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A “objetividade” do conhecimento na ciência social e na ciência política (1904) Sociologia ciência terapêutica, pragmática análise (conhecimento/ciência) aplicação (política) Para Max Weber, “não há vínculos entre o processo examinado e o mundo contemporâneo: trata-se de universos radicalmente heterogêneos. Inútil procurar nele um caráter exemplar ou a resposta para questões atuais” (p. 11) → individualidade histórica (singularidade X geral) “Weber está enfatizando a sua ideia básica de que não é possível encarar um período histórico como se nele estivesse já configurada a época seguinte, seja em termos de “progresso” ou de qualquer noção similar, que pressuponha a presença das mesmas causas operando ao longo do tempo em diferentes configurações históricas” (pp. 14-15). Rigorosa separação entre saber empírico e juízos de valor problemas epistemológicos requerem uma discussão em um nível mais profundo (epistémê) → especificidade da pesquisa em ciência social visando a ampliação do saber sobre as condições sociais, dos fatos da vida social, a formação do juízo sobre seus problemas práticos e a crítica da práxis sócio-política, tais como a legislação (crítica da razão política) A proposta é ser uma revista exclusivamente científica, porém, até que ponto essa discussão fica no terreno exclusivamente científico, já que a característica do conhecimento científico é produzir “verdades”? Em que sentido haveria verdades objetivamente válidas nas ciências sociais (cultura)? A revista propõe problematizações, e não soluções: trabalho de crítica - tradição kantiana)

Max Weber, uma introdução

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Page 1: Max Weber, uma introdução

A “objetividade” do conhecimento na ciência social e na ciência política (1904)

Sociologia → ciência terapêutica, pragmática

análise (conhecimento/ciência)

aplicação (política)

Para Max Weber, “não há vínculos entre o processo examinado e o mundo contemporâneo:

trata-se de universos radicalmente heterogêneos. Inútil procurar nele um caráter exemplar ou a

resposta para questões atuais” (p. 11) → individualidade histórica (singularidade X geral)

“Weber está enfatizando a sua ideia básica de que não é possível encarar um período

histórico como se nele estivesse já configurada a época seguinte, seja em termos de “progresso” ou

de qualquer noção similar, que pressuponha a presença das mesmas causas operando ao longo do

tempo em diferentes configurações históricas” (pp. 14-15).

Rigorosa separação entre saber empírico e juízos de valor – problemas epistemológicos requerem uma discussão em um nível mais profundo (epistémê) → especificidade da pesquisa em ciência social visando a ampliação do saber sobre as condições sociais, dos fatos da vida social, a formação do juízo sobre seus problemas práticos e a crítica da práxis sócio-política, tais como a legislação (crítica da razão política)

A proposta é ser uma revista exclusivamente científica, porém, até que ponto essa discussão fica no terreno exclusivamente científico, já que a característica do conhecimento científico é produzir “verdades”?

Em que sentido haveria verdades objetivamente válidas nas ciências sociais (cultura)?

A revista propõe problematizações, e não soluções: trabalho de crítica - tradição kantiana)

[...] homens de cultura, dotados da capacidade e da vontade de assumirmos uma posição consciente face ao mundo, e de lhe conferirmos um sentido. Qualquer que seja este sentido, influirá para que, no decurso da nossa vida, extraiamos dele nossas avaliações de determinados fenômenos da convivência humana e assumamos perante eles, considerados significativos, uma posição (positiva ou negativa). Qualquer que seja o conteúdo dessa tomada de posição, estes fenômenos possuem para nós uma significação cultural, que constitui a base única do seu interesse científico (p. 97/131).

I

Ponto de partida da ciência social: perspectivas práticas = “Formar juízos de valor sobre determinadas medidas do Estado [...]” (108) empiricidades

Como saber destinado à crítica da prática política, ela é “técnica”, tais como as disciplinas clínicas das ciências médicas → disciplina empírica = Ser ≠ dever-ser

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Críticos, portanto, da noção de que os processos econômicos seriam regidos por leis naturais e/ou princípios determinados da evolução dos processos econômicos (modo de produção escravista → feudal → capitalista → socialista, em linha sucessiva e evolutiva, rumo ao progresso e/ou desenvolvimento das sociedades)

→ História sem sujeito

Problema: “(...) ainda hoje, não desapareceu a opinião imprecisa de que a economia política deveria emitir juízos de valor a partir de uma específica ‘cosmovisão econômica’” (109)

“(...) jamais pode ser tarefa de uma ciência empírica proporcionar normas e ideais obrigatórios, dos quais se possa derivar “receitas” para a prática” (idem), não, porém, por serem de origem subjetiva!!!

Deve-se, agindo com responsabilidade, ponderar entre os fins e as consequências de tais ações → “refletir sobre as consequências “não-intentadas”

Homem de ação: tomar decisão/posição em função das ponderações apontadas pelo homem de ciência → “Decidir-se por uma opção é exclusivamente ‘assunto pessoal’” (110) (ética)

****

“Objeto” = natureza socioeconômica → condicionado pela orientação de nosso interesse de conhecimento em conformidade com o significado cultural que lhes atribuímos → i.e.não tem uma objetividade tal qual o objeto da chamada ciência da natureza: relação de exterioridade (sujeito objeto cartesiano), trata-se, portanto, de uma atribuição de sentido, variável historicamente e culturalmente (civilização ocidental) Ciência social = ordenação conceitual da realidade empírica → natureza discursiva do conhecimento

→ chegar à consciência dos axiomas que estão na base do conteúdo do desejo: “a consciência dos critérios últimos de valor que se constituem de maneira inconsciente no ponto de partida – dos quais, para ser consequente, deveria partir” (110) → papel da ciência, sem entrar no terreno da especulação

“Se o sujeito que emite juízos de valor deve professar estes critérios últimos, isso é um problema pessoal, uma questão de sua vontade e de sua consciência; não tem nada a ver com o conhecimento empírico. Uma ciência empírica não pode ensinar a ninguém o que deve fazer; só o que lhe dado – em certas circunstâncias – o que quer fazer” (111)

perigo → “[...] elevar a economia política à dignidade de uma “ciência ética” com bases empíricas” (109) [...] “que poderia extrair do seu material ideais ou normas concretas por meio da aplicação de imperativos éticos de valor universal” (111).

Homem → ser moral Separação ética ≠ política

→ crítica dos universais

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“Sem dúvida, é verdade que aqueles elementos [valores] que [...] determinam a nossa ação e conferem sentido e significado à nossa vida, são percebidos por nós como sendo objetivamente válidos. [...] seja como for, somente a partir do pressuposto da fé em valores tem sentido a intenção de defender certos valores publicamente. [...] mas, certamente, não é tarefa de uma ciência empírica” (111)

Ciência → critério de objetividade

Fé → critério de subjetividade, pessoal ética = liberdade

Valores: modificáveis no espaço e no tempo (história e cultura)

Conhecimento das ciências naturais exatas e matemáticas = produto da cultura

Exemplo: estabelecimento de políticas sociais/políticas públicas - “[...] certos fins que parecem óbvios” = “e se confundíssemos – coisa que a ciência nunca deveria fazer impunemente – a aparência do óbvio com a verdade [...] esta aparência desaparecem logo quando mudamos de nível, para analisar questões gerais da política econômica e social. O que caracteriza o caráter político-social de um problema consiste, precisamente, no fato de não se poder resolver a questão com base em meras considerações técnicas; [...] pois o problema faz parte de questões gerais de cultura” (112) devem, portanto, ser postos em discussão, devem ser politizados

→ diferentes “interesses de classe”, cosmovisões, diferentes perspectivas, etc.

“quanto mais “universal” for o problema em questão, i.e., quanto mais amplo for o seu significado cultural, [...] tanto maior será o papel dos axiomas últimos e pessoais da fé e das ideias éticas. É simplesmente um ato ingênuo [...] acreditar que é necessário estabelecer “um princípio”, demonstrado cientificamente como válido, a partir do qual, em seguida, podem ser deduzidas, de maneira unívoca, as normas para a solução de problemas práticos singulares” (112)

Problema: a existência de “[...] juízos de valor que se introduzem de maneira não-refletida [...]” (112) → senso-comum (doxa/opinião indolente)

Não é tarefa de uma ciência empírica, e nem é possível, “determinar um denominador comum prático para os nossos problemas na forma de ideias últimas e universalmente válidas;” (112)

Para Weber, isso seria não apenas praticamente impossível, como também sem sentido.

→ imperativos éticos, enquanto normas para a ação dos indivíduos → impossíveis de serem deduzidos, de maneira unívoca, de conteúdos culturais que sejam obrigatórios

Crítica ao positivismo → “Somente as religiões positivas [dogma] podem conferir ao conteúdo de valores culturais a dignidade de um mandamento ético incondicionalmente válido” (112-113).

O estabelecimento de imperativos éticos jamais podem ser deduzidos do resultado de uma ciência empírica, “por mais perfeita e acabada que seja, mas a partir de nos próprios [...]”, enquanto seres morais.

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“os ideais supremos que nos movem com a máxima força possível, existem, em todas as épocas, na forma de uma luta com outros ideais que são, para outras pessoas, tão sagrados como o são, para nós, os nossos” (113).

“O arquivo lutará incondicionalmente contra a grave ilusão que acredita ser possível, por meio da síntese entre opiniões partidárias, ou seguindo uma linha diagonal entre elas, obter efetivamente normas práticas de validade científica” → esta opinião encobre os critérios de valor, os axiomas subjacentes (etnocentrismo/eurocentrismo/positivismo)

conhecer X julgar↓ ↓

ordenar conceitualmente ser moral a realidade empírica

dever cientifico → ver a verdade dos fatos

Equivoco → a ciência “determinar univocamente o sentido da vida cultural” (114), pois estas análises conceituais (ciências) constituem produtos dessa mesma cultura.

Critérios axiológicos de base → “Cada valoração de uma vontade alheia só pode ser uma crítica a partir da própria “cosmovisão”, [...] com base no ideal da própria pessoa.” (115).

Deveres do cientista: ética da responsabilidade

1) consciência dos critérios empregados para medir e realidade, e para obter – partindo desses critérios – o juízo de valor;

2) Imperativo da imparcialidade cientifica (não tomar partido nem fazer proselitismo)

Salutar: a afinidade do homem, como ser moral, e o cientista, desde que tenha clareza do ‘perigo’ que isso representa para a imparcialidade do trabalho científico.

(Para Durkheim, a ciência deveria orientar o direito como norma para a conduta dos indivíduos – ciência normativa – embaralhamento ética e política.

Disputa discursivas entre a ciência e a religião acerca da loucura)

Pressuposto: um tipo de conhecimento incondicionalmente válido (ordenamento conceitual da realidade): qual o significado da objetividade aqui pretendida?

→ abismo intransponível: abordagem teórica X abordagem histórica (duas economias políticas)

II

Objetos das ciências sociais → natureza socioeconômica: o fato básico da nossa existência física – satisfação das necessidades – depara-se com a limitação quantitativa e com a insuficiência qualitativa dos meios externos, que demandam trabalho e planejamento, a luta frente a natureza e a associação com os homens (luta material pela existência)

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→ fenômenos socioeconômicos = processos condicionados pela orientação de nosso interesse, de acordo com o significado (cultural) que atribuímos

→ fenômenos econômicos, economicamente relevantes e economicamente condicionados → fluido

“A influência indireta das relações sociais, das instituições e dos agrupamentos humanos, submetidos à pressão de interesses “materiais”, estende-se por todos os domínios da cultura. Sem exceção, até mesmo nos mais delicados matizes do sentimento religioso e estético” (119).

“Na medida em que nossa ciência, por meio da regressão causal, atribui causas individuais – de caráter econômico ou não – a fenômenos culturais econômicos, ela está buscando um conhecimento histórico” (idem).

Campo de trabalho: “(...) o significado atual e o desenvolvimento histórico de determinadas constelações de interesses e de conflitos, nascidos na economia dos modernos países civilizados, com base no papel preponderante que o capital deles desempenhou em sua busca de valorização” (120).

→ “(...) pesquisa cientifica do significado cultural geral da estrutura socioeconômica da visa social humana, e das suas formas históricas de organização (...) cuja solução prática constitui o objeto da ‘política social’, no sentido lato da palavra” (idem).

→ “O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões ‘objetivas’ entre as ‘coisas’, mas as conexões conceituais entre problemas” (121).

Determinismo econômico

(121-122) → “[...] a necessidade [dogmática] de explicação causal de um fenômeno histórico não fica satisfeita enquanto não se mostre (mesmo que aparentemente) a intervenção de causas econômicas”: as únicas “verdadeiras” e “autênticas”, rejeitando tudo aquilo que não pode ser deduzido da motivação econômica como algo “acidental”, insignificante (como foi durante muito tempo, por exemplo, as questões transversais – gênero/sexualidade/etnia, etc. rebaixados ao nível de “condições historicamente acidentais” (como um desvio da lei geral da determinação de uma história sem sujeito, com suas leis gerais de desenvolvimento), com seu “método universal” → interpretação resultante (em parte) de uma determinada conjuntura histórica:

“Em nenhum setor dos fenômenos culturais se pode reduzir tudo a causas econômicas, nem sequer no setor específico dos ‘fenômenos econômicos’” (123)

Crítica da “concepção materialista da história” (visão de mundo)

“Quase todas as ciências, desde a filologia até a biologia, revelaram, numa ocasião ou noutra, a pretensão de produzir não só os seus conhecimentos específicos, como até mesmo “concepções de mundo” (122) → imperativos éticos (normativa/prescritiva) + confusão entre teoria e história

→ “(...) tendência monista de todo conhecimento refratário à autocrítica” (idem).

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Contra o sectarismo de uma opinião dogmática: Determinismo biológico (preconceito naturalista):

“É de esperar-se que a situação em que tomar a “raça” como elo final da cadeia causal meramente documentava o nosso não-saber [...] possa vir a ser superada através de um trabalho metodologicamente fundamentado” (85)

“É de se esperar que a situação de se ver na “raça” a essência da explicação causal – o que era apenas um atestado de nossa ignorância – possa ser lentamente substituída mediante um trabalho metodicamente orientado [...]” (122)

“Biologia racial” = mero produto da moderna febre de fundamentação científica

“Não existe nenhuma análise científica totalmente ‘objetivada’ da vida cultural ou dos ‘fenômenos sociais’ (...). Assim, todo o conhecimento da realidade infinita, realizada pelo espírito finito, baseia-se na premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica e de que ele só será ‘essencial’ no sentido de ‘digno de ser conhecido’” (124).

Crítico do positivismo cf. ‘leis gerais’: dedução da realidade a partir da regularidade de determinadas conexões causais: tudo o que estiver para além desta tipicidade (‘leis gerais’) ou é deixado de lado ou é desqualificado como ‘cientificamente secundário’ e, portanto, irrelevante → “(...) esse conhecimento ‘astronômico’ (...) não é de modo nenhum um conhecimento de leis, mas, pelo contrário, extrai de outras disciplinas, como a mecânica, as ‘leis’ com as quais trabalha, à maneira de premissas” (125).

Individualidade histórica (especificidade/singularidade do presente): “(...) não sobrevive, em nossa especialidade, um resquício de representações semelhantes, quando se supõem ‘estados primitivos’ socioeconômicos sem qualquer ‘causalidade’ histórica, quer inferidos do direito natural, quer verificados mediante a observação dos ‘povos primitivos’?” (idem)

Nas ciências sociais (ciências culturais), o que nos interessa é o aspecto qualitativo > aspectos quantitativos, historicamente dados (→ pesquisa qualitativa)

(127) tarefa das ciências sociais: análise e exposição ordenada de fatores historicamente dados, isto é, de fenômenos da vida segundo sua significação cultural:

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A significação cultural não pode ser deduzida de um sistema de leis, por mais perfeito que seja, nem justificado ou explicado por ele, porque pressupõem juízos de valor:

“O conceito de cultura é um conceito de valor. A realidade empírica é ‘cultura’ para nós porque e na medida em que a relacionamos com ideias de valor. Ela abrange aqueles e somente aqueles componentes da realidade que através desta relação tornam-se significativo para nós. Uma parcela ínfima da realidade individual que observamos em cada caso é matizada pela ação do nosso interesse condicionado por essas ideias de valor (...). E somente por isso, e na medida em que isso ocorre, interessa-nos conhecer (...)”

Assim, “(...) não poderá ser deduzido de um estudo ‘isento de pressupostos’ do empiricamente dado. Pelo contrário, é a comprovação desta significação que constitui a premissa para que algo se converta em objeto de análise” (127)

Exemplo: comércio monetário: como a troca chegou a alcançar a significação cultural que tem hoje? Pois é por causa dela (significação cultural) que nos interessamos pela descrição técnica da circulação; e é, igualmente, em razão dela (significação cultural) que existe uma ciência que a toma por objeto.

Ciência social → analisar a significação cultural do fato histórico de a troca constituir, hoje em dia, um fenômeno de massa (128).

Exemplo: A ética protestante e o espírito do capitalismo: aquilo que denominamos capitalismo é o resultado, dentre outros fatores – sempre múltiplos – de uma mudança no êthos dos indivíduos – sujeitos da história – marcada pelo acontecimento Reforma Protestante – relação com a verdade, produtora de subjetividade – que impõe uma conduta regrada, austera aos indivíduos que a ela se sujeitam, produzem efeitos inintencionais, se partirmos do ponto de vista de sua intencionalidade, isto é, de sua consciência. Lembrando Marx, “não é a consciência que determina o ser social, antes, é o ser social que determina a consciência”. De modo que aquilo que pensamos é igualmente condicionado pelas múltiplas determinações sociais, bem como os discursos produzidos, tais como o discurso científico: ele só tem valor para nós, ocidentais, neste espaço-tempo.

→ Condicionamentos sociais e políticos da emergência dos saberes, como a própria Sociologia

Ou seja, sem conhecer a significação cultural, a formação de conceitos não ficará livre de pressupostos, dado que foi decidida em função desta. Estes estão “(...) em relação com as ideias de valor com que abordamos a realidade” (129).

→ aspectos que se tornam objetos: “[...] precisamente aqueles que conferimos uma significação geral para a cultura [...].”

geral X particular

“No campo das ciências da cultura, o conhecimento do geral nunca tem valor por si próprio”. É apenas um meio, e quanto mais gerais, “menos valiosas, por serem vazias de

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conteúdo. Isto porque, quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade de um conceito genérico, tanto mais nos afasta da riqueza da realidade (...)” (130).

Natureza X cultura: distinção metodológica

“[...] todo indivíduo histórico está arraigado, de modo logicamente necessário, em “ideias de valor” (131)

Objetos das ciências sociais = fenômenos que possuem significação cultural → base única do seu interesse científico → enquanto animam o nosso desejo de conhecimento

Exemplos: “questão social”; “questão operária”; “juventude”; “questão carcerária”; e assim por diante.

“Disso resulta que todo conhecimento da realidade cultural é sempre um conhecimento subordinado a pontos de vista especificamente particulares” (131)

Os conhecimentos não podem ser deduzidos da própria matéria

As significações variam historicamente de acordo com o caráter da cultura e do pensamento que domina os homens (133) e o mesmo acontece com o método. De toda forma, o pesquisador/investigador encontra-se evidentemente ligado às normas do nosso pensamento de uma dada cultura:

“O fluxo do devir incomensurável flui incessantemente ao encontro da eternidade. Os problemas culturais que fazem mover a humanidade renascem a cada instante e sob um aspecto diferente e permanece variável o âmbito daquilo que, no fluxo eternamente infinito do individual, adquire para nós importância e significação, e se converte em “individualidade histórica”. Mudam também as relações intelectuais sob as quais são estudados e cientificamente compreendidos. Por conseguinte, os pontos de partida das ciências da cultura continuarão a ser variáveis no imenso futuro [...]. Um sistema das ciências culturais, embora só o fosse no sentido de uma fixação definitiva, objetivamente válida e sistematizadora das questões e dos campos dos quais se espera que tratem, seria um absurdo em si” (133).

Economia política: incorporou a poderosa unidade da concepção de mundo do século XVIII, de caráter racionalista e orientada pelo direito natural, objeto da crítica de Marx em “Para a crítica da economia política” → problematização dos valores últimos sob os quais construíram-se as teorias ...

Crítica ao modo de encarar o objeto nas chamadas ciências da natureza – exterioridade/objetividade (cartesiano) → ilusão de chegar a um conhecimento puramente “objetivo”, sem relação com os valores, absolutamente racional, de validade metafísica e forma matemática1 (epistémê da I. Clássica)

Medicina clínica, tecnologia: desde o princípio estavam determinadas pelos valores que deveriam servir: a curar o paciente, aperfeiçoamento técnico.

1 Abstração do empírico.

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Monismo naturalista: descoberta de leis do devir em geral (impacto da biologia – Darwin: “sobre todas as ciências pairava ameaçadoramente o crepúsculo dos deuses de todas as perspectivas axiológicas)

Relação entre o conceito e a realidade

Método teórico e “abstrato” (dedutivo) X investigação histórico-empírica

Linguagem p. 139: linguagem corrente

natureza discursiva do nosso conhecimento

Conceitos: “trata-se de um quadro de pensamento, não da realidade histórica, e muito menos da realidade “autêntica” (140).

“Decerto, nada há de mais perigoso que a confusão entre teoria e história, nascida dos preconceitos naturalistas” (141).

Tipo-ideal: “numa síntese que seríamos incapazes de estabelecer de modo não contraditório, senão recorrêssemos, a conceitos típico-ideais” e não a essência de algo, o cristianismo, por exemplo.

Calvinismo: Postulados morais que governaram os homens produzindo determinados efeitos históricos.