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Associação Nacional dos Programas de PósGraduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 11 a 14 de junho de 2019 1 www.compos.org.br www.compos.org.br/anais_encontros.php MÍDIAS VIGILANTES: o declínio das mídias de difusão de informação e a ascensão das mídias de captura de dados 1 SURVEILLANT MEDIAS: the decline of broadcast media and the rise of data capture media Izabela Domingues 2 Resumo: Este artigo tem como objetivo problematizar o conceito de mídia, em diálogo com os conceitos de mídia defendidos por Meyrowitz, em função da internet das coisas e da quarta revolução industrial. Se, no século XX, o conceito de mídia estava associado à difusão de informações, através dos meios de comunicação de massa, no século XXI, esse conceito deve ser ampliado e buscar compreender também objetos capazes de capturar, transmitir, armazenar e cruzar dados em tempo real, como óculos de sol, bonecas infantis e aspiradores de pó, não considerados, anteriormente, como mídias pelos campos da Comunicação e do Marketing. Na era da vigilância, é preciso considerar um novo tipo de mídia, as mídias vigilantes, refletindo também sobre a alfabetização midiática a ser agenciada por ele. Diante da abrangência do nosso objeto, propomos que esta pesquisa faça uso do método da cartografia com sua capacidade de perceber, para além dos fenômenos, os planos coletivos de forças inerentes a eles. Palavras-Chave: Mídias. Consumo. Marcas. Vigilância. Controle. Abstract: This article aims to problematize the concept of media, in dialogue with the media concepts defended by Meyrowitz, due to the internet of things and the fourth industrial revolution. If, in the 20th century, the concept of media was associated with the dissemination of information through the mass media, in the 21st century, this concept should be expanded and sought to understand objects capable of capturing, transmitting, storing and tracking data in real time, such as sunglasses, children's dolls and vacuum cleaners, not previously considered as media in the areas of Communication and Marketing. In the age of surveillance, we must consider a new type of media, the surveillant media, also reflecting on the media literacy to be brokered by it. In view of the scope of our object, we propose that this research make use of the method of cartography with its ability to perceive, in addition to phenomena, the collective planes of forces inherent to them. Keywords: Media. Consumption. Brands. Surveillance. Control. 1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Consumo e Processos de Comunicação do XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019. 2 Doutora e Mestre em Comunicação Social pela UFPE. Professora permanente do PPGCOM e do Núcleo de Design e Comunicação do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE. E-mail: izabeladom@hotmail.

MÍDIAS VIGILANTES: o declínio das mídias de difusão de ...If, in the 20th century, the concept of media was associated with the dissemination of information through the mass media,

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Associação  Nacional  dos  Programas  de  Pós-­‐Graduação  em  Comunicação  

XXVIII  Encontro  Anual  da  Compós,  Pontifícia  Universidade  Católica  do  Rio  Grande  do  Sul,  Porto  Alegre  -­‐  RS,  11  a  14  de  junho  de  2019  

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MÍDIAS VIGILANTES:

o declínio das mídias de difusão de informação e a ascensão das mídias de captura de dados1

SURVEILLANT MEDIAS:

the decline of broadcast media and the rise of data capture media

Izabela Domingues 2

Resumo: Este artigo tem como objetivo problematizar o conceito de mídia, em diálogo com os conceitos de mídia defendidos por Meyrowitz, em função da internet das coisas e da quarta revolução industrial. Se, no século XX, o conceito de mídia estava associado à difusão de informações, através dos meios de comunicação de massa, no século XXI, esse conceito deve ser ampliado e buscar compreender também objetos capazes de capturar, transmitir, armazenar e cruzar dados em tempo real, como óculos de sol, bonecas infantis e aspiradores de pó, não considerados, anteriormente, como mídias pelos campos da Comunicação e do Marketing. Na era da vigilância, é preciso considerar um novo tipo de mídia, as mídias vigilantes, refletindo também sobre a alfabetização midiática a ser agenciada por ele. Diante da abrangência do nosso objeto, propomos que esta pesquisa faça uso do método da cartografia com sua capacidade de perceber, para além dos fenômenos, os planos coletivos de forças inerentes a eles. Palavras-Chave: Mídias. Consumo. Marcas. Vigilância. Controle. Abstract: This article aims to problematize the concept of media, in dialogue with the media concepts defended by Meyrowitz, due to the internet of things and the fourth industrial revolution. If, in the 20th century, the concept of media was associated with the dissemination of information through the mass media, in the 21st century, this concept should be expanded and sought to understand objects capable of capturing, transmitting, storing and tracking data in real time, such as sunglasses, children's dolls and vacuum cleaners, not previously considered as media in the areas of Communication and Marketing. In the age of surveillance, we must consider a new type of media, the surveillant media, also reflecting on the media literacy to be brokered by it. In view of the scope of our object, we propose that this research make use of the method of cartography with its ability to perceive, in addition to phenomena, the collective planes of forces inherent to them. Keywords: Media. Consumption. Brands. Surveillance. Control.

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Consumo e Processos de Comunicação do XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019. 2 Doutora e Mestre em Comunicação Social pela UFPE. Professora permanente do PPGCOM e do Núcleo de Design e Comunicação do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE. E-mail: izabeladom@hotmail.

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XXVIII  Encontro  Anual  da  Compós,  Pontifícia  Universidade  Católica  do  Rio  Grande  do  Sul,  Porto  Alegre  -­‐  RS,  11  a  14  de  junho  de  2019  

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Introdução

A criação de uma arquitetura informativa que não se limita a distribuir informação,

mas que também é interativa, permitindo o diálogo entre dispositivos de conexão, bancos de

dados, pessoas “e tudo mais que existe” é um marco na história da comunicação. (LEMOS,

DI FELICE, 2014, p.07). Com a sociedade em rede, foi alterada a forma de transmissão das

informações de um modelo unidirecional (de emissor para receptor) para uma disseminação

de conteúdos completamente modificada, com a possibilidade de diversos atores passarem a

produzir e distribuir dados variados, tendo acesso a todos eles, simultaneamente.

Toda a sociedade, nos mais diversos setores (governo, economia, sociedade civil,

universidade, entre tantos outros), está sendo profundamente alterada e transformada por esta

nova arquitetura da informação. “Não me refiro apenas a conteúdo informativo, mas

podemos falar propriamente de um ecossistema de construção de informações”. (LEMOS, DI

FELICE, 2014, p.08). Ao se tornarem plurais e interativas, as mídias se transformaram na sua

forma e também na sua essência.

Vollmer e Precourt afirmam que estamos vivendo, de fato, uma midiamorfose. (2010,

p.43). O conhecimento que está sendo construído dentro do novo ecossistema da

comunicação em rede se baseia no diálogo, não é pré-determinado e pode ser construído

colaborativamente. (LEMOS, DI FELICE, 2014, p.08). Esse diálogo, inclusive, não se

estabelece mais somente entre humanos, porque os objetos também estão cada vez mais

conectados e se comunicarão ainda mais entre si, através da “internet das coisas”, um

conjunto de redes, sensores e atuadores ligados por sistemas informatizados, que ampliam a

comunicação entre pessoas e objetos, e entre os objetos de forma autônoma, automática e

sensível ao contexto. Quando tratamos da chamada internet das coisas, o usuário está fora do

núcleo central da mediação. Antes do humano ser acionado e reagir efetivamente ao comando

transmitido pelos objetos, esses já se comunicaram antecipadamente “sozinhos”, visto que

estão em rede, com sensores, banco de dados e GPS3, entre outros dispositivos,

interconectados. (LEMOS, 2013, p.242).

3 GPS é a sigla para Global Positioning System, que em português significa “Sistema de Posicionamento Global” e consiste numa tecnologia de localização por satélite. Disponível em: https://www.significados.com.br/gps/ Acesso em: 20/02/2019

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FIGURA 1 – Objetos conectados em rede FONTE – Site Help Digital4

Se os objetos mudam ao ganharem funções infocomunicacionais, as relações entre

eles e os humanos também mudam. Essas transformações nos levam a refletir,

inevitavelmente, sobre aspectos relativos aos perigos da vigilância, do controle, do

monitoramento e do automatismo. (LEMOS, 2013, p.240). Uma parte significativa do

sistema atual de vigilância eletrônica global ainda é baseada na interceptação de mensagens,

uma consequência da invenção do rádio, ligada à essência mesma das telecomunicações. O

rádio possibilitou a transmissão de mensagens para além dos continentes, permitindo também

que qualquer um pudesse escutá-las. A invenção do rádio deu uma nova importância à

criptografia - a arte e a ciência de criar códigos secretos - e parece estar na origem do

mercado de interceptação de sinais. (COSTA, 2004, p.163).

O rádio, bem como as demais mídias massivas que se configuraram como os

principais meios de difusão de informação no século XX, não detinham, entretanto, o poder

de capturar dados. Elas transmitiam dados, os quais, sim, poderiam ser capturados por

terceiros, não por elas mesmas, durante sua transmissão, de maneira sigilosa ou consentida,

como acontece, até hoje, por exemplo, com os aparelhos medidores de audiência televisiva

instalados nas residências, sob o consentimento dos moradores, para pesquisas de consumo

de mídia: os chamados peoplemeters. “Através desse acompanhamento, a empresa pode

avaliar como o usuário se comporta, que tipos de programas prefere, a que horas costuma

4 Disponível em: http://helpdigitalti.com.br/blog/revolucao-digital-internet-das-coisas/acesso em 02/02/2019.

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4 www.compos.org.br

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assistir à programação, quando está mais ausente ou mais presente enquanto audiência.”

(DOMINGUES, 2016, p.154). O peoplemeter permite aos anunciantes e emissoras de

televisão acompanharem o comportamento dos consumidores dessa mídia, a partir da

aprovação da instalação desses medidores nas residências dos pesquisados, para apreciar o

comportamento dos mesmos, com o intuito de utilizar esses dados a favor de suas estratégias

mercadológicas.

Com a quarta revolução industrial em curso5 e o uso crescente da internet das coisas,

objetos antes não considerados mídias passam a ser capazes de não somente transmitir

informações como capturar dados e até mesmo cruzá-los, em tempo real, com outras bases de

dados interligadas, com o consentimento e/ou a consciência do seu usuário ou não. Esse

fenômeno traz implicações éticas e legais, em debates cada vez mais complexos e urgentes,

estimulando-nos a discutir o próprio conceito de mídias conforme pensado ao longo do

século XX, antes dessa mudança de era, considerando-se que estamos presenciando não uma

era de mudanças, mas uma mudança de era, conforme avalia Schwab (2016).

1. Pensando as mídias em diálogo com Joshua Meyrowitz

De acordo Meyrowitz, é importante buscarmos entender, para além das questões

pertinentes às mensagens dos meios, tão recorrente nos estudos das mídias, a natureza e as

características dos meios em si mesmos, a fim de compreendermos de que maneira as

tecnologias de comunicação redefinem nossas percepções do mundo social, sobre os

relacionamentos pessoais e sobre nós próprios, num cotidiano no qual as identidades passam

pelas mídias (MARTINO, 2014, p.199). A maneira como os meios de comunicação se

articulam com o cotidiano dos indivíduos é uma das principais questões debatidas pela

“segunda geração” da Teoria dos Meios, na qual o pesquisador se insere.

Para Meyrowitz, há, pelo menos, três diferentes concepções do conceito de mídia,

as quais estão, por sua vez, associadas, a três noções respectivas de alfabetizações midiáticas.

De acordo com Meyrowitz, as alfabetizações midiáticas são competências que podem ser

5 A quarta revolução industrial é o estágio atual de desenvolvimento de máquinas e processos digitais, que está modificando profundamente a sociedade, seus modelos de negócios e cadeias produtivas. Economia compartilhada, big data, inteligência artificial, internet das coisas, cidades inteligentes, computação ubíqua, impressão 3D, tecnologias implantáveis, bitcoin, blockchain, mercado de dados pessoais, neurotecnologias e seres projetados são alguns dos fenômenos associados a ela. (SCHWAB, 2016).

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5 www.compos.org.br

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desenvolvidas para educar e conscientizar os cidadãos sobre as mídias, com suas

características, problemáticas e efeitos. (2001, p.88). Para o autor, as mídias podem ser

concebidas como as seguintes metáforas: 1) condutores; 2) linguagens; 3) ambientes,

podendo essas categorias se hibridizarem também. (2001, p.88).

Como condutores, os meios são capazes de transmitir mensagens. Para melhor lidar

com eles, os cidadãos devem ser alfabetizados, de maneira crítica, acerca dos seus conteúdos.

Ao apresentarem diferentes linguagens, as mídias devem ser “lidas” pelas audiências, através

de uma alfabetização sobre a gramática midiática, tornando-se capazes de entender o

significado das variáveis de produção inerentes a cada meio. Por último, os meios podem ser

entendidos como ambientes, levando-nos a buscar perceber a influência das características

relativamente fixas de cada uma das mídias, as quais impactam tanto as comunicações

individuais quanto os processos sociais em geral. (MEYROWITZ, 2001, p.88).

No artigo Understanding of Medias (1999), Meyrowitz pergunta que características

fixas fazem uma mídia diferente da outra fisicamente, psicologicamente e sociologicamente,

independentemente do conteúdo e das suas escolhas gramaticais. Nesta perspectiva,

buscamos, neste artigo, problematizar o conceito de mídia no contexto da internet das coisas

e da quarta revolução industrial, considerando a noção de mídia como ambiente à luz da

teoria de Meyrowitz. Defendemos que objetos antes não percebidos, stricto sensu, como

mídias estão se tornando as mídias mais complexas da história da comunicação, visto que,

para além de difundir informações, estão aptas a capturar dados dos seus usuários para fins de

vigilância e controle. Buscamos ampliar esse conceito com vistas a entender objetos como

bonecas, óculos de sol e aspiradores de pó, por exemplo, como mídias, visto que, no novo

ambiente midiático da sociedade em rede, esses objetos funcionam como veículos para

captura de dados dos públicos com os quais se relacionam e não para a transmissão de

informações como os veículos tradicionais de comunicação.

Meyrowitz observa que “a forma mais popular de se estudar os media é não tratar

realmente dos veículos” e dar mais atenção às mensagens transmitidas que às características

particulares dos mesmos (2001, p.88). No contexto da comunicação das coisas do século

XXI, tão importante quanto discutir os conteúdos dos meios é discutir os próprios meios nos

quais as informações são transportadas, buscando ampliar o conceito de mídias em função

das transformações sociotécnicas em andamento.

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As chamadas “novas mídias”, como Facebook, Google e Instagram, são percebidas

como meios de comunicação e também têm a capacidade, em função de sua natureza digital,

de capturar e armazenar dados produzidos pelas suas audiências. São mídias tanto de difusão

de informações quanto de captura de dados. O que dizer, entretanto, de objetos nunca

considerados mídias, como óculos de sol, bonecas e aspiradores de pó, num contexto de

internet das coisas, em que esses objetos são inseridos em ambientes, por exemplo,

domésticos, como meios de captura de dados acerca dos comportamentos de consumo dos

seus usuários? Eles não seriam mídias, conectando produtores e consumidores de dados,

sendo que, nesse caso, inversamente à lógica dos meios de massa tradicionais, os produtores

são os públicos-alvo e os consumidores dos dados são as corporações e os governos

interessados em conhecê-los mais detalhadamente?

Considerando o advento da internet das coisas, as transformações promovidas pela

quarta revolução industrial e a expansão do mercado de dados pessoais6, postulamos que há

uma nova configuração de mídias que precisam ser estudadas, especialmente pelos campos

do Marketing e da Comunicação mercadológica: as mídias vigilantes. Para se relacionar com

as mídias vigilantes, os cidadãos precisam desenvolver outras habilidades e conhecimentos,

precisam ter outra “alfabetização midiática”, considerando a perspectiva adotada por

Meyrowitz e, por conseguinte, o entendimento desse novo tipo de mídia como ambiente, com

suas implicações nos processos sociais.

2. As mídias na era da vigilância e as mídias vigilantes

Segundo Lyon (1998), vivemos a era da vigilância, intensificada, nos últimos 20 anos,

pelo uso da internet para os mais diversos fins. Para o autor, há três formas principais de

vigilância na rede: 1) Vigilância pela Entidade Patronal; 2) Vigilância de Segurança e

Policiamento; 3) Vigilância com Fins Comerciais e Marketing, estando as duas últimas

formas de vigilância em plena expansão na atualidade. Para que esses três tipos de vigilância

sejam exercidos na internet, são necessários dispositivos que possibilitem o acesso aos mais

6 Para Silveira, Avelino e Souza, “o mercado de dados pessoais é cada vez mais relevante na sociedade informacional e pode ser entendido como as interações econômicas voltadas à compra e venda das informações relativas a uma pessoa identificada ou identificável, direta ou indiretamente.” (2016, p.219).

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variados dados de consumidores e cidadãos (dados governamentais, comerciais,

profissionais, pessoais, dentre outros).

Na sociedade de controle, o marketing e a vigilância eletrônica estão profundamente

interligados. As comunicações cotidianas estão cada vez mais imbricadas com as práticas de

vigilância e controle, sem, no entanto, serem percebidas como tal por parte da sociedade. É

comum, no Brasil, estabelecimentos comerciais como farmácias, por exemplo, solicitarem

aos seus clientes que informem os números dos seus cadastros de pessoa física, comumente

chamado de CPF, a fim de oferecerem vantagens nas próximas compras, como bônus, pontos,

descontos e ofertas. Os números do CPFs dos brasileiros acarretam o acúmulo de uma série

de dados sobre os hábitos de consumo dos seus titulares, sua geolocalização, sua condição

socioeconômica e outras informações relevantes acerca dos perfis como consumidores e

cidadãos.

As empresas buscam, através do cruzamento dos dados e do monitoramento das

informações fornecidas pelos consumidores, inclusive nas redes sociais digitais, realizar uma

espécie de seleção natural dos clientes, divididos entre fortes e fracos para o consumo. Nesse

apartheid com fins comerciais, pessoas sem dinheiro, cartões de crédito e “entusiasmo por

compras” seriam devidamente separadas do alvo preferencial: pessoas com maior capacidade

de compra e interessadas por consumir. (BAUMAN, 2008, p.11). Há, hoje, um verdadeiro

complexo de vigilância comercial, modificando, profundamente, as relações das empresas

com os consumidores a partir da promoção tanto da vigilância continuada quanto do fim da

privacidade em escala global.

Ao adotar um e-mail do Gmail, o usuário possibilita que a empresa faça a “leitura”

das mensagens enviadas para identificação de palavras-chave que determinam o tipo de

publicidade que o usuário deve receber. “Quando uma pessoa lê o e-mail do pai falando sobre

o futebol do fim de semana, e ao lado do e-mail vem uma série de anúncios sobre chuteiras,

calção e bolas de futebol; é de se espantar”. (FREIRE, 2006, p.186). Esta “política”

promovida por empresas como o Google e o Facebook está sendo alvo de questionamentos

mais efetivos desde maio de 2018, quando o Parlamento Europeu convocou o fundador do

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Facebook, Mark Zuckerberg, para prestar contas do modelo de negócios do seu

conglomerado de empresas pautado, supostamente, no mercado de dados pessoais7.

Mídias vigilantes corporativas domésticas, como bonecas, aparelhos de televisão e

aspiradores de pó, por exemplo, apresentam-se como uma espécie de cavalos de Tróia da

sociedade informacional global, sendo levadas pelos próprios consumidores para dentro de

seus lares, muitas vezes sem saber que seus dados serão coletados e armazenados pelas

empresas com fins variados. Segundo Julian Assange:

Ao contrário de agências de inteligência, que espionam linhas de telecomunicações internacionais, o complexo de vigilância comercial atrai bilhões de seres humanos com a promessa de "serviços gratuitos". Seu modelo de negócio é a destruição industrial da privacidade.8

Informações antes somente acessadas e conhecidas por pessoas de nosso convívio

diário, íntimo e pessoal são, agora, facilmente coletadas pelas empresas através das mídias

sociais e, cada vez mais, também pelos dispositivos domésticos digitais. A vigilância e o fim

da privacidade parecem estar na base do desenvolvimento dos negócios do Google e de

outras corporações com produtos antes livres de qualquer suspeita sobre suas finalidades,

como óculos de sol, brinquedos infantis e eletrodomésticos. Na era da vigilância, não

somente as plataformas digitais de comunicação como sites, portais e mídias sociais se

configuram como mídias capazes de vigiarem seus consumidores, extraindo deles seus dados

mais pessoais e relevantes, como objetos de uso cotidiano, agora conectados à internet das

coisas e modificados por recursos de inteligência artificial, podem ser considerados também

mídias vigilantes. A quarta revolução industrial, movida por novas tecnologias associadas à

inteligência artificial, à automação, à programação dos algoritmos, aos sensores e chips cada

vez menores e mais potentes, contribui para uma reconfiguração dos objetos mais banais que,

num cenário de internet das coisas, passam a se comunicar e trocar informações como não

seria possível antes.

Uma quantidade exponencial de dados submetida a procedimentos algorítmicos

7 Disponível em: https://exame.abril.com.br/tecnologia/zuckerberg-vai-responder-o-parlamento-europeu-sobre-vazamento-de-dados/ Acesso em 20/02/2019. 8Disponível em:<http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/the-new-york-times/2014/12/16/opiniao-negocio-do-google-e-facebook-e-a-destruicao-industrial-da-privacidade.htm>Acesso em 16/12/2014

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apropriados é capaz de revelar diversas correlações de regras. Essas, por sua vez, permitem

projetar padrões de comportamento com a finalidade de intervir no curso das ações dos

indivíduos, a fim de reprimi-las quando indesejadas ou estimulá-las quando avaliadas

positivamente. Trata-se de um modelo polivalente. Pode-se extrair, por exemplo, padrões de intenções de voto, de consumo ou de atentados terroristas, contanto que se trabalhe com imensas e heterogêneas bases de dados. Se estes dados forem fornecidos pelos próprios indivíduos, como é o caso de boa parte da internet, tanto melhor. A sedução do modelo que já faz a fortuna das empresas citadas no documento consiste em seus poderes pretensamente preditivos. O monitoramento em massa de ações no presente, juntamente com a análise das correlações entre elas, permitiria estimar probabilidades de ocorrência de ações futuras. (BRUNO, 2013).

Este modelo utilizado para ofertar produtos, links e serviços, é apropriado pelo

aparato de vigilância estatal indiscriminada sobre internautas sem que esses tenham

conhecimento. Trocar informações sobre seus modos de vida pelo uso de plataformas e

serviços na internet virou algo cotidiano para milhões de pessoas em todo o planeta e esse

manancial de dados sobre todos os setores das vidas dos internautas serve como fonte de

informação para tomadas de decisões tanto em âmbito governamental quanto corporativo.

“Sabemos que eles nos transformam em produtos de seus negócios, e ao mesmo tempo

acreditamos que podem ser apropriados em outras direções sociais, políticas e econômicas.”.

(BRUNO, 2013).

Nessa perspectiva, entendemos como mídias vigilantes todos os dispositivos

infocomunicacionais, que, a despeito de funcionarem com meios de difusão de informação ou

não, têm a propriedade de capturar, retransmitir, armazenar e/ou cruzar dados com fins de

vigilância corporativa ou governamental na sociedade em rede. Esses dispositivos podem

fazer parte do nosso cotidiano em ambientes públicos ou privados e terem finalidades

comerciais ou regulatórias. As mídias vigilantes configuram um novo ecossistema midiático

de vigilância de massa que aprofunda ainda mais a assimetria de poder entre aqueles que

vigiam e aqueles que são vigiados em escala global.

As mídias vigilantes se dividem em dois grupos: mídias vigilantes corporativas e

mídias vigilantes governamentais. As mídias vigilantes corporativas têm como objetivo

principal vigiar os consumidores para melhor entender seus comportamentos de consumo,

seus perfis demográficos e psicográficos, para geolocalizar potenciais clientes e clientes

fidelizados em tempo real, transformando esses dados em informações estratégias para ações

táticas com fins mercadológicos. As mídias vigilantes corporativas são os principais

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dispositivos de transação de dados utilizados pelo mercado de dados pessoais, “que ganhou

força e se agigantou a partir do espraiamento das tecnologias da informação e comunicação”,

de acordo com Silveira, Avelino e Souza (2016, p.219). Não podemos esquecer que esse

mercado conta com grandes players globais como o Google e o Facebook, além de todas as

empresas pertencentes a esses grandes conglomerados, através de fusões, aquisições,

extensões de marca e subprodutos. As mídias vigilantes governamentais estão associadas a

governos e órgãos públicos com o interesse de melhor controlar os cidadãos, capturar dados e

traçar políticas públicas e dispositivos biopolíticos de prevenção de acidentes e

acontecimentos indesejados, seguindo a lógica preditiva própria da sociedade de controle,

que busca o monitoramento constante das populações com o intuito de antecipar fatos, ao

invés de agir reativa e posteriormente a eles (NUNES, 2010 in DOMINGUES, 2016, p.99).

A fim de melhor discutir esses fenômenos, utilizamos o método qualitativo da

cartografia a fim de iniciar, neste artigo, um mapeamento das mudanças sociais e midiáticas

que levam ao advento da criação e disseminação das mídias vigilantes no primeiro quarto do

século XXI. Tal método também possibilitará a observação dos pontos de deriva e de

resistência relacionados à utilização crescente dessas mídias em ambientes públicos e

privados em diálogo com uma alfabetização midiática que possibilite a melhor compreensão

crítica das mídias vigilantes em consonância com os postulados de Meyrowitz (2001).

A cartografia como método de pesquisa consiste numa prática de desconstrução de

um plano coletivo de forças, que busca revelar a gênese constante das formas empíricas, ou

seja, o processo de produção dos objetos do mundo. Ao lado dos contornos estáveis do que

denominamos formas, objetos ou sujeitos, coexiste o plano das forças que os produzem.

“Longe de limitar seu olhar à realidade fixa, tal como propõe a abordagem da representação,

a cartografia visa à ampliação de nossa concepção de mundo para incluir o plano movente da

realidade das coisas.”. (ESCÓSSIA; TEDESCO, 2012, p.92). A cartografia configura, dessa

forma, um processo de conhecimento, que não se restringe a descrever ou classificar os

contornos formais dos objetos do mundo. Pelo contrário, busca traçar o movimento próprio

que anima esses objetos: seu processo constante de produção (ESCÓSSIA; TEDESCO, 2012,

p.92), exatamente como pretendemos fazer ao buscar melhor entender as mídias vigilantes na

sua condição de ambiente e os movimentos de produção e consumo desses objetos

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sociotécnicos em rede, assim como os desafios associados a eles e o plano coletivo de forças

que os cercam.

2.1 Mídias Vigilantes Corporativas

As mídias vigilantes corporativas são meios de captura de dados com fins comerciais

e mercadológicos que podem ter a função de meios de difusão de informação ou não. Um

exemplo de mídia vigilante corporativa que, além de capturar dados dos seus usuários,

também funciona como um meio tradicional de difusão de informação são os aparelhos de

televisão americanos da marca Vizio. Em 2017, as mais vendidas tevês dos Estados Unidos

ganharam os noticiários com a revelação pública de que estavam monitorando tudo o que as

pessoas assistiam. A tevê espiã identificava detalhadamente os hábitos de cada família e a

empresa fabricante oferecia essas informações a anunciantes, que poderiam usá-las para

exibir propagandas direcionadas.

Sistemas informáticos possibilitam que os registros dos clientes sejam armazenados a fim de classificá-los como mais ou menos interessantes do ponto de vista comercial para a companhia. Em outras palavras, elas necessitam de uma espécie de “vigilância negativa”, ao estilo do Big Brother de Orwell ou do tipo panóptico, uma geringonça semelhante a uma peneira que basicamente executa a tarefa de desviar os indesejáveis e manter na linha os clientes habituais – reapresentada como o efeito final de uma limpeza bem feita. (BAUMAN, 2008, p.11).

Outro exemplo de mídia vigilante corporativa que captura dados dos seus usuários,

mas não funciona como um meio tradicional de difusão de informação, são as bonecas da

marca Hello Barbie. A Hello Barbie é uma versão interativa da boneca mais famosa do

mundo, que vem equipada com microfone e interface WLAN, capaz de enviar dados para a

nuvem. As conversas das crianças com as bonecas são gravadas e armazenadas nos

servidores da ToyTalk, empresa responsável pela tecnologia. O modelo interativo da Barbie

possibilita aos pais, inclusive, fazer upload e compartilhar as conversas on-line. “Uma Barbie

interativa, com a qual é possível se relacionar, é um sonho para muitas crianças. Para outras

pessoas, no entanto, significa uma invasão ao espaço delas.”. Chamada de Barbie-escuta, a

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boneca foi alvo de uma petição online de pais preocupados com o abuso da privacidade

infantil.9

FIGURA 2 – Bonecas modelo Hello Barbie FONTE – Site Novos Horizontes FM10

Podemos entender a Hello Barbie como uma mídia se adotarmos a perspectiva de

Meyrowitz em relação aos mídias como ambientes nos quais é possível perceber a influência

das características relativamente fixas de cada meio tanto nas comunicações individuais como

nos processos sociais em geral.

2.1.1 Mídias Vigilantes Corporativas Domésticas

Dentro do grupo das mídias vigilantes corporativas, podemos identificar um subgrupo

formado por mídias vigilantes corporativas que se utilizam de produtos de uso domésticos,

como os televisores da marca Vizio, já mencionados, e o aspirador de pó Roomba, de que

vamos tratar a seguir. Uma série de objetos domésticos, historicamente vistos como artefatos

banais e corriqueiros, para uso cotidiano e rotineiro nos lares das famílias de todo o mundo,

têm se tornado, dentro desse contexto, mídias vigilantes domésticas. Entendemos por mídias

vigilantes domésticas os mais diversos dispositivos que, além de fazerem parte do convívio

9 Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/barbie-interativa-gera-polemica-por-invasao-de-privacidade,1bbe7eb88d94ca9b0e2584eab23bff8e6xgjssxt.html. Acesso em 18/11/2017 10 Disponível em: http://www.novoshorizontesfm.com/noticias/view/id/7651/nova-barbie-com-wifi-pode-apresentar-risco-as-meni.html Acesso em 25/02/2018

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com as pessoas nos seus ambientes familiares, são capazes de transmitir informações acerca

do seu uso e dos espaços que habitam e nos quais circulam, para os fins mais diversos,

configurando-se como plataformas de transmissão de dados para usos mercadológicos num

cenário de capitalismo de vigilância baseado em novas tecnologias cada vez mais complexas

associadas à quarta revolução industrial, como a inteligência artificial e a internet das coisas.

Roomba 980 é um pequeno robô capaz de aspirar o pó das casas, que usa uma câmera

e sensores para se lembrar onde estão as paredes e os móveis da sua casa. Ele tem conexão

wi-fi e pode ser controlado pelo smartphone. Roomba tem a capacidade de mapear as casas e

enviar dados sobre os lares mapeados para a rede mundial de computadores. Mais que um

mero utensílio doméstico, é um eletrodoméstico que opera dentro da internet das coisas e se

configura como uma mídia, ou seja, um meio de captura e transmissão de informações.

FIGURA 3 – Aspirador de pó da marca Roomba

FONTE – Site El País11

Meyrowitz propõe que as diversas mídias são centrais para a compreensão dos

processos sociais, políticos e históricos de uma época. (apud MARTINO, 2014, p.199). Daí

por que se torna fundamental o estudo destes artefatos domésticos na condição de novas

mídias que mobilizam diversos atores sociais na contemporaneidade e articulam novas

problematizações de ordem social, cultural, econômica e política.

2.2 Mídias Vigilantes Governamentais

11 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/26/tecnologia/1501047333_849632.html Acesso em 17/02/2018

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Sessenta mil cidadãos circulam diariamente pelas estações ferroviárias da cidade de

Zhengzhou, capital da província superpopulosa de Henan, na China. Desde o início de 2018,

entretanto, não passam mais despercebidos pelos policiais, que utilizam novos óculos de sol

dotados de inteligência artificial capaz de realizar procedimentos de reconhecimento facial.12

Como uma mídia vigilante, os óculos dos policiais chineses capturam, através de uma

pequena câmera, os dados de identificação dos rostos do cidadãos e cruzam essas

informações com arquivos pertencentes a bancos de dados da polícia chinesa. Os resultados

dos cruzamentos das informações aparecem rapidamente num dispositivo móvel semelhante

a um tablet. De acordo com o porta-voz do departamento provincial de Segurança Pública,

Zhang Xiaolei, é necessário apenas uma imagem do rosto da pessoa para iniciar a busca, uma

melhora significativa em comparação com sistemas anteriores que requeria várias fotos

tiradas de ângulos diferentes.

FIGURA 4 – Policial chinesa com óculos que reconhece faces FONTE – Site El País13

O Partido Comunista da China considera o uso da inteligência artificial estratégico e

vem intensificando-o a título de segurança nacional, o que já acarretou a identificação de

motoristas que violam as leis de trânsito em Xangai, a localização, de uma criança

sequestrada em Shenzhen em poucas horas e a prisão de pessoas procuradas pela polícia em

grandes eventos como o Festival Internacional da Cerveja da cidade costeira de Qingdao.

12 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/internacional/1518007737_209089.html Acesso em 23/02/2018. 13 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/internacional/1518007737_209089.html Acesso em 23/02/2018.

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Com a ajuda desses óculos – que têm uma estética parecida com os lançados pelo Google – sete pessoas foram presas desde 1º de fevereiro por crimes como tráfico humano ou fuga após um atropelamento. Além de procurar suspeitos, o sistema permite verificar a identidade de qualquer pessoa escaneada. Por isso também foram presos 26 passageiros que viajavam com documentação falsa.

Em breve, a cidade de Pequim irá implantar um sistema de reconhecimento facial que

permitirá identificar qualquer um dos quase 1,4 bilhão de cidadãos chineses em apenas três

segundos e com uma precisão de 90%. A pretensão do governo é conectar esse sistema com

as dezenas de milhões de câmeras de circuito fechado instaladas por todo o país. Com mídias

vigilantes governamentais móveis como esses óculos, o controle sobre a população tenderá a

se tornar ininterrupto e onipresente.14 Para Staples (2000), "a teoria de vigilância pós-

moderna lida com novas formas de vigilância e visibilidade, é caracteriza por ter um elevado

componente de base tecnológica, por ser realizada diariamente e disseminada espacialmente".

Estes avanços à disposição do imenso aparato policial do Estado chinês são vistos pelos

críticos com preocupação por suas implicações em termos de privacidade e há receios de que

sejam usados para sufocar qualquer indício de dissidência.15

No contexto da vigilância de massa crescente, com o aumento das informações e

poder do Estado e o aumento da capacidade de armazenar, transmitir, processar e cruzar

informação, têm surgido grandes bancos de dados que funcionam com pouco ou mesmo sem

nenhum controle do cidadão (MACHADO, 2014, p.506).

As tecnologias que facilitam a vigilância estatal das comunicações têm avançado, sem que a sociedade possa fazer frente à tal expansão. Por outro lado, organizações da sociedade civil e organismos estatais que atuam em defesa do cidadão têm se esforçado em estabelecer leis, regulamentos e autoridades destinadas a exercer a vigilância de modo compatível com a proteção dos direitos humanos dentro de padrões internacionais. (MACHADO, 2014, p.506)

Para fins didáticos, classificamos as mídias vigilantes em dois tipos, de acordo com os

atores sociais que têm interesse acerca dos dados coletados e transmitidos por elas:

corporações privadas ou instituições governamentais. Vale salientar, entretanto, que, há, na

atualidade ampla e crescente colaboração entre empresas e governos relacionada à coleta e ao

cruzamento de dados num contexto de vigilância massiva. Dados coletados por mídias

14 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/internacional/1518007737_209089.html Acesso em 23/02/2018. 15 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/internacional/1518007737_209089.html Acesso em 23/02/2018.

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vigilantes corporativas podem vir a ser utilizados por órgãos públicos e vice-versa. O caso

dos programas de nota fiscal são um exemplo dessa porosidade entre a captura e trocas de

dados entre a esfera pública e privada e da falta de regulação que estabeleça proteções

razoáveis aos dados pessoais de milhões de consumidores que tem grande valor de mercado –

uma vez que determinam diretamente padrões de consumo e comportamento.

Há, em diversas cidades do Brasil, programas para estimular os consumidores a

exigirem a entrega do documento fiscal na hora da compra a fim de diminuir a sonegação

fiscal. Esses programas devolvem parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços (ICMS) recolhido pelo estabelecimento a seus consumidores, que podem receber na

forma de créditos ou mesmo de dinheiro depositado em conta bancária. Entretanto, para que

programas de nota fiscal funcionem, é necessária a identificação do consumidor no

documento, através do CPF, o que leva à associação individual do cidadão a todos os dados

da compra, como, por exemplo, item adquirido, quantidade, valor, local, dia e hora. Com esse

registro é possível produzir perfis individuais de consumo detalhados de milhões de pessoas.

Esses dados são armazenados no estabelecimento que realizou a venda e a coleta dos dados e

também numa base de dados da respectiva Secretaria da Fazenda estadual. (MACHADO,

2014, p.507).

3. Alfabetização midiática para mídias vigilantes

Sanchez-Ocaña observa que há, na atualidade, muitas tentativas de ridicularizar o

apreço à privacidade pessoal sob o argumento de que a privacidade é inimiga da inovação ou

representa um freio para serviços úteis e inovadores aos quais poderíamos ter acesso. Ele

alerta, entretanto, que devemos ter consciência de que a privacidade constitui uma parte

imprescindível de nossa vida on-line. “Temos de aprender a geri-la e a expô-la de maneira

que consideramos mais adequada, conceder-lhe seu justo valor e entender as implicações de

nossas decisões”. (2013, p.281). Através da alfabetização midiática para mídias vigilantes,

consumidores e cidadãos podem entender de maneira crítica os diversos usos possíveis dessas

mídias, relacionando-se com elas de maneira mais atenta e se precavendo de eventuais abusos

cometidos na captura e no uso dos dados pessoais.

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Martino observa, à luz do pensamento de Meyrowitz, que a definição da identidade de

uma pessoa parece se formar à medida que o indivíduo é envolvido por fluxos de

informações e é capaz de compreendê-los. Alerta-nos para o fato de que o acesso às

informações é um fator crucial para a definição das fronteiras sociais entre os indivíduos mais

do que as informações em si mesmas. É esse acesso que mostra a cada um qual é seu espaço

e, desta forma, indica, em alguma medida, quem se é. (2014, p.201).

Nessa perspectiva, podemos entender que compreender objetos antes não

considerados mídias como mídias efetivamente, possibilita às pessoas, que se relacionam

com esses artefatos, um entendimento de mundo e de si mesmas diferente daquele

desenvolvido pelos sujeitos que fazem uso desses objetos de forma ingênua, sendo incapazes

de ler suas características e finalidades. Ter a consciência de que objetos do seu cotidiano e

do cotidiano de sua família se configuram hoje como mídias vigilantes possibilita a tomada

de posições políticas mais críticas e até mesmo da criação de estratégias e táticas de

contravigilância em função desse entendimento.

Com efeito, torna-se cada vez mais necessária uma alfabetização midiática das

audiências em relação às mídias vigilantes e essa alfabetização se dará de maneira mais

efetiva tanto mais artefatos, como aqueles que compõem o corpus deste artigo, sejam

nomeados, entendidos e discutidos como mídias. A alfabetização midiática para mídias

vigilantes emergirá como um dispositivo necessário para refletir sobre as relações de poder

dentro de um contexto de internet das coisas, estágio mais recente de uma internet que,

inicialmente, conectou computadores, atualmente conecta pessoas e, até 2025, conectará cada

vez mais objetos entre si.

Como nos lembra Meyrowitz, o modelo de múltiplas alfabetizações midiáticas “não

exige um conjunto finito de saberes que tornam alguém mídia alfabetizado”. É irreal, para o

autor, esperarmos que um programa qualquer de alfabetização midiática possa ensinar tudo

que nós pudéssemos sonhar que crianças e adultos soubessem sobre os veículos. (2001, p.88).

Essa constatação, entretanto, não nos leva a dispensar a alfabetização midiática para esses

novos meios, considerando que eles serão utilizadas por um número cada vez maior de

pessoas, com o passar dos anos, em âmbito global. Defendemos, com Meyrowitz, que uma

consciência mais ampla dos vários tipos de alfabetização midiática pode promover

habilidades nos cidadãos para melhor entenderem e participarem de uma sociedade “saturada

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pelos media” (2001, p.88).

Quando divulgou a foto feita para comemorar os 500 milhões de usuários no

Instagram, Mark Zuckerberg mostrou, involuntariamente, para as audiências que, diante da

sua alfabetização midiática para mídias vigilantes, utiliza um método simples para proteger

seu notebook. Instalou fitas adesivas sobre a câmera e o microfone do equipamento, vedando-

os, com o intuito de impedir que suas imagens e áudios circulem sem consentimento pela

rede. Assolini, analista da empresa de segurança Kaspersky, comentou que o principal

motivo para as pessoas tomarem uma atitude como essa é evitar espionagem, “por meio da

introdução de um software malicioso no computador que possa usar a câmera e os

microfones do computador para gravar suas conversas”.16 Essa gambiarra, acessível a

qualquer usuário de computadores, é uma contrapartida física (vedando a câmera e abafando

o som do microfone) para um possível ataque de “softwares maliciosos”, os chamados RATs

(remote access tool).17 Uma forma astuciosa de ler a mídia de captura e transmissão de dados

e se colocar de forma contravigilante em relação a esses meios.

FIGURA 5 – Computador de Zuckberg com câmera coberta por adesivo FONTE – Estadão18

Assolini destaca, entretanto, que usar a fita adesiva é uma boa estratégia, mas não é o

suficiente para se proteger no mundo digital. Uma das formas mais eficazes de se precaver do 16 Disponível em: http://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,por-que-mark-zuckerberg-usa-fita-adesiva-na-webcam-do-notebook,10000061108 Acesso em 25/02/2018. 17 Disponível em: http://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,por-que-mark-zuckerberg-usa-fita-adesiva-na-webcam-do-notebook,10000061108 Acesso em 25/02/2018. 18 Disponível em: http://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,por-que-mark-zuckerberg-usa-fita-adesiva-na-webcam-do-notebook,10000061108 Acesso em 25/02/2018.

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acesso indevidos a seus dados é usar um software nos dispositivos para se proteger, “como a

gente usa duas ou mais trancas na porta da nossa casa”.19 Sem a alfabetização midiática em

relação às mídias vigilantes, os consumidores e cidadãos não cientes desses mecanismos

ficam mais vulneráveis e indefesos que aqueles com repertório crítico acerca da conformação

dessas mídias como ambientes.

Considerações Finais

Na segunda era das máquinas, a riqueza há mais de um século produzida pelos meios

físicos passa a ser produzida, cada vez mais, pela mente humana e suas extensões digitais, o

que promove uma mudança de paradigma capaz de impactar todos os setores e agentes

produtivos. (BRYNJOLFSSON, McAFEE, 2015, p.11). Na era em que os dados são

considerados o novo petróleo, em função da sua capacidade de gerar riquezas, as mídias

vigilantes se tornam dispositivos que requerem nossa atenção e estudos críticos.

Os sensores e vários outros meios de conectar as coisas do mundo físico às redes virtuais estão se proliferando em um ritmo impressionante. Sensores menores, mais baratos e inteligentes estão sendo instalados em casas, roupas e acessórios, cidades, redes de transportes e energia, bem como nos processos de fabricação. (SCHWAB, 2016, p.27)

Os sistemas ciberfísicos capazes de se comunicarem entre si e com os humanos estão

no centro da revolução em ascensão. No final do século XVII, a máquina a vapor foi quem

regeu uma série de transformações sociais e econômicas. Nas primeiras décadas do século

XXI, os responsáveis por uma transformação radical nos processos produtivos serão os robôs

integrados a sistemas ciberfísicos. A quarta revolução industrial está associada à

convergência entre tecnologias digitais, físicas e biológicas, promovendo uma disrupção

entre campos e saberes antes apartados na história da humanidade. No centro do debate,

desafiando setores, grupos sociais e sujeitos, não podemos nos furtar a discutir o eminente

“darwinismo tecnológico”, onde aqueles que não se adaptarem às mudanças terão, talvez,

muitas dificuldades de se manterem integrados e produtivos.

Este estudo reivindica a condição de mídias para artefatos até então não percebidos

como tal a fim de ampliar as discussões sobre os estudos da mídia, considerando e 19 Disponível em: http://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,por-que-mark-zuckerberg-usa-fita-adesiva-na-webcam-do-notebook,10000061108 Acesso em 25/02/2018.

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problematizando esses veículos e alertando para a necessidade de uma alfabetização

midiática crescente associada ao entendimento desses artefatos que terão um protagonismo

cada vez maior em nossas vidas nas próximas décadas.

Referências

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Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

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