados

na produção do disco [a cargo de Liminha]”, relembra Mello.

“No ano em que lançamos o Cabeça, os Paralamas lançaram Selvagem?

e o Legião Urbana, o Dois. São três discos antológicos, cheios de qualidades,

mas completamente diferentes entre si. O Cabeça é a ponta mais ácida e

virulenta dessa tríade e talvez por isso mesmo seja um fenômeno mais raro

ainda no panorama geral da música popular brasileira. Acho que um disco

assim, barulhento, com palavrões, cheio de atitude e contestação ainda é

coisa muito rara no mainstream”, diz Britto.

E todo esse barulho, toda a crítica social das 13 faixas do disco, caiu

como uma luva naquele momento de redemocratização brasileira. Para

se ter uma ideia, nem as multas pela veiculação dos palavrões de “Bichos

Escrotos” impediram as rádios de tocar (muito) a música, e o disco acabou

vendendo mais de 250 mil cópias. “Tenho a lembrança de que éramos muito

jovens, fazendo a nossa música, descobrindo o Brasil e já com a certeza de

que era isso que queríamos para nossas vidas. Deu para perceber o quanto

estávamos sintonizados e afiados para realizar esse disco”, diz Mello.

Cabeça Dinossauro é o primeiro disco titânico a sair nesse formato luxu-

oso. Outros álbuns que o grupo lançou pela Warner terão o mesmo destino,

sendo que os mais esperados são Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas

(1987) e Õ Blésq Blom (1989). “Temos muito material extra. Fitas demo ou ca-

seiras, feitas antes de cada disco com o material ainda recém-arranjado, em

estado bruto, e muita coisa gravada em ensaios. Pretendemos escolher com

cuidado entre estes arquivos o que pode ser lançado em futuras edições espe-

ciais”, diz Miklos, preocupado com a qualidade e a relevância do material a ser

lançado, mas acima de tudo, animado.

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00julho de 2012

Por outro lado, essas olhadelas no passado protagonizadas pelos re-

manescentes acabam revivendo as saídas de Arnaldo Antunes (1992), Nan-

do Reis (2002) e Charles Gavin (2010), além da morte de Marcelo Fromer

(2001). Com a palavra, o guitarrista Tony Bellotto: “A saída de um ou mais

integrantes muda muita coisa em uma banda. Quando algumas pessoas

decidem formar um grupo e tocar é porque elas têm química. Não é à toa

que a maioria das bandas acaba ou se desconfigura quando alguém decide

sair. No caso dos Titãs, cada saída foi triste, mas a morte do Marcelo foi, sem

dúvida, o momento mais doloroso que enfrentamos. É sempre difícil superar

perdas, ainda mais neste caso.”

E eles superaram, seguiram em frente, porque o show não pode parar

e ainda tem muita química para rolar. “Somos um grupo sui generis, com

compositores e cantores. Essa característica nos favorece musicalmente.

Sempre soubemos ocupar o vazio deixado, nunca ficou um buraco na ques-

tão da sonoridade. Mas é claro que as amizades sempre fazem muita falta”,

completa Bellotto.

Um bando de garotos

O fato de todos os integrantes conseguirem tocar seus projetos pes-

soais ajudou a manter acesa a chama dos encontros titânicos: Bellotto se

mostrou um hábil escritor de livros policiais; Miklos ganhou fama como ator

(O Invasor, É Proibido Fumar e até uma novela, Bang Bang); Mello assinou

projetos infantis como Eu e Meu Guarda-Chuva; e Britto encampou novas

sonoridades em seus discos solo no decorrer dos anos 2000.

Envelhecer dentro do rock também não é um problema para nenhum dos

quatro, que já estão na altura de seus 50 e poucos anos. “O que muda com o

passar do tempo são outros aspectos da vida, o lado pessoal e as atitudes. Claro

que fazer rock estará sempre ligado a uma ideia de juventude, mas quando es-

tamos juntos parece que somos ainda aquele bando de garotos que se reuniu

pela primeira vez para tocar. O espírito continua o mesmo”, reflete Bellotto.

Miklos concorda com o amigo dos tempos de colégio, mas vai mais fundo

na diversão e se define como um Titã revigorado, positivo e operante. “Atingi-

mos outro patamar depois de mais uma mutação na formação da banda. Esta-

mos nos divertindo como nunca, e isso está muito evidente para o público. Esta

excursão comemorativa do Cabeça Dinossauro está nos trazendo muitas ale-

grias. Casas cheias e o encontro carinhoso com os fãs. É muito bom comemorar

com rock’n’roll e encontrar as pessoas em meio a toda essa energia”, resume

Miklos, de corpo presente e com os olhos apontados para o futuro.

No alto, foto tirada no camarim do grupo, em 1988. Acima, Branco

Mello e sua câmera, em 1987, no mar de Genipabu, no Rio Grande

do Norte. Abaixo, em 2011, a formação mais recente do grupo

CAPA

“Estamos nos divertindo como nunca, e isso está muito evidente para o público”, diz Miklos

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