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Médico garante que não comer carne não oferece qualquer prejuízo à saúde

Médico garante que não comer carne é saudável

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Médico garante que não comer carne é saudável

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Médico garante que não comer carne não oferece qualquer prejuízo à saúde

Para médico, o ser humano não nasceu para ser carnívoro (do Clicrbs | Por Kamila Almeida)

Falar em abolir o consumo de carne na terra do churrasco pode até soar como um insulto, mas é o que

algumas pessoas estão fazendo. São os adeptos do vegetarianismo, um grupo que vem crescendo nos

últimos anos a ponto de virar tema de estudo de especialistas. Em uma das mais recentes obras sobre o

assunto, Vegetarianismo e Ciência (Editora Alaúde, 252 páginas, R$ 39), o cardiologista e nutrólogo Julio

César Acosta Navarro, com 20 anos de sua carreira dedicados a descobrir os efeitos da dieta livre de

produtos de origem animal no organismo, garante que abolir a carne das refeições não oferece qualquer

prejuízo à saúde. Para Navarro, o ser humano não nasceu para ser carnívoro.

— Essa história de que na dieta sem carne há deficiência de proteína, vitaminas e sais minerais é mítica.

Todos os alimentos vegetais têm esses nutrientes, mesmo que em níveis menores. Existem muitas

formas de compor uma dieta equilibrada. Até mesmo grandes atletas adotam o vegetarianismo — diz o o

médico chileno naturalizado brasileiro, que atua no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São

Paulo.

Não ingerir proteína acarreta a perda de massa muscular, fraqueza, déficit de crescimento, alterações

metabólicas, cerebrais, de aprendizagem, musculares, cardiovasculares e imunológicas. Isto ocorre

quando há falta de alimentos. A dieta vegetariana, segundo o médico, permite que se busque alternativas,

como o próprio nome diz, nos vegetais.

O autor da obra faz apenas uma ressalva: mesmo o prato mais balanceado do vegetarianismo será

carente de um tipo de vitamina. A B12 é a única que não é encontrada em quantidades suficientes em

nenhum outro alimento que não tenha origem animal. Ela é essencial para o bom funcionamento do

Sistema Nervoso Central. Em falta, pode causar depressão, por exemplo. Os sinais mais claros do déficit

desse nutriente é memória prejudicada e fraqueza. Por isso, aos adeptos do vegetarianismo é indicada

uma suplementação alimentar, que pode ser em cápsulas ou injetável.

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Os especialistas consideram a discussão sobre as perdas de substâncias essenciais para o corpo com a

dieta vegetariana ultrapassada. Há agora uma busca pela educação da população, já que quando se

decide adotar hábitos diferentes de alimentação deve-se ter acompanhamento médico e nutricional. O

segredo do sucesso já é batido, mas não custa reforçar: equilíbrio.

Para a endocrinologista Patrícia Santafé, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul (PUCRS), a dieta em si é saudável. O problema, conforme a médica, é que a maior

parte das pessoas elimina a carne e seus derivados por conta própria, sem se preocupar com a reposição

de nutrientes essenciais.

— Quando corta todos os produtos de origem animal da alimentação e não compensa com outros

alimentos, a pessoa pode apresentar deficiência de cálcio, de ferro e de gordura. Isso compromete o

colesterol e pode causar anemia — adverte Patrícia.

Rica em fibra, pobre em gordura

De um modo geral, a nutrição vegetariana atende com maior facilidade aos requisitos de uma dieta

saudável. Rica em fibra e pobre em gordura saturada, com ela é possível o equilíbrio entre proteínas,

carboidratos e lipídeos, que preenchem as necessidades diárias de minerais e vitaminas, destaca a

nutricionista clínica Sálua Finamor.

— Quando planejada adequadamente, a dieta vegetariana é saudável e resulta em benefícios à saúde,

tanto na prevenção quanto no auxílio do tratamento de certas doenças — explica Sálua.

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As razões que levam alguém a aderir ao vegetarianimo não se restringem à busca de uma vida mais

saudável. Muitos deixam de comer carne por questões ambientais e por serem contrários ao sacrifício de

animais. Em seu livro Vegetarianismo e Ciência, o médico Julio César Navarro cita um relatório da FAO, a

unidade das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que aponta que a produção de 250 gramas

de hambúrguer libera tanto gás estufa para a atmosfera quanto um carro durante uma viagem de 15

quilômetros.

Seja por ideologia ou por causa da saúde, não há idade para se iniciar uma dieta desse tipo de acordo

com os especialistas. Mesmo grávidas e crianças, conforme a obra de Navarro, podem adotar o

vegetarianimo. A ADA (American Dietetic Association), órgão de saúde americano, afirma que as dietas

lacto-ovo-vegetarianas, quando adequadamente planejadas, podem satisfazer as necessidades

nutricionais de bebês, adolescentes e adultos, promovendo um crescimento normal.

— Apesar das comprovações científicas, acho importante não condicionar uma criança à alimentação

vegetariana. Pode-se oferecer a opção de comer ou não carne, sempre cuidando obviamente para que se

esteja ofertando uma dieta saudável, com todos os nutrientes, para a idade. Devemos deixar que no

futuro a pessoa decida o que é melhor para si, para os animais e para o ambiente em que vive — salienta

Sálua.

O churrasco dos veganos

Os hábitos alimentares da antropóloga Maria de Nazareth Agra Hassen, 50 anos, e do marido, João

Carneiro, 46 anos, editor e presidente da Câmara Rio-grandense do Livro, há cinco anos, mudaram da

água para o vinho. Ou melhor, da carne para o brócolis. A família e os amigos acharam que sairiam

perdendo, já que João era o churrasqueiro oficial dos domingos. Para a alegria de todos, a churrascada

do fim de semana foi mantida. Só que agora, nos espetos da residência do casal, entram apenas carne

de soja, legumes, frutas e verduras. De início foi estranho, confessa Nazareth, mas depois tudo virou

diversão.

Hoje, Nazareth se sente bem melhor, e sua saúde nunca esteve tão boa. Exames periódicos mostram

que ela está bem nutrida. Como é vegana, não se aventura em nada que tenha origem animal, mas faz

reposição de vitamina B12 a cada seis meses.

— Comer ficou bem mais divertido, agora que não é mais só para matar a fome.

Pensamos em tudo para montar um prato saboroso e saudável — conta a antropóloga, que decidiu ser

vegana por compaixão aos animais.

Para Maria de Nazareth e João, seus pratos ficaram mais bonitos. A não ser a extinção dos cortes

bovinos, nada mudou na confraria da churrasqueira.

— churrasco vegetariano me ajuda a evitar a famosa barriguinha. De resto é tudo igual. Tomamos

cerveja, espetamos a carne de soja como se fosse uma peça de matambre, com tempero de véspera.

Tem o pão com alho e também a salada de maionese, feita com batata, isoflavona (substância derivada

da soja que substitui o ovo), aipo e cenoura — destacou João.

Conheça os tipos de vegetarianos

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:: Ovolactovegetarianos: Alimentam-se de ovo e de derivados do leite.

:: Lactovegetarianos: Comem derivados de leite.

:: Vegetarianos totais ou veganos: Não comem produto de origem animal.

Os benefícios

A dieta vegetariana pode ser usada na prevenção de doenças e como auxílio em tratamentos, conforme a

ADA (American Dietetic Association):

:: Doenças do sistema digestivo: A alta ingestão de fibras faz com que as deposições fecais sejam mais

volumosas e suaves, permitindo uma frequência maior de evacuação. Em geral, pessoas vegetarianas

sofrem menos de síndrome do cólon irritável, apendicite aguda, hemorróidas e úlceras

:: Obesidade: A taxa de obesidade é menor em vegetarianos. Com isso, previne-se cardiopatias e

problemas de colesterol e triglicerídeos

:: Diabetes tipo 2: Melhora o controle da glicose e favorece a manutenção de níveis desejáveis de

lipídeos

:: Infarto: Redução do número de mortes em 31% em homens vegetarianos e de 20% em mulheres que

seguem a dieta

:: Colesterol: Os níveis são 14% mais baixos em vegetarianos

:: Osteoporose: Mulheres após a menopausa com dieta rica em proteína animal e pobre em proteína

vegetal têm taxa mais alta de perda óssea e risco maior de ter fratura de quadril

:: Envelhecimento: Repercute no bom funcionamento dos órgãos e em uma aparência física mais

saudável

Os 4 pecados

:: Falta de orientação: Por ser uma atitude que mexe nos hábitos alimentares, é necessário buscar o

auxílio de especialistas, que vão personalizar seus pratos e lanches levando em consideração peso,

altura, hábitos

:: Monotonia: Não variam a dieta e comem todos os dias os mesmos alimentos. É preciso variar a

alimentação, criar pratos novos e incrementar com legumes, frutas e verduras diferentes

:: Tendência a refinados: A carne vermelha provoca uma sensação de saciedade. Por isso, a primeira

atitude de alguém que a retira da alimentação é correr para carboidratos e frituras. Para ser saudável,

deve-se substituí-los por produtos integrais, do arroz ao pão

:: Deixar de repor nutrientes: Uma avaliação periódica de minerais, proteínas e vitamina B12 é

necessária. Suplementos alimentares podem auxiliar.