8
Prof. José Amaral MAT M9 - 1 19-11-2007 3. Diferenciação complexa. 3.1. Derivadas complexas. Funções analíticas. Sendo ) (z f uma função complexa de variável complexa definida numa região C D , define-se a derivada de ) (z f num ponto interior z dessa região como z z f z z f z f z + = ) ( ) ( lim ) ( 0 Caso o limite exista, e seja finito, a função diz-se diferenciável no ponto z . Se ) (z f é diferenciável num ponto z então é contínua nesse ponto. Sendo ) (z f uma função complexa de variável complexa, se ) (z f existe em todos os pontos z de uma região C D então ) (z f diz-se uma função analítica (ou holomorfa, ou regular) em D . Diz-se que ) (z f é analítica num ponto 0 z se existir um 0 > δ tal que ) (z f exista δ < 0 : z z z , ou seja, para além de diferenciável em 0 z , ) (z f é também diferenciável em algum disco aberto, no plano complexo, centrado em 0 z . Se ) (z f for analítica em C então diz-se uma função inteira. Exemplos 1. Sendo 2 ) ( z z f = , com C z , então z z z z z z f z z f z f z z + = + = 2 2 0 0 ) ( lim ) ( ) ( lim ) ( TÓPICOS Diferenciação complexa. Derivadas complexas. Funções analíticas. Equações de Cauchy-Riemann. Funções harmónicas. Regra de L’Hospital. Módulo 9 • Note bem, a leitura destes apontamentos não dispensa de modo algum a leitura atenta da bibliografia principal da cadeira • Chama-se à atenção para a importância do trabalho pessoal a realizar pelo aluno resolvendo os problemas apresentados na bibliografia, sem consulta prévia das soluções propostas, análise comparativa entre as suas resposta e a respostas propostas, e posterior exposição junto do docente de todas as dúvidas associadas.

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3. Diferenciação complexa.

3.1. Derivadas complexas. Funções analíticas.

Sendo )(zf uma função complexa de variável complexa definida numa região C⊂D , define-se a

derivada de )(zf num ponto interior z dessa região como

z

zfzzfzf

z ∆

−∆+=′

→∆

)()(lim)(

0

Caso o limite exista, e seja finito, a função diz-se diferenciável no ponto z . Se )(zf é diferenciável num ponto z então é contínua nesse ponto.

Sendo )(zf uma função complexa de variável complexa, se )(zf′ existe em todos os pontos z de

uma região C⊂D então )(zf diz-se uma função analítica (ou holomorfa, ou regular) em D .

Diz-se que )(zf é analítica num ponto 0z se existir um 0>δ tal que )(zf′ exista

δ<−∀0

: zzz , ou seja, para além de diferenciável em 0z , )(zf é também diferenciável em algum

disco aberto, no plano complexo, centrado em 0z .

Se )(zf for analítica em C então diz-se uma função inteira.

Exemplos

1. Sendo 2)( zzf = , com C∈z , então

z

zzz

z

zfzzfzf

z

z

−∆+=

−∆+=′

→∆

→∆

22

0

0

)(lim

)()(lim)(

T Ó P I C O S

Diferenciação complexa.

Derivadas complexas.

Funções analíticas.

Equações de Cauchy-Riemann.

Funções harmónicas.

Regra de L’Hospital.

Módulo 9• Note bem, a leitura destes apontamentos não dispensa de modo algum a leitura atenta da bibliografia principal da cadeira • Chama-se à atenção para a importância do trabalho pessoal a realizar pelo aluno resolvendo os problemas apresentados na bibliografia, sem consulta prévia das soluções propostas, análise comparativa entre as suas resposta e a respostas propostas, e posterior exposição junto do docente de todas as dúvidas associadas.

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z

zz

z

zzzzzzf

z

z

2

)2(lim

2lim)(

0

222

0

=

+∆=

−∆+∆+=′

→∆

→∆

A derivada existe C⊂∀z pelo que 2)( zzf = é uma função analítica em C , ou seja, é uma função inteira.

2. Sendo ∗= zzf )( , com C∈z , então

yjx

yjx

yjx

jyxyjxjyx

yjx

jyxyjxjyx

z

zzz

z

zfzzfzf

y

x

y

x

y

x

z

z

∆+∆

∆−∆=

∆+∆

+−∆−∆+−=

∆+∆

+−∆+∆++==

−∆+=

−∆+=′

→∆

→∆

→∆

→∆

∗∗

→∆

→∆

∗∗

→∆

→∆

0

0

0

0

0

0

0

0

lim

lim

)()(lim

)(lim

)()(lim)(

Fazendo, por exemplo, ymx ∆=∆ , temos

jm

jm

yjym

yjymzf

y

ymx

+

−=

∆+∆

∆−∆=′

→∆

∆=∆

0

lim)(

O limite depende da direcção segundo a qual é calculado, e portanto não existe. A função ∗

= zzf )( não é diferenciável em nenhum ponto do plano z , ou seja, ∗

= zzf )( é uma função não analítica em C .

3. Sendo 1

1)(

+=

z

zzf , com C∈z , então

2

0

22

0

00

)1(

2

)1)(1(

2lim

)1)(1(

11lim

1

1

1

1

lim)()(

lim)(

−=

−−∆+

−=

∆−−∆+

+∆−−+∆−−−∆−−+∆+=

+−

−∆+

+∆+

=∆

−∆+=′

→∆

→∆

→∆→∆

z

zzz

zzzz

zzzzzzzzzzzz

z

z

z

zz

zz

z

zfzzfzf

z

z

zz

A função 1

1)(

+=

z

zzf é analítica em C \{ }1 .

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3.2. Equações de Cauchy-Riemann. Regras de derivação.

Seja ),(,()( yxjvyxuzf += uma função complexa de variável complexa. É condição necessária para que f seja analítica numa região C⊂D que, em D , se verifiquem as equações de Cauchy

Riemann

x

v

y

u

y

v

x

u

∂−=

∂∧

∂=

, ou seja,

y

f

x

fj

∂=

, ou ainda, na forma polar,

θ∂

ρ−=

ρ∂

∂∧

θ∂

ρ=

ρ∂

∂ uvvu 11

ou seja,

θ∂

ρ=

ρ∂

∂ ffj

1

Se as derivadas parciais de f forem contínuas em D , então as condições de Cauchy-Riemann são também condições suficientes para que f seja analítica em D .

Resulta das equações de Cauchy-Riemann que, caso exista, a derivada de uma função complexa de variável complexa, ),(,()( yxjvyxuzf += , pode se calculada a partir da suas partes real e imaginária de diversas formas

x

vj

y

v

y

uj

y

v

y

uj

x

u

x

vj

x

u

dz

dfzf

∂+

∂=

∂−

∂=

∂−

∂=

∂+

∂==′ )(

Para as funções analíticas, são válidas as regras de derivação tal como vistas em Análise Matemática 1 e 2 (soma, produto, composição etc.), sendo as derivadas das funções elementares totalmente idênticas às conhecidas para as funções em R .

Exemplos

4. As derivadas das funções elementares conhecidas em R são válidas em C . Assim,

por exemplo, sendo )sen()( 2zzf = , temos

)cos(2

)cos()())(sen()(

2

222

zz

zzzzf

=

′=′=′

A função )sen()( 2zzf = é analítica em C (é inteira). Ou, sendo

z

izf

)ln()( = , temos

222 22

)1ln()ln(

)ln()(

zj

z

j

z

i

z

izf

π−=

π+

−=−=

=′

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A função z

izf

)ln()( = é analítica em C \{ }0 .

5. Para que a função jvyyyxezfx

+−=− ))cos()sen(()( seja analítica, dado que,

sendo

)cos()sen()sen(

))cos()sen((

yyeyxeye

yyyxexx

u

xxx

x

−−−

+−=

−∂

∂=

)sen()cos()cos(

))cos()sen((

yyeyxeye

yyyxexy

u

xxx

x

−−−

−−−=

−∂

∂=

e, implicando as equações de Cauchy-Riemann que

x

v

y

u

y

v

x

u

∂−=

∂∧

∂=

resulta

)cos()sen()sen( yyeyxeyex

u

y

vxxx −−−

+−=∂

∂=

)sen()cos()cos( yyeyxeyey

u

x

vxxx −−−

−−=∂

∂−=

Integrando yv ∂∂ , temos

)()sen()cos(

)())sen()(cos()cos()cos(

))cos()sen()sen((

xFyyeyxe

xFyyyeyxeye

dyyyeyxeyev

xx

xxx

xxx

++=

++++−=

+−=

−−

−−−

−−−

Derivando e substituindo em xv ∂∂ , temos

)sen()cos()cos(

)()sen()cos()cos(

yyeyxeye

xFyyeyxeye

xxx

xxx

−−−

−−−

−−=

′+−−

, pelo que 0)( =′ xF , e portanto cxF =)( . Resulta então

cyyeyxevxx

++=−− )sen()cos(

6. Sendo

−+=

y

xjyxzf atan)ln(

2

1)( 22 , podemos usar as equações de Cauchy-

Riemann para mostrar que f é diferenciável. Sendo

−=

+=

y

xyxv

yxyxu

atan),(

)ln(2

1),( 22

, temos

222222

22 2

2

1)(

2

1

yx

x

yx

x

yx

xyx

x

u

+=

+=

+

∂+∂=

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Figura M10.1

222222

22 2

2

1)(

2

1

yx

y

yx

y

yx

yyx

y

u

+=

+=

+

∂+∂=

22

2

22

2

2

1

1

)(

yx

y

y

yx

y

y

x

xyx

x

v

+−=

+−=

+

∂∂−=

22

2

22

2

2

2

1

)(

yx

x

y

yx

y

x

y

x

yyx

y

v

+=

+

−=

+

∂∂−=

Verificando portanto as equações de Cauchy-Riemann

x

v

y

u

y

v

x

u

∂−=

∂∧

∂=

a função é diferenciável.

Podemos calcular )(zf′ por qualquer das expressões

x

vj

y

v

y

uj

y

v

y

uj

x

u

x

vj

x

u

dz

dfzf

∂+

∂=

∂−

∂=

∂−

∂=

∂+

∂==′ )(

, sendo

22

2222)(

yx

jyx

yx

yj

yx

xzf

+

−=

+

+

=′

É de notar que

)ln(

)ln(

atanlnatan)ln(2

1)( 2222

z

j

x

yjyx

y

xjyxzf

=

θ+ρ=

++=

−+=

, pelo que

( )z

zzf1

)ln()( =′

=′

, de onde concluímos de imediato que )(zf é diferenciável em

C \{ }0 (na verdade, tendo em atenção a descontinuidade da função { }zArg , e

tomando-se usualmente para o ramo principal [ ]ππ−∈θ , , a função é descontínua

sobre todo o eixo 0≤x . A figura M9.1 mostra o { }),( yxzArg com [ ]1,1, −∈yx ).

Note que

22))((

11

yx

jyx

jyxjyx

jyx

jyxz +

−=

−+

−=

+

=

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3.3. Funções harmónicas.

Uma função ),( yxu , real de variável real, definida numa região 2R⊂D diz-se uma função

harmónica em D se, nessa região, satisfizer a equação de Laplace

02

=∇ U

, sendo operador diferencial 2∇ , dito Lapaciano, dado em coordenadas cartesianas por

2

2

2

22

yx ∂

∂+

∂≡∇

Resulta das equações de Cauchy-Riemman que, sendo ),(),(),()( yxjvyxuvufzf +== uma função

analítica numa região C⊂D , então ),( yxu e ),( yxv são função harmónicas na correspondente

região 2R⊂D

002

2

2

2

2

2

2

2

=∂

∂+

∂∧=

∂+

y

v

x

v

y

u

x

u

Podemos ainda demonstrar que, dada qualquer função harmónica ),( yxu numa região 2R⊂D ,

existe uma função ),( yxv , única a menos de uma constante, dita função harmónica conjugada

de ),( yxu , tal que a função complexa de variável complexa ),(),(),( yxjvyxuvuf += é analítica

na correspondente região C⊂D .

Exemplos

7. Podemos verificar que a função RR →2:),( yxu

2223 62),( yxyxxyxu −++−=

é uma função harmónica (em 2R )

0

)212()212(

)212()626(

)62()62(

22

2223

2

22223

2

2

2

2

2

2

=

−++−=

−∂

∂+++−

∂=

−++−∂

∂+−++−

∂=

∂+

xx

yxyy

yxxx

yxyxxy

yxyxxxy

u

x

u

Com base nas equações de Cauchy-Riemman

x

v

y

u

y

v

x

u

∂−=

∂∧

∂=

podemos determinar a sua função harmónica conjugada. Sendo

yxyy

u

x

v

yxxx

u

y

v

212

62622

+−=∂

∂−=

++−=∂

∂=

, resulta

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)(226

)626(

32

22

xgyxyyx

dyyxx

dyy

vv

+++−=

++−=

∂=

e

)(26

)212(

2 yhxyyx

dxyxy

dxx

vv

++−=

+−=

∂=

, pelo que

cyxyyxyxv +++−=32 226),(

As função, complexas de variável complexa,

)226()62(

),(),(),(

322223cyxyyxjyxyxx

yxjvyxuyxf

+++−+−++−=

+=

são analíticas em C , ou seja, são inteiras.

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3.4. Regra de L’Hospital.

Sendo )(zf e )(zg funções analíticas numa região contendo um ponto 0z , e admitindo que

0)()(00

== zgzf , mas 0)(0

≠′ zg então

)(

)(

)(

)(lim

0

0

0 zg

zf

zg

zf

zz ′

′=

Tal como no caso das funções reais de variável real, modificação apropriadas das expressões das funções permitem tratar as situações ∞∞ , ∞⋅0 , etc.

Exemplos

8. Atendendo à regra de L’Hospital

3

5

lim3

5

6

10lim

0

0

)(1

)(1

1

1lim

4

5

9

32

52

6

10

=

=

=

=

+

+=

+

+

z

z

z

z

z

z

z

iz

iz

jz

9. Podemos recorrer à regra de L’Hospital e a limites de referência, tal como foi feito em R

2

1

2

)cos(lim

0

0

2

)sen(lim

0

0)cos(1lim

)sen(lim

)cos(1lim

)sen(

)cos(1

lim

0

0

)sen(

)cos(1lim

0

0

20

2

2

0

20

2

2

2

0

20

=

=

==

=−

=

=

=

=−

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z

z