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SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SãO PAULO COORDENAçãO DE RECURSOS HUMANOS CENTRO DE FORMAçãO E DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHADORES DA SAÚDE CURSO TÉCNICO DA ÁREA DA SAÚDE HABILITAÇÃO PROFISSIONAL DE TÉCNICO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE MÓDULO I – AS PRÁTICAS DA SAÚDE E O SUS CONSTRUINDO ALICERCES PARA TRANSFORMAR UNIDADE I – RELAÇÃO SAÚDE E SOCIEDADE INSTRUMENTALIZANDO PARA A PRÁTICA Série A. Normas e Manuais Técnicos BRASíLIA – DF 2007

MÓDULo I – AS PRÁTICAS DA SAÚDE E O SUS CONSTRUINDO ...bvsms.saude.gov.br/bvs/...comunit_saude_mod1_unid1.pdf · Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional

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SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE São PAULoCooRDENAção DE RECURSoS HUMANoS

CENTRo DE FoRMAção E DESENvoLvIMENTo DoS TRAbALHADoRES DA SAÚDE

CURSo TÉCNICo DA ÁREA DA SAÚDEHABILITAÇÃO PROFISSIONAL DE TÉCNICO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

MÓDULo I – AS PRÁTICAS DA SAÚDE E O SUS CONSTRUINDO ALICERCES PARA TRANSFORMAR

UNIDADE I – RELAÇÃO SAÚDE E SOCIEDADE INSTRUMENTALIZANDO PARA A PRÁTICA

Série A. Normas e Manuais Técnicos

bRASíLIA – DF2007

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© 2007 Secretaria Municipal da Saúde de São PauloTodos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs

Série A. Normas e Manuais Técnicos

Tiragem: 1.ª edição – 2007 – 7.000 exemplares

Elaboração, distribuição e informações:SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO PAULOCoordenação de Recursos HumanosCentro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde Escola Técnica do Sistema Único de Saúde de São PauloRua Gomes de Carvalho, 150, Vila OlímpiaCEP: 04547-001, São Paulo – SPTel.: (11) 3846-4569Fax: (11) 3846-4569E-mail: [email protected] Elaboração:Julieta Hitomi OshiroMaria do Carmo Sales MonteiroMarly R. Rodrigues S. CroisfeltRegina D’Alva ViannaSebastião Lázaro Ortiz

Colaboração:Equipe Técnica da ETSUS-SPAlva Helena de AlmeidaAngela Maria AlbertonAusônia Favorido DonatoDécio Trotta JuniorDenize Cidalia MalschitzkyJaqueline Alves Lopes SartoriIrene Tanno Agra

Centro de Documentação do CEFORCélia Médici Bezerra da Silva

Agradecimento:Equipe do CEFOR

Apoio: Ministério da Saúde

Projeto gráfico e capa: Dino Vinícius Ferreira de AraujoEditoração: Julieta Andréa Esmeraldo Carneiro

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalográfica da OS 0009 – Módulo I Unidade I

São Paulo (Cidade). Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação de Recursos Humanos, Centro de Formação e Desenvolvimento dos

Curso técnico da área da saúde: habilitação profissional de técnico agente comunitário de saúde: módulo I: as práticas da saúde e o SUS – construindo alicerces para transformar: unidade I: relação saúde e sociedade - instrumentalizando para a prática / Secreta-ria Municipal da Saúde, Coordenação de Recursos Humanos, Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde. Escola Técnica do Sistema Único de Saúde de São Paulo– Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 113 p. : il (Série A. Normas e Manuais Técnicos)

ISBN 978-85-334-1384-9

1. Sistema Único de Saúde. 2. Agente Comunitário de Saúde. 3. Secretaria Municipal de Saúde (São Paulo). I. Título.

NLM WA 525-546Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2007/ 0009

Títulos para indexação:Em inglês: Technical Course on Health: Professional Qualification of Social Health Technician Agent: Module I - Health Practices and SUS: building foundations to transform: Unit I - Health and Society Relations: Preparation to PracticesEm espanhol: Curso Técnico en el Àrea de Salud: Habilitación Profesional de Técnico Agente Comunitario de Salud: Módulo I – Las Prácticas de Salud y SUS – Construyendo para Cambiar: Unidad I – Relación Salud y Sociedad - Preparación para la Práctica

Lilian Nishimura KitaMaria Cecilia Machado GregoRosileni Alves da SilvaSuely Yuriko MiyashiroTânia Maria Vargas Escobar AzevedoValderês Pepe KesseVera Lúcia de BarrosVerônica Vanderlei Cavalcante

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DO CURSO ........................................................................................... 4

OBJETIVOS .......................................................................................................................6

COMPETÊNCIAS DO TÉCNICO AGENTE DE SAÚDE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ....7

ITINERÁRIO DE FORMAÇÃO .........................................................................................9

MÓDULO I – As Práticas de Saúde e o SUS: Construindo Alicerces para Transformar .....10

UNIDADE I – Relação Saúde e Sociedade: Instrumentalizando para a Prática ...................10

TEMA 1 – Processo Saúde-Doença: Significações e Perspectivas em Mudança ..................11

Entrevista .........................................................................................................................13

Processo Saúde-Doença ....................................................................................................14

Instrumentos de Registro e Avaliação ................................................................................18

TEMA 2 – Organização da Sociedade Brasileira ...............................................................20

Formação da Sociedade Brasileira: aspectos étnicos, sociais, econômicos,

políticos e culturais ............................................................................................................22

Diversidade e Desigualdade Social ....................................................................................38

Instrumentos de Registro e Avaliação ................................................................................46

TEMA 3 – Políticas de Saúde no Brasil: A Construção do SUS ..........................................50

ABC do SUS – Doutrinas e Princípios ...............................................................................53

Instrumentos de Registro de Avaliação ..............................................................................60

ANEXOS ..........................................................................................................................62

Anexo A Lei n.° 8.080 ...................................................................................................62

Anexo B Lei n.° 8.142, de 28 de dezembro de 1990 ......................................................65

Anexo C Lei n.º 13.325 ...............................................................................................67

Anexo D Decreto n.° 42.005 .........................................................................................69

Anexo E Normas Operacionais para o SUS: NOB e NOAS ............................................71

Anexo F Carta de Direitos dos Usuários do SUS ............................................................74

Anexo G Rap do SUS ....................................................................................................79

TEMA 4 – SUS na Secretaria Municipal da Saúde .............................................................82

A Construção do Sistema Único de Saúde no Município São Paulo ...................................84

Instrumentos de Registro e Avaliação ................................................................................88

ANEXO - Documento Norteador: Compromisso das Unidades Básicas de Saúde com a

População .........................................................................................................................91

Trabalhadores da Saúde. Escola Técnica do Sistema Único de Saúde de São Paulo

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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APRESENTAÇÃO DO CURSO

O Curso Técnico de Agente Comunitário busca corresponder aos an-

seios manifestados pelos 251 agentes comunitários de saúde que partici-

param, representando a categoria, das Oficinas de Validação do Perfil de

Competências do Agente Comunitário de Saúde do Município de São

Paulo, realizadas no período de 30/8 a 3/9/2004. Anseios, estes, ampa-

rados pela Lei n.º 10.507, de 10 de julho de 2002, que não diferem

substancialmente do preconizado nos referenciais curriculares, propostos

pelo Ministério da Saúde/Deges/SGTES, respeitando as Diretrizes Curri-

culares Nacionais para a Educação Profissional.

O trabalho que vem sendo realizado pelo agente comunitário de

saúde é altamente importante e significativo para a consolidação do

Sistema Único de Saúde no município, sendo que muitas capacitações

já foram realizadas para o aprimoramento do seu desempenho profis-

sional. O que propomos com este curso é uma nova forma de olhar-

mos, juntos, para o trabalho que vem sendo feito e ressignificá-lo. É

reconhecer uma prática que vem sendo construída no cotidiano, siste-

matizando-a e teorizando-a, formalizando a legalidade profissional do

agente comunitário de saúde na especificidade de seu trabalho.

Esperamos que todas as etapas de formação se concretizem para

que, no final do Módulo III, sejam certificados como Técnicos Agen-

tes Comunitários de Saúde.

Procuraremos, no decorrer do curso, resgatar e socializar algumas

citações feitas por agentes comunitários de saúde que participaram

das Oficinas de Validação do Perfil de Competências.

“Que a gente seja conhecido e respeitado”“Aumentar o que a gente já sabe”

“Reconhecer a função do ACS, porque a gente acaba perdendo a função porque faz de tudo um pouco”.

Oficina de Validação do Perfil de Competências Profissionais do Agente Comunitário de Saúde. São Paulo. 2004.

“A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, essas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos em gestos de súplica. Súplica de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo”.

Paulo Freire

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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OBJETIVOS

•Formar trabalhadores comprometidos coma consolidaçãodo

SUS, por meio de situações de ensino-aprendizagem que propi-

ciem o desenvolvimento das competências profissionais nas di-

mensões técnica, ética, política e comunicativa, para a melhoria

da qualidade de vida da população.

•Formar Técnicos Agentes Comunitários de Saúde para atuar

junto às equipes multiprofissionais, que desenvolvem ações de

cuidado e proteção à saúde de indivíduos e grupos sociais em

domicílios e coletividades, no campo de interface intersetorial,

desenvolvendo ações de promoção da saúde e prevenção de do-

enças por meio de processos educativos em saúde, promoção

social e proteção da cidadania.

COMPETêNCIAS DO TéCNICO AgENTE COMUNITÁRIO DE SAúDE

O Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde envolve a articulação de seis com-petências, em que cada uma expressa uma dimensão da realidade de trabalho deste profissio-nal, por meio de uma formulação abrangente e generalizável, de acordo com a perspectiva de construção da organização do processo de formação e de trabalho, assim definidas:

•desenvolveraçõesquebusquemaintegraçãoentreasequipesdesaúdeeapopulaçãoadscrita à Unidade Básica de Saúde, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividades;

•realizar,emconjuntocomaequipe,atividadesdeplanejamentoeavaliaçãodasaçõesde saúde no âmbito de adscrição da Unidade Básica de Saúde;

•desenvolveraçõesdepromoçãoedeproteçãoedesenvolvimentodacidadanianoâm-bito social e da saúde;

•desenvolver,emequipe,açõesdepromoçãodasaúdevisandoàmelhoriadaqualidadede vida da população, a gestão social das políticas públicas de saúde e o exercício do controle da sociedade sobre o setor Saúde;

•desenvolveraçõesdeprevençãoemonitoramentodirigidasagruposespecíficoseadoenças prevalentes, conforme definido no plano de ação da equipe de saúde e nos protocolos de saúde pública;

•desenvolveraçõesdeprevençãoemonitoramentodirigidasàssituaçõesderiscoam-biental e sanitário para a população, conforme plano de ação da equipe de saúde.

As seis competências que definem o perfil de conclusão do Técnico Agente Comunitá-rio de Saúde estão distribuídas em três âmbitos de atuação deste profissional, tendo a promo-ção da saúde e a prevenção de agravos como eixos estruturantes e integradores do processo formativo, buscando garantir a integralidade de suas ações, segundo os contextos onde se desenvolvem as práticas. Assim, tem-se: a) o âmbito da mobilização social, integração entre a população e as equipes de saúde e

do planejamento das ações; b) o âmbito da promoção da saúde e prevenção de doenças, dirigidas aos indivíduos, aos

grupos específicos e às doenças prevalentes; c) o âmbito da promoção, da prevenção e do monitoramento das situações de risco am-

biental e sanitário.

Proposta Pedagógica

A proposta pedagógica se orienta pelo processo de aprendizagem significativa, que prevê a interação dinâmica entre professor e aluno. O professor organiza esse processo crian-do situações de ensino-aprendizagem de modo que a apropriação dos conhecimentos se dê a partir do respeito ao ritmo individual do aluno, seus esquemas de assimilação mental e suas características culturais, valorizando os conhecimentos adquiridos e as experiências vivencia-das no trabalho. O desenvolvimento de atividades deve ter por base as experiências e situações do co-tidiano dos alunos para possibilitar a indagação, reflexão e teorização da própria prática de forma sistematizada, com a apropriação de conceitos por um processo de abstração e aproxi-mações sucessivas, para intervenção e transformação da realidade de forma conseqüente. O propósito é, portanto, de contribuir para a formação de profissionais sujeitos autô-nomos capazes de exercer a sua prática profissional com competência técnica, política e ética e com o compromisso do exercício de cidadania democrática e participativa.

Avaliação

A avaliação na concepção transformadora de educação é reflexiva, investigativa, contínua, participativa, democrática e abrangente, isto é, envolve todo processo de ensino-aprendizagem.

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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O processo de avaliação se dá com o acompanhamento e registro sistemático de cada atividade proposta para o desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades, atitudes e va-lores coerentes com os marcos teóricos da proposta de formação profissional para o SUS, o que significa possibilidades de viabilizar o encontro de alunos e docentes em um processo de aprendizagem que se constrói numa relação mediada pela participação e pelo diálogo entre esses atores. Esse processo, indissociável da dinâmica de ensino-aprendizagem, permite acompa-nhar, passo a passo, o avanço dos alunos, detectando a tempo suas dificuldades, e estimar a eficácia da organização das unidades didático-pedagógicas, para adequar e/ou readequar as estratégias pedagógicas às características individuais e aos diferentes contextos.

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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MÓDULO I

As práticas da Saúde e o SUS: Construindo Alicerces para Transformar

Nesse Módulo o aluno inicia o itinerário da educação profissional. Esse Módulo pre-tende servir de alicerce para a construção de um universo teórico-conceitual de análise e refle-xão crítica na área da Saúde, a partir de manifestações concretas do cotidiano, com o objetivo de transformar a prática do trabalhador-cidadão e contribuir para a melhoria das condições de vida e saúde da população. Aponta para a perspectiva de interdisciplinaridade da atenção e integração dos di-ferentes técnicos no cuidado integral em saúde, rompendo com as barreiras de uma visão fragmentada e parcial da atenção. A consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme seus princípios e suas di-retrizes, requer a formação de técnicos capazes de atuar nos diversos setores, com autonomia e domínio de conhecimentos técnico-científicos do campo da saúde coletiva, para a concreti-zação da promoção da saúde e da cidadania. Trata-se de um Módulo sem terminalidade, composto por quatro unidades didático-pedagógicas:•relaçãosaúde/sociedade:instrumentalizandoparaaprática128h;•novaspráticas:ressignificandoasnecessidadesemsaúde120h;•vigilânciaemsaúde:umcampoemconstrução120h;•gestãoparaocuidadointegralemsaúde32h.Carga Horária: 400 horas

UNIDADE I

Relação Saúde e Sociedade: instrumentalizando para a prática

Objetivos•Reconhecerasaúdecomoprodutodasrelaçõessociaishistoricamenteconstruídas.•Contextualizarapráticaprofissionalcombasenavisãohistóricadasociedadebrasileira.•Reconheceraresponsabilidadeeparticipaçãodotrabalhador-cidadãonaimplementa-

ção das políticas públicas de saúde.•Atuar como profissional de saúde comprometido com a consolidação do Sistema

Único de Saúde.•SituarsuapráticaprofissionalnoâmbitodeatuaçãodaSecretariaMunicipaldaSaúde.

ConteúdosTema 1 – Processo saúde-doença: significações e perspectivas em mudança

Tema 2 – Organização da Sociedade Brasileira•HistóriadaFormaçãodoPovoBrasileiro:aspectosétnicos,sociais,econômicos,polí-

ticos e culturais.•Diversidadeedesigualdadesocial.

Tema 3 – Políticas Públicas de Saúde no Brasil – A Construção do SUS•PolíticasPúblicasdeSaúdenoBrasil:doperíodocolonialàatualidade.•SUS:princípios;diretrizes;legislação.

Tema 4 – SUS na Secretaria Municipal da Saúde•OrganizaçãodoSUSnoMunicípiodeSãoPaulo.•SecretariaMunicipaldaSaúde:estrutura,funcionamentoeresponsabilidades.•Diretrizes,prioridadeseprogramações.

Tempo previsto para o desenvolvimento da Unidade: 128 horas

TEMA 1PROCESSO SAúDE-DOENÇA: SIgNIFICAÇõES E PERSPECTIVAS EM MUDANÇAS

Objetivos•Compreenderoprocessosaúde-doença,suassignificaçõeseperspectivasemmudança.•Analisarasconcepçõesunicausal,multicausaledeterminaçãosocialdoprocessosaúde-

doença.•Identificarapercepçãodesaúdeedoença,bemcomooshábitosdesaúdepresentesna

população local.•Compreenderarelaçãoentreprocessosaúde-doençaecondiçõesdevida.•Perceber-secomosujeitoparticipanteeresponsávelnocuidadoemsaúde.

Proposta para o desenvolvimento das atividades 1. Em pequenos grupos, discutir as seguintes questões e registrar as respostas:•oquesignificaparaogrupoestarsadioouestardoente?•oqueogrupopensaarespeitodoqueapopulaçãoconsideraestarsadioouestar

doenteecomoresolveseusproblemasdesaúde? 2. Em plenária:•apresentarediscutirasconclusõesdospequenosgrupos;•sistematizaradiscussãorealizada,comparandoassemelhançasediferençasdacon-

cepção de saúde dos alunos e sua percepção sobre o que pensa a população;•debatercomoogrupoformouessaopinião;•registraroprodutodasdiscussões; 3. Discutir a importância de realizar levantamento de opinião da população e de outros

profissionais sobre o tema saúde e doença. 4. Elaborar o roteiro de levantamento. 5. Exercitar a aplicação do roteiro, por meio de dramatização com os alunos, em sala de aula. 6. Ler o texto: “ENTREVISTA”. Rever o roteiro e verificar a necessidade de alterações. 7. Atividade em serviço:•organizar,realizaretabularolevantamento,quepoderáserfeitoindividualmenteou

em duplas.

8. Em plenária, compartilhar o processo vivenciado: facilidades, dificuldades, fatos relevantes e como se sentiu no processo.

9. Em pequenos grupos, analisar os dados coletados e tabulados na Unidade de Serviço, por segmento entrevistado (usuário, profissional de saúde, familiares, amigos, lideranças), comparando as diferentes opiniões sobre saúde e doença.

10. Em plenária, apresentar e comparar os resultados com as discussões do item 1; destacar a

Caros alunos:

Em sala de aula vocês já elaboraram o roteiro de entrevistas.Agora, com o professor da unidade, planejem as atividades a serem realizadas durante a semana, integrando-as ao trabalho desenvolvido no dia-a-dia.Definam: quantas entrevistas serão realizadas? quem será entrevistado? (usuários, trabalhadores da UbS, lideranças, familiares e outros) como e quando será feita a tabulação dos resultados?

A atividade poderá ser feita: na unidade, nas visitas domiciliares agendadas para a semana, nas visitas a ins-tituições e movimentos da comunidade e, ainda, no ambiente familiar ou de relacionamentos dos alunos fora da UbS.

bom trabalho!

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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diversidade de percepções de diferentes pessoas sobre o tema, embora vivendo no mesmo espaço social. Procurar explicações para as possíveis diferenças e semelhanças encontradas, relacionando-as com as condições de vida e de saúde-doença da população. Discutir os hábitos e costumes presentes e como podem ser respeitados de forma a contribuir para o cuidado em saúde.

11. Em plenária, construir o conceito de saúde do grupo. Registrar a produção, que será retomada em aulas posteriores.

12. Em pequenos grupos, leitura e análise do texto “PROCESSO SAÚDE-DOENÇA”. 13. Em plenária, relacionar as conclusões da discussão do texto com as discussões do item 10, com

o(s) conceito(s) elaborado(s) no item 11 e com o trabalho cotidiano. 14. Em plenária, o professor fará a sistematização e síntese do tema. 15. Avaliação do tema 1: individualmente redigir uma carta para um amigo(a) relatando os aspectos

significativos desse tema para a vida pessoal e profissional. Instrumento de Avaliação - Aluno. 16. O professor deverá avaliar o conteúdo da carta tendo por base os objetivos deste tema. Regis-

trar e discutir com o aluno o processo de aprendizagem vivenciado. Instrumento de Avaliação - Docente. Arquivar em prontuário do aluno.

Tempo previsto: 32 horas

a16h em sala de aula; a16h em serviço.

ENTREVISTA

A entrevista é uma técnica que envolve a interação entre duas ou mais pessoas, num diálogo formal ou informal, com objetivo de obter informações complementares a um assun-to e/ou tema em estudo ou esclarecimentos de questões atuais. Poderá ser realizada em uma só vez ou mais, dependendo do tema e/ou assunto a ser estudado. Assim, é importante que o contato inicial seja cordial e construtivo, facilitando novos contatos, se necessários. A entrevista diminui o formalismo e torna mais vivo e interessante o estudo de um assunto e/ou tema.Algumas modalidades de entrevista:•entrevistacomumentrevistadoreumentrevistado;•entrevistacommaisdeumentrevistado;•entrevistacomumentrevistadoemaisdeumentrevistador. Poderá ser gravada ou anotada, dependendo das possibilidades e finalidades. As anota-ções deverão conter os pontos relevantes para o tema em estudo, lembrando-se da importância da interação estabelecida neste momento.

Como Preparar uma Entrevista

Como fazer uma entrevista?

É necessário fazer a preparação da entrevista levando em consideração os objetivos e quem vai ser entrevistado.

O que é importante na realização da entrevista?

Antes de tudo é importante planejar um roteiro, considerando alguns itens:•apresentar-seaoentrevistado,dandonomeefunçãoqueexerce;•esclarecerosobjetivosdaentrevista;•fazerasperguntascomclarezaeemvozalta;•ouviratentamenteoqueoentrevistadoquerdizer;•nãointerromperafaladoentrevistado.Casotenhaalgumadúvidaouperderafala

anterior, espere que este termine e repita a parte que não entendeu;•facilitareauxiliarquandoesteapresentardificuldadenacomunicaçãoenacompreen-

são das perguntas;•sergentilenãoagircomsuperioridade;•nãofazerperguntasqueinfluenciemasrespostas;•fornecerasinformaçõesnecessáriasprocurandoater-seaoobjetodaentrevista;•ajudaroentrevistadoaencontrarsoluçãoparaoseuproblema,semprequeforpossível;•nãodarordens;•terminaraentrevistaagradecendoaatenção.

O que observar na entrevista?

A entrevista supõe uma relação pessoal, entre entrevistador e entrevistado. Para que a mesma atinja seu objetivo, é importante que aconteça em um ambiente tranqüilo e de forma agradável, facilitando o contato entre as pessoas. É necessário que o entrevistador saiba ouvir, mostrando-se atento e interessado em tudo o que o entrevistado disser. Dar ao entrevistado o direito de perguntar ou questionar, procurando manter o assunto da entrevista. É importante, também, observar a aparência, as atitudes, as expressões, os silêncios e as contradições do entrevistado, que ajudarão a entender e complementar os dados que muitas vezes não são respondidos claramente na entrevista.

Referência

NÉRICI, Imídeo Giuseppe. Metodologia do ensino: uma introdução. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1989. p. 240-245.

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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PROCESSO SAúDE-DOENÇA

A saúde tem sido entendida de diferentes modos, que variam desde a ausência de do-enças – a forma mais comum de se ver esta condição vital – até a definição da Organização Mundial da Saúde – OMS (1948): “Saúde é o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doenças” (SOUZA et al, 1992, p. 3). Há controvérsias em relação à exces-siva abrangência desse conceito, o que o torna pouco prático e operacional, utópico, servindo antes como definição de “felicidade”. Quandoperguntamosaumapessoa“comoestáasuasaúde?”,écomumouvirmosquetudo está bem, se, no momento, não tem nenhuma enfermidade, não está tomando medica-mentos, não procurou nenhum serviço de saúde ou não está impedida de exercer suas ativi-dades habituais. É usual definir-se saúde como oposto à doença. A idéia de saúde e de doença encontra-se muito próxima do que cada um considera “sentir-se bem”, variando de pessoa para pessoa, dependendo do meio em que está inserida, seu modo de viver e relacionar-se com o mundo, num dado momento histórico. Assim, um conceito de saúde e doença abrangente inclui, necessariamente, o caráter subjetivo, que lhe é indissociável, a idéia da singularidade de cada pessoa em dar respostas às agressões do meio a que está exposta. Em outras palavras, as representações que os indivíduos, grupos e coletividades cons-troem a respeito de saúde e doença, relacionam-se, sobretudo, com as formas como resolvem suas necessidades de saúde, variando desde o uso de tecnologias mais avançadas até o uso de recursos terapêuticos não vinculados ao conhecimento científico ocidental. Como o desenvolvimento do conhecimento humano é um processo histórico, também a saúde e a doença, a teoria e a prática que orientam o saber-fazer dos profissionais variam no tempo e no espaço. A busca de uma concepção de saúde é também a procura da compreensão do processo de vida dos homens ao longo da história.

Saúde-Doença na História

As várias fases do desenvolvimento da humanidade caracterizam-se por diferentes ma-neiras do homem relacionar-se com outros homens e com a natureza (para compreendê-la e transformá-la), na busca de satisfação de suas necessidades. Essas relações influenciam profun-damente as condições de vida dos homens e, conseqüentemente, a que tipos de doenças ficam sujeitos. A vida da humanidade, de uma maneira geral, pode ser dividida em períodos: o nôma-de, o agropecuário e o industrial.

Período Nômade

No período nômade, que durou cerca de dez mil anos, os homens viviam da caça, da pesca e da coleta de raízes e frutos. A divisão do trabalho baseava-se na distribuição de tarefas por sexo e idade: a coleta era uma atividade das mulheres e crianças e a caça dos homens. Os instrumentos de trabalho feitos de pedra, madeira e ossos eram simples e com eles os homens iam à caça de animais selvagens ou desenterravam raízes alimentícias. Nessa fase, a vida era curta, os agravos à saúde e a alta mortalidade eram devidos a acidentes de caça, guerra entre as tribos, homicídios, infanticídios e fatores ligados às condições atmosféricas (chuvas, furacões, terremotos, etc.). A saúde e a doença eram consideradas fenômenos naturais da vida das pessoas, perten-ciam à natureza, compreendida como sendo regida por uma infinidade de deuses que dispen-savam toda a sorte de graça ou infortúnio. Assim, o adoecer decorria da ofensa ou falta para com os deuses e, para evitarem as doenças ou recuperarem a saúde perdida, a eles recorriam, por meio de rituais mágicos.

Período Agropecuário

Com o passar dos tempos, o homem passou a domesticar/criar animais (aves, porcos, ovelhas, etc.) e a cultivar a terra, estabelecendo-se onde vivia. O desenvolvimento da pecuária e da agricultura significou uma profunda mudança na vida dos homens: a divisão do trabalho determinada pelas relações de parentesco entre indivíduos e grupos; o aumento da produção de alimentos gerando excedentes, favorecendo o aumento populacional e possibilitando que alguns homens se dedicassem a outro tipo de trabalho. Surgiram os artesãos, que se dedicavam às invenções (o arado, a irrigação e os utensílios em geral). Na Europa Ocidental e Central as terras cultiváveis foram divididas em áreas conhe-cidas como “feudos”, de propriedade dos senhores feudais que as arrendavam aos pequenos proprietários que as cultivavam durante dois ou três dias por semana. Os excedentes produ-zidos eram geralmente trocados em mercados locais, mantidos junto a um mosteiro ou um castelo. Com o crescimento das cidades, seus habitantes passaram a se ocupar principalmente do comércio e da indústria. Surgiu, então, nova divisão do trabalho entre o campo e a cidade: o campo se concentrava na produção agrícola para abastecer a cidade e esta na produção in-dustrial e no comércio. O aumento e a agregação populacional, assim como a ausência de medidas sanitárias, criaram condições para a propagação e transmissão de doenças como: cólera, tuberculose, disenteria, malária e peste, que em 1348 matou ¼ da população da Inglaterra.

Período Industrial

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra a partir de 1750, determinou novas relações de trabalho: os donos das indústrias empregavam o operário em troca de um salário. No campo, muitas terras, antes destinadas ao cultivo de alimentos, foram reservadas para a produção de matéria-prima para as indústrias, provocando queda na produção de alimentos e o aumento populacional das cidades que não possuíam infra-estrutura para o atendimento dessa população. As condições de vida eram péssimas: água impura; esgoto a céu aberto; casas superlotadas, sujas e em mau estado; crianças trabalhando desde os 5 anos de idade; condições insalubres de trabalho; longas jornadas e o baixo salário pago aos trabalhadores. As doenças infecto-contagiosas e parasitárias se alastravam causando epidemias e le-vando a óbito um grande contingente populacional. Pode-se afirmar que a preocupação com a saúde pública teve origem nessa época, uma vez que a proximidade e a mistura das pessoas na cidade expunham todos – ricos e pobres, sem exceção – ao risco de adoecer e morrer. A do-ença, reconhecida como um estágio diferente da saúde, ganhou duas importantes concepções que definiram as práticas e os sujeitos dessas práticas. Em um primeiro momento, a doença era considerada resultado da maneira como se constituíam os aglomerados humanos, evidenciada quando do aparecimento de epidemias, sendo as ações, daí decorrentes, responsabilidade dos governos da época, fazendo com que surgissem profissionais e militantes políticos que, na França, por exemplo, diziam que as cau-sas das epidemias são sociais, econômicas e físicas e “o remédio recomendado” consistia em prosperidade, educação e liberdade, que só poderiam se desenvolver numa democracia plena e ilimitada. Outras práticas eram desenvolvidas por agentes que atuavam como fiscais e guardas, com o objetivo de livrar a sociedade das “condições” que colocavam em risco a saúde da popu-lação, queimando objetos pessoais daqueles que morriam, isolando os que apresentavam sinais de doença. Num segundo momento, quando da invenção do microscópio, as doenças passaram a ter uma causa visível – o micróbio – orientando o conhecimento e as práticas sobre saúde/doença, passando a ser prioridade a compreensão da dinâmica e as maneiras de se evitar os efeitos da presença desse agente. Assim, a doença era explicada pelo pensamento microbiano e unicausal (um micróbio = uma doença) – tinha um agente, um lugar para se instalar e medidas para controlar ou evitar seus efeitos.

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Um exemplo clássico do pensamento microbiano encontra-se nos princípios das ações preventivas, nas campanhas de prevenção e erradicação de algumas doenças infecciosas e uso de vacinas. Passado o período de euforia, a concepção unicausal mostrou-se insuficiente para res-ponder por que as pessoas continuavam adoecendo/morrendo de doenças infecciosas, apesar do conhecimento e da tecnologia desenvolvidos. Surgiram, então, outras explicações apon-tando para a multicausalidade das doenças – decorrentes da organização social e do modo de viver das pessoas – sem romper, contudo, com o pressuposto biologicista. Considerando a di-nâmica da tríade homem-agente etiológico-meio ambiente, a prática se fazia com o tratamento das condições anatômicas e fisiológicas do corpo doente, com a intervenção no meio ambiente e no agente etiológico. Com o desenvolvimento industrial, ocorreram profundas mudanças nas condições de vida e saúde das pessoas. Pode-se destacar, por um lado, o controle efetivo das doenças infec-ciosas, em função da existência de infra-estrutura básica; de melhores condições de trabalho, moradia, vestuário, alimentação, educação e lazer; além da ampliação do acesso à assistência médica e hospitalar e de ações de vigilância ambiental (poluição do ar e da água e desmatamen-tos). Todos esses fatores contribuíram para elevar a expectativa média de vida das populações, em alguns países, acima dos 70 anos de idade. Por outro lado, verifica-se o crescimento das doenças crônico-degenerativas (cardiovas-culares, pulmonares, diabetes etc.), dos cânceres, das doenças mentais, das doenças ligadas ao trabalho e das mortes e incapacitações por causas externas (acidentes, homicídios e violência). Depreende-se assim, que a saúde e a doença dos indivíduos e das coletividades hu-manas apresentam várias causas e dependem de vários elementos, que podem ser chamados de determinantes de saúde e de doença, produzidos nas relações com o meio físico, social e cultural. Essa concepção é chamada determinação social do processo saúde-doença. Em 1978, na Primeira Conferência Internacional sobre a Atenção Primária em Saúde, a saúde foi reconhecida como fenômeno de determinação intersetorial e direito de todos. As práticas de saúde dão ênfase às ações ligadas às condições de vida de pessoas e coletividades. A concepção ampliada de saúde e a compreensão de que as ações de outros setores têm efeitos sobre a saúde individual e coletiva possibilitaram o surgimento de outras perspectivas de promoção e de cuidado à saúde, por meio da atuação para mudar positivamente os elemen-tos considerados determinantes do processo saúde-doença. No Brasil, a VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, definiu saúde como direito de todos e dever do Estado, cuja responsabilidade é a provisão de um sistema de atenção à saú-de universal e equânime, tendo como diretrizes a descentralização, a integralidade da atenção e a participação e o controle social. Em 1990, a Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal n.º 8.080) definiu no Artigo 3.º que:

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essen-ciais. (BRASIL, 1990)

REFERêNCIAS

ANDRADE, Selma Maffei de; SOARES, Darli Antonio; CORDONI JÚNIOR, Luiz (Org.) Bases da saúde coletiva. Rio de Janeiro: VEL-ABRASCO, 2001.

BRASIL. Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 1990.

______. Ministério da Saúde. Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. De-partamento de Gestão da Educação na Saúde. Curso de formação de facilitadores de educação permanente em saúde: unidade de aprendizagem – análise do contexto da gestão e das práticas de saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. p. 27-35.

MARQUES, Cláudia Maria da Silva. Processo saúde-doença. In: _______. Guia curricular para formação do atendente de consultório dentário para atuar na rede básica do SUS: áreas I e II. Brasília: Ministério da saúde, 1998. p. 103-113.

OSHIRO, Julieta Hitomi et al. Currículo módulo básico, unidade I, saúde e sociedade. São Paulo: Prefeitura Municipal, Secretaria Municipal da Saúde, CEFOR-ETSUS-SP, 2003.

ROUQUAYROL, Maria Zélia. Epidemiologia & saúde. 4. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1993.

SOUZA, Maria de Fátima Marinho de; KALICHMAN, Artur Olhovetchi. Vigilância à saúde: epidemiologia, serviços e qualidade de vida. São Paulo: Prefeitura Municipal, Secretaria Mu-nicipal da Saúde, 1992. p. 1-8. (Cadernos CEFOR. Serie textos, 2).

TERRIS, M. Conceptos de la promoción de la salud: dualidades de la teoria de la salud publi-ca. Journal of Public Health Policy, [S.l.], v. 13, n. 3, p. 267-276, 1992.

UCHÔA, Alice da Costa. O campo da saúde coletiva. Disponível em: http://www.ufrnet.br/~Imoreira/Textos%20Academicos/0%20CAMPO%20DA%20SAUDE%20%20COLETIVA.doc. Acesso em: 11 de maio 2005.

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PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da SaúdeEscola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno (a): Matrícula:

Turma: Data: Local:

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE AvALIAçãoMódulo I - Unidade I - Tema 1

Aluno

Escreva uma carta a um(a) amigo(a) contando o que você aprendeu neste tema e o significado do mesmo para sua vida pessoal e profissional.

Aluno Docente

PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da SaúdeEscola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno (a): Matrícula

Turma: Data: Local:

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE AvALIAçãoMódulo I - Unidade I - Tema 1

Docente

Avaliar o processo de aprendizagem vivenciado pelo aluno, tendo por base os objetivos deste tema.

Aluno Docente

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TEMA 2ORgANIzAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

Objetivos•Conhecerahistóriadaformaçãodopovobrasileiroeaparticipaçãodasetniasna

construção das ciências, da política, da economia e da cultura no Brasil.•Conhecerocapitalismoeaeconomiademercadonamodernidade,aglobalização,o

neoliberalismo e suas influências na sociedade brasileira.•Identificarasmudançasocorridasnasociedadebrasileiraerelacioná-lascomoprocesso

de globalização e seus reflexos nas condições de vida e saúde da população local.•Compreenderadiversidadeeadesigualdadesocialesuarelaçãocomaspráticasdesaúde.•Reconhecerosvalores,oscostumeseascrençasvigentesemsuacomunidade,respei-

tando a diversidade social.•Reconheceroseupapelcomocidadãoetrabalhadorparticipantenaconstruçãoda

história local.

Conteúdos•HistóriadaFormaçãodoPovoBrasileiro:aspectosétnicos,sociais,econômicos,polí-

ticos e culturais.•Diversidadeedesigualdadesocial.

Proposta para o desenvolvimento das atividades 1. Em pequenos grupos, discutir o que os alunos sabem sobre a história do povo brasi-

leiro. Explicitar as reflexões do grupo em painéis (colagem, desenho, sucata, expressão

gráfica e outros). 2. Em plenária, apresentação dos painéis. Discutir e refletir sobre itens relevantes,

presentes ou não na exposição: aspectos econômicos, culturais e políticos. Construir painel coletivo, com ajuda do professor – linha do tempo.

3. Em pequenos grupos, leitura de texto: “Formação da sociedade brasileira: aspectos étnicos, sociais, econômicos, políticos e culturais”.

4. Em plenária, tendo por base o texto lido, retomar o painel coletivo, acrescentando ou retificando pontos que o grupo considere significativos para construção da linha do tempo.

5. Participar da dinâmica – “Somos diferentes”:•registrar,individualmente,emfilipetas,atributospessoaiscomo:bonito,feio,nor-

mal, esquisito, magro, gordo, preto, branco, tímido, extrovertido, metido, simpático, arrogante, cego, surdo, homossexual e outros;

•mesclartodasasfilipetase,aleatoriamente,cadaalunoretiraumaevaicirculandopelasala, ao som de uma música alegre e ambiente descontraído. Após algumas voltas, colar a filipeta nas costas do colega que estiver mais próximo. Depois que todos tiverem colado as filipetas, continuar circulando e relacionando-se com os demais colegas base-ados nos atributos das etiquetas coladas nas costas dos mesmos. Desligar o som e, em grupo, tentar identificar os atributos que lhe foram conferidos. Após saber o que lhe foi atribuído, deixar que expressem seus sentimentos e relatem experiências similares;

•colarasfilipetasemumpainelesistematizar,listandocomogrupo,asdimensõeshumanas que caracterizam a diversidade;

•discutiradiversidadehumana:valoreshegemônicoseproduçãodedesigualdadeseconceitos de inclusão e exclusão.

6. Em plenária, leitura e discussão do texto: “Diversidade e Desigualdade Social”, com-parando com as discussões anteriores e como se reproduzem nas práticas de saúde.

7. Atividade em Serviço: Organizar a atividade em serviço. Sugestões:•pesquisarhistóriasdeusuários,profissionaisdesaúde,moradoresantigosdaregião;•realizarvisitasainstituiçõesreligiosas,culturais,museuseoutras.

Caros alunos:

Com o professor da Unidade de Serviço, planejar e realizar as atividades que serão desenvolvidas, dentro da rotina de trabalho.

1 – Pesquisa: poderá ser realizada com pessoas atendidas, visitadas, moradores da região, familiares e outros.Identificar: origem e procedência; fatos marcantes da história de vida; crenças, costumes, valores religiosos e culturais; doenças mais freqüentes na família.

2 – visitas a instituições: poderão ser realizadas, conforme disponibilidade dos alunos e docentes. Instrumento de Registro - visita a Instituições - Aluno. 3 – Selecionar uma história ou visita e registrá-la no Instrumento de Registro - Pesquisa - Aluno, para ser socializada em sala de aula.

8. Em pequenos grupos, socializar a história selecionada, identificando: a diversidade e desigualdade social, os valores, costumes e as crenças da comunidade e sua relação com as práticas de saúde da Unidade.

9. Em plenária, apresentar o produto dos grupos, relacionar com as conclusões anteriores e discutir as implicações com as práticas de saúde, considerando o respeito aos valores, às crenças e aos costumes, individuais e coletivos.

10. O professor deverá realizar a sistematização e síntese do tema. 11. Avaliação do tema 2: individualmente, responder e comentar a questão: O que você

aprendeu sobre a história da formação do povo brasileiro, diversidade e desigualdade socialehistóriadapopulação local temrelaçãocomseutrabalho?InstrumentodeAvaliação - Aluno.

12. Em plenária socializar as avaliações individuais e refletir coletivamente sobre o papel do trabalhador cidadão.

13. O professor deverá avaliar os trabalhos realizados individualmente, registrando seu parecer com ciência do aluno e arquivando-o no prontuário. Instrumento de Avaliação - Docente.

Tempo previsto: 40 horas

a 16h em sala de aula; a 24h em serviço.

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FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA: ASPECTOS éTNICOS, SOCIAIS, ECONôMICOS, POLíTICOS E CULTURAIS

Fonte: Moreira (2000)

Introdução

Este texto não pretende contar a história do Brasil em toda a sua complexidade e totalidade; o objetivo é abordar alguns aspectos significativos para análise deste tema, possibilitando ao aluno relacionar o processo saúde-doença com o contexto socioeconômico, político e cultural brasileiro. Vale lembrar que a história do Brasil tem sido contada muitas vezes do ponto de vista do colonizador, mantendo em silêncio e tornando invisíveis os demais sujeitos participantes da história. Para romper esta prática e contar esta história de forma diferente, pretende-se levar em conta autores e atores com seus valores, subjetividades e interesses, muitas vezes antagônicos. Parte-se da idéia de que não existe uma receita pronta,” nem um caminho infalível: o conheci-mento histórico é construído pela dúvida, pela crítica e pelo diálogo”. (SCHMIDT, 2001, p. 8).

Um pouco de história sobre a formação do Brasil

Os portugueses quando chegaram ao Brasil, no séc. XVI, procuravam metais preciosos que só foram encontrados no final do séc. XVII. Portanto, logo após o descobrimento, os por-tugueses mantinham contato com estas terras através de expedições que buscavam conhecer melhor o território e levar o pau-brasil para ser comercializado na Europa. O projeto de colonização inicia, de fato, a partir de 1530, com vistas à defesa do terri-tório da ocupação por outros povos, principalmente os franceses, à administração da colônia, ao controle dos indígenas e à extração das riquezas. O projeto de colonização propicia a vinda dos portugueses, criando uma estrutura econômica e política com base na monocultura (cana-de-açúcar) e na mão-de-obra escrava. A primeira expedição colonizadora foi comandada por Martim Afonso de Sousa, que iniciou o plantio da cana-de-açúcar, na Vila de São Vicente, instalando o primeiro engenho de cana-de-açúcar no Brasil. Estas terras estavam ocupadas há muitos séculos por nações com organização social, econô-mica, política, religiosa e cultural próprias. Ao contrário do que se pensa, os povos que aqui viviam não eram “índios”. Essa nomenclatura surgiu primeiro da palavra “ameríndia” (união de América e Índia) que significa população nativa da América, isso porque Colombo acreditava estar nas Índias. Os portugueses passaram a utilizar a denominação de indígenas referindo-se a todos os povos que aqui viviam, desconsiderando, assim, as diferenças culturais, religiosas, lingüísticas e históricas destes povos. Daí formou-se a crença de que os índios são “primitivos”, “atrasados” e “parados no tempo”, porque a noção de progresso, ainda hoje, se baseia nos parâmetros eu-ropeus. Por outro lado, também se construiu a idéia de que o paraíso descrito na bíblia havia se materializado na América e os índios eram vistos como “bons selvagens”, simples, puros, primitivos e ingênuos. Até a atualidade, permanecem idéias preconceituosas sobre a infantili-dade e o primitivismo dos povos indígenas.

o brasil está localizado na América do Sul, é o 5.º maior país do mundo, com uma exten-são de mais de 8 milhões de Km2, represen-tando 47% das terras sul-americanas. o seu território é quase todo habitável, pois não há desertos, áreas geladas, cordilheiras elevadas, vulcões, como em outros países. A população brasileira corresponde a 50% da população da América do Sul.

Fonte: Moraes (2002)

Fonte: Mozer e Nunes (2002).

1 Capítulo vIII – Dos índios – artigo 231: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicional-mente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

Essas visões positivas e negativas relacio-nadas aos povos indígenas permaneceram até recentemente, o índio era tratado como tutelado, ou seja, submetido à tutela do Es-tado, como se fosse de menor idade. Somente com a Constituição de 19881 essa condição foi modificada e os índios foram considerados livres com direitos iguais a qualquer cidadão brasileiro.

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Com a chegada dos europeus, os povos indígenas tiveram seu equilíbrio desorganiza-do, sofreram castigos corporais para a realização de trabalhos forçados, catequização à base da força e do medo e a contaminação com doenças trazidas da Europa para as quais não tinham imunidade. Estima-se que, quando da chegada dos portugueses, a população indígena supera-va a três milhões, falando mais de mil línguas diferentes. A partir de 1550, quando os canaviais começavam a se multiplicar, os conflitos entre as nações indígenas e os portugueses assumiram proporções cada vez mais graves. A população nativa foi diminuindo ao longo dos anos, com o desaparecimento de nações indígenas intei-ras, em conseqüência de extermínio, escravização, catequização e doenças, hoje consideradas banais, como gripe, sarampo e coqueluche. Quando se inicia o conflito entre portugueses e indígenas também se inicia a miscigenação entre os dois grupos. No início da colonização quase não havia mulheres brancas, pois os portugueses vinham sozi-nhos, com esperança de enriquecer e voltar para sua terra natal. Assim, formavam famílias temporárias com uma ou mais mulheres indígenas, portanto, a mestiçagem foi iniciada com utilização sexual forçada ou consentida da mulher indígena pelo branco, que mais tarde incorporou os grupos africanos. A sociedade ou povo brasileiro é formado pela miscigenação das raças branca, negra e indígena, mas esta precisa ser compreendida de forma crítica, pois, ao contrário do que muitas pessoas pensam, este não foi um processo que aconteceu a partir de “uniões felizes”.

Fonte: Mozer e Nunes (2002)

Os índios deixam de servir ao propósito dos portugueses, no cultivo da cana-de-açúcar, em de-corrência das rebeliões que se acentuavam, pela não submissão destes ao trabalho forçado, escravizado e todo tipo de dominação. São substituídos por outra força de trabalho que já vinha sendo explorada na África pelos portugueses, a mão-de-obra escrava. Inicia-se, a partir de 1550, o tráfico de escravos africanos para o Brasil, que se tornou uma das atividades mais lucrativas do comércio colonial. No século XVI, os portugueses dominaram esse tráfico para o Novo Mundo, sendo o escravo comprado como se fosse um objeto, uma máquina, uma mercadoria, estando presente em todas as atividades econômicas da colônia. Os escravos, trazidos à força para o Brasil, eram provenientes de diversas nações do continente africano que atualmente integram países como a Guiné Bissau, Nigéria, Benin, Congo, Angola e Moçambique. Essas nações tinham grandes diferenças culturais, econômicas, sociais e históricas, bem como uma grande variedade de línguas e religião. Os senhores de escravos tinham plena consciência dessa realidade e a exploravam a seu favor: eles agrupavam escravos de língua e culturas diferentes para dificultar a comunicação, com o objetivo de dimi-nuir o risco de uma rebelião. Mas essa política de divisão não impediu a resistência dos negros ao trabalho forçado. Durante todo o período escravista, as diferentes formas de resistência variavam desde as mutilações do próprio corpo, suicídio, abortos, até o roubo, sabotagem da produção, ataques aos feitores, capitães-do-mato e proprietários.

Segundo o censo do IbGE de 2000, 734.000 pessoas declararam-se indígenas, sendo 63.789 no Estado de São Paulo, o terceiro estado em população indígena, depois do Amazonas e bahia.

Fonte: Moraes (2002)

Os principais centros que receberam escravos, dos séculos XVI a XVIII, foram Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Até a independência (1822), calcula-se que entre cinco e seis mi-lhões de negros foram seqüestrados da África.

Fonte: Relatório Geral – Grupo Internacional de Trabalho e Consultoria, p. 5.

Para enfrentar esta situação de opressão física, cultural e moral, os negros tiveram como principais armas as fugas e a organização de quilombos. Esses quilombos, formados nas matas reu-nindo negros, índios e brancos pobres, vítimas da opressão do colonizador, eram espaços com forte organização econômica, política e militar (agricultura de subsistência e complexas táticas de guer-rilha para enfrentar a coroa portuguesa). Existiram no Brasil colonial cerca de cem quilombos.

Fonte: Mota e Lopez (1995, p. 96)

o relacionamento dos escravos com seus do-nos era, na maioria dos casos, marcado pela extrema violência, sendo freqüentes as fugas e os levantes.

o brasil foi a primeira colônia a escravizar os africanos e a última a abolir a escravidão. Foi o maior importador de escravos de toda a história do tráfico atlântico.

o quilombo de Palmares é um dos principais símbolos da resistência negra, durante cem anos (1595–1695) resistiu aos ataques da coroa. Chegou a ter, em 1640, cerca de dez mil quilombolas. Foi também um dos mais atacados e se localizava na serra da barriga, atual Estado de Alagoas, local de grandes plantações de cana-de-açú-car. Um dos grandes líderes de Palmares foi Zumbi. os portugueses contrataram o bandeirante Domingos Jorge velho e montaram um exército fortemente armado de nove mil homens que aniquilou Palmares em 1694. Zumbi fugiu, mas foi morto em 20 de novembro de 1695. Atualmente, 20 de novembro é o Dia Nacional da Consci-ência Negra em homenagem a esse herói.Atualmente, são reconhecidos, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cerca de 1500 comunidades remanescentes de quilombos.

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Com todos os entraves e ocorrências, a mão-de-obra escrava foi utilizada até o século XIX, quando da promulgação da Lei Áurea, em 1888, que torna os escravos livres. A abolição foi um processo gradual, motivada por pressões externas e internas. Já no começo do século XIX, a Ingla-terra iniciara sua luta contra o tráfico negreiro, traduzida na limitação da legalidade do comércio de escravos e na ação da marinha britânica de repressão ao tráfico. Pressionado pela Inglaterra e por campanhas abolicionistas, que conquistam adesão de vários setores da sociedade – parlamentares, imprensa, militares, artistas e intelectuais –, o governo brasileiro promulgou várias leis – Ventre Livre, Sexagenário e, finalmente, Lei Áurea. O Brasil foi o último país ocidental a acabar com a escravidão. Durante este período, as revoltas e os levantes, desencadeados por negros, pobres, proprietários rurais e divergências entre portugueses e brasileiros, se alastraram pelo país: a Conju-ração Baiana (1798, Bahia), a Sabinada (1834–1837, Bahia), a Guerra dos Farrapos (1835–1845, no sul do país), a Cabanagem (1835–1840, Pará) e a Balaiada (1838–1841, Maranhão). O Brasil colônia estruturou-se economicamente, desde o início, em função da produ-ção do açúcar para o mercado externo. O governo português, sem recursos financeiros, dividiu o Brasil em grandes lotes de ter-ras – 15 capitanias hereditárias ou donatárias – entregando-as às pessoas de condições financeiras privilegiadas. Com o objetivo de reunir capitais necessários à instalação dos engenhos, muitos colonos obtiveram financiamentos junto a negociantes da metrópole e banqueiros holandeses. Nesse período, houve um aumento significativo de colonos portugueses no Brasil que, de início, eram degredados e criminosos e depois imigrantes voluntários. O ouro, descoberto em Minas Gerais, no final do século XVII, provocou uma grande corrida de habitantes e rápido povoamento da região. A mineração possibilitou o aparecimento de inúmeras vi-las, como Vila Rica, Sabará, Mariana, Congonhas do Campo. Uma verdadeira civilização urbana desen-volveu-se na região, com inúmeras atividades comerciais e de artesanato, bem como grande progresso cultural. Ainda, como conseqüência, o centro político e econômico da Colônia deslocou-se do Nordeste para o Centro-Sul e a capital do país foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro (1763).

AS MULHERES No PERíoDo CoLoNIAL

Desde o período colonial a mulher teve um papel de submissão – ao pai, ao marido e à Igreja. Tudo que precisava era dedicar-se às prendas domésticas e à Igreja. “Depois de casadas, esperava-se que gerassem filhos e assumissem as atividades de limpeza da casa, a preparação dos alimentos e o comando das escravas”. Mozer, S., Telles, vera, p. 224, (2002). A mulher africana trabalhava nas propriedades açucareiras, semeando, enfeixando cana e tirando ervas daninhas do terreno. À noite, dedicavam-se aos afazeres domésticos e ao cuidado do companheiro e dos filhos. Algumas, as mais dóceis, eram selecionadas para trabalhar na casa grande, como mucamas (tomavam conta dos filhos do senhor e até amamentava-os, além de cozinhar, lavar e costurar roupas). Nos centros urbanos, a mão-de-obra feminina era ocupada na panificação, tecelagem, alfaiataria, juntamente com os homens. Reproduzia no comércio ambulante das cidades o papel que lhe era, tradicionalmente, reservado: a venda de alimentos, bebidas, fumo, etc.

Fonte: Mozer e Nunes (2002, p. 226)

O Brasil, na época da independência política, tinha sua economia voltada para as expor-tações de açúcar, algodão, couro e peles. Um novo produto começava a se desenvolver: o café, cultivado, de início, no Rio de Janeiro, depois Minas Gerais e São Paulo. Em meados de 1830, o café já era o principal produto de exportação do Brasil e, em 1840, à custa do trabalho escravo, o país torna-se o maior produtor mundial. O café foi o responsável pelo início da força econô-mica e política dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Gerou a atração de migrantes de outras regiões do país, que vieram somar-se aos imigrantes estrangeiros, principalmente italianos, resul-tando na ampliação do povoamento do oeste de São Paulo e do norte do Paraná, na construção de ferrovias e na formação de um mercado consumidor. Os grupos de imigrantes que vieram para o Brasil foram: •alemães:começaramachegarem1824,mascommaiorintensidadeentre1849e

1872. Esse grupo instalou-se principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dedicando-se à agricultura, à criação de animais e ao artesanato;

•italianos:vieramdepoisdosalemães,principalmenteparaosestadosdeSãoPauloedo Rio Grande do Sul. De início, trabalharam nas plantações de café. No Rio Grande do Sul introduziram a cultura da uva e a fabricação do vinho. Os italianos formam o grupo mais numeroso entre os imigrantes;

•japoneses:aimigraçãojaponesacomeçouem1908,comavindade165famílias.Agran-de maioria fixou-se no Estado de São Paulo. Inicialmente, foram trabalhar no interior do estado, nas fazendas de café. Depois, dedicaram-se à cultura de hortaliças e de frutas. Alguns foram para o Estado do Pará, onde introduziram a cultura da pimenta-do-reino;

•espanhóis:osprimeirosimigranteschegaramaoBrasilem1580,masograndefluxode espanhóis começou em 1841. Localizaram-se em São Paulo, onde se dedicaram à lavoura da banana e do café. Grupos menores dedicaram-se a atividades comerciais no Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Bahia;

•portugueses:aimigraçãoportuguesasedeumaisintensamenteapartirde1884esecon-centrou mais em São Paulo e no Rio de Janeiro, dedicando-se a atividades comerciais.

Outros imigrantes, como os sírios, os libaneses, os eslavos e os nórdicos contribuíram para a formação da população brasileira.

Fonte: Mota e Lopez (1995, p. 16)

Nesse período, surgem movimentos populares de vários matizes, todos tendo como motivação a insatisfação em relação à ordem vigente: a Guerra dos Canudos (1893–1897), o Cangaço (1875–1940), as romarias de padre Cícero (1885–1934), a Revolta da Vacina (1904), a Revolta da Chibata (1910) e a Guerra do Contestado (1912–1915).

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Os Imigrantes e o Choque Cultural

Fonte: Mota e Lopez (1995, p. 85)

Com a economia cafeeira surge a liderança dos “barões do café” que terão um papel decisivo no controle da produção e comercialização do produto, no regime de colonato em suas fazendas, no trabalho assalariado e nas decisões políticas do país. No início do século XX, a produção cafeeira à base do trabalho assalariado vivia em cons-tante crise de mão-de-obra, pois a população trabalhadora era dizimada por epidemias de febre amarela, peste bubônica e malária. As epidemias aliadas às más condições de saneamento das cida-des e dos portos formavam verdadeiras barreiras ao recrutamento de mão-de-obra na Europa. Enquanto os imigrantes europeus ocupavam espaços de trabalho na lavoura e nas atividades comerciais e industriais, os ex-escravos, índios, seus descendentes e mestiços tomavam diversos ca-minhos. Alguns ficavam na dependência dos grandes proprietários de terras, em outros casos, torna-ram-se parceiros e pequenos sitiantes, muitos se dirigiam às grandes cidades ingressando em oficinas artesanais e sobrevivendo com todo tipo de trabalho irregular e temporário, ou na mendicância. Esta população, que representava a imensa maioria, não era aproveitada para desen-volver o trabalho assalariado, mantendo-se em ocupações consideradas inferiores, o trabalho braçal e pesado, o serviço doméstico e mal remunerado. Excluídos do processo de desenvolvi-mento que se instalava no país no início do século XX, permanecem sendo explorados, margi-nalizados e discriminados, um quadro que permanece na história do Brasil até hoje. Estes são os personagens invisíveis e silenciosos da história do Brasil. As raízes da industrialização e de um novo padrão de urbanização estão em grande parte no café, assim como a diversificação social e étnica – imigração de trabalhadores livres – italianos, espanhóis, japo-neses e outros – que vêm em massa para as fazendas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesse contexto, com incremento do capitalismo, novas forças sociais surgem em con-seqüência de modificações na estrutura econômica e pelas ideologias trazidas com os imigran-tes, entre elas o anarquismo.

AnarquismoIdeologia caracterizada pela “oposição radical ao Estado, à religião e à propriedade privada, três instituições fundamentais no sistema capitalista. Segundo os anar-quistas, as grandes armas da classe operária na luta contra os patrões e o Estado eram a conscientização e as greves, que terminariam por der-rubar o sistema capitalista.” (CAMPoS, 1991, p. 180).

Estas novas forças urbano-industriais – o operariado – aos poucos, ganham expressão política, as camadas médias, representadas pelos pequenos comerciantes, funcionários públi-cos, profissionais liberais, militares, compõem a complexidade da nova estrutura social brasi-leira e participam de maneiras diferentes das lutas sociais ocorridas. O país seguia o modelo agro exportador, sendo o café o principal produto de exporta-ção, que basicamente sustentava a atividade comercial e bancária, ferrovias e até uma pequena indústria nacional. Essa prática foi se esgotando com o crescimento da produção mundial do café e a concorrência inviabilizando as exportações. Os movimentos, nem sempre populares, continuaram na década de 20, como a Coluna Prestes – 1925 a 1927 – um marco da luta contra a oligarquia e pela moralização da política bra-sileira, culminando com a Revolução de 1930 que depõe o Presidente Washington Luís e empossa Getúlio Vargas. A sociedade civil organiza-se, em decorrência da crise de hegemonia dos represen-tantes dos interesses agro exportadores, surgindo no período, entre outras, a Sociedade Brasileira de Higiene, a Liga de Higiene Mental, a Liga pela Emancipação da Mulher, a Associação Brasileira de Educação, o Partido Comunista Brasileiro, a Semana de Arte Moderna, o Movimento Anarco-Sindicalista e o Movimento dos Pioneiros da Educação.

Fonte: Campos (1991, p. 190)

Fonte: Mota e Lopez (1995, p. 134)

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Os anos de 1930 inauguram o modelo de industrialização por substituição das impor-tações de bens de consumo, tais como tecidos, calçados e alimentos. A classe operária aparece na sociedade brasileira, quando praticamente inexistia qualquer legislação que regulamentasse suas atividades. Assim, o operariado possibilita lucros para o empresariado capitalista, quer pela baixa remuneração, quer por constituir mercado consumidor dos produtos industriali-zados. As condições precárias de habitação, o aparecimento de cortiços próximos às fábricas, favorece a proliferação de doenças, sendo a tuberculose a mais comum.

Tarsila do Amaral(1886–1973)operários, 1933. Óleo sobre tela150 x 205cm

“OS OPERÁRIOS” DE TARSILA As 51 cabeças representam os operários como um aglomerado humano, comprimidos pelo ritmo industrial. De um lado, ho-mens e mulheres numa pirâmide que se alonga para além dos limites da tela, como mercadorias que se acumulam. De outro, as chaminés e os prédios, monumentos que podem esmagá-los. Há um pequeno traço de natureza num céu acinzentado. Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, são todos iguais em face do trabalho.

Fonte: Moraes (2002)

De 1930 a 1945, acelerou-se o processo de urbanização, a burguesia e a classe média continuaram a crescer e aumentar sua participação na vida política do país, ao mesmo tempo em que diminuía o poder dos fazendeiros. Em 1932, foram promulgadas leis que diminuíam a jornada de trabalho, salário igual para trabalho igual, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças, licença-maternidade, aperfeiçoamento da lei das férias e o início da organização da previdência social, que passou a ser controlada pelo Estado. Os avanços da organização da classe trabalhadora assustavam a empresários, industriais e banqueiros, que exigiam do Governo Vargas a revogação de grande parte da legislação tra-balhista e maior rigor na repressão. O governo aumentou a repressão e colocou sob tutela o movimento sindical, abrindo caminho para a ditadura que foi implantada em 1937; a liberdade sindical desapareceu (sindicalistas foram presos, torturados e mortos pela polícia). A classe ope-rária passa a ser controlada pelo Estado. A Lei do Salário Mínimo (1940), apresentada como benefício ao trabalhador, favoreceu, na realidade, a acumulação capitalista. Os reajustes ficaram sempre aquém do custo de vida, um dos problemas, que permanece até os dias atuais.

Mudanças Significativas na Sociedade

Ao longo dos anos 40 e 50, o Estado atuou no sentido de fornecer a infra-estrutura necessária ao avanço da industrialização, como, por exemplo, a criação da Companhia Side-rúrgica Nacional (hoje privatizada) e da Petrobrás, assim como a organização da legislação trabalhista, no Governo Vargas, conquistada pelo movimento sindical. Nesse período, o desenvolvimento urbano de São Paulo e do Rio de Janeiro atraiu para essas cidades um grande número de trabalhadores rurais, que migravam principalmente do nordeste, fugindo da seca, da miséria e da exploração, engrossando a mão-de-obra da indústria e da construção civil. Após esse período, além do capital nacional, estatal e privado, a industrialização ex-pandiu-se devido aos investimentos de empresas estrangeiras, principalmente na produção de bens de consumo duráveis, como televisores, eletrodomésticos e automóveis. As multinacio-nais foram atraídas pela oferta de mão-de-obra barata, pela abundância de matérias-primas, in-vestimentos em infra-estrutura existente no Brasil. Cabe ressaltar que os bens produzidos e os lucros obtidos não ficaram no Brasil, retornando, em sua grande maioria, ao país de origem. O crescimento econômico entusiasmava os brasileiros, principalmente com as primei-ras fábricas de automóveis e a construção de Brasília, no governo do presidente Juscelino Kubitschek, com a promessa de “Crescer 50 anos em 5”. Este acreditava que a economia de um país subdesenvolvido baseava-se na agroexportação de produtos primários (café, algodão, açúcar e minério de ferro), sendo necessário substituí-la por uma economia industrializada. Para tanto, utilizou-se de empréstimos internacionais, elevando a dívida externa e emissão de papel moeda sem fundos no Tesouro, desvalorizando o dinheiro nacional e geran-do inflação. A economia cresceu, mas baixaram os salários e o aumento galopante dos preços acirrou, ainda mais, as condições de vida da população pobre. Os anos 60 foram marcados por grande conscientização popular, voltada para mudan-

Fonte: Mota e Lopez (1995)

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ça e renovação. Surgem, no Nordeste, as Ligas Camponesas que organizavam a luta dos traba-lhadores rurais, pelos direitos trabalhistas e pela Reforma Agrária. Por todo o país, ocorrem discussões em torno da necessidade das Reformas de Base – agrária política e militar. Outros movimentos passam a despontar: Sindicatos Operários, União Nacional Estudantil (UNE), intelectuais e artistas. Nesse clima de insegurança, é eleito Presidente da República Jânio da Silva Quadros, com a promessa de mudar o Brasil, que surpreende a todos com sua renúncia ao mandato, após sete meses de governo (agosto de 1961). Assume seu vice João Goulart – Jango, que ini-cia as reformas de base. Isso intensifica a mobilização popular, passando a constituir ameaça à classe dominante que temendo reformas radicais, com perda de privilégios e o insuflado temor do comunismo, viabiliza o golpe militar de 1964, que depôs João Goulart. Não havia mais um presidente constitucionalmente eleito, assumia, então, o general Humberto de Alencar Castelo Branco, pelo decreto do Ato Institucional n.° 1. De 1964 a 1985, o Brasil viveu a ditadura militar. O povo não escolhia os presidentes, nem os governa-dores e o Congresso Nacional, destituído de seus poderes constitucionais, desempenhava mero papel figurativo, enquanto o país era administrado por Atos Institucionais. Os sindicatos, as universidades, a imprensa, assim como a Igreja progressista, tiveram suas atividades controladas pelas forças de repressão. Pressões, mortes e exílio vão se intensifi-cando – intelectuais, compositores, pintores, profissionais liberais e tantos outros foram obriga-dos a sair do país, pois, através de suas obras, criticavam a política vigente, enquanto, aqui, os menos afortunados eram torturados, ou pagavam com suas vidas, na luta contra o regime. Ou-tros quatro generais, referendados pelo Congresso Nacional, governaram o país nesse período. Planos econômicos, como o do Ministro Delfim Neto – o conhecido “Milagre Econô-mico”, 1969 a 1974, Governo Garrastazu Médici – foram criados para tentar elevar a situação brasileira, tanto interna, quanto externa, sem sucesso. Em função desses insucessos, a vida da população brasileira agravou-se, propiciando o crescimento dos movimentos operários, prin-cipalmente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, liderado pelo atual Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A resistência à ditadura – como as passeatas estudantis (1967–1968), a guerrilha urbana e rural (1968–1974), a mobilização da sociedade civil (a partir de 1975) – esteve atuante. A partir desses movi-mentos cresce a conscientização social, e vislumbra-se a possibilidade de eleger um presidente civil, esti-mulando a oposição e mobilizando grande parte da sociedade à organização do movimento conhecido como “Diretas Já”, que devolveu à sociedade brasileira o direito de escolher seu presidente. É promulgada, em 1988, a nova Constituição, consagrando o regime presidencialista, eleições em dois turnos para os cargos executivos (presidente da República, governador e pre-feito), com cinco anos de mandato para o presidente, independência dos poderes, a instituição do habeas data, o fim da censura prévia às artes e aos meios de comunicação e da intervenção do Estado nos sindicatos.

Fonte: Mota e Lopez (1995)

O primeiro presidente eleito por voto direto foi Fernando Collor de Melo, em 1989, que se elege prometendo moralizar a administração pública, defender os “descamisados” e fazer o Brasil passar do “Terceiro” para o “Primeiro” mundo. Seu governo foi um fracasso, pois além de não cumprir com as promessas de campanha, ainda confiscou a poupança, gerando instabilidade e revolta. A corrupção ativa e passiva e denúncias de fraudes em quase todas as áreas do governo, reveladas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Orçamento leva a sociedade, prin-cipalmente a juventude que o elegera, a sair às ruas de “caras pintadas” e impor ao Congresso Nacional a saída do presidente Collor. Era o “Impeachment”!

Assume o vice, Itamar Franco, tendo por Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (FHC), que cria o Plano Real – com uma nova moeda, o Real, para controlar a infla-ção que já havia chegado a 5.000% ao ano. FHC eleito Presidente da República, em 1.º turno, com mandato de 1995 a 1998, fortalece o plano real e dá continuidade às privatizações das empresas estatais, privatizando a Companhia Vale do Rio Doce, a maior mineradora do mundo, apesar dos protestos da oposi-ção. Os opositores acusaram o governo de “perda do patrimônio público e desnacionalização da economia”, que se defende alegando que com as privatizações poderia dedicar-se ao seu real objetivo, Saúde e Educação. Em 1997, o Congresso Nacional aprovou a emenda da Constituição que permitia a reeleição do presidente. “FHC inicia seu 2.º mandato (1999-2002), dando continuidade às privatizações – Estatais de Telecomunicações”. (SCHMIDT,1999,p.323) Em 1999, milhares de trabalhadores marcham até Brasília para protestar contra o pre-sidente FHC, acusado de não combater o desemprego, de cortar gastos sociais, de privatizar as estatais e de não realizar a Reforma Agrária. Em janeiro de 2003, assume pela primeira vez a Presidência da República um represen-tante dos trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva. O povo brasileiro sentiu que um legítimo representante da classe trabalhadora finalmente estava no poder. Mais do que um fato histórico é a história do povo que acredita na perspectiva de mudanças na vida de cada um dos brasileiros.

Fonte: Mota e Lopez (1995)

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globalização e Neoliberalismo

A Guerra Fria terminou oficialmente com o fim da União Soviética, em dezembro de 1991, embora seu encerramento já tivesse sido efetivado com a queda do muro de Berlim, em novembro de 1989.A partir de então, instaurou-se um novo mundo, baseado em novas relações econômicas e geopolíticas, que não mais trazia a anterior marca da divisão Leste-Oeste e nem mais o velho confronto entre o bloco capitalista e o socialista. Apresentava novas características, destacada-mente a completa hegemonia da ordem capitalista vitoriosa, e compunha o que alguns prefe-riram chamar de nova ordem internacional.

Desde antes dos anos 1960, o capitalismo ingressara numa nova fase de desenvolvimen-to, chamada por alguns de Terceira Revolução Industrial, baseada numa dinâmica produtiva com sofisticada tecnologia, principalmente em microeletrônica – que envolvia a computação, comunicações e robótica – biotecnologia e química fina. Eram necessários mais investimentos nas pesquisas e na implementação tecnológica, cuja viabilização passou a depender, principalmente, de grandes conglomerados empresariais, possui-dores de enormes volumes de capital. Em tal situação acentuaram-se os processos de fusões, aqui-sições e parcerias de empresas, exigindo, em contrapartida, grande retorno do investimento feito. Isso passou a ser, em parte, garantido por lucros obtidos nos amplos mercados despro-vidos de barreiras nacionais protecionistas. Paralelamente ao processo típico de concentração de capitais, procedeu-se à irradiação mundial dos negócios, globalizando mercados. Globalização é a palavra-chave para sintetizar as transformações dramáticas que, no limiar do século XXI, estão ocorrendo na maior parte dos países, criando entre eles profunda interdependência na economia e na organização social, política e cultural.

A globalização, impulsionada pela queda do bloco soviético socialista e pelo enfraque-cimento mundial do socialismo, estimulou a formação de blocos econômicos, as associações regionais de livre mercado que derrubaram antigas barreiras protecionistas, várias dezenas de-las nascidas nos anos 1990. À frente dessas organizações estão o Nafta (North American Free Trade Agreement – Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), sob a liderança dos Estados Unidos e envolvendo Canadá e México; a União Européia, com a economia alemã como a mais forte e dinâmica e o Bloco do Pacífico, sob comando do Japão. Paralelamente, às associações econômicas regionais, com diminuição ou eliminação dos protecionismos e atração de investimentos internacionais, estabeleceu-se a limitação dos gastos

SOCIEDADE CAPITALISTAo que caracteriza a sociedade capitalista são as relações assalariadas de produção (trabalho assalariado). As relações de pro-dução capitalistas baseiam-se na propriedade privada dos meios de produção pela burguesia (comerciantes das cidades ou burgos) e no trabalho assalariado.A burguesia possui fábricas, terras, bancos, meios de transporte, etc. os trabalhadores, como não possuem os meios de produ-ção, são livres para vender sua força de trabalho para os proprietários do capital.As classes sociais fundamentais do capitalismo são: os capitalistas e os operários assalariados.No capitalismo o desenvolvimento da produção é movido pelo desejo de lucro.

SOCIEDADE SOCIALISTAA base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção, isto é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existem empresas privadas. Não há separação entre patrões e empregados.A finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais e culturais da população: emprego, habita-ção, saúde, educação, etc.A economia na sociedade socialista é planificada visando atender às necessidades básicas da população e não ao lucro da empresa.o primeiro país a tornar-se socialista foi a então União Soviética, com a revolução de 1917, quando os socialistas tomaram o poder. Na China houve uma revolução em 1949 comandada por Mao Tsé Tung e, em 1959, a revolução chefiada por Fidel Castro em Cuba.

governamentais, e a procedência da economia de mercado e a busca de um “Estado Mínimo”. A crescente força privada e a crise do Estado intervencionista deram impulso, por sua vez, às pregações neoliberais. Na política, as condições favoráveis ao neoliberalismo só se efetivaram com os gover-nos conservadores de Margareth Tatcher, a partir de 1979 no Reino Unido, Ronald Reagan, a partir de 1980 nos Estados Unidos e Helmut Kohl, a partir de 1982 na Alemanha, irradiando-se em seguida por todo o mundo. Segundo as orientações neoliberais, em muitos países foram vendidas empresas estatais – as privatizações – o que ampliou os espaços para a atuação de empresas privadas nacionais e transnacionais, subordinando produtos e serviços, antes considerados estratégicos para o desenvolvimento e a soberania nacional à lógica do mercado internacional. A constituição do “Estado Mínimo” promoveu ainda a redução dos gastos públicos com saúde, educação, previdência social e outras políticas sociais.Para os países desenvolvidos, isso significou a desmontagem parcial do Estado de Bem-Estar Social e, para os países dependentes, ou em “desenvolvimento”, a regra foi o agravamento generalizado do quadro social. Esse fato acentuaria as desigualdades entre extremos de pobreza para a maioria e ri-queza para um reduzido número de pessoas, provocando inúmeras manifestações populares contra os efeitos da política neoliberal em diversos países. Em meio à globalização econômica e à política neoliberal, a nova ordem internacional passou a ter como grandes marcas a dinamização produtiva e uma desigualdade socioeconômi-ca cada vez mais profunda. De um lado, liderando o capitalismo, estavam predominantemente os países dos três principais blocos econômicos (Nafta, União Européia e o Bloco do Pacífico) realizando mais de 60% de todas as trocas comerciais do planeta. De outro, o mundo pobre composto por países que, em geral, estão situados no he-misfério sul, vivendo um rápido agravamento dos índices socioeconômicos e produzindo um quadro social alarmante. Um indicador de gravidade do avanço das desigualdades socioeconômicas entre re-giões e grupos sociais é que à população mundial, cerca de 6 bilhões de pessoas em meados dos anos 1990, acrescentava-se, todo ano, o total aproximado de 80 milhões de nascimentos, na sua esmagadora maioria nas regiões mais pobres do planeta. É um dado que, certamente, aponta para mais turbulências político-sociais e impasses econômicos. Em fins de 1990, a situação era muito grave em certas regiões africanas e asiáticas, onde havia dezenas de milhões de indivíduos sem acesso a alimento, água potável, habitação e saneamento básico.O mesmo quadro ocorria em várias cidades latino-americanas, onde até nos países desenvol-vidos os índices de marginalidade, criminalidade, desemprego etc. agrava-se ano após ano, especialmente com o fim de muitas garantias sociais, eliminadas pela política neoliberal. A questão ambiental, nesse contexto, ganha importância, já que o crescimento das necessida-des das matérias-primas e de energia e uma produção e consumo cada vez maiores desafiam os limites físicos do planeta, podendo colocar em risco o que ainda resta do meio ambiente saudável. Uma conclusão plausível para o quadro histórico do final do século XX é que tanto o socia-lismo quanto o capitalismo foram incapazes de consolidar diretrizes para a solução dos graves proble-mas socioeconômicos e políticos que afligem a humanidade na passagem para o terceiro milênio. A nova ordem internacional manteve o velho quadro de misérias, guerras e sofrimen-tos em quase todos os pontos da terra, e o que é pior, em crescente agravamento, sob a feição de um capitalismo vitorioso e globalizado.

Características do Capitalismo global

A grande expansão das empresas transnacionais faz com que a aplicação de capital, a tecnologia, o uso da mão-de-obra, o planejamento da produção e das vendas e, finalmente, o marketing sejam praticados em escala global. Isso significa que todas essas etapas ultrapassam as fronteiras das nações de origem das empresas, ocorrendo em vários países do globo. •Asempresasdistribuemasfábricasqueproduzemcadaumdoscomponentesdeuma

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mercadoria pelas regiões, países, estados e cidades que lhes são mais convenientes. Elas buscam mão-de-obra barata, matérias-primas e também mercados consumidores em expansão. Mas, para se instalar em determinado lugar, fazem acordos com os go-vernos locais para obter redução ou eliminação de impostos, isenção de multas por danos ambientais, etc. Assim, peças de um carro, por exemplo, podem ser fabricadas em diferentes países, e o veículo ser montado em um outro. É a produção descen-tralizada. Com isso, aumenta-se a velocidade da produção, reduzem-se os custos, e ainda é possível melhorar a qualidade do produto. Essa produção globalizada per-mite dizer que o mundo se transformou em uma imensa fábrica global. Nova divisão internacional do trabalho.

•Depoisdefabricadas,asmercadoriassãodistribuídasemummercadocadavezmaisampliado, o mercado global. Sobretudo com o fim do socialismo, vários países, que antes fi-cavam limitados às trocas no interior do Segundo Mundo, ingressaram no mercado mundial. Como resultado da globalização, o comércio internacional não pára de crescer, expandem-se cada vez mais o volume de produtos comercializados, o volume de capital negociado e as tro-cas entre os países.

REFERêNCIAS

AQUINO, Júlio Groppa (Coord.). Ética e cidadania. São Paulo: Abril, 2002. (Ofício do Pro-fessor: aprender mais para ensinar melhor, n. 8).

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DIVERSIDADE E DESIgUALDADE SOCIAL

Nessa imensa diversidade do nosso povo persistem as raízes de profundas desigualdades. Os registros da nossa história não enfatizam a presença de muitas destas pessoas – negros, indígenas, mulheres e trabalhadores com sua identidade plural. Omitiu-se o percurso desses sujeitos, eles e elas foram tornados invisíveis, como se muitos desses autores e atores não tivessem importância na cons-trução da nossa formação histórica. As sociedades capitalistas transformam, engenhosamente, as diferenças em desigualdades e, estas, são absorvidas no cotidiano como naturais, e é assim que as pessoas diferentes são man-tidas no seu lugar, determinado por relações sociais desiguais construídas ao longo da história.

*Constituição brasileira, Título 1 Art. 3.° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do brasil – inciso Iv Promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Cap. I Art. 5.° Todos são iguais perante a lei... inciso vI é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.

A nossa sociedade é formada por pessoas diferentes, de diversas raças e etnias, classes sociais, culturas e credos religiosos, oriundas de diferentes regiões. Pessoas com deficiência sensorial, física, mental e distúrbios de desenvolvimento, portanto uma imen-sa diversidade social.Atualmente, nossa Constituição* garante que estas diferenças não significam diferenças de direitos, ou seja, todos têm direitos iguais e, portanto, têm di-reito a exercer sua diferença. No entanto, ainda falta muito para construirmos uma sociedade verdadeira-mente livre, que assegure a todos os cidadãos seus direitos sociais, políticos, econômicos e culturais.

Fonte: Sociedade e Cultura brasileira 7 ofício do professor: aprender mais para ensinar melhor, p. n.° 8.

Fonte: Revista Isto É, 9/3/05. Capa

Fonte: Revista Isto É: 9/2/05, p.68 Fonte: Revista Raça Ano 7, n.º 72, p. 73

Fonte: Revista do PSF

Fonte: Foto do Catálogo de Divulgação da Programaçãodo Museu Afro brasil, 13/5/05. Ivonice Satie

Quandodizemospessoasdiferentes,ficaapergunta:diferentesdequem?Existenasocie-dade um padrão estabelecido para o qual todas as pessoas devem convergir, são padrões raciais, culturais, físicos, econômicos, religiosos, sexuais, idealizados e construídos pelas classes dominan-tes que acabam por determinar desigualdades de direitos e exclusão social e econômica. A exclusão social é um estado de não ter, de apartação (lembremos da África do Sul e a política do Aparthaid), de negação como decisão histórica de criar interdição, restringindo as potencialidades e eliminando as possibilidades de sobrevida e vida de pessoas, grupos e povos. As vidas humanas tornam-se descartáveis, estão fora do projeto social, são apartados e impedi-dos de usufruir a riqueza produzida pela sociedade. Não devemos, no entanto, confundir po-breza com exclusão, embora a pobreza seja uma forma de exclusão, os pobres tornam-se mais pobres porque são excluídos dos meios através dos quais suas condições poderiam melhorar, e os ricos mais ricos, porque consolidam suas bases de poder. A ideologia dominante na nossa sociedade se baseia num conjunto de crenças construídas historicamente pelo pensamento hegemônico1 que tende a privilegiar (por considerar superior) determinados grupos sociais. Na lógica capitalista, a sociedade acaba por se construir baseada em premissas que mantém determinadas pessoas e grupos submissos a outros, e assim se reproduz a desigualdade. Ainda que submetida a forte controle, a sociedade civil mobiliza-se, organizando movimentos de luta pelos direitos humanos e sociais nas mais criativas formas, institucionalizada ou não, como: •conselhostutelares; •conselhosdesaúde; •movimentospopularesdelutaededefesadacidadania; •organizaçõesnão-governamentais. Para compreender melhor o impacto que essas questões exercem sobre o processo saúde–doença, é preciso pensar além da dimensão biológica. É imprescindível desenvolver a capacidade de identificar de forma mais abrangente as necessidades de saúde, levar em conta a construção social de valores, atitudes e crenças, repensar as práticas de saúde e desenvolver um olhar crítico e abrangente sobre o mundo em que vivemos.

1Predominância de um pensamento sobre os outros.

Fonte: http://geocites.yahoo.com.br/Lazaroroberto/senhorII.htm

Fonte: Revista veja.7/1/04, p. 59.

Fonte: Revista veja.7/1/04, p. 63.

Fonte: Grupo Internacional de Trabalho e Consultoria Relatório Geral, p. 78. Foto Ricardo Funari/RF2.

Fonte: Foto de divulgaçãodo Catálogo brasileiro, brasileiros do Museu Afro brasil, 9/4/05.

Fonte: Revista Raça.Ano 7 n.º. 72, p. 74.Alethéa Mattos –Estilista

Fonte: Revista Up ToDate. Ano 8, n.º 49, 2003, p.85.

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Características da sociedade e a questão da diversidade

O machismo, o etnocentrismo, o heterossexismo e as religiões de matriz judaico-cristã constituem-se valores hegemônicos que se mantêm ao longo da história ocidental. Machismo porque os homens ocupam majoritariamente os espaços de decisão política e econômica, e ainda exercem uma forte dominação social e sexual sobre as mulheres. Etnocentrismo porque os valores impostos a todos são valores de uma única etnia, a qual todas as demais devem se submeter; centrada na crença da superioridade de culturas herdadas da Europa, que chamamos de cultura branca, se sobrepondo à cultura indígena e africana. Heterossexismo porque se acredita que esta é a forma aceitável de sexualidade, sendo as demais discriminadas, consideradas desvios de comportamento e até mesmo doença. Judaico-cristã porque predominam as religiões desta matriz e só são consideradas religiões as que têm sua origem na Bíblia. São estes valores que têm justificado ao longo da história a perseguição, o extermínio e o genocídio de milhões de pessoas. Até hoje sofremos as conseqüências gerando sofrimento, desigualdade e exclusão social daqueles que são diferentes ou que não se encaixam ou não se submetem ao pensamento hegemônico. Reconhecer a diversidade social é um passo importante para percebermos de forma mais ampla as necessidades de saúde da população. Uma sociedade que tem se sustentado com base no estigma, no preconceito e na discriminação é uma sociedade que produz doença. Como profissionais de saúde devemos combater estas práticas, caminhar no sentido de nos responsabi-lizarmos pelo cuidado de fortalecer as práticas de acolhimento e de respeito ao cidadão e cidadã nos serviços de saúde, de modo que sejam superadas todas as formas de discriminação, sejam elas étnico-raciais, de gênero, geração, por orientação sexual, denominação religiosa, em razão do porte de algum tipo de deficiência ou qualquer outra situação (LOPES, 2004, p. 77).

Ampliando nosso conhecimento, desenvolvendo um novo olhar sobre as necessidades de saúde, reconhecendo a diversidade social e o direito à diferença, exercitaremos cotidiana-mente a arte de cuidar com respeito à dignidade humana.

Fonte: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT). Foto: Luís Paulo Lima.

Fonte: Folheto de propaganda do medicamento bIovIR, da Glaxo Wellcome.

Alguns conceitos, definições e comentários

Preconceito: no dicionário, preconceito aparece como sendo: a) um conceito ou opinião for-mada antecipadamente sem conhecimentos dos fatos, idéia preconcebida; b) julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que a conteste; c) suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc. O preconceito acontece entre grupos, é dirigido a pessoas, grupo de pes-

soas, ou instituições sociais, implicando numa indisposição negativa. O preconceito tende a desconsiderar a individualidade, atribuindo aos membros de um grupo características estigmatizantes com os quais o grupo é caracterizado (SILVA; MARINO; SANTOS, 2003, p. 6).

Estigma: é uma marca, um sinal, um atributo ou qualidade que desacredita um indivíduo aos olhos do outro e provoca importantes conseqüências na forma como cada indivíduo vê a si próprio. A qualidade a qual o estigma se refere pode ser, por exemplo, a cor da pele, a forma de andar, práticas sexuais, coisas que a pessoa faz, determinadas profissões, o sexo, pessoas portadoras de certas doenças como hanseníase (conhecida como lepra), aids, sífilis, tubercu-lose, portadores de deficiência física e mental, pessoas com comportamento social desviante etc. Esta referência é totalmente arbitrária, é estabelecida em geral por grupos dominantes que marcam ou atribuem marca infamante a um outro grupo considerado inferior e, portanto, dominado. O estigma é uma marca que adere (cola) às pessoas e aos grupos. O estigmatizado perde valor aos olhos do outro e tem sua identidade estragada ou mesmo destruída. Faz com que muitos grupos sejam desvalorizados e envergonhados, e outros se sintam superiores. A estigmatização está ligada ao poder e à dominação prevalente na sociedade. Desem-penha um papel crucial na produção e reprodução das relações de poder e é reforçada pela desigualdade social. Estas desigualdades incluem: as desigualdades entre o sexo masculino e o feminino; as desigualdades que negam dignidade ou direitos aos profissionais do sexo; desi-gualdade baseada na raça ou origem étnica; as desigualdades associadas à sexualidade. A estig-matização resulta em discriminação levando a violação dos direitos humanos (AGGLETON, 2002, p. 8-10).Discriminação: discriminar refere-se a separar, distinguir, diferenciar, ter discernimento e tam-bém significa marginalizar devido à diferença; portanto, pode ser positiva ou negativa. A dis-criminação negativa ocorre quando se pratica uma distinção contra uma pessoa e esta pessoa é tratada de forma desigual ou injusta, sendo essa distinção baseada no fato da pessoa pertencer a um grupo particular.Constitui discriminação e, portanto, caracteriza violação dos direitos humanos, por exem-plo: a) recusar atendimento, negar o direito ao atendimento à saúde, a uma pessoa por estar suja (mendigo); b) segregar (separar) por meios cruéis e degradantes as pessoas doentes em hospitais e prisões por portarem doenças mentais e ou transmissíveis como a hanseníase, a tuberculose ou a aids; c) impedir, por quaisquer meios, as pessoas de freqüentarem escolas, supermercados, restaurantes, clubes etc, por questões raciais, étnicas, de gênero, de práticas e ou orientação sexual, de profissão, de religião etc. (AGGLETON, 2002, p. 11-12).Raça: é importante saber que não há um conceito de raça que seja aceito por todos. No Brasil, considera-se raça um grupo de pessoas parecidas fisicamente. Para a ciência biológica, raça está ligada à idéia de processo evolutivo, sem relação com o meio ambiente físico ou cultural. Tra-ta-se de uma concepção biológica baseada na idéia de herança genética, no entanto, segundo as pesquisas genéticas, a raça humana é uma só, cada ser humano é geneticamente único.Outro conceito – raça é um conjunto basicamente sociológico, uma construção cultural e po-lítica, é um produto histórico do colonialismo. Utiliza-se raça para identificar características biológicas que diferenciam os grupos humanos; cor da pele e estatura, tipo de cabelo, formato do nariz e dos olhos etc. (OLIVEIRA, 2001, p. 49-52).Etnia: esta é uma palavra pouco utilizada no Brasil. Etnia refere-se ao grupo biológico e cultu-ralmente homogêneo, que se identifica pelo mesmo nome, compartilha histórias de ancestrais ou origens comuns e memórias de um passado coletivo. Um grupo étnico escolhe um ou mais

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traços físicos e/ou culturais (idioma, religião, roupa, cor da pele) como marca étnica do grupo, a importância destes traços físicos relaciona-se com a identidade grupal. Portanto, etnia reflete uma concepção cultural e/ou religiosa e não só biológica, refere um povo vinculado a uma língua, um território ou terras de origem. (OLIVEIRA, 2001, p. 49-52).Raça/etnia: raça é uma caracterização de indivíduos segundo um traço físico (branco, negro, amarelo, pardo, etc.), enquanto etnia é uma identificação de grupos humanos e não uma caracterização de indivíduos (Chiriwano, Sioux, Aimarás, etc.). No entanto, esses termos só têm sentido num contexto sociopolítico mais amplo, pois raça como categoria biológica de diferenciação não existe. A ideologia racista define o que o termo “raça” deve significar. Após a Segunda Guerra Mundial, quando setores democráticos passaram a desenvolver ações para desmontar o racismo científico, surgiu o termo etnia, para indicar as diferenças de origem cultural e agrupamentos humanos. No entanto, para algumas pessoas militantes anti-racistas, a utilização do termo “etnia” escamoteia o racismo. Outras pessoas acham que utilizar o termo “grupo étnico” é melhor, pois não mantém o significado e as gradações de superioridade e inferioridade e hierarquiza-ção que é inerente ao termo raça, imposto pelos racistas. Mas, infelizmente, o preconceito de raça transforma-se facilmente em preconceito de grupos étnicos. (OLIVEIRA, 2001, p. 54). Atualmente, é comum vermos nos textos e documentos oficiais estes termos escritos de várias formas, raça/cor, raça/etnia e raça/cor/etnia.Racismo: fundamenta-se numa ideologia historicamente construída que classifica os grupos humanos, baseada nas diferenças raciais de forma hierárquica, ou seja, grupos superiores e in-feriores, atribuindo esta inferioridade intelectual e moral a determinados grupos. O racismo se estabelece nas relações sociais da mesma forma que o chauvinismo e a xenofobia . O racismo, enquanto ideologia, está impregnado na consciência individual, são crenças e valores histori-camente construídos através das relações que se estabelecem entre dominadores e dominados. Portanto, do pensamento racista surgem as leis, políticas e práticas sociais racistas. A prática do racismo constitui violação dos direitos humanos individuais e/ ou coletivos, baseada em crité-rios raciais determinados pelo grupo dominante. (SILVA, MARINO, SANTOS, 2003, p. 5).Gênero: as discussões sobre gênero estão cada vez mais presentes na nossa sociedade, por isso certamen-te a maioria das pessoas já ouviu alguma vez esta palavra. A palavra gênero não é o mesmo que sexo, não se refere apenas a mulheres e nem é um termo que designa em conjunto homens e mulheres. Gênero se refere às relações entre mulheres e homens determinadas pelo contexto social, político e econômico em que se constroem historicamente os papéis dos homens e das mulheres. Portanto, o gênero simboliza e orienta uma forma de ser e de se comportar (Social Democracia Sindical s/d, p. 9-13). Ao longo da história da humanidade a mulher tem sido submetida a exercer um papel considerado inferior na escala de valores sociais. A religião, majoritariamente controlada por homem, e a ciência também controlada por homens, foram usadas para justificar esta atitude, que aponta as mulheres como mais fracas, descontroladas, incapazes e inferiores. É a crença nesses valores que tem determinado as relações entre homens e mulheres. Por serem relações e comportamentos construídos com base no exercício do poder e da dominação acabam por perpetuar preconceitos e fomentar práticas de discriminação e exclusão social.Orientação Sexual: a sexualidade é um dos maiores tabus que nossa sociedade enfrenta, tendo origem nos valores impostos pelas religiões de origem judaico-cristã que acabaram por influen-ciar todas as outras culturas e religiões. Estes valores mostram o sexo como uma coisa suja e pecaminosa, um ato que se justifica apenas para a reprodução, sendo o desejo sexual e o prazer tentações do diabo. As mulheres estão associadas ao sexo e as tentações por carregarem o pe-cado original. Assim, como o sexo só é aprovado dentro do casamento, legalizado e abençoado pela igreja, também só é considerado normal quando realizado entre pessoas de sexos opostos. Por esta razão, durante muito tempo, foi considerado como doença, como desvio de compor-tamento, e até como crime, a prática de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. A formação da identidade sexual é bastante complexa, não se trata de um processo simples-mente biológico, mas tem fundamental importância os aspectos culturais e sociais que constroem historicamente e socialmente os valores, as características e os papéis sexuais numa dada sociedade. São atribuídas às mulheres determinadas características e maneiras de ser, por exemplo, são chama-

dos trejeitos femininos usar batom, andar de sapato de salto alto, rebolar, soltar gritinhos, etc. Para os homens, espera-se gestos sóbrios que demonstrem força, despreocupação com a aparência, cuspir no chão, etc. Como, na nossa sociedade, as mulheres são consideradas infe-riores, um homem que tenha trejeitos femininos também é considerado inferior, ele é chamado pejorativamente de “bicha” . Este assunto é pouco discutido e quase sempre é motivo de piada e não de esclarecimento, por esta razão existe muita confusão sobre o significado de cada um dos termos que se referem à orientação sexual. Atualmente não falamos mais em opção sexual, pois ser homossexual ou lésbica não é uma opção, mas sim uma orientação, provavelmente já estabelecida desde a infância. Homossexual ou gay é o homem que tem atração sexual por outro homem e deseja ter uma vida amorosa e sexual com outro homem. Lésbicas são mulheres que sentem atração sexual, desejam uma vida amorosa e sexual com outra mulher. Bissexuais são homens e mulheres que mantêm relação sexual com ambos os sexos. Heterossexuais são homens e mulheres que sentem atração sexual, mantêm relações sexuais e desejam uma vida amorosa e sexual com o sexo oposto. Transgênero é uma denominação mais recente que se refere aos travestis e transexuais. Travestis são pessoas que tem uma identidade sexual oposta ao seu sexo e se vestem e se comportam conforme as características estabelecidas socialmente. São homens que se vestem e se comportam como mulheres e mulheres que se vestem e se comportam como homens . O tra-vesti adota uma outra identidade, busca alcançar aparência física e adota um nome condizente com o sexo que deseja aparentar, mas não deixa de ser o que é, ou seja, um travesti homem que se considera um homem e não deseja mudar de sexo. Transexuais são pessoas que desejam mudar de sexo por terem uma identidade profun-damente construída nas características do sexo oposto; psiquicamente e emocionalmente são homens com identidade feminina ou mulheres com identidade masculina. Hermafroditas são pessoas que nasceram com órgãos sexuais femininos e masculinos por problemas de disfunção genética.Homofobia: caracteriza o medo e o resultante desprezo, experimentado por alguns indivíduos, pelos homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgênero. Para muitas pessoas é fruto do medo de elas próprias serem homossexuais ou de que os outros pensem que o são. O termo é usado para descrever uma repulsa face às relações afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo, um ódio generalizado aos ho-mossexuais e todos os aspectos do preconceito heterossexista e da discriminação anti-homossexual. O termo “heterossexismo” não é familiar para muitos porque é relativamente recente. Há pouco tempo tem sido utilizado para nomear uma opressão paralela, que suprime os direitos das lésbicas, gays e bissexuais. Heterossexismo descreve uma atitude mental que primeiro categoriza para depois injustamente etiquetar como inferior todo um conjunto de cidadãos. Numa sociedade heteros-sexista, a heterossexualidade é tida como normal e todas as pessoas são consideradas heterossexuais e está institucionalizado nas nossas leis, órgãos de comunicação social, religiões e línguas. A sociedade impõe a heterossexualidade como superior ou como única forma de sexualidade e isto é uma violação dos direitos humanos, tal como o racismo e o sexismo. (HALLIFAX, 2004, p. 3).Religião: a palavra religião vem do verbo religar e significa ligar novamente, diz respeito à intenção do ser humano de ligar-se a Deus. A religião é a expressão da crença e da reverência da humanidade para com um poder sobre-humano reconhecido como criador e regente do universo. Existem centenas de religiões diferentes no mundo todo e, ao longo dos séculos, cada uma delas tem sofrido transformações. A religião também é historicamente determinada e dependendo do lugar e da época, teremos diferentes formas de expressão religiosa. O desenvolvimento e o anseio espiritual são necessidades humanas que se manifestam nas características culturais de cada povo. Através das crenças religiosas, os povos têm busca-dorespostasparaasgrandesquestões,taiscomo:Paraqueestamosaqui?Oqueofuturonosreserva?Oquenosaconteceráapósamorte?Quemnoscriou?Comodevemosviver?etc.Também através da religião as pessoas buscam conforto para a dor e o sofrimento que a vida provoca, cada religião explica de uma forma particular o mundo em que vivemos. Cada reli-gião tem sua própria hierarquia, seu próprio código de valores, normas de condutas e rituais de acordo com as características culturais de cada povo.

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Por esta razão, as religiões são extremamente complexas, é difícil para alguém entender e aceitar outra religião que não seja a sua própria. Também existem milhões de pessoas que não pro-fessam religião alguma, são agnósticas , ou então não acreditam na existência de Deus, são ateus. No Brasil existem muitas religiões, somos um mesmo povo e, no entanto, temos uma di-versidade enorme de crenças religiosas. Vivemos na nossa história o processo de colonização que impôs a religião católica sobre todas as demais e até hoje sofremos a conseqüência deste fato. Existe uma hegemonia das religiões cristãs (católicos e evangélicos) o que provocou durante muito tempo movimentos de perseguição a outras crenças e até hoje convivemos com a intolerância religiosa que se manifesta de diversas formas. Predomina um pensamento e uma atitude sobre as pessoas de que todas devem ser monoteístas e batizadas na fé cristã. Outras religiões são vistas como perigosas oriundas do mal, próprias de pessoas ignorantes, portanto, são consideradas inferiores e moralmente reprováveis. Temos como exemplo desta realidade a luta das religiões de matriz africana e do xamanis-mo dos indígenas para subsistirem até os tempos de hoje. Nos hospitais, padres e pastores podem entrar e visitar seus doentes, evangélicos e católicos podem ser voluntários e cantar e rezar para os doentes, mas os sacerdotes das religiões afro-brasileiras são impedidos e precisam lutar muito para conseguir convencer os profissionais de saúde a permitir que eles realizem seus cultos e orações. O fato das pessoas terem ou não uma religião não significa que sejam melhores ou piores. Possuir as qualidades de bom caráter, ter princípios, agir com ética, lealdade, respeito, responsabilidade ou ter sentimentos de bondade ou amor são independentes de ter ou não ter qualquer religião. Apesar disso, muitas pessoas atribuem características morais positivas apenas aos seguidores das religiões de origem judaico-cristã, os demais devem ser convertidos para que suas almas possam ser salvas. Baseada nessa premissa, por muitos séculos tem se infligido à humanidade muitos sofrimen-tos e, em nome da religião, tem-se praticado guerras, genocídio e a destruição de muitos povos.ONG: sigla de Organização Não-Governamental. São organizações privadas, não-lucrativas, voltadas a um objetivo específico, operadas por trabalho voluntário e/ou remunerado. Há mui-tas ONGs voltadas para a defesa do meio ambiente, para a paz e o desenvolvimento mundial, direitos humanos, etc. Com freqüência, essas organizações se voltam para questões pouco ou precariamente cuidadas pelos governos dos paises. Existem ONGs internacionais bastante atuan-tes, como, por exemplo, a Anistia Internacional, o Greenpeace e os Médicos sem Fronteiras.Movimentos Sociais: expressam-se por ação coletiva organizada na conquista e no exercício da cidadania, tendo por fator de aglutinação ou horizonte de ação a defesa de valores funda-mentais à vida humana, como reivindicações vinculadas à superação de carências, conquista de benefícios trabalhistas (salário, jornada de trabalho, benefícios da previdência e assistência social), defesa da diversidade e inclusão social, preservação do meio ambiente, proteção dos animais, justiça social, direito à posse da terra e moradia. De acordo com a base social, de natureza popular ou institucional, os movimentos so-ciais têm caráter progressista ou conservador, sendo as mobilizações voltadas para a melhoria das condições de vida ou de preservação da ordem social vigente.

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PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno (a): Matrícula: Turma: Data do início: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE REGISTRo - PESQUISA

Módulo I - Unidade I - Tema 2Aluno

I - Identificação: usuário, familiar, morador antigo da região, outros (não é necessário citar

nome).

1. origem e procedência; 2. Fatos marcantes da história de vida; 3. Crenças, costumes, valores religiosos e culturais; 4. Doenças mais freqüentes na família.

PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da SaúdeEscola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno (a): Matrícula:

Turma: Data do início: Local:

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE REGISTRo - vISITA A INSTITUIçÕES

Módulo I - Unidade I - Tema 2Aluno

I - Identificação da Instituição:Nome:Endereço:Telefone:Como surgiu:Qual a finalidade:Nome do representante(s):Pessoa de contato:

II - Relatos dos fatos importantes observados.

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

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PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno (a): Matrícula: Turma: Data: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE AvALIAçãoMódulo I - Unidade I - Tema 2

Aluno

o que você aprendeu sobre a história da formação do povo brasileiro, diversidade e desigualdade social e história da população local têm relação com seu trabalho? Comente.

PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno (a): Matrícula: Turma: Data: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE AvALIAçãoMódulo I - Unidade I - Tema 2

Docente

Avalie o trabalho do aluno e seu desempenho em plenária, considerando os objetivos deste tema.

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TEMA 3POLíTICAS DE SAúDE NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO SUS

Objetivos

•Conheceraspolíticaspúblicasde saúdee sua relaçãocomosdiferentesperíodoshistóricos da sociedade brasileira: contexto socioeconômico, político, cultural e de saúde.

•Reconhecerasconcepçõesdesaúdeedoençaeasformasdeintervençãonoprocessoque orientam as políticas públicas de saúde nos contextos históricos da sociedade brasileira.

•ConheceroSistemaÚnicodeSaúde(SUS),osprincípios,asdiretrizesealegislação. •AnalisaraaplicabilidadedosprincípiosedasdiretrizesdoSUSnosserviçosdesaúde

e em sua prática profissional. •Reconheceraimportânciadaparticipaçãodostrabalhadoresdasaúdeedapopula-

ção local na formulação e implementação das políticas de saúde, para a melhoria das condições de vida.

Conteúdos

•PolíticasPúblicasdeSaúdenoBrasil:doPeríodoColonialàatualidade. •SUS:princípios;diretrizes;legislação.

Proposta para o desenvolvimento das atividades

1. Em duplas, elaborar uma manchete para jornal sobre Política Pública de Saúde como resposta aos problemas de saúde da população.

2. Em plenária, montar um painel com as manchetes elaboradas; explicar as idéias e os conceitos contidos nas mesmas.

3. Assistir ao vídeo “História da Saúde Pública no Brasil”, registrando as idéias básicas, contextos históricos e as políticas de saúde evidenciadas nos diferentes períodos.

4. Em plenária, debater as observações e as conclusões sobre o vídeo – se necessário, assistir ao vídeo novamente.

5. Em grupos, leitura do livro “HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL”, de Cláudio Bertolli Filho, identificando em cada período a situação socioeconômica e política e medidas/ações de saúde propostas. Poderá ser utilizado o roteiro abaixo, para sistematizar a leitura, que será apresentada em plenária.

•Grupo1:dacolonizaçãoàrepública–araizhistóricadadoença; •Grupo2:narepúblicaoBrasil“civiliza-se”; •Grupo3:asaúdepúblicanaEraVargas(1930-1945); •Grupo4:ademocratizaçãoeasaúde(1945-1964); •Grupo5:asaúdenoregimemilitarde1964; •Grupo6:asaúdenosanos80e90.

FICHA TÉCNICAHistória da Saúde Pública no Brasil

Produção: São Paulo, Tapiti vídeo/CEFoR-SMS, 1992.Direção: Renato TapajósDuração: 40 minutosIdioma: Português

ROTEIROgRUPO: ______________________________________________

PERíODO: ____________________________________________

SITUAção SoCIoECoNÔMICA

Do bRASIL

SITUAção PoLíTICA Do bRASIL

SITUAção DA SAÚDE PÚbLICA

MEDIDAS oU AçÕES DE SAÚDE PRoPoSTAS

6. Em plenária, apresentar o trabalho dos grupos. 7. Resgatar a linha do tempo (tema 2, atividade 4) e completar com as novas informações. 8. Em plenária, retomar o(s) conceito(s) de saúde e de doença construído(s) pelo grupo

(tema 1, atividade 11) relacionando-os com as discussões realizadas e refletir sobre a questão:

•aspolíticasdesaúdevêmatendendoasnecessidadesdesaúdedapopulação?Porquê? 9. O professor deverá realizar a sistematização e síntese do tema. 10. Atividade em serviço: Identificar notícias e problemas de saúde veiculados na mídia (TV, jornais, revistas,

Internet, cartazes e outros), e propostas de intervenção, para serem discutidos na aula seguinte.

11. Individualmente, com a ajuda do professor da unidade, realizar a atividade em serviço.

12. Em plenária, comentar as facilidades/dificuldades para a realização da atividade. Retomar o painel coletivo elaborado na atividade 2 do tema 3 e relacionar com as notícias e problemas de saúde registrados na atividade em serviço.

Discutir: •qualéaatualpolíticapúblicaparaasaúde?Comovemsendoconcretizada? 13. Em pequenos grupos, leitura, discussão e sistematização do texto “O ABC DO SUS”.

Caros alunos:Durante a semana, identifique notícias e problemas de saúde e o que vem sendo feito para superá-los. Poderão pesquisar no local de trabalho, durante a realização das visitas domiciliares, ao lerem jornais, revistas, cartazes, pesquisas na internet, ou ao assistirem Tv, vídeo, etc.Com certeza, vocês poderão ver muitos problemas, mas selecionem apenas o que chamou mais sua atenção e faça o registro, através de relatórios, recortes, fotos, colagens e outros.Usem a criatividade e boa pesquisa!

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14. Em plenária, complementar a leitura do texto assistindo ao vídeo SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS).

Discutir: •oquemotivouaadoçãodoSUScomopolíticapúblicadesaúde? •quaisosprincípiosnorteadoresdoSUS? •quaisosprincípiosparaorganizaçãodoSUS? •quemsãoosgestoresdoSUS? •quemdevecontrolaroSUS? •qualomodelodeatençãoàsaúdepropostopeloSUS?

15. O professor deverá realizar a sistematização e síntese, em exposição dialogada e comple-mentar com o disposto na legislação e normas vigentes.

16. Organizar atividade em serviço: •essaatividadetemafinalidadedeverificarcomooSUSvemsendoconstruído.Para

tanto, poderão ser observadas ações desenvolvidas na unidade de trabalho e fora desta, levando em consideração os problemas de saúde da população local.

TEXTOS, VÍDEOS E MATERIAIS COMPLEMENTARES:

“LEI FEDERAL N.º 8.080, DE 19/9/90”. ANEXO A“LEI FEDERAL N.º 8.142, DE 28/12/90”. ANEXO B“LEI MUNICIPAL N.º 13.325, DE 8/2/2002”. ANEXO C“DECRETO MUNICIPAL N.º 42.005, DE 18/5/02”. ANEXO D“NORMAS OPERACIONAIS PARA O SUS: NOB E NOAS”. ANEXO E“CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA SAÚDE”. ANEXO F“RAP DO SUS”. ANEXO G“PACTO PELA SAÚDE”. DVD OU VHS

Tempo previsto: 40 horas

a16h em sala de aula; a24h em serviço.

FICHA TÉCNICASISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

Produção: Ministério da Saúde – Programa de Educação em Saúde,1998.Direção: Maninha PereiraDuração: 14 minutos, colorido, sonoro.Idioma: PortuguêsPúblico: em geral

Caros alunos:Com a ajuda do professor da unidade de serviço, planejar e realizar as atividades propostas. Se não for possível realizar todas as atividades, optar pela que considerar mais significativa para identificar a aplicabilidade dos princípios do SUS e a organização dos serviços de saúde na sua região.Atividades: 1. na unidade de trabalho, realizar levantamento para identificar como se operacionalizam os prin-

cípios e diretrizes do SUS e registrar no Instrumento de Registro 1 do Tema 3; 2. em pequenos grupos, participar de reuniões de conselho gestor, de funcionários da unidade e de movi-

mentos sociais, para identificar e analisar o papel e o funcionamento desses fóruns na organização dos serviços de saúde para a consolidação do SUS. Registrar no Instrumento de Registro 2 do Tema 3;

3. organizar mesa redonda, com pessoas que tenham vivência do tema: pessoas da comunidade, conse-lheiros de saúde, profissionais, autoridades locais, representantes dos movimentos sociais e outros.

Sugestão: conheçam o rap do SUS composto por alunos e profissionais da ESF da região Sudeste.

ABC DO SUS – DOUTRINAS E PRINCíPIOS

I. O que há de novo na saúde?

Entre as diretrizes políticas consolidadas pela nova Constituição, no cenário nacional, estão os fundamentos de uma radical transformação do sistema de saúde brasileiro. O que levou os constituintes a proporem essa transformação foi o consenso, na sociedade, quanto à total inadequação do sistema de saúde caracterizado pelos seguintes aspectos, entre outros: •umquadrodedoençasdetodosostipos,condicionadospelotipodedesenvolvimentoso-

cial e econômico do país e que o sistema de saúde não conseguia enfrentar com decisão; •completairracionalidadeedesintegraçãodasunidadesdesaúde,comsobreofertade

serviços em alguns lugares e ausência em outros; •excessivacentralização,implicandoporvezesemimpropriedadedasdecisões,pela

distância dos locais onde ocorrem os problemas; •recursosfinanceirosinsuficientesemrelaçãoàsnecessidadesdeatendimentoeem

comparação com outros países; •desperdíciodos recursosalocadosparaa saúde,estimadonacionalmenteempelo

menos 30%; •baixacoberturaassistencialdapopulação,comsegmentospopulacionaisexcluídos

do atendimento, especialmente os mais pobres e nas regiões mais carentes; •faltadedefiniçãoclaradascompetênciasdosváriosórgãoseinstânciaspolítico-ad-

ministrativas do sistema, acarretando fragmentação do processo decisório e descom-promisso com as ações de sua responsabilidade;

•desempenhodescoordenadodosórgãospúblicoseprivadosconveniadosecontrata-dos, acarretando conflito entre os setores público e privado, superposição de ações, desperdícios de recursos e mal atendimento à população;

•insatisfaçãodosprofissionaisdaáreadaSaúdequevêmsofrendoasconseqüênciasda ausência de uma política de recursos humanos justa e coerente;

•baixaqualidadedosserviçosoferecidosemtermosdeequipamentoseserviçospro-fissionais;

•ausênciadecritériosedetransparênciadosgastospúblicos,bemcomodeparticipa-ção da população na formulação e gestão das políticas de saúde;

•faltademecanismosdeacompanhamento,controleeavaliaçãodosserviços; •imensapreocupaçãoeinsatisfaçãodapopulaçãocomoatendimentoàsuasaúde.

A partir desse diagnóstico e de experiências isoladas ou parciais acumuladas ao longo dos últimos dez anos, e especialmente baseando-se nas propostas da 8.ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, a Constituição de 1988 estabeleceu pela primeira vez, de forma relevante, uma seção sobre a saúde que trata de três aspectos principais: s em primeiro lugar, incorpora o conceito mais abrangente de que a saúde tem como

fatores determinantes e condicionantes o meio físico (condições geográficas, água, alimentação, habitação, etc.); o meio socioeconômico e cultural (ocupação, renda, educação, etc.); os fatores biológicos (idade, sexo, herança genética, etc.); e a opor-tunidade de acesso aos serviços que visem à promoção, proteção e recuperação da saúde. Isso implica que, para se ter saúde, são necessárias ações em vários setores, o que só uma política governamental integrada pode assegurar;

s em segundo lugar, a Constituição também legitima o direito de todos, sem qualquer discriminação, às ações de saúde em todos os níveis, assim como explicita que o dever de prover o pleno gozo desse direito é responsabilidade do governo, ou seja, do poder público. Isto significa que, a partir da nova Constituição, a única condição para se ter direito de acesso aos serviços e às ações de saúde é precisar deles;

s por último, a Constituição estabelece o Sistema Único de Saúde (SUS), de caráter públi-co, formado por uma rede de serviços regionalizada, hierarquizada e descentralizada, com direção única em cada esfera do governo, e sob controle dos seus usuários.

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Os serviços particulares conveniados e contratados passam a ser complementares e sob diretri-zes do Sistema Único de Saúde.Ainda que esse conjunto de idéias, direitos, deveres e estratégias não possam ser implantados automaticamente e de imediato, o que deve ser compreendido é que a implantação do SUS tem por objetivo melhorar a qualidade da atenção à saúde no país, rompendo com um passado de descompromisso social e irracionalidade técnico-administrativa, e é a imagem ideal que norte-ará o trabalho do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de saúde. Para isso, é necessário que se entenda a lógica do SUS, como ele deve ser planejado e funcionar para cumprir esse novo compromisso, que é assegurar a todos, indiscriminadamen-te, serviços e ações de saúde de forma equânime, adequada e progressiva.

II. O que é Sistema único de Saúde – SUS?

É uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos servi-ços e das ações de saúde estabelecida pela Constituição de 1988. O SUS não é o sucessor do INAMPS e nem tampouco do SUDS. O SUS é novo sistema de saúde que está em construção.

Porque Sistema Único?

Porque ele segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o territó-rio nacional, sob a responsabilidade das três esferas autônomas de governo: federal, estadual e muni-cipal. Assim, o SUS não é um serviço ou uma instituição, mas um sistema que significa um conjunto de unidades, de serviços e ações que interagem para um fim comum. Esses elementos integrantes do sistema referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.

Qual a doutrina do SUS?

Baseada nos preceitos constitucionais, a construção do SUS se norteia pelos seguintes princípios doutrinários: •Universalidade – é a garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo e qual-

quer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder público. Saúde é direto de cidadania e dever dos governos: municipal, estadual e federal.

•Eqüidade – é assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a comple-xidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas neces-sidades até o limite do que o sistema pode oferecer para todos.

•Integralidade – é o reconhecimento na prática dos serviços de que: s cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; s as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um

todo indivisível e não podem ser compartimentalizadas; s as unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexida-

de, formam também um todo indivisível configurando um sistema capaz de prestar assistência integral;

s o homem é um ser integral, biopsicossocial, e deverá ser atendido com esta visão integral por um sistema de saúde também integral, voltado a promover, proteger e recuperar sua saúde.

Quais são os princípios que regem a organização do SUS?

Regionalização e hierarquização – os serviços devem ser organizados em níveis de com-plexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Isso implica na capacidade dos serviços em oferecer a uma determina-da população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível, possibilitando um ótimo grau de resolubilidade (solução de seus problemas). O acesso da população à rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção que devem estar qualificados para atender e resolver os principais problemas que demandam os serviços de saúde. Os demais deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade tecnológica.

A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e regionalizada, permite um maior conhecimento dos problemas de saúde da população da área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade.

Resolubilidade – é a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capaci-tado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência.

Descentralização – é entendida como uma redistribuição das responsabilidades quanto às ações e aos serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da idéia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Assim, o que é abrangência de um município deve ser de responsabilidade do governo municipal; o que abrange um estado ou uma região estadual deve estar sob responsabilidade do governo estadual; e o que for de abrangência nacional será de responsabilidade federal. Deverá haver uma profunda redefini-ção das atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde – é o que se chama municipalização da saúde. Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos.

Participação dos cidadãos – é a garantia constitucional de que a população, através de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das políticas de saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local. Essa participação deve se dar nos conselhos de saúde, com representação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Outra forma de participa-ção são as conferências de saúde, periódicas, para definir prioridades e linhas de ação sobre a saúde. Deve ser também considerado como elemento do processo participativo o dever de as instituições oferecerem informações e conhecimentos necessários, para que a população se posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde.

Complementaridade do setor privado – a Constituição definiu que, quando, por insuficiência do setor público, for necessária a contratação de serviços privados, isso deve se dar sob três condições: •acelebraçãodecontrato,conformeasnormasdedireitopúblico,ouseja,ointeresse

público prevalecendo sobre o particular; •ainstituiçãoprivadadeveráestardeacordocomosprincípiosbásicoseasnormas

técnicas do SUS. Prevalecem, assim, os princípios da universalidade, eqüidade etc., como se o serviço privado fosse público, uma vez que, quando contratado, atua em nome deste;

•a integraçãodosserviçosprivadosdeverásedarnamesmalógicaorganizativadoSUS, em termos de posição definida na rede regionalizada e hierarquizada dos servi-ços. Dessa forma, em cada região, deverá estar claramente estabelecido, consideran-do-se os serviços públicos e os privados contratados, quem vai fazer o que, em que nível e em que lugar.

Dentre os serviços privados, devem ter preferência os serviços não lucrativos, confor-me determina a Constituição. Assim, cada gestor deverá planejar primeiro o setor público e, na seqüência, comple-mentar a rede assistencial com o setor privado, com os mesmos conceitos de regionalização, hierarquização e universalização. Torna-se fundamental o estabelecimento de normas e procedimentos a serem cumpridos pelos conveniados e contratados, os quais devem constar, em anexo, dos convênios e contratos.

III. Papel dos gestores do SUS

O que são os Gestores? Gestores são as entidades encarregadas de fazer com que o SUS seja implantado e funcione adequadamente dentro das diretrizes doutrinárias, da lógica organizacional e seja

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operacionalizado dentro dos princípios anteriormente esclarecidos. Haverá gestores nas três esferas de governo, isto é, no nível municipal, estadual e federal.

Quem são os gestores? Nos municípios, os gestores são as secretarias municipais de saúde ou as prefeituras, sendo responsáveis pelas mesmas os respectivos secretários municipais, ou equivalentes, e prefeitos. Nos estados, os gestores são os secretários estaduais de saúde e, no nível federal, o Mi-nistério da Saúde. A responsabilidade sobre as ações e os serviços de saúde em cada esfera de go-verno, portanto, é do titular da secretaria respectiva, e do Ministério da Saúde no nível federal.

Quais são as Principais Responsabilidades dos Gestores? No nível municipal, cabe aos gestores programar, executar e avaliar as ações de pro-moção, proteção e recuperação da saúde. Isto significa que o município deve ser o primeiro e o maior responsável pelo planejamento, execução e controle das ações de saúde na sua área de abrangência. Como os serviços devem ser oferecidos em quantidade e qualidade adequadas às ne-cessidades de saúde da população, ninguém melhor que os gestores municipais para avaliar e programar as ações de saúde em função da problemática da população do seu município. O secretário estadual de saúde, como gestor estadual, é o responsável pela coordena-ção das ações de saúde do seu estado. Seu plano diretor será a consolidação das necessidades propostas de cada município, através de planos municipais, ajustados entre si. O estado deverá corrigir distorções existen tes e induzir os municípios ao desenvolvimento das ações. Assim, cabe também aos estados planejar e controlar o SUS, em seu nível de responsabilidade, e exe-cutar apenas as ações de saúde que os municípios não forem capazes e/ou que não lhes couber executar. Em nível federal, o gestor é o Ministério da Saúde, e sua missão é liderar o conjunto de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, identificando riscos e necessidades nas diferentes regiões para a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro, contribuindo para o desenvolvimento. Ou seja, ele é o responsável pela formulação, coordenação e controle da política nacional de saúde. Tem importantes funções no planejamento, financiamento, coope-ração técnica e controle do SUS. Em cada esfera de governo, o gestor deverá se articular com os demais setores da so-ciedade que têm interferência direta ou indireta na área da Saúde, fomentando sua integração e participação no processo. Ainda que a saúde seja um direito de todos e um dever do Estado, isso não dispensa cada indivíduo da responsabilidade por seu autocuidado, nem as empresas, escolas, sindicatos, imprensa e associações, de sua participação no processo. Nas três esferas deverão participar, também, representantes da população, que garan-tirão, através de entidades representativas, envolvimento responsável no processo de formula-ção das políticas de saúde e no controle da sua execução.

Quem é o responsável pelo atendimento ao doente e pela saúde da população? O principal responsável deve ser o município, através das suas instituições próprias ou de instituições contratadas. Sempre que a complexidade do problema extrapolar capacidade do município resolvê-lo, o próprio serviço municipal de saúde deve enviar o paciente para outro município mais próximo, capaz de fornecer a assistência adequada, ou encaminhar o problema para suportes regionais e estaduais nas áreas de alimentação, saneamento básico, vigilância epidemiológica e vigilância sanitária. Deverá haver, sempre que possível, uma inte-gração entre os municípios de uma determinada região para que sejam resolvidos os problemas de saúde da população. Conforme o grau de complexidade do problema entra em ação o nível estadual e/ou o nível federal.

Quem deve controlar se o SUS está funcionando bem?

Quem deve controlar é a população, o poder legislativo e cada gestor na sua esfera de governo.

A população deve ter conhecimento de seus direitos e reivindicá-los ao gestor local do SUS, sempre que os mesmos não forem respeitados. O sistema deve criar mecanismos através dos quais a população possa fazer essas reivindicações. Os gestores devem, também, dispor de me-canismos formais de avaliação e controle e democratizar as informações.

De onde vem o dinheiro para pagar tudo isto?

Os investimentos e o custeio do SUS são feitos com recursos das três esferas de gover-no: federal, estadual e municipal. Os recursos federais para o SUS provêm do orçamento da Seguridade Social (que também financia a Previdência Social e a Assistência Social) acrescidos de outros recursos da União, constantes da Lei de Diretrizes Orçamentárias, aprovada anualmente pelo Congresso Nacional. Esses recursos, geridos pelo Ministério da Saúde, são divididos em duas partes: uma é retida para o investimento e custeio das ações federais; a outra é repassada às secretarias de saúde, estaduais e municipais, de acordo com critérios previamente definidos em função da população, necessidades de saúde e rede assistencial. Em cada estado, os recursos repassados pelo Ministério da Saúde são somados aos alocados pelo próprio governo estadual, de suas receitas, e geridos pela respectiva secretaria de saúde, através de um fundo estadual de saúde. Desse montante, uma parte fica retida para as ações e os serviços estaduais, enquanto outra parte é repassada aos municípios, de acordo, também, com critérios específicos. Finalmente, cabe aos próprios municípios destinar parte adequada de seu próprio or-çamento para as ações e os serviços de saúde de sua população. Assim, cada município irá gerir os recursos federais e estaduais repassados a ele e os seus próprios recursos alocados pelo governo municipal para o investimento e custeio das ações e dos serviços de saúde de âmbito municipal. Os municípios administrarão os recursos para a saúde através de fundos municipais de saúde. A criação dos fundos é essencial, pois asseguram que os recursos da saúde sejam geri-dos pelo setor Saúde e não pelas secretarias de fazenda, em caixa único, estadual ou municipal, sobre o qual a saúde tem pouco acesso. Hoje, a maior parte dos recursos aplicados em saúde tem origem na Previdência So-cial. Esta tendência deverá alterar-se até que se chegue a um equilíbrio das três esferas de governo em relação ao financiamento da saúde. Para tanto, os estados e municípios deverão aumentar os seus gastos com saúde, atingindo em torno de 10% de seus respectivos orçamen-tos, e a União deverá elevar a participação do seu orçamento próprio, de acordo com as ne-cessidades do financiamento, a serem indicadas pelo processo do planejamento orçamentário ascendente.

IV. Quais as ações a serem desenvolvidas?

Historicamente, a atenção à saúde no Brasil vem sendo desenvolvida com ênfase na prestação de serviços médicos individuais, de enfoque curativo, a partir de procura espontânea aos serviços. O conceito abrangente de saúde, definido na nova Constituição, deverá nortear a mu-dança progressiva dos serviços, passando de um modelo assistencial, centrado na doença e baseado no atendimento a quem procura para um modelo de atenção integral à saúde, onde haja a incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas pro-priamente ditas de recuperação. Para melhor identificar quais os principais grupos de ações de promoção, de proteção e de recuperação da saúde, a serem desenvolvidas prioritariamente, é necessário conhecer as principais características do perfil epidemiológico da população, não só em termos de doenças mais freqüentes, como também em termos das condições socioeconômicas da comunidade, dos seus hábitos e estilos de vida, e de suas necessidades de saúde, sentidas ou não-sentidas, aí

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incluída, por extensão, a infra-estrutura de serviços disponíveis.

Ações de promoção e proteção de saúde – esses grupos de ações podem ser desenvolvidos por instituições governamentais, empresas, associações comunitárias e indivíduos. Tais ações visam à redução de fatores de risco, que constituem ameaça à saúde das pes-soas, podendo provocar-lhes incapacidades e doenças. Esses grupos compreendem um elenco bastante vasto e diversificado de ações, de natureza eminentemente preventiva, que, em seu conjunto, constituem o campo de aplicação precípua do que se convencionou chamar, tradicio-nalmente, de Saúde Pública, ou seja, o diagnóstico e o tratamento científico da comunidade. No campo da promoção, são exemplos de ações: educação em saúde, bons padrões de alimentação e nutrição, adoção de estilos de vida saudáveis, uso adequado e desenvolvimento de aptidões e capacidades, aconselhamentos específicos, como os de cunho genético e sexual. Através dessas ações, são estimuladas as práticas da ginástica e outros exercícios físicos, os hábitos de higiene pessoal, domiciliar e ambiental e, em contrapartida, desestimulados o se-dentarismo, o tabagismo, o alcoolismo, o consumo de drogas, a promiscuidade sexual. No desenvolvimento dessas ações, devem ser utilizados, de forma programada e sistemática, com emprego de linguagem adequada ao público-alvo, os diferentes meios e veículos disponíveis de comunicação ao alcance da comunidade: cartazes, rádio, jornal, televisão, alto-falantes, palestras e debates em escolas, associações de bairro, igrejas, empresas, clubes de serviço e lazer, dentre outros. No campo da proteção, são exemplos de ações: vigilância epidemiológica, vacinações, saneamento básico, vigilância sanitária, exames médicos e odontológicos periódicos, entre ou-tros. Através da vigilância epidemiológica são obtidas as informações para conhecer e acompa-nhar, a todo momento o estado de saúde da comunidade e para desencadear, oportunamente, as medidas dirigidas à prevenção e ao controle das doenças e agravos à saúde. A vigilância sanitária busca garantir a qualidade de serviços, meio ambiente de trabalho e produtos (alimentos, medicamentos, cosméticos, saneantes domissanitários, agrotóxicos e outros), mediante a identificação, o controle ou a eliminação de fatores de risco à saúde, neles eventualmente presentes. São exemplos de serviços sujeitos à vigilância sanitária: unidades de saúde, restaurantes, academias de ginástica, institutos de beleza, piscinas públicas, etc. No meio ambiente, a vigilância sanitária procura evitar ou controlar a poluição do ar, do solo, da água, a contaminação por agrotóxicos, o uso do mercúrio nos garimpos, etc. Nos locais de trabalho, a vigilância sanitária preocupa-se, por exemplo, em assegurar condições ambientais satisfatórias (iluminação, temperatura, umidade, ventilação, nível sono-ro), adequação ergométrica de máquinas, equipamentos e móveis e eliminação de substâncias e produtos que podem provocar doenças ocupacionais. Em relação aos produtos, a vigilância sanitária não se limita apenas à fiscalização dos artigos já expostos ao consumo, mas efetua, com prioridade, a inspeção sanitária e técnica das respectivas linhas de fabricação, de modo a evitar a sua comercialização em condições insatisfatórias de segurança e qualidade. Todos esses grupos de ações geralmente têm o suporte de legislação específica, na qual são inseridos as normas e os regulamentos de proteção à saúde, com vistas à sua observância por todos. Todas as ações de promoção e proteção da saúde, acima descritas, podem e devem ser exercidas (ou desencadeadas), também, durante o atendimento nas unidades de saúde, ambu-latoriais e hospitalares, com objetivos e técnicas adequados a estes locais.Ações de recuperação da saúde – esse grupo de ações envolve o diagnóstico e o tratamento de doenças, acidentes e danos de toda natureza, a limitação da invalidez e a reabilitação. Essas ações são exercidas, fundamentalmente, pelos serviços públicos de saúde (ambulatoriais e hos-pitalares) e, de forma complementar, pelos serviços particulares, contratados ou conveniados, que integram a rede do SUS, nos níveis federal, estadual e municipal, particularmente nos dois últimos, onde deve estar concentrada a maior parte dessas atividades. De todo modo, nesses serviços, as ações típicas são: consultas médicas e odontológicas, a vacinação, o atendimento de enfermagem, exames diagnósticos e o tratamento, inclusive em regime de internação, e em todos os níveis de complexidade. A realização de todas essas ações para a população deve corresponder às suas necessidades básicas e estas transparecem tanto pela procura aos serviços (demanda), como pelos estudos epidemiológicos e sociais de cada região (planejamento da produção de serviços).

O diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível, assim como o tratamento deve ser instituído de imediato, de modo a deter a progressão da doença. Por isso, os serviços de saúde, especialmente os de nível primário de assistência, devem buscar o adequado desem-penho dessas duas ações fundamentais de recuperação da saúde – o diagnóstico e o tratamento – visto que tais serviços representam a porta de entrada do sistema de saúde, onde a população toma seus primeiros contatos com a rede assistencial. O tratamento deve ser prestado ao paciente portador de qualquer alteração de sua saúde, desde uma afecção corriqueira, cujo atendimento pode ser efetuado por pessoal de nível elementar, até uma doença mais complexa, que exige a atenção por profissional especializado e tecnologia avançada. O tratamento deve ser conduzido, desde o início, com a preocupação de impedir o surgimento de eventuais incapacidades decorrentes das diferentes doenças e da-nos. A reabilitação consiste na recuperação parcial ou total das capacidades perdidas no processo de doença e na reintegração do indivíduo ao seu ambiente social e a sua atividade profissional. Com essa finalidade, são utilizados não só os serviços hospitalares como os co-munitários, visando à reeducação e ao treinamento, ao reemprego do reabilitado ou à sua colocação seletiva, através de programas específicos junto às indústrias e ao comércio, para a absorção dessa mão-de-obra. As ações de recuperação da saúde, na maior parte das vezes, podem e devem ser pre-vistas e planejadas, através de estudos epidemiológicos, definição de cobertura e concentração das ações ambulatoriais e hospitalares, aplicando-se parâmetros de atendimento. No caso da atenção a grupos de risco, a previsão e o planejamento destas ações tornam-se imperiosas e conjugadas às ações de promoção e proteção. Assim vistas, as ações de recuperação da saúde devem ser também geradas no diagnós-tico e tratamento científico da comunidade, integrando, junto às ações promotoras e proteto-ras, o que podemos chamar de moderna saúde pública.

Programas de saúde – existem grupos populacionais que estão mais expostos a risco na sua saúde. Isso é evidenciado pelos registros disponíveis de morbimortalidade, como, por exem-plo, menores de 1 ano, gestantes, idosos, trabalhadores urbanos e rurais sob certas condições de trabalho, etc. A intensidade e a peculiaridade dessa exposição variam bastante com os níveis sociais e as características epidemiológicas de cada região e, muitas vezes, da microrregião. A exposição a riscos pode também ser vista e entendida em função de cada doença, como no caso da tuberculose, do câncer, da hanseníase, das doenças cardiovasculares, da Aids e outras. Portanto, no planejamento da produção das ações de educação em saúde e de vigilância epi-demiológica, vigilância sanitária, controle de vetores e atendimento ambulatorial e hospitalar, devem ser normalizados alguns procedimentos a serem dirigidos especialmente a situações de risco, com a finalidade de intensificar a promoção, proteção e recuperação da saúde. Daí vem o conceito e a prática dos programas de saúde, que são parte da produção geral das ações de saúde pelas instituições, unidades e pelos profissionais da área. Como tal, os programas de saúde são eficientes para a população-alvo, somente quan-do as normas nacionais e estaduais respeitam as condições sociais, epidemiológicas, institucio-nais e culturais existentes ao nível regional ou microrregional, passando por adaptações e até recriações nestes níveis.

Referência

BRASIL. Ministério da Saúde. ABC do SUS: doutrinas e princípios. Brasília, DF, 1990.

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PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno: Matrícula: Turma: Data: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE REGISTRo 1 - operacionalização do SUS

Módulo I - Unidade I - Tema 3Aluno

você fez a leitura e discussão dos princípios do SUS. verifique, na sua realidade de trabalho, se eles estão sendo respeitados e aplicados. Enumere cada um deles e comente o que vem acontecendo.

PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno: Matrícula: Turma: Data: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE REGISTRo 2 - Reunião de Fóruns

Módulo I - Unidade I - Tema 3Aluno

Identifique e analise o funcionamento dos fóruns visitados e registre se a participação dos trabalhadores de saúde e da população local vem contribuindo para que o SUS possa ser concretizado no município. De que forma?Em sua opinião, o que mais poderia ser feito?

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ANEXOS

ANEXO A

LEI N.º 8.080

Excertos da LEI N.° 8.080, de 19 de SETEMBRO DE 1990.Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

Art. 1.° Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde executados, isolados ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurí-dicas de direito público ou privado.

TíTULO IDas Disposições Gerais

Art. 2.° A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condi-ções indispensáveis ao seu pleno exercício.Art. 3.° A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimen-tação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País.

TíTULO IIDo Sistema Único de SaúdeDisposição Preliminar

Art. 4.° O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde – SUS.Parágrafo primeiro: Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamen-tos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para a saúde.Parágrafo segundo: A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde – SUS, em caráter complementar.

CAPíTULO IDos Objetivos e Atribuições

Art. 5.° São objetivos do Sistema Único de Saúde – SUS: •aidentificaçãoedivulgaçãodosfatorescondicionantesedeterminantesdasaúde; •aformulaçãodepolíticadesaúdedestinadoapromover,noscamposeconômicose

social, a observância do disposto no artigo 2.° desta lei; •aassistênciaàspessoasporintermédiodeaçõesdepromoção,proteçãoerecuperaçãoda

saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

Art. 6.° Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde – SUS: •aexecuçãodeaçõesdevigilânciasanitária;devigilânciaepidemiológica;desaúdedo

trabalhador; e de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; •aparticipaçãonaformulaçãodapolíticaenaexecuçãodeaçõesdesaneamentobásico; •aordenaçãodaformaçãoderecursoshumanosnaáreadeSaúde; •avigilâncianutricionaleorientaçãoalimentar; •acolaboraçãonaproteçãodomeioambiente,nelecompreendidoodotrabalho; •aformulaçãodapolíticademedicamentos,equipamentos,imunobiológicoseoutros

insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; •ocontroleeafiscalizaçãodeserviços,produtosesubstânciasdeinteresseparaasaúde; •afiscalizaçãoeainspeçãodealimentos,águaebebidas,paraconsumohumano; •aparticipaçãonocontroleenafiscalizaçãodaprodução,transporte,guardaeutili-

zação de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; •oincremento,emsuaáreadeatuação,dodesenvolvimentocientíficoetecnológico; •aformulaçãoeexecuçãodapolíticadesangueeseusderivados.

CAPíTULO IIDos Princípios e Diretrizes

Art. 7.° As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde – SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: •universalidadedeacessoaosserviçosdesaúdeemtodososníveisdeassistência; •integralidadedeassistência,entendidacomoumconjuntoarticuladoecontínuodas

ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

•preservaçãodaautonomiadaspessoasnadefesadesuaintegridadefísicaemoral; •igualdadedaassistênciaàsaúde,sempreconceitosouprivilégiosdequalquerespécie; •direitoàinformação,àspessoasassistidas,sobresuasaúde; •divulgaçãodeinformaçõesquantoaopotencialdosserviçosdesaúdeeasuautiliza-

ção pelo usuário; •utilizaçãoda epidemiologiaparao estabelecimentodeprioridades, a alocaçãode

recursos e a orientação programática; •participaçãodacomunidade; •descentralizaçãopolítico-administrativa,comdireçãoúnicaemcadaesferadogo-

verno, ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

•integração,emnívelexecutivo,dasaçõesdesaúde,meioambienteesaneamentobásico; •conjugaçãodosrecursosfinanceiros,tecnológicos,materiaisehumanosdaUnião,

dos estados; do Distrito Federal e dos municípios, na prestação de serviços de assis-tência à saúde da população;

•capacidadederesoluçãodosserviçosemtodososníveisdeassistência;e •organizaçãodosserviçospúblicosdemodoaevitarduplicidadedemeiosparafins

idênticos.

CAPíTULO IVDa Competência e das Atribuições

SEÇÃO IIDa Competência

Art. 18 À direção municipal do Sistema Único de Saúde – SUS compete: •planejar,organizar,controlareavaliarosserviçosdesaúdeegerireexecutarosser-

viços públicos de saúde; •participar do planejamento, programação e organização, da rede regionalizada e

hierarquizada do Sistema Único de Saúde – SUS, em articulação com sua direção estadual;

•participardaexecução,controleeavaliaçãodasaçõesreferentesàscondiçõeseaosambientes de trabalho;

•executarserviços: a) de vigilância epidemiológica; b) de vigilância sanitária;

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c) de alimentação e nutrição; d) de saneamento básico; e e) de saúde do trabalhador; •darexecuçãonoâmbitomunicipal,àpolíticadeinsumoseequipamentosparaasaúde; •colaborarnafiscalizaçãodasagressõesaomeioambiente,quetenhamrepercussãosobreà

saúde humana, e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-las;

•formarconsórciosadministrativosintermunicipais; •gerirlaboratóriospúblicosdesaúdeehemocentros; •controlarefiscalizarosprocedimentosdeserviçosprivadosdesaúde;

Conceitos referidos no Artigo 6.°, capitulo I, Lei n.º 8.080/90(dos objetivos e atribuições do SUS)Entende-se por Vigilância Sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou pre-venir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo o controle: - de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, com-preendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e - da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conheci-mento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicio-nantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.Comentários finais:A Lei N.º 8.080/90, conhecida como “Lei Orgânica da Saúde” ou “Lei do SUS”, foi aprovada pelo Congresso Nacional para regulamentar as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, referidas no Art.196, capitulo II (da Saúde) da Constituição Federal.

ANEXO B

Lei n.° 8.142, de28 de Dezembro de 1990.

Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e so-bre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da Saúde e dá outras providências.Art. 1.º O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: I. a Conferência de Saúde; e II. o Conselho de Saúde.§1.º A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada 4 anos com a representação dos vários segmen-tos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamen-te, por este ou pelo Conselho de Saúde.§2.º O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância cor-respondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologa-das pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.§3.º O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secre-tários Municipais de Saúde (Conasems) terão representação no Conselho Nacional de Saúde.§4.º A representação dos usuários nos conselhos de saúde e Conferências será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos.§5.º As conferências de saúde e os conselhos de saúde terão sua organização e normas de fun-cionamento definidas em regimento próprio aprovados pelo respectivo Conselho.

Art. 2.º Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão alocados como: I. despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus órgãos e entidades, da

administração direta e indireta; II. investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do Poder Legislativo e

aprovados pelo Congresso Nacional; III. investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do Ministério da Saúde; IV. cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios,

Estados e Distrito Federal.

Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo destina-se a investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saú-de.Art. 3.° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2.º desta lei serão repassados de forma re-gular e automática para os Municípios, Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos no art. 35 da Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990.§1.° Enquanto não for regulamenta a aplicação dos critérios previstos no art. 35 da Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990, será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente o critério estabelecido no § 1.° do mesmo artigo.§2.° Os recursos referidos neste artigo serão destinados, pelo menos setenta por cento, aos Municípios, afetando-se o restante aos Estados.§3.° Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execução de ações e serviços de saúde, remanejando, entre si, parcelas de recursos previstos no inciso IV do art. 2.º desta Lei.Art. 4.° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3.° desta lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com: I. Fundo de Saúde;

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II. Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo com o Decreto n.° 99.438, de 7 de agosto de 1990;

III. Plano de Saúde; IV. Relatório de Gestão que permitam o controle de que trata o § 4.º do art. 33 da Lei

n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990; V. contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento; VI. comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), previsto o

prazo de (dois) anos para sua implantação.

Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou pelo Distrito Federal dos requisitos estabelecidos neste artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam administrados, respectivamente, pelos Estados ou pela União.Art. 5.º É o Ministério da Saúde, mediante Portaria do Ministro de Estado, autorizado a esta-belecer condições para aplicação desta lei.Art. 6.° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.Art. 7.º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de dezembro de 1990.

ANEXO C

LEI N.º 13.325

Ano 47 – Número 27 – São Paulo, sábado, 9 de fevereiro de 2002.LEI N.º 13.325, 8 DE FEVEREIRO DE 2002(Projeto de Lei n.º 525/99, do Vereador Carlos Neder – PT).Dispõe sobre a organização de Conselhos Gestores nas Unidades do Sistema Único de Saúde, e dá outras providências.MARTA SUPLICY, Prefeita do Município de São Paulo, no uso das atribuições que lhe são conferidas por lei, faz saber que a Câmara Municipal, em sessão de 28 de dezembro de 2001, decretou e eu promulgo a seguinte lei:Art. 1.° Ficam instituídos Conselhos Gestores de Unidades de Saúde nas unidades vinculadas ao Sistema Único de Saúde do Município de São Paulo, com caráter permanente e deliberativo, destinados ao planejamento, avaliação, fiscalização e controle da execução das políticas e das ações de saúde, em sua área de abrangência.Art. 2.° Os Conselhos Gestores de Unidades de Saúde terão composição tripartite, com 50% (cinqüenta por cento) de representantes de usuários, 25% (vinte e cinco por cento) de repre-sentantes dos trabalhadores da saúde e 25% (vinte e cinco por cento) de representantes da direção da unidade respectiva.Parágrafo único. O Conselho Gestor de Unidade de Saúde terá no mínimo 4 (quatro) e no máximo 16 (dezesseis) membros efetivos e o mesmo número de suplentes.Art. 3.° Ficam instituídos Conselhos Gestores Distritais de Saúde nas unidades administrativas vinculadas ao Sistema Único de Saúde do Município de São Paulo, com caráter permanente e deliberativo, destinados ao planejamento, avaliação, fiscalização e controle da execução das políticas e das ações de saúde, em sua área de abrangência.§1.° Os Conselhos Gestores Distritais de Saúde terão composição quadripartite, com 16 mem-bros e respectivos suplentes, sendo 50% (cinqüenta por cento) de representantes de usuários, 25% (vinte e cinco por cento) de representantes dos trabalhadores da saúde e 25% (vinte e cin-co por cento) repartidos entre representante do poder público e de prestadores de serviços.§2.° Os Conselhos Gestores Distritais de Saúde atuarão em consonância com o Conselho Mu-nicipal de Saúde, observadas as diretrizes da Política Municipal de Saúde.Art. 4.° Os Conselhos Gestores instituídos por esta lei serão organizados observando as dire-trizes do Sistema Único de Saúde, sendo que:§1.° A indicação de representação dos membros do Conselho Gestor dar-se-á com plena auto-nomia e ampla divulgação no conjunto de cada um dos segmentos.§2.° O mandato dos integrantes do Conselho Gestor será de 2 (dois) anos.§3.° Os Conselhos Gestores já instituídos terão o prazo de 1 (um) ano para se adequarem à presente lei.Art. 5.° Os Conselhos Gestores reunir-se-ão, ordinariamente, uma vez a cada mês, podendo ser convocados extraordinariamente por solicitação de, no mínimo, 50% (cinqüenta por cento) de seus membros ou da direção da Unidade correspondente.§1.° As reuniões dos Conselhos Gestores serão ampla e previamente divulgadas, com partici-pação livre a todos os interessados, que terão direito a voz.§2.° As deliberações e os comunicados de interesse do Conselho Gestor deverão ser afixados na Unidade, em local de fácil acesso e visualização a todos os usuários e interessados.Art. 6.° Fica vedado qualquer tipo de remuneração aos membros dos Conselhos Gestores, cujas atividades serão consideradas como serviços de relevância pública.Art. 7.° Compete aos Conselhos Gestores, observadas as diretrizes do Sistema Único de Saúde: I. acompanhar, avaliar e fiscalizar os serviços e as ações de saúde prestados à população; II. propor e aprovar medidas para aperfeiçoar o planejamento, a organização, a avalia-

ção e o controle das ações e dos serviços de saúde; III. acompanhar o Orçamento Participativo; IV. solicitar e ter acesso às informações de caráter técnico-administrativo, econômico-

financeiro e operacional, relativas à respectiva Unidade, e participar da elaboração

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e do controle da execução orçamentária; V. examinar proposta, denúncias e queixas, encaminhadas por qualquer pessoa ou en-

tidade, e a elas responder; VI. definir estratégias de ação visando à integração do trabalho da Unidade aos Planos

locais, regionais, municipal e estadual de Saúde, assim como a planos, programas e projetos intersetoriais;

VII. elaborar e aprovar o seu Regimento Interno e normas de funcionamento.Art. 8.° A direção da Unidade, a que se referencia, proporcionará ao Conselho Gestor as con-dições para o seu pleno e regular funcionamento.Art. 9.° Fica eleito o Conselho Gestor Distrital de Saúde correspondente como instância de recurso para os Conselhos Gestores de Unidades de Saúde instituídos e organizados de acordo com esta lei.Parágrafo único. Das decisões dos Conselhos Gestores Distritais de Saúde caberá recurso ao Conselho Municipal de Saúde de São Paulo.Art. 10 As instituições de saúde da administração indireta, autárquica e fundacional do Muni-cípio de São Paulo, prestadoras de serviço de saúde, deverão contar com Conselhos Gestores organizados, no que couber, nos termos desta lei.Art. 11 As entidades filantrópicas e organizações sem fins lucrativos, que mantêm ou vierem a manter convênio com o Sistema Único de Saúde, também poderão contar com Conselhos Gestores.Art. 12 O Poder Executivo regulamentará a presente lei no prazo de 60 (sessenta) dias, a con-tar da data de sua publicação.Art. 13 A execução da presente lei contará com recursos orçamentários próprios, suplementa-dos se necessário.Art. 14 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrá-rio.

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 8 de fevereiro de 2002, 449.º da fun-dação de São Paulo.MARTA SUPLICY, PREFEITA.ANNA EMILIA CORDELLI ALVES, Secretária dos Negócios Jurídicos; JOÃO SAYAD, Secretá-rio de Finanças e Desenvolvimento Econômico; EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRI-NHO, Secretário Municipal da Saúde Publicada na Secretaria do Governo Municipal, em 8 de fevereiro de 2002. RUI GOETHE DA COSTA FALCÃO, Secretário do Governo Municipal.

ANEXO D

DECRETO N.º 42.005

Ano 47 – Número 93 – São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002.Decreto n.º 42.005, de 17 de maio de 2002.Regulamenta a Lei n.º 13.325, de 8 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre a organização de Conselhos Gestores nas Unidades do Sistema Único de Saúde, e dá outras providências.

MARTA SUPLICY, Prefeita do Município de São Paulo, no uso das atribuições que lhe são conferidas por lei,

DECRETA:

Art. 1.° A Lei n.º 13.325, de 8 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre a organização de Conselhos Gestores nas Unidades do Sistema Único de Saúde, fica regulamentada nos termos deste decreto.Art. 2.° Os Conselhos Gestores de Unidades de Saúde terão composição tripartite, com 50% (cinqüenta por cento) de representantes de usuários, 25% (vinte e cinco por cento) de repre-sentantes dos trabalhadores da saúde e 25% (vinte e cinco por cento) de representantes da direção da respectiva unidade, e serão integrados por, no mínimo, 4 (quatro) e, no máximo, 16 (dezesseis) membros e o mesmo número de suplentes.§1.° O número de membros dos Conselhos Gestores deverá ser estabelecido em regimento interno, considerando-se a complexidade de cada Unidade.§2.° Para fins do constante deste artigo, entende-se por Unidades de Saúde os Hospitais e os Prontos-Socorros e Prontos Atendimentos que integram os departamentos hospitalares e as divisões de prontos-socorros das autarquias hospitalares, respectivamente, além das Unidades Básicas de Saúde, Hospital Dia, Centro de Convivência e Cooperativa, Ambulatórios de Espe-cialidades, Centros de Referência e Laboratórios.§3.° Ato do Secretário Municipal da Saúde deverá incluir no rol constante do parágrafo ante-rior, outras ou novas unidades de saúde e administrativas, que, terão o prazo de 1 (um) ano para se adequarem à Lei no 13.325, de 8 de fevereiro de 2002.§4.° O diretor da unidade de saúde será membro nato do Conselho Gestor respectivo, integran-do o conjunto dos 25% (vinte e cinco por cento) de representação da direção da unidade.Art. 3.° Os Conselhos Gestores Distritais de Saúde terão composição quadripartite, com 16 (de-zesseis) membros e respectivos suplentes, sendo 50% (cinqüenta por cento) de representantes de usuários, 25% (vinte e cinco por cento) de representantes dos trabalhadores da saúde e 25% (vinte e cinco por cento) divididos entre representantes do Poder Público e de prestadores de serviços.Parágrafo único. O diretor do distrito será membro nato do Conselho Gestor Distrital de Saú-de e integrará o conjunto de representantes do Poder Público tratado neste artigo.Art. 4.° Serão considerados representantes do segmento dos trabalhadores da saúde, servidores e empre-gados públicos federais, estaduais e municipais da saúde, que exerçam suas funções no âmbito do Siste-ma Único de Saúde, dentro do território de abrangência da unidade ou do distrito de saúde, bem como os agentes comunitários contratados para o desenvolvimento de programas específicos da saúde.Art. 5.° O processo eleitoral será coordenado pela Secretaria Municipal da Saúde, que o regu-lamentará por ato próprio, ouvido o Conselho Municipal da Saúde.Art. 6.° Realizadas as eleições dos Conselhos Gestores, as direções das autarquias, das funda-ções, dos distritos e das unidades de saúde deverão homologar e fazer publicar a composição dos colegiados respectivos, enviando cópia para o Conselho Municipal da Saúde.Parágrafo único. A lista dos membros eleitos deverá conter o nome e identificação com núme-ro do Registro Geral e do Registro Funcional ou Registro no Sistema ou Matrícula, se funcio-nários, servidores ou empregados públicos.Art. 7.° Os segmentos representados nos Conselhos Gestores, que já contavam com o resulta-do das eleições de escolha de seus membros na data da publicação da Lei n.º 13.325, de 8 de fevereiro de 2002, poderão utilizar-se dos resultados de votação obtidos para indicar outros membros aos Conselhos, para fins de adequação no prazo de 1 (um) ano, conforme previsto no § 3.° do artigo 4.° da referida lei.

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Art. 8.° O quorum mínimo de deliberação para qualquer matéria de competência dos Conse-lhos Gestores será de metade mais um voto, presentes a maioria simples de seus membros.Art. 9.° Os Coordenadores dos Conselhos Gestores serão escolhidos pelos respectivos Colegiados.Art. 10 Os Conselhos Gestores serão constituídos pelo Colegiado Pleno e pela Secretaria Geral, composta por funcionários, servidores ou empregados públicos indicados pela direção da unidade de saúde ou do distrito.Art. 11 As direções das unidades de saúde e administrativas, das autarquias e fundações de-verão garantir os recursos humanos e materiais para o regular funcionamento dos Conselhos Gestores.Art. 12 As demais normas de funcionamento dos Conselhos Gestores, bem como os requisitos, mecanismos e condições exigidos para participação nas eleições e composição dos Conselhos serão estabelecidos nos Regimentos Internos, a serem elaborados e aprovados pelo Colegiado Pleno de cada Conselho Gestor, respeitada a autonomia dos segmentos representativos e em consonância com as diretrizes do Conselho Municipal da Saúde.Art. 13 Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 17 de maio de 2002, 449.° da fundação de São Paulo.MARTA SUPLICY, PREFEITAANNA EMILIA CORDELLI ALVES, Secretária dos Negócios Jurídicos.FERNANDO HADDAD, Respondendo pelo Cargo de Secretário de Finanças e Desenvolvi-mento Econômico.EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRINHO, Secretário Municipal da Saúde, Publica-do na Secretaria do Governo Municipal, em 17 de maio de 2002.RUI GOETHE DA COSTA FALCÃO, Secretário do Governo Municipal.

ANEXO E

NORMAS OPERACIONAIS PARA O SUS: NOB E NOAS

Logo após a aprovação da Lei Orgânica da Saúde, foi elaborada a Norma Operacional Básica (NOB) SUS/91, que regulamentava as leis recentemente publicadas, mas era essencial-mente técnica e burocrática, não atendendo às expectativas de participação dos estados e mu-nicípios na sua elaboração. Essa norma apontava para a descentralização, mas o poder central não abria mão da prestação da assistência médico-hospitalar aos cidadãos. A delegação de grande poder político às Secretarias Estaduais, que tinham de aprovar o pleito de descentralização dos municípios, impediu o avanço desejado, pois isso implicava na perda do poder do estado para os municípios, à medida que eles fossem assumindo a gestão, inclusive da rede de serviços que era quase toda estadualizada. Com a edição da NOB/SUS 01/93, mediante a Portaria/GM/MS n.º 545, de 20 de maio de 1993 (Brasil, 1996), tendo como base o documento Descentralização das Ações e Serviços de Saúde: a ousadia de cumprir e fazer cumprir a lei, o Ministério da Saúde (MS) assume como prio-ridade absoluta, o cumprimento dos dispositivos da Lei Orgânica da Saúde que regulamentam a implantação do SUS e pressupõem que o processo de descentralização implica em redistribuição de poder, redefinição de papéis dos gestores públicos e estabelecimento de novas relações entre as três esferas de governo. Tem como pressuposto básico a necessidade de um processo pactuado e flexível, que permita diálogo e negociação, em decorrência de que são estabelecidas instâncias colegiadas de decisão, cujas principais características são apresentadas no Quadro 1.

Fonte: adaptado da Nob/96 (bRASIL, 1996).

9Paritário: caráter atribuído aos conselhos de saúde pela Lei n.º 8.142/90; significa que metade dos membros são representante dos usuários e que a outra metade se divide entre governo, prestadores de serviços (contratados e conveniados) e trabalhadores de saúde.

CONFERÊNCIA DE SAÚDE - Deve reunir-se a cada quatro anos, nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal), com a re-

presentação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação da saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordi-nariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde;

- A representação dos usuários é paritária9 .

COMISSÃO INTERGESTORA TRIPARTITE (CIT) - Integrada por: cinco representantes do MS, cinco do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e

cinco do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems); - Coordenador indicado pelo MS; - Funciona com regularidade desde 1994.

COMISSÃO INTERGESTORA BIPARTITE (CIB) - Composição também paritária, sendo integrada por representação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e

do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) ou órgão equivalente; - o Secretário da capital é membro nato; - Pode funcionar com comissões regionais.

CONSELHO DE SAÚDE (NACIONAL, ESTADUAL E MUNICIPAL) - Tem caráter permanente e deliberativo, composto por representantes do governo, prestadores de serviço,

profissionais de saúde e usuários; - Atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente,

inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legal-mente constituído em cada esfera do governo;

- Representação dos usuários é paritária: 50% usuários e 50% outros (25% de trabalhadores de saúde e 25% prestadores públicos e privados).

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As esferas gestoras do SUS ficaram assim organizadas:

•noâmbitofederal–MinistériodaSaúde(MS),ConselhoNacionaldeSaúde(CNS)e Comissão Intergestores Tripartite (CIT);

•noâmbitoestadual–SecretariaEstadualdeSaúde(SES),ConselhoEstadualdeSaú-de (CES) e Comissão Intergestores Bipartite (CIB);

•noâmbitomunicipal–SecretariaMunicipaldeSaúde(SMS)eConselhoMunicipalde Saúde (CMS).

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) é uma entidade de direito pri-vado que congrega os Secretários e seus substitutos legais – gestores oficiais das Secretarias de Estado da Saúde e do Distrito Federal. O Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) é um órgão colegiado de representação do coletivo de secretários municipais em todo país, congregando todos os municípios brasileiros, atualmente cerca de 5.500; deve atuar em defesa do SUS nos termos constitucionais.Seus componentes fazem parte de todas as instâncias deliberativas e de negociação do setor Saúde, como: Conselho Nacional de Saúde, Comissões Bipartite e Tripartite, Comitê de Ges-tores Públicos, Comitê do Mercosul, etc. A NOB/96 reafirma os princípios constitucionais ao definir que o município é respon-sável, em primeira instância, pela situação da saúde de sua população, organizando os serviços que estão sob sua gestão e/ou participando na construção do acesso aos demais serviços (den-tro ou fora do município). Ao município cabe, também, participar do financiamento do SUS, juntamente com os outros gestores. A Noas 01/2001 (Brasil, 2001a) busca, em relação à NOB/96, ampliar as responsabili-dades dos municípios na Atenção Básica de Saúde (ABS), definir o processo de regionalização da assistência, criar mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do SUS e atu-alizar os critérios de habilitação de estados e municípios. Teve como motivação importante a constatação da existência de milhares de municípios pequenos demais para gerirem um sistema funcional completo, assim como existem dezenas que são pólos de atração regional e para onde drenam as demandas dos municípios circunvizinhos. Tendo como base tais fatos, a proposta de aprofundamento da descentralização apre-sentada na Noas 01/2001 é calcada na regulação da regionalização das ações de saúde. A ela-boração do Plano Diretor de Regionalização é competência da instância estadual, devendo ser aprovado na CIB e no CES antes de seu encaminhamento ao MS. Dentre as ações cuja oferta deve estar localizada o mais perto possível da residência dos cidadãos, estão as ações de suprimentos e de dispensação dos medicamentos da Farmácia Básica. A Lei n.º 8.080 e a NOB 02/96 referem-se a uma assistência farmacêutica integral. Em relação a elas, portanto, a Noas 01/2001 pode ser entendida como um retrocesso. O enuncia-do nos remete ao conceito anterior à formulação da política de medicamentos que considerava a assistência farmacêutica como simples “suprimento de medicamentos”, sem considerar os aspectos relacionados ao uso racional. De acordo com a Noas/2001, os municípios podem habilitar-se em duas condições: “ges-tão plena da atenção básica ampliada” (GPABA); e “gestão plena do sistema municipal” (GPSM).Na GPABA, a administração municipal assume gradativamente a responsabilidade de organizar e desenvolver o sistema municipal de saúde, em que se insere o conjunto de ações que caracterizam a atenção básica, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação. A GPABA tem como áreas de atuação estratégicas mínimas para habilitação: o controle da tuberculose; a eliminação da hanseníase; o controle da hipertensão arterial; o controle do diabetes mellitus; a saúde da criança; a saúde da mulher e a saúde bucal, na qual se inclui o fornecimento de medicamentos e de métodos anticoncepcionais, devendo estas ações serem assumidas por todos os municípios brasileiros, de acordo com o seu perfil epidemiológico. Na GPABA, os 14 procedimentos definidos pela NOB/96 são acrescidos de outros procedimentos clínicos, diagnósticos e odontológicos, com vistas a aumentar a resolutividade das ações básicas de saúde. Os procedimentos são:

1. consultas médicas em especialidades básicas; 2. atendimento odontológico básico – procedimentos coletivos, procedimentos indivi-

duais preventivos, dentística e odontologia cirúrgica básica; 3. atendimentos básicos por outros profissionais de nível superior; 4. visita/atendimento ambulatorial e domiciliar por membros da equipe de saúde da

família; 5. vacinação; 6. atividades educativas a grupos da comunidade; 7. assistência pré-natal; 8. atividades de planejamento familiar; 9. pequenas cirurgias; 10. atendimentos básicos por profissional de nível médio; 11. atividades dos agentes comunitários de saúde; 12. orientação nutricional e alimentar ambulatorial e comunitária; 13. assistência ao parto domiciliar por médico do Programa de Saúde da Família; 14. pronto atendimento.

Na GPSM, a administração municipal assume a responsabilidade de organizar e desen-volver o sistema municipal de saúde, prestando os serviços à população sob sua gestão, assim como contratando, controlando, auditorando e pagando aos prestadores de serviços nos três níveis de atenção.

Referência

SÃO PAULO (cidade). ETSUS-SP. O Sistema Único de Saúde: – currículo habilitação profis-sional de técnico em farmácia – Módulo I: qualificação profissional do auxiliar de farmácia – unidade I – apostila do professor. São Paulo, 2004. p. 40-44.

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ANEXO F

CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA SAúDE

Considerando o art. 196 da Constituição Federal, que garante o acesso universal e igualitário a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.Considerando a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergover-namentais de recursos financeiros na área da saúde.Considerando a necessidade de promover mudanças de atitude em todas as práticas de atenção e gestão que fortaleçam a autonomia e o direito do cidadão.O Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde e a Comissão Intergestora Tripartite apresentam a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde e convidam todos os gestores, profis-sionais de saúde, organizações civis, instituições e pessoas interessadas para que promovam o respeito destes direitos e assegurem seu reconhecimento efetivo e sua aplicação.

O PRIMEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde, visando a um atendimento mais justo e eficaz.

Todos os cidadãos têm direito ao acesso às ações e aos serviços de promoção, proteção e recu-peração da saúde promovidos pelo Sistema Único de Saúde:I. O acesso se dará prioritariamente pelos Serviços de Saúde da Atenção Básica próximos ao local de moradia.II. Nas situações de urgência/emergência, o atendimento se dará de forma incondicional, em qualquer unidade do sistema.III. Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegurada a remoção do usuário em condições seguras, que não implique maiores danos, para um estabelecimento de saúde com capacidade para recebê-lo.IV. O encaminhamento à Atenção Especializada e Hospitalar será estabelecido em função da necessidade de saúde e indicação clínica, levando-se em conta critérios de vulnerabilidade e risco com apoio de centrais de regulação ou outros mecanismos que facilitem o acesso a ser-viços de retaguarda.V. Quando houver limitação circunstancial na capacidade de atendimento do serviço de saúde, fica sob responsabilidade do gestor local a pronta resolução das condições para o acolhimento e devido encaminhamento do usuário do SUS, devendo ser prestadas informações claras ao usuário sobre os critérios de priorização do acesso na localidade por ora indisponível. A prio-ridade deve ser baseada em critérios de vulnerabilidade clínica e social, sem qualquer tipo de discriminação ou privilégio.VI. As informações sobre os serviços de saúde contendo critérios de acesso, endereços, tele-fones, horários de funcionamento, nome e horário de trabalho dos profissionais das equipes assistenciais devem estar disponíveis aos cidadãos nos locais onde a assistência é prestada e nos espaços de controle social.VII. O acesso de que trata o caput inclui as ações de proteção e prevenção relativas a riscos e agravos à saúde e ao meio ambiente, as devidas informações relativas às ações de vigilância sanitária e epidemiológica e os determinantes da saúde individual e coletiva.VIII. A garantia à acessibilidade implica o fim das barreiras arquitetônicas e de comunicabilida-de, oferecendo condições de atendimento adequadas, especialmente a pessoas que vivem com deficiências, idosos e gestantes.

O SEGUNDO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o tratamento adequado e efetivo para seu problema, visando à melhoria da qualidade dos serviços prestados.

É direito dos cidadãos ter atendimento resolutivo com qualidade, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade da atenção, sempre que necessário, tendo garantidos:

I. Atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condições de trabalho adequadas para os profissionais da saúde.II. Informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos seus familiares e/ou acompanhan-tes, de maneira clara, objetiva, respeitosa, compreensível e adaptada à condição cultural, res-peitados os limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre outras:a) hipóteses diagnósticas;b) diagnósticos confirmados;c) exames solicitados;d) objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, preventivos ou terapêuticos;e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas;f) duração prevista do tratamento proposto;g) no caso de procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos ou cirúrgicos, a necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instru-mental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou conseqüências indesejáveis, duração prevista dos procedimentos e tempo de recuperação;h) finalidade dos materiais coletados para exames;i) evolução provável do problema de saúde;j) informações sobre o custo das intervenções das quais se beneficiou o usuário.III. Registro em seu prontuário, entre outras, das seguintes informações, de modo legível e atualizado:a) motivo do atendimento e/ou internação, dados de observação clínica, evolução clínica, prescrição terapêutica, avaliações da equipe multiprofissional, procedimentos e cuidados de enfermagem e, quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos, odontológicos, re-sultados de exames complementares laboratoriais e radiológicos;b) registro da quantidade de sangue recebida e dados que permitam identificar sua origem, sorologias efetuadas e prazo de validade;c) identificação do responsável pelas anotações.IV. O acesso à anestesia em todas as situações em que for indicada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar a dor e o sofrimento.V. O recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, que devem conter:a) o nome genérico das substâncias prescritas;b) clara indicação da posologia e dosagem;c) escrita impressa, datilografadas ou digitadas, ou em caligrafia legível;d) textos sem códigos ou abreviaturas;e) o nome legível do profissional e seu número de registro no órgão de controlee regulamentação da profissão;f) a assinatura do profissional e data.VI. O acesso à continuidade da atenção com o apoio domiciliar, quando pertinente, treina-mento em autocuidado que maximize sua autonomia ou acompanhamento em centros de reabilitação psicossocial ou em serviços de menor ou maior complexidade assistencial.VII. Encaminhamentos para outras unidades de saúde, observando:a) caligrafia legível ou datilografados/digitados ou por meio eletrônico;b) resumo da história clínica, hipóteses diagnósticas, tratamento realizado, evolução e o moti-vo do encaminhamento;c) a não utilização de códigos ou abreviaturas;d) nome legível do profissional e seu número de registro no órgão de controlee regulamentação da profissão, assinado e datado;e) identificação da unidade de referência e da unidade referenciada.

O TERCEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento acolhedor e livre de discrimi-nação, visando à igualdade de tratamento e a uma relação mais pessoal e saudável.

É direito dos cidadãos atendimento acolhedor na rede de serviços de saúde de forma humanizada, livre de qualquer discriminação, restrição ou negação em função de idade, raça, cor, etnia, orienta-ção sexual, identidade de gênero, características genéticas, condições econômicas ou sociais, estado de saúde, ser portador de patologia ou pessoa vivendo com deficiência, garantindo-lhes:

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I. A identificação pelo nome e sobrenome, devendo existir em todo documento de identifica-ção do usuário um campo para se registrar o nome pelo qual prefere ser chamado, indepen-dentemente do registro civil, não podendo ser tratado por número, nome da doença, códigos, de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.II. Profissionais que se responsabilizem por sua atenção, identificados por meio de crachás visíveis, legíveis ou por outras formas de identificação de fácil percepção.III. Nas consultas, procedimentos diagnósticos, preventivos, cirúrgicos, terapêuticos e interna-ções, o respeito a:a) integridade física;b) privacidade e conforto;c) individualidade;d) seus valores éticos, culturais e religiosos;e) confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal;f) segurança do procedimento;g) bem-estar psíquico e emocional.IV. O direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre escolha nas consultas, exames e in-ternações, no momento do pré-parto, parto e pós-parto e em todas as situações previstas em lei (criança, adolescente, pessoas vivendo com deficiências ou idoso). Nas demais situações, ter direito a acompanhante e/ou visita diária, não inferior a duas horas durante as internações, ressalvadas as situações técnicas não indicadas.V. Se criança ou adolescente, em casos de internação, continuidade das atividades escolares, bem como desfrutar de alguma forma de recreação.VI. A informação a respeito de diferentes possibilidades terapêuticas de acordo com sua con-dição clínica, considerando as evidências científicas e a relação custo-benefício das alternativas de tratamento, com direito à recusa, atestado na presença de testemunha.VII. A opção pelo local de morte.VIII. O recebimento, quando internado, de visita de médico de sua referência, que não perten-ça àquela unidade hospitalar, sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário.

O QUARTO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento que respeite os valores e direitos do paciente, visando a preservar sua cidadania durante o tratamento.

O respeito à cidadania no Sistema de Saúde deve ainda observar os seguintes direitos:I. Escolher o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e ter sido informado pela operadora da existência e dispo-nibilidade do plano referência.II. O sigilo e a confidencialidade de todas as informações pessoais, mesmo após a morte, salvo quando houver expressa autorização do usuário ou em caso de imposição legal, como situa-ções de risco à saúde pública.III. Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por ele autorizado, a seu prontuário e aos dados nele registrados, bem como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de saúde, em caso de transferência.IV. Recebimento de laudo médico, quando solicitar.V. Consentimento ou recusa de forma livre, voluntária e esclarecida, depois de adequada in-formação, a quaisquer procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo se isso acarretar risco à saúde pública. O consentimento ou a recusa dados anteriormente poderão ser revogados a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções morais, administrativas ou legais.VI. Não ser submetido a nenhum exame, sem conhecimento e consentimento, nos locais de trabalho (pré-admissionais ou periódicos), nos estabelecimentos prisionais e de ensino, públicos ou privados.VII. A indicação de um representante legal de sua livre escolha, a quem confiará a tomada de decisões para a eventualidade de tornar-se incapaz de exercer sua autonomia.VIII. Receber ou recusar assistência religiosa, psicológica e social.IX. Ter liberdade de procurar segunda opinião ou parecer de outro profissional ou serviço sobre seu estado de saúde ou sobre procedimentos recomendados, em qualquer fase do tratamento.X. Ser prévia e expressamente informado quando o tratamento proposto for experimental ou

fizer parte de pesquisa, decidindo de forma livre e esclarecida, sobre sua participação.XI. Saber o nome dos profissionais que trabalham nas unidades de saúde, bem como dos ge-rentes e/ou diretores e gestor responsável pelo serviço.XII. Ter acesso aos mecanismos de escuta para apresentar sugestões, reclamações e denúncias aos gestores e às gerências das unidades prestadoras de serviços de saúde e às ouvidorias, sendo respeitada a privacidade, o sigilo e a confidencialidade.XIII. Participar dos processos de indicação e/ou eleição de seus representantes nas conferên-cias, nos conselhos nacional, estadual, do Distrito Federal, municipal e regional ou distrital de saúde e conselhos gestores de serviços.

O QUINTO PRINCÍPIO assegura as responsabilidades que o cidadão também deve ter para que seu tratamento aconteça de forma adequada.

Todo cidadão deve se comprometer a:I. Prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas consultas e nas internações sobre queixas, enfermidades e hospitalizações anteriores, história de uso de medicamentos e/ou dro-gas, reações alérgicas e demais indicadores de sua situação de saúde.II. Manifestar a compreensão sobre as informações e/ou orientações recebidas e, caso subsis-tam dúvidas, solicitar esclarecimentos sobre elas.III. Seguir o plano de tratamento recomendado pelo profissional e pela equipe de saúde responsá-vel pelo seu cuidado, se compreendido e aceito, participando ativamente do projeto terapêutico.IV. Informar ao profissional de saúde e/ou à equipe responsável sobre qualquer mudança ines-perada de sua condição de saúde.V. Assumir responsabilidades pela recusa a procedimentos ou tratamentos recomendados e pela inobservância das orientações fornecidas pela equipe de saúde.VI. Contribuir para o bem-estar de todos que circulam no ambiente de saúde, evitando prin-cipalmente ruídos, uso de fumo, derivados do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborando com a limpeza do ambiente.VII. Adotar comportamento respeitoso e cordial com os demais usuários e trabalhadores da saúde.VIII. Ter sempre disponíveis para apresentação seus documentos e resultados de exames que permanecem em seu poder.IX. Observar e cumprir o estatuto, o regimento geral ou outros regulamentos do espaço de saúde, desde que estejam em consonância com esta carta.X. Atentar para situações da sua vida cotidiana em que sua saúde esteja em risco e as possibi-lidades de redução da vulnerabilidade ao adoecimento.XI. Comunicar aos serviços de saúde ou à vigilância sanitária irregularidades relacionadas ao uso e à oferta de produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e privados.XII. Participar de eventos de promoção de saúde e desenvolver hábitos e atitudes saudáveis que melhorem a qualidade de vida.

O SEXTO PRINCÍPIO assegura o comprometimento dos gestores para que os princípios anteriores sejam cumpridos.

Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para observância desses princípios, se com-prometem a:I. Promover o respeito e o cumprimento desses direitos e deveres com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação.II. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulgação desta carta, inserindo em suas ações as diretrizes relativas aos direitos e deveres dos usuários, ora formalizada.III. Incentivar e implementar formas de participação dos trabalhadores e usuários nas instân-cias e nos órgãos de controle social do SUS.IV. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatutos dos serviços de saúde,adequando-os a esta carta.V. Adotar formas para o cumprimento efetivo da legislação e normatizações do sistema de saúde.

I – RESPONSABILIDADE PELA SAÚDE DO CIDADÃO

Compete ao município “prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do estado,

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serviços de atendimento à saúde da população” – Constituição da República Federativa do Brasil, art. 30, item VII.

II – RESPONSABILIDADES PELA GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990

A. DOS GOVERNOS MUNICIPAIS E DO DISTRITO FEDERAL:1 – Gerenciar e executar os serviços públicos de saúde.2 – Celebrar contratos com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como avaliar sua execução.3 – Participar do planejamento, programação e organização do SUS em articulação com o gestor estadual.4 – Executar serviços de vigilância epidemiológica, sanitária, de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do trabalhador.5 – Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros.6 – Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, assim como controlar e avaliar sua execução.7 – Participar do financiamento e garantir o fornecimento de medicamentos básicos.

B. DOS GOVERNOS ESTADUAIS E DO DISTRITO FEDERAL:1 – Acompanhar, controlar e avaliar as redes assistenciais do SUS.2 – Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios.3 – Executar diretamente ações e serviços de saúde na rede própria.4 – Gerir sistemas públicos de alta complexidade de referência estadual e regional.5 – Acompanhar, avaliar e divulgar os seus indicadores de morbidade e mortalidade.6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica básica e adquirir e distribuiros medicamentos de alto custo em parceria com o governo federal.7 – Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços de vigilância epidemio-lógica, vigilância sanitária, alimentação e nutrição e saúde do trabalhador.8 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados juntamente com a União e municípios.9 – Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros.

C. DO GOVERNO FEDERAL:1 – Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, municípios e Distrito Federal.2 – Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde.3 – Formular, avaliar e apoiar políticas nacionais no campo da saúde.4 – Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de alta complexidade de rede de labo-ratórios de saúde pública, de vigilância sanitária e epidemiológica.5 – Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras em parceria com estados e municípios.6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica básica e adquirir e distribuir para os estados os medicamentos de alto custo.7 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados juntamente com estados e municípios.8 – Participar na implementação das políticas de controle das agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às condições e aos ambientes de trabalho.9 – Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os serviços privados contratados de assistência à saúde.10 – Auditar, acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais.

ANEXO g

RAP DO SUS

Você sabe o que é o SUS ? não sabe não?Você sabe o que é o SUS ? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS ? Não sabe não?Vou contar para você, preste muita atenção.

VocêsabeoqueéoSUS?Nãosabenão?Vou contar para você, preste muita atenção.É o sistema de saúde que está na lei,E há tempo faz parte da Constituição,NãosabeoqueéoSUS?Masquersaber?Ele diz que o governo tem o deverDe cuidar da saúde da nossa população,Isso é bom para mim, e também para você.

VocêsabeoqueéoSUS?Nãosabenão?Ele diz que a saúde é direito do cidadão,E faz parte da saúde o dever a moradia,Trabalho, transporte e a alimentação,Que você tenha higiene no seu dia-a-dia,Tenha o meio ambiente, renda e educação,A vida com tudo isso vai ser pura alegria,E a gente vai viver com muita satisfação.

Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Vou contar para você, preste muita atenção.

VocêsabeoqueéoSUS?Nãosabenão?Ele fala do princípio da integralidade,Onde ele vai cuidar do corpo e da sua mente,Cuidar do indivíduo, também da comunidade,Universalidade também é outro fator,Não importa sua raça, o seu credo, a sua cor,Você vai ser atendido em qualquer canto da cidade,Com dignidade, com respeito e com amor.

VocêsabeoqueéoSUS?Nãosabenão?Vamos saber agora o que é a Eqüidade,Que dentro da saúde irá te oferecer,Recursos de acordo com suas necessidades,More onde morar, sem barreiras, privilégios,Porque perante o SUS todos têm a igualdade,Quem precisa mais irá ter a preferência,Pois acima de tudo é uma prioridade.

Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Vou contar para você, preste muita atenção.

VocêsabeoqueéoSUS?Nãosabenão?Vamos te contar, você vai saber de cor,Ele mudou o sistema, houve uma evolução,

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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A descentralização fez tudo ficar melhor,Estado e município tem poder de decisão,Hoje em dia a solução não fica num lugar só,Os Conselhos representam a voz da população,Seja na cidade grande ou na pequena Cabrobó.

Regionalização, hierarquização,Determinam qual a área em que vão te atender,Tudo de acordo com a sua precisão,De acordo com aquilo que é melhor para você,Nem sempre na saúde o que é bom para o João,É bom para a Maria, pro Renato ou pro José,A Resolubilidade vai ter capacitação,Resolvendo o problema seja lá o que houver.

Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Vou contar para você, preste muita atenção.

VocêsabeoqueéoSUS?Nãosabenão?Fala dos direitos e também do seu dever,De saber das diretrizes e de suas leis,De todos os benefícios que podem trazer,Vocêsabeoseudever?Nãosabenão?Você tem é que lutar pela Consolidação,Fazer parte dos Conselhos da sua comunidade,Não fique esperando que tudo venha na mão.

No Posto do seu bairro tem o Conselho Gestor,Onde uma vez por mês fazem a reunião,Gerente, funcionário e também o morador,Vão ter o direito de dar sua opinião,Todos irão ter o mesmo peso e valor,Buscando melhorias e a organização.Pra que isso aconteça a senhora e o senhor,Têm que estar presente com a participação.

Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Você sabe o que é o SUS? Não sabe não?Vou contar para você, preste muita atenção.

JásabeoqueéoSUS?Issoélegal!Então vamos batalhar pra que ele aconteça,Quem faz parte de Conselho ou Movimento Social,Tem que estar comprometido e colocar na cabeça,A responsabilidade e o dever moral,Tem muito que brigar para que a idéia cresça,Conte para seus vizinhos e a população local,Vamos abraçar a causa para que a idéia cresça.

É novo em São Paulo, está em construção,Vamos todos ajudar colocando um tijolinho,Vamos fazer a corrente, vamos dar as mãos,Vai ser muito mais difícil se lutar sozinho,Vamos mudar a saúde da nossa nação,Vamos construir o SUS com suor e com carinho,

Só irá dar certo se houver muita união,É o sistema único, é o único caminho.

Se já sabe o que é o SUS? Isso é muito bom!Se já sabe o que é o SUS? Isso é muito bom! Se já sabe o que é o SUS? Isso é muito bom!Queremos agradecer toda sua atenção.

Queremos agradecer às ACS Terezinha, Alda, Andréa, Anisanete e Bárbara.Às assistentes sociais: Neureci e Márcia.Aos produtores musicais: Ronaldinho, Leonardo, Patrícia, Fátima e Bete.E a quem mais colaborou na produção e composição dessa música.

Andrea Rodrigues dos SantosAnisanete da Silva (Nete)Bárbara Pereira SequeiraÊnio Roberto da SilvaTerezinha Marques da Silva

ETSUS – SUDESTECURSO TÉCNICO DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDETURMA 23 – PENHASÃO PAULO 2006

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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TEMA 4 SUS NA SECRETARIA MUNICIPAL DA SAúDE

Objetivos •ConheceraSecretariaMunicipaldaSaúdedeSãoPaulo:estrutura,funcionamentoe

responsabilidades. •CompreenderaPolíticaMunicipaldeSaúdeeaspropostasdaSecretariaMunicipal

da Saúde para consolidação do SUS. •Conhecerarededeserviçosdesaúdedomunicípio:equipamentosmunicipais,esta-

duais, federais e privados e seu papel no cuidado à saúde. •Analisaraestratégiadesaúdedafamílianaatençãoàsaúdedapopulação. •Reconheceraimportânciadeparticipaçãodotrabalhadoredapopulaçãonosespa-

ços formais e informais de gestão do SUS.

Conteúdos •SecretariaMunicipaldaSaúde:estrutura,funcionamentoeresponsabilidades. •OrganizaçãodoSUSnoMunicípiodeSãoPaulo; •Diretrizes,prioridadeseprogramações. Proposta para o desenvolvimento das atividades 1. Em plenária, comentar as facilidades e dificuldades de realização da atividade em

serviço sobre a concretização do SUS. 2. Em pequenos grupos, sistematizar as atividades em serviço, para estimular a reflexão

e discussão em mesa-redonda. 3. Em plenária, localizar no Mapa do Município de São Paulo os serviços de saúde existentes

na sua região. Analisar os serviços que são apontados e acrescentar os que não constam. Mapa: Estabelecimentos de Saúde no Município de São Paulo Ceinfo/Gisa. 4. Realizar a mesa-redonda, debatendo com os participantes as leituras e discussões

anteriores sobre o SUS e o levantamento realizado. Sugestão de questões para o debate: •ComooSUSvemsendoconstruídonomunicípio? •Oquefacilitaeoquedificultaasuaconcretização? •ComoaSecretariaMunicipalestáorganizada?Quaisosserviçosdesaúdequedispõe

ecomosearticulam? •AorganizaçãodosserviçoscontemplaosprincípiospreconizadospeloSUS?Quais?

Dequeforma? •QualopapeldasUnidadesdeSaúdedaFamília? •QuaisosespaçosdeparticipaçãodapopulaçãoparaaconcretizaçãodoSUS?Quala

importânciadaparticipação? 5. Em pequenos grupos, leitura e discussão do texto “A construção do SUS no município”. 6. Em plenária, apresentação, discussão e análise da leitura realizada. 7. Sistematização pelo professor, completando com exposição dialogada do “Docu-

mento norteador: compromisso das Unidades de Saúde com a População”, ANEXO A e outros documentos que propõem diretrizes e prioridades para o SUS.

8. Avaliação dos temas 3 e 4: Individualmente, responder a questão abaixo e registrá-la no Instrumento de Avaliação

- Aluno. •Comovocêpodecontribuir,comoAgenteComunitáriodeSaúdeecidadão,paraa

consolidaçãodoSUS? 9. O professor deverá avaliar o processo de aprendizagem vivenciado, conforme ob-

jetivos propostos para os temas 3 e 4 e a reflexão sobre a Unidade I. Registrar o parecer no Instrumento de Avaliação, Módulo I, Unidade I - Docente. Discutir com o aluno e arquivar em prontuário.

10. Atividade em Serviço: Com o objetivo de possibilitar, entre os alunos, a troca de conhecimentos sobre as unidades em que trabalham e servir de aquecimento para

o desenvolvimento da Unidade II, orientar a realização da atividade, esclarecendo quanto ao preenchimento do Instrumento de Registro - Minha Unidade de Traba-lho - Módulo I, Unidade I - Aluno.

Texto complementar “Documento norteador: compromisso das Unidades de Saúde com a População”, ANEXO A.

Tempo previsto: 16horas a8 horas em sala de aula; a8 horas em serviço.

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A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA úNICO DE SAúDE NO MUNICíPIO DE SÃO PAULO

O Município de São Paulo, na Administração Democrático-Popular de 1989 a 1992, iniciou a construção do Sistema Único de Saúde com negociações políticas para que o muni-cípio assumisse o comando único da rede de serviços de saúde, conforme preconizado na Lei Federal da Saúde de n.º 8.080 de 1990. Esse processo só efetivou-se, contudo, após dez anos, com o COMUNICADO 12/2001 – SMS-G.– ORIENTAÇÕES PARA O DESENVOLVIMEN-TO DO SUS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, publicado no Diário Oficial do Município em 13/9/01, na gestão do Governo da Reconstrução. Durante a década de 90, a organização dos serviços de saúde no município sofre pro-fundas transformações:

1989-1992 governo Democrático-Popular Consoante com os princípios e as diretrizes do SUS, na busca da substituição do mo-delo assistencial verticalizado, curativo, biologicista e hospitalocêntrico, para o modelo hori-zontalizado, de promoção e atenção integral à saúde, baseado na interdisciplinaridade e mul-tiprofissionalidade, o Governo Democrático-Popular procede à reorganização administrativa da Secretaria de Higiene e Saúde, pelo Decreto n.º 27.724, de 6 de abril de 1989, alterando sua denominação para Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Concomitantemente, inicia a estruturação da rede de saúde, articulando a atenção básica e hospitalar, antes separados, sob a mesma gestão, descentraliza o poder político com a criação das Administrações Regionais de Saúde (10) e dos Distritos de Saúde (29) e, subseqüentemente, incorpora algumas unidades de saúde, até então sob gestão estadual. Ademais, possibilita a par-ticipação popular e dos trabalhadores na gestão, com a constituição do Conselho Municipal de Saúde e dos Conselhos Gestores das Unidades de Saúde, em todos os níveis da administração.

1993-2000 governo Maluf-Pitta Neste período, a Secretaria Municipal da Saúde reorganiza os serviços de saúde, cen-trando-os na assistência médica, investindo no atendimento de queixas agudas, priorizando serviços de pronto atendimento – o chamado “modelo” queixa – conduta. Mantiveram-se as Administrações Regionais de Saúde, mas os Distritos de Saúde foram desativados e a administração pública centralizada. Privatiza-se a saúde através de cooperativas médicas com total autonomia, atendendo interesses privados dos hospitais, laboratórios e de-mais serviços de apoio diagnósticos, desestruturando a incipiente rede constituída até então. Em 1996, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES) implanta o Programa de Saúde da Família (PSF), Projeto QUALIS – Qualidade Integral de Assistência à Saúde – median-te convênios com instituições parceiras de ensino, assistência à saúde e pesquisa. No mesmo período, as novas unidades hospitalares estaduais são todas privatizadas, gerenciadas pelas Organizações Sociais parceiras do Estado. Este período caracteriza-se pela coexistência de vários serviços, não integrados – os Centros de Saúde, as equipes do Qualis gerenciadas pela iniciativa privada; a rede de hospitais estaduais entregue à gestão das Organizações Sociais (OS); os hospitais e serviços de apoio diag-nóstico e terapêutico privados, filantrópicos ou não, contratados pelo SUS no território do mu-nicípio; a rede de Unidades Básicas de Saúde e os Hospitais Públicos Municipais sob gerência das cooperativas do Plano de Atendimento à Saúde (PAS). Assim, não aderente ao SUS, os repasses de verba fundo-a-fundo, do Ministério da Saúde para a Prefeitura do Município de São Paulo através do Fundes, eram mediados pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

2001-2004 governo da Reconstrução Nessa gestão são retomadas as negociações para a construção do SUS no município, que demandará duas etapas: •aGestãoPlenadaAtençãoBásica; •aGestãoPlenadoSistema. Buscando reassegurar o exercício do direito à saúde do cidadão paulistano, prestado pelos serviços municipais, trabalha com base em quatro diretrizes na fundamentação das ações e dos procedimentos político-institucionais:

•amunicipalizaçãodosserviços,resultadodafusãodasredesbásicasdesaúdeestadu-al e municipal, que passam a ser administradas pela Secretaria Municipal da Saúde, precedida pela dissolução do PAS;

•aparticipaçãopopularatravésdoConselhoMunicipaldeSaúdeeConselhosGesto-res em todas as unidades da rede;

•adivisãodomunicípioemdistritosdesaúde(39),compopulação,aproximada,de250milpessoas, possibilitando o desenvolvimento de projetos prioritários em conformidade com a realidade local, tendo no Programa Saúde da Família a estratégia estruturante da rede;

•amodernizaçãodagestãocomacriaçãodascincoautarquiashospitalaresmunicipaise regionais, proporcionado-lhes autonomia e agilidade administrativa.

A descentralização da gestão, com a constituição das subprefeituras com autonomia po-lítica local, é entravada, porém, pelas contradições, não raras, entre as decisões locais e as di-retrizes de SMS, uma vez que a gestão político-administrativa fica sob a responsabilidade do Subprefeito e a gestão técnica da saúde sob responsabilidade do Secretário Municipal da Saúde. A implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), sob gestão de instituições par-ceiras, em algumas unidades básicas, permanecendo as demais operando conforme o modelo tradicional sob gestão direta da Coordenação da Atenção Básica – SMS, assim como a auto-nomia das autarquias, operadas com total independência, dificulta a formação de uma rede de serviços de saúde, que responda às necessidades de saúde da população. O Conselho Municipal de Saúde volta a ter força e, em 2002, concretiza a diretriz do SUS de participação popular, com a Lei n.° 13.325/02 que cria os Conselhos Gestores das Unidades de Saúde, deliberativos sobre o planejamento, avaliação, fiscalização e controle da execução das políticas e das ações de saúde (DOM 8/2/02). Finalmente, o Município de São Paulo assume o comando único do sistema e passa a ser gestor pleno e, pela primeira vez, elabora Plano de Saúde Municipal aprovado pelo Conse-lho Municipal de Saúde.

O Programa Saúde da Família

O PSF teve seu início a partir de uma experiência bem-sucedida no Estado do Ceará: “Programa dos Agentes de Saúde do Ceará”, implantado em 1987, produzindo um grande im-pacto na saúde dos cearenses. Esse programa baseava-se na premissa de que agentes de saúde, recrutados entre moradores de uma determinada comunidade, poderiam ter melhor acesso à po-pulação e, portanto, atuarem como educadores promovendo ações preventivas e promotoras de saúde. Esses agentes, lideranças reconhecidas pelos grupos sociais, desenvolviam o trabalho com senso solidário e dedicação. As ações, essencialmente educativas, tiveram impacto na redução de mortalidade infantil e este programa chamou a atenção do Brasil. Assim, em 1991, o Ministério da Saúde passa a adotar a estratégia dos agentes comunitários de saúde, instituindo o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF). Em 1998, o Ministério da Saúde publica a cartilha “Saúde da Família: Uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial”, onde apresenta o PACS e PSF como estratégias de reorganização da atenção básica em saúde; “...o PSF elege como ponto central o estabele-cimento de vínculos e a criação de laços de compromisso e de co-responsabilidade entre os profissionais de saúde e a população...”. As ações representam desafios a um olhar técnico e político mais ousado, que rompa os muros das unidades de saúde e enraíze-se para o meio onde as pessoas vivem, trabalham e se relacionam. (BRASIL, 1998, p. 8 e 9). Nesse documento o Ministério da Saúde estabelece os objetivos, as atribuições das equipes e seus membros, a organização do processo de trabalho, as atribuições dos diversos níveis de competência e as recomendações para implantação do programa pelos municípios.

O PSF no Município de São Paulo

A implantação do PSF nas grandes cidades lida com um desafio ainda mais complexo. Trata-se de mudar o modelo assistencial, além de ampliar a cobertura da população pela aten-ção básica, de reverter a lógica da priorização das especialidades. Diversos países têm adotado o modelo de saúde da família na estruturação de seus níveis básicos de atenção à saúde.

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Destacam-se o Reino Unido, Cuba, Espanha e Canadá. A estratégia brasileira, no entanto, é inovadora ao incorporar o Agente Comunitário de Saúde na equipe de saúde da família. O município de São Paulo assumiu a tarefa de implantação do Programa Saúde da Família, em janeiro de 2001, como a principal estratégia norteadora da organização da Atenção Básica, na perspectiva de fortalecimento do SUS no município. Em 2001 foram divulgadas as diretrizes gerais para implantação do PSF no município incorporando as recomendações do Ministério da Saúde. Este documento define que as Unidades de Saúde da Família devem trabalhar com a definição de um território de abrangência sob sua responsabilidade e cada equipe responder por cerca de 600 a 1.000 famílias, em média 3.450 pessoas. A equipe mínima é composta por um médico, um enfermeiro, um a dois auxiliares de enfermagem e de cinco a seis agentes comunitá-rios de saúde. Cada ACS acompanha, em média, 150 famílias, ou seja, entre 450 e 750 pessoas. A estruturação do PSF, pela gestão municipal, foi uma decisão política que possibilitou a expansão da cobertura da população por essa estratégia. Em 2002, com a municipalização, as Unidades Básicas de Saúde do Estado e as equipes do Qualis passaram a integrar o Programa de Saúde da Família do município. Atualmente, o programa cobre 22% da população, repre-sentando cerca de 2,6 milhões de paulistanos, nas diferentes regiões da cidade.

Consolidação do SUS e instrumentos de gestão O atual momento de consolidação do Sistema Único de Saúde brasileiro é repleto de desafios e disputas na busca de concretizar um salto qualitativo na atenção à saúde oferecida à população. Estas disputas se desenrolam nos processos de decisão da política de saúde, decisões estas que acontecem em espaços coletivos, abertos à participação de todos os segmentos da sociedade, tais como os conselhos de saúde e as Conferências de Saúde. Esses processos possibilitam a produção de documentos/instrumentos de gestão: As Agendas e os Planos de Saúde, os Quadros de Metas e os Relatórios de Gestão. Esses ins-trumentos objetivam o aprimoramento da qualidade do processo decisório, monitoramento contínuo do desempenho dos gestores e da organização dos sistemas estaduais, regionais e municipais.

A Agenda de Saúde Descreve as prioridades e estratégias justificadas e detalhadas por esfera de governo; é a etapa prévia do processo de planejamento da gestão em saúde. Deve destacar e justificar os eixos prioritários de intervenção, os objetivos, os indicadores e as metas prioritárias da política de saúde em cada esfera de governo e em cada exercício anual. São resultantes de negociação e consenso entre Órgãos Gestores, conselhos de saúde e Comissões Intergestores.

Os Planos de Saúde São documentos de intenções políticas, de diagnóstico, de estratégias, de prioridades e de metas, sob uma ótica analítica. Devem ser submetidos na íntegra aos conselhos de saúde correspondentes, em cada nível de gestão do SUS. Aos conselhos é recomendado promover debates para esclarecimento e para determinar alterações, se julgarem necessário. O Plano de Saúde deve retratar as decisões aprovadas nas conferências de saúde.

O Quadro de Metas São partes integrantes dos Planos de Saúde que servirão de base para elaboração dos relatórios de gestão. Devem conter os indicadores e as metas prioritárias de cada esfera de go-verno em cada exercício anual. Os conselhos de saúde e as Comissões Intergestores (CIB e CIT) poderão, no que lhes couberem, determinar ou pactuar alterações nos Quadros de Metas.

Os Relatórios de Gestão Deverão avaliar o cumprimento dos objetivos e das metas explicitados no Quadro de Me-tas, bem como a aplicação dos recursos em cada esfera de governo, em cada exercício anual, sendo elaborados pelos gestores e submetidos aos conselhos de saúde. O Relatório de Gestão destina-se a sistematizar e divulgar informações sobre os resultados obtidos e sobre a probidade dos gestores do SUS, às instâncias formais do SUS, ao Legislativo, ao Ministério Público e à sociedade como um todo. Este instrumento deve possibilitar o acompanhamento da aplicação de recursos, conforme a programação aprovada. Proporciona, ainda, subsídios para a avaliação e para a confecção das Agendas de Saúde e, conseqüentemente, dos Planos de Saúde subseqüentes.

REFERêNCIAS

MONTEIRO, M.C.S. Desafios de uma proposta político-pedagógica: a escola técnica em defesa do SUS, 2004.Trabalho de conclusão do curso Formação Pedagógica em Educação Profissional na Área da Saúde, da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, 2004. Mimeografado.

SÃO PAULO (Cidade) Secretaria de Saúde. Comunicado SMS 002/2001 – Diretrizes gerais para a secretaria municipal de saúde. São Paulo, 2001. Mimeografado.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N.° 548, de 12 de abril de 2001. Gestão em Saúde: Instrumentos de Gestão do SUS. Disponível em: <http://www.sespa.pa.gov.br/adminitraçao/gestão.htm-67k>. Acesso em: 23 de maio 2005.

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PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno: Matrícula: Turma: Data: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE AvALIAção

Módulo I - Unidade I - Temas 3 e 4 Aluno

Como você, Agente Comunitário de Saúde e cidadão, pode contribuir para a consolidação do SUS? Comente.

PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno: Matrícula: Turma: Data: Local:

____________________________ ______________________________

Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE AvALIAção

Módulo I - Unidade IDocente

Considere os instrumentos de registro utilizados nesta Unidade, trabalhos individuais e em grupo, participação em plenárias, comunicação e outros, para avaliar o processo de aprendizagem do aluno, tendo presentes os objetivos propostos para esta Unidade.Roteiro de sugestões para avaliação individual:

•acompreensãodoalunosobreosconteúdospercorridosearelaçãoqueestabelececomoscon-teúdos novos;

•comoasaprendizagensocorridasemsaladeaulasãotraduzidasnapráticaprofissional; •aanáliseesíntesedoqueaprendeuevivenciou; •apercepçãodoalunoarespeitodasuaresponsabilidadeecompromissonoprocessodeinter-

venção na realidade de vida e de trabalho; •suasfacilidadesedificuldadesquantoaoprocessodecomunicaçãoverbaleporescrito; •outros

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PREFEITURA Do MUNICíPIo DE São PAULoSecretaria Municipal da Saúde

Centro de Formação e Desenvolvimento dos Trabalhadores da Saúde

Escola Técnica do SUS – São Paulo

Aluno: Matrícula: Turma: Data: Local:

Nome da Unidade:______________________________________________________________________________

Endereço:_______________________________________________________________________________

Total da população de responsabilidade da unidade:______________________________

Unidades de Saúde que fazem vizinhança:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

N.º de microáreas da unidade:_________________________________________________

N.º de famílias de sua microárea:_________________________________________________

Serviços oferecidos pela unidade:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Profissionais que trabalham na unidade:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Serviços mais procurados pela população de sua microárea:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Serviços procurados pela população de sua microárea que não são oferecidos pela unidade:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________ __________________________ Aluno Docente

TÉCNICo AGENTE CoMUNITÁRIo DE SAÚDEINSTRUMENTo DE REGISTRo - Minha Unidade de Trabalho

Módulo I - Unidade IAluno

ANEXO

Extraído na íntegra do Documento Norteador: Compromisso das Unidades Básicas de Saúde com a População – São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, Atenção Básica e PSF, 2005.

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Curso Técnico da Área da Saúde - Habilitação Profissional de Técnico Agente Comunitário da Saúde

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Prefeitura do Município de São Paulo Secretaria Municipal da Saúde

Atenção Básica e PSF

DOCUMENTO

NORTEADOR

COMPROMISSO DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE COM A POPULAÇÃO

SÃO PAULO NOVEMBRO — 2005

2ª VERSÃO

DOCUMENTO NORTEADORCOMPROMISSO DAS UNIDADES BÁSICAS DE

SAúDE COM A POPULAÇÃO

PREFEITURA DO MUNICíPIO DE SÃO PAULOSECRETARIA MUNICIPAL DA SAúDECOORDENAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA E PSF

PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO JoSÉ SERRA

SECRETÁRIA MUNICIPAL DA SAÚDE MARIA CRISTINA FARIA DA SILvA CURY

COORDENADORA DA ATENÇÃO BÁSICA E PSF RoSA MARIA bARRoS DoS SANToS

EQUIPE DA ATENÇÃO BÁSICA

GRUPO DE TRABALHO ANDREA W. boNAMIGo – CooRD. REG. NoRTE FRANCISCo SoARES NETTo – A. C. SANTA CATARINA GRACIA b. oLIvEIRA – CooRD. bUTANTã KATIA M. DE A. CoRREIA – CooRD. ATENção bÁSICA LENI A. GoMES UCHÔA – CooRD. REG. LESTE MARIA ANGÉLICA CREvELIM – CooRD. ATENção bÁSICA NAIRA R. REIS FAZENDA – CooRD. ATENção bÁSICA RAMIRo A. DE AZEvEDo – UNIFESP REGINA T. CAPELARI – CooRD. REG. SUDESTE SoNIA M. A. FIGUEIRA – CooRD. REG. SUL SUELI D. R. RoDELLo – UbS JARDIM SoUZA vILMA R. vENÂNCIo – C. S. STA. MARCELINA

COLABORADORES MARIA CARoLINA FERREIRA MAGANINI MARIA DA CANDELÁRIA SoARES MARIA INÊS TADoNI PATRICIA APARECIDA L. L. R. CoSTA PATRíCIA LUNA

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COMPROMISSO DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAúDE COM A POPULAÇÃO

ÍNDICEApresentação 1 Introdução 2 Atenção básica 3 A missão da Unidade básica de Saúde 4 o processo de trabalho nas Unidades básicas de Saúde 5 organização do Serviço 5.1 Atividades Administrativas

5.1.1 Identificação das Unidades básicas de Saúde (UbS) 5.1.2 Funcionamento da Unidade básica de Saúde 5.1.3 Painel de Informação 5.1.4 Recepção

Responsabilidades 5.1.5 Identificação/cadastro 5.1.6 Prontuário/arquivo

Prontuários Arquivo

5.1.7 Cadastro de famílias 5.1.8 Sistema de informação

5.2 Atividades assistenciais 5.2.1 Acolhimente

Fluxo para organização do acolhimento 5.2.2 Consultas

5.2.2.1 Agendamento Consulta médica Consulta de enfermagem Consulta odontológica outras categorias profissionais

5.2.2.2 Procedimentos médicos e de enfermagem vacinação Inalação Administração de medicamentos Curativos Teste imunológico de gravidez Coleta de Papanicolaou Coleta de material para análises clínicas Teste do pezinho (Erros inatos do metabolismo) verificação de pressão arterial verificação de temperatura Sutura Lavagem de ouvidos Dispensação de medicamentos visita domiciliar

5.2.3 Ações coletivas 5.2.4 Ações intersetoriais/parcerias/rede de apoio 5.2.5 Encaminhamentos e referências 5.2.6 Trabalho em equipe

6 Participação social 6.1 Conselho Gestor 6.2 Registro/caixa de sugestões

7 Gerência da unidade 8 Patrimônio 9 Almoxarifado Glossário bibliografia Anexos

96 96 97 97 97 97 97 98 98 98 98 99 99 99100100 100 100 100 101 101 102 102 102 102 103 104 104 104 104 104 104 104 104 104 104 104 105 105 105 105 105 105 106 106 106 106 106 106 107 108 108 109110

1 INTRODUÇÃO

A organização e o desenvolvimento da atenção básica é uma tarefa compartilhada entre a Secre-taria Municipal de Saúde, as Coordenadorias Regionais, as supervisões de área, coordenador de unidades, profissionais de saúde, instituições parceiras e com a participação da população. A ação conjunta de todos estes atores deverá resultar no acesso da população a serviços de saúde eficientes e de boa qualidade. O processo de trabalho nas Unidades de Saúde deve estar pautado nas necessidades em saúde da população. O trabalho em saúde não se realiza sobre coisas ou objetos, ao contrário, se dá sobre pessoas, com base numa intersecção partilhada entre o usuário e o profissional, no qual o primeiro é parte desse processo. Para a construção de um novo modelo de assistência à saúde, centrado no usuário in-serido no contexto familiar e social, é fundamental repensar o processo de trabalho, que tem como finalidade a qualidade da atenção à saúde, na perspectiva de promover o empoderamen-to tanto do usuário como da equipe de saúde. Esse processo está orientado pelo princípio da integralidade e requer como ferramentas a interdisciplinaridade, a intersetorialidade, a huma-nização dos serviços e a criação de vínculos do usuário/comunidade/equipe de saúde. O processo de trabalho precisa ser estruturado no trabalho em equipe, a qual deve estabelecer um projeto comum em que o trabalho especializado de cada profissional se complemente e possam construir uma ação de interação entre os trabalhadores e usuários. Nesse sentido, o Coordenador da Unidade de Saúde é o profissional essencial para o desenvolvimento do processo de trabalho. Sabe-se que a gerência em saúde é uma atividade-meio, cujas ações fundamentais são a articulação e integração. Ao mesmo tempo em que este profissional desencadeia a reorganização do processo de trabalho, transforma a realidade local mediante atuação nas necessidades de saúde da população e a partir da organização do serviço. Os resultados das ações e dos serviços serão monitorados permanentemente por meio de indicadores oficiais, próprios, além do grau de satisfação da população e dos trabalhadores. 2 ATENÇÃO BÁSICA

Segundo documento elaborado pela Comissão de Avaliação da Atenção Básica – Ministério da Saúde – 2003, a “Atenção Básica é um conjunto de ações de saúde que englobam a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. É desenvolvida por meio do exercício de prá-ticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas sobre a forma do trabalho em equipe e dirigidas a populações de território* (território-processo) bem delimitado, pelos quais assume res-ponsabilidade. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade que devem resolver os problemas de saúde das populações, de maior freqüência e relevância”. As tecnologias emprega-das na atenção básica são de menor densidade e maior complexidade, porque se utilizam, por um lado, de recursos de baixo custo, no que se refere a equipamentos diagnósticos e terapêuticos, e, por outro lado, incorporam instrumentos tecnológicos advindos das ciências sociais (antropologia, sociologia e história) e humanas (economia, geografia, etc.) na compreensão do processo saúde-doença e na intervenção coletiva e individual. (MENDES, E.V, 1996). A atenção básica é o contato preferencial dos usuários com o sistema de saúde e orienta-se pelos princípios do SUS da universalidade, acessibilidade (ao sistema), integralidade, eqüidade e da continuidade da atenção à saúde, responsabilização, humanização, vínculo e participação social.No Município de São Paulo as Unidades Básicas de Saúde (UBS) deverão estar organizadas tomando por base o seu território e as necessidades em saúde da população. Assim sendo, o território deverá ser bem definido, possibilitando ao munícipe ter uma referência de serviço de saúde; o trabalho deverá ser desenvolvido, prioritariamente, por meio do enfoque familiar. Nas UBS, com o Programa Saúde da Família (PSF) implantado, o território de cada equipe mínima de saúde da família deverá contemplar em média 800 domicílios*residenciais construídos, que abriguem aproximadamente 800 famílias num total de 3.000 a 3.500 pessoas. Propõe-se que cada Unidade Básica de Saúde da Família a ser implantada ou readequa-da, tenha no mínimo quatro equipes de saúde da família (ESF) e no máximo sete ESF. Para as outras UBS o território abrangerá aproximadamente 20.000 habitantes para uma Tabela de Lotação de Pessoal*(TLP) mínima, considerando a realidade local (estrutura física, acesso, etc.).

*As palavras com asterisco(*) usadas no texto são explicadas no Glossário para facilitar a compreensão das idéias expostas no documento.

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3 A MISSÃO DA UNIDADE BÁSICA DE SAúDE

A partir do conceito de atenção básica, pode-se considerar que a missão da Unidade Básica de Saúde (UBS), independentemente da estratégia de sua organização, é fomentar e desenvolver ações e serviços no sentido de intervir no processo de saúde-doença da população, ampliando a participação e o controle social com vistas à vigilância à saúde na defesa da qualidade de vida.

4 O PROCESSO DE TRABALHO NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAúDE

Considerando que o processo de trabalho na atenção básica está pautado, entre ou-tros, pelos princípios da integralidade e eqüidade, as ações (consultas, visitas domiciliares e/ou grupos de orientação à comunidade), conforme a estratégia adotada pelas Unidades Básicas de Saúde, componentes da atenção básica, deverão estar: •centradasnavigilânciaàsaúde,influenciandonosdiferentesmomentosdoproces-

so saúde-doença, buscando a promoção da saúde, a prevenção das enfermidades e acidentes e a atenção curativa e reabilitadora, com a finalidade de adequar o atendi-mento às necessidades de saúde da população adstrita;

•integradas comosoutrosníveisde atençãodo sistemade saúdepara assegurar acontinuidade e qualidade da atenção prestada à população;

•articuladascomosdemaissetoresdasociedade. Em função do papel fundamental da organização do sistema de saúde por meio da atenção básica, o conhecimento do território e da sua população é responsabilidade dos agen-tes do processo de trabalho e que constituem uma equipe de saúde, cujas competências são: •conhecerarealidadedapopulaçãoqueresidenaáreadeabrangênciadaUBSouda

equipe de saúde da família, no que se refere aos aspectos socioeconômicos, culturais, demográficos e epidemiológicos, identificando os problemas de saúde mais comuns e os riscos de exposição;

•elaborarplanodesaúdelocalbaseadonodiagnósticodesaúdedapopulação,programaratividades e reestruturar o processo de trabalho com a participação da comunidade;

•executaraçõesdevigilânciaemsaúde,atuandonocontrolededoençascomotu-berculose, hanseníase, doenças sexualmente transmissíveis e aids, outras doenças in-fectocontagiosas em geral, doenças crônicas não transmissíveis, relacionadas com o trabalho e o meio ambiente;

•prestarassistênciaintegralbuscandoresolveramaiorpartedosproblemasdesaúdede-tectados na população, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda;

•organizarosserviçosedesenvolverasaçõescomênfasenapromoçãodasaúdeenonúcleo familiar, valorizando o vínculo com o usuário;

•desenvolverprocessoseducativoscomapopulaçãoatravésdegruposcomunitários,enfocando aspectos da melhoria de saúde e qualidade de vida;

•promoveraçõesintersetoriaisecomorganizaçõescomunitáriasformaiseinformaispara atuarem conjuntamente na solução de problemas de saúde.

O conhecimento do território e das necessidades de saúde da população resultará na organização do serviço da Unidade, no planejamento das ações e na identificação dos poten-ciais aliados ao esforço da Unidade em manter e recuperar a saúde das pessoas.

5 ORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO 5.1 Atividades Administrativas 5.1.1 Identificação na Unidade Básica de Saúde (UBS) Toda a UBS deve ter placa de identificação visível e conforme padrão da Secretaria

Municipal da Saúde. Os setores internos da UBS devem apresentar identificação de acordo com sua ativi-

dade (sala de vacinas, consultório, etc.). Os setores ou serviços internos das UBS devem vir identificados pelo nome comple-

to seguido da sigla que o representa, p.e., Unidade de Referência à Saúde do Idoso (URSI) ou Supervisão de Vigilância em Saúde (Suvis).

Os funcionários devem trabalhar uniformizados e com crachá de identificação em local visível.

5.1.2 Funcionamento da Unidade Básica de Saúde A UBS deve iniciar suas atividades às 7 horas. Garantir atendimento ininterrupto de todas as atividades (consultas médicas e de

enfermagem, vacinação, entre outros) durante um período mínimo de dez horas diárias, inclusive durante o horário de almoço, reuniões gerais e treinamento dos profissionais, com revezamento dos trabalhadores das diferentes categorias.

Qualquer medida ou intercorrência que comprometa o funcionamento da UBS ou o atendimento aos usuários deve, obrigatoriamente, ser discutida com a Supervisão Regional de Saúde e, caso necessário com o Conselho Gestor.

As iniciativas locais que visem aumentar o acesso da população aos serviços em dias e horários fora do expediente da unidade também precisam ser discutidos com a Coordenadoria Regional da Saúde e com o Conselho Gestor.

5.1.3 Painel de Informação A UBS deve disponibilizar, em local visível e de fácil acesso aos usuários, um painel de informações com a finalidade de divulgar as atividades, monitorar os trabalhos, democratizar o acesso às informações e favorecer a participação social. O painel deve conter: •horáriodeatendimentodaunidadedesaúde; •mapadaáreadeabrangênciaerelaçãoderuas; •relaçãonominaldostrabalhadorescomrespectivacategoriaprofissionalehoráriode

trabalho; •relaçãodeserviçosoferecidos,comespecificaçãodosdiasehorários(coletadeexa-

mes laboratoriais, grupos, etc.), além daqueles que funcionam em período integral (vacinas, coleta de papanicolaou, etc.);

•data/horário/localdeatividadescoletivasereuniõescomacomunidade; •relaçãodos representantesdapopulação edos funcionáriosdoConselhoGestor,

com data, horário e local das reuniões; •ondehouverProgramaSaúdedeFamília(PSF)ouProgramadeAgenteComunitário

de Saúde (PACS), a UBS deve manter o mapa da área de abrangência e relação de ruas de cada equipe, identificando nominalmente os profissionais de referência;

•placardeinformaçõesdesaúde:dadosdeproduçãorelevantesparaarealidadelocal,tais como: consultas, vacinas aplicadas, tratamento supervisionado de tuberculose, visitas domiciliares, atividades na comunidade, reuniões do Conselho Gestor, entre outros.

5.1.4 Recepção/Administrativo Os usuários dos serviços de saúde apenas serão dispensados após receber orientação adequada a sua solicitação, com informações e encaminhamentos corretos.

O atendimento na recepção deve estar pautado por: •acolherousuáriorespeitandoseusdireitosenecessidades; •garantiragilidadenoatendimentoenaeficácianasações; •manterosarquivosatualizadoseorganizados; •oagendamentodasações(consultas,exames,etc.)seráfeitonarecepção,ondeserãoman-

tidas as agendas de todos os profissionais (médicos, enfermeiros, dentistas e outros).

Responsabilidades: •efetuaramatrículadousuáriopertencenteaáreadeabrangênciadaUBS; •agendaraconsultaeouatendimentodosusuáriosquenecessitamdoserviço,confor-

me planejamento da unidade; •orientareencaminharparaosetorondeserárealizadoaconsulta,atendimentoou

procedimento, conforme a agenda e/ou necessidade apresentada; •levantarearquivarprontuários,exames,etc. •encaminharosusuáriosparaoutrosserviços; •registrarosencaminhamentos; •agendarconsultasparaespecialistas; •controlar,carimbaredistribuirimpressos;

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•organizarmalotes; •digitarocadastroinicialdasfamíliasesuasatualizações; •digitarmapasdeprodução/estatísticamensal; •digitardocumentosgeraisdaUnidade; •orientaçõesgeraisquantoaofuncionamentodosserviços; •conferirlivrodepontoeencaminharasfreqüências; •requisitarmaterialdeescritório/impressos; •leredivulgaroDiárioOficialdoMunicípiodeSãoPaulo.E demais atribuições inerentes ao administrativo. 5.1.5 Identificação/Cadastro Devem ser matriculados ou cadastrados os usuários pertencentes à área de abrangên-cia* da Unidade. No caso do atendimento do usuário da área de influência, deverá ser aberta uma ficha de atendimento, com dados de identificação completos para posterior verificação e encaminhamento para a unidade de referência do mesmo. Os trabalhadores da área de abrangência da Unidade exclusivamente PSF, porém resi-dentes em outras regiões poderão ser matriculados e acompanhados pela equipe de saúde caso apresentem interesse. O cadastro dos usuários nas Unidades deve conter nome e endereço completo (sem abreviaturas), ponto de referência, telefone residencial, comercial ou de contato. Tipos de cadastro: •individual:realizadopelarecepçãonasUnidadesBásicasdeSaúde; •familiar:realizadonodomicíliopeloAgenteComunitáriodeSaúde(ACS)doPSFouPACS. O cadastro familiar será realizado tão logo uma família se instale na área de abrangência. Os familiares com necessidade de atendimento nas UBS, provenientes de outros municípios ou estados e hospedados em domicílios da área de abrangência, serão cadastrados enquanto durar o tratamento, sendo descadastrados quando retornarem aos seus municípios de origem.

5.1.6 Prontuário/ArquivoProntuários As informações contidas nos prontuários pertencem ao usuário ou o responsável legal, respeitando os preceitos éticos, e ficam sob a guarda das UBS podendo ser fornecido uma có-pia mediante autorização legal. Ao abrir prontuários novos, todos os dados serão devidamente preenchidos para to-

dos os usuários seguidos nas UBS, residentes na área de abrangência ou influência*. Os usuários cadastrados e acompanhados pelas equipes de saúde da família e PACS de-

vem ter o prontuário familiar e os usuários que são acompanhados pelos profissionais das demais Unidades Básicas de Saúde podem ter o prontuário individual ou familiar.

As consultas de todos os profissionais da UBS devem ser registradas com letra legível, e seguindo a normatização estabelecida pelos respectivos Conselhos Regionais.

Todos os atendimentos e procedimentos (prescrições, solicitações e resultados de exames, curativos, visitas domiciliares e grupos) realizados devem ser devidamente registrados em prontuário ou anexados ao mesmo quando as anotações forem feitas em outros impressos, devendo igualmente ser datados, assinados, carimbados com a especificação do n.º do Conselho de Classe.

Manter nos prontuários de todas as Unidades de Saúde as fichas de evolução clínica, SIS Pré-Natal e Hiperdia.

As fichas A, B e o relatório de visita do ACS deverão estar separados em plástico transparente, a fim de facilitar as atividades dos agentes.

A transferência de prontuários entre as UBS dentro ou fora do município será rea-lizada via carga interna da SMS ou pelo correio.

A UBS tem como responsabilidade a guarda e a disponibilidade de todos os prontuá-rios e as fichas de atendimento, por um período de 20 anos (Resolução CFM n.º 1.639/2002), a contar a partir da data do último registro de atendimento do paciente, e após este período o serviço deverá se organizar para garantir a integralidade do mesmo. Sugere-se a criação ou implementação da Comissão de Avaliação de Prontuários nas Supervisões de Área, sob a orientação das Coordenações Regionais de Saúde, e conforme normas da portaria CFM.

Arquivo O arquivo dos prontuários deve estar centralizado na recepção ou próximo da mesma. Arquivamento dos prontuários: •familiar:deveserfeitopelonúmerodemicroáreaeporfamília; •individual:deveserfeitoseqüencialmentepelonúmerodematrículadecadausuário; •fichadeatendimentodousuárioeventual:oarquivodeveserfeitoemordemal-

fabética, por nome de usuário e organizado anualmente (Janeiro a Dezembro).

5.1.7 Cadastro de Famílias Recomenda-se que cada equipe de saúde da família assista aproximadamente 800

famílias contemplando de 3.000 a 3.500 pessoas. Cada ACS deverá cobrir uma área com limite máximo de 200 famílias, respeitando a

recomendação inicial da realidade geográfica, econômica e sociopolítica da área, consi-derando a densidade populacional e a facilidade de acesso à Unidade Básica de Saúde.

Os cadastros das famílias e respectivas numerações do domicílio devem ser realiza-dos seqüencialmente, iniciando pelo primeiro domicílio de cada microárea.

Semestralmente as unidades de saúde com PSF devem efetuar uma avaliação do território, para possível readequação.

5.1.8 Sistema de Informação Instrumento de gerência, avaliação e planejamento das ações de saúde, utilizado por toda equipe de saúde.São de responsabilidade do Coordenador de Unidade das Unidades Básicas de Saúde: manter o CNES atualizado; encaminhar as alterações conforme instruções, fluxos e prazos descritos no anexo; encaminhar para as Supervisões de Área as transferências dos Sistemas (SIA, Siab,

Hiperdia, Sisprenatal), assim que encerrado o mês de competência, que disponibili-zará os bancos de dados e/ou relatórios para as instituições parceiras;

monitorar a produção e orientar o planejamento da UBS através dos relatórios; do Siab, no caso das estratégias PSF e PACS, estimulando a participação dos profissionais;

no caso das UBS sem estratégia PSF, deve-se monitorar a produção apresentada no SIA através do Tabnet, disponibilizado no portal da Prefeitura no site www.prefeitu-ra.sp.gov.br, Governo, Secretaria de Saúde, Tabnet, Produção Ambulatorial SIA, ou através do uso do programa Tabwin, solicitando apoio da Coordenadoria, sempre que necessário;

disponibilizar relatório de acompanhamento à equipe da UBS.

5.2 Atividades Assistenciais De acordo com a estratégia adotada pela UBS, as ações desenvolvidas são: •consultas; •visitasdomiciliares; •gruposeducativos; •procedimentos. Para tanto, poderão ser utilizados mecanismos, como o acolhimento, que, visando inter-ferir nos diferentes momentos do processo saúde-doença, orientam a demanda e organizam o serviço, possibilitando o acesso e o atendimento adequado e com qualidade à população assistida.

5.2.1 Acolhimento Acolher é receber bem, ouvir a demanda, buscar formas de compreendê-la e solida-rizar-se com ela. Desenvolver maneiras adequadas de receber os distintos modos como a po-pulação busca ajuda nos serviços de saúde, respeitando o momento existencial de cada um. (CAMPOS, 2003).O acolhimento na saúde é a construção de uma nova postura de todos os profissionais e do serviço, que visa à ampliação do acesso com abordagem de risco e vulnerabilidade, como responsabilidade social, a construção de novos valores de solidariedade, compromisso e cons-trução da cidadania.

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Objetivos: humanizar o atendimento; organizar o serviço; otimizar o atendimento; proporcionar maior resolutividade; estabelecer fluxo de atendimento para a demanda espontânea; propiciar menor desgaste da equipe; favorecer a união dos profissionais num objetivo comum; intensificar o trabalho em equipe; aumentar a satisfação da comunidade; estimular o compromisso com a construção de cidadania e autonomia da comunidade; fornecer elementos para o diagnóstico local. A prática de “Acolher” consiste em uma atitude/postura que todos os funcionários das UBS devem assumir ouvindo as necessidades que levaram o usuário ao serviço, orientando ou encaminhando de acordo com a sua competência profissional.

Fluxo para Organização do Acolhimento

5.2.2 Consultas A consulta do paciente deve ocorrer conforme programação do serviço (pré-natal,

tuberculose, hipertensão, puericultura, entre outros), considerando as necessidades locais e os protocolos existentes, ou por demanda espontânea.

Todos os procedimentos como peso, altura, pressão arterial e outros deverão ser realizados durante a consulta do profissional, assim sendo estão abolidos os proce-dimentos de pré e pós-consultas nas UBS.

Para registrar as consultas médicas e de enfermagem, utilizar as fichas específicas de atendimento à criança, ficha clínica de pré-natal e ficha ginecológica, as quais devem fazer parte do prontuário do usuário e da família, assim como a ficha de

RECEPÇÃO AOUSUÁRIO

ESCUTA QUALIFICADA

Exames

Serviços da UBS: vacina,curativo, inalação e outros

gruposEducativos

AtendimentoEventual/Emergencial

Encaminhamentospara outros

serviçosOrientação

Consulta AgendadaMédico ou Enfermeiro

evolução clínica para atendimento aos adultos e idosos. O cartão da criança será preenchido em todas as consultas. O pré-natal e puerpério devem ser anotados na Ficha SIS Pré-natal, no Cartão da

Gestante, inclusive os resultados dos exames e as intercorrências. Registrar no prontuário a história, exame físico, hipótese diagnóstica e proposta tera-

pêutica, conforme normatização do Conselho Regional de cada categoria profissional. Datar, carimbar e assinar.

5.2.2.1 AgendamentoConsulta Médica Em relação ao agendamento, a Unidade deve se organizar para garantir o atendimento de consultas agendadas e da demanda espontânea, desde que cumpra a produtividade mínima de 16 consultas por período (quatro horas). Assim sendo, para a melhor qualidade do atendimento recomenda-se:

1- Agendar três consultas por hora e reservar uma vaga para demanda espontânea, to-talizando quatro consultas por hora, escalonado hora a hora. As vagas dos faltosos deverão ser preenchidas pela demanda espontânea.

No caso do PSF recomenda-se que 25 horas (62,5%) de sua agenda semanal se-jam destinadas para consultas, totalizando no mínimo 400 consultas/mês, conforme agenda em anexo.

Os casos emergenciais devem ter os atendimentos garantidos, independentemente do número de consultas agendadas, e realizados no período ou mesmo que ultra-passem o número mínimo de consultas atendidas.

A execução do planejamento do agendamento de consultas dependerá da estratégia de atendimento adotada pela UBS. O intervalo entre a procura do agendamento da consulta inicial programada e a execução da mesma não deve exceder um mês.

Os retornos agendados deverão ser a critério dos profissionais e das equipes, res-peitando os protocolos preconizados para cada prioridade. Raciocínio semelhante deverá ser levado em conta para as patologias que necessitem de seguimento.

Com exceção dos pediatras, clínicos, ginecologistas e médicos de medicina de família e comunidade, as demais especialidades das UBS devem atender três consultas por hora.

Consulta de Enfermagem Para os enfermeiros do PSF orienta-se o atendimento de três consultas por hora,

sendo duas consultas agendadas e uma eventual, num total de 16 horas semanais de consulta, conforme agenda em anexo.

Às enfermeiras das UBS recomendam reservar, no mínimo, dez horas por semana para agendamento de pré-natal, puericultura, hipertensão, diabetes, tuberculose e ou hanseníase, segundo protocolos estabelecidos, tomando em consideração os da-dos epidemiológicos da área de abrangência.

Consulta Odontológica Deve ser garantido o atendimento universal, com consultas programáticas e ou urgên-cias a todas as faixas etárias.

• UBS com uma cadeira odontológica Assegurar proporções para agendamento por ciclo de vida, mantendo-se o atendimen-to de 40% de menores de 15 anos de idade e 60% acima de 15 anos de idade, permitindo a adoção dos parâmetros de consultas e procedimentos abaixo, observando-se os critérios de risco para as doenças bucais. •UBS com mais de um equipamento odontológico Organizar a demanda baseando-se tanto em critérios de risco às doenças bucais quanto em relação aos agravos sistêmicos. a urgência odontológica deve ser avaliada pelo cirurgião-dentista e encaminhada de

acordo com o grau de resolutividade da UBS; o agendamento para os cirurgiões-dentistas (CD) dependerá do número de auxilia-

res de consultório dentário (ACD) e técnicos de higiene dental (THD) existentes:

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•1CD(20horassemanais)deveatenderacincoagendamentospordia,comumamédiade12,5 procedimentos por período; •1CD(20horassemanais)+1ACDdevematenderaseisagendamentospordia,com

uma média de 18 procedimentos por período; •1CD(20horassemanais)+1THD+1ACDdevematenderaseisagendamentos

por dia, com uma média de 24 procedimentos por período; •1CD(20horassemanais)+1THD+2ACDdevematenderaseisagendamentos

por dia, com uma média de 27 procedimentos por período.Obs.: Esse número de atendimentos e a média de procedimentos levam em conta os seguintes critérios: respeito aos princípios de biossegurança, execução de procedimentos por quadrantes e conclusão de tratamentos em um menor número de consultas. •Nasaúdebucal,asaçõesintersetoriaisaseremdesenvolvidassãoosprocedimentoscole-

tivos, realizados em pré-escolas, escolas de ensino fundamental e outros espaços sociais. Devemseradotadososseguintesparâmetrosparaumaequipedesaúdebucal(1CD+1 ACD) que atua semanalmente: 600 participantes/mês para as ações educativas, 480 partici-pantes/mês para escovação supervisionada, 360 participantes/mês para fluorterapia em pacien-tes de risco e 540 participantes/mês no caso de aplicação de bochechos fluoretados.Parâmetros para outras composições das equipes de saúde bucal serão detalhados em docu-mento específico.

- DEMAIS CATEgORIAS PROFISSIONAIS (PSICOLOgIA EM CONSTRUÇÃO) – SUgESTÃO DE DIRETRIzES PARA OS PROFISSIONAIS DA REABILITAÇÃO

Consulta em Reabilitação, Fisioterapia, Fonoaudiologia, e Terapia Ocupacional

Parâmetros: 60% da carga horária em atendimento terapêutico; •parafonoeTO80%atendimentoemgrupoe20%individual; •parafisioterapeuta,60%emgrupoe40%individual. 30% em atividades educativas/coletivas; 10% em reuniões de equipe.

Atendimento Terapêutico tempo médio de atendimento terapêutico •30minutosparaatendimentoindividual; •1hparaatendimentodegrupo; •1h30minparavisitadomiciliarouinstitucional. Prioridades •atendimentocentradonoperfilepidemiológicodaáreadeabrangência; •atendimentoemgrupo; •gruposdepais; •oficinasterapêuticas(TO,Fono); •atençãoaorecém-nascidoderiscooucomdeficiênciaestabelecida; •atençãoaAVCeTCEatéumanoapósoevento; •atençãoàsdeficiências.

OBS.: Para cumprimento destas prioridades, é fundamental a organização de fluxos de referências regionais para acompanhamento das pessoas que necessitam de atendimento de maior intensidade/complexidade nos Núcleos Integrados de Reabilitação (NIR) e Ambulatórios de Especialidades.

Reuniões: reuniões semanais da equipe; reuniões mensais dos Núcleos Integrados de Reabilitação (NIR) da coordenadoria; reuniões periódicas com equipes de PSF da área, suporte às visitas domiciliares e a

acamados.Atividades educativas/coletivas: devem ser planejadas a partir da realidade e necessidade de cada unidade (grupos de gestante, puericultura, terceira idade e outros).Para os fonoaudiólogos, entende-se como prioridade:

o estabelecimento de quatro horas semanais para desenvolvimento das ações do Progra-ma Municipal de Saúde Vocal, atendendo à Lei n.º 13.778 e o decreto n.º 45.924.

o estabelecimento de quatro horas semanais para realização de ações em saúde audi-tiva/desenvolvimento de linguagem voltadas a pré-escolares e escolares, atendendo à Lei n.º 12.556 e decreto n.º 42.214.

5.2.2.2 Procedimentos Médicos e de EnfermagemOs documentos a seguir relacionados norteiam os procedimentos médicos e de enfermagem: Manuais de Vigilância Epidemiológica (notificação, investigação, ações de bloqueio); Manual de Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica-CVE (calendário

de vacinas, controle de temperatura da câmara de conservação de imunobiológicos, comunicação de eventos adversos);

Manual de Desinfecção e Esterilização da Secretaria Municipal de Saúde (máscaras de inalação, material de curativo, espéculos, entre outros);

Protocolo de Feridas da Secretaria Municipal de Saúde (produtos e condutas padro-nizados para curativos);

Protocolo de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) na Atenção aos diferentes Ciclos de Vida;

Manual para Profissionais de Saúde “O Climatério em Suas Mãos” – SMS; Caderno Temático da Criança – SMS; Consenso de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Hipertensão); Manual sobre Hipertensão e Diabetes do Ministério da Saúde (Hiperdia); Manual sobre dispensação de medicamentos (Remume e GSS); Manual da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).

Vacinação A sala de vacina deve ser mantida em funcionamento durante todo o expediente, apro-veitando todas as oportunidades para o incentivo e atualização vacinal. O arquivamento das fichas de registro de vacinas seguirá orientação da SUVIS e do CVE. Nas UBS com PSF, o arquivamento deve ser realizado por microárea, sempre que possí-vel, facilitando o controle, segundo a SUVIS e o CVE.

Inalação, medicação e curativo Os setores devem funcionar durante todo horário de funcionamento da Unidade, com garantia de atendimento às prescrições internas e externas.

Teste imunológico de gravidez Garantir o acesso universal ao teste, durante todo horário de funcionamento da Unidade.

Coleta de papanicolaou Garantir o acesso universal com aproveitamento de todas as oportunidades de realizar o exame.

Coleta de material para análises clínicas Realizar procedimentos segundo normas estabelecidas (dias e horários de coleta, pre-paro físico do paciente, condições de armazenamento e transporte do material).

Coleta de material para detecção dos erros inatos do metabolismo (triagem neonatal) Realizar procedimentos segundo normas estabelecidas (dias e horários de coleta, pre-paro físico do paciente, condições de armazenamento e transporte do material).

Aferição de pressão arterial Deve estar disponível durante o horário de funcionamento da Unidade e ser realizada, preferencialmente, seguindo indicação dos profissionais técnicos.

Verificação de temperatura Deve ser realizada seguindo indicação dos profissionais técnicos e estar disponível du-rante o horário de funcionamento da Unidade

Glicemia capilar Deve ser realizada seguindo indicação dos profissionais técnicos, priorizando as situa-

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Módulo I - As Práticas da Saúde e o SUS - Construindo Alicerces para Transformar - Unidade I - Relação Saúde e Sociedade Instrumentalizando Para a Prática

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ções de monitoramento e busca ativa.

Retirada de pontos Deve ser realizada seguindo indicação dos profissionais técnicos e estar disponível du-rante o horário de funcionamento da Unidade

Suturas (procedimento médico) As suturas simples, sem acometimento de planos profundos, devem ser realizadas na própria Unidade.

Lavagem de ouvido (procedimento médico) As lavagens de ouvido serão realizadas conforme avaliação médica. Outros procedimentos como drenagem de abscesso, cauterizações, E.C.G., implanta-ção de Dispositivo Intra-Uterino (DIU) também fazem parte das competências da atenção bá-sica e devem ser realizados conforme a realidade e as necessidades locais (Noas – SUS/2001).

DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Dispensar medicamentos para os usuários, segundo a Relação de Medicamentos Es-senciais para a Rede Básica, mediante a apresentação da receita e conforme a norma de dispensação (Portaria n.º 2.693-SMS.G – 12/12/03).

Garantir prioritariamente a medicação dos pacientes seguidos na UBS (Hipertensão Arterial, Diabetes, Asma, etc.).

A farmácia deve ser mantida aberta durante todo horário de funcionamento da Unidade.

VISITA DOMICILIAR

As visitas domiciliares na UBS devem ser sistematizadas e regulares para os usuários que dela necessitem. Recomenda-se que as visitas domiciliares estejam previstas nas ações programáticas da UBS.

Nas UBS com PSF e PACS, agendar as visitas conforme a programação semanal, priorizando as situações de risco e outras demandas da equipe.

Recomenda-se que sejam agendadas para o médico e o enfermeiro 8 a 16 visitas por semana, e para os auxiliares de enfermagem 18 a 24 visitas por semana, conforme agenda em anexo.

Os ACS devem visitar 100% de suas famílias cadastradas no mês, estabelecendo uma meta diária de acordo com os períodos disponíveis, variando de 10 a 15 VD/dia, conforme agenda em anexo.

O ACS deve realizar diariamente a visita domiciliar garantindo o vínculo e o acesso ao contexto familiar e social. O resultado de cada visita deve ser compartilhado com a equipe para o conhecimento e desdobramento de ações de cada caso confor-me a sua realidade.

Na saúde bucal, as visitas domiciliares serão agendadas a partir da identificação da necessidade pelo ACS e/ou demais membros da equipe da UBS.

5.2.3 Ações Coletivas Devem ser realizadas ações coletivas como grupos educativos, oficinas, vídeos, lite-

ratura de cordel, feiras e outros que são fundamentais para abordagem das questões de saúde coletiva, a fim de promover saúde ou de reduzir riscos à saúde.

Recomenda-se que os grupos educativos sejam realizados conforme a proposta de agen-da em anexo podendo contar com a participação de outros profissionais (assistentes sociais, psicólogos, educadores, cirurgiões-dentistas e equipe de saúde bucal etc).

O médico deve realizar um grupo quinzenalmente, o auxiliar de enfermagem das equipes do PSF deve realizar um grupo semanal, o enfermeiro dois grupos semanais e o ACS deve participar dos grupos conforme o planejamento da equipe.

5.2.4 Ações Intersetoriais/Parcerias/Rede de Apoio O Coordenador de Unidade e os profissionais das Unidades Básicas de Saúde devem estimular as parcerias com instituições, estabelecimentos ou pessoas, com o objetivo de am-pliar as ações de prevenção, promoção e recuperação à saúde, participando de redes de apoio

e mobilizando a comunidade no resgate da cidadania.

5.2.5 Encaminhamentos e Referências Os profissionais da UBS devem conhecer suas referências dentro do Sistema da

Regulação para priorizar os encaminhamentos frente às necessidades. É de responsabilidade da UBS viabilizar o encaminhamento e/ou agendamento das

solicitações. A UBS deve registrar todos os encaminhamentos conforme instrumento do sistema

de regulação, para análise e avaliação mensal.

5.2.6 Trabalho em Equipe A reunião geral da Unidade deve ser realizada para planejamento, monitoramento e avaliação das ações, com enfoque principal na organização do serviço e processo de trabalho. As reuniões devem constar em atas com lista de presença. As reuniões devem ocorrer pelo menos uma vez por mês com divulgação prévia à população e o conselho gestor, ter pauta pré-estabelecida e aberta, com possibilidade de dis-cussões de proposta de trabalho; devendo durante as reuniões ser garantido o atendimento de urgência da população. Todos os profissionais de saúde devem ter garantida a sua participação nessas reuniões. A reunião diária de equipe é um espaço físico e temporal, tacitamente aceito e respei-tado por todos, profissionais e usuários, onde são avaliadas e planejadas ações decorrentes das atividades cotidianas dos membros das equipes de saúde da família, com tomadas de decisões em tempo real, e a subseqüente análise dos resultados obtidos. As reuniões devem ser realizadas com a participação de todos os integrantes da equipe e recomenda-se que ocorra no início ou término dos períodos e com horários diferentes e pré-estabelecidos para cada equipe.

6 PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE 6.1 Conselho Gestor O Conselho Gestor de Unidade é o espaço privilegiado para o exercício do controle social. Com formação tripartite (governo, trabalhadores/prestadores e usuários), tem o papel de formular, acompanhar, avaliar a política de saúde. De acordo com legislação federal (Lei n.º 8.142/90) e municipal (Lei n.º 13.325, de 8/2/2002, e Decreto n.º 42.005, de 17/5/2002), todos os equipamentos de saúde devem constituir o Conselho Gestor a partir da mobilização da comu-nidade, do coordenador de Unidade e profissionais de saúde. O processo de eleição, composição do conselho, divulgação dos resultados, organização, freqüência e registro das reuniões estão definidos nas leis acima citadas e nos regimentos e estatutos dos conselhos gestores.

6.2 Registro/Caixa de Sugestões Todas as UBS devem possibilitar ao usuário o registro de suas sugestões, reclamações ou solicitações, disponibilizando livro ou caixa de sugestões em local visível que serão anali-sadas durante as reuniões do Conselho Gestor. O Conselho Gestor indicará profissionais para atuação na ouvidoria da Unidade durante o expediente.

7 COORDENAÇÃO DE UNIDADE

Atribuições do Coordenador da Unidade Básica de Saúde Responsabilidade pelo território: o realizar o diagnóstico epidemiológico e social do território com os profissionais de

saúde e a comunidade; o levantar os equipamentos sociais existentes no território, bem como ONGs, empre-

sas e outros serviços, potenciais parceiros da Unidade de Saúde.

Planejamento: o elaborar o planejamento local a partir do diagnóstico epidemiológico, com estabe-

lecimento de metas e definição de prioridades de acordo com as necessidades dos diferentes grupos sociais (moradores de áreas de risco, menores de 1 ano, gestantes, idosos, diabetes, fármaco-dependentes, vítimas de violência, etc.);

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o estimular a participação dos profissionais na elaboração dos planos de ação.

Informação: o garantir a atualização contínua dos sistemas de informação, com elaboração e distri-

buição, para as equipes e comunidade organizada de relatórios de produção, indica-dores de saúde e consolidado das famílias cadastradas, para avaliação do serviço e encaminhamento dos problemas da Unidade;

o analisar e avaliar adequadamente os dados obtidos; o promover a discussão dos dados, com os profissionais da Unidade, objetivando o

alcance das metas propostas no planejamento; o divulgar as informações para o Conselho Gestor e comunidade.

Equipe de Saúde: o capacitar e sensibilizar todos os membros das equipes e da Unidade para o cumpri-

mento das diretrizes da atenção à saúde; o ser o elo entre as equipes e a comunidade e as supervisões de saúde locais; o promover e facilitar a integração entre todas as equipes; o conhecer as atribuições e promover avaliação de desempenho individual e das equipes; o administrar o cumprimento de horário de funcionamento da Unidade e de seus

profissionais; o assegurar o cumprimento dos fluxos e das rotinas estabelecidos, por exemplo, em

coleta de exames, observar horários de coleta, armazenamento, recebimento e ar-quivamento dos resultados, busca ativa, notificação e conduta para os exames com resultados alterados;

o apresentar e proporcionar acesso a todos os profissionais de saúde aos manuais técni-cos da Secretaria Municipal da Saúde ou outros, garantindo o controle dos mesmos.

Comunidade: o estimular a organização da população e estabelecer parcerias com entidades que a

representam para um efetivo controle social (escolas, igrejas, etc.) e desenvolvimen-to de atividades em parceria (conselhos gestores);

o estimular a participação da comunidade nas reuniões dos conselhos de saúde, nas atividades do bairro e no orçamento participativo.

Participação em reuniões: o com profissionais da Unidade /equipes PSF e PACS; o com a comunidade, conselhos gestores e movimentos populares; o com as Coordenadorias de Saúde, supervisores de área e a Secretaria Municipal de Saúde.

Equipe de coordenação: o formar com os profissionais técnicos da Unidade um grupo gerencial com a finalida-

de de auxiliar o coordenador nas decisões.

Unidade de vigilância à saúde: o promover a articulação garantindo as ações do setor.

8 PATRIMôNIO Os coordenadores de unidades e todos os funcionários são responsáveis pela conserva-ção e integridade do patrimônio existente nas UBS, para tanto devem: garantir a integração dos bens junto ao departamento patrimonial da SMS; organizar relação de patrimônio por sala; relacionar e garantir a guarda dos materiais inservíveis patrimoniados da Unidade,

solicitando orientação da Coordenadoria de Saúde quanto ao destino dos mesmos; designar um funcionário do setor administrativo para fazer o controle semestral do

patrimônio; realizar o boletim de ocorrência (BO) sempre que verificado o desaparecimento de

qualquer material permanente e encaminhar o BO abertura de processo e averiguação.

9 ALMOXARIFADO A UBS deve ter um almoxarifado para a organização e o controle dos materiais de consumo. O registro e o controle das requisições dos materiais devem oferecer todas as infor-mações necessárias sobre a movimentação do estoque e consumo.Principais funções do responsável pelo Almoxarifado: receber e conferir os materiais; registrar e controlar as requisições dos materiais por setor; realizar a baixa no estoque das requisições atendidas; lançar a movimentação de requisição e entrega de material; guardar, controlar e conservar os materiais estocados; notificar a gerência quanto a irregularidades no setor; arquivar as requisições de solicitação e entrega; garantir o estoque mínimo; emitir relatórios de solicitação e consumo; fazer balanço mensal do estoque; garantir o acesso restrito ao almoxarifado.

gLOSSÁRIO1. Área de abrangência: corresponde a área de responsabilidade de uma unidade de saúde,

baseia-se em critérios de acessibilidade geográfica e de fluxo de população. Deve ser consti-tuída por conglomerados de setores censitários (MENDES, E.V.1994).

2. Área de influência: a conceituação de área de influência de um serviço de saúde se baseia, ainda, numa lógica assistencial gerada, muitas vezes, pela pressão da demanda espontânea. A população procura atenção a seus problemas de saúde, considerando as distintas moda-lidades de acessibilidade dos serviços, estabelecendo, assim, áreas de influência mais ou menos dispersas (MENDES, E.V.1994).

3. Domicílio: designa o “local de moradia estruturalmente separado e independente, constitu-ído por um ou mais cômodos”. A separação fica caracterizada quando o local de moradia é limitado por paredes (muros ou cercas, entre outros) e coberto por um teto que permita que seus moradores se isolem e cujos residentes arcam com parte ou todas as suas despesas de alimentação ou moradia. Também são considerados domicílios: prédio em construção, embarcação, carroça, vagão, tenda, gruta e outros locais que estejam servindo de moradia para a família (BRASIL, 1998).

4. Território-processo: A concepção território-processo transcende à sua redução a uma super-fície e às suas características geofísicas para instituir-se como um território de vida pulsante, de conflitos, de interesses diferenciados em jogo, de projetos e de sonhos.Esse território, então, além de um território-solo é, ademais, um território econômico, político, cultural e epidemiológico (MENDES, E.V.1994).

5. Tabela de Lotação de Pessoal (TLP):Segundo a Coordenadoria de Recursos Humanos do Gabinete (CRH-G), uma TLP mínima para 20.000 habitantes considera um quadro composto por: a. médicos: um clínico, um pediatra e um gineco-obstetra por período de quatro horas

(manhã e tarde); b. enfermeiros em período integral; c. auxiliares de enfermagem. Deve-se ressaltar que estudos estão sendo realizados buscando adequar a TLP às reali-dades locais de cada Unidade Básica de Saúde.

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BIBLIOgRAFIA1. Campos. Gastão W.S. Saúde Paidéia. Editora Hucitec. São Paulo, 20032. Carneiro Jr. Nivaldo. Organização das Práticas de Atenção Primária em Saúde no Contexto dos Pro-

cessos de Exclusão/Inclusão Social. In: Cadernos de Saúde Pública. V.19 N.º 6 Nov-dez 2003.3. Manual de estruturação de almoxarifados de medicamentos e produtos para a saúde e de

boas práticas de armazenamento e distribuição. Prefeitura do Município de São Paulo/ SMS. Área Temática de Assistência Farmacêutica – COGEST. 2003.

4. Mendes, Eugênio Vilaça. Distrito Sanitário. Editora Hucitec – Abrasco. São Paulo – Rio de Janeiro, 1994.

5. Ministério da Saúde. Manual do Sistema de Informação de Atenção Básica-SIAB. Brasília, 2003.6. Ministério da Saúde. Manual para a Organização da Atenção Básica. Brasília, 1999.7. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica – Programa Saúde da Família. Brasília, 2002.8. Ministério da Saúde. Documento Final da Comissão de Avaliação da Atenção Básica. Brasí-

lia. Outubro, 2003.9. Ministério da Saúde. Documento Técnico – Avaliação para melhoria da qualidade da estra-

tégia Saúde da Família. Versão Preliminar. Brasília, 2005.10. Ministério da Saúde. Norma Operacional da Assistência à Saúde – SUS (NOAS – SUS).

Anexos um e dois. Brasília, 2001.11. Paim, Jairnilson Silva. Gestão da Atenção Básica nas Cidades. Capítulo 4. (xerocado)12. Rodrigues, M.P; Araújo, M.S.S. Texto-O Fazer em Saúde: um novo olhar sobre o processo

de trabalho na estratégia de saúde da família.13. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Documento Norteador: responsabilidades da

rede de apoio à implantação do PSF. São Paulo, 2002.14. Brasil. Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comu-

nidade na gestão do Sistema Único de Saúde – SUS e sobre as transferências intergoverna-mentais de recursos financeiros na área da Saúde e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 29 dez. 1990.

15. São Paulo. Lei Municipal n.º 13.325 de 2.002 – Conselhos Gestores do SUS (com alte-rações pela Lei n.º 13.716/04). Dispõe sobre a organização de Conselhos Gestores nas Unidades do Sistema Único de Saúde, e dá outras providências. ANEXOS

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PROgRAMA DE SAúDE DA FAMíLIAORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

Agentes Comunitários de Saúde

ATIvIDADES HoRAS ToTAL/MÉDIA

Reunião diária/ semanal da equipe 5 5 Reuniões/semanal

Atividades administrativas 5 Conforme planejamento da Unidade

visita domiciliar 26 Média de 52 a 78 vD/sem.

*Educação continuada interna ou externa ------------ Conforme planejamento da Unidade

Grupo educativo 2 1 atividade/sem.

Atividades na comunidade 2 Conforme planejamento da equipe* Quando programada a educação continuada interna ou externa, redistribuir a agenda para contemplar esta atividade. ToTAL – 40 HoRAS

PROgRAMA DE SAúDE DA FAMíLIAORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

Equipe de saúde bucal 1

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Reunião semanal da equipe 1 1 Reunião

Atividades administrativas 1 Conforme planejamento da Unidade

visita domiciliar ------------- Conforme planejamento da Unidade

*Educação continuada interna ou externa ------------ Conforme planejamento da Unidade

Grupo educativo 2 1 atividade/sem.

Procedimentos coletivos 8 Conforme planejamento da equipe

Consultas programáticas 28 5 ou 6 de acordo com a composição da equipe* Quando programada a educação continuada interna ou externa, redistribuir a agenda para contemplar esta atividade. ToTAL – 40 HoRAS

PROgRAMA DE SAúDE DA FAMíLIAORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

Equipe de saúde bucal 2

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Reunião semanal da equipe 1 1 Reunião

Atividades administrativas 1 Conforme planejamento da Unidade

visita domiciliar ------------- Conforme planejamento da Unidade

*Educação continuada interna ou externa ------------ Conforme planejamento da Unidade

Grupo educativo 1 1 atividade/sem.

Procedimentos coletivos 4 Conforme planejamento da equipe

Consultas programáticas 13 5 ou 6 de acordo com a composição da equipe* Quando programada a educação continuada interna ou externa, redistribuir a agenda para contemplar esta atividade. ToTAL – 20 HoRAS

PROgRAMA DE SAúDE DA FAMíLIAORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

Enfermeiros

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Reunião diária/ semanal da equipe 5 5 Reuniões – semanal

Consulta de enfermagem 16 32 consultas programadas e 16 eventuais

visita domiciliar 8 8 a16 vD – semanal

*Educação continuada interna ou externa ------------ Conforme planejamento da Unidade

Grupo educativo 4 2 grupos – semanal

Supervisão de enfermagem/ procedimentos 5 ------------

Atividade administrativa 2 Conforme planejamento da equipe* Quando programada a educação continuada interna ou externa, redistribuir a agenda para contemplar esta atividade. ToTAL – 40 HoRAS

UNIDADE BÁSICA DE SAúDEORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

ENFERMEIRO

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Consulta de enfermagem 10 20 consultas programadas + 10 eventuais

visita domiciliar 2 Conforme planejamento da Unidade

*Reunião de enfermagem/UbS + atividades administrativas + ações de vigilância

6 Conforme planejamento da Unidade

Supervisão técnica e procedimentos de enfermagem 10 -----------

**Grupo educativo/ educação continuada interna ou externa

2 Conforme planejamento da Unidade

*Rodiziar a carga horária de 2 horas semanais com as respectivas atividades.**Intercalar 2 horas com grupo educativo e educação continuada interna ou externa. ToTAL – 30 HoRAS

UNIDADE BÁSICA DE SAúDEATIvIDADES HoRAS ToTAL/MÉDIA

Procedimentos de enfermagem + ações de vigilância 24 --------------

visita domiciliar 2 Conforme planejamento da Unidade

*Educação continuada interna ou externa/reunião 2 Conforme planejamento da Unidade

Grupo educativo 2 1 atividade/sem.

* Rodiziar quinzenalmente a carga horária de 2 horas na semana com a atividade de educação continuada, reunião de enfermagem ou da UbS. ToTAL – 30 HoRAS

PROgRAMA DE SAúDE DA FAMíLIAORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

Auxiliares de Enfermagem

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Reunião diária/ semanal da equipe 05 05 Reuniões – semanal

Procedimentos de Enfermagem + Ações de vigilância à Saúde

21 ------------

visita Domiciliar 12 18 a 24 vD/sem.

*Educação Continuada Interna ou externa ------------ Conforme planejamento da Unidade

Grupo Educativo 02 01 atividade/sem.

* Quando programado a educação continuada interna ou externa redistribuir a agenda para contemplar esta atividade. ToTAL – 40 HoRAS

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UNIDADE BÁSICA DE SAúDEORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL DAS EQUIPES

Médico

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Consulta médica 18 54 consultas programadas + 18 eventuais

*visita Domiciliar/ Discussões de casos clínicos/ Reunião geral da UbS/ Grupos 02 Conforme planejamento da Unidade

*Rodiziar a carga horária de 02 horas semanal com as respectivas atividades. ToTAL – 20 HoRAS

PROgRAMA DE SAúDE DA FAMíLIAORgANIzAÇÃO DO SERVIÇO SEMANAL

Médicos

ATIvIDADES HoRASToTAL/MÉDIAEXECUTADAS

Reunião diária/ semanal da equipe 05 05 Reuniões – semanal

Consulta médica + demanda espontânea 25 75 consultas programadas + 25 eventuais

visita domiciliar/ *grupo educativo 10 10 a 20 vD/sem.

**Educação continuada interna ou externa ------------ Conforme planejamento da Unidade

*o grupo educativo desenvolvido pelo médico deve ser programado quinzenalmente utilizando 2 horas da visita Domiciliar.** Quando programada a educação continuada interna ou externa, redistribuir a agenda para contemplar esta atividade. ToTAL – 40 HoRAS

REFERêNCIA BIBLIOgRÁFICASÃO PAULO (Cidade). Secretaria da Saúde. Documento norteador: compromisso das Unida-des Básicas de Saúde com a população. São Paulo, nov. 2005. 2.ª versão.