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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA KARINE DE PAULA BASTOS SANTOS MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM CONCRETOS REFRATÁRIOS – ESTUDO DE CASO Feira de Santana 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA KARINE DE PAULA BASTOS SANTOS

MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM CONCRETOS REFRATÁRIOS – ESTUDO DE CASO

Feira de Santana

2008

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KARINE DE PAULA BASTOS SANTOS

MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM CONCRETOS REFRATÁRIOS – ESTUDO DE CASO

Monografia apresentada como pré-requisito de conclusão do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Orientador: Washington Almeida Moura Co-Orientador: Jardel Pereira Gonçalves

Feira de Santana 2008

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KARINE DE PAULA BASTOS SANTOS

MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM CONCRETOS REFRATÁRIOS – ESTUDO DE CASO

Feira de Santana, 15 de setembro de 2008.

Banca examinadora

___________________________________

Professor Washington Almeida Moura, DSc., Orientador

Universidade Estadual de Feira de Santana

__________________________________________

Professor Jardel Pereira Gonçalves, DSc., Co-orientador

Universidade Federal da Bahia

_______________________________________

Professor Élvio Antonino Guimarães, Msc.

Universidade Estadual de Feira de Santana

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus pela oportunidade de crescimento pessoal e profissional

obtidas durante o desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso.

A meus pais, Carlos e Mirian, pelo grande apoio.

Às minhas irmãs, Karina, Tayane e Roberta.

À minha amiga e colega de curso, Valmara.

Aos professores Washington Almeida Moura e Jardel Pereira Gonçalves pelo suporte e

orientação.

Aos engenheiros Edilberto Silva, Roberto Dias e Roberto Farias, pelo suporte fornecido para a

execução deste trabalho.

E a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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RESUMO

O concreto refratário é um material cerâmico capaz de resistir a altas temperaturas. Este

material apresenta larga utilização em setores industriais, tais como petroquímico, siderúrgico,

metalúrgico, dentre outros. O conhecimento do comportamento deste material é

imprescindível para sua utilização de forma eficaz e segura. Entretanto, a complexidade de

seu comportamento é desconhecida para grande maioria dos profissionais da construção. Este

desconhecimento tem provocado freqüentes manifestações patológicas nos elementos onde o

material é utilizado. A deterioração do concreto refratário pode provocar danos operacionais,

como paradas de unidades de produção e prejuízos financeiros. Neste contexto, este trabalho

aborda as principais propriedades termo-mecânicas e os mecanismos de degradação que

promovem a deterioração do concreto refratário, com objetivo de entender a ação e o

comportamento de agentes externos ao longo da vida útil deste material. O processo de

deterioração de concretos refratários foi observado em uma indústria química.

Palavras-chave: concreto refratário, propriedades termo-mecânicas, desempenho operacional,

degradação.

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ABSTRACT

Refractory concrete is a ceramic material that is suitable for high temperatures. Refractory

concrete widely is used in industry sectors like metallurgy, steelmaking, petrochemical, etc. It

is important to know the properties of this material in order to obtain a better understanding of

its behavior during its lifetime. However, many engineers do not know the behavior of

refractory concretes. This lack of knowledge has led to pathological problems in the elements

made with that material. These damages have caused operational failures and financial losses

in many industries. In this work, the main thermal and mechanical properties and the

degradation in refractory concretes were studied in an effort to understand the action and the

behavior of corrosive agents on this material. The deterioration process was studied in a

chemical industry.

Keywords: refractory concrete, thermomechanical properties, operational performance,

damage.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS....................................................................................................................................... III

RESUMO .............................................................................................................................................................IV

ABSTRACT .......................................................................................................................................................... V

ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................................VIII

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 1

1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 1

1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................................................... 2

1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................................................ 3

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA .............................................................................................................. 3

2 CONCRETO REFRATÁRIO ........................................................................................................................... 5

2.1 MATERIAIS UTILIZADOS PARA A PRODUÇÃO DE CONCRETOS REFRATÁRIOS................................................. 6

2.1.1 Aglomerantes ........................................................................................................................................ 7

2.1.1.1 Cimento de Aluminato de Cálcio (CAC).........................................................................................................8

2.1.2 Agregados ........................................................................................................................................... 10

2.1.3 Aditivos químicos e adições minerais ................................................................................................. 13

2.2 PRODUÇÃO DE CONCRETOS REFRATÁRIOS .................................................................................................. 13

2.2.1 Métodos de Instalação do Concreto Refratário .................................................................................. 14

2.2.2 Cura do Concreto Refratário .............................................................................................................. 17

2.2.3 Processo de Secagem e Sinterização .................................................................................................. 18

2.3 PROPRIEDADES ............................................................................................................................................ 20

2.3.1 Propriedades Térmicas ....................................................................................................................... 21

2.3.1.1 Calor Específico ............................................................................................................................................21

2.3.1.2 Condutividade Térmica (λ) e Difusividade....................................................................................................21

2.3.1.3 Expansão Térmica (α) ...................................................................................................................................23

2.3.2 Propriedades Mecânicas..................................................................................................................... 24

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2.3.2.1 Módulo de Elasticidade .................................................................................................................................25

2.3.2.2 Resistência à Compressão e Módulo de Ruptura...........................................................................................25

2.3.3 Porosidade e Permeabilidade............................................................................................................. 27

2.3.4 Refratariedade .................................................................................................................................... 27

2.4 MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO CONCRETOS REFRATÁRIOS....................................................................... 28

2.4.1 Abrasão e Erosão................................................................................................................................ 30

2.4.2 Choque Térmico.................................................................................................................................. 32

2.4.3 Comportamento quanto à Corrosão ................................................................................................... 33

2.5 CONCRETOS REFRATÁRIOS ESPECIAIS ......................................................................................................... 35

3 ESTUDO DE CASO ......................................................................................................................................... 38

4 CONCLUSÃO .................................................................................................................................................. 43

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 44

ANEXO – ROTEIRO DE ENTREVISTA ........................................................................................................ 47

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Chaminé fabricada em concreto refratário..................................................................6

Figura 2. Alumina globular ......................................................................................................11

Figura 3. Representação esquemática do processo de instalação de concretos refratários. .....15

Figura 4. Dispositivos de fixação de concretos refratários.......................................................17

Figura 5. Infiltração de alumínio no concreto refratário ..........................................................29

Figura 6. Trincas em concreto refratário ..................................................................................30

Figura 7. Desgaste em concreto refratário devido à erosão......................................................30

Figura 8. Crescimento de trinca durante o impacto da partícula. .............................................31

Figura 9. Efeito da rugosidade da superfície no ângulo de contato do refratário com o vidro

líquido.......................................................................................................................................34

Figura 10. Forno rotativo..........................................................................................................38

Figura 11. Alimentação do forno..............................................................................................40

Figura 12. Descarga do forno ...................................................................................................40

Figura 13. Curva de aquecimento para concretos densos.........................................................41

Figura 14. Trincas paralelas à superfície do concreto refratário. .............................................42

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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

1.1 Introdução

Os refratários são materiais cuja função primária é possibilitar a produção de outros materiais.

A sua utilização representou um dos fatores que impulsionaram o desenvolvimento

tecnológico alcançado atualmente pela humanidade. Através da formação de uma camada

refratária protetora em locais submetidos a altas temperaturas, é possível a produção de

materiais como vidros, cimentos, metais, produtos petroquímicos, dentre outros.

O concreto refratário pode ser definido como um material que, ao ser submetido a um

processo de sinterização, adquire características de natureza cerâmica que o torna capaz de

resistir a altas temperaturas (VAN VLACK, 1973). Por se tratar de um composto monolítico,

o concreto refratário substitui o uso de tijolos refratários, já que estes necessitam de uma

maior quantidade de juntas e apresentam propriedades inferiores às do concreto (SILVA et al.,

2003). Os tijolos, apesar de suas propriedades serem controladas e conhecidas antes da

aplicação, apresentam alto custo de instalação (THUMMEN et al., 2006).

Com objetivo de aumentar a produtividade, observa-se uma necessidade das indústrias, em

utilizar materiais refratários como revestimentos térmicos de maior qualidade, que possuam

volumes cada vez menores, grande versatilidade, que sejam mais resistentes aos ambientes

aos quais estão submetidos e de rápida instalação. A matéria-prima utilizada para o concreto

refratário, por ser moldada e sinterizada in-situ, possui baixo custo de instalação, permite a

produção em tamanhos variados e com formatos complexos (THUMMEN et al., 2006). Por

estes motivos, tem-se observado o crescimento na utilização de materiais monolíticos a

exemplo do concreto refratário.

O avanço científico acompanhado pelo surgimento de novas tecnologias tem possibilitado o

desenvolvimento de materiais com melhor desempenho em relação aos encontrados no

mercado atual. Gradativamente esses novos produtos serão aplicados em vários setores

industriais. Dentro deste contexto, o concreto refratário possui grande potencialidade para

atender às exigências de setores como: químico, petroquímico, siderúrgico, metalúrgico, na

produção de cimento e de vidro, dentre outros. Diversas aplicações podem ser mencionadas

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para o concreto refratário, como revestimento em fornos metalúrgicos, em vasos e dutos de

calcinadores, usinas nucleares, altos fornos, fornos rotativos e ambientes expostos a

temperaturas superiores a 100°C.

Entretanto, o concreto refratário pode desenvolver, durante o aquecimento prolongado, alguns

mecanismos de degradação que podem ser provocados por processos físicos, mecânicos e

químicos. Estes ataques promovem o surgimento de manifestações patológicas e redução da

durabilidade do concreto. Desta forma, alternativas devem ser buscadas visando aumentar a

vida útil dos concretos refratários. Como conseqüência, os benefícios do prolongamento do

tempo de serviço de um equipamento incluem a redução de custos operacionais e de paradas

para recuperação, aumentando assim, a produtividade das indústrias.

1.2 Justificativa

O uso intensivo do concreto refratário tem provocado a realização de constantes reparos, o

que proporciona danos operacionais, como interrupções no processo de produção, e,

conseqüentemente, uma redução na produtividade das indústrias que utilizam esse concreto,

perdas financeiras e gastos excessivos com recuperação. Este quadro ainda é mais grave

devido ao despreparo técnico de muitos profissionais da Engenharia Civil. Em alguns casos, o

desconhecimento do comportamento do concreto refratário faz com que o mesmo deixe de ser

utilizado e substituído por um material que não atenda aos requisitos de desempenho a altas

temperaturas, a exemplo do concreto convencional.

O conhecimento das propriedades e dos processos de degradação em concretos refratários

submetidos a altas temperaturas pode promover um crescimento da produtividade e vida útil

de fornos de indústrias petroquímicas, siderúrgicas e metalúrgicas. O domínio das técnicas de

instalação do concreto refratário, processos de moldagem, sinterização (queima) e de cura

permitem a produção de concretos de maior qualidade e reduz a incidência de manifestações

patológicas durante o tempo de serviço. Como conseqüência, torna-se possível otimizar os

resultados obtidos durante os processos industriais e evitar danos que comprometam a

qualidade do produto final. Isto pode ser alcançado através do aprimoramento das

propriedades termomecânicas e de resistência à corrosão dos refratários (LEE et al., 1998).

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O conhecimento dos mecanismos de degradação é um modo de evitar, ou pelo menos

reduzir, o processo de deterioração observado em estruturas de concreto refratário. A

produção de refratários com maior qualidade é essencial para que estes possuam uma maior

resistência aos ambientes agressivos aos quais são submetidos. Benefícios adicionais poderão

ser observados, tais como redução do risco de explosões nos fornos, redução da ocorrência de

outros tipos de acidentes, o que evita danos à saúde dos operários e redução da emissão de

poluentes para o meio ambiente.

1.3 Objetivos

Objetivo geral:

• Discutir os principais problemas e as causas que promovem a deterioração de

concretos refratários.

Objetivos específicos:

• entender as características e propriedades do concreto refratário;

• apresentar os principais mecanismos de degradação em concretos refratários;

• ilustrar um caso prático de utilização de concreto refratário e as manifestações

patológicas incidentes.

1.4 Estrutura da Monografia

Para o desenvolvimento do presente trabalho será apresentada uma abordagem teórica e

prática sobre o tema. O capítulo 2 apresenta a revisão de literatura a respeito das propriedades,

características e mecanismos de degradação mais comuns em concretos refratários. O

emprego de concretos especiais, tais como concretos com fibras, também é abordado neste

capítulo.

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No capítulo 3, mostra, através do estudo de caso realizado em uma indústria química em

Feira de Santana, problemas patológicos em concretos refratários e a análise dos processos de

degradação que provocaram esses problemas. O procedimento empregado na realização do

estudo de caso consiste em: vistoria do local, levantamento das manifestações patológicas e

entrevista ao engenheiro responsável pela manutenção da indústria. Por fim, no capítulo 4, são

mostradas as conclusões obtidas com a realização deste trabalho e sugestões para trabalhos

futuros.

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2 CONCRETO REFRATÁRIO

A NBR 10237 (1993) classifica os materiais refratários de acordo com os seguintes critérios:

forma, processo de fabricação, processo de conformação, natureza química e mineralógica

dos constituintes e grau de porosidade. Quanto à forma física final, os refratários são

classificados:

• Conformados:

o formatos padronizados como arco, cunha, paralelos, radiais;

o formatos especiais.

• Não conformados, massas plásticas e massas de projeção:

o argamassas;

o concretos densos e isolantes;

o massas de socar.

Ainda de acordo com a NBR 10237 (1993), quanto ao processo de fabricação, os refratários

são classificados do seguinte modo:

• Conformados:

o queimados;

o impregnados;

o quimicamente ligados;

o eletrofundidos;

o ligados (curados ou não) a piche, a alcatrão ou a resinas.

• Não conformados:

o pega hidráulica;

o pega a quente ou cerâmica;

o pega ao ar;

o pega química.

Com base nesta classificação, o concreto refratário pode ser definido como:

Um produto refratário não-conformado de pega hidráulica. Consiste na mistura de um ou mais agregados refratários de granulometrias adequadas com um cimento refratário que funciona como ligante. Pode conter ainda aditivos e componentes não cerâmicos [...] (NBR 8826, 1997).

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A figura 1 mostra a aplicação de concretos refratários leves para chaminés de fornos

cilíndricos utilizados em indústrias petroquímicas.

Figura 1. Chaminé fabricada em concreto refratário (TROPINOVA et al., 2007)

2.1 Materiais Utilizados para a Produção de Concretos Refratários

Os materiais utilizados na produção de uma mistura com propriedades refratárias devem

apresentar resistência mecânica a altas temperaturas e características refratárias, uma vez que

esses materiais irão exercer grande influência sobre o desempenho da estrutura e irão atuar em

conjunto para garantir que o concreto seja capaz de trabalhar na temperatura máxima de

serviço. Essas características devem atender a valores específicos padronizados por

instituições como o American Concrete Institute (ACI), nos Estados Unidos. No Brasil, a

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) determina as características gerais,

especificações e métodos de ensaio para materiais refratários. Existem também normas

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internas de determinadas empresas, como a Petrobrás, que definem e classificam os

concretos refratários.

A microestrutura de um concreto refratário é bastante complexa, entretanto, pode ser

considerada como um conjunto de grãos milimétricos em uma matriz constituída de finos e de

cimento (THUMMEN et al., 2006). O cimento refratário normalmente utilizado é o cimento

aluminoso ou de aluminato de cálcio e, a depender do aglomerante, adiciona-se água em

função da quantidade em peso do agente ligante. É necessário destacar que, durante a seleção

dos materiais a serem utilizados para a produção de um concreto refratário, devem ser

analisadas as compatibilidades química e física destes materiais entre si e com a substância

que estará em contato direto com o concreto. A seguir, serão apresentados os principais

constituintes do concreto refratário que são: aglomerantes, agregados, aditivos químicos e

adições minerais.

2.1.1 Aglomerantes

Os concretos refratários geralmente são produzidos com aglomerantes de pega não-hidráulica

ou de pega hidráulica. Os aglomerantes de pega não-hidráulica não necessitam de água para o

desenvolvimento da pega. Entretanto, a presença de água é essencial para a trabalhabilidade

da mistura. Os aglomerantes de pega não-hidráulica mais utilizados são: waterglass, fosfatos

e magnésia (BAZANT e KAPLAN, 1996).

Dentre os aglomerantes hidráulicos utilizados em concretos refratários, destacam-se o cimento

Portland, o cimento de aluminato de bário e o cimento de aluminato de cálcio. O cimento

Portland apresenta uso limitado, pois, a temperaturas entre 105 e 800°C ou mais, ocorre a

desidratação do silicato de cálcio hidratado (C-S-H), principal produto formado durante a

hidratação do cimento. O C-S-H se decompõe em β-C2S (β-2CaO.SiO2), β-CS (β-CaO. SiO2)

e água. Além da desidratação do C-S-H, ocorre a decomposição de outro composto resultante

do processo de hidratação do cimento: o hidróxido de cálcio. Este se decompõe em óxido de

cálcio e água (BAZANT e KAPLAN, 1996). A presença do óxido de cálcio favorece a

formação de fases líquidas, o que promove a redução da resistência do refratário (GEROTTO

et al., 2000).

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O cimento de aluminato de bário apresenta bom desempenho quanto à resistência ao fogo.

Segundo Banzant e Kaplan (1996), sua composição corresponde a 58 a 63% de óxido de bário

(BaO), 39% a 29% de óxido de alumínio ou alumina (Al2O3) e pequenas quantidades de

SiO2, CaO, Fe2O3, MgO e álcalis. Entretanto, o cimento refratário normalmente utilizado é o

cimento aluminoso ou de aluminato de cálcio, pois este possui em sua composição alumina,

uma das principais substâncias responsáveis pelas propriedades refratárias do concreto.

2.1.1.1 Cimento de Aluminato de Cálcio (CAC)

O cimento de aluminato de cálcio é conhecido também como cimento aluminoso ou cimento

fondu. Esta última denominação possui origem francesa e refere-se ao fato de seus materiais

constituintes serem completamente fundidos no forno (MEHTA, 1994; NEVILLE, 1997). O

CAC apresenta diversas vantagens em relação ao cimento Portland como alta resistência nas

primeiras idades, endurecimento mesmo em condições de baixas temperaturas, durabilidade

superior ao ataque por sulfatos. Entretanto, este cimento apresenta uso limitado em aplicações

estruturais devido a perdas graduais de resistência (MEHTA, 1994).

Os cimentos de aluminato de cálcio constituem os agentes ligantes mais empregados em

aplicações industriais, pois possuem grande disponibilidade, baixo custo, capacidade de

conferir alta resistência mecânica a verde aos concretos e resistência ao ataque de agentes

agressivos, quando em uso (OLIVEIRA e PANDOLFELLI, 2007).

As propriedades apresentadas pelo concreto com cimento aluminoso estão relacionadas às

características de hidratação deste cimento e da microestrutura da pasta endurecida. Ao

contrário do cimento Portland, não ocorre a formação do hidróxido de cálcio, um dos

responsáveis pela deterioração de concretos em ambientes ácidos. Além disso, a ausência de

hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, torna viável o emprego do cimento de aluminato de cálcio para

produção de concreto de alta temperatura. Este cimento tem como matérias-primas a bauxita e

o calcário. A bauxita é um mineral aluminoso hidratado, com impurezas como óxidos de ferro

e de titânio e pequenas quantidades de sílica (BAZANT e KAPLAN, 1996).

De acordo com Neville (1997), o cimento aluminoso é resultado da moagem do clínquer de

aluminato de cálcio e tem como principal constituinte cimentante, o aluminato monocálcico,

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CaO.Al2O3 (CA), e como componentes secundários: 12CaO.7Al2O3 (C12A7), 2CaO.

Al2O3.SiO2 (C2AS), β-2CaO.SiO2 (βC2S) e 2CaO.Al2O3 -2CaO.Fe2O3 (C2A.C2F ou FSS).

Dessa forma, o CAC é constituído, quimicamente, por alumina e cal, em torno de 40%, 15%

de óxido férrico e ferroso, 5% de sílica e pequenas proporções de TiO2, MgO e álcalis.

Também existem cimentos com elevados teores de Al2O3, 50 a 80%, sendo conhecido como

cimento de alto teor de alumina (HAC).

Os cimentos comerciais apresentam três fases cristalinas principais, que são responsáveis pela

pega hidráulica: a fase estequiométrica, CA, em torno de 40 a 70% do cimento obtido, a fase

CA2 (CaO.2Al2O3 ), com proporção superior a 25% e a fase C12A7, constituindo de 1 a 10%

dos cimentos comerciais. A fase C12A7 se hidrata rapidamente, apesar de possuir uma baixa

temperatura de fusão. A fase CA possui uma hidratação lenta, entretanto, apresenta alta

temperatura de fusão. Já a fase CA2 é mais refratária que a CA, porém é necessário um longo

tempo para sua hidratação (GARCIA et al., 2007).

A hidratação do aluminato monocálcico promove a formação do hidrato CAH10

(CaO.Al2O3.10H2O). Dentre os hidratos formados, o CAH10 é o que possui menor densidade.

Ocorre também a formação de uma pequena quantidade do hidrato C2AH8 (2CaO.Al2O3

.8H2O) e de gel de alumina (Al2O3.aq). O primeiro produto formado é instável quimicamente

em temperaturas elevadas, o que provoca a formação de um produto mais estável, o C3AH6

(3CaO.Al2O3 6H2O), e também do gel de alumina. Esta reação é conhecida como conversão e

ocorre uma mudança da forma hexagonal, no primeiro composto, para a forma cúbica

(NEVILLE, 1997). A reação pode ser descrita da seguinte forma:

3(CaO. Al2O3 .10H2O) → 3CaO. Al2O3 .6H2O + 2 (Al2O3 .3H2O) + 18 H2O

simplificando:

3CAH10 → C3AH6 + 2AH3 + 18H

Apesar da água estar presente como produto dessa reação, de acordo com a equação acima,

para que a conversão aconteça, é necessária a sua presença. A quantidade de água que reage

quimicamente com o cimento é superior a 50% em peso da quantidade de cimento. Esse valor

é duas vezes superior à quantidade de água necessária para o processo de hidratação do

cimento Portland. Por outro lado, em misturas contendo cimento de aluminato de cálcio, o

processo de hidratação ocorre com uma velocidade maior que a velocidade de hidratação no

cimento Portland (BAZANT e KAPLAN, 1996).

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O CAH10 é mais denso que o C3AH6. Por este motivo, a conversão provoca um aumento da

porosidade da pasta e conseqüentemente, ocorre perda da resistência do concreto refratário.

Entretanto, a altas temperaturas, acima de 1000°C, sua resistência cresce novamente devido à

formação do C3AH6, que é um material sinterizado estável. Este fenômeno é definido como

pega cerâmica (MEHTA, 1994).

A baixa resistência apresentada por concretos de cimentos aluminosos limita o seu uso. O

cimento, quando submetido a temperaturas em torno de 1300°C, é responsável pela formação

de uma fase líquida no concreto provocando seu amolecimento e, conseqüentemente, redução

da resistência. Por este motivo, o uso de cimento não é aconselhável para temperaturas

superiores a 1400°C quando a resistência é necessária (MYHRE et al., 1999). Um aumento

significativo na vida útil de concretos refratários tem sido obtido através da redução ou até

mesmo ausência de cimento na matriz evitando a formação de fases líquidas. Além disso,

esses concretos apresentam melhores resistências à corrosão e à fluência (GHOSH et al.,

2003).

Com base nestes problemas, novos materiais estão sendo desenvolvidos para a aplicação em

concretos refratários. Aditivos com partículas finas podem ser citados como exemplos, pois

promovem diversos benefícios nas propriedades desses concretos. Entretanto, segundo Ghosh

et al. (2003) a ausência de cimento aluminoso pode provocar o surgimento de fissuras nos

concretos durante o processo de secagem e uma baixa resistência antes do aquecimento, ou

seja, uma baixa resistência a verde do concreto. Por isso, grande parte dos concretos

refratários produzidos atualmente possui baixo teor de cimento, como por exemplo, 1 e 2%

em peso, a depender da aplicação.

Segundo Oliveira e Pandolfelli (2007), foram desenvolvidas aluminas hidratáveis como

alternativa direta ao uso de cimentos refratários, pois a presença de óxido de cálcio

proveniente do cimento provoca uma deterioração das propriedades mecânicas dos concretos

a altas temperatura na presença de sílica.

2.1.2 Agregados

Diversos tipos de agregados são utilizados na produção de concretos refratários. A sua

escolha deve ser baseada nas suas propriedades, tais como ponto de fusão, coeficiente de

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expansão térmica, condutividade térmica, etc. Um concreto isolante, por exemplo, deve

possuir agregados com baixa condutividade térmica.

Os agregados normalmente utilizados em concretos refratários são constituídos por minerais

argilosos que, quando submetidos a altas temperaturas, sofrem alterações em sua constituição

apresentando características cerâmicas. Exemplos de argilominerais empregados na produção

de agregados são a mulita ou silicato de alumínio cristalino (Al2O3.2SiO2), mineral de alto

poder refratário, e o coríndon (α-Al2O3). Outros agregados utilizados são: cromita

(FeO.Cr2O3), magnésia sinterizada constituída por MgO e pequenas proporções de CaO,

dolomita sinterizada, com teores aproximadamente equivalentes de MgO e CaO, carbeto de

silício (SiC), forsterita, constituído principalmente por MgO e SiO2 com algumas impurezas

de Al2O3, Fe2O3 e CaO (BAZANT e KAPLAN, 1996).

Outros agregados com características refratárias são: bauxita e magnetita calcinadas,

utilizados para produção de concretos refratários densos; chamota, que é um tijolo moído de

alta densidade, constituído principalmente por sílica e alumina. Os agregados utilizados para

produção de concretos refratários leves com função de isolantes térmicos são: escória leve de

alto forno, argila expandida, cinzas volantes sinterizadas, ardósia expandida, pumicita, terras

diatomáceas calcinadas e alumina globular (BAZANT e KAPLAN, 1996). A alumina

globular pode ser observada na figura 2.

Figura 2. Alumina globular

(Asmil Minerais Ltda., 2007)

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A presença de calcário deve ser evitada em concretos refratários devido ao processo de

descarbonatação. Esta reação ocorre entre 600 e 900°C. Ao ser resfriado, o concreto refratário

irá possuir grande quantidade de cal livre (CaO) formada durante a descarbonatação. A cal irá

reagir com a umidade atmosférica formando hidróxido de cálcio (Ca(OH)2). A formação deste

composto promove um crescimento volumétrico de 44%. Esta reação pode provocar danos e

rupturas no concreto (PETZOLD e RÖHRS, 1970 apud BAZANT e KAPLAN, 1996).

Segundo Bazant e Kaplan (1996), os fatores que devem ser considerados na seleção dos

agregados para produção de refratários são:

• mudanças na composição química e na estrutura física que ocorrem em altas

temperaturas;

• alterações volumétricas devido à retração e expansão;

• resistência à ambientes agressivos e à abrasão;

• capacidade do agregado em formar ligações cerâmicas tanto com aglomerantes

hidráulicos como não-hidráulicos, em temperaturas maiores que 1000°C;

• granulometria e dimensão máxima do agregado.

A dimensão máxima, assim como em concretos convencionais, irá influenciar a quantidade de

água, a trabalhabilidade, peso unitário, deformação linear e porosidade do concreto refratário.

O concreto refratário adequado deve possuir agregados densos com a fração superfina

dispersa no líquido. Agregados de alumina fundida possibilitam esse efeito (MYHRE, 1996).

Os valores máximos para a dimensão do agregado variam de acordo com o tipo de agregado.

O valor máximo não deve ser superior a 3,81 cm, sendo que para argila expandida deve ser

inferior a 1,27 cm (BAZANT e KAPLAN, 1996).

Os agregados são os responsáveis pelo desempenho quanto à isolação e expansão térmica do

concreto, pois estão presentes em grandes quantidades. A sua seleção deve ser realizada de

acordo com o material que estará em contato direto com o concreto refratário, como por

exemplo, metais em fusão em indústrias metalúrgicas ou coque em indústrias petroquímicas.

Muitos tipos de agregados podem reagir com esses materiais ou serem atacados

quimicamente, comprometendo a durabilidade do concreto. Além desse aspecto, é necessário

conhecer a resistência mecânica que o agregado pode proporcionar ao concreto, bem como

sua capacidade de isolamento térmico.

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2.1.3 Aditivos químicos e adições minerais

Os aditivos, de forma análoga ao concreto convencional, promovem um aumento do

desempenho dos concretos refratários. As adições minerais, também conhecidas como

estabilizadores cerâmicos, são materiais que apresentam granulação fina. De acordo com

Bazant e Kaplan (1996), as adições são utilizadas em concretos refratários submetidos a altas

temperaturas produzidos com cimento Portland com objetivo de evitar a formação de cal

livre. Conseqüentemente, ocorre um aumento da resistência em altas temperaturas. Exemplos

de adições são: chamota, argila calcinada, cromita, pó de quartzo, escória, cinza volante e

magnésia sinterizada.

Em concretos refratários também são utilizados aditivos químicos, que correspondem a

plastificantes, aceleradores de pega e agentes sinterizantes. Os plastificantes proporcionam

um aumento da trabalhabilidade e da resistência, redução do teor de água e da

permeabilidade.

A seleção de aditivos químicos exerce grande influência nas características de processamento

dos concretos, tais como: estado de dispersão das partículas, homogeneidade, propriedades

reológicas, comportamento de pega e consumo de água. É essencial conhecer o estado de

dispersão das partículas do concreto. Desta forma, é possível determinar a fluidez desses

materiais (OLIVEIRA e PANDOLFELLI, 2007).

2.2 Produção de Concretos Refratários

No Brasil, existem atualmente, 24 fabricantes de concreto refratário (Guia NEI Brasil, 2008).

Estes concretos já são comercializados com todos os elementos sólidos necessários para a

mistura: aglomerante, agregados e/ou aditivos. Dessa forma, o concreto refratário é fornecido

com os materiais constituintes pré-misturados sendo que, no local da moldagem, adiciona-se

apenas água.

Ao contrário do concreto convencional, o concreto refratário apresenta as seguintes etapas de

produção: dosagem e mistura, moldagem/ aplicação, cura, secagem e sinterização. A cura

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pode ser realizada a baixas ou altas temperaturas, a depender das propriedades desejadas e

da posterior utilização do concreto. A secagem tem como objetivo remover o excesso de água

que é prejudicial ao concreto, enquanto que a sinterização visa formar fases estáveis, como

será visto posteriormente.

De acordo com a Portland Cement Association (1979) citado por Bazant e Kaplan (1996), a

dosagem do concreto refratário tem como objetivo fornecer a mistura mais econômica e

viável de materiais necessários para a produção de um concreto que atenda aos requisitos de

desempenho em condições particulares de uso. Entretanto, não é possível desenvolver uma

mistura capaz de satisfazer todas as condições de uso.

De modo semelhante ao concreto convencional, a quantidade de água presente no concreto

refratário influencia a trabalhabilidade do concreto fresco assim como as propriedades

mecânicas e a retração volumétrica (BAZANT e KAPLAN, 1996). O teor de água varia de

acordo com o tipo e granulometria do agregado e com as recomendações fornecidas pelos

fabricantes. A água deve ser isenta de contaminantes, principalmente sulfatos.

A mistura é de fundamental importância durante a aplicação dos concretos refratários, pois

afeta diretamente o tempo de parada de equipamentos durante operações de reparo ou

substituição do revestimento. Concretos que sejam rapidamente misturados e que exijam

misturadores de menor potência são sempre os mais adequados (STUDART et al., 2001).

Além de cuidados tomados durante a mistura, atenção também deve ser dedicada ao

transporte e à aplicação do concreto.

2.2.1 Métodos de Instalação do Concreto Refratário

Após a mistura, realiza-se a moldagem dos concretos refratários de acordo com o tipo de

aplicação. Existem vários métodos para instalação do concreto refratário. Nestes métodos, o

concreto pode ser lançado e vibrado (casting), projetável (shotcreting ou gunning), bombeado

(pumping), auto-escoantes (self-flowing ou self-compacting), socáveis (dry packing)

(BAZANT e KAPLAN, 1996). Os métodos mais utilizados são: vibração e projeção. A

figura 3 mostra uma representação destes métodos.

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Figura 3. Representação esquemática do processo de instalação de concretos refratários.

(a) lançamento e vibração, (b) projeção a seco e (c) projeção a úmido (LEE e MOORE, 1996).

O emprego da técnica de lançamento e vibração iniciou-se em concretos com cimento

Portland e começou a ser utilizada em refratários a partir de 1920. Os fatores que influenciam

este processo são a fluência e as condições de cura do concreto (LEE e MOORE, 1996). Este

deve ser lançado imediatamente após a mistura e devem ser tomados cuidados para evitar

explosões, possíveis em concretos com cimento com alto teor de alumina, se estes forem

lançados e curados em temperaturas inferiores a 21°C (BANZANT e KAPLAN, 1996).

Os concretos vertidos, apesar de serem utilizados por gerar menores porosidades e melhores

homogeneidades microestruturais, elevando o desempenho em serviço, apresentam maior

tempo de instalação e secagem (VALENZUELA et al., 2008). Por este motivo, os concretos

projetáveis são utilizados. O concreto projetado pode ser aplicado através de duas técnicas,

como mostra as figuras 3.b e 3.c: projeção a seco (dry gunning) e projeção a úmido (wet

gunning ou wet-shotcrete). Na projeção a seco, a água é misturada com as partículas sólidas e

lançada sobre a superfície através de um mangote.

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Comparada à técnica da projeção a seco, a projeção a úmido tem sido largamente utilizada

devido à necessidade de reduzir a emissão de partículas sólidas no local de trabalho, pois estas

partículas prejudicam a saúde dos operários. Neste processo, o material sólido é pré-misturado

à água e, sob pressão, projetado no local através de um mangote. É uma técnica também

utilizada em reparos, pois o concreto pode ser lançado e distribuído diretamente sobre a

parede e piso. Além disso, é necessária a realização de um controle reológico, pois a mistura

deve ser fluida quando submetida à pressão para então ser bombeada (LEE e MOORE, 1998).

A técnica de projeção a úmido proporciona uma boa homogeneidade da microestrutura.

Entretanto, esta técnica apresenta custo elevado devido à complexa logística de aplicação. Já a

projeção a seco possui custos inferiores, mas promove a formação de uma microestrutura

menos homogênea e mais porosa. Além disso, o concreto projetado a úmido possui maior

resistência ao dano por choque térmico cíclico, maior resistência à flexão e à erosão a quente,

menor retração (VALENZUELA et al., 2008). Dessa forma, o concreto refratário projetado a

úmido apresenta melhor desempenho que o concreto projetado a seco.

Concretos refratários lançados, projetados ou socados devem ser ancorados através de

dispositivos de fixação. No caso de paredes de concreto refratário, a fixação influencia na

durabilidade do revestimento, uma vez que, se for mal executada, pode promover o

surgimento de fissuração, facilitando a penetração de agentes corrosivos e posterior queda de

parte do concreto refratário (DENISOV et al., 2007).

A ancoragem pode ser realizada por meio de malhas (figura 4.a e 4.b) ou grampos metálicos

soldados. São encontrados no mercado diversos tipos de grampos tais como: “Y” (figura 4.c e

4.d), “V”, “G”, grampos de chapa, etc. Quando o concreto refratário precisa resistir a altas

temperaturas e alta resistência à abrasão, o uso de apenas uma camada de revestimento não é

indicado. O revestimento deve possuir duas camadas, como mostra a figura 4.d. A camada

interna é constituída por concreto refratário isolante e a externa, por concreto refratário com

alta resistência térmica (alta densidade) (DENISOV et al., 2007).

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Figura 4. Dispositivos de fixação de concretos refratários

(DENISOV et al., 2007)

2.2.2 Cura do Concreto Refratário

Fatores como a qualidade da água, temperatura, umidade e métodos de mistura exercem

grande impacto no processo de cura de uma estrutura monolítica (LEE e MOORE, 1998). A

cura adequada é essencial para que o concreto possa desenvolver suas propriedades e reduzir

a retração por secagem.

A taxa de hidratação de cimentos com alto teor de alumina, usado frequentemente em

concretos refratários é superior à taxa de hidratação de cimentos Portland comuns. Banzant e

Kaplan (1996) mostram que a hidratação do cimento de aluminato de cálcio pode estar

praticamente completa em 24 horas após a mistura, assim como o desenvolvimento da

resistência pode alcançar 80% da resistência máxima.

O processo de hidratação é uma reação exotérmica. Há um crescimento brusco de temperatura

durante o endurecimento do concreto. Por este motivo, a superfície do concreto deve ser

mantida úmida, uma vez que o cimento possuirá água suficiente para a hidratação satisfatória.

A evaporação também promove um resfriamento proporcionando a dissipação de calor

causada pela hidratação (BANZANT e KAPLAN, 1996).

a b

c d

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A cura pode ser realizada a baixas ou altas temperaturas. A realização da cura a baixas

temperaturas, menores que 20°C, é um dos fatores que provocam a ocorrência de explosões

devido à baixa permeabilidade dos concretos. Esta propriedade não está associada apenas à

dificuldade de saída de vapor da estrutura do refratário, como também a taxas de aquecimento

mais severas na superfície e maior quantidade de hidratos que se decompõem em

temperaturas próximas à de saída da água livre. Além disso, a temperatura de cura influencia

a resistência mecânica, a permeabilidade e a condutividade térmica do concreto refratário

(AKIYOSHI et al., 2004).

Concretos refratários contendo cimento de aluminato de cálcio possuem maior tendência à

explosão durante o período de cura. Akiyoshi et al. (2002) apresentam como causas os

seguintes itens: fases de cimento com baixas densidades que retém grande quantidade de água

combinada no interior de sua estrutura; dificuldade imposta à saída de água livre, que ocorre

devido à densidade de empacotamento do concreto, nível de permeabilidade, taxa de

aquecimento, volume do corpo, etc.

De acordo com o ACI (1979) citado por Bazant e Kaplan (1996), sempre que possível, o

concreto refratário deve ser resfriado e submetido ao processo de cura em temperaturas

inferiores a 99°C devido aos seguintes fatores:

• a temperatura máxima de serviço do concreto refratário ainda não foi obtida;

• o emprego de altas temperaturas durante o endurecimento pode produzir tensões

térmicas suficientes para fissuras durante o resfriamento.

Por este motivo, o processo de cura deve ser empregado com muito cuidado, com atenção

especial durante as primeiras 24h após a moldagem. A cura deve ser iniciada após o fim de

pega do concreto e a superfície deve ser mantida úmida por 24 horas ou mais, espalhando-se

água sobre a superfície ou aplicando-se um líquido capaz de reter a umidade na superfície do

concreto (BANZANT e KAPLAN, 1996).

2.2.3 Processo de Secagem e Sinterização

O processo de secagem é uma das etapas mais complexas do processamento dos concretos

refratários, pois envolve gastos com energia, tempo de parada de equipamentos e, caso sua

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execução não seja realizada de forma cuidadosa, pode acarretar graves acidentes e

explosões (AKIYOSHI et al., 2004).

Arnosti Jr et al. (1999) definem o processo de secagem como a etapa do processamento de

concretos refratários onde a água indesejável do material é extraída da forma mais rápida e

com o menor gasto de energia possível. Além disso, o processo de secagem engloba desde a

etapa de conformação do corpo até a sinterização.

A secagem de concretos refratários é normalmente realizada em três etapas: aquecimento, que

ocorre entre a temperatura ambiente até cerca de 100°C, onde ocorre a evaporação da água

livre. No segundo estágio ocorre a ebulição da água livre e a formação de vapor influenciada

pelo aumento da temperatura. Já no terceiro estágio, verifica-se que em sistemas contendo

CAC, ocorre a decomposição da água combinada na forma de hidratos tais como C3AH6 e

AH3 (ISMAEL et al., 2006).

Devido à presença de água livre e à baixa permeabilidade da maioria dos concretos

refratários, a taxa de calor durante o primeiro ciclo de aquecimento após a secagem do

concreto deve ser baixa o suficiente para prevenir a fissuração (BAZANT e KAPLAN, 1996).

Os processos lentos de secagem têm como objetivo evitar danos e a tendência à explosão do

concreto durante a fase inicial de aquecimento, provocados pela ruptura das ligações

hidráulicas do material. Por este motivo, são necessários longos ciclos de secagem que

interferem na retomada da produção nas indústrias (AKIYOSHI et al., 2002).

Existem diferentes técnicas de secagem empregadas na produção de concretos refratários.

Arnosti Jr. et al. (1999) apresentam as seguintes técnicas: secagem em estufa, sublimação

(liofilização), microondas, adição de solvente e secagem supercrítica. Devido à simplicidade

de operação, a técnica mais utilizada é a secagem em estufa.

Após a secagem, os concretos refratários são sinterizados. Esta etapa é fundamental durante o

processo de fabricação de produtos cerâmicos, uma vez que ocorre a substituição das ligações

hidráulicas por ligações cerâmicas. O objetivo da sinterização é aglomerar as partículas

formando uma massa coerente e promovendo alterações como a redução da área específica

total, redução do volume aparente total e aumento da resistência mecânica (VAN VLACK,

1973). A temperatura de sinterização varia de acordo com o tipo de aglomerante e agregados

utilizados para a produção do concreto.

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O processo de sinterização proporciona diversos benefícios para o refratário. As principais

vantagens de uma peça pré-queimada são maiores resistências mecânica e anti-corrosiva e

maior estabilidade dimensional (MIYAJI, 2007).

2.3 Propriedades

É imprescindível conhecer o comportamento térmico, físico, químico e mecânico (resistência

à tração, à compressão, à flexão, fadiga, fluência, retração, erosão, ataque por substâncias

corrosivas) do concreto refratário, diante das solicitações termomecânicas em altas

temperaturas. Através deste conhecimento, torna-se possível produzir concretos refratários de

melhor qualidade e aprimorar os processos de aplicação, cura e secagem.

As informações fornecidas pela literatura técnica quanto às propriedades do concreto

refratário possuem grande variação, uma vez que estas propriedades variam de acordo com a

composição química do cimento, o tipo de agregado utilizado e o modo de cura e secagem do

material. Além disso, as propriedades do concreto geralmente são medidas a frio e, dessa

forma, não correspondem às reais características do material quando em temperatura de

serviço (MEDEIROS et al., 2002).

As características que determinam o desempenho de um concreto refratário estão diretamente

relacionadas ao conteúdo da mistura, ao teor de água e ao processo de moldagem. Estes

fatores irão influenciar a porosidade e as propriedades físico-quimicas do concreto. A fluidez,

por exemplo, é uma das propriedades que determinam o comportamento reológico do

concreto refratário e, consequentemente, o seu escoamento. Este é favorecido pela distância

de separação entre os agregados (STUDART et al., 2001).

O concreto refratário está exposto constantemente a tensões térmicas e mecânicas. Por este

motivo, ele deve possuir elevada resistência mecânica, alta estabilidade térmica e vítrea e

deve manter a temperatura do produto homogênea (ROSSIKHINA et al., 2006). Além desses

fatores, o comportamento deste material durante a sua vida útil depende das variações bruscas

de temperatura, o que exige alta refratariedade, valores mínimos de dilatação e retração, boa

maleabilidade, baixa condutibilidade térmica no caso de concretos isolantes, baixa

permeabilidade e estabilidade química e dimensional. Essas propriedades devem ser

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determinadas de acordo com as condições de operação do concreto refratário e

especificações técnicas para cada aplicação.

Neste tópico, serão abordadas as principais características e propriedades termomecânicas do

concreto refratário. O conhecimento do comportamento deste material possibilita prever o seu

desempenho ao longo de sua vida útil.

2.3.1 Propriedades Térmicas

2.3.1.1 Calor Específico

O calor específico pode ser definido como a quantidade de calor necessária para aumentar a

temperatura de uma unidade de massa de um material em um grau (MEHTA, 1994). A

determinação do calor específico do concreto é necessária para o conhecimento de sua

capacidade térmica.

Os agregados, por ocuparem a maior parte do volume do concreto, determinam em grande

parte o seu calor específico. Agregados como chamota, magnésia e cromita possuem valores

de calor específico variando entre os seguintes valores, respectivamente: 0,20 a 0,25, 0,10 a

0,30 e 0,18 a 0,22 cal.g-1.°C-1. Entretanto, o calor específico tende a aumentar com as

temperaturas (BAZANT e KAPLAN, 1996).

2.3.1.2 Condutividade Térmica (λ) e Difusividade

De acordo com a NBR 8826 (1997), a condutividade térmica pode ser definida como a

propriedade de um material transmitir calor através de sua massa, de uma região de alta

temperatura para uma mais baixa. Os valores correspondentes a esta propriedade são

expressos em watts por metro vezes Kelvin (W/(m.K)).

A condutibilidade térmica é uma das principais propriedades que devem ser consideradas

durante funcionamento de estruturas de concreto refratário, sendo influenciada pelo teor de

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água adsorvida presente na mistura, pela densidade do concreto, pela quantidade de poros e

pela condutibilidade térmica de seus constituintes. Bazant e Kaplan (1996) ressaltam a

importância da condutividade térmica do agregado e do teor de umidade durante o

aquecimento.

Em geral, a condutibilidade do concreto cresce com o aumento da temperatura. Concretos

isolantes leves, entretanto, apresentam baixa condutibilidade térmica, pois possuem grande

quantidade de poros (BAZANT e KAPLAN, 1996). Concretos refratários aplicados na

construção de fornalhas e fornos devem apresentar baixos valores de condutividade com

objetivo de reduzir as perdas de calor.

Por outro lado, em regiões específicas dos fornos, a presença do calor seria prejudicial e a sua

remoção deve ocorrer o mais rápido possível através de materiais que apresentem alta

condutividade térmica (LEE e MOORE, 1998). Por este motivo, a transferência de calor,

necessária para as operações de aquecimento, em alguns casos é obtida através do emprego de

agregados de condutibilidade térmica mais elevada. Esta característica é essencial para

impedir o surgimento de falhas provocadas pelo choque térmico. A alta condutividade térmica

pode ser obtidas através da utilização de refratários densos (MIYAJI, 2007).

Lee e Moore (1998) afirmam que não há métodos para a determinação da condutividade

térmica em temperaturas acima de 2200°C. Para temperaturas menores, os métodos

freqüentemente utilizados são: uso do calorímetro, comparação, dentre outros.

Bazant e Kaplan (1996) mostram que a condutividade térmica de um concreto refratário

depende de uma quantidade relativa de cimento hidráulico e da presença de ligações

cerâmicas. No concreto refratário, há três regiões que apresentam comportamentos diferentes

que correspondem a níveis de temperatura. Estes comportamentos são:

• manutenção do material hidratado;

• perda de água quimicamente combinada;

• desenvolvimento de ligações cerâmicas.

A existência destas zonas depende do tempo, uma vez que o processo de desidratação e a

formação de ligações cerâmicas dependem do tempo e da temperatura (BAZANT e

KAPLAN, 1996).

A presença de gases também exerce influência sobre o comportamento térmico do concreto

refratário. Os gases alteram a transferência de calor e podem provocar rupturas se a sua

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influência não for considerada (LEE e MOORE, 1998). Gases como hidrogênio e hélio

aumentam a condutividade, principalmente em concretos isolantes com alta porosidade

(WYGANT e CROWLEY, 1958 apud BAZANT e KAPLAN, 1996).

Concretos refratários com 70% de Al2O3, produzidos através de técnicas como projeção a

seco e projeção a úmido, podem atingir valores equivalentes a 2,03 e 2,13 W/mK a 1250°C,

respectivamente. Estes valores de condutividade auxiliam na resistência ao choque térmico,

entretanto, requerem bom isolamento térmico com objetivo de evitar perdas excessivas de

calor (VALENZUELA et al., 2008).

A difusividade térmica é a relação entre a condutividade térmica e o calor específico e a

massa específica do concreto, conforme a equação abaixo:

ρκ

.c

K=

Onde,

κ – difusividade, em m²/h.

K – condutividade térmica, J/m.h.K.

c – calor específico do concreto, J/kg. K.

ρ – massa específica do concreto, kg/m³.

De acordo com esta equação, é possível observar que o calor irá se difundir com facilidade em

um concreto com uma difusividade térmica mais elevada, uma vez que a condutividade

térmica é diretamente proporcional à difusividade (MEHTA, 1994). Além disso, concretos

com difusividade alta podem ser submetidos a tempos menores de pré-aquecimento, o que

representa uma grande vantagem operacional (MIYAJI, 2007).

2.3.1.3 Expansão Térmica (α)

A expansão térmica exerce grande influência sobre o comportamento do concreto refratário

em relação ao choque térmico. Segundo Bazant e Kaplan (1996), as alterações dimensionais

irreversíveis ocorrem devido à fatores relacionados às propriedades dos constituintes do

concreto, tais como cimento, agregados, presença de umidade e temperatura máxima de

aquecimento.

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Agregados porosos apresentam uma expansão térmica menor do que agregados densos.

Além do aspecto físico, a constituição química dos agregados influencia o seu comportamento

térmico. Agregados silicosos, por exemplo, quando submetidos a temperaturas de 1000°C e

resfriados em seguida, apresentam uma expansão residual. Já concretos com agregados de

escória exibem uma contração residual. Estas alterações irreversíveis na dimensão ocorrem

devido a mudanças na constituição química e física que ocorrem quando o concreto é

aquecido (BAZANT e KAPLAN, 1996).

Em concretos contendo cimento de aluminato de cálcio, observa-se que a temperatura de cura

influencia de forma significativa na expansão térmica do concreto. Davido e Whittemore

(1969) citado por Lee e Moore (1998) mostram que concretos com temperaturas até 500°C,

sofrem um aumento significativo da retração quando submetidos à temperatura de cura de

22°C a 60°C.

Valenzuela et al. (2007), determinaram o coeficiente de expansão térmica linear médio de

concretos refratários alumino-silicosos com 70% de Al2O3, projetados a úmido e a seco. Os

valores encontrados foram, respectivamente, de 6,0 x 10-6 °C-1 e 6,3 x 10-6 °C-1. O concreto

projetado a úmido possui um valor menor devido às fases de menor expansão, presentes em

sua composição, a exemplo da mulita, e que auxiliam na resistência ao choque térmico

(VALENZUELA et al., 2008).

2.3.2 Propriedades Mecânicas

O atual conhecimento das propriedades mecânicas dos concretos refratários é restrito.

Entretanto, o conhecimento limitado não inviabilizou a utilização deste material. Bazant e

Kaplan (1996) mostram que o concreto refratário pode ser empregado na indústria química,

como revestimento, devido aos seguintes fatores:

• os revestimentos são testados em escala integral, dessa forma, o projeto é

desenvolvido após vários experimentos;

• os revestimentos não são submetidos a carregamentos, por este motivo, os problemas

decorrentes de suas falhas não chegam a ser catastróficos;

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• os projetos destes revestimentos especificam uma vida útil limitada e posterior

substituição.

O desempenho mecânico do concreto é fortemente influenciado pela temperatura. Em altas

temperaturas, o concreto refratário apresenta um comportamento visco-plástico, que pode

representar uma vantagem no que diz respeito à fragilidade do concreto. O desenvolvimento

das propriedades à temperatura ambiente é complexo, pois depende da temperatura de

tratamento térmico (THUMMEN et al., 2006).

Em concretos refratários submetidos à altíssimas temperaturas observa-se um crescimento da

ductilidade, e conseqüente redução da fragilidade, associada com um crescimento da fluência

específica (razão do deslocamento medido pelo referencial de espaço deslocado – m/m),

quando se aproxima do ponto de fusão (BAZANT e KAPLAN, 1996).

2.3.2.1 Módulo de Elasticidade

Em temperaturas normais, o módulo de elasticidade (E) de concretos refratários com cimento

de aluminato de cálcio está compreendido entre os valores de 29 a 39 GPa. Quando aquecidos

sem sofrerem processo de queima, o valor do módulo de elasticidade, em temperaturas de

800°C, decresce em torno de 5 a 25%. Estas alterações no módulo de elasticidade ocorre

devido a variações nas ligações cerâmicas, à formação de novas fases minerais e à processos

de recristalização (BAZANT e KAPLAN, 1996).

2.3.2.2 Resistência à Compressão e Módulo de Ruptura

A resistência à compressão uniaxial de concretos refratários resfriados em temperatura

ambiente, após terem sido aquecidos a uma determinada temperatura, nem sempre equivale à

resistência deste mesmo concreto quando aquecido. Vários fatores influenciam a resistência à

compressão de concretos refratários tais como: o tipo de agentes ligantes, tipo e granulometria

dos agregados, proporções da mistura, dentre outros (BAZANT e KAPLAN, 1996).

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Bazant e Kaplan (1996) afirmam que, em concretos de cimento de aluminato de cálcio, à

medida que ocorre um crescimento da temperatura, ocorre uma redução da resistência à

compressão. Os autores justificam este fato devido, principalmente, às alterações químicas

que ocorrem nos minerais hidratados do cimento hidráulico com o aumento da temperatura.

Como resultado, ocorre a desidratação ou perda de água quimicamente combinada e a redução

de ligações químicas e conseqüente queda da resistência. No caso de concretos refratários

com baixo ou ultra-baixo teor de cimento, a resistência continua constante até temperaturas de

1500°C. Após a queima e desenvolvimento das ligações cerâmicas, estes concretos não

apresentam alterações volumétricas consideráveis.

Concretos refratários com grande quantidade de material ligante apresentam elevada

resistência mecânica após a secagem. Entretanto, ocorre uma redução da refratariedade. Por

outro lado, concretos refratários projetados a seco possuem melhor capacidade de suportar

maiores espessuras projetadas, porém, quanto maior a espessura, maior será a taxa de fluência

quando a resistência mecânica for reduzida na decomposição do ligante hidráulico

(VALENZUELA et al., 2008).

A resistência à compressão a frio de concretos refratários convencionais está compreendida

entre os valores de 6,9 a 55,2MPa. Já concretos refratários leves, com densidades de até 800

kg/m³, a resistência varia entre 1,4 a 3,5MPa. Para densidades entre 1200 a 1600kg/m³, a

resistência de concretos refratários varia entre 6,9 a 17,3MPa (ACI, 1979 apud BANZANT e

KAPLAN, 1996).

A resistência à flexão ou módulo de ruptura é obtida através de ensaios de flexão onde se

determina a resistência à tração. Bazant e Kaplan (1996) citam exemplos de valores da

resistência à flexão após o resfriamento. Em concretos aquecidos à temperaturas próximas a

1371°C, a resistência à frio do concreto com cimento de alumina de alta pureza e de pureza

intermediária, foram, respectivamente, 15,8MPa e 10,3MPa. A resistência à quente

correspondeu a 3,4MPa e 1,4MPa, respectivamente. Desse modo, é possível observar uma

redução na resistência. Esta redução ocorre devido à fase vítrea que se forma em altas

temperaturas e conseqüente aumento da viscosidade (BAZANT e KAPLAN, 1996).

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2.3.3 Porosidade e Permeabilidade

Segundo Bazant e Kaplan(1996) a porosidade de um concreto refratário é influenciada pela

temperatura e pela formação de ligações cerâmicas entre o aglomerante e o agregado.

Alterações na porosidade e densidade de concretos fabricados com cimento de aluminato de

cálcio ocorrem em baixas temperaturas e estão associadas às reações de conversão que

ocorrem em temperaturas menores que 100°C.

Um aumento da porosidade aumenta a probabilidade de ataque químico no concreto. A

importância desta propriedade, assim como da permeabilidade, foi relatada por Neville (1981)

apud Bazant e Kaplan(1996):

Em um concreto refratário existem dois tipos de porosidade, a aberta e a fechada. A porosidade aberta está relacionada aos poros que estão em contato com a atmosfera. [...] A princípio, o concreto refratário pode ser considerado um material de porosidade aberta. A permeabilidade fornece a melhor indicação da porosidade no que diz respeito ao movimento de gases e líquidos através do concreto refratário. Entretanto, a permeabilidade do concreto não é em função simplesmente da sua porosidade do concreto, ou seja, depende de outros fatores tais como o diâmetro, distribuição e continuidade dos poros. Dessa forma, permeabilidade e porosidade não estão necessariamente relacionadas de forma direta.

A permeabilidade pode ser utilizada como uma forma de previsão da vida útil de concretos

refratários, uma vez que a resistência do concreto refratário à penetração de agentes

corrosivos depende de sua permeabilidade e de outros fatores. A permeabilidade está

associada de forma direta ao processo de secagem. Pardo et al. (2001) citam, como exemplo,

o caso de dois meios porosos semelhantes. O mais permeável seca em um intervalo de tempo

menor, sem prejudicar suas propriedades. Como conseqüência, o custo de processamento do

concreto será menor, assim como o risco de explosões, uma vez que os vapores sairão do

concreto com maior facilidade.

2.3.4 Refratariedade

Segundo Lee e Moore (1998), a refratariedade é o amolecimento ou abatimento do material

devido à fusão das fases presentes no material em uma faixa de temperatura. Concretos com

alto teor de cimento em sua formulação (>3%-p CaO) possuem menor refratariedade devido à

formação de fases de menor ponto de fusão no sistema Al2O3-Si2O-CaO (VALENZUELA et

al., 2008).

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A refratariedade é determinada através de um ensaio conhecido como cone pirométrico

equivalente. Este ensaio avalia o ponto de amolecimento do agregado, ou seja, a temperatura

em que ocorre o processo de fusão. Dessa forma, este ensaio mede a temperatura e o tempo de

exposição necessários para o desenvolvimento uma viscosidade crítica de um cone padrão.

A NBR 6222 – Material refratário – Determinação do cone pirométrico equivalente especifica

a metodologia para a determinação da refratariedade de um material. A refratariedade simples

mínima ou cone pirométrico equivalente mínimo para que um material possa ser considerado

refratário, corresponde ao CONE ORTON 15 (1435 °C - ABNT) (IOPE, 2008).

2.4 Mecanismos de Degradação Concretos Refratários

O concreto refratário pode sofrer processos de degradação ao longo de sua vida útil. Existem

diversos fatores que influenciam esses processos. Um acabamento de baixa qualidade, por

exemplo, prejudica o desempenho do concreto refratário, uma vez que a presença de defeitos

superficiais atua como catalisador para nucleação de trincas, degradando as propriedades

mecânicas (VALENZUELA et al., 2008).

Há várias formas de degradação em concretos refratários provocadas por processos físicos,

mecânicos e químicos. Quando um concreto refratário é submetido a altas temperaturas, pode

ocorrer a formação de trincas térmicas, fenômeno conhecido como spalling térmico. Este tipo

de degradação ocorre devido a choques térmicos ou devido ao crescimento de tensões dos

vapores presentes nos poros do concreto que se tornam superiores à tensão máxima que o

concreto é capaz de resistir.

Além do spalling térmico, outros processos de degradação podem ocorrer como a ruptura

estrutural, resultante de forças externas e internas de natureza físico-química, e a ruptura

mecânica, causada pela aplicação de forças externas ao refratário ou devido à combinação de

esforços de compressão, flexão ou tração com esforços dinâmicos que provocam o surgimento

de fissuras. Há também desgaste por abrasão e por erosão nos revestimentos em concretos

refratários.

Outro fenômeno que pode ser observado em concretos refratários ao longo de sua vida útil é o

ataque químico por agentes agressivos como álcalis, coque, cinzas de combustível, compostos

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de enxofre, dentre outros. Estas substâncias desencadeiam o processo de corrosão nestes

concretos. Segundo Pardo et al. (2001), para reduzir a corrosão, é desejável que o concreto

seja o menos permeável possível aos agentes corrosivos. Entretanto, o concreto deve ser

permeável o suficiente para permitir a eliminação de água durante a secagem e ao mesmo

tempo dificultar a corrosão durante o seu uso.

De acordo com Thummen et al. (2006) a medição da degradação em concretos é possível. Os

autores mostram, através de análises detalhadas do comportamento mecânico de concretos

refratários, um aumento da difusão do processo de degradação seguida pela sua concentração

ao redor de uma área fraturada. Como conseqüência, ocorre o surgimento e a propagação de

macrofissuras. O início da concentração de regiões danificadas pode ser um indicador

importante para a determinação da vida útil do concreto. A identificação destes danos pode

ser realizada através de um dispositivo de emissão acústica.

Materiais refratários geralmente contêm gases que podem alterar de forma significativa a

transferência de calor e têm provocado inúmeras falhas devido à negligências ocorridas

quando este fato não é levado em consideração (LEE e MOORE, 1998). Para o normal

funcionamento do concreto refratário, é necessário o conhecimento e acompanhamento do

todo o processo de produção.

Como conseqüência dos processos de degradação, ocorrem o surgimento de manifestações

patológicas como por exemplo, infiltração (figura 5), fissuras, trincas (figura 6),

desplacamento do concreto, desgaste provocado por abrasão e/ou erosão (figura 7), dentre

outros. A seguir, serão abordados os mecanismos de degradação mais freqüentes em

concretos refratários.

Figura 5. Infiltração de alumínio no concreto refratário

(MIYAJI, 2007)

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Figura 6. Trincas em concreto refratário

(MIYAJI, 2007)

Figura 7. Desgaste em concreto refratário devido à erosão

(MIYAJI, 2007)

2.4.1 Abrasão e Erosão

O concreto refratário está sujeito à deterioração física em vários processos industriais. A

abrasão e a erosão são exemplos de deterioração. Santos et al. (2006) diferenciam estes dois

fenômenos da seguinte forma: a abrasão está relacionada ao desgaste ocorrido quando

partículas duras se movimentam paralelamente à superfície de um material. A erosão, no

entanto, é a perda progressiva de material de uma superfície devido ao impacto de um fluido,

que pode ser um líquido e/ou partículas sólidas. O impacto causado por estas partículas

promove o surgimento de trincas prejudicando a resistência mecânica do concreto. A figura 8

mostra crescimento de trincas no concreto refratário, ao sofrer o impacto de uma partícula.

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Figura 8. Crescimento de trinca durante o impacto da partícula.

O sinal (+) representa a superfície sob carregamento e o (-) indica a retirada de carga por parte

da partícula. A região escura denota deformação irreversível (SANTOS, 2006).

A figura 8 mostra a formação de trincas radiais quando a superfície está sob carregamento

durante o impacto. Estas trincas estão orientadas perpendicularmente à superfície e promovem

a redução da resistência mecânica do concreto. Após a retirada da partícula ocorre a formação

de trincas laterais, paralelas à superfície do material e estão relacionadas ao desgaste por

erosão (SANTOS et al., 2006).

A resistência à abrasão pode ser identificada através de ensaios que medem o volume de

crateras formadas durante a ação de um jato de carbeto de silício em pó sobre a superfície de

um corpo-de-prova, método padronizado pela ASTM – American Society for Testing and

Materials (DENISOV et al., 2007).

Os concretos refratários com alta densidade e resistência térmica geralmente possuem boa

resistência à abrasão. Por outro lado, concretos com alto teor de água apresentam resistência à

abrasão menores. A utilização de concretos com baixo teor de cimento (< 10%) associados

com o emprego de materiais finos, plastificantes, defloculantes e aditivos reguladores de pega

e endurecimento, evitam a redução da resistência durante o aquecimento, além de

apresentarem alta densidade, resistência à abrasão e a quedas de temperaturas (DENISOV et

al., 2007).

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O aumento da resistência à erosão pode ser obtido através da utilização de concretos

fabricados com cimento de alto teor de alumina e de concretos refratários com altas

temperaturas de amolecimento e refratariedade (VALENZUELA et al., 2008). Além disso, o

processo de erosão pode ser minimizado através da redução da velocidade das partículas

(BANZANT e KAPLAN, 1996).

Em revestimentos de concretos refratários, a resistência à abrasão é um dos principais

parâmetros que definem a qualidade do material, uma vez que este revestimento tem como

função, proteger o equipamento contra o desgaste. Denisov et al. (2007), recomendam a

utilização de dispositivos de fixação do revestimento para aumentar a resistência à abrasão,

como visto no subitem 2.2.1 deste trabalho.

2.4.2 Choque Térmico

O choque térmico ocorre quando a superfície do corpo cerâmico é subitamente exposta a

mudanças elevadas de temperaturas. Durante o choque térmico, ocorrem dois fenômenos:

contração e expansão que possibilitam, como conseqüência, o surgimento de tensões

mecânicas. Se estas tensões forem superiores às tensões de ruptura do material, ocorre a

fratura. Caso contrário, podem surgir trincas, cuja velocidade de propagação depende das

propriedades do material (MIYAJI, 2007).

O choque térmico em um concreto refratário pode ser influenciado pelo tipo de agregado.

Concretos contendo agregados de alumina são mais resistentes a freqüentes choques térmicos

do que agregados contendo magnésia e minério de cromo. Outros fatores que podem

influenciar a estabilidade de concretos refratários submetidos a flutuações de temperatura são

o teor de cimento e a presença de adições contendo boro. Além disso, a realização do pré-

aquecimento em concretos refratários proporciona uma capacidade maior dos refratários

resistirem a ciclos térmicos, uma vez que a temperatura de pré-aquecimento é suficientemente

alta para promover uma maior formação de ligações cerâmicas (BAZANT e KAPLAN,

1996).

De acordo Miyaji (2007), a tensão térmica alta pode promover o surgimento de trincas

durante as fases de pré-aquecimento e resfriamento. Refratários densos com 90% de Al2O3 e

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adições de cromo são resistentes ao início da formação de trincas provocadas pelo choque

térmico. Entretanto, a expansão deste material com a temperatura pode ser diferente ao

material de contato, provocando um trincamento pela tensão gerada na interface entre os dois

materiais quando submetidos a altas temperaturas. Por outro lado, essa região pode apresentar

defeitos, antes de sofrerem choque térmico, originados durante a moldagem e que se

intensificam ao longo da vida útil do equipamento.

A abertura de trincas é um dos fatores que promovem a redução da vida útil do concreto

refratário, uma vez que aumenta o número de regiões propícias ao processo de corrosão, como

será visto a seguir.

2.4.3 Comportamento quanto à Corrosão

Como foi mencionado nas seções anteriores, os concretos refratários sofrem ataques

provocados por um conjunto de fenômenos que envolvem o desgaste físico-mecânico, tais

como erosão e abrasão, processos térmicos, a exemplo do choque térmico e spalling. Além

destes fenômenos, o concreto refratário sofre desgaste químico, provocado pela corrosão.

A durabilidade de um concreto refratário está diretamente associada à facilidade com que

gases e líquidos corrosivos penetram em sua estrutura porosa (INNOCENTINI, 2001). De

acordo com o tipo de processo industrial e do equipamento, a presença de gases e líquidos

corrosivos, tais como escória, vidro líquido, metais fundidos, etc., podem promover a

deterioração de concretos refratários devido a este contato.

Devido à necessidade de desenvolver produtos de boa qualidade, é necessário que o concreto

refratário seja resistente à corrosão. Esta propriedade depende de fatores tais como:

composição química e mineralógica e aspectos estruturais do concreto refratário, composição

química e viscosidade do material e tensão superficial na interface entre o material e o

concreto refratário (ROSSIKHINA et al., 2006).

De forma análoga à reação química entre um corpo sólido e um líquido, a corrosão de

refratários por líquidos fundidos envolve os seguintes elementos: contato com o reagente, que

faz com que a reação ocorra, e transporte do produto, que faz com que a reação prossiga. O

contato com o reagente depende de fatores como a composição do refratário, a textura física,

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incluindo a porosidade, e especialmente, a natureza das ligações, que é a primeira região

onde o líquido penetra. Os fatores que determinam o transporte do produto são características

de fusão e reação dos produtos, que definem a extensão da reação (LEE e MOORE, 1998).

Para entender o mecanismo da corrosão, Lee e Moore (1998), ressaltam que devem ser

analisados simultaneamente, os seguintes critérios:

• microestrutura do refratário, em particular, a composição e textura dos grãos, e as

ligações químicas;

• propriedades de fusão, especialmente composição e viscosidade como função da

temperatura;

• molhabilidade;

• interação sob altas temperaturas.

A molhabilidade é um fator indispensável para que uma reação química entre o refratário e

um metal líquido possa se desenvolver. Ou seja, para que o ataque químico ocorra, o metal

líquido deve molhar o refratário. O estudo da molhabilidade auxilia no entendimento dos

fenômenos envolvidos no contato do metal com o refratário (MIYAJI, 2007). Além disso,

através da molhabilidade é possível identificar a penetração, caracterizada pela infiltração via

porosidade aberta sem reação química. A molhabilidade depende da temperatura, da

composição química, da aspereza da superfície de contato e do tempo de exposição (LEE e

MOORE, 1998). A figura 9 mostra a influencia do acabamento superficial na capacidade de

penetração do vidro líquido em refratários.

Figura 9. Efeito da rugosidade da superfície no ângulo de contato do refratário com o vidro

líquido

(LEE e MOORE, 1998)

Superfície lisa Superfície rugosa

Estágio Inicial

Superfície rugosa

Próxima ao equilíbrio

Cavidade

preenchida por

vidro líquido

refratário

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Na figura 9, foi traçada uma reta tangente imaginária à gota até o ponto de contato da

superfície do sólido com a superfície do líquido, formando um ângulo com o plano horizontal

do substrato, que corresponde ao ângulo de molhamento. Um substrato pode ser considerado

molhável quando θ < 90° e não molhável quando θ > 90° (MIYAJI, 2007).

A corrosão pode ser reduzida através da utilização de concretos refratários resistentes à

corrosão, o que permite um aumento de intervalos maiores entre recuperações e aumenta a

eficiência durante a operação destes equipamentos. A seleção da constituição do concreto

refratário deve ser baseada no tipo de equipamento e do produto final. Por exemplo, concretos

refratários submetidos à presença de escória, podem ser fabricados com agregado de alumina

tabular e com cimentos com alto teor de alumina, ou seja, com alto percentual de Al2O3, pois

possuem boa resistência à escórias (BAZANT e KAPLAN, 1996).

Por outro lado, concretos em contato direto com vidro fundido, devem possuir baixo teor de

cimento e um percentual maior de coríndon ou com coríndon-zircônia em sua composição.

Estes concretos são mais resistentes à corrosão devido à ausência de compostos de baixo

ponto de fusão que se formariam na zona de contato destes refratários com o vidro. Como

conseqüência, ocorre baixa dissolução neste meio (ROSSIKHINA et al., 2006).

2.5 Concretos Refratários Especiais

Com objetivo de prolongar a vida útil do concreto refratário, foram desenvolvidos novos tipos

de concreto, como por exemplo, concreto reforçado com fibras de aço, fibras poliméricas,

com elevado teor de metacaulim, elevado teor de carbono, dentre outros. Cada tipo destes

concretos foi produzido visando atender a um determinado equipamento ou aplicação destes

materiais.

A utilização de fibras no concreto refratário tem como objetivo aumentar o seu desempenho

em serviço. As fibras, de forma análoga ao concreto convencional, proporcionam um reforço

mecânico. As fibras metálicas aumentam consideravelmente a energia de fratura, entretanto é

pouco eficiente na contenção do dano de secagem. Por outro lado, fibras de aço-carbono e

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inoxidável promovem alta resistência à propagação de trincas (PERET e PANDOLFELLI,

2005).

Bazant e Kaplan (1996) mostram um comparativo das propriedades mecânicas de um

concreto refratário de cimento de alta alumina sem fibras de aço e com 2%, em volume, de

fibra de aço, que podem ser observados na tabela 1. De acordo com esta tabela, é possível

observar que os concretos com fibra apresentaram resistências superiores aos convencionais.

Tabela 1. Propriedades mecânicas de concretos refratários comuns e reforçados com fibras

(BAZANT e KAPLAN, 1996)

Propriedades Mecânicas CRC (1) CRF (2)

temperatura

ambiente

6,9 12,4

Módulo de Ruptura– MPa

1093°C 1,4 6,9

temperatura

ambiente

34,5 55,2

Resistência à Compressão – MPa

1093°C 20,7 34,5

(1) Concreto refratário comum (2) Concreto refratário com 2% em volume de fibras de aço

As fibras metálicas melhoram a tenacidade e a resistência à flexão de concretos refratários e

alteram seu comportamento, ou seja, o refratário deixa de ser um material frágil e se torna

mais rígido (TOLEDO FILHO et al., 2007). Concretos refratários com adição de fibras

metálicas de comprimento de 2 a 3cm, com seção de 0,5mm² são indicados para

revestimentos de gasodutos e canais, protegendo-os contra o desgaste por abrasão (DENISOV

et al., 2007).

Por outro lado, a adição de fibras poliméricas é um meio eficaz de aumentar a resistência do

concreto ao dano provocado pela secagem, o que permite a adoção de condições mais severas

de aquecimento com um risco menor de explosões. Segundo Peret e Pandolfelli (2005) há

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dois mecanismos responsáveis pelas vantagens proporcionadas pelas fibras poliméricas que

é o aumento de permeabilidade proporcionado pela fusão, degradação ou retração das fibras, a

exemplo de fibras de polipropileno, e o reforço mecânico, devido ao aumento da energia

dissipada durante a propagação de trincas, no caso de fibras de poliaramida. A fusão das

fibras promove o aumento da permeabilidade e, conseqüentemente, ocorre a formação de

pequenos canais para a passagem dos vapores originados durante o processo de secagem sem

provocar grandes tensões no concreto refratário.

Outro material utilizado em concretos refratários é o carbono (grafite ou coque), adicionado

visando aumentar a resistência ao ataque por escória e metal fundido. Entretanto, a utilização

destes materiais tem sido dificultada, pois as partículas de carbono são suscetíveis ao processo

de oxidação, em temperaturas superiores a 600°C. Após a oxidação do carbono, ocorre o

aumento da porosidade, reduzindo assim, a resistência mecânica e a resistência à penetração

de escória e metal fundido (DOMICIANO et al., 2006).

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3 ESTUDO DE CASO

Com objetivo de detectar e analisar as degradações em concretos refratários, a princípio,

foram selecionadas três indústrias. Entretanto, o acesso aos dados não foi autorizado em duas

destas. Por este motivo, o estudo de caso foi desenvolvido em apenas uma indústria,

localizada em Feira de Santana.

Foram realizadas algumas visitas à indústria e feitos questionamentos ao engenheiro

coordenador do setor de manutenção, com intuito de esclarecer os intervenientes do processo

(anamnese). O roteiro da entrevista aplicada se encontra no anexo. Esta indústria atua na

cidade há cerca de 30 anos e é responsável pela produção de sais de bário (carbonato, sulfato

e cloreto de bário) e sulfeto de sódio. A matéria-prima utilizada é o mineral barita, rico em

sulfato de bário que reage com o carvão (coque) que, por sua vez, é rico em carbono fixo. Os

gases resultantes são: CO2, SOx e H2S.

Esse processo ocorre em um forno rotativo de redução a 1000°C, como mostra a figura 10.

Figura 10. Forno rotativo

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Este forno possui 2,0m de diâmetro e 30,0m de comprimento e está em serviço há 30 anos.

O forno opera em rotação lenta, 1/4rpm.

Foram utilizados dois tipos de concreto refratário: um para a região de alimentação e o outro

na descarga do forno. O concreto foi aplicado na superfície do forno através de moldagem e

vibração. As especificações técnicas fornecidas pelo fabricante podem ser observadas na

tabela 2.

Tabela 2. Propriedades dos concretos refratários utilizados no forno rotativo

Propriedades Concreto Refratário 1

Concreto Refratário 2

Percentual de alumina (Al2O3) – base calcinada 41,70 94,20

seco a 110°C 2,00 2,90

cozido a 1.000°C 1,95 2,80

Densidade Aparente (g/cm³)

cozido a 1.400°C 1,90 2,80

seco a 110°C 0,0 0,0

cozido a 1.000°C -0,1 -0,1

Variação Linear (%)

cozido a 1.400°C 0,0 -0,2

seco a 110°C 28 60

cozido a 1.000°C 17 32

Resistência à compressão

(MPa) cozido a 1.400°C 23 45

Temperatura Máxima de Serviço (°C) 1.400 1.600

Com base na tabela 2, observa-se que os dois tipos de concretos utilizados no forno são

densos, sendo que o concreto 2 apresenta alto teor de alumina, o que lhe confere alta

refratariedade.

A figura 11 mostra um esquema da alimentação do forno, submetida a uma temperatura de

800°C. Esta região foi revestida com o concreto refratário 1, ancorado com grampos do tipo

Y. Já a figura 12 corresponde à região de descarga, submetida a uma temperatura de 1000°C,

onde foi utilizado o concreto 2.

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Figura 11. Alimentação do forno

A – grampos do tipo “Y”; B – concreto refratário 1; C – tijolo refratário

Figura 12. Descarga do forno

A – tijolo refratário; B – concreto refratário 2

Antes do início da operação do forno, foi utilizada uma curva de aquecimento, conforme a

figura 13. Nas cinco primeiras horas, a taxa de aquecimento corresponde a 20°C/h, seguida

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por um intervalo de 12 horas com a temperatura constante. O tempo de pré-aquecimento

tem como finalidade fornecer calor suficiente ao concreto refratário, reduzindo as perdas

térmicas.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55

Tempo (h)

Te

mp

era

tura

(°C

)

12 h

8 h

6 h

20°C/h

50°C/h

50°C/h

30°C/h

aquecimento

até a temperatura

de operação

Figura 13. Curva de aquecimento para concretos densos

A programação de curvas de aquecimento tem como objetivos evitar alterações bruscas de

temperatura, minimizar o choque térmico e retirar a umidade do concreto refratário. De modo

similar, quando ocorre parada de operação do forno, é utilizada a curva de resfriamento.

Os dois tipos de concreto refratário deste forno estão em um ambiente agressivo e sob altas

temperaturas. Estes dois aspectos são fatores que influenciam a degradação do concreto

refratário. As formas de degradação podem ser do tipo física e/ ou química. Neste caso, os

dois tipos de concreto refratário utilizados podem ser atacados por coque. Além disso, gases

resultantes do processo de fabricação dos sais de bário também podem atacar o concreto,

modificando sua constituição química e promovendo a corrosão do mesmo. Entretanto, de

acordo com o questionário aplicado ao engenheiro, as degradações que predominaram nos

concretos foram físicas.

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As inspeções para verificação de regiões degradadas são realizadas anualmente e são

visuais. Durante o tempo de serviço, a temperatura no forno é controlada por termografia

(medição da temperatura externa do forno). As manifestações patológicas comumente

apresentadas são trincas e perda de parte do concreto apresentando baixa rugosidade

superficial provocada, provavelmente, por ataque químico. A figura 14 ilustra um aspecto de

fissura observada no concreto refratário do sistema de alimentação do forno. As áreas que são

constantemente recuperadas são as que são submetidas a temperaturas maiores.

Figura 14. Trincas paralelas à superfície do concreto refratário.

A perda de parte do concreto foi provocada pela abrasão devido ao movimento das partículas

sólidas (barita e carvão) sobre o concreto refratário, promovendo o desgaste superficial.

Quanto à formação de trincas, a causa principal foi o choque térmico, conforme a entrevista

realizada com o engenheiro do setor de manutenção, apesar da preocupação com a realização

de uma programação para o aquecimento do forno. Na literatura essa é apontada como causa

principal. Além do choque térmico, o trincamento também pode ter sido provocado pela

tensão gerada na região de contato entre o concreto e a estrutura metálica externa do forno.

A forma de recuperação, a depender do grau de deterioração, pode abranger desde a utilização

de tintas ou argamassas hidrofugantes, para o caso de trincas, proteção superficial, em caso de

desgaste, ou até mesmo substituição total ou parcial do concreto refratário. A recuperação dos

trechos em concreto refratário no forno rotativo ocorre a cada três anos.

trincas longitudinais

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4 CONCLUSÃO

É, de fato, de fundamental importância o conhecimento da composição e das propriedades

térmicas e mecânicas para a produção do concreto refratário mais adequado para uma

condição específica de uso. Por outro lado, torna-se complexo determinar um concreto

refratário que atenda todos os requisitos e especificações para cada equipamento ao qual será

destinado. Por este motivo, o concreto refratário deve possuir condições mínimas de

desempenho principalmente do ponto de vista da resistência à abrasão e resistência térmica.

Concretos contendo alumina, por exemplo, apresentam bom desempenho quanto à abrasão e

ao choque térmico.

O estudo de caso deste trabalho enfrentou limitações como por exemplo, a falta de abertura

por parte das indústrias que utilizam o concreto refratário. A identificação e análise dos

mecanismos de degradação neste tipo de material ficaram restritas apenas a estrutura de um

forno de uma indústria. Além disso, o estudo foi baseado apenas nos documentos e

informações fornecidas pela indústria, uma vez que, o acesso ao forno rotativo não foi

viabilizado.

Constatou-se, através do estudo de caso, que fissuras, desplacamentos e desgaste superficial

são as incidências mais freqüentes de manifestações patológicas em concretos refratários.

Sugere-se para trabalhos futuros um estudo mais detalhado sobre o comportamento do

concreto refratário através da análise dos fatores que interferem em seu desempenho em

serviço. Além de detectar as causas das manifestações patológicas incidentes, estes fatores

são: a constituição dos materiais utilizados na produção do concreto, falhas no projeto e na

execução do refratário, cargas não previstas, influências externas, tais como incêndios, dentre

outros. Desta forma, com estas informações é possível evitar ou minimizar as formas de

degradação, prolongando a vida útil e, conseqüentemente, reduzindo os gastos de

manutenção.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Questionário

1. Nome do equipamento

2. Qual o tipo de aplicação e o tipo de concreto refratário utilizado (isolante, condutor,

semi-isolante)?

3. Qual a composição do concreto refratário?

4. Como foram realizados os processos de produção e instalação do concreto refratário

(vibração, projeção, socagem, etc)?

5. Qual o tipo de produto que esteve/ está em contato com o concreto?

6. Qual a temperatura máxima de serviço? O concreto refratário passou por um processo

de pré-aquecimento?

7. O concreto refratário foi submetido a ciclos térmicos?

8. Qual o período de manutenção? Existem áreas recuperadas?

9. Quando surgiram as manifestações patológicas?