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2014 MATERIAL DIDÁTICO n. 6: Estudo da Teoria da pena no Direito Penal Brasileiro. Produzido por Gisele Alves e Vânia Camacho.

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2014

MATERIAL DIDÁTICO n. 6:

Estudo da Teoria da pena

no Direito Penal Brasileiro.

Produzido por Gisele Alves e Vânia Camacho.

SUMÁRIO

1. ESPÉCIES DE PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE

1.1 Reclusão

1.2 Detenção

1.3 Prisão simples

2. REGIMES PENITENCIÁRIOS 2.1 Fechado.

2.2 Semiaberto.

2.3 Aberto.

2.4 Fixação de regime inicial. 3. PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIMES 3.1 Progressão de regime em crimes hediondos 3.2 Progressão de regimes em crimes contra a Administração Pública. 4. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO 5. MULTA 6. ESPÉCIES DE PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO 7. REMIÇÃO

8. REINCIDÊNCIA

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES:

Art. 1º da LEP – Objetivos da Execução Penal.

Súmula 192 do STJ: “Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução

das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando

recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.”

1. ESPÉCIES DE PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE

O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não poderá ser superior a 30

anos (art. 75 do CP)

As penas privativas de liberdade podem ser:

Reclusão

Detenção

Prisão simples (contravenções penais).

1.1 Reclusão

Características:

Crimes dolosos.

Pode ser iniciada sua execução em qualquer dos três regimes penitenciários:

fechado, semiaberto ou aberto.

Somente os crimes mais graves são puníveis com pena de reclusão.

A autoridade policial nunca poderá conceder liberdade provisória mediante fiança

nos crimes punidos com reclusão.

A medida de segurança será sempre detentiva.

Somente os crimes dolosos punidos com reclusão, praticados pelos pais, tutores

ou curadores contra os respectivos filhos, tutelados ou curatelados geram a

incapacidade para o exercício do poder de família, tutela ou curatela.

Art. 2º, III, da Lei 9.296/1996 – Autoriza a interceptação de comunicações

telefônicas de qualquer natureza como meio de prova somente nos crimes

punidos com reclusão.

Primeiro executa-se a pena de reclusão, depois as demais penas privativas de

liberdade.

OBS: No caso em que a reclusão ultrapasse oito anos pode o condenado,

excepcionalmente, iniciar o seu cumprimento no regime semiaberto ou aberto, como

prêmio em caso de delação na Lei de Lavagem de Dinheiro (art. 1º, § 5º, da Lei

9.613/1998).

1.2 Detenção

Características:

Cabível em crimes dolosos ou culposos.

Só pode ser iniciada sua execução em regime semiaberto ou aberto, salvo

necessidade de transferência a regime fechado. Somente o cumprimento

insatisfatório da pena de detenção (ver art. 118 da LEP) poderá levar o preso ao

regime fechado, através da regressão (art. 133 da LEP).

Aplicável a crimes de menor gravidade.

A autoridade policial poderá conceder fiança nas infrações punidas com detenção,

desde satisfeitos requisitos previstos no direito processual penal.

A medida de segurança poderá ser convertida em tratamento ambulatorial.

Os crimes punidos com detenção praticados pelos pais, tutores ou curadores

contra os respectivos filhos, tutelados ou curatelados não geram a incapacidade

para o exercício do poder de família, tutela ou curatela.

Somente se admitirá prisão preventiva quando se apurar que o indiciado é vadio

ou, havendo dúvida sobre a sua identidade, não fornecer ou não indicar elementos

para esclarecê-la, ou ainda se o crime envolver violência doméstica e familiar

contra a mulher.

1.3 Prisão Simples

Características:

Sua execução pode ser iniciada em regime semiaberto ou aberto, em

estabelecimento especial, ou seção especial de prisão comum, sem rigor

penitenciário (art. 6º do CP).

Não é permitido o regime fechado nem mesmo em caso de regressão.

2. REGIMES PENITENCIÁRIOS

Os regimes são determinados pela espécie, quantidade da pena e pela reincidência,

aliadas ao mérito do condenado, num autêntico sistema progressivo.

Os regimes penitenciários podem ser:

Fechado

Semiaberto

Aberto

2.1 Fechado

Características:

O condenado cumpre a pena em estabelecimento de segurança máxima ou média

(penitenciárias).

O condenado é obrigado a trabalhar durante o dia dentro do estabelecimento

penitenciário (trabalho interno). O trabalho dará direito à remição da pena.

O trabalho externo só é admissível em obras ou serviços públicos, desde que

cumprida, pelo menos, 1/6 da pena, segundo o CP, mas a LEP admite também em

obras privadas. Só é possível tal trabalho, se tomadas às devidas precauções e

medidas necessárias contra possíveis fugas e em favor da disciplina. O trabalho

externo depende da autorização administrativa do diretor do estabelecimento.

O condenado fica sujeito ao isolamento durante o repouso noturno, no entanto,

devido à superpopulação carcerária, tal regra é muito difícil de ser cumprida.

O condenado não tem direito a frequentar cursos de instrução ou

profissionalizantes, exceto dentro do próprio estabelecimento.

No início do cumprimento da pena, o condenado deverá ser submetido a exame

criminológico para a individualização da execução.

Há permissão de saída, mediante escolta, nos casos de falecimento ou doença

grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão; e nos casos

de necessidade de tratamento médico (Art. 120, da LEP).

Não se aplica a saída temporária.

2.2 Semiaberto

Características:

A pena deverá ser cumprida em colônias agrícolas, industriais ou similares.

O condenado terá direito de frequentar cursos profissionalizantes, de instrução do

segundo grau ou superior.

Não há previsão para o isolamento durante o repouso noturno.

O exame criminológico será facultativo, segundo a previsão da LEP.

O trabalho será realizado em período diurno no interior da colônia penal, em

maior liberdade e dará direito à remição.

O trabalho externo é admissível, inclusive na iniciativa privada, e pode ser o último

estágio de preparação para o retorno do preso ao convívio social.

Há permissão de saída, mediante escolta, nos casos de falecimento ou doença

grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão; e nos casos

de necessidade de tratamento médico.

Há saída temporária, sem vigilância direta, nos casos de visita à família; frequência

a curso supletivo profissionalizante, de instrução do segundo grau ou superior;

participação em atividades que contribuam para o retorno ao convívio social. É

autorizada pelo juiz da execução e será concedida se o condenado obtiver

comportamento adequado; tiver cumprido 1/6 da pena, se primário, e 1/4, se

reincidente; e se houver compatibilidade do benefício com os objetivos da pena

(Art. 122, 123 e 66, IV, todos da LEP). Ver Súmula 40 STJ.

2.3 Aberto

Características:

A pena deverá ser cumprida em casa de albergado à noite e nos dias de folga (art.

93, da LEP).

Nos casos em que o condenado é maior de 70 anos; possuidor de doença grave;

gestante; possuidor de filho menor ou deficiente físico ou mental, este poderá

cumprir a pena em sua própria residência (prisão-albergue domiciliar)- art. 117,

LEP.

Baseia-se na autodisciplina e na responsabilidade do preso, podendo este ser

transferido para um regime mais rigoroso caso não demonstre que merece e que

está preparado para o regime aberto (descumprimento das condições do regime).

O condenado deverá trabalhar e frequentar cursos ou exercer outra atividade fora

do estabelecimento, desde que tais atividades tenham sido estabelecidas pelo Juiz

da Execução. Não haverá vigilância, devendo retornar ao estabelecimento no

horário fixado.

O regime aberto mantém o condenado em contato com sua família e com a

sociedade.

O condenado não poderá sair da cidade onde reside sem autorização judicial.

O condenado deverá comparecer em juízo, quando intimado, para informar e

justificar as suas atividades.

Poderão ser estabelecidas condições especiais a critério do juiz da execução, desde

que as circunstâncias as justifiquem. Assim, o juiz poderá proibir o condenado de

frequentar determinados lugares, dentre outras medidas.

Ver Súmula 493 do STJ.

2.4 Fixação de regime inicial

Os critérios fundamentais e determinantes do regime inicial são:

Natureza da pena aplicada

Quantidade da pena aplicada

Reincidência

Quando estes fatores não determinarem a obrigatoriedade de certo regime, os elementos

do artigo 59 do CP é que orientarão qual regime deverá ser aplicado como o mais

adequado para o caso concreto e para o condenado.

O juiz sentenciante deverá estabelecer na sentença o regime inicial de cumprimento da

pena, observando o artigo 33 do Código Penal, que estabelece a distinção entre as penas

de reclusão e de detenção.

Se não houver menção expressa quanto ao regime inicial, a dúvida deve ser resolvida em

prol do regime mais benéfico, desde que juridicamente cabível.

Nos casos de condenações provenientes de diferentes processos, procede-se,

inicialmente, ao cálculo de soma ou unificação de penas , quando houver conexão ou

continência entre os crimes, e, em seguida, de acordo com o total a que se chegar, fixa-se

o regime inicial.

Na hipótese de concurso de crimes leva-se em conta o total das penas impostas. Se

durante a execução penal surgirem novas condenações transitadas em julgado, o Juízo da

Execução deverá somar o que resta da pena em execução com as novas penas, e somente

após fixar o regime para o total das condenações.

Cabe à Comissão Técnica de Classificação, apenas no início da pena, submeter o

condenado ao exame criminológico, este será obrigatório para os condenados em regime

fechado e facultativo para os condenados a cumprir pena em regime semiaberto. Além

disso, cabe também à Comissão estabelecer o perfil psicológico do condenado e classificá-

lo de acordo com sua personalidade e antecedentes. A partir disso, poderá elaborar todo

o programa individualizador da pena privativa de liberdade.

Pena de reclusão:

Início de cumprimento em regime fechado: pena igual ou superior a 8 anos.

Início em regime semiaberto: pena superior a 4 anos e inferior a 8 anos.

Início em regime aberto: pena igual ou inferior a 4 anos.

Reincidência: a lei considera o regime inicial fechado como obrigatório, não

importando a quantidade da pena imposta. Contudo, a súmula 269 do STJ diz

que o juiz poderá fixar o regime semiaberto se a pena aplicada ao reincidente

não exceder 4 anos.

Não reincidência com pena de até 4 anos: Poderá iniciar em qualquer dos três

regimes, fechado, semiaberto ou aberto, de acordo com os elementos do

artigo 59 do CP.

Circunstâncias judiciais desfavoráveis: o juiz poderá impor regime inicial mais

rigoroso do definido em lei (art. 33, § 1º do CP). Para alguns a análise do art. 59

do CP, favoravelmente poderá impor também regime mais favorável do que o

definido pela regra do artigo supramencionado. Observar Súmulas 718 e 719

do STF.

Pena de detenção:

Início em regime semiaberto: pena superior a 4 anos.

Início em regime aberto: pena igual ou inferior a 4 anos.

Reincidência: regime inicial semiaberto, por ser o mais gravoso existente.

Não reincidência com pena de até 4 anos: Poderá iniciar no regime semiaberto

ou no aberto, levando-se em conta os requisitos do artigo 59 do CP para a

escolha do regime mais apropriado.

Circunstâncias judiciais desfavoráveis: o juiz poderá impor regime inicial

semiaberto (facultativo).

Não existe regime inicial fechado na pena de detenção, este só será admitido,

segundo o STJ, em caso de regressão.

Pena de prisão simples:

Não existe regime inicial fechado, nem mesmo em casos de regressão. A

regressão só ocorrerá do regime aberto para o semiaberto. Ver art. 6º da LCP.

OBS n.1: A lei 12. 736 de 2012 que alterou o art. 387 do CPP estabelece que o tempo de

prisão provisória, de prisão administrativa, ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro,

será computado para fins de fixação do regime inicial de cumprimento de pena privativa

de liberdade. Neste caso o juiz segue a sistemática do art. 68 do CP (sistema trifásico do

cálculo da pena), e após obtida e fixada a pena, considera-se o tempo de prisão processual

para que a pena seja cumprida desde o início no regime adequado, ou seja, considera-se

neste momento a detração penal para aplicar o regime inicial correto.

OBS n.2: Cumprimento de pena por crime hediondo ou equiparado inicialmente em

regime fechado (Art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990) → STF já decidiu pela

inconstitucionalidade de tal regra por afrontar os princípios da individualização da pena e

da proporcionalidade.

OBS n.3: Quando a pena for aplicada no mínimo legal, por serem favoráveis as

circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, não poderá ser aplicado regime prisional mais

gravoso (Súmula 440 do STJ).

3. PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIME

Progressão: Trata-se da passagem do condenado de um regime mais rigoroso para outro

mais suave, de cumprimento da pena privativa de liberdade, desde que satisfeitas às

exigências legais. Assim, a transferência se dará após o cumprimento de 1/6 da pena no

regime anterior (requisito objetivo) e se o comportamento do condenado indicar a

progressão (requisito subjetivo).

Previsão Legal: artigo 112, LEP.

Não é admitida a progressão por salto, ou seja, a passagem direta do regime

fechado para o aberto, tornando-se, portanto, obrigatória passagem pelo

regime intermediário (semiaberto). A jurisprudência só admite a passagem

direta do fechado para o aberto quando o condenado já cumpriu 1/6 da pena

no regime fechado e não consegue passar para o semiaberto por falta de vaga.

Neste caso, o condenado cumpre o segundo 1/6 da pena no regime fechado,

entendendo-se que juridicamente se encontrava no semiaberto, não se

podendo alegar que houve, verdadeiramente, um salto. Ver Súmula 491 do

STJ.

O segundo 1/6 da pena, segundo o STF, tem como base a pena restante, e não

o total da condenação, pois pena cumprida é pena já extinta. Vale destacar

que tal posicionamento é controverso, sustentando alguns o cumprimento do

1/6 sempre sobre o total da condenação.

Nas condenações superiores a 30 anos, o montante de 1/6 deve ser calculado

sobre o total da pena imposta (Súmula 715 do STF). Entendo de acordo com

vários autores pela inconstitucionalidade desta decisão por ferir o princípio da

individualização da pena.

O preso provisório: O STF já reconhece ser possível a progressão provisória de

regime prisional.

É obrigatória a manifestação prévia do MP e do defensor para que seja

concedida a progressão de regime.

A progressão implica, além do exame dos requisitos objetivos e subjetivos, a

produção de provas, todavia, esta se torna impossível em face do

procedimento sumário do habeas corpus.

Atualmente, em se tratando de progressão, não são mais exigidos legalmente

o exame criminológico e o parecer da Comissão Técnica de Classificação.

Regressão: O condenado é transferido para regime mais rigoroso quando praticar fato

definido como crime doloso ou falta grave (artigo 50, LEP), ou sofrer condenação, por

crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o

regime atual.

Previsão Legal: artigo 118, LEP

O condenado que não se adequar ao regime aberto poderá regredir, diretamente,

para o regime fechado, sem passar necessariamente pelo regime semi-aberto.

Poderá ocorrer a regressão se o condenado que se encontra em regime aberto

frustrar os fins da pena ou se, podendo, não pagar a multa.

3.1 Progressão de regimes em crimes hediondos

A progressão era proibida nos crimes hediondos, devendo o condenado cumprir a pena

integralmente no regime fechado. Contudo, com a Lei 11.464/07 houve alteração no

artigo 2º da Lei dos Crimes Hediondos, sendo agora cabível a progressão de regimes aos

condenados por crimes hediondos e equiparados, devendo estes cumprir a pena

inicialmente em regime fechado. Assim, se o réu for primário, a progressão se dará após o

cumprimento de 2/5 da pena (40% da pena), e, se for reincidente, após 3/5 da pena (60%

da pena). Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu

poderá apelar em liberdade.

OBSERVAÇÕES:

Condenados que praticaram o crime antes da entrada em vigor da Lei

11.464/07 e que tiveram o pedido de progressão negado: A nova lei retroagirá,

assim esses condenados conseguirão a progressão de regime, contudo, o STF

considera que a progressão deverá observar o requisito temporal (1/6 da pena

no regime anterior) previsto nos artigos 33 do CP e 112 da LEP, aplicando-se,

portanto, nestes casos, a lei mais benéfica.

Condenados que praticaram o crime após a entrada em vigor da Lei

11.464/2007, seguem as mesmas regras.

OBS n.1: Execução de pena por crime hediondo e comum → Qual o requisito temporal

para concessão de progressão de regime?

Terá que cumprir 2/5 se primário ou 3/5 se reincidente da pena do crime hediondo, e

mais 1/6 da pena total (somatório da pena do crime hediondo e do crime comum).

OBS n.2: Progressão de regime e uma nova condenação → Em caso de superveniência de

nova condenação durante a execução de pena que acaba de receber progressão de

regime, mesmo que já deferida pelo juízo da execução, esta ficará impedida caso a nova

pena exija cumprimento em regime mais rigoroso.

OBS n.3: A contagem do tempo para concessão de progressão de regime prisional é

zerada em caso de cometimento de falta grave (Art. 50 da LEP), reiniciando-se nova

contagem de tempo para progressão na data da ocorrência da última falta e incidindo

no restante de pena a cumprir.

3.2 Progressão de regimes em crimes contra a Administração Pública

O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do

cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do

produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais (Lei 10.763/03).

Desta forma, além do cumprimento de 1/6 da pena e do bom comportamento carcerário,

há ainda a necessidade da recomposição do patrimônio público lesado pelo condenado

para que este consiga a progressão do regime.

4. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

Previsão Legal: artigo 52 da LEP.

A prática de fato, previsto como crime doloso, no interior de uma penitenciária, constitui

falta grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplinas internas, além da

sanção penal correspondente, será passível de regime disciplinar diferenciado. A punição

é cabível tanto ao preso provisório quanto ao condenado, nacionais ou estrangeiros, que

apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da

sociedade, assim como presos suspeitos de envolvimento em organizações criminosas,

quadrilha ou bando.

Alega-se a inconstitucionalidade de tal regime por violação as garantias da dignidade da

pessoa humana, da reserva legal, da vedação de penas cruéis, da presunção da inocência.

A autorização para inclusão do preso neste regime dependerá de requerimento

circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade

administrativa. Contudo, esta só poderá ser aplicada por prévio e fundamentado

despacho do juiz competente, não se tratando, assim, de uma decisão meramente

administrativa. Exige-se ainda que a inclusão em tal regime seja precedida da

manifestação do MP e da defesa no prazo de até 15 dias.

Características:

Duração máxima de 360 dias, sem prejuízo da repetição da sanção por nova

falta grave da mesma espécie, até o limite de 1/6 da pena aplicada.

O recolhimento dá-se em cela individual.

As visitas semanais têm duração de 2 horas e incluem duas pessoas, no

máximo, sem contar as crianças.

O condenado tem direito de sair da cela por 2 horas diárias para banho de sol.

5. MULTA

Dispositivo Legal: artigos 44, § 2º e 49, do CP.

A multa poderá ser cominada como:

Pena única

Pena cumulativa

Pena alternativa

Pena substitutiva

Características:

É considerada, para fins de execução, dívida de valor, sendo vedada a

conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade. Assim, se o

condenado deixar de pagar a multa ou frustrar sua execução, não poderá ser

preso.

Possui caráter personalíssimo, ou seja, a pena de multa não pode ser

transferida para os herdeiros ou sucessores do condenado.

O valor arrecadado com a multa deverá ser revertido em favor do Fundo

Penitenciário.

Depois de transitada em julgado a sentença condenatória, o valor da pena de

multa deverá ser inscrito como dívida ativa em favor da Fazendo Pública.

O valor irrisório (irrelevante) não extingue a pena de multa, uma vez que esta

possui caráter inderrogável, isto é, a certeza de que será cumprida.

É possível a substituição por multa quando a pena privativa de liberdade for

igual ou inferior a 1 ano, desde que preenchidos os demais requisitos

presentes no artigo 44, CP.

Segundo o artigo 44, § 2º, CP que fala que a multa substitui apenas a pena

privativa de liberdade, é possível a cumulação de multas. Contudo, só é

possível quando a cominação for feita no Código Penal, uma vez que, se tal

cumulação de pena privativa de liberdade com multa for feita em lei especial,

não será possível a substituição da prisão por multa (Súmula 171, STJ).

É vedada, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, a

substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa, segundo a

Lei 11.340/06.

Critérios para a individualização da pena de multa:

I. Firma-se o número de dias-multa (mínimo de 10 e máximo de 360).

II. Estabelece-se o valor do dia-multa (piso de 1/30 do salário mínimo e teto de 5

vezes esse salário), conforme a capacidade econômica do réu (artigo 60, caput, CP)

e a extensão do dano causado.

III. Segundo a lei, deve-se tomar por base o valor do salário mínimo vigente na data

do fato, e deve-se atualizar o valor de acordo com os índices de correção

monetária, a partir da data do fato.

6. ESPÉCIES DE PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

Previsão Legal: artigo 43, art. 44, §§ 4º e 5º do CP

As penas restritivas de direito são penas alternativas, ou seja, constituem toda e qualquer

opção de sanção oferecida pela legislação penal para que se evite a imposição da pena

privativa de liberdade. Desta forma, as penas restritivas de direito, embora sejam

autônomas, possuem caráter substitutivo, por esta razão não poderão ser aplicadas

cumulativamente com as penas privativas de liberdade. Assim, ou se aplica a pena

privativa de liberdade ou a restritiva de direitos.

A substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direito ocorrerá quando:

a) O réu não for reincidente em crime doloso (exceção: art. 44, § 3º, do CP: seja

medida socialmente recomendável/indicada e suficiente, e a reincidência não se

tenha operado em razão do mesmo crime).

b) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do condenado,

os motivos e as circunstâncias indicarem que a substituição é suficiente (art 59,CP);

c) For aplicada pena privativa de liberdade que não exceda 4 (quatro) anos e o crime

não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a

pena aplicada, se o crime for culposo.

Considerações:

Os crimes de lesão corporal leve (art.129, caput, do CP), constrangimento ilegal (art. 146

do CP), e ameaça (art. 147 do CP), apesar de serem dolosos, e cometidos com violência ou

grave ameaça à pessoa, admitem o benefício do art. 44 do CP, já que tratam-se de

infrações de pequeno potencial ofensivo, passíveis de transação penal.

Pode ainda, segundo o art. 44, § 4º haver a conversão da pena restritiva de direitos em

pena privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição

imposta.

E nos casos em que sobrevier condenação a pena privativa de liberdade por outro crime, o

juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for

possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior, de acordo com o art. 44, § 5º.

As penas restritivas de direito podem ser:

Penas restritivas de direitos em sentido estrito/pessoais.

Penas restritivas de direitos pecuniárias/reais.

Penas restritivas de direitos em sentido estrito/pessoais: Consistem em uma restrição

qualquer ao exercício de uma prerrogativa ou direito.

Prestação de serviços à comunidade: o condenado realizará tarefas junto a

entidades assistenciais, hospitais, orfanatos e outros estabelecimentos

semelhantes, em programas comunitários ou estatais, ou em benefício de

entidades públicas. É aplicável às condenações superiores a 6 meses de

privação da liberdade e a carga horária é de 1 hora por dia de condenação.

Limitação de fim de semana: obrigação do condenado de permanecer aos

sábados e domingos, por 5 horas diárias, na Casa do Albergado ou outro

estabelecimento adequado, onde poderão ser ministrados ao condenado

cursos, palestras ou atribuídas atividades educativas.

Interdições temporárias de direitos: proibição de freqüentar determinados

lugares; proibição de exercício de cargo, função pública ou mandato

eletivo; proibição do exercício de profissão ou atividade; suspensão da

habilitação para dirigir veículo (esta última, extinta pelo novo Código de

Trânsito Brasileiro). Trata-se de penas restritivas específicas.

Penas restritivas de direitos pecuniárias/reais: Implicam a redução do patrimônio do

agente ou uma prestação inominada em favor da vítima ou seus herdeiros. Admitem a

conversão em pena privativa de liberdade.

Prestação pecuniária em favor da vítima: pagamento em dinheiro, à vista

ou em parcelas, à vítima, aos seus dependentes ou a entidade pública ou

privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior

a um salário mínimo, nem superior a 360 salários mínimos. O pagamento

também poderá ser feito em ouro, jóias, títulos imobiliários e imóveis.

Prestação inominada: caso o beneficiário concorde, a prestação poderá ser

de outra natureza, como por exemplo, a entrega de cestas básicas a

pessoas carentes, em entidades públicas ou privadas.

Perda de bens e valores: decretação de perda de bens móveis, imóveis ou

de valores que alcança apenas o patrimônio legal e regular do condenado.

Estes se reverterão em favor do Fundo Penitenciário Nacional ou a outras

entidades e fins.

Classificação das penas restritivas de direitos:

Genéricas

Específicas

Genéricas: Substituem as penas privativas de liberdade em qualquer crime, satisfeitos os

requisitos legais.

Prestação de serviços à comunidade

Limitação de fim de semana

Perda de bens e valores

Prestação pecuniária

Específicas: Só substituem as penas privativas de liberdade impostas pela prática de

determinados crimes.

Interdições temporárias de direitos, salvo a pena de proibição de

frequentar determinados lugares.

7. REMIÇÃO

Previsão Legal: artigos 126, 127 e 128 da LEP, modificados pela Lei

12.433/11.

A remição pode se concedida por meio de:

Trabalho

Estudo

Trabalho

É o direito que o condenado em regime fechado ou semi-aberto tem de, a cada 3 dias de

trabalho, descontar um dia de pena (artigo 126, § 3º, LEP).

Estudo

Atualmente, de acordo com a Lei 12.433/11, também é possível, a remição de pena pelo

estudo, não importando se o preso é provisório ou definitivo (artigo 126, §7º, LEP). Assim,

o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir um dia

da pena para cada 12 horas de frequência escolar. Essas 12 horas devem ser dividas, no

mínimo, em três dias. Desta forma, é preciso combinar três dias (no mínimo) com 12 horas

(para se ganhar um dia de pena).

Considerações a respeito da nova lei (Lei 12.433/11):

A nova lei ainda acrescenta mais cinco parágrafos ao artigo 126 da LEP,

especificando a matéria (que tipo de estudo será aceito, como deverão ser

compatibilizados estudo e trabalho, ampliação do benefício no caso de

conclusão de ensino e etc.) bem como inovando em algumas disposições.

Com a nova lei há, agora, a possibilidade do condenado a cumprimento de pena em regime aberto ou semi-aberto e do condenado que estiver em livramento condicional serem beneficiados pelo instituto da remição (artigo 126, §6º, LEP).

A LEP não autoriza a remição de pena para o preso em regime aberto que

trabalhe. A previsão legal de que o condenado diminua um dia da pena a

cada três trabalhados vale apenas enquanto estiver em regime fechado ou

semi-aberto.

A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o MP e a defesa

(artigo 126, §8º, LEP).

Somente será considerada para os fins de remição a jornada completa de 6

horas de trabalho diária. É imprescindível o efetivo trabalho para se

conseguir a remição, somente quando o condenado sofrer um acidente de

trabalho e ficar impossibilitado é que terá direito a remir o tempo de pena

sem trabalhar.

O preso provisório não está obrigado ao trabalho.

Nos casos em que o juiz da execução já tiver concedido a remição e não

couber mais recurso, o condenado não irá perder seu tempo remido, este

será computado para fins de livramento condicional.

Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 do tempo remido,

observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data

da infração disciplinar (artigo 127, LEP).

7. REINCIDÊNCIA

A reincidência prevista no art. 63, do CP, pressupõe a prática de novo crime, depois de

transitar em julgado a sentença que no país, ou no estrangeiro, já condenou o agente por

outro crime (reincidência presumida – que independe de cumprimento da pena da

primeira infração). Não inclui, portanto, condenação anterior por contravenção penal.

Logo, se o crime é cometido na data do trânsito em julgado da condenação anterior não

haverá reincidência, assim como se o agente praticar mais de um crime na mesma ocasião

que venham a ser julgados e decididos na mesma sentença.

Para caracterização da reincidência, a sentença estrangeira não precisa ser homologada

pelo STJ (art. 9º do CP), bastando a prova de que foi proferida judicialmente e transitou

em julgado.

Combinando a análise do art. 63 do CP com o art. 7º do Decreto-Lei 3.688/1941 (Lei das

Contravenções Penais) estabelece as seguintes conclusões sobre a configuração da

reincidência:

1- Condenação anterior transitada em julgada em crime, seguida de novo crime =

reincidência.

2- Condenação anterior transitada em julgada em contravenção penal, seguida de

nova contravenção penal = reincidência.

3- Condenação anterior transitada em julgada em crime, seguida de contravenção

penal = reincidência.

4- Condenação anterior transitada em julgada em contravenção penal, seguida de

crime = não reincidência.

Para efeitos da reincidência (Art. 64 do CP): I- “Não prevalece a condenação anterior, se

entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido

período de tempo superior a 5 anos, computado o período de prova da suspensão ou do

livramento condicional, se não ocorrer revogação”; II – Não se consideram os crimes

militares próprios (descritos apenas no COM) e políticos (motivação política ou que

lesionem a estrutura política vigente em um país).”

Natureza jurídica da reincidência = agravante genérica. (circunstância de caráter subjetivo

que não se comunica no concurso de pessoas)

A reincidência pode ser genérica ou específica.

Reincidência e extinção da punibilidade do crime anterior = Se a extinção da punibilidade

se deu antes do transito em julgado da sentença condenatória, o crime anterior não

subsiste para fins de reincidência, se ocorreu depois subsiste, salvo em dois casos: abolitio

criminis e anistia, já que nessas duas situações a própria condenação se desfaz.

Efeitos da reincidência = Circunstância agravante de pena; Impede na pena de reclusão

iniciar cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto, e na pena de detenção,

iniciar o cumprimento da pena no regime aberto; impedir substituição de pena privativa

de liberdade por restritiva de direitos; impedir recebimento de sursis, de transação penal

e de suspensão condicional do processo, salvo exceções previstas em lei (mencionar);

revogar sursis e livramento condicional; impedir o livramento condicional em caso de

reincidência específica em crimes hediondos e equiparados; revogação da reabilitação

(art. 95 do CP – Condenações que não sejam de multa); se anterior à condenação

aumenta em um terço o prazo da prescrição da pretensão executória; se posterior à

condenação interrompe o prazo da prescrição da pretensão executória, etc.

Reincidência e maus antecedentes = Ficar atento a Súmula 241 do STJ: “A reincidência

penal não pode ser considerada como circunstância agravante, e simultaneamente, como

circunstância judicial”. O STF compartilha o mesmo entendimento. No entanto, se o réu

possui mais de uma condenação definitiva, uma poderá ser utilizada como reincidência

(agravante genérica) e a outra como mau antecedente (circunstância judicial

desfavorável).

SÚMULAS IMPORTANTES DO STF:

Súmula vinculante 26; Súmula 146; Súmula 497; Súmula 525; Súmula711; Súmula 715;

Súmula 716; Súmula 717; Súmula 718; Súmula 719; Súmula 723;

SÚMULAS IMPORTANTES DO STJ:

Súmula 74; Súmula 191; Súmula 220; Súmula 231; Súmula 241; Súmula 269; Súmula 338;

Súmula 415; Súmula 439; Súmula 440; Súmula 441; Súmula 444; Súmula; Súmula 471 e

Súmula 491.

BIBLIOGRAFIA

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral- Vol. 1. São

Paulo: Saraiva, 2012.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Geral- vol. I – Parte Geral. São

Paulo: Saraiva, 2013.

CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal: para concursos. Doutrina, Jurisprudência

e Questões de Concursos. 6º ed. ver. ampl. atual. Salvador: Bahia: Jus Podivm,

2013.

MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado: Parte Geral, Vol.1. 7ª ed. ver.

atual. ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013.