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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MATERNIDADE E ÊXITO NA PROFISSÃO DE TÉCNICA EM AGROPECUÁRIA ESTUDO DE CASO DE DISCENTES EGRESSAS DO CURSO TÉCNICO DE AGROPECUÁRIA DO IFMT CÁCERES Priscilla da Silva Rodrigues 1 Marina Santos Pereira 2 RESUMO: O trabalho propõe-se a investigar o êxito profissional de discentes egressas do curso Técnico em Agropecuária do IFMT/Campus Cáceres que, ao serem mães, tiveram que conciliar sua profissão no campo com a maternidade. A instituição foco da pesquisa localiza-se em Cáceres - MT. Cidade com 237 anos e população estimada em 90 mil habitantes, tendo a pecuária como a principal atividade econômica. Com a oferta de cursos técnicos voltados as atividades agropecuárias da região, Cáceres recebe muitas jovens de municípios vizinhos, o que gera grande fluxo de estudantes na região e transformações em suas vidas, no âmbito pessoal e/ou acadêmico. O Objetivo deste trabalho é revelar os desafios enfrentados por estas mulheres. A pesquisa foi realizada com egressas que se formaram entre os anos de 2011 e 2015 que, preferencialmente, já se tornaram mães e tentam conciliar sua carreirade Técnica em Agropecuária. Uma rotina que, por si só, revela-se desafiadora por esta se constituir numa profissão predominantemente masculina, sendo difícil exercê-la concomitante aos cuidados dedicados aos filhos/filhas. Uma vez contatadas e selecionadas, realizamos entrevistas do tipo semiestruturada, com o fito de compreendermos o que as auxiliou e/ou dificultou o êxito na conciliação das egressas da carreira profissional e maternidade. Palavras-chave: Mulheres, Carreira profissional, Maternidade HISTÓRICO A pesquisa foi realizada no município de Cáceres/MT com egressas do curso Técnico em Agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) - Campus Olegário Baldo. O município de Cáceresse encontra na região extremo norte do Pantanal, possui 237 anos e uma população estimada em 90 mil habitantes, tendo a pecuária como a principal atividade econômica. Com a oferta de cursos técnicos voltados as atividades agropecuárias, anualmente recebe jovens de municípios vizinhos, o que gera grande fluxo de estudantes na região e transformações em suas vidas, no âmbito pessoal, acadêmico e profissional. A Instituição Federal foi criada através da expansão federal de ensino técnico e profissional,a partir da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. No entanto, a escola foi fundada em 17 de agosto de 1980 3 . Sendoreconhecida pela população local como Escola Agrotécnica, até os 1 Professora da disciplina de Filosofia do IFMT campus Cáceres. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Mato Grosso. 2 Professora substitutada disciplina de Sociologia do IFMTcampus Cáceres. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Grande Dourados. 3 Retirado do site da Instituição. Disponível em: http://cas.ifmt.edu.br. Acesso em:18/06/2017

MATERNIDADE E ÊXITO NA PROFISSÃO DE TÉCNICA EM ... · 4 Conforme o registro no diário escolar das turmas dos 1° anos A e B de 1980. Informação concedida pela Secretaria de

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MATERNIDADE E ÊXITO NA PROFISSÃO DE TÉCNICA EM AGROPECUÁRIA –

ESTUDO DE CASO DE DISCENTES EGRESSAS DO CURSO TÉCNICO DE

AGROPECUÁRIA DO IFMT CÁCERES

Priscilla da Silva Rodrigues1

Marina Santos Pereira2

RESUMO: O trabalho propõe-se a investigar o êxito profissional de discentes egressas do curso Técnico em

Agropecuária do IFMT/Campus Cáceres que, ao serem mães, tiveram que conciliar sua profissão no campo com a

maternidade. A instituição foco da pesquisa localiza-se em Cáceres - MT. Cidade com 237 anos e população estimada

em 90 mil habitantes, tendo a pecuária como a principal atividade econômica. Com a oferta de cursos técnicos voltados

as atividades agropecuárias da região, Cáceres recebe muitas jovens de municípios vizinhos, o que gera grande fluxo de

estudantes na região e transformações em suas vidas, no âmbito pessoal e/ou acadêmico. O Objetivo deste trabalho é

revelar os desafios enfrentados por estas mulheres. A pesquisa foi realizada com egressas que se formaram entre os anos

de 2011 e 2015 que, preferencialmente, já se tornaram mães e tentam conciliar sua carreirade Técnica em Agropecuária.

Uma rotina que, por si só, revela-se desafiadora por esta se constituir numa profissão predominantemente masculina,

sendo difícil exercê-la concomitante aos cuidados dedicados aos filhos/filhas. Uma vez contatadas e selecionadas,

realizamos entrevistas do tipo semiestruturada, com o fito de compreendermos o que as auxiliou e/ou dificultou o êxito

na conciliação das egressas da carreira profissional e maternidade.

Palavras-chave: Mulheres, Carreira profissional, Maternidade

HISTÓRICO

A pesquisa foi realizada no município de Cáceres/MT com egressas do curso Técnico em

Agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) -

Campus Olegário Baldo. O município de Cáceresse encontra na região extremo norte do Pantanal,

possui 237 anos e uma população estimada em 90 mil habitantes, tendo a pecuária como a principal

atividade econômica. Com a oferta de cursos técnicos voltados as atividades agropecuárias,

anualmente recebe jovens de municípios vizinhos, o que gera grande fluxo de estudantes na região e

transformações em suas vidas, no âmbito pessoal, acadêmico e profissional.

A Instituição Federal foi criada através da expansão federal de ensino técnico e

profissional,a partir da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. No entanto, a escola foi fundada

em 17 de agosto de 19803. Sendoreconhecida pela população local como Escola Agrotécnica, até os

1Professora da disciplina de Filosofia do IFMT campus Cáceres. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de

Mato Grosso. 2Professora substitutada disciplina de Sociologia do IFMTcampus Cáceres. Mestre em Sociologia pela Universidade

Federal da Grande Dourados. 3 Retirado do site da Instituição. Disponível em: http://cas.ifmt.edu.br. Acesso em:18/06/2017

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dias atuais.O IFMT- Campus Olegário Baldo/ Cáceres possui sistema de internato para estudantes

oriundos de outros municípios, com alojamentos femininos e masculinos. A oferta desse regime,

porém, nem sempre contemplou as meninas. Desde as primeiras turmas, o Curso Técnico em

Agropecuária recebeu alunas.Todavia,só existia a oferta de alojamento para meninos. As meninas

matriculadas nas primeiras turmas permaneceram na instituição na modalidade de discente externa;

ou seja, estudavam na escola, mas residiam em outro lugar, fora do campus.

As duas primeiras turmas do curso tiveram início em 1980. Ambas as turmas, 1° anos A e B,

possuíam 38 discentes cada; ou seja: 76 discentes no total. Dentre estes, apenas dezessete eram

meninas4. Destas, cerca dedez se formaram5.O ingresso de meninas em regime de internato na

Escola Agrotécnica6 de Cáceres se deu apenas em meados de 2005. Como não havia na época

alojamento feminino, elas eram alocadas para alguma das diversas residências7 presentes na escola.

O funcionamento do espaço destinado para alojamento feminino teve início apenas em 2011.

Hoje, em regime de internato temos 144 estudantes, sendo, 120 meninos e 24 meninas.Além

doCurso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Agropecuária, o campusoferta hoje o Curso

Técnico Integrado ao Ensino Médio em Informática,o Curso Técnico Subsequente em Agropecuária

(pós ensino médio), além dos Cursos de Graduação em Engenharia Florestal e Tecnologia em

Biocombustíveis.Há também a oferta de cursos na modalidade FIC (cursos de curta duração, que

ofertam apenas a parte técnica para diversas comunidades). O IFMT Cáceres, no entanto, é

reconhecido pelos seus cursos na área agrícola e formação de bons profissionais. Prova disso é que,

a cada ano letivo, abrem-se quatro turmas para Agropecuária no Ensino Médio Integrado e apenas

uma para Informática. Além disso, historicamente, só há Cursos Subsequentes na área de Agrárias8.

Por causa destes cursos, principalmente, o número de jovens mulheres interessadas nos cursos

Técnicos em Agropecuária tem aumentado ao longo dos anos9. Estas jovens veem na educação

técnica/profissional uma iniciação ao mercado de trabalho e posterior ingresso no ensino superior.

http://cas.ifmt.edu.br/conteudo/pagina/de-escola-agrotecnica-ao-ifmt-campus-caceres/ 4 Conforme o registro no diário escolar das turmas dos 1° anos A e B de 1980. Informação concedida pela Secretaria de

Registro Escolar do campus. 5 Fonte: entrevista realizada com um dos alunos da turma do 1° B de 1980, hoje, professor do campus. 6 Atualmente, Instituto Federal de Educação, Ciência, e Tecnologia de Mato Grosso- IFMT. 7 Essas residências são destinadas aos servidores ligados aos setores que administram o internato do campus. 8 Além de Agropecuária, já houve oferta de Curso Técnico em Floresta, em Zootecnia, dentre outros. 9 Neste ano letivo de 2017, ingressaram 54 meninas: 15 no 1° ano A, 19° no 1 ano B e 20 no 1° ano D. cada turma

possui 40 alunos, em média. Fonte: Diário de Classe do ano letivo de 2017.

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Floro (2012), pesquisou o histórico e as percepções de jovens mulheres na agricultura

familiar que ingressaram no Curso Técnico em Agropecuária, do atual IFCE10- Campus Crato.

Houve a criação do curso de Economia Doméstica que serviu para atender o público feminino no

passado, quando era uma escola agrícola. Segundo Floro:

Embora não houvesse empecilho formal para que pessoas de sexos

diferentes frequentassem um ou outro curso, havia uma barreira invisível

que provocava estranhamento para aqueles que se aventurassem a

ultrapassar os limites pré-estabelecidos para homens e mulheres. (FLORO,

2012, p.06)

Os cursos Técnicos Agropecuários distribuídos pelo Brasil, tinham o interesse de formar

uma mão de obra especializada masculina. Mesmo a não proibição de discentes mulheres em alguns

locais do país, seu ingresso e permanência era rara. O estranhamento estava em toda estrutura

institucional, o corpo docente não estava preparado para recebe-las em muitas disciplinas. De

acordo com Almeida; Cavalcante (2015), as décadas de 1950 a 1980 as mulheres ingressaram na

Educação Agrícola conforme lhe foram permitidas.

[...] para as mulheres, havia a oferta dos Cursos de Magistério de Economia

Rural Doméstica, Curso de Didática de Ensino Agrícola e o Curso de

Administração de Ensino Agrícola. Aos homens, eram oferecidos os cursos

de Agricultura, Horticultura, Zootecnia, Práticas Veterinárias, Indústrias

Agrícolas, Laticínios e Mecânica Agrícola. (ALMEIDA; CAVALCANTE,

2015, p.05).

Nos últimos 30 anos o ingresso de jovens mulheres nos cursos agrícolas tornou-se menos

“estranho”, podendo participar de todas as disciplinas com os rapazes. Entretanto, sua inserção no

mercado de trabalho ainda gera conflitos ligados ao seu sexo biológico, por não acreditarem que

sejam capazes de exercer o mesmo trabalho que os meninos, seja pela comparação a força física ou

simplesmente por não estarem acostumados a vê-las nessa área de trabalho. São constantes as

reclamações sobre piadas sexistas e as dificuldades de estágio em fazendas da região.

A maioria das ofertas de estágio são para meninos. Nas fazendas, eles

preferem contratar homens e solteiros. O CIEC11, setor de estágio do IFMT

que ajuda na inserção das meninas no estágio, por que são poucas as vagas

10 Instituto Federal de Educação, Ciência, e Tecnologia do Ceará- IFCE. 11 CIEC: Coordenação de Integração Escola.

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para nós. A maioria das meninas acaba tendo de estagiar ou no INDEA12 ou

na EMPAER13, por conta da pouca aceitação nas fazendas. Meu estágio foi

no INDEA e foi muito difícil. Fiz no período de vacinação contra a febre

aftosa. Viajava com os servidores rumo as propriedades rurais da fronteira

entre o Brasil e a Bolívia, vacinando gado e fazendo análise de pragas nos

animais. Saíamos as 7h da manhã do INDEA, tinha de acordar bem cedo

para estar lá no horário, e não tínhamos hora para voltar. Já cheguei em casa

11h da noite. Não havia banheiro, as estradas eram muito ruins. Quanto ao

tratamento dos servidores e dos peões a mim, eles procuravam evitar que eu

fizesse serviço pesado diziam coisas como “mulher não pode pegar no

pesado”, parecia que me julgava incapaz de realizar a atividade por eu ser

mulher. (VERA, 2017).

CAMINHOS DAPESQUISA

A pesquisa foi realizada com egressas do Curso Técnico em Agropecuária do Instituto

Federal de Mato Grosso- Campus Olegário Baldo, município de Cáceres. Nossa intenção era

entrevistar mulheres que já se tornaram mães e tentam conciliar sua carreira com cuidados

dedicados aos filhos/filhas.A pesquisa realizou-se com o fito de compreender o que auxiliou e

dificultou o êxito das egressas na carreira profissional, considerando preconceitos relacionados a

área de atuação, a convivência com significativo número de colegas de trabalho do sexo masculino,

casamento e maternidade.

Para o desenvolvimento da pesquisa, nos propomos a realizar entrevistas do tipo

semiestruturada via e-mail. A necessidade de entrevistas via e-mail se deu pelo fato da maioria não

residir mais no município de Cáceres, dificultando o contato com elas. Enviamos o questionário às

candidatas que, por sua vez, nos responderiam a mensagem com o questionário respondido.

Contudo, o contato com as egressas não foi muito fácil. Recebemos do CIEC (Coordenação de

Integração Escola Comunidade)14sessenta e três15 contatos de egressas. Estes contatos são de todas

12 INDEA: Instituto de Defesa Agropecuária. 13 EMPAER: Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural. 14 Aproveito a oportunidade para agradecer imensamente a contribuição da servidora Maria Lourdes Maciel

Zysko,nossa Maria Zysko, na época,Coordenadora do CIEC, que pesquisou nos registros de formandos entre 2010 e

2015 e nos forneceu, de maneira notoriamente organizada. 15O setor nos forneceu, além dos sessenta e três contatos, mais vinte e quatro contatos de egressas, graduadas no ano de

2010, mas por causa da dificuldade que tivemos em encontrar um canal de contato válido com as egressas formadas

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as discentes que concluíram o curso de agropecuária no período entre 2011 e 2015. Mas a maior

parte dos endereços de e-maileram inválidos. Além disso, o retorno das candidatas via e-mail foi

baixíssimo. Apenas duas das que enviamos e-mail responderam o questionário por este canal.

Outras duas responderam o e-mail dizendo que preferiam que nós ligássemos para elas para que

elas pudessem responder as perguntas. Por conta disso, aproveitamos o fato de o CIEC ter nos

fornecido também números de telefone e entramos em contato com as candidatas por este novo

canal. Este recurso foi mais bem-sucedido. Ligamos para as candidatas e realizamos entrevistas.

Limitamo-nos, porém, a realizar as perguntas contidas no questionário.A experiência de contatar as

candidatas por telefone foi muito rica. Na fala, percebe-se a intencionalidade além do discurso e

com isso, capta-se aí o não dito; insumo necessário para as reflexões acerca das respostas.

Houve um grupo de sete candidatasque não conseguimos contato nem por e-mail, nem por

telefone e, por isso, começamos a procurá-las pelas redes sociais. Alguns servidores mantêm grupos

da escola para fins de informes, entre outros; lá encontrei o contato destas egressas. Porém, apenas

uma respondeu ao questionário, mas sua participação foi de grande valia. São as questões do

questionário:

1) Nome completo16;

2) Data de nascimento;

3) Naturalidade;

4) Endereço17;

5) Estado civil;

6)Tem filhos/as;

7) Quantos/as e idade;

8) O que levou a escolha do curso Técnico em Agropecuária IFMT/Cáceres?

9) atualmente, trabalha na área de formação?

10) durante o curso (estágio) ou quando formada (profissional) teve alguma dificuldade em

exercer a profissão por ser mulher? Quais?

entre 2011 e 2014, optamospor dar prioridade aos contatos mais recentes. Por fim, devido ao pouco prazo para realizar a

pesquisa, não utilizamos esta lista. 16 As entrevistadas terão nome fictício em produções bibliográficas produzidas. 17 O endereço foi pedido apenas para sabermos onde reside no momento, em que cidade, se é de assentamento,

quilombo, comunidade indígena ou zona urbana.

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11) como foi/é conciliar a profissão com os cuidados com os/as filhos/as?

12) enquanto trabalha, com quem fica os/as filhos/as?

13) acredita que a maternidade a impediu de alguma forma êxito profissional?

14) sente-se satisfeita profissionalmente?

15) pretende continuar estudando? O que pensa em fazer?

Todas as vezes que conseguíamos entrevistar alguma candidata, pedíamos o contato de

outra. Entrevistamos quinzeegressas. Destas, quatro são mães. Duasdelas trabalham: uma na área de

agropecuária e a outra não. As outras duas mães estão sem trabalhar. Vamos chamar a mãe que atua

como técnica de Maria18. Ela hoje mora na cidade de Rio Branco - MT(sua cidade natal),é casada e

tem uma bebê de oito meses.

Maria relata que profissionalmente, não teve “[...] dificuldades por enquanto”. Esse “por

enquanto” torna-se mais compreensível quando se lê a resposta à pergunta 11 do questionário19.Ela

escreve que consegue conciliar bem a profissão com a maternidade porque trabalha em escritório20

e que pode levar sua filha para o trabalho, se necessário for. Diz ainda, ao responder à questão 12

que quando ela não traz sua filha para o trabalho, a criança fica com o pai.Isso nos leva a deduzir

que talvez ela não conseguisse conciliar tão bem o trabalho e a maternidade se trabalhasse, por

exemplo, no campo21 ou se não pudesse contar com a disponibilidade do pai para cuidar da filha

quando precisa.

Quanto à pergunta 8, ela respondeu que o que levou-a escolher o curso foi o seu “[...]

interesse pelo curso de Medicina Veterinária, sabendo que no curso de agropecuária encontraria

áreas afins”. Seu sonho de cursar veterinária precisou, entretanto, ser provisoriamente interrompido.

Na questão 15 ela relata que começou a cursar medicina veterinária, mas que interrompeu o curso

por conta da gravidez. Disse ainda que assim que possível, retornará a cursar a graduação. No

tocante à satisfação com a profissão, Maria responde na pergunta 14 que sente-se cinquenta por

cento satisfeita.

18 Com o fito de preservar a identidade das egressas, a todas as egressas aqui mencionadas foi atribuído um nome

fictício. 19 “Como foi/é conciliar a profissão com os cuidados com os/as filhos/as? ” 20 Eis o que ela escreveu: “Concilio bem, trabalho em escritório e posso levar minha filha comigo para o trabalho”. 21 Muitos profissionais da área chegam a demorar até uma semana na fazenda que trabalha, na maior parte das vezes,

longe da família.

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Ao comentar sua experiência de estágio, na pergunta 11, ela relata: “ durante o estágio tive

limitações, como por exemplo, não conseguir deitar um bezerro para aplicar a vacina por causa do

seu peso”.Tais limitações também surgem na fala de Vera, a técnica em agropecuária e mãe que,

atualmente, não trabalha. Entrevistamos Vera via telefone. Vera tem um filho de cinco meses.Assim

como Maria, ela relatou que teve várias dificuldades no estágio. Estas vão desde conseguir vagas,

pois a maior parte dos estágios ofertados eram para rapazes solteiros, até dificuldades em exercer

certas tarefas atribuídas aos técnicos em agropecuária no campo.

Vera relata que conseguiu realizar seu estágio via CIEC, que, devido a dificuldade de

encontrar vagas para meninas, sempre procura parcerias para as alunas no campus. Esta egressa nos

contou que ela e a maioria das suas colegas tiveram de realizar o estágio em instituições como o

INDEA / MT(Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso) ou a EMPAER / MT (Empresa

Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural de Mato Grosso). Seu estágio, relata, foi

muito difícil. Ela o realizou no INDEA/ MT, durante o período de vacinação contra Febre Aftosa.

Viajava por fazendas situadas na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, não apenas vacinando, mas

também fazendo análise de pragas nos animais. Segundo Vera, ela e os servidores saíam as 7h da

manhã do INDEA. Para chegar até o prédio do Instituto a tempo, acordava bem cedoe não tinha

hora para voltar. Já chegou em casa 11horas da noite. Esta região quase não conta com estradas

asfaltadas. O caminho é quase que inabitado: não há casas por dezenas de quilômetros. Por conta

disso, Vera relata que não havia banheiros, e queas estradas eram muito ruins.

Quanto ao tratamento dos servidores e dos peões no estágio, relata que estes procuravam

evitar que ela fizesse serviço pesado: diziam coisas como “mulher não pode pegar no

pesado”.Segundo ela, os servidores e peões aparentavam que não sentiam confiança na capacidade

dela de realizar certas atividades por ela ser mulher.

Joana, a outra mãe que trabalha, mas não atua na área de agropecuária, tem um menino de

quarenta e seis dias. Conseguimos contato com Joana via rede social. Pelo serviço de mensagem

instantânea da rede social em questão, ela respondeu ao questionário. Joana trabalha como

consultora de vendas de uma empresa de cosméticos. Reside na cidade de Cáceres mesmo, é

atualmente casada e não conseguiu cursar faculdade. Foi aprovada no processo seletivo para

medicina veterinária, mas não conseguiu cursar. Quanto a expectativa de retomar o projeto de

cursar graduação em veterinária, Joana disse que já não possui esse objetivo, por ser um curso que

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tem oferta apenas em outros municípios (o que a forçaria deixar a família para ingressar nessa

graduação).

Joana escreve que não teve dificuldadesno estágio. Ela escreveu que realizou dois estágios e

que em ambos teve tratamento igual em relação aos profissionais do sexo masculino, mesmo sendo

eles a maioria (peões, veterinários, etc.). Quanto a questão de conseguir conciliar a maternidade

com o trabalho, Joana diz que ainda não passou por isso.

[...] por ainda ter um bebê recém-nascido e ainda estar no período de licença

maternidade, conciliar o trabalho com cuidados com meu filho ainda será

uma experiência que passarei daqui a alguns meses. (JOANA, 2017)

No processo de entrevista das egressas, realizamos o primeiro contato sem saber se

atualmente as candidatas eram mães ou não. Seja por e-mail ou por telefone, procuramos aplicar o

questionário com as que também não eram mães, ignorando as perguntas direcionadas para estas. O

que foi muito positivo, pois muitas meninas seguiram carreira na área de agrárias (algumas estão

cursando faculdade de agronomia, outras de medicina veterinária, outra ainda de zootecnia). A

contribuição delas foi tão interessante que resolvemos relatar aqui, apesar de não ter sido o objeto

inicial de análise.

Dividimos, desse modo, as egressas em três grupos: as solteiras, as casadas sem filhos e/ou

filhas e as casadas e mães (de que tratamos até agora). Os dois grupos de mulheres que não

possuem filhos são formados por 12 técnicas.Dos 3 grupos entrevistados, oito mulheres tiveram

como escolha do curso o interesse pela área de agrárias e o desejo futuro de cursar uma faculdade

na mesma área. Duas egressas responderam que não tinham outras opções, mas que depois

passaram a gostar do curso. E duas cursaram pelo interesse na qualidade do ensino médio, que lhes

proporcionaram um ensino bom e diferenciado.

Questionadas sobre atuação profissional depois de formada, as jovens casadas têm como

principal dificuldade ter que se ausentar de casa para residir a maior parte do mês nas fazendas e

“deixar” o esposo sozinho; O que poderia gerar conflitos e problemas na relação conjugal.Vejamos

o que relata Priscila, casada e sem filhos, ao responder à questão 10:

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Sim, principalmente por ser casada. O trabalho na fazenda exige que nos

ausentemos da nossa casa por até uma semana inteira, dependendo do

trabalho. Além disso, quase não há vagas para mulheres. (PRISCILA, 2017).

É perceptível que mesmo diante de tantas mudanças e conquistas, a mulher permanece como

a mantenedora afetiva do lar, ou seja, como a peça fundamental que sustenta o relacionamento

conjugal. Aquela que se mantém compreensiva e retarda seus desejos e sonhos profissionais “em

nome da” harmonia doméstica.

Ao analisarmos o caso das jovens casadas e mães22, a principal dificuldade que podemos

deduzir a partir das entrevistas está relacionada aos cuidados das crianças:Maria, como vimos,

trabalha em um escritório, quando o esposo não pode ficar com a filha de 8 meses, ela tem

autorização para leva-la ao trabalho. Ela é a entrevistada que menos apresentou dificuldades em

conciliar a dupla jornada como mãe e profissional. Ajovem mãe Dolores (não citada anteriormente),

relatou que não consegue voltar a trabalhar, pois não tem com quem deixar o filho de 1 ano e 2

meses. O município que reside não tem creche e ela não tem familiares que possa auxiliá-la no

local. Vera, a egressa que é mãe e também não está trabalhando atualmente,cursou Enfermagem e

faz uma especialização na área da saúde após concluir o Curso Técnico em Agropecuária. Após a

conclusão da faculdade escolheu fazer especialização como paliativo ao seu planode fazer um

mestrado na área da Educação, interrompido após o nascimento do filho de 5 meses. A cidade em

que reside também não possui creche para menores de 2 anos, e ninguém que possa auxiliá-la nos

cuidados com o bebê:

Tenho o sonho também de ainda cursar medicina veterinária, mas sei que é

impossível hoje por conta da idade do meu bebê e de não poder contar com

a ajuda de alguém para eu estudar. (VERA, 2017).

Essas jovens buscam conquistar o espaço público, mas continuam responsáveis pelo espaço

privado (casa e filhos/as). A rotina transformou-se em um crescente acúmulo de tarefas, resultado

da permanência da divisão sexual do trabalho que não se transformou em meio a tantas mudanças.

Tornando-se real a frase popular: “O filho é sempre da mãe”. O cuidado dos/as filhos/as permanece

de responsabilidade das mulheres, numa sanção social difícil de ser alterada, através de relações

sociais difícil de ser transformadas. A manutenção dessa família é de exclusiva responsabilidade

22 Entre as entrevistadas não tem mães solteiras. Apenas casadas.

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feminina, que está aprendendo a “nadar contra essa maré” e a reverter uma imposição e a

culpabilidade pelo insucesso matrimonial. A mulher vem, desse modo, lançando estratégias de

reinvenção diante dos dilemas cotidianos impostos pela maternidade.

Para as jovens solteiras, além da dificuldade de se manterem financeiramente fora de suas

cidades de origem, a vigilância e os cuidados estão relacionados ao corpo da jovem mulher

estagiária ou recém-formada. Durante o curso existe uma dificuldade de estágio para as mulheres,

pouquíssimas fazendas as aceitam. E as justificativas são as mesmas:“o trabalho é pesado

fisicamente”;“são muitos homens”;“mulheres trabalhadoras e jovens podem provocar ciúmes nas

esposas dos demais trabalhadores”. Além disso,quase todas as fazendas não têm alojamento

feminino.

Tive dificuldade de encontrar vaga para estagiar. Consegui, depois de muito

procurar, estagiar numa fazenda em Sapezal. Porém, só consegui fazer o

estágio por que minha mãe pagou estadias em um hotel, pois não me

aceitaram na fazenda para dormir por que não havia alojamento feminino,

só masculino. Fiquei duas semanas pousando na cidade a noite e retornando

à fazenda de dia.

(ROSA, 2017).

Nota-se que no caso das jovens solteiras, as dificuldades vão além da execução do trabalho

enquanto técnicas. Sua presença pode trazer conflitos para o ambiente, prevalecendo a ideia de um

corpo sexualmente desejado, não de uma pessoa colega de trabalho. Um corpo que se expõe ao

perigo (assédios, abusos, etc.) quando insiste em permanecer, expõem-se a perigos, uma vez que se

coloca diante de outros corpos que “não se controlam” ou de um corpo que representa o perigo

(ciúmes, envolvimentos afetivo/sexual).

As jovens entrevistadas passam por situações especificas da escolha de um curso com

tradição de inserção masculina, mas que ao mesmo tempo são tão comuns a outros dilemas

enfrentados pelas mulheres, simplesmente por serem mulheres. Sendo necessária areflexão e a

permanência da discussão de gênero na sociedade brasileira, em especial, nas escolas de ensino

básico e tecnológico. Tal promoção de discussões acerca da questão de gênero contribui para a

garantia de direitos e oportunidades efetivamente igualitárias a mulheres e homens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Ao transcorrer sobre gênero, utilizamos autoras e autores que o conceituam enquanto uma

construção social e que segundo Bourdieu (1999) são construções sociais explicadas pelas

diferenças anatômicas dos corpos de homens e mulheres, ou seja, as diferenças dos órgãos sexuais;

estes definem os sexos e suas respectivas condutas sociais. Nesse sentido, segundo Joan Scott:

[...] O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções

sociais”: a criação inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios

aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir as origens

exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das

mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta

sobre um corpo sexuado. (SCOTT, 1990, p.07)

No início, de acordo com Scott (1990), o termo gênero passou a ser usado como sinônimo

de mulher, erudição e seriedade. Muitos trabalhos sobre mulheres foram considerados de gênero

devido à ideia de objetividade e neutralidade do termo. Todavia, falar de gênero não é apenas falar

de mulher. É pensar em mulheres e homens, no plural. Discorrer sobre gênero transcorre por

diversas relações sociais estabelecidas, envolve a reflexão sobre família, casamento, educação,

sexualidade, diversidade, política e economia. Exprime sobre o que mantém a imagem de

inferioridade das mulheres na sociedade e porque elas ainda são vistas como seres “incapazes” e

“dependentes”. Possibilita pensar como alguns padrões sociais sexistas mudaram e outros se

mantiveram.

As diferenças baseadas no gênero acabam por produzir efeitos nos corpos, no

comportamento e nas relações sociais, determinando desde a infância o que é ser homem e o que é

ser mulher e seus espaços na sociedade, e influenciando no sucesso ou insucesso na carreira

profissional, a dependerdo que mercado de empregos reserva para a escolha profissional feita pelo

indivíduo. Desconstruir tais dicotomias ou “[...] mudar velhos condicionamentos históricos que se

cristalizaram na infância não é nada fácil. Além do que, ameaça velhas relações de poder”.

(WHITACKER, 1990, p.12).

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A reflexão sobre as relações de gênero se faz necessária, primordial e se complementa com

as discussões relacionada a atuação do patriarcado na vida das mulheres. O patriarcado se

institucionaliza socialmente num domínio dos homens sobre as mulheres.

[...] o direito patriarcal perpassa não apenas a sociedade civil, mas impregna

também o Estado. [...] A diferença sexual é convertida em diferença

política, passando a se exprimir ou em liberdade ou em sujeição. Sendo o

patriarcado uma forma de expressão do poder político. (SAFFIOTI, 2004, p.

54-55)

Saffioti expande o conceito de patriarcado em uma relação civil: um modelo que concede

direitos sexuais aos homens sobre as mulheres e corporifica-se, ou seja, se solidifica socialmente.

Para a autora funciona como uma espécie de máquina, acionada tanto por homens quanto por

mulheres que: “[...] representa uma estrutura de poder baseada tanto na ideologia quanto na

violência. ” (SAFFIOTI, 2004, p. 57-58).

O conceito de patriarcado sintetiza de forma genérica, as relações entre homens e mulheres e

os princípios da dominação e suas diversas faces e permanente transformação (SAFFIOTI, 2004,

p.45). Essa permanente transformação traz a ilusão propagada de uma equidade entre homens e

mulheres, entretanto:

[...] o patriarcado que quer fazer da dominação masculina um fato “natural”

e biológico. E o patriarcado é de tal modo hoje uma realidade bem-sucedida

que muitos não conseguem pensar na organização da vida humana de

maneira diferente da patriarcal, em que o macho domina de direito e de fato.

(MURARO, 2000, p.61)

A naturalização do patriarcado se insere na sociedade a partir da ideia de que as mulheres

“conquistaram o mundo”, une essa conquista a sua inserção ao mercado de trabalho e oculta

relações sociais pautadas na diferenciação dos sexos, que comprova que essa equidade não é real,

como as experiências vividas pelas jovens técnicas agropecuárias.

O intuito é discutir sobre um conceito/sistema que inferioriza mulheres, mas também as

transforma em reprodutoras de preconceitos fundamentados na diferenciação biológica, mantidas

por construções sociais ideológicas que violentam mulheres e homens em sua formação enquanto

pessoa.

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Percebemos que as dificuldades enfrentadas pelas jovens técnicas em agropecuária, vão

além do concilio entre maternidade e profissão. As jovens solteiras e as que não possuem

filhos/filhas também relataram experiências profissionais desagradáveis apenas pelo fato de serem

mulheres.

Contudo, torna-se necessário repetir, relembrar, re/criar estratégias de conscientização, além

de espaços de discussões de gênero e profissão entre os jovens homens e mulheres das escolas

técnicas brasileiras, em especial, as que ofertam cursos com histórico de maioria discentes do sexo

masculino. Fortalecendo e empoderando jovens mulheres em suas escolhas profissionais, sem

limitações sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, José Wagner de. CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. 14º Congresso de História da

Educação no Ceará- História de Mulheres: amor, educação e violência. Crato/ Ceará, 2015.

BOURDIEU, Pierre. Dominação masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999.

FLORO, Elisângela Ferreira. O trabalho feminino na agricultura familiar do cariri cearense:

representações imagéticas das alunas do curso técnico em agropecuária sobre trabalho agrícola da

mulher sertaneja. Revista Vozes dos Vales. UFVJM, nº 2, ano I, 2012.

MURARO, Rosie Marie. A mulher no terceiro milênio: uma história da mulher através dos

tempos e suas perspectivas para o futuro. Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos, 2000.

SAFFIOTI, Heleieth. Rearticulando Gênero e Classe. In: COSTA, Albertina e BRUSCHINI,

Cristina (org.). Uma questão de Gênero. São Paulo: Rosa dos Tempos e Fundação Carlos Chagas,

1992.

SAFFIOTI, Helleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Perseu Abramo, 2004. Coleção

Brasil Urgente.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação e realidade.

Porto Alegre, 16 (2): 5-22, Jul/Dez; 1990.

WHITACKER, Dulce. Mulher e homem: o mito da desigualdade. São Paulo: Editora Moderna,

1990.

Maternity and success in the technical profession: case study of students who graduated from

the IFMT / Campus Cáceres Agricultural Technical Course - Prof. Olegário Baldo

Abstract: The work proposes to present, through research, the professional success of students who

graduated from the Agricultural Technical Course of the IFMT / Campus Cáceres who, as mothers,

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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had to reconcile their profession in the field with motherhood. The research institution is located in

Cáceres - MT. A city with 237 years and population estimated at 90 thousand inhabitants, with

livestock farming as the main economic activity. With the offer of technical courses focused on the

agricultural activities of the region, Cáceres receives many young people from neighboring

municipalities, which generates a large flow of students in the region and changes in their lives,

both personal and / or academic. The objective of this paper is to reveal the challenges faced by

these women. The research will be carried out with graduates of the 3rd grade class B of the year

2010 who have already become mothers and try to reconcile their career, which in itself already

proves challenging (for being a predominantly male profession), with care Dedicated to their sons

and daughters. Once contacted and selected, we will conduct interviews of the semi-structured type,

in order to understand what helped them, made it difficult to successfully reconcile the career and

maternity leave.

Keywords: Women - Professional career - Maternity