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1 MATRIMÔNIO I. PROPRIEDADES DO MATRIMÔMIO Can. 1056: As propriedades essenciais são a unidade e a indissolubilidade que, no matrimônio cristão recebem especial firmeza em virtude do sacramento. OBS: o matrimônio é uma aliança, um contrato entre um homem e uma mulher que têm condições de fazê-lo. Can. 1057, 1: O matrimônio é produzido pelo consentimento legitimamente manifestado entre pessoas juridicamente hábeis; esse contrato não pode ser suprido por nenhum poder humano = este can. Contém tudo aquilo que é necessário ara que o matrimônio exista de acordo com as normas da Igreja. Afirma: 1) É produzido pelo consentimento : a) deve existir das duas partes o consentimento livre; b) deve isento de vícios e ser realizado unicamente pelos contraentes; c) são os contraentes que produzem o sacramento com seu consentimento; d) o sacerdote estará presente como testemunha qualificada que pede e recebe o consentimento em nome da Igreja. 2) Legitimamente manifestado : a) o consentimento deve ser dado de acordo com a lei; b) de acordo com o rito determinado pela Igreja; c) a manifestação das partes deve ser mútua, feita e recebida pelo assistente e diante de pelo menos duas testemunhas. 3) Entre pessoas juridicamente hábeis : a) que sejam capazes, de acordo com a lei, de realizarem esta manifestação; b) não seriam hábeis se não tivessem consciência do que fazem ou não tivessem a idade exigida pela lei. 4) Este contrato não pode ser suprido por nenhum poder humano : a) o consentimento somente pode ser dado pelos contraentes, não pelos pais nem pelos padrinhos. Can. 1057,2: o consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir o matrimônio = portanto, quem contrai o matrimônio deve saber que : 1) a) é necessária plena consciência do que faz; b) deve ser um ato livre e responsável; c) deve ser capaz de assumir os compromissos derivantes da vida matrimonial. 2) a) o contrato (a aliança) com o outro cônjuge é para sempre; b) uma vez feito não poderá mais ser desfeito. 3) a) o contrato matrimonial é feito entre um homem e uma mulher; b) os dois contraentes são o objeto do contrato: se entregam e se recebem mutuamente OBS: Can. 1059: o matrimônio dos católicos, mesmo que só uma das partes seja católica, se rege não só pelo direito divino, mas também pelo direito canônico. Can. 1060: depois de celebrado, matrimônio goza do favor do direito, portanto, em caso de dúvida, deve-se estar pela validade do matrimônio. Isto vale enquanto não se provar o contrário. Can. 1061: o matrimônio celebrado validamente e consumado (ratificado e consumado) = ato pelo qual os contraentes realizam entre si, de modo humano, o ato conjugal apto por si para a geração de prole não pode ser anulado. Mas nem sempre isto acontece. Desta forma, podem as partes ou uma delas pedir a declaração de nulidade perante um tribunal eclesiástico. II. OS IMPEDIMENTOS Obs: o casamento celebrado entre batizados pode ser nulo: 1) por impedimentos : em virtude de leis que impedem sua celebração. 2) por um vício do consentimento : dos dois ou de um dos contraentes. 3) por defeito de forma : quando não feito de acordo com a lei da Igreja.

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MATRIMÔNIO I. PROPRIEDADES DO MATRIMÔMIO Can. 1056: As propriedades essenciais são a unidade e a indissolubilidade que, no matrimônio cristão recebem especial firmeza em virtude do sacramento. OBS: o matrimônio é uma aliança, um contrato entre um homem e uma mulher que têm condições de fazê-lo. Can. 1057, 1: O matrimônio é produzido pelo consentimento legitimamente manifestado entre pessoas juridicamente hábeis; esse contrato não pode ser suprido por nenhum poder humano = este can. Contém tudo aquilo que é necessário ara que o matrimônio exista de acordo com as normas da Igreja. Afirma:

1) É produzido pelo consentimento: a) deve existir das duas partes o consentimento livre; b) deve isento de vícios e ser realizado unicamente pelos contraentes; c) são os contraentes que produzem o sacramento com seu consentimento; d) o sacerdote estará presente como testemunha qualificada que pede e recebe o consentimento em nome da Igreja.

2) Legitimamente manifestado: a) o consentimento deve ser dado de acordo com a lei; b) de acordo com o rito determinado pela Igreja; c) a manifestação das partes deve ser mútua, feita e recebida pelo assistente e diante de pelo menos duas testemunhas.

3) Entre pessoas juridicamente hábeis: a) que sejam capazes, de acordo com a lei, de realizarem esta manifestação; b) não seriam hábeis se não tivessem consciência do que fazem ou não tivessem a idade exigida pela lei.

4) Este contrato não pode ser suprido por nenhum poder humano: a) o consentimento somente pode ser dado pelos contraentes, não pelos pais nem pelos padrinhos.

Can. 1057,2: o consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir o matrimônio = portanto, quem contrai o matrimônio deve saber que:

1) a) é necessária plena consciência do que faz; b) deve ser um ato livre e responsável; c) deve ser capaz de assumir os compromissos derivantes da vida matrimonial.

2) a) o contrato (a aliança) com o outro cônjuge é para sempre; b) uma vez feito não poderá mais ser desfeito.

3) a) o contrato matrimonial é feito entre um homem e uma mulher; b) os dois contraentes são o objeto do contrato: se entregam e se recebem mutuamente

OBS: Can. 1059: o matrimônio dos católicos, mesmo que só uma das partes seja católica, se rege não só pelo direito divino, mas também pelo direito canônico. Can. 1060: depois de celebrado, matrimônio goza do favor do direito, portanto, em caso de dúvida, deve-se estar pela validade do matrimônio. Isto vale enquanto não se provar o contrário. Can. 1061: o matrimônio celebrado validamente e consumado (ratificado e consumado) = ato pelo qual os contraentes realizam entre si, de modo humano, o ato conjugal apto por si para a geração de prole não pode ser anulado. Mas nem sempre isto acontece. Desta forma, podem as partes ou uma delas pedir a declaração de nulidade perante um tribunal eclesiástico. II. OS IMPEDIMENTOS Obs: o casamento celebrado entre batizados pode ser nulo: 1) por impedimentos: em virtude de leis que impedem sua celebração. 2) por um vício do consentimento: dos dois ou de um dos contraentes. 3) por defeito de forma: quando não feito de acordo com a lei da Igreja.

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Obs: Quando os impedimentos não são de direito Divino positivo ou de direito natural, a Igreja pode dispensá-los. Podem dispensar dos impedimentos: a) o Ordinário do lugar; b) a Santa Sé. Ordinário do lugar: a) o Bispo diocesano; b) o Vigário Geral = ambos podem dispensar, a menos que, em um caso particular, a dispensa seja reservada ao Bispo Diocesano. Os impedimentos matrimoniais são:

1) De idade (can. 1083). 2) De impotência (can. 1084). 3) De vínculo (can. 1085). 4) De disparidade de culto (can. 1086). 5) De ordem sacra (can. 1087). 6) De voto (can. 1088). 7) De rapto (can. 1089). 8) De crime (can. 1090). 9) De consangüinidade (can. 1091). 10) De afinidade (can. 1092). 11) De pública honestidade (can. 1093). 12) De parentesco legal (can. 1094).

1) Impedimento de idade: a) para que o casamento seja válido se exigem 16 anos completos por parte do homem e 14 anos completos por parte da mulher; b) o direito presume que, com esta idade, as partes tenham condições, pelo menos biológica, para contrair o matrimônio; c) as Conferências dos Bispos podem elevar a idade para o casamento nas regiões onde atuam; d) os Bispos têm faculdade de dispensar alguém para que se case antes de completar 16 ou 14 anos de idade. 2) Impedimento de impotência: a) trata-se de um impedimento de direito natural; b) no contrato matrimonial existem direitos e deveres mútuos entre os esposos. Se numa das partes existe a carência de algo, ela não poderá oferecer o que não tem. Se ela, por motivos físicos ou psíquicos, é impotente, isto é não tem condições de realizar o ato conjugal, o casamento se torna nulo, ainda que a outra parte saiba desta impotência antes de casar e aceite o parceiro com sua incapacidade; c) o casamento tem suas propriedades e suas finalidades. E uma das finalidades essenciais é a possibilidade de ter relações conjugais. Se uma das partes, sendo impotente, não tem condições de ter relações conjugais, o casamento é nulo; d) a impotência pode ser absoluta: quando alguém de nenhum modo tem condições de realizar o ato conjugal; e) a impotência pode ser relativa: quando alguém é impotente com relação a determinada ou determinadas pessoas; f) tanto a impotência absoluta como a relativa se for antecedente ao casamento e no momento do casamento se apresentar como permanente (perpétua), o casamento é nulo não importando se a causa for orgânica ou psíquica; g) sendo de direito natural, este impedimento não pode ser dispensado pela Igreja. Ela apenas positivou uma lei natural; h) quando houver dúvidas, opte-se pelo casamento. Obs: a esterilidade não anula nem proíbe o casamento (can. 1084, 3). 3) Impedimento de vínculo: este impedimento ressalta que os unidos através de um vínculo matrimonial válido, precedente, se encontram na impossibilidade de contrair novo casamento válido. Não importa se esse casamento precedente tenha sido consumado ou não: o vínculo matrimonial deixa de existir somente: a) pela morte de um dos cônjuges; b) pela declaração de nulidade do matrimônio anteriormente feito; c) pelo uso do privilégio Paulino ou Petrino em que o Papa tem faculdade de dispensar. Obs: o casamento realizado somente no civil, quando pelo menos um dos dois é católico e não abandonou formalmente a igreja, não é considerado sacramento e, portanto, não produz impedimento para um novo casamento. 4) Impedimento de disparidade de culto: quando no casamento uma das partes é católica e a outra não é batizada: è inválido o matrimônio entre duas pessoas, uma das quais tenha sido batizada na Igreja Católica ou nela recebida e que não tenha abandonado por um ato formal, e outra não batizada (can. 1086,1). Para a validade deste tipo de casamento é necessário: a) a dispensa do Ordinário do lugar (Bispo ou Vigário Geral); b) o casamento celebrado nestes moldes é válido, mas não é sacramento; c) contudo, se a parte não batizada receber o batismo, automaticamente o casamento torna-se sacramento. Obs: o casamento de mista religião: quando uma das partes é católica e a outra parte é batizada não católica ou que abandonou formalmente a igreja Católica. Para a liceidade de um casamento assim é necessária: a) sempre a licença do Ordinário do lugar; b) um matrimônio sem a citada licença seria válido, porém ilícito.

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5) Impedimento de ordem sacra: é a proibição de pessoa ordenada (bispo, sacerdote ou diácono) que deixam o ministério para casarem. Os ordenados poderão casar-se validamente somente: a) depois de obterem a licença do ministério; b) depois de obterem a licença do celibato; c) esta dispensa está reservada somente ao Papa. 6) Impedimento de voto: trata-se de um impedimento que proíbe religiosos ou religiosas que proferiram os votos perpétuos de castidade num Instituto religioso. Deverão obter a licença: a) do Bispo, se o Instituto é de direito diocesano; b) da Santa Sé, se o Instituto é de direito Pontifício; d) não é inválido o matrimônio de alguém que emitiu: a) o voto público temporal de castidade em um Instituto Religioso; b) o voto público temporal de castidade em Institutos Seculares, tanto de direito Diocesano como de direito Pontifício; c) as promessas públicas de castidade, temporais ou perpétuas, em qualquer Instituto de vida consagrada, seja ele diocesano ou Pontifício. 7) Impedimento de rapto: se trata de rapto de uma mulher por um homem (não o contrário) com o intuito de se casar com ela. 8) Impedimento de crime: quando alguém mata o próprio cônjuge ou o cônjuge de determinada pessoa com a intenção de contrair matrimônio com o superstite. É um conjuncídio. Devido a gravidade deste caso: a) a dispensa é reservada à Santa Sé; b) mesmo se o crime não for notório a dispensa é reservada á Santa Sé; c) ao mesmo tempo que protege a vida do cônjuge, este impedimento protege a indissolubilidade do matrimônio; d) é um impedimento de direito eclesiástico. 9) Impedimento de consangüinidade: Trata-se de um impedimento de parentesco. O código de 1983 volta a computar de acordo com o Direito Romano. Ex: suponhamos que João e Maria sejam irmãos. Os pais deles é o tronco comum que os gerou. Eles escolhem casar. Do casamento, João tem um filho, Pedro. Maria, uma filha, Joana. Entre Pedro e Joana o parentesco é de quarto grau colateral. João é primeiro grau em linha reta com os pais (o tronco comum) e segundo grau colateral com a irmã Maria. Pedro é segundo grau em linha reta com os avós (o tronco comum) e terceiro grau colateral com a tia Maria e quarto grau com a prima irmã Joana. Obs: a) em linha colateral é nulo o matrimônio até o quarto grau inclusive (o impedimento em quarto grau pode ser dispensado Pelo ordinário); b) o impedimento em linha reta é de direito Natural primário. 10) Impedimento de afinidade: a afinidade é a relação de parentesco que surge de um casamento válido: sogra e genro, sogro e nora, padrasto e filha da falecida, madrasta e filho do falecido. Obs: a) os impedimentos de afinidade podem ser dispensados pelo ordinário do lugar. 11) Impedimento de pública honestidade: surge de um matrimônio inválido ou de um concubinato público e notório. O Concubinato público ou notório acontece: a) quando um casal realiza o casamento só no civil e os dois são vivem juntos como marido e mulher; b) quando um homem e uma mulher mantêm um relacionamento afetivo-sexual bastante prolongado, sem ter a intenção de casar, mas que tenha certa semelhança com a vida matrimonial. São dois amantes. Obs: a) o Ordinário pode dispensar deste impedimento. 12) Impedimento de parentesco legal: surge com a adoção legal de uma pessoa. A adoção legal cria entre pessoas uma situação semelhante à da filiação legítima. Obs: a) o impedimento de parentesco legal se estende a todos os graus em linha reta; b) para o adotado não existe o impedimento de quarto grau colateral; c) o Ordinário pode dispensar do impedimento de adoção legal.

III. O CONSENTIMENTO

Retomando: para que o matrimônio seja válido é necessário: 1) capacidade das partes para contrair entre si. 2) consentimento proporcional ao ato que realizam. 3) forma canônica. Sabemos que o casamento é realizado pelo consentimento das partes: 1) um consentimento que deve ser acompanhado pela capacidade dos contraentes de realizá-lo. 2) que haja uma determinada forma de manifestar este consentimento. 3) como o consentimento é um ato de vontade, é um ato manifestado de maneira legítima, livre e responsável. 4) como é um ato humano, o consentimento deverá proceder de uma inteligência e de uma vontade livre. O ato humano supõe: a) uso de razão: “nada se quer que não se tenha antes conhecimento daquilo que se quer”. b) a vontade: é o motor intrínseco que determina a ação depois de se conhecer o que se quer. c) a liberdade: é a faculdade de deliberar para se decidir por determinada direção depois de conhecer os prós e os contras de várias opções.

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OS VÍCIOS DO CONSENTIMENTO

1) Carência de suficiente uso de razão (can. 1095,1). 2) Grave defeito de discrição de juízo (can. 1095,2). 3) Incapacidade de assumir as obrigações essenciais do matrimônio por causas de natureza psíquica

(1095,3). 4) Ignorância (can. 1096). 5) Erro (can.. 1097). 6) Dolo (can.. 1098). 7) Simulação ou exclusão do matrimônio de algum elemento essencial (can. 1101). 8) Condição (can. 1102). 9) Medo simples e medo reverencial (can. 10103). Estes nove vícios do consentimento, podem tornar nulo um matrimônio.

1) Carência de suficiente uso de razão: São incapazes de contrair o matrimônio; os que não têm

suficiente uso de razão: a) existem pessoas que possuem o uso de razão e podem lidar com diversas situações, no entanto, não gozam de suficiente uso de razão para celebrar o contrato matrimonial; b) sabemos que nihil volitum quin praecognitum (nada se quer que não seja antes conhecido), pois a vontade é cega e segue o que o intelecto lhe apresenta em suas operações. Exemplos de causas que afetam o uso de razão: a) adulto que não chegou ao uso completo da razão (oligofrenia), ou que tendo-o alcançado o perdeu, devido a acidente ou doença; b) grave enfermidade mental (demência, amência...); c) psicose, esquizofrenia (desligamento da realidade e criação de u mundo à parte); d) Neurose; e) atraso mental: QI baixíssimo de forma que não pode conhecer suas obrigações; f) a carência do uso da razão pode ser: permanente ou temporária. É temporária: a) no caso de alguém que faz uso de bebidas, de drogas, de sedativos etc. b) o casamento será sempre nulo se no ato do consentimento matrimonial o contraente não tiver o suficiente uso da razão, não importa a causa que o tenha privado.

2) Falta de descrição de juízo: São incapazes de contrair o matrimônio os que têm grave falta de descrição de juízo a respeito dos direitos e obrigações essenciais do matrimônio que se devem mutuamente dar e receber. Para que um casamento seja nulo a falta de descrição de juízo deve ser grave. Ex: patologias, hipnose, perturbação afetiva, incapacidade de tomar decisões por si, abulia da vontade (inconstância), falta de liberdade.

3) Incapacidade de assumir: São incapazes de contrair matrimônio os que não são capazes de assumir as obrigações do matrimônio, por causa de natureza psíquica. Não significa que sejam loucos, no entanto, por causas psíquicas não é capaz de assumir o que prometeu: ad impossibilia nemo tenetur. Obs: a) se trata da incapacidade de oferecer o objeto do contrato, ou seja a pessoa mesma, pois lhe falta o domínio sobre si mesma; b) várias anomalias podem levar a isto: Ninfomania (atração por parte da mulher por qualquer homem), Satiríase (quando se trata de homem), Homossexualidade (homem que se sente atraído por pessoa do mesmo sexo), Lesbianismo (caso das mulheres), Sadismo; c) Existem anomalias que impedem um mínimo de relacionamento interpessoal: dependência de drogas, alcoolismo crônico, Ludopatia (atração irresistível pelo jogo). Obs: todas estas anomalias devem existir antes da celebração do matrimônio.

4) Ignorância: é necessário que os contraentes não ignorem, pelo menos, que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher, ordenado à criação de prole por meio de alguma cooperação sexual. Obs: a) após a puberdade (14 anos para os meninos e 12 para as meninas) esta ignorância não se presume; os contraentes devem saber pelo menos o essencial para o matrimônio, ou seja: a) o matrimônio é um consórcio feito para sempre; b) o consórcio matrimonial é feito entre um homem e uma mulher; c) o casamento tem por finalidade a procriação de filhos por meio de ato conjugal.

5) Erro: O erro de pessoa torna inválido o matrimônio. Trata-se do casamento que alguém realiza com pessoa diferente daquela que o contraente desejava. Obs: a) hoje isto é mais difícil: as pessoas se conhecem por meio de namoro, correspondência etc.; b) todavia, após o Vaticano II, o conceito de pessoa é mais abrangente do que aquele que tem presente somente sua constituição física: na sua totalidade, a pessoa é constituída também pelo seu aspecto moral, social, religioso, cultural etc.; c) na falta de um desses elementos, a pessoa resulta diferente daquela que a outra parte conhecia no momento da celebração do matrimônio.

6) Erro de qualidade: o erro de qualidade da pessoa, embora seja causa do contrato, não torna nulo o matrimônio, salvo se esta qualidade for direta e principalmente visada. Obs: trata-se de

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uma qualidade que não é ocultada dolosamente pela outra parte, mas que o contraente, para o consentimento, exige que exista na pessoa com a qual vai se casar.

7) Erro doloso: Quem contrai matrimônio enganado por dolo perpetrado para obter o consentimento matrimonial, a respeito de alguma qualidade de outra parte, e essa qualidade, por sua natureza, possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai invalidamente. Obs: a) trata-se de alguém que é enganado pelo interessado em casar ou por terceiros (como familiares) com o objetivo deliberado de conseguir o seu consentimento; b) o dolo deve ser a causa do contrato para a pessoa enganada; c) o dolo deve exercer sua influência no consentimento, de tal modo que, sem este erro doloso, o consentimento não teria acontecido.

8) Simulação ou exclusão do matrimônio: presume-se que o consentimento interno está em conformidade com as palavras ou com os sinais empregados na celebração do matrimônio... contudo, se uma das partes ou ambas, por ato positivo da vontade, excluem o próprio matrimônio, algum elemento essencial do matrimônio ou alguma propriedade essencial, contraem invalidamente. Obs: a) existe simulação ou exclusão total quando simula ou exclui o mesmo matrimônio; b) é simulação parcial quando exclui um elemento essencial dele; c) chama-se elemento essencial de alguma coisa aquilo que compõe esta coisa; d) quais são os elementos essenciais do matrimônio? 1) que seja ordenado ao bem dos cônjuges e à geração da prole; 2) que seja uno (um homem e uma mulher e fiel) e indissolúvel (feito para sempre e perpétuo); 3) como para os batizados não existe contrato que não seja sacramento (Cân. 1055,2), quem exclui o sacramento.

9) Condição: Não pode contrair validamente o matrimônio sob condição de futuro... o matrimônio contraído sob condição de passado ou de presente é válido ou não conforme existe ou não aquilo que é objeto de condição... Todavia, a condição mencionada no par. 2 não pode licitamente ser colocada sem a licença escrita do ordinário do lugar. Obs: a) a condição de futuro fica excluída para a validade do matrimônio (alguém se casa com a condição de que no ano seguinte a outra parte se forme em medicina); b) o direito admite somente a condição de presente e de passado (neste caso, o fato que faz depender o casamento já existe, mas pode ser desconhecido das partes que põem a condição).

10) Medo: É inválido o matrimônio contraído por violência ou por medo proveniente de causa externa, ainda que não dirigido para extorquir o consentimento, quando para dele se livrar, alguém seja obrigado a contrair o matrimônio. Obs: esta violência pode ser: a) física (quando alguém exerce violência sobre o corpo do outro e lhe tira a autonomia); b) moral (trata-se de uma coação externa de pessoas sobre a vontade de alguém determinado, ameaçando-o com um mal, com represálias físicas ou até com a morte); c) medo reverencial: consiste em desagradar pessoas de quem alguém depende como filho, empregado etc.

FORMA CANÔNICA Retomando: o casamento pode ser nulo pelos seguintes motivos:

1) por causa dos impedimentos. 2) por causa dos vícios presentes no consentimento matrimonial. 3) por defeito de forma.

Chama-se forma canônica a maneira que o direito exige para os contraentes manifestarem o consentimento entre eles. Sendo o consentimento um ato de vontade, o Cân. 1057 diz que deve ser legitimamente manifestado, ou seja, manifestado de acordo com a lei. Somente o Concílio de Trento (1563), estabelecerá a forma jurídica para a validade do matrimônio. Trento estabelece:

1) Obrigação da publicação dos proclamas antes do casamento. 2) O casamento deve ser feito na presença do pároco próprio ou do Ordinário do lugar, ou

de outro sacerdote. 3) O casamento deve ser celebrado diante de duas ou três testemunhas.

Não se pode confundir forma canônica com rito litúrgico, ainda que as duas coisas, normalmente, estejam juntas: Forma canônica é a necessidade da presença do ministro qualificado que peça e receba a manifestação do consentimento dos contraentes e na presença de pelo menos duas

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testemunhas. A celebração litúrgica são os atos religiosos que acompanham a celebração com a forma canônica.

1) Forma canônica extraordinária (can. 1116): quando não é possível, sem grave incômodo, ter o assistente autorizado de acordo com o direito, os que pretendem casar podem contrair válida e licitamente somente perante as testemunhas. Isto pode ocorrer em dois casos: a) em perigo de morte; b) quando se prevê que este estado de coisa vai durar por um mês (lugares onde os sacerdotes são perseguidos).

2) Sujeitos á forma canônica: todos os batizados na Igreja católica ou convertidos a ela, e que não se tenham afastado dela por um ato formal. Quando um dos contraentes é católico, está sujeito à forma canônica. Estão isentos da forma canônica: a) os não batizados; b) os batizados não católicos. Os casamentos ecumênicos: a) quando um dos contraentes é católico, para a validade do casamento, é sempre necessária a presença do ministro católico assistente que pede e recebe o consentimento; b) o pastor poderá ler as Escrituras e deixar uma mensagem para os noivos. Não existe a possibilidade de dispensa da forma canônica, a não ser: a) em perigo de morte; b) nos casamentos mistos (entre um católico e um batizado não católico) quando existem graves dificuldades para observar a norma. Neste caso o Ordinário do lugar pode dispensar da forma. Nulidade por defeito de forma: a) quando o ministro assistente qualificado não tem delegação para assistir ao casamento; b) quando o sacerdote assiste o casamento em paróquia alheia, sem autorização explícita do pároco; c) quando o ministros sacro por doença, embriaguez etc., não tiver consciência plena daquilo que faz; d) quando a delegação não é dada de maneira expressa e determinada; e) quando o ministro se porta passivamente diante dos contraentes, não pedindo nem recebendo o consentimento deles; f) quando um sacerdote não recebeu delegação geral e por escrito e subdelega um outro sacerdote para assistir o casamento.

3) Erro comum: no erro comum a Igreja supre. Obs: a) não existe erro comum se um padre, que está só de passagem, assiste o matrimônio sem autorização; b) ela supre quando o sacerdote costuma ajudar na paróquia pelo menos de vez em quando. O casamento de um ortodoxo com de rito oriental com um católico: a) a forma canônica é apenas para a liceidade; b) se o casamento é feito de acordo com o rito ortodoxo, o casamento é válido.

4) Procurador: os contraente podem celebrar o casamento por meio de um procurador. Exige-se: a) um mandato especial do contraente dado a alguém, para contrair com determinada pessoa; b) um mandato assinado pelo mandante e, pelo menos, com duas testemunhas; c) o mandante poderá apresentar como mandato um documento público registrado em cartório; d) o mandato deve ser conferido por escrito; e) é necessário a licença do Ordinário do lugar.

IV. CONVALIDAÇÃO DO MATRIMÔNIO “É um ato pelo qual, um matrimônio inválido, coma renovação do consentimento, se torna válido. Trata-se de um casamento que foi celebrado, mas que, devido a impedimento, por vício de consentimento ou por defeito de forma canônica, foi inválido”. COMO CONVALIDAR: 1) se o matrimônio for nulo pela existência de um impedimento, antes de convalidá-lo é

necessário que o impedimento cesse ou seja dispensado. 2) Se o impedimento é público o consentimento deverá ser renovado por ambas as partes. 3) Se o impedimento é oculto e conhecido por ambas as partes basta que renovem o

consentimento por de modo privado e secretamente, isto é, sem a presença de padre ou testemunhas.

4) Se o impedimento é oculto e conhecido por uma só das partes, basta que esta somente renove o consentimento de um modo privado e secretamente.

5) Se o defeito é de consentimento, se requer a renovação do consentimento somente da parte que o prestou invalidamente.

6) Se a falta de consentimento é pública, então deve prestar-se pelos dois de forma canônica. 7) Se a falta de consentimento é oculta, basta que seja prestado privadamente e secretamente por

parte daquele que não o havia feito. 8) O matrimônio que for nulo por defeito de forma, deverá celebrar-se canonicamente.

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V. SANATIO IN RADICE (can. 1161-1165): Trata-se da convalidação de um matrimônio nulo sem a renovação do consentimento das partes. È uma concessão de um benefício pela qual a autoridade competente convalida o matrimônio dispensando ao mesmo tempo da forma canônica e de impedimento se houver e possam ser dispensados. A sanatio pode ser concedida ainda que uma ou ambas as partes o ignorem. Pode conceder a sanatio in radice: 1) o Bispo diocesano (para cada caso). 2) A Santa Sé, no caso de ordem sacra, voto público ou crime. Obs: a diferença entre convalidação e sanatio in radice está em que a convalidação se produz com a renovação do consentimento e a sanatio se produz por uma concessão da autoridade Competente. VI. DISPENSA DE VÍNCULO MATRIMONIAL O PAPA tem o poder de dispensar do vínculo matrimonial em alguns casos. Trata-se do matrimonio rato e não consumado. O Papa pode dispensar a pedido de uma das partes ou de ambas ou ainda contra a vontade de uma das partes. De acordo com a jurisprudência canônica, o matrimônio é consumado de um modo humano quando ambas as partes realizam mutuamente o ato conjugal livremente e de uma maneira apta a gerar a prole. É necessário que haja:

1) por parte do homem: a ereção, a penetração e a ejaculação dentro da vagina da mulher. 2) Por parte da mulher: que seja penetrada e que receba a ejaculação do homem diretamente na vagina.

Não há consumação: 1) quando há uso de camisinha ao praticar o ato conjugal; 2) quando há ejaculação fora da vagina da mulher; 3) quando a mulher usa sempre preservativos; 4) quando uma das partes é forçada a fazer o ato sexual.

VII. O PRIVILÉGIO PAULINO (can. 1143-1147).

O PAPA pode dissolver o matrimônio em favor da fé quando contraído entre dois contraentes não batizados. O matrimônio celebrado entre dois não batizados dissolve-se pelo privilégio paulino, em favor da fé, da parte que recebeu o batismo, pelo próprio fato de esta parte contrair novo matrimônio, contanto que a parte não batizada se afaste... considera-se que a parte não batizada se afasta, se não quer coabitar com ela pacificamente sem ofensa ao Criador, a não ser que esta, após receber o batismo, lhe tenha dado justo motivo para se afastar.

Obs:

1) depois do batismo, a parte não batizada é interrogada se deseja ou não coabitar com a parte batizada. 2) Somente se ela não deseja coabitar é iniciado o processo administrativo a pedido da pessoa batizada e é

encaminhado à Santa Sé. 3) A dispensa é concedida pelo Papa.

VIII. PRIVILÉGIO PETRINO (can. 1148-1150). Trata-se:

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1) de dispensar do vínculo matrimonial a um não-batizado que vive com várias mulheres (harém), ou uma não-batizada que vive com vários homens. 2) Que convive com várias mulheres ou homens não batizados 3) Que deseja receber o batismo na Igreja Católica

Neste caso aquele que vai ser batizado deverá:

1) escolher o primeiro cônjuge com quem viveu. 2) se é difícil viver com o primeiro, poderá escolher qualquer um e abandonar os outros. 3) recebido o batismo, o matrimônio deverá ser celebrado segundo a forma canônica.