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RESERVADO RESERVADO ESCOLA DE GUERRA NAVAL CMG (Md) ANDRÉ GERMANO DE LORENZI MEDICINA OPERATIVA: PERSPECTIVAS. DEFESA BIOLÓGICA EM SITUAÇÕES DE CONFLITO E EM TEMPOS DE PAZ. Rio de Janeiro 2014

MEDICINA OPERATIVA: PERSPECTIVAS. DEFESA … · 2014-12-15 · IBEx - Instituto de Biologia do Exército IRD - Instituto de Radioproteção e Dosimetria LACEN ... SisDQBRNEx - Sistema

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ESCOLA DE GUERRA NAVAL

CMG (Md) ANDRÉ GERMANO DE LORENZI

MEDICINA OPERATIVA: PERSPECTIVAS.

DEFESA BIOLÓGICA EM SITUAÇÕES DE CONFLITO E EM TEMPOS DE PAZ.

Rio de Janeiro

2014

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CMG (Md) ANDRÉ GERMANO DE LORENZI

MEDICINA OPERATIVA: PERSPECTIVAS.

DEFESA BIOLÓGICA EM SITUAÇÕES DE CONFLITO E EM TEMPOS DE PAZ.

Rio de Janeiro

Escola de Guerra Naval

2014

Monografia apresentada à Escola de Guerra Naval, como

requisito parcial para a conclusão do Curso de Política e

Estratégia Marítimas.

Orientador: CMG (Md-RM1) WILSON ALVES PARIZ

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“Não é preciso ter olhos abertos para ver

o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados

para ouvir o trovão. Para ser vitorioso

você precisa ver o que não está visível.”

Sun Tzu

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RESUMO

No mundo de hoje, com superpopulação humana e viagens internacionais e intercontinentais

constantes, o surgimento de novas doenças, denominadas doenças emergentes, em nossa

sociedade é mais que presumível. Na verdade, é uma conjectura muito provável ou até mesmo

inevitável. Situações como as que estão ocorrendo no presente, com a África Ocidental

enfrentando a maior epidemia de Ebola da história e o surgimento de um novo vírus capaz de

causar doença respiratória grave no Oriente Médio, são cada vez mais frequentes. Além disso,

com os novos desafios gerados pelas circunstâncias políticas e econômicas internacionais,

associadas à existência de grupos extremistas que não reconhecem fronteiras, o mundo todo

está sob alerta. Entre os principais riscos, encontra-se o bioterrorismo, que permanece como

preocupação constante desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e ao qual todos os

países são vulneráveis. Os militares, pelas próprias características de suas funções, estão

especialmente expostos a áreas de risco para aquisição de doenças infecciosas, tanto em

território nacional, quanto em ambiente estrangeiro. Contingentes de militares brasileiros têm

sido enviados para o Haiti, Líbano e diversos países da costa atlântica da África. A própria

Amazônia, palco onde militares estão permanentemente presentes, esconde agentes biológicos

ainda desconhecidos. Dentro desse contexto, os Sistemas de Saúde das Forças Armadas, em

especial as atividades da Medicina Operativa, adquirem importância-chave no Sistema de

Defesa Biológica do país. Assim, torna-se fundamental que estejamos preparados para lidar

com essas patologias, dentro de um planejamento que tenha como principais objetivos a

prevenção e a identificação rápida e precisa de agentes biológicos. A interoperabilidade das

Forças Armadas e a integração destas com a sociedade civil, notadamente universidades,

instituições científicas e agências governamentais, visando à formulação de um plano de ação

conjunto, tornam-se imprescindíveis. Dessa forma, a capacitação dos profissionais de saúde, a

aquisição de equipamentos e a adequação das instalações das organizações militares de saúde,

são algumas ações sugeridas para que a Marinha do Brasil esteja em condições apropriadas a

contribuir com os esforços para evitar ou mitigar o risco de epidemias cujas proporções

poderiam colocar em risco a Segurança Nacional.

Palavras-chave: Defesa biológica; bioterrorismo; doenças emergentes; doenças infecciosas;

medicina operativa.

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ABSTRACT

In today's world, with overpopulation and constant international and intercontinental travel,

the advent of new diseases, known as emerging diseases, in our society is more than possible.

Actually it is a very likely or even inevitable conjecture. Situations such as those occurring in

the present, with West Africa facing the biggest outbreak of Ebola in history and the rise of a

new virus capable of causing severe respiratory disease in the Middle East, are increasingly

frequent. Moreover, with the new challenges generated by international political and

economic circumstances associated with the existence of extremist groups which do not

recognize borders, the whole world is on alert. Among the key risks, is bioterrorism, which

remains a constant concern since the attacks of September 11, and to which all countries are

vulnerable. The military, for the characteristics of their functions, are particularly exposed to

areas of risk of acquiring infectious diseases, both in national territory, as in a foreign

environment. Contingents of Brazilian military have been sent to Haiti, Lebanon and several

countries of the Atlantic coast of Africa. The Amazon region itself, where soldiers are

permanently present, hides biological agents still unknown. Within this context, the Health

Systems of the Armed Forces, in particular the activities of Operational Medicine, acquire key

importance in the Biological Defense System of the country. Thus, it is essential that we are

prepared to deal with these diseases, within in a planning that has as main objectives the

prevention and the rapid and accurate identification of biological agents. The interoperability

between Armed Forces and their integration with civil society, particularly universities,

scientific institutions and government agencies, aiming to formulate a joint action plan,

become indispensable. Thus, the training of health professionals, the acquisition of equipment

and the adequacy of the Military Health organizations facilities are some suggested actions for

the Brazilian Navy to be in proper condition to contribute to the efforts in order to avoid or

mitigate the risk of epidemics whose magnitude could jeopardize Homeland security.

Keywords: Biological defense; bioterrorism; emerging diseases; infectious diseases;

operational medicine.

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LISTA DE TABELAS

1 – Países acometidos pela MERS........................................................................... 18

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Envelope endereçado ao senador Tom Daschle, contendo pó com esporos

de antraz.............................................................................................................................

12

Figura 2 – Nota endereçada aos senadores Daschle e Leahy............................................

12

Figura 3 – Mapa demonstrando as regiões mais acometidas pela epidemia de Ebola......

16

Figura 4 - Países e Territórios nas Américas onde foram notificados casos de infecção

pelo vírus chikungunya......................................................................................................

17

Figura 5 – Mapa demonstrando os países mais acometidos pela MERS...........................

18

Figura 6 – Leishmaniose tegumentar no 1° dedo do pé direito.........................................

42

Figura 7 – Leishmaniose tegumentar em palma esquerda.................................................

42

Figura 8 – Instituições evolvidas na segurança durante a Copa do Mundo de 2014.........

49

Figura 9 – Algoritmo para avaliação de evento de relevância internacional.....................

53

Figura 10 – Algoritmo sugerido em caso de risco biológico em Operações Militares......

60

Quadro 1 - Casos de infecção pelo vírus Ebola na África Ocidental................................

15

Quadro 2 - Principais agentes biológicos com potencial de uso como arma biológica.....

20

Quadro 3 – Resumo dos níveis de biossegurança recomendados para agentes

infecciosos.........................................................................................................................

25

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN - Agência Brasileira de Inteligência

BtlEngFuzNav - Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais

CAAML - Centro de Adestramento Almirante Marques Leão

CBMERJ - Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro

CDC - “Centers for Disease Control and Prevention”

CiaDefQBN Companhia de Defesa QBN

CIAMPA - Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves

CIEVS - Centro de Informações Estratégicas e Vigilância em Saúde

CIGS - Centro de Instrução de Guerra na Selva

CMOpM - Centro de Medicina Operativa da Marinha

CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear

CTEx - Centro Tecnológico do Exército

DEET - Dietiltoluamida

DETRAN - Departamento de Trânsito

DGPM - Diretoria Geral de Pessoal da Marinha

DIP - Doenças Infecciosas e Parasitárias

DoD - Department of Defense

DQBRNE - Defesa Química, Biológica, Radiológica, Nuclear e Explosiva

DSM - Diretoria de Saúde da Marinha

EB - Exército Brasileiro

EUA - Estados Unidos da América

FAB - Força Aérea Brasileira

FBI - “Federal Bureau of Investigation”

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GHS Agenda - “Global Health Security Agenda”

GOPP - Grupamento de Operações com Produtos Perigosos

GSI - Gabinete de Segurança Institucional

GptOpFuzNav - Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais

HCamp - Hospital de Campanha

HEPA - “High Efficiency Particulate Air”

HNMD - Hospital Naval Marcílio Dias

IBEx - Instituto de Biologia do Exército

IRD - Instituto de Radioproteção e Dosimetria

LACEN - Laboratório Central

MB - Marinha do Brasil

MD - Ministério da Defesa

MedOp - Medicina Operativa

MERS – “Middle East Respiratory Syndrome”

MINUSTAH - “Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti”

NaPOc Navio Patrulha Oceânico

NB - Nível de Biossegurança

NBQR - Nuclear, Biológico, Químico e Radiológico

OEF - “Operation Enduring Freedom”

OGM - Organismo Geneticamente Modificado

ORH - “Operation Restore Hope”

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

OpHum - Operações Humanitárias

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PAHO - “Pan American Health Organization”

PCERJ - Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro

PCR - “Polymerase Chain Reaction”

PelDefQBN - Pelotão de Defesa QBN

PHEIC - “Public Health Emergency of International Concern”

PND - Política Nacional de Defesa

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SisDefNBQR-MB - Sistema de Defesa NBQR da MB

SisDQBRNEx - Sistema de Defesa QBRN do EB

SSM - Sistema de Saúde da Marinha

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UMEM - Unidade Médica Expedicionária da Marinha

UNIFIL - “United Nations Interim Force in Lebanon”

USAMRIID - “U. S. Army Medical Research Institute of Infectious Diseases”

USP - Universidade de São Paulo

UTI - Unidade de Terapia Intensiva

UTIR - Unidade para Tratamento Intensivo de Radio-acidentados

WHO - “World Health Organization”

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 12

1.1 - A situação atual........................................................................................... 14

2 DEFINIÇÕES E CONCEITOS UTILIZADOS.................................................... 19

3 HISTÓRICO.......................................................................................................... 26

3.1 - Doenças de ocorrência natural durante conflitos.......................................... 26

3.2 - Guerra biológica e bioterrorismo.................................................................. 29

4 O PAPEL DA MEDICINA OPERATIVA NA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS

RELACIONADAS À DEFESA BIOLÓGICA.....................................................

34

5 A ESTRUTURA EXISTENTE PARA PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E

TRATAMENTO DAS DOENÇAS RELACIONADAS À DEFESA

BIOLÓGICA.........................................................................................................

39

6 A INTEROPERABILIDADE NO CAMPO DA DEFESA BIOLÓGICA COM

AS DEMAIS FORÇAS ARMADAS, FORÇAS AUXILIARES E ÓRGÃOS

PÚBLICOS DE SAÚDE.......................................................................................

46

7 DISCUSSÃO......................................................................................................... 54

8 CONCLUSÃO....................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 65

ANEXO A............................................................................................................. 69

ANEXO B.............................................................................................................. 70

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1 INTRODUÇÃO

No mundo globalizado de hoje, com extrema facilidade de comunicação e de

transporte, os conflitos continuam a acontecer, porém nem sempre ocorrem entre adversários

declarados ou entre Estados. Grupos terroristas, com motivações ideológicas diversas, que

não reconhecem fronteiras e não usam uniformes, podem agir em qualquer lugar do planeta e

a qualquer momento. A utilização de agentes biológicos como armas demonstrou, de forma

inequívoca, ser uma realidade por ocasião dos ataques de setembro de 2001, quando esporos

de Bacillus anthracis - bactéria causadora da doença antraz ou carbúnculo (“anthrax” na

língua inglesa) - foram enviados por cartas a diversas redes de notícias e a dois senadores do

partido Democrata dos Estados Unidos, ocasionando cinco mortes, trazendo pânico à

população americana e desencadeando alerta máximo em diversos países (figuras 1 e 2).

Figura 1 – Envelope endereçado ao senador Tom Daschle, contendo pó com esporos de antraz.

Figura 2 – Nota endereçada aos senadores

Daschle e Leahy.

Além disso, a superpopulação humana, as frequentes agressões ao meio ambiente e as

viagens internacionais e intercontinentais, propiciam o surgimento e a disseminação de

doenças infecciosas potencialmente capazes de ocasionar graves ameaças à saúde pública,

como a pandemia de “gripe suína” em 2009 e as epidemias de dengue que ocorrem no Brasil

quase todos os anos.

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A preocupação global é de tal magnitude que entidades como a Organização Mundial

de Saúde (OMS) e o Centro de Controle de Doenças dos EUA (“Centers for Disease Control

and Prevention”, CDC), órgão com notoriedade e credibilidade internacionais, cujas ações

vão muito além das fronteiras americanas, disponibilizam informações diariamente sobre

surtos em andamento, doenças emergentes e riscos potenciais à saúde global (CDC, 2014a;

WHO, 2014a).

Atualmente o Brasil vem participando ativamente de missões internacionais de

manutenção da paz, atuando em regiões que sofrem com precárias condições econômicas e

sociais e, consequentemente, com suas populações assoladas por doenças como malária,

cólera e filariose. Mesmo dentro do território nacional, as missões operativas, em especial as

de Fuzileiros Navais, pelas suas próprias características, aumentam o risco de ocorrência de

patologias normalmente restritas a determinados espaços geográficos. A Amazônia brasileira

abriga em suas florestas diversas doenças endêmicas, sendo ainda provável a existência de

micro-organismos desconhecidos. Assim, casos de leishmaniose, leptospirose silvestre e

malária são frequentemente diagnosticados em militares da ativa que regressam dessas

missões.

Em tais ocasiões, seja pela disseminação intencional e deliberada de um agente

biológico ou pela ação da natureza, as Forças Armadas estão envolvidas para defender a

população, auxiliar os órgãos públicos de saúde e proteger seus próprios contingentes.

A defesa biológica constitui um dos pilares da Medicina Operativa na Marinha do

Brasil. Conforme descrito no Capítulo 10 da DGPM-405 (BRASIL, 2009), tem como

propósito:

Fornecer informações específicas sobre defesa biológica, definições gerais sobre

agentes biológicos passíveis de serem utilizados, medidas operacionais de proteção e

descontaminação. Apresentar procedimentos para uma resposta médico-hospitalar

frente a possíveis ataques com agentes biológicos.

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Desta forma, ao serem consideradas as perspectivas da Medicina Operativa, devemos

vislumbrar cenários nos quais a defesa biológica torna-se essencial, tanto em relação às

missões internacionais, quanto em relação à ocorrência em nosso território de doenças

autóctones ou importadas de outros países, o que se torna mais provável com os grandes

eventos internacionais que temos recebido no Brasil.

1.1 – A situação atual

As atuais circunstâncias mundiais, associadas à tendência de o Brasil estar cada vez

mais inserido no cenário internacional, com as Forças Armadas participando de operações de

paz em diversos países, torna obrigatória uma Medicina Operativa cada vez mais atuante, em

especial no que se refere ao enfrentamento de doenças emergentes. Na realidade, a ocorrência

de tais patologias já vem acometendo nossas tropas e tripulações envolvidas tanto em

operações no próprio território nacional quanto em outros países.

A Política Nacional de Defesa (PND), em seu capítulo 4, define o entorno estratégico

do Brasil.

A América do Sul é o ambiente regional no qual o Brasil se insere. Buscando

aprofundar seus laços de cooperação, o País visualiza um entorno estratégico que

extrapola a regiao sul-americana e inclui o Atlantico Sul e os países lindeiros da

Africa, assim como a Antartica. Ao norte, a proximidade do mar do Caribe impoe

que se de crescente atençao a essa regiao (BRASIL, 2012).

A costa atlântica da África inclui países com situações sociais e econômicas

extremamente frágeis, sendo frequentemente acometidos por doenças transmissíveis graves e

incomuns em outras partes do mundo. Atualmente, Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria estão

enfrentando a maior, mais disseminada e mais perigosa epidemia causada pelo vírus Ebola,

patógeno que, em média, causa a morte de 70% de suas vítimas (quadro 1 e figura 3). O vírus

replica-se principalmente nas células dos vasos sanguíneos e do fígado, frequentemente

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RESERVADO

causando sangramentos, choque e, nos casos mais graves, a morte.

Nos dias 6 e 7 de agosto do presente ano a Organização Mundial de Saúde reuniu por

teleconferência um Comitê de Emergência para discutir a situação dessa epidemia, tendo

concluído tratar-se de uma “Emergencia de Saúde Pública de Preocupação Internacional”

(“Public Health Emergency of International Concern” - PHEIC). O significado prático desta

denominação reflete que há risco real de disseminação da doença para outros países

fronteiriços e, eventualmente, para outros continentes. Baseados nesse alerta, os Estados

membros devem elaborar seus próprios planos de contingência, visando à identificação

precoce de casos suspeitos e as condutas adequadas para sua própria realidade, informando a

OMS caso ocorram.

Casos

Novos (1)

Casos

confirmados

Casos

prováveis

Casos

suspeitos

Total

Guiné

Casos 4 369 133 8 510

Óbitos 4 242 133 2 377

Libéria

Casos 71 166 358 146 670

Óbitos 32 149 153 53 355

Nigéria

Casos 0 10 0 2 12

Óbitos 1 0 3 0 3

Serra Leoa

Casos 53 706 38 39 783

Óbitos 19 295 34 5 334

Total

Casos 128 1251 529 195 1975

Óbitos 56 686 323 60 1069

(1) Novos casos registrados entre 10 e 11 de agosto 2014.

Quadro 1 - Casos de infecção pelo vírus Ebola na África Ocidental, registrados até 11 de agosto de 2014

(WHO, 2014b).

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RESERVADO

Figura 3 – Mapa demonstrando as regiões mais acometidas pela epidemia de Ebola (CDC, 2014c).

O Brasil tem participado também de Forças de Paz da ONU em diversas partes do

mundo, que nem sempre estão incluídas em nosso entorno estratégico. Atualmente, há

militares da MB no Haiti desde 2004, como parte da MINUSTAH, e no Líbano desde 2011,

compondo a UNIFIL. O Haiti tem sido acometido por diversas doenças infecciosas tais como,

cólera, malária, tuberculose, AIDS e, mais recentemente, infecção pelo vírus chikungunya,

agente infeccioso de origem africana, que até 2013 não havia chegado às Américas. Segundo

a Organização Pan-americana de Saúde, desde 2013 até o início de agosto de 2014, o Haiti

apresentou 64.695 casos suspeitos da doença, sendo 14 casos confirmados (PAHO, 2014).

Ainda com base na mesma fonte, em todo o Continente Americano, no mesmo período, foram

notificados 508.122 casos suspeitos, sendo 4.736 confirmados. O Brasil registrou até o

momento 11 casos confirmados, sendo seis militares do Exército Brasileiro recém-chegados

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RESERVADO

do Haiti. Foi levantada pela mídia a possibilidade de militares da MB, também provenientes

do Haiti, terem chegado ao Brasil com sintomas da doença, entretanto essa suspeita não foi

confirmada - embora também não tenha sido descartada, pois o exame só foi realizado em um

paciente, com resultado negativo (dado não publicado).

Figura 4 - Países e Territórios nas Américas onde foram notificados casos de infecção pelo vírus

chikungunya - dados até 12/08/2014 (CDC, 2014b).

O Oriente Médio, desde 2012 vem apresentando casos de uma nova infecção

respiratória denominada MERS, acrônimo na língua inglesa para o termo Síndrome

Respiratória do Oriente Médio ("Middle East Respiratory Syndrome”). Trata-se de uma

infecção causada por um novo vírus (da família coronavírus), capaz de causar quadro

respiratório muito grave, muitas vezes ocasionando a internação dos pacientes em Unidades

de Terapia Intensiva (UTI). Até 23 de julho de 2014, segundo dados da OMS (WHO, 2014c),

837 pessoas foram acometidas pela doença com 291 mortes, significando uma taxa de

letalidade de 35%.

A tabela 1 mostra os países que já registraram casos da doença e a figura 5 apresenta

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RESERVADO

um mapa da região mais acometida. Observa-se que o Líbano, país no qual militares

brasileiros estão presentes através da UNIFIL, encontra-se entre aqueles acometidos pela

doença.

Países com casos confirmados de MERS Países com casos "importados"

(provenientes de outros países)

Arábia Saudita

Emirados Árabes

Qatar

Omã

Jordânia

Kuwait

Iêmen

Líbano

Iran

Reino Unido

França

Tunísia

Itália

Malásia

Filipinas

Grécia

Egito

Estados Unidos

Holanda

Argélia Tabela 1 – Países acometidos pela MERS (CDC, 2014d).

Figura 5 – Mapa demonstrando os países mais acometidos pela MERS (CDC, 2014d).

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RESERVADO

2 DEFINIÇÕES E CONCEITOS UTILIZADOS

Seguem abaixo as definições e conceitos considerados no presente trabalho:

Agente Biológico - Qualquer organismo que contenha informação genética e seja

capaz de se reproduzir. Inclui bactérias, fungos, vírus, clamídias, riquétsias, micoplasmas,

parasitos, linhagens celulares e outros (BRASIL, 2013a).

Arma Biológica - Inclui-se na categoria das armas de destruição em massa, assim

como as armas químicas e nucleares. São agentes biológicos, ou toxinas produzidas por estes,

utilizados para causar doenças ou mortes em homens, animais e plantas (BRASIL, 2014b). O

CDC classifica os agentes biológicos com potencial de serem utilizados como armas em três

categorias, por ordem de prioridade, conforme o Quadro 2.

Bioconfiança (“biosurety”) - Trata-se de um conjunto de sistemas e procedimentos

com propósito de proteger os agentes biológicos, ou suas toxinas, contra furto, roubo, perda,

desvio e acesso ou uso não autorizados, garantindo que a manipulação desses agentes seja

conduzida de maneira segura e confiável, englobando nesse conceito a biossegurança, a

bioproteção e os controles de pessoal e material (BRASIL, 2013a).

Bioproteção (“biosecurity”) - É um conjunto de ações que visa a minimizar o risco do

uso indevido, roubo ou liberação intencional de material biológico com potencial de causar

dano à saúde humana, animal e vegetal (BRASIL, 2013a).

Biossegurança (“biosafety”) - Conjunto de ações com finalidade de “prevenir,

controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam, de forma não

intencional, comprometer a saúde humana, animal, vegetal e o ambiente” (BRASIL, 2013a).

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RESERVADO

Categoria Agentes

A

Alta prioridade: inclui organismos que colocam em risco

a Segurança Nacional, pelas seguintes características:

Podem se disseminar facilmente ou serem transmitidos de pessoa a pessoa;

Possuem alta taxa de letalidade e potencial para

causar grande impacto na saúde pública; e

Podem causar pânico na população e

descontrole social, necessitando planos de

contingência específicos.

Carbúnculo ou Antraz (Bacillus anthracis)

Botulismo (toxina do Clostridium

botulinum)

Peste (Yersinia pestis)

Varíola

Tularemia (Francisella tularensis)

Febres hemorrágicas virais (filovirus -

Ebola, Marburg; e arenavirus - Lassa,

Machupo)

B

Segunda maior prioridade: Inclui agentes biológicos

que:

São moderadamente fáceis de disseminar;

Causam taxas moderadas de morbidade e baixa

taxa de letalidade; e

Requerem um aprimoramento específico na capacidade de diagnóstico e na vigilância da

doença.

Brucelose (Brucella sp.)

Toxina Epsilon do Clostridium perfringens

Ameaça a segurança alimentar (ex:

Salmonella sp., Escherichia coli O157:H7,

Shigella sp.)

Mormo (Burkholderia mallei)

Melioidose (Burkholderia pseudomallei)

Psitacose (Chlamydia psittaci)

Febre Q (Coxiella burnetii)

Toxina da Ricina (Ricinus communis)

Enterotoxina estafilocócica B

Tifo (Rickettsia prowazekii)

Encefalite viral (alfavirus – Encefalite

Equina Venezuelana e Encefalite Equina

do Leste; e Encefalite Equina do Oeste)

Ameaça a segurança da água (ex: Vibrio cholerae, Cryptosporidium parvum)

C

Terceira maior prioridade: Inclui agentes emergentes

que podem futuramente ser modificados geneticamente

para aumentar a capacidade de disseminação em massa,

devido a:

Disponibilidade;

Facilidade de produção e disseminação; e

Potencial de causar altas taxas de morbidade e

mortalidade, assim como grande impacto na

saúde pública.

Doenças emergentes tais como:

Vírus Nipah

Hantavirus

Tuberculose multirresistente

Infecção pelo HIV

Quadro 2 - Principais agentes biológicos com potencial de serem utilizados como arma biológica (CDC, 2014e).

Bioterrorismo - Utilização de agente biológico como arma por atores não

convencionais, tais como grupos terroristas das mais diversas origens. Um ataque bioterrorista

pode simular uma ocorrência natural de doenças. No entanto, algumas características podem

levar a suspeita de uma ação deliberada, tais como:

- Um grande número de pessoas doentes com características semelhantes em local

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RESERVADO

geograficamente restrito;

- Suspeita de doença causada por agentes biológicos que podem ser utilizados como

armas (quadro 2);

- Doenças infecciosas com apresentação mais grave que a esperada;

- Identificação de doença infecciosa incomum em determinada área ou comunidade;

- Mortes ou doenças graves em animais, que podem acometer seres humanos;

- Surtos simultâneos de doenças semelhantes, em áreas geográficas distintas; e

- Identificação de doença infecciosa incomum para a faixa etária.

Defesa Biológica - Conjunto de medidas estruturadas a serem implementadas pelas

Forças Armadas para prevenir e enfrentar ataques por agentes biológicos ou toxínicos

(BRASIL, 2013a).

Doenças emergentes - Doenças causadas por agentes biológicos de ocorrência natural

identificados há poucos anos ou algumas décadas, tais como AIDS, hepatite C, bactérias

resistentes a antibióticos, Síndrome Respiratória do Oriente Médio e gripe aviária.

Doenças Reemergentes (ou re-emergentes) - Doenças já conhecidas, que afetam o

homem historicamente há muito tempo e que, no entanto, vêm apresentando novas formas ou

surgido em locais geográficos onde não havia anteriormente. Alguns exemplos seriam

dengue, tuberculose resistente e febre causada pelo vírus chikungunya.

Endemia - Utiliza-se o termo quando determinada doença ocorre regularmente em

determinada região, com uma incidência (número de casos novos) relativamente estável.

Como exemplos podem ser citadas a malária, endêmica na Região Amazônica, e a tuberculose

no Rio de Janeiro.

Epidemia - Número de casos superior ao esperado em determinada área geográfica,

podendo alastrar-se para outras áreas, ganhando maiores proporções e causando importante

problema de saúde pública.

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RESERVADO

Guerra biológica - Utilização de um agente biológico como arma, durante conflito

declarado entre dois Estados. Com finalidade de proibir a utilização de armas biológicas, foi

elaborada em 10 de abril de 1972 pela Organizaçao das Naçoes Unidas a “Convençao sobre a

Proibição do Desenvolvimento, Produção e Estocagem de Armas Bacteriológicas (Biológicas)

e à Base de Toxinas e sua Destruiçao”, atualmente ratificada por 170 Estados.

Medicina Operativa - Conforme definido na DGPM-405: “A Medicina Operativa

(MedOp) é a atividade de saúde realizada em condições não convencionais, onde os recursos

humanos, materiais e locais (suprimentos, expertise, tempo, condições climáticas e

epidemiológicas) podem estar significativamente restritos” (BRASIL, 2009). O termo inclui

as ações de planejamento e preparo na área de saúde, voltadas para as operações militares em

tempo de paz ou em situações de conflito e para as operações humanitárias.

NBQR - Acrônimo para Nuclear, Biológico(a), Químico(a) e Radiológico(a),

utilizado, por exemplo, em “Evento NBQR” e “Defesa NBQR”. O acrônimo pode ter a ordem

das iniciais modificada, como “QBRN” e por vezes acrescenta-se a letra “E”, quando se

incluem na definição Artefatos Explosivos.

Níveis de Biossegurança (NB ou NBS) - São as condições de segurança que devem ser

atendidas conforme o risco de se manipularem determinados micro-organismos. Dessa forma,

os níveis de biossegurança são classificados de 1 a 4, de forma crescente quanto ao grau de

contenção e conforme o potencial risco do agente infeccioso. O objetivo é proteger os

trabalhadores das unidades de saúde, principalmente laboratórios, o ambiente externo e a

sociedade como um todo. A seguir consta a descrição resumida de cada nível de

biossegurança.

Nível de Biossegurança 1 (NB1: baixo risco individual e para a comunidade) - É o

nível básico de contenção, sendo assim classificados os laboratórios nos quais são

manipulados micro-organismos de baixo risco, por normalmente não causarem doença em

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RESERVADO

seres humanos ou em outros animais. Nesse caso, não é necessário nenhum equipamento

especial ou arquitetura específica, bastando a adoção dos procedimentos de segurança básicos.

Nível de Biossegurança 2 (NB2: moderado risco individual e risco limitado para a

comunidade) - Refere-se a laboratórios onde são manipulados agentes biológicos que podem

causar doenças no ser humano, porém com capacidade limitada de disseminar-se no meio

ambiente. Nesse nível está enquadrada a maior parte dos laboratórios clínicos e hospitalares.

São necessários, além dos procedimentos básicos, a utilização de barreiras físicas e

equipamentos de proteção individual (EPI), além de uma arquitetura uma organização que

facilitem o fluxo de pessoas e materiais.

Nível de Biossegurança 3 (NB3: alto risco individual e risco moderado para a

comunidade) - Laboratórios destinados à manipulação de micro-organismos capazes de serem

transmitidos por via respiratória e que podem causar doenças fatais em seres humanos ou em

outros animais. É necessária uma arquitetura especial no laboratório visando minimizar riscos

de contaminação. Além disso, deve haver meticulosa vigilância quanto aos procedimentos,

manutenção das instalações e equipamentos, assim como treinamento específico e permanente

para os profissionais.

Nível de Biossegurança 4 (NB4: alto risco individual e para a comunidade) -

Laboratório de contenção máxima. Tem como finalidade a manipulação de agentes biológicos

com grande facilidade de transmissão e contra os quais não existem ainda medidas

preventivas ou terapêuticas, capazes de causar doenças extremamente graves tanto em

humanos quanto em animais. Deve estar localizado em área fisicamente separada das demais

e preferencialmente com funcionários exclusivos. Tais compartimentos exigem arquitetura

com especificações rigorosas, pressão negativa em seu interior e exaustão com filtragem

HEPA (“High Efficiency Particulate Air”) para evitar a contaminaçao ambiental. Os trajes dos

profissionais devem ser tipo “escafandro”, com ar insuflado, independente do ar interior do

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RESERVADO

laboratório. O quadro 3 sumariza as principais características de cada nível de bioproteção,

considerando os agentes (micro-organismos), as práticas, os equipamentos de segurança e as

instalações.

Organismo Geneticamente Modificado (OGM) - Organismo cujo material genético

tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética (BRASIL, 2013a).

Pandemia - O termo é usado quando uma epidemia atinge vários países e em

continentes diversos, causando grave impacto ao sistema de saúde global e exigindo ações

coordenadas de governos e agencias internacionais. Exemplo: pandemia de “Gripe Suína” em

2009.

Período de Incubação - É o período de tempo que decorre entre a exposição a

determinado agente biológico e as primeiras manifestações da doença. Exemplo: o período de

incubação da dengue: 3 a 15 dias (em média 5 a 6 dias).

Surto - Chama-se surto quando uma doença atinge uma população restrita em

determinado local. Por vezes pode extrapolar a área inicial e causar uma epidemia. Exemplo:

Surto de influenza B entre recrutas do CIAMPA em 2011.

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RESERVADO

Quadro 3 – Resumo dos níveis de biossegurança recomendados para agentes infecciosos (Brasil, 2014).

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RESERVADO

_____________________________________________________________________________________

1. Não se sabe ao certo qual foi a doença que assolou Atenas durante a Guerra do Peloponeso. Supõe-se ter sido

a peste bubônica, também conhecida como peste negra, causada pela bactéria Yersinia pestis. Entretanto, as

poucas evidências disponíveis não são conclusivas, sendo possível que outra doença, como febre tifoide, cujo

agente etiológico é a bactéria Salmonella tiphy, também de fácil propagação nas condições sociais daquela

época, tenha sido o verdadeiro micro-organismo causador da epidemia.

3 HISTÓRICO

3.1 – Doenças de ocorrência natural durante conflitos.

Os agentes biológicos sempre fizeram parte da realidade das guerras. Doenças

infecciosas acometeram - e ainda acometem – soldados que, afastados de seu ambiente,

encontram-se em situação física, psicológica e social desfavoráveis e especialmente

vulneráveis aos micro-organismos externos. Terras inexploradas, ou jamais vistas, costumam

abrigar formas microscópicas de vida desconhecidas para o sistema imunológico de

populações humanas cujo desenvolvimento ocorreu, em alguns casos, a um oceano de

distância. Nessas circunstâncias as doenças infecciosas se tornam oponentes implacáveis, com

capacidade de causar baixas e desequilíbrio emocional de forma mais eficiente que as armas

do inimigo, eventualmente chegando ao extremo de tornar inevitável o cancelamento das

operações militares (SMALLMAN-RAYNOR, 2004).

São diversas as descrições de epidemias durante as guerras. Tucídides, em seu registro

da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), relata a epidemia de peste¹, que vitimou milhares de

soldados atenienses e quase um terço da população civil, como tendo sido um dos fatores

decisivos no desfecho do conflito, vitimando o próprio Péricles em 429 a.C. (TUCÍDIDES,

ed. port. 1987).

Os séculos que se seguiram não foram diferentes e as epidemias permaneceram

presentes nos conflitos, dizimando exércitos e frequentemente atingindo as populações civis

dos Estados beligerantes e mesmo as populações dos Estados não envolvidos nas guerras.

Assim, epidemias de grandes proporções foram registradas durante a Segunda

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RESERVADO

Guerra Púnica (218-202 a.C.), na Segunda Cruzada (1147-1149) e, de forma mais

emblemática, por ocasião das guerras de colonização das Américas nos séculos XV e XVI,

durante as quais doenças como varíola e influenza, até então desconhecidas pelas civilizações

pré-colombianas, foram responsáveis pela morte de dezenas de milhões de pessoas que

habitavam as Américas antes da chegada dos europeus.

No século XIX, durante a Guerra da Criméia (1853-1856), os exércitos britânico e

francês, perderam cerca de 18.000 homens por uma epidemia de cólera. Durante esse mesmo

conflito, a enfermeira britânica Florence Nightingale, aplicando métodos de assepsia e

higiene, conseguiu reduzir significativamente a taxa de mortalidade dos soldados feridos que

padeciam de infecções bacterianas, sendo por isso considera a pioneira no combate às

infecções hospitalares.

Embora os séculos XIX e XX tenham trazido avanços científicos extraordinários

relacionados à prevenção, identificação e tratamento das doenças infecciosas, tais patologias

ainda são responsáveis por grande parte das baixas nos conflitos modernos. A Primeira

Guerra Mundial foi, possivelmente, o primeiro conflito no qual o número de baixas causadas

pelas armas do inimigo ocorreu na mesma proporção que o número de baixas causadas por

infecções (MURRAY, 2007). Ainda assim, há relatos que no final da Primeira Guerra, 20 a

40% dos militares da Marinha e do Exército dos EUA adoeceram de influenza e pneumonia,

em decorrência da pandemia de 1918, conhecida como Gripe Espanhola. O vírus “viajava

com as tropas de acampamento em acampamento e através do Atlantico” (BYERLY, 2010).

Na ocasião, as altas taxas de morbidade da doença, interferiram na preparação e treinamento

nos militares nos EUA, deixando centenas de milhares de jovens incapacitados para a guerra

(BYERLY, 2010). Estima-se que a pandemia de Gripe Espanhola tenha causado entre 20 e 40

milhões de mortes ao redor do mundo.

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RESERVADO

Mesmo em conflitos mais recentes ocorrência de surtos permanece uma ameaça

constante. Em maio de 2002, durante a “Operaçao Liberdade Duradoura” (“Operation

Enduring Feedom” – OEF), ação militar conduzida pelos EUA e seus aliados que se seguiram

aos ataques de 11 de setembro de 2001, soldados britânicos no Afeganistão apresentaram

quadro de diarreia infecciosa, com alguns casos necessitando internação na UTI do hospital

de campanha e vários sendo transferidos para a Inglaterra. Durante o surto, o hospital de

campanha britânico passou a atender apenas os soldados com sintomas gastrointestinais,

ficando incapacitado, devido à necessidade de isolamento, de atender qualquer outro

problema de saúde (CDC, 2002).

Doenças transmitidas por vetores, normalmente artrópodes, ainda são frequentemente

observadas, apesar do empenho das Forças Armadas em utilizar equipamentos e uniformes

apropriados para minimizar a aproximação de insetos hematófagos. Exemplos recentes

incluem a dengue no Haiti, malária durante a Operação Restauraçao da Esperança (“Operation

Restore Hope” - ORH) na Somália (1992-1993) e Leishmaniose visceral e cutânea na OEF

(MURRAY, 2007).

Operações militares de longa duração, incluindo as de manutenção da paz, costumam

aumentar a interação dos contingentes militares com a população local. Como consequência,

pode haver a ocorrência de doenças que requeiram um maior grau de proximidade entre as

pessoas, tais como as doenças sexualmente transmissíveis – entre as quais infecção pelo HIV

e hepatite B – e doenças transmitidas por contato direto com indivíduos doentes, como Ebola

e Marburg.

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RESERVADO

3.2 – Guerra biológica e bioterrorismo.

Embora a descoberta dos micro-organismos só tenha ocorrido no século XIX, o

conhecimento das infecções e a percepção de que as doenças podiam ser transmitidas entre

seres humanos, ou mesmo a partir de animais e excrementos, já existiam desde as mais

antigas civilizações. A utilização desse conhecimento para causar danos aos inimigos também

remonta há séculos. São diversas as descrições de uso de guerra biológica ao longo da história

da humanidade e aqui serão citados alguns exemplos.

Existem relatos que o povo Hitita, quando habitava a região onde hoje está a Turquia

(cerca de 1600 a.C.), enviava, com objetivo específico de causar surtos de infecções, animais

e pessoas doentes ao território inimigo (USAMRIID, 2011). Com o mesmo propósito, os

romanos lançavam carcaças de animais nos poços de abastecimento de água localizados na

região dos inimigos (SILVA, 2001).

No ano de 1346, durante o cerco a Caffa (atual Feodósia na Criméia), o exército

tártaro sofreu um surto de peste causando muitas mortes entre os militares. Percebendo que

não conseguiriam mais manter o cerco, os tártaros passaram a arremessar, com a utilização de

catapultas, os corpos das vítimas, assim como suas roupas, por sobre as muralhas que

protegiam Caffa, com a intenção deliberada de levar a doença ao inimigo. O episódio foi

assim descrito pelo genoves Gabriele de’ Mussi (1280-1356):

Os tártaros moribundos, atordoados e estupefatos pela imensidão do desastre

provocado pela doença, e percebendo que não tinham nenhuma esperança de fuga,

perdiam o interesse no cerco. Mas eles ordenaram cadáveres para serem colocados

em catapultas e arremessados para a cidade na esperança de que o mau cheiro

insuportável mataria todos no interior. O que se assemelhava a montanhas de mortos

foi jogado na cidade, e os cristãos não conseguiam se esconder ou fugir ou escapar

deles, embora despejassem tantos corpos quanto podiam no mar. E logo os

cadáveres em decomposição contaminaram o ar e envenenaram o abastecimento de água e o mau cheiro era tão grande que quase um em vários milhares estava em

posição de fugir do que restava do exército tártaro. Além disso, um homem

infectado podia levar o veneno para os outros, e infectar pessoas e lugares com a

doença somente pelo olhar. Ninguém sabia, ou podia descobrir um meio de defesa

(WHEELIS, 2002 - tradução do autor).

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RESERVADO

Supõe-se que esta pode ter sido a origem da epidemia de peste que assolou a

população da Europa no século XIV, dizimando cerca de um terço da população, com um

número de mortes estimado entre 25 e 50 milhões (WHEELIS, 2002).

Durante a colonização do continente americano pelos europeus, várias epidemias de

sarampo, influenza e varíola exterminaram cerca de 56 milhões de aborígenes americanos.

Embora ainda hoje se discuta a intencionalidade desses eventos, há evidências que ao menos

alguns desses episódios foram deliberados (DIOMEDI, 2003).

No século XVIII, durante conflito entre britânicos e franceses, tecidos contaminados

por pacientes com varíola foram enviados pelo exército britânico para índios do Dalaware, na

ocasião aliados dos franceses (CHRISTOPHER et al., 1997).

A segunda metade do século XIX trouxe, possivelmente, o que seriam os maiores

avanços da medicina ocidental. As experiências do químico francês Louis Pasteur (1822-

1895), demonstrando inequivocamente a existência dos micro-organismos, do médico alemão

Robert Koch (1843-1910), identificando que doenças como tuberculose e cólera eram

causadas por bactérias, do cirurgião britânico Joseph Lister (1828-1912), utilizando a assepsia

para evitar as infecções cirúrgicas e as do obstetra húngaro Ignaz Semmelweis (1818-1865),

demonstrando que a lavagem das mãos evitava as infecções hospitalares, são consideradas até

hoje as bases que norteiam as boas práticas da medicina moderna (THORWALD, 2010).

O acúmulo de conhecimento na área da microbiologia propiciou que a guerra

biológica ganhasse um aspecto mais científico no século XX.

Há evidências de que a Alemanha tenha desenvolvido armas biológicas na Primeira

Guerra Mundial, todavia não há comprovação de terem sido utilizadas (CHRISTOPHER et

al., 1997).

O Japão, após a invasão da China em 1937, instalou na Manchúria, a denominada

unidade 731, que realizava experiências com diversos agentes biológicos, entre os quais

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RESERVADO

bactérias causadoras de meningite, cólera e antraz. Testes em prisioneiros de guerra foram

registrados, causando cerca de três mil mortes (FERNANDES, 2002). Há indícios de que os

japoneses também utilizaram pulgas infectadas com a bactéria Yersinia pestis que, despejadas

a partir de aviões em vilas chinesas, causaram surtos de peste nas comunidades, com milhares

de mortes não registradas (USAMRIID, 2011).

Os países aliados também realizavam o desenvolvimento de armas biológicas. Uma

experiência conduzida pelos britânicos em 1942 na ilha Gruinard, perto do litoral da Escócia,

utilizou bombas que liberavam esporos de Bacillus anthracis. A contaminação do solo foi de

tal magnitude que a presença humana na ilha ficou proibida por décadas e somente em 1987,

após diversas tentativas de limpeza do solo, a área foi liberada.

Em 1942, os EUA iniciam suas próprias pesquisas, desenvolvendo um programa de

utilização de agentes biológicos com finalidade ofensiva. Muitos outros países, como Reino

Unido e Canadá, estabeleceram programas semelhantes (USAMRIID, 2011).

Com o final da Segunda Guerra Mundial, durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e

a União Soviética, possivelmente incorporando parte da tecnologia adquirida dos inimigos

vencidos, Alemanha e Japão, incrementaram seus projetos para o desenvolvimento de armas

biológicas. O programa norte-americano foi estabelecido em Camp Detrick (hoje Fort

Detrick), em Maryland. Nesse período diversos agentes biológicos foram produzidos em larga

escala e testados em experiências de campo (USAMRIID, 2011). Entretanto, a insatisfação da

sociedade americana, as negociações com a União Soviética e o próprio amadurecimento da

comunidade internacional em relação aos direitos humanos, pressionavam o governo dos

EUA a recuar com os projetos de desenvolver e manter um arsenal biológico. Em 1969, por

determinação do presidente Richard Nixon, todas as pesquisas e produções de micro-

organismos ofensivos foram interrompidas. Nos anos seguintes, na presença de inspetores

internacionais, todo estoque de agentes biológicos e de toxinas, foram eliminados.

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RESERVADO

Atualmente, o exército americano mantém um programa de defesa biológica, ainda localizado

em Fort Detrick, denominado “U.S. Army Medical Research Institute of Infectious Diseases”

(USAMRIID).

Em 10 de abril de 1972, os EUA, Reino Unido e União Soviética, assinaram a

“Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, da Produção e do Armazenamento das

Armas Bacteriológicas (Biológicas) ou Tóxicas e sobre a Sua Destruição”. Mais conhecida

como “Convençao sobre as Armas Biológicas”, hoje esta ratificada por mais de 140 países,

incluindo o Brasil, que a assinou em 10 de abril de 1972 e a ratificou em 27 de fevereiro de

1973.

Embora a Convenção sobre as Armas Biológicas tenha um impacto muito grande na

inibição do uso de micro-organismos como armas por Estados beligerantes, o risco permanece

na sua utilização por grupos terroristas das mais diversas origens.

A facilidade no trânsito de informações, os avanços crescentes nas áreas de

microbiologia e biogenética e a redução dos custos, tornam cada vez mais acessíveis diversos

agentes biológicos com potencial de serem utilizados como armas.

O caso “Amerithrax”, como ficou conhecido o ataque bioterrorista com esporos de

antraz que se seguiu aos atentados de 11 de setembro de 2001 (já mencionado no capítulo 1),

trouxe diversas controvérsias e reflexões. A autoria, inicialmente atribuída ao grupo terrorista

Al-Qaeda pela relação temporal com o atentado às torres gêmeas, não ficou totalmente

esclarecida e ainda hoje é discutida. As investigações do FBI, realizadas durante os anos

seguintes, levaram à suspeita de o ataque ter sido perpetrado por um único cientista,

pesquisador do USAMRIID, Dr. Bruce Edwards Ivins, falecido em 29 de julho de 2008. Sua

morte foi declarada como suicídio, com utilização de doses tóxicas de acetaminofeno, um

analgésico comum, amplamente disponível, que pode levar à falência hepática e à morte

quando utilizado em altas doses (FBI, 2014). Independente da real autoria, ficou bastante

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RESERVADO

claro (pela semelhança genética) que os esporos de antraz utilizados tiveram origem dentro

das próprias fronteiras dos EUA. Dessa forma, tornou-se evidente a fragilidade dos

procedimentos de bioconfiança e das ações de bioproteção que resguardam, ou deveriam

resguardar, as instituições e os laboratórios que manipulam micro-organismos que podem ser

utilizados como arma biológica.

Existem diversos outros relatos de acontecimentos envolvendo a utilização armas

biológicas. Em 1984, no Estado de Oregon, EUA, membros de um grupo religioso

contaminaram deliberadamente alimentos de diferentes restaurantes com a bactéria

Salmonella typhimurium, causando doença diarreica em 751 pessoas (TOROK et al., 1997).

Ocorrências dessa natureza, em região geograficamente bem localizada e com magnitude

pequena ou moderada, são mais prováveis de acontecer.

Todavia, a ameaça do bioterrorismo é uma realidade potencialmente capaz de causar

impacto de grandes proporções, podendo provocar colapso dos sistemas de saúde de todo o

mundo. É possível, entretanto, que dificuldades técnicas relacionadas à produção em larga

escala, manutenção da viabilidade dos micro-organismos, transporte e disseminação, ainda

sejam obstáculos para a ocorrência de eventos de maior gravidade.

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RESERVADO

4 O PAPEL DA MEDICINA OPERATIVA NA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS

RELACIONADAS À DEFESA BIOLÓGICA

Conforme discutido anteriormente, diversos agentes biológicos podem,

potencialmente, ser utilizados como “arma biológica”, seja através de atentados a partir de

grupos extremistas ou mesmo por Estados em situação de conflito que porventura optem por

desrespeitar os tratados internacionais. Mas, além disso – e principalmente – as próprias

circunstâncias ambientais podem originar e disseminar germes patogênicos à espécie humana.

O mundo moderno propicia o trânsito de pessoas entre países e continentes com extrema

facilidade. Assim, doenças transmissíveis que eclodem em diversos pontos do planeta podem,

eventualmente, ganhar proporções epidêmicas.

O Brasil, participando do panorama internacional de forma cada vez mais ativa, torna-

se foco de turistas e imigrantes provenientes de todas as partes do globo. Tal situação tem se

exacerbado mais recentemente, com o país sendo palco de diversos eventos internacionais de

grandes proporções. Nesse contexto a MB, devido as suas características de mobilidade,

versatilidade e capacidade de atuar e permanecer em áreas de difícil acesso, é frequentemente

requisitada a participar de operações de caráter humanitário, dentro do país e fora dele,

incluindo situações que envolvem risco biológico. Em tais circunstâncias o Sistema de Saúde

da Marinha, através de seus Subsistemas Operativo e Assistencial, deve estar sempre

preparado, com profissionais qualificados, instalações apropriadas e equipamentos modernos

e seguros, necessários para lidar com patógenos de alta agressividade e transmissibilidade,

agindo prontamente e minimizando o risco potencial para toda sociedade.

Essa característica, inerente à Medicina Operativa, está explícita na própria missão do

CMOpM:

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RESERVADO

Contribuir para a eficácia do Sistema de Saúde da Marinha (SSM) e o

aprimoramento do processo decisório e do emprego de meios, no tocante à condução

das ações de saúde em Missões Operativas, Operações de Paz e na resposta a

situações de desastre e de apoio humanitário (BRASIL, 2012a).

Tal particularidade, pela sua natureza prática e utilização imediata, compele a

Medicina Operativa a estar continuamente preparada, pois seu emprego é frequentemente

necessário, independente da existência de conflitos.

Da mesma forma a Unidade Médica Expedicionária da Marinha (UMEM), OM

subordinada ao Comando da Tropa de Reforço e apoiada pela Base de Fuzileiros Navais da

Ilha das Flores, tem a atribuição, em relação às OpHum, nuclear e operar um HCamp,

incorporado a um GptOpFuzNav (BRASIL, 2009a).

Durante a recente Copa do Mundo de Futebol, ocorrida no Brasil entre 12 de junho e

13 de julho do presente ano, o Ministério de Defesa e as Forças Armadas participaram

ativamente das ações de segurança que foram implementadas durante os eventos. O

“Planejamento Estratégico de Segurança Pública e de Defesa para a Copa do Mundo FIFA

Brasil 2014”, descreve as principais açoes dos órgaos envolvidos. No referido documento,

dentre as ações atribuídas ao Ministério da defesa consta:

Coordenar e integrar a atuação das unidades especializadas na prevenção, coleta e

análise de substâncias químicas, biológicas, radiológicas e nucleares, bem como na

execução da descontaminação de instalações e equipamentos, em cooperação com os

demais órgãos federais, estaduais e municipais que disponham de capacidade específica nesta área (BRASIL, 2013b).

Para tanto, além das demais instituições envolvidas, a MB disponibilizou equipamento

e pessoal especializado, incluindo um laboratório móvel à defesa NBQR, capaz de identificar

ameaças dessas naturezas.

A atuação das Forças Armadas, em auxílio aos órgãos públicos de saúde, no caso de

surtos e epidemias não é novidade. Na epidemia de dengue que atingiu o Rio de Janeiro em

2008, Marinha, Exército e Força Aérea, participaram do esforço conjunto do Ministério da

Defesa, Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de

Janeiro, para prestar atendimento à população. Naquele ano, foram registrados 249.724 da

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RESERVADO

doença no Estado do Rio de Janeiro, com 231 óbitos (BRASIL, 2008). O HCamp da MB,

localizado no município de Nova Iguaçu, realizou atendimento, no período de 31 de março a

28 de maio, a 12.039 pacientes, tendo efetuado 22.927 exames laboratoriais. Cerca de 400

militares foram envolvidos, em ação integrada dos Setores Operativos, de Pessoal, de

Abastecimento e de Saúde.

Em outras ocasiões, como no terremoto ocorrido no Chile em fevereiro de 2010 e nas

enchentes que aconteceram na região serrana do Rio de Janeiro em janeiro de 2011, os

HCamp da MB foram utilizados para a amenizar o sofrimento das populações atingidas pela

tragédias. Embora nestas duas últimas circunstâncias citadas o HCamp não tenha sido

utilizado especificamente para situação de epidemia por doença infecciosa, ficou evidente a

confiança que a sociedade civil e as autoridades do país depositam nas Forças Amadas no que

tange ao auxílio emergencial de saúde dentro e fora do Brasil.

Visando ativar o HCamp com a maior brevidade possível, o CMOpM gerencia uma

equipe de saúde, composta por militares, oficiais e praças profissionais de saúde, provenientes

de diversas OM, denominada Equipe de Pronto Emprego (EPE). A EPE é renovada a cada

quatro meses, sendo submetida a um adestramento teórico e prático, incluindo assuntos

voltados à ameaça NQBR. Após o adestramento os militares retornam às suas OM de origem.

Caso ocorra algum evento que necessite o acionamento da EPE, em poucas horas a equipe e o

material podem ser enviados para a área afetada.

A MB vem participando também de exercício de simulação de acidentes com as usinas

nucleares de Angra dos Reis. O Hospital Naval Marcílio Dias possui uma Unidade para

Tratamento Intensivo de Radio-acidentados (UTIR), sendo hospital de referência nacional

para atendimentos de vítimas de eventos de natureza nuclear ou radiológica. Para o HNMD

foram enviados os pacientes expostos no acidente com césio-137, ocorrido em Goiânia (GO)

em 1987.

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RESERVADO

Recentemente, com o andamento do PROSUB, projeto que visa desenvolver um

submarinho de propulsão nuclear no Brasil e que está sendo realizado em São Paulo, tem

havido uma maior preocupação com a preparação em caso de acidentes de natureza nuclear,

radiológica e química.

Tais atividades de Medicina Operativa, como os exemplos citados, estão em sintonia

com os Objetivos Estratégicos da Marinha do Brasil, conforme consta na Estratégia Nacional

de Defesa.

Para assegurar a tarefa de negaçao do uso do mar, o Brasil contara com força naval

submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos

de propulsão nuclear. O Brasil mantera e desenvolvera sua capacidade de projetar e

de fabricar tanto submarinos de propulsao convencional, como de propulsao nuclear.

Acelerara os investimentos e as parcerias necessarios para executar o projeto do

submarino de propulsao nuclear. Armara os submarinos com misseis e desenvolvera

capacitações para projeta-los e fabrica-los. Cuidara de ganhar autonomia nas

tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e seus sistemas de armas, e que

lhes possibilitem atuar em rede com as outras forças navais, terrestres e aéreas

(Brasil, 2012b).

Na área de defesa biológica, especificamente, há algumas peculiaridades que devem

ser ressaltadas. Enquanto os eventos nucleares, radiológicos e químicos são consequências,

quase invariavelmente, de um acidente ou de uma ação deliberada, seja do inimigo ou de um

criminoso, a defesa biológica deve considerar também a ocorrência natural das doenças

infecciosas, especialmente comuns quando os seres humanos são expostos a ambientes hostis

ou a aglomeração, condições frequentemente presentes nas operações militares, sejam elas

decorrentes de um conflito ou de ações humanitárias. Assim, a atuação da Medicina Operativa

deve se iniciar na fase de planejamento das operações militares, utilizando a "inteligência

médica" para avaliar a área geográfica onde ocorrerá a ação militar, visando a adoção das

medidas preventivas necessárias e as condutas de saúde frente à ocorrência de casos de

doenças previsíveis de acontecer na área em questão. Nessa fase, são avaliadas as vacinações

necessárias, assim como a utilização de medicamentos profiláticos. Além disso, sempre deve

ser considerada a possibilidade surgimento de uma doença emergente, de difícil

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caracterização, e a utilização pelo inimigo de armas biológicas. Em qualquer caso, sempre

será importante a rápida identificação do agente etiológico, pois disso dependerá a avaliação

dos riscos para a tropa e a própria continuidade da operação militar.

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5 A ESTRUTURA EXISTENTE PARA PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E

TRATAMENTO DAS DOENÇAS RELACIONADAS À DEFESA BIOLÓGICA

Durante o planejamento de uma Operação Militar, seja em tempo de paz para

treinamento ou em situações reais de conflito, é indispensável um estudo preliminar da área

na qual se dará a operação, visando prevenir ou minimizar os riscos de doenças e lesões que

possam vir a acometer os militares envolvidos. Tal atividade é inerente a Função Logística

Saúde sendo considerada uma das principais atribuições da Medicina Militar (MURRAY,

2007).

A atenção específica quanto à possibilidade de ocorrência de doenças infecciosas,

também está prevista, constando em detalhes no Capítulo 10 da DGMP-405 (BRASIL, 2009).

Também são avaliados o tipo de operação militar, a duração da campanha, as facilidades

médicas disponíveis e a possibilidade da utilização de armas biológicas pelo inimigo.

Esse conjunto de informações constitui a base das decisões que serão tomadas em

relação a vacinas, quimioprofilaxia, tipo de equipamentos e produtos de proteção individual e

dimensionamento da equipe e material de saúde que necessários.

A Portaria nº 1.631/2014 do Ministério da Defesa institui o Calendário de Vacinação

Militar “visando ao controle, à eliminação e à erradicação das doenças imunopreveníveis e à

padronização das normas de imunização para os militares das Forças Armadas” (Anexo A). O

calendário inclui vacinas contra a maioria das doenças imunopreveníveis comuns no território

nacional, ressaltando que “para cada deslocamento de militar ao exterior havera uma

complementação vacinal específica, de acordo com avaliação criteriosa da situação

epidemiológica da area da missao”. Embora a referida Portaria substitua a anterior sobre o

mesmo tema (Portaria 657/2009 do MD), ainda não prevê a vacinação rotineira contra

hepatite A, já incluída no Calendário Básico de Vacinação da Criança do Ministério da Saúde.

A quimioprofilaxia contra malária - e eventualmente contra outras doenças como

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leptospirose - ainda é um tema controverso, principalmente em decorrência dos possíveis

efeitos colaterais causados pelos medicamentos e pelo risco da utilização em larga escala

propiciar o surgimento de parasitas resistentes aos tratamentos. Assim, sua utilização deve ser

considerada em cada situação específica e, se possível, avaliando os riscos e benefícios

individuais.

O Departamento de Defesa dos EUA (“Department of Defense” - DoD), disponibiliza

para os militares um sistema repelente de vetores que inclui fardamento impregnado com

permetrina, uso de loções a base de DEET (dietiltoluamida) na pele exposta, rede contra

insetos também impregnada com permetrina e uso de quimioprofilaxia quando necessária

(Anexo B). No Brasil, ainda não há um sistema semelhante ao norte-americano e nem

padronização, entre as Forças Singulares, quanto às formas de afastar insetos e outros vetores

dos militares que permanecem em áreas sujeitas a doenças endêmicas.

Embora o Brasil, historicamente, não seja um país sob particular risco de ataques

terroristas de qualquer natureza, os Grandes Eventos que têm ocorrido em nosso território,

atraindo turistas estrangeiros de todas as partes do mundo, podem ser considerados por grupos

extremistas como oportunidades de exercer suas atividades criminosas. Na verdade, o próprio

afluxo de pessoas resulta naturalmente em uma maior possibilidade de entrada no país de

agentes biológicos potencialmente capazes de causar graves problemas de saúde pública.

Sem dúvida, as circunstâncias relacionadas aos Grandes Eventos trazem consigo,

inevitavelmente, a necessidade de planejamentos especiais visando mitigar os riscos de

introdução de doenças no país. Todavia, a própria realidade epidemiológica do Brasil e das

regiões estrangeiras nas quais a MB tem atuado, são justificativas suficientes para incrementar

e modernizar a nossa capacidade de defesa biológica, pois essa tem sido a origem das

ocorrências de doenças infecciosas entre os militares em missão operativa.

Quando uma doença infecciosa acomete um militar em missão operativa, a suspeita

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diagnóstica pode ocorrer durante ou após a missão, dependendo do período de incubação da

doença em questão. Os recursos diagnósticos disponíveis na própria área de operações,

mesmo quando há um hospital de campanha, como no caso das ações de Fuzileiros Navais, ou

uma Divisão de Saúde, como nos navios de maior porte, não costumam ser suficientes para

uma conclusão definitiva. Militares que apresentam sintomas agudos e com maior gravidade

são evacuados para os hospitais mais próximos. Casos crônicos, com menor potencial de

gravidade, são encaminhados aos hospitais militares.

Os Hospitais Distritais e a Policlínicas da MB, apesar de oferecerem serviços de saúde

diversificados e uma grande gama de especialidades médicas, não dispõem atualmente de

estrutura adequada, ou pessoal capacitado, para manter internado um paciente portador de

doença infecciosa grave e de alta transmissibilidade. Se tais doenças ocorrerem, as

Autoridades de Saúde da área serão notificadas e, possivelmente, os pacientes serão

transferidos para os hospitais públicos de referência.

A Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HNMD recebe a grande maioria

desses pacientes, provenientes de diversas regiões do Brasil e também do exterior. A

especialidade está fisicamente localizada no pavilhão Heraldo Maciel, afastado do corpo

principal do hospital, contando com 12 enfermarias de isolamento respiratório, capacitadas a

internação de até 16 pacientes (pois há 4 enfermarias que podem receber 2 pacientes cada). As

enfermarias possuem uma antessala e um sistema de exaustão que confere uma pressão

negativa no seu em comparação com as áreas externas. O ar interior é exaurido para a

atmosfera através de um equipamento capacitado a realizar filtragem efetiva (filtro HEPA -

“high-efficiency particulate air filter”), impedindo a disseminação do agente infeccioso para o

ambiente externo. O prédio, entretanto, é antigo e, apesar da estrutura descrita, não está nas

condições ideais para receber pacientes portadores de doenças causadas por germes muito

agressivos e de fácil disseminação, como o vírus Ebola, por exemplo.

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A despeito das doenças causadas por agentes biológicos realmente fazerem parte do

cotidiano de qualquer unidade de saúde, em algumas circunstâncias, notadamente aquelas que

envolvem micro-organismos pouco comuns ou emergentes, pode haver grande dificuldade na

identificação do agente infeccioso.

Seguem relatos de algumas situações verídicas observadas na Clínica de Doenças

Infecciosas e Parasitárias do Hospital Naval Marcílio Dias.

Fevereiro/2009 - Seis militares da ativa da MB, oficiais e praças entre 27 e 42 anos,

foram atendidos na Clínica de DIP do HNMD apresentando lesões cutâneas ulceradas,

características de leishmaniose (figuras 6 e 7). Todos eram recém-egressos do Curso de

Operações Anfíbias, com uma das fases em região florestal do Centro de Instrução de Guerra

na Selva (CIGS) do Exército Brasileiro (EB), localizado em Manaus (AM). Dos 30 militares

que fizeram o curso, 6 apresentaram a doença clínica, isto é, 20% dos militares que estavam

no curso.

Figura 6 – Leishmaniose tegumentar no 1° dedo do

pé direito.

Figura 7 – Leishmaniose tegumentar em palma

direita.

As lesões foram submetidas a biópsias, realizadas no Serviço de Anatomia Patológica

do HNMD, confirmando a suspeita clínica. Trata-se de uma doença inicialmente cutânea que,

embora não seja letal, pode atingir tecidos profundos e levar a mutilações incapacitantes. A

terapia é realizada com medicamentos altamente tóxicos, aplicados com o paciente internado

nos primeiros dias, que podem ocasionar arritmias cardíacas, insuficiência renal, anemia e,

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raramente, morte súbita. Os seis pacientes evoluíram para a cura completa, embora dois

tenham apresentado recidiva da doença e necessitado novo ciclo terapêutico.

Janeiro/2011 – Nove militares Fuzileiros Navais são internados no HNMD com

quadro de febre e manifestações hemorrágicas, após regressarem de curso na região de

Mangaratiba (RJ). Dos 16 militares que realizaram o curso, 11 apresentaram a doença, que

inicialmente não foi identificada com os meios diagnósticos disponíveis no HNMD.

Posteriormente, em exame realizado na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), foi identificada

a bactéria Leptospira interrogans, causadora da leptospirose, doença que pode se manifestar

de forma agressiva e potencialmente fatal. Não houve óbitos e os pacientes se recuperaram

após tratamento com antibióticos. A terapia foi iniciada rapidamente, de forma empírica (sem

que se houvesse ainda a certeza do diagnóstico), nos primeiros dias de internação, devido à

gravidade dos casos. A taxa de ataque, que representa a proporção de pessoas que

apresentaram a doença dentre todas as que foram expostas ao micro-organismo, foi de

68,75%, considerada muito elevada. A bactéria identificada pertencia a uma variante silvestre

que provavelmente estava presente na urina de animais característicos da região, como a

capivara (SCHETTINI, 2014).

Agosto/2011 – Sessenta e dois recrutas do Centro de Instrução Almirante Milcíades

Portela Alves (CIAMPA), foram internados no HNMD com quadro de infecção respiratória.

Seis recrutas apresentaram quadro grave e dois necessitaram transferência para a Unidade de

Terapia Intensiva (UTI). Seguindo o protocolo recomendado para pacientes portadores de

Síndrome Respiratória Aguda Grave, os pacientes foram submetidos a tratamento para

pneumonia e influenza, com boa evolução. Os testes laboratoriais realizados pela FIOCRUZ

identificaram o agente causador do surto como sendo o vírus da influenza B. A evolução mais

grave de alguns pacientes, foi atribuída a pneumonia bacteriana, que frequentemente é

responsável pelo agravamento dos casos de influenza (PASMAN, 2012).

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Maio/2014 – O Navio Patrulha Oceânico (NaPOc) APA, em comissão em Angola,

apresenta surto de diarreia infecciosa que acometeu 60 militares de uma tripulação de 90

homens. Apenas um militar foi submetido a exame laboratorial, com resultado sugestivo, mas

não conclusivo, de febre tifoide, doença potencialmente grave. O oficial médico do navio,

após entrar em contato com os infectologistas do HNMD, optou por tratar todos os pacientes

com antibiótico ativo contra a bactéria suspeita e também contra outros micro-organismos

possíveis. Os militares evoluíram bem e, quando o navio atracou no Rio de Janeiro, já

estavam todos assintomáticos. Ainda assim, foram reavaliados pela Clínica de DIP do HNMD

e submetidos a exames laboratoriais, com todos os resultados negativos. O agente infeccioso

causador do surto não pôde ser identificado de forma conclusiva.

Junho/2014 – No ano de 2014, até o mês de julho, 20 casos de febre chikungunya

foram registrados no Brasil. Dezessete desses casos foram identificados entre militares e

missionários brasileiros que retornaram do Haiti. Alguns militares que voltaram para o Rio de

Janeiro, também foram avaliados pela Clínica de DIP do HNMD. Somente um paciente pode

fazer exame, com resultado negativo. Houve grande dificuldade na realização do exame no

Rio de Janeiro. Os exames dos militares que regressaram para São Paulo foram realizados

pelo Instituto Adolfo Lutz, laboratório de referencia ligado a Secretaria de Estado de Saúde de

São Paulo.

Os relatos apresentados revelam apenas algumas situações identificadas pela Clínica

de DIP do HNMD, pois muitas outras poderiam ser citadas. Ainda assim, refletem algumas

fragilidades na defesa biológica da MB, especialmente na identificação dos micro-organismos

por métodos rápidos. No entanto, uma nova mentalidade vem surgindo, impulsionada pela

maior participação da MB em operações de manutenção da paz e pelos eventos que tem

atraído multidões para nossas cidades. Nesse cenário torna-se evidente o aumento na

possibilidade exposição dos militares e da população em geral à ação de agentes biológicos

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emergentes, quer sejam eles introduzidos de forma natural ou deliberada.

Recentemente a MB adquiriu um laboratório móvel com capacidade de identificar

ameaças NQBR. Em relação aos agentes biológicos o laboratório possui equipamento de

biologia molecular (“Polymerase Chain Reaction” – PCR), capaz de fazer a identificação de

antraz, Brucella melitensis, botulismo, Coxiella burnetti, Escherichia coli O157, tularemia,

ricina, salmonela, varíola e peste. O laboratório móvel deverá ficar disponibilizado para a

UMEM, com objetivo de dotar aquela OM de capacidade de detecção NBQR sempre que

atuar em áreas consideradas sob risco de ameaças dessa natureza.

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6 A INTEROPERABILIDADE NO CAMPO DA DEFESA BIOLÓGICA COM

AS DEMAIS FORÇAS ARMADAS, FORÇAS AUXILIARES E ÓRGÃOS

PÚBLICOS DE SAÚDE

O Ministério da Defesa, através da Portaria Normativa nº 585 de 07 de março de 2013

(BRASIL, 2013a), aprovou as “Diretrizes de Biossegurança, Bioproteção e Defesa Biológica

do Ministério da Defesa”, tratando o tema biológico de forma exclusiva, em contraste com

documentos anteriores, nos quais a ameaça biológica foi abordada em conjunto com os

tópicos nuclear, radiológico e químico. A iniciativa reflete a relevância do assunto, não

apenas para o MD e para as Forças Armadas, mas para todas as instituições envolvidas com

defesa, segurança e saúde, assim como para a sociedade civil. No documento também fica

claro o incentivo a ações que proporcionem a interação das Forças e destas com entidades

públicas e privadas, como se pode observar, por exemplo, nas Diretrizes I e VI, citadas a

seguir:

I - racionalizar, otimizar e compartilhar os processos decisórios, no que tange ao

preparo e ao emprego das Forças Armadas nas ações de biossegurança, bioproteção

e de defesa biológica e seus impactos na Defesa Nacional, de modo a contribuir para

os objetivos das Políticas de Defesa Nacional e de Defesa Civil (BRASIL, 2013a).

VI - proporcionar a interação do MD e Forças Armadas com as entidades civis

públicas e privadas, visando às ações de biossegurança, bioproteção e de defesa

biológica, nos casos de ameaças, ataques ou desastres em que estejam envolvidos

agentes biológicos, toxínicos e OGM (BRASIL, 2013a)

Convém destacar que a MB, pela portaria do EMA n° 83 de 05 de maio de 2011

(BRASIL, 2011a), já havia estabelecido a implantação do Sistema de Defesa NBQR da MB

(SisDefNBQR-MB), com a seguinte definição:

O SisDefNBQR-MB é o conjunto de estruturas organizacionais da MB que exercem

atividades operacionais e de inteligência relacionadas ao combate a emergências de

natureza nuclear, biológica, química e radiológica, no contexto das operações navais

e de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), em estreita cooperação com o órgão central

do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) (BRASIL, 2011a).

Da mesma forma, observa-se que a interação é recomendada como uma das

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condicionantes do sistema.

O SisDefNBQR-MB deve considerar, tão somente, as estruturas existentes na MB,

mas deve ter a capacidade de integrar-se a setores extra-MB, a fim de estar em

condições de coordenar um sistema no âmbito das Forças Armadas (BRASIL,

2011a).

O SisDefNBQR-MB foi concebido em níveis de atuação, com a seguinte estrutura:

1° Nível – Envolve todas as OM, tendo como propósito atender aos requisitos de

capacitação, ciência e tecnologia, inteligência, logística e ao requisito operacional da

prevenção. Consta dentro do requisito logística a observação:

Cabe ressaltar a elevada importância das OM componentes do Subsistema de Saúde

da MB, principalmente, a DSM, o CMOpM, a UMEM, o HNMD e o LFM, no que

tange à preparação preventiva de instalações e pessoal de saúde para o adequado e

específico atendimento a pacientes contaminados por agentes NBQR (BRASIL,

2011a).

2° Nível - Tem como propósito atender aos requisitos operacionais da detecção, por

meio da constituição de uma Equipe de Detecção NQBR qualificada por Distrito Naval, que

devem ser dotadas de EPI apropriados, assim como de detectores químicos, biológicos e

nucleares. Os Distritos Navais devem providenciar a qualificação mínima de militares de

saúde dos Hospitais Distritais, assim como preparação de ambulâncias e instalações visando o

atendimento inicial em acidentados NBQR, com o apoio do CMOpM.

3° Nível - Tem, como propósito, atender aos requisitos operacionais da resposta em

qualquer lugar do país, mantendo para tanto o PelDefQBN do BtlEngFuzNav, localizado no

Rio de Janeiro, como fração especializada de emprego em tarefas NBQR.

4° Nível - Tem como propósito atender somente às instalações sensíveis da MB, por

meio das CiaDefQBN Aramar e Itaguaí.

A Portaria define também as atribuições de todos os órgãos envolvidos, sendo

transcritas a seguir aquelas mais relacionadas com a defesa biológica:

Compete à Diretoria de Saúde da Marinha (DSM):

a) planejar e supervisionar as atividades técnicas e gerenciais do Sistema de Saúde

da Marinha, a fim de garantir a melhoria contínua do atendimento a vitimas de

agentes NBQR;

b) realizar a aquisição de equipamentos e material permanente de saúde, relativos ao

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atendimento a vitimas de agentes NBQR;

c) atualizar a catalogação do material de Símbolo de Jurisdição "Q" (medicamentos,

artigos de saúde e substancias e produtos químicos de uso específico da area de

saúde), que sejam relativos a agentes NBQR;

d) manter e desenvolver o CMOpM, como Orgao de Capacitaçao do Sistema de

Saúde da Marinha em atendimentos a vítimas de agentes NBQR; e

e) capacitar o LFM, na produção de medicamentos e agentes descontaminantes,

necessarios ao atendimento a vítimas de agentes NBQR (BRASIL, 2011a).

Ao Hospital Naval Marcílio Dias Coube as seguintes atribuições:

Compete ao Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD):

a) contribuir para a eficacia do Sistema de Saúde da Marinha, prestando atendimento médico-hospitalar em nível terciario, a vítimas de agentes NBQR;

b) incrementar a aplicaçao de cursos em sua área de competência, adicionando os

procedimentos referentes a vítimas de agentes NBQR;

c) efetuar o planejamento e a execução das atividades de pesquisa biomédica

voltados para os agentes NBQR; e

d) cooperar com o CAAML e CMOpM na capacitação de pessoal, com aulas

específicas, quando solicitado (BRASIL, 2011a).

O Exército Brasileiro, por sua vez, editou a Portaria nº 204/EME, de 14 de dezembro

de 2012 (BRASIL, 2012c), definindo o Sistema de Defesa Química, Biológica, Radiológica e

Nuclear do EB (SisDQBRNEx). Entre os objetivos do SisDQBRNEx, alguns referem

explicitamente o fomento à interação com outras instituições.

Permitir a atuação com as demais Forças Armadas (FA), no contexto de operações

conjuntas (interoperabilidade), combinadas (multinacionais) e com agências

governamentais e não governamentais no âmbito de operações em ambiente

interagências na área de proteção QBRN. Cooperar com o Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), o Sistema de

Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON) e outras instituições/órgãos

quando autorizado, abarcando as medidas de prevenção, preparação para

emergências, capacitação de recursos humanos e pronta resposta a incidentes,

acidentes ou desastres envolvendo agentes QBRN (BRASIL, 2012c).

Como parte das atribuições do Departamento-Geral de Pessoal do EB, em relação ao

SisDQBRNEx, consta a de “instalar e operar no IBEx, um laboratório de referência para

identificação de agentes biológicos com nível de contenção, no mínimo 3 (NB-3), quando

determinado”. Tal intenção deixa clara a preocupação específica do EB com a defesa

biológica.

Durante a organização para receber os grandes eventos públicos de importância

internacional, ficou evidente desde os primeiros preparativos, uma grande preocupação com a

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RESERVADO

possibilidade de ocorrências NBQRE, fossem elas acidenteis ou intencionais. A concentração

de pessoas provenientes de todo o planeta, aumenta inevitavelmente o risco de disseminação

de doenças naturais. Além disso, a atenção da mídia global pode representar, para grupos

terroristas de qualquer natureza, a oportunidade de agir utilizando as mais diversas táticas.

Dessa forma, ao ser candidato a hospedar eventos dessa natureza, o Brasil trouxe para si a

responsabilidade de oferecer toda a segurança possível para estrangeiros e brasileiros que

viessem a participar dos eventos. Para o país que, embora com graves problemas de segurança

interna, não possui histórico de atentados terroristas, tratava-se de um enorme desafio.

Assim, foi publicado em fevereiro de 2013, o “Planejamento Estratégico de Segurança

Pública e de Defesa para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014” (BRASIL, 2013b), com

envolvimento de diversas instituições, conforme ilustra a figura 8.

Figura 8 – Instituições evolvidas na segurança durante a Copa do Mundo de 2014 (BRASIL, 2013b).

O capítulo dois desse documento tem como título “O Maior Legado: a Integraçao” e o

seu segundo parágrafo está assim redigido:

O escopo do Planejamento Estratégico para a Segurança Pública durante a Copa do Mundo objetiva a integração das instituições, com consequentes resultados na forma

de utilização de recursos humanos, materiais e financeiros (BRASIL, 2013b).

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O Grupamento de Operações com Produtos Perigosos (GOPP) é uma unidade do

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), especializada em

Defesa Química, Biológica, Radiológica, Nuclear e Explosivos (DQBRNE). Durante a Copa

do Mundo, o GOPP manteve uma equipe em condições de pronto emprego, baseada em sua

Unidade. Essa equipe contou com o apoio do Esquadrão Antibombas da Policia Civil do

Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) da

Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Departamento de Bacteriologia da

FIOCRUZ, do Batalhão QBRNE do EB e do Centro Tecnológico do Exército (CETEx).

Tais exemplos demonstram de forma inequívoca, que a interação entre as diversas

instituições ligadas à Segurança e à Defesa, já é uma realidade, inclusive em relação à defesa

biológica, ainda que se possa considerar que apenas os primeiros passos estão sendo dados

nesse longo percurso.

O Plano de Contingência para Emergência em Saúde Pública por agente Químico,

Biológico, Radiológico e Nuclear, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014 (BRASIL,

2014b), tem como objetivo nortear a atuação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do

na resposta a eventos NBQR. O documento especifica que a resposta do setor saúde em

eventos dessa natureza “é voltada para o desenvolvimento de ações de vigilância em saúde no

monitoramento ambiental e epidemiológico, e na prestação de assistência médica às vítimas”

(BRASIL, 2014b).

O sistema público de coleta de informações epidemiológicas possivelmente é a melhor

ferramenta que o país dispõe para identificar ocorrências de doenças com potencial

epidêmico. Periodicamente, o Ministério da Saúde torna pública uma lista com doenças e

agravos a saúde de notificação compulsória (BRASIL, 2014a). Notificação é a comunicação

de ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por

profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção

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pertinentes. O objetivo é a centralização de informações para serem analisadas por

especialistas em epidemiologia. Se, por exemplo, um único caso de meningite é atendido em

um determinado hospital, o fato deve ser notificado às autoridades de saúde, pois é possível

que outros casos estejam ocorrendo e sendo atendidos em diversas instituições, o que poderia

caracterizar um surto local ou mesmo o início de uma epidemia. Essa conclusão somente será

possível se cada unidade de saúde notificar os casos com a rapidez necessária.

O Hospital Naval Marcílio Dias conta com um Serviço de Vigilância Epidemiológica

desde fevereiro de 2008. Os profissionais verificam diariamente todas as internações e

passagens pela emergência com o proposito de identificar pacientes portadores de doenças de

notificação compulsória. As informações obtidas são passadas para os órgãos públicos

responsáveis e para o CMAM, OM que centraliza os dados epidemiológicos no âmbito da

MB. Sempre que necessário, as próprias instituições de saúde pública, providenciam vacinas e

exames laboratoriais especializados, quando não disponíveis no próprio hospital.

Atualmente a coleta de dados é realizada através do Sistema de Informação de

Agravos de Notificação (SINAN), que funciona via Internet, a partir de casos identificados de

doenças que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória, especificada

pela Portaria nº 1.271, de 06 de junho de 2014 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014a).

Além da lista nacional, as Unidades da Federação têm a liberdade de incluir outros problemas

de saúde de especial importância para o Estado ou Região.

A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde criou através da Portaria

n° 30 de 07 de julho de 2005 (BRASIL, 2014c), o Centro de Informações Estratégicas em

Vigilância em Saúde (CIEVS). O CIEVS tem a função de identificar doenças que

signifiquem risco elevado à saúde pública, atuando rapidamente com equipes de profissionais

especializados, enviadas a campo para investigação epidemiológica e estabelecimento de

medidas de controle da disseminação de doenças, de acordo com a “tríade constitutiva da

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vigilância epidemiológica: informação-decisão-açao”. Atua em conjunto com laboratórios

capacitados a identificar micro-organismos emergentes ou pouco comuns no território

nacional. Seguindo a filosofia de descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS), o

conceito foi adotado por diversos Governos Estaduais e Municipais, formando a Rede CIEVS

composta por unidades vinculadas às Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, além da

Unidade Nacional, que permanece sob a gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde do

Ministério da Saúde.

A concepção do CIEVS está associada à iniciativa da Organização Mundial de Saúde

(OMS) que, preocupada com a disseminação internacional de doenças capazes de causar

epidemias e pandemias, ocasionando perdas de vidas humanas e interferência nas atividades

de turismo e comércio, formulou o Regulamento Sanitário Internacional (RSI) no ano de

2005. O objetivo principal do RSI é orientar os órgãos de saúde de todos os países quanto a

possível ocorrência de doenças inusitadas de interesse para a saúde coletiva internacional e

que podem exigir ações coordenadas de diversos países e instituições especializadas. A Figura

9 demonstra de, forma simplificada, as etapas a serem avaliadas para que um determinado

evento seja considerado de relevância internacional. Um exemplo recente, ainda em

andamento, é a epidemia de Ebola que está acometendo a África Ocidental, com risco de

propagação para outros continentes e, por esse motivo, tendo recebido no início de agosto de

2014 a denominação de “Emergencia de Saúde Pública de Preocupaçao Internacional”.

Em diversas oportunidades o SSM acionou o CIEVS por haver identificado casos de

pacientes portadores de doenças que pudessem significar risco elevado para a saúde coletiva.

Tais foram os casos da pandemia de influenza A H1N1 (“Gripe Suína”) em 2009 e os eventos

de militares com leptospirose e influenza B, ocorridos em 2011, já comentados no capítulo 5.

Nessas oportunidades foi possível testemunhar a eficiência do sistema, a facilidade de

interação e a disponibilidade e qualidade técnica dos profissionais envolvidos.

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Figura 9 - Algoritmo para avaliação de evento de relevância internacional (WHO, 2014d).

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7 DISCUSSÃO

Em 13 de fevereiro de 2014, a Casa Branca lançou uma importante iniciativa com a

criação da Agenda de Segurança da Saúde Global (“Global Health Security Agenda” – GHS

Agenda), uma colaboração, liderada pelos EUA, com mais de 30 países, incluindo

organizações internacionais não governamentais, além de entidades públicas e privadas. O

objetivo da Agenda GHS é "acelerar o progresso em direção a um mundo seguro e protegido

contra as ameaças de doenças infecciosas” (GOSTIN, 2014).

Durante o primeiro encontro da Agenda GHS, ocorrido em Helsinki entre 05 e 06 de

maio de 2014, Thomas Frieden, Diretor do CDC e Andrew Weber, Secretário Assistente do

Programa de Defesa Nuclear, Química e Biológica do Departamento de Defesa dos EUA,

divulgaram uma nota através da página da internet da rede de notícias americana CNN, com o

título “Por que a Segurança da Saúde Global Interessa aos Estados Unidos”. O artigo deixa

clara a aproximação cada vez maior das áreas de defesa e saúde, como exemplifica o trecho a

seguir:

Interromper os surtos onde eles se iniciam é a maneira mais eficaz e menos

dispendiosa para salvar vidas aqui no nosso país, bem como no exterior. Além disso,

é a coisa certa a fazer. Para alcançar este objetivo, estamos melhorando a forma de

distribuir nossos programas para aperfeiçoar a prevenção e a defesa tanto contra as

doenças que ocorrem naturalmente, quanto as causadas por ataques biológicos

deliberados. Trabalhando juntos, quando for apropriado, irá incentivar a melhor

utilização dos nossos recursos para aprimorar a segurança da saúde de outras nações e, por extensão, a dos Estados Unidos.

O CDC e DoD compartilham uma missão principal: fortalecer a nossa segurança

nacional e a saúde. A colaboração entre as duas agências já aperfeiçoou testes de

diagnóstico para a peste e outras doenças infecciosas, encontrou maneiras mais

eficientes de usar vacinas contra o antraz e reduziu o risco de terroristas poderem

acessar patógenos perigosos ao redor do mundo. Além disso, estamos coordenando

esforços para construir e articular redes globais para aprimorar o rastreamento de

doenças em tempo real (FRIEDEN, 2014).

Assim, pode-se verificar que as ocorrências de doenças infecciosas, em qualquer parte

do planeta, têm sido compreendidas pelos EUA como um problema de Segurança Nacional e

as ações devem ser conduzidas, preferencialmente, no local onde estiver ocorrendo. Atitudes

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dessa natureza, além do aspecto humanitário, concorrem para um mundo mais seguro, pois já

se compreendeu através da história recente, que “micro-organismos perigosos podem

difundir-se rapidamente, enfraquecendo nações desenvolvidas e devastando países menos

preparados” (FRIEDEN, 2014).

Na atual epidemia de Ebola, diversas instituições de várias nacionalidades estão

atuando nos três países mais afetados. O CDC já enviou para a região mais de 50 profissionais

especializados, demonstrando a real preocupação com as ocorrências internacionais.

As autoridades de saúde do Brasil também têm compreendido a importância do tema

e, iniciativas como a do CIEVS, refletem as ações práticas já adotadas.

A MB, em consonância com os seus Objetivos Estratégicos, e com os acontecimentos

nacionais e internacionais relacionados à defesa biológica, vem aperfeiçoando seus

mecanismos de defesa NQBR.

As situações descritas no capítulo 5 evidenciam que a expansão das atividades da MB,

seja no próprio território nacional ou fora dele, traz inevitavelmente uma maior exposição a

doenças até então pouco comuns ou mesmo inexistentes em nosso meio. É provável que um

planejamento direcionado especificamente para as ameaças biológicas (naturais ou

intencionais) possa contribuir para a prevenção dessas doenças. Além disso, em todas as

situações referidas houve dificuldade em se realizar o diagnóstico de forma rápida. Apenas no

caso da Leishmaniose, o diagnóstico foi realizado pelo HNMD, através do Serviço de

Anatomia Patológica (biópsia da lesão). Nos casos da leptospirose e da influenza B os exames

confirmatórios foram realizados pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). O surto

de diarreia infecciosa que ocorreu no NPaOc APA permanece ainda sem esclarecimento de

sua causa, pois os exames realizados após o retorno do navio tiveram resultados

inconclusivos. Quanto ao vírus chikungunya, os casos identificados em São Paulo foram

confirmados pelo Instituto Adolfo Lutz, Ligado à Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo.

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Os exames de casos suspeitos de chikungunya no Rio de Janeiro têm sido realizados pela

FIOCRUZ.

Em situações cotidianas e em tempo e paz, é possível que esse fluxo de informações e

essa descentralização na realização dos exames laboratoriais, tenham a rapidez e a precisão

necessárias e suficientes para os objetivos de vigilância epidemiológica. Entretanto, ao

considerarmos as peculiaridades das operações navais (ou operações militares como um todo),

os fatores tempo e precisão adquirem uma dimensão diferente daquela atribuída pela Saúde

Pública. O próprio planejamento da Operação Militar pode necessitar adaptações adequadas a

um novo cenário, permeado agora por ameaças que vão exigir atitudes rápidas e precisas.

Basta imaginarmos o cenário que ocorreria caso o NPaOc APA, envolvido em uma hipotética

situação de conflito real, estivesse com de 70% de sua tripulação acometida por diarreia

infecciosa.

Segundo Murray e Horvath (2007), o desafio de enfrentar as doenças infecciosas nas

áreas de operação militar deve ser abordado sob seis aspectos: (a) preparação; (b) educação;

(c) medidas de proteção individual; (d) vacinas; (e) quimioprofilaxia; e (f) vigilância. Segue

abaixo, de forma resumida, o significado prático de cada um desses aspectos, lembrando que,

embora sejam recomendações direcionadas para a realidade das Forças Armadas dos EUA,

podem ser adaptadas e aplicadas por qualquer outro Estado, incluindo as operações

humanitárias.

Preparação – Essa deve ser a principal ênfase médica antes de qualquer intervenção

militar. Conhecer e estudar a área em relação às doenças infecciosas possíveis de afetar os

militares mobilizados. Devem ser considerados o tipo de Operação Militar, a duração

estimada, e a localização geográfica. Os médicos militares especializados em doenças

infecciosas devem estudar a epidemiologia da área e, sempre que possível, consultar entidades

militares e civis da região a fim de obter informações atualizadas.

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RESERVADO

Educação - Após as informações pertinentes às doenças infecciosas terem sido obtidas,

devem ser repassadas a todo pessoal envolvido na Operação, incluindo os médicos e

enfermeiros responsáveis pela prestação de cuidados de saúde no Teatro de Operações. Os

militares assistem a palestras, ou reuniões em pequenos grupos, sobre os riscos específicos da

área em questão, durante as quais são fornecidas as recomendações individuais para

prevenção de doenças. A efetiva implementação das recomendações é realizada pelo

Comandante da Missão, e não pelo pessoal médico, pois está incluída como mais uma medida

de proteção da força. Tradicionalmente, os comandantes aderem às recomendações fornecidas

pelos profissionais de saúde.

Medidas de proteção individual – Cuidados com a água e alimentação e atenção à

higiene pessoal, com ênfase à lavagem das mãos, estão entre as principais medidas

preventivas de diarreias e gastroenterites. Evitar exposição a vetores também deve estar entre

as medidas de proteção individual. No entanto, isso nem sempre é possível, por causa do

ritmo operacional e a natureza da ameaça. O Exército dos EUA utiliza três componentes,

incluindo aplicação tópica de DEET, o tratamento de uniformes de campo com permetrina, e

utilização adequada dos uniformes de campanha, com mangas desdobradas, camiseta por

dentro das calças e pernas das calças por dentro dos coturnos, reduzindo ao mínimo a

exposição cutânea (Anexo B).

Vacinas – Nos EUA, os militares são rotineiramente submetidos à administração de

vacinas no momento da incorporação, sendo posteriormente avaliados anualmente quanto à

necessidade de reforços. As vacinas de rotina incluem sarampo, caxumba, rubéola, tétano,

difteria, coqueluche, meningococo (bactéria causadora da meningite), influenza, poliomielite,

hepatite A, febre tifoide e varicela. Outras vacinas podem ser utilizadas em operações no

exterior, de acordo com a área geográfica em questão, tais como encefalite japonesa, febre

amarela, varíola e antraz. A varíola, embora sua ocorrência natural tenha sido considerada

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extinta desde 1977, pode ressurgir a partir de incidentes em laboratórios que ainda manipulam

o vírus ou por ação intencional. Trata-se de uma doença grave, altamente transmissível, que

pode levar a morte 30% das pessoas que a contraem. Sua ocorrência em qualquer ponto do

planeta seria catastrófica, pois encontraria uma população humana vulnerável, já que a

vacinação foi interrompida há mais de 30 anos. Alguns países, como os EUA, Dinamarca,

Israel e França, possuem estoque de vacina contra varíola suficiente para imunizar 95% ou

mais de sua população, em caso de reaparecimento da doença. Entretanto, a vacina contra

varíola atualmente disponível pode causar graves efeitos colaterais, o que seria um sério

problema em caso necessidade de vacinação em massa. Assim, como o risco de ocorrência de

varíola, embora baixo, é real, novas vacinas, muito mais seguras que as anteriores, têm sido

desenvolvidas e, possivelmente, serão adotadas por alguns Estados que se considerem mais

expostos ao reaparecimento da doença (HEEGAARD, 2014).

Quimioprofilaxia – A utilização profilática de medicamentos, também denominada

quimioprofilaxia, é fundamental para a prevenção de certas doenças, como a malária. As

recomendações podem ser efetivadas dependendo do risco potencial da área onde se dará a

Operação Militar e a decisão de implementar as recomendações está sob o controle do

comando militar. Outras doenças como leptospirose, também podem ser evitadas com o uso

de antibióticos profiláticos, sendo especialmente recomendados em operações em florestas

que envolvam contato com água estagnada como lagos e charcos.

Vigilância – O monitoramento (vigilância) de doenças que estão ocorrendo na tropa é

fundamental durante as campanhas militares, e após a sua conclusão. Da mesma forma que as

doenças de notificação compulsória nos EUA, os militares americanos têm sistemas próprios

de rastreamento para doenças infecciosas. Durante as campanhas, há relatos diários para o

comando, detalhando casos selecionados de doenças infecciosas. Este monitoramento em

tempo real permite pronta instituição de intervenções apropriadas. Além disso, equipes

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especializadas, com experiência em certos aspectos das doenças infecciosas, podem ser

levadas para a área visando identificar possíveis exposições a riscos biológicos e traçar a

estratégia adequada para a situação.

Nesse sentido, pode-se observar que a “abordagem em seis aspectos”, descrita por

Murray e Horvath (2007), para minimizar a ameaça biológica nas Forças Armadas dos EUA,

é passível de ser adaptada para a realidade do Brasil. Seja em uma Operação Naval ou em

uma Operação de Ajuda Humanitária, a Medicina Operativa tem mais a oferecer, participando

diretamente do planejamento das operações e monitorando, junto com o Setor Operativo, a

situação de saúde na região das operações militares. Seria possível, por exemplo, obter

amostras de material biológico (sangue, saliva, fezes) e transportá-las com rapidez até um

centro de referência, visando submeter tais amostras a exames laboratoriais capazes de

identificar as principais ameaças biológicas.

A Figura 10 exemplifica a sugestão do autor, através de um algoritmo, sistematizando

o planejamento para prevenção e identificação precoce de doenças transmissíveis em

determinado Teatro de Operações. A ênfase sempre deve ser na prevenção das doenças.

Entretanto, caso ocorram, ou mesmo em uma simples suspeita, sugere-se que as amostras

biológicas sigam para uma Organização Militar de Saúde (OMS) capacitada a realizar exames

de forma segura, rápida e precisa, seguindo, paralelamente, o trâmite normal para as esferas

de Saúde Pública.

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Medidas preventivas adequadas às regiões

Região das Operações Militares ou

Operações Humanitárias

Monitoramento do pessoal e do ambiente

Riscos

potenciais

?

Coleta de material - Inativação - Acondicionamento

- Transporte

HNMD IBEX Órgãos públicos ONU Órgãos internacionais

Análise por grupo de especialistas

civis e militares

Notificação às Autoridades de

Saúde

Necessidade de medidas

específicas

CMOpM, UMEM MD, EB, FAB

Sim

NÃO

Identificação de agente biológico

NÃO

Sim

- Avaliar necessidade

de evacuação ou

isolamento de vítimas.

Planejamento

- Doenças entre militares ou civis

na área;

- Água, alimentos ou solo

contaminados;

- Presença de animais mortos ou

doentes.

- Adestramento;

- Utilização de EPI;

- Repelentes contra vetores;

- Vacinação; - Quimioprofilaxia

Figura 10 – Planejamento sugerido em caso de risco biológico em Operações Militares.

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8 CONCLUSÃO

O presente trabalho pretendeu demonstrar a problemática mundial em relação à

disseminação de doenças infecciosas e a estreita ligação dessa realidade com a defesa e a

segurança dos Estados. Foi evidenciado o vínculo histórico existente entre os conflitos e as

epidemias e como as Forças Armadas têm lidado com essa ameaça.

A Medicina Operativa tem a competência, dentre outras, de contribuir com o

planejamento das operações militares visando prevenir doenças, identificar ameaças

potenciais e estabelecer as condutas necessárias em caso de risco biológico. Além disso, as

Forças Armadas estão cada vez mais envolvidas com operações de ajuda humanitária, dentro

e fora do território nacional, durante as quais frequentemente emergem agentes biológicos

capazes de agravar a situação já precária da população local e que, direta ou indiretamente,

afetam também o contingente militar que ali se encontra.

No âmbito da MB pode-se verificar que a mentalidade de Defesa NBQR vem

amadurecendo nos últimos anos na medida em que aumenta a inserção do Brasil no cenário

internacional e o país se torna palco de eventos que atraem multidões. Entretanto, a estrutura

atualmente existente para a defesa biológica, no que tange a equipamentos, instalações físicas

e capacitação de pessoal, não tem sido ampliada e aprimorada em um ritmo compatível com

os Objetivos Estratégicos da MB.

A adoção de um sistema equivalente ao descrito por Murray e Horvath (2007), que

aborda os seis aspectos mais importantes para minimizar a ameaça causada por agentes

biológicos (preparação, educação, medidas de proteção individual, vacinas, quimioprofilaxia e

vigilância), pode ser útil tanto nas operações navais quanto em operações humanitárias.

Da mesma forma, a sistematização sugerida no presente trabalho, conforme consta na

Figura 10, apresentada no capítulo 7, pode ajudar a identificar as fases mais importantes da

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defesa biológica durante as operações militares.

A identificação rápida e precisa de um agente infeccioso com potencial de causar

doença grave torna-se de extrema importância, principalmente quando consideramos que pode

ser necessária no decorrer de uma Operação Militar. Trata-se de um procedimento de extrema

relevância e, assim sendo, não se pode depender exclusivamente de serviços externos às

Forças Armadas, pois a rapidez e a adequação da resposta são fatores decisivos para a

segurança dos militares e até mesmo para o sucesso da própria Operação.

O HNMD, sendo o maior e mais movimentado hospital da MB e um dos maiores do

país, dispondo de tecnologias avançadas e todas as especialidades médicas, recebe pacientes

provenientes das mais variadas regiões do Brasil e também do exterior. Por essas

características, do ponto de vista epidemiológico, pode ser caracterizado como “Hospital

Sentinela” da MB e até mesmo do o sistema público de saúde. Isto significa que, se alguma

doença inusitada surgir entre militares da MB, ou em seus dependentes, é muito provável que,

em algum momento, esse paciente seja encaminhado para o HNMD, que ficará encarregado

de realizar o diagnóstico definitivo e, se for o caso, alertar o SSM e as Autoridades Públicas

de Saúde.

Pelo apresentado, incluindo as situações verídicas relatadas no Capitulo 5, verifica-se

de forma inequívoca que a defesa biológica na MB necessita aperfeiçoar sua capacidade de

detecção de agentes biológicos. Para tanto, sugere-se a implantação de um laboratório fixo

com nível de biossegurança equivalente, no mínimo, a NB-3 e que esse laboratório fique

localizado, preferencialmente, no HNMD. O objetivo seria realizar exames de biologia

molecular e sorológicos capazes de identificar, com rapidez e precisão, agentes biológicos de

qualquer natureza. Embora o EB tenha também a intenção de dotar o IBEx com um

laboratório NB-3, as iniciativas podem ser consideradas complementares, com as duas

equipes trabalhando em conjunto, seguindo o princípio da interoperabilidade. Certamente,

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acordos e convênios com instituições civis como a FIOCRUZ, a UFRJ e o Laboratório

Central (LACEN) do Rio de Janeiro, que já detêm expertise no assunto, também serão

desejáveis e necessários. No conjunto tais iniciativas vão contribuir de forma significativa

para aumentar a capacidade de defesa biológica das Forças Armadas e do país

Além disso, devem ser revistas as instalações de isolamento para pacientes portadores

de doenças infecciosas transmissíveis. As instalações de isolamento atualmente existentes no

Pavilhão Heraldo Maciel, no qual fica localizada a Clínica de DIP do HNMD, necessitam de

modernização para poder oferecer a máxima segurança possível aos pacientes e aos

profissionais que ali trabalham. Da mesma forma, os Hospitais Distritais devem ter suas

próprias estruturas adequadas a receber pacientes que necessitem isolamento.

Todavia, de nada adiantaria a aquisição de equipamentos e o aprimoramento das

instalações físicas, sem a capacitação de pessoal de saúde, incluindo médicos, farmacêuticos,

enfermeiros e técnicos de enfermagem e de laboratório. Para esse fim sugerem-se estágios e

cursos em instituições especializadas no Brasil, tais como FIOCRUZ, UFRJ, GOPP e USP,

assim como no exterior, como o CDC e o USAMRIID. Nessas ocasiões, além do evidente

conhecimento técnico que se adquire, travam-se conhecimentos institucionais e pessoais que

tendem a facilitar o fluxo de informações e a manutenção dos vínculos acadêmicos.

Exercícios simulando vítimas de agentes biológicos podem ser planejados e

realizados, incluindo as demais Forças Singulares, Forças Auxiliares e a Saúde Pública, de

forma semelhante ao que já ocorre anualmente no HNMD, com vítimas simuladas de acidente

nuclear. Tais exercícios são extremamente úteis para identificar os pontos positivos e os

negativos, dando a oportunidade para que sejam realizadas as correções necessárias antes que

ocorra uma situação real, eventualidade na qual uma falha pode ter efeitos catastróficos.

Devemos lembrar que, quando recursos são investidos em defesa biológica, as

melhorias obtidas serão utilizadas imediatamente, e não apenas em situações de conflito ou

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calamidades públicas, pois os germes patogênicos estão presentes no cotidiano da Medicina

Militar. Aí estão Ebola, chikungunya e coronavírus, a espera pela primeira oportunidade de

entrar em nossas fronteiras. A discussão não é “se vai acontecer”, mas sim “quando vai

acontecer”. E não podemos esperar sua chegada para tomarmos medidas que hoje já sabemos

serem necessárias.

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ANEXO A

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ANEXO B

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