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Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (4): 497-504, out/dez, 1994 497 ARTIGO / ARTICLE Antropologia Médica: Elementos Conceituais e Metodológicos para uma Abordagem da Saúde e da Doença Medical Anthropology: Conceptual and Methodological Elements for an Approach to Health and Disease Elizabeth Uchôa 1, 2 Jean Michel Vidal 2 UCHÔA, E. & VIDAL, J. M. Medical Anthropology: Conceptual and Methodological Elements for an Approach to Health and Disease. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (4): 497-504, Oct/Dec, 1994. This paper discusses the relevance, specificity, and potential of the anthropological approach to health and illness. Medical anthropology is shown as complementary to other approaches that currently deal with public health problems. The impact of social and cultural factors on health- related perceptions and behaviors is illustrated and commented. A conceptual and methodological framework is also proposed to systematize the study of representations and practices of communities in the area of public health. The specific contribution of the anthropological approach is discussed in terms of the effectiveness of public health programs. Key words: Medical Anthropology; Perceptions and Behaviors; Public Health ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA. PERTINÊNCIA, ESPECIFICIDADES E POTENCIALIDADES Os trabalhos antropológicos na área de saúde tem aumentado progressivamente, existindo hoje vasta literatura sobre o assunto. Não pretendemos analisar neste artigo as contribui- ções específicas dos diferentes autores ou examinar as várias abordagens que delimitam o campo da Antropologia Médica. O trabalho tem objetivos mais limitados. Ele visa a demonstrar a pertinência do discurso antropológico na abordagem da saúde e da doença. Sabemos hoje que noções, como as de saúde e doença, aparentemente simples referem-se, de fato, a fenômenos complexos que conjugam fatores biológicos, sociológicos, econômicos, ambientais e culturais. A complexidade do ob- jeto, assim definido, transparece na multipli- cação de discursos sobre a saúde que coexistem atualmente, cada um privilegiando diferentes fatores e sugerindo estratégias de intervenção e de pesquisa também diversas. O discurso antropológico aponta os limites e a insuficiência da tecnologia biomédica quando se trata de mudar de forma permanente o estado de saúde de uma população. Ele nos revela que o estado de saúde de uma população é associ- ado ao seu modo de vida e ao seu universo social e cultural. A antropologia médica se inscreve, assim, numa relação de complemen- taridade com a epidemiologia e com a sociolo- gia da saúde. A epidemiologia estuda a distribuição das doenças (ou de condições relacionadas à saúde) em populações e busca os determinantes dessa distribuição. Nos estudos epidemiológicos predominam as abordagens sobre os compor- tamentos dos indivíduos, e métodos quanti- tativos são utilizados. A prevalência ou a in- cidência de uma certa patologia e as carac- terísticas de indivíduos apresentando ou não essa patologia são determinadas, com o objetivo de identificar os perfis de distribuição da pato- 1 Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz. Av. Augusto de Lima, 1715, Belo Horizonte, MG, 30190-002, Brasil. 2 Unité de Recherche Psychosociale, Centre de Recherche de l’Hôpital Douglas. 6875 Bd. La Salle, Montréal, Canada.

Medical Anthropology: Conceptual and Methodological ...A antropologia médica se inscreve, assim, numa relação de complemen-taridade com a epidemiologia e com a sociolo-gia da saúde

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Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (4): 497-504, out/dez, 1994 497

ARTIGO / ARTICLE

Antropologia Médica: Elementos Conceituais e Metodológicospara uma Abordagem da Saúde e da Doença

Medical Anthropology: Conceptual and Methodological Elements for anApproach to Health and Disease

Elizabeth Uchôa 1, 2

Jean Michel Vidal 2

UCHÔA, E. & VIDAL, J. M. Medical Anthropology: Conceptual and Methodological Elements

for an Approach to Health and Disease. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (4): 497-504,Oct/Dec, 1994.This paper discusses the relevance, specificity, and potential of the anthropological approach tohealth and illness. Medical anthropology is shown as complementary to other approaches thatcurrently deal with public health problems. The impact of social and cultural factors on health-related perceptions and behaviors is illustrated and commented. A conceptual andmethodological framework is also proposed to systematize the study of representations andpractices of communities in the area of public health. The specific contribution of the anthropological approach is discussed in terms of the effectiveness of public health programs.

Key words: Medical Anthropology; Perceptions and Behaviors; Public Health

ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA.PERTINÊNCIA, ESPECIFICIDADESE POTENCIALIDADES

Os trabalhos antropológicos na área de saúdetem aumentado progressivamente, existindohoje vasta literatura sobre o assunto. Nãopretendemos analisar neste artigo as contribui-ções específicas dos diferentes autores ouexaminar as várias abordagens que delimitam ocampo da Antropologia Médica. O trabalho temobjetivos mais limitados. Ele visa a demonstrara pertinência do discurso antropológico naabordagem da saúde e da doença.

Sabemos hoje que noções, como as de saúdee doença, aparentemente simples referem-se, defato, a fenômenos complexos que conjugamfatores biológicos, sociológicos, econômicos,ambientais e culturais. A complexidade do ob-

jeto, assim definido, transparece na multipli-cação de discursos sobre a saúde que coexistematualmente, cada um privilegiando diferentesfatores e sugerindo estratégias de intervençãoe de pesquisa também diversas.

O discurso antropológico aponta os limites ea insuficiência da tecnologia biomédica quandose trata de mudar de forma permanente o estadode saúde de uma população. Ele nos revela queo estado de saúde de uma população é associ-ado ao seu modo de vida e ao seu universosocial e cultural. A antropologia médica seinscreve, assim, numa relação de complemen-taridade com a epidemiologia e com a sociolo-gia da saúde.

A epidemiologia estuda a distribuição dasdoenças (ou de condições relacionadas à saúde)em populações e busca os determinantes dessadistribuição. Nos estudos epidemiológicospredominam as abordagens sobre os compor-tamentos dos indivíduos, e métodos quanti-tativos são utilizados. A prevalência ou a in-cidência de uma certa patologia e as carac-terísticas de indivíduos apresentando ou nãoessa patologia são determinadas, com o objetivode identificar os perfis de distribuição da pato-

1 Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo

Cruz. Av. Augusto de Lima, 1715, Belo Horizonte, MG,

30190-002, Brasil.

2 Unité de Recherche Psychosociale, Centre de Recherche

de l’Hôpital Douglas. 6875 Bd. La Salle, Montréal,

Canada.

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Uchôa, E. & Vidal, J. M.

logia e grupos ou fatores de risco. Na abor-dagem sociológica, os problemas de saúde sãoapreendidos em sua dimensão social e nãoindividual. A sociologia da saúde investiga adeterminação que exercem os contextos sociale institucional sobre as enfermidades e oscomportamentos delas decorrentes. A antropolo-gia considera que a saúde e o que se relacionaa ela (conhecimento do risco, idéias sobreprevenção, noções sobre causalidade, ideiassobre tratamentos apropriados, etc.) são fenô-menos culturalmente construídos e cultural-mente interpretados (Nichter, 1989). A perspec-tiva qualitativa é empregada para identificar eanalisar a mediação que exercem os fatoressociais e culturais na construção de formascaracterísticas de pensar e agir frente à saude eà doença. Integrando uma apreensão da dimen-são cultural, a antropologia médica vem, aolado da sociologia da saúde e da epidemiologia,contribuir para ampliar o contexto que deve serlevado em consideração na leitura dos processospatológicos.

Uma profunda dicotomia entre métodosquantitativos e qualitativos ainda afeta o con-junto das ciências sociais; essa dicotomia obs-curece a complementaridade dessas duas estra-tégias de pesquisa, cada uma tendo seus pontosfortes e suas fraquezas (Létourneau, 1989).Diversos autores (Minayo & Sanches, 1993;Létourneau, 1989) sugerem que as perspectivasquantitativas e qualitativas deveriam ser en-caradas como perspectivas complementares,como fases sequenciais de um mesmo processo.As estratégias qualitativas indicam o que éimportante estudar em um dado contexto sócio-cultural, permitem identificar variáveis pertinen-tes e formular hipóteses culturalmente apropria-das. As pesquisas quantitativas são construidasa partir de amostras representativas do grupoestudado e permitem testar essas hipóteses. Oreconhecimento dos pontos fortes e dos limitesde cada uma dessas perspectivas suporta omovimento atual, que advoga a adoção deabordagens multi e transdisciplinares em pes-quisas no campo da saúde (Rosenfield, 1992).Nestes últimos anos, vários autores escreveramsobre o interesse, as dificuldades decorrentes eas consequências metodológicas de uma con-jugação entre as perspectivas quantitativa equalitativa (Hundt & Forman, 1993). O ponto

comum desses trabalhos é a constatação doenriquecimento gerado pela conjugação dasduas perspectivas.

Neste artigo, a antropologia médica é apre-sentada como uma perspectiva complementar eenriquecedora para a abordagem dos problemasde saúde pública. Começamos por examinar ainfluência do contexto social e cultural sobre“as maneiras de pensar e de agir” das popula-ções frente aos seus problemas de saúde e, apartir daí, situamos a contribuição específica daabordagem antropológica. Apresentamos, emseguida, alguns elementos conceituais e meto-dológicos que intervêm de maneira fundamentalna construção do conhecimento antropológicoem saúde e propomos um quadro de referênciapara o estudo sistemático das representações ecomportamentos associados à saúde e à doença.

DOENÇA E CULTURA: MANEIRASDE PENSAR E MANEIRAS DE AGIR

As informações culturais têm sido, na maio-ria das vezes, consideradas irrelevantes para asintervenções preventivas e terapêuticas na áreada saúde (Good & DelVecchio Good, 1980).Em geral, são tidas como essenciais unicamenteaquelas referentes ao diagnóstico biomédico.Todos os outros dados, em particular aquelesreferentes ao impacto dos fatores sociais eculturais, são avaliados como acessórias (Klein-man, 1987).

Contrariando esse ponto de vista, estudosrecentes demonstram a grande influência queexercem os universos social e cultural sobre aadoção de comportamentos de prevenção ou derisco e sobre a utilização dos serviços de saúde(Taylor et al., 1987). O grande investimentoque tem sido feito em campanhas de vacinaçãoem diferentes países do mundo (WHA, 1977,1982) e o relativo sucesso dessas campanhasem alguns países africanos (Unger, 1991) podeser citado como um primeiro exemplo. Razõestécnicas (cadeia fria não respeitada, pessoalparamédico pouco ou não formado, etc.) sãogeralmente evocadas para explicar as dificul-dades que essas campanhas enfrentam. Devemtambém ser levados em consideração os fatoresculturais que podem comprometer o sucessodessas campanhas. Responsáveis técnicos emédicos formados pelos métodos científicos

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Antropologia Médica

ocidentais ignoram muitas vezes a significaçãoque as campanhas de vacinação podem ter paraas populações visadas. Por exemplo, como elaspercebem o fato de dar medicamentos a umacriança, aparentente sadia, que, em muitoscasos, terá febre nas 24 horas seguintes àvacinação e, portanto, parecerá doente? Não éfácil convencer os pais da criança de que issoa protegerá de certas doenças no futuro. Taiscampanhas não podem ser facilmente transpor-tadas de um contexto a outro. Elas exigem quese levem em conta as particularidades culturaise os diferentes processos lógicos predominantesem cada contexto.

De modo geral, os programas de saúdepartem do pressuposto de que a informaçãogera uma transformação automática dos com-portamentos das populações frente às doenças.Essa abordagem negligencia os diferentesfatores sociais e culturais que intervêm naadoção desses comportamentos (Fincham,1992).

Diversos autores ressaltam a grande influên-cia que exercem a semiologia popular e asconcepçôes culturais de causalidade sobre oscomportamentos adotados frente às doenças(Nyamwaya, 1987; Green, 1992; Hielscher &Sommerfield, 1985; Corin et al., 1992a). Segun-do Green (1992), a causa principal das doençassexualmente transmissíveis é, em várias socie-dades africanas, percebida como a violação denormas que governam os comportamentossexuais. Partindo dessa concepção, a populaçãoprefere recorrer ao tratamento com terapeutastradicionais do que aos serviços médicos. Umoutro bom exemplo dessa influência é fornecidopelo estudo de Agyepong (1992), que inves-tigou as percepções e práticas frente à maláriaem uma comunidade de Gana. Esse autormostrou: (1) que a palavra malária não erapopularmente conhecida e que uma categoriapopular “asra” englobava um complexo desinais e sintomas muito semelhantes aos damalária, incluindo febre; (2) que muitos mem-bros da comunidade não conectavam o vetor àdoença; a população acreditava que o “asra” eracausado por contato prolongado com o calorexcessivo. Essa concepção etiológica eliminavaquase toda possibilidade de prevenção, pois osol está sempre presente e não há como evitá-lo. Essa doença era também considerada pela

população incurável pela medicina, pois, como tratamento, a doença desaparecia, mas vol-tava a reaparecer algum tempo mais tarde. Odesconhecimento das causas de reinfecçãolevava à desvalorização dos efeitos do medica-mento. Como conseqüência, a maioria daspessoas era tratada em casa, a cloroquina erapouco utilizada e geralmente em doses sub-terapêuticas.

Hielscher & Sommerfield (1985) discutem arelação entre as concepções culturais das doen-ças e a utilização de recursos médicos em umacomunidade rural do Mali. Os autores descre-vem a identificação da causa cultural comoetapa fundamental do processo terapêutico. Asconcepções etiológicas populares dão signi-ficado aos diferentes episódios patológicos edeterminam em grande medida as estratégiaspara lidar com eles. Hielscher & Sommerfield(1985) ressaltam que não existe um conceitopopular equivalente ao conceito de esquistos-somose. Os diversos sinais e sintomas sãopercebidos pelas populações como entidadesseparadas e independentes. O estudo de Nyam-waya (1987) junto aos Pokot, do Kenia, de-monstra igualmente a influência das concepçõesculturais de causalidade sobre a utilização dasformas tradicionais e ocidentais de terapia. Noentanto, a influência de outros fatores no pro-cesso decisório é também demonstrada peloautor. Segundo Nyamwaya (1987), os Pokotseriam bastante pragmáticos e revelariam gran-de capacidade de integrar novas idéias e novaspráticas; a eficácia comprovada de uma ououtra terapêutica seria fundamental tanto comoprincípio classificatório como na escolha dotratamento adequado.

Todos esses estudos revelam que os compor-tamentos de uma população frente a seus pro-blemas de saúde, incluindo a utilização dosserviços médicos disponíveis, são construídos apartir de universos sócio-culturais específicos.Eles apontam a necessidade de enraizarem-se osprogramas de educação e o planejamento emsaúde em conhecimento prévio das formascaracterísticas de pensar e agir predominantesnas populações junto às quais se quer intervir(Hielscher & Sommerfield, 1985; Nyamwaya,1987; Nichter, 1989; Corin et al., 1989; Fin-cham, 1992; Agyepong, 1992; Green, 1992,Inecom, 1993).

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Uchôa, E. & Vidal, J. M.

MODELO MÉDICO - MODELOSCULTURAIS. ELEMENTOS CONCEITUAISE METODOLÓGICOS PARA UMAABORDAGEM ANTROPOLÓGICADA SAÚDE E DA DOENÇA

Segundo Scheper-Hugues & Lock (1987), odualismo cartesiano entre corpo e espírito seriao precursor imediato das concepções biomédi-cas contemporâneas de organismo humano e dopensamento materialista radical que caracterizaa biomedicina. Descartes teria legado às ciên-cias naturais e sociais uma concepção mecani-cista do corpo e de suas funções que sustentauma visão reducionista dos fenômenos saúde edoença. A doença é ora vista como um proble-ma físico ou mental, ora como biológico oupsicossocial, mas raramente como fenômenomultidimensional. A fragmentação do objetogera a fragmentação das abordagens. A descon-tinuidade entre as diferentes abordagens retar-da a apreensão multidimensional do objeto.

A contribuição da antropologia é aqui extre-mamente importante. Ela ressitua nossas pre-missas básicas no horizonte epistemológicoocidental, tornando possível uma perspectivacrítica frente a nossas “verdades” mais fun-damentais e favorecendo a construção de umnovo paradigma para a abordagem da saúde eda doença.

Com o desenvolvimento da corrente interpre-tativa em antropologia, surge uma nova concep-ção da relação entre indivíduo e cultura e torna-se possível uma verdadeira integração da di-mensão contextual na abordagem dos problemasde saúde. C. Geertz, que se situa na origemdessa corrente, concebe a cultura como o uni-verso de símbolos e significados que permiteaos indivíduos de um grupo interpretar a expe-riência e guiar sua ações (Geertz, 1973: pp).Segundo ele, a cultura fornece modelos “de” emodelos “para” a construção das realidadessociais e psicológicas. Para Geertz, a cultura éo contexto no qual os diferentes eventos setornam inteligíveis. Essa concepção estabeleceligação entre as formas de pensar e as formasde agir dos indivíduos de um grupo, ou seja,entre os aspectos cognitivos e pragmáticos davida humana e ressalta a importância da culturana construção de todo fenômeno humano. Nessaperspectiva considera-se que as percepções, as

interpretações e as ações, até mesmo no campoda saúde, são culturalmente construídas.

Os trabalhos desenvolvidos pelo Grupo deHarvard e, em particular, pelos professoresArthur Kleinman e Byron Good, que se situ-am entre os principais representantes da cor-rente interpretativa em antropologia médica,fornecem os elementos-chave de um quadroteórico e metodológico para análise dos fatoresculturais que intervêm no campo da saúde.Esses trabalhos ressaltam a importância de con-siderar que as desordens, sejam elas orgânicasou psicológicas, só nos são acessíveis por meioda mediação cultural; “a desordem é sempreinterpretada pelo doente, pelo médico e pelasfamílias” (Kleinman & Good, 1985).

A distinção paradigmática estabelecida porEisenberg (1977) entre a “doença processo”(disease) e a “doença experiência” (illness) é oelemento-chave desse grupo de estudos. A “do-ença processo” (disease) refere-se às anor-malidades de estrutura ou funcionamento deorgãos ou sistemas, e a “doença experiêcia”(illness), à experiência subjetiva do mal-estarsentido pelo doente. Nessa perspectiva, a ex-periência da doença não é vista como simplesreflexo do processo patológico no sentidobiomédico do termo. Considera-se que ela con-juga normas, valores e expectativas, tanto in-dividuais como coletivas, e se expressa emformas específicas de pensar e agir.

Kleinman (1980), inspirando-se em Geertz(1973), afirma que a cultura fornece modelos“de” e “para” os comportamentos humanosrelativos à saúde e à doença. Segundo Klein-man, todas as atividades de cuidados em saúdesão respostas socialmente organizadas frenteàs doenças e podem ser estudadas como umsistema cultural: health care system. Todo “siste-ma de cuidados em saúde” seria constituído pelainteração de três setores diferentes (profissio-nal, tradicional e popular). Cada setor veicu-lando crenças e normas de conduta especí-ficas e legitimando diferentes alternativasterapêuticas.

Kleinman (1980) elaborou o conceito de“modelo explicativo” (explanatory model) paraestudar os traços cognitivos e os problemas decomunicação associados às atividades de saúde.Segundo esse autor, o modelo explicativo éconstituído por noções elaboradas a partir de

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Antropologia Médica

episódios de doenças e em referência aostratamentos que foram utilizados. Kleinman(1980) distingue “os modelos explicativos” dosprofissionais e os “modelos explicativos” utili-zados pelos doentes e suas famílias. Essesmodelos se enraízam em diferentes setores dosistema médico e veiculam crenças, normas deconduta e expectativas específicas. A grandecontribuição desses instrumentos analíticos éque eles permitem abordar sistematicamente, eem seus aspectos plural e dinâmico, o conjuntode valores, crenças e normas de conduta predo-minantes no campo da saúde. O estudo demodelos explicativos empregados por diferentescategorias de pessoas (profissionais, doentes,famílias e outros) permite uma avaliação dadistância que separa os modelos médicos e nãomédicos, o exame da interação entre eles e aanálise dos problemas de comunicação quesurgem do encontro entre modelos culturais emodelos médicos durante as atividades clínica,educativa ou de pesquisa. O conhecimento dosmodelos explicativos, que predominam em umgrupo, facilita a comunicação com os in-divíduos desse grupo e permite a realização deintervenções que sejam compreensíveis e aceitá-veis para eles, duas condições essenciais para osucesso de qualquer programa de saúde.

O modelo de análise de redes semânticas(semantic network analysis), desenvolvido porGood (1977) e Good & DelVecchio Good(1980, 1982), abre o caminho para a compreen-são dos diferentes fatores que participam daconstrução de “realidades médicas”. Essesautores enfatizam a diversidade de modelos quesuportam, em uma sociedade, a construçãocultural dos problemas de saúde e os esforçosterapêuticos para resolvê-los. Eles ressaltam quetoda prática terapêutica é eminentemente inter-pretativa e implica constante trabalho de tradu-ção, de decodificação e de negociação entrediferentes sistemas semânticos. Segundo Good(1977) e Good & Delvecchio Good (1980,1982), a significação dos episódios patológicosseria construída em redes de significações(semantic network illness), por meio das quaiselementos cognitivos, afetivos e experienciais searticulam sobre o universo das relações sociaise das configurações culturais. Essas redes desímbolos associadas a doenças particulares emdada sociedade seriam utilizadas pelos indiví-

duos para interpretar o vivido, articular a ex-periência e exprimi-la de forma socialmentelegítima. O interesse desse modelo aparece maisclaramente quando se considera que não existecorrespondência termo a termo entre os diag-nósticos profissionais, que geralmente orientamos programas de saúde, e os diagnósticos popu-lares, que orientam as representações e compor-tamentos das comunidades (Hielscher & Som-merfield, 1985). A percepção do que é relevantee problemático, do que causa ou evita umproblema, do tipo de ação que esse problemarequer é, para os profissionais de saúde, deter-minada pelo corpo de conhecimentos biomédi-cos, mas, para os indivíduos de uma comunida-de, é determinada pelas redes de símbolos quearticulam conceitos biomédicos e culturais edeterminam formas características de pensar ede agir frente a um problema de saúde especí-fico.

Os trabalhos de A. Kleinman, B. Good e M.J. Delvecchio Good reinscrevem as crenças, asnormas de comportamento e as expectativasreferentes às doenças no contexto mais amplode normas e valores que predominam em umasociedade. Eles questionam o “naturalismo” dasinterpretações biomédicas, favorecem maiortolerância frente a outras formas de pensar eagir diante da doença e, em conseqüência,abrem novos caminhos para o reconhecimentoe análise dos processos culturais que mediati-zam a construção das representações e compor-tamentos em saúde.

O modelo de análise dos “sistemas de sig-nos, significados e ações” elaborado por Corinet al. (1989, 1990, 1992a, 1992b, 1993) seinscreve, em linhas gerais, como um prolonga-mento dos trabalhos do Grupo de Harvard, jádescritos. Todavia, ele permite maior sistemati-zação dos diferentes elementos do contexto(dinâmica social, códigos culturais centrais,conceito de pessoa, etc.) que intervêm efetiva-mente na identificação do que é problemático,na decisão de tratar ou não um problema e naescolha do terapeuta apropriado.

Embora o modelo de análise dos “sistemasde signos, significados e ações” tenha sidoinicialmente empregado na área da saúde men-tal, sua contribuição potencial para outras áreasda saúde, parece indiscutível. Muito pouco seconhece sobre sinais e sintomas considerados

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Uchôa, E. & Vidal, J. M.

relevantes por populações específicas ou sobreinterpretações culturalmente associadas a umdeterminado problema e menos ainda se conhe-ce sobre os comportamentos característicos nosquais se traduzem essas percepções e interpre-tações. O modelo de análise dos “sistemas designos, significados e ações” visa precisamenteao conhecimento sistemático das maneiras depensar e de agir de populações junto às quais sequer intervir; ele constitui um instrumentoprivilegiado para a investigação antropológicadas representações e comportamentos predomi-nantes no campo das grandes endemias.

Esse modelo de análise é construído a partirde duas premissas básicas: (1) cada comunidadeconstrói de maneira específica o universo dosproblemas de saúde, marcando principalmentetal ou tal sintoma, privilegiando tal ou talexplicação e encorajando certos tipos de reaçõese ações; (2) existe continuidade entre a maneirapela qual uma comunidade percebe e interpretaseus problemas de saúde e os procedimentosque ela desenvolve para resolvê-los; essa cons-trução específica é ligada às característicassócio-culturais da comunidade e às condiçõesmacroscópicas de contexto (Corin et al., 1990).

A proposta metodológica de Corin et al.(1990) é de inverter o procedimento geralmenteutilizado nos estudos sobre representações epartir do nível pragmático para remontar aonível semântico. Os comportamentos concretosde indivíduos servem de ponto de partida paraum estudo que tenta identificar as lógicasconceituais subjacentes a esses comportamentose os diferentes fatores que intervêm na concreti-zação destas lógicas em situações particulares(Corin et al., 1989). A experiência anterior dosautores (Corin et al., 1992b) revela que existegrande distância entre os discursos que descre-vem uma doença em termos gerais e a maneirapela qual são percebidas e interpretadas asocorrências concretas dessa doença; daí aescolha de focalizar as ações concretas deindivíduos particulares, frente a problemasespecíficos, e, por essa via, remontar ao univer-so de percepções e representações.

A análise dos “sistemas de signos, signi-ficados e ações” é feita a partir do estudo daspráticas dos atores apreendidas por históriasconcretas. Uma fase preliminar do estudo visaà delimitação do campo semântico que cobre

um determinado problema. São identificadostermos locais e formuladas descrições significa-tivas que servirão para identificar casos. Paracada caso identificado, diferentes questõestentam reconstruir de maneira detalhada oscomportamentos e sintomas associados à doen-ça, as interpretações feitas por diferentes cate-gorias de pessoas, os tratamentos realizadose/ou que deveriam idealmente ser realizados. Asentrevistas são gravadas, transcritas e codifica-das em função de registros de conteúdo e decategorias analíticas. Toda informação é com-pilada em quadros que permitem a identificaçãodas categorias de informação dominantes. Cadaentrevista é, em seguida, indexada com a ajudade um software (por exemplo, Sato ou Eth-nograph) para permitir a rápida extração dostextos correspondentes às diferentes categoriasde informação e a identificação do informante.Um primeiro nível de análise visa a identificar“os sistemas de signos, significados e ações”,ou seja: 1) os diferentes tipos de signos as-sociados à identificação de um determinadoproblema, à gravidade desse problema ou ànecessidade de tratamento; 2) as explicaçõesprivilegiadas frente a esses signos e 3) asreações e ações que são desencadeadas poresses signos. Um segundo nível de análiseprocura examinar as articulações entre “ossistemas de signos, significados e ações” edeterminar o impacto específico de diferenteselementos do contexto pessoal, social e culturalsobre a construção e a evolução das reações edos comportamentos (Corin et al., 1989, 1990,1992a, 1992b, 1993; Uchôa et al., 1993).

O modelo de análise “dos sistemas de sig-nos, de significados e de ações” possibilita asistematização da investigação antropológica naárea das grandes endemias. Ele permite oconhecimento das lógicas conceituais queorganizam o campo das representações cul-turais, associadas por populações específicas acada endemia, e de elementos do contexto(experiência pessoal, exigências profissionais,hábitos culturais, fatores ambientais, etc.) quepodem influenciar a tradução dessas represen-tações em comportamentos concretos (de risco,de proteção, frente aos recursos de saúde exis-tentes).

O emprego desse modelo em estudos dediferentes problemas de saúde pública contribui-

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Antropologia Médica

rá, certamente, para o refinamento da pesquisanessa área e para a reformulação das questõesrelativas ao planejamento e à organização deprogramas de saúde, no sentido de maior ade-quação das intervenções às característicassociais e culturais das populações junto às quaisse quer intervir.

CONCLUSÃO

Na perspectiva antropológica, o universosócio-cultural do doente é visto não mais comoobstáculo maior à efetividade dos programas epráticas terapêuticas, mas como o contexto ondese enraízam as concepções sobre as doenças, asexplicações fornecidas e os comportamentosdiante delas. Essa perspectiva reorienta a per-cepção dos aspectos relacionados à efetividadedas intervenções em saúde. Se considerarmosque a efetividade de um programa de saúdedepende da extensão em que a populaçãoaceita, utiliza e participa desse programa, essaefetividade parece, assim, ser dependente doconhecimento prévio das maneiras carac-terísticas de pensar e agir associadas à saúdenessa população e da habilidade do programaem integrar esse conhecimento (Inecom, 1993).

A antropologia desenvolveu importanteaparelhagem conceitual e metodológica para oestudo sistemático das maneiras culturais depensar e de agir associadas à saúde. Ela permiteexaminar as relações (interações e contradições)entre os modelos de prática, que suportam aorganização dos serviços, os programas deprevenção e as intervenções terapêuticas, e osmodelos culturais dos usuários. A partir daí, elafornece parâmetros para a reformulação daquestão da adequação sócio-cultural dos dife-rentes programas de saúde.

RESUMO

UCHÔA, E. & VIDAL J. M. Antropologia

Médica: Elementos Conceituais e

Metodológicos para uma Abordagem da

Saúde e da Doença. Cad. Saúde Públ., Riode Janeiro, 10 (4): 497-504, out/dez, 1994.

O artigo discute a pertinência, asespecificidades e as potencialidades daperspectiva antropológica na abordagem dasaúde e da doença. A antropologia médica éapresentada como uma perspectivacomplementar e enriquecedora na abordagemdos problemas de saúde pública. A influênciado universo social e cultural sobre aspercepções e ações em saúde é exemplificadae comentada em referência a estudosrealizados junto a diferentes populações.Elementos conceituais e metodológicoscentrais são apresentados e integrados àproposta de sistematização do estudo “dasmaneiras de pensar e de agir” face adiferentes problemas de saúde. A contribuiçãoespecífica da abordagem antropológica édiscutida em termos da efetividade dosprogramas saúde pública.

Palavras-Chave: Antropologia Médica;Percepções e Comportamentos; Saúde Pública

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